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Livro Eletrônico

Aula 01 (PDF)

Geografia p/ CACD (Primeira e Terceira Fases)


Professor: Alexandre Vastella
Geografia
Concurso de Admissão à Carreira de Diplomacia
Prof. Alexandre Vastella Aula 01

AULA 01 – História da Geografia

Sumário
1. INTRODUÇÃO AO CURSO DE GEOGRAFIA PARA O CACD............................................ 1
2. INTRODUÇÃO À HISTÓRIA DA GEOGRAFIA .................................................................... 6
3. EXPANSÃO COLONIAL E PENSAMENTO GEOGRÁFICO ................................................ 7
3.1. Influências Científico-Filosóficas da Geografia do século XIX ..................................................... 9
1. A GEOGRAFIA MODERNA E A QUESTÃO NACIONAL NA EUROPA .......................... 11
2. PRINCIPAIS CORRENTES METODOLÓGICAS DA GEOGRAFIA ................................. 19
2.1. Geografia Racionalista (Geografia Regional?)...................................................................... 20
2.2. Crise e Renovação na Geografia ........................................................................................... 23
2.3. Geografia Pragmática ........................................................................................................... 26
2.4. Geografia Crítica ................................................................................................................... 27
3. CATEGORIAS DE ANÁLISE DA GEOGRAFIA ................................................................... 39
3.1. Território ................................................................................................................................... 39
3.2. Espaço ....................................................................................................................................... 40
3.3. Região ....................................................................................................................................... 41
3.4. Paisagem ................................................................................................................................... 42
3.5. Lugar ......................................................................................................................................... 42
4. LISTA DE EXERCÍCIOS .......................................................................................................... 45

1. INTRODUÇÃO AO CURSO DE GEOGRAFIA PARA O CACD

Lançamos, com grande entusiasmo, este curso de Geografia destinado


especialmente para atender às necessidades dos que se preparam para o
concurso de Admissão à Carreira de Diplomata de 2017.

Para quem não me conhece, sou Alexandre Vastella. Fiz graduação em


geografia com bolsa integral na Universidade Cruzeiro do Sul, em São Paulo,
concluindo a Licenciatura Plena (2009) e o Bacharelado (2010). Logo, me tornei
Especialista em Geoprocessamento Aplicado ao Planejamento (2011) pela mesma
instituição, e Especialista em Gestão Ambiental (2013) pelo SENAC. Recentemente,
concluí o Mestrado em Geografia Física pela Universidade de São Paulo (USP), o
qual terminei com auxílio do Conselho Nacional de Pesquisa Científica (CNPq),
realizando pesquisas junto ao Laboratório de Aerofotogeografia e Sensoriamento
Remoto da mesma instituição. Também participo do Research Centre for Gas

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Innovation, um centro internacional de pesquisa financiado pela FAPESP, pela British
Gas e pela Shell, onde, como convidado, escrevo papers e elaboro mapas temáticos.

Como geógrafo, já participei de dezenas de estudos ambientais escrevendo


relatórios (diagnósticos e prognósticos dos meios físico e socioeconômico) e também
elaborando mapas e bases cartográficas. Em Estudos de Impacto Ambiental (EIA) de
empreendimentos de grande porte, escrevia sobre climatologia, expansão urbana,
históricos de ocupação, sistemas de transportes e temas correlatos. Já participei de
licenciamentos de ferrovias, dutos, portos, usinas de cana de açúcar, minerações e
outros empreendimentos para empresas como Vale, Petrobrás, Cosan, e Indústrias
Nucleares do Brasil. Realizei também, levantamentos de campo de recursos hídricos,
uso e ocupação do solo e outros temas.

Como professor, fui aprovado duas vezes (em 2010 e em 2014) em concurso
da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo, sendo uma delas classificado
em segundo lugar na Diretoria de Ensino de Itapecerica da Serra. Também fui
aprovado no certame da Prefeitura do Município de São Paulo (2015), no qual
aguardo convocação. Atuando no magistério, já ministrei aulas de geografia e de
sociologia, tendo experiência em todas as séries do Ensino Fundamental (6°, 7°, 8° ,
e 9° ano), em todas as séries do Ensino Médio (1°, 2°, e 3° ano), e em todos os níveis
de Educação de Jovens e Adultos (EJA). Também já dei aulas particulares do
software ArcGis, utilizado para fazer mapas. Atualmente, também ministro, de forma
voluntária, aulas preparatórias de ENEM para adolescentes de baixa renda.

Agora que vocês já conhecem minha trajetória, vamos ao que interessa: o


curso de geografia que está sendo ofertado. Primeiramente, é um curso voltado para
o CACD – prova bastante difícil, exigente, e com uma amplitude de temas muito
grande. Por isso, tenham consciência de que o conteúdo é bastante extenso – cerca
de 500 páginas em PDF, mais de 30 horas de vídeo-aulas, mais de 30 questões
dissertativas, e resolução de todas as questões que já caíram no CACD desde
2003. Parece ambicioso, e realmente é. Nós do Estratégia Concursos trabalhamos
assim. A ideia é fazermos um trabalho denso e exigente para que você seja aprovado!
O cronograma de aulas vai seguir à risca o que está sendo pedido no edital, cujos
temas e subtemas são:

1. História da Geografia:
1.1 Expansão colonial e pensamento geográfico.
1.2 A Geografia moderna e a questão nacional na Europa.
1.3 As principais correntes metodológicas da Geografia.

2. A Geografia da População.
2.1 Distribuição espacial da população no Brasil e no mundo.
2.2 Os grandes movimentos migratórios internacionais e intranacionais.
2.3 Dinâmica populacional e indicadores da qualidade de vida das
populações.

3 Geografia Econômica.
3.1 Globalização e divisão internacional do trabalho.
3.2 Formação e estrutura dos blocos econômicos internacionais.
3.3 Energia, logística e re-ordenamento territorial pós-fordista.
3.4 Disparidades regionais e planejamento no Brasil.

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4. Geografia Agrária.
4.1 Distribuição geográfica da agricultura e pecuária mundiais.
4.2 Estruturação e funcionamento do agronegócio no Brasil e no mundo.
4.3 Estrutura fundiária, uso da terra e relações de produção no campo brasileiro.

5. Geografia Urbana.
5.1 Processos de urbanização e formação de redes de cidades.
5.2 Conurbação, metropolização e cidades mundiais.
5.3 Dinâmicas interurbanas das metrópoles brasileiras.
5.4 O papel das cidades médias na modernização do Brasil.

6. Geografia Política.
6.1 Teorias geopolíticas e poder mundial.
6.2 Temas clássicos da Geografia Política.
6.4 Formação territorial do Brasil.

7. Geografia e gestão ambiental.


7.2 Macro divisão natural do espaço brasileiro: biomas, domínios e ecossistemas
7.3 Política e gestão ambiental no Brasil.

Seria muito simples apenas dar sete aulas, uma para cada tema e acabou. No
entanto, fazendo uma análise histórica das questões, alguns temas costumam cair
mais do que outros. Então, é necessário ajustar o cronograma às demandas da
prova. Vejam a seguir, os itens do edital que mais caíram entre 2003 e 2016 no CACD:

Percebam a predominância dos temas de Geografia Econômica, Geografia


Política e Geografia e Gestão Ambiental, respectivamente, itens 3, 6, e 7.
Naturalmente, devido a maior frequência, estes temas que caem mais demandarão
mais aulas do que os outros que caem menos. Portanto, segue cronograma
ajustado das aulas de geografia para o CACD:

0. Introdução do Curso
AULA 01 - 1.1 Expansão colonial e pensamento geográfico.
qua, 01/02
História da 1.2 A Geografia moderna e a questão nacional na Europa.
Geografia 1.3 As principais correntes metodológicas da Geografia.
sex, 03/02 Aula ao vivo sobre o tema da Aula 01

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seg, 06/02 Questões Dissertativas
2.1 Distribuição espacial da população no Brasil e no
mundo.
2.2 Os grandes movimentos migratórios internacionais e
AULA 02 - qua, 22/02
intranacionais.
Geografia da 2.3 Dinâmica populacional e indicadores da qualidade de
População vida das populações.
sex, 24/02 Aula ao vivo sobre o tema da Aula 02
seg, 27/02 Questões Dissertativas
AULA 03 - 3.1 Globalização e divisão internacional do trabalho.
qua, 08/03
Geografia 3.4 Disparidades regionais e planejamento no Brasil.
Econômica sex, 10/03 Aula ao vivo sobre o tema da Aula 03
Parte I seg, 13/03 Questões Dissertativas
AULA 04 - 3.2 Formação e estrutura dos blocos econômicos
qua, 22/03
Geografia internacionais.
Econômica sex, 24/03 Aula ao vivo sobre o tema da Aula 04
Parte II seg, 27/03 Questões Dissertativas
AULA 05 - 3.3 Energia, logística e re-ordenamento territorial pós-
seg, 10/04
Geografia fordista.
Econômica qua, 12/04 Aula ao vivo sobre o tema da Aula 05
Parte III qui, 13/04 Questões Dissertativas
4.1 Distribuição geográfica da agricultura e pecuária
mundiais.
4.2 Estruturação e funcionamento do agronegócio no
AULA 06 - seg, 24/04
Brasil e no mundo.
Geografia 4.3 Estrutura fundiária, uso da terra e relações de
Agrária produção no campo brasileiro.
qua, 26/04 Aula ao vivo sobre o tema da Aula 06
sex, 28/04 Questões Dissertativas
5.1 Processo de urbanização e formação de redes de
cidades.
5.2 Conurbação, metropolização e cidadesmundiais.
AULA 07 - qua, 10/05
5.3 Dinâmica intraurbana das metrópoles brasileiras.
Geografia 5.4 O papel das cidades médias na modernização do
Urbana Brasil.
sex, 12/05 Aula ao vivo sobre o tema da Aula 07
seg, 15/01 Questões Dissertativas
AULA 08 - qua, 24/05 6.1 Teorias geopolíticas e poder mundial.
Geografia
sex, 26/05 Aula ao vivo sobre o tema da Aula 08
Política
Parte I seg, 29/05 Questões Dissertativas
6.2 Temas clássicos da Geografia Política:
AULA 09 - as fronteiras e as formas de apropriação política do
qua, 07/06
Geografia espaço.
Política 6.4 Formação territorial do Brasil.
Parte II sex, 09/06 Aula ao vivo sobre o tema da Aula 09
seg, 12/06 Questões Dissertativas

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AULA 10 - 7.2 Macro divisão natural do espaço brasileiro:
qua, 21/06
Geografia e biomas, domínios e ecossistemas
Gestão sex, 23/06 Aula ao vivo sobre o tema da Aula 10
Ambiental -
Parte I seg, 26/07 Questões Dissertativas
AULA 11 - qua, 12/07 7.3 Política e gestão ambiental no Brasil.
Geografia e
Gestão sex, 14/07 Aula ao vivo sobre o tema da Aula 11
Ambiental - seg, 17/07 Questões Dissertativas
Parte II
qua, 26/07 Resumo do Conteúdo de Geografia
AULA 12 -
sex, 28/07 Aula ao vivo - Resumão
RESUMÃO
seg, 31/07 Questões Dissertativas

Observe que, para cada aula, começaremos com a disponibilização de 1 aula


em PDF, depois faremos uma 1 aula em vídeo ao vivo (entre 3 a 4 horas) e depois
disponibilizaremos 1 PDF com 3 questões discursivas comentadas. As aulas ao
vivo serão gravadas e disponibilizadas na área do aluno, caso você não consiga
assistir ao vivo.

Como as provas do CACD são bem complexas, os PDFs serão de maior


abrangência possível, para que nenhum conteúdo deixe de ser visto. Como são
muitos temas diferentes, não há uma única bibliografia, mas sim, referências
principais. Escreverei mais especificamente sobre isto na seção de artigos do
Estratégia Concursos.

Nosso curso será bastante aprofundado e lhe dará todas as ferramentas para
você ir muito bem (mesmo!) no TPS e nas provas discursivas. Trabalharemos com o
edital “na mão”, o mais focado possível, procurando trabalhar aquilo que a banca
CESPE/UNB pede nas provas do CACD.

Sei que muitos que estão lendo essa aula agora são iniciantes ou possuem
muita dificuldade em Geografia. Nosso curso não exigirá conhecimentos prévios.
Portanto, se você nunca estudou, ou está iniciando seus estudos em Geografia, ou
se já estudou mas teve imensa dificuldade, fique tranquilo pois nosso curso atenderá
aos seus anseios perfeitamente.

Por outro lado, se você já estudou os temas, e apenas quer revisá-los, ou quer
um maior aprofundamento em alguns itens, o curso também será bastante útil, pela
quantidade de exercícios comentados que teremos e pelo rigor no tratamento da
matéria.

Na aula de hoje, já trataremos de inúmeros temas e você poderá verificar a


nossa didática. Começaremos com o primeiro item do edital, a História da Geografia
ou, História do Pensamento Geográfico, desde a Antiguidade até os dias atuais.
Também mostraremos os principais conceitos e categorias de análise desta ciência.

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2. INTRODUÇÃO À HISTÓRIA DA GEOGRAFIA


A história da geografia pode ser facilmente confundida com a história da
própria civilização humana, fornecendo os conhecimentos necessários ao seu
progresso. Mesmo os primeiros povos da Terra, ao procurarem se orientar e conhecer
o meio em que habitavam, já estavam fazendo geografia sem saber. Paul Claval
chama esta fase pré-científica de geografia vernacular, que era transmitida de
geração em geração. No entanto, as primeiras formas de estudo da Terra são datadas
da Antiguidade Clássica, mais especificamente na Grécia Antiga, quando também
surgiram o teatro, a filosofia, a história e a retórica. Embora não tivesse um arcabouço
teórico metodológico próprio, a geografia evoluiu bastante nesta época.

