Exegese 1 Coríntios 1.10-11

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SEMINÁRIO PRESBITERIANO BRASIL CENTRAL

EXTENSÃO JI-PARANÁ

BACHAREL EM TEOLOGIA

Exegese do Novo Testamento 3

Exegese: 1 Coríntios 1:10-11

Pastoreando uma igreja dividida

Wilson Lucas Ferreira

JI-PARANÁ - RO
2016
SEMINÁRIO PRESBITERIANO BRASIL CENTRAL- EXTENSÃO JI-PARANÁ
DEPARTAMENTO TEOLOGIA SISTEMÁTICA
TEOLOGIA NOTURNO

WILSON LUCAS FERREIRA

Exegese: 1 Coríntios 1:10-11


Pastoreando uma igreja dividida

Exegese realizada como exigência para


complemento de nota da matéria Exegese do
Novo Testamento 3, do curso de Teologia do
Seminário Presbiteriano Brasil Central –
Extensão Ji-Paraná, sob a orientação do
Prof. Rev. Zilmar C. Hotti.

JI-PARANÁ
2016
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.........................................................................................................................5

1. CONTEXTO HISTÓRICO...........................................................................................6

1.1. AUTORIA DA EPÍSTOLA......................................................................................6

1.1.1. Carta ou Epístola................................................................................................6

1.1.2. Autor da Epístola................................................................................................6

1.2. A CIDADE DE CORINTO......................................................................................9

1.3. DATA DA ESCRITA.............................................................................................10

1.4. OCASIÃO E PROPÓSITO DA EPÍSTOLA..........................................................11

1.5. TEMA GERAL OU PREOCUPAÇÃO DO AUTOR............................................13

1.6. ESBOÇO DA EPÍSTOLA......................................................................................14

2. DELIMITAÇÃO DO TEXTO....................................................................................17

3. ANÁLISE GRAMATICAL.........................................................................................18

3.1. TEXTO EM GREGO (GNT).................................................................................18

3.2. ANÁLISE DAS PALAVRAS (MORFOLOGIA)..................................................18

3.3. TRADUÇÃO LITERAL........................................................................................20

3.4. TRADUÇÃO DINÂMICA.....................................................................................20

3.5. TRADUÇÃO ORGÂNICA....................................................................................20

4. ANÁLISE CRÍTICA...................................................................................................21

4.1. ANÁLISE VERSO 10................................................................................................21

4.1.1. Apresentação do Problema..............................................................................21


4.1.2. Análise do Problema Apresentado..................................................................21

4.1.3. Comentário Exegético.......................................................................................22

4.1.4. Análise Exegética..............................................................................................22

4.1.5. Análise Teológica sobre o problema das divisões...........................................25

4.2. ANÁLISE VERSO 11................................................................................................26

4.2.1. Apresentação do Problema..............................................................................26

4.2.2. Análise do Problema Apresentado..................................................................26

5. APRESENTAÇÃO CRISTOLÓGICA NA CARTA................................................28

6. CONCLUSÃO..............................................................................................................29

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................................31
5

INTRODUÇÃO

As Escrituras, como revelação de Deus aos homens, devem ser estudadas de maneira
apropriada, uma vez que nem tudo o que nelas contém é de simples entendimento. Todavia,
algumas pessoas têm como costume, se apegar a certas passagens específicas, como Salmo
91, por exemplo, fazendo, assim, de certas passagens das Escrituras, amuletos ou algo
derivado de superstição, atribuindo a tais textos, com suas Bíblias abertas em certos locais da
casa, fonte de sorte e/ou proteção.
Há, também, algumas pessoas que buscam os ensinos das Escrituras de maneira
equivocada ao deparar-se com texto de difícil entendimento, trazendo, assim, compreensão
deturpada e doutrinas com graves erros teológicos para si. Ao contrário dessas práticas,
porém, existem aqueles que sabem se aprofundar nos estudos bíblicos, obtendo deles o
resultado ideal, segundo a intenção primária do autor para com o texto ali inserido.
O texto de 1 Coríntios 1:10-11 apresenta-nos um relato de Paulo exortando os
membros daquela igreja acerca de algumas divisões que estavam acontecendo no meio da
igreja. Ele relata, então, a forma pela qual ficou sabendo dos problemas e demonstra estar
bem inteirado acerca de tudo o que estava acontecendo ali.
Para compreendermos o texto em sua íntegra, conheceremos o contexto histórico no
qual tanto o autor quanto as pessoas para quem ele escreveu a epístola estão inseridos, a
comprovação de evidências que atestam a autoria da epístola; conheceremos um pouco mais
sobre a história da cidade de Corinto ainda antes dos tempos de Paulo, a data da escrita da
epístola, propósito da epístola e a preocupação principal de Paulo ao escrevê-la. Faremos uma
análise gramatical do texto, analisando os versos 10 e 11 do capítulo primeiro, e, além disso,
faremos uma análise crítica dos versos citados para obtermos de forma mais certa aquilo que
Paulo intencionou dizer aos seus ouvintes e compreendermos o quê podemos aprender
6

daquilo que Paulo ensinou aos coríntios de forma que isso possa ser aplicado em nosso
contexto, caso nos deparemos com situação parecida à encontrada na igreja de Corinto.

1. CONTEXTO HISTÓRICO

1.1. AUTORIA DA EPÍSTOLA

1.1.1. Carta ou Epístola

É comum encontrarmos alguns livros que a chamam “epístola”, enquanto outros a


chamam “carta”. Há, inclusive, aqueles que fazem a identificação do livro como “Primeira
Epístola de Paulo aos Coríntios”, mas no momento em que vão iniciar a introdução do livro,
os mesmos autores passam a mencioná-la como carta, como é o caso da Bíblia de Genebra e
da Bíblia de Estudo John MacArthur, por exemplo. Esta, referindo-se ao “Título” do livro diz:
“A carta recebeu o nome da cidade de Corinto, onde estava localizada a igreja para a qual ela
foi escrita. Com exceção das epístolas pessoais dirigidas a Timóteo, Tito e Filemom, todas as
cartas de Paulo levam o nome da cidade onde se encontrava a igreja à qual e epístola foi
endereçada” 1. Embora haja essa pluralidade de termos em diferentes livros, no presente
trabalho, este escrito de Paulo será tratado como epístola, e não como carta, assim como se
pode encontrar em O Novo Dicionário da Bíblia 2.

1.1.2. Autor da Epístola

Não é novidade que nos tempos apostólicos muitos livros foram escritos na tentativa
de se ensinar falsas doutrinas acerca de Cristo.
1
Introdução à Primeira Epístola de Paulo aos Coríntios, p. 1526. In Bíblia de Estudo MacArthur. Barueri, SP.
Sociedade Bíblica do Brasil, 2010.
2
DOUGLAS J. D. Novo Dicionário da Bíblia. 263, 3ª ed. reimpressa. Vida Nova. São Paulo: 2007.
7

Desde o início havia escritos falsos, não-apostólicos e, portanto, não-fidedignos em circulação. Por
causa de alguns desses relatos fantasiosos sobre a vida de Cristo, Lucas, o companheiro de Paulo,
assumiu o compromisso de escrever seu evangelho, dizendo: 'Tendo muitos empreendido uma
narração dos fatos que entre nós se cumpriram [...] pareceu-me também conveniente descrevê-los a
ti, ó excelente Teófilo, por sua ordem, havendo-me já informado minuciosamente de tudo desde o
princípio, para que tenhas plena certeza das coisas em que foste ensinado" (Lc 1.1-4). O que se
depreende do prólogo de Lucas é que, em seus dias (c. 60 d.C), já havia alguns relatos inexatos em
circulação a respeito da vida de Cristo 3.

Quando se fala sobre a identificação da autoria de algum livro bíblico, isto não é feito
simplesmente por algo de praxe, mas por haver real necessidade até mesmo de resguardar a fé
daqueles que leem as cartas ou epístolas recebidas, tendo a certeza de que não foram escritas
por hereges inseridos no meio do povo que, escrevendo suas ideias subversivas, atribuíam aos
apóstolos, insinuando que eles estivessem ensinando aquilo. Sempre que se recebia uma carta
denominada “deste” ou “daquele” apóstolo, cria-se haver idoneidade no que fora escrito.
Todavia, porém, era necessário ter alguns cuidados quando uma igreja recebia alguma carta.

