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O perfil dos alunos do Curso de Licenciatura em Música da UFPI: em busca de

informações para a reformulação do PPC

Comunicação

Edson Antônio de Freitas Figueiredo


Universidade Federal do Piauí
[email protected]

Resumo: O Curso de Licenciatura em Música da UFPI foi criado em 2010 a partir do


desmembramento do Curso de Educação Artística. A necessidade da reformulação do PPC surgiu
do amadurecimento do curso e das novas demandas promovidas pela legislação federal. Para
essa reformulação considerou-se fundamental conhecer algumas características dos alunos que
frequentam o curso. O objetivo constituiu-se em analisar o perfil dos alunos do Curso de
Licenciatura em Música da UFPI. O método utilizado foi um survey conduzido por meio de um
questionário online com perguntas sobre dados pessoais, experiência prévia com música
formação superior em música e futuro profissional. O questionário foi respondido por 61 alunos.
Os resultados apontam que os alunos possuem acesso ao ensino formal de música antes de
iniciar o curso; que existe o desejo de aprender um instrumento musical em profundidade bem
como aprender noções básicas de diferentes instrumentos; que existiria demanda para curso de
bacharelado se a universidade oferecesse tal modalidade; que existe a intenção dos alunos em
trabalhar na Educação Básica e/ou com ensino de instrumento. Por fim considera-se a
necessidade da elaboração de um PPC flexível que respeite a autonomia dos alunos e possibilite
atender a diversos interesses.
Palavras chave: licenciatura, música, projeto pedagógico.

Introdução

A formação de professores de música é um grande desafio devido o vasto campo que a


educação musical abrange (QUEIROZ; MARINHO, 2005). Segundo a legislação nacional (BRASIL,
2015), os cursos de licenciatura devem formar professores para atuarem na Educação Básica nas
etapas de educação infantil, ensino fundamental e ensino médio, em suas respectivas
modalidades (Educação de Jovens e Adultos, Educação Especial, Educação Profissional e
Tecnológica, Educação do Campo, Educação Escolar Indígena, Educação a Distância e Educação
Escolar Quilombola). Além desta complexa gama de atuação de um professor, o licenciado em
música ainda possui outras possibilidades de atuação, como projetos sociais, regência de coro,

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ensino de instrumento em escolas de música, aulas individuais de música na casa do aluno, etc.
A atuação do licenciado em música, contudo, não se restringe às atividades de cunho pedagógico,
sendo comum encontrarmos licenciados que dedicam-se à performance musical. Conforme
destacado por Soares, Schambeck e Figueiredo (2014), muitos alunos do curso de licenciatura
em música não desejam atuar como professores, mas optaram por esta modalidade por não
haver outras opções de curso superior em música em sua região.
Este contexto de múltiplas possibilidades exige que os cursos de licenciatura em música
possuam objetivos, definições e currículo atualizados e bem delimitados. Um dos documentos
mais importantes para a atualização do curso é o seu Projeto Pedagógico, por se tratar de um
documento que envolve a concepção do curso como um todo. O processo de atualização de um
PPC é algo necessário de tempos em tempos e exige uma ampla avaliação do curso e do corpo
discente, englobando aspectos como as necessidades regionais, as expectativas dos alunos e as
constantes mudanças no mercado de trabalho. Novas propostas curriculares para cursos
superiores de música foram veiculados em periódicos de circulação nacional, como o caso do
novo currículo de graduação da Escola de Música da UFMG (BARBEITAS, 2002), do Projeto
Político Pedagógico da Licenciatura em Música da UFPB (QUEIROZ; MARINHO, 2005) e das
propostas e mudanças curriculares dos cursos de graduação em música da UEMG (SAMPAIO;
MARINO, 2013). Estas são propostas que reconhecem a ampla possibilidade de atuação do
profissional em música e destacam a necessidade de flexibilização de currículo e do envolvimento
de todos os atores envolvidos no curso.
Como destacam Soares, Schambeck e Figueiredo (2014), o curso de licenciatura em
música precisa lidar com questões desafiadoras sobre a formação do músico e a formação do
professor. Na opinião dos autores, a plena implementação de um Projeto Político Pedagógico
necessita da participação não apenas dos professores, mas também dos alunos. Perante o
amadurecimento do curso e das novas demandas promovidas pela legislação federal,
considerou-se fundamental conhecer algumas características dos alunos que frequentam o Curso
de Licenciatura da UFPI. Desta forma, o objetivo deste trabalho é analisar o perfil dos alunos do
curso de Licenciatura em Música da UFPI. Os dados desta pesquisa serão aqui relacionados com
os dados da pesquisa “A Formação do Professor de Música no Brasil”, realizada entre os anos de

