Resumo - Modelos Nucleares - Artigo

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Resumo do conteúdo apresentado nas aulas de

Modelos Nucleares Relativı́sticos


Lucas Carvalho dos Santos Maia
December 2023

Parte 1 - Relativistic Nuclear Many Bory Problem – Serot Walecka

1 Bariões Relativistas
Bom, o que a autora está buscando fazer nesta seção é apresentar uma visão
rápida e independente sobre a mecânica quântica relativista e a teoria quântica
dos campos relativistas. Eles estão tentando estabelecer as bases para desen-
volvimentos futuros, mas claro, detalhar esses temas em um espaço tão curto
é meio complicado. O autor sugere dar uma olhada em livros de referência,
como os de Bjorken e Drell, ou Itzykson e Zuber, para um entendimento mais
completo desses assuntos.
A abordagem histórica que eles seguem para formalizar os bariões relativistas
é interessante. Começam combinando os princı́pios da mecânica quântica e da
relatividade especial para criar uma equação de onda para uma única partı́cula,
aquela famosa equação de Dirac. E claro, como é de se esperar, essa equação
tem soluções tanto com energias positivas quanto negativas. Depois de dar
uma olhada nas soluções com energia positiva, eles partem para as soluções
com energia negativa, mostrando como essas podem ser interpretadas como
antibariões.
A introdução de antipartı́culas adiciona uma camada extra de complexidade
à teoria de Dirac. Para torná-la consistente, é necessário trazer à tona a segunda
quantização e os campos de Dirac. A partir daı́, conseguem discutir os bariões no
contexto da teoria quântica relativista dos campos. é um trabalho bem sólido,
mas, como sempre, a recomendação é ir fundo em livros mais detalhados para
um mergulho mais completo nesses conceitos.

1.1 A equação Dirac


Nesse ponto do livro a autora vai abordar algumas questões relacionadas a
equação Dirac e alguns dos seus comportamentos em relação a parâmetros.
Inicialmente a autora trás que a descrição quântico-mecânica de uma única
partı́cula relativista deve satisfazer várias condições. Primeiro, devemos ser

1
capazes de definir uma densidade probabilidade real, de definição positiva ϱ(x, t),
cujo integral de volume ϱ(x, t)d3 x é um escalar de Lorentz. Em segundo lugar,
R

a probabilidade total de encontrar a partı́cula em algures no espaço deve ser uma


constante; isto é, (d/dt) ϱ(g, t)d3 x = 0. Isto será automaticamente satisfeito
R

se existir uma densidade de corrente conservada de quatro vectores j µ = (ϱ, j)


para a qual

∂ µ ∂
j ≡ ∂µ j µ = ϱ + ∇ · j = 0 (1)
∂xµ ∂t
Por fim, o princı́pio da correspondência exige que as partı́culas livres de
massa M obedeçam à relação

E 2 = p2 + M 2 (2)
entre a energia E e o momento p.
com isso podemos ter que a função de onda do sistema ψ(x, t) evolui no
tempo através de uma equação linear em ψ, permitindo assim a superposição de
soluções. Além disso, para garantir uma densidade de probabilidade positiva-
definida, é necessária uma equação de primeira ordem em ∂/∂t. Onde isso
implicará uma equação dinâmica da forma


i ψ(x, t) = Hψ(x, t) (3)
∂t
onde H é o Hamiltioniano do sistema. Podemos então entender que uma vez
que a covariância de Lorentz exige que as derivadas espaciais e temporais en-
trem de forma semelhante, procuramos naturalmente um hamiltioniano que seja
linear nas derivadas espaciais. A equação (2), no entanto, quando combinada
com a correspondência usual E → H → i∂/∂t e p → i∇, produz uma relação
entre as segundas derivadas. Isto é semelhante à situação na eletrodinâmica
clássica, onde as equações de campo que acoplam E e B são de primeira or-
dem nas derivadas no tempo e no espaço, mas cada componente do campo
eletromagnético livre satisfaz a equação de onda de segunda ordem. Seguindo
a analogia, expressamos a função de onda relativı́stica como um campo mul-
ticomponente ψn (x, t), n = 1, 2. · · · , N , cujos componentes são acoplados por
uma equação dinâmica que é linear no ψn e contém no máximo derivadas de
primeira ordem. A forma geral de tal equação é


i ψm (x, t) = −iαmn · ∇ψn (x, t) + M βmn ψn (x, t)
∂t
≡ Hmn ψn (x, t) (4)
onde identificámos o hamiltoniano usando (3). A soma de 1 a N sobre
os ı́ndices Latin repetidos está implı́cita. Os coeficientes constantes αmn =
1 2 3
(αmn , αmn , αmn e βmn são matrizes N × N.

2
Sendo assim para que consigamos determinar os coeficientes da matriz, é
necessário impor as restrições referidas acima e com isso podemos definir uma
densidade de probabilidade real, positiva-definida

ϱ = ψn∗ ψn ≡ ψ † ψ (5)

onde introduzimos a notação

 
ψ1
 ψ2  † ∗ ∗ ∗
 · · ·  , ψ = (ψ1 , ψ2 , · · · , ψN )
ψ= (6)

ψN

A equação de movimento (4) implica na

∂ †
i ψ ψ = −i∇ · (ψ † αψ) + i(∇ψ † ) · (α − α† )ψ + M ψ † (−† )ψ (7)
∂t
e a multiplicação de matrizes é agora incompreendida. O Hamiltoniano tem
de ser hermitiano,

α† = α, β † = β (8)

e os dois últimos termos de (1) desaparecem. Podemos então obter uma


equação de continuidade da forma (4) definindo a densidade de corrente de três
vectores como

j = ψ † αψ (9)

Consideremos agora a relação energia-momento (2). Esta relação será válida


se cada componente de ψ satisfizer a equação de Klein-Gordon

∂2ψ
− = (−∇2 + M 2 )ψ (10)
∂t2
Isto, por sua vez, restringe as matrizes α e β. Interagindo (4), encontramos

∂2ψ 1
− = − (αi αj + αj αi )∇i ∇j ψ − iM (βαi + αi β)∇i ψ + M 2 β 2 ψ (11)
∂t2 2
que reproduz

