Rosa Acevedo
Rosa Acevedo
Rosa Acevedo
APRESENTAÇÃO
73. Graduada em Sociologia pela Universidad Central de Venezuela. Doutorado em História pela
École dês Hautes Études em Sciences Sociales. Professora da Universidade Federal do Pará vinculada
ao Núcleo de Altos Estudos Amazônicos e Programa de Pós-Graduação em Antropologia. Professora
colaboradora no Programa de Pós-Graduação em Cartografia Social e Política da Amazônia da
Universidade Estadual do Maranhão. Pesquisadora do Projeto Nova Cartografia Social da Amazônia.
74. Kenyatta, na primeira nota de rodapé destaca como um erro a grafia Kikuyu, que os europeus
divulgaram, em oposição àquela que afirma como própria do seu povo: “A forma europeia usual de
soletrar esta palavra Kikuyu é incorreta; deve ser Gikuyu, ou em ortografia fonética estrita Gekoyo,
referida ao próprio país. A Gikuyu pessoa é Mu-Gikuyu, plural, A-Gikuyu. Mas para não confundir
nossos leitores, usamos Gikuyu para todos os fins”. (Kenyatta, 1938, XV). A expressão Kikuyu segue
os textos escritos pelos britânicos e seguidores desta grafia. Neste texto opta-se por seguir a orientação
de Kenyatta.
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Eu sei que existem muitos cientistas e leitores em geral que irão ser
desinteressadamente felizes com a oportunidade de ouvir o ponto de vista dos africanos,
e para todos estou feliz por prestar serviço. Ao mesmo tempo, estou bem ciente de que
poderia não fazer justiça ao assunto sem ofender aqueles “amigos profissionais do
africano” que estão preparados para manter sua amizade pela eternidade como um
dever sagrado, desde que o africano continue a jogar a parte de um selvagem ignorante
para que eles possam monopolizar a função de interpretar sua mente e falar por ele.
Para tais pessoas, um africano que escreve um estudo deste tipo está se intrometendo
em suas reservas. Ele é um coelho que virou caçador furtivo.
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De Nkrumah a Limann, de Kibaki a Atta Mills, a LSE teve resultados
mistos na formação de líderes africanos. Como uma comunidade de alunos e professores,
incluindo africanos em ambas as posições, devemos nos perguntar quem é o LSE
moldando agora. E é papel do professor despolitizar seus alunos? Ou deveríamos
estar procurando alimentar as mentes políticas com fatos e éticas para moldar seu
raciocínio? Que o elefante de bronze que decora nossos passos não se torne um símbolo
do elefante que uma vez deixou um homem na chuva (MENIL, 2018).
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Sumariamente este modesto exercício de leitura indaga sobre as conexões
entre antropologia e colonialismos; expõe sobre os conflitos sociais,
as resistências e as lutas pela reconquista dos territórios e da autonomia
empreendidas pelos colonizados, gestos que são inimagináveis e sempre
histórias compartilhadas de indignação e expressões de resistência .
77. Ver PERHAM, Margery. Frederick Lugard. Administrador Colonial Britânico. https://www.
britannica.com/biography/Frederick-Lugard. A escrita por Frederick John Dealtry Lugard, Barão
Lugard de Abinger do livro “The Dual Mandate in British Tropical Africa” (1922) o fez receber a me-
dalha de ouro da Royal Geographical Society e a menção de “pai do governo indireto”
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Na condição de administrador colonial Lugard dominava o
princípio do governo indireto78 que ele considerava inaplicáveis em
sociedades pouco organizadas do Igbo e outras tribos do sudeste da
Nigéria. Na sua concepção o império britânico precisava produzir a
justificativa teórica da ocupação colonial da África e das formas de
controle político efetivo, e Lugard no “ Dual Mandate” estabeleceu
os argumentos que justificaram as conquistas e o estilo administrativo.
Grã-Bretanha tinha uma responsabilidade dupla na África: realizar a
administração e obter benefícios econômicos para a metrópole, bem
como a elevação dos “nativos”. Fundamentava essa ação de governança
em três princípios: descentralização, continuidade e cooperação. Todos
os níveis de governo seriam descentralizados, todavia, com uma forte
autoridade de coordenação. Lugard interpretava que a continuidade era
fundamental, porque os africanos desconfiavam dos estrangeiros, por
isto recomendava a permanência sem interrupções dos oficiais britânicos.
