A Vida Espiritual Da Família Do Pastor

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A VIDA ESPIRITUAL DA FAMÍLIA DO PASTOR

Introdução

O Apóstolo Paulo falou de uma sociedade, para além de seu tempo, na qual muitos
filhos seriam amantes do pecado e desobedientes aos pais e mães. Ele também
previu que essas condutas, indisciplinadas ou sem limites, seriam sinais de que
estaríamos nos últimos dias.1

Sem dúvida há muitas evidências de que essa profecia está se cumprindo! Como
exemplo, podemos citar a informação que nos chega pela mídia de que tem havido
entre as crianças e os adolescentes um aumento alarmante no consumo de drogas,
tanto as que são socialmente permitidas quanto as proibidas. Cresce também a
violência nas escolas e nas ruas. Há descontrole no uso da internet, e por esse meio,
inadvertidamente, sem que os pais saibam, crianças veem textos e imagens de
conteúdo moralmente duvidoso e se envolvem em experimentos suicidas, como o
jogo da “baleia azul” ou do “boto rosa”, dentre outros.

Vivemos numa época em que as crianças e os adolescentes são expostos, sem


nenhuma censura, a apelos que incitam à prática do sexo precoce e ao risco da
gravidez indesejada; época em que muitos pais, não querendo parecer omissos, se
defendem argumentando que lhes falta tempo para dedicar à família. Então, sentem-
se obrigados a confiar seus bebês aos cuidados das creches, razão pela qual
delegam a outrem o exercício da maternidade e terceirizam o papel da família. Esses
filhos, porém, crescem sem relações afetivas adequadas e sem a noção do que é
uma família de verdade. A consequência disso pode ser percebida posteriormente
quando muitos, já na idade adulta, apresentam sintomas depressivos e se ressentem
da falta de afeto dos pais. Por esses e outros motivos, o Apóstolo Paulo advertiu: “Se
alguém não tem cuidado dos seus, e principalmente dos da sua família, negou a fé e
é pior do que o incrédulo.”2

O que podemos observar hoje é que as redes sociais e suas influências vêm
protagonizando e moldando os relacionamentos nos dias atuais, especialmente entre
os indivíduos da chamada geração Z. Elas atraem pessoas desconhecidas, de fora do

1
2 Timóteo 3:1-5
2
1 Timóteo 5:8

1
lar, possivelmente porque as de dentro de casa já se tornaram estranhas e distantes
umas das outras.

Entretanto, apesar da crescente “desconstrução” da família como célula-mãe que


contém o DNA de nossa sociedade, a família nuclear ainda é o mais importante grupo
social na vida de uma criança. E por quê? Porque é capaz de produzir na criança
marcas com efeitos permanentes,3 muitas delas associadas a boas lembranças e a
recordações de uma infância alegre e saudosa. Em contrapartida, também pode
deixar cicatrizes profundas, dolorosas e tristes que nem mesmo o tempo conseguirá
apagar.

Como educar Hoje

Alguns pais são extremamente rigorosos ao lidar com os seus filhos. Não consideram
que são crianças e que ainda têm muito a aprender. Exigem um nível de maturidade
incompatível com a idade e parecem não saber que todo ser humano, enquanto
aprende e cresce, está sujeito a cometer erros. Por serem incapazes de entender e
praticar o perdão, e por não saberem ensinar, então gritam, maltratam, censuram,
ironizam, desdenham, espancam e causam muita dor e sofrimento sem, no entanto,
produzir conhecimento e sabedoria!

Talvez a maioria dos pais não tenha noção do tamanho do prejuízo causado à saúde
mental de uma criança quando a tratam com frieza, desprezo ou violência. Sequer
sabem ao certo o que é violência! Entretanto, segundo a orientação do Espírito de
Profecia, “nem as crianças, nem os bebês, nem os jovens devem ouvir uma palavra
impaciente do pai, da mãe, ou de qualquer membro da família; pois muito cedo na
vida recebem as impressões, e aquilo que os pais deles fazem hoje, é o que eles
serão amanhã, no dia seguinte e no imediato. As primeiras lições impressas na
criança, raras vezes são esquecidas. ... As impressões feitas no coração, no princípio
da vida, são vistas em anos posteriores. Podem estar sepultadas, mas raras vezes
serão obliteradas.”4 Para White, os primeiros três anos de vida na infância são os
mais importantes. A educação no lar deve, portanto, começar cedo, antes que o

3
Provérbios 22:6
4
WHITE, Ellen G. Orientação da criança. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1986, p. 193, 194.