Sabemos com certeza que os cristãos de Tessalônica foram advertidos quanto a falsas cartas que
lhes teriam sido enviadas em nome do apóstolo Paulo. "Rogamo-vos", escreveu o apóstolo, "que
não vos demovais do vosso modo de pensar, nem vos perturbeis [...] por carta, como se procedesse
de nós, como se o dia de Cristo já tivesse chegado" (2Ts 2.20). A fim de que os crentes
verificassem a confiabilidade de suas cartas, o apóstolo se despedia dizendo: "Eu, Paulo, escrevo
esta saudação com meu próprio punho. Este é o sinal em cada carta. É assim que escrevo" (2Ts
3.17). Além disso, a carta seria enviada por um portador pessoal da parte do apóstolo 4.

Por este motivo há a necessidade de se verificar algumas evidências que demonstrem


se o livro escrito é, de fato, daquele a quem se atribui a autoria.

1.1.2.1. Evidência Interna

A escrita da presente epístola é irrefutavelmente atribuída ao apóstolo Paulo. Morris,


citando Robertson e Plummer diz que “tanto as provas externas como as internas em prol da
autoria paulina são tão fortes, que os que tentam mostrar que o apóstolo não é o autor
conseguem provar principalmente a sua incompetência como críticos” 5. As provas internas,
antes de qualquer outra coisa, apontam para Paulo como o escritor da epístola, pois as

3
GEISLER, Norman L. e NIX, William E. Introdução Bíblica - Como a Bíblia chegou até nós. 105. [trad.]
Oswaldo Ramos. Edição [nd]. Editora Vida. São Paulo : 1997.
4
Ibid.
5
ROBERTSON e PLUMMER apud MORRIS, Canon Leon. I Coríntios - Introdução e Comentário. 20. [trad.]
Odayr Olivetti. 3ª ed. Vida Nova & Mundo Cristão. São Paulo : 1986.
8

precisões dos fatos narrados somente poderiam ter sido mencionados por quem tivesse
presenciado cada uma das situações citadas.

O estilo e a linguagem são os dos escritos paulinos universalmente aceitos como tais. A carta
enquadra-se naquilo que sabemos da situação de Corinto. Corre naturalmente como tentativa de
Paulo de lidar com uma situação difícil. Ela contém francas condenações dos coríntios. Isso é
importante, em vista do fato de que a igreja coríntia aceitou a carta como autêntica, e na verdade a
entesourou, de modo que ela foi preservada, e não se perdeu como aconteceu com outras cartas de
Paulo. A própria preservação de tal carta pela igreja de Corinto é forte prova de autenticidade 6.

1.1.2.2. Evidências Externas

Como evidências externas, serão apresentadas evidências que não se encontram no


texto original. Para isso, fez-se uma análise para ver se há testemunhos externos que indiquem
a autoria Paulina quanto à primeira epístola aos coríntios.
Das testemunhas externas que dão maior base para se crer, absolutamente que Paulo é
o autor, citamos “1 Clemente, uma carta do primeiro século [...]” 7 o qual menciona os fatos
apresentados na epístola e diz que Paulo foi quem a escreveu:

1 - Tornai a ler a carta do bem-aventurado apóstolo Paulo.


2 - O que vos escreveu primeiro, no início do evangelho?
3 - Na verdade, estava ele inspirado pelo Espírito quando vos comunicou normas sobre si próprio,
sobre Cefas e Apolo, pois já então formáveis partidos. 8

Além disso, a epístola é, também, “citada livremente por Inácio e Policarpo. Daí em
diante, é referida com freqüência [sic], e ninguém expressa dúvida quanto à sua autoria” 9.
O papiro P46 é conhecido por conter 86 páginas dos escritos de Paulo, onde, entre as
cartas paulinas identificadas, encontra-se a primeira epístola aos coríntios, a qual, portanto, é
identificada como sendo uma das epístolas de Paulo.

6
MORRIS, 1986, 21.
7
Ibid.
8
Primeira carta de Clemente aos Coríntios, CAPÍTULO XLVII, 1-3. [Acesso em: 30/11/2016]
https://sumateologica.files.wordpress.com/2010/02/clemente_romano_cartas_aos_corintios.pdf
9
MORRIS, 1986, 21.
9

1.2. A CIDADE DE CORINTO

1.2.1. Importância comercial

A história de Corinto mostra ser ela uma cidade antiquíssima e de particular


importância comercial. Kistemaker relata que:

A cidade de Corinto aparece na Ilíada de Homero e, portanto, data do segundo milênio antes de
Cristo. Exerceu influência sobre toda a península, o istmo e parte da Grécia central. No século VII
a. C., Corinto alcançou o seu apogeu devido à sua atração para o comércio. Periander impulsionou
o poder comercial de Corinto suprindo o equipamento necessário para transportar navios menores
através do istmo. Mas, durante o dois [sic] séculos seguintes, Corinto teve de enfrentar o poder
rival de Atenas10.

Calvino, também retratando o lado mercantilista e oportuno de Corinto, diz:

[...] Corinto era uma rica e famosa cidade da Acaia. Quando L. Mummius a destruiu (em 146 a.C.),
ele o fez simplesmente porque sua vantajosa situação o levou a suspeitar do lugar. Mas um povo
de tempos posteriores a reconstruiu pela mesma razão que ele (L. Mummius) a destruiu, quando as
mesmas vantagens topográficas a levaram a ser restaurada num curto espaço de tempo. Visto estar
ela situada nas proximidades do Mar Egeu, de um lado, e do Mar Jônio, do outro, e visto que ela
ficava no istmo que liga a Ática e o Peloponésio, então idealmente se adequava à importação e
exportação de mercadorias11.

Este fato é contado de forma mais pormenorizada por Kistemaker. Ele diz que:

[...] em 196 a. C., os romanos conquistaram a Grécia e concederam a Corinto o direito de liderar a
liga das cidades na província da Acaia. Quando os corintos se rebelaram, cinqüenta [sic] anos mais
tarde, os romanos, sob Lúcio Mummius, destruíram a cidade. Por um século, a cidade permaneceu
em ruínas, até que Júlio César a reedificou em 44 a. C. e reconstruiu os dois portos de Lacaeum e
Cencréia. Corinto tornou-se uma colônia romana conhecida então como Colonia Laus Julia
Corinthiensis (a colônia coríntia é louvor juliano), isto é, esta colônia honra Júlio César. A cidade
prosperou novamente como um entreposto e centro comercial que atraiu pessoas de várias partes
do mundo12.

Kistemaker retrata assim, a população de Corinto:

“Como um colônia [sic] sujeita à lei romana, Corinto tinha um governo semelhante ao da cidade
imperial. A língua oficial era o latim, embora o grego permanecesse a língua do povo simples.
Paulo menciona nomes latinos de pessoas que viviam em Corinto: Tércio, Gaio e Quarto (Rm
16.22,23), o casal judeu Priscila e Áqüila; Tício Justo; Crispo, o principal da sinagoga, e Fortunato
10
KISTEMAKER, Simon J. Comentário do Novo Testamento – Exposição da Primeira Epístola aos Coríntios.
16. [trad.] Helen Hope Gordon Silva. 1ª ed. Cultura Cristã. São Paulo : 2003.
11
CALVINO, João. 1 Coríntios. 09. [trad.] Valter Graciano Martins. 2ª ed. Edições Parakletos. São Bernardo
do Campo : 2003.
12
KISTEMAKER, 2003, 17.
10

(At 18.2,7; 1Co 1.14; 16.17). Oficiais romanos civis e militares, entre os quais estava o procônsul
Gálio (At 18.12), residiam em Corinto junto com uma multidão de colonos formada de ex-
soldados e libertos (ex-escravos) vindos de Roma. Havia também mercadores, artesãos, artistas,
filósofos, mestres e trabalhadores de muitos países ao redor do Mediterrâneo. A população da
cidade incluía certo número de judeus de Israel e de outros lugares, gregos nativos, expatriados e
escravos. Todas essas pessoas viviam e trabalhavam em Corinto ou em suas duas cidades
portuárias. Aumentavam a população de Corinto, contribuíam para sua diversidade e fortaleciam
sua economia.

1.1.1. Má Referência Social

A índole dos coríntios não era bem uma índole invejável. Corinto era uma cidade
portuária famosa por sua devassidão. “Agir como um coríntio” era o mesmo que praticar
imoralidades. “Mulher de Corinto” equivalia a “meretriz”.

