Direito Processual Civil Ii
Direito Processual Civil Ii
Direito Processual Civil Ii
OBJETO DO PROCESSO
● O estudo do objeto no Processo Civil surge com o princípio do dispositivo, ou seja, ao ser definido pelas partes, o
objeto não pode ser modificado pelo tribunal. Este não pode apreciar factos não invocados e, ao mesmo tempo, não
pode deixar de se pronunciar relativamente aos factos alegados (A.615º1/d CPC);
● Quanto aos factos relevantes para a decisão da causa, o regime é o seguinte:
1. Os factos essenciais (os que integram a causa de pedir e em que se baseiam as exceções – A.5º1 CPC)
devem ser alegados pelas partes e não podem ser investigados pelo tribunal;
2. Os factos complementares que resultem da instrução e decisão da causa só podem ser utilizados pelo
tribunal se a parte interessada der o seu assentimento (A.5º2/b CPC);
3. O tribunal pode considerar os factos instrumentais que resultem da instrução da causa (A.5º2/a CPC);
4. O tribunal poderá ainda considerar os factos notórios e aqueles de que tenha conhecimento por virtude
do exercício das suas funções (A.5º2/c CPC).
1) PEDIDO
● O processo inicia-se com a apresentação da petição inicial (A.552º), considerando-se a ação proposta logo que o
ato é ou se tem por praticado (A.259º1). Constitui-se assim a instância como relação jurídica entre o autor e o
tribunal, dizendo-se a partir daí pendente a ação, e é impedida a caducidade do direito, através dela feito valer, que
só judicialmente possa ser exercido (A.331º1 CC);
● A iniciativa do autor é insubstituível, pois só a ele cabe solicitar a tutela jurisdicional, que não pode ser
oficiosamente concedida (A.3º1). Assim, tem que ser o autor a requerer a providência jurisdicional adequada a
reparar a violação consumada, prevenir a violação ameaçada, declarar a existência ou inexistência do direito ou do
facto, ou alterar as situações jurídicas das partes em conformidade com o direito exercido;
● O autor formula, assim, na petição inicial, o pedido (A.552º1/e). O pedido é a forma de tutela jurisdicional que é
requerida para uma situação jurídica. No âmbito do processo declarativo, essa tutela pode visar a apreciação da
existência ou inexistência de um direito ou de um facto (A.10º3/a CPC), a condenação na realização de uma
prestação (A.10º3/b CPC) ou a constituição, modificação ou extinção de uma situação jurídica (A.10º3/c CPC);
● O pedido do autor condiciona o conteúdo da decisão de mérito, com que o tribunal lhe responderá: o juiz, na
sentença, “deve resolver todas as questões que as partes tenham submetido à sua apreciação”, não podendo
ocupar-se de outras (A.608º2), e “não pode condenar em quantidade superior ou em objeto diverso do que se pedir
(A.609º1), sob pena de nulidade (A.615º1/d) e e));
● O pedido apresenta-se duplamente determinado:
1. Por um lado, o autor afirma ou nega uma situação jurídica subjetiva ou um facto jurídico de direito
material, ou manifesta a sua vontade de constituir uma situação jurídica nova com base num direito
potestativo. O pedido deve referir-se à tutela de uma situação jurídica de direito material. Por exemplo, o
autor não pode requerer apenas o reconhecimento da legitimidade processual: esta situação equivale à
falta do pedido e origina a ineptidão da petição inicial (A.186º2/a). Pelo contrário, o réu já poderá
formular um pedido relativo a um efeito meramente processual: é o que sucede quando, por exemplo,
pede a absolvição da instância com base na verificação de uma exceção dilatória (A.576º2).
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2. Por outro lado, requer ao tribunal a providência processual adequada à tutela do seu interesse. Isto
pressupõe a possibilidade da tutela jurisdicional, ou seja, exige que a situação alegada pela parte tenha
relevância jurídica e possa obter, em abstrato, uma tutela jurisdicional. Assim, não é admissível um
pedido através do qual a parte pede o cumprimento pelo réu de uma conduta pertencente, por exemplo, à
ordem moral ou à ordem do trato social. Esta impossibilidade abstrata de tutela jurisdicional justifica, se
existir despacho liminar (A.226º4 CPC), o indeferimento liminar da PI pela insusceptibilidade de
procedência do pedido formulado.
IDENTIDADE DO PEDIDO
● A identidade entre vários pedidos depende da identidade dos efeitos jurídicos decorrentes desses pedidos (581º);
● Dois pedidos são idênticos quando os efeitos produzidos pela sua procedência forem coincidentes, total ou
parcialmente (Ac. STJ 15/03/2001). Assim, por exemplo, são idênticos dois pedidos de condenação na realização
de uma mesma prestação, tal como o são, embora apenas parcialmente, o pedido de apreciação do direito de
propriedade e o pedido de reivindicação do mesmo prédio, porque a procedência do segundo pedido implica a
procedência do primeiro (A.1311º1 CC);
● Note-se que o critério que define a identidade dos efeitos jurídicos (e, consequentemente, do pedido) deve ser
jurídico, pelo que o objeto material pode ser distinto.
MODALIDADES DE PEDIDOS
1) PEDIDO ÚNICO ou MÚLTIPLO → A parte pode formular um pedido único ou múltiplo, em cumulação (A.555º) ou em
relação de subsidiariedade (A.554º). Há, além disso, lugar à dedução de pedidos alternativos (A.553º) quando o direito que
se quer fazer valer é, pela sua natureza ou origem, alternativo ou possa resolver-se em alternativa.
2) PEDIDO CERTO ou GENÉRICO → Em princípio o pedido tem de ser certo (prestação tem de ser individualizada ou
determinada). A prestação considera-se individualizada quando se reporta a um bem concreto (ex: automóvel x ou prédio y),
e determinada quando está definida na sua espécie e quantidade. A ratio desta exigência prende-se com a pretensão de que a
sentença, limitada pelo pedido, seja completa, executável e concretize definitivamente o conteúdo dos deveres e direitos das
partes. No entanto admitem-se exceções no A.556º:
1. Quando o objeto mediato da ação seja uma universalidade de facto (ex. biblioteca) ou de direito (ex.
estabelecimento comercial, herança…) → Nestes casos o objeto do pedido são vários direitos ou várias coisas
juridicamente tratadas como um conjunto com autonomia (ex: estabelecimento comercial é um conjunto de meios,
coisas, direitos… que se consideram agregados para o exercício do comércio). Se o autor pretende que lhe seja
reconhecido o direito a ⅓ da herança terá de apresentar um pedido genérico (não faria sentido exigir que
identificasse todos os bens que integram a universalidade que pretende);
2. Quando respeitar a danos indemnizáveis mas ainda não apurados → A quantificação dos danos pode ser inviável
no momento da propositura da ação, por exemplo, porque o processo danoso ainda está em curso ou porque ainda
não é possível identificar a extensão do dano. Permite-se, assim, que o autor peça a condenação do réu no que se
vier a liquidar em execução de sentença;
3. Quando a fixação do quantitativo esteja dependente de ato a ser praticado pelo réu → Ex: Ações propostas contra
administradores de patrimónios de terceiro (gestor de negócios, administrador de maiores acompanhados…).
A.941ºCPC - Processo especial de prestação de contas, em que se pede a alguém que preste contas da sua
atividade, e eventual condenação no saldo que venha a apurar-se;
4. Pedido de prestações vincendas (A.557º) → JMM diz que é um pedido genérico na medida em que a Lei permite
ao autor pedir a condenação nas prestações que se venham a vencer na subsistência da relação jurídica. Neste caso
pode ainda não estar definido o montante.
➔ Apesar do pedido ser genérico quando é deduzido, mais tarde tornar-se-á certo (acidente de liquidação - A.368ºss).
Se o juiz condenar em quantia a liquidar posteriormente, a liquidação faz-se em sede de ação executiva (A.609º2);
➔ E se o autor deduzir pedido genérico fora destas hipóteses? JMM defende que o juiz deve convidar o autor a
aperfeiçoar o articulado, tornando o pedido certo (A590ºCPC), mas se for, pela sua indeterminação, ininteligível,
verifica-se a ineptidão da petição inicial (A.186º2/a), o que pode fundamentar o indeferimento da PI;
4) PEDIDO DE PRESTAÇÕES VINCENDAS → Aquele em que a parte formula o pedido de condenação da contraparte
numa prestação cujo cumprimento ainda não é exigível, ou seja, em que a parte requer uma condenação in futurum (A.557º).