3
αi αj + αj αi
 i j
= α , α = 2δ ij
βαi + αi β β, αi = 0

= (12)
i 2 2
(α ) = β =1

Estas relações, juntamente com (8), implicam que α e β não têm traços,
são de dimensão par e têm valores próprios de mais ou menos 1. Como tem de
haver pelo menos quatro matrizes independentes mutuamente incomutáveis, a
dimensão mais pequena para a qual (13) pode ser satisfeita é N = 4, e esta é a
escolha adoptada originalmente por Dirac.
Ressaltamos que as relações (13) são independentes da representação, e
muitas manipulações no formalismo Dirac são mais facilmente realizadas desta
forma. Para algumas aplicações, no entanto, é útil empregar uma representação
especifica, e uma escolha comum é a fomação de duas matrizes uma αeβ
onde α são as matrizes padrão 2 x 2 Pauli e as entradas unitárias em β
representam matrizes unitárias 2x2.
Nesta fase, as três restrições descritas no inı́cio desta subsecção estão satis-
feitas. O passo final é ilustrar a covariância de Lorentz do formalismo. Devido à
natureza um pouco técnica deste tópico, adiamos uma discussão completa para
mais tarde nesta seção. Vamos, no entanto, introduzir uma notação covariante
definindo quatro matrizes γ µ (µ = 0, 1, 2, 3)

γ 0 = β, γ = βα = (γ 1 , γ 2 , γ 3 ) (13)

Com esta notação (4) pode ser escrito na forma compacta

(iγµ ∂ µ − M )ψ = 0 (14)

onde γ = gµν γ ν = (γ 0 , −γ). As relações de representação independente (13)


tornam-se

γ µ γ ν + γ ν γ µ = {γ µ , γ ν } = 2g µν (15)

e definindo a função de onda adjunta (Dirac)

ψ ≡ ψ† γ 0 (16)

a densidade da corrente de probabilidade pode ser escrita como

j µ = ψγ µ ψ (17)

4
Na representação padrão (Dirac-Pauli), encontramos duas matrizes uma
para γ 0 eoutraparaγ e notemos que os γ µ não são eremitas, mas em vez disso
satisfazem

(γ µ )† = γ 0 γ mu γ 0 (18)

Muitas vezes usaremos a conveniente notação Feynman slash

1.2 Soluções de partı́culas livres


Devido à invariância translacional no espaço e no tempo, as soluções para a
equação de Dirac de partı́culas livres (4) ou (??) devem ter a forma

ψ(x, t) = e−iEt eiρ·x u(ρ) (19)

onde u (p) é um vetor coluna de quatro componentes (”spinor”) que depende


do momento da partı́cula. A substituição de (19) em (4) revela

(α · +)u(ρ) = Eu(ρ) (20)

A multiplicação de ambos os lados desta equação por (α·ρ+) conduz, eviden-


temente, a E 2 = ρ2 + M 2 , uma vez que esta restrição determina as propriedades
das matrizes α e β. Assim, as energias das partı́culas livres são dadas por

E (±) (ρ) = ±E(ρ) = ±(ρ2 + M 2 )1/2 (21)

Como esperado, existem soluções para energias positivas e negativas.


Escrevendo o spinor de energia positiva de quatro componentes como

 
χ
u(ρ) = (22)
ϕ

onde χ e ϕ têm cada um dois componentes, podemos resolver explicitamente


(2.22) usando a representação padrão (2.13) . O resultado é

ψ (+) (x, t) = e−iE(p)t eip·x u(p) (23)

onde

" #1/2 !
E(p) + M σ·p
u(p) = χ (24)
2E(p) E(p) + M

5
Duas soluções independentes de energia positiva podem ser encontradas es-
colhendo χ = (10) ou χ = (01) para o spinor ”Pauli” χ.
Para as soluções de energia negativa, a autora segue as convenções presentes
em uma de suas referências e assim e escrevemos

ψ (−) (x, t) = eiE(p)t e−ip·x u(p) (25)

Encontramos então

(α · p − βM )ν(p) = E(p)ν(p) (26)

Com a utilidade da convenção (25) é que podemos escrever (20) e (26) como

(γmu pµ − M )u(p) = (p − M )u(p) = 0 (27)


µ
(γmu p − M )u(p) = (p − M )u(p) = 0

Estas relações podem ser simplesmente interpretadas como a equação de


Dirac da partı́cula livre no espaço do momento. Os correspondentes spinores
adjuntos u(ρ) e ν(ρ) podem ser determinados imediatamente a partir de (16) e
(18
As duas soluções independentes para um dado momento e energia podem
ser distinguidas pelo seu spin. é conveniente começar no referencial de repouso
da partı́cula, onde os spinores de Dirac (24) e (25) são particularmente simples,
uma vez que as componentes proporcionais a p desaparecem. Por exemplo, se o
spinor de energia positiva de momento p e polarização s for denotado por u(p,s),
encontramos, no referencial de repouso

 
χŝ
u(0, ŝ) = (28)
0

Aqui o spinor de Pauli χs satisfaz

σ·χŝ = χŝ (29)

e pode ser construı́do para um vetor de polarização arbitrário - tomando


combinações lineares de χ para cima ou baixo. Para escrever o spinor de Dirac
correspondente num referencial em que a partı́cula tem momento p, basta fazer
a transformação de Lorentz do resultado em (2,30), o que é fácil de fazer. O
resultado é que o spinor (9p,s) é obtido substituindo χs por χ em (24)
Para a solução de energia negativa, obtém-se um spinor com momento p e
polarização s substituindo χs′ por χ em (2.28) onde


σ·χŝ′ = χŝ (30)

6
A normalização implı́cita em (2.25) e (2.28) difere da de Bjorken e Drell na
medida em que

′ ′ ′
u† (p, s)u(p, s ) = ν † (p, s)ν(p, s ) = δ ŝŝ (31)

onde s e s’ são determinados a partir das polarizações s e s’ do referencial


′ ′
de repouso que satisfazem χŝ† χŝ = δŝŝ . A normalização para a probabilidade
unitária implı́cita em (2.33) será mais conveniente para a nossa discussão sub-
sequente do problema relativista de muitos corpos. As implicações para ûu e
ν̂ν são desenvolvidas em pormenor na secção 3.