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2008 e 2012, como parte das ações do Programa Observatório da Educação. Essa pesquisa,
conduzida por Soares, Schambeck e Figueiredo (2014) desenvolveu um estudo de proporções
nacionais para conhecer o perfil do aluno de licenciatura em música. Por meio de um survey
envolvendo 1924 licenciandos em música de 43 instituições, os autores produziram contribuições
inéditas sobre as expectativas referentes à formação e à atuação profissional destes estudantes.
Desta forma considerou-se que a pesquisa realizada por Soares, Schambeck e Figueiredo (2014)
possui elementos que podem servir como base comparativa para a análise do perfil dos alunos
de Licenciatura em Música da UFPI.

O Curso de Música da Universidade Federal do Piauí

As atividades musicais na UFPI tiveram início com a criação do Curso de Educação


Artística em 1977. Como regulamentado na época, o curso concedia habilitações em Artes
Cênicas, Artes Plásticas, Desenho e Música, sendo que apenas em 2010 a música foi
desmembrada em uma licenciatura específica. O PPC estipulava a carga horária de 3075 horas,
devendo ser integralizadas no mínimo, quatro anos e meio não podendo exceder seis anos e
meio. O PPC também previa o oferecimento de 40 vagas anuais e funcionamento turnos
vespertino e noturno. Na época, a primeira turma foi composta por alunos ingressantes e
também por alunos Curso de Educação Artística que migraram para a Licenciatura em Música. A
turma teve 49 alunos, dos quais 18 cancelaram, 17 concluíram e 14 permanecem ativos.
Em 2014 o PPC foi reformulado com base no processo contínuo de avaliação e nos
questionamentos que a compreensão do perfil discente trouxe durante os primeiros anos de
funcionamento do curso. Em voga até o presente momento, PPC estipula a carga horária de 3195
horas, devendo ser integralizadas no mínimo, quatro anos não podendo exceder seis anos. O
curso é oferecido nos turnos vespertino e noturno, com oferecimento anual de 40 vagas.
Na época da elaboração do PPC de 2014, a carga horária era regulamentada pela
Resolução nº2 CNE/CP de 19 de fevereiro de 2002 (BRASIL, 2002). Segundo essa resolução os
cursos de licenciatura deveriam conter a carga horária mínima de 2800 horas, podendo ser
integralizado no mínimo em três anos. Na pesquisa de Soares, Schambeck e Figueiredo (2014),

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observou-se que a média da carga horária dos cursos de licenciatura em música oferecidos pelas
instituições públicas no país era de 2969 horas. Comparada com a média nacional, o curso da
UFPI possui a carga horária ligeiramente maior.
A carga horária dos cursos de licenciatura recebeu uma atualização com a Resolução nº2
do CNE/CP de 1º de julho de 2015 (BRASIL, 2015). A resolução prevê que a carga horária seja de
3200 horas de efetivo trabalho acadêmico distribuídos em, no mínimo, quatro anos. A resolução
também prevê 400 horas de prática como componente curricular; 400 horas de estágio
supervisionado, na área de formação e atuação na educação básica, contemplando também
outras áreas específicas, se for o caso; 200 horas de atividades teórico-práticas de
aprofundamento em áreas específicas de interesse dos estudantes; 2.200 horas restantes
destinadas às atividades formativas. Embora o prazo para as universidades se adequarem a nova
resolução encerrou em julho de 2017, o Curso de Música da UFPI ainda está em fase de
elaboração do novo PPC. Para isso, uma das primeiras medidas foi realizar uma pesquisa para
conhecer com mais detalhes o perfil e os anseios dos alunos que frequentam o curso.