Com base neste princípio havia exigências sobre substituição e formação
da equipe provincial e, ao mesmo tempo, sobre as cooperações entre os
funcionários provinciais e os governantes locais. Estabelecia a Regra
indireta, administração por chefes locais, subordinados aos oficiais
coloniais britânicos79. Lugard declamava o panegírico do governo
britânico que elevaria os “povos primitivos a civilizados” e no mesmo
grau o seu bem-estar.
78. Os britânicos introduziram o governo indireto como sistema de governo para controlar as suas
colônias, feita por meio de estruturas de poder nativas pré-existentes. Esse sistema era mais barato para
os impérios e suas bases teóricas foram elaboradas nas universidades. Henry James Summer Maine
escreveu o livro Ancien Law (1861) cujas proposições teóricas acerca do direito e as instituições jurídicas
se desenvolvem passando do “status ao contrato”. A teoria dos três estágios do desenvolvimento do
direito: uma fonte divina do direito; identificação do direito com o costume; identificação de uma
lei posta por uma autoridade. Esta teoria é verificada nos quadros do evolucionismo e deu suporte
ao “governo indireto”; ainda, e é vista como pilar da antropologia evolucionista do século XIX, e as
imbricações do saber dos antropólogos com a dominação colonial. (VILLAS BÓAS, 2011/2012). Os
debates sobre o “governo indireto” têm continuidade com acadêmicos entre eles Mahmood Mamdani
(1999) que interrogam de que forma o governo direto e indireto foram tentativas com objetivos idênticos
de implementar a dominação. No governo indireto surgiram tensões étnicas dentro das sociedades
colonizadas que manifestaram hostilidade e elaboraram “estratégias disfuncionais de governo”, o que o
autor descreveu como “despotismo descentralizado”. (MAMDANI; 1996, 37).
79. Ogechukwu EzekwemThe Dual Mandate in British Tropical África, de Frederick John Dealtry Lugard
(1965). https://notevenpast.org/the-dual-mandate-in-british-tropical-africa-by-frederick-john-deal-
try-lugard-1965/
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No livro de Lugard é exposta uma ontologia essencialista, que
“busca desumanizar o subalterno e elevar o status dos colonialistas
na África”(Bello, 2017). Significava “O duplo mandato do Império
Britânico” abrir a África para o mundo civilizado e, ao mesmo
tempo, abrir a mente africana para a civilização; trata-se de papéis
sociais binários envolvendo “um civilizador e outro a ser civilizado”.
O colonizado – subalterno é naturalizado e funda-se em natureza e
cultura. “Lugard vê a natureza física dos negros e seus tons e matizes
de cor em correlação direta com seu avanço intelectual e organizacional.
A mistura dos negros com os hamitas conota “poluição” e diluição que
possivelmente afeta sua natureza e cultura” (Bello, 2017, p. 82).
80. A palavra “Boma” vem da África e está nas línguas faladas nos Grandes Lagos Africanos. Boma era
um recinto circular para a comunidade e seus anciãos se reunirem. Era um espaço sagrado para reuniões
comunitárias e discussões significativas, um espaço para tomar decisões e definir ações.
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sobre a Abissínia, a maioria dos bantu e negros têm os seus pontos de
vista. Eles foram organizados num clima de ódio da invasão europeia e de
desprezo pela debilidade desses poderes e movimentos que os colocavam
ora do lado da África e, logo depois, através da fraqueza e da incompetência,
abandonavam a causa da África e deixavam tudo de lado. Mais uma vez, a
má gestão do “incidente chinês” está unindo o mundo dos povos de cor
(“coloured peoples”) contra a influência ocidental e, principalmente, contra
a Grã-Bretanha e os Estados Unidos, mesmo para aquela pessoa que é
preta, morena ou amarela, “noblesse oblige” (MALINOWSKI, 1938, p. x).
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realidade concreta como a situação colonial advinda do “consenso político
do imperialismo europeu” (WESSELING, 1998).
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Neste documento, os primeiros parágrafos nomeiam e
classificam as situações, os “direitos” e os sujeitos de direito nele
contemplados no Report. Em vários itens aponta a preocupação com
a “população nativa presente e prospectiva”. As situações das terras
correspondiam: a. as terras já alienadas e b. terras a alienar no
futuro; definia a terra tribal e a propriedade individual. As terras
são classificadas em A, B, C e D. Sobre os sujeitos distingue: i. As
comunidades, órgãos ou nativos de pessoas reconhecidas nas tribos
e, ii. Nativos destribalizados, ou seja, nativos que não pertenciam a
nenhuma tribo ou que cortaram conexão.