1.3 A teoria do buraco de Dirac


Até agora estabelecemos convenções para rotular as soluções de energia nega-
tiva - mas ainda não interpretámos o seu significado fı́sico. é evidente que estas
soluções colocam problemas à teoria dos buracos de Dirac, uma vez que temos
de evitar que partı́culas de energia positiva decaiam para estados de energia
negativa através de um acoplamento com o campo de radiação, por exemplo.
A solução para este problema foi proposta por Dirac em 1930 e, embora bas-
tante elegante, cria novos problemas que só podem ser resolvidos através da
formulação de uma teoria relativista consistente dos campos quânticos.
Dirac sugeriu que, para evitar que as partı́culas de energia positiva se trans-
formem em cascata em estados de energia negativa, basta preencher estes últimos
com férmions. O vácuo deve ser interpretado como o estado com todos os nı́veis
de energia negativa preenchidos. Se uma partı́cula de energia positiva for adi-
cionada ao vácuo, é proibida de decair pelo princı́pio de exclusão de Pauli.
Esta nova interpretação do estado de vácuo tem duas consequências ime-
diatas. Primeiro, um fotão com energia suficiente pode ser absorvido por uma
partı́cula de energia negativa, resultando na criação de uma partı́cula de energia
positiva e de um buraco no ”mar” de energia negativa. Em segundo lugar, se
existir um buraco no mar de energia negativa, uma partı́cula de energia posi-
tiva pode ser a deidade, caindo no buraco e criando um quantum de radiação.
Como o buraco representa a ausência de uma partı́cula com energia negativa,
ele é interpretado como tendo uma energia positiva em relação ao vácuo. Da
mesma forma, se a partı́cula for um barião com número bariónico B = 1, o
buraco denota a sua ausência e, portanto, observa-se que tem B = -1 em relação
ao vácuo, correspondendo a um antibarião.
Como os números quânticos do estado antibariónico são determinados pela
ausência de uma partı́cula de energia negativa no mar de Dirac, as convenções de
rotulagem definidas anteriormente são mais convenientes. Por exemplo, para de-
screver um antibarião com momento p e polarização – no referencial de repouso,
temos de remover um barião de energia negativa com momento -p e polarização
s
= −z . Referindo-se às equações (25) e (30), vemos que esta função de onda
antibariônica pode ser escrita como

7
−ip·x
ψ (−) (x, t; p, ŝ = ẑ) = eiE(p)te ν(p, s) (32)

" #1/2 !
E(p) + M σ·p
ν(p, s) = (33)
2E(p) E(p) + M

de acordo com a nossa imagem fı́sica.


Embora a teoria dos buracos de Dirac evite perfeitamente os decaimentos
indesejáveis de estados de energia positiva, coloca novos problemas. Primeiro,
o nosso formalismo relativista de partı́cula única descreve agora partı́culas de
número bariónico (ou carga) positivo e negativo. Mais ainda, temos agora de
lidar com uma teoria de muitos corpos, uma vez que mesmo o estado mais
simples do sistema (o vácuo) é composto por um número infinito de partı́culas
que preenchem o mar de energia negativa.
Devido a estes novos problemas, a sugestão de Dirac pode ser considerada
apenas como um passo intermédio na construção de um quadro relativista con-
sistente para os bariões. A interpretação fı́sica das soluções de Dirac continua a
ser útil, mas é necessário formular a mecânica quântica relativista expandindo-a
para um sistema com um número infinito de graus de liberdade, nomeadamente,
o descrito por campos quânticos relativistas.

1.4 Teoria Clássica de Campos e Quantização Canónica


Antes de prosseguirmos com a quantização dos campos de Dirac, começamos
com o problema simples da quantização de um campo escalar. A quantização
baseia-se no Lagrangiano Clássico para uma variável contı́nua com um único
grau de liberdade em cada ponto do espaço-tempo. A dinâmica é determinada
pelo princı́pio de Hamilton

Z t2 Z t2 Z  
∂ϕ
δ Ldt = δ dt d3 x ϕ, , ∇ϕ; t = 0 (34)
t1 t1 V ∂t

Aqui L(cursivo) é a densidade lagrangiana para o campo ϕ(x, t) e t e x


definem a região de integração limitada por t1 , t2 e a superfı́cie S do volume
V. Esta equação é covariante se L(cursivo) for um escalar de Lorentz e ϕ tiver
propriedades bem definidas sob transformações de Lorentz.
O momento conjugado de ϕ(x, t) é definido por

∂L
Π(x, t) ≡ (35)
∂(partialϕ/∂t)
Tendo definido o momento canónico Π podemos agora passar a um sistema
quântico-mecânico substituindo as variáveis dinâmicas ϕ(x, t) e Π(x, t) em cada

8
ponto do espaço-tempo por operadores de Hermiton que satisfazem as relações
de comutação de tempo igual

′ ′
[Π(x, t), ϕ(x , t)] = −iδ (3) (x − x ) (36)

′ ′
[ϕ(x, t), ϕ(x , t)] = [Π(x, t), Π(x , t)] = 0 (37)

As equações de movimento de Heisenberg para os operadores de campo


seguem então como


Π(x, t) = i[H, Π(x, t)]
∂t

ϕ(x, t) = i[H, ϕ(x, t)] (38)
∂t
as relações de comutação em igualdade de tempo (37) são independentes da
imagem. Assim, são válidas na estrutura de Schodinger da mecânica quântica,
em que os operadores são independentes do tempo e o vetor de estado tem a
mesma dependência temporal que a solução da equação de Schrodinger
equação (2.45)
O teorema de Ehrenfest (2.44) define então a derivada temporal de um oper-
ador e rege corretamente a evolução temporal de qualquer elemento da matriz.
Em contraste, na teoria de Heisenberg, os operadores (os campos, neste caso)
têm uma dependência temporal total e os estados são independentes do tempo.
Os campos são então soluções explı́citas das equações de movimento (2.44). Para
campos livres, é simples passar analiticamente entre as duas imagens.
O tensor energia-momento é definido por


i |Ψ(t)⟩ = H|Ψ(t)⟩ (39)
∂t
e a equação de Euler -Lagrange garante a conservação desta quantidade


Tµν ≡ ∂ µ Tµν = 0 (40)
∂xµ

se L(cursivo) não tiver uma dependência espaço-temporal explı́cita, o que


assumiremos de agora em diante. Isto implica que os quatro momentos.

pµ = (H, P ) = g µν Pν (41)

definida por

9
Z
Pν = d3 xToν (42)

é uma constante do movimento.


