A Musica e Seu Contexto Do Inicio Do Seculo XX

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A Música e Seu Contexto do Início

do Século XX

Brasília-DF.
Elaboração

Laura Mattos da Costa

Produção

Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração


Sumário

APRESENTAÇÃO.................................................................................................................................. 6

ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA..................................................................... 7

INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 9

UNIDADE I
CONCEITO MUSICAL E CULTURA........................................................................................................... 11

CAPÍTULO 1
CULTURA E HISTÓRIA – CONCEITUALIZAÇÕES SOBRE MÚSICA................................................... 11

CAPÍTULO 2
SOCIEDADE E CULTURA........................................................................................................... 14

CAPÍTULO 3
MUSICOLOGIA - DEFINIÇÕES E MÉTODOS............................................................................... 17

CAPÍTULO 4
ETNOMUSICOLOGIA - DEFINIÇÕES E MÉTODOS....................................................................... 19

CAPÍTULO 5
RELAÇÕES ÉTNICAS-RACIAIS E CULTURA
AFRO-BRASILEIRA E INDÍGENA................................................................................................. 22

CAPÍTULO 6
DISCURSOS SOBRE APRECIAÇÃO MUSICAL (DOMINANTE X POPULAR)...................................... 26

CAPÍTULO 7
PLURALIDADE CULTURAL: O SER HUMANO COMO AGENTE SOCIAL
E PRODUTOR DE CULTURA....................................................................................................... 31

UNIDADE II
FUNDAMENTO HISTÓRICO.................................................................................................................... 34

CAPÍTULO 1
MAHLER E STRAUSS E O PÓS-ROMANTISMO GERMÂNICO........................................................ 35

CAPÍTULO 2
DEBUSSY E O NEOCLASSICISMO NA FRANÇA.......................................................................... 38

CAPÍTULO 3
MÚSICA NO CONTEXTO DO SÉCULO XX: CARACTERÍSTICAS GERAIS........................................ 41
CAPÍTULO 4
NACIONALISMO E RELAÇÕES COM A MÚSICA POPULAR E FOLCLÓRICA................................. 44

CAPÍTULO 5
MÚSICA ATONAL E OS DODECAFONISMO DE SCHOENBERG................................................... 48

CAPÍTULO 6
SERIALISMO INTEGRAL............................................................................................................. 51

CAPÍTULO 7
ARTE CONCEITUAL.................................................................................................................. 54

UNIDADE III
BRASIL E SUA MUSICALIDADE................................................................................................................ 57

CAPÍTULO 1
CORTE PORTUGUESA, DANÇAS EUROPEIAS, INDEPENDÊNCIA E
REPÚBLICA: O BRASIL E A MÚSICA DO SÉCULO XIX.................................................................. 58

CAPÍTULO 2
O MAXIXE – O TANGO BRASILEIRO –, O CHORO E O SAMBA................................................... 60

CAPÍTULO 3
A ELITIZAÇÃO DOS GÊNEROS POPULARES IMPORTAÇÃO DA
MÚSICA POPULAR ESTRANGEIRA.............................................................................................. 65

CAPÍTULO 4
O REGIONALISMO.................................................................................................................. 69

CAPÍTULO 5
NOVAS CLASSES, NOVAS MÚSICAS: BOSSA-NOVA E O SAMBA CANÇÃO.................................. 72

CAPÍTULO 6
MÚSICA POLÍTICA: TROPICALISMO E JOVEM GUARDA.............................................................. 77

CAPÍTULO 7
A MÚSICA POPULAR BRASILEIRA
PÓS-TROPICALISMO................................................................................................................ 85

CAPÍTULO 8
SOFISTICAÇÃO DA INDÚSTRIA FONOGRÁFICA......................................................................... 87

CAPÍTULO 9
O ROCK DOS ANOS 1980...................................................................................................... 89

CAPÍTULO 10
MODISMO DE CLASSES: FORRÓ, LAMBADA, SAMBA-FUNK, SAMBA-REGGAE, AFOXÉ................ 92
UNIDADE IV
MUSICALIDADE..................................................................................................................................... 97

CAPÍTULO 1
MÚSICA COMPUTACIONAL...................................................................................................... 97

CAPÍTULO 2
MÚSICA E POLÍTICA............................................................................................................... 100

CAPÍTULO 3
MÚSICA E RELIGIÃO.............................................................................................................. 106

CAPÍTULO 4
MÚSICA E SEXUALIDADE........................................................................................................ 110

PARA (NÃO) FINALIZAR.................................................................................................................... 112

REFERÊNCIAS................................................................................................................................. 113
Apresentação

Caro aluno

A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se


entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade.
Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela
interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da
Educação a Distância – EaD.

Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade


dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos
específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém
ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a
evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo.

Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo


a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na
profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira.

Conselho Editorial

6
Organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa

Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em


capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos
básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam tornar
sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta para
aprofundar seus estudos com leituras e pesquisas complementares.

A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos
Cadernos de Estudos e Pesquisa.

Provocação

Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.

Para refletir

Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.

Sugestão de estudo complementar

Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo,


discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso.

Atenção

Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a


síntese/conclusão do assunto abordado.

7
Saiba mais

Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões


sobre o assunto abordado.

Sintetizando

Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o


entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.

Para (não) finalizar

Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem


ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado.

