Educação Física Infantil e Nos Anos Iniciais
Educação Física Infantil e Nos Anos Iniciais
Educação Física Infantil e Nos Anos Iniciais
na Educação
Infantil e nos
Anos Iniciais
PROFESSORES
Dra. Vânia de Fátima Matias de Souza
Dr. Amauri Aparecido Bássoli de Oliveira
Me. Élen Carla da Costa Baraldi
140 p.
ISBN 978-85-459-2157-8
“Graduação em Educação Física - EaD”.
1. Educação 2. Física 3. Infantil. 4. EaD. I. Título.
CDD - 22ª Ed. 796
Impresso por:
DIREÇÃO UNICESUMAR
Reitor Wilson de Matos Silva, Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho, Pró-Reitor Executivo de EAD William Victor
Kendrick de Matos Silva, Pró-Reitor de Ensino de EAD Janes Fidélis Tomelin, Presidente da Mantenedora Cláudio
Ferdinandi.
2
Wilson Matos da Silva
Reitor da Unicesumar
Em um mundo global e dinâmico, nós trabalhamos com excelência, com IGC 4 em 7 anos consecutivos. Estamos
princípios éticos e profissionalismo, não somente para entre os 10 maiores grupos educacionais do Brasil.
oferecer uma educação de qualidade, mas, acima de A rapidez do mundo moderno exige dos educadores
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provocações iniciais
UNIDADE I
8 O CONCEITO DE INFÂNCIA: NA
SOCIEDADE E NA ESCOLA
UNIDADE II
28 A EDUCAÇÃO INFANTIL
E A LEGISLAÇÃO
UNIDADE III
48 PLANEJANDO A EDUCAÇÃO
FÍSICA ESCOLAR
UNIDADE IV
86 SISTEMATIZAÇÃO E AÇÕES
PEDAGÓGICAS NA
EDUCAÇÃO INFANTIL
UNIDADE V
108 PLANEJANDO AS AULAS
PARA AS SÉRIES INICIAIS
DO ENSINO FUNDAMENTAL
O CONCEITO DE INFÂNCIA: NA
SOCIEDADE E NA ESCOLA
Oportunidades de aprendizagem
Plano de Estudo
I
As ações educativas vão se constituindo ao longo da histó- Buscando respostas a estes questionamentos e a ou-
ria, enquanto possibilidades de transformações sociais que tros que podem surgir ao longo da caminhada, vamos
partem das práticas individuais e se expandem às coletivas. aos estudos!
Nesse sentido, estamos iniciando um momento para refle-
tirmos sobre a compreensão da infância ao longo da histó- O CONCEITO DE INFÂNCIA: UMA
ria da sociedade bem como a sua estruturação no campo da CONSTRUÇÃO HISTÓRICA
Educação Infantil e das séries iniciais da Educação Básica,
como uma possibilidade de repensarmos e reorganizarmos
a nossa prática cotidiana escolar.
Partimos deste pressuposto por entendermos que,
para iniciarmos os estudos acerca da infância, é preci-
so, em um primeiro momento, conhecer e reconhecer o
papel que a criança tem ocupado na família e na socie-
dade, ao longo dos séculos, para que possamos chegar à
compreensão dos caminhos que a infância, na educação
brasileira, tem ocupado.
Revisitar alguns fatos marcantes da história e dos
caminhos que a infância tem trilhado na sociedade nos
possibilita revisitar a história social à qual estamos sub-
metidos. Assim, temos condições tanto para refletirmos
quanto para analisarmos os acontecimentos como pos-
sibilidade de compreender as práticas que se estabele- Caro(a) aluno(a), navegar pela história da infância
cem. Para Coelho (2001, p. 31), “estudar a história é ain- implica estar disposto(a) a buscar, junto aos aconteci-
da escolher a melhor forma ou o recurso mais adequado mentos que se deram na sociedade contemporânea, as
de apresentá-la”. Por esta razão, optamos por apresentar, dimensões e compreensões que foram desencadeadas a
como caminho histórico desta unidade, os apontamen- partir das relações sociais, políticas e econômicas exis-
tos e as considerações acerca da infância, no seu enten- tentes, e relacioná-las ao papel que a criança foi consti-
dimento a partir da realidade social para, então, tratar tuindo e ocupando junto à família, ao Estado e ao campo
dos espaços educativos. educacional.
Para tanto, é imprescindível situarmos a compreen- Para os estudos relacionados à Educação Física in-
são da infância no contexto social e histórico, a fim de fantil e das séries iniciais, consideraremos a criança e
chegarmos à representação e ao papel da infância nas ins- a infância como objetos centrais das discussões bem
tituições de ensino na sociedade contemporânea. Assim, como dos encaminhamentos propostos. Afinal, para tra-
precisamos refletir sobre as seguintes questões: quem é a tarmos das questões da corporalidade e do movimento
criança a que nos referimos, no espaço escolar, na atuali- das ações infantis, neste momento da escolarização, é
dade? Como podemos entender e tratar a infância, a par- necessário, primeiramente, entendermos de quem es-
tir dos paradigmas e das propostas educacionais? tamos falando, a fim de, na sequência compreendermos
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EDUCAÇÃO FÍSICA
como trabalhar os conhecimentos, princípios, normas e A ideia de infância tem se constituído de formas dis-
valores escolares, respeitando tanto os limites quanto as tintas, pois, em cada tempo e espaço social, a criança é
fragilidades das crianças, destacando as suas potenciali- vista, principalmente, a partir das relações e necessida-
dades nas aulas de Educação Física. des sociais. Veja o que dizia Platão (2010, p. 302) acerca
Com este objetivo, caro(a) aluno(a), iniciamos pelo da criança da realidade ateniense de sua época:
entendimento básico acerca do que se trata a infância.
Segundo as palavras de Steinberg e Kincheloe (2001, p. [...] entre todas as criaturas selvagens, a criança é
a mais intratável; pelo próprio fato dessa fonte de
11), “a infância nada mais é que um artefato social e his-
razão que nela existe ainda ser indisciplinada, a
tórico, e não uma simples entidade biológica”. A partir criança é uma criatura traiçoeira, astuciosa e suma-
desta definição, você deve estar se questionando por que mente insolente, diante do que tem que ser atada,
o estudo deste período da vida faz-se necessário, neste por assim dizer, por múltiplas rédeas [...].
momento. A resposta a este questionamento está no fato
de que é preciso estudar e revisar o significado de in- Esta afirmação retrata a visão, na Antiguidade, do que
fância, na história da sociedade, a partir de perspectivas era ser criança: significava ser um sujeito que deveria
pedagógicas e sociais, para que possamos realizar as de- ser disciplinado, com regras rígidas e poucas oportuni-
vidas análises conjunturais e estruturais que envolvem dades para explorar o seu potencial, pois ele poderia ser
a criança na sociedade contemporânea no contexto es- prejudicial ao convívio social. Afinal, a infância era en-
colar; então, será possível planejar, assim como orientar tendida como uma fase da vida construída, socialmente,
ações que levem a uma ação pedagógica. Esta ação deve portanto, a criança deveria ser educada de tal forma que
possibilitar à criança desenvolver as suas potencialida- não se tornasse um adulto indisciplinado em relação às
des motoras, sociais e comportamentais, considerando regras de convívio social.
as diversas infâncias e realidades que se apresentam nes- A história da infância sempre esteve associada às
tes espaços de intervenção pedagógica. ações e aos contextos sociais que envolvem todas as re-
O conceito de infância não é algo linear na histó- lações existentes entre a política, a influência da cultura,
ria. Ela tem se alterado e, para chegarmos ao conceito de da economia e dos espaços a que estamos submetidos
infância brasileira, deve-se, em um primeiro momento, em cada tempo social. Para Ariès (2006), o sentimento
entender a conjuntura social global a qual tem se consti- de infância traduz a evolução histórica de suas várias
tuído em torno do assunto. concepções, desde o não reconhecimento até o reconhe-
Com esta compreensão, o nosso primeiro passo, cimento de que as crianças são diferentes dos adultos,
nesta unidade, será compreender o conceito de infân- culminando com as novas invenções e sentimentos de
cia na sociedade contemporânea a partir dos estudos infância na Modernidade.
de Ariès (2006), Durkheim (1996), Guiraldelli (1996), É importante destacar que o trato com a infância, no
Bujes (2001), Steinberg e Kincheloe (2001) e Heywood que se refere a pesquisa, valorização e/ou preocupação
(2004): como tem se constituído tal conceito, como ele enquanto formação humana, pertencente às artes e ao
está sendo apresentado, considerado junto ao universo convívio social, foi, durante um longo período da his-
familiar, escolar e social, no decorrer da história da so- tória da sociedade, muito ignorada e, por vezes, estere-
ciedade contemporânea. otipada. Este fato evidencia-se a partir da afirmativa de
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EDUCAÇÃO FÍSICA
enfatizar que, ao nascer, o indivíduo tem uma depen- isso, a responsabilidade com a criança bem como o inte-
dência natural do outro para se tornar social, o que res- resse por ela. Assim, “os governos começaram a se preo-
salta os processos sociais presentes na infância. O autor cupar com o bem-estar e com a educação das crianças”
afirma, ainda, o seguinte: os valores ou as crenças, as re- (LEVIN, 1997, p. 254).
presentações, os sistemas simbólicos constituídos pelas As mudanças e transformações em relação ao con-
crianças e o significado das suas experiências, ao longo ceito de infância se alteraram, em especial, a partir do
de seu processo civilizador, têm se modificado ao lon- século XVIII, isto porque, de acordo com Guiraldelli
go da história da sociedade, em função das mudanças (1996, p. 15):
sociais, assim, passou-se a entender que à medida que
a criança se relaciona com os indivíduos à sua volta, a [...] o século XVIII, em que um novo sentimento
dos adultos em relação às crianças, já caracteriza
subjetividade dela depara-se com novos mundos os
a presença social da noção de infância, o que pro-
quais transformam tanto o comportamento social dessa porciona o advento de uma pedagogia que advoga
criança quanto as suas funções psicológicas. uma disciplina autônoma, e não mais heterônoma.
Elias (1994, p. 27) afirma, também, que “o indivíduo Se Locke trabalha com o objetivo de estabelecer as
só se humaniza através do outro, a criança, isolada des- condições da liberdade dos homens, Montaigne,
antes dele, quer que os adultos façam da criança
sas relações, evolui, na melhor das hipóteses, para a con-
um homem – o que já significa considerar que ela
dição de um animal humano semi-selvagem”, afinal, não é um ‘adulto em miniatura’ – e Rousseau, de-
pois dele, quer que os adultos deixem a criança ser
[...] a criança não é apenas maleável ou adaptável criança, de modo que a infância aconteça, pois ela é
em grau muito maior que os adultos. Ela precisa o que há de melhor nos homens.
ser adaptada pelo outro, precisada da sociedade.
[...] Na criança, não são apenas as ideias ou apenas
o comportamento consciente que se veem cons- Evidentemente que essa mudança na perspectiva de co-
tantemente formados e transformados nas relações locar a infância como um período que compreendia o
com o outro e por meio delas (ELIAS, 1994, p. 30). desenvolvimento global da criança “só foi possível por-
que também se modificaram na sociedade as maneiras
De acordo com os estudos realizados tanto por Ariès de se pensar o que é ser criança e a importância que foi
(2006) quanto por Elias (1994), as crianças, inicialmen- dada ao momento específico da infância” (BUJES, 2001,
te, eram vistas, apenas, como seres biológicos, no entan- p. 13).
to elas passaram a ser vistas e compreendidas na sua Chegamos à atualidade entendendo não ser possível
totalidade, então, chegam à sociedade moderna como classificar a infância como, simplesmente, uma fase do
seres que necessitavam de muitos cuidados e, também, desenvolvimento humano ou que o crescimento natural
de rígida disciplina, a fim de serem transformadas em da criança se dá, exclusivamente, por razões biológicas,
adultos, socialmente, aceitos. Logo, não era só a família a pois essa visão seria muito reducionista. Tal entendimen-
responsável pela criança, o Estado começa a ocupar um to constituiu-se durante as transformações da ciência
papel importante junto a esta categoria da sociedade. produzida na sociedade moderna; esta, ao longo dos tem-
Segundo Levin (1997), a partir da Revolução Fran- pos, passou a caracterizar e a buscar a compreensão da
cesa, em 1789, modificou-se a função do Estado e, com criança e da infância a partir dos fenômenos psicológicos,
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das influências sociais, culturais e históricas — realidade preocupações pedagógicas, sanitárias e sociais, atentas ao
a qual é, sempre, modificada, culturalmente —. Na reali- desenvolvimento das chamadas crianças pequenas.
dade brasileira, o conceito de infância tem sido o mesmo Com estas compreensões, chegamos à atualidade
adotado no Ocidente. De acordo com Steinberg e Kin- entendendo a infância como um momento de desenvol-
cheloe (2001, p. 11), “na realidade, o que nos últimos anos vimento do ser humano que deve ser considerado na sua
do século XX foi rotulado como uma infância tradicio- integralidade: entendemos que a criança possui caracte-
nalmente ocidental tem apenas cerca de 150 anos”. Isso rísticas e necessidades próprias, influencia e, também,
significa que, ainda, temos uma história da infância muito é influenciada pelo contexto onde encontra inserida,
recente, com escassos estudos que se ocupam do desen- porque pertence a um meio social cuja imersão cultural
volvimento integral da criança para além do biológico. a permite entender o mundo que a cerca, e o contexto
Essas mudanças podem ser justificadas de acordo escolar surgirá, neste compasso, como um importante
com Sarmento (2005a), pelo fato de que, historicamen- meio dessa transformação.
te, associamos a infância à imagem da criança, ou, mais
especificamente, a determinada etapa cronológica do A INFÂNCIA NO ESPAÇO
desenvolvimento humano, fruto de perspectivas biolo- ESCOLAR: DA ASSISTÊNCIA AO CARÁTER
gistas e psicologizantes. Para Agamben (2005, p. 59), essa EDUCATIVO DAS INSTITUIÇÕES DE
perspectiva modificou-se ao longo dos tempos, afinal, EDUCAÇÃO INFANTIL
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EDUCAÇÃO FÍSICA
diversas possibilidades e perspectivas históricas de cada tura e são nela produzidas. A infância, segundo Castro
contexto e espaço social. (2007, p. 4, grifos da autora), “deriva da palavra infante
Segundo Kuhlmann Junior (1991, p. 5), “a compa- e evoca um período da vida humana. É um período que
ração com o passado precisa superar a linearidade para poderíamos chamar de construção/apropriação de um
não obscurecer o presente que se quer pôr em questão”. sistema de comunicação, de signos e sinais destinados a
Tendo este entendimento, compreender o conceito de fazerem-se ouvir”. Em síntese, tratamos, aqui, de infân-
infância bem como o seu desenvolvimento às ações do cia, pois consideramos, dentre outros, as transformações
cotidiano pedagógico escolar se torna essencial para culturais, sociais, políticas, econômicas e pedagógicas
que essas ações possam ser planejadas de acordo com que ocorrem na sociedade num dado tempo e espaço,
o momento o qual cada criança está passando e, como transformações que se configurarão, mas também se de-
consequência, elas poderão influenciar o processo de senvolverão de acordo com o contexto familiar, social e
aprendizagem escolar. cultural, tendo ou não um papel social significativo.
Os conceitos de criança e infância são diferenciados, Nesse contexto, consideraremos as ideias de Sar-
porém se encontram, intimamente, ligados. É necessá- mento (2005a), que entende a infância como uma cons-
rio entender que, ao tratarmos da criança, estamos nos trução social, com diferenças diacrônicas, ou seja, his-
referindo a uma fase com desenvolvimento e ações de- toricamente construídas e transformadas no decorrer
sejadas para determinado momento cronológico. Quan- dos anos. Há, também, diferenças sincrônicas, as quais
do nos referimos ao conceito de infância, referimo-nos revelam que, em um mesmo tempo, as formas de com-
a uma categoria ampla, na qual se considera a criança preender a infância podem ser distintas, conforme a lo-
um ser social e cultural. Para esclarecer estas definições, calização geográfica, as religiões, a etnia, a classe social, o
fazemos uso das palavras de Sarmento (2005a, p. 4): gênero, enfim, são muitas as variáveis que interferem na
maneira de representar a infância, porque é nesse perí-
a infância é independente das crianças; estas são odo que há a possibilidade de vivenciar diversas experi-
os atores sociais concretos que em cada momento
ências em contextos diferenciados.
integram a categoria geracional; ora por efeito da
variação etária desses atores, a ‘geração’ está conti- Evidentemente que, como vimos, essas noção e pre-
nuamente a ser ‘preenchida’ e ‘esvaziada’ dos seus ocupação relacionadas à infância ocorrerão, efetiva e
elementos constitutivos concretos. intensamente, ao longo do século XX, período o qual se
constituiu como um século de inúmeras transformações
A fim de entendermos melhor a definição do termo na sociedade e, em especial, para a infância, para as res-
criança, recorreremos ao Estatuto da Criança e do Ado- ponsabilidades tanto de cuidar quanto de educar a crian-
lescente (BRASIL, 1996). Nele, temos estabelecido que se ça pequena. Vale lembrar que, neste mesmo século, o Es-
considera criança a pessoa até os 12 anos de idade incom- tado passou a ter, efetivamente, o dever obrigatório com
pletos. Kramer (2006) vai além e afirma que as crianças a Educação Infantil, a qual começou a ser vista como um
são sujeitos sociais e históricos os quais produzem cul- momento essencial ao desenvolvimento da criança.
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Muitas transformações aglutinaram-se com a pre- —como instituição que representa espaço de educação
sença do Estado como um dos gerenciadores e respon- e transmissão de valores e normas bem como de expres-
sáveis pela educação da criança, influenciando e refle- são da afetividade entre os seus componentes.
tindo, diretamente, em mudanças na construção e no Caro(a) aluno(a), tendo compreendido o trajeto his-
ideal de famílias da sociedade contemporânea. Confor- tórico da infância, passaremos a buscar o entendimento
me Perez (2012), essas transformações nas finalidades de como essas mudanças no conceito e no ideal de famí-
da família resultaram das mudanças que aconteceram lia e de sociedade influenciaram o campo da educação
no processo histórico, social, econômico e cultural — no atendimento às crianças que necessitavam de cuida-
muitos aspectos contribuíram para a caracterização do dos, afinal, a educação também precisou se adequar para
grupo familiar tal qual o concebemos em nossos dias satisfazer a estas novas demandas sociais.
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EDUCAÇÃO FÍSICA
A escola começa a exercer um papel essencial na Para ampliar a compreensão desta afirmativa, vale
formação do sujeito e, para tanto, o devir pedagógico nos voltarmos para Kramer (2001), que destaca a Se-
torna-se significativo às ações desencadeadas nesse con- gunda Guerra Mundial como impulso para o desenvol-
texto. De acordo com Saviani (1997, p. 17), o trabalho vimento da Educação Infantil:
educativo é entendido como “o ato de produzir, direta e
intencionalmente, em cada indivíduo singular, a humani- [...] a segunda guerra mundial provocou um
novo impulso ao atendimento pré-escolar, vol-
dade que é produzida histórica e coletivamente pelo con-
tando-se principalmente para aquelas crianças
junto dos homens”. Na prática cotidiana escolar, há de se cujas mães trabalhavam em indústrias bélicas
considerar todos os conhecimentos e elementos produzi- ou naquelas em que substituíam o trabalho mas-
dos ao longo da história — por meio da ciência e do em- culino. Por um lado, foi introduzido o conceito
pirismo — sobre quem é a criança, como é ser criança e o de assistência social para as crianças pequenas,
sendo ressaltada a sua importância para a co-
que significa a infância, visando um trabalho pedagógico
munidade na medida em que liberava a mulher
qualificado, com condições de oportunizar o desenvolvi- para o trabalho (KRAMER, 2001, p. 27).
mento nesses espaços educativos de educação formal.
No compasso das discussões acerca do papel da Como consequência deste movimento necessário de
escola, surge a discussão bem como a necessidade de ingresso da mulher no mundo do trabalho, a Educação
uma modalidade de ensino que dê conta das chama- Infantil passa a ter, como objeto de ação e discussão, os
das crianças pequenas: surgem aí os primeiros indí- elementos culturais que precisavam ser assimilados pe-
cios da Educação Infantil. Evidentemente, essa moda- los sujeitos inseridos na sociedade. Isso significava que,
lidade teve origens diversas, mas a unanimidade dos para buscar o desenvolvimento da industrialização e do
estudos relata que a sua origem sempre esteve atre- comércio, ou seja, para que a sociedade fosse transfor-
lada às necessidades econômicas e sociais, associada mada, era preciso que a mulher também passasse a fazer
às diferentes necessidades dentro do contexto históri- parte deste cenário, daí a necessidade de se efetivar um
co-social onde as famílias e as crianças encontram-se local onde as crianças pequenas pudessem ficar sob de-
inseridas. Segundo Dornelles (2005, p. 28): terminados cuidados e iniciarem a sua formação. Assim,
foram concebidas as primeiras creches:
[...] entender as condições históricas da emergên-
cia do ‘sentimento de infância’ possibilita também [...] a creche, ao longo da história, foi concebida
a compreensão de que esse sentimento começa a como refúgio assistencial de crianças desprovidas
se fazer necessário a partir do século XVI. Inventá- de cuidados, ou seja, criança pobre, para uma fa-
-lo foi uma estratégia de governo para preservar as mília que não sabe cuidar, tem até seus dias atu-
crianças de diversas práticas, como a dos hospícios ais definido a infância com um caráter privativo,
de menores abandonados, a criação dos filhos por desconsiderando as políticas públicas de proteção
amas-de-leite e a educação artificial das crianças e direitos a educação da infância. A creche como
ricas. Acima de tudo, de impedir a morte das crian- substituta da família, cabe, portanto, organizar ati-
ças. O governo dos infantis enquanto população vidades que atendam aos cuidados tipicamente do-
constitui-se num certo sentido como uma tomada mésticos, deslocados do conhecimento e da cultura
de poder sobre as crianças, a fim de fazê-las viver. na qual está inserida (REGO, 2006, p. 8).