2
mundo entre na vida da criança e a ensine, pois o seu caráter se formará até os sete
anos.5

Por este motivo, dentre outros, e devido à sua relevância e influência sobre o
desenvolvimento dos filhos, a vida espiritual dos pais e de toda a família deve ser bem
cultivada. “Pais e mães que põem Deus em primeiro lugar na família e ensinam os
filhos a considerar o temor do Senhor como o princípio da sabedoria glorificam a Deus
diante dos anjos e dos homens, oferecendo ao mundo o espetáculo de uma família
bem dirigida e bem educada.”6

No entanto, é importante que os pais entrem em acordo quanto à educação que


querem dar aos filhos. Considerando que a família funciona como a engrenagem de
um sistema cibernético, as decisões dos pais, o estilo de vida no lar, a escolha dos
valores a serem cultivados e a espiritualidade de cada um dos membros da família,
tudo isso afeta o sistema inteiro, e é imprescindível para o bem de todos.

É de bom alvitre considerar que os filhos são membros da família, mas até que
cheguem à fase adulta, são aprendizes. Contudo, esse aprendizado, tanto quanto
possível, deve ser satisfatório, e por meio dele ao menos duas lições precisam ser
aprendidas: como lidar com os privilégios e como lidar com as obrigações. O futuro e
êxito dos filhos, em grande medida, depende disso. Considerando que os sujeitos se
tornam cidadãos de bem somente quando se desenvolvem até o estágio moral da
autonomia e da responsabilidade, todos deveriam aprender, desde cedo na vida, a
conhecer e a exercer os seus direitos e deveres, a lidar com as perdas e ganhos do
cotidiano. Os pais em geral gostam de dar aos seus filhos lições sobre a vida, mas
nem todos os ensinam de fato a viver em sociedade. São muitas as famílias que têm
problemas com isso.

Há famílias de todo tipo. Há aquelas que não conseguem ou não se dispõem a


satisfazer os desejos mais simples e inofensivos dos filhos. São famílias que, movidas
pela avareza e pelo egoísmo, costumam valorizar mais as coisas que as pessoas.
Pais que agem assim se beneficiam com o orçamento da família, mas sempre deixam
os filhos por último, dando-lhes a impressão de que não se importam com eles.
Muitos desses filhos não se sentem amados, podendo desenvolver uma autoestima
baixa ou crescer com a ideia de que não precisam proteger ninguém.

5
Idem.
6
WHITE, Ellen G. O lar adventista. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1986, p. 27.

3
Outras famílias não conseguem impor limites aos filhos e, frouxamente, cedem a
todos os seus desejos. No entanto, o mundo lá fora não é assim, e esses filhos mais
tarde terão dificuldade para lidar com as restrições existentes em outros ambientes e
contextos. Toda criança precisa aprender a lidar com as frustrações sem sofrer
demais com isso, porque direitos e deveres fazem parte de uma vida normal,
equilibrada e feliz. O amadurecimento de cada um no lidar com as conquistas,
decepções e contrariedades da vida potencializará sua resiliência e firmeza de
caráter.

Neste contexto, a falta de limites é realmente uma questão preocupante. Atinge


primeiro a família, depois a escola e por fim os governos. A indisciplina e o
desrespeito ocasionados pela falta de limites para o comportamento de crianças e
jovens aumentam a cada dia a tensão nas relações entre eles e os adultos. A questão
é bastante delicada e polêmica porque, embora indispensáveis e inegociáveis, os
limites devem ser aprendidos e assimilados de forma adequada e firme, a começar da
educação doméstica.