➔ Para efeitos de determinação do valor da causa, o valor do pedido de prestações vincendas cumula-se com o valor
do pedido referido às prestações vencidas (A.300º);
➔ Não se encontrando a obrigação ainda vencida, dever-se-á entender que a pretensão do autor não carece ainda de
tutela jurisdicional (e por isso, falta-lhe o interesse processual). Entende-se que o réu não deu causa a ação quando
a obrigação ainda não se encontrava vencida quando a ação foi proposta (A.535º2/b);
➔ Regra geral o pedido deve ter por objeto uma prestação certa e as obrigações já devem ter sido vencidas à data da
propositura da ação. Existem, no entanto, exceções: (A.557º)
1. Quando a obrigação foi dividida em prestações e o devedor incumpre uma ou mais → O incumprimento
de uma prestação vale como indício do incumprimento das demais, pelo que daí resulta o interesse
processual do autor exigir imediatamente o valor das prestações ainda não vencidas. Autor tem receio
justificado que merece tutela, sob pena de o autor ter de esperar pelo incumprimento das demais
prestações tendo de propor outr(s) ações quanto a essas (princípio da economia processual);
2. Quando se pretenda obter o despejo quando findar o contrato de arrendamento → Há uma dificuldade em
compatibilizar esta norma com a do A.610ºCPC;
3. Casos semelhantes em que a falta de título executivo na data do vencimento da prestação possa causar
grave prejuízo ao credor.
2. Doutrina Maioritária → Defende que o efeito restritivo do A.557º2 respeita aos casos em que a prestação
nem sequer está constituída (muito menos vencida - ex: obrigações sujeitas a condições ainda não
verificadas, ou obrigação do fiador antes do incumprimento do devedor-garantido), e só deverá
prosseguir se o autor tiver alegado na PI o grave prejuízo previsto na parte final do A.557º, e a ação só
deve proceder se este grave prejuízo tiver sido provado pelo autor (ex: prestação sujeita a condição
suspensiva ainda não verificada ou pedido de condenação do fiador ou avalista apesar do devedor
principal ainda não ter incumprido). Nos casos em que a prestação já está constituída, mas ainda não se
encontra vencida, então aplica-se o A.610º (podendo o autor colocá-la sempre como objeto do pedido -
não havendo qualquer restrição).
➔ A.610º → Tem de ser interpretado com algum cuidado: A ação pode ser proposta sem que a prestação se encontre
vencida, não impedindo que se conheça da sua existência, desde que o réu a conteste (nº1) - se o réu contesta a
existência da obrigação, passa a ser uma discussão no processo, pelo que o juiz tem de decidir pela existência ou
não. Se o réu não contestar a existência da obrigação (ou não contesta de todo, ou contesta algo diverso da sua
existência [ex: se está vencida ou não]), então o réu é condenado a satisfazer a prestação futura, embora seja o
autor condenado nas custas e a satisfazer os honorários do advogado do réu (nº3).
2) CAUSA DE PEDIR
● Não basta formular o pedido, o autor tem ainda de o fundamentar fáctica e juridicamente (A.552º1/d);
● A causa de pedir é constituída pelos factos necessários para individualizar a situação jurídica alegada pelo autor, ou
seja, é composta pelos factos constitutivos da situação jurídica por ele invocada (A.581º4);
● Situações jurídicas individualizadas por diferentes causas de pedir são sempre situações distintas:
1. Nas ações constitutivas, a causa de pedir é o facto que gera o direito potestativo que o autor invoca e
pretende exercer (A.581º4 CPC);
2. Nas ações reais, a causa de pedir é o facto que origina o direito real (A.581º4). Assim, nas ações de
reivindicação, a causa de pedir é o facto de que resulta a aquisição da propriedade;
3. Nas ações de simples apreciação, em que o autor afirma a existência de um direito seu, cabe a este a
prova dos factos constitutivos do seu direito (A.343º1 CC), bem como a sua alegação (A.584º2) pelo que,
sem prejuízo da dedução, sempre que possível, de reconvenção (mediante a formulação do pedido de
condenação do autor ou até de pedido de natureza constitutiva), a ação de simples apreciação mantém-se,
até à contestação, aberta a todos os eventuais factos constitutivos do direito do réu. Assim, ao autor só é
exigível, ao propor a ação, que alegue os factos que são do seu conhecimento;
● A procedência da ação depende da verificação dos factos alegados por uma parte e da não verificação dos factos
excecionados pela contraparte. Isto mostra que existe uma repartição do ónus de alegação entre o autor e o réu: ao
autor compete alegar os factos constitutivos da situação jurídica (A.552º1/d) e A.186º2/a) e ao réu cabe invocar os
factos impeditivos, modificativos e extintivos daquela situação (A.572º2 2ª parte);
● Pode assim concluir-se que nem todos os factos dos quais depende a procedência da ação integram a causa de
pedir: desta só participam os factos constitutivos da situação subjetiva invocada pela parte (factos essenciais);
● Sempre que há incumprimento do contrato, tem de se distinguir consoante aquilo que se está a pedir:
1) Se se pedir o cumprimento → A causa de pedir é a celebração do contrato, porque o direito de crédito
surge com a celebração do contrato (LF - como facto complementar poderemos ter o incumprimento);
2) Se se pedir a indemnização pelos danos resultantes do incumprimento do contrato → A causa de pedir é
o facto danoso. Tem sempre de se referir a celebração do contrato, uma vez que o dano resulta do
incumprimento do contrato, mas não será essa a causa de pedir (LF - poderá ser um facto complementar)
2. Teoria da Individualização Aperfeiçoada (MTS) → A causa de pedir é constituída apenas pelos factos necessários
à individualização do pedido do autor. Os factos complementares não integram a causa de pedir e a falta de um
facto complementar não gera ineptidão da petição inicial, apenas exige convite ao aperfeiçoamento (A.590º).
➔ Em relação aos factos complementares: constituem factos relevantes para a procedência da causa e, apesar de não
constarem da PI, a falta dos mesmos pode tornar a existência dos factos insuficiente para a procedência da causa;
➔ O autor terá a obrigação de conhecer todos os factos integrantes da causa de pedir? MTS entende que existem
factos que ele deve conhecer (factos relativos a ele próprio), contudo, existem alguns factos absolutamente
determinantes que o autor não terá de conhecer (factos relativos ao réu). A Lei constrói um meio de suprir este
desconhecimento através do A.7º2, onde se exige esclarecimento das partes perante o tribunal.
RELAÇÃO DE IDENTIDADE
1. IDENTIDADE TOTAL
● A identidade total entre dois ou mais objetos processuais verifica-se quando eles coincidem completamente no
pedido formulado e na causa de pedir alegada;
● Se for acrescida da identidade de partes, observa-se a exceção de litispendência, se as ações estiverem pendentes
simultaneamente (A.580º1 e A.581º1), ou de caso julgado, se essa pendência se verificar em momento distinto
(A.580º1 e A.581º1) → Ambas são exceções dilatórias (A.577º/i) que geram a absolvição da instância (A.278º1/e).
● Esta relação de prejudicialidade pressupõe que as partes de ambas as ações (prejudicial e dependente) sejam as
mesmas ou que, pelo menos, a eficácia da decisão proferida na causa prejudicial seja extensível às partes da causa
pendente. É, aliás, indiferente que a causa prejudicial tenha sido instaurada antes ou depois da ação dependente,
exceto se entre as ações se verificar uma situação de litispendência;
● Efeitos → O tribunal no qual foi instaurada a ação dependente pode ordenar a suspensão da instância, aguardando
a decisão da ação relativa ao objeto prejudicial (A.269º/c). Justifica-se essencialmente pela necessidade de evitar
decisões contraditórias e pela economia processual decorrente de uma única apreciação da mesma questão;
➔ A suspensão mantém-se até ao julgamento definitivo da causa prejudicial (A.276º1/c);
RELAÇÕES DE CONCURSO
● Verifica-se uma relação de concurso entre objetos processuais quando todos eles se referem a um mesmo efeito
jurídico. Assim, por exemplo, são concorrentes dois direitos potestativos que permitem a anulação de um mesmo
ato jurídico ou duas pretensões que se referem à mesma prestação;
● O concurso de objetos processuais pode verificar-se quanto a qualquer efeito jurídico. Por exemplo: a propriedade
sobre um imóvel pode fundamentar-se simultaneamente num contrato de doação e numa aquisição mortis causa;
● Modalidades:
1) CONCURSO STRICTO SENSU → O autor invoca duas situações jurídicas referidas a um mesmo efeito
jurídico, sendo o resultado pretendido obtido desde que a ação proceda quanto a um deles. Por exemplo:
se o autor alega, como fundamento do pedido de divórcio, a violação dos deveres conjugais (A.1779º1
CC) e a separação de facto durante mais de três anos consecutivos (A.1781º/a CC), o divórcio é
decretado se for procedente qualquer um destes fundamentos. Nesta situação, o concurso de objetos
processuais traduz-se numa relação de alternatividade entre esses objetos;
2) CONCURSO DE TÍTULOS DE AQUISIÇÃO → Por exemplo, o credor, que é igualmente o sacador de
uma letra de câmbio, invoca simultaneamente o contrato de mútuo e a relação cambiária como
fundamento do pedido de pagamento da quantia em dívida. As pretensões emergentes do contrato de
mútuo e da relação cambiária (que são concorrentes, porque se referem a uma mesma prestação) não são
autónomas entre si e, por isso, não podem ser consideradas alternativas. Neste caso ambas as pretensões
são declaradas improcedentes.