Deste período, destacam-se principalmente as obras de Cláudio Ptolomeu


(87-50 a.C.). Com oito volumes, sua obra "Geografia" descreve fatos sobre projeção
de mapas à construção de globos, além de noções gerais de matemática, de
astrologia, de astronomia e de filosofia. Uma das contribuições mais relevantes de
Ptolomeu foi seu mapa-múndi, que embora tenha sido feito há dois milênios, revela
com relativa precisão, os detalhes do continente europeu, além de partes da Ásia e
norte da África (América e Oceania não eram conhecidas e não foram mapeadas).

Mapa-múndi de Ptolomeu (87-50 a.C.), já relevando os contornos da Europa.1

1
Fonte: http://www.geografia.seed.pr.gov.br/modules/galeria/detalhe.php?foto=327&evento=5

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Outro grande nome da Antiguidade Clássica foi Estrabão (63 a.C - 24 d.C),
que escreveu sua obra “Geografia”, de mesmo nome de seu colega Ptolomeu. Neste
livro, o geógrafo faz um longo estudo descritivo sobre o mundo conhecido, focando
principalmente em aspectos naturais da Grécia, da Península Ibérica, da Ásia Menor,
e do norte da África. Já na Idade Média, devido ao predomínio do pensamento
religioso, e em função do isolamento social provocado pelo feudalismo, os estudos
em geografia pouco evoluíram, sendo retomados nos séculos XVIII e XIX.

3. EXPANSÃO COLONIAL E PENSAMENTO GEOGRÁFICO

Embora os estudos de geografia fossem bastante ricos e detalhados –


principalmente na Antiguidade – até o final do século XVIII, o conhecimento
geográfico não era padronizado, carecendo de unidade temática e continuidade
nas formulações, englobando materiais dispersos como relatos de viagem,
compêndios de curiosidades sobre lugares exóticos, catálogos sistemáticos sobre
países e continentes e outros produtos dispersos. Ora, existia geografia, mas não
existia ciência geográfica.
Foi somente no século XIX, mais
especificamente na Alemanha e na França, que o
conhecimento geográfico se transformou em
disciplina científica, tendo finalmente, métodos,
metodologias e arcabouços teóricos próprios. Neste
período – após muitos séculos de existência – a
Geografia finalmente obteve unidade metodológica,
ganhando status de “ciência estratégica” para o
governo e para os empreendedores europeus.
Para compreendermos o surgimento da
Geografia – não somente sua origem, mas suas reais
motivações – é necessário entendermos o contexto econômico
e social desta época, sobretudo o que estava acontecendo nos países da Europa
Ocidental.
Primeiramente, a Europa Ocidental – berço da industrialização mundial desde
o século anterior – sendo detentora de um diminuto território que hoje caberia dentro
do Brasil, necessitava urgentemente de matérias primas e recursos naturais para
subsidiar a sua expansão comercial e industrial, e também de territórios
ultramarinos que os fornecessem. Além de produzir, era necessário vender e criar um
mercado consumidor nos países subdesenvolvidos. Assim, os países europeus,
embora possuíssem colônias desde as Grandes Navegações do século XV, nunca
haviam se encontrado numa disputa territorial tão acirrada em terras além-mar,
caracterizando o século XIX como o ápice do imperialismo e do colonialismo mundial.
“Sistema político, econômico e social caracterizado por um processo de dominação
Colonialismo pelo qual uma nação mantém ou estende seu controle sobre territórios ou povos
estranhos.”
Imperialismo Expansão ou tendência para a2expansão do poder político e econômico de uma
nação ou Estado sobre outro.”

2
Fonte: Dicionário Michaelis/UOL Disponível em: http://michaelis.uol.com.br/. Acesso em jan, 2017

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Assim, numa calorosa concorrência provocada
pela industrialização, as potências da Europa
Ocidental – Inglaterra, França, Bélgica, Portugal,
Espanha, e outras – estavam cada vez mais
competindo para a conquista de novos territórios na
América, na Ásia, e principalmente na África. Logo,
para galgar posições na corrida colonial, era
preciso conhecer o mundo, enfim, os aspectos
físicos e antrópicos (sociais) de territórios a serem
conquistados ou mantidos.

Por isso, a Geografia inicialmente foi criada,


enquanto ciência, para servir aos propósitos de
expansão colonial, sendo uma disciplina estratégica
para os estados no século XIX, alimentando o projeto geopolítico de hegemonia
europeia, e obtendo assim, grande prestígio social. Assim, na Conferência
Internacional de Geografia, ocorrida na Bélgica em 1876, ficou decidido que era
necessário explorar e “levar civilização” à África. Antes de dominar o território, era
necessário conhece-lo, cabendo à Geografia um papel decisivo neste processo.
Neste período, inclusive, observou-se um grande progresso da cartografia na
produção de mapas e cartas nas mais diversas escalas.

África colonial
em 1910 partilhada
entre as grandes
potências europeias
em comparação com a
África pouco
colonizada de 1870. O
desenvolvimento da
Geografia teve um
importante papel
nestas ocupações3.
Em azul, colônias
francesas. Em rosa
claro, inglesas. Em
marrom, belgas. E em
laranja, alemãs.

3
Fonte: Source: Ward, Prothero, and Leathes, The Cambridge Modern History Atlas (New York, NY: The
Macmillan Company, 1912). Disponível em: < http://etc.usf.edu/maps/pages/7600/7638/7638.htm>. Acesso
em jan, 2017.

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3.1. Influências Científico-Filosóficas da Geografia do século XIX

Conforme dito anteriormente, antes da Idade Moderna, o conhecimento


geográfico era disperso e não-sistematizado. Assim, os primeiros esforços em
sistematizar a geografia em métodos e metodologias próprias, resultaram no que hoje
chamamos de Geografia Tradicional, desenvolvida na Europa entre o final do século
XIX e a primeira metade do século XX, e nos Estados Unidos antes da Segunda
Guerra Mundial.

Para criar um arcabouço teórico-metodológico próprio que lhe era ausente, os


estudiosos de Geografia desta época recorreram à influências filosóficas e científicas
diversas, como o kantismo, o positivismo, o empirismo, entre outras. Não sairemos
daqui experts em filosofia nem em epistemologia, mas é importante compreender
como estas correntes científico-filosóficas moldaram as primeiras bases teóricas da
Geografia. Afinal, conforme vimos anteriormente, haviam interesses coloniais em
jogo, e era preciso escolher a dedo quais teorias subsidiar o recém criado
conhecimento geográfico.

Uma das primeiras influências desta nova ciência foi o filósofo Immanuel Kant
(1724-1804), que lecionou a matéria de “Geografia Física” por quarenta anos na
Universidade de Königsberg, Alemanha; sendo assim, de grande influência na
solidificação dos métodos de pesquisa na Geografia Tradicional. A experiência
kantiana sistematiza a percepção narrada no tempo (história), e a percepção
presente no espaço (geografia). Juntas, estas duas dimensões forneceriam as
teorias que subsidiariam o conhecimento necessário à exploração de terras não
conhecidas pelos europeus. Para Kant, a Geografia seria tão importante quanto a
história, pois ambas se complementavam na análise da realidade.

A recém criada ciência geográfica também recebeu grande influência do


empirismo, um sistema de análise científica baseada na percepção. Isto é, apreender
o espaço geográfico de acordo com a percepção sensorial, supervalorizando
experiências individuais e descartando análises subjetivas. Tal método fora utilizado
por viajantes como o biólogo Charles Darwin e o geógrafo Alexander Von Humbolt.

Influenciado pelo empirismo, Augusto Comte (1798-1857) formulou o


positivismo, corrente científico-filosófica que seria dominante em todas as ciências
no século XIX e no início do século XX. O positivismo considerava que o mundo era
regido por leis (ordem) e que somente o conhecimento científico experimental seria
válido. Análises metafísicas, teológicas, ou subjetivas não seriam fontes de
conhecimento relevantes.

“Sistema filosófico que nega a existência de axiomas como princípios de


conhecimento, logicamente independentes da experiência, considerando apenas o
Empirismo
que pode ser captado do mundo externo pela experiência sensorial, ou do mundo
interior, pela introspecção.” 4

4
Fonte: Dicionário Michaelis/UOL Disponível em: http://michaelis.uol.com.br/. Acesso em jan, 2017

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Empirismo, é, portanto, conhecer o mundo através da percepção.

“Corrente filosófica de Auguste Comte (1798-1857), que surgiu como reação ao


idealismo, cuja proposta é dar à filosofia um caráter distante da teologia e da
metafísica, e considerar como único e verdadeiro o conhecimento humano,
Positivismo baseando-se apenas em fatos da experiência.”

Positivismo, é, portanto, uma corrente filosófica baseada no experimentalismo


e no empirismo (percepção).

Não cabe aqui enumerar as complexas diferenças e semelhanças entre


empirismo e positivismo, no entanto, é importante compreender que ao contrário do
que ocorre com a ciência geográfica nos dias atuais, a Geografia Tradicional –
embebida no positivismo, no empirismo, e na filosofia de Kant – era descritiva,
sensorial, e experimental, pautada metodologicamente na percepção dos
sentidos e dos fenômenos palpáveis e mensuráveis, como detalhadas descrições
de povos e territórios ao longo do globo.

Precisamos reforçar que a Geografia deste período, era ideologicamente


comprometida ao projeto de hegemonia europeia. Sendo assim, a Geografia
Tradicional, sendo excessivamente descritiva (empírica e positivista), é “enfadonha”
(nas palavras de Lacoste, 1981). Para uma pessoa comum, decorar nomes de
capitais, cadeias de montanhas, tipos de climas, ou fusos horários parece
desnecessário; entretanto, este conhecimento é indispensável para um general
planejador de táticas militares.

Extra: Princípios da Geografia

Estudo da localização dos fenômenos, que seriam diferentes entre si.


Princípio da
Por exemplo, a área urbana de Brasília está no centro-oeste; e a de São
Extensão
Paulo, no sudeste.
Comparação entre acontecimentos e fenômenos, muito utilizada na
Princípio da
Geografia Regional. Por exemplo, comparar a urbanização de Brasília e
Analogia
a urbanização de São Paulo.
Estudo das causas dos fenômenos. Por exemplo, ao estudarmos as
Princípio da
causas da urbanização de Brasília, vamos chegar ao Plano de Metas de
Causalidade
Juscelino Kubitschek.
Estudo da continuidade dos fatos (do passado, pelo presente, para o
Princípio da
futuro). Por exemplo, Brasília foi criada nos anos 1960, hoje tem cidades-
Atividade
satélites com periferias, e no futuro, elas tendem a se expandir.
Estudo das conexões entre os fenômenos. Por exemplo, nos anos 1980,
Princípio da
a economia do Brasil estava ruim, logo, as áreas periféricas de Brasília e
Conexão
São Paulo aumentaram.

http://www.ub.edu/geocrit/b3w-844.htm

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M M R

Q O G
E T

O E
Q
Q
G T
G T G T

1. A GEOGRAFIA MODERNA E A QUESTÃO NACIONAL NA EUROPA

Mesmo com o grande interesse das potências europeias de expansão colonial,


talvez a geografia não tivesse surgido com o mesmo interesse e intensidade se não
fosse o nacionalismo exacerbado dos países e impérios europeus no final do século
XIX. De fato, após séculos de feudalismo e isolamento econômico, outrora agravado
pelas invasões napoleônicas, era preciso criar uma identidade nacional que desse
coesão e força simbólica às grandes potências. Antes de colonizar fora de casa, era
preciso ter uma casa forte.

Neste contexto, a Geografia, apesar de não ter o nacionalismo como foco


primordial, acabou prestando enorme auxílio aos seus anseios. Conforme veremos a
frente, para legitimar a existência desta “unidade”, as potências europeias recorreram
aos atributos físicos – como feições do território – e às concepções sociais, como
idiomas e aspectos culturais. A Geografia, estudando as relações entre os elementos
físicos e humanos da paisagem, era a ciência perfeita para exacerbar a unidade
territorial e costurar o nacionalismo dos países europeus.

Dentre as potências do velho continente, o elemento nacionalista foi ainda mais


importante ainda na Alemanha, onde, não por acaso, a Geografia surgiu como
disciplina. Unificado oficialmente em 1871, o Império Alemão – outrora composto de
vários pequenos territórios autônomos – passou a reunir, artificialmente, vários povos
que, embora falassem o mesmo idioma, eram de identidades culturais distintas. O
chanceler de ferro Otto von Bismarck (1815-1898), unindo todos estes grupos sob um
único sentimento de nacionalidade, ajudou criar o estado-nação alemão.

Não por acaso, o eixo principal de elaboração geográfica do século XIX estava
sediado na Alemanha. Os primeiros autores da Geografia – Humboldt e Ritter – eram
germânicos, assim como as primeiras teorias e cátedras desta disciplina. Tendo em
vista esta questão nacional, a geografia começou a se preocupar principalmente com
o estudo regional, ou, posteriormente, com a diferenciação de áreas – influenciando
a Geografia Regional, defendida em diferentes momentos por geógrafos como Vidal
de La Blache (1845-1918), Alfred Hettner (1859-1941) e Richard Hartshorne (1899,

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1992). Estudando as diferenças entre as regiões, a geografia poderia desvendar ou
criar “territórios exclusivos”, alimentando o nacionalismo e a identidade nacional; e,
consequentemente, servindo ao projeto de dominação das grandes potências.

Territórios e províncias unificados pelo Império Alemão. O nacionalismo foi


essencial para dar coesão ao recém criado país. 5

Foi também na Idade Moderna que iniciaram-se as discussões sobre estado-


nação, conceito tão caro à ciência geográfica, porém, tendo sido desconhecido e/ou
pouco desenvolvido nos séculos anteriores. Enquanto o estado constitui uma unidade
político-administrativa, a nação corresponde à identidade étnico-cultural. O estado-
nação, seria, portanto, uma construção administrativa e cultural presente em um
determinado tempo e espaço.

Uma vez desenvolvido, o conceito de estado-nação acarretaria em


transformações na própria natureza administrativa deste estado: este, não mais seria
um ente desarticulado, mas sim a expressão política da vontade comum. Deste modo,
os antigos povos prussianos, bavários, saxões, entre outros, passariam a ser
definitivamente integrantes e pertencentes ao Império Alemão.