8
Introdução

A transição do século XIX para o XX é marcada por grandes alterações de ordem


política, social e tecnológica. A música enquanto reflexo da transformação social
não poderia ser diferente. A manifestação artística cumpriu com êxito seu papel
nesse momento de criação de um novo mundo.

Considerado o “século da experimentação”, o século XX traz à tona


questionamentos, como:

» O que é música?

» O que se está fazendo ainda é música?

Essas reflexões trazem grandes novidades na maneira como se produz e se


consome música.

Podemos definir música como arte e técnica de combinar sons de maneira


aprazível ao ouvido, por possuir esse caráter subjetivo corroborou para tais
inquietações do caminho que estava sendo criado. Uma das grandes inovações no
ramo musical nesse período é a criação da atonalidade, a quebra na hierarquia
das notas musicais, criando novas relações e uma nova forma de se entender o
todo musical.

No novo século, não houve apenas a criação de uma tendência ou estilo, e sim
variados tipos, como:

» Impressionismo;

» Nacionalismo;

» Politonalidade;

» Atonalidade;

» Expressionismo;

» Pontilhismo;

» Dodecafonismo;

» Serialismo integral;

9
» Neoclassicismo;

» Microtonalidade;

» Música concreta;

» Música eletrônica;

» Música eletroacústica;

» Música aleatória;

» Minimalismo;

» Jazz.

Objetivos
» Compreender o que é a música e sua relação com conceitos
fundamentais, como cultura, sociedade e história.

» Compreender o homem enquanto agente social produtor de cultura e


de música.

» Conhecer os principais nomes da música ao longo da história, com


enfoque especial na transição do século XIX para o XX.

» Compreender a música e seu papel social e político no Brasil.

» Conhecer outras formas de música geradas a partir da revolução


tecnológica e a reflexão da relação da música com temas atuais.

10
CONCEITO MUSICAL UNIDADE I
E CULTURA

Você sabe definir o que é música? E o que é cultura?

Ao iniciarmos nosso conteúdo, é de extrema importância entendermos a relação


entre a música e a cultura e suas definições. A música é uma produção artística
humana e torna-se também uma expressão da cultura, onde os dois aspectos se
estudam mutuamente dentro de suas áreas.

Para darmos prosseguimento ao conteúdo da unidade, é de extrema importância


compreendermos os conceitos de música, cultura e suas ligações com a história, o
homem, o tempo e as sociedades ao longo dos séculos.

CAPÍTULO 1
Cultura e história – conceitualizações
sobre música

A música é uma arte milenar encontrada em diferentes formas e nas mais


diferentes localidades ao longo da história. Desde que se recorda da
humanidade, há relatos de expressões musicais para representar rituais
religiosos, culturais, entre outros.

Por ser extremamente presente no nosso dia a dia, torna-se uma complexa
reflexão conceituar o que é música.

Entende-se que a música é essencialmente a junção de três artefatos: o ritmo, a


harmonia e a melodia. Sendo esses assim definidos:

» Melodia: é a junção organizada de sons sucessivos.

» Harmonia: é a organização de sons simultâneos emitidos de forma


conjunta. Ex.: Acorde (grupo de notas).

» Ritmo: é a sucessão de tempos musicais alternados entre forte e fraco.

11
UNIDADE I │ CONCEITO MUSICAL E CULTURA

O som é parte basilar na música e é composto por quatro propriedades,


listadas a seguir:

1. Duração: é o tempo determinado para o som.

2. Intensidade: é a força representada no som (forte ou fraca).

3. Altura: é a distinção entre grave e agudo no som.

4. Timbre: origem da qual o som se inicia; fonte emissora. Ex.:


instrumento musical, voz humana etc.

A música torna-se assim a arte e a técnica de combinar sons de maneira agradável


ao ouvido a partir da organização de sons e silêncios em determinado espaço de
tempo, utilizando como ferramentas a voz e/ou instrumentos musicais.

Figura 1. Exemplo de partitura musical.

Fonte: https://www.publicdomainpictures.net/pictures/290000/velka/music-score-sheet-vintage.jpg.

Ao longo de todos os períodos conhecidos na história humana, a música sempre


esteve ligada à cultura, termo complexo e de grande importância para as ciências
humanas em geral. Sua origem vem do Latim, culturae, que significa “ato de
plantar e cultivar”. Dessa maneira, podemos definir esse conceito como:

O conjunto de características humanas que não são inatas, e que


se criam e se preservam ou aprimoram através da comunicação e
cooperação entre indivíduos em sociedade. Como ações sociais
seguem um padrão determinado no espaço. Compreendem as
crenças, valores, instituições, regras morais que permeiam e
identificam uma sociedade. Explicam e dão sentido à cosmologia
social. É a identidade própria de um grupo humano em um território
e em um determinado período.
(HOLLANDA, 2010)

12
CONCEITO MUSICAL E CULTURA │ UNIDADE I

Devido à importância da cultura para as sociedades, a música se torna um


instrumento interno da cultura e, também, um instrumento para a sua
difusão, sendo uma manifestação artística e cultural em recorte de um povo,
em determinado período e região. A expressão da arte pode ser vista nos mais
diversos âmbitos, perpassando pelo campo da religião, do erudito, do popular,
das tradições, compondo, assim, uma gama de gêneros musicais que de igual
forma se dividem em subgêneros e estilos.

A cultura é algo muito forte nas mais diversas comunidades, desde o


início dos tempos estudados. Vimos no capítulo que a música é parte
constituinte e construtora da cultura. Você consegue citar músicas que
façam parte da cultura da sua família, orientação religiosa, grupo de
amigos etc.?