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EDUCAÇÃO FÍSICA
Segundo Campos (2013), no Brasil, a educação da in- ensino. Dentre eles, destacam-se os pressupostos es-
fância surge como princípio de uma política assistencial tabelecidos no Referencial Curricular Nacional para
associada ao processo civilizatório, o qual teve, por sua a Educação Infantil (BRASIL, 1998), no qual se tem a
vez, como base, as necessidades individuais e não cole- proposição de que deve haver a indissociabilidade das
tivas, evidenciando as responsabilidades individuais e ações de cuidar e educar crianças de zero a seis anos de
não a questão do direito social. Esta ideia influenciou a idade, sem hierarquizar os profissionais ou a instituição
Educação Infantil enquanto instituição que tinha, como que atuam com as crianças pequenas. De acordo com o
função inicial, a ação civilizatória e assistencial, mas cujo documento, educar significa:
papel assumido foi o de compensar carências.
Outro paradigma relacionado à Educação Infan- [...] propiciar situações de cuidados, brincadeiras e
aprendizagens orientadas de forma integrada e que
til está vinculado ao termo utilizado. De acordo com
possam contribuir para o desenvolvimento das ca-
Vieira (1999), as instituições dessa modalidade, durante pacidades infantis de relação interpessoal, de ser e
a história, tiveram dupla trajetória: os jardins de infân- estar com os outros em uma atitude básica de acei-
cia, mais tarde, chamados de pré-primário e pré-escolar, tação, respeito e confiança, e o acesso a educação
davam ênfase ao aspecto educacional, sendo destinados poderá auxiliar o desenvolvimento das capacida-
des de apropriação e conhecimento das potencia-
para as crianças ricas, com métodos e atividades peda-
lidades corporais, afetivas, emocionais, estéticas,
gógicas voltadas ao desenvolvimento social e cognitivo na perspectiva de contribuir para a formação de
e a outras habilidades; por outro lado, nas instituições crianças felizes e saudáveis (BRASIL, 1998, p. 23).
denominadas creches e escolas maternais, era enfatiza-
da a guarda, a alimentação e os cuidados com saúde e a Por outro lado, o cuidar, no documento, está definido
higiene, além da formação de hábitos de bom compor- como:
tamento na sociedade, sendo destinadas para as crianças
pobres e abandonadas. [...] parte integrante da educação, embora exigir
conhecimentos, habilidades e instrumentos que
Essa relação entre o educar e o cuidar no ambiente
extrapolam a dimensão pedagógica, ou seja, cuidar
da Educação Infantil gerará conflitos, também, na atu- de uma criança em um contexto educativo deman-
ação junto às questões pedagógicas a serem desenvol- da integração de vários campos de conhecimentos
vidas nessas instituições. Conforme descreve Campos e a cooperação de profissionais de diferentes áreas
(2013), é muito importante reconhecer quais são os (BRASIL, 1998, p. 24).
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lacionado às questões básicas de subsistência da criança, A história da Educação Infantil brasileira não diferiu das
tais como alimentação e higiene. Ao longo da história da demais realidades sociais. De acordo com Kuhlmann Ju-
educação e da infância, a Educação Infantil passa a as- nior (1991), a constituição dessa modalidade educacio-
sumir, na sociedade, o pedagógico que auxilia no desen- nal apresentou, como marco representativo, os anos 40
volvimento integral da criança na atualidade, atrelado às do século XX, quando ela começou a sofrer transforma-
necessidades de desenvolvimento econômico e político ções. O autor também destaca o fato de que o processo
de determinado grupo social. de legalização do ensino da Educação Infantil se consti-
tuiu, efetivamente, a partir das definições da Constitui-
A ESCOLA E A INFÂNCIA: A ção Nacional de 1988 (BRASIL, 1988, on-line).
INSTITUCIONALIZAÇÃO DA CRIANÇA Outro destaque legislativo para a Educação Infantil
E DA INFÂNCIA ocorreu nos anos 90, com as criação e implementação do
Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), por meio
da Lei nº 8.069 (BRASIL, 1990, on-line), a qual regula-
mentou os artigos da Constituição Federal e esclareceu as
ações que deveriam ser realizadas, efetivando a legalidade
dos direitos da criança a partir de uma normativa legal.
Além da Constituição de 1988 e do ECA em 1990, a
Lei de Diretrizes e Bases da Educação — Lei nº 9.394/96
— legalizou, de forma efetiva, as ações políticas enquan-
to predisposições, orientações e normativas de uma le-
gislação educacional na qual se reconhece, oficialmente,
que as creches e pré-escolas para crianças de zero a seis
anos são parte integrante do sistema educacional, sen-
do consideradas a primeira etapa da Educação Básica
(BRASIL, 1996, on-line).
Mesmo com as definições legais, no entanto o ob-
jetivo da Educação Infantil ainda causa polêmica na
sociedade, haja vista que, de acordo com Craydi (2001,
p. 24), é preciso estar claro que as “creches e pré-escolas
têm uma função de complementação e não de substitui-
ção da família, como muitas vezes foi entendido”. Nesse
sentido, estes espaços educativos devem estar integra-
dos às diversas realidades e necessidades das infâncias,
considerando as realidades das famílias bem como o
contexto cultural, econômico e social das comunidades,
para que se possa oferecer o que a criança necessita ao
seu desenvolvimento.
20
EDUCAÇÃO FÍSICA
Vale ressaltar que a Educação Infantil a qual temos crianças nas suas singularidades. Devem ser espaços nos
abordado se refere ao estabelecido pela lei, compreendendo quais a ludicidade, a imaginação e as interações sociais
o atendimento em creches e pré-escolas. Segundo Kramer sejam os eixos estruturantes considerados parte das cul-
(2001, p. 49), a diferença entre ambas está no fato de que turas infantis (SARMENTO, 2005b).
Esta relação entre infância e educação, aspectos
[...] creche e pré-escola, em geral, distinguidas ora conceituais e orientações normativas e pedagógicas
pela idade das crianças incluídas nos programas –
acontecerão, no entendimento de Molina e Lara (2008,
a creche se definiria por incluir crianças de 0 a 3
anos e pré-escola de 4 a 6 –, ora pelo seu tipo de p. 3.982), pela compreensão de que
funcionamento e pela sua extensão em termos so-
ciais – a creche se caracterizaria por uma atuação [...] infância, do mesmo modo que a educação, não
diária em [horário integral], e a pré-escola, por um pode ser compreendida fora de um contexto socio-
funcionamento semelhante à escola, em [meio pe- econômico e político. Por isso, quando se fala em
ríodo]. Há ainda uma terceira classificação que diz infância, não é possível se referir à criança sem se
respeito à vinculação administrativa: a creche se considerar o tempo, o lugar e a estrutura social na
subordinaria, assim, a órgãos de caráter médico ou qual ela está inserida.
assistencial, e a pré-escola ao sistema educacional.
Logo, infância, educação, políticas públicas e ações peda-
A Educação Infantil é considerada a primeira etapa da gógicas estão, sempre, entrelaçadas, afinal, para desenvol-
educação básica que tem por objetivo o desenvolvimen- ver as proposições e encaminhamentos nessa instituição
to integral da criança, em seus aspectos físico, psicológi- de ensino, é preciso seguir as normativas da legislação.
co, intelectual e social. Constitui-se em um espaço pri- De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Edu-
vilegiado para interação e aprendizagens significativas, cação Nacional, nos Art. 29, 30 e 31, específicos da Edu-
onde o lúdico é o foco principal (BRASIL, 1996). cação Infantil (BRASIL, 1996, on-line), tem-se estabele-
cido essa modalidade de ensino como a primeira etapa
da Educação Básica. Consolidando essa lei, o Referencial
Curricular Nacional para a Educação Infantil (BRASIL,
Se a Educação Infantil é uma necessidade so-
1998) também traz as orientações para as ações nesses
cial, por que os organismos nacionais e interna- espaços educativos, definindo a Educação Infantil como
cionais tratam esses espaços educativos como um espaço onde se deve considerar que
espaços onde o educar sucumbe ao cuidar?
[...] as crianças possuem uma natureza singular, que as
caracteriza como seres que sentem e pensam o mun-
do de um jeito muito próprio. E isto através das in-
terações que estabelecem desde cedo com as pessoas
Segundo Kramer (2006), deve-se entender que a Educa- que lhe são próximas e com o meio que as circunda,
ção Infantil e o Ensino Fundamental são indissociáveis as crianças revelam seu esforço para compreender o
e, para tanto, devem assumir a apropriação da cultura mundo em que vivem as relações contraditórias que
presenciam, por meio das brincadeiras, explicitam as
como suporte à educação das crianças, respeitando-se,
condições de vida a que estão submetidas e seus an-
em contrapartida, nas duas modalidades de ensino, as seios e desejos (BRASIL, 1998, p. 21).
21
Para além dos documentos orientadores que legis- Informe de Seguimiento de la EPT en el Mundo: Bases
lam e deliberam acerca da Educação Infantil brasileira, Sólidas – Atención y Educación de la Primera Infan-
há os documentos provenientes das agências e organis- cia; Situação Mundial da Infância 2007. Mulheres e
mos multilaterais, os quais trazem orientações acerca da Crianças: O Duplo Dividendo da Igualdade de Gênero
compreensão do conceito de infância a partir das aná- (UNESCO, 2007); Pobreza infantil en América Latina
lises descritas em seus documentos. Rosemberg (2001, y el Caribe (CEPAL, 2010); Metas Educativas 2021: la
p. 27-28) postula que “as políticas de educação infantil Educación que Queremos para la Generación de los
contemporâneas nos países subdesenvolvidos têm sido Bicentenarios; e o relatório Educação para Todos 2000-
fortemente influenciadas por modelos ditos ‘não formais’ 2015: Progresso e Desafios (UNESCO, 2015).
a baixo investimento público, propugnados por organis- Dale (2004) ainda destaca os documentos para a
mos multilaterais”. Na concepção dessa autora, as influ- Educação Infantil propostos à América Latina com o
ências sobre os projetos da Educação Infantil brasileira, formato de projetos, sendo eles a Agenda Iberoame-
na atualidade, provêm, em especial, do Banco Mundial. ricana para a Infância e a Adolescência, o Programa
Outro destaque é a afirmativa de Campos (2013). Se- Ibero-Americano de Educação e o Projeto Regional de
gundo a autora, nas últimas décadas, cresceram as discus- Educação para América Latina e Caribe, projetos de-
sões acerca das crianças e dos seus direitos, inclusive sendo senvolvidos e coordenados pela Organização dos Esta-
este o tema de diferentes conferências e reuniões interna- dos Ibero-Americanos, pela Organização dos Estados
cionais e regionais. Dentre os direitos aí referidos, o direito Americanos e pela Unesco.
à educação, sobretudo à Educação Infantil, configurou-se Dentre esses documentos, a Educação Infantil é tra-
como uma questão fundamental para os governos locais. tada, com destaque, no Plano Ibero-Americano de Edu-
De acordo com Dale (2004), as agências e organismos mul- cação (OEI, 1998), no qual as discussões e determinações
tilaterais, tais como a Unesco e a Unicef, têm influenciado, se configuraram a partir da proposição de que deveriam
de forma significativa, o desenvolvimento das ações políti- ser aplicadas e direcionadas ações denominadas, no do-
cas e governamentais voltadas à Educação Infantil. cumento, como “políticas compensatórias e intersetoriais
Dentre esses documentos que, na atualidade, têm para populações vulneráveis” (OEI, 1998, p. 4), deixando
transformado as relações, objetivos e metas a serem de- claro os elementos que consolidam o objetivo e o desen-
senvolvidas na Educação Infantil, destacam-se as orien- volvimento da Educação Infantil, uma vez que essa mo-
tações continuadas da Conferência de Jomtienbem, dalidade de ensino deve ser uma forma de
como: Propuesta de Proyecto Regional de Educación
para América Latina y el Caribe (UNESCO, 2002); Sín- [...] fortalecer os programas destinados à primeira
infância e dinamizar a produção de conhecimentos
tesis Regional de Indicadores de la Primera Infancia;
22
EDUCAÇÃO FÍSICA
23
agora é com você
24
LEITURA
COMPLEMENTAR
um ensino sistemático. Porém, além disso, essas adquirir novos conhecimentos, construindo, configuran-
conceitualizações não são arbitrárias, mas sim pos- do e reconfigurando seus saberes e seu universo. [...]
suem uma lógica interna que as torna explicáveis Na visão de Vygotsky (1979), existem duas concepções
e compreensíveis sob um ponto de vista psicoge- importantes do jogo e do ato de brincar: a imaginação
nético. e as regras. O jogo e a brincadeira são atividades que
Afinal, a educação infantil deve ser vista como um espa- ajudam a recriar a realidade da criança com objetos sim-
ço de experiência, em que o uso da linguagem deveria bólicos. Brincando, a criança representa papéis do mun-
partir de uma temporalidade, de um processo de cria- do adulto que irá desempenhar mais tarde, desenvolve
ção que possibilite ao pensamento se entrelaçar e nave- capacidades físicas, verbais e intelectuais, tornando-se
gar por outros universos e assim encontrar semelhan- capaz de se comunicar. O jogo e o brinquedo são fatores
ças, construir e desconstruir suas ações. de comunicação mais amplos do que a linguagem, pois
[...] Para Abramovay e Kramer (1984), inicialmente, as propiciam o diálogo entre pessoas de culturas diferen-
atividades trabalhadas no campo escolar aparecem ba- tes.
sicamente como ações e desenvolvem a coordenação Atualmente, os jogos também podem se constituir de
motora e sensorial das crianças; em seguida vêm as ati- um brinquedo ou brincadeira que a criança executa por
vidades que aparecem como imitações, dramatizações, puro prazer e com vontade de exercer. De acordo com
25
LEITURA
COMPLEMENTAR
26
material complementar
27
A EDUCAÇÃO INFANTIL
E A LEGISLAÇÃO
Oportunidades de aprendizagem
• Apresentar os aspectos legais que norteiam a Educação Infantil no Brasil, em
especial, no que se refere à Constituição Federal, à Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional e às Diretrizes Curriculares Nacionais.
Plano de Estudo
II
A infância tem se constituído, ao longo da história, en- que comparar as informações trazidas neste texto com a
quanto um conceito social de representação de uma sua prática docente.
fase de formação do ser humano, considerando esse Vamos aos estudos!
ser um integrante do processo de transformação e de
mudanças na sociedade, o qual é refletido no universo EDUCAÇÃO, EDUCAÇÃO INFANTIL
escolar. A partir desta compreensão, traremos tanto as E EDUCAÇÃO FÍSICA
discussões quanto as reflexões que tratam das perspec-
tivas de atuação sobre a infância, a partir das orienta-
ções políticas voltadas ao campo educacional, afinal, a
educação escolar reflete o conceito e a valorização rela-
cionados à criança e à infância.
A Educação Infantil é um espaço escolar, um ní-
vel de ensino no qual se considera a ação pedagógica,
tendo, como ponto de partida, a socialização, o diálogo,
o brincar, a brincadeira, o faz-de-conta e o imaginário
infantil. Nesta modalidade de ensino, a criança, a partir
das experiências educacionais, desenvolve-se tanto em
seus aspectos cognitivos quanto sociais, afetivos e mo-
tores, assim, nesse contexto, a Educação Física contribui,
de maneira significativa, a esse desenvolvimento, haja
vista que o cerne do trabalho pedagógico na Educação Ao nos referirmos ao termo “educação”, estamos trazendo
Infantil são o movimento, a linguagem corporal, a cultu- à tona as reflexões acerca do educar compreendido como
ra lúdica, os jogos e as brincadeiras, elementos que, por uma ação que acontece ao longo da vida do ser humano,
sua vez, também são os objetos de ação pedagógica do haja vista que estamos em constantes processos de mudan-
campo da Educação Física. ças, transformações individuais e coletivas que nos levam
A partir destas considerações, você verá, nesta uni- a desenvolvimentos no campo social, intelectivo, cognitivo
dade, que o trabalho docente e as orientações didático- ou motor. O educar é um processo constante, em movimen-
-pedagógicas que normatizam e regulamentam a atua- to e, quando abordado no ambiente escolar, passa a ser visto
ção na Educação Infantil seguem os pressupostos bem como uma ação consciente de busca pelo aprender. A escola
como as orientações da legislação educacional brasilei- é um espaço de educação formal onde professores e alunos
ra. Afinal, a Educação Infantil é um nível de ensino cuja compartilham os anseios, as necessidades e as angústias
estruturação é marcada pelo entendimento de ser um com o mundo do saber e do conhecimento.
espaço educacional, no qual é proporcionado à criança O aprender é uma ação de reciprocidade que se dá
aprender, brincar e a se desenvolver. a partir das relações sociais, das interações que, por ve-
Apresentaremos a você as análises das orientações zes, provocam transformações, pois a educação escolar
para o desenvolvimento das ações no campo da Educa- possibilita aos envolvidos refletir, transformar, cotidia-
ção Infantil. A partir desta leitura, faça as reflexões e bus- namente, os seus conceitos, ideias e concepções.
30
EDUCAÇÃO FÍSICA
A educação está atrelada ao desenvolvimento e for- por sua vez, organizam-se pelas experiências vivencia-
mação do ser humano. Isso porque, de acordo com Fer- das, coletivamente. Então, é possível dizer que a educa-
reira (1993), a educação é um ato ou o efeito de educar e/ ção escolar é um espaço no qual o ensinar não se restrin-
ou se educar, que se concretiza com o desenvolvimento ge à mera transferência de conhecimento, mas deve ser
da capacidade física, intelectual e moral do ser humano. entendida como uma possibilidade de produzir a partir
Palma, Oliveira e Palma (2008) vão além e destacam que da curiosidade, inclusive da constante busca pelo apren-
o objetivo da educação escolarizada deve ser o de pro- der (FREIRE, 1996).
porcionar aos alunos momentos nos quais eles possam A educação escolar é, nesse sentido, um espaço de
criar, construir e modificar conceitos. Para isso, os alu- intervenção no qual a criança é apresentada a situações
nos devem interagir com o meio. que a levem ao desenvolvimento integral de suas po-
Estas reinvenção, criação e construção nas quais a tencialidades, portanto, uma das formas de oportunizar
criança constrói bem como desconstrói os seus sabe- esse desenvolvimento é por meio de ações que tratem do
res, constantemente, para criar outros conceitos, outras real e do imaginário, do concreto ao abstrato, do lúdico
normas e compreensões de mundo, precisa ser orienta- ao formal, do cognitivo-intelectual ao motor, ou seja, é
da, planejada e estruturada a partir de objetivos defini- preciso promover, no espaço da Educação Infantil, uma
dos. A fim de que a educação escolar tenha significado educação motora que conduza ao desenvolvimento in-
para a criança, é necessário promover situações, meios tegral da criança.
de intervenção que a levem a querer aprender, a buscar Como afirma Bracht (1999), a educação não deve
desenvolver-se. Afinal, como afirma Freire (1992, p. 28): ser tratada de forma fragmentada, haja vista que é um
equívoco tratar o desenvolvimento intelectivo separado
[...] o ser humano, principalmente quando criança, do corporal, afinal, é preciso romper com a ideia
precisa construir seus próprios meios de transpor-
te para empreender essa viagem chamada vida. Se
[...] culturalmente cristalizada, da superioridade da
ele não consegue alcançar um objeto que o atrai,
esfera mental ou intelectual – a razão como identi-
que ele deseja, só resta um recurso: construir um
ficadora da dimensão essencial e definidora do ser
mecanismo que o leve ao seu objetivo. Um bebê
humano. O corpo deve servir. O sujeito é sempre
de poucos meses, que ainda não sabe engatinhar,
razão, ele (o corpo) é sempre objeto; a emancipação
terá que realizar um enorme esforço, arrastando-
é identificada com a racionalidade da qual o corpo
-se, para pegar qualquer objeto que esteja distante.
estava, por definição, excluído (BRACHT, 1999, p.
