Fronteiras Do Brasil Volume1 Cap12
Fronteiras Do Brasil Volume1 Cap12
Fronteiras Do Brasil Volume1 Cap12
1 INTRODUÇÃO
O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) foi criado em 2007,2 como
uma estratégia que propunha como macro-objetivos a promoção do crescimento
econômico, o aumento do emprego e a melhoria das condições de vida da população
brasileira. Para favorecer as condições de desenvolvimento do país, o PAC criou
um conjunto de instrumentos para viabilizar maciços investimentos voltados à
execução de projetos de infraestrutura para atender a todas as regiões brasileiras.
O que impulsionou a criação do PAC foi o contexto econômico e político,
uma vez que, desde 2004, o país apresentava um crescimento consistente. Dentro
das dimensões que integraram as circunstâncias de criação do programa de
investimento, destacam-se algumas considerações que se assentaram na retórica
de que os mecanismos de mercado eram insuficientes para garantir uma trajetória de
crescimento positiva e sustentável. A partir disso, o Poder Executivo federal
considerou que, para destravar a economia e impulsionar o desenvolvimento,
seria necessário pensar com profundidade a relação entre o Estado e o mercado.
Assim, o programa fundamentou-se na ideia de que o investimento público atrairia
para a economia o investimento privado real, ou seja, parte da premissa de que os
investimentos públicos, associados à geração de infraestruturas – logística (incluindo
transportes), comunicações, energia, equipamentos sociais e urbanísticos – e à
formação de capital humano, impulsionariam e ampliariam a atratividade dos
investimentos produtivos privados e o desenvolvimento de todas as regiões brasileiras.
Para tanto, a proposta estratégica do PAC foi a elaboração de um conjunto
de medidas institucionais e de políticas macroeconômicas, somadas a expressivos
investimentos em infraestruturas desenvolvidos pelo governo federal, com o
1. Pesquisadora do Programa de Pesquisa para o Desenvolvimento Nacional (PNPD), na Diretoria de Estudos e Políticas
Regionais, Urbanas e Ambientais (Dirur) do Ipea.
2. Instituído pelo Decreto no 6.025/2007 e alterado pelo Decreto no 7.470/2011, que instituiu o PAC 2. Já a Lei
no 11.578/2007 foi o dispositivo que instituiu a transferência obrigatória de recursos financeiros para a execução de ações
do PAC pelos estados, pelo Distrito Federal e pelos municípios. O Decreto no 7.470/2011 criou a Secretaria do Programa
de Aceleração do Crescimento (Sepac), no âmbito do Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão (MP).
382 | Fronteiras do Brasil: uma avaliação de política pública
3. No primeiro momento, o planejamento do PAC destinou os investimentos para recuperar a infraestrutura econômica
existente, com forte potencial para gerar desenvolvimento econômico e social e estimular a sinergia entre os projetos,
visando alcançar resultados mais rápidos no âmbito da estrutura produtiva (Brasil, 2007a).
4. Lei no 10.933/2004, incluída pela Lei no 11.318/2006.
5. Criada em 2003, com o objetivo de reverter a trajetória das desigualdades regionais e explorar os potenciais endógenos
da diversa base regional brasileira, e institucionalizada pelo Decreto no 6.047/2007, que instituiu a PNDR, e define a
faixa de fronteira (FF) como área de tratamento prioritário (§ 4o do art. 3o do Decreto no 6.047/2007). Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2007/Decreto/D6047.htm>. As estratégias da PNDR consistiam
na identificação e regulação do fenômeno das desigualdades inter e intrarregionais e propunha que, para superar tais
desigualdades, o poder público deveria dispor de um conjunto de ações aportadas em critérios territoriais, destinadas
aos recortes regionais mapeados como áreas de tratamento prioritário para a alocação de ações e de recursos federais,
com o objetivo de melhoria das condições de vida das pessoas e de promover o desenvolvimento socioeconômico das
regiões historicamente estagnadas e que foram definidas na tipologia da PNDR.
6. Como o PAC, o Plano Brasil Maior, o Plano Nacional de Logística Integrada (PNLI), o Plano Nacional de Energia
(PNE), entre outras ações públicas.