Para ilustrar estes resultados com um exemplo concreto, considere um campo
escalar real e que satisfaz a equação de Klein-gordon

2
(∂µ ∂ µ+m )ϕ(x, t) = 0 (43)

A densidade lagrangiana que conduz a esta equação de movimento é

1
L= (∂µ ϕ∂ µ ϕ − m2 ϕ2 (44)
2
e o momento conjugado é

∂L ∂L
Π= ≡ =ϕ (45)
∂(∂ϕ/∂t) ∂ϕ

O hamiltoniano segue com

H(Π, ϕ) = Πϕ − L
1 2
= Π (x, t) + [∇ϕ(x, t)]2 + m2 ϕ2 (x, t) (46)
2
e é claramente definida positiva. As regras de comutação são dadas por (37)
e o tensor energia-momento é

1
Tµν = − [∂ λ ϕ∂λ ϕ − m2 ϕ2 ]}µν + ∂µ ϕ∂ν ϕ (47)
2
é fácil verificar que T00 d3 , e o operador de três momentos se torna
R

Z
P =− d3 xΠ∇ϕ (48)

Para prosseguir, é conveniente expandir as soluções para a equação de campo


(43) na normal. Trabalhamos em uma caixa grande de volume V = L3 e
impomos condições de contorno periódicas:

2πni
ki = , i = x, y, z, ni = 0, ±1, ±2, · · · (49)
L

10
que oferece a vantagem de um conjunto enumerável de números de onda. A
covarência de Loretz explı́cita sempre pode ser recuperada pelo limite V → ∞
no final de qualquer cálculo. A solução geral para a equação de campo clássica
(43) pode então ser escrita como

1 X 1 µ µ
ϕ(x, t) = √ (c e−ikµ x + c†k eikµ x
1/2 k
(50)
V k (2ωk )

onde Kµ χµ = k 0 t − k · x e K 0 = ωk = (k 2 + m2 )1/2 . Como ϕ é real, a


expansão envolve ck e seu cojugado de Hermition ck† .
A substituição de (50) em (46) e (48), juntamente com a relação de ortonor-
malidade

Z
1 ′
d3 xei(k−k )·x
= δkk′ (51)
V V

leva às expansões clássicas do modo normal para o Hamiltoniano e o mo-


mento:

1 †)
ωk (c†k ck + ck ck
X
H =
2
k
X 1 † †)
P = k (ck ck + ck ck (52)
2
k

Assim, o sistema foi reduzido a um conjunto de osciladores harmônicos de-


sacoplados; ele agora pode ser quantizado invocando-se as relações de comutação
canônicas (37). Se a Eq. (50) for resolvida para ck e c†k usando (51), as relações
de comutação em ck e c†k seguem como

[ck , c†k′ ] = δkk′

[ck , ck′ ] = [ck , c†k′ ] = 0 (53)

Podemos, portanto, interpretar ck e c†k como operadores de criação e de-


struição de quanta do campo ϕ. A equação (50) representa o operador de
campo quântico na imagem de Heisenberg. O operador de campo na figura de
Schrodinger é obtido pela definição de t = 0 (50). As expressões (52) podem ser
reescritas com o auxı́lio de (53) como

1
ωk (c†k ck + 1/2) > 0
X
H =
2
k

kc†k ck
X
P = (54)
k

11
O propagador de Feynman para o campo escalar sem interação é definido
usando o produto ordenado no tempo.

′ ′
i∆0 (x − x) ≡ ⟨0|T (ϕ(x )ϕ(x))|0⟩
′ ′ ′ ′
= ⟨0|ϕ(x )ϕ(x)|0⟩θ(t − t) + ⟨0|ϕ(x)ϕ(x )|0⟩θ(t − t ) (55)

em que |0⟩ é o estado de vácuo que satisfaz

ck |0⟩ = 0, allk (56)

A expressão (55) pode ser avaliada usando a Eq. (50). No limite de um


volume infinitamente grande:

Z
1 X 1
→ 2/z
d3 k (57)
V (2π)
k

as manipulações diretas levam a

′ d3 k ′ ′ ′ ′
i∆0 (x − x) = int 3
[θ(t − t)e−ik·(x −x) + θ(t − t )eik·(x −x) ]
2ωk (2π)
d4 k
Z
1 ′
= i 4 2 2
e−ik·(x −x)
(2π) kµ − m + iε
d4 k 0
Z ′
≡ i 4
∆ (k)e−ik·(x −x) (58)
(2π)

em que a representação integral da função de passo de Heaviside

dω e−iω(t−t)
Z
θ(t − t) = i (59)
2π ω + iε
foi usada, e ε é um infinitesimal positivo.

2 Um modelo simples
2.1 Equações de campo na teoria escalar-vetorial
Discutimos agora um modelo de teoria quântica relativista de campos (QHD
- I) para o sistema nuclear de muitos corpos baseado nos campos da Tabela.
Assumimos que o mesão escalar neutro se liga à densidade escalar dos bariões
através de gs ψ̄ψϕ e que o mesão vetorial neutro se liga à corrente conservada dos
bariões através de gν ψ̄γµ ψV µ . Este modelo é motivado pela observação empı́rica