Em pouco tempo, assim que a maturação biológica
70).
gere força muscular e organização nervosa sufi-
cientes, o arrastar-se permite à criança uma viagem
muito limitada, enquanto o engatinhar já lhe per-
Neste contexto de formação do indivíduo enquanto um
mite ir mais longe e empreender novas conquistas.
ser social, crítico e reflexivo, há as ações desencadeadas
Esta busca por desafios e novas conquistas no espaço es- na Educação Infantil que, portanto, carecem, em mui-
colar ocorre por meio de uma prática educativo-crítica tos momentos, de romper com a linearidade pedagógi-
que se sustenta em ações construídas, coletivamente, a ca, trazendo, assim, um planejamento flexível, voltado a
partir de saberes e conhecimentos individuais os quais, atender às necessidades da criança. Segundo Faria e Pa-
31
lhares (1999), o modelo de escolarização da Educação do mundo pela criança é feita por meio do corpo, de
Infantil deve ser repensado. Os autores destacam que, movimento. Assim, a Educação Física vem como um
neste mesmo nível de ensino, podemos encontrar carac- campo de conhecimento que colabora com esta integra-
terísticas diferenciadas para creches e pré-escolas, ção dos saberes, dos conhecimentos sociais à formação
cognitiva e afetiva da criança, tão importantes nessa fase
[...] com intencionalidade educativa, que possibili- de desenvolvimento. De acordo com Rodrigues (2003,
ta superar qualquer resquício: escolarizante (cen-
p. 11): “[...] a educação física infantil tem por finalidade
trado na professora, alfabetizante, seriado, com
matérias/disciplinas, etc.); assistencialista; e tam- contribuir para a formação integral do educando, utili-
bém adultocêntrico, higienista, maternal, discri- zando-se das atividades físicas para o desenvolvimento
minatório, preconceituoso, reforçando o objetivo de todas as suas possibilidades”.
principal da educação das crianças de 0 a 6 anos A criança da Educação Infantil tem, em seu desen-
que é o cuidado/educação (sem confundir com as-
volvimento, a necessidade de realizar atividades que lhe
sistência/escola) (FARIA; PALHARES, 1999, p. 78).
oportunizem o fazer, o experimentar, o vivenciar, isso
É importante lembrarmos que, quando nos referirmos porque, nessa fase, caracterizada como a primeira infân-
aos estudos no campo da Educação Infantil, como nos cia, a criança necessita de ações e tarefas que a levem a
lembra Didonet (2001), seja no formato de creche, seja aperfeiçoar e a estimular os movimentos adquiridos. Por
no formato de pré-escola, estamos tratando de uma ins- meio das atividades planejadas, as aulas de Educação Fí-
tituição de ensino, portanto, torna-se necessário abordar sica promovem o aperfeiçoamento dos movimentos já
tanto as suas qualidades quanto os seus defeitos, a sua adquiridos, além de oportunizarem a aprendizagem de
necessidade social ou importância educacional. Deve-se novas habilidades motoras. Afinal, a criança, nessa fase,
considerar que o objeto central da Educação Infantil é anseia pelo novo, pelo aprender, busca atividades que a
a criança, um ser humano em desenvolvimento, com deixem explorar o mundo, por meio de sua corporalida-
características e necessidades próprias. Também, como de, de suas experimentações.
nos alerta Sayão (1999, p. 234): Palma e Palma (2005 apud PALMA; OLIVEIRA;
PALMA, 2008, p. 99) colaboram com esta discussão ao
[...] tomar a criança como ponto de partida signifi- afirmarem que:
ca pensar num currículo que contemple diferentes
linguagens em suas múltiplas formas de expressão,
[...] quanto mais ricas e numerosas forem as expe-
as quais se manifestam por meio da oralidade, ges-
riências motoras das crianças, maior será o número
tualidade, leitura, escrita, musicalidade. Estas for-
de esquemas por elas construídos, o que possibili-
mas de expressão, vividas e percebidas pelo brincar,
tará, pelas coordenações estabelecidas entre esses
representam a totalidade do ser criança e precisa-
esquemas, a construção de inúmeras e diferentes
riam estar garantidas na organização curricular da
habilidades motoras: as operações motoras.
sua educação e não enquadradas em áreas do co-
nhecimento e alocadas em disciplinas.
Portanto, essas atividades vivenciadas nas aulas de Edu-
Nesse cenário, a criança na Educação Infantil deve ser cação Física, no contexto da Educação Infantil, devem
vista de forma integral, contextualizada, entendendo estar vinculadas bem como integradas às ações desen-
que, nesta fase da vida, a primeira fonte de exploração volvidas no Projeto Pedagógico, de forma a integrar as
32
EDUCAÇÃO FÍSICA
atividades, por meio de uma sequência lógica, partin- A Educação tem sido compreendida, ao longo da his-
do do simples para o complexo, permitindo que os co- tória, como um direito adquirido pela sociedade, cujas
nhecimentos possam ser experimentados, explorados e responsabilidades e obrigações, quanto a regulamenta-
modificados ao longo da trajetória escolar da criança. ção, organização, normatização, orientação, princípios
No entanto, para que isso ocorra, segundo Kuhlmann e diretrizes, ficam a cargo do Estado. Entretanto, ao
Junior (1999, p. 64), é importante ressaltar o seguinte: abordarmos a Educação Infantil, esse direito tem sido
questionado, haja vista que a sua materialização efetiva
[...] a educação infantil não pode deixar de lado a ou consolidação, enquanto parte integrante dos direitos
preocupação com uma articulação com o ensino
educacionais da criança, tem sido construída, lentamen-
fundamental, especialmente para as crianças mais
velhas que logo mais estarão na escola e se interes- te, na história da legislação educacional brasileira.
sam por aprender a ler, escrever, contar. Mesmo com a Educação Infantil tendo surgido e se
constituído como um espaço necessário já na segunda
Nesse contexto, as aulas de Educação Física na Educação metade do século XIX, foi, apenas, na Constituição Fede-
Infantil passam a considerar a criança a partir de suas ral de 1988 (BRASIL, 1988, on-line) que ela começou a ser
particularidades, considerando o fato de que, por meio definida como responsabilidade do Estado, pois, até en-
do trabalho corporal realizado nas aulas — cujo traba- tão, esta etapa da escolarização das crianças de zero a seis
lho dá-se a partir da gestualidade e da corporeidade — a anos não estava regulamentada de modo mais objetivo.
criança integra-se, com mais facilidade, ao universo es- Os questionamentos acerca da função da Educação
colar em que se encontra inserida. Infantil perpassam, basicamente, as discussões e com-
preensões ligadas ao entendimento de que essa tem sido
A EDUCAÇÃO INFANTIL NA LEGISLAÇÃO uma das etapas destinadas à primeira infância, sendo
formada, essencialmente, pela creche e pelo jardim de
infância, seguindo o modelo adotado em outros países
e, tendo, inicialmente, um caráter assistencialista bem
como raras orientações de caráter pedagógico.
Para explicitar estes conflitos conceituais acerca da
compreensão do objetivo da Educação Infantil, pode-
mos trazer os apontamentos de Souza (2007). Segundo
o autor, esta dificuldade no processo de institucionali-
zação da Educação Infantil acontece em função de seu
percurso histórico conturbado na educação brasileira.
Souza (2007, p. 15-16) afirma que:
33
34
EDUCAÇÃO FÍSICA
Ainda segundo o autor, nos anos 60, o Departamento Na- A Educação Infantil está assegurada na CF por meio
cional da Criança enfraqueceu-se e teve que transferir al- do Art. 7º, inciso XXV, no qual se estabelece que deve ser
gumas de suas responsabilidades para outros setores, pre- assegurada “[..] a assistência gratuita a filhos e dependen-
dominando o caráter médico-assistencialista, cuja ênfase tes desde o nascimento até seis anos de idade em creches
eram ações de redução da mortalidade materna infantil. e pré-escolas” (BRASIL, 1988, on-line). Observe que, na
E, em 1970, tem-se a promulgação da Lei 5.692/1971, a CF, aparecem, ainda, os termos “creches e pré-escolas”, já
qual faz referência à Educação Infantil, apresentando de que a mudança para o uso do termo Educação Infantil
que modo ser conveniente à educação em escolas mater- acontecerá, somente, na Emenda Constitucional no 14,
nais, jardins de infância e instituições equivalentes. a qual trouxe uma nova redação ao parágrafo 2º da CF:
De acordo com Merisse et al. (1997, p. 49), “[...] este passa a adotar o termo “Educação Infantil” ao atendi-
essa legitimação mesmo com a Lei 5.692, de 1971, não mento de crianças de zero a seis anos (e que foi alterado,
se tinha garantias de educação para a criança que estava posteriormente), sendo compreendido como creche o
inserida na Educação Infantil”. Segundo estes autores, é atendimento a crianças de zero a três anos de idade, e pré-
nesse período que surge o movimento de luta por cre- -escolas o atendimento de crianças de quatro a seis anos.
ches, sob influência do feminismo, que “[...] apresentava Esta inserção na legislação brasileira efetiva o de-
suas reivindicações aos poderes públicos no contexto por ver do Estado com o cumprimento, a organização e as
direitos sociais e da cidadania, modificando e acrescen- normatizações para a Educação Infantil. Tal inserção, de
do significados à creche enquanto instituição” (MERIS- acordo com Corrêa (2002), é considerada uma conquis-
SE et al., 1997, p. 49). A creche começa a aparecer como ta, haja vista que:
um equipamento especializado para atender e educar a
criança pequena, mas que deveria ser compreendido não Uma nova lógica se impõe, dado que qualquer fa-
mília que deseje colocar sua criança numa creche
mais como um mal necessário, mas como alternativa que
poderá recorrer a promotoria pública para que
poderia ser organizada de forma a ser apropriada e sau- está, baseada e fundamentada na Constituição Fe-
dável para a criança, desejável à mulher e à família. Esta deral, acione o Estado a fim de que este cumpra seu
instituição escolar aparecerá, então, como um serviço de dever (CORRÊA, 2002, p. 19).
direito à criança e à mulher, oferecendo a possibilidade de
um atendimento complementar ao oferecido pela famí- As orientações para a Educação Infantil também se da-
lia, necessário e, também, desejável. rão por meio do ECA, atualizado pela Lei 12.796/2013,
Nesse sentido, a Educação Infantil configura-se a que garante o direito ao atendimento da criança em cre-
partir de orientações político-governamentais no país, ches e pré-escolas. Entretanto a Lei 13.306/2016 altera o
oficialmente, a partir da CF de 1988, sendo afirmada ECA e prevê que a Educação Infantil passa a compreen-
pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) de der o ensino de zero a cinco anos.
1990 e pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Na- Com relação às responsabilidades administrativas
cional (LDB), de 1996, documentos nos quais esta mo- da oferta da Educação Infantil, de acordo com a CF, no
dalidade de ensino é assumida como dever de Estado, Art. 211 (BRASIL, 1988, on-line), e com a LDB, no Art.
sendo a educação um direito social. 11 (BRASIL, 1996, on-line), essa modalidade deve ser,
35
prioritariamente, responsabilidade dos municípios, en- 1996, on-line), isso porque estava vinculada ao Ensino
quanto o Ensino Fundamental é competência compar- Fundamental, cuja legislação determinava, nos Art. 5º e
tilhada entre estados e municípios e o oferecimento do 6º, que este nível, enquanto um direito público subjetivo,
Ensino Médio é incumbência dos estados. considerava a matrícula a partir dos sete anos de idade.
Entretanto este cenário se alterou com as modificações
A Educação Infantil na Lei de Diretrizes e ocorridas nessa legislação, no ano de 2005, a partir da
Bases da Educação: Lei nº 9.394/1996 Lei 11.114 (BRASIL, 2005, on-line), que passa a con-
siderar o ingresso nas séries iniciais do Ensino Funda-
A inserção da Educação Infantil, enquanto parte cons- mental efetivado com a matrícula a partir dos seis anos
tituinte da Educação Básica, foi resultado de conquis- de idade. Como consequência, a Educação Infantil foi
tas das mobilizações realizadas ao longo da história da modificada, também, sendo considerada, a partir dessa
Educação Infantil brasileira, haja vista que, ao pertencer legislação, um nível de ensino direcionado a crianças de
à Educação Básica, passa-se a ter outras ações de desen- zero a cinco anos.
volvimento voltadas a este nível de ensino bem como O Ensino Fundamental, com ingresso e matrícula
investimentos, financiamentos, orientações pedagógicas aos seis anos, de acordo com as normatizações estabele-
e administrativas relacionadas aos objetivos de atendi- cidas pela Lei Federal 11.274 (BRASIL, 2006, on-line), é
mento dessa modalidade de ensino. Assim, a LDB, no prioridade dos municípios com a colaboração do Esta-
Art. 29, efetiva a Educação Infantil como a primeira eta- do, enquanto o Ensino Médio é prioridade dos estados
pa da Educação Básica: e a União deve prestar assistência técnica e financeira.
De acordo com a alteração da lei, as ações pedagó-
Art. 29. A educação infantil, primeira etapa da gicas consideram que os níveis de ensino apresentam as
educação básica, tem como finalidade o desen-
seguintes características:
volvimento integral da criança até os seis anos de
idade, em seus aspectos físicos, psicológicos, inte-
lectuais e sociais, completando a ação da família e Educação Infantil: creche (0 a 3 anos) e pré-escola
da comunidade (BRASIL, 1996, on-line). (4 a 5 anos); desenvolvimento integral da crian-
ça, não existe reprovação (Art. 29 a 31). O Ensino
Fundamental: (mínimo 9 anos) objetivo de desen-
Ainda de acordo com a LDB, dentre as atribuições e fun- volver a capacidade de aprender, fortalecer os vín-
ções da Educação Infantil, o Art. 29 destaca o fato de que culos da família, da solidariedade e tolerância. Ten-
a referida legislação preconiza que “cabe aos docentes à do pelo menos 4 horas de trabalho diário (BRASIL,
2005, on-line) (Art. 32-34).
função de contribuir para que as crianças que frequen-
tam esse nível de ensino construam e exerçam a sua ci-
dadania” (BRASIL, 1996, on-line). Com relação à atuação docente na Educação Infantil,
Outra deliberação da LDB aponta, no Art. 29 que de acordo com a LDB, Art. 62, define-se que, para ser
a faixa etária de atendimento das crianças nos espaços docente na Educação Infantil, o indivíduo deverá se for-
de creches e pré-escolas, deveriam ser realizadas, na mar em “[...] nível superior, admitindo-se como forma-
Educação Infantil, com idade até os seis anos (BRASIL, ção mínima, a oferecida em nível médio, na modalidade
36
EDUCAÇÃO FÍSICA
normal” (BRASIL, 1996, on-line). Observe, caro(a) alu- belece, como Diretrizes Curriculares Nacionais para a
no(a), a não existência de nenhuma orientação acerca Educação Infantil, no seu inciso primeiro do Art. 8º:
de um trabalho docente que siga as especificidades de
formação das áreas componentes do corpo de conheci- § 1º [...] as propostas pedagógicas das instituições
de Educação Infantil deverão prever condições
mentos pedagógicos abordados no âmbito da Educação
para o trabalho coletivo e para a organização de
Infantil, aceitando-se, para esse nível de ensino, a atua- materiais, espaços e tempos que assegurem: II a
ção chamada de unidocência. indivisibilidade das dimensões expressivomotora,
Esta sustentação de uma formação unidocente tam- afetiva, cognitiva, linguística, ética, estética e socio-
bém está nas orientações dos Parâmetros Nacionais de cultural da criança (BRASIL, 2009, p. 2)
37
38
EDUCAÇÃO FÍSICA
o professor(a), como profissional do currículo, Sayão (2002, p. 59) destaca, ainda, que:
significa estar além do que poderia significar uma
referência a ele na acepção mais habitual de pro-
[...] só se justifica a necessidade de um/a profes-
fissional de ensino. O professor(a) não só ensina a
sor/a dessa área na Educação Infantil se as propos-
sua matéria ou atende à sua turma (o que reduz o
tas educativas que dizem respeito ao corpo e ao
seu trabalho a alguns conteúdos específicos, uma
movimento estiverem plenamente integradas ao
sala de aula e um grupo de alunos), mas desenvolve
39
40
EDUCAÇÃO FÍSICA
Ayoub (2001) vai além e afirma que a Educação Físi- Caro(a) aluno(a), entendemos que o professor de Edu-
ca na Educação Infantil costuma configurar-se como cação Infantil é essencial em sua atuação especializada
um espaço onde a criança brinca com a linguagem na Educação Física, porque ele é o profissional que tra-
corporal, com o corpo e o movimento, alfabetizan- balha com o corpo, considera o movimento como ação
do-se nessa linguagem. educativa, engloba o brincar e a brincadeira como ele-
mentos educativos. A Educação Física no contexto da
Brincar com a linguagem corporal significa criar Educação Infantil torna-se um momento cuja ludicida-
situações nas quais a criança entre em contato
de é o centro das atividades propostas.
com diferentes manifestações da cultura corporal
(entendida como as diferentes práticas corporais A Educação Física, nesse período, não deve se limi-
elaboradas pelos seres humanos ao longo da his- tar, apenas, à brincadeira. Logo, o professor generalista,
tória, cujos significados foram sendo tecidos nos isto é, o docente que atua em sala de aula, não pode exer-
diversos contextos socioculturais), sobretudo cer a função sem ter a formação adequada na área.
aquelas relacionadas aos jogos e as brincadeiras,
O professor de Educação Física deve planejar as
às ginásticas e às danças, sempre tendo em vista a
dimensão lúdica como elemento essencial para a aulas, organizar a sua ação didático-pedagógica e, as-
ação educativa na infância. Ação que se constrói sim, desenvolver um trabalho diferenciado com qua-
na relação criança/adulto e criança/criança e que lidade educativa, justificando a importância de sua
não pode prescindir da orientação do(a) profes-
atuação na Educação Infantil.
sor(a) (AYOUB, 2001, p. 55).
Caro(a) aluno(a), nesta unidade, discutimos a relação
entre a infância e a importância das aulas de Educação Fí-
sica ministradas por professores da área para atuarem jun-
to à Educação Infantil. A discussão aconteceu a partir da
As aulas de Educação Física aplicadas na
construção e do entendimento de que o tempo da infância
Educação Infantil se constituem em um é um tempo do lúdico, das brincadeiras, do faz-de-conta,
espaço de interação constante, no qual o do movimento, dos risos, dos choros, da exploração dos
brincar é o elemento central ao desenvol- tempos e espaços e do fazer tudo de novo. Então, é por
vimento das ações que levam ao apren- meio desse explorar que, segundo Sarmento (2004), é defi-
dizado. A criança, quando brinca de for- nida a capacidade de reiteração das crianças.
ma orientada, com objetivos definidos, é Para o autor, a reiteração caracteriza-se como o tem-
levada a realizar ações motoras, cogniti- po recursivo da infância, que se exprime em um plano
vas e afetivas, em um contexto social que sincrônico, ou seja, no qual há uma contínua recriação
proporciona situações as quais a levem a das mesmas situações e rotinas, mas também em um
desenvolver, de forma lúdica e prazerosa,
plano diacrônico, por meio do qual ocorre a transmis-
as suas potencialidades.
são de brincadeiras, jogos, rituais e rotinas, de modo
contínuo e incessante, começando tudo de novo.
41
42
agora é com você
43
LEITURA
COMPLEMENTAR
Caro(a) aluno(a), buscando refletir sobre o papel da Edu- ca infantil. Os dados foram tratados por meio da análise
cação Infantil enquanto uma área de conhecimentos de conteúdo. Os resultados apresentaram como desta-
constituída a partir de uma disciplina essencial para co- que o fato de que a educação infantil possui conteúdos
laborar com o processo de ação pedagógica e desenvol- específicos da disciplina da área da educação física, en-
vimento da criança, trouxemos o resultado de uma pes- tretanto os documentos legais não garantem a obrigato-
quisa realizada pelo Grupo de Pesquisa Educação Física riedade de professores com a qualificação da área para
Escolar CNPq/DEF/UEM da Universidade Estadual de Ma- atuarem na área na referida modalidade. Evidenciou-se
ringá, com o intuito de discutir a presença da Educação a disciplina educação física enquanto um componente
Física nos documentos da Educação Infantil. curricular nesta modalidade de ensino, garantida por
Os resultados do estudo indicaram que a Educação Física meio dos conteúdos a serem trabalhos no cotidiano do
está inserida enquanto conteúdos de ensino para a Edu- ensino. Entretanto, a menção a obrigatoriedade e a efe-
cação Infantil, entretanto não há nenhuma especificação tivação do professor de educação física nestes espaços
do rompimento com a unidocência nesses espaços edu- ou modalidade de ensino não são garantidas nos docu-
cativos. Há de se pensar em ações e movimentos que mentos oficiais de governo para a educação. Conclui-se
levem à efetivação da obrigatoriedade do professor de que, ainda há que se fazerem estudos e investigações
Educação Física nesses espaços. Leia o texto, a seguir, e que acrescentem o investimento e a inserção efetiva do
reflita sobre o assunto! profissional nestes espaços de inversão, haja vista que o
conteúdo é primordial, mas a garantia do professor se
Educação Física na Educação Infantil: Realidade faz necessária de maneira clara para que o pedagógico
Qualidade?