Neste contexto, estudo da integração entre processos físicos e sociais –


essência esta, da geografia – fortaleceu o estado-nação, e colaborou, ainda mais,
para o imperialismo europeu.

5
Fonte: Maps of All History. Disponível em: http://www.mrallsophistory.com/revision/ Acesso em jan, 2017.

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Geografia Tradicional de base empirista e


positivista.

Diferenciação de áreas, regiões ou territórios.

Identificação de territórios exclusivos e


fortalecimento da identidade nacional.

Criação do estado-nação e consolidação de


impérios (por ex: Alemão)

Com império fortalecido, maior facilidade em


expansão colonial e obtenção de recursos.

Envolvido por este contexto histórico, um dos primeiros e mais famosos


geógrafos da corrente tradicional foi o alemão (ou, antigo prussiano) Alexander von
Humboldt (1769-1859), que viajou grande parte do globo – incluindo América do Sul,
América do Norte, Ásia, e África – para descrever a geografia dos locais em que
passava. De formação naturalista, Humboldt é autor do livro Kosmos, de cinco
volumes, um minucioso compêndio de conhecimentos que visava, audaciosamente,
sistematizar todo o conhecimento da Terra (para Humboldt, a geografia seria a síntes
de todas as outras ciências).

Já o também alemão Carl Ritter (1779-1859), de formação histórico-filosófica,


esforçou-se, em sua obra “Geografia Comparada” para propor as bases
metodológicas do que chamou de “geografia”, “uma disciplina eminentemente
sintética, preocupada com a conexão entre os elementos, e buscando através destas
conexões, a causalidade existente na natureza”

Desta forma, Humboldt (contribuindo com a geografia física, de forma


empirista) e Ritter (contribuindo com a geografia humana, de forma teórico-
metodológica) foram os precursores da geografia moderna. Apesar de possuírem
formação, foco, e objetivos distintos, tanto Humbolt quanto Ritter compreendiam
a geografia como ciência-síntese, concepção até hoje aceita por muitos geógrafos.

Apesar dos esforços anteriores de Humbolt e Ritter, o principal nome da


geografia alemã foi o geógrafo e etnólogo Friedrich Ratzel (1844-1904). Enquanto
os dois primeiros viveram o ideal de unificação alemã, Ratzel vivenciou a real
consolidação do estado alemão, o que lhe deu maior compreensão dos fenômenos
geopolíticos da época. Um de seus principais conceitos, o de espaço vital (em
alemão, lebensraum), corresponde ao conjunto de condições necessárias à
sobrevivência de uma determinada sociedade, incluindo territórios e recursos
naturais. O espaço vital seria, portanto, o equilíbrio entre uma determinada
população e os recursos disponíveis para suprir suas necessidades. Assim,
quando ocorre o desequilíbrio do espaço vital – ou seja, quando a população “precisa”
de novos recursos e/ou territórios para se desenvolver – nada mais justo, segundo a
concepção de Ratzel, do que expandi-lo para outros locais.

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A escola alemã de geografia – encabeçada por Ratzel – seguia o
determinismo geográfico, sendo também conhecida como escola determinista.
Para esta corrente do pensamento, o homem seria produto da superfície terrestre.
Ou seja, o desenvolvimento do homem estaria necessariamente condicionado ao seu
meio natural. Assim, enquanto ambientes hostis formariam populações pouco
desenvolvidas, ambientes favoráveis (com abundância de recursos) seriam palco de
populações com maior desenvolvimento.

Para o determinismo geográfico, o ambiente determina o caráter de uma


sociedade.

Esta concepção científica – embasada nos conceitos de determinismo


geográfico e de espaço vital – legitimou o discurso político-estratégico do recém
criado estado germânico: era preciso conquistar novos recursos e territórios, e neste
ínterim, pode-se afirmar que a ciência geográfica de Ratzel deu o suporte
intelectual necessário à expansão do Império Alemão.

Por outro lado, na mesma época, ainda na Europa Ocidental, estava em


desenvolvimento a escola francesa de geografia, cujo maior expoente seria Vidal de
La Blache (1845-1918), cujas contribuições incluem sistematizar a ciência geográfica
como sendo a relação entre o homem e o meio; e chama-la no que denominamos
de “estudo das regiões”. Para La Blache, portanto, a preocupação primordial da
geografia deveria ser o estudo das diferenças entre as várias regiões do globo.

No entanto, apesar destas contribuições, La Blache só foi tornar-se


amplamente reconhecido quando criou a base base filosófica do possibilismo
geográfico. Para esta teoria – em contraposição ao determinismo geográfico de
Ratzel – a natureza seria somente uma condição, e não um fator primordial, pois
sendo o homem um agente histórico, o meio natural por si só não seria
suficientemente determinante na construção da sociedade. Em suma, para o

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possibilismo geográfico de La Blache, ao contrário do que pregava o determinismo de
Ratzel, o homem pode mudar o território de acordo com suas necessidades.

Para o possibilismo, mesmo que o ambiente seja hostil, o homem, através


da técnica, pode alterá-lo para atender suas necessidades.

Todavia, conforme vimos até aqui, a Geografia Tradicional – aparentemente


neutra – não era isenta, mas sim, atendia a projetos de poder: a dicotomia existente
entre possibilismo e determinismo não escapava desta teia de intencionalidades,
sendo útil tanto à França quanto à Alemanha.

Friedrich Ratzel (1844-1904) Alemanha não possuía muitas


colônias, então precisava de
Determinismo Geográfico um discurso científico para
promover a expansão do seu
Espaço Vital império. “Vamos colonizar
para aumentar nosso espaço
“O território molda o homem” vital”, afinal “nosso território
não favorece”

Vidal de La Blache (1845- França tinha um grande


1918) império com muitas colônias,
então precisava de um
Possibilismo Geográfico discurso que freasse a
expansão de países vizinhos.
“O homem molda o território” “Nós podemos mudar nosso
território (possibilismo), então
para que precisamos de mais
colônias!?”

Enquanto a França (berço do possibilismo) possuía um vasto império global,


superado apenas pelo Império Britânico, ocupando significativa parcela do território
africano e diversas localidades ao redor do globo, a Alemanha (berço do
determinismo), sendo prejudicada pela entrada tardia na corrida colonial, possuía
poucas possessões no continente, hoje correspondendo somente aos atuais países
de Camarões, Tanzânia, Namíbia, e Togo. No passo em que o discurso de Ratzel
(determinismo e espaço vital) era interessante para o projeto de expansão do Império
Alemão, o discurso de La Blache (possibilismo) era fundamental para frear o
imperialismo de nações rivais, como o próprio Império Alemão.
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Império francês em 1914, o segundo maior do mundo. A França se dizia possibilista,


mas com tantas colônias, seria coerente ao seu discurso?6

Evidentemente, há outras contribuições para a geografia do período, como a


Teoria da Evolução (Darwinismo), que aplicada às ciências sociais – vertente
denominada Darwinismo Social, transpunha, equivocadamente, a realidade das
ciências naturais para os grupos sociais, conclamando que somente as populações
mais adaptadas a determinados territórios conseguiriam, de fato, sobreviver às suas
condições. A partir de então, os países europeus utilizaram o darwinismo social
para “levar civilização” ou “levar progresso” aos outros povos do mundo,
legitimando sua expansão colonial; afinal, para esta corrente, “somente os povos
mais fortes sobreviveriam”. Atualmente, o darwinismo é bastante respeitado e
utilizado nas ciências biológicas, em contrapartida, o darwinismo social é amplamente
rejeitado pela comunidade científica.

CACD 2016 – Prova Objetiva – Questão 31

No início do século XIX, o conjunto de pressupostos históricos de sistematização


da geografia já havia ocorrido: a Terra já estava toda reconhecida; a Europa
articulava um espaço de relações econômicas mundial; havia informações dos
lugares mais variados da superfície terrestre, bem como representações do globo,
devido ao uso cada vez maior de mapas.

Antônio Carlos Robert Moraes. Apud: Auro de Jesus Rodrigues. Geografia:


introdução à ciência geográfica. São Paulo: Editora Avercamp, 2008 (com
adaptações).

O neocolonialismo teve forte influência no desenvolvimento do pensamento


geográfico europeu durante o século XIX e o início do século XX. A geografia,
enquanto ciência a serviço dos Estados nacionais, foi instrumento de poder europeu
sob vastas extensões territoriais na África, na América, na Ásia e na Oceania. A
respeito desse assunto, julgue (C ou E) os itens que se seguem, tendo como
referência o texto apresentado.

6
Fonte: http://www.mheducation.com/highered/home-guest.html Acesso em: jan, 2017.

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1) Os estudos da geografia na França, com uma formação filosófica e social


mais humanista, voltavam-se, no período citado, para os estudos das
diferenças entre as várias regiões do país e do mundo, com apontamentos
das causas do subdesenvolvimento das colônias e da riqueza das
metrópoles.

A geografia francesa no século XIX era pautada no possibilismo geográfico de Vidal


de la Blache, e não no humanismo. A Geografia Humanista só foi surgir anos 1970,
cerca de cem anos depois. Também está errada a afirmação de que a geografia
tradicional francesa estudava as causas do subdesenvolvimento das colônias.

Gabarito: Errado

2) O levantamento e a descrição de informações nos trabalhos geográficos


do século XIX e do início do século XX foram influenciados pela ideia de
multidisciplinaridade das ciências. Assim, as informações sobre paisagens e
regiões eram apresentadas, de forma detalhada, com sessões conjuntas para
fatos humanos (população, economia, povoamento etc.) e fatos naturais
(clima, relevo, vegetação, geologia, hidrografia, recursos naturais).

A alternativa está quase correta. De fato, os estudos de geografia tradicional eram


bem detalhados, principalmente em à descrição dos aspectos físicos dos territórios.
No entanto, apesar da geografia ser considerada uma “ciência-síntese”, este
conhecimento não era multidisciplinar. Era estritamente descritivo, com
metodologias próprias da geografia da época.

Gabarito: Errado

3) Os estudos geográficos constituíram, no período citado, uma justificativa


ideológica de legitimação da exploração de outros povos pelos países
imperialistas, em substituição à religião, cujas explicações para tal
exploração estavam sendo questionadas, com a difusão do conhecimento
científico.

O conhecimento geográfico é estudado desde a Antiguidade, porém, somente no


século XIX que a geografia torna-se uma ciência com métodos próprios.
Justamente porque havia, nesta época, um grande interesse das potências
europeias em manter ou ampliar suas colônias. Então, está correto.

Gabarito: Certo

4) O determinismo geográfico serviu para a legitimação das políticas


expansionistas dos países imperialistas europeus, notadamente o alemão. O
geógrafo alemão Ratzel, por exemplo, teorizou a relação entre os Estados
nacionais e seu território, apontando que o potencial de desenvolvimento de
um Estado-nação se daria basicamente pela relação entre dois fatores: a
população e os recursos naturais do território.

O determinismo geográfico – ideia concebida por Ratzel, pregava que os grupos


humanos eram moldados pelas características do território. Além disso, cada
sociedade precisaria de um espaço vital com recursos suficientes. Estes dois

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conceitos ratzelianos (determinismo e espaço vital) vão, de fato, legitimar a
expansão ultramarina do Império Alemão.

Gabarito: Certo

CACD 2010 – Prova Objetiva – Questão 37

Os primeiros anos da modernidade são marcados pela produção de uma enorme


quantidade de dados e de informações dificilmente tratáveis de maneira sistemática
pela ciência da época. A ausência de segmentação no seio da ciência
impossibilitava a análise de certos temas particulares nascidos desses dados.
Assim, a partir do início do século XIX, os domínios disciplinares específicos
organizaram-se definindo seu objeto próprio em torno dessas questões.

Paulo César da Costa Gomes. Geografia e modernidade. Rio de Janeiro: Bertrand


Brasil, 2007, p. 149 (com adaptações).

A partir do texto acima, assinale a opção correta acerca da história do


pensamento geográfico e da institucionalização da geografia como ciência.

A) A geografia científica, que surgiu a partir do século XIX, com as obras de


Alexander von Humboldt e Carl Ritter, foi influenciada pelo saber geográfico
anteriormente produzido e pelo sistema filosófico de Emmanuel Kant, que
considerava a geografia uma ciência ao mesmo tempo geral/sistemática e
empírica/regional.

Kant lecionou geografia durante muitos anos como professor universitário e


influenciou Humbolt e Ritter. O primeiro, de formação naturalista, contribuiu mais
para a geografia física; e o segundo, de formação social, contribuiu mais para a
geografia humana; assim, ambos ajudaram a sistematizar a geografia.

Gabarito: Certo

B) A geografia moderna tornou-se científica com a ascensão do possibilismo,


cujos ideais, já em meados do século XIX, superaram as ideias deterministas
e naturalistas em voga no início do século.

Conforme o item anterior, a geografia tornou-se científica com Humbolt, Ritter, e


mais tarde com Ratzel - este último da escola determinista alemã. O possibilismo,
que veio posteriormente, não superou o determinismo, mas as duas correntes
conviveram simultaneamente durante um bom tempo na Europa.

Gabarito: Errado

C) A institucionalização da geografia como disciplina acadêmica originou-se


na França, com os estudos regionais empreendidos pelos herdeiros do
Iluminismo do século XVIII, como Vidal de La Blache.

Conforme apontado nos itens anteriores, o determinismo veio antes do


possibilismo. Os primeiros geógrafos eram alemães, e não franceses.

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Gabarito: Errado

D) A geografia firmou-se como domínio disciplinar específico na Antiguidade,


com obras de geógrafos como Estrabão e Ptolomeu, que delimitaram o objeto
de estudo próprio da nova disciplina que surgia: o espaço terrestre.

Os estudos Estrabão (obra “Geografia com 17 volumes contando as características


dos povos da Terra) e Ptolomeu (que contribuiu muito para a cartografia e para a
astronomia) embora fossem de grande qualidade, não delimitaram o objeto de
estudo da geografia. Aliás, a geografia só foi surgir como ciência no século XIX, até
então, não sendo uma disciplina específica até então.