Quanto você se identifica com essa produção ou gênero musical?

13
CAPÍTULO 2
Sociedade e cultura

A cultura é a expressão das relações humanas, suas semelhanças e diferenças,


portanto, é universal e particular ao mesmo tempo. Por ser característica
intrínseca a toda sociedade, a cultura está presente em toda a história como
parte e resultado de tudo que a envolve. As manifestações culturais não
podem ser compreendidas fora de seu contexto e da sociedade na qual estão
inseridas, de mesmo modo, a cultura sempre existirá onde há sociedade.

Portanto, segundo antropólogo Roque de Barros Laraia (1986, p. 48), a


cultura pode ser descrita nos seguintes pontos:

» A cultura, mais do que a herança genética, determina o


comportamento do homem e justifica as suas realizações.

» O homem age de acordo com os seus padrões culturais. Os seus


instintos foram parcialmente anulados pelo longo processo
evolutivo por que passou.

» A cultura é o meio de adaptação aos diferentes ambientes


ecológicos. Em vez de modificar, para isto, o seu aparato
biológico, o homem modifica o seu equipamento superorgânico.

» Em decorrência da afirmação anterior, o homem foi capaz de


romper as barreiras das diferenças ambientais e transformar toda
a terra em seu hábitat.

» Adquirindo cultura, o homem passou a depender muito mais do


aprendizado do que da ação através de atitudes geneticamente
determinadas.

» Como já era do conhecimento da humanidade, desde o


Iluminismo, é este processo de aprendizagem (de socialização
ou de aculturação, não importa o termo) que determina o seu
comportamento e a sua capacidade artística ou profissional.

» A cultura é um processo acumulativo, resultante de toda a


experiência histórica das gerações anteriores. Esse processo limita
ou estimula a ação criativa do indivíduo.

14
CONCEITO MUSICAL E CULTURA │ UNIDADE I

A cultura é dinâmica, pois ao longo do tempo sofre mudanças internas e externas,


assim como suas sociedades, a interação com o diferente propicia também a
criação de novas características. Não obstante, as alteridades culturais podem
estar presentes dentro de uma mesma sociedade como nos diferentes sotaques,
classes sociais, etnias, gênero, religiões, comidas, músicas etc.

Figura 2. Representação da cultura de uma região. Carnaval em Olinda-PE.

Fonte: https://www.flickr.com/photos/prefeituradeolinda/3308934981/in/photostream/.

Mas o que é sociedade?

Segundo Camargo (2019), “a definição mais geral de sociedade pode ser resumida
como um sistema de interações humanas culturalmente padronizadas”.

Sociedade é um grupo de indivíduos que compartilham características em comum


e por isso praticam a interação entre si, formando assim um sistema organizado.
O conceito não está ligado à delimitação física, pois um mesmo território pode
comportar sociedades diferentes. As semelhanças podem ser étnicas, culturais,
políticas e/ou religiosas ou um mesmo objetivo.

Apesar de a sociedade não ser característica única dos seres humanos, por ser
vista em outras espécies, o ser humano é geneticamente predisposto a viver em
sociedade e, sendo assim, está designado a produzir e consumir a(s) respectiva(s)
cultura(s).

Dessa forma, podemos perceber forte correlação entre os conceitos de cultura e


sociedade, em alguns casos sendo quase indissociáveis.
15
UNIDADE I │ CONCEITO MUSICAL E CULTURA

Quais as primeiras sociedades de que se tem conhecimento? Por volta


de 4.000 a.C., acredita-se surgir as primeiras sociedades complexas das
quais se tem conhecimento em meio às planícies aluviais dos Rios Tigre,
Eufrates, Nilo, Indo e Amarelo. Leia mais em: https://super.abril.com.br/
historia/bercarios-da-civilizacao/.

16
CAPÍTULO 3
Musicologia - definições e métodos

Você já ouviu falar em musicologia? Ela é o estudo científico ou acadêmico da


música, por isso, diferencia-se fortemente da prática artística.

Por ser a ciência do estudo da música aprofundada e do conhecimento da


música investiga as fontes e manuscritos e tratados. O universo da música pode
ser dividido entre pesquisa, invenção e interpretação, onde o musicólogo é o
responsável pela parte de pesquisa.

Segundo Parncutt (2012, p. 147), a musicologia é:

Estudo de toda música, em todas as suas manifestações e em todos


os seus contextos, sejam eles de ordem física, acústica, digital,
multimídia, social, sociológica, cultural, histórica, geográfica,
etnológica, psicológica, fisiológica, medicinal, pedagógica,
terapêutica, ou em relação a qualquer outra disciplina ou contexto
que seja musicalmente relevante.

No século XIX, a musicologia estava voltada à tendência nacionalista e religiosa.


Com a transição para o século XX e a crise do Modernismo, há uma expansão
dos estudos da música para tempo e regiões mais distantes. Também no novo
século, houve a separação da Etnomusicologia do seguimento, sendo essa
definida por Merriam (1960, p. 113) como “o estudo da música na cultura”.

A partir das décadas de 1960 e 1970, surge a chamada “nova musicologia”:

A nova musicologia imprimiu uma crescente visão crítica, reflexiva


e interpretativa nas atividades musicológicas clássicas, mesmos
aquelas de caráter mais técnico, como a catalogação e a edição de
fontes.
(CASTAGNA, 2004, p. 13)

Também nesse período, através de Duckles (1980), nasce uma proposta de


divisão da musicologia em nove vertentes metodológicas.