Muitos romanos gostavam de descansar em Corinto após suas longas viagens em alto-mar, porque
a cidade fornecia mais divertimento e opções culturais que outros portos menos importantes. Lá
ficava o único anfiteatro (uma construção romana) da Grécia com capacidade para mais de 20.000
espectadores. O grande orgulho de Corinto era o seu templo de Afrodite. Sendo essa deusa
identificada com a lascívia e com a prostituição cultual, seu templo abrigava mais de 1.000
prostitutas. Com essa fama de agregar tantas prostitutas, a cidade tornou-se símbolo de decadência
moral. O termo grego korintianozomai (lit, agir como um coríntio) significava promiscuidade 13.

1.3. DATA DA ESCRITA

Kistemaker sugere uma ordem cronológica de fatos que afirma que Paulo escreveu a
primeira carta aos coríntios próximo ao ano 55 d.C. Ele expõe sua ideia assim:

Logo depois do encontro em Jerusalém, Paulo iniciou sua segunda viagem missionária pela visita
às igrejas na Ásia Menor (At 15.36 – 16.5). Ele cruzou o mar Egeu e viajou até Filipos,
Tessalônica, Beréia e Atenas (At 16.8 – 17.33). Supomos que Paulo chegou em Corinto no outono
de 50, ali permanecendo por dezoito meses (At 18.11). Paulo partiu de Corinto na primavera de
52, navegando com Áqüila e Priscila para Éfeso, onde os deixou, continuando sua viagem para
Cesaréia, de onde foi para Jerusalém e Antioquia (At 18.18-22). Depois, viajou pela Ásia Menor,
fortalecendo as igrejas, chegando a Éfeso provavelmente no outono de 52 (At 18.23; 19.1).
Permaneceu três anos em Éfeso, ensinando, primeiro na sinagoga e depois na escola de Tirano, e
propagando a palavra de Senhor (At 19.8, 20; 20.31). Não temos como especificar a ocasião exata
da composição de 1 Coríntios, mas 55 é uma data bastante próxima 14.

Champlin acredita que a primeira epístola aos coríntios tenha sido escrita em 54 d.C.
pouco antes da festa de pentecostes 15.
13
GONDIM, Ricardo. É proibido - O que a Bíblia permite e a igreja proíbe. 64. Edição [nd] Mundo Cristão.
São Paulo : [PDF].
14
KISTEMAKER, 2003, 23.
15
CHAMPLIN, Russell Norman. O NOVO TESTAMENTO INTERPRETADO - VERSÍCULO POR
VERSÍCULO - I Coríntios, II Coríntios, Gálatas, Efésios. Vol. IV. 02. 9ª Reimpressão. Editora Candeia. São
Paulo : 1995.
11

1.4. OCASIÃO E PROPÓSITO DA EPÍSTOLA

Calvino observa que “Corinto se achava dominada pelos vícios com os quais as
cidades comerciais geralmente são infestadas, ou, seja, a luxúria, a arrogância, a vaidade, os
prazeres, a cobiça insaciável, o egoísmo desenfreado” 16. De acordo com sua observação, “tais
vícios tinham penetrado também a própria Igreja de tal modo que a disciplina se tornou
17
grandemente deteriorada” . E isso era tão sério, que “já se achava presente a apostasia da sã
doutrina, de modo tal que um dos fundamentos da fé, a ressurreição dos mortos, estava sendo
posto em cheque” 18. Tamanho era o efeito do pecado na vida dos coríntios, que “ainda que se
achasse em meio a tanta corrupção de toda espécie, estavam contentes consigo mesmos, como
se tudo quanto em relação a eles estivesse em perfeita ordem” 19.

Em Atos, Lucas nos conta que, após ter Paulo ensinado ali durante um ano e meio, ele foi
obrigado, em virtude do comportamento ultrajante dos judeus, a viajar dali para a Síria. Durante a
ausência de Paulo, falsos apóstolos se infiltraram na região. Não vieram (em minha opinião) com o
fim de perturbar a Igreja obviamente com um ensinamento heterodoxo, ou intencionalmente, por
assim dizer, causar dano ao ensinamento. Há três razões para seu surgimento. Primeiramente, se
orgulhavam de sua oratória brilhante e ostensiva, ou, diria alguém, convencidos por sua linguagem
vazia e bombástica, passaram a tratar com desprezo a simplicidade de Paulo e inclusive do próprio
evangelho. Em segundo lugar, movidos por sua ambição, almejavam dividir a Igreja em várias
facções. Finalmente, indiferentes a tudo, exceto em desfrutar das boas graças que almejavam que o
povo tivesse deles, entraram em cena com o fim de fazer seu jogo em prol do aumento de sua
própria reputação, antes que promover o reino de Cristo e o bem estar do povo20.

Para Champlin, esta “primeira epístola aos Coríntios é complexa por si mesma, e
aborda muitos problemas, motivo pelo qual é extremamente difícil atribuirmos uma razão que
teria levado o apóstolo Paulo a compor a mesma” 21. Além disso, “torna especialmente veraz
se aceitarmos a idéia [sic] de que temos na mesma, trechos reunidos de mais de uma carta” 22.
Champlin diz que “uma declaração de âmbito geral pode ser feita, e que incorpora a maioria
das muitas razões” 23.

16
CALVINO, 2003, 16.
17
Ibid.
18
Ibid.
19
Ibid.
20
Ibid.
21
CHAMPLIN, 1995, 03.
22
Ibid.
23
Ibid.
12

A conduta ética comum em Corinto, evidenciada pelos próprios costumes da cidade, encontrara
algum apoio na igreja cristã dali. Isso produziu uma espécie de ética que era uma mescla de
princípios pagãos e cristãos. Esta primeira carta, por conseguinte, trataria de situações de conduta
ética, na vida diária. Além desses fatores, podemos pensar nos ataques dos legalistas, dos falsos
mestres e dos detratores do apóstolo Paulo24.

Champlin diz que um dos principais motivos pelo qual Paulo escreve à igreja em
Corinto é por causa de uma carta que lhe foi enviada pelos irmãos de Corinto expondo-lhe
alguns problemas que estava ocorrendo entre eles:

Não muito depois de ter chegado a Éfeso, Paulo recebeu recado, da parte de elementos da família
de Cloé (I Cor. 1:11 e ss.), acerca das contenções que tinham surgido entre os crentes de Corinto, o
que havia produzido facções entre eles, cada uma das quais com o seu suposto líder ou herói,
como Paulo, Pedro, Apolo e Jesus Cristo. E os que trouxeram essas notícias a Paulo evidentemente
foram Estéfanas, Fortunato e Acaico (ver I Cor. 16:17). E é igualmente patente que trouxeram com
eles, uma carta, enviada pelos crentes de Corinto, pedindo os conselhos do apóstolo acerca de
várias questões que, evidentemente, vinham sendo debatidas entre os cristãos daquela cidade. O
resultado dessas indagações é a primeira carta aos Coríntios, ou, pelo menos, partes da mesma25.

Corroborando esta ideia, Kistemaker diz o seguinte:

A carta foi ocasionada por um relatório trazido a Paulo por membros da casa de Cloe (1.11), por
uma carta dos coríntios (7.1) e pela chegada de uma delegação da igreja de Corinto (16.17). O
relatório dos da casa de Cloe referia-se às facções que haviam surgido em Corinto e estavam
destruindo a unidade da igreja. Paulo também tinha ouvido acerca de incesto (5.1), litígios (6.1-8)
e imoralidade (6.9-20). A carta que ele recebeu de Corinto continha perguntas sobre o casamento
(7.1), as virgens (7.25), a comida sacrifica aos ídolos (8.1), os dons espirituais (12.1), a coleta para
os santos de Jerusalém (16.1) e Apolo (16.12). A delegação formada por três homens da igreja de
Corinto supriu as lacunas existentes (16.17)26.

Por causa da influência externa, a igreja de Corinto era uma igreja que gerava grandes
problemas e disputas internas. Uma igreja conturbada e que frequentemente se envolvia em
escândalos. Lendo esta carta, notamos que esta igreja era uma igreja realmente problemática.
Tal era o grau de entrega que ela estava vivendo no pecado, que “nesta carta, Paulo foi levado
a ‘denunciar os pecados que haviam corrompido a igreja de Corinto, e quase anulado o seu
direito de se intitular cristã’” 27.
Paulo pregou o evangelho pela primeira vez em Corinto durante sua segunda viagem
missionária [At. 18]. Ele não tinha seu sustento do ministério, pois era fazedor de tendas.