12
de grandes componentes Lorentz escalares e de quatro vectores na interação N-
N. Estas devem, evidentemente, ser reproduzidas em qualquer teoria relativista
da estrutura nuclear, e a forma mais simples de o fazer é através da troca de
mesões escalares e vectoriais. Observamos também que, no limite de bariões
pesados e estáticos, a troca de um mesão dá origem a um potencial efetivo
núcleo-nucleão da forma

gν2 e−mν r gs2 e−ms r


Vef f (r) = − (60)
4π r 4π r
Para escolhas apropriadas das constantes de acoplamento e das massas, este
potencial é atrativo a grandes separações e repulsivo a curtas distâncias, de
acordo com a força núcleon-núcleon observada.
O leitor perguntará: ”Onde estão os piões?” De facto, os efeitos da troca de
piões são essencialmente nulos na descrição das propriedades globais dos núcleos
devido à dependência do spin do acoplamento pião-nucleão. Em última análise,
temos de incluir campos adicionais para o π, ρ, etc., se quisermos obter uma
descrição verdadeiramente quantitativa do sistema nuclear. Voltaremos a este
assunto nas secções 7 e 8.
A densidade lagrangeana para o modelo atual é

1
LI = ψ̄[γµ (i∂ µ − gν V µ ) − (M − gs ϕ)]ψ + (∂µ ϕ∂ µ ϕ − m2s ϕ2)
2
1 1
− Fµν F µν + m2ν Vν V ν + δL (61)
4 2
onde

Fµν ≡ ∂µ Vν − ∂ν Vµ (62)

A teoria quântica de campos relativista gerada por este modelo invariante de


Lorentz é renormalizável, pois é semelhante à QED massiva com uma corrente
conservada (ver abaixo) e uma interação escalar adicional. O termo δL contém
os contratemos de renormalização necessários para a teoria quântica de campos;
os seus efeitos são estudados nas secções 5 e 6, e não serão necessários na presente
discussão. Equações de Lagrande

" #
∂ ∂L ∂L
µ µ
− =0 (63)
∂x ∂(∂qi /∂c ) ∂qi

onde qi é uma das coordenadas generalizadas, produz as equações de campo

(∂µ ∂ µ + m2s )ϕ = gs ψ̄ψ (64)

13
∂µ F µν + m2ν V ν = gν ψ̄γ ν ψ (65)

[γ µ (i∂µ − gν Vµ ) − (M − gs ϕ)]ψ = 0 (66)

A equação (64) é simplesmente a equação de Klein-Gordon com uma fonte


escalar.
A equação (65) assemelha-se à QED massiva com a corrente conservada dos
bariões

B µ = ψ̄γ µ ψ (67)

em vez da corrente eletromagnética como fonte. Finalmente a Equação (66)


é a equação de Dirac com os campos escalares e vectoriais introduzidos de forma
mı́nima. A equação de campo para ψ̄ é obtida imediatamente a partir de (66)
juntoc com LI e (63)

¯ µ (i∂µ + gν Vµ ) + (M − gs ϕ)] = 0
psi[γ (68)

Podemos agora estabelecer a conservação da corrente bariónica mencionada


acima:

∂µ B µ = ψ̄γ µ [∂µ + ∂µ ]ψ = 0 (69)

Juntamente com a Eq. (65) e a antissimétrica de F µν , isto implica ∂µ V µ = 0.


Na mecânica do contı́nuo, o tensor energia-momento é definido por

∂qi ∂L
Tµν = gµν L + (70)
∂xν ∂(∂qi /∂xµ
onde o ı́ndice repetido i é somado sobre todas as coordenadas generalizadas
as equações de Lagrange garantem que este tensor é conservado e satisfaz a
Eq. (40). Daqui decorre que o momento quádruplo P, definido em (42), é uma
constante de movimento. A inserção da nossa expressão anterior na Eq (70) e
a subsequente utilização da equação de campo (66) conduzem a

1h 1 i
Tµν = − ∂λ ϕ∂ λ ϕ + m2s ϕ2 + Fλσ F λσ − m2ν Vλ V λ gµν
2 2
+ iψ̄γµ ∂ν ψ + ∂µ ϕ∂ν ϕ + ∂ν Fλµ (71)

para um sistema uniforme, o tensor energia-momento observado tem de ter


a forma

14
⟨Tµν ⟩ = (E + p)uµ uν − pgµν (72)

onde p é a pressão, E é a densidade de energia, e uµ é a velocidade quádrupla


do fluido. A velocidade quádrupla satisfaz u2µ = 1, e para um fluido em repouso,
uµ = (1, 0) isto permite-nos identificar

1
p= ⟨Tii ⟩ (73)
3

E = ⟨T00 ⟩ (74)

neste caso.

2.2 Teoria do campo médio


As equações (64) - (66) são equações de campo quânticas não lineares e as
suas soluções exatas são muito complicadas. Além disso, como esperamos que
os acoplamentos gs e gν sejam grandes, as abordagens perturbativas não são
úteis. Por conseguinte, fizemos poucos progressos ao escrever estas equações
sem um método adequado para as resolver. Felizmente, existe uma solução
aproximada que deve tornar-se cada vez mais válida à medida que a densidade
nuclear aumenta. Consideremos um sistema uniforme de bariões B numa caixa
de volume V. À medida que a densidade de bariões aumenta, o mesmo acontece
com os termos de origem do lado direito das Eqs. (64) e (65). Quando os
termos das fontes são grandes, os operadores de campo dos mesões podem ser
substituı́dos pelos seus valores de expetativa, que são campos clássicos:

ϕ → ⟨ϕ⟩ ≡ ϕ0 (75)

Vµ → ⟨Vµ ⟩ ≡ δµ0 V0 (76)

para um sistema estático e uniforme, as quantidades ϕ e V0 são constantes inde-


pendentes de xµ . A invariância rotacional implica que o valor de expetativa ⟨V ⟩
desaparece. As equações de campo dos mesões (64) e (65) podem ser resolvidas
imediatamente para as constantes ϕ0 e V0 para dar

gs gs
ϕ0 = ⟨ψ̄ψ⟩ ≡ 2 ϱs (77)
m2s ms

gν † gν
V0 = ⟨ψ ψ⟩ ≡ 2 ϱB (78)
m2ν mν

15
O campo condensado, constante e clássico ϕ0 e V0 estão assim diretamente
relacionados com as fontes bariónicas. Note-se que, para derivar (78), é essencial
que o campo vetorial seja maciço. A fonte de v0 é simplesmente a densidade de
bariões ϱb = B/V . Como a corrente de bariões (67) é conservada, o número de
bariões