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que ingressou na administração colonial britânica. Foi nomeado para
ser registrador e juiz no Quênia, Uganda e Tanganica entre 1902 e
1924. Como juiz sentenciou contra as reivindicações de terra dos
Massai em 1913. Ocupou o cargo de Secretário de Estado para as
Colônias. Presidiu a Comissão de Terras de Rodésia do Sul, de 192584
e a Comissão de Terras do Quênia de 1932-1933. Entre 1936-1937
integrou a Comissão Real sobre a Palestina. O segundo membro era Sir
Frank O’Brien Wilson (1876 -1962) oficial da Royal Navy, aposentado
estabeleceu-se como colono no Quênia. Foi voluntário na Campanha
da África Oriental da Primeira Guerra Mundial, Wilson tinha uma
grande propriedade (23.000 acres (93 km2) em Ulu, perto de Machakos
(Uganda), onde inicialmente criou avestruzes e depois criou gado.
Wilson foi um renomado jogador de críquete. Rupert Willian Hemsted
foi o terceiro membro da Comissão: “um distinto funcionário público
ex-colonial”.
84. De acordo com a Ordem do Conselho de Rodésia do Sul, de 1898, no artigo 83: O nativo podia
adquirir, manter, onerar e dispor de terras nas mesmas condições que uma pessoa que não é nativo.Vinte
e três anos depois, a resolução do Conselho Legislativo da Rodésia do Sul considerava indesejável: que
os nativos adquirissem terras indiscriminadamente devido ao atrito inevitável que surgirá com seus vizi-
nhos europeus. O juiz William Morris Carter foi nomeado para a Comissão de Terras com incumbência
de decidir como lidar com os africanos que viviam em terras da coroa não alienadas, em fazendas e mi-
nas e em cidades pertencentes a colonos brancos. A comissão tinha a missão de investigar e informar
sobre a definição de áreas onde somente os nativos poderiam possuir terras e áreas de terras destinadas
com exclusividade aos europeus.
85. COMISSÃO DE TERRAS DO QUÊNIA. HL Deb 04 de maio de 1932 vol 84 cc305-2.
https://api.parliament.uk/historic-hansard/lords/1932/may/04/kenya-land-commission
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considera como roubadas e alienadas pela Coroa. O parlamentar fez
as estatísticas primárias sobre a minoria branca e os africanos que não
seriam nomeados. O Capitão Wilson será considerado pela população branca
e negra como representante das opiniões dos 20.000 brancos no Quênia. Nessas
circunstâncias, como o capitão Wilson está nessa posição, acho que seria considerado
um ato de simples justiça que alguém fosse nomeado para representar o ponto de vista
dos 2.500.000 africanos.
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descrevia a prática de reunir as “evidence natives” em “barazas”
ou assembleias na qual os funcionários britânicos solicitavam a
concordância dos “nativos com as declarações feitas e entediam que
estas expressavam e representavam o sentimento geral da tribo”.
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importante, vital para os Gikuyu e Kenyatta foi elevado à condição de
porta-voz das reclamações:
... perante mais de uma Comissão Real em matéria de terra. Uma foi a
Hilton Young Commission de 1928-29, e um segundo foi o Comitê Conjunto sobre a
União Mais Próxima de África Oriental, em 1931-32. Antes deste Comitê eu era
delegado para apresentar um memorando em nome da Associação Central de Gikuyu.
Em 1932. Dei depoimento em Londres perante a Comissão de Terras do Quênia
Morris Carter, que apresentou seu Relatório em 1934.
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quando os grupos étnicos mais populosos ultrapassaram suas reservas,
inclusive ultrapassando as reservas atribuídas e cobiçaram os territórios
dos colonos agricultores europeus nas “terras altas brancas” e os de
tribo menos populosas. Parsons (2011) mostra os esforços coloniais
em Quênia para determinar as fronteiras tribais físicas e imaginárias,
o que no final da era colonial mostraria que as identidades eram “mais
flexíveis, adaptáveis e informais do que as etnografias coloniais com
foco tribal ou a literatura acadêmica sobre a formação da identidade
sugeria”, assim, as contestações à “geografia étnica oficial do regime
imperial era quebrada por uma criativa e específica da comunidade”.