Gabarito: Errado

E) Grande parte dos historiadores da geografia atribui a Alexander von


Humboldt a responsabilidade pelo estabelecimento das novas regras do
pensamento geográfico moderno, visto que ele rompeu com o
enciclopedismo francês e abandonou as narrativas de viagens e as
cosmografias

Humboldt era um viajante naturalista que descrevia de forma empírica as


características dos locais onde passava. Ele REFORÇOU o enciclopedismo,
UTILIZOU-SE de narrativas e ESCREVEU seu livro chamado Cosmos. A
alternativa, portanto, está totalmente inversa à realidade.

Gabarito: Errado

M M R

P A C

O E N Q Q

A
H K E O
XIX R

2. PRINCIPAIS CORRENTES METODOLÓGICAS DA GEOGRAFIA


Desde o século XIX até os dias atuais, a ciência geográfica passou por
diversas transformações. Desde o que tange ao seu objeto de estudo, quanto ao que
diz respeito aos seus métodos e metodologias, diversas correntes metodológicas têm

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convivido ora de forma harmônica, ora de forma contraditória, moldando o que seria
o pensamento geográfico.

Basicamente – excetuando correntes metodológicas paralelas, e focando só


nas centrais – temos, a grosso modo, quatro fases do pensamento geográfico. A
primeira, já mencionada aqui, refere-se a Geografia Tradicional, concebida
principalmente pelos alemães e pelos franceses, predominante entre a segunda
metade do século XIX até a primeira metade do século XX. Já entre os anos 1940 e
1950, foi bastante popular a Geografia Racionalista, muito confundida com a
Geografia Regional, desenvolvida nos Estados Unidos, que para alguns, foi a
continuação da fase tradicional. Doravante, nos anos 1970 – através de um amplo
movimento de renovação – apareceram duas correntes principais: a Geografia
Pragmática, focada em estatística e matemática, que em poucos anos caiu em
desuso; e a Geografia Crítica, diametralmente oposta, de cunho marxista, que
triunfando sob as demais, vigora até hoje como corrente metodológica majoritária.

Geografia
Geografia Tradicional Geografia Geografia Crítica
Racionalista
(séc. XIX - metade do Pragmática Anos 1970 - dias
Anos 1940 - anos
séc. XX) Anos 1970 atuais
1960

Parece complicado, mas fiquem tranquilos. Nas linhas a seguir, vamos estudar
um pouco destas principais correntes – que relembrando, são somente as principais
entre muitas outras da geografia – focando sobretudo, na área de geografia humana,
objetivo primordial do CACD. Para não ficar repetitivo, não começaremos pela
Geografia Tradicional. Afinal, o capítulo anterior já detalha o suficiente sobre esta
corrente do pensamento geográfico.

2.1. Geografia Racionalista (Geografia Regional?)


A Geografia Racionalista surgiu nos anos 1940 e 1950, liderada principalmente
pelo geógrafo alemão Alfred Hettner (1859-1941) e pelo geógrafo estadunidense
Richard Hartshorne (1899-1992). Ao contrário de Ratzel e La Blache – que entendiam
esta disciplina sob a perspectiva homem x território – Hettner e Hartshorne vão
estudar a geografia considerando as diferenças entre as áreas, dando um maior
enfoque à Geografia Regional7. Trata-se, portanto, de uma mudança significativa do
foco da ciência geográfica, tornando-a mais comparativa do que anteriormente no
século XIX.

7
Hettner e Harshorne contribuíram enormemente para a Geografia Regional, mas não a inauguraram. Os
primeiros escritos deste ramo foram feitos por Vidal de La Blache, sistematizando o estudo regional. A Geografia
Regional é atemporal e independe da Geografia Racionalista.

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A Geografia deve estudar relações entre


Geografia Friedrich Ratzel (Alemanha)
o homem e o meio (determinismo ou
Tradicional Vidal de la Blache (França)
possibilismo)

Não! Na verdade a Geografia deve


Geografia Alfred Hettner (Alemanha)
estudar diferenças entre as áreas, e
Racionalista Richard Hartshorne (EUA)
depois relacioná-las.

O primeiro grande passo para esta mudança foi dado por Alfred Hettner
(1859-1941), professor da Universidade de Heideberg e editor de uma das revistas
científicas mais conceituadas da Alemanha, Geographische Zeithrift. Influenciado por
Ratzel e por La Blache, Hettner cria um terceiro caminho para a ciência geográfica.
Contestando estes dois autores já consagrados, Hetter propõe um novo foco para
a Geografia, que deveria se preocupar em diferenciar as áreas, relevando-lhes
suas características singulares.

Todavia, embora Hettner fosse um professor de


destaque, suas ideias pouco repercutiram entre os geógrafos
até serem retomadas, nos anos 1950, pelo estadunidense
Richard Hartshorne (1899-1992), que estando em solo norte-
americano, conseguiu aprimorar e divulgar as teorias de seu
colega alemão. É preciso salientar que nesta época, os
Estados Unidos se consolidavam, definitivamente, após terem
saído vitoriosos em duas guerras mundiais consecutivas,
como a maior potência militar, econômica, e científica do globo,
desbancando os países de Europa Ocidental que outrora eram
vanguarda no conhecimento geográfico. Deste modo, nos
anos 1950 e 1960 – Hartshorne encontrou respaldo suficiente
para divulgar e aprimorar as teorias até então esquecidas de
Alfred Hettner
seu colega alemão Hettner.

Além da mudança de foco, outro grande salto se


deu em relação à própria funcionalidade do conhecimento
geográfico. Para os racionalistas, a Geografia
Tradicional teria pouca aplicabilidade científica, e
portanto, não seria suficientemente relevante. Portanto,
além de aprofundar o “terceiro caminho” de Hettner,
Hartshorne criou uma metodologia própria para estudos
geográficos, subdividindo-as em: geografia ideográfica,
para estudos locais ou regionais, e geografia
nomotética, para estudos gerais.
Richard Hartshorne

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Esta subdivisão faz-se necessária pelo simples fato de que não é possível ter
profundidade e abrangência ao mesmo tempo: para fazer geografia, é preciso
necessariamente escolher um enfoque. O mesmo acontece com a cartografia: seria
impossível elaborarmos um mapa-múndi que fosse hiper-detalhado com todas as
ruas e bairros do planeta. Para mostrar o mundo inteiro, seria preciso renunciar o fator
detalhamento. O mesmo também é verdadeiro: se quiséssemos detalhamento (por
exemplo, mapear todos os postes de luz de uma cidade), seria necessário focar em
apenas uma localidade, abrindo mão do todo.

Independentemente da abordagem
escolhida, para Hartshorne, o primeiro passo para
a investigação científica seria a delimitação de
áreas. Uma “área” seria um local exclusivo de
acordo com os critérios estabelecidos pelo
cientista; portanto, uma parcela da superfície
terrestre, que por um ou mais critérios seria
distinta das demais. Após o recorte inicial, seria
feita uma integração dos fatores intrínsecos
àquela área. Na geografia ideográfica (regional
e local), o maior número de fatores é integrado à
exaustão até atingir um quadro detalhado daquela área. Já na geografia nomotética
(geral), a integração é feita de forma relativamente superficial, e o resultado é
extrapolado para áreas semelhantes a fim de atingir um quadro geral da realidade
geográfica.

Geografia Idiográfica (Regional e Local)

Delimito áreas de acordo Integro o máximo de fatores de Por fim, consigo ter um
com critérios, mas elas ainda forma aprofundada (por quadro detalhado e
são desconhecidas para mim. exemplo, clima, relevo, individualizado de cada área
vegetação, etc). estudada.

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Geografia Nomotética (Geral)

Delimito áreas de acordo Integro dois ou três fatores de Por fim, extrapolo os dados
com critérios, mas elas ainda forma superficial (por para as outras áreas com o
são desconhecidas para mim. exemplo, relação entre relevo e mesmo padrão e consigo ter
ocupação humana) e um quadro geral (se o relevo
estabeleço um padrão. for X, a ocupação humana
será Y)

A Geografia Tradicional e a Geografia Racionalista forneceram um amplo


quadro descritivo do planeta Terra. Estas duas correntes da geografia – que muitos
consideram uma só – foram responsáveis pela consolidação e pelo amadurecimento
dos métodos e metodologias geográficas por aproximadamente um século.

No entanto, conforme veremos no item seguinte, devido a várias mudanças


políticas, econômicas, e espaciais que sacudiram o Brasil e o mundo, estas formas
tradicionais de geografia, sendo incapazes de compreender as novas dinâmicas
globais, foram cada vez menos utilizadas, até caírem em (quase) total esquecimento.

As formas tradicionais – Geografia Tradicional e Geografia Racionalista –


ficaram ultrapassadas inclusive no ensino desta disciplina na escola básica. Nossos
avós provavelmente decoraram as capitais do Brasil, memorizaram os maiores rios
do mundo, ou aprenderam a extensão de todos os biomas do mundo. Este tipo de
ensino, descritivo, detalhado, empírico, e classificatório – é considerado resquício da
Geografia Tradicional.

2.2. Crise e Renovação na Geografia


Durante os anos 1950, a Geografia Tradicional – juntamente à Geografia
Racionalista – começava a dar sinais de cansaço, crise esta, que se intensificou na
década seguinte, culminando na total renovação da ciência geográfica nos anos 1970.
Até então, a geografia impunha uma unidade de pensamento, uma certeza
metodológica que, que durante aproximadamente um século, solidificara os rumos
desta ciência. No entanto, os acontecimentos deste período provocaram uma ruptura
permanente ao modo tradicional de se pensar geografia, relegando os estudos
de Hartshorne, Ratzel, La Blache, entre outros, ao quase total ostracismo acadêmico.

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Nos anos 1970, os métodos e metodologias
tradicionais da Geografia tornavam-se insuficientes para
explicar a realidade geográfica com a complexidade que
ela agora demandava. O capitalismo, agora em fase
monopolista, formava cartéis, trustes, e o grande capital –
aliado ao estado – ganhava cada vez mais força na
configuração da realidade. Novos processos
tecnológicos, industriais e logísticos foram criados,
alterando as relações de trabalho, aumentando os fluxos
e remodelando o espaço geográfico. O mundo estava
cada vez mais urbano. Além disso, acontecimentos
políticos como o surgimento e/ou fortalecimento de
grupos organizados de esquerda – contra a lógica
hegemônica do capital – foram criando um jogo de forças antagônicas de grandes
proporções. Enfim, o mundo estava mudando, e a Geografia deveria acompanhar
estes processos.

No cerne deste quadro social conturbado, surgiram diversas correntes de


pensamento geográfico que, como a Geografia Pragmática e a Geografia Crítica,
que apesar de terem sido diametralmente opostas, tiveram grande aceitação
científica. Ao passo que a primeira flertava com a matemática e a estatística,
diminuindo a distância entre a Geografia e as ciências exatas; a segunda – de caráter
revolucionário – relembrava as ideias de Karl Marx (1818-1883) e trazia a luta de
classes para a esfera espacial. Enquanto a Geografia Pragmática foi “fogo de palha”
brilhando apenas alguns anos, a Geografia Crítica solidificou-se com grande êxito
para a efemeridade, firmando-se como a corrente majoritária da Geografia.

Além das consagradas Geografia Pragmática e Geografia Crítica, nesta época


também emergiram correntes metodológicas paralelas como a Geografia Humanista
ou Teoria do Geossistema; sendo a primeira, influenciada pela fenomenologia e pela
percepção humana, e a segunda, aplicada aos sistemas ambientais.

Renovação da Geografia – Cenário conceitual dos anos 1970

Correntes do pensamento geográfico dominantes

Geografia Influências da matemática e da Foi bastante relevante nos anos 1970,


Pragmática estatística. mas hoje é pouco estudada.

Hoje é a corrente dominante em


Geografia Influências do filósofo Karl Marx
Geografia Humana, com ampla
Crítica e dos movimentos de esquerda.
vantagem numérica entre as demais.

Correntes do pensamento geográfico paralelas

Geografia Nunca foi corrente dominante, sempre


Influências da fenomenologia.
Humanista foi estudada de forma paralela.
Estudada principalmente na Geografia
Teoria do Influências da Teoria Geral dos
Física, embora seja também utilizada
Geossistema Sistemas de Bertalanffy (1968)
para análises sociais.

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Nas linhas abaixo, ainda neste capítulo, vamos descrever brevemente a
Geografia Humanista e a Teoria do Geossistema – que sendo teorias estudadas com
menor frequência, possuem menor probabilidade de cair na prova. Depois, em
capítulos separados – com a dedicação que merecem – veremos as definições e
aplicações da Geografia Pragmática e da Geografia Crítica, estas com maior
probabilidade de aparecerem em alguma questão do CACD. Então vamos lá.

Primeiramente, face ao surgimento da Geografia Crítica e da Geografia


Pragmática, surgiu uma terceira via denominada Geografia Humanista, de caráter
humanista, que embora fosse minoritária nesta ciência de forma geral, ajudou a
moldar o pensamento geográfico do século XX. Com base na fenomenologia, esta
corrente estuda principalmente as relações humanas e culturais referentes a
identidade e pertencimento, enfatizando as relações entre homem e ambiente.

“Método filosófico que se propõe a fazer uma descrição da experiência


Fenomenologia vivida da consciência, por meio de uma volta às coisas em si, a fim de
reencontrar a verdade nos dados originários da experiência.”

Dentro do campo da Geografia Humanista, o principal nome – que concebeu


forneceu sua base teórica – foi o geógrafo chinês Yi Fu Tuan (1930~), que
desenvolveu o conceito de topofilia correspondendo a afinidade em que se vive em
determinado ambiente, sendo este natural ou não (topo = lugar; filo = amor), cujo
oposto seria topofobia (aversão ao ambiente vivido). Quando o homem possui
topofilia (amor), ele naturalmente reagiria de forma saudável ao entorno, produzindo
relações sócio-espaciais positivas. Já quando é dotado de topofobia (repulsa), o
indivíduo ou grupo social, agiria de forma desleixada ou negativa no espaço
geográfico.

