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XVIII JORNADA CIENTÍFICA DOS CAMPOS GERAIS

Ponta Grossa, 28 a 30 de outubro de 2020

TEMPO DE TELA E A PRIMEIRA INFÂNCIA


Danielli Taques Colman1
Sirlei de Proença2

Resumo: O presente trabalho tem como objetivo refletir sobre questões acerca da exposição precoce
de crianças em frente às telas, bem como os prejuízos que podem ocasionar aos infantes da primeira
infância. Pautando-se para o estudo as diretrizes da Organização Mundial da Saúde e da Sociedade
Brasileira Pediátrica que definem o tempo de tela ideal para cada faixa etária. Utilizou-se para isso a
metodologia exploratória com base em referências bibliográficas, sendo considerada a pesquisa como
qualitativa.

Palavras-chave: Tecnologia, aprendizagem, desenvolvimento infantil.

Introdução
Não é raro percebermos que a tecnologia, é utilizada para suprir a necessidade
de interação e cuidados a mais com as crianças. Facilmente nos depararmos com
situações corriqueiras nos shoppings, restaurantes, passeios em que os pequenos estão
em posse de telas. Hoje, quando se deseja ter alguns momentos de tranquilidade,
rapidamente os pais recorrem aos meios tecnológicos como forma de acalmar e entreter
seus filhos. Mas seria correta essa inserção tecnológica de maneira tão precoce?
Na primeira infância, período desde o nascimento até os seis anos, a criança
possui marcos evolutivos importantes para o seu desenvolvimento global. Desde o seu
nascimento até seu primeiro ano de vida, é o período que compreende a maior formação
de sinapses, ou seja, circuitos neurais ligados a neurônios que conduzem a informação
ao cérebro, sistema nervoso central e organismo. Nesta fase, percebe-se o dobro de
sinapses se comparada a um indivíduo adulto, isso ocorre porque esses circuitos
lançados vão para diversas atividades, pois ainda não foi definido um padrão.
À medida que as crianças são estimuladas, o cérebro percebe as conexões que
são mais utilizadas e dão forma a memória. As demais sinapses e neurônios que não
são utilizados, serão eliminados por meio da poda neural que é um processo natural do
cérebro o qual acontece durante toda a vida, como uma forma de manter a saúde do
mesmo.
A plasticidade cerebral, ou seja, a capacidade do cérebro de se adaptar ao longo
da vida, permite os seres humanos aprenderem coisas novas. Porém, em média até os
quatro anos de idade a criança possui a chamada janela de oportunidade, que é o
período em que existe menos resistência ao aprendizado.

1
Pedagoga. Pós-graduada em educação especial com ênfase em Libras. Professora do quadro próprio
da Secretaria de Educação e Esporte do Governo do Paraná, atualmente membro do programa de tutoria
desempenhando as funções no Núcleo Regional de Ponta Grossa. E-mail: [email protected]
2
Pedagoga e bacharel em Direito. Pós-graduada em educação especial: atendimento às necessidades
especiais. Professora do quadro próprio da Secretaria de Educação e Esporte do Governo do Paraná. E-
mail: [email protected]
Diante disso, percebe-se que o uso inadequado das tecnologias pode gerar
graves impactos na aprendizagem das crianças, o tempo demasiado em frente às telas,
repercute em problemas relacionados a saúde, sócio emocionais e cognitivos. Tais
prejuízos serão observados mais claramente no período escolar.
Se por um lado tem-se uma gama de oportunidades nas quais os alunos podem
conduzir a sua própria aprendizagem por meio de pesquisas na internet ou mesmo
assistindo programas educativos, instrutivos em canais de redes sociais, ao se permitir
essa interação mediada pelas telas é importante a vigilância dos adultos, com
observância a classificação indicativa da faixa etária correta.

Objetivos
Refletir sobre a influência e os malefícios da exposição precoce às telas no
desenvolvimento infantil.

Metodologia
Para esse trabalho utilizou-se como metodologia a pesquisa exploratória, pois
“tem como objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-
lo mais explícito ou a constituir hipóteses” (GIL, 2002, p. 41).
Essa pesquisa pode ser considerada qualitativa e bibliográfica, tendo como fonte
primária os pareceres e guias elaborados pela Organização Mundial da Saúde (OMS),
pela Sociedade Brasileira Pediátrica, os estudos dos teóricos Wallon, Piaget e
Ajuriaguerra, além de artigos e dissertações que contemplavam o tema.