24
Ibid.
25
Ibid., 04.
26
KISTEMAKER, 2003, 25.
27
GREATHOUSE, William M., METZ, Donald S. e CARVER, Frank G. Comentário Bíblico Beacon -
ROMANOS e 1 e 2 CORÍNTIOS. Vol. VIII. 237. [trad.] Degmar Ribas Júnior. 1ª ed. CPAD. Rio de Janeiro :
2006.
13

Nesse tempo Paulo viveu com Áquila e Priscila, que haviam se mudado de Roma para
Corinto naqueles dias (At. 18.1-3). Ainda sofrendo as consequências dos maus tratos na
prisão em Filipos (At. 16) e mal havendo escapado de espancamento semelhante em
Tessalônica e Beréia (At. 17), Paulo chegou a Corinto “em fraqueza, temor e grande tremor”
(1 Co. 2.3), mas foi encorajado por uma visão em que Cristo lhe deu garantias de segurança,
pois Ele tinha muitas pessoas na cidade que Ele ainda salvaria por meio da pregação de Paulo
(At. 18.9-10).
Paulo permaneceu ali um ano e meio, lançando o único alicerce possível, o próprio
Jesus Cristo (1Co. 3.10-11). Depois de ver a igreja bem estabelecida, Paulo partiu de Corinto
em um navio, cruzando o mar Egeu com Priscila e Áquila, os quais deixou em Éfeso enquanto
foi para Jerusalém. Ele não permaneceu em Jerusalém, mas logo voltou para sua igreja sede
em Antioquia e pouco tempo depois retornou para Éfeso. Paulo ficou ali dois anos e meio
(provavelmente do outono de 52 até a primavera de 55), período no qual escreve a primeira
carta aos coríntios.

1.5. TEMA GERAL OU PREOCUPAÇÃO DO AUTOR

Depois que Paulo partiu de Corinto, o trabalho de edificar e consolidar a nova e próspera igreja foi
dado a Apolo (At 19.1). Ele era um judeu de Alexandria, um homem eloqüente [sic] e culto (At
18.24). Ele havia tido o seu aprendizado em Éfeso, e havia pregado o batismo de João com notório
fervor (At 18.25). Em Éfeso, a sua educação teológica foi destacada pelo ensino que recebeu de
Áquila e Priscila (At 18.26). Partindo de Éfeso, Apolo foi para Corinto. Sem dúvida alguma, ele
retornou a Éfeso para relatar as condições da igreja em Corinto. Nos três anos que se passaram
desde que Paulo deixara Corinto, os membros da igreja não se desenvolveram bem, em termos
espirituais. O apóstolo havia escrito uma carta para a igreja anteriormente; em 1 Co 5.9 ele
escreve: “Já por carta vos tenho escrito que não vos associeis com os que se prostituem”.
Aparentemente a carta original, chamada pelos estudiosos de “A Carta Anterior”, se perdeu. Paulo
recebeu a informação de que a situação em Corinto estava piorando 28.

Para Norman Champlin, Paulo precisou lidar com duas porções de problemas no trato
com a igreja de Corinto, nesta mesma carta. “A primeira porção da mesma trata das questões
dos perturbadores, em que o apóstolo repreende aqueles que eram os causadores das divisões”
29
(o qual será nosso objetivo de estudo, aqui). E, em um caráter mais de ensino doutrinário,
“a segunda porção responde, pela ordem, as perguntas feitas pelos crentes de Corinto,
questões sobre princípios morais, matrimônio, ordem do culto na igreja, a liberdade cristã e a
questão sobre a ressurreição” 30. Deste modo, observamos que “a primeira carta aos Coríntios

28
Ibid., 237-238.
29
CHAMPLIN, 1995, 04.
30
Ibid.
14

não é essencialmente uma carta doutrinária, à semelhança de Romanos e Gálatas, ainda que
sejam discutidas certas questões doutrinárias importantes” 31, Fala-se mais sobre “aquilo que
diz respeito à prática do governo da igreja. Seus temas, entretanto, são essencialmente éticos e
práticos” 32. Como a intenção de Paulo era corrigir os vários problemas que estava ocorrendo
na igreja, ele acabou escrevendo “a mais completa declaração ética da fé cristã, em todo o
N.T” 33. Se fizermos um “contraste com a carta aos Romanos, por exemplo, [veremos que]
34
nessa primeira carta aos Coríntios” o apóstolo Paulo não abordou “as relações entre o
cristianismo e o judaísmo, sobre como esses dois sistemas religiosos podem ser harmonizados
entre si, mas antes, lemos como a igreja cristã pode entrar em um ambiente pagão,
prosperando e permanecendo pura” 35.

1.6. ESBOÇO DA EPÍSTOLA

O esboço da primeira epístola aos coríntios pode variar em algum ponto dependendo
de quem for montar sua estrutura. Numa breve comparação notou-se que tanto Champlin
quanto Morris36 fizeram um esboço muito próximo um do outro. Notamos que as variações
encontradas nos textos que comparamos são mínimas e variam num detalhe ou noutro que não
muda a ordem lógica apresentada, embora tenhamos optado pelo esboço apresentado por
Norman Champlin37. Vejamos:

I. Introdução, saudações e ação de graças (1:1-9).


II. Problema das divisões partidárias (1:10-4:21).
1. Polêmica contra tais divisões:
a. Exaltam ao homem, em detrimento de Cristo (1:10-17).
b. Derivam-se do orgulho e da sabedoria humanos (1:18-2:5).
c. A cruz é a sabedoria de Deus apresentada aos homens (1:18-25).
d. A comunidade cristã dos coríntios não fora chamada dentre os sábios (1:26-31).
e. Paulo lhes dera exemplo de conduta humilde (2:1-5).

31
Ibid., 05.
32
Ibid.
33
Ibid.
34
Ibid.
35
Ibid.
36
MORRIS, 1986, 24-26.
37
CHAMPLIN, 1995, 06-07.
15

f. A verdadeira sabedoria não é propriedade dos facciosos (2:6-3:4), cuja atitude


mostra antes a ausência das influências do Espírito Santo.
g. Os apóstolos verdadeiros não são rivais, mas labutam na mesma lavoura, regando
e colhendo (3:5-23).
2. Como o verdadeiro apóstolo deve ser julgado – secção contrária aos detratores de
Paulo, que haviam causado divisões (4:1-21).
III. Imoralidade e os Padrões Éticos Gerais e Cristãos (5:1-7:40).
1. Contra a imoralidade grosseira (5:1-13).
2. Contra os processos legais entre crentes (6:1-8).
3. O padrão do reino de Deus (6:9-11).
4. A moralidade pessoal do crente (6:12-20).
5. O casamento e o celibato (7:1-40).
IV. Liberdade Cristã (8:1-11:1).
1. Alimentos oferecidos a ídolos e a utilização dos mesmos pelo crente (8:1-13).
2. Paulo deu o exemplo, renunciando a seus direitos (9:1-23).
3. Os perigos da obstinação (9:24-10:22):
a. A necessidade de autodisciplina, ante as advertências dadas no deserto (10:1-13).
b. O caráter destruidor da idolatria (10:14-22).
4. Declarações finais: (10:23-11:1).
V. Regulamentos sobre a Adoração Cristã (11:22-14:40).
1. O véu das mulheres (11:2-16).
2. A Ceia do Senhor (11:17-34).
3. O uso dos dons espirituais (12:1-14:40).
4. O amor governa o uso dos dons e toda a conduta cristã (13:1-13).
VI. A Ressurreição dos Mortos (15:1-58).
1. A tradição e o fato (o evangelho) (15:1-11).
2. O significado da ressurreição (15:12-19).
3. O acontecimento e a sua ordem (15:20-34).
4. A natureza da ressurreição (15:35-50).
5. A parousia: imortalidade final (15:51-58).
VII. Questões Pessoais (16:1-24).
1. Coleta para os santos pobres de Jerusalém (16:1-4).
2. Os planos de Paulo sobre o futuro (16:5-12).
3. Exortações finais, saudações e bênção (16:13-24).
16
17

2. DELIMITAÇÃO DO TEXTO

No presente trabalho a perícope completa do texto compreende 1Coríntios 1:10-17.


