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O papel do professor na formação de educandos críticos e reflexivos: diagnósticos

participativos como metodologia de investigação do entorno escolar

Tamires Gonçalves Santana


Bolsista PIBID-Geografia/UFRRJ
Email: [email protected]

Isabela Batista de Medeiros


Graduanda em Geografia/UFRRJ
Email: [email protected]

Edileuza Dias de Queiroz


Profª do Curso de Licenciatura em Geografia e
Colaboradora do PIBID Subprojeto Geografia IM/UFRRJ
Email: [email protected]

INTRODUÇÃO

O presente trabalho aborda questões relativas ao papel do professor na formação


de educandos críticos e reflexivos, utilizando em suas aulas de geografia a técnica de
diagnósticos participativos como metodologia de investigação do entorno escolar, a
partir de experiências obtidas na utilização do Diagnóstico Participativo na realidade
escolar e do entorno do Instituto de Educação Rangel Pestana, unidade escolar
localização no centro da cidade de Nova Iguaçu-RJ. Instituto reconhecimento pela
excelência em qualidade no Curso de Formação de Professores.
É visível na sociedade contemporânea a necessidade da contribuição do
professor para a formação de cidadãos críticos e reflexivos frente à sua realidade, uma
vez que a educação dita tradicional, ou “bancária”, nas palavras de Paulo Freire, não
mais se sustenta diante da complexidade social na qual estamos imersos. Nesta direção,
a educação enquanto prática social deve responder às demandas de sua época, sabemos
que a educação não é neutra, pelo contrário é um ato político.
De acordo com Loureiro (2009), o potencial crítico e transformador da educação
está no desvelamento da realidade, na ação política coletiva e na garantia da autonomia
individual, na formulação de valores e pensamentos.Neste sentido, entendemos que a
escola, lócus de formação cidadã, seja o ambiente desencadeador dessa criticidade, o
espaço no qual o docente,importante agente do processo educativo, possa contribuir
para a formação de seus educandos.

Utilizando o diagnóstico participativo como metodologia investigativa da


realidade do entorno escolar, o Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência
(PIBID- Subprojeto Geografia-IM/UFRRJ) se utiliza de seu espaço de sala de aula em
duas escolas públicas do Município de Nova Iguaçu/RJ, para realizar atividades
pedagógicas que proporcionem aos educandos uma esfera de reflexão e atuação frente
aos problemas socioambientais do seu entorno. Neste trabalho usaremos a experiência
obtida no Instituto de educação Rangel Pestana.

OBJETIVOS

Por acreditar no potencial da educação como um dos pilares para as necessárias


transformações da nossa sociedade, esta pesquisa objetiva utilizar-se dos pressupostos
de uma educação ambiental crítica e emancipatória, para auxiliar educadores a atuar
com o foco na cidadania e na problematização deste modelo de sociedade -
antidemocrática, injusta e degradadora – auxiliando na transformação das condições de
vida e na ressignificação da inserção do ser humano em suas relações no/com o meio
ambiente, onde a escola possa verdadeiramente contribuir com a formação de sujeitos
autônomos que sejam atuantes na sua realidade; objetiva ainda, refletir acerca do papel
do professor como mediador deste processo.

METODOLOGIA

O caminho metodológico desta pesquisa contou com algumas etapas: a primeira


consistiu no levantamento bibliográfico de referencias teóricos, tais como
Loureiro(2009),Guimarães (2000, 2004),Gonçalves e Gonçalves (2012)acerca dos
conceitos de Educação Ambiental Crítica, Participação Popular,Diagnósticos
Participativos, dentre outros utilizados na pesquisa; a segunda etapa consistiu na
implementação do diagnóstico participativo como metodologia investigativa em uma
escola parceira do projeto PIBID- Subprojeto Geografia (IM/UFRRJ); a terceira etapa
consistiu na observação e reflexão sobre como a implementação de como uma
metodologia como esta pode contribuir com reflexões e ações no sentido do
empoderamento sociopolítico do aluno.

O QUE SÃO DIAGNÓSTICOS PARTICIPATIVOS?

Apoiamos-nos teórico-metodologicamente no conceito de Diagnóstico


Participativo exposto no Guia Prático de Diagnóstico Rural Participativo (DRP)1
publicado pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário no ano de 2005.Este guia
apresenta os princípios e conceitos-chave do DRP, o passo a passo de como desenvolve-
lo e também as ferramentas cruciais para o seu desenvolvimento.Ao final é apresentado
algumas orientações em relação à análise, à documentação e à apresentação dos
resultados.
Neste contexto escolar podemos dizer que Diagnósticos Participativos seria uma
ferramenta problematizadora da realidade, neste caso a escola e seu entorno, para que os
sujeitos desta realidade busquem re-conhecer por um olhar mais apurado e crítico a
realidade que está inserido.De acordo com DRP (BRASIL,2005), o Diagnóstico
Participativo pode ser entendido como:

“Um conjunto de técnicas e ferramentas que permite que as comunidades


façam o seu próprio diagnóstico e a partir daí comecem a autogerenciar o seu
planejamento e desenvolvimento (...). O DRP pretende desenvolver processos
de pesquisa a partir das condições e possibilidades dos participantes,
baseando-se nos seus próprios conceitos e critérios de explicação (BRASIL,
2005, p. 06).”

