Turismo Comunitário e Gestão Participativa Na RDS Estadual Ponta Do Tubarão (RN) : Processos e Perspectivas
Turismo Comunitário e Gestão Participativa Na RDS Estadual Ponta Do Tubarão (RN) : Processos e Perspectivas
Turismo Comunitário e Gestão Participativa Na RDS Estadual Ponta Do Tubarão (RN) : Processos e Perspectivas
Turismo Comunitário e
Gestão Participativa na RDS Estadual Ponta do Tubarão (RN): processos e
perspectivas. Revista Brasileira de Ecoturismo, São Paulo, v.10, n.2, mai/jul 2017,
pp.210-226.
RESUMO
O desenvolvimento do turismo em áreas protegidas tem gerado discussões
entre estudiosos do setor em relação ao seu planejamento, sustentabilidade
e a viabilidade em conciliar os objetivos da conservação ambiental, da
economia e da gestão comunitária. A Reserva de Desenvolvimento
Sustentável Estadual Ponta do Tubarão (RDSEPT), localizada no litoral
setentrional do estado do Rio Grande do Norte, foi a primeira Unidade de
Conservação (UC) estadual criada por reivindicação da sociedade civil
organizada que vive nessa área. Esse processo se deu em virtude das
ameaças de degradação dos recursos naturais decorrentes, principalmente,
da especulação imobiliária e da atividade de carcinicultura nos manguezais
da região. Dentre as alternativas de uso sustentável do ambiente da
RDSEPT, o turismo comunitário tem sido apontado pelos moradores locais,
como uma prática capaz de gerar, simultaneamente, renda, oportunidade de
trabalho e conservação ambiental. Nesse contexto, este artigo tem como
objetivo analisar e compreender os processos participativos e perspectivas
do desenvolvimento do turismo comunitário, na RDSEPT. A pesquisa tem
abordagem qualitativa, natureza exploratório-descritiva, com adoção de
coleta de dados secundários para o levantamento bibliográfico e
documental, bem como a observação participante. Os resultados mostraram
que a o turismo comunitário na Reserva está em processo de organização,
sendo desenvolvida de forma incipiente, gerenciada por associação
comunitária local, envolvendo também a participação do Grupo de Trabalho
do Turismo e sem intervenções do setor público. A referida UC não possui,
oficialmente implementado, um Plano de Manejo que contemple programas
de uso público e de manejo do turismo. Esses fatores, associados à carência
de investimentos públicos e privados em infraestrutura necessária ao
turismo, podem ser responsáveis pelas dificuldades ao processo
desenvolvimento da atividade na Reserva de Desenvolvimento Sustentável
Estadual Ponta do Tubarão .
ABSTRACT
The tourism development in protected areas has been widely debated with regard to
its planning, sustainability and feasibility to conciliate the aims of environmental
conservation, business and community management. The Ponta do Tubarão State
Sustainable Development Reserve (PTSSDR), located in the Rio Grande do Norte
state northern coast, was the first Conservation Unit created by the claim of the local
organized civil society. This process occurred due to the threats of degradation of
natural resources, coming from real estate speculation and Shrimp farming activity
in Mangroves of the region. Among the alternatives for a sustainable usage of
RDSEPT environment, the community tourism has been pointed out by the naïve
residents as a practice with potential to provide income, job opportunities and
environmental conservation. In this context, our goal is to analyze and understand
the participatory processes and the perspectives of the community tourism in
RDSEPT. This research has a qualitative approach, descriptive-exploratory nature,
with adoption of secondary data collection for bibliographic and documental
searching, as well as participant observation. The results showed that the
community tourism in the Reserve is in process of organization, with incipient
development, being managed by local associations, involving the participation
PTSSDR Tourism Working Group, with no intervention from public department. The
already-mentioned Conservation Unit does not have an official Management Plan,
encompassing public programs and tourism management. These factors, together
with the lack of public and private investments in infrastructure, may be the
responsible for difficulties in the The Ponta do Tubarão State Sustainable
Development Reserve activity developmental process .
Introdução
As estratégias de proteção das Unidades de Conservação (UC)
implicam na preservação dos seus sistemas naturais e culturais conciliada
com práticas econômicas que atendam às necessidades das sociedades
que vivem nesses espaços e no seu entorno. Nesse prisma de abordagem,
o turismo tem sido apontado como uma prática capaz de sustentar essas
áreas naturais protegidas. “Por isso, o uso turístico de toda a paisagem em
uma área natural protegida envolve a gestão de recursos comuns e do
espaço, considerando o equilíbrio natural e social do ambiente analisado”
(PAVON et al., p.26, 2015).
