O Homem Como Unidade Bio-Psico - Socio - Cultural

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O HOMEM COMO UNIDADE BIO- PSICO- SOCIO- CULTURAL

Todo ser humano à nascença já constitui-se como indivíduo, com qualidades de


integridade próprias, particularidades que o distinguem dos outros. O mesmo não se
pode dizer em relação à Personalidade. O ser humano forma sua personalidade em
resultado da sua constituição biológica (características herdadas), das influências do
meio social e cultural do contexto em que se encontra (aquisições do meio), assim como
das experiências de vida (desenvolvimento), e sempre considerando seu
desenvolvimento psicológico (estabilidade emocional, de sentimentos). Por tal se diz ser
uma unidade bio-psico-social.

Segundo UCM-CED (2015, p.8), O comportamento humano é também difícil de ser


compreendido pela natureza da sua realidade, bio-psico-sócio-cultural. A análise do seu
comportamento requer o cuidado de ter-se em conta essa complexa realidade humana.
Por esta razão a Psicologia pode e deve possuir laços interdisciplinares com outras
ciências, como por exemplo, as de natureza biológica, sociológica, cultural, etc.

Nesta ordem de idéias, Cardoso, Frois & Fachada (1993) consideram como objectivo
final da Psicologia a explicação das condutas em função dos factores ou variáveis que as
condicionam ou determinam, daí a necessidade de se ter em conta as outras áreas
científicas na abordagem dos fenómenos psicológicos.
Alguns termos importantes para compreender o desenvolvimento humano:

Desenvolvimento: é o conjunto de fases pelas quais o indivíduo passa ao longo do seu


ciclo de vida. É um processo multidimensional que engloba os aspectos físicos
(crescimento); fisiológicos (maturação), psicológicos (cognitivos e afectivos), sociais
(socialização), e culturais (aquisição de valores, normas).

Maturação: é a dimensão fisiológica do desenvolvimento. Refere-se ao grau de


prontidão funcional dos diversos sistemas do organismo, nomeadamente do sistema
nervoso. É que torna possível determinado padrão de comportamento. (por exemplo, a
alfabetização das crianças depende da maturação neurofisiológica para manejar o lápis,
e segurá-lo com as mãos é necessário um desenvolvimento neurológico o que a criança
de 1 ou 2 anos não possui ainda.

Maturidade: é o estádio de desenvolvimento do indivíduo indispensável para a


execução de determinada tarefa, actividade ou função.

Estado etário: fase de maturação e estruturação (anatómica, fisiológica, psíquica)


correspondente a idade ou nível de desenvolvimento do indivíduo.

A Vida Antes do Nascimento (o Desenvolvimento Pré-Natal)

O desenvolvimento pré-natal (gestação) é o período compreendido entre a fecundação e


o parto. Este pode ser dividido em três períodos:

O zigoto - O zigoto forma-se após a fecundação e flutua livremente no fluido do útero.


Ao fim de cerca de duas semanas, o zigoto (ovo) fixa-se na parede do útero recebendo
oxigénio e alimentação do corpo da me. Dois ou três dias da sua implantação no útero o
novo ser passa a chamar-se embrião.

Embrião - O segundo estádio do desenvolvimento pré-natal é o estádio embrionário.


Este estádio começa cerca de duas semanas depois da fecundação, na altura em que o
zigoto (ovo) se fixa à parede uterina.O estádio embrionário dura cerca de oito semanas
depois da concepção.
Feto - A partir da oitava semana até ao nascimento o novo ser passa a chamar-se feto. O
feto é capaz de ouvir, movimentar os dedos (dar pontapés, fazer punho, levar o polegar
a boca, escolher a posição de dormir, etc.) sentir sabor, etc. O desenvolvimento do feto
culmina com o nascimento.