O Programa de Aceleração do Crescimento e as Fronteiras | 383
7. No desenvolvimento do capítulo foi utilizada a definição dos agrupamentos regionais fronteiriços de: arcos Norte,
Central e Sul, metodologicamente definidas na Proposta de Reestruturação para o Programa de Desenvolvimento
da Faixa de Fronteira (PDFF), estudo publicado pelo Ministério da Integração Nacional (MI), em 2005 (Brasil, 2005).
384 | Fronteiras do Brasil: uma avaliação de política pública
8. O conjunto de medidas e as alterações normativas e regulatórias adotadas para o assentamento do PAC consistiram em:
criação do Comitê Gestor e do Grupo Executivo do PAC (Decreto no 6.025/2007); criação do Fundo de Investimento
em Infraestrutura (Lei no 11.478/2007) e do Fundo de Investimento do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (Lei
no 11.491/2007); criação do regime especial de incentivos para o desenvolvimento (Lei n o 11.488/2007); criação da
transferência obrigatória de recursos do PAC (Lei no 11.578/2007); extinção da Rede Ferroviária Federal S.A. (RFFSA),
Lei no 11.483/2007; criação da Receita Federal do Brasil (RFB), Lei no 11.457/2007; instituição do Programa Nacional de
Dragagem Portuária e Hidroviária (Lei no 11.610/2007) e do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico da Indústria
de Semicondutores (Lei no 11.484/2007); implementação de medidas tributárias (Lei no 11.482/2007); e instituição do
Fórum Nacional de Previdência Social (Decreto no 6.019/2007) (Relatório e Parecer Prévio sobre as Contas do Governo da
República/Exercício de 2007. Disponível em: <http://www.cgu.gov.br/assuntos/auditoria-e-fiscalizacao/avaliacao-da-gestao-
dos-administradores/prestacao-de-contas-do-presidente-da-republica/arquivos/2007/relatorio-e-parecer-previo-2007>.
O Programa de Aceleração do Crescimento e as Fronteiras | 385
GRÁFICO 1
Investimentos do PAC distribuídos pelos quadriênios 2007-2010, 2011-2014 e 2015-2018
(Em R$ bilhões correntes)
539,4 519,9
457,9 462,2
300,1
275,7
107,4
81,6 68,6
9. A relação completa das medidas institucionais encontra-se nas duas edições dos balanços globais quadrienais do
PAC (Brasil, 2010; 2014a).
10. Os períodos de execução dos investimentos foram divididos por quadriênios: PAC (2007-2010) e PAC 2 (2011-2014)
e PAC 3. Os programas das duas primeiras fases já se encontram consolidados, e o PAC 3 (2015-2018) encontra-se
em andamento (gráfico 1).
386 | Fronteiras do Brasil: uma avaliação de política pública
11. No PAC, os recursos iniciais voltados ao programa foram provenientes dos orçamentos das empresas estatais, do
orçamento fiscal e da Seguridade Social e da iniciativa privada (Brasil, 2007a).
12. Consiste na diminuição da diferença entre a taxa de juros que um banco paga e a taxa de juros que é aplicada por
esse mesmo banco às pessoas que requerem um empréstimo.
13. Recriada pela Lei Complementar (LC) no 124/2007 e pelo Decreto no 6.218/2007.
14. Recriada pela LC no 125/2007 e pelo Decreto no 6.219/2007.
15. Recriada pela LC no 129. Entretanto, passou a existir com o Decreto Presidencial no 7.471/2011.
16. Projeto de Lei Complementar no 388/2007.
O Programa de Aceleração do Crescimento e as Fronteiras | 387
positivos desse eixo, na primeira edição do programa, ele não alcançou as metas
previstas, que correspondiam ao investimento de R$ 216,9 bilhões, mas que
se consolidaram em apenas R$ 128,0 bilhões.17 O quinto eixo do programa
trata das medidas fiscais de longo prazo, que foram subdivididas em três grupos:
i) sustentabilidade fiscal; ii) aperfeiçoamento da Previdência Social; e iii) gestão
pública (Brasil, 2007a).
Na primeira parte do PAC, os investimentos voltados às obras de infraestruturas
no eixo urbano e social apresentaram algumas contradições para atender aos objetivos
do programa voltados à execução de recursos para diminuir as desigualdades
regionais. Nessa fase, a maior parte dos recursos do eixo foi destinada, maciçamente,
aos projetos de mobilidade urbana e de revitalização de assentamentos precários
nos grandes centros urbanos; a outra parte foi para o programa Luz para Todos.