RELAÇÕES DE CUMULAÇÃO
● Verifica-se quando, num mesmo processo, são apresentados vários objetos processuais referidos a distintos efeitos
jurídicos. É a diferenciação entre estes efeitos que permite distinguir as hipóteses de cumulação objetiva das
situações de concurso de objetos processuais.
2. Compatibilidade Substantiva → Refere-se à concordância prática dos efeitos decorrentes dos objetos
cumulados (A.555º1 e A.186º2/c). A cumulação não é admissível se os efeitos resultantes de um ou
alguns dos objetos for incompatível com os efeitos provenientes de outro ou outros desses objetos.
Assim, não se pode cumular, por exemplo, o pedido de apreciação do direito de propriedade (plena)
sobre um imóvel com o pedido de reconhecimento do direito de usufruto sobre o mesmo imóvel, porque
a propriedade (plena) não é conciliável com o usufruto; também não é admissível a cumulação do pedido
de declaração de nulidade com o pedido de resolução do contrato. Se houver incompatibilidade
substantiva entre os objetos cumulados, há ineptidão da PI (A.186º2/c).
3. Conexão Objetiva – O A.555º1 não define, além da compatibilidade processual e substantiva entre os
objetos cumulados, qualquer outro pressuposto da cumulação simples. Não é exigida, nomeadamente,
qualquer conexão entre esses objetos. Porém, se esta conexão não é requerida, isso não significa que ela
não seja desejável (MTS). A apreciação de pedidos completamente distintos e autónomos implica uma
maior complexidade da instrução, discussão e julgamento da causa. Justifica-se, assim, a aplicação
analógica do A.37º4 aos casos em que os objetos cumulados não apresentam entre si qualquer conexão.
● Pressupostos Processuais:
➢ A pendência do objeto subsidiário desde o início da instância justifica que os pressupostos processuais
relativos a esse objeto devam ser apreciados nos momentos normais – que são o despacho liminar e o
despacho saneador – portanto, mesmo antes de se conhecer qual a decisão sobre o objeto principal.
CARACTERÍSTICAS
1) Materialidade → As exceções perentórias são exceções materiais (A.576º3), distinguindo-se assim das exceções
dilatórias, que são exceções processuais (A.576º2). Assim, as exceções perentórias derivam de normas substantivas
que definem efeitos contrários àqueles que decorrem das normas que fundamentam os efeitos pedidos pelo autor;
2) Alegação → O réu, quando alega uma exceção perentória, invoca um objeto distinto daquele que é apresentado
pela parte ativa e requer a sua procedência contra esta parte, comportando-se, desse modo, como um autor. Por
pressupor a invocação de certos factos e fundamentar um pedido de absolvição do pedido, a exceção perentória
está subordinada, tal como sucede quanto ao objeto definido pelo autor, ao princípio da disponibilidade das partes
(A.5º1). Assim, mesmo que os factos suscetíveis de constituir uma exceção perentória constem do articulado
apresentado pelo autor, o tribunal não pode extrair deles qualquer consequência se o réu não requerer, com base
nesses mesmos factos, a absolvição do pedido → Salvo a possibilidade de conhecimento oficioso (A.579º).
MODALIDADES
1) Extintivas → Aquelas que destroem as consequências jurídicas que decorrem do preenchimento da previsão legal
(ex: condição resolutiva, caducidade, direito de rescisão do contrato e todas as causas de extinção das obrigações);
2) Impeditivas → Aquelas que obstam ao preenchimento de uma previsão legal e que, por isso, impedem uma certa
consequência jurídica. Isto é, apesar de se verificarem todos os factos necessários para realizar uma determinada
previsão legal, existem certos factos que obstam a essa realização (ex: causas de nulidade do NJ, erro na
declaração, erro sobre a pessoa ou o objeto, dolo, causas de exclusão da culpa e da ilicitude…);
3) Modificativas → Os factos que integram as exceções modificativas não implicam a extinção do direito, mas impõe
condições para o seu exercício. Podem ser:
1. Definitivas → Excluem o exercício do direito para sempre (prescrição);
2. Temporárias → Invocação de que o direito do autor ainda não se constituiu: condição suspensiva
(A.270ºCC), exceção de não cumprimento (A.428ºCC), direito de retenção (A.754ºCC).
PEDIDO RECONVENCIONAL
● A reconvenção, ao contrário da defesa por exceção, constitui uma dedução de um pedido autónomo pelo réu contra
o autor → Autónomo porque o réu pede alguma coisa que não se reconduz ao pedido de absolvição da instância ou
do pedido (há um pedido contraposto pelo réu, constituindo-se uma espécie de nova instância: a 1ª decide o pedido
deduzido pelo autor e a 2ª decide o(s) pedido(s) deduzido(s) pelo réu). Aumenta a dificuldade do processo;
● A reconvenção está sujeita a pressupostos de admissibilidade, pelo que nem sempre o réu pode deduzir um pedido
contra o autor. Mas então e a preclusão? Tipicamente entende-se que a reconvenção não é obrigatória, pelo que o
réu não tem o ónus de a deduzir: ou seja, não se aplica à reconvenção o regime do A.573ºCPC (relativo à defesa
por impugnação e por exceção) - A existência de pressupostos de admissibilidade não colide com a proibição de
indefesa porque, como o réu não tem o ónus de reconvir, pode deduzir o pedido numa nova ação;
● Quando se deduz a reconvenção? - A.583º1 remete para os requisitos, relativos ao objeto, que se impõe ao autor
quando apresenta a PI. O Réu pode, em reconvenção, deduzir pedidos contra o autor (A.266º - derrogação do
princípio da estabilidade da instância disposto no A.260º);
● Réu cumula um objeto àquele que o autor tinha configurado. Mas nas relações de cumulação há o pressuposto de
admissibilidade da competência do tribunal → Será o tribunal competente para a ação, também competente para
conhecer da reconvenção? A.93º - O tribunal competente para a ação principal é competente para a reconvenção, se
também for competente em razão de nacionalidade, matéria e hierarquia (absolutamente competente). Se não for, é
o reconvindo absolvido da instância;
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No entanto, se o réu por acaso utilizar a réplica para alguma das situações previstas na Lei, pode aproveitar e responder lá
às exceções perentórias (economia proc.). Nada impede que o autor oponha uma contraexceção à exceção invocada pelo réu.
➢ O Nº4 consagra que não impede a modificação da instância o facto de, além de haver uma modificação
do objeto processual, também haver uma modificação subjetiva do processo (sujeitos);
➢ O Nº5 refere que o caso de litisconsórcio necessário nunca impede a reconvenção, mas que no caso de
litisconsórcio voluntário o juiz deve permitir, salvo se houver “inconveniente grave” no processo -
Imposição do princípio da decisão célere (A.20º4 CRP);
➢ Tem-se admitido que a reconvenção é um dever sempre que o seu conteúdo esvazie a pretensão do autor
● Ex: é discutida a propriedade de x, em que o autor pede a condenação do réu na entrega de x,
invocando uma causa de aquisição derivada. Numa segunda ação, o antigo réu (e agora autor)
pede a condenação do réu na entrega de x, invocando que a adquiriu por usucapião;
● Faz sentido admitir uma segunda ação que esvazia o efeito útil da primeira? PCS defende que
há um ónus de reconvir e que, pelo princípio da boa-fé processual, não se deverá admitir a
segunda ação, na medida em que o réu tinha de ter reconvindo essa pretensão na primeira ação,
para que o autor se pudesse defender e para que a primeira ação não fosse esvaziada de efeito.
● O despacho saneador é único, aprecia tanto a ação principal como a reconvenção, verificando os pressupostos da
ação, reconvenção e de compatibilidade entre ambos. Também a sentença é única: aprecia ambas as questões;
● Por causa da sequência processual única (condensação, instrução e decisão), é necessário que as formas
processuais de ambos os pedidos sejam compatíveis e que o tribunal seja absolutamente competente para conhecer
de ambos. Se o tribunal for competente para o pedido do réu (reconvenção) e incompetente para o pedido do autor
(ação principal) pode conhecer da reconvenção porque este é um pedido autónomo do pedido instaurado pelo
autor, e baseando-se no princípio da economia processual? Se o pedido do réu não estiver dependente do pedido
formulado pelo autor, então o tribunal pode conhecer dele (A.266º6).