No lar, muitos pais se queixam de que os filhos lhes faltam com o respeito, apesar de,
eles próprios, não se darem ao respeito. Vale, portanto, ressaltar que “a melhor
maneira de ensinar os filhos a respeitar os pais é dar-lhes a oportunidade de ver o pai
dar bondosa atenção à mãe e vê-la, por sua vez, mostrar ao pai o devido respeito.7

Há pelo menos três formas diferentes de impor limites aos filhos e conseguir sua
atenção e consideração, a saber: O medo, o interesse e o amor.

1. Medo – Surge quando os pais impõem os limites através das ameaças,


humilhações e espancamentos;
2. Interesse – Ocorre quando os pais dão aos filhos aquilo que estes exigem a
fim de que os filhos cumpram seus deveres e obrigações. Nesta relação de
barganha, ficam caracterizados o suborno e a propina como métodos para
educar;
3. Amor – É comum quando os filhos optam por não entristecer seus pais,
submetendo-se às orientações paternas, sem estresse e sem trauma. Nesse
caso, fazem o certo apenas porque é certo, e não porque foram
recompensados por isso.

7
WHITE, Ellen G. Mente, caráter e personalidade. Vol. I. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1990, p. 216.

4
SENTIMENTOS DOS FILHOS CONFORME A ÊNFASE DO MÉTODO DE ENSINO

ÊNFASE Amor Interesse Medo


RESULTADOS
Atitude Cumplicidade Admiração Desprezo

Amizade Empatia Simpatia Antipatia

Confiança Aceitação Indiferença Rejeição

Conduta Submissão Falsidade Rebeldia

Ainda pensando em formas de educar filhos, é interessante romper com alguns


paradigmas e não ensinar o certo a partir do errado. Ou seja, é melhor chamar a
atenção para os bons comportamentos, fazendo comentários de aprovação, do que
focar apenas os erros através das reprovações. Porque a ênfase equivocada conduz
a um resultado indesejado e distorcido. Quando os pais ensinam o certo apenas
reprovando os erros cometidos, então a criança, com o tempo, é levada acreditar que
ela é aquilo que ela faz. Ou seja, ela passa a se identificar com os seus erros a ponto
de definir sua identidade em função disso. Por exemplo, há pais e mães que só falam
com os filhos ou só lhes dão atenção caso estes cometam algum erro ou façam
alguma travessura. Assim, em vez de corrigir o comportamento, corrigem os filhos,
por não saberem separar uma coisa da outra. Quando um pai perde a paciência e
espanca um filho, o ódio do pai devia se concentra no erro do filho. Mas o filho nota
que o pai se importa mais com sua conduta externa que com seus sentimentos ou
sua pessoa. Sente que só tem valor a sua forma de agir, não a pessoa que ele é. De
modo que ao aplicar esse castigo, o pai não rejeita o erro, ele rejeita o filho!

Diante de um erro cometido, o objetivo primeiro da correção, da disciplina e do ensino


não mudar o indivíduo, mas estimular a mudança do que ele faz ou fez. Note que, na
Parábola do Filho Pródigo, o ponto alto é o momento em que ele volta para casa e
encontra a porta aberta. É quando ele é aceito, apesar dele. Ou seja, o pai, embora
jamais tenha aceitado o comportamento pecaminoso do filho, nunca o rejeitou.8 Não
se deve jogar o bebê fora junto com a água suja do banho. Deus, nosso pai, odeia o
pecado, mas ama e perdoa o pecador. Por esta razão, Ele vai destruir o pecado um

8
Lucas 15:22-24.

5
dia, mas deseja e trabalha para salvar o pecador, resgatando-o, redimindo-o,
restaurando-o.

“As crianças podem ser adestradas para o serviço do pecado ou para o serviço da
justiça. Diz Salomão: ‘Instrui ao menino no caminho em que deve andar; e até quando
envelhecer não se desviará dele’. (Prov. 22:6)”9

A educação deve começar cedo, na vida da criança. “Em sua sabedoria o Senhor
determinou que a família seja o maior dentre todos os fatores educativos. É no lar que
a educação da criança deve iniciar-se. Ali está a sua primeira escola. Ali, tendo seus
pais como instrutores, terá a criança de aprender as lições que a devem guiar por
toda vida – lições de respeito, obediência, reverência, domínio próprio.”10

Os filhos não devem ser tratados como se fossem empregados dos pais, mas
também não precisam ser tratados como se fossem hóspedes da família. As tarefas
domésticas devem estar vinculadas aos interesses dos filhos e ao bem-estar da
família, devendo ser exigidas deles visando à sua aprendizagem e não apenas ao
trabalho.