Metodologia

O método de pesquisa foi um survey baseado na internet. Para a coleta de dados


utilizou-se um questionário com perguntas que incitavam respostas dissertativas e respostas de
múltipla escolha. A elaboração do questionário contou com a colaboração de todos os
professores do quadro docente, ficando com cinco partes: 1) dados pessoais: continha questões
sobre idade, sexo, cidade de origem e atividades paralelas ao curso; 2) experiência com música:
série de questões sobre preferências musicais e aprendizagem musical; 3) formação superior em
música: nessa parte buscou-se conhecer a opinião dos alunos sobre vários aspectos do curso, tais
como aulas de instrumento, lacunas do curso, currículo, etc.; 4) futuro profissional: conteve
questões sobre as intenções dos alunos após a conclusão do curso; 5) comentários: espaço
destinado a comentários diversos. O questionário foi inserido em um website de pesquisa. Cada
aluno recebeu por e-mail um link para acessar o questionário online com garantias de que as
respostas seriam anônimas.

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Resultados

Atualmente, após sete anos de existência e dois Projetos Pedagógicos, o Curso de


Licenciatura em Música da UFPI soma 351 ingressos. Deste total, 34 (10%) concluíram o curso,
207 (59%) encontram-se ativos, 104 (30%) cancelaram e 6 (2%) trancaram a matrícula. O
questionário foi enviado para os 207 alunos ativos no curso e obteve-se 61 respostas.
Considerando esses números, a adesão à pesquisa foi relativamente baixa, com apenas 29%.
Contudo, a coordenação do curso admite um alto número de alunos que encontram-se ativos no
sistema mas que estão infrequentes, fazendo uma estimativa de 120 alunos que estão
frequentando as aulas normalmente.
Dos 61 respondentes 57% são do sexo masculino. A média de idade é de 25 anos, sendo
os extremos 17 e 44 anos. Os respondentes são em sua maioria de Teresina (69%), embora
observou-se uma porcentagem relevante de alunos do interior do Piauí (13%), do Maranhão
(13%) e cidades de outros estados (5%). Do total de respondentes, 28% são alunos cotistas.
Alunos que dedicam-se exclusivamente aos estudos somam 48%, aqueles que exercem outras
atividades, em sua maioria, trabalham como professores e/ou performers. A seguir serão
descritos os resultados que apresentaram maior relevância, em termos de acesso prévio ao
ensino formal de música, aula de instrumento no curso de Licenciatura em Música, futuro
profissional e gênero.

Acesso prévio ao ensino formal

Sobre a experiência prévia com música, 72% dos alunos tiveram acesso ao ensino formal
de música antes de entrar no curso de licenciatura. Este é um dado importante ao considerar que
o curso interrompeu o teste de habilidades específicas em 2012, sendo retomado para a seleção
de 2017. Segundo Soares, Schambeck e Figueiredo (2014), o teste de habilidades específicas para
a entrada em curso superior de música é um tema frequentemente discutido no meio acadêmico
e não há consenso sobre a necessidade, relevância ou obrigatoriedade dessa prova. A pesquisa
dos citados autores mostrou que 72% dos cursos de licenciatura em música que participaram da

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pesquisa exigem uma prova de habilidade específica, o que, na análise dos autores, pode
representar a ausência ou insuficiência do ensino de música na educação básica.
O contato com o ensino formal de música relatado pelos alunos provavelmente
aconteceu em escolas de música ou projetos sociais. A cidade de Teresina possui diversos
projetos sociais que atendem crianças, jovens e adultos de diferentes classes sociais. O Estado
do Piauí mantém uma escola de música e o Instituto Federal do Piauí oferece o curso técnico em
Música. Já as escolas de música de iniciativa privada são escassas.

Aulas de instrumento no Curso de Licenciatura

O curso oferece disciplina de prática instrumental por seis semestres. Os instrumentos


contemplados são piano, violão, canto, percussão, instrumentos de arco, instrumentos de sopro.
A Figura 01 demonstra a predileção de instrumentos dos participantes da pesquisa. Nessa
questão os alunos poderiam indicar seu instrumento principal, mas também poderiam indicar
outros instrumentos que estudam. Desta forma o gráfico possui um número maior de
observações do que a amostra total. Podemos observar que violão e canto estão entre os
instrumentos mais requisitados, seguidos por piano, guitarra, flauta doce e violino.