Para entendermos os métodos da musicologia, precisamos entender o conceito de


método que pode ser definido como:

Métodos, no entanto, são as grandes concepções de trabalho do


pesquisador, refletindo sua ideologia a respeito do significado

17
UNIDADE I │ CONCEITO MUSICAL E CULTURA

das obras de arte no passado e no presente e do significado


da própria pesquisa para a sua compreensão, dependendo de
ideologias dominantes em sua época e de uma opção pessoal do
próprio pesquisador.
(CASTAGNA, 2004, p. 9)

Os métodos são:

Quadro 1. Métodos musicológicos.

1) Método histórico: realiza uma pesquisa da história que permeia a criação musical estudada.
2) Método teórico e analítico: busca compreender a fundo a estrutura interna das obras e não necessariamente o seu significado e o
processo de composição que a gerou, tendo iniciado sua história a partir do século XVII.
3) Crítica textual: estudo das fontes musicais, por meio da paleografia musical (deciframento dos sistemas de notação), a diplomática e a
bibliografia (estudo das formas de apresentação de manuscritos e impressos), a editoração e a colação.
4) Pesquisa arquivística: utiliza documentos fonte como ferramenta para o estudo da música.
5) Lexicografia e terminologia: objetiva organizar e esclarecer o significado de termos de interesse musical, incluindo informações biográficas
sobre músicos.
6) Organologia e iconografia: a iconografia, por sua vez, é o estudo de fontes visuais relacionadas à música, as quais apresentam
informações sobre instrumentos musicais e suas formas de execução, número e tipos de intérpretes, formas, dimensões e características dos
espaços de apresentação musical (em teatros, igrejas, residências ou ao ar livre), figurino, cenários operísticos etc.
7) Práticas interpretativas: embora nem sempre tenha esse significado em língua portuguesa, as práticas interpretativas representam o estudo
da maneira como a música foi executada no passado.
8) Estética e crítica: a estética musical procura estudar o significado da música nos diferentes períodos históricos, a noção de beleza e de
excelência nas obras musicais, o papel social da música, o impacto do meio no desenvolvimento musical e outras questões ligadas às relações
entre a música e o homem.
9) Dança e história da dança: a história da dança fornece informações importantes para o musicólogo, como tempo, fraseado, ritmo e estilo
de sua performance, incluindo os componentes coreográficos essenciais, a produção de palco e a movimentação física.
Fonte: adaptado de Castagna, 2008.

No Brasil, as referências na musicologia histórica são: José de Sá Porto, Luís


Heitor Correia de Azevedo, Régis Duprat e Antônio Alexandre Bispo.

Podemos afirmar, então, que a distinção entre a Etnomusicologia e a


Musicologia se encontra no sentido de que a primeira se baseia no estudo
da música na cultura, enquanto a segunda é a razão da música em si. Assim,
a Etnomusicologia não tem como objeto principal a música, mas o homem
que a produz.

A seguir, estudaremos mais sobre a Etnomusicologia. Vamos lá!

18
CAPÍTULO 4
Etnomusicologia - definições e métodos

Como comentamos no capítulo anterior, o objeto de estudo da Etnomusicologia


é o produtor musical e o contexto em que está inserido. O termo foi cunhado por
Jaap Kunst, em 1950.

A consolidação da Etnomusicologia se possibilitou a partir do surgimento


da gravação sonora, com o instrumento criado por Thomas Edison, em 1877,
conhecido como fonógrafo. A importância desse evento está em que, para
realizar a análise musical, era necessário o registro dessa produção artística.
Fator que limitava o consumo, a apreciação e o estudo da música nos anos
anteriores à invenção. A limitação territorial ocasionava a restrição da difusão
das produções musicais e, consequentemente, dificultava a interação entre as
produções de diferentes culturas.

A produção musical está intrínseca às culturas e, consequentemente, tão


particular a elas, podendo ser considerada patrimônio cultural imaterial.
Antes da tecnologia, o estudo era feito por viajantes que se interessavam pela
música das comunidades em que passavam.

Figura 3. Frances Densmore gravando com fonógrafo.

Fonte: https://alchetron.com/cdn/frances-densmore-2aec43ac-193f-4700-ad8a-ef71ee63baf-resize-750.jpeg.

19
UNIDADE I │ CONCEITO MUSICAL E CULTURA

Essa área do estudo da música bebe das fontes das teorias e métodos da
antropologia cultural, sociologia, ciências sociais e humanidades. Realizando,
em seus atos, estudos históricos e/ou observações internas de longo prazo nas
comunidades em que estão inseridos.

A Etnomusicologia, enquanto disciplina, também analisa os instrumentos que


estão sendo usados e os processos por meio dos quais a música é feita, bem como
as situações em que as músicas são tocadas.

O processo de pesquisa de caráter científico é composto por duas etapas:

» Análise: criação/levantamento de um problema de pesquisa e


definição de metodologias.

» Pesquisa de campo: inserção na cultura de estudo.

Durante a pesquisa de campo, o etnomusicologista se utiliza de observação para


compreender como a música está sendo tocada e ouvida, além de entrevistas para
entender as inspirações e motivações de criação das produções sonoras. Todo o
trabalho desse profissional deve ser pautado na objetividade para manter o caráter
científico do trabalho.