● Admissibilidade
➢ O regime da invocação de factos passados e conhecidos, que a parte poderia ter alegado e não alegou, é
mais restritivo que os factos supervenientes. Por isso, é aceitável que a cumulação sucessiva baseada em
factos supervenientes não deva ficar sujeita aos condicionalismos definidos no A.265º, para a alteração
do pedido e causa de pedir;
➢ Por isto, a cumulação de um novo objeto baseado em factos supervenientes é sempre admissível até ao
encerramento da fase da discussão e julgamento (A.588º1);
➢ Se os factos não forem supervenientes, a cumulação sucessiva só é admissível nas condições referidas
nos A.264º e A.265º, analogicamente;
➢ Se houver acordo das partes, a cumulação sucessiva é admissível em qualquer momento, salvo se entre o
objeto inicial e o objeto cumulado não houver qualquer conexão e essa falta perturbar
inconvenientemente a instrução, discussão e o julgamento da ação;
➢ Se não houver acordo entre as partes, a cumulação de uma nova causa de pedir só é admissível dentro
dos condicionalismos referidos no A.265º1 do CPC;
➢ A cumulação é admissível na réplica, mas para que o autor possa apresentar este articulado, é necessário
que o réu tenha invocado uma exceção ou deduzido um pedido reconvencional na contestação, pelo que
o objeto cumulado tem de apresentar uma certa conexão com essa exceção ou reconvenção.
● Pressupostos Processuais:
1. Compatibilidade Processual → Refere-se à competência absoluta do tribunal e à identidade de formas de
processo para todos os pedidos cumulados (A.37º1). Quanto à competência internacional, há que
considerar que, dentro do âmbito de aplicação do Reg. 1215/2012, ela pode ser aferida segundo o A.8º1:
o requerido com domicílio num dos EM pode ser demandado, se houver vários requeridos, perante o
tribunal do domicílio de qualquer deles. A coligação também exige que a forma do processo seja idêntica
para todos os pedidos cumulados (A.37º1). Deste modo, a coligação não é admissível se a um ou alguns
dos pedidos corresponder processo comum e a outro(s) corresponder a forma de processo especial ou se
aos pedidos cumulados corresponderem diferentes processos especiais.
3. Conexão Objetiva → Refere-se à existência de uma relação entre os vários pedidos cumulados. São dois
pedidos diferentes e, por isso, a coligação só é possível se existir uma conexão entre os dois pedidos,
caso contrário não faria sentido juntar os dois numa única ação. Como motivos de conexão objetiva entre
os pedidos cumulados a lei estabelece os seguintes:
1) A identidade da causa de pedir dos vários pedidos (A.36º1 1ª parte);
2) A prejudicialidade de um dos pedidos cumulados em relação aos demais (A.36º1 2ª parte);
3) A apreciação, como causa de pedir dos pedidos formulados, de factos essencialmente idênticos
(A.36º2 1ª parte);
4) A aplicação das mesmas normas jurídicas na apreciação da fundamentação dos pedidos
cumulados (A.36º2 2ª parte);
5) A aplicação de cláusulas contratuais totalmente análogas na apreciação da procedência dos
pedidos cumulados (A.36º2 3ª parte)
➔ A falta de conexão objetiva do A.36º é sanável nos termos do A.38º1: o juiz convida as partes a
escolherem qual é o pedido que vai subsistir, uma vez que não podem ser os dois conhecidos
na mesma causa. Se o vício não for sanado, o réu é absolvido da instância quanto a todos os
pedidos, uma vez que consubstancia uma exceção dilatória nominada (A.577º1/f).
● A.39ºCPC permite que se instaure o mesmo pedido subsidiariamente contra diversas pessoas, no caso de dúvida
fundamentada sobre o sujeito da relação controvertida (“bomba atómica de hipereficácia do sistema").
● Esta distinção tem relevância por causa do Princípio do Contraditório, porque se o réu não dá sinal de que tem
conhecimento de que o processo existe e está a decorrer, podemos ter situações de violação deste princípio que
atingirá fatalmente aquela decisão, ainda que já tenha transitado em julgado ou que já sirva de base a processo
executivo;
● Se não sabemos se o réu tomou conhecimento da proposição da ação, teremos de tomar todas as diligências. O
tribunal terá de fazer um controlo sobre a citação do réu: se concluir que a citação foi bem feita, o processo segue;
se concluir que não foi bem feita, ordena a sua repetição (A.566º);
REVELIA OPERANTE
● Se o réu não contestar, tendo sido ou devendo considerar-se citado regularmente na sua própria pessoa ou tendo
juntado procuração de mandatário judicial no prazo da contestação, consideram-se confessados os factos
articulados pelo autor na PI (A.567º1);
● Assim, os factos constantes da PI, porque não controvertidos, já não serão objeto de prova, visto que já se
consideram provados;
● Não tendo havido contestação, não há lugar a mais articulados e, estando os factos alegados provados, não há
também lugar à fase instrutória. Posto isto, passar-se-á imediatamente à fase da discussão do aspeto jurídico da
causa, visto que a matéria de facto está decidida. É então dada às partes a oportunidade de se pronunciarem sobre a
matéria de direito: o processo é facultado para exame, pelo prazo de 10 dias, primeiro ao advogado do autor e
depois ao advogado do réu, para alegarem por escrito, e em seguida é proferida a sentença, julgando a causa
conforme for de direito (A.567º2).
REVELIA INOPERANTE
● Nem sempre se verificam os efeitos da revelia operante. Existem exceções no A.568º;
● Trata-se da revelia inoperante, ou seja, dos casos em que a falta de contestação não determina que se considerem
confessados os factos articulados pelo autor na PI;
● Nos termos do A.568º são os seguintes os casos de revelia inoperante:
1) Quando, havendo vários réus, algum deles contestar, relativamente aos factos que o contestante
impugnar;
2) Quando o réu ou algum dos réus for incapaz, situando-se a causa no âmbito da incapacidade, ou houver
sido citado editalmente e permaneça na situação de revelia absoluta;
3) Quando a vontade das partes for ineficaz para produzir o efeito jurídico que pela ação se pretende obter;
(a ação diz respeito a relações jurídicas indisponíveis. São aquelas sobre as quais não exerce influência o
princípio da autonomia privada, como nas ações de estado em que a sentença deve obter a verdade
objetiva que resulta da adoção ou do parentesco; ou nas ações de investigação de maternidade ou
paternidade, por exemplo);
4) Quando se trate de factos para cuja prova se exija documento escrito. Exigindo a lei um documento
escrito para prova de determinado facto, não pode a falta de contestação ser considerada suficiente para
que tal facto seja tido como provado (conf. A.364ºCC).
2) PROVA BASTANTE
➢ A prova bastante (ou suficiente) é a que chega para fundamentar a convicção do juiz acerca da existência
de um determinado facto, mas que cede perante contraprova;
➢ Designa-se contraprova a atividade da parte contrária capaz de lançar no espírito do julgador a dúvida
acerca do facto que seja objeto de prova, invalidando-a. Se tal for conseguido, a questão é decidida
contra a parte onerada com a prova (A.346ºCC);
➢ Assim, se cabe ao autor o ónus de provar determinado facto, deve, por qualquer meio, convencer o juiz
da existência desse facto, de modo a que fique afastada qualquer dúvida. Se, porém, o réu fizer nascer, no
espírito do julgador, dúvida acerca da existência desse facto, isso basta para “neutralizar” a prova
produzida pelo autor. → No caso de dúvida, funciona a regra do ónus da prova;
➢ A “contraprova” é diferente da “prova em contrário”, porque a primeira não tem como fim a
demonstração de que certo facto não é verdadeiro, mas apenas criar a dúvida sobre a veracidade.
3) PROVA PLENA
➢ A prova plena é a que só cede perante prova do contrário, isto é, não basta neutralizar através da
contraprova, exige-se que o julgador seja convencido da existência do facto contrário;
➢ Assim, a prova legal plena só pode ser contrariada por meio de prova que mostre não ser verdadeiro o
facto que dela for objecto (A.347ºCC);
➢ Ex: os documentos autênticos fazem prova plena dos factos que referem como praticados pela autoridade
ou oficial público respectivo (A.371ºCC) → Neste caso, a força probatória dos documentos autênticos só
pode ser ilidida com base na sua falsidade (A.372ºCC).
ÓNUS DA PROVA
1) ÓNUS DA PROVA OBJETIVO (A.8º1CC e A.414ºCPC) → Respeita às consequências da não realização da prova,
isto é, da falta de convicção do tribunal sobre a realidade de um facto. A situação de dúvida insanável sobre a
realidade dos factos não isenta o tribunal do dever de proferimento de uma decisão (Proibição de Non Liquet -
A.8º1CC), pelo que, perante a dúvida irredutível sobre a realidade do facto que é pressuposto da aplicação de uma
norma jurídica, o tribunal decide como se estivesse provado o facto contrário (A.414ºCPC).