Isso pode ser notado quando Paulo muda de assunto do verso 9 para o verso 10, onde o
mesmo estava dando graças e exaltando a fidelidade de Deus, quando no verso seguinte (10)
ele dirige-se diretamente para os irmãos aos quais escrevia, falando de um assunto diferente
do qual falara até então. Paulo encerra um assunto (v.9): “Fiel é Deus, pelo qual fostes
chamados à comunhão de seu Filho Jesus Cristo, nosso Senhor”; e inicia outro (v.10): “Rogo-
vos, irmãos, pelo nome do nosso Senhor...”.
De igual modo, Paulo, ao final do verso 17, quando o apóstolo vem expondo que o
foco das pregações e de seus feitos nunca foi ele mesmo, mas Cristo, O qual foi quem morreu
crucificado em favor deles, finalmente, no verso 17 ele conclui sua exposição que esclarece
que foi enviado para pregar o evangelho, não por sabedoria de palavras, para que não fosse
anulada a cruz de Cristo. Então, no verso seguinte (18) ele já começa a expor o que é a
palavra da cruz para os que se perdem e para os que são salvos, mudando novamente de
assunto.
Embora a perícope compreenda os versos 10 ao 17, a análise gramatical do texto, no
entanto, será apenas dos versos 10 e 11.

1 Coríntios 1:10-17 Almeida Revista e Atualizada

10
Rogo-vos, irmãos, pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que faleis todos a mesma coisa e
que não haja entre vós divisões; antes, sejais inteiramente unidos, na mesma disposição mental e
no mesmo parecer. 11 Pois a vosso respeito, meus irmãos, fui informado, pelos da casa de Cloe, de
que há contendas entre vós. 12 Refiro-me ao fato de cada um de vós dizer: Eu sou de Paulo, e eu, de
Apolo, e eu, de Cefas, e eu, de Cristo. 13 Acaso, Cristo está dividido? Foi Paulo crucificado em
favor de vós ou fostes, porventura, batizados em nome de Paulo? 14 Dou graças a Deus porque a
nenhum de vós batizei, exceto Crispo e Gaio; 15 para que ninguém diga que fostes batizados em
meu nome. 16 Batizei também a casa de Estéfanas; além destes, não me lembro se batizei algum
outro. 17 Porque não me enviou Cristo para batizar, mas para pregar o evangelho; não com
sabedoria de palavra, para que se não anule a cruz de Cristo.
18
19

3. ANÁLISE GRAMATICAL

3.1. TEXTO EM GREGO (GNT)

1 Coríntios 1:10-11

10
Παρακαλῶ δὲ ὑμᾶς, ἀδελφοί, διὰ τοῦ ὀνόματος τοῦ κυρίου ἡμῶν Ἰησοῦ Χριστοῦ, ἵνα τὸ
αὐτὸ λέγητε πάντες καὶ μὴ ᾖ ἐν ὑμῖν σχίσματα, ἦτε δὲ κατηρτισμένοι ἐν τῷ αὐτῷ νοῒ καὶ ἐν τῇ
αὐτῇ γνώμῃ.
11
ἐδηλώθη γάρ μοι περὶ ὑμῶν, ἀδελφοί μου, ὑπὸ τῶν Χλόης ὅτι ἔριδες ἐν ὑμῖν εἰσιν.

3.2. ANÁLISE DAS PALAVRAS (MORFOLOGIA).

3.2.1. Verso 10

Παρακαλῶ - Verbo indicativo do presente ativo, 1ª pessoa do singular de παρακαλέω =


Rogo / Exorto
δὲ - Conjunção: porém
ὑμᾶς – Pronome pessoal, acusativo, plural de σύ = vós
ἀδελφοί - Substantivo Vocativo, masculino, plural comum de ἀδελφός = irmãos
διὰ - Preposição genitiva / preposição primária que denota o canal de um ato = Através de /
por meio de / por / pelo
τοῦ - Artigo definido, genitivo, neutro, singular de ὁ = o
ὀνόματος – Substantivo genitivo, neutro, singular comum de ὄνομα = nome
τοῦ - Artigo definido, genitivo, neutro, singular de ὁ = o
κυρίου – Substantivo genitivo, masculino, singular comum de κύριος = Senhor
ἡμῶν – Pronome pessoal, genitivo, plural de ἐγώ = nosso
Ἰησοῦ - Nome próprio, genitivo, masculino, singular de Ἰησοῦς = Jesus
Χριστοῦ - Nome próprio, genitivo, masculino, singular de Χριστός - Cristo
ἵνα – Conjunção subordinada = que / A fim de que / para que
τὸ - Artigo definido, acusativo, neutro, singular de ὁ = a
αὐτὸ - Pronome pessoal, acusativo, neutro, singular de αὐτός = mesma coisa
λέγητε – Verbo subjuntivo do presente ativo, 2ª pessoa do plural de λέγω = digais
πάντες – Adjetivo pronominal, nominativo, masculino, plural de πᾶς = todos
20

καὶ - Conjunção coordenada = e


μὴ - Partícula negativa = não
ᾖ - Verbo subjuntivo, presente ativo, 3ª pessoa do singular de εἰμί = exista
ἐν – Preposição dativa = em (locativo)
ὑμῖν – Substantivo pronominal, dativo, 2ª pessoa do plural de σύ = vós
σχίσματα – Substantivo nominativo, neutro, plural de σχίσμα = divisões
ἦτε – Verbo subjuntivo, presente ativo, 2ª pessoa do plural de εἰμί = sejais
δὲ - Conjunção: porém
κατηρτισμένοι - Verbo particípio, perfeito, passivo, nominativo, masculino 2ª pessoa do
plural de καταρτίζω = unidos
ἐν - Preposição dativa = em (locativo)
τῷ - Artigo definido, dativo, masculino, singular de ὁ = o
αὐτῷ - Pronome pessoal, dativo, masculino, singular de αὐτός = mesmo
νοῒ - Substantivo, dativo, masculino, singular de νοῦς = modo de pensar
καὶ - Conjunção coordenada = e
ἐν - Preposição dativa = em (locativo)
τῇ - Artigo definido, dativo, feminino, singular de ὁ = a
αὐτῇ - Pronome pessoal, dativo, feminino, singular de αὐτός = mesma
γνώμῃ - Substantivo, dativo, feminino, singular = decisão

3.2.2. Verso 11

ἐδηλώθη – Verbo indicativo; aoristo; passivo; 3ª pessoa do singular: δηλόω = revelado /


anunciado.
γάρ – Conjunção coordenada: pois
μοι - Pronome pessoal; dativo; singular: ἐγώ = para mim
περὶ - preposição genitiva: sobre
ὑμῶν - Pronome genitivo; pessoal; plural: σύ = vocês / vós
ἀδελφοί - Substantivo; vocativo; masculino; plural; comum: ἀδελφός = Irmãos
μου - pronome pessoal; genitivo; singular: ἐγώ = meus
ὑπὸ - Preposição genitiva: ὑπό = por meio de / pelos
τῶν – Artigo; definido; genitivo; masculino; plural: ὁ = os
Χλόης – Substantivo; genitivo; feminino; singular: Cloe
ὅτι – Conjunção subordinada: que
ἔριδες – Substantivo nominativo; feminino; plural: ἔρις = contendas
ἐν - Preposição dativa: em (locativo)
ὑμῖν - Pronome pessoal; dativo; plural: συ = vós
εἰσιν - Verbo indicativo; presente ativo; 3ª pessoa do plural: εἰμί = são
21

3.3. TRADUÇÃO LITERAL

10
Rogo, porém, vós, irmãos, pelo o nome o Senhor nosso Jesus Cristo, que a mesma
coisa digais todos, e não exista em vós divisões. Sejais, porém, unidos, no mesmo modo de
pensar e em a mesma decisão.
11
Foi revelado, pois, para mim, sobre vós, irmãos meus, por meio os Cloe, que contendas em
vós são.

3.4. TRADUÇÃO DINÂMICA

10
Rogo, porém, a vocês, irmãos, pelo nome do nosso Senhor Jesus Cristo, que todos
digam a mesma coisa, e que não haja divisões entre vós. Antes, que vocês sejam unidos, no
mesmo modo de pensar e na mesma decisão.
11
Porque eu fiquei sabendo, meus irmãos, por meio daqueles que são [da casa] de
Cloe, que há contendas entre vocês.