(PARSONS, 2011, p. 491).
(1) Se uma tribo sofreu perda por alienação de parte do seu território, - tem
o direito a ser indenizada por patrimônio. Mas a compensação pode ser devidamente
avaliada de acordo com a extensão da verdadeira perda sofrida, isto é, de acordo com
o grau de uso que foi feito da terra e a finalidade a que serviu, seja no momento da
alienação ou como uma reserva razoável para expansão futura. Nós não podemosa
ceitar o princípio de que, porque uma tribo perdeu terras, é necessariamente e de
direito receber igual ou equivalente terra em outro lugar, independentemente dessas
considerações (RKLC, p. 18).
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etnografia descreve os Gikuyu - povo de agricultores que dependiam
inteiramente da terra para suas necessidades materiais, espirituais e
mentais. Essa importância da terra e do sistema de posse mostrava-se
cuidadosa e ceremonialmente estabelecida nos casamentos, nos rituais
de iniciação, que eram regidos pela lei costumeira sobre a posse da
terra. Cada unidade familiar tinha direito à terra e cada tribo defendia
coletivamente as fronteiras dos seus territórios. As melhores terras
foram retiradas dos Gikuyu; a administração decretou a obrigação de
pagar impostos, negou suas capacidades de cultivar a terra e foram
acusados de destruir as florestas.
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(KENYATTA, 1938, p. 32). As relações familiares são ressaltadas a
partir dos atos de compartilhamento das terras ; a venda não podia
ser feita sem consulta e levava em mente as necessidades da famíia.
A passagem que ocorre na terra é de um homem para os seus filhos
que são investidos no nome do clá. “Portanto, não existe propriedade
tribal. Não se estabeleceu uma chefia particular e não contempla que
grupos de chefes tenham poder sobre outras terras, além das terras
dos seus próprios grupos familiares”. (KENYATTA, 1938, p. 34).
Nas disputas de terra a decisão não corresponde ao chefe, mas a um
conselho (Kiama) formado por anciãos que conduzem as transações,
em consonância com os princípios e decoro da ética Gikuyu.
91. Para um aprofundamento sobre a questão das lutas travadas por este movimento, classificado como
uma revolta camponesa, consulte-se: Barnett, Donald L. and Njama, Karari – Mau Mau from Within-
-Autobiography and Analysis of Kenya’s Peasantd Revolt. New York and London. Modern Reader
Paperbacks Edition/Monthly Review Press. 1970
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pois admitia-se que as terras da Coroa no Protetorado de Kenya, o
regime de reservas e a ação missionária eram legítimas. O tema da
excisão clitoridiana, por sua vez, situava-se no campo minado da
cultura, da civilização e do primitivismo. Pensando nos problemas
abordados pela sociedade colonial é preciso citar Bourdieu (1989, p. 35)
que afirma que “cada sociedade, em cada momento, elabora um corpo
de problemas sociais tidos como legítimos, dignos de serem discutidos,
públicos, por vezes oficializados e, de certo modo, garantidos pelo
Estado”. O antropólogo africano e Gikuyu é conduzido para essa
discussão acadêmica, assim como necessitou produzir esclarecimentos
diante do público europeu e da igreja.
92. Então Kenyatta era o Secretario da Associação Central dos Kikuyu que havia sido criada em 1925.
Beck referiu sobre o giro colonial discreto, o que tinha ilação com a presença de Kenyatta em Inglaterra.
Esse giro foi dado com a promulgação da doutrina da “ Supremacia do Nativo”, declarada pelo governo
britânico em 1923.
“It contained the famous statement that Primarily Keynesian African territory and His Government
think it necessary definitely to record their considered opinion that the interests of the African natives
must be paramount and that if and when those interests and the interest soft he immigrant races should
conflict the former should prevail. See Indians in Kenya Parliamentary Papers 1923) xvii
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do governo, representação dos Gikuyu nos municípios, nos conselhos,
na administração Kikuyu. O assunto da circuncisão estava na pauta da
Associação Central dos Gikuyu, pois tinha implicações nas relações
com a igreja escocesa. O argumento trazido por Kenyatta aos membros
da igreja escocesa sobre a insistente questão de abolir o costume da
circuncisão feminina e fazer isto de uma vez, foi respondida por ele com
o argumento de que uma educação gradual podia parar com o costume
e não desejava romper as relações entre a Associação e as Missões. Aos
olhos da autoridade da igreja93 (Mr. Barlow) Kenyatta representou
uma surpresa pois foi muito “flexível” e se ajustou ao ambiente urbano
moderno, sem aparentar tensão e desconforto e ainda sua “fala era
suave, quase totalmente sem o sotaque africano”. (BECK, 1966, p.317).