Nascimento - O nascimento é conjunto de fenómenos físicos que tem como finalidade


expulsar o feto para o exterior. Quando a criança nasce pesa normalmente 2500 gramas
e a placenta para de introduzir alimentos. Crianças com um período de gestação
reduzido e peso inferior a 25000 gramas são consideradas pré-maturas.

Fundamentos Biológicos da Conduta

Hereditariedade e comportamento: mecanismos básicos

Em última instância, as diferenças entre as espécies dependem da hereditariedade, ou


herança física. A hereditariedade compartilhada por todas as pessoas permite uma série
de actividades humanas distintas. Por termos herdados polegares opostos e dedos
móveis, aprendemos facilmente a manipular ferramentas. A herança de imensos córtices
cerebrais permite-nos processar vasta quantidade de informação.

Além das estruturas influenciadoras e dos comportamentos comuns a todas as pessoas, a


hereditariedade modela o que é exclusivo a cada pessoa. Seus genes têm algo a dizer
sobre uma capacidade de aprendizagem e se somos ou não propensos à depressão.

Para UCM-CED (2015, p.31), O interesse pelo estudo da hereditariedade em psicologia


em parte resulta da discussão do papel que esta tem no desenvolvimento da inteligência.
Para alguns a inteligência depende unicamente dos factores hereditários, para outros
embora não afastem a hipótese da sua influência, encontram no meio social o principal
elemento para explicar as diferenças nas capacidades dos indivíduos.

Cardoso, Frois & Fachada (1993) distinguem aqui dois tipos de hereditariedade, a
Específica e a Individual, a primeira refere-se às características comuns da mesma
espécie, essas características são as que distinguem os indivíduos das outras espécies.
Todavia, apesar da existência de características comuns nos indivíduos, estes podem
apresentar características particulares que os distinguem dos outros, ai estaremos a falar
de Hereditariedade individual.

Para ser preciso na questão Cardoso, Frois e Fachada (1993, p.155) explicam que,

“o conhecimento claro dos princípios básicos do mecanismo da


hereditariedade permitirá compreender, justificar e resolver
muitos dos problemas dos seres humanos nos mais diversos
domínios da vida social tais como a educação, segurança social,
o emprego, etc.”

O Papel da Hereditariedade e do Meio na Conduta

Hereditariedade e do ambiente: uma parceria permanente

De acordo com Robert Plomin (1993), talvez o principal sobre a genética do


comportamento na última década, o que os cientistas verificaram a repetidas vezes foi
que hereditariedade e experiência influenciam conjuntamente muitos aspectos do
comportamento. Além disto seus efeitos são interactivos – elas jogam uma com a outra.
Por exemplo, em relação a esquizofrenia, embora a evidencia indique que factores
genéticos influenciam o desenvolvimento da esquizofrenia, do outro lado não parece
que alguém herde directamente o distúrbio mas um certo grau de vulnerabilidade a ela.
Portanto, se a vulnerabilidade vai ou não se transformar num distúrbio real, isso
dependerá das experiências de cada pessoa na vida.

Os genes exercem um papel ou acção directiva nos fenómenos do desenvolvimento


embrionário e, especialmente, dos primeiros anos de vida, isto é, não se transmitem
qualidades já desenvolvidas, mas apenas disposições ou possibilidades para configurar
essas qualidades.

Hereditariedade e Meio: o Princípio fundamental da Psicologia

O princípio fundamental e o seu axioma principal é o de que o organismo é produto da


hereditariedade, em interacção com o meio social e com o tempo,(história pessoal e
colectiva) isto é, o comportamento não é resultado de uma única causa, mas sim de
causas múltiplas (biológicas, sociais, culturais,...). É o resultado da hereditariedade a
interagir com o meio e com o tempo.

O nosso potencial hereditário pode ser enriquecido ou empobrecido dependendo do tipo,


quantidade e qualidade dos nossos encontros com o meio e depende do momento em
que estes encontros ocorrem. É pela interacção entre determinantes da hereditariedade e
a influência do meio que o indivíduo se forma, desenvolve e realiza.