2) ÓNUS DA PROVA SUBJETIVO (A.342ºCC) → Prende-se com a distribuição do ónus da prova. As regras sobre o
ónus da prova definem a atuação das partes em juízo, sendo, por isso, regras de conduta. O A.342º1CC afirma que
àquele que invocar um direito cabe fazer a prova dos factos constitutivos do direito alegado, e o nº2 estabelece que
a prova dos factos impeditivos, modificativos ou extintivos do direito invocado compete àquele contra quem a
invocação do direito é feita.
➔ RELAÇÃO ENTRE OS DOIS → A decisão de um non liquet, de acordo com a regra do ónus da prova objetivo,
acompanha a repartição determinada pelo ónus da prova subjetivo, pois o tribunal, ao ficcionar como provado o
facto contrário daquele que devia ter sido provado, decide contra a parte onerada com a prova. É sobre a parte
sobre a qual recai a prova do facto segundo as regras do ónus da prova subjetivo que o ónus da prova objetivo faz
recair da falta ou insuficiência da sua prova.
● Casos Especiais:
❖ Em caso de dúvida, os factos devem ser considerados como constitutivos do direito (A.342º3 CC). Isto
significa que o facto deve ser qualificado como constitutivo quando houver dúvidas sobre se é de exigir a
sua prova (como facto constitutivo) àquele que alega o correspondente direito ou (como facto impeditivo,
modificativo ou extintivo) àquele contra o qual o direito é invocado. Isto porque se pretende, em
conjugação com a regra do A.342º1CC, impor a prova à parte que alega a situação subjetiva e não àquela
que a nega;
❖ O A.343ºCC refere-se ao ónus da prova em casos especiais:
1. Ações de simples apreciação ou declaração negativa → Cabe ao réu provar os factos
constitutivos do direito que se arroga;
2. Prazo de caducidade → Nas ações que devam ser propostas dentro de certo prazo a contar da
data em que o autor teve conhecimento de certo facto, cabe, em princípio, ao réu a prova de
prazo já ter decorrido (A.343º2 CC). Ou seja, o prazo de propositura da ação é considerado
pela perspetiva do seu decurso e, por isso, é qualificado como um facto extintivo;
3. Condição e Termo → Se o direito invocado pelo autor estiver sujeito a condição suspensiva ou
a termo inicial, cabe-lhe a prova de que a condição se verificou o ou o termo se venceu, mas se
o direito estiver sujeito a condição resolutiva ou a termo final, incumbe ao réu provar a
verificação da condição ou o vencimento do prazo (A.343º3 CC).
● De acordo com o A.344º CC, existem várias hipóteses de inversão do ónus da prova:
1) Presunção Legal → Quem beneficia de uma presunção legal, não tem de a provar (A.344º1 CC). A parte
apenas terá de provar o facto que está na base da presunção (facto probatório) e não necessitará de provar
o facto decorrente dela, a não ser que a parte contrária venha a ilidir a presunção (A.350º2);
2) Dispensa Legal (ou convencional) do Ónus da Prova → O ónus da prova inverte-se quando haja dispensa
ou liberação do ónus da prova (A.344º1 CC), que se verifica quando a Lei declara certo, um facto até
prova do contrário (ex. Na posse titulada presume-se a boa-fé do possuidor - A.1260º2 CC);
3) Frustração da Prova → Uma das partes impossibilita culposamente a prova do onerado (ex. se o médico,
demandado numa ação de responsabilidade civil, destruir a ficha clínica de que o autor se poderia servir
para fazer prova da inadequação do tratamento, é a si que incumbe a prova da sua adequação à situação
clínica do demandante). Pode ocorrer pelos seguintes motivos:
1. Destruição ou ocultação dos meios de prova (A.344º2 CC) - tornando a mesma impossível para
a parte onerada. A impossibilidade culposa da prova exige uma conduta negligente ou dolosa
da parte, que se pode verificar antes ou durante a pendência do processo;
2. Obstrução à própria constituição do meio de prova (A.357º2 CC) – a parte recusa-se a depor ou
a prestar informações ou esclarecimentos. A falta de prestação de prova será livremente
apreciada pelo tribunal, ainda que possivelmente de forma negativa. Assim, por exemplo: se a
parte recusa entregar um documento que (provadamente) se encontra em seu poder, haverá
inversão do ónus da prova (A.430ºCPC → A.417º2 CPC → A.344º2 CC).
MEIOS DE PROVA
AUTENTICIDADE
● Presume-se que o documento autêntico provém de autoridade ou oficial público, quando estiver subscrito pelo
autor com assinatura reconhecida pelo notário ou com o selo do respetivo serviço (A.370º1) → Esta presunção
pode ser ilidida mediante prova em contrário (nº2);
● Os documentos particulares autenticados têm a força probatória formal dos documentos autênticos, mas não os
substituem quando a lei os exija para a validade do ato (A.377º);
● Os documentos particulares, mesmo que se mostrem escritos e assinados pela pessoa a quem são imputados, é
necessário fazer prova da sua proveniência (prova esta que cabe à parte que apresenta o documento). A letra e
assinatura de um documento particular consideram-se verdadeiras quando: (A.374º)
1. Reconhecidas ou não impugnadas pela contraparte;
2. A contraparte declare não saber se a letra ou assinatura lhe pertencem (facto pessoal - deve saber);
3. A letra e assinatura sejam tidas legal ou judicialmente como verdadeiras.
FORÇA PROBATÓRIA
● Os documentos autênticos fazem prova plena dos factos que referem como praticados pela autoridade ou oficial
público respectivo, assim como dos factos que nele são atestados com base na percepção da entidade. Os meros
juízos pessoais do documentador só valem como elementos sujeitos à livre apreciação do julgador (A.371º1CC);
● Os documentos particulares (incluindo os autenticados), logo que apurado que eles provém da pessoa a quem são
atribuídos, provam plenamente que essa pessoa emitiu as declarações que dos mesmos constam, sem prejuízo da
arguição e prova da falsidade do documento (A.376º1).
➢ Apenas se consideram provados os factos contrários aos interesses do declarante (nº2), estando os
restantes sujeitos à livre apreciação do julgador 2;
➢ Importa frisar que se as declarações só em parte forem desfavoráveis ao declarante, a contraparte que
quiser aproveitar-se da parte favorável, terá de aceitar também a parte desfavorável, ou de provar que
essa parte não corresponde à verdade (nº2 in fine) → Indivisibilidade das declarações.
● Os documentos eletrónicos são bastante importantes, sendo qualquer conteúdo armazenado de forma eletrónica:
texto, imagem ou som. Existem várias equiparações legais dos documentos eletrónicos aos documentos escritos;
● Reproduções mecânicas (ex. Fotocópias ou fotografias) - a força probatória fica na escolha do decisor;
● Quando se requer a junção de documentos ao processo? Regra geral nos articulados (A.423ºCPC), porém é
permitido até 20 dias antes da audiência final, pagando multa (A.423º2), e ainda quando os documentos são
supervenientes;
● Cada parte pode requerer da outra a apresentação de certo documento(A.429º1). Se o notificado não apresentar o
documento, viola o princípio da cooperação (A.7º), podendo resultar em multas. Também os terceiros estão
sujeitos a este princípio (A.432º), estando vinculado a apresentar os documentos requeridos;
● O juiz pode oficiosamente que os documentos com utilidade probatória sejam juntados ao processo (A.436º e
A.437º) - princípio do inquisitório;
2
Ex: Se no documento escrito e assinado pelo réu, este declarar que recebeu 5,000€ de A e entregou 1,000€ a B, ter-se-á
como plenamente provado que ele recebeu os 5,000€ de A - porque o facto lhe é desfavorável - mas não ficará provado que
ele entregou os 1,000€ a B.
● A confissão judicial tem de ser requerida, normalmente, pela contraparte, mas também pode ser provocada pelo
juiz. Requere-se o depoimento de parte com o objetivo de lhe extrair a confissão (procura-se um confronto com a
verdade). Pode ser requerida logo nos articulados ou na audiência prévia (A.552º e A.598º1). Devem indicar-se
logo os factos sobre os quais o depoimento vai recair. Em regra tem lugar na audiência final (A.456º1), e parte
presta juramento (A.459º). A parte é inquirida pelo juiz (A.460º) e no final, os advogados das partes podem pedir
esclarecimentos (A.462º): há juízes que permitem que os advogados pedem esclarecimentos por intermédio dele,
ou diretamente à contraparte. O depoimento é reduzido a escrito (A.463º). A confissão tem força probatória plena
(A.358ºCC), isto é, o juiz terá de considerar como provados as alegações de facto objeto de confissão, e só não o
fará se demonstrar no processo a falsidade daqueles factos (se for produzida prova em contrário) - A.347ºCC.