Figura 01 – Instrumentos musicais preferidos

Fonte: o autor

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De acordo com a pesquisa de Soares, Schambeck e Figueiredo (2014), os instrumentos
mais frequentes nas disciplinas práticas nos cursos brasileiros são piano, violão, flauta doce,
percussão e canto. Essa constatação está muito próxima à observada no curso da UFPI, com
exceção da guitarra e violino que demonstram ter uma demanda levemente mais acentuada.
A carga horária atual das disciplinas de prática instrumental no curso da UFPI é de 360
horas divididas em seis semestres. As disciplinas são obrigatórias e conduzidas em turmas de, no
máximo, 10 alunos. Segundo Soares, Schambeck e Figueiredo (2014), características como carga
horária, obrigatoriedade e formato das turmas variam conforme a instituição. Os autores
também destacam que algumas instituições permitem que os alunos escolham o instrumento a
ser estudado, outras pré-determinam no currículo quais serão estes instrumentos. No caso da
UFPI o aluno escolhe um instrumento para ser estudado durante todo o curso.
Dos alunos que participaram da pesquisa, 82% consideram importante receber sólida
formação em um mesmo instrumento específico. Outro dado interessante é que 75% dos
respondentes também consideram alunos de licenciatura em música devem aprender vários
instrumentos. O que à primeira vista pode parecer uma contradição, por outro lado pode indicar
que o interesse dos alunos é receber uma formação mais profunda em um instrumento musical,
mas também ter contato com outros instrumentos necessários à prática docente em educação
musical.

Futuro Profissional

Ao responder à pergunta sobre qual seria a primeira opção entre as duas modalidades,
54% dos alunos optariam pelo bacharelado, enquanto que 46% optariam pela licenciatura.
Segundo Soares, Schambeck e Figueiredo (2014), os cursos de licenciatura em música abrigam
estudantes que não desejam ser professores, porém optam por cursar a licenciatura por não
haver cursos de bacharelado em universidades de suas regiões. Na pesquisa dos citados autores,
58% dos estudantes de licenciatura ingressaram no curso pelo desejo de estudar música, fato
que mostra a demanda por mais cursos de bacharelado.

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Algumas questões sobre as duas modalidades do curso de música necessitam de mais
reflexão da comunidade acadêmica. Não é raro encontrarmos licenciados que trabalham com
performance e bacharéis que atuam como professores. Apesar de parecer um contrassenso, a
inversão de papéis faz sentido na área de música ao considerarmos suas características
multifacetadas. Um profissional da música pode atuar em diversos contextos, tais como
educação infantil, educação básica, ensino de adultos e idosos, com portadores de necessidades
especiais, como regentes corais, professor de instrumento musical, professor em projeto social,
performance, arranjo, composição, etc.
Questionados sobre o futuro profissional, 16% dos participantes responderam que
pretendem atuar apenas como professor, 10% indicou que gostaria de trabalhar apenas com
performance musical e 74% desejam atuar com performance e ensino. Do total de alunos, 61%
indicou ter intenção de trabalhar na Educação Básica e 66% indicou ter intenção de trabalhar
com ensino de instrumento. A Figura 02 mostra a porcentagem de participantes que possui
interesse em atuar na Educação Básica, considerando suas três etapas.

Figura 02 – Interesse em atuar nas etapas da Educação Básica

Fonte: o autor

Gênero

A composição da amostra apresentou 57% de homens e 43% de mulheres. Essa é uma


porcentagem um pouco mais equilibrada em comparação à porcentagem descrita na pesquisa

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de Soares, Schambeck e Figueiredo (2014), que foi de 64% homens e 36% mulheres. Outro dado
importante é que os autores apontam que a amostra da região nordeste demonstrou ter
significativamente mais homens, porém a amostra do Curso de Licenciatura em Música da UFPI
apresentou uma diferença sutil.
A amostra aqui analisada traz informações relevantes quanto à preferência por
licenciatura ou bacharelado. Relacionando com o gênero, 51% dos homens optariam pelo
bacharelado, enquanto que 58% das mulheres tomariam a mesma escolha (Figura 03). Esse dado
difere-se das pesquisas de Figueiredo (2015) e Piserchia (2014) que reportam uma preferência
masculina pelo bacharelado.