Além da concentração dos recursos em poucos setores, o detalhamento da
execução dos investimentos do PAC evidencia que as transferências dos recursos se
centralizaram nos centros urbanos maiores e que, durante a segunda fase de execução,
a partir de 2009, foi incluído nos investimentos do eixo o programa Minha Casa
Minha Vida (MCMV), que congregou as ações da política de habitação que já
vinham sendo implementadas e também iniciou os projetos de saneamento. No PAC,
antes do MCMV,18 já havia ações voltadas a empreendimentos habitacionais dentro
do eixo urbano e social e que atendiam aos centros urbanos menores, inclusive
com investimentos em saneamento.19
Entre os argumentos que consolidaram a primeira edição do PAC e que
pavimentaram a continuidade do programa, destaca-se que o crescimento do
investimento se apresentou significativamente superior ao do PIB do país. Enquanto
este cresceu em média 4,6% ao ano, o investimento total aumentou 12,2%, passou
de 16,4%, em 2006, para 18,4%, em 2010, atingindo um pico de 19,1%, em
2008, impulsionando assim a atividade econômica junto com o consumo das
famílias. Dessa forma, o PAC, como um dos eixos estruturantes do projeto de
desenvolvimento brasileiro, consolidou “investimentos maciços” em infraestruturas,
o que colaborou para a ampliação e manutenção do crescimento no período.
Diante disso, a aplicação e execução dos investimentos resultantes do PAC
configurou-se como um dos objetivos do PAC 2, com vistas a dar continuidade às
ações iniciadas na primeira fase do programa, o que se reflete no slogan de lançamento
da nova fase do programa, O Brasil Vai Continuar Crescendo. O PAC 2 teve início
17. O valor destacado consiste no valor total previsto na execução do programa em 31 de dezembro de 2010 (Brasil, 2010).
18. Antes da criação do MCMV, já havia várias ações e políticas de habitação em andamento. Entre elas destacam-se:
a criação do Ministério das Cidades, em 2003; o estabelecimento da Política Nacional de Habitação (PNH), em 2004,
e o Sistema Nacional de Habitação de Interesse Social (SNHIS), em 2005.
19. A Lei no 11.445/2007 alterou as leis anteriores e estabeleceu diretrizes nacionais para o saneamento básico.
388 | Fronteiras do Brasil: uma avaliação de política pública
20. A maior parte dos municípios brasileiros é composta de população inferior a 50 mil habitantes, com perfil
predominantemente urbano (IBGE, 2011).
O Programa de Aceleração do Crescimento e as Fronteiras | 389
No plano social, a relação das ações do programa nas duas edições consolidadas
e apresentadas nos relatórios globais (Brasil, 2010; 2014a) evidencia mudanças
estruturais. O mercado de trabalho foi dinamizado com a execução das grandes
obras do PAC, colaborando para a ampliação da oferta de vagas de emprego
no período. Os dados apontam, ainda, um significativo aumento da taxa de
formalização dos empregos, que teve uma ampliação de mais de 10% no período
de 2006 a 2014 (IBGE, 2015). Essas variáveis atuaram diretamente na redução
da taxa de desocupação, que já vinha em uma trajetória de decréscimo consistente
desde 2006 e foi alterada em 2008 e 2009, com a deflagração da crise mundial de
2008 (gráfico 2), mas seguiu em decréscimo nos anos seguintes, mesmo diante de
um cenário econômico mundial adverso.
GRÁFICO 2
Taxas anuais de desocupação no Brasil (2007-2014)
(Em %)
10
9,3
7,9 8,1
8
6,7
6
6 5,5 5,4
4,9
GRÁFICO 3
Brasil: evolução do índice de Gini1 (2006-2014)
0,55
0,544
0,54
0,531
0,53 0,531
0,521 0,521
0,52
0,49
0,48
0,47
GRÁFICO 4
Brasil: execução financeira das edições do PAC e PAC 2, por fontes de financiamento
(2007-2014)
(Em R$ bilhões correntes)
1.200
1.008,7
1.000
800
600 559,6
426,6
400
261,2
175,9 185,7 197,8
200 119,9 114,9
51,2
6,2 17,7 8,6 2,5
0
21. O OGU é composto pelos Orçamentos Fiscal, da Seguridade Social e de Investimento das Empresas Estatais Federais.
22. Em agosto de 2012, o governo federal criou o Programa de Investimentos em Logística (PIL), que se juntou ao
PAC na tarefa de atacar os gargalos de infraestrutura existentes no país. A meta programática objetiva aumentar a
integração entre rodovias, ferrovias, hidrovias, portos e aeroportos, assim como a articulação desses modais com as
cadeias produtivas. A nova etapa do programa, lançada em junho de 2015, teve investimentos da ordem dos R$ 198,4
bilhões (Brasil, 2016).