1
Disponível no portal do Ministério do Desenvolvimento Agrário pelo link:
portal.mda.gov.br/portal/saf/arquivos/view/ater/livros/Guia_DRP_Parte_1.pdf
Na prática, podemos dizer que esse diagnóstico é uma análise minuciosa dos
problemas e das potencialidades de uma dada realidade, essa análise ou diagnóstico é
feita pelos envolvidos neste processo, onde após esse diagnóstico buscarão encontrar
soluções das menores até as de maiores para que se melhore a dada realidade. A partir
deste momento estes personagens se tornam interventores e participantes principais
neste processo de transformação.

A IMPORTÂNCIA DOS DIAGNÓSTICOS PARTICIPATIVOS PARA O


AMBIENTE ESCOLAR
Sabemos que o conhecimento da realidade local, em que a comunidade escolar
esta inserida, é um procedimento pedagógico rico e por vezes transformador. A
comunidade é heterogênea, assim como os problemas por ela enfrentados. Dessa forma,
o diagnóstico participativo torna-se um método interessante por permitir a análise de
diferentes percepções.
Na realidade escolar onde a pesquisa foi desenvolvida, podemos citar como
personagens deste processo o corpo discente, o corpo docente, toda a equipe
pedagógica, funcionários dos demais serviços e ainda a comunidade do entorno. Todos
os envolvidos neste processo que pode ser ou não proposta pelo professor tiveram a
oportunidade de se relacionar com o outro mostrando o seu posicionamento em
sociedade e, sobretudo praticando a coletividade ao divergir e convergir ideias, expor
sugestões e opiniões e ainda encontrar soluções.
Torna-se muito interessante escutar as diferentes interpretações sobre os dados
coletados no diagnóstico, e as discussões geradas acerca dos temas. Além de possibilitar
uma interação entre escola e comunidade.
Nesse sentido, entendemos que o diagnóstico participativo do ambiente escolar e seu
entorno pode se tornar uma ferramenta de extrema importância para a formação de educandos
críticos e reflexivos, a partir do momento que o professor se utiliza desta ferramenta para
incentivar ao aluno a enxergar a sua realidade com outro olhar.

FORMAÇÃO DE PROFESSORES– BREVES CONSIDERAÇÕES


Podemos considerar, então, que a preocupação com a formação de professores
no Brasil é ainda recente. Segundo Gatti (2010), somente nas primeiras décadas do
século XX, “os ventos da modernização” fizeram aparecer a preocupação com a
formação de professores para o chamado estudo secundário (que hoje corresponde aos
anos finais do ensino fundamental e ao ensino médio) em cursos específicos. Até então,
esse trabalho era realizado por profissionais liberais ou autodidatas e o número de
escolas secundárias, e o acesso a elas, era bem reduzido, período cujo contexto histórico
não pode ser esquecido.
Queiroz (2012) salienta que, ao se objetivar uma educação crítica,
transformadora e emancipatória, é preciso considerar a condição sócio-histórica do
professor, o que requer uma formação que o leve a perceber sua profissão de forma mais
ampla e a ter pleno domínio e compreensão da realidade de seu tempo e de seu lugar.
Dessa forma, o esse profissional conseguirá intervir na realidade de sua escola, da
educação e, consequentemente, da sociedade (FREITAS, 2000, apud MACEDO, 2008).
Isto remete ao pensamento marxista, que conceitua o trabalho como uma atividade
especificamente humana, pois, por meio dele, o ser humano cria e recria e, assim,
provoca transformações na realidade em que está inserido e gera o sentimento de
realização e não de alienação.
Ressaltamos a importância de reflexões vislumbrando uma formação mais
horizontalizada para o professor, principalmente para esse público – curso de formação
de professores para o primeiro segmento do ensino fundamental, no Estado do Rio de
Janeiro-tendo em vista a falta de investimento, não apenas financeiro, mas também em
termos de pesquisa.