Introdução
A educação física tornou-se obrigatória nos currículos
Resumo
escolares, e efetivou-se como componente curricular,
Este trabalho tem como objetivo analisar o papel do pro-
consolidando-se enquanto uma disciplina que possui o
fissional de Educação Física na modalidade de Educação
seu conteúdo estruturante denominado nas Diretrizes
Infantil, por meio de documentos e legislações que regu-
Curriculares (2007): esporte, jogos, brinquedos e brinca-
lamentam o ensino desta modalidade. Para isso, o estu-
deiras, ginástica, lutas, dança. E, ainda, possui os elemen-
do recorreu a pesquisa bibliográfica, cuja coletado dos
tos articuladores dos conteúdos estruturantes da educa-
documentos orientadores da educação infantil se deu a
ção básica: o corpo, a ludicidade, a saúde, o mundo do
partir da busca em acervos públicos disponibilizados por
trabalho, a desportivização, a tática e a técnica, o lazer,
meio de sites oficiais de educação do governo federal e
a diversidade étnico-racial, de gênero e de pessoas com
estadual, que tratam da especificidade da educação físi-
44
LEITURA
COMPLEMENTAR
necessidades educacionais especiais, a mídia. educativas incluindo a segurança, acolher as crianças, ali-
A educação física tida como um componente curricular mentar sua curiosidade, a ludicidade e a expressividade
passava a ter então sua legislação específica, sendo in- infantil.
tegrada como atividade escolar regular e obrigatória no Tendo esse conhecimento, o estudo originou-se da in-
currículo de todos os cursos e níveis dos sistemas de quietude lançada pela problemática: se a educação in-
ensino para crianças acima de 6 anos, de acordo com a fantil está entrelaçada com os conteúdos da educação
promulgação da Lei 9.394/1996, artigo 7º e pelo Decreto física, como o professor qualificado na área específica
11.274/2006. da educação física está inserido nesse contexto? Para
Do ponto de vista legal, a Educação Infantil é a primeira tanto, buscando responder essa inquietude a pesquisa
etapa da Educação Básica e tem como finalidade o de- realizada objetivou analisar o papel do profissional de
senvolvimento integral da criança de zero a cinco anos educação física na modalidade de educação infantil, por
de idade em seus aspectos físico, afetivo, intelectual, meio de documentos e legislações que regulamentam o
linguístico e social, complementando a ação da família ensino desta modalidade.
e da comunidade (Lei nº 9.394/1996, art. 29). As Diretri- Este estudo tem como característica a ser descrito como
zes Curriculares Nacionais (2013) propõem que para a um estudo bibliográfico que é definido por Cervo e Ber-
educação das crianças da educação infantil é necessá- vian (1983), tendo como subsídios documentos legislati-
rios profissionais com a formação específica que atenda vos e orientadores tratados a partir da análise de conte-
às necessidades básicas de todas as crianças, como as údos.
dimensões expressivo-motora, afetiva, cognitiva, linguís- Para que pudéssemos entender o quão importante é a
tica, ética, estética e sócio cultural. Todos esses aspectos atuação de um professor de educação física na área da
se desenvolvem a partir das interações que as crianças educação infantil, primeiramente, temos que entender
estabelecem com o mundo. como que regem as leis do Estado, ou seja, analisar toda
Ainda nas Diretrizes Curriculares Nacionais (2013) é enfa- a sua estrutura e saber como é planejado e como o Es-
tizado como fator de extrema importância para a criança tado vê a educação brasileira. Desse modo, por meio de
o ato de brincar, já que este proporciona oportunida- suas políticas educacionais, públicas e sociais consegui-
des para o imitar, construir o novo, recriar. As crianças mos entender como que funciona toda essa base cons-
usam de sua fantasia para copiar o cotidiano do adulto, truída para manter a sociedade.
por isso é importante que os professores desenvolvam A partir da construção desse itinerário infância, foi ne-
brincadeiras, contem histórias, conversem sobre diver- cessário que o governo pudesse qualificar profissionais
sos temas, promovendo sempre a capacidade infantil de para atender essas crianças com qualidade. A qualidade
conhecer o mundo e a si mesma. Por isso o planejamen- para a educação infantil começa na educação infantil,
to político-pedagógico deve sempre tratar de atividades onde profissionais capacitados iniciam a alfabetização
45
LEITURA
COMPLEMENTAR
de crianças que serão preparadas futuramente para o promover o bem-estar da criança, seu desenvolvimento
mercado de trabalho. “É necessário então uma organi- físico, motor, intelectual, emocional, moral e social, esti-
zação eficaz capaz de fazer com que seus alunos obte- mulando a criança a interessar-se pelo processo do co-
nham independentemente da sua origem sociocultural nhecimento do ser humano, da natureza e da sociedade.
e econômica, níveis elevados de rendimento acadêmico” Isso deve ocorrer, num processo prazeroso, que valorize
(ZABALZA, 1988, p. 36). o lúdico, a cultura, as múltiplas formas de comunicação,
É necessária a educação para que possam existir pro- diálogo e interação.
gressos pessoais que talvez sem essa formalização não
fosse possível alcançá-los, é assim que vemos a impor- Conclusões
tância para que haja a educação para todos os tipos de Os dados indicaram que o trato dos conteúdos da edu-
crianças, incluindo todas as classes sociais e econômicas. cação física na educação infantil, estão presentes de
Sendo assim, o profissional da educação ajuda para po- forma recorrente. Entretanto, se faz necessário a in-
tencializar, reforçar e multiplicar o desenvolvimento da serção e obrigatoriedade nos documentos legislativos
criança (ZABALZA, 1998). e orientadores da educação infantil que destaquem
Desse modo, o professor/educador precisa refletir acer- para a necessidade de professores qualificados de
ca da importância e o papel das brincadeiras no seu educação física para atender a todas as crianças nos
trabalho e deve fazer de todas as atividades de cuidar centros de educação infantil pois há que se destacar
e educar um brincar. A deliberação 003/99, do Conselho que esse profissional contribuiria de forma significa-
Estadual de Educação em seu art. 6º, ressalta que a edu- tiva para o processo de desenvolvimento infantil em
cação infantil deve cumprir suas duas funções: cuidar e função de sua formação específica.
educar, sendo estas indispensáveis e indissociáveis, para
Fonte: Carmo e Souza (2016, p. 1-4).
46
material complementar
Tratado com seriedade, o direito de brincar é o tema deste documentário que aborda
o conceito de “espírito lúdico” e convida para a reflexão do desenvolvimento do ho-
mem adulto. Um documentário incrível, dirigido por Cacau Rhoden e produzido pela
Maria Farinha Filmes e pelo Instituto Alana, fala, exatamente, sobre um dos melhores
remédios para a vida toda: a brincadeira. “Quando você perde a capacidade de brincar,
você perde uma conexão com a sua essência”. Em uma referência a adultos e crianças,
a frase é do ator Domingos Montagner e faz parte da abertura de Tarja Branca – A Revolução que Faltava.
47
PLANEJANDO A EDUCAÇÃO
FÍSICA ESCOLAR
Oportunidades de aprendizagem
• Compreender as etapas do planejamento para as aulas de Educação Física.
Plano de Estudo
• Planejar é Imprescindível
III
Ao longo da história, a Educação Física percorreu cami- para que você possa, autonomamente, em um futuro
nhos acidentados e, até o presente momento, esta discipli- profissional próximo, ter a condição de organizar um
na ainda busca construir caminhos mais suaves. Houve plano educacional à Educação Física escolar.
muita problematização em nossa tradicional Educação Vamos ao trabalho!
Física escolar, desde a sua forma de se colocar no contex-
to educacional como atividade até o fato de se submeter, PLANEJAR É IMPRESCINDÍVEL
incondicionalmente, à prática do esporte-performance,
entendendo-se como formadora de atletas e responsável
pelo sucesso esportivo nacional. Grande engano!
Inicialmente, houve a busca pelo desmantelamen-
to desta concepção tão equivocada quanto limitada da
área, colocando a Educação Física como integrante do
processo educacional e com uma participação que supe-
ra a visão reducionista da atividade. Nesta empreitada,
podemos afirmar que a Educação Física escolar avan-
çou, significativamente, em todos os sentidos, mas pre-
cisamos avançar muito mais.
A educação, de forma geral, assim como as demais
áreas, possui propostas que se baseiam em pressupostos
de concepções distintas de indivíduo e sociedade. Isso
se reflete na forma propositiva de cada vertente, com
indicativos, por vezes, similares, mas que trazem raízes
e intencionalidades diferentes. Por isso, ao ler uma pro- O ato de planejar se aplica a todas as atividades de nos-
posta, faz-se necessário saber as suas raízes, proponen- sas vidas. Se não houver cuidado e atenção a este ato,
tes e intencionalidades. corremos o risco de desenvolvermos ações sem sen-
Dessa forma, um aspecto assume papel preponde- tido e significado aos propósitos idealizados. É como
rante nesta tarefa de apresentar uma área de conheci- pensarmos em ir ao mercado para fazermos compras e
mento no processo educacional: o planejamento. Este é não termos clareza de quais mantimentos precisamos,
o elemento central que nos auxilia a valorizar e a colocar quanto dinheiro temos e o quanto é necessário, como
as nossas expectativas em curso no processo educativo. transportaremos as compras e se ir ao mercado seria a
Assim, nesta unidade, você será capaz de visualizar melhor opção, uma vez que, na feira do produtor, seria,
como podemos organizar a Educação Física escolar bem talvez, mais barato. Se as etapas bem como os detalhes
como os seus conteúdos, dando sequência lógica ao lon- não estiverem bem organizadas, as compras poderão ser
go dos anos escolares, respeitando o desenvolvimento um verdadeiro desastre. Este é um simples exemplo de
dos alunos e o grau de complexidade exigido para cada nosso cotidiano para demonstrar que planejar está in-
tema estabelecido. Essa organização visa a capacitá-lo(a) cluído nas mais corriqueiras atividades.
50
EDUCAÇÃO FÍSICA
Ao pensarmos o ato educativo, temos a mesma situ- integrante do processo educacional. Se não houver tal
ação, mas com agravantes futuros muito mais comple- preocupação, estaremos mantendo uma atividade na es-
xos, os quais podem decorrer de: falta de planejamento, cola ao invés do desenvolvimento de um componente
desinteresse dos alunos, desvalorização da área de co- curricular, como foi bem salientado na Unidade I.
nhecimento, entendimento de perda de tempo e muitos
outros problemas que comprometem várias gerações.
Dessa forma, pensar, antecipadamente e com rigor es-
trutural, se coloca como estratégia básica para o sucesso O planejamento é uma ação pedagógica que
educacional. deve ocorrer de forma integrada a todos os
Em específico, ao observar as aulas de Educação Fí- acontecimentos escolares, além de deve en-
sica, se não for alguém da área, é possível ter a impressão volver, nas discussões, toda a comunidade
de que elas não exigem planejamento, pois são crianças escolar, pois, somente, dessa forma o conhe-
brincando ou jogando sem demonstrar preocupação cimento tem chances de chegar ao aluno de
com algum objetivo que não seja o de se divertir e/ou forma significativa, com objetivos possíveis
ganhar. É óbvio que isso é um sério erro de interpretação de se concretizar. Acesse: https://novaescola.
e, também, uma visão de leigos sobre a área. Mas se os org.br/conteudo/295/planejamento-escolar.
leigos podem ter essa visão é porque nem sempre nos
preocupamos em despertar neles visões para além das
atividades. Este é um cuidado pedagógico que os pro-
fessores de Educação Física precisam ter, ou seja, fazer As Etapas do Planejamento e a
com que os participantes das aulas consigam enxergar Relevância Delas
para além da diversão e da movimentação. É fundamen-
tal que se demonstre aos participantes o sentido, o sig-
nificado, a importância bem como a utilidade do que é
trabalhado nas aulas de Educação Física.
O professor de Educação Física deve ter claro que
todas as ações desenvolvidas em suas aulas precisam ser
muito bem organizadas e estruturadas, pois delas decor-
rem o aprendizado e a futura autonomia dos alunos para
que eles sejam capazes de usufruir desses conhecimen-
tos em suas vidas.
Nesse sentido, selecionar, adequadamente, os obje-
tivos, os conteúdos, os procedimentos metodológicos e
avaliativos, coloca-se como vital para o sucesso das au-
las e, também, para a valorização dessa área enquanto
Os alunos do 5º ano chegam para a aula e perguntam: O exemplo citado carrega um processo histórico que
“professor, o que teremos na aula, hoje?”. O professor denigre a imagem da área, além de fortalecer, no ima-
responde: “hoje, vamos brincar de bola queimada”. Um ginário social, uma imagem muito desfavorável ao pro-
aluno problematiza: “mas de novo, professor?”. “Sim”, res- fissional da Educação Física e da própria área. Essas
ponde o profissional. Outro aluno questiona: “mas por crianças, com certeza, integrarão a sociedade em postos
que a queimada?”. “Porque eu já planejei esta atividade”, o de trabalho, serão pais e mães e carregarão consigo uma
professor responde. Boa parte dos alunos foi para a brin- imagem deplorável de suas experiências escolares com a
cadeira e os que não queriam, ficaram conversando e/ou Educação Física.
fazendo outras atividades durante a aula. No fim, os alu- Para mudar tanto este quadro quanto esta prática,
nos despedem-se do professor e vão para a sala de aula. o professor precisa ter clareza da importância de orga-
Nesta experiência, podemos questionar: nizar os conhecimentos a serem trabalhados na escola.
• Este exemplo de aula é muito comum nas escolas O tempo que se tem com as crianças é curto, portanto,
brasileiras? ele precisa ser valorizado, em cada segundo, com opor-
• O professor possuía um planejamento? tunidades de aprendizagem. Desse modo, não é reco-
• Os alunos participaram da elaboração do plane- mendado ter tempo ocioso no processo educacional, e
jamento da disciplina? todas as ações devem ter o compromisso de contribuir
• As atividades estão de acordo com os interesses e com o processo formativo e informativo dos alunos. As
as necessidades dos participantes?
atividades vivenciadas devem estar encaixadas em pro-
• O que os alunos levaram para suas vidas, de rele-
pósitos que levem os alunos a patamares cognoscentes,
vante, desse exemplo de aula?
sociais, afetivos e motores superiores. Aqui, utilizaremos
• Qual será a ideia que esses alunos carregarão
o termo trabalhado pelo professor Manuel Sérgio (2005,
consigo sobre aulas de Educação Física e sobre
esse professor, ao longo de suas vidas? p. 50): “Transcendência é o ato de ultrapassar os estágios
anteriores e atingir novos estágios de desenvolvimento
As respostas a estas questões não são favoráveis ao pro- em cada um dos domínios trabalhados”.
fissional e à área da Educação Física. Mesmo que tenha Em relação às etapas do planejamento, elas não fo-
ocorrido certa evolução na produção do conhecimento gem às etapas que estão apresentadas na Figura 1, in-
da área, ainda sofremos com práticas descontextualiza- dependentemente das diversas propostas educacionais
das e frágeis, pedagogicamente. que surgem. Essas etapas colocam-se como o alicerce de
qualquer planejamento, um caminho a ser observado e
atendido, a fim de haver coerência no que se pretende
com a disciplina trabalhada. Assim, de acordo com Oli-
Se consideramos o planejamento integrado veira et al. (2009), para se pensar em um planejamento,
às necessidade e realidade da criança e da é necessário seguir um esquema coerente e coeso com a
comunidade escolar, é possível afirmar que finalidade de obter o sucesso das suas aulas.
ele deve ser flexível, não engessado? Veja, a seguir, as indicações dos autores para a elabo-
ração de um bom planejamento.
52
EDUCAÇÃO FÍSICA
O Diagnóstico
Quais são os elementos culturais da comunidade e como Como é a localidade em que se insere a escola?
eles podem intervir em relação às atividades sociais? O Lembre-se sempre que a escola não está em uma
diagnóstico se coloca como o ponto de partida de um abóboda, então, não deve ser considerada fora da reali-
planejamento, afinal, saber para quem e com quem se dade do seu entorno. Assim, mapeie a população com a
planeja é de fundamental importância para haver har- qual você interagirá: nível socioeconômico, sexo, idade,
monia e sucesso. Nesse sentido, alguns pontos são im- densidade demográfica. Levante a infraestrutura da lo-
portantes de serem considerados e observados nesse calidade bem como os pontos de convivência e esporte
levantamento. Os veremos, a seguir. que são disponibilizados.
54
EDUCAÇÃO FÍSICA
Dois aspectos precisam ter a atenção do professor, Seguindo as palavras de Oliveira et al. (2009, p. 251):
em especial:
• É muito comum trabalhar conteúdos que são de [...] deve-se considerar que os conteúdos são uma
domínio do docente e do grupo. herança cultural diversificada e têm uma relação
com a vida dos alunos. A Educação Física pode
• A vivência de novos conteúdos e conhecimentos
abarcar muitos conhecimentos e precisa ter clareza
exige estudo, dedicação e convencimento, o que,
na seleção a ser feita para os diversos anos escola-
por vezes, provoca limitações de novas experi- res.
ências.
Estes dois aspectos devem ser, continuamente, cuida- Por último, é necessário entender que a docência exige
dos, pois a escola é o ambiente no qual os alunos pre- contínuo estudo e aperfeiçoamento. Um professor não
cisam ter a chance de novos conhecimentos e vivências. deve se limitar à sua formação inicial. Ele deve estar
Trata-se de um processo que exige o comprometimento atento para elaborar estratégias de ensino que contem
de todos, além de ser um exercício que, como forma de com as novidades surgidas na área.
treinamento, deve ser contínuo. É necessário aprender a
dar chances ao novo, ao desconhecido e às novas expe- A Natureza dos Conteúdos
riências — sendo elas positivas ou negativas — de todas
elas, há a possibilidade de extrair conhecimentos impor- De acordo com Oliveira et al. (2009), os conteúdos sem-
tantes a nossas vidas. pre estão no cerne das discussões de programas de en-
Este destaque foi dado, nesse momento, pois é co- sino, devem ser considerados e elencados, considerando
mum que, nas aulas de Educação Física, por consequ- todas as possibilidades de utilização. Assim, os autores
ência da falta de uma organização mais consistente e propõem um novo olhar sobre esses conteúdos.
vinculada aos demais conhecimentos da formação, tra- Desse modo, exemplificaremos utilizando as regras
balhe-se conteúdos esportivos vinculados, somente, às dos esportes e/ou jogos e brincadeiras (para qualquer
vivências dos professores. Por exemplo: um professor um deles serve o exemplo). A natureza básica deste con-
que é técnico de handebol trabalha, apenas, essa moda- teúdo — regras dos esportes — é apresentar a orga-
lidade ao longo dos diversos anos escolares. Com isso, os nização dos esportes. Ao ensinar como essas regras se
alunos são obrigados a vivenciar, somente, o handebol, relacionam com as nossas regras sociais de convivência
sem a chance de novas experiências. ou como se aplicam ao nosso cotidiano, o conteúdo pro-
É fundamental entender que os conteúdos reúnem posto é apresentado sob um novo olhar. Trata-se de en-
conhecimentos organizados, de forma pedagógica e di- sinar as regras dos esportes fazendo uso da transcendên-
dática, tendo em vista a aplicação prática na vida dos cia desse conteúdo básico, ou seja, um olhar ampliado e
alunos (LIBÂNEO, 1994). complexificado.
56
EDUCAÇÃO FÍSICA
Segundo Oliveira et al. (2009), os conceitos — os Segundo Oliveira et al. (2009, p. 211): “As atitudes refe-
quais, em geral, são abstratos e estão ligados às rem-se à personalidade, às ações que os indivíduos têm
compreensão e memorização dos fatos vivenciados numa relação. [...] é preciso considerar que as atitudes
— permitem a interpretação sobre os significados. abrangem valores e normas de comportamento, de na-
Quanto mais compreensão dos conceitos houver, tureza relacional”.
mais fatos são aprendidos. Sob essa perspectiva, de acordo com Oliveira et al.
Dessa forma, segundo Oliveira et al. (2009, p. 254), (2009, p. 211), “[...] é preciso considerar que todas as
“[...] há um grande desafio para o professor de Educação práticas esportivas têm uma dimensão conceitual, pro-
Física: como escolher e organizar conteúdos conceituais cedimental e atitudinal, naturalmente em alguns casos
e utilizá-los em aulas de práticas esportivas”. predominam uma ou outra dimensão, mas todas estão
presentes”.
Procedimentos
Critérios para a seleção dos conteúdos
Para Oliveira et al. (2009), os conteúdos de ordem proce-
dimental estão ligados ao “fazer”, à ação propriamente dita. Além dos aspectos já salientados para a seleção e orga-
Aqui, cabe a ressalva de que a Educação Física é acu- nização dos conteúdos, há a necessidade de cuidar de al-
sada, continuamente, de se embasar, somente, nos pro- guns critérios destacados por Piletti (1997). Aqui, se en-
cedimentos dos conhecimentos que são trabalhados. fatiza o fato de que os conteúdos da Educação Física são
Dada a aproximação com os aspectos práticos da disci- conteúdos de aplicação e utilização imediata dos alunos,
plina, por vezes, as ações se reduzem a vivências sem a ou seja, ao finalizar a aula, os alunos já podem usufruir
devida atenção aos demais aspectos conceituais e atitu- desses conteúdos nos seus cotidianos. Contudo o pro-
dinais. Aqui, todo cuidado é pouco! Se o professor não fessor precisa estar atento e, continuamente, demonstrar
ficar atento e não cuidar, de forma adequada, das ações, aos alunos como isso pode ser aplicado.
elas correm o risco de serem reduzidas a atividades com A seguir, veremos indicações de critérios que devem
fim em si mesmas. ser cuidados nessa seleção de conteúdos.
Estratégias Metodológicas
Agora, chegou o momento de se definir pelo caminho todologia de ensino apresentados por Libâneo (1994):
metodológico: como apresentar e desenvolver os con- exposição do professor; trabalho independente; elabo-
teúdos selecionados? Qual a melhor forma e estratégia ração conjunta; trabalho em grupo; atividades especiais.
para isso? Como envolver os alunos? De que modo Tais conceitos colocam-se de forma global bem como
aproveitar os momentos, a fim de que sejam ricos, peda- abarcam procedimentos essenciais ao que podemos de-
gogicamente, e que todos possam enxergar e aproveitar, nominar “bom trabalho metodológico”.
em seus cotidianos, os temas trabalhados? De acordo com Oliveira et al. (2009, p. 212), no con-
Nem sempre conseguiremos atender, por meio de nos- texto escolar,
sas aulas, a todos estes questionamentos, mas é importante
entendermos a importância das estratégias. A estratégia é o [...] todas essas situações entendidas, discutidas e re-
fletidas a partir das práticas corporais, podem gerar
caminho, o rumo, o percurso utilizado para atingir os ob-
apropriação de conhecimentos significativos para
jetivos determinados. A escolha dela está relacionada aos os alunos. Entretanto, é preciso entender que, para
conteúdos que serão desenvolvidos e às características do o desenvolvimento dos conteúdos, o professor pode
grupo de alunos. Quanto mais próximo do aluno, maiores (deve) optar por uma ou mais estratégias. Tudo vai
as chances de acertar a escolha metodológica. depender do estágio de desenvolvimento e de que
recursos o grupo constituído precisa para se apro-
A Pedagogia e a própria Educação Física possuem
priar dos conhecimentos e vivências trabalhadas.
muitas opções de caminhos, contudo, para facilitar um
pouco este trabalho, utilizaremos os conceitos de me- Veja, a seguir, o exemplo:
58
EDUCAÇÃO FÍSICA
60
EDUCAÇÃO FÍSICA
Nesse sentido, deve-se pensar em como os conheci- com graus de complexidade adequados aos conheci-
mentos e vivências podem ser estruturados em uma sequ- mentos e vivências para cada ano. Trata-se, apenas, de
ência lógica com potencial de estimular a todos no decorrer uma proposta, mas passível de contribuir com a futura
das aulas. Essa condição exige que o professor: fique atento estruturação que você fará em sua escola, servindo de
às fases de desenvolvimento (cognitivo, motor, físico e so- base para os dados a serem levantados e elencados em
cial) dos alunos, se preocupe com o que as demais discipli- seu planejamento.
nas desenvolvem ao longo dos anos escolares e como esses
conhecimentos servem de base para a seleção dos conhe- CAMINHOS PARA O PROCESSO DE ES-
cimentos da Educação Física e das ações interdisciplinares. TRUTURAÇÃO DOS CONTEÚDOS DA
Por fim, como as teorias da aprendizagem indicam que os EDUCAÇÃO FÍSICA
conhecimentos são tratados e potencializados de forma que
os alunos aprendam com mais facilidade. O professor precisa se atentar a aspectos que potenciali-
Esta possibilidade de sistematização está apresenta- zam a estruturação de conteúdos e, também, como tais
da, de maneira bastante rica, no livro de Palma, Oliveira aspectos contribuem com o processo formativo e infor-
e Palma (2010). Nesta obra, há uma proposta de orga- mativo dos alunos, da mesma forma que se vinculam ao
nização da Educação Física em núcleos temáticos que Projeto Pedagógico da escola e às demais áreas do co-
devem ser trabalhados ao longo de toda a vida escolar, nhecimento, ano a ano, trabalhadas.