Portanto, a cada idade e em cada fase de seu desenvolvimento, a criança deve


aprender as lições que possam assimilar: com dois anos, a guardar os próprios
brinquedos; aos cinco, a forrar a própria cama; aos 8, a levar o pratinho à pia para ser
lavado; aos 15 deve cuidar da higiene e guardar os objetos pessoais; aos 18 deve
saber como dirigir uma família e, na idade certa, deve estar pronto para casar. Enfim,
desde o berço deve participar das reuniões e decisões da família.

Desafios para os pais

É bom lembrar que há pelo menos dois grandes desafios para os pais cristãos, quais
sejam:

a. Encontrar uma forma segura de evitar as más influências sobre seus filhos. Isto
é, conduzi-los e orientá-los de maneira consistente com a verdadeira
educação, protegendo-os das armadilhas psicossociais às quais estão

9
Idem.
10
WHITE, Ellen G. Conselhos aos professores, pais e estudantes. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1975, p.
95.

6
expostos cotidianamente. Vale lembrar que, além da herança genética e do
livre arbítrio, a pressão e as contingências do meio social são os fatores que
interferem no desenvolvimento humano.11 Todavia, os indivíduos não são
totalmente passivos, manipulados pelas contingências sociais ou produtos do
meio, porque enquanto são influenciados pelo meio social em que vivem
também influenciam. E a partir desse entendimento, é possível afirmar que a
educação não é resultado exclusivo da ação da família, da igreja ou da escola,
mas uma combinação de elementos, ou seja, um conjunto de influências e
escolhas pessoais oriundas dessas instituições somadas.
b. Como segundo desafio, a família cristã tem uma missão na Terra. Ela deve
participar do plano de Deus cujo objetivo é a salvação de todos.12 Assim, as
famílias da igreja devem trabalhar pela salvação de seus filhos e prepará-los
para que sejam capazes de levar outros ao Salvador.

Tudo isso mostra que a família precisa ser bem estruturada para que seus membros
vençam esses desafios e alcancem o ideal de Deus, porque “uma casa cristã bem
ordenada é poderoso argumento em favor da realidade da religião cristã, argumento
que o incrédulo não pode contradizer... Aquele que vive o cristianismo no lar será em
toda parte uma luz ardente e resplandecente.”13

Como preparar filhos para a Missão

“Sobre os pais repousa o dever de proporcionar instrução, mental e espiritual. Deve


ser o objetivo de cada pai alcançar para seu filho um caráter bem equilibrado,
simétrico.”14 Devido à sua elevada posição dentro da família e por meio das relações
afetivas, os pais influenciam fortemente o futuro das crianças, podendo, se
desejarem, formar cidadãos para este mundo e para o mundo por vir. Isso é possível
porque “as influências educativas do lar são uma força decidida para o bem ou para o
mal.”15

11
Salmo 1:1-3
12
1 Timóteo 2:3-4
13
WHITE, Ellen G. O lar adventista. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1986, p. 36 e 39.
14
WHITE, Ellen G. Conselhos aos professores, pais e estudantes. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1975, p.
95.
15
WHITE, Ellen G. Conselhos aos professores, pais e estudantes. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1975, p.
95.

7
Educação se faz com regras claras, mas também por meio do exemplo. “Na família,
devem sempre os pais e mães apresentar aos filhos o exemplo que desejam que seja
imitado”.16 Então, se for a intenção dos pais que os filhos cumpram a missão, eles
mesmos devem dar o exemplo. A espiritualidade que os pais vivem é o melhor
recurso para instrução espiritual dos filhos. Como disse o apóstolo Tiago: “Falai de tal
maneira e de tal maneira procedei como aqueles que hão de ser julgados pela lei da
liberdade.”17

Muitos, porém, se queixam da falta de vocação para ensinar a Bíblia às pessoas.