Assim como as demais ciências que lidam com o homem e suas subjetividades, há
questões teóricas que permeiam seu fazer, sendo essas:

» Universalismo;

» Linguística e Semiótica;

» Comparações;

» Epistemologia interna/ externa;

» Ética;

» Gênero musical;

» Música de massa;

» Direitos autorais;

» Identidade;

» Nacionalismo;

20
CONCEITO MUSICAL E CULTURA │ UNIDADE I

» Globalização;

» Coordenação motora;

» Etnomusicologia descolonizadora.

Os métodos etnomusicológicos inicialmente constituíam-se em: gravações em


comunidades tradicionais, seguida de transcrição e análise musicológica desses
registros em laboratório, já que a fonte musical era considerada como um produto
com lógica própria e que poderia ser dissociado.

Segundo Pinto (2001), desde a sua reformulação, a partir de meados dos anos 1960,
tornou-se meta definida da Etnomusicologia descrever os diferentes agentes e
agrupamentos etnomusicais:

» pesquisando suas ações (criação, recepção, transmissão);

» interpretando as manifestações musicais (por meio de instrumentos,


cantigas, textos, performances, reações etc.);

» verificando seus conceitos (teorias, valores e normas);

» analisando os comportamentos psíquicos, verbais, simbólicos e


sociais ligados à música.

Dessa maneira, por meio dessa nova forma de estudar a arte, passamos a
entender melhor como foi e tem sido a relação do homem com a música, e as
transformações da ciência que estuda essa relação ao longo do tempo.

Por muito tempo acreditou-se que a primeira gravação sonora com


o fonógrafo havia sido realizada por Thomas Edson. Porém, em 2008,
cientistas reverteram registros visuais em som e afirmaram que a
primeira gravação foi realizada, então, em abril de 1860, pelo francês
Édouard-Léon Scott de Martinville, que gravou a canção tradicional
francesa “Au Clair de la Lune” em seu fonógrafo.

Escute o som da gravação em: https://www.youtube.com/watch?v=zn


KNQXo58pE.

21
CAPÍTULO 5
Relações étnicas-raciais e cultura
afro-brasileira e indígena

No Brasil, ao falarmos de música no século XX, não podemos esquecer das


características estruturais que constituíram e permanecem na cultura do país.

O Brasil é um país marcado por uma grande diversidade de etnias e culturas,


seja por ser constituído de habitantes advindos dos mais diversos países
e continentes, seja pela nova construção social formada após a junção da
diversidade com sua base, a cultura indígena.

Devido à sua dimensão continental, nosso país apresenta, dentro de seu próprio
território, grandes diferenças entre suas regiões, populações, produções culturais,
culinária, esportes, costumes, religiões, entre outros.

Para tratar das influências na construção musical no Brasil, devemos antes


explicitar os seguintes conceitos: relações étnico-raciais, cultura afro-brasileira
e cultura indígena. Vale ressaltar que os citados conceitos nem sempre foram
objetos de estudo na sociedade brasileira, tomando força principalmente a partir de
movimentos sociais que representam os direitos da população afro-brasileira e
indígena.

A expressão de relações étnico-raciais é cunhada com o objetivo de ressignificar o


conceito “raça”, utilizado pejorativamente para embasar ideias, atitudes e culturas
racistas a partir de um viés determinista biológico.

Segundo Gomes (2005, pp. 39-62), as relações étnico-raciais são “relações


imersas na alteridade e construídas historicamente nos contextos de poder e
das hierarquias raciais brasileiras”.

No Brasil, a expressão étnico-racial ganhou notoriedade principalmente no


campo da educação, sendo um tema debatido e incluído no currículo escolar.

Já a cultura afro-brasileira é a construção de estilos musicais, comidas, roupas,


manifestações religiosas e costumes a partir da influência do continente africano
e da respectiva população que passou a habitar no brasil. A maior população de
origem africana fora da África encontra-se no Brasil. Por isso, vemos muito dessa
cultura incorporada no país. Exemplos das características são: samba; capoeira;
candomblé; acarajé; feijoada, entre outros. Tamanha é a cultura afro-brasileira
que suas construções se tornaram a imagem do Brasil no exterior.
22
CONCEITO MUSICAL E CULTURA │ UNIDADE I

Figura 4. Audiência Pública sobre o “Projeto de Lei no 724/2015 - Estatuto da Igualdade Étnico-Racial do Estado do

Paraná”.

Fonte: https://www.flickr.com/photos/legislativopr/38645128862/.

Os primeiros registros de habitantes no Brasil apontam para as populações


indígenas, essas chegam a quase 300 culturas diferentes. Desse modo, são
inegáveis as contribuições de diversas formas em muitos aspectos presentes nas
culturais brasileiras atuais. Exemplos das influências são a língua portuguesa, que
contém diversas terminologias indígenas; a culinária, com a base na mandioca; a
alimentação baseada na pesca; instrumentos culinários; frutas, como o guaraná e
práticas relacionadas às plantas para fins medicinais e terapêuticos.

Entretanto, a população indígena, desde o início da colonização, foi massacrada e


negligenciada, política e socialmente, lutando até hoje por direitos básicos e pelo
direito a suas terras em uma grande luta pelas chamadas demarcações indígenas.

Figura 5. Manifestação Indígena contra a PEC 215 de demarcações de terras indígenas.