23. Anuário Estatístico Aquaviário 2016, publicado pela Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq). Disponível
em: <http://web.antaq.gov.br/Anuario2016/>.
24. O emprego dos equipamentos pelas prefeituras era condicionado a critérios e definições do programa, coordenado
pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), responsável pela fiscalização.
392 | Fronteiras do Brasil: uma avaliação de política pública
26. Ação voltada ao atendimento a cidades com até 50 mil habitantes, com o objetivo de melhorar a qualidade da
gestão e dos serviços públicos por meio da instalação de redes de fibra óptica, pontos públicos de acesso à internet,
sistemas de governo eletrônico e capacitação de servidores públicos (Brasil, 2014a).
27. Informações disponíveis em: <http://www.pac.gov.br/>.
394 | Fronteiras do Brasil: uma avaliação de política pública
28. Portaria do Ministério das Cidades no 363/2013, que ampliou a cobertura do programa para municípios com menos
de 50 mil habitantes.
29. Disponível em: <http://www.naea.ufpa.br/folhadonaea/anteriores/folha_6ed.htm#pac>. Acesso em: 21 nov. 2016.
396 | Fronteiras do Brasil: uma avaliação de política pública
GRÁFICO 5
Distribuição de investimentos por segmentos e participação no PIB das macrorregiões
(Em %)
70
60 54,2
50
40
30
20 14,2 16,4
9,5
10 5,4
0
30. Não foram considerados na análise os investimentos em energia, pois estes têm características diferentes: encontram-se,
em sua maioria, distribuídos por mais de uma região.
O Programa de Aceleração do Crescimento e as Fronteiras | 397
31. A concentração de riquezas do Sudeste, principalmente em São Paulo, foi resultado dos investimentos e ações públicas
que criaram as condições para a expansão econômica da região, e uma dessas ações resultou na malha viária da região.
Essa configuração é um reflexo da história do desenvolvimento produtivo brasileiro liderado por São Paulo e que foi
fundamental para a integração da estrutura produtiva ao mercado, mas que aprofundou as desigualdades regionais.
32. Das rodovias com pista dupla, e consequentemente de melhor qualidade, 60,7% estão localizadas na região
Sudeste e 16,1% na região Sul. Na região Nordeste concentram-se 11,7%, na região Centro-Oeste, 9,4%, e na
região Norte, apenas 2% (CNT, 2011).
33. Incluídos os municípios criados em 1o de janeiro de 2013: Pescaria Brava e Balneário Rincão (Santa Catarina);
Mojuí dos Campos (Pará); Pinto Bandeira (Rio Grande do Sul); e Paraíso das Águas (Mato Grosso do Sul). Informação
disponível em: <www.cnae.ibge.gov.br>. Acesso em: 12 set. 2016.
398 | Fronteiras do Brasil: uma avaliação de política pública
TABELA 1
Recursos do PAC repassados aos estados fronteiriços e participação no PIB
36. Em publicações do Instituto de Desenvolvimento Econômico e Social (Idesf), encontram-se dados acerca de
contrabando que estão disponíveis em: <http://www.idesf.org.br>.
37. Lançado em 2008, pelo Decreto no 6.703/2008, e revisado em 2012, o documento estabeleceu que cada Força
Armada elaborasse seus planos de estruturação e de equipamentos a serem entregues no prazo estipulado no decreto.
Assim, o Exército entregou seu plano, denominado Estratégia Braço Forte, que totalizava 823 projetos, entre os quais
a utilização do Sisfron.