Entretanto, “Deus espera serviço pessoal da parte de todo aquele a quem confiou o
conhecimento da verdade para este tempo. Nem todos podem ir como missionários a
terras estrangeiras, mas todos podem, na própria pátria, ser missionários na família e
entre os vizinhos.”18 Desta forma, “onde quer que se estabeleça uma igreja, todos os
membros devem se empenhar ativamente em trabalho missionário. Devem visitar
todas as famílias da vizinhança e conhecer suas condições espirituais.”19

O Criador não daria a missão evangelística para nós se não fossemos capazes de
realizá-la. O mesmo Senhor que disse aos Seus discípulos “ide e ensinai as nações”
também disse “eis que estou convosco todos os dias.”20 Dessa forma, o chamado do
Salvador “vinde após mim, e eu farei que sejais pescadores de homens”21 é extensivo
a todos os membro da família. Espera-se, então, que o lar seja uma escola
missionária, um lugar onde se fazem discipulado, porque “todo verdadeiro discípulo
nasce no reino de Deus como missionário.”22

Obviamente, se os filhos crescem tendo em casa os cultos domésticos regularmente,


bem como pais que se amam se apoiam e se respeitam, e se, além disso,
perceberem que os pais amam a Deus e cumprem a missão, então aprenderão
através dos costumes da família que devem fazer o certo porque é certo. Vão crescer
sabendo que devem adorar somente o Criador, que devem honrá-Lo e servi-Lo. E,
além disso, hão de amar e respeitar o próximo como a si mesmos.23 Assim sendo, “o

16
WHITE, Ellen G. Orientação da criança. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1986, p. 215.
17
Tiago 2:12
18
WHITE, Ellen G. Serviço cristão. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1981, p. 12.
19
WHITE, Ellen G. Serviço cristão. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1981, p. 12.
20
Mateus 28:19, 20
21
Marcos 1:17
22
WHITE, Ellen G. Serviço cristão. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1981, p. 9.
23
Marcos 12:33

8
que segue a guia divina, encontrou a única fonte verdadeira de graça salvadora e a
real felicidade e alcançou o poder de comunicar a felicidade a todos ao seu redor.”24

A Família do Pastor

Muitas vezes, a família do pastor é questionada quando não se encaixa no perfil de


uma família ministerial, portando-se conforme aquilo que é esperado pela igreja. Por
isso é importante que todos os aspirantes ao ministério saibam, de antemão, que,
como líderes de igreja, vão interagir com uma cultura diferente da sua e cheia de
peculiaridades e melindres. Portanto, vão precisar compreender bem esse grupo
religioso cujas representações sociais são, às vezes, calcadas em saberes do senso
comum. Tais representações são elaboradas e partilhadas coletivamente com o fim
de construir uma interpretação da realidade. Daí se deduz que, para entender melhor
o papel social da família do pastor, talvez se faça necessário compreender primeiro os
padrões sociais vigentes.25 Obviamente, quem entra para o pastorado entra para um
grupo, e, sendo um grupo, possui normas de conduta que o tornaram uma entidade
socialmente organizada. Considerando que a cultura é definida por padrões comuns
ao grupo, os valores culturais de um grupo social permitem distingui-lo dos outros
quanto a seu modo de pensar, de ver o mundo e de agir.

Tentar mudar uma cultura estabelecida é o mesmo que tentar mudar a identidade do
grupo ou dos indivíduos que a sustentam. Por esse motivo, a família do pastor precisa
assimilar a cultura da igreja sob pena de não ser aceita pela comunidade de fé. Há
esposas que vivem de forma diferente da dos membros da igreja e, apesar disso,
esperam ser compreendidas e aceitas. Não é tão simples assim. A influência da
esposa, ou fala decidida e inequivocamente em favor da verdade, ou contra a
verdade. Ou ela ajunta com Jesus, ou espalha. “A esposa não santificada é a maior
maldição que um ministro possa ter.”26 O pastor e a sua família representam uma
instituição e são observados socialmente como se fossem a própria instituição que
representam. Portanto, em seus atos públicos, os membros da família do pastor não
são considerados como pessoas fazendo algo. Não é a identidade pessoal de cada
um que é notada, mas o que eles representam socialmente. E o que eles

24
WHITE, Ellen G. Conselhos aos professores, pais e estudantes. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1975, p.
48.
25
Mateus, 16:13-16.
26
WHITE, Ellen G. O lar adventista. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1986, p. 355.