Figura 03 – Preferência por bacharelado e licenciatura entre


homens e mulheres.

Fonte: o autor

Outro dado relevante sobre gênero é a relação com a Educação Básica. Conforme
demonstrado na Figura 04, apenas 20% dos homens afirmaram ter interesse em atuar na
Educação Infantil, número que sobe para 43% e 54% no Ensino Fundamental e Ensino Médio
respectivamente. Por outro lado, 42% das mulheres afirmaram ter interesse em atuar na
Educação Infantil, porcentagem que diminui a 27% nas demais etapas. Este dado reflete o
fenômeno da feminização do magistério, principalmente na Educação Infantil. A análise do perfil
dos professores brasileiros conduzido pela ONG Todos pela Educação (2016) demonstra que

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apenas 4,5% dos professores da Educação Infantil são homens, proporção que torna-se mais
equilibrada no Ensino Médio e Educação Profissional. Essa tendência é similar, porém menos
contrastante, quando se observa os professores de música. Röpke (2017) conduziu uma pesquisa
com 193 professores de música que atuam na educação infantil e identificou que 27,5% eram
homens. Estes são dados que refletem as ideias de Almeida (1996) ao considerar a feminização
do magistério como um fenômeno de origem histórica, cuja especificidade deve ser considerada
para uma compreensão profunda da profissão professor.

Figura 04 – Interesse de homens e mulheres em atuar nas etapas da


Educação Básica

Fonte: o autor

Discussão e Considerações

O presente artigo teve como objetivo analisar o perfil dos alunos do curso de licenciatura
em música da UFPI. As informações coletadas foram comparadas com uma pesquisa realizada
com alunos de licenciatura em música de todo o país, sendo que os resultados mais expressivos
foram observados em questões como o acesso prévio ao ensino formal de música, aulas de
instrumento no curso de licenciatura, futuro profissional e gênero.
Observou-se que a maioria dos alunos teve acesso ao ensino formal de música antes de
iniciar a graduação. Contudo, uma vez que é exigido um teste de habilidades específicas para o
ingresso ao curso, a universidade deveria oferecer cursos de extensão que auxiliassem na

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formação musical da população. Esse é um desejo dos professores que esbarra da estrutura
insuficiente da universidade. Seria necessária uma infraestrutura ampla e apropriada para
abrigar aulas de música não apenas em nível superior, mas também em nível inicial e
intermediário.
Um dos dados mais relevantes para pensar-se um novo projeto pedagógico do curso foi
a opinião dos alunos sobre as aulas de instrumento no curso de licenciatura em música. A maioria
dos alunos considera importante estudar profundamente um instrumento musical mas
reconhecem a necessidade de ter contato com outros instrumentos, tais como violão, teclado,
flauta-doce, percussão e canto. Outro dado que está diretamente relacionado é a existência de
diversos perfis de alunos, que desejam trabalhar como performers, como professores na
educação básica ou como professores de instrumento. A grande questão é: como atender a
interesses tão diversos?
A criação de um curso de bacharelado pode ser uma estratégica interessante, porém
não é suficiente. Mesmo com a criação de um bacharelado, o curso de licenciatura continuará
recebendo alunos com perspectivas muito diferentes. Dada as possibilidades de atuação de um
licenciado em música, o curso deveria oferecer diversos caminhos que o estudante poderia
trilhar. Aqueles que desejam atuar com educação infantil poderiam encontrar disciplinas no
curso que prepare o professor para esse contexto; já aqueles que gostariam de lecionar
instrumento musical também teriam a oportunidade de aprofundar seus conhecimentos no
instrumento escolhido. Esta seria uma forma de valorizar a autonomia e os interesses pessoais
dos alunos.
A baixa adesão dos alunos em responder o questionário bem como o elevado número
de alunos ativos no sistema mas infrequentes na prática, mostra que uma atenção especial deve
ser direcionada ao interesse dos alunos no curso e a uma orientação pedagógica mais efetiva.
Por fim considera-se que o curso de licenciatura em música da UFPI possui características e
dilemas observados também nos cursos de música de todo o país. Contudo, conhecer as
particularidades do perfil dos alunos foi útil para iniciarmos a discussão de um novo projeto
pedagógico.

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