No entanto, precisa-se atentar para o fato de que a atividade turística,
além de representar um incremento enquanto atividade econômica para o
destino, também gera impactos que comprometem a manutenção de
recursos naturais e o desenvolvimento comunitário. A apropriação de terras
para a criação de parques e outras unidades de conservação, assim como a
escolha de locais para a instalação de grandes complexos hoteleiros está
frequentemente associada a riscos e injustiças sociais (EMBRATUR/IEB,
2001). Com isso, Irvin (2000) inferiu que, geralmente, as comunidades
autóctones receptoras do fenômeno turístico, não usufruem dos benefícios
do crescimento do turismo, visto que há pouco comprometimento com o
desenvolvimento local.
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trabalho desenvolvidas pela comunidade e que, por sua vez, pode ser
também um meio para alcançar objetivos sociais e ambientais (IDEMA,
2007).
Ainda do ponto de vista da gestão, a RDS Estadual Ponta do Tubarão
é marcada pela participação das comunidades envolvidas nos processos de
criação, implantação e processos de desenvolvimento que são assegurados
pela legislação superior (Lei Federal nº 9.985/2000). Na verdade, a
existência do Conselho Gestor, pela referida normativa, ocorre para garantir
a participação da sociedade nas decisões de interesse coletivo. Esse
processo ocorre por meio de atores sociais provocando o fortalecimento da
democracia. “Nesse contexto, o desenvolvimento se constrói a partir do
protagonismo real, legítimo de cada indivíduo” (AZEVEDO, 2008, p. 5).
No caso do GT de Turismo da RDSEPT, as lideranças locais desse
grupo temático construíram, participando e/ou organizando seminários de
reflexão a respeito do turismo comunitário, envolvendo as comunidades que
pertencem à Reserva, além de pesquisadores, jornalistas, estudantes,
técnicos, políticos, ambientalistas e outros.
Percebe-se, então, que os GTs são espaços de discussão criados
para que os segmentos da sociedade civil, em conjunto com os demais
atores atuantes, pudessem assegurar a solução dos problemas enfrentados
pela Reserva. Essa, dentre outras ações, é uma das formas de garantir a
efetiva participação dos envolvidos nos assuntos de interesses da
comunidade (OLIVEIRA, 2008).
Em 2004, foi realizado o I Seminário de Turismo Sustentável da RDS
Estadual Ponta do Tubarão com objetivo de apresentar uma série de
informações e experiências a respeito da atividade turística para subsidiar as
comunidades da RDS no processo de decisão sobre a forma de turismo a
ser implantado na RDS, como parte das estratégias de desenvolvimento
sustentável territorial/local.
Torna-se evidente, portanto, que o processo de criação da RDSEPT,
como também a idealização da prática do turismo, teve como protagonista a
população autóctone. Este fato foi possibilitado, dentre outras coisas, pelos
processos de educação ambiental, ainda em fase inicial, que propiciaram a
ação participativa consciente e a ressignificação do sentimento de
pertencimento ao lugar. Assim, empiricizando a fala de Santos (1994, p. 29)
quando este afirma que, para que uma sociedade local incorpore os vetores
verticais sem recusar sua participação no mundo, esta deve “descobrir e por
em prática novas racionalidades em outros níveis e regulações mais
consentâneas com a ordem desejada pelos homens, lá onde eles vivem”.
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Considerações Finais
A prática do turismo comunitário em uma área protegida requer
regulamentação da atividade compatibilizada com a preservação dos
recursos ambientais, pois envolve a presença de visitantes, visitados,
profissionais da atividade turística e gestores ambientais. A ânsia por
consolidar o turismo comunitário como uma forma de organização do turismo
economicamente viável na RDSEPT direcionou as ações de promoção e
divulgação da atividade ao mercado convencional do turismo de massa.
Embora a RDS Ponta do Tubarão constitua uma unidade de
conservação com grande potencialidade para o desenvolvimento do turismo
comunitário, muitas questões ainda devem ser planejadas para o
afloramento efetivo da atividade na região.
A atividade turística desenvolvida na Reserva é totalmente gerenciada
por associação comunitária local, sem maiores intervenções do setor
público. Contudo, embora a RDSEPT não possua plano de manejo3
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Referências
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Notas:
1
São diretrizes, princípios norteadores de ação do poder público; regras e
procedimentos para as relações entre poder público e sociedade, mediações entre
atores da sociedade e do Estado. São, nesse caso, políticas explicitadas,
sistematizadas ou formuladas em documentos (Leis, programas, linhas de
financiamentos)que orientam ações que normalmente envolvem aplicações de
recursos públicos (TEIXEIRA, 2002, p. 2).
2
É um lugar onde a sociedade pode participar efetivamente para a prevenção de
problemas e soluções das questões socioambientais da região da Unidade
(BRASIL, 2007).
3
Documento técnico mediante o qual, com fundamento nos objetivos gerais de uma
unidade de conservação, se estabelece o seu zoneamento e as normas que devem
presidir o uso da área e o manejo dos recursos naturais, inclusive a implantação
das estruturas físicas necessárias à gestão da unidade. (BRASIL, 2007).
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