Fonte: http://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil/galeria/2013-04-16/indios-invadem-plenario-da-
camara?foto=ABr160413DSC_3034.

23
UNIDADE I │ CONCEITO MUSICAL E CULTURA

A partir de 2003, após luta constante dos movimentos étnicos, surgem leis
com a tentativa de conscientizar e iniciar a reparação de negligenciamento
das culturas afro-brasieira e indígena. As ações se deram por meio das Leis
n os 10.639 e 11.645, que instituíram a obrigatoriedade do ensino da cultura
e história afro-brasileiras e africanas e da cultura e história indígenas na
educação brasileira, a fim de tornar o ensino da história verossímil à realidade
do país.

Assim, podemos perceber que as maiores influenciadoras da cultura brasileira e,


consequentemente, da maior parte da população, é composta por descendente das
populações africanas e indígenas, porém, graças ao eurocentrismo e influência
norte americana, em conjunto com marcas da escravidão e colonização, vemos no
país forte grau de preconceito e discriminação com as populações originárias.

A cultura brasileira que se construiu a partir da descendência da África e das


populações indígenas produz estilos musicais muito característicos do Brasil. De
origem africana, a maior referência é com certeza o Samba, música que representa
internacionalmente o Brasil, inclusive através do característico Carnaval. Mas
essa origem também é representada no Maracatu, na Cavalhada, na Congada
e na Capoeira, mistura de dança e luta que é fortemente embalada pela música
composta por atabaques, pandeiros e berimbaus. Ainda no âmbito das religiões
de matriz africana, temos rituais indissociáveis da música e seus instrumentos
característicos.

A música de origem indígena é muito vasta devido à variedade de seus povos. Para
essa população, a música tem caráter transcendental, estando ligada tanto aos
rituais transcendentais como nas atividades do dia a dia. Os instrumentos mais
usados compõem as seguintes classificações:

» Idiofones: caracterizados pela vibração por si próprios. Exemplo:


chocalhos, cabaças, guizos etc.

» Membranofones: caracterizados pela vibração de uma membrana.


Exemplo: tambores.

» Aerofones: caracterizados pela ação do som em seu interior.


Exemplo: trombetas, flautas, apitos, etc.

» Zumbidores: caracterizados pela produção de sons quando


agitados no ar.

24
CONCEITO MUSICAL E CULTURA │ UNIDADE I

Em enorme proporção é a contribuição e a utilização da cultura e das produções


artísticas das comunidades indígenas e afrodescendentes como forma de
expressão e estilo de vida no Brasil.

Leia no art. 231, da Constituição Federal:

» São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes,


línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras
que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las,
proteger e fazer respeitar todos os seus bens. Disponível em: http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ConstituicaoCompilado.
htm.

Leia também a Lei n o 10.639, de 9 de janeiro de 2003, que estabelece as


diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial
da rede de ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura
Afro-Brasileira e Indígena”. A qual dispõe sobre as relações étnico-raciais.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.639.
htm.

25
CAPÍTULO 6
Discursos sobre apreciação musical
(dominante x popular)

Ouvir os diversos tipos de sons é uma atividade comum no nosso dia a dia, a todo
o tempo estamos ouvindo música em rádios, aparelhos de som e televisões, seja
em casa, no nosso transporte, no trabalho ou em elevadores e salas de espera.
Quantos sons se passam sem que nem prestemos atenção.

O universo do fazer musical é composto pelos fazeres de composição, apreciação


e performance. Onde a composição é a organização de ideias de modo a
elaborar uma peça; a apreciação é o ato de ouvir a música; e a performance é a
manifestação da composição.

Swanwick (1979), em seu livro “A Basis for Music Education”, estabeleceu o método
conhecido na Língua Inglesa como C(L)A(S)P. Esse traz a composição, apreciação
e performance como bases do universo musical, mas também apresenta atividades
que são suporte interligados à base, como a aquisição de habilidades e os estudos
acadêmicos.

Entendendo que o ensino musical não pode ser pautado só na performance


como forma de produção musical, deve-se considerar também a apreciação e que
essa está presente nas mais diversas formas no nosso dia. Leonhard e House
(1972, p. 256) expõem que “Sendo a música um fenômeno sonoro, a forma
mais fundamental de abordá-la é através do ouvir”.

Há ainda que se entender a distinção do ouvir, que pode ser caracterizado como
meio e como fim. O meio é a utilização da escuta para avaliar a produção musical
em desenvolvimento, já a utilização como fim é de fato a apreciação musical.

Logo, o que é a apreciação musical?

A apreciação musical é a modalidade de escuta com o intuito de conscientemente


compreender a construção sonora a partir de análise atenta não só da tonalidade,
mas também dos sentimentos e emoções passadas pela música!

26
CONCEITO MUSICAL E CULTURA │ UNIDADE I

Figura 6. Exemplo de como a apreciação musical é comum no dia a dia.

Fonte: https://www.pexels.com/pt-br/foto/anos-90-ao-ar-livre-bone-cortina-1350419/.

Para Moreira (2010, p. 286), “para que fique caracterizada a apreciação musical,
é necessária uma escuta atenta e um posicionamento crítico em relação à música
ouvida”.

Ao se realizar a atividade de apreciação musical, pode-se utilizar as seguintes


questões:

» Qual a sensação ao ouvir a música?

» O que aparece na música?

» Qual história os sons contam?