62
EDUCAÇÃO FÍSICA
Alguns pontos costumam servir de base para a estrutu- A Educação Física tem evoluído, sistematicamen-
ração da sistematização dos conteúdos. te, e disponibilizado muitos conhecimentos que fa-
vorecem o processo formativo. As práticas corporais
Conhecimentos Produzidos na Área envolvem manifestações esportivas e rítmicas, jogos,
da Educação Física brincadeiras, expressão corporal, ginástica, lutas, dan-
ça, sendo consubstanciadas para além de seu próprio
As práticas corporais compõem um leque enorme entendimento em temas relacionados a saúde, biome-
de possibilidades e ações que devem ser trabalhadas cânica, ergonomia, Sociologia, Antropologia, Filosofia
na Educação Física escolar. Tais práticas colocam-se e outras dimensões pedagógicas.
como um acervo rico que deve ser refletido, vivencia- A Educação Física é uma área, digamos assim, “abu-
do e, se necessário, reformulado e adaptado no pro- sada” em se tratando de possibilidades de intervenção
cesso educacional. Entretanto é imperioso ter claro e formação, pois ela consegue, por intermédio de suas
que a Educação Física escolar não se restringe e se vivências, trabalhar os seus conhecimentos bem como
responsabiliza, apenas, pelo trabalho com as práticas apoiar todas as demais áreas formativas do processo
corporais, já que elas são, somente, parte do que se educacional. Para tanto, se exige do professor dedicação
deve trabalhar na sequência escolar. e um processo de planejamento muito detalhado e ar-
Na organização das aulas, as práticas assumem, ticulado com as demais áreas de conhecimento. Nesse
muitas vezes, papéis distintos de acordo com o objetivo cenário, ressalta-se que, para todos os componentes, isso
traçado, que vão desde o acesso aos conhecimentos de é vital, porque, desse modo, haverá a chance de trabalhos
sua própria estrutura até a organização do meio para o mais produtivos e que poderão, muito facilmente, favo-
ensino de outros conteúdos. Por exemplo, inicialmen- recer o processo de aprendizagem dos alunos.
te, são organizadas aulas de atletismo com as provas de As demais disciplinas de formação e os seus cader-
pista para os alunos tanto entenderem quanto conhe- nos são prova fiel desta afirmativa que acabamos de
cerem como são organizadas e estruturadas essas pro- apresentar, ou seja, todos têm muitos conhecimentos da
vas, assim como as técnicas motoras exigidas por esta Educação Física a serem organizados e trabalhados com
modalidade. Este será um bloco de estudo para algumas os alunos no processo educacional.
aulas e, oportunamente, as provas de pista podem ser
utilizadas nos trabalhos de conhecimentos vinculados Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendi-
a saúde e treinamento, tais como: capacidade aeróbica e zagem Humana
anaeróbica, força explosiva etc.
Nesse exemplo, as provas de pista, em dado momen- A Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem
to, são o objeto de estudo das aulas, em outro, servem de Humana trabalha conhecimentos os quais balizam o
meio (estratégia) ao acesso a outros objetos de estudo. grau de profundidade e de exigência que podemos atri-
É muito importante que o professor domine e entenda buir à organização de nossas aulas.
isso, pois, do contrário, o profissional fará, apenas, a re- Portanto, estaremos atentos ao que autores como
petição de atividades, sem chance de aprofundamento, Erikson e Erikson (1998), Olds e Papalia (2000), Wallon
tampouco de enriquecimento pedagógico das vivências. (1953), Vayer (1982), Piaget (1986), dentre outros. Esses
autores fornecem informações que vão do estado psico- diferentes das etapas de desenvolvimento desses alunos.
lógico de desenvolvimento até as etapas de desenvolvi- De forma muito recorrente, há um descompasso entre
mento motor, apresentando indicativos de como o pro- aquilo que se tem condições de realizar, com chances
fessor é capaz de dar complexidade à organização das de sucesso, e o que se programa para as aulas. Portanto,
ações no planejamento, inclusive em suas aulas. recorrer às teorias de desenvolvimento trabalhadas por
A base teórica é a consistência que o professor pre- Magill (1984), Boulch (1987), Tani et al. (1988), Gallahue
cisa para consolidar e justificar o seu planejamento. Sem e Ozmun (2005), entre outros, para fundamentar a orga-
estrutura teórica, o plano fica vulnerável, correndo o ris- nização dos conhecimentos e vivências, é imprescindível
co de incorrer em equívocos que diminuem a importân- ao planejamento da Educação Física escolar.
cia da disciplina.
O professor que mantém a consistência teórica e Teorias Pedagógicas
tem, claramente, justificadas as ações selecionadas, terá
tranquilidade nas defesas frente ao corpo docente e pe- As teorias pedagógicas colocam-se como opções aos
dagógico de sua escola, assim como junto à comunida- professores e projetos pedagógicos das escolas. A for-
de. Com isso, a disciplina ganha em relevância na pro- ma de entender e desenvolver o processo formativo
posta pedagógica da escola. é carregada de intencionalidades que trazem consigo
o entendimento de indivíduo, mundo e sociedade.
Teorias do Desenvolvimento Motor Esse entendimento é traduzido na forma de organi-
zar a escola, de selecionar e trabalhar os conteúdos
Em relação às teorias do desenvolvimento motor, é im- bem como na maneira de avaliar. Assim, reforça-se a
portante ter clareza das etapas bem como das formas de importância da participação efetiva de todos na ela-
estimulações motoras possíveis, sendo importante, tam- boração do Projeto Pedagógico da escola, afinal, será
bém, que elas sejam interessantes aos alunos. Por algum com base neste documento norteador que a escola e
tempo, a área da Educação Física criticou, sem muito os seus integrantes organizarão as ações pedagógicas
fundamento, as teorias desenvolvimentistas. Contudo, e administrativas gerais.
nos dias atuais, isso está mais bem-resolvido, assim, o Tais tendências são, apenas, alguns exemplos os quais
que importa é saber fazer uso dos conhecimentos abor- possibilitam observar que a escolha de uma tendência
dados por essas teorias, a fim de qualificar as ações mo- recairá na forma de trabalhar os diversos componentes
toras, ao longo da vida escolar de nossos alunos. curriculares da escola. Contudo é muito importante que
Um dos mais sérios equívocos que os professores co- todos entendam as propostas e as suas bases teóricas, afi-
metem e que acaba por desestimular os alunos é a pro- nal, é a partir delas que se estruturam os procedimentos
gramação de ações motoras em graus de complexidade e, também, as discussões gerais do processo formativo.
64
EDUCAÇÃO FÍSICA
Não podemos excluir da nossa discussão sobre o plane- Em 2015, deu-se início ao processo de discussão a
jamento da educação física na escola, a nova compreen- respeito da Base Nacional Comum Curricular (BNCC).
são baseada nas habilidades, direitos e competências que Esse documento foi debatido ao longo de vários gover-
norteiam o trabalho pedagógico: estamos nos referindo nos e gestores, ganhando, por meio de consultas e audi-
à Base Nacional Comum Curricular (BNCC). ências públicas, milhares de contribuições. Houve cerca
Este documento é o mais recente norte da Educação de 12 milhões de contribuições na primeira versão, me-
Básica no país e foi construído por longos anos. Atual- tade delas originárias de 45 mil escolas.
mente, ele está na base dos currículos de estados e muni- A segunda versão viajou pelos estados brasileiros, por
cípios e interfere na forma de constituir os conteúdos e meio de seminários estaduais, no ano de 2016. Tais semi-
os componentes curriculares, as antigas disciplinas. nários foram organizados pelo Consed (Conselho Nacional
Vamos aprender, um pouco mais, acerca deste as- de Secretários de Educação) e pelo Undime (União Nacio-
sunto, pensando como organizar o nosso planejamento nal dos Dirigentes Municipais de Educação), com a parti-
de Educação Física diante destes novos desafios? cipação de mais ou menos 9 mil pessoas, incluindo educa-
dores e alunos, a fim de discutir, em detalhes, o documento.
A construção da BNCC Já no ano de 2017, o Conselho Nacional de Educa-
ção (CNE) recebeu a terceira versão que, por sua vez,
Hoje, no Brasil, temos um documento normativo que quis dar voz, novamente, à opinião do Brasil, em uma
orienta toda a educação básica desde a Educação Infan- nova rodada de seminários regionais. No final desse
til até o Ensino Médio. Conheceremos, um pouco mais mesmo ano, a BNCC foi homologada pelo órgão com-
sobre ele e como ocorreu a sua construção. petente (MEC) e passou a ter validade para todo o país.
66
EDUCAÇÃO FÍSICA
68
EDUCAÇÃO FÍSICA
Traços, sons, cores e formas – Conviver com dife- em conversas, nas descrições, nas narrativas elabo-
rentes manifestações artísticas, culturais e científi- radas individualmente ou em grupo e nas implica-
cas, locais e universais, no cotidiano da instituição ções com as múltiplas linguagens que a criança se
escolar, possibilita às crianças, por meio de experi- constitui ativamente como sujeito singular e per-
ências diversificadas, vivenciar diversas formas de tencente a um grupo social.
expressão e linguagens, como as artes visuais (pin-
tura, modelagem, colagem, fotografia etc.), a música, Desde cedo, a criança manifesta curiosidade com
o teatro, a dança e o audiovisual, entre outras. Com relação à cultura escrita: ao ouvir e acompanhar a
base nessas experiências, elas se expressam por vá- leitura de textos, ao observar os muitos textos que
rias linguagens, criando suas próprias produções circulam no contexto familiar, comunitário e escolar,
artísticas ou culturais, exercitando a autoria (cole- ela vai construindo sua concepção de língua escrita,
tiva e individual) com sons, traços, gestos, danças, reconhecendo diferentes usos sociais da escrita, dos
mímicas, encenações, canções, desenhos, modela- gêneros, suportes e portadores. Na Educação Infan-
gens, manipulação de diversos materiais e de re- til, a imersão na cultura escrita deve partir do que as
cursos tecnológicos. Essas experiências contribuem crianças conhecem e das curiosidades que deixam
para que, desde muito pequenas, as crianças desen- transparecer. As experiências com a literatura infan-
volvam senso estético e crítico, o conhecimento de til, propostas pelo educador, mediador entre os textos
si mesmas, dos outros e da realidade que as cerca. e as crianças, contribuem para o desenvolvimento
Portanto, a Educação Infantil precisa promover a do gosto pela leitura, do estímulo à imaginação e da
participação das crianças em tempos e espaços para ampliação do conhecimento de mundo. Além dis-
a produção, manifestação e apreciação artística, de so, o contato com histórias, contos, fábulas, poemas,
modo a favorecer o desenvolvimento da sensibi- cordéis etc. propicia a familiaridade com livros, com
lidade, da criatividade e da expressão pessoal das diferentes gêneros literários, a diferenciação entre
crianças, permitindo que se apropriem e reconfigu- ilustrações e escrita, a aprendizagem da direção da
rem, permanentemente, a cultura e potencializem escrita e as formas corretas de manipulação de livros.
suas singularidades, ao ampliar repertórios e inter- Nesse convívio com textos escritos, as crianças vão
pretar suas experiências e vivências artísticas. construindo hipóteses sobre a escrita que se revelam,
inicialmente, em rabiscos e garatujas e, à medida que
Escuta, fala, pensamento e imaginação – Desde o vão conhecendo letras, em escritas espontâneas, não
nascimento, as crianças participam de situações convencionais, mas já indicativas da compreensão da
comunicativas cotidianas com as pessoas com as escrita como sistema de representação da língua.
quais interagem. As primeiras formas de interação
do bebê são os movimentos do seu corpo, o olhar, Espaços, tempos, quantidades, relações e transforma-
a postura corporal, o sorriso, o choro e outros re- ções – As crianças vivem inseridas em espaços e tem-
cursos vocais, que ganham sentido com a inter- pos de diferentes dimensões, em um mundo consti-
pretação do outro. Progressivamente, as crianças tuído de fenômenos naturais e socioculturais. Desde
vão ampliando e enriquecendo seu vocabulário e muito pequenas, elas procuram se situar em diversos
demais recursos de expressão e de compreensão, espaços (rua, bairro, cidade etc.) e tempos (dia e noi-
apropriando-se da língua materna – que se torna, te; hoje, ontem e amanhã etc.). Demonstram também
pouco a pouco, seu veículo privilegiado de intera- curiosidade sobre o mundo físico (seu próprio corpo,
ção. Na Educação Infantil, é importante promover os fenômenos atmosféricos, os animais, as plantas,
experiências nas quais as crianças possam falar e as transformações da natureza, os diferentes tipos de
ouvir, potencializando sua participação na cultura materiais e as possibilidades de sua manipulação etc.)
oral, pois é na escuta de histórias, na participação e o mundo sociocultural (as relações de parentesco e
70
EDUCAÇÃO FÍSICA
Fica evidente que o conteúdo da Educação Física está sonora e, contemporaneamente, digital. A interação das
contido no campo de corpo, gestos e movimentos, po- pessoas consigo mesmas e com os outros é feita por es-
rém é possível, também, perceber que há espaços para sas linguagens e, nesse processo, ocorre a construção do
o trabalho desta disciplina em outros campos devido à sujeito social. Estão envolvidos conhecimentos, atitudes
extensão e aos desdobramentos dos conteúdos, por isso, e valores culturais, morais e éticos.
faz-se necessário que o professor de Educação Física não
trabalhe de forma isolada, mas esteja próximo dos de- Na BNCC, a área de Linguagens é composta pelos
seguintes componentes curriculares: Língua Por-
mais professores, buscando os eixos que se aproximam
tuguesa, Arte, Educação Física e, no Ensino Funda-
dos conteúdos da área, fazendo a busca interdisciplinar, mental – Anos Finais, Língua Inglesa. A finalidade
a fim de trabalhar os conteúdos. Este processo conjunto é possibilitar aos estudantes participar de práticas
faz a diferença na aprendizagem, pois a torna significa- de linguagem diversificadas, que lhes permitam
tiva aos alunos. ampliar suas capacidades expressivas em mani-
festações artísticas, corporais e linguísticas, como
também seus conhecimentos sobre essas lingua-
A Educação Física no Ensino gens, em continuidade às experiências vividas na
Fundamental como Área de Linguagens Educação Infantil. As linguagens, antes articuladas,
e as Suas Competências passam a ter status próprios de objetos de conhe-
cimento escolar. O importante, assim, é que os es-
tudantes se apropriem das especificidades de cada
Na BNCC (BRASIL, 2018), há uma compreensão do co- linguagem, sem perder a visão do todo no qual elas
nhecimento por áreas de saberes, pois, é por meio das estão inseridas. Mais do que isso, é relevante que
atividades humanas que as práticas sociais se realizam, compreendam que as linguagens são dinâmicas, e
que todos participam desse processo de constante
expressas por diferentes linguagens: verbal (oral ou vi-
transformação (BRASIL, 2018, p. 65).
sualmotora, como Libras, e a escrita), corporal, visual,
BNCC
CIÊNCIAS DA CIÊNCIAS
LINGUAGEM MATEMÁTICA NATUREZA HUMANAS
Língua
portuguesa
Língua
estrangeira
Artes
Educação física
72
EDUCAÇÃO FÍSICA
A Educação Física é compreendida como uma das lin- amadurecimento integral do aluno que está vivenciando
guagens, ela tem uma linguagem específica, que é o mo- esse processo bem como a construção de habilidades as
vimento corporal, porém esse movimento tem as suas quais, por sua vez, podem ocorrer em longo prazo.
particularidades e deve, também, ser entendido sob o
olhar que nenhuma outra linguagem possui, o olhar so- A finalidade é possibilitar aos estudantes participar
de práticas de linguagem diversificadas, que lhes
bre o movimento construído, culturalmente.
permitam ampliar suas capacidades expressivas
em manifestações artísticas, corporais e linguísti-
É fundamental frisar que a Educação Física ofere- cas, como também seus conhecimentos sobre es-
ce uma série de possibilidades para enriquecer a sas linguagens, em continuidade às experiências
experiência das crianças, jovens e adultos na Edu- vividas na Educação Infantil. As linguagens, antes
cação Básica, permitindo o acesso a um vasto uni- articuladas, passam a ter status próprios de objetos
verso cultural. Esse universo compreende saberes de conhecimento escolar. O importante, assim, é
corporais, experiências estéticas, emotivas, lúdicas que os estudantes se apropriem das especificidades
e agonistas, que se inscrevem, mas não se restrin- de cada linguagem, sem perder a visão do todo no
gem, à racionalidade típica dos saberes científicos qual elas estão inseridas. Mais do que isso, é rele-
que, comumente, orienta as práticas pedagógicas na vante que compreendam que as linguagens são
escola. Experimentar e analisar as diferentes formas dinâmicas, e que todos participam desse processo
de expressão que não se alicerçam apenas nessa ra- de constante transformação (BRASIL, 2018, p. 65).
cionalidade é uma das potencialidades desse com-
ponente na Educação Básica. Para além da vivência,
Assim, as habilidades são a base das competências. Estas,
a experiência efetiva das práticas corporais oportu-
niza aos alunos participar, de forma autônoma, em por sua vez, são classificadas em simples e complexas e
contextos de lazer e saúde (BRASIL, 2018, p. 215). assim devem ser consideradas, no trabalho pedagógi-
co, para alcançar a eficácia do processo educacional. A
O intuito da BNCC (BRASIL, 2018) é organizar os co- competência é, portanto, entendida como a capacidade
nhecimentos na dimensão de tornar os alunos capazes de mobilizar soluções, conhecimentos ou experiências,
de fazer a transposição didática do saber para o seu dia visando a resolver questões da vida legítima.
a dia, buscando respeitar a ética, os direitos humanos,
a justiça social e a sustentabilidade ambiental. O docu- É importante considerar, também, o aprofunda-
mento da reflexão crítica sobre os conhecimentos
mento aponta, também, como aspectos importantes do
dos componentes da área, dada a maior capacidade
conhecimento: a dimensão social, física, emocional e de abstração dos estudantes. Essa dimensão analí-
cultural. O que, permite, assim, uma educação integral, tica é proposta não como fim, mas como meio para
não, somente, intelectual. a compreensão dos modos de se expressar e de
Buscando este caminho, a BNCC (BRASIL, 2018) é participar no mundo, constituindo práticas mais
sistematizadas de formulação de questionamentos,
focada nas competências que se deseja desenvolver nos
seleção, organização, análise e apresentação de des-
alunos para que estes possam acessar na vida aquilo que cobertas e conclusões. Considerando esses pressu-
aprendem na escola. Esse processo é longo e exige uma postos, e em articulação com as competências ge-
continuidade do processo de ensino-aprendizagem no rais da Educação Básica, a área de Linguagens deve
garantir aos alunos o desenvolvimento de compe-
mesmo foco, porque algumas competências podem de-
tências específicas (BRASIL, 2018, p. 65).
morar anos para serem desenvolvidas, afinal, exigem um
Identificação
A categoria de habilidades mais Verbos associados a esse grupo:
simples previstas pela BNCC se Observar, reconhecer, indicar,
relacionam ao reconhecimento a à representar, apontar, identificar e
reprodução de fatos, textos, localizar.
imagens ou tabelas observadas.
Transformação
Verbos associados a esse grupo: Ao observar e compreender
Ordenar, medir, calcular por os fatos, o estudante passa a
estimativa, compor e decompor, fazer operações mentais que
classificar, seriar e conservar. envolvem a transformação
dos dados interpretados.
Compreensão
São ações mais complexas porque envolvem Verbos associados a esse grupo:
o raciocínio para resolver problemas, Avaliar, analisar, julgar, criticar,
compreender cenários complexos, formular explicar causas e efeitos,
preposições e diagnósticos, além de argumentar, justificar, apresentar
apresentar conclusões. conclusões e fazer prognósticos.
Apresentamos no infográfico, a seguir, todas as competências gerais que se deseja alcançar na escola, por meio desta
educação integral, contemplando o desenvolvimento de cada uma delas e as suas principais características:
74
EDUCAÇÃO FÍSICA
10. Responsabilidade
e cidadania 1. Conhecimento
O que: agir pessoal e Para: Tomar decisões com O que: Valorizar e utilizar Para: Entender e explicar
coletivamente com autonomia, base em princípios éticos, os conhecimentos sobre o a realidade, continuar
responsabilidade, flexibilidade, democráticos, inclusivos, mundo físico, social, aprendendo e colaborar
resiliência e determinação sustentáveis e solidários cultural e digital com a sociedade
Dentro da Educação Física, especificamente, temos uma visão mais pessoal para atender aos conteúdos próprios da
área, buscando implementar as competências gerais focadas no campo específico da disciplina: são as competências
específicas à área de linguagem na Educação Física.
3 Vida e saúde: refletir criticamente sobre as relações entre a realização das práticas corporais,
e os processos de saúde/doença, inclusive no contexto das atividades laborais.
Formação cidadã: identificar a multiplicidade de padrões de desempenho, saúde, beleza
4 e estética corporal, analisando criticamente, os modelos disseminados na mídia e discutir
posturas consumistas e preconceituosas.
