Covid19 Nutricao
Covid19 Nutricao
Covid19 Nutricao
Contudo, não existe evidência científica que defenda que algum alimento e/ou suplemento
possa prevenir ou tratar eficazmente o COVID-19.(3, 4) A European Food Security Authority
(EFSA) ainda não identificou ou autorizou qualquer alegação de saúde a um alimento ou
componente que seja considerado adequado para a redução dos fatores de risco de infeções,
suportando assim, esta afirmação.(5)
Outro aspeto que deverá ser considerado nesta pandemia é o isolamento social e as
consequências associadas ao mesmo, nomeadamente, a possibilidade de diminuição da
atividade física habitual bem como a alteração de hábitos alimentares, que poderá levar a um
aumento do peso corporal e, consequentemente, contribuir para incrementar a prevalência de
excesso de peso e obesidade, de si já elevadas no nosso país (segundo o Inquérito Nacional de
Alimentação e Atividade Física 2015-2016, cerca de 60% dos portugueses apresentavam pré-
obesidade ou obesidade). (6)
Esse excesso ponderal acarreta desafios físicos e psicológicos que poderão comprometer o
bem-estar, a qualidade de vida e a saúde dos indivíduos.(7-9) Para além disso, ter um Índice de
Massa Corporal superior ou igual a 40 kg/m2 é considerado fator de risco para a severidade da
COVID-19.(10) Apesar de ainda não se saber se esta relação é explicada pela existência de
outras co-morbilidades derivadas do excesso de peso (isto é, a obesidade aumenta a
probabilidade de existência de outras patologias como a diabetes e doença cardiovascular e
isso poderá explicar o seu efeito na severidade da doença) ou se esta relação é
independente.(11)
Como tal, durante esta pandemia em que o distanciamento social é aconselhado, os cidadãos
deverão continuar a seguir uma alimentação saudável, cumprindo as recomendações do guia
alimentar português, a Roda dos Alimentos (Figura 1). A alimentação deverá ser equilibrada
(comer maior quantidade de alimentos pertencentes aos grupos de maior dimensão e menor
quantidade dos que se encontram nos grupos de menor dimensão, de forma a ingerir o
número de porções recomendado), variada (comer alimentos diferentes dentro de cada grupo
variando diariamente, semanalmente e de acordo com a sua sazonalidade) e completa (comer
alimentos de cada grupo e beber água diariamente).
Até ao momento, não existe evidência científica que suporte a possibilidade de ocorrer
contaminação através do consumo de alimentos (sejam crus ou cozinhados).(12-15) Tendo
em conta experiências anteriores, com outros coronavírus semelhantes (nomeadamente com
o SARS-CoV e com o coronavírus MERS-CoV), a EFSA comunicou que a evidência “demostrou
que a sua transmissão não ocorreu através do consumo alimentar”.(13) A Organização
Mundial de Saúde (OMS) acrescenta que o coronavírus necessita de um hospedeiro (animal ou
humano) para se multiplicar, não podendo ocorrer a sua multiplicação em alimentos.(12)
O European Centre for Disease Prevention and Control defende que apesar de se suspeitar que
o novo coronavírus seja de origem animal, atualmente a sua transmissão ocorre por contacto
próximo com pessoas infetadas pelo vírus, e também por superfícies ou objetos contaminados
(13), sendo que a evidência científica mais recente reporta que este vírus pode sobreviver até
72 horas no plástico e aço, até 4 horas em cobre e até 24 horas em cartão,(16) superfícies
estas muitas vezes utilizadas para preparar ou embalar alimentos.
Assim, e apesar do risco de transmissão por alimentos ser nulo à luz do conhecimento atual, o
reforço das boas práticas de higiene e segurança alimentar é aconselhado (14, 17), seja em
casa ou em estabelecimentos e unidades de restauração coletiva, nomeadamente:
Lavagem frequente e prolongada das mãos (com água e sabão durante 20 segundos),
seguida de secagem apropriada evitando a contaminação cruzada (por exemplo fechar
a torneira com uma toalha de papel ao invés da mão que a abriu enquanto não
higienizada);
Uso frequente de desinfetantes à base de álcool;
A desinfeção apropriada das superfícies de trabalho e das mesas com produtos
apropriados;
Evitar a contaminação entre alimentos crus e cozinhados;
Cozinhar e ”empratar” a comida a temperaturas apropriadas;
Lavar adequadamente os alimentos crus;
Evitar partilhar comida ou objetos entre pessoas durante a sua preparação, confeção e
consumo;
Durante a preparação, confeção e consumo adotar as medidas de etiqueta
respiratória1.