9
representam, obviamente, está associado às crenças e aos costumes do grupo
religioso a que eles pertencem, a Igreja Adventista do Sétimo Dia. Ou seja, a família
representa a igreja de tal forma que sua conduta compromete ou enaltece
socialmente o nome, a credibilidade e a imagem da Igreja como instituição. Por isso a
igreja determina o modelo de pastorado pelo qual ela deseja ser representada. E
essas determinações, compreendidas pelos padrões sociais vigentes, são traduzidas
em um conjunto de normas (um código de ética) que modelam o pastorado de um
determinado grupo religioso. Enfim, o pastorado pertence a um grupo social ou
instituição religiosa e o papel social do pastor é representá-la socialmente juntamente
com a família. Conclui-se, portanto, que sua conduta pessoal e forma de agir devem
refletir, na medida do possível, os interesses da igreja.

Cabe à igreja orientar a atuação do pastor nos lugares públicos ou privados, incluindo
em sua própria casa. “É desígnio de Deus que, em sua vida doméstica, o mestre da
Bíblia seja um exemplo das verdades que ensina. O que um homem é, exerce maior
influência do que o que diz.”27 O pastor tem a responsabilidade de transmitir, por
preceito e exemplo, os princípios bíblicos para sua família, bem como a de zelar pelos
procedimentos religiosos e pela conduta dos membros da sua casa.28 Essa relação é
tão significativa que vocação ministerial pode ser constatada ou avaliada a partir da
forma como o pastor vivencia os papéis de esposo, pai, amigo, sacerdote e líder da
família. Como a práxis pastoral, em quaisquer de suas atribuições ministeriais, é
muito associada à liderança, ser um bom líder no âmbito da família é a pedra de
toque do pastorado do ponto de vista eclesiológico. O argumento do apóstolo Paulo
nesse sentido toma a liderança exercida na família como referência pela qual alguém
poderia ser indicado ou não para ocupar um cargo diretivo na igreja: “Que governe
bem a sua própria casa, tendo seus filhos em sujeição, com toda a modéstia.” E
acrescenta: “Porque se alguém não sabe governar a sua própria casa, terá cuidado
da igreja de Deus?”29

Todavia, “pais e mães que põem Deus em primeiro lugar na família e ensinam os
filhos a considerar o temor do Senhor como o princípio da sabedoria, esses glorificam

27
WHITE, Ellen G. O lar adventista. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1986, p. 58.
28
João 24:15.
29
1 Timóteo 3:4-5

10
a Deus diante dos anjos e dos homens, oferecendo ao mundo o espetáculo de uma
família bem dirigida e bem educada.”30

Conclusão

Aos nossos olhos, os desafios podem parecer gigantescos, exagerados, insuperáveis.


Contudo, “que diremos, pois, à vista dessas coisas? Se Deus é por nós, quem será
contra nós?”31 Resta-nos buscar o Senhor e confiar nEle. E esta deve ser a nossa
oração diária: “Senhor toma meu coração; pois não o posso dar. É Tua propriedade.
Conserva-o puro; pois não posso conservá-lo para Ti. Salva-me a despeito de mim
mesmo, tão fraco e tão dessemelhante de Cristo. Molda-me, forma-me e eleva-me a
uma atmosfera mais pura e santa, onde a rica corrente de Teu amor possa fluir por
minha alma.”32

Amém!

Autor
Pr. Graciliano Martins dos Santos Filho
Psicólogo e Professor da Faculdade Adventista da Bahia
Revista da AFAM (2017) - DSA

30
Ellen G. White. O lar adventista. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1986, p. 27.
31
Romanos, 8:31
32
ELLEN, G. White. Parábolas de Jesus. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1976, p. 159.

11

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