Z Z
B≡ d3 xB 0 = d3 xψ † ψ (79)
V V

é uma constante do movimento. Para um sistema uniforme de B bariões


num volume V, a densidade bariónica é também uma constante do movimento.
Assim, sabemos imediatamente a intensidade do campo V0 diretamente a partir
das equações do movimento.
Em contraste, a fonte de ϕ0 em (77) envolve o valor esperado da densidade
escalar de Lorentz ⟨ψ̄ψ⟩ ≡ ϱs . Esta quantidade é dinâmica e só pode ser deter-
minada depois de termos resolvido as funções de onda dos bariões. Salientamos
que as equações originais do campo de mesões (64) e (65) são locais; isto é,
apenas são necessários os termos da fonte bariónica no ponto xµ .
em geral, continuam a ser equações diferenciais para os campos dos mesões.
é apenas a hipótese simplificadora de um sistema estático e uniforme que nos
permite resolver estas equações tão facilmente.
Quando os campos de mésons clássicos de (77) e (78) são substituı́dos em
(66) para o campo de Dirac, essa equação é linear,

[iγµ ∂ µ − gν γ 0 V0 − (M − gs ϕ0 ]ψ = 0 (80)

e pode ser resolvida diretamente. Tal como para as partı́culas livres, procu-
ramos primeiro soluções de estado estacionário para um sistema uniforme da
forma

ψ = ψ(k, λ)eik·x−iε(k)t (81)

onde ψ(k, λ) é um spinor de Dirac de quatro componentes e λ denota o ı́ndice


de spin, que corresponde a uma das duas polarizações protogonais escolhidas no
referencial de repouso da partı́cula. As equações de Dirac tornam-se então

(α · k + βM ∗ )ψ(k, λ) = [ε(k) − gν V0 ]ψ(k, λ) (82)

onde, para facilitar a manipulação, voltámos a usar as matrizes α e β. A


massa efetiva M* é definida por

M ∗ = M − gs ϕ0 (83)

16
O campo escalar condensado sphi0 serve assim para deslocar a massa dos
bariões. Evidentemente, o campo vetorial condensado V0 desloca a frequência
(ou energia) das soluções. O quadrado da Eq. (80) e as propriedades das
matrizes de Dirac dadas na Subsecção 1.1 conduzem às equações de valores
próprios

ε(k) ≡ ε± (k) = gν V0 ± (k 2 + M ∗2 )1/2


= gν V0 ± E ∗ (k) (84)

Note a presença de raı́zes quadradas positivas e negativas, caracterı́sticas da


equação de Dirac. Os spinores correspondentes são rotulados de acordo com as
convenções da subsecção 1.2 e satisfazem

(α · k + βM ∗ )U (k, λ) = [ε(+) (k) − gν V0 ]U (k, λ)


= E ∗ (k)U (k, λ) (85)

(α · k − βM ∗ )V (k, λ) = −[ε(−) (k) − gν V0 ]V (k, λ)


= E ∗ (k)V (k, λ) (86)

Uma propriedade importante destas soluções é obtida multiplicando à es-


querda por β e pelo spinor adjunto, multiplicando o adjunto à direita por β e
pelo próprio spinor, e somando o resultado. A equação (13) revela então que

M ∗ U † (K, λ) = E ∗ (k)Ū (k, λ)U (k, λ) (87)


M ∗ V † (K, λ) = −E ∗ (k)V̄ (k, λ)V (k, λ)

Também optámos por normalizar o spinor como em (31). A solução geral


da equação de campo (80) é obtida por superposição †:

1 X (+) † (−)
ψ(x, t) = √ [Akλ U (k, λ)eik·x−iε (k)t + Bkλ V (kλ)e−ik·x−iε (k)t ] (88)
V kλ

na MFT, a densidade Lagrangiana toma a forma

1 1
LM F T = ψ̄[iγµ ∂ µ − gν γ 0 V0 − (M − gs ϕ0 )]ψ − m2s ϕ20 + m2s V02 (89)
2 2
A única variável de campo quântico restante é ψ, e o tensor energia-momento
torna-se

17
∂ψ ∂LM F T
(Tµν )M F T = −gµν LM F T + (90)
∂xnu ∂(∂ψ/∂xµ)
1 1
= iψ̄γµ ∂ν ψ − m2 V 2 − m2s ϕ20 )gµν (91)
2 0 0 2
A densidade de pressão e a densidade de energia podem agora ser identifi-
cadas usando (73) e (74)

1 † 1 1
p= ψ (−α · ∇)ψ + m2ν V02 − m2s ϕ20 (92)
3 2 2

1 1
E = ψ † [−iα · ∇ + βM ∗ + gν V0 ]ψ − m2ν V02 + m2s ϕ20 (93)
2 2
onde a equação de Dirac (80) foi usada para obter (93). O Hamiltoniano
para o sistema segue de (41) e (42):

Z Z
H= d3 xT00 = d3 xE (94)
V V

2.3 Modelo Hamiltoniano


Na mecânica do contı́nuo, o momento conjugado com o campo psi é definido
por

∂L
Πψ ≡ (95)
∂(∂ψ/∂t

Evidentemente, da Eq(61), temos

Πψ = iψ † (96)

As relações de anticomutação canónicas para o campo de bariões, que real-


izam a transição de uma teoria de campos clássica para uma teoria de campos
quântica, são escritas na imagem de Schorodinger como


ψx (x), Πψ(x1)β = iδαβ δ (3) (x − x ) (97)

onde agora indicamos explicitamente as componentes do campo para maior


clareza. Temos, portanto, as relações de anticomutação canónicas para os oper-
adores do campo bariónico

18

ψ̂x (x), ψ̂β† (x ) = δxβ δ (3) (x − x′ ) (98)
Como para os campos livres, estas relações são equivalentes às seguintes
condições de quantização para as amplitudes de modo normal que aparecem na
Eq(88):

n o n o
Akλ , A†k′ λ′ = δkk′ δλλ′ = Bkλ , Bk†′ λ′
n o
{Akλ , Bk′ λ′ } = 0 = A†kλ , Bk†′ λ′ , etc. (99)