» Quais são os personagens?

» Qual é o início, meio e fim da história/música?

» Quais sons mais chamam atenção?

Ao longo do tempo, e com o voraz avanço tecnológico, presenciamos o


aparecimento de softwares capacitados a realizar a apreciação musical, mudando
completamente as conhecidas formas de ouvir música. A primeira grande
mudança foi a partir dos instrumentos de gravação e reprodução de produções
musicais que possibilitaram avanços no estudo, consumo, comercialização e
distribuição de música. Atualmente, já há a presença de softwares e ferramentais
de busca que vão substituir, por exemplo, o rádio. Já é possível os softwares
recomendarem novas músicas a partir do estudo dos seus padrões de escuta
musical, ou seja, uma análise do perfil de apreciação musical do indivíduo.

Existe um forte debate sobre a variedade musical e as vertentes dominantes e


populares na música.

27
UNIDADE I │ CONCEITO MUSICAL E CULTURA

Você já ouviu alguém dizer que um estilo musical era melhor que outro? Ou que
certo gênero musical não é música ou não passa uma boa mensagem? O que isso
quer dizer sobre culturas dominantes e populares na música?

Iremos apresentar as conceituações das vertentes a seguir.

A cultura considerada dominante, ou erudita, é a derivada de um mundo acadêmico,


pregando conhecimentos sistematizados que, para serem dominados, devem ser
aprendidos seguindo princípios e regras estabelecidos.

Já a cultura popular vem das tradições e costumes populares, possuindo


inicialmente caráter regional, mas, conforme se expande e se torna universal,
pode sofrer variações incorporadas pelas localizações em que se encontram.

A música considerada dominante é muito respaldada por uma indústria do


entretenimento de bases capitalistas e massivas. Uma importante influenciadora
nesse papel é a Revista Billboard. Criada em 1984, a publicação norte americana
se apresenta como especialista no ramo musical. A proposta da publicação é
realizar rankings classificados por tipo de canção, álbuns em seus contextos de
gênero e estilo. O primeiro ranking foi publicado em 1936, e o mais famoso é o
Hot 100, que mostra os 100 singles mais vendidos e tocados nas mídias.

A partir de 1989, são entregues prêmios mediante cerimônias para os artistas


que mais se destacam, como, por exemplo, com o prêmio de “Artista do Ano”:

» 1989 - Michael Jackson;

» 1990 - M.C. Hammer;

» 1991 - Michael Jackson;

» 1992 - Mariah Carey;

» 1993 - Garth Brooks;

» 1994 - Ace of Base;

» 1995 - Michael Jackson;

» 1996 - Alanis Morissette;

» 1997 - LeAnn Rimes;

» 1998 - Usher;

» 1999 - Britney Spears;

28
CONCEITO MUSICAL E CULTURA │ UNIDADE I

» 2000 - Destiny’s Child;

» 2001 - Destiny’s Child;

» 2002 - Nelly;

» 2003 - 50 Cent;

» 2004 - Usher;

» 2005 - 50 Cent;

» 2006 - Chris Brown;

» 2007 - Rihanna;

» 2008 - Chris Brown;

» 2009 - Taylor Swift;

» 2010 - Lady Gaga;

» 2011 - Eminem;

» 2012 - Adele;

» 2013 - Bruno Mars;

» 2014 - Katy Perry;

» 2015 - Taylor Swift;

» 2016 - Ariana Grande;

» 2017 - Drake;

» 2018 - Ed Sheeran.

Quanto aos recordes, temos o ranking de maior número de canções no


primeiro lugar da Billboard:

» Masculino: 1o Michael Jackson (13 singles) e 2o Elvis Presley (17 singles).

» Feminino: 1o Mariah Carey (18 singles), 2o Rihanna (14 singles),


3o Madonna (12 singles), 4o Whitney Houston (11 singles), 5o Janet
Jackson (10 singles).

» Banda: 1o The Beatles (20 singles), 2o The Supremes (12 singles).

29
UNIDADE I │ CONCEITO MUSICAL E CULTURA

Assim, com o grande dinheiro movimentado pela indústria do entretenimento,


presenciamos uma massificação de produções musicais que buscam, acima de
tudo, vender.

Dessa maneira, há que se tomar cuidado para não colocar uma como superior à
outra. A linguagem e a forma de se manifestar são distintas, mas tanto a cultura
erudita quanto a popular são de grande riqueza cultural.

Leia como realizar a apreciação musical e a realize como atividade. O passo


a passo pode ser observado no link: http://tresamigosead.com.br/blog/
apreciacao-musical/.

No próximo capítulo, vamos falar um pouco mais sobre cultura.

30
CAPÍTULO 7
Pluralidade cultural: o ser humano
como agente social e produtor de
cultura

Como já comentamos anteriormente, as sociedades possuem e são compostas


das mais diversas culturas. Diante disso, atingimos a pluralidade cultural,
conceito importantíssimo nos mais diversos âmbitos e definido pelos Parâmetros
Curriculares Nacionais (1997, p.19) como:

Concepção que busca explicitar a diversidade étnica e cultural


que compõe a sociedade brasileira, compreender suas relações,
marcadas por desigualdades socioeconômicas e apontar
transformações necessárias, oferecendo elementos para a
compreensão de que valorizar as diferenças étnicas e culturais
não significa aderir aos valores do outro, mas respeitá-los
como expressão da diversidade, respeito que é, em si, devido a
todo ser humano, por sua dignidade intrínseca, sem qualquer
discriminação. A afirmação da diversidade é traço fundamental
na construção de uma identidade nacional que se põe e repõe
permanentemente, tendo a ética como elemento definidor das
relações sociais e interpessoais.