O Programa de Aceleração do Crescimento e as Fronteiras | 401
38. O Sisfron é um Projeto Estratégico do Exército (PEE), contemplado no PPA 2012-2015, Plano Mais Brasil. É um
sistema de sensoriamento que objetiva viabilizar o monitoramento contínuo e permanente da área da fronteira terrestre
brasileira, cujo detalhamento consiste em: contribuir com o esforço governamental de manter efetivo controle sobre a
FF, atendendo ao trinômio monitoramento/controle, mobilidade e presença, enfatizado nas diretrizes da END; facilitar
o cumprimento das missões do Exército decorrentes da destinação constitucional prevista no art. 142 da Constituição
Federal de 1988 (CF/1988) e, particularmente, na Lei Complementar no 97/1999, alterada pelas Leis Complementares
no 117/2004 e no 136/2010, no tocante às ações preventivas e repressivas na FF terrestre; apoiar a execução do PEF,
estabelecido de acordo com o Decreto no 7.496, de 8 de junho de 2011, que se destina a prevenção, controle, fiscalização
e repressão de delitos transfronteiriços, por meio da atuação integrada dos órgãos de segurança pública, Forças Armadas,
RFB e outros órgãos governamentais; contribuir para o aumento da capacitação tecnológica e da autonomia da base
industrial de defesa, particularmente no que diz respeito a manutenção, ampliação e perene atualização do sistema,
bem como proporcionar a diversificação da pauta de exportação nacional, com a adição de itens de alto valor agregado,
e a geração de empregos e de renda nos setores de infraestrutura e tecnologia (Brasil, 2014b, p. 109).
39. Dadas as diretrizes propostas no novo marco legal, instituídas no Decreto no 8.903/2016, o PPIF extingue o PEF,
que foi criado pelo Decreto no 7.496/2011.
402 | Fronteiras do Brasil: uma avaliação de política pública
segurança pública, das Forças Armadas e da RFB, além de outras agências federais,
estaduais e municipais, que seriam auxiliadas pelo sistema de monitoramento
integrado (Decreto no 8.903/2016).
A atuação operacional 40 do Sisfron, portanto, objetiva fortalecer a
presença e a capacidade de ação do Estado na FF, agilizar os levantamentos e
a disponibilização dos dados para as bases de policiamento de fronteira, bem
como atuar em ações de defesa ou contra delitos transfronteiriços e ambientais
por meio do emprego de equipamentos de comunicação de alta tecnologia
e, assim, fortalecer a presença do Estado e a capacidade de ação das forças
de segurança e defesa ao longo dos 16.886 mil km de extensão do limite
internacional e dos 150 km de largura que compõem a FF.
Segundo o Relatório de Gestão do Estado-Maior do Exército/2014 (Brasil,
2014b), para o Sisfron alcançar as finalidades propostas, o sistema possui três
componentes principais, conforme descrito a seguir.
1) Subsistema de sensoriamento: destina-se a vigiar a FF coletando e
transmitindo dados que possibilitem a detecção, a identificação e o
monitoramento remoto de eventos de interesse. Compreende, entre
outros meios, sensores ópticos e optrônicos, radares de vigilância terrestre
e de vigilância aérea de baixa altura, sensores de sinais eletromagnéticos,
sistemas de veículos aéreos remotamente pilotados e aeróstatos.
2) Subsistema de apoio à decisão: destina-se a produzir e difundir
conhecimentos necessários à realização de operações na FF. Compreende,
entre outros recursos, centros de planejamento, coordenação,
acompanhamento e controle de operações, programas (software) de apoio
à decisão e à infraestrutura de tecnologia da informação e comunicações
(inclusive com infovias de longo alcance, dotadas de redes terrestres de
micro-ondas e meios de comunicação por satélite).
3) Subsistema de atuadores: destina-se a realizar ações de defesa e segurança
e de prevenção e repressão contra delitos transfronteiriços e ambientais na
FF. Compreende meios operacionais do Exército empregados na FF, com
ênfase na atuação com as demais Forças Armadas (operações conjuntas) e
com os órgãos federais, estaduais e municipais (operações interagências).
40. “Além de ampliar a operacionalidade da Força Terrestre, o Sisfron pretende impulsionar o desenvolvimento da
indústria nacional em busca da autonomia em tecnologia de defesa. Prevê-se que o Sistema representará significativa
janela de oportunidades para as empresas nacionais, tendo em vista, dentre outros aspectos, o montante considerável de
investimentos estimados, o prolongado ciclo de vida previsto para o Sistema e a diversidade e o caráter dual dos produtos
e serviços necessários para sua implantação e operação. O Sisfron deverá, ainda, estimular a geração de empregos na
indústria nacional, em especial, na indústria de Defesa, havendo uma expectativa de mais de doze mil empregos anuais.