Os colaboradores de produção alimentar deverão ainda manter distância física entre si
(pelo menos 1 metro) e estar atentos a possíveis sintomas.(12)
Até ao momento, e tendo em conta a evidência disponível, não existe transmissão vertical
do vírus SARS-CoV-2 no período neonatal através da amamentação, sendo que as amostras
analisadas de leite materno de mulheres infetadas com COVID-19 deram negativo para o vírus
1
não utilizar as mãos ao espirrar ou tossir, mas sim utilizar um lenço de papel ou o antebraço.
SARS-CoV-2.(18, 19) No entanto, e dada a reduzida dimensão amostral dos estudos
disponíveis, estes dados deverão ser interpretados com precaução. Estudos realizados com
outros vírus respiratórios suportam a evidência de que não existe transmissão através do
aleitamento materno, sendo este seguro, sempre que a condição clínica da mãe o permitir.
(20)
Dados os benefícios do aleitamento materno (21), tanto para a mulher como para o seu filho,
e dada a aparente evidência de não existência de transmissão da doença através desta via,
torna-se importante reforçar a sua prática. Entidades como a OMS/UNICEF,(22) o Royal
College of Obestetricians & Gynecologists(23) e o Centro de Controlo e Prevenção da Doença
dos Estados Unidos(24) encorajam a alimentação exclusiva por aleitamento materno mesmo
em mães diagnosticadas com COVID-19.
Lavar as mãos frequentemente com água e sabão durante, pelo menos, 20 segundos,
antes e depois de cada mamada;
Usar uma máscara facial durante a amamentação;
Evitar tocar na boca, nariz e olhos do bebé;
Limpar e desinfetar os objetos e superfícies usados frequentemente;
Se a mãe optar por extrair o leite com uma bomba manual ou elétrica, deve lavar as
mãos com água e sabão antes de tocar em qualquer parte da bomba ou do biberão e
seguir as recomendações para uma limpeza e desinfeção adequadas da bomba após
cada utilização;
Sempre que a condição clínica da mãe estiver muito debilitada, esta deve ser
incentivada a extrair o leite e a não amamentar diretamente.
Referências
1. Gombart AF, Pierre A, Maggini S. A Review of Micronutrients and the Immune System-
Working in Harmony to Reduce the Risk of Infection. Nutrients. 2020;12(1).
2. Maggini S, Pierre A, Calder PC. Immune Function and Micronutrient Requirements
Change over the Life Course. Nutrients. 2018;10(10).
3. The European Food Information Council (EUFIC). Food and coronavirus (COVID-19):
what you need to know. Disponível em: https://www.eufic.org/en/food-safety/article/food-
and-coronavirus-covid-19-what-you-need-to-
know?fbclid=IwAR2FFo4LviPfmVaaQ77Hjrj9nDQvcxfmfktZtSWJEcyCNATFLhihbVyfKBs [citado a
7 abril 2020].
4. British Dietetic Association. There is no diet to prevent Coronavirus. Disponível
em: https://www.bda.uk.com/resource/there-is-no-diet-to-prevent-coronavirus.html [citado
a 7 abril 2020].
5. Direção-Geral de Saúde. Da emergência de um novo vírus humano à disseminação
global de uma nova doença - Doença por Coronavírus (COVID-19). COVID-19: Gravidez e
aleitamento materno; 2020. [citado a 12 abril 2020]. Disponível
em: http://asset.youoncdn.com/ab296ab30c207ac641882479782c6c34/79bcc2ee6872d230aa
77d74a1b0cd573.pdf.
6. Oliveira A, Araújo J, Severo M, Correia D, Ramos E, Torres D, et al. Prevalence of
general and abdominal obesity in Portugal: comprehensive results from the National Food,
nutrition and physical activity survey 2015-2016. BMC Public Health. 2018;18(1):614.
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10. Centers for Disease Control and Prevention. Coronavirus Disease 2019 (COVID-19):
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novo vírus humano à disseminação global de uma nova doença - Doença por Coronavírus
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ncov%2Fprepare%2Fpregnancy-breastfeeding.html.