3.5. TRADUÇÃO ORGÂNICA

10
Rogo-vos, porém, irmãos, pelo nome do Senhor nosso Jesus Cristo, que faleis,
todos, a mesma coisa, e não haja divisões entre vós. Antes, sejais unidos no mesmo modo de
pensar e na mesma decisão.
11
Pois foi revelado para mim, sobre vós, meus irmãos, por meio dos que são [da casa]
de Cloe que há contendas entre vós.
22

4. ANÁLISE CRÍTICA

4.1. ANÁLISE VERSO 10

4.1.1. Apresentação do Problema

O manuscrito papiro “p46”, registrado na classificação dos Aland, sugere que haja uma
troca em determinada parte do texto do 1 Coríntios 1:10. Segundo a sugestão deste
manuscrito, o termo σχίσματα (divisões), que se apresenta no plural, deve ser substituído por seu
equivalente no singular σχίσμα (divisão).

P46 (Papiro Chester Beatty II). Contém 86 folhas quase perfeitas de um códice das cartas de Paulo
que tinha, num único caderno, cerca de 104 folhas, das quais as últimas cinco eram provavelmente
em branco. A ordem das cartas é a seguinte: Romanos, Hebreus, 1 e 2 Coríntios, Efésios, Gálatas,
Filipenses, Colossenses e 1 e 2 Tessalonicenses. Estão faltando as pastorais, que talvez nunca
fizeram parte do códice. A importância desse ms., datado do final do século II ou início do III, é
seu testemunho acerca das cartas paulinas, incluindo-se Hebreus, pelo menos um século antes dos
grandes unciais 38.

4.1.2. Análise do Problema Apresentado

O papiro p46 foi escrito cerca do ano 200 d. C. e contém livro apenas das Cartas
Paulinas. É um papiro tradicionalmente considerado da categoria “Alexandrina”, e categoria
I-f (livre) da categoria Aland, porém, este papiro apresenta poucos manuscritos, além
daqueles explicitamente mencionados para a leitura, que diferem do texto majoritário.
Dificilmente a palavra divisões (σχίσματα) seria bem empregada se estivesse no
singular, uma vez que o verso seguinte demonstra que há várias facções sendo formadas na
igreja; uns se dizem de Paulo, outros de Apolo, outros de Cefas e ainda aqueles que se dizem
38
PAROSCHI, Wilson. Crítica Textual do Novo Testamento. 45. 2ª ed. 5ª reimpressão. Vida Nova. São Paulo :
2010.
23

de Jesus. Ainda, segundo o verso 11, quando Paulo afirma que “foi informado pelos da casa
de Cloe”, o termo utilizado para o problema está no plural: “contendas entre vós”. Se
fôssemos considerar a singularidade da palavra apresentada acima, o verso seguinte também
deveria apresentar a mesma mudança: Divisão e contenda entre vós.
Considerando, portanto, as informações mencionadas, somado ao fato de que nenhuma
tradução aderiu a esta sugestão, considerar-se-á, no presente trabalho, assim como os demais
tradutores, manter a palavra originalmente no plural, sem suprimir as letras μα, como fora
sugerido pelo papiro p46.

4.1.3. Comentário Exegético

σχίσματα (schismata) é o plural de sua raiz σχίσμα (schisma).


De fato, como se pode observar, esta palavra (σχίσματα), no plural, encontra-se apenas
nos escritos paulinos, os quais se encontram em 1 Coríntios 1:10 e 11:18. Sua raiz, porém, no
singular, encontra-se em: Mateus 9:16; Marcos 2:21, João 7:43, João 9:16, João 10:19 e 1
Coríntios 12:25.

4.1.3.1. Outra tradução para σχίσμα (schisma)

Champlin diz que “a igreja cristã de Corinto fora uma túnica inconsútil de unidade,
quando Paulo se encontrava entre eles; mas agora aquela comunidade estava desfacelada
pelas dissensões, as facções haviam produzido muitos rasgões”.
Ele usa este argumento, porque, segundo ele:

essa palavra, «dissensões», aqui usada, no original grego também significava «roturas» em peças
de pano. (Pode-se ver esse uso do termo em Marc. 2:21). Aqueles que não haviam respeitado a
unidade dos irmãos, na igreja, haviam rasgado impensadamente o pano da unidade cristã,
destruindo o tecido da harmonia que havia antes caracterizado aquela congregação local.

4.1.4. Análise Exegética

Na presente perícope Paulo insta os coríntios a não serem desunidos, e sugere que até
seus pensamentos e atitudes sejam em comum acordo. Calvino diz que,
24

“ao estimulá-los à harmonia, Paulo emprega três formas distintas de expressão. Primeiramente, ele
solicita que a concordância entre eles fossem em termos tais, que tivessem todos uma só voz. Em
segundo lugar, ele exige a remoção do mal pelo qual a unidade é espicaçada e destruída. Em
terceiro lugar, ele desvenda a natureza da genuína harmonia, a saber, que a harmonia recíproca
fosse na mente e na vontade 39.

Primeiro Paulo convida-os (v.10), chamando de irmãos, demonstrando ainda afeto,


apesar de tudo o que ouvira sobre eles. Ele demonstra que o vínculo não fora quebrado, apesar
das dificuldades que os irmãos tivessem apresentado. Em seguida Paulo apresenta o motivo
pelo qual ele estava prestes a lhes exortar: “Eu sei o que está acontecendo” (v. 11). Paulo
demonstra que, embora esteja longe, não está alheio às coisas que têm acontecido no meio da
igreja. Ele ainda se preocupa com a igreja que plantara. “Portanto, ele diz aqui, indiretamente,
que tinha consciência das dissensões e argumentações, fomentadas por uma atitude
condenável, que havia entre eles, o que provocava calorosas polêmicas entre irmãos na fé” 40.
Apresentando os fatos, ele demonstra que sabe de mais detalhes do que poderia
parecer. Assim, ele expõe cada facção que tem se levando na igreja, que poderia estar
provocando um racha interno, algo que, indiscutivelmente precisava terminar (v. 12).
Greathouse diz assim sobre as divisões e facções partidárias que ocorreram na igreja
naqueles dias:

a) O Grupo de Paulo. O grupo de Paulo era provavelmente uma combinação de crentes simples e
sinceros e a “velha guarda”, composta dos patriarcas fundadores, ou membros fundadores. Sua
preocupação pode ter sido basicamente espiritual. Mas o fato de eles exibirem o espírito faccioso
também indicava que podem ter desejado usar a sua condição de mais velhos para exigir
prioridade sobre a liderança da igreja. Ou podem ter tendido a fazer da liberdade em Cristo
pregada por Paulo uma desculpa para uma libertinagem não autorizada. De qualquer maneira,
Paulo não se deixou seduzir pela falsa lealdade desses coríntios em relação a ele 41.
b) O Grupo de Apolo. De acordo com Atos 18.24, Apolo era um homem eloqüente [sic], bem
instruído nas Escrituras. Com a grande ênfase sobre a expressão verbal em Corinto, era natural que
alguns tivessem preferido o eloqüente [sic] Apolo ao menos impressionante Paulo (2 Co 10.10).
Apolo era de Alexandria, e pode ter tido uma formação intelectual interessante que, acrescida de
sua habilidade oratória, teria feito dele um pregador que atraía muitas pessoas 42.
c) O Grupo de Cefas. Aqueles que seguiam a liderança de Pedro eram judeus convertidos que
insistiam na idéia [sic] de que os cristãos deviam observar a lei judaica, ou eram gentios
convertidos que eram legalistas em sua abordagem da vida cristã 43.

Embora seja comum a afirmação de que possivelmente Pedro não tenha estado
presente na igreja de Corinto e que os simpatizantes dele tenham sido influenciados por
pessoas que levaram para lá o conhecimento sobre ele, quando olhamos para a História

39
CALVINO, 2003, 41.
40
CHAMPLIN, 1995, 12.
41
Ibid.
42
Ibid.
43
Ibid.
25

Eclesiástica de Eusébio de Cesaréia, podemos observar que o indício da presença de Pedro ali
é muito provável. Citando Dionísio, bispo de Corinto (que faz menção de que Paulo e Pedro
tiveram um martírio em ocasiões próximas), Eusébio diz o seguinte:

Que ambos sofreram martírio na mesma ocasião é afirmado por Dionísio, bispo de Corinto, em sua
correspondência escrita com os romanos, nos seguintes termos:
"Nisto também vós, por meio de semelhante admoestação, fundistes as searas de Pedro e de Paulo,
a dos romanos e a dos coríntios, porque depois de ambos plantarem em nossa Corinto, ambos nos
instruíram, e depois de ensinarem também na Itália no mesmo lugar, os dois sofreram martírio na
mesma ocasião." Sirva também isto para maior confirmação dos fatos narrados 44.