5 Combate ao bullying: identificar as formas de produção dos preconceitos, compreender seus efeitos e
combater posicionamentos discriminatórios em relação às práticas corporais e aos seus participantes.
A concepção do ensino por competência não consiste em ter uma aula ou um componente curricular específico
para abordar isso, mas diz respeito à forma como deve estar organizada a aprendizagem — não fechada em si
mesma, mas sim, uma aprendizagem dialogal, integral, que conserva o todo, mesmo apreendendo cada parte — é
um desafio que impacta todos os processos da escola e todos os sujeitos integrantes do saber escolar.
76
EDUCAÇÃO FÍSICA
Podemos afirmar que a Educação Física na escola — sob o entendimento da BNCC (BRASIL, 2018) — compre-
ende o conhecimento, integralmente, nas dimensões conceituais, procedimentais e atitudinais, buscando superar a
prática que fragmenta o saber e permanece limitada no saber fazer. É preciso ir além e aprender o como fazer, o porquê
fazer e o para que fazer; buscar, na direção da corrente da aprendizagem significativa, dar um significado ao conteúdo.
OBJETIVOS
Dentro das propostas da BNCC (BRASIL, 2018) para a Educação Física como área de linguagens, os conteúdos são
estabelecidos por anos e agrupados de acordo com o desenvolvimento integral do aluno.
UNIDADES
OBJETOS DE CONHECIMENTO
TEMÁTICAS 1º e 2º anos 3º ao 5º ano 6º e 7º anos 8º e 9º anos
• Brincadeiras e jogos
Brincadeiras e jogos
populares do Brasil e
da cultura popular
Brincadeiras do mundo
e jogos presentes no Jogos eletrônicos
contexto comunitário • Brincadeiras e jogos
e regional de matriz indígena e
africana
• Ginástica de
Ginástica de condicionamento físico
Ginásticas Ginástica geral Ginástica geral condicionamento
• Ginástica de
físico
conscientização corporal
• Danças do Brasil e
Danças do contexto do mundo
Danças comunitário e Danças urbanas Danças de salão
regional • Danças de matriz
indígena e africana
• Lutas do contexto
comunitário e
Lutas regional Lutas do Brasil Lutas do mundo
• Lutas de matriz
indígena e africana
Ao longo desta unidade, apresentamos reflexões é o planejamento que te conduzirá no caminho trilhado.
e apontamentos acerca dos principais elementos que Para tanto, ao elaborar o seu planejamento, não se esque-
devem compor um bom planejamento para a ação no ça de responder aos seguintes questionamentos: como?
campo da Educação Física escolar. Você deve entender Com que? O quê? Para quê? Para quem? Respondendo
que a ação do planejar deve ser orientadora da prática a essas questões, no seu planejamento, você conseguirá
docente, uma vez que, por meio do planejamento es- visualizar e materializar se o tempo e a organização pro-
truturado e organizado, será possível ter, em suas aulas, postos estão coerentes com o que deseja trabalhar.
uma prática pedagógica adequada. Além desse fato, o planejamento das aulas de Educa-
O planejamento te levará a alcançar os objetivos pro- ção Física escolar ajudará você nas tomadas de decisão,
postos para o ano, semestre, bimestre ou aula, isso porque nas ações necessárias ao longo do processo, para que seja
78
EDUCAÇÃO FÍSICA
1. Sabemos que a escolha dos conteúdos é uma ação essencial para que o
planejamento escolar esteja adequado às necessidades e realidade da
criança. Tendo este conhecimento para a escolha da seleção dos conteú-
dos, é preciso considerar:
a. Apenas o contido no projeto pedagógico e organizado nas disciplinas da
série.
b. A validade, flexibilidade, significado, possibilidade de elaboração pessoal,
utilidade, interesse, adequação às necessidades culturais e sociais
c. Os interesses pessoais e os métodos de ensino, os quais devem ser os
mais diversificados possíveis.
d. As regras dos esportes, jogos e brincadeiras trabalhadas no desenvolvi-
mento das aulas.
e. Os esportes que devem ser desenvolvidos nas aulas e as suas exigências
motoras e físicas.
80
agora é com você
81
LEITURA
COMPLEMENTAR
O texto elaborado pelo professor Amauri A. B. Oliveira traz símbolos, admitem que: “Os significados institucionais de-
uma análise acerca das propostas metodológicas emer- vem ser impressos poderosa inesquecivelmente na consci-
gentes na área da Educação Física. Caracteriza-se como ência do indivíduo. Como os seres humanos são frequen-
sendo um estudo do tipo descritivo. Como estratégia me- temente preguiçosos e esquecidos, deve também haver
todológica, o professor utilizou a bibliografia específica re- procedimentos mediante os quais estes significados pos-
lacionada ao assunto e a aplicação de um questionário aos sam ser reimpressos e rememorizados, se necessário, por
idealizadores das propostas apresentadas. Esse questio- meios coercitivos geralmente desagradáveis. Além disto,
nário aborda os pontos: referencial teórico, objeto de estu- como os seres humanos são freqüentemente estúpidos,
do, conteúdos básicos, enfoque metodológico, relação pro- os significados institucionais tendem a ser simplificados no
fessor-aluno e avaliação. Entenderam-se como propostas processo de transmissão, de modo que uma determinada
metodológicas emergentes da área: metodologia aberta, coleção de ‘fórmulas’ institucionais possa ser facilmente
metodologia crítico-superadora, metodologia construtivis- aprendida e guardada na memória pelas gerações suces-
ta e crítico-emancipadora. Vamos à leitura! sivas. O caráter de ‘fórmula’ dos significados institucionais
assegura sua possibilidade de memorização”.
METODOLOGIA DO ENSINO ABERTO Tendência educacional: progressista crítica.
Idealizadores: Reiner Hildebrandt e Ralf Laging, da Alema- Objeto de estudo: o mundo do movimento e suas impli-
nha (1986), e Cardoso et al. (1991) – Organizador do Grupo cações sociais.
de Trabalho Pedagógico, UFPe e UFSM, do Brasil. Objetivos gerais: trabalhar o mundo do movimento em
Referencial teórico: Teoria Sociológica do Interacionismo sua amplitude e complexidade, com a intenção de propor-
Simbólico (Mead/Blumer); Teoria Libertadora (Paulo Freire). cionar, aos participantes, autonomia para as capacidades
Interacionismo Simbólico (Blumer, 1981) de ação.
a) o atributo simbólico é justificado pela premissa de que Seriação escolar: pode ser trabalhada dentro da atual
os homens agem baseados nos significados em relação a estrutura curricular escolar. Preocupa-se mais em como
coisas e a pessoas; b) estes significados são adquiridos em trabalhar, acessar e tornar significativos os conteúdos aos
interações sociais; c) estes significados podem ser modi- participantes.
ficados por meio de processos interpretativos. Berger e Conteúdos básicos: o mundo do movimento e suas rela-
Luckman (1985, p. 98), comentando sobre os significados/ ções com os outros e as coisas; os conteúdos são constru-
ídos por meio de temas geradores.
82
LEITURA
COMPLEMENTAR
83
material complementar
84
UNIDADE
IV
SISTEMATIZAÇÃO E AÇÕES
PEDAGÓGICAS NA
EDUCAÇÃO INFANTIL
Oportunidades de aprendizagem
• Compreender as etapas do desenvolvimento da criança da Educação Infantil.
Plano de Estudo
IV
88
EDUCAÇÃO FÍSICA
89
Infantil devem levar a criança a pensar e a agir, por meio um ser social, o qual deve ser englobada em sua essência,
de movimentos e experimentações que a façam interagir nas suas particularidades individuais. À criança deve ser
com as linguagens corporais, nas experimentações pro- oportunizada uma gama de experimentações destinada
piciadas por atividades de interação corpo-movimento, a ampliar os conhecimentos culturais bem como o re-
corpo-brinquedo-brincadeira e corpo-objeto-espaço. Já pertório motor. Segundo Nista-Piccolo e Moreira (2012,
que, de acordo com Sayão (2002, p. 61): p. 17), as escolas as quais se propõem a trabalhar com
a Educação Infantil devem saber que “[...] antes de pro-
[...] o trabalho pedagógico na Educação Infantil por atividades, é importante que os professores identifi-
deve se sustentar em planejar situações que levem
quem os diferentes perfis de capacidade das crianças; o
as crianças a brincar, a interagir e a manifestar-se
através de diferentes linguagens, o que significa ambiente vivido no dia a dia da criança deve propiciar
permitir e reconhecer que a oralidade, a escrita, o um diálogo com as múltiplas linguagens”.
desenho, a dramatização, a música, o toque, a dan-
ça, a brincadeira, o jogo, os ritmos, as inúmeras A Criança da Educação Infantil: de Quem
formas de movimentos corporais, são todos eles
expressões das crianças, que não podem ficar limi-
Estamos Falando?
tadas a um segundo plano.
Entendemos que a infância vai se consolidando por
meio do movimento e das interações com o mundo que
a cerca. Na Educação Infantil, à criança deve ser oportu-
Se o jogo, o brincar e a brincadeira devem nizada a experimentação, a vivência motora cujo ponto
ser o foco central das ações didático-peda- de partida seja o lúdico e as interações do seu corpo com
gógicos no ambiente da Educação Infantil, o espaço, com os objetos e os seus pares.
por que a Educação Física não é, ainda, uma
obrigatoriedade legal em todos os estabele-
cimentos de ensino dessa modalidade?
90
EDUCAÇÃO FÍSICA
É importante entendermos que cada criança apre- para o desenvolvimento da criança, a infância dos dois
senta características próprias e particulares, mas con- aos dez anos de idade, sendo que tal período será, ainda,
sideraremos para as discussões, aqui, apresentadas, as dividido em três fases: o período de aprendizagem (dos
semelhanças nessas características, sendo diferenciadas 24 aos 36 meses); a infância precoce (dos três aos cinco
a partir da forma de agir, pensar, sentir e vivenciar os anos); por fim, a infância intermediário-avançada, dos
episódios do cotidiano. Haja vista que, de acordo com seis aos dez anos de idade.
Nista-Piccolo e Moreira (2012, p. 22), “[...] o corpo é o Como estamos falando das aulas de Educação Física
primeiro objeto que a criança percebe por meio de suas na Educação Infantil, nos atentaremos às características
satisfações, de suas dores, das sensações visuais e audi- das crianças que se encontram na faixa dos quatro a cin-
tivas”. Por este motivo, nas aulas de Educação Física no co anos, uma vez que, em geral, é nessa fase que há mais
contexto da Educação Infantil, temos a possibilidade de especificidade nas aulas de Educação Física.
ampliação das linguagens corporais, uma vez que, por De acordo com Gallahue e Ozmun (2005), uma
meio dos movimentos, pelas relações interpessoais, ex- criança por volta dos quatro e cinco anos de idade já
periências com o outro, com o meio e os objetos, a crian- compreende melhor o mundo à sua volta, tornando-se,
ça é possibilitada a ampliar tanto o seu repertório motor gradualmente, menos egocêntrica e com mais enten-
quanto o de convívio social. Por isso, é tão importante dimento do fato de que as suas ações podem afetar as
para o professor de Educação Física conhecer os estágios pessoas ao seu redor. Segundo Harrow (1983), essa fase
de desenvolvimento das crianças, considerando tanto os é o período sensível para desenvolver, corretamente, as
domínios quanto as habilidades e competências. formas motoras básicas na criança. Dessa maneira, as
A fim de discutirmos os estágios de desenvolvi- atividades pré-escolares devem fundamentar-se nessas
mento infantil, traremos a classificação de Gallahue e formas desenvolvidas pela Educação Física, favorecen-
Ozmun (2005), na qual os autores propõem considerar, do, assim, o amadurecimento infantil.
Figura 1 - Quem é a criança da Educação Infantil: principais características da criança de quatro a cinco anos de idade / Fonte: os autores.
91
Consideramos que a construção da infância é um processo De acordo com Caetano, Silveira e Gobbi (2005), o desen-
que ocorre pela ação conjunta dos contextos cotidianos da volvimento motor é um processo de alterações no nível
sociedade, pois, de acordo com Kishimoto (2000, p. 19): de funcionamento de um indivíduo, onde é adquirida, ao
longo do tempo, a expansão da capacidade de controlar
[...] a imagem de infância é reconstituída pelo adul- movimentos, por meio da interação entre as exigências
to por meio de um duplo processo: de um lado, ela
da tarefa, da biologia do indivíduo e o ambiente.
está associada a todo um contexto de valores e as-
pirações da sociedade, e, de outro, depende de per- Segundo Haywood e Getchell (2004), é preciso con-
cepções própria do adulto, que incorporam memó- siderar que o desenvolvimento motor é um processo
rias de seu tempo de criança. contínuo e sequencial, ligado à idade cronológica, na
qual o indivíduo progride de um movimento simples,
Logo, a existência da influência e da apropriação da sem habilidade, até atingir o ponto das habilidades mo-
cultura infantil bem como das brincadeiras e dos jogos toras mais complexas e organizadas e, assim, chegar ao
oportunizados estão muito ligados a este repertório. Por ajuste dessas habilidades que acompanharão esse indiví-
esta razão, é necessário conhecer as especificidades e duo até o envelhecimento.
características de cada fase de desenvolvimento infan- Gallahue e Ozmun (2005) vão além e destacam que
til, em especial, o perfil motor da criança da Educação o desenvolvimento humano ocorre em um indivíduo
Infantil, afinal, a nossa ação didático-pedagógica se dará, desde a sua concepção até a morte. Explicam, ainda, que
em especial, neste campo. a palavra “desenvolvimento” em si implica mudanças
comportamentais e/ou estruturais dos seres vivos du-
CARACTERÍSTICAS DA CRIANÇA rante a vida, já o processo de desenvolvimento motor
DA EDUCAÇÃO INFANTIL revela-se por alterações no comportamento motor. Para
os autores, é necessário considerar que bebês, crianças,
adolescentes e adultos estão envolvidos no processo de
aprender a se mover com controle e competência, em
reação aos desafios enfrentados, diariamente. Por esta
razão, os indivíduos devem ser, continuamente, estimu-
lados a movimentar-se.
Nessa fase de desenvolvimento da criança, o apren-
dizado acontecerá de forma contínua, pois, pela explo-
ração do ambiente, a criança conhece as suas habilida-
des corporais. Por isso, segundo Mattos e Neira (2003),
a realização de atividades motoras oportunizadas, nes-
te momento, devem ser, sempre, aquelas que visam ao
desenvolvimento das habilidades motoras básicas, tais
como: andar, correr, saltar, correr, arremessar, receber,
empurrar, puxar, subir, descer, enfim, habilidades para
explorar o mundo.
92
EDUCAÇÃO FÍSICA
93
94
EDUCAÇÃO FÍSICA
Características da
criança da Educação
Infantil
Brincadeira e
Motor Intelectual Emocional e social
estimulação
• Egocentrismo ainda • Utiliza habilidades aprendidas
presente. para enfrentar novas situa-
• Aos poucos passa a con- ções.
siderar o ponto de visto • Avalia a sua atuação como
• Andar do outro. satisfatória, resultando em
• Brincadeiras
• Correr • Associa ideias a eventos uma percepção positiva de si
em grupo.
• Saltar próximos. (autoestima).
• Amigo imagi-
• Subir e descer • Continua pensando uma • Precisa estar segura do apoio
nário.
escadas ideia por vez. dos pais, ser orientada e
• Faz-de-conta.
• Pedalar • Confunde imaginação aprovada em suas decisões e
com realidade. ações.
• Julga as experiências pe- • O que, quando, como e por
los resultados aparentes. que são perguntas constantes.
• Fala o tempo todo.
Quadro 1 - Características da criança da Educação Infantil / Fonte: adaptado de Costa (2008).
Em síntese, o desenvolvimento da criança que está na Educação Infantil, segundo Gallahue e Ozmun (2005), encon-
tra-se na fase dos movimentos fundamentais, na qual pegar, engatinhar, andar, correr, saltar, girar e rolar são essenciais
na Educação Infantil. Além disso, as tarefas motoras de estabilização, locomoção e manipulação podem ser explo-
radas, pois as crianças, ao final da Educação Infantil, já conseguem entender regras e compreendê-las, começam a
apresentar mais atenção e concentração e, também, a se organizar em grupos.
Além destes fatos, é necessário considerar que os movimentos da criança nas aulas de Educação Física na Educa-
ção Infantil, por vezes, se apresentarão, inicialmente, de forma global, desarmônica e, quase sempre, simétricas. No en-
tanto, por meio das atividades planejadas e estruturadas de modo lúdico, a criança descobre os próprios movimentos
bem como produz ações que, aos poucos, produzem movimentos caracterizados pelas destreza e eficiência.
95
MAPA CONCEITUAL DOS CONTEÚDOS Vieira (2007, p. 5), “[...] a Educação Física na Educação
DA EDUCAÇÃO INFANTIL Infantil pode configurar-se como um espaço em que a
criança brinque com a linguagem corporal, com o corpo,
com o movimento, alfabetizando-se nessa linguagem”.
Nas aulas de Educação Física, as atividades estrutura-
das e planejadas devem criar situações em que a criança
entre em contato com várias manifestações da cultura
corporal, tendo em vista, sempre, a dimensão lúdica como
um dos elementos principais à ação educativa na infância,
afinal, para a criança, o ato do brincar se relaciona com a
sua forma de se expressar perante o mundo. É a lingua-
gem corporal a sua primeira forma de se comunicar.
Nesse sentido, Mattos e Neira (2003, p. 183) colabo-
ram ao afirmar que:
96
EDUCAÇÃO FÍSICA
• Esquema
corporal Atividades Atividades Noções lógico Cantigas
expressivas de escolhas matemáticas de roda
• Lateralidade
e decisão
• Coordenação
Som e Jogos de
• Equilíbrio movimento • Pesado/leve
imitação
• Perto/longe
Atividades • Igual/diferente
Brincadeiras • Duro/mole
manipulativas rítmicas Brinquedos e
brincadeiras
Jogos motores cantadas
Brincadeiras
populares
Jogos e
brincadeiras
da cultura
infantil
Na Figura 2, respondemos ao nosso primeiro questiona- forma que levem as crianças a assimilar e a acomodar os
mento apresentado no início desta discussão: quais são os novos conhecimentos apresentados, construindo novas
conteúdos na Educação Infantil? Em geral, os conteúdos perspectivas, reconstruindo conceitos e conhecimentos
abordados nas aulas de Educação Física na Educação In- tanto do mundo quanto da realidade.
fantil devem estar relacionados com as questões do corpo Assim, as aulas de Educação Física precisam trazer
e do movimento, para que, por meio deles, a criança possa para o seu contexto a valorização dos conhecimentos da
conhecer o seu corpo, explorar as possibilidades de movi- própria criança, pois, conforme afirma Wallon (1953), a
mentos, buscar as diversas formas de gestualidades possí- cultura e a linguagem fornecem ao pensamento os ele-
veis de serem produzidas, por meio das atividades lúdicas. mentos por meio dos quais a criança possa se modificar.
Segundo Piaget (1993), o começo do conhecimen- A socialização, nesse momento, faz-se necessária porque,
to é a ação do sujeito sobre o objeto, o que significa, por meio de atividades lúdicas, a criança interage, tendo,
de acordo com o autor, que o conhecimento humano então, a possibilidade de reconfigurar os próprios con-
se constrói na interação homem-meio, sujeito-objeto. ceitos. Não existe linearidade no desenvolvimento — este
Portanto, cabe ao professor, nas aulas de Educação Fí- é, sempre, descontínuo — por isso, sofre crises, rupturas,
sica, organizar estes momentos nos quais haja, sempre, conflitos, retrocessos, enfim, um movimento que tende a
equilibração e reequilibração dos conhecimentos, de tal levar a criança a conquistar outros conhecimentos.
97
Expressão
corporal
Coordenação
motora Conhecimento de si Linguagem Regras: criar
(grossa e fina) e do mundo corporal e recriar
Eixo:
Postura Movimento em Corpo e
corporal ritmo
expressão e ritmo
Óculo – manual
e pedal • Lateralidade: noção de
direita e esquerda
• Direcionalidade: Dentro/fora,
Frente/atrás
98
EDUCAÇÃO FÍSICA
Eixo:
Movimento e
(ZABALA, 1998). Vale ressaltar o que afirma Bron-
corporeidade fenbrenner (1996, p. 47):
Eixo:
Percepção:
Corporeidade
Percepção PLANEJANDO AS AULAS PARA
Espaço – Temporal corporal
e autonomia
A EDUCAÇÃO INFANTIL
Corpo e Imagem
Relação:
objeto corporal
Segundo Hoffmann (2001), a organização e planejamento
• Corpo
• Corpo-objeto das atividades diárias proporcionam ao professor a reflexão
• Corpo-espaço
• Corpo-outro
Movimentos de suas ações e metodologias, quando ele analisa os resulta-
• Corpo-tempo
dos de seu projeto. De acordo com o Referencial Curricular
• Engatinhar Nacional para a Educação Infantil (BRASIL, 1998, p. 196)
• Sentar
• Levantar cabe “[...] ao professor planejar uma sequência de ativida-
• Andar
• Rolar des que possibilite uma aprendizagem significativa para as
• Arrastar
• Quadrupejar crianças, nas quais elas possam reconhecer os limites de
seus conhecimentos, ampliá-los e/ou reformulá-los”.
Figura 6 - Eixo: corporeidade e autonomia – Conteúdos aborda-
dos / Fonte: os autores. O planejamento pedagógico na Educação Infantil
precisa ser discutido e articulado aos sujeitos que estão
As Figuras 3, 4, 5 e 6 representam os elementos que inseridos nestes ambientes coletivos de educação, assim,
compõem os eixos motores essenciais para o desenvol- é imprescindível trazer à sala de aula, por meio dos pla-
vimento do planejamento das aulas da Educação Física nejamentos, as manifestações que as crianças expressam
no contexto da Educação Infantil. Mas deve-se conside- no seu dia a dia, a partir de seus balbucios, choros, falas,
rar que, em todos os eixos, cabe ao professor possibilitar gestos, desejos, hipóteses e conhecimentos prévios. Estes
o desenvolvimento de ações relacionadas à elaboração são de suma relevância para um trabalho que respeite as
de conteúdos conceituais, atitudinais e procedimentais culturas infantis (AHMAD, 2011).