Por outro lado, enquanto Yi Fu Tuan tentava


dar novos caminhos à Geografia Humana, o
soviético Viktor Borisovich Sochava (1905-1978),
trazia novos rumos à Geografia Física através da
Teoria do Geossistema8 ou Geossistemas,
influenciando principalmente, as ciências
biológicas. Trata-se de uma adaptação da Teoria
Geral dos Sistemas do austríaco Ludwig von
Bertalanffy (1901-1972), esta última, aplicável a
Yi Fu Tuan
todas as disciplinas. De acordo com esta teoria,
sistemas constituíram conjuntos de objetos ou fluxos, materiais ou imateriais, que
interagiriam entre si; possuindo entradas (inputs) e saídas (outputs) que
representariam seu(s) fluxo(s) de energia, como por exemplo, empresas (sistemas
hierárquicos), redes (sistemas de transportes), ou ecossistemas (sistemas
biológicos).

Entretanto, vamos ser honestos: a Teoria do Geossistema já é minoritária na


própria Geografia, e quando é raramente utilizada, o fazem, na maioria das vezes,
para aplicações em Geografia Física. Mesmo assim, esta teoria pode ser direcionada
ao estudo dos aspectos humanos do espaço geográfico, sobretudo em relação à

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interface entre seus aspectos físicos e sociais. Há, por conseguinte, um grande
campo em potencial para tais aplicações.

Podemos observar que, ao contrário da Geografia Tradicional, o movimento


de renovação da geografia não possui uma unidade. Isto é, está esfacelado em
diversas teorias que atendem a diversos propósitos científicos e ideológicos. Ninguém
aqui vai sair expert em História do Pensamento Geográfico, mas é importante
compreender a dimensão destas rupturas. É preciso entender que, durante os anos
1970, a Geografia trilhou um caminho irreversível de liberdade metodológica e
pulverização; ficando difícil, inclusive, saber onde são limites da ciência geográfica.
Hoje, não é exagero dizer que nem os Geógrafos sabem direito o que a Geografia
estuda, de tão abrange que esta ficou.

A seguir, conforme combinado, vamos detalhar a Geografia Pragmática, e a


Geografia Crítica, sendo estes, os dois principais produtos do movimento de
renovação da geografia dos anos 1970.

2.3. Geografia Pragmática


Também conhecida como Geografia Quantitativa,
Geografia Teorética, Nova Geografia ou New Geography
(sim, são todos sinônimos para a mesma coisa, cuidado não
confundir!), a Geografia Pragmática propõe, principalmente,
um método sistêmico para a ciência geográfica, baseado em
modelos matemáticos e estatísticos. Das correntes do saber
geográfico, esta é, de longe, a que mais se aproxima das ciências
exatas. A incorporação de números e equações à análise espacial,
segundo os seguidores da New Geography, deu-se através da
incapacidade da Geografia Tradicional de fazer prognósticos e
prever situações. Para os geógrafos pragmáticos – daí o termo
“pragmático” – era preciso utilizar a geografia para fins práticos,
auxiliando a tomada de decisões. Portanto, ao propor-se a fazer prognósticos, a Nova
Geografia reforçava o planejamento territorial exercido pelo estado.

O trabalho de campo foi, por muitas vezes, trocado pelas análises


computacionais e sensoriais, facilitadas pelo avanço da tecnologia característica
desta época. O espaço geográfico – outrora analisado de forma empírica – passou a
ser estudado de acordo com médias, variáveis, tabelas, gráficos, e materiais
“práticos”. No entanto, embora haja a ausência de empirismo – no sentido strictu da
palavra – as técnicas da Geografia Pragmática são classificadas como
neopositivistas, pois retomam o positivismo clássico no sentido de “ordem” e “lógica”
no contexto espacial.

Embora fosse bem intencionada – e de fato, parece uma ótima ideia dar um ar
de praticidade à uma ciência já consolidada – a Geografia Pragmática sofreu
inúmeras críticas, sendo duramente atacada até os dias de hoje. Após sofrer uma
enxurrada de questionamentos, esta corrente do pensamento geográfico acabou
caindo no ostracismo. A seguir, um breve resumo destas críticas:

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Principais Críticas à Geografia Pragmática

Visto que a Geografia Pragmática atenderia a interesses do estado e do


grande capital, a neutralidade desta corrente foi questionada. Para os
Burguesa críticos, a Geografia não deveria atender a “interesses burgueses”, mas sim,
ter uma finalidade social focando nos grupos menos favorecidos – objetivo
que a Geografia Pragmática não poderia atender.

Ao reduzir o espaço geográfico a modelos estatísticos, ignorar-se-ia a


Superficial complexidade que lhe é característica. Números não seriam capazes de
representar a realidade geográfica em sua plenitude.

A Geografia Pragmática, ao não estudar os processos históricos e sociais,


Incompleta seria incompleta, pois ignoraria as ações e os objetos responsáveis pela
formação do espaço geográfico.

Visto que para exercer a Geografia Pragmática, é necessário ter recursos


Excludente tecnológicos disponíveis, esta corrente seria excludente, pois a cibernética,
nos anos 1970, era financeiramente inviável à maioria dos pesquisadores.

O discurso neopositivista, estando vinculado à uma “ordem” espacial,


Falha no ignoraria os conflitos e lutas de classes presentes no espaço
discurso geográfico – que dada a sua complexidade – seria dinâmico, e
relativamente imprevisível, inapreensível por números.

Apesar da maioria das críticas se concentrar nos aspectos metodológicos, é


impossível ignorar o debate ideológico acerca desta corrente do pensamento
geográfico. A Geografia Pragmática – acusada de atender aos “interesses do capital”
– ia radicalmente contra os propósitos dos movimentos de esquerda que estavam
ganhando força nos anos 1970 e construindo a Geografia Crítica. Em meio ao frenesi
do período, era necessário ter uma geografia que “contestasse a neutralidade”, que
“fizesse justiça social”, e que “fosse contra o sistema”, e definitivamente, a Geografia
Pragmática não atendia a estes propósitos políticos, o que lhe custou o esquecimento.

No entanto, apesar de ter sido deliberadamente enterrada pelos geógrafos


críticos, a Geografia Pragmática ainda é a principal referência na Cartografia e
no Geoprocessamento – ciências responsáveis pela elaboração de mapas, tendo
seus conceitos exaustivamente aplicados em modernos softwares de mapeamento.
De fato, apesar de ser metodologicamente equivocada para a Geografia em geral, os
métodos da Geografia Pragmática adequam-se perfeitamente para as ciências de
mapeamento.

2.4. Geografia Crítica


Atualmente, a absoluta maioria das pesquisas feitas em Geografia Humana
nas universidades brasileiras utiliza arcabouço teórico-metodológico formulado pela
Geografia Crítica. De forma avassaladora, esta corrente do pensamento –
popularizada no movimento de renovação da geografia nos anos 1970 – preencheu

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quase todas as cátedras das universidades ao longo do globo, protagonizando uma
verdadeira revolução na ciência geográfica.

A Geografia – que até então utilizara o discurso da neutralidade para pôr em


prática projetos políticos hegemônicos – deveria ter caráter militante (menos neutro)
em prol das injustiças sociais, contra as desigualdades sociais, e a ação “abusiva” do
estado e do grande capital. O saber geográfico deveria, portanto, ter a função de
transformar a realidade social, sendo necessária a criação de um arcabouço
teórico-metodológico que atendesse a estes objetivos.
Devemos ter em mente que além da crise
generalizada da Geografia, os anos 1960 e 1970 foram
marcados principalmente, pela intensificação do
marxismo cultural e pelo fortalecimento dos
movimentos de esquerda tais como: os protestos de
maio de 68, a contracultura, o feminismo, os Panteras
Negras e o combate ao racismo, os pacifistas contra a
Guerra do Vietnã, o ecologismo, e as lutas civis em geral.
Aqui no Brasil, movimentos armados se insurgiam contra
o recém-adotado regime militar. O clima de incertezas
ideológicas alimentadas pela Guerra Fria pairava a
geopolítica do planeta inteiro, ditando as relações bélicas
e econômicas das grandes potências.
Karl Marx
Neste contexto, o principal mentor metodológico da Geografia passa a ser o
filósofo alemão Karl Marx (1818-1883), que além de idealizador do comunismo, foi –
junto Friedrich Engels (1820-1895) – o criador do método materialista-histórico-
dialético, que levava em consideração os processos dialéticos de produção espacial.
Este método foi largamente aplicado na Geografia Crítica nas décadas posteriores,
sendo até hoje o principal método de análise em Geografia Humana.

Materialismo Histórico Dialético

Ao contrário de Hegel, Marx Esta materialidade deveria Para Marx, a evolução da


acreditava que “o mundo ser estudada de acordo com sociedade seria dialética,
material dá origem às processos históricos que a isto é, não linear. Neste
ideias”. Portanto, qualquer construíram, pois assim contexto, o espaço
estudo científico deveria conseguiríamos saber quais geográfico seria produto de
começar pela materialidade, atores e quais contradições, e, portanto,
portanto, pelo mundo intencionalidades estariam dialético.
concreto. envolvidas.

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Lógica Positivista (Geografia Tradicional) Lógica Dialética (Geografia Crítica)


A evolução da sociedade seria linear, pautada A evolução da sociedade seria irregular e
por uma ordem pré-estabelecida, cujas leis desigual, pautada pela luta de classes e,
seriam descobertas através da ciência. portanto, por conflitos permanentes.
Este raciocínio não explica plenamente o Este raciocínio atende à análise
espaço geográfico, pois desconsidera suas geográfica, porque o espaço é produzido
desigualdades. através de contradições.

O método materialista-histórico-dialético abriu um amplo campo de


possibilidades para a Geografia. Finalmente, ao romper o método positivista, esta
ciência teria base teórico-metodológica para estudar as desigualdades no espaço
geográfico e levantar hipóteses para a sua ocorrência, identificando os interesses
dos atores envolvidos e a sua materialização na paisagem. O método científico de
Marx, apesar de servir à uma agenda política, permitiu que o espaço geográfico fosse
estudado com mais realismo, de forma integrada, sem superficialismos característicos
das escolas tradicionais.

Desigualdades no espaço geográfico: um dos focos Geografia Crítica.

Ao contrário dos outros ramos da ciência geográfica cujo surgimento foi


centralizado, a Geografia Crítica emergiu, de forma gradual, em diversos pontos do
planeta, incluindo o Brasil, tendo grande aceitação neste país, sobretudo em São
Paulo e no Rio de Janeiro, focos da vanguarda científica nacional. Neste contexto, o
geógrafo Milton Santos (1926-2001), professor da Universidade de São Paulo (USP),
autor de diversos livros sobre espaço geográfico, economia urbana, urbanização,
globalização, entre outros temas, consolidou-se, em âmbito mundial, como um dos
principais nomes da Geografia Crítica.

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Para Santos, o espaço geográfico seria um conjunto indissociável entre
sistemas de objetos e sistemas de ações; sendo “objetos” compondo os elementos
materiais, e “ações” integrando elementos imateriais. Este espaço seria regido pelos
fixos e fluxos. Isto é, respectivamente, pela materialidade física inerte, e pela
circulação de capitais e informações. Portanto, a obra de Santos apreende o espaço
geográfico para além do visível, compreendendo também, aqueles processos que
não enxergamos a olho nu, como as intencionalidades e os fluxos imateriais.

Sendo construído de forma descontínua sob


várias épocas e intencionalidades diferentes – do
ambiente natural para o social – o espaço seria uma
acumulação desigual de tempos, e como um
organismo vivo, estaria em constante
transformação, possuindo caráter essencialmente
dinâmico. Assim, aqueles objetos que no passado
tiveram funções específicas e deixaram de exercê-las
caracterizam as rugosidades espaciais. Isto é,
marcas de tempo pretérito no espaço geográfico
contemporâneo, como por exemplo, uma fábrica
abandonada na qual a estrutura continua erguida,
porém, na qual a função não existe mais. No entanto,
quando um objeto muda de função ao longo do tempo
– por exemplo, se essa mesma fábrica abandonada
virasse um centro cultural – poder-se-ia dizer que esta
foi refuncionalizada, ou seja, manteve-se a casca Milton Santos
porém alterou-se a essência.

Sendo intrinsicamente dinâmico e alterado diversas vezes ao longo da história,


o espaço geográfico, para Santos, estaria dividido em três períodos diferentes: o meio
natural, o meio técnico, e o meio técnico científico-informacional), classificados
pelo nível de técnica empregado e pela capacidade humana de moldar o espaço
geográfico; correspondendo respectivamente: a época em que a natureza dominava
sobre o homem (meio natural); a época em que o homem e a técnica dominavam
sobre a natureza (meio técnico); e a época, em que as informações, as finanças, e as
telecomunicações dominam sobre todos (meio técnico-científico-informacional).
Todavia, segundo Santos, apesar deste ser preponderante na atualidade, nem todo
o Brasil estaria no meio-técnico-científico-informacional, mas sim, somente a
região concentrada (parte das regiões sudeste, sul, e centro oeste). Uma vez que a
construção do espaço geográfico se daria de forma desigual, grande parte do
território nacional ainda estaria no meio técnico.