Assim fica evidenciado que Pedro também trabalhara na igreja de Corinto, motivo
pelo qual há um grupo faccioso na igreja que optou por se intitularem “de Cefas”.

d) O Grupo de Cristo. Embora alguns estudiosos debatam a questão, parece válido aceitar um quarto
grupo chamado de “grupo de Cristo”. William Baird declara três possíveis descrições deste grupo.
1) O grupo de Cristo era uma facção judaizante composta por convertidos de Tiago, o irmão do
Senhor; 2) O grupo de Cristo era um grupo libertino, consistindo de pessoas que queriam completa
liberdade ética e religiosa, sem que uma autoridade apostólica fosse exercida sobre eles; 3) O
grupo de Cristo era uma facção de gnósticos que adoravam exibir seu conhecimento e exigiam a
liberdade de pensamento e de ação 45.

Greathouse diz que “professar o nome de Cristo em meio a discórdias, rixas e divisões
é, na realidade, despedaçar a Cristo” (v.13). E diz, ainda, que “as divisões, na verdade negam
o senhorio de Cristo”. Então, citando João Calvino, ele diz: ‘Porque Ele só reina em nosso
meio quando Ele é o meio de nos unir em uma união inviolável’.
Do verso 14 ao 17 Paulo deixa bem claro que o centro de tudo não é ele. Ele procura
não chamar a atenção para o que ele fez enquanto pregava o evangelho. Assim, ele declara
que Cristo não está dividido (v.13) e que não foi ele [Paulo] quem foi crucificado por eles, e
nem mesmo as coisas que ele fazia poderia ser contada como meritória para tal grupo ficar
“dizendo que pertencia a ele ou a qualquer outro pastor que tivesse passado por lá”. Pois a
pregação do evangelho não era feita com sabedoria de palavra, pois senão, os méritos de
quem pregava poderia anular a cruz de Cristo (v. 17).
Conclui-se que a presente perícope divide-se assim:
(v. 10) Piedade pastoral de Paulo46;

44
CESARÉIA, Eusébio de. História Eclesiástica. Livro II. XXV. VIII. [trad.] Wolfgang Fischer. Edição [nd].
Novo Século. São Paulo : 1999.
45
CALVINO apud GREATHOUSE, et al., 2006, 251.
46
Calvino diz que, “agora, após preparar suas mentes para receberem correção [v.1-9], agindo como um bom e
experiente cirurgião que toca a ferida gentilmente quando um doloroso medicamento precisa ser aplicado, então
Paulo passa a tratá-los com mais severidade. Não obstante, mesmo aqui ele usa uma boa dose de moderação”.
CALVINO, 2003, 41.
26

(v.11-12) Confrontando os problemas da igreja;


(v.13) Cristo não está dividido;
(v.14) Os méritos são todos de Cristo.

4.1.5. Análise Teológica sobre o problema das divisões

Rogo-vos, irmãos, pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que faleis todos a mesma
coisa e que não haja entre vós divisões; antes, sejais inteiramente unidos, na mesma
disposição mental e no mesmo parecer [1Co 1:10 ARA].
Os evangelhos sinóticos apresentam uma conversa de Jesus, quando Ele é acusado de
expulsar demônios por meio de Belzebu. Ele prontamente esclarece que um reino divido não
subsiste:
“Jesus, porém, conhecendo-lhes os pensamentos, disse: Todo reino dividido contra si
mesmo ficará deserto, e toda cidade ou casa dividida contra si mesma não subsistirá” [Mateus
12:25 ARA].
“Se um reino estiver dividido contra si mesmo, tal reino não pode subsistir; se uma
casa estiver dividida contra si mesma, tal casa não poderá subsistir” [Marcos 3:24-25 ARA].
“E, sabendo ele o que se lhes passava pelo espírito, disse-lhes: Todo reino dividido
contra si mesmo ficará deserto, e casa sobre casa cairá” [Lucas 11:17 ARA].
A igreja de Corinto era uma igreja difícil, como já falamos. Se ela não tivesse mudado
de direção e de comportamento, como veremos, provavelmente teria sucumbido, assim como
Jesus deixou claro que acontece em uma casa dividida.
Em meados de 96 d.C. Clemente de Roma escreveu uma carta da igreja de Roma para
a igreja de Corinto com intenção bem clara:

A razão desta carta é totalmente clara desde o começo, e nos faz lembrar da igreja de Corinto que é
muito bem conhecida através das cartas de Paulo. Novamente os cristãos daquela cidade estão
divididos, e alguns deles tinham assumido uma atitude de rebeldia que preocupava os cristãos em
Roma, pois “‘o ignóbil’ levantava-se ‘contra o honrado’, aqueles de nenhuma reputação contra
aqueles de reputação, o insensato contra o sábio, ‘o jovem contra seus anciãos’.” Portanto, a carta
é principalmente prática na natureza, tratando dos vícios que causam divisões e das virtudes que
fortalecem a unidade, e tratando de outros assuntos teológicos apenas tangencialmente 47.

47
GONZÁLES, Justo L. UMA HISTÓRIA DO PENSAMENTO CRISTÃO - Do início até o Concilio de
Calcedônia. Vol. I, 46. [trad.] Paulo Arantes. 1ª ed. Cultura Cristã. São Paulo : 2004.
27

Eleutério foi bispo em Roma de 174 a 189 a.C. 48 Alguns anos antes, quando Aniceto
era bispo de Roma (154 – 165)49 e Eleutério era diácono, Hegesipo diz que os Coríntios
viviam a reta doutrina, mesmo depois de terem vivido outra sedição no ano 96 a.C. que teve
intervenção da igreja de Roma. Hegesipo conta que a igreja de Corinto permanecia nas
doutrinas que haviam aprendido até o tempo em que Primo foi bispo em Corinto. Eusébio de
Cesaréia conta assim a citação de Hegesipo:

1. Assim é, pois, que Hegesipo deixou-nos um monumento completíssimo de seu próprio pensamento
nos cinco livros de Memórias que chegaram a nós. Neles mostra como, realizando uma viagem a
Roma, esteve em contato com muitos bispos e como de todos eles recebeu uma mesma doutrina.
Será bom escutá-lo, depois que disse algumas coisas sobre a Carta de Clemente aos Coríntios,
acrescentar o seguinte:
2. “E a igreja dos Coríntios permaneceu na reta doutrina até que Primo foi bispo de Corinto. Quando
eu navegava para Roma, convivi com os Coríntios e com eles passei muitos dias, durante os quais
me reconfortei com sua reta doutrina.
3. E chegado a Roma, fiz-me uma sucessão até Aniceto, cujo diácono era Eleutério. A Aniceto
sucedeu Sotero, e a este, Eleutério. Em cada sucessão e em cada cidade as coisas estão tal como
pregam a lei, os profetas e o Senhor.” 50.

4.2. ANÁLISE VERSO 11

4.2.1. Apresentação do Problema

O manuscrito papiro “p46” 33 e o manuscrito uncial “C*” 104 sugerem que uma parte
do texto seja omitida. A parte que estes documentos sugerem omissão é do termo μου [mou] =
meu, que traduz a frase “meus irmãos”.
Deste modo, a frase ficaria assim: [11] Pois foi revelado para mim, sobre vós, meus
irmãos, por meio dos que são [da casa] de Cloe que há contendas entre vós.

4.2.2. Análise do Problema Apresentado

Como vimos, o papiro p46 foi escrito cerca do ano 200 d. C. e contém livro apenas das
Cartas Paulinas. É um papiro tradicionalmente considerado da categoria “Alexandrina”, e
categoria I-f (livre) da categoria Aland, porém, este papiro apresenta poucos manuscritos,
além daqueles explicitamente mencionados para a leitura, que diferem do texto majoritário.