99
Schmitt (2006) vai além e afirma que o objetivo humano, em especial ao desenvolvimento motor, além
principal do planejamento é possibilitar um trabalho de garantir a aprendizagem de habilidades específicas. A
mais significativo e transformador na sala de aula, na construção de movimentos varia de indivíduo para in-
escola e na sociedade. O plano escrito é o produto do divíduo, a organização construída pelo sujeito depende
processo de reflexão e decisão. Assim, não deve ser feito tanto dos recursos biológicos e psicológicos de cada pes-
por uma exigência burocrática, mas, ao contrário, “deve soa quanto das condições do meio ambiente onde ela se
corresponder a um projeto-compromisso do professor, encontra. Por isso, o ser humano não precisa, somente,
tendo, pois, suas marcas” (SCHMITT, 2006, p. 2). do que está presente nele, parte do que ele precisa para
O planejamento pedagógico na Educação Infantil viver está, também, no mundo lá fora, no meio ambiente
precisa ser discutido e articulado com os interesses cul- e ao seu redor.
turais das crianças, pois, assim “é possível trazer para as Conforme Hernández (1998), o planejamento ne-
aulas de Educação Física manifestações que as crianças cessita envolver as questões culturais, de forma que as
expressam no seu dia a dia, suas hipóteses e conhecimen- ações docentes levem a criança a construir alternativas
tos prévios, que são de suma relevância para um trabalho de conhecimentos, a fazendo romper com a linearidade
que respeite as culturas infantis” (AHMAD, 2011, p. 4). estabelecida, ou seja, é preciso que as aulas deem possi-
bilidade de a criança
O planejamento educativo deve ser assumido no
cotidiano como um processo de reflexão, pois, mais refazer e de renomear o mundo e de ensinar os
do que ser um papel preenchido, é atitude e envol- alunos a interpretar os significados mutáveis com
ve todas as ações e situações do educador no coti- que os indivíduos das diferentes culturas e tempos
diano do seu trabalho pedagógico. Planejar é essa históricos dotam a realidade de sentido. Ao mesmo
atitude de traçar, projetar, programar, elaborar um tempo em que lhes abre as portas para compre-
roteiro para empreender uma viagem de conhe- ender suas concepções e as de quem os rodeiam.
cimento, de interação, de experiências múltiplas e (HERNÁNDEZ, 1998, p. 28).
significativas para com o grupo de crianças. Plane-
jamento pedagógico é atitude crítica do educador
diante de seu trabalho docente. Por isso não é uma É importante pensar que a criança, sendo um ser
fôrma! Ao contrário, é flexível e, como tal, permite social e, também, em adaptação, a ela deve ser opor-
ao educador repensar, revisando, buscando novos
tunizada a construção de conhecimentos. Afinal,
significados para sua prática pedagógica. O pla-
nejamento marca a intencionalidade do processo conforme indica Freire (2003), para que a criança se
educativo, mas não pode ficar só na intenção, ou adapte ao mundo, para agir sobre o mundo, transfor-
melhor, só na imaginação, na concepção (OSTET- mando-o e resolvendo problemas, é necessário que
TO, 2004, p. 41).
ela construa o seu próprio movimento corporal espe-
cífico. Isso só poderá ocorrer por meio de esquemas
Nas palavras de Paim (2003, on-line), a Educação Fí- de ação, pois é com eles que o ser humano expressa-
sica adquire um papel importantíssimo à medida que rá, em todas as ocasiões de sua vida, os seus movi-
ela possa estruturar o meio ambiente adequado para mentos. Lembrando que a primeira fase da infância é
a criança, oferecendo experiências, resultando em um crucial, porque é a partir dela que se desenvolvem as
auxiliar considerável e promotor do desenvolvimento movimentações corporais básicas.
100
EDUCAÇÃO FÍSICA
Tendo esta compreensão, você, enquanto professor, as potencialidades e possibilidades para o processo de
deverá planejar as suas atividades considerando as ca- aprendizagem. Além, é claro, de considerar que, em ge-
racterísticas das crianças, os conhecimentos culturais ral, as aulas de Educação Física para a Educação Infantil
delas bem como as potencialidades, afinal, a aula deve ocorrem de maneira global, sustentando-se na ludicida-
ser desafiadora e levar a criança a buscar novos saberes e de, colaborando, efetivamente, na ação motora para o
conhecimentos, de tal forma que o repertório motor e a desenvolvimento afetivo, social e cognitivo da criança.
linguagem corporal do aluno sejam ampliados. Além de pensar na rotina do aluno, na sua cultura e
Nesta unidade, ressaltamos que o movimento é a es- no seu meio social, cabe ao professor ir além, organizan-
sência da infância e, nesse sentido, a ação do professor de do atividades as quais estimulem a criança a explorar os
Educação Física, atuando didática e pedagogicamente próprios movimentos corporais, a aprender a vivenciar
neste espaço de intervenção, torna-se essencial. O nos- experiências que, por meio de brincadeiras, a auxiliem
so intuito, aqui, foi promover uma discussão acerca do no desenvolvimento de suas habilidades motoras, a fim
movimento, objetivando dar a você uma sustentação te- de aprimorar, pouco a pouco, as suas habilidades e, as-
órica a respeito de quem é a criança da Educação Infantil sim, alavancar os processos de desenvolvimento motor.
e, assim, te ajudar a compreender a complexidade que Toda ação didático-pedagógica do professor de Edu-
envolve o desenvolvimento dessa criança, as suas fases e cação Física necessita ser marcada por constantes refle-
etapas da aprendizagem. xões acerca de sua ação docente, entretanto, quando nos
Evidenciamos que o desenvolvimento é um proces- referimos ao trabalho com a Educação Infantil, há de se
so contínuo e constante, portanto, as atividades escolares atentar ao fato de que a criança é um ser social, em cons-
devem ser, sempre, planejadas e organizadas de acordo tante transformação e que, portanto, deve ser pensada,
com uma sistematização prévia, na qual se engloba a sempre, de forma global, acenando para as potencialida-
idade cronológica da criança, os limites dela bem como des dela, colaborando na superação de suas fragilidades.
101
LEITURA
COMPLEMENTAR
As discussões acerca da valorização da cultura da criança diversos modelos de movimentos corporais provenientes
no ambiente da Educação Infantil têm sido uma preocu- da cultura em que se encontra. Neste cenário, as ações sis-
pação latente no campo da pesquisa da Educação Física. tematizadas e intencionais poderão proporcionar à criança
Em posse deste conhecimento, trazemos para você o ar- pequena o conhecimento e domínio de sua movimentação
tigo “Cultura e Escola & Movimento e Linguagem na Edu- corporal como uma linguagem que mobiliza e aprimora a
cação de Crianças Pequenas”, resultante da pesquisa da sua expressão e comunicação.
professora Marynelma Camargo Garanhani, do Programa [...]
de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal
do Paraná – PPGE/UFPR, e da professora da Rede Munici- A movimentação do corpo: uma linguagem da
pal de Ensino de Curitiba, Lorena Fátima Nadolny. Vamos criança...
à leitura! Desde que nascem as crianças se movimentam e, progres-
Resumo: Este texto discute o papel da cultura na educa- sivamente, se apropriam de possibilidades corporais para
ção escolar da pequena infância por meio da pesquisa de a interação com o mundo. Por meio do movimento, apren-
autores que compreendem a criança como sujeito histó- dem sobre si mesmas, se relacionam com o outro e com
rico e social, capaz de expressar idéias, sentimentos e de os objetos, desenvolvem suas capacidades e aprendem
produzir cultura. [...] Além disso, apresenta proposições habilidades. Portanto, o movimento é um recurso utilizado
sobre o movimento do corpo infantil como uma das lingua- pela criança para o seu conhecimento e do meio em que se
gens que a criança se utiliza para apropriação e construção insere, para expressar seu pensamento e também experi-
de conhecimentos da e sobre a cultura que está inserida. mentar relações com pessoas e objetos.
Concluiu-se, neste estudo, que a concepção de infância O movimento corporal se apresenta na Educação Infantil
determina as instituições que proporcionam a educação como uma linguagem, pois toda a movimentação da crian-
escolar para as crianças pequenas e, consequentemente, ça tem um significado e uma intenção. Palomo (2001) nos
o trabalho pedagógico desenvolvido nestes contextos. Ao explica que linguagem é um sistema complexo de significa-
entendermos que a instituição de Educação Infantil é o ção e comunicação e pode ser de dois tipos: a verbal, cujos
meio em que a criança pequena extrai, experimenta, ajusta sinais são as palavras e a não-verbal, que emprega outros
e constrói movimentos corporais provenientes da inser- sinais que não as palavras, como as imagens, os sons, os
ção e interação num grupo diferente do seu meio familiar, gestos. Com base neste conceito entendemos o movimen-
concluímos que esta escola é um meio privilegiado para to como uma linguagem não-verbal que permite à criança
o desenvolvimento da autonomia corporal e vivências de agir no meio em que está inserida, através da expressão de
102
LEITURA
COMPLEMENTAR
103
agora é com você
104
agora é com você
105
agora é com você
106
UNIDADE
V
PLANEJANDO AS AULAS
PARA AS SÉRIES INICIAIS
DO ENSINO FUNDAMENTAL
Oportunidades de aprendizagem
• Analisar as perspectivas de ação pedagógica para a Educação Física nas séries
iniciais do Ensino Fundamental, apontando a relação e a atuação didático-
pedagógica nas intervenções.
• Apresentar uma proposta pedagógica para a Educação Física no contexto dos 1º,
2º e 3º anos das séries iniciais.
Plano de Estudo
• A Educação Física nas Séries Iniciais a Partir das Abordagens Educacionais: Quem
é a Criança
V
O Ensino Fundamental, no Brasil, tem passado por inú- Com este enfoque, preparamos esta unidade para
meras transformações ao longo de sua história, dentre ajudar você a pensar tanto na estrutura quanto na orga-
elas, destacamos a organização do ensino. Entenda que, nização das aulas de Educação Física das séries iniciais.
de acordo com a legislação educacional brasileira, a Lei Boa leitura!
4.024/1961 estabeleceu quatro anos de escolaridade
obrigatória; já a Lei 5.692/1971 determinou a exten- A EDUCAÇÃO FÍSICA NAS SÉRIES
são da obrigatoriedade para oito anos; enquanto a Lei INICIAIS A PARTIR DAS ABORDAGENS
9.394/1996 sinalizou um ensino obrigatório de nove EDUCACIONAIS: QUEM É A CRIANÇA
anos de duração, a iniciar-se aos seis anos de idade, o
que, por sua vez, tornou-se meta da educação nacional,
por meio da Lei 10.172/2001, a qual aprovou o Plano
Nacional de Educação (PNE). Em 2006, a Lei 11.274
concretizou esse plano, tornando obrigatória a matrícu-
la das crianças de seis anos de idade no Ensino Funda-
mental de nove anos de duração.
Com estas mudanças na educação e com o processo
de ampliação do Ensino Fundamental, muitos questio-
namentos têm surgido. Na Educação Física, eles ocor-
rem, principalmente, acerca do currículo a ser trabalha-
do: quais os conteúdos? Como os organizar?
Precisamos entender que os conteúdos e as práticas
pedagógicas trabalhadas nas séries iniciais do Ensino
Fundamental precisam seguir uma estrutura de planeja-
mento a qual contemple para essa etapa de ensino obje- De acordo com a Lei 11.274 (BRASIL, 2006, on-line), as
tivos, saberes e conhecimentos estabelecidos. Estes, por séries iniciais da Educação Básica compreendem a ensi-
sua vez, devem corresponder às necessidades e expecta- no realizado do 1º ao 5º ano do Ensino Fundamental. Em
tivas da criança em cada fase ou momento do desenvol- posse desta compreensão, nesta unidade, apresentare-
vimento dela. mos elementos e apontamentos iniciais que te auxiliarão
Compreendemos que a Educação Física — enquanto na construção do planejamento das aulas de Educação
componente curricular das séries iniciais do Ensino Fun- Física, tendo, como pressupostos teóricos, o entendimen-
damental — se constitui em um espaço cuja relação entre to em relação à criança no contexto da sua infância, com
os processos de ensino e aprendizagem parte dos princí- as suas características e singularidades próprias.
pios de uma educação de qualidade, centrada nos saberes Entendemos que a infância, enquanto categoria so-
necessários ao desenvolvimento integral da criança. Por cial, engloba a criança em seus múltiplos contextos bem
isso, consideramos que toda ação pedagógica do profes- como em suas relações históricas e sociais. Por este mo-
sor deve ser tratada a partir da estrutura e da organização tivo, para se discutir os conteúdos escolares, é necessário
de um planejamento adequado às necessidades infantis. conhecer a criança da qual estamos falando.
110
EDUCAÇÃO FÍSICA
Precisamos partir do pressuposto de que, para obter- Tendo a compreensão de que as aulas de Educação
mos educação de qualidade, é importante haver um bom Física escolar contribuem, de modo fundamental, para o
planejamento, no qual conste as necessidades tanto da desenvolvimento integral das crianças, entendemos que
criança quanto da escola e da sociedade, a fim de que os conhecer as caraterísticas destes seres em formação, assim
conteúdos abordados no currículo estejam adequados. como os interesses e as necessidades de cada momento da
Assim, ao organizarmos a estrutura das aulas de Educa- infância permite que as aulas de Educação Física sejam
ção Física para as séries iniciais, precisamos nos questio- estruturadas atendendo às necessidades dos alunos.
nar: quais as condições à implementação do currículo da Ao concebermos o fato de que a criança tem a sua
Educação Física? Qual é o papel das aulas de Educação própria história, é fruto e produtora de um contexto so-
Física para as crianças das séries inicias do Ensino Fun- cial, as aulas passam a apresentar mais significado aos
damental? Qual o significado dos conteúdos e atividades alunos. Por meio desta perspectiva, quando conside-
selecionadas? Como trabalhar com as crianças de ma- ramos o contexto, as condições concretas nas quais as
neira que sejam considerados o contexto cultural delas, o crianças estão inseridas e onde acontecem as suas práti-
desenvolvimento e o acesso aos conhecimentos? cas e interações, a ação educativa começa a ser mais inte-
Para iniciarmos a organização e planejamento ressante para o aluno, afinal, como vimos, anteriormen-
das aulas da Educação Física, há de se considerar que te, o planejamento consiste em um trabalho orientado
a criança traz consigo os seus próprios conhecimen- às dimensões conceituais, procedimentais e atitudinais.
tos de mundo e de si mesma, resultantes de sua histó-
ria e, também, do meio cultural do qual ela faz parte.
Por isso, deve-se pensar na história das crianças, no
momento de construir a estrutura organizacional das Se entendemos que a Educação Física contri-
aulas de Educação Física escolar, afinal, como afirma bui para o desenvolvimento integral das crian-
Benjamin (1984, p. 14), as crianças “fazem história a ças e consta na Lei 9.394/1996 como compo-
partir da história”. nente obrigatório na Educação Básica, quais
Por meio das relações sociais, dos jogos e brincadei- os motivos que ainda levam à ausência, em
ras, as crianças são capazes de criar e recriar situações muitas escolas, deste componente curricular?
bem como compreender regras, pois a cultura infantil
consiste em um processo no qual o criar, o recriar, o pro-
duzir conhecimentos, o transformar e transformar-se
acontecem a partir das interações cotidianas da criança Entendemos que a ação docente voltada às organização
com o mundo adulto e com o universo infantil, inclusive e estruturação do planejamento das aulas de Educação
nas relações de pertencimento, considerando as relações Física deve levar em conta as características individuais
com o tempo e o espaço. Logo, as aulas de Educação Físi- da criança, as suas relações e interações sociais, porque
ca se constituem em um ambiente importante, para que tanto a apropriação quanto a influência do meio e das
essas interações ocorram, de forma significativa, no de- tarefas oportunizadas para a criança serão elementos
senvolvimento da criança. importantes na formação dela.
111
Considerando a relevância das interações sociais para mutuamente, sendo considerado um processo perma-
o desenvolvimento infantil, Vygotsky (1996, p. 98) aponta nente que abrange todas as etapas da vida do indivíduo.
que “[...] as interações sociais ocupam a centralidade do
processo de desenvolvimento do sujeito e são percebidas
como constitutivas da sua identidade do sujeito”, o que sig-
nifica dizer que a criança experimentará, no fluxo do seu Entendendo que a criança tem características
desenvolvimento, as influências e contribuições decorren- próprias, mas que o ambiente e as tarefas
tes das relações sociais que ela possui com o seu meio, rela- oportunizadas influenciam o desenvolvimen-
ções estas mediadas pelas interações com outros indivídu- to dela, como deve ocorrer o processo de en-
os, a partir de um processo cíclico e histórico. sino e aprendizagem nas aulas de Educação
Podemos conceituar, também, como elementos Física para as séries iniciais?
que colaboram, significativamente, para o desenvolvi-
mento da criança, as influências exercidas pela cultura,
pelas relações sociais, pelo meio, afinal, a criança, no
seu cotidiano escolar, passa a ter relações sociais mais Compreendendo que o processo de desenvolvimento da
intensas e, consequentemente, por meio dos valores, criança não é algo estático e que depende de elementos
conceitos, regras e interações com o outro, ela começa derivados do universo que a cerca, é importante ressaltar o
a conhecer e a construir a sua concepção de mundo, seguinte fato: é por meio da aquisição e do desenvolvimen-
a qual, por sua vez, pode ser, constantemente, reelabo- to dos padrões de movimento da criança que o professor
rada e internalizada. Nesse contexto, a aula de Educa- consegue planejar as aulas de Educação Física bem como
ção Física torna-se um espaço oportuno ao desenvol- integrar a proposta pedagógica da escola ao momento no
vimento da criança porque, por meio dos jogos e das qual a criança se encontra e às necessidades dela.
brincadeiras, ela interage com o grupo, aprende regras, Vale destacar que a criança das séries iniciais vai en-
realiza, a partir de suas relações, a própria construção contrar-se no que Gallahue e Ozmun (2001) denominam
identitária. Dessa forma, as aulas de Educação Física “padrão fundamental de movimentos”, considerado um
possibilitam o desenvolvimento da criança seja esti- momento no qual o aluno deve receber uma ampla ofer-
mulado, motivado a alavancar, em especial, pelo fato ta de vivência corporais. Isso porque, segundo os autores,
de a ampliação e variabilidade das ações motoras pro- a maioria das crianças possui um potencial de desenvolvi-
porcionar o desenvolvimento de todas as habilidades. mento que as conduz ao estágio maduro dessas habilidades,
Afinal, como Gallahue e Ozmun (2001) enfatizam, o portanto, a ampliação de ações motoras ofertadas possibi-
desenvolvimento não é uma ação única, mas é, também, litará que a criança vivencie um processo de refinamento,
resultante das interações dos domínios motor, cognitivo mas também de combinação de movimentos, os quais serão
e socioafetivo, os quais acontecem, sempre, de forma in- responsáveis pela aquisição das habilidades especializadas,
terligada. Isso porque os três domínios influenciam-se, amplamente, utilizadas nas ações motoras especializadas.
112
EDUCAÇÃO FÍSICA
Quadro 1 - Elementos da construção dos movimentos motores / Fonte: adaptado de Gallahue e Ozmun (2001).
113
Quadro 2 - Características da criança das séries iniciais do Ensino Fundamental / Fonte: adaptado de Gallahue e Ozmun (2001) e Eckert (1993).
Entenda que o desenvolvimento da criança é contínuo, tampouco se traduz, de forma exclusiva, em determinantes
biológicos ou genéticos. Deve-se considerar o meio como fator preponderante ao desenvolvimento das habilidades
da criança, então, dentro deste contexto, observa-se que as crianças das séries iniciais do Ensino Fundamental, as
quais têm, em geral, entre seis e 11 anos de idade, encontram-se em uma fase cujas força e habilidades esportivas
passam a ser aprendidas bem como melhoradas (PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2006).
114
EDUCAÇÃO FÍSICA
A coordenação motora desses alunos é a base para a ex- aprendizagem nas séries iniciais, com destaque para os 1º,
pansão da capacidade de aprendizagem sensório-motora, 2º e 3º anos, afinal, é neste momento que a criança é inse-
logo, quanto mais elevado for o nível de desenvolvimento, rida no universo escolar normatizado e, então, a sua lin-
mais rápido e mais seguramente poderão ser aprendidos guagem corporal começa a ser a interlocução do seu pro-
movimentos novos ou difíceis, também com economia de cesso de aquisição desses novos saberes e conhecimentos.
esforço, o que propicia melhores orientação e precisão (PE- Estes, por sua vez, são inseridos no cotidiano escolar.
REIRA, 2002). Por esta razão, as aulas de Educação Física De acordo com Freire (2003, p. 20), para o proces-
devem oportunizar uma gama de experiências motoras so de aprendizagem da criança, deve-se pensar que “[...]
cujas práticas corporais possam corroborar, significativa- entre os sinais gráficos de uma língua escrita e o mun-
mente, o desenvolvimento de todo esse processo. do concreto, existe um mediador, que é a ação corpo-
ral”. Por este motivo, as aulas de Educação Física devem
ELEMENTOS PARA A CONSTRUÇÃO DE abordar, nos 1º, 2º e 3º anos das séries inicias do Ensino
UMA PROPOSTA PEDAGÓGICA: MAPA Fundamental, vivências e ações motoras com foco na lu-
CONCEITUAL DOS CONTEÚDOS DOS 1º, dicidade, na interação com o meio, mas que sejam ativi-
2º E 3º ANOS DAS SÉRIES INICIAIS dades que possibilitem alavancar a criança no processo
de aquisição de novas habilidades.