Deverá criar, também, oportunidade de sustentabilidade tecnológica, por meio da venda de produtos e de serviços de
uso dual e da diversificação da pauta de exportações” (Brasil, 2014b, p. 6).
O Programa de Aceleração do Crescimento e as Fronteiras | 403
41. A composição do orçamento envolve operações de crédito externo, parcerias público-privadas e do BNDES.
42. Respostas vinculadas ao Protocolo no 03950001631201751 (Serviço de Informações ao Cidadão do Exército
Brasileiro – SIC-EB).
43. Lançado oficialmente em 13 de novembro de 2014.
44. Subordinada à 4a Brigada de Cavalaria Mecanizada, localizada em Dourados (Mato Grosso do Sul).
45. Dados fornecidos pelo SIC-EB, Protocolo no 03950001631201751.
404 | Fronteiras do Brasil: uma avaliação de política pública
46. O objetivo da auditoria do TCU foi avaliar os riscos que afetam a gestão do Projeto Sisfron (TCU, 2014b).
47. Protocolo no 60502001948201718 do SIC-EB.
O Programa de Aceleração do Crescimento e as Fronteiras | 405
50. As implicações na ruptura do itinerário de crescimento ocorrido em finais de 2014 e início de 2015 não fazem parte
do levantamento realizado para a elaboração deste capítulo.
O Programa de Aceleração do Crescimento e as Fronteiras | 409
demonstrou-se que vários municípios não possuíam corpo técnico com capacidade
de elaborar peças técnicas básicas, como projetos com a finalidade de concorrer
a recursos (públicos, privados, de organismos internacionais e outros), que são
disponibilizados para a execução de ações pontuais em diferentes regiões. Também
apresentam dificuldades para atender às exigências e aos critérios que, em muitos
casos, são definidos para se ter acesso às ações públicas federais. Essas dificuldades
vão desde a restrição de servidores até o caráter transitório de alguns cargos em
confiança da gestão municipal, que se renova periodicamente e tem servidores que
vêm de setores externos à gestão pública, e mesmo assim assumem postos-chaves
na administração municipal.
A partir disso, outros níveis da gestão pública, bem como das representações
classistas, deveriam manter cursos periódicos de capacitação voltada aos temas de
necessidade da administração municipal, com objetivo de atender às especificidades
regionais. Parte desses cursos poderia ser oferecida em instituições já estabelecidas,
como a Escola Nacional de Administração Pública (Enap), que já possui uma
extensa variedade temática de formação voltada à gestão pública e disponibilizada em
plataforma de ensino a distância (EAD). Outra plataforma disponível é administrada
pelo Senado Federal, que também oferece diversos cursos voltados à gestão pública por
meio da plataforma do Instituto Legislativo Brasileiro (IBL). O programa formativo
é voltado ao Legislativo, mas há oferta de cursos e programas relacionados a outros
segmentos da sociedade, tanto na plataforma EAD, quanto na modalidade presencial.
Sendo assim, a formação continuada de gestores municipais pode contribuir para
que esses entes estejam aptos para exercer em igualdade de condições a tomada de
decisões e intervenções na formulação e planejamento de ações e políticas públicas.
Dito isso, entende-se que a maior atuação dos municípios nas decisões políticas,
além de ações públicas da abrangência e magnitude do PAC, poderia criar maiores
possibilidades de investimentos públicos em recortes territoriais que exercem pouca
atração aos investimentos privados. Assim, as políticas e ações públicas poderiam,
de fato, desempenhar seu papel no território, que é o de constituir-se em amplas
janelas de oportunidades para a população, com o oferecimento de ações públicas
que possam contribuir para maior atratividade de novos investimentos, sobretudo
nos recortes territoriais estagnados.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Diário Oficial da União,
Brasília, v. 191, p. 1, 5 out. 1988.
______. Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão. Secretaria de
Planejamento e Investimentos Estratégicos. Plano Plurianual 2004-2007. Brasília:
MP, 2004. Disponível em: <www.planejamento.gov.br>. Acesso em: 28 set. 2016.
410 | Fronteiras do Brasil: uma avaliação de política pública
BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR
SÀNCHEZ, J. E.; PERES, J. E. La política i l´administraçió del territori. Trabalho
apresentado no Primer Congrés Català de Geografia, II ponències. Barcelona, 1991.