48
http://www.ofielcatolico.com.br/2001/05/sucessao-apostolica-lista-de-todos-os.html [Acesso em: 02/12/2016].
49
Ibid.
50
HEGESIPO apud CESARÉIA, Eusébio de. História Eclesiástica. Livro IV. XXII. I-III. [trad.] Wolfgang
Fischer. Edição [nd]. Novo Século. São Paulo : 1999.
28

O manuscrito uncial “C*” também apresenta poucos manuscritos e, considerando


todos os tradutores que não consideraram omitir a referida palavra, seguiremos suas escolhas,
bem como a escolha dos Aland que é a de manter a palavra meus. Permanecendo, portanto a
palavra μου, sem alterar em nada o sentido do texto.
Possivelmente, olhando a grosso modo, poderíamos supor que o texto não perderia
nada tirando o termo meus. Porém, se seguirmos a estrutura do texto de Paulo, onde podemos
perceber a sua intenção de se mostrar mais próximo e mais aberto aos irmãos de Corinto,
perceberemos que o termos meus irmãos, vem para dar uma ênfase no que ele já havia dito
antes: “Rogo-vos, irmãos”... Na segunda vez que Paulo os chama de irmãos ele inclui o termo
meus conotando ainda maior proximidade e intimidade com aqueles que haveriam de ler a sua
carta.
Assim sendo, compreende-se como havendo maior importância na permanência do
termo do que sua omissão, assim como fizeram todos os tradutores. Por isso, o termo “meus
irmãos” também não será omitido neste trabalho.
29

5. APRESENTAÇÃO CRISTOLÓGICA NA CARTA

Champlin apresenta-nos uma considerável análise de como Paulo enfatizava Cristo em


sua carta 51:
a. Cristo é o centro da mensagem da carta, do princípio ao fim (ver I Cor. 1:3).
b. Cristo é o alvo final da criação (I Cor. 8:6).
c. Cristo é o alvo supremo da vida (I Cor. 15:28).
d. Cristo é o verdadeiro Deus (I Cor. 8:4-6).
e. Cristo é o poder que sustenta a natureza (I Cor. 3:6).
f. Cristo é quem ordena providencialmente os acontecimentos entre os homens. (I Cor.
4:9; 7:7 e 12:6).
g. Os homens jamais conheceram a Deus por sua própria sabedoria, mas podem vir a
conhecê-lo por meio de Cristo, a própria Sabedoria de Deus (I Cor. 1:21).
h. É Deus que se achega aos homens, em busca deles, e não ao contrário (I Cor. 1:27).
i. Aqueles que se achegam a Deus, recebem a revelação de seus mistérios, por
intermédio do Espírito Santo. (I Cor. 2:10 e 4:1).
j. A vida eterna, por meio da ressurreição, nos é dada por meio de Cristo (ver I Cor. 15).
l. Cristo é o Juiz supremo, e espera a observância dos seus mandamentos. (I Cor. 4:5;
5:13 e 7:19).
m. Vários aspectos da redenção nos são oferecidos:

Cristo é a rocha, o sustentador, o supridor das necessidades espirituais (I Cor. 8:6 e 10:4); os
poderes das trevas têm sido derrotados por meio de sua morte e ressurreição (I Cor. 2:6); a morte
de Cristo significa a nossa redenção da servidão (I Cor. 6:20 e 7:23); os crentes fazem parte do
corpo místico de Cristo (I Cor. 6:15 e 12:12). A ressurreição (o que provavelmente inclui as idéias
[sic] da ascensão e da glorificação de Cristo, o que é comum nas páginas do N.T.) garante a
verdadeira vida eterna para os crentes, e o décimo quinto capítulo desta carta é a mais completa
declaração que possuímos sobre esse tema.

51
CHAMPLIN, 1995, 05.
30

6. CONCLUSÃO

Paulo teve grandes dificuldades no meio das igrejas na qual ele pastoreou. Em umas
teve maiores dificuldades, em outras, menores. Mas quando olhamos para igreja de Corinto,
vemos que os irmãos de lá eram mais dados a contendas e dificultavam mais as coisas para os
líderes daquela igreja. Evidentemente a dificuldade não era apenas para Paulo, pois quando
chegasse Apolo, aqueles que estivessem se denominando “de Paulo” ou “de Cefas”, ou “de
Cristo”, certamente dificultariam para ele, bem como haveria a mesma dificuldade para Pedro
e até mesmo para outro líder que viesse a apresentar-se naquela igreja, não sendo nem um dos
quais a igreja afirmava ser seguidora.
Todavia, não foi apenas no tempo de Paulo e dos demais apóstolos que a divisão na
igreja aconteceu. Podemos notar ainda em nosso tempo pessoas se levantando, umas contra as
outras dentro das igrejas locais, normalmente por motivos tão banais quanto aqueles
apresentados por Paulo no capítulo 1 verso 11 da primeira carta aos coríntios. São argumentos
de falsa piedade que diz “eu sou de Jesus, não de Calvino”. Ou então: “Calvino inventou essa
doutrina pecaminosa, essa doutrina de homens. Eu sou de Cristo e não me prendo a coisas que
os homens ensinam”... Esses argumentos são normalmente utilizados por pessoas que pensam
aparentar-se mais piedosas assim.
Outro exemplo, que não é novidade, em nossos dias, também, é quando um pastor de
determinada igreja rompe com ela e decide abrir sua “própria igreja”; vários membros vão
junto com ele e então começa uma guerra entre membros e ex-membros de igrejas que agora
se tornam rivais e torcedores dos ídolos de seus próprios corações.
Esses homens e mulheres são movidos pelo mesmo motivo que moveram aqueles
homens há quase dois mil anos; o desejo intrínseco do paganismo de se ter algo palpável para
“adorar”.
Precisamos nos lembrar do que disse Paulo acerca de Cristo: Não fomos enviados para
pregar com sabedoria de palavras, como se essa sabedoria em si pudesse convencer qualquer
31

pessoa dos seus pecados e pudesse convertê-las. Evidentemente nosso foco deve estar em
Cristo, e devemos dar o nosso melhor com todo o zelo e esmero na pregação da palavra. Da
mesma forma, quando se diz que o foco está sempre em Cristo, isso não supõe que aquele que
prega a palavra deva ser desprezado. Antes, ele deve ser feito participante nas coisas daquele
a quem ele instrui52. Façamos nossas as palavras de Calvino:

O primeiro passo, para servirmos a Cristo, é esquecer-nos de nós mesmos e pensar tão-só na glória
do Senhor e na salvação dos homens. Além do mais, ninguém jamais estará aparelhado para o
ensino se antes não for absorvido pelo poder do evangelho, de modo a falar não tanto com seus
lábios, mas com seu próprio coração53.

52
Gálatas 6:6 - Mas aquele que está sendo instruído na palavra faça participante de todas as coisas boas aquele,
que o instrui.
53
CALVINO, 2003, 17.
32

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

MACARTHUR, John. Bíblia de Estudo MacArthur. Sociedade Bíblica do Brasil.


Barueri : 2010.
CALVINO, João. 1 Coríntios. [trad.] Valter Graciano Martins. 2ª ed. Edições
Parakletos. São Bernardo do Campo : 2003.
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Século, São Paulo : 1999.
CHAMPLIN, Russell Norman. O NOVO TESTAMENTO INTERPRETADO -
VERSÍCULO POR VERSÍCULO - I Coríntios, II Coríntios, Gálatas, Efésios. Vol. IV. 9ª
Reimpressão. Editora Candeia. São Paulo : 1995.
DOUGLAS J. D. Novo Dicionário da Bíblia. 263, 3ª ed. 1ª reimpressão. Vida Nova.
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chegou até nós. [trad.] Oswaldo Ramos. Edição [nd]. Editora Vida. São Paulo : 1997.
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[nd] Mundo Cristão. São Paulo : [PDF].
GONZÁLES, Justo L. UMA HISTÓRIA DO PENSAMENTO CRISTÃO - Do início
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Comentário Bíblico Beacon - ROMANOS e 1 e 2 CORÍNTIOS. Vol. VIII. [trad.] Degmar
Ribas Júnior. 1ª ed. CPAD. Rio de Janeiro : 2006.
KISTEMAKER, Simon J. Comentário do Novo Testamento – Exposição da
Primeira Epístola aos Coríntios. [trad.] Helen Hope Gordon Silva. 1ª ed. Cultura Cristã. São
Paulo : 2003.
33

MORRIS, Canon Leon. I Coríntios - Introdução e Comentário. [trad.] Odayr


Olivetti. 3ª ed. Vida Nova & Mundo Cristão. São Paulo : 1986.
PAROSCHI, Wilson. Crítica Textual do Novo Testamento. 2ª ed. 5ª reimpressão.
Vida Nova. São Paulo : 2010.

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