Nesta fase escolar, a criança ainda é muito lúdica e, por
isso, ela busca por atividades que evoquem o brincar, que
são próprias da cultura infantil. Esse pode ser um elemento
inicial a ser considerado no planejar das aulas de Educação
Física escolar, uma vez que, segundo Vygotsky (1996), pela
brincadeira, a criança vincula-se com o mundo que a cerca,
podendo interferir e ser interferida, diretamente, durante a
atividade. Por esta razão, os jogos motores são elementos
essenciais: eles contribuem para a sociabilização e o desen-
volvimento da aprendizagem nessa fase.
Nesse contexto, o professor, ao planejar suas aulas
de Educação Física, necessita levar em conta os conhe-
cimentos e saberes trazidos pelas crianças, afinal, como
afirmam Betti e Liz (2003, p. 135): “[...] o ponto de vista
dos alunos, os significados e valores que eles vinculam às
Segundo Pain (1992, p. 22), “é com o corpo que se apren- várias atividades do ensino devem ser considerados pelo
de”. Logo, entendemos que as aulas de Educação Física professor, pois a alteridade é um dos princípios pedagó-
no ambiente escolar são o alicerce central do processo de gicos que deve orientar a Educação Física”.
115
Para o desenvolvimento das aulas dos 1º, 2º e 3º anos representações por ela aprendidas, o que significa dizer
das séries inicias, é de muita importância considerar os que as aulas de Educação Física para esses anos escolares
valores educativos em cada atividade proposta. Estando deve centrar-se na qualidade e diversidade de atividades
ou não centrada no ato do brincar ou da dimensão lúdi- propostas, tendo, como pressuposto, a valorização da
ca, a atividade deve primar por valores pedagógicos sus- criança, de forma participativa, na aula.
tentados por uma prática formativa, na qual seja opor- A seguir, apresentamos um quadro com os ob-
tunizada à criança o aprendizado de novos padrões, jetivos a serem considerados no desenvolvimento e
gestos ou movimentos motores e, ao mesmo tempo, seja na estruturação das aulas de Educação Física Escolar
possibilitada, por meio das atividades, a modificar as para as séries iniciais.
Quadro 3 - Objetivos da Educação Física nas séries iniciais / Fonte: Palma, Oliveira e Palma (2010, p. 74).
Daolio (1996) discute a relevância dos aspectos culturais da construção do campo da Educação Física
escolar, apontando as relações históricas que influenciam, sobremaneira, a forma de se conceber as
aulas na realidade escolar. Segundo o autor, entendemos que a Educação Física Escolar é uma prática
cultural, com tradição respaldada em certos valores. Ela ocorre, historicamente, em certo cenário, com
certo enredo e para certo público que, por sua vez, demanda certa expectativa.
É justamente isso que faz a Educação Física escolar ser o que é. Sendo uma prática tradicional, ela possui
certas características, muitas vezes, inconscientes para os seus atores. Em outras palavras, existe deter-
minado estilo de lecionar aulas de Educação Física, estilo que, na maioria das vezes, é valorizado pelos
alunos, comunidade e direção da escola.
Fonte: adaptado de Daolio (1996).
116
EDUCAÇÃO FÍSICA
Eixo: Eixo:
O movimento em 1º ANO Movimento e a
Ritmo e Expressão Corporeidade
Movimentos em
construção e
estruturação
Brincadeiras Eixo:
cantadas: O movimento Lançar e Agarrar
representação e os jogos
• Andar em diferentes
original e
Com uma formas
representação
mão, para • Correr em diferentes
criativa
frente, no velocidades e direções
Brincadeiras Participar solo, com as • Rolar: decúbito
populares: de jogos duas mãos, ventral, dorsal para
tradicionais simbólicos com um pé frete e para trás
na família • Saltar com os dois
pés lateralmente com
um pé em altura
Eixo: Eixo:
O movimento em 2º ANO Movimento e a
Ritmo e Expressão Corporeidade
Movimentos
Danças Eixo:
populares, O movimento • Girar sobre os dois pés (no mesmo
origem, música e os jogos lugar), para direita, para esquerda
e movimento
• Sustentar em pé (frontal, dorsal, lateral),
sentado, de joelhos
• Estender partes do corpo e o corpo todo
Brincadeiras Jogos com
cooperativas regras • Empurrar com as duas mãos (para cima,
em pequenos e simples para baixo, lateralmente), com uma mão
médios grupos • Rebater com uma mão, com as duas
mãos, com o pé, com a perna
Eixo:
O movimento nas 3º ANO Movimento e a
manifestações Corporeidade
lúdicas e esportivas
Movimentos
Ginástica: Eixo:
rolamentos para O movimento • Conduzir com as mãos para frente,
frente, para trás, e os jogos para trás, para direita/esquerda
vela simples,
estrela (executar • Chutar com a ponta dos pés, com
no solo, a lateral interna/externa com o
ultrapassar um calcanhar, com o peito do pé, com
objeto) Brincadeiras o objeto parado/movimento
Jogos com
em grandes
regras
grupos
A organização apresentada nos mapas conceituais permite a compreensão de uma organização prévia dos conteúdos
que devem ser trabalhados com a criança nos 1º, 2º e 3º anos das séries iniciais do Ensino Fundamental.
117
A Educação Física escolar tem se constituído en- é importante romper com a dicotomia corpo e men-
quanto um componente curricular que possibilita a te, muito presente nas aulas de Educação Física deste
articulação dos saberes e conhecimentos tanto teó- nível de ensino, uma vez que a aula necessita ser um
ricos quanto práticos, além da articulação da expe- momento de construção, a partir do movimento, da
rimentação interdisciplinar, em especial, nas séries autonomia e da criticidade da criança.
iniciais do Ensino Fundamental. Segundo Melo e Urbanetz (2008), a aprendiza-
Vale lembrar que a construção dos objetivos e fi- gem que ocorre no ambiente escolar dá-se de forma
nalidades da Educação Física escolar, para as crian- organizada e envolve tanto as condições específicas
ças com 9 e 10 anos de idade — que se encontram para a transmissão e assimilação de conhecimentos e
nos 4º e 5º anos — deve ter a perspectiva da formação habilidades quanto a organização intencional, plane-
integral dos alunos, contemplando as necessidades jada e sistemática das finalidades, além das condições
biológicas e culturais dos mesmos. Por este motivo, das aulas no ambiente escolar.
118
EDUCAÇÃO FÍSICA
Desse modo, na organização e estruturação das escolar, torna-se possível integrar a Educação Física com
aulas para os 4º e 5º anos das séries iniciais, é essencial os demais saberes e conhecimentos das demais áreas.
pensar, sempre, nos objetivos da Educação Física es- Em posse desta perspectiva, trazemos, na sequência,
colar, a proposta pedagógica da escola e a forma como uma proposta de organização e sistematização dos con-
deve ocorrer o processo de sistematização dos saberes teúdos que devem ser abordados como elementos bási-
abordados nas aulas, pois, ao se estabelecer essas rela- cos das aulas de Educação Física Escolar nos 4º e 5º anos
ções com as demais ações desencadeadas no ambiente das séries iniciais do Ensino Fundamental.
Eixo:
O movimento nas 4º ANO Movimento e a
manifestações Corporeidade
lúdicas e esportivas
Movimentos
Figura 4 - Mapa conceitual dos conteúdos dos 4° ano das séries iniciais / Fonte: os autores.
Eixo: Eixo:
movimento nas 5º ANO Corpo e
manifestações Atividade Física
lúdicas e esportivas
Eixo: • Aspectos relacionados a
O movimento atividade física e saúde
e os jogos • Efeitos dos exercícios
• Iniciação às lutas anaeróbicos e aeróbicos
• Ginástica (elementos básicos) sobre o corpo
• Dança (brasileiras e populares) Jogos
• Práticas corporais (skate, escalada) Cooperativos
e Recreativos
Figura 5 - Mapa conceitual dos conteúdos dos 5° ano das séries iniciais / Fonte: os autores.
Ao observar os mapas conceituais destinados aos 4° e gundo Zabala (1998), educar significa trabalhar em prol
5° anos das séries iniciais, lembre-se que, para além das da formação do indivíduo, de forma integral. Portanto,
dimensões procedimentais tratadas nas aulas, é impor- as finalidades e os objetivos devem ser explícitos, para
tante ter, como foco, o desenvolvimento dos aspectos que possam ser desenvolvidos de acordo com as neces-
conceituais e atitudinais durante as aulas, porque, se- sidades de todos os envolvidos no processo.
119
Evidentemente que esse processo de ensino e apren- a Educação Física escolar aborda, por meio da apropria-
dizagem nas aulas de Educação Física escolar estão, ção do movimento e das relações culturais, as condições
sempre, centradas nas questões motoras, afinal, como para que a criança vivencie formas diversificadas para os
diz Canfield (2000), não é possível negar a importância movimentos, possibilitando que os mesmos tenham sig-
de trabalhar o aspecto motor no decorrer da infância do nificados próprios na relação da criança com o dia a dia.
ser humano, logo, as salas de Educação Física, enquanto Como vimos, as aulas de Educação Física escolar
um espaço de intervenção que possibilita e oportuniza, para os primeiros anos das séries iniciais do Ensino Fun-
de maneira efetiva, a vivência motora, por meio de jo- damental ocorrem graças às constituição e articulação
gos, atividades lúdicas e esportivas bem como conheci- entre o movimento, a cultura e os interesses da criança,
mentos sobre saúde, possibilitam que a criança do 4º e 5º afinal, ela é o ponto central das aulas. O professor é, nes-
anos das séries iniciais do Ensino Fundamental colabo- se contexto, o agente de transformação responsável por
rem como fatores essenciais para o processo de desen- oportunizar a inter-relação entre os saberes interpelados
volvimento da criança. pelo movimento e o cotidiano da vida da criança.
Com esta compreensão, os mapas conceituais apre-
sentados nesta unidade trouxeram a possibilidade de
estruturar as aulas centradas em movimentos que en-
O processo de ensino caracteriza-se pela
globam os contextos dos alunos, trazendo eixos de
combinação de atividades do professor e dos aprendizagem que apresentam uma prática pedagógi-
alunos. Estes, pelo estudo das matérias, sob ca a qual valoriza as relações bem como interações da
a direção do professor, vão atingindo, pro- criança com o universo em torno dela.
gressivamente, o desenvolvimento de suas Entendemos que a criança matriculada nas séries
capacidades mentais. A direção eficaz desse iniciais do Ensino Fundamental tem mais facilidade
processo depende do trabalho sistematiza- com o processo de aprendizagem e com a compreensão,
do do professor que, tanto no planejamento por meio do movimento, do universo que a cerca, pois,
quanto no desenvolvimento das aulas conju- nas aulas de Educação Física, a criança tem o potencial
ga objetivos, conteúdos, métodos e formas de explorar, pela interação com o meio, o próprio cor-
organizativas do ensino.
po no espaço. Afinal, os atos motores auxiliam o aluno a
Fonte: adaptado de Libâneo (1994).
exteriorizar o seu desenvolvimento, o qual é decorrente
das suas dimensões cognitiva, corporal, afetiva, ética, es-
tética, interpessoal e biológica.
Outro fator a ser considerado é o fato de que a escola da Como alerta Vygotsky (1996), o desenvolvimento da
atualidade deve atender a demandas próprias. Etchepare criança ocorre no meio escolar, mas também das inte-
(2000) afirma a necessidade de compreender que a es- rações de vários fatores, tais como: a hereditariedade, o
cola atual tem, como objetivo principal, desenvolver no crescimento orgânico, a maturação neurofisiológica e o
aluno as características necessárias à ação efetiva e, tam- meio social. Assim, as aulas de Educação Física escolar
bém, à participação ativa na sociedade. Nesse contexto, intensificam a relação entre o ser e o desenvolver infantil.
120
EDUCAÇÃO FÍSICA
121
agora é com você
122
meu espaço
123
meu espaço
124
meu espaço
125
LEITURA
COMPLEMENTAR
As discussões e reflexões acerca das ações no campo da mica da Educação Física. Ou seja, os alertas emitidos por Sil-
construção da Educação Física escolar têm acontecido, ao va (2000 e 2007) vêm sensibilizando gradativamente a área.
longo da história, a partir de diferentes vertentes pedagó- Considerando que toda decisão curricular é uma decisão
gicas. Sabendo deste fato, apresentamos a você uma re- política e que o currículo pode ser visto como um território
flexão levantada pelos professores Marcos Garcia Neira e de disputa em que diversos grupos atuam para validar co-
Mario Luiz Ferrari Nunes. Vale a pena a leitura do texto. nhecimentos (SILVA, 2007), é lícito afirmar que, ao promover
o contato com determinados textos culturais, o currículo,
CONTRIBUIÇÕES DOS ESTUDOS CULTURAIS além de viabilizar o acesso e uma gradativa compreensão
PARA O CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO FÍSICA dos conteúdos veiculados, influencia nas formas de inter-
Neste começo de século, a democratização dos contextos pretar o mundo, interagir e comunicar ideias e sentimentos.
educacionais remete, por um lado, ao questionamento dos A partir dos EC, o currículo da Educação Física também pode
currículos em vigor em grande parcela das escolas, dado ser imaginado sob o modelo da textualidade. Enquanto tex-
seu tratamento privilegiado aos elementos provenientes to, envolve práticas, estruturas institucionais e as complexas
da cultura dominante e, por outro, à necessária inserção formas de atividade que estas requerem, condições legais
e problematização daqueles conhecimentos advindos das e políticas de existência, determinados fluxos de poder e
culturas subordinadas (HALL, 2003). conhecimento, bem como uma organização semântica es-
As investigações sobre o currículo inspirados nos Estudos pecífica de múltiplos aspectos. Simultaneamente, esse tex-
Culturais (EC) retificam seu papel decisivo na constituição to só existe dentro de uma rede de relações intertextuais
de identidades. O acesso a certos conhecimentos e não (a rede textual da cultura corporal, da cultura escolar, da
outros, fazendo uso de certas atividades e não outras, ter- prática pedagógica). Trata-se de uma entidade ontologica-
mina por posicionar o aluno de uma determinada forma mente mista e para a qual não pode haver nenhuma forma
diante das “coisas” do mundo, influenciando fortemente as “correta” ou privilegiada de leitura. Tal perspectiva questiona
representações construídas. Nessa vertente, o currículo é e ajuda a compreender o privilégio que determinados gru-
concebido como campo de lutas para validação de modos pos possuem para fazer valer suas concepções de mundo,
de ser, o currículo forja identidades (SILVA, 2007). sociedade e práticas corporais, por exemplo. É justamente
Resultado de lutas travadas em meio a relações de poder esse aspecto, mais do que qualquer outra coisa, que desen-
tecidas no âmbito de contextos culturais e sociais o debate cadeou o interesse por investigar as principais produções
curricular subsidiado pelo campo teórico dos EC, pode-se dos EC e garimpar suas contribuições mais relevantes, a fim
dizer, tem recebido pouca atenção da comunidade acadê- de esboçar encaminhamentos para a construção e o desen-
volvimento de currículos da Educação Física.
126
LEITURA
COMPLEMENTAR
Em tempos de repetidas críticas aos diversos modelos nadas representações é o primeiro passo para reescrever
curriculares em voga e diante da tentativa de transformar os processos discursivos e alcançar a formação de outras
a realidade social brasileira tão desigual, os EC fornecem identidades (NELSON; TREICHLER; GROSSBERG, 1995).
subsídios para afirmar o caráter político do currículo da Compreender melhor seus fundamentos é, como diz Co-
Educação Física, ao incitar uma investigação mais rigorosa razza (2006), o primeiro passo para artistar currículos da
que busque desvelar como se dão os processos de identi- Educação Física comprometidos com uma construção
ficação/diferenciação travados no seu interior. Para os EC, identitária mais democrática.
revelar os mecanismos pelos quais se constroem determi- Fonte: Neira e Nunes (2011, p. 672-673).
127
material complementar
Título: Esporte como Conhecimento e Prática nos Anos Iniciais do Ensino Fun-
damental
Autores: Vilma L. Nista-Piccolo e Wagner Wey Moreira
Editora: Cortez
Ano: 2012
Sinopse: neste livro, os autores propõem reflexões acerca da Educação Física es-
colar praticada nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Amparados em amplas
pesquisas e acompanhamentos de práticas em escolas, estes autores levantam
questões para pensar, criticamente, o modo como as noções de esporte e corporeidade são encaradas,
hoje, por professores de todas as áreas, reflexões as quais contribuem às novas visão e estruturação
da disciplina, ressaltando o valor dos saberes como componente imprescindível na formação integral
dos alunos. Com considerações abrangentes sobre tais noções, o livro é, ainda, enriquecido com um
repertório de atividades que servem como sugestões diversificadas para aulas pautadas na construção
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128
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138
gabarito
UNIDADE 1
1. Caro(a) aluno(a), a história da infância foi marcada por acontecimentos provenientes dos contextos so-
ciais, econômicos e políticos de cada época. Os que mais marcaram o campo da Educação Física se rela-
cionaram ao ingresso da mulher no mundo do trabalho, após a Revolução Industrial. O que se percebe,
ao longo da história, é a dicotomia com relação ao objetivo da Educação Infantil: o educar e o cuidar,
aspectos relevantes que sempre foram considerados essenciais nesta modalidade de ensino.
2. A história da infância foi marcada por inúmeros acontecimentos. A criança pequena era vista, na Anti-
guidade, como um ser que pouco ou nada influenciava a casa e a vida, assim como na Idade Média ela
era vista, apenas, sob a responsabilidade da família, tida como um adulto em miniatura, que poderia ser
descartada/rejeitada quando afligida por alguma anomalia. Esta ideia muda, somente, com o advento
da sociedade moderna, quando a criança passa a ser vista pelo prisma da ciência e a ocupar um lugar
central nas discussões do Estado, na constituição da família e dos cuidados com o seu desenvolvimento.
3. Caro(a) aluno(a), a questão da influência das agências e organismos multilaterais na Educação Infantil
está em destaque no tópico “A Escola e a Infância: A Institucionalização da Criança e da Infância”. Como
vimos, a influência reside no fato de que esses organismos internacionais, por meio de seus documentos,
repassam aos países-membros as indicações de ações políticas que devem regular e regulamentar as
ações relacionadas à criança, em especial, na Educação Infantil. Esses documentos tornam-se os parâme-
tros globais acerca das definições das finalidades e dos objetivos que devem ser seguidos.
4. A Educação Física pode contribuir para o desenvolvimento da criança nas atividades que exploram, por
meio da linguagem corporal e do movimento, as potencialidades deste ser.
5. Na atualidade, o conceito de infância está atrelado ao próprio conceito que se tem de sociedade e de ser
humano.
UNIDADE 2
1. Caro(a) aluno(a), os principais documentos orientadores da Educação Infantil são a Constituição Federal
de 1988, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) de 1990 e a Lei de Diretrizes e Bases da Educa-
ção Nacional (Lei 9.394/1996), nos quais a Educação Infantil é assumida como dever do Estado, sendo a
educação um direito social.
2. Caro(a) aluno(a), é importante lembrar que a presença do professor de Educação Física na Educação
Infantil se justifica pelas ações didático-pedagógicas que possibilitam a intervenção centrada em ativida-
des as quais permitem que a criança, por meio de seu conhecimento corporal, da sua imagem corporal
e do seu movimento, possam ser integradas ao projeto da instituição, ampliando e possibilitando, cada
vez mais, experiências inovadoras, levando a criança ao desenvolvimento das habilidades básicas para o
processo educativo.
3. Possibilitar a interação da criança com o universo que a cerca, a partir da diversidade cultural da realida-
de dessa criança.
4. Por meio das ações lúdicas, do faz-de-conta e de atividades adequadas à faixa etária atendida.
5. É preciso considerar a individualidade da criança, as características culturais e as necessidades que a
criança apresenta.
139
gabarito
UNIDADE 3
1. B.
2. A.
3. A.
4. O diagnóstico, a reflexão sobre o universo em que se está inserido. Isso permitirá identificar quais são
as reais necessidades dos grupos com os quais o professor interagirá durante o ano. Olhar para a reali-
dade, estabelecer julgamento sobre essa realidade e prever caminhos que possibilitem atender às suas
necessidades básicas contribui e evita erros desnecessários.
5. Deve-se considerar: validade, flexibilidade, significado, possibilidade de elaboração pessoal, viabilidade,
utilidade, interesse e adequação às necessidades.
UNIDADE 4
1. A.
2. A.
3. C.
4. Corpo, movimento, expressão corporal e ritmo, entre outros.
5. O papel do professor de Educação Física é essencial, uma vez que contribui tanto para o desenvolvimen-
to motor quanto para o desenvolvimento afetivo, cognitivo e social da criança.
UNIDADE 5
1. Organizar situações de vivências corporais e estudos que possibilitem a compreensão em ser um corpo
em movimento e em constantes interações com objetos e pessoas. Favorecer o estudo e a vivência de
manifestações lúdicas e esportivas como integrantes da cultura motora, contribuindo com o processo de
construção da motricidade. Promover a compreensão do movimento rítmico como forma de expressão
corporal e de representação social, valorizando-o em diversas manifestações culturais. Por fim, possibili-
tar o entendimento e o envolvimento da interação entre a ação motora e a saúde, destacando os bene-
fícios que esses conhecimentos podem trazer para a melhora da qualidade de vida.
2. Deve-se considerar as dimensões conceituais, procedimentais e atitudinais para a opção e o desenvolvi-
mento das aulas de Educação Física escolar.
3. Deve-se considerar os fatores hereditários, culturais, biológicos e ambientais.
4. Valorizar a cultura é de suma importância, uma vez que se passa a valorizar os conhecimentos da própria
criança na construção das aulas.
5. O planejamento é essencial para garantir que os objetivos sejam alcançados com êxito e que as aulas
tenham muita qualidade no seu ensino.
140