● DEPOIMENTO DE PARTE
➢ À luz do A.356ºCC, a confissão judicial espontânea pode ser feita nos articulados ou em qualquer outro
ato do processo, pela parte ou por procurador especialmente autorizado;
➢ Fora dos articulados, a confissão pode ser feita por documento autêntico ou particular ou por termo no
processo. Não obstante, a confissão pode igualmente ser provocada → O juiz pode, em qualquer estado
do processo, determinar a comparência pessoal das partes para a prestação de depoimento sobre factos
que interessam à decisão da causa (A.452ºCRP), embora o depoimento de parte possa também ser
requerido por alguma das partes (nº2);
➢ Do depoimento prestado pelas partes, ou das suas informações ou esclarecimentos prestados ao tribunal,
pode resultar confissão de um ou mais factos (A.356ºCC). Os simples esclarecimentos ou afirmações que
não possam valer como confissão, podem valer como elementos probatórios, sujeitos a livre apreciação
do tribunal (A.361ºCC);
➢ Cada uma das partes pode requerer não só o depoimento da parte contrária, mas também o dos seus
compartes (A.453º3 CPC). Mas o réu só pode pedir o depoimento de parte do seu co-réu, se no processo
tiverem posições divergentes sobre um facto que favorece um e desfavorece o outro;
➢ A parte não pode requerer o seu próprio depoimento. O depoimento de parte só tem cabimento quando
incida sobre factos que são desfavoráveis ao depoente → O depoimento de parte é distinto da confissão,
visto que o primeiro é apenas um meio de provocar a confissão. Pode haver depoimento de parte sem que
haja confissão de qualquer facto;
➢ Só pode ser requerido o depoimento de parte que incida sobre factos pessoais ou de que o depoente deva
ter conhecimento (A.454ºCPC). Não é, porém, admissível o depoimento sobre factos criminosos ou
factos torpes de que a parte seja arguida (nº2). Como factos torpes devem entender-se os factos que,
embora não sejam criminosos ou ilegais, são todavia contrários à moral pública ou reprovados pelos bons
costumes. A parte não terá, assim, de ser colocada perante o dilema de ter de mentir ou ter de confessar
uma conduta de que se envergonha.;
➢ O depoimento também não pode recair sobre os factos referidos no A.354ºCC. → Nos casos em que a
confissão não faz prova contra o confitente, não pode ser requerido o depoimento de parte. Destinando-se
o depoimento de parte a obter uma confissão, se esta não é admissível relativamente a certas matérias, o
juiz deve indeferir o requerimento, pois isso seria um ato inútil e ilícito de realizar (A.130ºCPC);
➢ O depoimento deve ser prestado na audiência de discussão e julgamento, salvo se for urgente ou o
depoente estiver impossibilitado de comparecer no tribunal (A.456ºCPC);
➢ Se ambas as partes tiverem de depor perante o tribunal da causa, depõe em primeiro lugar o réu e depois
o autor. Se tiverem de depor mais de um autor ou de um réu, não poderão assistir ao depoimento de
qualquer deles os compartes que ainda não tenham deposto(A.458ºCPC);
➢ A recusa a prestar o juramento inicial no tribunal equivale à recusa de depor (A.459ºCPC);
➢ O tribunal apreciará livremente para efeitos probatórios, o valor da recusa de depor (A.357º2 CC);
➢ Atualmente, os advogados das partes podem pedir esclarecimentos ao depoente (A.462ºCPC). E se
algum advogado entender que a pergunta é inadmissível, pela forma ou pela substância, pode deduzir
oposição, que o juiz julgará, sem admissibilidade de recurso.
7) PROVA TESTEMUNHAL
● Testemunha é toda a pessoa que, não sendo parte na ação, nem seu representante, é chamada a narrar as suas
percepções sobre factos passados que interessam para a decisão (AV e JPA). Distingue-se do depoimento de parte
exatamente pela qualidade do depoente (que não é parte no litígio) - Estão impedidos de depor como testemunhas
os que na causa possam depor como partes (A.496ºCPC);
● A testemunha distingue-se do perito porque narra as suas percepções sobre factos passados e não as suas
apreciações sobre eles. E a testemunha-perito? Ocorre muitas vezes nos processos de negligência médica, em que a
testemunhas são muitas vezes médicos que não participaram naquela situação, mas vão tecer apreciações críticas
sobre a legis artis. Esta não é a função da testemunha, pelo que será uma figura híbrida (entre testemunha e perito).
Na prática é claramente admitida3, mas fará sentido essa admissão? Divergência Doutrinária;
● Têm capacidade para depor como testemunhas todos aqueles que, não estando interditos por anomalia psíquica,
tiverem aptidão física e mental para depor sobre os factos objeto da prova (A.495º1 CPC). Incumbe ao juiz
verificar a capacidade natural das pessoas arroladas como testemunhas (nº2);
● Podem recusar-se a depor como testemunhas as pessoas que tenham relação de parentesco, afinidade, casamento
ou união de facto em condições análogas às dos cônjuges com alguma das partes na causa, mesmo que o
casamento já tenha sido dissolvido ou a união de facto tenha terminado (A.497ºCPC) → Incumbe ao juíz advertir
essas pessoas que lhes assiste esta faculdade (nº2);
● Devem escusar-se a depor os que estejam adstritos ao segredo profissional, de funcionário público ou de segredo
do Estado, relativamente aos factos abrangidos pelo sigilo (A.497º3 CPC).
3
STJ acórdão de 22/02/96
PROVA ILÍCITA
● Toda a prova pode ser fundamento da decisão?
● O que é a prova ilícita?
1) Prova ilícita por vício processual (ex. Depoimento de parte como testemunha, prestação de depoimento
por testemunhas para além do número legalmente admitido…);
2) Prova ilícita porque adquirida através de ato ilícito
2) Admissibilidade da prova, mas com restrições, através de uma ponderação caso a caso;
➔ Acórdão TC 263/97 - Para provar violação de deveres conjugais, foram mostradas fotografias
do marido com outra mulher, ambos nus. O TC admitiu a prova pelo princípio da procura da
verdade.
➔ Acórdão STJ 19/3/2010 - Procurou-se juntar informação abrangida pelo segredo tributário. O
STJ defendeu que a prova, mesmo adquirida ilicitamente, não obsta a que aqueles casos sejam
verdadeiros, pelo que serão atendidos pelo tribunal. Deve-se atender a um juízo de
proporcionalidade com a procura da verdade material;
➔ Em geral, a jurisprudência tende a não aplicar o A.32º8 CRP analogicamente, apelando antes a
uma ponderação de interesses como justificação de um ato ilícito.
3) Inadmissibilidade da prova admitida por ato ilícito, por analogia do A.32º8 CRP
➔ MTS - Dizer que não se aplica o A.32º8 apenas se aplica ao processo penal, parece atribuir-lhe
um carácter de excepcionalidade, tirando-lhe relevância. Os autores que afastam esta aplicação,
acabam por invocar normas de OJs estrangeiras, o que se traduz numa procura infundada por
critérios que o nosso OJ já consagrou constitucionalmente;
➔ MTS - O A.417º3 alíneas a) e b) excluem, em casos específicos, provas obtidas ilicitamente;
➔ MTS - Apesar da prova ser ilícita, pode ser justificada (ex. Se não se conseguir demonstrar que
foi, p.e., vítima de violência doméstica, de outra forma senão com a utilização daquela prova) -
Estado de necessidade probatória;
● Havendo um ilícito na obtenção da prova, e se esse ilícito colidir com direitos fundamentais, dizemos que a prova
não pode ser mobilizada no processo (expressão ambígua - tanto as provas constituídas antes do processo, como
aquelas que ainda serão produzidas perante o tribunal). Mas a mobilização feita por quem?4
➔ O juiz apenas poderá mobilizar a prova ilicitamente obtida para provar factos que beneficiem a parte que
não as obteve ilicitamente.
4
Caso dos emails Benfica vs Porto: O Benfica alega violação dos seus direitos, dizendo que para compreender totalmente a
dimensão dos danos sofridos, o Porto tem de juntar ao processo todos os emails que obteve ilicitamente. O Porto junta ao
processo todos os emails que, alegadamente, tinha em seu poder, mas diz que de acordo com a sua própria apreciação
daqueles e-mails, também ele tinha o direito de ser indemnizado por danos demonstrados através daqueles emails. Se os
emails foram efetivamente obtidos de forma ilícita, pode alguma das partes mobilizar estes e-mails?