Muito difícil entender que são os povos diretamente envolvidos que
podiam tomar posições e decisões sobre esse ponto espinhoso, ou
ainda sobre a poligamia. Os temas e problemas tinham enunciados
diferentes e os problemas da antropologia são políticos e polêmicos.
Kenyatta sobre esse campo de relação com os colonizadores teria dito:
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modelo funcionalista do seu mestre. Celarent sinaliza que o livro de
Kenyatta é “na superfície um exercício operante no funcionalismo
de Malinowski, existem capítulos sobre parentesco, posse da terra,
economia, educação, iniciação, sexo, casamento, governo, religião,
nova religião e magia’.
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Os missionários da Consolata no Quênia ascenderam conflitos
entre os Gikuyu. Araújo (2007) examina que nos textos escritos
pelos Missioni Consolata não evidenciam os conflitos e ao analisar
o período da guerrilha Mau Mau destaca que as missões deixaram de
ser frequentadas pelos Kikuyu e, após seu esmaecimento, houve uma
explosão do número de fiéis. (idem, p. 2).
134
que produziu relevantes interpretações críticas sobre o colonialismo e
a escravidão. Grátis (2017) o elevou a “campeão do anticolonialismo,
do nacionalismo africano, do pan-africanismo e da unidade de todos
os povos afrodescendentes ao redor do mundo. Junto com outros
líderes como Kwame Nkrumah (Gana), Patrice Lumumba (República
Democrática do Congo) e Julius Nyerere (Tanzânia).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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de comunidade imaginada (ANDERSON, 2008). Kenyatta é o
símbolo, mito e herói da nova nação chamada Kenya. Em Facing
Mount Kenya recusa o domínio colonial e critica ferrenhamente a
interpretação dos europeus que estabeleceram o regime comunal ou
propriedade tribal nas reservas. Nesta tese e em outros livros ataca
“Essa nova terminologia da posse da terra que os britânicos impuseram
e afastou os proprietários originais da terra. Os Gikuyu perderam a
maior parte de suas terras através desse mandato”. Diferente de
outros povos, afirma Kenyatta, o “país Gikuyu nunca foi totalmente
conquistado pela força das armas, mas as pessoas foram colocadas sob
o domínio implacável da Europa imperialista através da malandragem
insidiosa da hipocrisia dos tratados.(KENYATTA, 1938, p. 47). Após
a independência a ordem politica, social e econômica dentro da nova
nação passou a ser controlada pela etnia Gikuyu. As relaçoes de
poder foram organizadas, de tal maneira que mostraram negligência
para reconhecer as terras reivindicadas pelos Mau Mau e de trabalhar
sistematicamente para promover o apagamento do referido grupo.
Políticas de reforma agrária não resolveram e no pós-descolonização as
políticas de distribuição de terras (e águas) foram limitadas. O ditado
popular citado por Kenyatta (1938, p. 46) que expressava o desejo dos
Gikuyu “Gotire ondo wandereri, nagowo Coomba no olainoka”, que significa
“que não existe coisa mortal ou ato que vive para a eternidade”, os
europeus, irão sem dúvida, eventualmente voltar ao seu próprio
país” não se cumpriu, pois a neocolonização assentou novas bases.
Nguguiwa Tiongo escreve em Gikuyu o livro
El Diablo en La Cruz no qual penetra na urdidura da colonização,
descolonização e neocolonização.
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de cambiar las leyes de la naturaleza, lo que la doblega a las necesidades de nuestras
vidas, en lugar de permanecer esclavos de ellas. Es por esto por lo que en Gikuyu
también se sentencia: cambia, porque las semillas de una sola calabaza no son siempre
iguales. (pág.64)
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
http://home.uchicago.edu/~aabbott/barbpapers/barbkenya.pdf
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HANSARD. UK.
https://hansard.parliament.uk/Commons/1933-03-08/
debates/8bcdb7e8-6a25-4a98-a652-d7afcfa14e44/Roads(Expenditure)
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REPORT of The Kenya Land Comission. (Sept. 1933). London/
Kenya. Published by his Majestis Stationery Ofice, 1934. (639 p.).
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