As contribuições miltonianas ainda vão além: analisando as características do


meio-técnico-científico-informacional, Santos elaborou um profundo estudo sobre a
globalização. Para o geógrafo, enquanto a mídia, o estado, e o capital hegemônico
nos venderiam uma globalização como fábula (tese), próspera, dinâmica, e
benéfica a todos; a globalização real, muito pelo contrário, acirraria as desigualdades
sociais trazendo inúmeras mazelas sociais como fome e pobreza, processo que
chamou de globalização perversa (antítese). Para além dos dois lados da mesma
moeda, Santos vai propor “uma outra globalização” baseada na cooperação, na

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solidariedade, e no humanismo. Fiquem calmos, pois veremos este assunto com mais
profundidade em outras aulas.
Preocupado com a divisão do trabalho do meio-técnico-científico-
informacional, Santos ainda elaborou conceitos sobre economia urbana, dividindo-a
em circuito superior, caracterizado pela atuação do grande capital e presença de
tecnologia moderna, e circuito inferior, correspondendo a atividades e serviços de
baixa tecnologia e de pequena escala. A seguir, um resumo das principais
contribuições de Milton Santos para a Geografia Crítica:

Resumão dos conceitos e contribuições de Milton Santos para a Geografia Crítica

Categoria de análise da geografia, sendo


composta pelo conjunto indissociável entre
Espaço geográfico sistemas de objetos (materiais) e sistemas de
ações (imateriais), sendo produto da acumulação
desigual de tempos.
Formas passadas do espaço construído, resíduos de
Rugosidade
momentos pretéritos. Por exemplo, uma fábrica
espacial
antiga que não funciona mais.
Urbanização
Formas que mudam de função ao longo do tempo.
Refuncionalização Por exemplo, uma fábrica antiga que vira centro
cultural.
Meio natural Meio onde a natureza predomina sobre a técnica
Meio técnico-
Periodização científico Meio onde a técnica predomina sobre a natureza
dos meios Meio técnico-
Meio onde a informação, a ciência e a técnica
científico-
predominam sobre a natureza
informacional
Setores ligados a tecnologia como bancos, grandes
Circuitos da Circuito Superior
indústrias, transporte, etc.
economia
urbana Setores ligados a baixa tecnologia como pequenos
Circuito Inferior
serviços e trabalhos manuais.
Globalização A globalização próspera e dinâmica apresentada
como Fábula pela propaganda, um mito criado pelo capitalismo.
Globalização A globalização que gera pobreza e fome, a
Globalização Perversa globalização real.
Globalização
Uma "outra globalização" mais humana e solidária,
como
que seria ideal.
Possibilidade
Santos propôs um modelo de regionalização
Regionalização do Brasil baseado em quatro regiões, que veremos nas
próximas aulas.

CACD 2006 – Prova Objetiva Caderno Ômega – Questão 62

O geógrafo Milton Santos define espaço como acumulação desigual de


tempos. Conforme sejam compatíveis com essa definição, julgue (C ou E) os
itens a seguir.

A) O espaço transcende o contexto social.

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Visto que, para Milton Santos, o espaço geográfico é um conjunto de “objetos e


ações” – ou seja, os aspectos materiais e imateriais da sociedade, esta afirmação
é falsa. É justamente o contrário: o espaço FAZ PARTE do contexto social, e não
o transcende.

Gabarito: Errado

B) A cada momento da história, há um espaço diferente.

Sim, o espaço geográfico – sendo um conceito social – é mutável de acordo com


o contexto histórico de cada período.

Gabarito: Certo

C) O espaço é fixo e permanente.

Conforme explicado na alternativa anterior, o espaço é dinâmico, sendo


característico de cada contexto social e de cada período histórico.

Gabarito: Errado

D) O espaço atual não revela o passado — só o presente.

Apesar de ser dinâmico, o espaço geográfico guarda objetos que revelam o


passado. O espaço, apesar de se manifestar na contemporaneidade, possui
elementos de diversos períodos. Milton Santos chama isso de rugosidade
espacial.

Gabarito: Errado

Atualmente, embora a Geografia Crítica seja a principal corrente na Geografia


– tendo Milton Santos como um dos principais nomes, esta ciência conta com uma
série de outras teorias, ocasionando, na contemporaneidade, uma saudável
multiplicidade metodológica. O método marxista aqui tratado, não é utilizado para a
Geografia Física – isto é, a Geografia que estuda os processos e as leis naturais. Não
é possível, por exemplo, utilizar materialismo-histórico-dialético para analisar solos,
hidrografias ou climas tropicais, pois a natureza possui uma dinâmica regular, mais
alinhada ao positivismo clássico do que à dialética.

Preferiu-se aqui, por questões de foco na prova do CACD, abordar com maior
intensidade as correntes do pensamento da Geografia Humana, descartando neste
balaio, as teorias tão caras à Geografia Física, como por exemplo, o ciclo geográfico
do William Morris Davis ou as análises da paisagem de Jean Tricart e Aziz Ab’Saber.
Para finalizar, e recapitular as principais correntes do pensamento geográfico, sugiro
analisar calmamente o quadro a seguir. Trata-se de um resumo bastante conciso. Se
tiver dúvidas, poderão recorrer novamente aos textos e sanar as lacunas que
eventualmente ficaram.

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PRINCIPAIS CORRENTES DO PENSAMENTO GEOGRÁFICO DESDE O SÉCULO XIX ATÉ OS DIAS ATUAIS

Principais Por que caiu em


Fase Corrente Período Método Por que surgiu?
autores decadência?
Porque a Europa estava Porque o determinismo e o
Sec. XIX Humboldt,
colonizando o mundo. possibilismo não analisavam a
Geografia a início Ritter,
Positivista Precisava conhecer bem questão regional, que para
Tradicional do séc. Ratzel, La
os territórios e justificar Hartshorne, era mais
XX Blache
sua expansão. importante.
Geografia
Porque o determinismo e Porque o mundo mudou muito
Tradicional
Anos o possibilismo não nos anos 1960 e 1970, e a
Geografia 1930 aos Hettner, analisavam a questão Geografia não se atualizou. Os
Positivista
Racionalista anos Hartshorne regional, que para métodos regionais e
1960 Hartshorne, era mais tradicionais já não eram
importante. suficientes.
Porque a matematização da
Porque acreditavam que
Geografia trouxe uma série de
Geografia Anos Neo- Não os métodos anteriores de
problemas. Além disso, não era
Pragmática 1970 positivista abordamos Geografia eram pouco
politicamente interessante aos
práticos.
movimentos de esquerda.

Renovação
da Porque o método
Geografia Marx e marxista (materialismo-
Anos Engels, e histórico-dialético)
Geografia Não caiu em decadência. É a
1970 até Marxista Milton explicava melhor o
Crítica corrente principal.
hoje Santos no espaço geográfico. E
Brasil também, por causa da
militância política.

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CACD 2016 – Prova Objetiva – Questão 27

No que diz respeito às principais correntes metodológicas da Geografia e sua


aplicação, julgue (C ou E) os itens seguintes.

1) O fato de a Geografia Humanista considerar o espaço um lugar, extensão


carregada de significações, possibilita que ela trate de questões práticas
como as que envolvam a percepção ambiental e a valoração arquitetônica.

O foco principal da Geografia Humanista – conforme seu idealizador, Yu Fu Tuan


– é analisar a relação dos grupos humanos com o seu determinado “lugar”, conceito
este, relacionado a identidade e ao pertencimento.

Gabarito: Certo

2) Tanto o planejamento urbano quanto os símbolos patrimoniais ou culturais


da formação territorial histórica, dimensões do espaço vivido nas metrópoles
que impactam as pessoas, podem ser analisados no viés geográfico crítico.

Certo. Quando a questão se refere ao “viés geográfico crítico”, está querendo


remeter à Geografia Crítica – corrente surgida nos anos 1970 – que prega o
materialismo-histórico-dialético como método principal. Para este, o espaço deve
ser analisando de forma dialética (não-linear) levando em consideração sua
materialidade (mundo físico), e seus processos históricos.

Gabarito: Certo

3) A Geografia Teorética ou Nova Geografia reforça a Geografia Tradicional e


desprestigia o planejamento territorial adotado pelo Estado.

Apesar de haver algumas similaridades entre a Geografia Teorética e a Geografia


Tradicional, uma não reforça a outra, principalmente em relação aos métodos de
campo e ao nível de tecnologia empregado. Além disso, ao contrário do afirmado
na alternativa, um dos objetivos centrais da Geografia Teorética é fornecer as bases
necessárias ao planejamento e ao prognóstico dos territórios.

Gabarito: Errado

4) A Geografia Crítica, ao debater a questão da produção econômica do


espaço, reconhece a importância dos agentes hegemônicos do capital na
minimização das disparidades urbanas.

É verdade que Geografia Crítica debata a questão da produção econômica do


estado, mas, ao contrário do afirmado, considera os agentes hegemônicos (que
representam o grande capital e o estado) como catalisadores das disparidades
urbanas, aumentando as desigualdades espaciais e sociais.

Gabarito: Errado

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Vestibular Universidade Estadual Vale do Acaraú – Prova Objetiva – 2006

A Geografia chamada Antiga, ou Nomenclatura, ou dos Viajantes, existiu até o


século XVIII, mas não era uma ciência. Foi no século XIX, que graças às
contribuições das escolas geográficas da Alemanha e da França, que a Geografia
tornou-se uma ciência. Analise as afirmativas que tratam sobre os princípios e as
escolas geográficas e coloque V nas frases verdadeiras e F nas frases falsas.

A) Segundo o princípio da causalidade, o geógrafo só realiza a Geografia


plenamente como ciência quando demonstra, comprove e explica o fenômeno
estudado, evidenciando suas causas e conseqüências.

Este princípio foi defendido por Humboldt. Além de descrever a paisagem, o


geógrafo deveria saber suas causas e consequências.

Gabarito: Verdadeiro

B) Fazer analogia, em Geografia, é generalizar conclusões tirando as leis da


Geografia Geral, é comparar acidentes ou fenômenos geográficos e também
classificar grandezas dos acidentes ou fenômenos comparados.

B) Verdadeiro. A geografia, neste caso, deve estabelecer diferenças e semelhanças


entre as regiões do globo, ou seja, analogias.

Gabarito: Verdadeiro

C) Frederico Ratzel admitiu o determinismo geográfico no relacionamento do


meio com o homem, como se o meio fosse a causa e o homem a
conseqüência. Para Ratzel, o homem é um produto do meio em que vive,
subordinado, condicionado e fatalizado pelos imperativos fatores do meio
natural.

Pois é. Para o determinismo geográfico, o homem seria a consequência do meio


em que vive. O território seria, portanto, mais importante do que a técnica.

Gabarito: Verdadeiro

D) Paul Vidal de La Blache, defensor do princípio de extensão e do


determinismo geográfico, é considerado o Pai da Antropogeografia.

La Blache defendia o possibilismo, a versão oposta do determinismo geográfico. Ao


contrário deste, o possibilismo vai afirmar que o homem consegue moldar o
território ao seu favor. A técnica, portanto, seria mais importante que o território.

Gabarito: Falso

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Vestibular Universidade Federal do Ceará – Prova Objetiva (sem ano)

No que diz respeito à relação entre as escolas da Geografia e a legitimação de


interesses de determinados Estados-Nações, assinale V para o que for verdadeiro
e F para o que for falso.

A) O Determinismo Geográfico serviu para legitimar a política expansionista


bismarckiana - na Alemanha.

Otto Bismarck era o chanceler alemão responsável pela transformação do recém-


criado país num estado-nação. E sim, o determinismo geográfico serviu para a sua
expansão colonial.

Gabarito: Verdadeiro

B) O Possibilismo Geográfico, embora utilizando-se do discurso da


neutralidade científica, atendia aos interesses da França, ao contrapor à
política expansionista bismarckiana e a viabilizar a política colonialista
francesa na África e na Ásia.

O possibilismo geográfico – ao admitir que o homem pode mudar o meio – servia


de discurso para frear a expansão alemã. Afinal, “para que serviriam mais colônias
se você pode mudar o meio em que vive?”

Gabarito: Verdadeiro

C) A Nova Geografia (Geografia Quantitativista), no pós-45, escamoteia a


realidade vivênciada pelos países subdesenvolvidos, ao afirmar que a
situação de pobreza e miséria existente é um estágio superável a partir da
adoção de políticas de planejamento eficazes.

A Nova Geografia, utilizando modelos matemáticos e fazendo prognósticos, adota


o planejamento como meta central. Não trata a pobreza de forma crítica, mas sim,
como algo a ser superado.

Gabarito: Verdadeiro

D) A Geografia Crítica segue os mesmos postulados da Geografia Tradicional


e da Nova Geografia.

Enquanto a Geografia Crítica é de base marxista, a Geografia Tradicional é de base


matemático-estatística.

Gabarito: Falso

E) A Geografia Crítica desmascara a Geografia Tradicional e a Nova Geografia


ao demonstrar o papel da Geografia na legitimação dos interesses das
classes hegemônicas.

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Este foi o principal argumento para a criação e a sustentação da Geografia Crítica,


que ao contrário das outras correntes, foca nas desigualdades sociais e nas classes
menos favorecidas.

Gabarito: Verdadeiro

CESGRANRIO 2013 – Concurso para Tecnologista em Geografia do IBGE

As formas e os conteúdos das geografias pré-científicas, que são qualificadas, de


preferência, de etnogeografias, variam de uma cultura a outra. Pode-se
esquematicamente opor as geografias transmitidas pela palavra, e os quadros
descritivos redigidos por especialistas para responder às curiosidades dos
públicos cultos ou às necessidades das administrações. As primeiras são
características das sociedades primitivas ou de frações populares das grandes
sociedades industriais. ==0==

CLAVAL, P. Epistemologia da geografia. Florianópolis: UFSC, 2011, p. 23.


Adaptado.

Essa geografia produzida por frações populares das grandes sociedades


industriais, descrita acima, é a denominada geografia
A) crítica

B) possibilista

C) vernacular

D) determinista

E) quantitativista

Comentários: O texto refere-se à geografia primitiva, pré-científica, transmitida


pela palavra, que é a geografia vernacular. Todas as outras alternativas (crítica,
possibilista, determinista e quantitativista) se referem a correntes do pensamento
da CIÊNCIA geográfica moderna, e não de sua fase “pré-científica”.

Gabarito: C

ENEM – Prova Objetiva - 2009

Considere o trecho do artigo abaixo.

"Nascendo na Alemanha, a Geografia moderna teve seus primeiros grandes mestre


nesse país; a escola alemã de Geografia notou-se por seu caráter determinista,
cuja principal nome é Frederic Ratzel. Em oposição ao determinismo alemão surgiu,
na França,o possibilismo, corrente que teve Em Vidal de la Blache seu maior
expoente,consolidando a escola francesa de Geografia. Foram essas duas escolas
que exerceram a maior influência no estabelecimento da Geografia brasileira,
durante as primeiras décadas do século XX: o pensamento alemão, presente

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sobretudo nos órgãos do Governo, e o francês principalmente nas recém-criadas
faculdades, cujos professores vieram da França.