Resultados/Resultados parciais e discussão


Diante do cenário atual de pandemia do COVID-19, no qual todas as pessoas
foram impactadas e se viram obrigadas a permanecerem em suas casas, as escolas e
mesmo o lazer foi trazido para frente das telas, vindo a tona o questionamento dos
possíveis prejuízos que essa exposição excessiva as telas podem causar no
desenvolvimento infantil.
No ano de 2019 a Organização Mundial da Saúde (OMS) lançou diretrizes, que
buscam melhorar a qualidade de vida para a população infantil, contemplando crianças
menores de 5 (cinco) anos. Destacando que bebês menores de 1 (um) ano não devem
ser expostos a qualquer tipo de tela. Crianças com 2 (dois) anos a 4 (quatro) anos o
tempo em tela não deveria ultrapassar uma hora, recomendando que passem o menor
tempo possível. O guia sugere a minimização do tempo nas telas, evitando assim o
sedentarismo e demais comorbidades advindas da inatividade. Esses dados coletados
abrangem o uso total das tecnologias, seja para entretenimento ou estudo e englobando
todos os tipos de aparelhos eletrônicos como televisores, celulares, computadores.
A inatividade e passividade gerada pelas telas desde muito cedo, faz com que
as crianças tenham dificuldades na aquisição de habilidades básicas necessárias para o
desenvolvimento da escolarização. “Esse desenvolvimento se caracteriza por uma
maturação que integra o movimento, o ritmo, a construção espaço-temporal e o
reconhecimento dos objetos e das posições, além da imagem ou esquema corporal e da
atividade verbo-linguística” (MARINHO, 2007, p.88).
Estudiosos como Wallon, Piaget, Ajuriaguerra contribuíram com seus
apontamentos em dizer que a psicomotricidade tem relação direta com a aprendizagem
dos escolares na primeira infância. Pois o desenvolvimento da consciência corporal,
afetiva, cognitiva e motora são os fatores que estruturam a personalidades da criança.
Para que haja o despertar destas funções, a criança precisa explorar o mundo ao seu
redor, ampliando as suas possibilidades de interação, assim sendo, os adultos
envolvidos nesse convívio familiar, não devem tolher essa descoberta natural, impedindo
a mesma de encontrar obstáculos pela frente.
A Sociedade Brasileira Pediátrica (2019) alerta que o excesso de exposição a
telas, principalmente na primeira infância, repercute no atraso e desenvolvimento
cognitivo, na linguagem, atrasos sociais, descontrole emocional, alterações sociais e de
sono. Essas consequências negativas devem-se a exposição inadequada a conteúdos
impróprios, diminuição da interação com o outro e excesso de mídia cada vez mais
precoce.
A chamada geração Apha ou Z, os considerados nativos digitais, nasceram
permeados pelas tecnologias em que tudo acontece em um toque de tela, entretanto
para o desenvolvimento integral dos infantes os responsáveis devem delimitar o tempo
e a exposição frente às mídias.
Há uma preocupação crescente de que essa exposição aos eletrônicos possa
ter efeitos negativos no crescimento e desenvolvimento das crianças. Existem
evidências que mostram uma associação entre o tempo de tela com a obesidade,
sendo os mecanismos sugeridos um aumento na ingestão de energia, redução
do tempo disponível para a prática de atividade física ou mais diretamente
através da redução da taxa metabólica. Evidências indicam a ligação entre
tempo de tela elevado a efeitos deletérios sobre irritabilidade, humor negativo e
desenvolvimento cognitivo e socioemocional, consequentemente levando a
baixo desempenho educacional. Esses riscos não se limitam a crianças em idade
escolar, mas também a pré-escolares de 2 a 6 anos. (XIE [et. al], 2020)

Neurocientistas analisaram o impacto causado ao córtex cerebral em relação a


quantidade de tempo em frente às telas, nesta comparação conseguiram concluir por
meio de um exame chamado volumetria que quanto mais horas a criança passa em
frente a tela, mais fino é o seu córtex cerebral, o qual está diretamente relacionado ao
coeficiente de inteligência das pessoas.
Outro aspecto relevante quanto ao tempo de tela está relacionado a socialização
e interação com as demais pessoas, pois diversas crianças perdem o interesse por
brincadeiras e demais programas de lazer, visto que os programas interativos
apresentados são muito atrativos e televisivos são mais atrativos visualmente se
comparados aos brinquedos os quais o infante precisa usar toda a sua imaginação e
fantasiar a realidade.

Considerações finais
O uso das telas prolongado pode causar inúmeros danos à saúde, como por
exemplo: atraso na fala, dificuldades na aprendizagem, obesidade, problemas de sono,
visão, entre outros. A exposição de maneira demasiada não faz bem a nenhuma das
pessoas e tão pouco fará as crianças que encontram-se em processo de formação
neurológica, motora, psíquica e social.
Entretanto, não podemos negar que vivemos em um mundo midiático e que as
gerações atuais nascem cercadas das tecnologias, para tanto faz-se essencial a
administração do tempo e os limites a essa exposição.

Referências
MARINHO, H. R. B. [et. al.]. Pedagogia do movimento: universo lúdico e
psicomotricidade. Curitiba: Ibpex, 2007.167p

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Guidelines on physical activity, sedentary


behaviour and sleep for children under 5 years of age. 2019. Disponível em: <
https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/311663/WHO-NMH-PND-19.2-
eng.pdf?sequence=1&isAllowed=y>. Acesso em 01 de set 2020.

ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE


SAÚDE. Para crescerem saudáveis, crianças precisam passar menos tempo
sentadas e mais tempo brincando: OPAS/OMS, 2019. Disponível em: <
https://www.paho.org/bra/index.php?option=com_content&view=article&id=5919:para-
crescerem-saudaveis-criancas-precisam-passar-menos-tempo-sentadas-e-mais-tempo-
brincando&Itemid=839>. Acesso em 01 set 2020.

SOCIEDADE BRASILEIRA PEDIÁTRICA. Uso saudável de telas, tecnologias e


mídias nas creches, berçários e escolas. 2019. Disponível em:
<https://www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/21511d-MO_-
_UsoSaudavel_TelasTecnolMidias_na_SaudeEscolar.pdf>. Acesso em 01 set 2020.

XIE G.; DENG Q.; CAO J.; CHANG Q. Digital screen time and its effect on
preschoolers’ behavior in China: results from a cross-sectional study. 2020. Disponível
em: < https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC6979375/>. Acesso em 01 set
2020.

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