Aparentemente quem obteve a prova ilicitamente não poderá beneficiar deles (ninguém pode beneficiar do seu próprio
ilícito), mas em que posição fica o Benfica, que não consegue demonstrar a extensão do dano a não ser através da prova
obtida ilicitamente pelo Porto? O A.32º8 da CRP dá uma pista errada, porque afirma que é nula a prova ilicitamente obtido,
mas PCS diz que o meio de prova não pode ser inválido |(isso é um desvalor dos atos jurídicos, e os meios de prova não são
atos jurídicos - O modo de obtenção da prova é ilícito, mas a prova em si não é suscetível de valoração de invalidade). Assim,
não há nenhuma razão para não permitirmos que a parte que não obteve a prova ilicitamente não a possa mobilizar por
ilicitude de aquisição pela contraparte (a ilicitude está na conduta do Porto, e não nos emails em si). Mas e a aquisição
processual? Se a prova está no processo, tem de ser toda ela valorada independentemente da parte que a produziu. PCS: este
argumento é frágil, porque o princípio da aquisição processual não se pode sobrepor ao princípio da valoração ? Se os
emails já estão “dentro” do processo, o juiz apenas os poderá/deverá utilizar para valorar factos que beneficiem a parte que
não a adquiriu ilicitamente (neste caso, o benfica) - Princípio da Aquisição Processual → Desconectamos o desvalor do
meio de prova em si, analisando quem atuou ilicitamente, não admitindo que a contaminação de uma parte não contamine a
posição da outra parte.
INVERSÃO DO CONTENCIOSO:
➢ Tradicionalmente o procedimento cautelar podia ser instaurado previamente a uma ação principal ou na
dependência de uma causa. Se fosse instaurado previamente, tornava-se obrigatoriamente necessário instaurar uma
ação principal, sob pena de a providência cautelar decretada caducar;
➢ O atual CPC dispensa, em certas circunstâncias, o requerente do procedimento cautelar de instaurar a ação
principal (inversão do contencioso) → “Mediante requerimento, o juiz, na decisão que decrete a providência, pode
dispensar o requerente do ónus de propositura da ação principal se a matéria adquirida no procedimento lhe
permitir formar convicção segura acerca da existência do direito acautelado e se a natureza da providência for
adequada a realizar a composição definitiva do litígio” (A.369º1CPC);
➢ Em caso de inversão do contencioso deverá ser o requerido a, querendo, instaurar a ação destinada a impugnar a
existência do direito acautelado, sob pena de a providência decretada se consolidar como composição definitiva do
litígio (A.371º1CPC).
MODALIDADES:
➢ “Sempre que alguém mostre fundado receio de que outrem cause lesão grave e dificilmente reparável ao seu
direito, pode requerer a providência conservatória ou antecipatória concretamente adequada a assegurar a
efetivação do direito ameaçado” (A.362º1CPC);
1) Providência Conservatória → Visa prevenir a ocorrência ou a continuação de produção de danos graves e
irreparáveis ou de difícil reparação no direito do seu titular, acautelando o efeito útil do reconhecimento
efetivo desse direito;
2) Providência Antecipatória → Aquelas que, face à situação de urgência que lhe está associada, antecipa
os efeitos jurídicos próprios da decisão que vier a ser proferida na ação principal, assim como a
realização do direito.
5
Existem ainda procedimentos cautelares previstos em legislação avulsa: A.209ºCDADC, A.31ºRegime Jurídico das
Cláusulas Contratuais, A.15º a A.23º C.Registo da Propriedade Automóvel e A.338ºC.Propriedade Intelectual.
CADUCIDADE DA PROVIDÊNCIA
➢ Caso não tenha sido decretada a inversão do contencioso, o requerente da providência decretada deverá propor a
ação principal no prazo de 30 dias a contar da data em que foi notificado do trânsito em julgado da decisão que a
ordenou (A.373º1/a), sob pena de caducidade do procedimento;
➢ Uma vez proposta a ação principal, o procedimento cautelar é apensado (junto) àquele;
➢ Verifica-se igualmente a caducidade da providência se, proposta a ação principal, o processo estiver parado por
negligência do requerente (ex: este é notificado para juntar determinado documento e nada faz) - A.373º1/b.
➢ Caduca ainda quando a ação for julgada improcedente, quando o réu for absolvido da instância, ou quando o
direito que o requerente pretende acautelar se tenha extinguido (A.373º1/c), d) e e)).
RECURSO
➢ Quando o requerido não tiver sido ouvido antes do decretamento da providência é-lhe lícito, em alternativa,
recorrer do despacho que a decretou ou deduzir oposição alegando factos ou produzindo meios de prova não tidos
em conta pelo tribunal (A.372º1);
➢ Se o requerido tiver sido ouvido antes do decretamento da providência, pode interpor recurso de apelação.
4) ARROLAMENTO (A.403ºss)
➔ Enquanto o arresto conserva a garantia patrimonial do credor, no arrolamento há um sério risco de
destruição de um determinado bem, pelo que este será guardado pelo tribunal. Assim, também tem
carácter conservatório, mas não pressupõe a relação credor-devedor;
➔ Pode ser requerido por qualquer pessoa que tenha interesse na conservação dos bens ou documentos
(A.404º1);
➔ O arrolamento consiste na descrição, avaliação e depósito dos bens (A.406º1);
➔ Processamento no A.405º
➔ É uma providência cautelar de cariz conservatório (não antecipa outra ação, apenas conserva a garantia
patrimonial do credor em caso de dissipação pelo devedor) → Assim, não se aplica o regime da inversão
do contencioso (A.376º a contrario);
SENTENÇA
● Atualmente, a decisão da matéria de facto cabe ao juiz que presidiu ao julgamento, e é também ele que profere a
sentença. Assim, no mesmo momento, o juiz fixa a matéria de facto e aplica a Lei adequada aos factos provados;
● Encerrada a audiência final, o processo é concluso ao juiz, para ser proferida sentença no prazo de 30 dias
(A.607º1 1ªparte). Se não julgar suficientemente esclarecido, o juiz pode ordenar a reabertura da audiência,
ouvindo as pessoas que entender e ordenando as demais diligências necessárias (A.607º1 2ªparte);
● O juiz que decidiu a matéria de facto é o mesmo a quem compete proferir a sentença final, mesmo que tenha sido
transferido, promovido ou aposentado (A.605º3) → Princípio do Juiz Natural;
● A sentença constitui a atividade em que o juiz conhece do mérito da causa, isto é, em que a decide;
● A sentença constitui o resultado da aplicação do Direito vigente aos factos considerados provados, quer após a
audiência final, quer em momento anterior, no despacho saneador, quando o processo já contém a prova de todos
os factos que podem fundamentar a decisão;
● A sentença divide-se em 3 partes: (A.607º)
1) Relatório (nº2) → Começa por identificar as partes e o objeto do litígio, enunciado as questões que ao
tribunal cumpre solucionar. A identificação do objeto do litígio deve conter o pedido do autor, o pedido
reconvencional (se existir) e a posição que a parte contrária tomou em relação a cada um dos pedidos;
2) Fundamentos (nº3) → O juiz deve discriminar os factos que considera provados e indicar, interpretar e
aplicar as normas jurídicas correspondentes. O juiz deverá ainda apreciar os factos cuja apreciação da
prova não é livre, de forma a que na fundamentação esteja incluída toda a matéria de facto provada;
3) Decisão (nº3 e nº6) → Constitui a resposta que mereceu a pretensão das partes, proferindo sentença de
condenação ou absolvição no pedido (procedência ou improcedência do pedido formulado: tanto o
principal como o reconvencional). Além disso, deverá ainda o juiz condenar os responsáveis pelas custas
processuais, indicando a proporção da respetiva responsabilidade (nº6).
FUNDAMENTAÇÃO DA SENTENÇA
● O dever de fundamentar a decisão está consagrado no A.205º1CRP;
● Na fundamentação da sentença, o juiz declara quais os factos que considera provados e quais julga não-provados,
analisando criticamente as provas, deduzindo as presunções judiciais dos factos instrumentais e especificando os
demais fundamentos que foram decisivos para a sua convicção (A.607º4);
● Impõe-se assim ao juiz o dever de expor a motivação da decisão proferida sobre toda a matéria de facto (tanto a
provada, como a não-provada), designadamente: especificando os meios de prova, a relevância que lhes atribuiu e o
“peso” que tiveram na formação da sua convicção6;
● Nos termos do A.5º2, além dos factos articulados pelas partes, são ainda considerados pelo juiz:
1. Os factos instrumentais que resultem da instrução da causa;
2. Os factos complementares dos factos alegados pelas partes que resultem da instrução da causa;
3. Os factos notórios e aqueles que o tribunal tem conhecimento por virtude do exercício das suas funções.
● As exceções dilatórias e nulidades processuais devem ser conhecidas no despacho saneador (A.595º1/a), podendo
o juiz, por falta de elementos decisivos, relegar o seu conhecimento para a sentença final (nº4). Todas as exceções
dilatórias que não tenham sido decididas deverão sê-lo na sentença final, mesmo que o saneador tenha afirmado
que não existiam (nº3);
➢ À luz do A.608º1, as questões processuais que possam determinar a absolvição da instância devem ser
conhecidas segundo a ordem imposta pela sua precedência lógica;
➢ MTS → Uma exceção dilatória deve ser apreciada antes de outra, sempre que o conhecimento da
primeira prejudique, por inutilidade ou desnecessidade, a apreciação da segunda. Sempre que essa
hierarquização seja impossível, o tribunal pode fundamentar a absolvição da instância em qualquer
exceção, não tendo de observar nenhuma ordem especial;
➢ MTS → A inobservância desta ordem não origina qualquer omissão de pronúncia do tribunal e não
determina a nulidade da decisão (A.615º1/d). Assim, a ordem do A.608º é meramente indicativa.