Não se pode limitar aos aspectos educativos e os sócio-culturais pós-natais, os aspectos


físicos, biológicos (alimentares, etc.), e psico-afecivos (emocionais) dos primeiros
tempos da vida, nomeadamente pré-natais e perinatais são fundamentais na formação de
todas as características do indivíduo.

Psicofisiologia do Sistema Nervoso

A comunicação no sistema nervoso é central para o comportamento. Especialistas


acreditam que há de 85 a 180 biliões de neurónios no cérebro humano. Multidões de
neurónios no sistema nervoso têm de trabalhar junto para manter a informação fluindo
eficientemente. Para fazer isso, eles estão organizados em equipas, várias das quais têm
funções e deveres especializados que dependem, antes de tudo, de sua localização.

Sistema Nervoso Central (SNC)

O sistema nervoso central (SNC) é a porção do sistema nervoso que fica dentro do
crânio e da coluna espinal. Assim, o SNC compreende o cérebro e a medula espinal. O
SNC é banhado na sua “sopa” nutritiva especial chamada fluido cérebro-espinal (FCE).
Este fluido alimenta o cérebro e fornece-lhe uma protecção. Embora derivado do
sangue, o FC é cuidadosamente filtrado.

A medula espinal - A medula espinal liga o cérebro ao resto do corpo através do


sistema nervoso periférico. Embora se pareça com um cabo do qual os nervos somáticos
saem, ela é parte do sistema nervoso central e vai desde a base do cérebro até um nível
abaixo da cintura, abrigando aglomerados axónios que carregam os comandos do
cérebro aos nervos periféricos e conduzem sensações de periferia do corpo cérebro.
O cérebro - Evidentemente, a glória suprema do sistema nervoso central é o cérebro,
que, anatomicamente, é a parte do sistema nervoso central que preenche a porção
superior do crânio.

O Sistema Nervoso Periférico

O primeiro e mais importante corte que separa o sistema nervoso central (cérebro e
medula espinal) do sistema nervoso periférico. O sistema nervoso periférico é formado
por todos os nervos que ficam fora do cérebro e da medula espinal. Nervos são
aglomerados de fibras de neurónios (axónios) que estão no sistema nervoso periférico.
Essa porção do sistema nervoso é exactamente o que parece, a parte que se estende para
a periferia (parte de fora) do corpo. O sistema nervoso periférico pode ser subdividido
em dois: somático e autónomo.

O Sistema Nervoso Somático é formado por nervos que se conectam aos músculos
esqueléticos voluntários e aos receptores sensoriais. Estes nervos são os cabos que
carregam informação dos receptores na pele, músculos e juntas ao sistema nervoso
central e também ordens do sistema nervoso central aos músculos. Estas funções
requerem dois tipos de fibras nervosas: aferentes, que são axónios que carregam
informação para dentro do sistema nervoso central da periferia do corpo; Os eferentes,
que são axónios que carregam informações para fora do sistema nervoso central para a
periferia do corpo. O sistema nervoso somático permite que nos sintamos e movamos
no mundo.

O Sistema Nervoso Autónomo é formado de nervos que se ligam ao coração, aos


vasos sanguíneos, aos músculos lisos, e às glândulas. Como o próprio nome indica, é
um sistema separado (autónomo), embora seja principalmente controlado pelo sistema
nervoso central. O sistema nervoso autónomo controla funções automáticas,
involuntárias, em que normalmente as pessoas não pensam, como a batida cardíaca, a
digestão e a transpiração.
O Surgimento da Consciência no Processo da Actividade Humana

Consciência

O mais alto nível da psique, que é próprio do Homem, forma a consciência. A


consciência e a forma superior integrante da psique do Homem que se forma como
resultado das condições histórico-sociais na actividade laboral e na permanente
comunicação oral com as demais pessoas. Neste sentido, pode-se dizer que a
consciência é em ultima instancia (como dizem os clássicos marxistas) um produto
social, a consciência e a existência consciente.