Estes operadores podem, portanto, ser interpretados como operadores de


criação e destruição, cujas propriedades são completamente determinadas pelas
relações de anticomutação .
A substituição direta da expansão de campo (88) no Hamiltoniano H de (94)
e a utilização das relações de ortonormalidade (31) e (51) conduzem a

(k 2 + M ∗2 )1/2 (A†kλ , Akλ − Bkλ , Bkλ



P
Ĥ = kλ )
+ gν V0 B̂ − V (1/2 m2ν V02 − 1/2 m2s ϕ20 ) (100)
Aqui identificámos provisoriamente o operador do número de bariões

Z X † †
B̂ = d3 xψ̂ † psi
ˆ = (Akλ , Akλ + Bkλ , Bkλ ) (101)
V kλ

devemos, no entanto, ter algum cuidado com estas expressões. Primeiro, use
(99) para ordenar normalmente o lado direito de (101):

(A†kλ , Akλ − Bkλ , Bkλ



X X
B̂ = )+ 1 (102)
kλ kλ

Na teoria dos buracos de Dirac, o último termo representa a soma de todos


os estados de energia negativa ocupados no ”mar de Dirac” e é uma constante
que é independente da dinâmica. é precisamente a mesma constante que aparece
em equações anteriores, como a 2.80 no topico de bariõs propagadores. Uma vez
que todas as medições são efetuadas em relação ao vácuo, o número de bariões
observado é definido subtraindo o valor de expetativa do vácuo de B, e o vácuo
que tomaremos para definir o operador do número de bariões e para construir
o Hamiltoniano do sistema em interação. Assim, escrevemos

Z
B̂ ≡ d3 x[ψ̂ † ψ̂ − ⟨0|ψ̂ † ψ̂|0⟩]
V
X † †
= (Akλ , Akλ − Bkλ , Bkλ ) (103)

19
onde |0⟩ é o vácuo sem interação dado pela Eq (??) no limite a interpretação
fı́sica é simplesmente a dos bariões e antibariões que se propagam em campos
escalares e vectoriais constantes e condensados. Note-se que a massa efetiva |0⟩
depende explicitamente do campo escalar.
A constante V0 pode ser expressa em termos da densidade conservada de
bariões no final de qualquer cálculo através da Eq (78). Em contraste, ψ0 é
uma quantidade dinâmica que deve ser calculada auto consistentemente usando
a equação do campo de mésons escalares

gs
ϕ0 = ϱs (ϕ0 ) (104)
m2s

ou o argumento termodinâmico de que um sistema isolado com B e V fixos


irá minimizar a sua energia:


E(B, V ; ϕ0 ) = 0 (105)
∂ϕ0
Este problema do modelo MFT é exatamente resolúvel. Mantém as carac-
terı́sticas essenciais do QHD: A covariância de Lorentz, os graus de liberdade
explı́citos dos mesões e a incorporação de antipartı́culas. Para além disso, pro-
duz uma solução simples para as equações de campo que se torna cada vez
mais válida à medida que a densidade bariónica aumenta. Esta solução e o
problema do modelo fornecem assim um ponto de partida significativo para a
descrição do sistema nuclear de muitos corpos, bem como uma base consistente
para o cálculo de correções utilizando a teoria quântica relativista dos campos
e as técnicas padrão de muitos corpos. Passamos a investigar algumas das suas
consequências.

2.4 A equação de estado da matéria nuclear


Consideremos a matéria nuclear uniforme. O estado fundamental do Hamilto-
niano é obtido através do preenchimento de estados com número de onda k e
degenerescência spin-isospin γ até ao nı́vel de Fermi Kf. Para a matéria nuclear
γ = 4 (neutrões e protões com spin up e down). Os elementos da matriz diagonal
do hamiltoniano de campo eletrônico são facilmente avaliados, e a pressão (92)
segue de forma semelhante através da expansão de campo (88) e da equação de
Dirac (85). Os resultados são

Z kf
γ γ
ϱB = d3 k = kf 3 (106)
(2π)3 0 6π 2

kF
gν2 m2
Z
γ
E= 2
ϱB 2 + 2s (M − M ∗ )2 + d3 k(k 2 + M ∗2 )1/2 (107)
2mν gs (2π)3 0

20
kf
gν2 m2s k2
Z
1 γ
p= ϱB 2 − (M − M ∗ )2 + d3 k (108)
2mν 2 2
gs 3 (2π)3 0 (k 2 + M ∗2 )1/2

Aqui a Eq. (78) foi usada para eliminar V0 e a Eq. (83) serve para eliminar
–. Os dois primeiros termos em (107) e (108) resultam dos termos de massa dos
campos vetorial e escalar.
Os termos finais destas equações são os do gás de Fermi relativista de bariões
de massa M*. Estas expressões dão a equação de estado da matéria nuclear em
forma paramétrica: E(ϱB ) e p(ϱB ).
Resta determinar a massa efetiva M*. Isto pode ser feito minimizando E(M ∗ )
em relação a M* como em (105) , o que leva à relação de auto consistência

kF
g2 γ M∗
Z

M = M − s2 d3 k (109)
ms (2π)3 0 (k 2 + M ∗2 )1/2

Isto é equivalente à equação de campo do méson escalar (104), quando (88)


é usada para calcular a densidade escalar ϱB . Isto, nesta MFT com estado
fundamental exato |F ⟩

kF
1 X
ϱB = ⟨F | : ψˆ† ψ̂ : |F ⟩ = U † (k, λ)U (k, λ) (110)
V

kF
ˆ 1 X
ϱB = ⟨F | : ψ¯† ψ̂ : |F ⟩ = Ū (k, λ)U (k, λ) (111)
V

A equação de campo do méson (104), quando (88) é usada para calcular a


densidade escalar – isto, nesta MFT com estado fundamental exato – equação
(110) e (111) Este procedimento é também utilizado para avaliar a pressão em
(108).
Note-se que a densidade de esclerosantes envolve Ū U e é menor do que a
densidade de bariões devido ao fator M*/E* (k). Este é um efeito da con-
tração de Lorentz. Assim, a contribuição dos bariões em movimento repentino
para a fonte escalar é significativamente reduzida. O integral em (109) pode
ser feito analiticamente, dando origem a uma equação transcendental de auto
consistência para a massa efetiva:

" !#
∗ gs2 γM ∗ ∗2 kF + EF ∗
M =M− 2 kF EF ∗ − M ln (112)
ms 4π 2 M∗

por diferenciação direta, estabelecemos o resultado

21
!
∂ E
p = ϱB 2 (113)
∂ϱB ϱB

Esta é apenas uma afirmação da primeira lei da termodinâmica, pdV = −dE


uma vez que o volume V entra nas nossas expressões apenas através da variável
ϱB = B/V . Este resultado indica que a aproximação atual conduz a uma teoria
termodinamicamente consistente.
é instrutivo examinar as expansões de alta e baixa densidade da densidade
de energia. A alta densidade

" #
gν2 3 m2s M 2 −5/3
E → ϱB ϱB + kF + 2 + O(ϱB ) (114)
2m2ν 4 2gs ϱB

O termo principal provém da repulsão vetorial, que domina tanto a densidade


de energia como a pressão. Neste limite, p → E, o que implica que a velocidade
termodinâmica do som se aproxima da velocidade da luz a partir de baixo. Esta
propriedade de uma interação vetorial pura a alta densidade foi apontada pela
primeira vez por Zel’dovich. O segundo termo é a energia do gás de Fermi de
um gás de bariões sem massa, que surge porque a massa efetiva tem a forma
limite

!−1
∗ g 2 γkF 2
M → M 1 + s2 (115)
ms 4π 2

O terceiro termo é a contribuição do campo escalar. A baixa densidade,

" #
3kF 2 3kF 4 gν2 gs2 3kF 4 gν2
E → ϱB M+ − + ϱB − ϱB + ϱB + O(ϱB 2 ) (116)
10M 56M 2m2ν 2m2s 10m2ν M 2

O primeiro termo é a massa de repouso dos bariões, seguido da energia


não relativista do gás de Fermi e da primeira correção relativista. O quarto e
quinto termos dão os mésons escalares, e o sexto termo é a primeira correção
relativı́stica, que enfraquece a força da interação escalar.
Evidentemente, a densidades muito altas ou muito baixas, o sistema não
está ligado (E/B > M ). A densidades intermédias, a interação atrativa escalar
dominará se as constantes de acoplamento estiverem devidamente fechadas. O
sistema satura-se então, para apresentar um conjunto coerente de resultados:

!
E − BM
= −15.75M eV
B
0
kF 0 = 1.42f m−1 (117)

22
Figure 1: Curva de saturação para materia nucelar

e γ = 4. Os acoplamentos podem ser escolhidos para reproduzir estas pro-


priedades de equilı́brio de acordo com

Cs2 ≡ gs2 (M 2 /m2s ) = 267.1


Cν2 ≡ gν2 (M 2 /m2ν ) = 195.9 (118)

Note-se que apenas os rácios entre as constantes de acoplamento e as massas


entram nas Eqs (107) e (108). A curva de saturação resultante é mostrada na
Fig. 1. Nesta aproximação, é a natureza relativista dos acoplamentos escalares
e vectoriais que é responsável pela saturação; uma estimativa variacional de
Hertree-Fock construı́da sobre o limite de potencial da Eq. (60) revela que o
sistema não relativista análogo é instável contra o colapso.
. A solução da equação de auto consistência (112) para M* produz uma
massa efetiva que é função decrescente da densidade, como ilustrado na Fig.2.
Isto é uma consequência do grande campo escalar condensado –, que é aprox-
imadamente 400 MeV, e resulta numa grande contribuição atrativa para E/B.
Há uma grande contribuição repulsiva correspondente para E/B dos campos
vectoriais gν V0 ∼
= 330M eV . Assim, a estrutura de Lorentz da interação con-
duz a uma nova escala de energia no problema, e a pequena energia de ligação
nuclear (∼ = 16M eV ) resulta do cancelamento entre a grande atração escalar e
a repulsão vetorial. Devido ao sensı́vel cancelamento envolvido perto da den-
sidade de equilı́brio, as correções à MFT devem ser consideradas em última
análise. No entanto, a estrutura de Lorentz da interação fornece um mecan-
ismo de saturação adicional que não está presente no limite de potencial não
relativı́stico.
As curvas correspondentes para a matéria de neutrões obtidas por γ= 2 são
também mostradas nas Fig. 1 e 2, e a equação de estado para a matéria de
neutrões a todas as densidades é dada na Fig. 3. Neste modelo (QHD - I) existe
uma transição de fase semelhante à transição lı́quido-gás na equação de estado

23
Figure 2: Efeito de massa

Figure 3:

de van der Waal, e as propriedades das duas fases são deduzidas através de uma
construção de Maxwell. A altas densidades, o sistema aproxima-se do limite de
causal p = E, representando a equação de estado ”mais rı́gida” possı́vel.
A equação de estado da matéria de neutrões mostrada na Fig. 3 dá o tensor
momento-energia através da Eq(72), e as equações de Tolman-Oppenheimer-
Volkoff para a métrica geral-relativı́stica podem ser integradas para encontrar a
massa de uma estrela de neutrões em função da densidade central. O resultado
é apresentado na Fig. 4. Esta MFT dá uma massa máxima de uma estrela
de neutrões de 2,57M a uma densidade central em 208 P b. Note-se que a aprox-
imação assintótica da equação de estado para o limite casual já é relevante neste
regime.
A MFT da matéria nuclear tem apenas dois parâmetros, e todas as out-
ras propriedades podem agora ser calculadas com as constantes da Eq.(118).
A quantidade a4 é o coeficiente da energia de simetria do bulk na fórmula
semi-empı́rica da massa nuclear Kv−1 é a compressibilidade. Também compara-
mos a Eq(118) com razões de acoplamento adimensionais obtidas a partir de
uma análise de mudança de fase da dispersão nucleon-nucleon. Embora a con-

24
Figure 4:

cordância entre os acoplamentos seja apenas qualitativa, é evidente que as car-


acterı́sticas dominantes da interação N-N observada e relevante para a matéria
nuclear são razoavelmente reproduzidas pelas condições de normalização ante-
riores.

25

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