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Ex. se houver 2 depoimentos de conteúdo contraditório sobre o mesmo facto, deve o juiz, em cumprimento do dever de
motivação, referir as razões pelas quais optou por dar credibilidade a um deles.
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Se o autor invoca dois ou mais fundamentos como causa de pedir, não basta que a sentença defira o pedido considerando
procedente um deles, deve pronunciar-se sobre a procedência ou improcedência dos restantes (ANTUNES VARELA).
● Condenação In Futurum→ Por uma questão de economia processual, o juiz não pode deixar de condenar o réu ao
cumprimento de certa obrigação que ainda não se venceu, desde que este conteste (A.610º1).
● ARGUIÇÃO DA NULIDADE
❖ A nulidade que resulta da falta de assinatura do juiz pode ser suprida oficiosamente ou a requerimento de
qualquer das partes enquanto for possível colher a assinatura do juiz que proferiu a sentença (A.615º2);
❖ As restantes causas de nulidade da sentença só podem ser arguidas perante o tribunal que proferiu a
sentença, se esta não admitir recurso ordinário. Quando a sentença admite recurso ordinário, o recurso
pode ter por fundamento qualquer dessas nulidades (A.615º4).
❖ Assim, temos de perceber se a decisão admite recurso:
1) Se não admitir, então a nulidade tem de ser arguida perante o tribunal que proferiu a sentença;
2) Se admitir, então a nulidade poderá ser fundamento dele.
EFEITOS DA SENTENÇA
● Segundo o A.205º1CRP, as decisões dos tribunais são obrigatórias para todas as entidades públicas e privadas e
prevalecem sobre as de quaisquer outras autoridades;
● A força imperativa da sentença não depende de nenhum facto futuro, porque é inerente ao ato jurisdicional,
constituindo uma qualidade intrínseca de toda a decisão judicial (ANTUNES VARELA);
● Quando a causa admite recurso, a decisão judicial pode ser impugnada por esta via (A.627º1), considerando-se a
decisão transitada em julgado logo que não seja suscetível de recurso ordinário ou reclamação (A.628º). Nas ações
que não admitem recurso, a decisão transita em julgado se não tiver sido arguida nenhuma causa de nulidade da
sentença e não tiver sido requerida a sua reforma nos termos do A.616º;
3) Limites Temporais
● O caso julgado incide sobre uma decisão que apreciou uma questão concreta. O momento de referência do caso
julgado não é, todavia, aquele em que a decisão é proferida, mas o do termo da discussão na fase da audiência final
(sobre esse momento, A.604º3/e);
● A sentença deve tomar em consideração os factos constitutivos, modificativos ou extintivos do direito que se
produzam posteriormente à propositura da ação, de modo que a decisão corresponda à situação existente no
momento do encerramento da discussão (A.611º1).
➢ Ex: A decisão z vai transitar em julgado 30 dias depois da notificação das partes. Quando transitada em
julgado, forma-se caso julgado. Mas este caso julgado não se refere ao momento de proferimento da
decisão, e sim ao momento de encerramento da discussão. Se depois do encerramento da discussão e
antes do proferimento da decisão, o réu pagou a dívida, este pagamento é irrelevante, porque a decisão
tem de tomar em consideração a situação que existia antes do encerramento da discussão.
3) Há identidade de causa de pedir quando a pretensão deduzida nas duas ações procede do mesmo facto
jurídico (nº3) → É bastante raro que aconteça, pelo que a doutrina e a jurisprudência, atenta a teleologia
do instituto (A.580º2), defendem que basta que a segunda causa de pedir atente contra o núcleo essencial
da causa de pedir da primeira ação;
DECISÕES ESTRANGEIRAS
1) Estados Terceiros → As decisões estrangeiras proferidas por estados terceiros estão sujeitas, salvo tratado,
convenção ou regulamento europeu em contrário, a revisão e confirmação pela ordem jurídica portuguesa
(A.978º1). Assim, não podem sentenças estrangeiras não-confirmadas servir de fundamento à exceção de caso
julgado, assim como não o podem quanto à exceção de litispendência (A.580º3).
2) Estados-Membros da UE → As decisões estrangeiras de países da UE valem em Portugal, por via do
reconhecimento automático. Assim, pode ser alegada a exceção de caso julgado com fundamento em decisões
não-revistas de um estado-membro da UE (A.978º1 a contrario e A.36º1 Reg.1215/2012), assim como o pode a
exceção de litispendência (A.580º3 a contrario e A.29º1 Reg.1215/2012);
➢ Se houver contradição entre uma sentença nacional e uma sentença estrangeira, a consequência é a
impossibilidade de reconhecimento desta última (A.980º/d e A.45º1/c Reg. 1215/2012);
➢ Se existir contradição entre duas sentenças estrangeiras, só pode ser reconhecida a que tiver sido
proferida em primeiro lugar (A.45º1/d Reg. 1215/2012).
➔ Se uma decisão estrangeira proferida por um País terceiro ainda não tiver sido revista e confirmada, nos termos do
A.978º1, e mesmo assim for alegada a exceção de caso julgado:
1) Solução Legal → A decisão não produz efeitos em portugal porque não foi revista e confirmada, pelo
que não pode servir de fundamento à exceção do caso julgado (A.978º);
2) Solução de Economia Processual (JMM) → Juiz suspende a instância, nos termos do A.272º1, onerando
o interessado com a propositura de ação de confirmação da sentença estrangeira, até que o tribunal
competente se pronuncie sobre ela. No caso de ser confirmada, a exceção procede.
RECURSOS
● Existem múltiplos mecanismos de impugnação de decisões, mas de excelência são os recursos (A.627º1);
● Proferida a decisão, qualquer que ela seja, o juiz da causa, seja ele quem for, não pode modificá-la, esgotando-se o
poder jurisdicional do juiz naquela causa (A.613º1). Assim, os recursos servem para devolver o poder jurisdicional
que, de acordo com o A.613º1, estaria esgotado → Por isso, todos os recursos têm efeito devolutivo;
● Mas devolver a quem? A um tribunal ao qual o tribunal que proferiu a decisão esteja hierarquicamente
subordinado. Por isso, podemos dizer que o recurso é o meio a que a parte inconformada recorre para pedir
pronuncia sobre determinado objeto, a um tribunal diferente e superior daquele que decidiu;
● O recurso incide sempre sobre a decisão (A.370º1, A.627º1, A.635º2), e não sobre o objeto configurado na 1ª
instância → Recurso pode ser entendido como instância de controlo de legalidade da decisão proferida pela 1ª
instância ou reabertura do poder jurisdicional, atribuindo-se ao tribunal superior o dever de “re-julgar” a causa;
● O juiz da 1ª instância pode ainda fazer um conjunto de coisas (A.613º2), havendo, para isso, meios processuais
próprios (designa-se reclamação - que difere de recurso porque, ao invés de ser dirigida a um tribunal superior, é
dirigida ao próprio juiz autor da decisão);
● A Lei determina que o recurso seja interposto no tribunal ad quo (ou seja, no tribunal que decidiu - A.637º), sendo
que o primeiro decisor que toma contacto com alegações de invalidade e ilegalidade é o próprio juiz da causa;
● As partes têm 30 dias para impugnar a decisão, sob pena desta se consolidar como caso julgado material (isto é,
adquirir força extraprocessual - A.628º e A.638º). Dentro destes 30 dias, podem as partes propor recurso ordinário;
➢ Nos casos em que não seja possível aferir o valor da sucumbência, atender-se-á apenas ao valor da causa
(A.629º1 in fine);
➢ No caso de cumulação de pedidos, o valor da sucumbência deve ser determinado autonomamente para
cada um deles, pelo que apenas se admitirá recurso quanto a todos eles (em cumulação), quando o valor
da sucumbência se verifique quanto a cada um deles (A.????).
● Mesmo que exista “dupla conforme” (conformidade entre decisões), pode ser interposto recurso de
revista excecional, nos casos taxativos do A.672º.
● Fundamentos da revista (A.674º);
● Efeitos no A.676º → Só tem efeitos suspensivos em questões sobre o estado de pessoas, e caso tenha
este efeito, pode o recorrido exigir prestação de caução (processo especial - A.913ºss).