Segundo UCM-CED (2015, p.22), O aparelho psíquico de Freud é constituído por três
elementos fundamentais (Id, Ego e Superego); estes elementos estão relacionados entre
si funcionando assim de forma interdependente. Freud citado por Cardoso, Frois &
Fachada (1993) considera o primeiro elemento ID, que se desenvolve nos primeiros
momentos da vida, e corresponde ao conjunto de desejos instintivos que procura a auto
satisfação do sujeito e rege-se pelo princípio de prazer, é denominada parte biológica ou
animaléstica.

Diferença entre psique humana e psique animal

Sem dúvidas existe uma imensa diferença qualitativa entre a psique humana mais
altamente organizada e a psique animal. Assim não é possível fazer uma comparação
entre “linguagem” dos animais e a linguagem humana, pois enquanto o animal com a
sua linguagem pode somente emitir sinais a seus congéneres, em relação a fenómenos
limitados por uma situação imediata, directa, pelo contrario o Homem pode informar a
outras pessoas com ajuda da linguagem, sobre o passado, o presente, o futuro e
transmitir aos outros a experiência social.

Desta forma, o pensamento concreto ou pratico dos animais e somente a sua impressão
directa sobre a situação dada, enquanto que a capacidade do Homem de pensar
abstractamente supera a dependência directa da situação dada.

Algumas características que diferenciam a psique humana da ‘psíque animal’:

- O Homem é capaz de enfrentar não somente as influências directas do meio, mas


também pode prever aquelas que podem suceder. O Homem tem a capacidade de
abstrair em correspondência com a necessidade conhecida, ou seja conscientemente.
Esta é a primeira distinção entre a psique humana e a psique animal;
- A outra diferença e que o Homem tem a capacidade de criar e conservar ferramentas.

- A transmissão das experiências sociais, caracteriza o homem o qual dispõe duma


experiência acumulada pelas gerações anteriores. As experiências sociais transmitidas
ao homem desenvolvem-se em grande parte na psique. Desde a mais tenra idade a
criança aprende a dominar as formas de utilização dos instrumentos e as formas de trata-
los. As funções psíquicas do homem mudam qualitativamente graças ao domínio de
cada sujeito em particular sobre os instrumentos do desenvolvimento cultural da
humanidade. E no homem se desenvolvem as funções superiores propriamente humanas
(linguagem, memória, pensamento atenção).

Teorias de Desenvolvimento do Psíquico

Teoria é a forma de explicação dos factos, de forma unitária, coerente, livre de


contradições internas e que conduza a descoberta de novos factos.

Teorias endogénicas

O desenvolvimento psíquico é feito dependentemente de factores biológicos: a


hereditariedade e as predisposições inatas tornam lugar de relevo. O desenvolvimento
do Homem está programado e reformado pelas disposições.

Teorias exogénicas

O Homem seria no momento do nascimento uma tábua rasa, pelo adestramento e hábito
poder-se-ia fazer-se tudo quando são aplicados os métodos respectivos. Este grupo de
teorias acentua o meio ambiente em que decorre o desenvolvimento comparativamente
aos outros factores como força determinante de desenvolvimento psíquico.

Teorias de convergências

O desenvolvimento do psíquico é resultado de uma convergência de factores


hereditários e factores ambientais. Logo, o desenvolvimento do psíquico da criança e do
jovem é resultado de forças desiguais da hereditariedade e do meio ambiente.

Estas teorias defendem que, no desenvolvimento do psíquico deve-se distinguir os


processos de maturidade e os processos de aprendizagem. Os processos de maturidade
são biologicamente condicionados. Enquanto que os factores de aprendizagem estão
sujeitos a regularidades sociais. Portanto, o desenvolvimento psíquico seria
condicionado pelos factores biológicos e de assimilação.

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