EXPERIÊNCIA NO CURSO DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES DO


INSTITUTO DE EDUCAÇÃO RANGEL PESTANA

A ideia do uso dessa ferramenta no Instituto de Educação Rangel Pestana partiu


da necessidade de uma atividade prática a ser desenvolvida como requisito avaliativo de
um curso de extensão promovido pelo GEPEADS (Grupo de Estudos e Pesquisas em
Educação Ambiental, Diversidade e Sustentabilidade) da Universidade Federal Rural do
Rio de Janeiro, do Campus de Nova Iguaçu, onde cada cursista deveria realizar alguma
atividade prática que se alinhasse a proposta aplicada durante o curso de extensão.
Nesse sentido, aproveitamos a parceria já existente entre a universidade e a escola como
bolsistas2 do PIBID-Geografia e inserimos essas propostas em nossas atividades.
O trabalho consistiu em três etapas desde processo de elaboração até o seu
desenvolvimento. A primeira etapa consistiu na realização de oficinas com o objetivo de
apresentar aos estudantes conceitos como o de Educação Ambiental Crítica,
Participação Popular, Diagnóstico Participativo, Meio Ambiente, dentre outros. Durante
essas oficinas foram realizados debates onde muito se discutiu sobre as relações de
consumo, modelo econômico vigente, crise ambiental, dentre outras temáticas. Ainda
nessa primeira etapa de oficinas, foram desenvolvidos dois questionários que
posteriormente viriam a ser aplicados nas duas realidades da escola, o seu interior e o
seu entorno. Nessa primeira etapa foram utilizados jogos, dinâmicas, imagens
projetadas e exibição do vídeo “A história das coisas”.
A segunda etapa foi à parte mais prática, onde a turma foi dividida em dois
grupos que receberam os questionários, com questões abertas, de dois tipos diferentes: o
primeiro grupo ficou responsável pela pesquisa no interior da escola e o segundo grupo
pela pesquisa no entorno da escola. Após a pesquisa feita, os estudantes fizeram a
sistematização dos dados e em conjuntos buscaram soluções para as problemáticas
encontradas.
A última etapa consistiu na realização de um evento organizado pelos estudantes
onde eles fizeram a exposição destes dados para a comunidade escolar e encaminharam
as sugestões tiradas nos debates para a direção da escola.
Dessa forma percebemos que uma pequena semente foi plantada na escola, por
mais que o projeto tenha sido desenvolvido com apenas uns alunos e com um curto
período de tempo, toda a comunidade escolar teve a oportunidade de participar e intervir

2
Gostariamos de citar as bolsistas Camila Vianna , Claudiane Cabral e Mchele Souza que também fizeram
parte desse processo.
ao responder o questionário e também ao participar do evento de divulgação dos
resultados. Seria ainda necessário que as questões abordadas e investigadas pelos alunos
além de serem encaminhadas a direção da escola (problemas internos), fossem
encaminhados também para algum tipo de órgão do poder publico (problemas do
entorno) como prefeitura, secretarias, câmara de vereadores, etc...

RESULTADOS

Consideramos que o resultado obtido foi muito favorável, pois, houve plena
participação dos alunos, que também serão futuros educadores, por se tratar de uma
escola destinada a formar professores que atuarão no primeiro segmento do ensino
fundamental, eles apresentaram a sistematização dos dados obtidos através dos
questionários semi-estruturados, do diagnóstico socioambiental da escola e do entorno
da mesma, onde foram apresentados os principais problemas apontados pelos
entrevistados, e também as possíveis soluções.
Dessa forma os estudantes buscaram compreender as questões socioambientais
do ambiente pesquisado de forma crítica e integrada. Puderam diagnosticar problemas e
levantar possíveis soluções, além de gerar um debate muito produtivo sobre a realidade
vivenciada, expressaram suas inquietações e experiências do trabalho de campo. Fica
clara a importância da troca de saberes, do diálogo entre a Universidade e a Escola,
acreditamos que é através desses espaços de troca, que é possível transformar a
realidade socioambiental, diagnosticando problemas, propondo medidas, refletindo
criticamente.

BIBLIOGRAFIA

BRASIL. Ministério do desenvolvimento Agrário.Secretaria da Agricultura Familiar.


Diagnóstico Rural Participativo. Brasília (DF), 2005.v.1.
GATTI, B. A. Formação de professores no Brasil: características e problemas. Revista
Educação e Sociedade, Campinas, v. 31, n. 113, p. 1355-1379, out./dez. 2010.
GONÇALVES,R.A.B.; GONÇALVES, R.G Metodologias Participativas na
construção de Saberes sobre a relação comunidade e escola, in: Artifícios : Revista
do difere- ISSN2179656505,v.2 n.3, ago/2012
GUIMARÃES, M. A formação de educadores ambientais. Campinas: Papirus, 2004.
______. Educação ambiental: temas em meio ambiente. Duque de Caxias: Editora da
Unigranrio, 2000.

LOUREIRO, C. F. B. Trajetórias e fundamentos da educação ambiental. 3. ed. São


Paulo: Cortez, 2009.
MACEDO, J. M. A formação do pedagogo em tempos neoliberais: a experiência da
UESB. Vitória da Conquista: Edições UESB, 2008.
QUEIROZ, E.D. A Inserção da Dimensão Socioambiental da Formação Inicial de
Educadores. Dissertação de Mestrado em Educação. UFRRJ, 2012.

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