O método regional foi uma corrente que esteve em voga em fins do século XIX e
princípio do século XX, especialmente na França e na Inglaterra,devido e ao grande
império colonial pertencentes a esses dois países. Após a década de 50, novos
paradigmas urgiram na Geografia, afetando também a produção geográfica
brasileira; primeiro, a chamada Nova Geografia ou Geografia Quantitativa, ligada à
Estatística e à matemática; esta foi, posteriormente, cedendo espaço para a
Geografia Crítica, a partir do final dos anos 70, que utilizava a teoria marxista como
base ideológica. Esta é, atualmente, a corrente mais difundida no Brasil, sobretudo
através da Obra de Milton Santos."

O artigo trata a gênese da Geografia Moderna e suas correntes epistemológica.


Como base no artigo, é correto afirmar que:

A) A Geografia é uma ciência estática, sua produção acadêmica pode ser


resumida nas postulações de Ratzel e Vidal de La Blache.

A geografia é uma ciência dinâmica (vide as grandes transformações em sua


epistemologia no século XX), e ela não se resume a Ratzel e a La Blache.

Gabarito: Errado

B) A Geografia Moderna teve seus principais grandes mestres nesse país; a


escola alemã de Geografia notou-se por seu caráter determinista, cujo
principal autor é Vidal de La Blache.

O principal autor da escola alemã de geografia de caráter determinista é Friedrich


Ratzel.

Gabarito: Errado

C) Em oposição ao possibilismo alemão: surgiu, na frança, o determinismo,


corrente que teve Vidal de La Blache.

O possibilismo francês de La Blache, que veio posteriormente, é a oposição do


determinismo alemão de Ratzel.

Gabarito: Errado

D) A origem de diferentes paradigmas das correntes geográficas, tais como a


deterministas, possibilista, regional, quantitativa, está relacionada a diversas
formas de poder político e econômico dos Estados.

A geografia determinista interessava à expansão do império alemão; a geografia


possibilista interessava à manutenção das colônias do império francês; e as
geografias regional e quantitativa interessavam ao planejamento estatal de forma
geral. Logo, todas elas têm em comum interesses diversos do estado.

Gabarito: Certo

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E) Após a década de 50, novos paradigmas surgiram na Geografia, afetando


também a produção geográfica brasileira; primeiro, a chamada Nova
Geografia ou Geografia Quantitativa, que utilizava a teoria marxista como
base ideológica.

Quem utilizava a teoria marxista como base ideológica – e ainda hoje a utiliza – é
a Geografia Crítica. A Nova Geografia é baseada na matemática e da estatística.

Gabarito: Errado

3. CATEGORIAS DE ANÁLISE DA GEOGRAFIA


Não há um item do edital do CACD que compreenda as categorias de análise
da geografia. No entanto, o avaliador já parte do pressuposto que o candidato já tenha
um conhecimento prévio de seus significados. Sabendo suas diferenças e
particularidades, é bem mais fácil entender o que as questões estão pedindo, e
principalmente, dá para escrever a prova discursiva com melhor propriedade. Sendo
uma ciência separada das demais, a geografia utiliza arcabouços conceituas
exclusivos. Palavras como território, espaço, paisagem, região, ou lugar não são
sinônimos, mas sim, diferentes categorias de análise antagônicas entre si. Lembre-
se disso quando estiver lendo ou respondendo sua prova de geografia.

Estas categorias de análise são objetos de debates intensos, enfadonhos,


demasiadamente prolixos, e por muitas vezes desnecessários, no entanto, me
esforcei para fazer um resumo bastante breve, acessível a todos, para que que
possam compreendê-las, conforme segue abaixo:

3.1. Território

Além de ser uma das principais categorias de análise da geografia, o território


certamente será bastante cobrado no CACD, principalmente no que diz respeito à
geopolítica e à política internacional. Para a geografia, embora haja um intenso
debate acerca desta categoria, de forma geral, o conceito de território está
diretamente ligado a poder. Por esta perspectiva, território é o domínio exercido
por um determinado grupo em uma determinada área da superfície, normalmente
representando a área delimitada pelo poder do estado, normatizada através de
fronteiras e regulações jurídicas.

No entanto, de acordo com Rogerio Haesbaert, para além da exclusividade


estatal, o território existe em múltiplas escalas, sendo compartilhado por vários
atores; coexistindo assim, em diversos contextos diferentes. Em um mesmo bairro
podem se situar, por exemplo, o território/poder formal do estado, o território/poder
informal do tráfico, ou o território/poder das empresas de coleta de lixo. E ainda,
alguns territórios podem ser voláteis, principalmente em contextos urbanos. Uma
mesma rua, por exemplo, pode durante o dia ser território de camelôs, durante a noite
ser território de prostitutas, e durante o final de semana ser território de skatistas.
Embora possam ser marginalizados, estes grupos quando exercem poder sob

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determinadas áreas, estes possuem seus territórios, mesmo que não-oficiais. Por fim,
é necessário frisar as múltiplas camadas territoriais. O meu bairro, por exemplo,
pode perfeitamente estar ao mesmo tempo no território do município, no território do
governo estadual, no território do governo federal, e no território do Mercosul.

Deste modo, “território” pode se referir tanto à porção do espaço delimitada


pelo governo – poder estatal – ou pela apropriação do espaço pelos grupos não-
hegemônicos.

3.2. Espaço

O conceito de espaço possui significados diferentes para várias ciências. Para


a física, significa um local vazio; para a astronomia, corresponde ao espaço-sideral;
para a economia, espaço-econômico, e etc. No entanto, conforme já citado, na ciência
geográfica, o espaço é um conceito complexo e abstrato, não sendo possível seu
entendimento pela visão, mas sim pelo estudo profundo dos locais. Evidentemente,
existe uma interminável e enfadonha discussão sobre a definição de espaço
geográfico, mas vamos apresentar aqui a visão de Milton Santos, um quase-consenso
no meio acadêmico.

Para Santos, o espaço é composto por Forma, Função, Estrutura e


Processos. Neste, a primeira coisa que conseguimos apreender é a sua Forma:
objetos concretos como prédios, montanhas, cidades, estradas, rios, etc. No entanto,
temos que analisar também as Funções que os regem: em suma, para que e para
quem as formas servem? Levando isto em consideração, a relação entre forma e
função está subordinada também a uma determinada Estrutura cultural e econômica
presente em dado momento do tempo, ou seja, arraigado em um contexto social, por
exemplo, a sociedade capitalista. Toda esta engrenagem é moldada por Processos,
isto é, movimentos deliberados e contínuos no tempo que acarretam mudanças no
espaço geográfico. Portanto, sem analisar Forma, Função, Estrutura e Processos,
não é possível entender o espaço geográfico em sua plenitude.

Vamos criar uma situação hipotética para entendermos estes conceitos.


Vamos supor que eu morasse há 30 anos na mesma casa (forma de residência e
função de moradia) e consumisse diariamente, durante todo esse tempo, na mesma
padaria (forma de comércio e função de vender pães). Mesmo com o passar das
décadas, as formas e funções iram se manter, pois minha casa ia estar no mesmo
local e a padaria também. No entanto, o espaço geográfico não iria ficar inalterado
todo esse tempo, pois a estrutura social e econômica e os processos locais,
regionais, nacionais, e globais, que o influenciam, mudariam drasticamente neste
período. O espaço geográfico, portanto, é um conjunto indissociável entre
sistemas e objetos e sistemas de ações.

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Análise do Espaço Geográfico - Milton Santos

Análise Componente Definição Exemplo


Aspecto visível,
Forma Por exemplo, minha casa.
concreto.
As intenções da
Função Minha casa serve para eu morar.
forma.
Características
Forma-
culturais e Minha casa está inserida num
Função-
Estrutura econômicas contexto capitalista, e numa cidade
Estrutura-
externas à forma e cujo governo é X.
Processo
à função.
Movimentos
intencionais de A prefeitura está asfaltando minha
Processo
mudança do rua e colocando postes de luz.
espaço.
Aspectos
Objetos Minha casa.
Sistemas de materiais.
Objetos e Aspectos
As funções, estruturas, e processos
Ações Ações imateriais do
que regem minha casa.
espaço.

3.3. Região

Independentemente do amplo debate que se faz deste conceito, desde o


surgimento da geografia no século XIX até hoje, há um consenso de que região
geográfica seria um local delimitado por características em comum, ou seja,
representando identidades físicas culturais relativamente homogêneas. O conceito foi
amplamente utilizado na Geografia Tradicional como áreas distintas entre si,
principalmente entre os anos 1940 e 1960, auge da Geografia Regional.

Existem diversas formas de regionalizar o espaço geográfico, não existindo uma


forma 100% perfeita.

Apesar de ser conceitualmente simples, a região, enquanto categoria de


análise é bastante complexa, podendo existir em diversas escalas e situações. Por
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exemplo, aqui no Brasil, vamos fazer um exercício e nos perguntar: por que a Região
Sudeste é denominada como tal? Se for por causa do alto nível tecnológico, por que
não incluir o litoral nordestino que também é bastante avançado neste quesito? Se
for devido à agricultura mecanizada, por que não incluir Mato Grosso do Sul e parte
do Centro-Oeste que também possuem esta característica? Se for por causa da
vegetação, por que não incluir Paraná e Santa Catarina que, assim como o Sudeste,
também têm Mata Atlântica? Podemos perceber que o conceito de região é
subjetivo, podendo variar de acordo com o enfoque do pesquisador.

3.4. Paisagem

Para o senso comum, paisagem é “tudo que é bonito”. Quando vamos “tirar
foto da paisagem”, sempre é algo belo, como um pôr-do-sol. No entanto, paisagem é
toda a porção do espaço que conseguimos apreender com nossos sentidos, ou
seja, a sua configuração externa. Enquanto autores atribuem esta capacidade de
percepção somente ao que se refere à visão, outros incluem os demais sentidos
como audição e olfato. Assim, a paisagem pode ser natural (não-alterada pelo
homem) e modificada (com alterações humanas), sendo uma categoria de análise
bastante útil, por exemplo, para a Geografia Física. Através da análise da paisagem,
o observador pode levantar hipóteses para a sua formação, construindo as bases de
seu estudo geográfico

3.5. Lugar

De forma geral, lugar é a porção do espaço geográfico na qual um


determinado grupo possui ligações de identidade, familiaridade, afetividade ou
pertencimento. O bairro em que moro, por exemplo, localizado em uma zona rural
de uma cidade satélite metropolitana, para mim é um lugar, mas para vocês, alunos
do curso, não. E vice versa: o bairro de vocês não é um lugar para mim. O lugar,
portanto, é subjetivo, afetivo, e relativo ao observador. Trata-se, deste modo, da
porção do espaço percebido.

Resumão das principais categorias de análise da Geografia

Conjunto de objetos (materiais) e ações (imateriais). Só é possível


entendê-lo, portanto, olhando para os fluxos e processos para além
Espaço
dos elementos concretos. Trata-se, portanto, de um conceito de alto
grau de complexidade.
Porção do espaço delimitada por relações de poder, que pode ser
estatal (território de um país, por exemplo), ou de grupos específicos
Território
da sociedade (por exemplo, território dos flanelinhas em
estacionamentos).
Porção do espaço apreendida pela visão, ou para alguns autores,
Paisagem
também pelos outros sentidos. Por ser perceptível somente pelos

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sentidos (sobretudo a visão), a paisagem é a porção concreta e
visível do espaço geográfico.
Área relativamente homogênea delimitada de acordo com
critérios elaborados pelo pesquisador. Uma região, para ser
Região definida como tal, deve ter pelo menos um aspecto em comum. Por
exemplo, região canavieira de São Paulo (produto agrícola), região
norte do Brasil (bioma e demografia), ou região subtropical (clima).
Porção do espaço na qual um grupo social possui relações afetivas
Lugar de identidade e familiaridade. É, portanto, subjetivo e extremamente
relativo.
Local Não é categoria de análise!

Vestibular Universidade Federal de Feira de Santana – Prova Objetiva

I.
Constitui a porção do espaço apropriada para a vida, que é vivida, experimentada,
reconhecida, e cria identidade para indivíduos e grupos, através de laços afetivos.

II.
É um espaço definido e delimitado a partir de relações de poder, dominação e
apropriação, que nele se instalam.

Os conhecimentos acerca dos elementos de análises utilizadas pela


Geografia para interpretar a sociedade e suas relações, permitem afirmar
que os conceitos I e II se referem, respectivamente, a

a) A lugar e região.
b) B lugar e território.
c) C paisagem e região.
d) D território e espaço geográfico.
e) E espaço geográfico e paisagem.

Comentários: Espaços definidos através de identidade e laços afetivos são


denominados “lugares”, e porções do espaço delimitadas através de relações de
poder são denominadas “territórios”.

Gabarito: B

Vestibular Universidade Federal do Ceará – Prova Objetiva

Correlacione a segunda coluna de acordo com a primeira:

. 1. Espaço geográfico
2. 2. Paisagem
3. 3. Território
4. 4. Lugar
5. 5. Região

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( ) Para algumas correntes da geografia, pode ser entendido(a) como uma
classe de área, que pode apresentar grande uniformidade interna e grandes
diferenças quando comparada a outras áreas.

( ) As relações de poder construídas e estabelecidas são determinantes para a


sua definição e delimitação.

( ) É, numa determinada porção do espaço, o resultado da combinação


dinâmica, portanto instável, de elementos físicos, biológicos e antrópicos que,
reagindo dialeticamente, uns sobre os outros, fazem da paisagem um conjunto
indissociável, em perpétua evolução.

( ) É marcado(a) pelas relações de consenso, conflito, dominação e resistência,


onde se cria identidade e onde se vive.

( ) Conjunto indissociável de sistemas de objetos e sistemas de ações, que


procura revelar as práticas sociais dos diferentes grupos.

A sequência correta, de cima para baixo, é:

) A 1, 2, 4, 3, 5.
b) B 3, 4, 5, 1, 2.
) C 5, 3, 2, 4, 1.
d) D 2, 1, 3, 5, 4.

Comentários: a alternativa correta é a C, pois descreve a sequência de correta


das categorias de análise da geografia e de suas definições.

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4. LISTA DE EXERCÍCIOS

CACD 2016 – Prova Objetiva – Questão 31

No início do século XIX, o conjunto de pressupostos históricos de sistematização da


geografia já havia ocorrido: a Terra já estava toda reconhecida; a Europa articulava
um espaço de relações econômicas mundial; havia informações dos lugares mais
variados da superfície terrestre, bem como representações do globo, devido ao uso
cada vez maior de mapas.

Antônio Carlos Robert Moraes. Apud: Auro de Jesus Rodrigues. Geografia: introdução
à ciência geográfica. São Paulo: Editora Avercamp, 2008 (com adaptações).

O neocolonialismo teve forte influência no desenvolvimento do pensamento


geográfico europeu durante o século XIX e o início do século XX. A geografia,
enquanto ciência a serviço dos Estados nacionais, foi instrumento de poder europeu
sob vastas extensões territoriais na África, na América, na Ásia e na Oceania. A
respeito desse assunto, julgue (C ou E) os itens que se seguem, tendo como
referência o texto apresentado.

1) Os estudos da geografia na França, com uma formação filosófica e social mais


humanista, voltavam-se, no período citado, para os estudos das diferenças entre as
várias regiões do país e do mundo, com apontamentos das causas do
subdesenvolvimento das colônias e da riqueza das metrópoles.

2) O levantamento e a descrição de informações nos trabalhos geográficos do século


XIX e do início do século XX foram influenciados pela ideia de multidisciplinaridade
das ciências. Assim, as informações sobre paisagens e regiões eram apresentadas,
de forma detalhada, com sessões conjuntas para fatos humanos (população,
economia, povoamento etc.) e fatos naturais (clima, relevo, vegetação, geologia,
hidrografia, recursos naturais).

3) Os estudos geográficos constituíram, no período citado, uma justificativa ideológica


de legitimação da exploração de outros povos pelos países imperialistas, em
substituição à religião, cujas explicações para tal exploração estavam sendo
questionadas, com a difusão do conhecimento científico.
4) O determinismo geográfico serviu para a legitimação das políticas expansionistas
dos países imperialistas europeus, notadamente o alemão. O geógrafo alemão
Ratzel, por exemplo, teorizou a relação entre os Estados nacionais e seu território,
apontando que o potencial de desenvolvimento de um Estado-nação se daria
basicamente pela relação entre dois fatores: a população e os recursos naturais do
território.

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CACD 2010 – Prova Objetiva – Questão 37

Os primeiros anos da modernidade são marcados pela produção de uma enorme


quantidade de dados e de informações dificilmente tratáveis de maneira sistemática
pela ciência da época. A ausência de segmentação no seio da ciência impossibilitava
a análise de certos temas particulares nascidos desses dados. Assim, a partir do início
do século XIX, os domínios disciplinares específicos organizaram-se definindo seu
objeto próprio em torno dessas questões.

Paulo César da Costa Gomes. Geografia e modernidade. Rio de Janeiro: Bertrand


Brasil, 2007, p. 149 (com adaptações).

A partir do texto acima, assinale a opção correta acerca da história do pensamento


geográfico e da institucionalização da geografia como ciência.

A) A geografia científica, que surgiu a partir do século XIX, com as obras de Alexander
von Humboldt e Carl Ritter, foi influenciada pelo saber geográfico anteriormente
produzido e pelo sistema filosófico de Emmanuel Kant, que considerava a geografia
uma ciência ao mesmo tempo geral/sistemática e empírica/regional.

B) A geografia moderna tornou-se científica com a ascensão do possibilismo, cujos


ideais, já em meados do século XIX, superaram as ideias deterministas e naturalistas
em voga no início do século.

C) A institucionalização da geografia como disciplina acadêmica originou-se na


França, com os estudos regionais empreendidos pelos herdeiros do Iluminismo do
século XVIII, como Vidal de La Blache.

D) A geografia firmou-se como domínio disciplinar específico na Antiguidade, com


obras de geógrafos como Estrabão e Ptolomeu, que delimitaram o objeto de estudo
próprio da nova disciplina que surgia: o espaço terrestre.

E) Grande parte dos historiadores da geografia atribui a Alexander von Humboldt a


responsabilidade pelo estabelecimento das novas regras do pensamento geográfico
moderno, visto que ele rompeu com o enciclopedismo francês e abandonou as
narrativas de viagens e as cosmografias

CACD 2016 – Prova Objetiva – Questão 27

No que diz respeito às principais correntes metodológicas da Geografia e sua


aplicação, julgue (C ou E) os itens seguintes.

1) O fato de a Geografia Humanista considerar o espaço um lugar, extensão


carregada de significações, possibilita que ela trate de questões práticas como as que
envolvam a percepção ambiental e a valoração arquitetônica.

2) Tanto o planejamento urbano quanto os símbolos patrimoniais ou culturais da


formação territorial histórica, dimensões do espaço vivido nas metrópoles que
impactam as pessoas, podem ser analisados no viés geográfico crítico.

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3) A Geografia Teorética ou Nova Geografia reforça a Geografia Tradicional e
desprestigia o planejamento territorial adotado pelo Estado.

4) A Geografia Crítica, ao debater a questão da produção econômica do espaço,


reconhece a importância dos agentes hegemônicos do capital na minimização das
disparidades urbanas.

Vestibular Universidade Estadual Vale do Acaraú – Prova Objetiva – 2006

A Geografia chamada Antiga, ou Nomenclatura, ou dos Viajantes, existiu até o século


XVIII, mas não era uma ciência. Foi no século XIX, que graças às contribuições das
escolas geográficas da Alemanha e da França, que a Geografia tornou-se uma
ciência. Analise as afirmativas que tratam sobre os princípios e as escolas geográficas
e coloque V nas frases verdadeiras e F nas frases falsas.

A) Segundo o princípio da causalidade, o geógrafo só realiza a Geografia plenamente


como ciência quando demonstra, comprove e explica o fenômeno estudado,
evidenciando suas causas e conseqüências.

B) Fazer analogia, em Geografia, é generalizar conclusões tirando as leis da


Geografia Geral, é comparar acidentes ou fenômenos geográficos e também
classificar grandezas dos acidentes ou fenômenos comparados.

C) Frederico Ratzel admitiu o determinismo geográfico no relacionamento do meio


com o homem, como se o meio fosse a causa e o homem a conseqüência. Para
Ratzel, o homem é um produto do meio em que vive, subordinado, condicionado e
fatalizado pelos imperativos fatores do meio natural.
D) Paul Vidal de La Blache, defensor do princípio de extensão e do determinismo
geográfico, é considerado o Pai da Antropogeografia.

Vestibular Universidade Federal do Ceará – Prova Objetiva (sem ano)

No que diz respeito à relação entre as escolas da Geografia e a legitimação de


interesses de determinados Estados-Nações, assinale V para o que for verdadeiro e
F para o que for falso.

A) O Determinismo Geográfico serviu para legitimar a política expansionista


bismarckiana - na Alemanha.

B) O Possibilismo Geográfico, embora utilizando-se do discurso da neutralidade


científica, atendia aos interesses da França, ao contrapor à política expansionista
bismarckiana e a viabilizar a política colonialista francesa na África e na Ásia.

C) A Nova Geografia (Geografia Quantitativista), no pós-45, escamoteia a realidade


vivênciada pelos países subdesenvolvidos, ao afirmar que a situação de pobreza e
miséria existente é um estágio superável a partir da adoção de políticas de
planejamento eficazes.

D) A Geografia Crítica segue os mesmos postulados da Geografia Tradicional e da


Nova Geografia.

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Geografia
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E) A Geografia Crítica desmascara a Geografia Tradicional e a Nova Geografia ao
demonstrar o papel da Geografia na legitimação dos interesses das classes
hegemônicas.

CESGRANRIO 2013 – Concurso para Tecnologista em Geografia do IBGE

As formas e os conteúdos das geografias pré-científicas, que são qualificadas, de


preferência, de etnogeografias, variam de uma cultura a outra. Pode-se
esquematicamente opor as geografias transmitidas pela palavra, e os quadros
descritivos redigidos por especialistas para responder às curiosidades dos públicos
cultos ou às necessidades das administrações. As primeiras são características das
sociedades primitivas ou de frações populares das grandes sociedades industriais.

CLAVAL, P. Epistemologia da geografia. Florianópolis: UFSC, 2011, p. 23. Adaptado.

Essa geografia produzida por frações populares das grandes sociedades industriais,
descrita acima, é a denominada geografia

A) crítica

B) possibilista

C) vernacular

D) determinista

E) quantitativista

ENEM – Prova Objetiva - 2009

Considere o trecho do artigo abaixo.

"Nascendo na Alemanha, a Geografia moderna teve seus primeiros grandes mestre


nesse país; a escola alemã de Geografia notou-se por seu caráter determinista, cuja
principal nome é Frederic Ratzel. Em oposição ao determinismo alemão surgiu, na
França,o possibilismo, corrente que teve Em Vidal de la Blache seu maior
expoente,consolidando a escola francesa de Geografia. Foram essas duas escolas
que exerceram a maior influência no estabelecimento da Geografia brasileira, durante
as primeiras décadas do século XX: o pensamento alemão, presente sobretudo nos
órgãos do Governo, e o francês principalmente nas recém-criadas faculdades, cujos
professores vieram da França.

O método regional foi uma corrente que esteve em voga em fins do século XIX e
princípio do século XX, especialmente na França e na Inglaterra,devido e ao grande
império colonial pertencentes a esses dois países. Após a década de 50, novos
paradigmas urgiram na Geografia, afetando também a produção geográfica brasileira;
primeiro, a chamada Nova Geografia ou Geografia Quantitativa, ligada à Estatística e
à matemática; esta foi, posteriormente, cedendo espaço para a Geografia Crítica, a
partir do final dos anos 70, que utilizava a teoria marxista como base ideológica. Esta

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é, atualmente, a corrente mais difundida no Brasil, sobretudo através da Obra de
Milton Santos."

O artigo trata a gênese da Geografia Moderna e suas correntes epistemológica. Como


base no artigo, é correto afirmar que:

A) A Geografia é uma ciência estática, sua produção acadêmica pode ser resumida
nas postulações de Ratzel e Vidal de La Blache.

B) A Geografia Moderna teve seus principais grandes mestres nesse país; a escola
alemã de Geografia notou-se por seu caráter determinista, cujo principal autor é Vidal
de La Blache.

C) Em oposição ao possibilismo alemão: surgiu, na frança, o determinismo, corrente


que teve Vidal de La Blache.

D) A origem de diferentes paradigmas das correntes geográficas, tais como a


deterministas, possibilista, regional, quantitativa, está relacionada a diversas formas
de poder político e econômico dos Estados.
E) Após a década de 50, novos paradigmas surgiram na Geografia, afetando também
a produção geográfica brasileira; primeiro, a chamada Nova Geografia ou Geografia
Quantitativa, que utilizava a teoria marxista como base ideológica.

Vestibular Universidade Federal de Feira de Santana – Prova Objetiva

I.
Constitui a porção do espaço apropriada para a vida, que é vivida, experimentada,
reconhecida, e cria identidade para indivíduos e grupos, através de laços afetivos.

II.
É um espaço definido e delimitado a partir de relações de poder, dominação e
apropriação, que nele se instalam.

Os conhecimentos acerca dos elementos de análises utilizadas pela Geografia para


interpretar a sociedade e suas relações, permitem afirmar que os conceitos I e II se
referem, respectivamente, a

A) lugar e região.
B) lugar e território.
C) paisagem e região.
D) território e espaço geográfico.
E) espaço geográfico e paisagem.

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Vestibular Universidade Federal do Ceará – Prova Objetiva

Correlacione a segunda coluna de acordo com a primeira:

1. Espaço geográfico
2. Paisagem
3. Território
4. Lugar
5. Região

(_____) Para algumas correntes da geografia, pode ser entendido(a) como uma
classe de área, que pode apresentar grande uniformidade interna e grandes
diferenças quando comparada a outras áreas.

(_____) As relações de poder construídas e estabelecidas são determinantes para a


sua definição e delimitação.

(_____) É, numa determinada porção do espaço, o resultado da combinação


dinâmica, portanto instável, de elementos físicos, biológicos e antrópicos que,
reagindo dialeticamente, uns sobre os outros, fazem da paisagem um conjunto
indissociável, em perpétua evolução.

(_____) É marcado(a) pelas relações de consenso, conflito, dominação e resistência,


onde se cria identidade e onde se vive.

(_____) Conjunto indissociável de sistemas de objetos e sistemas de ações, que


procura revelar as práticas sociais dos diferentes grupos.

A sequência correta, de cima para baixo, é:

A) 1, 2, 4, 3, 5.
B) 3, 4, 5, 1, 2.
C) 5, 3, 2, 4, 1.
D) 2, 1, 3, 5, 4.

CACD 2006 – Prova Objetiva Caderno Ômega – Questão 62

O geógrafo Milton Santos define espaço como acumulação desigual de tempos.


Conforme sejam compatíveis com essa definição, julgue (C ou E) os itens a seguir.

A) O espaço transcende o contexto social.

B) A cada momento da história, há um espaço diferente.

C) O espaço é fixo e permanente.

D) O espaço atual não revela o passado — só o presente.

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 GABARITOS

CACD 2016 – QUESTÃO 31


EECC

CACD 2010 – QUESTÃO 37


CEEEE

CACD 2016 – QUESTÃO 27


CCEE

Vestibular Universidade Estadual Vale do Acaraú 2006


VVVF

Vestibular Universidade Estadual do Ceará (sem ano)


VVVF

CESGRANRIO/IBGE 2013
Alternativa C

ENEM 2009
Alternativa D

Vestibular Universidade Federal Feira de Santana


Alternativa B

Vestibular Universidade Estadual do Ceará


Alternativa C (ordem 5,3,2,4,1)

CACD 2016 – Questão 62


ECEE

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