Esse conceito é muito abordado no contexto escolar, em especial no Brasil,


como uma forma de conscientizar, ensinar e combater atitudes, pensamentos e
paradigmas preconceituosos advindos do não reconhecimento da importância e
do respeito para com as diferenças culturais.

A pluralidade cultural no Brasil abrange os aspectos herdados e trazidos dos povos


que para cá vieram e dos que primeiro estiveram aqui, sendo esse legado cultural
uma forma de ligação, manutenção e preservação de costumes e identidades com
a ancestralidade. De mesmo modo, a pluralidade é vista na construção de novas
culturas que foram criadas a partir do encontro de diferentes pessoas com
diferentes costumes e advindas de diferentes lugares. O amplo território brasileiro
possibilita um número incontável de manifestações culturais nos quatro cantos
do país.

O ser humano é constituído para viver em sociedade, a partir de associações


com os demais. A partir da constituição desses grupos, esses passam a buscar

31
UNIDADE I │ CONCEITO MUSICAL E CULTURA

maneiras de se expressar, produzindo cultura a partir de diferentes formas,


como a música, outras artes, religião, entre outros.

Ao entender o homem enquanto ser social que produz e é produto da cultura,


passamos a entender melhor a música como manifestação artística, em especial
suas particularidades no século XX, importante período de transição no contexto
histórico da sociedade.

Figura 7. Exemplificação da relação Homem e Cultura.

Cultura Interage transformando a


costumes, linguagens, sociedade.
mitos, prá�cas, expressões Transmi�da
ar�s�cas, saberes entre gerações.

HOMEM É PRODUTOR HOMEM É PRODUTO


DE CULTURA DA CULTURA

Fonte: elaborada pelo autor, s/d.

Uma vez que a música é uma importante forma de expressão da cultura e é fator
preponderante na pluralidade cultural, percebemos que estudar a música e,
consequentemente, a cultura, é um método de entender o homem e o seu mundo.

Então, vem à tona uma reflexão quando o homem inicia sua relação com a
música e qual a importância da educação musical? Segundo Araújo (2017), “A
música proporciona o desenvolvimento intelectual humano, principalmente
nos primeiros anos de vida. Aulas de música em escola infantil despertam o
interesse a partir dos sons, da interação e da criação”.

Vimos que a música está presente no nosso cotidiano e que sua base é formada
pela tríade de apreciação, produção e performance. Logo, desde as idades
iniciais, é interessante ambientar a criança que se tornará um produtor e/ou
apreciador e/ou intérprete musical. Dessa forma, os benefícios da musicalização
serão: aumento da sensibilidade auditiva, melhorias no campo da concentração,
coordenação motora, disciplina, entre outros fatores que aprimoram a formação
humana.

32
CONCEITO MUSICAL E CULTURA │ UNIDADE I

Você já deve ter ouvido a famosa frase de Thomas Hobbes em seu livro
Leviatã: “O homem é o lobo do homem” que se contrapõe a outro famoso
filósofo, John Locke, que prega o conceito de “tábula rasa”, onde o
homem nasce bom, a sociedade que o corrompe. Trazendo para nosso
tema, vamos refletir. O que é mais forte: a influência que o homem gera
na cultura ou a influência da cultura sobre o homem?

A seguir, estudaremos os fundamentos históricos da música no citado período.

Vamos nessa!

33
FUNDAMENTO UNIDADE II
HISTÓRICO

Após estudarmos importantes conceitos, como sociedade, cultura, musicologia,


etnomusicologia, relações étnico-raciais, apreciação musical e pluralidade cultural,
partimos para a análise dos fundamentos históricos da música no século XX.

Para entendermos os fundamentos, analisemos os estilos musicais percorridos.

Quadro 2. Cronologia da música.

1600 1700 1800 1900 2000


Música Antiga (? - Barroco Clássico Romantismo Música moderna e
até c. 1610) contemporânea
(c. 1600 - 1740) (1700-1800) (1800-1912)
Período da música Música instrumental não Diminuição do excesso Influenciado pela Revolução Romantismo tardio (G. Mahler,
religiosa. religiosa. (característica do Barroco). Francesa e novas formas de Richard Strauss, Hans Pfziner).
Estado.
Novos instrumentos e Religiosidade forte. Criação da sonata, sinfonia e Individualidade e expressão das Expressionismo (A.
formas. Ex.: cravo, órgão. concerto solo. Compositores emoções. Schoenberg, Alban Berg, Anton
livres. Ex.: primeiro Webern, “Segunda Escola de
representante é Mozart. Viena”).
Principais Principais Principais Sem preocupação com a Música política (S. Prokofieff).
compositores: compositores: compositores: forma musical.
G. P. Palestrina J.S. Bach, W.A. Mozart Nacionalismo musical: os Nacionalismo exacerbado (Bela
compositores tentam expressar Bartók, húngaro, teve suas
a música de sua pátria, mas obras banidas pelo regime
adaptando-a ao gosto europeu. nazista).
Josquin Des Prés G.F. Haendel J. Haydn Neoclassicismo (Stravinsky, o
Principais
“Grupo dos Seis”, formado por
compositores: compositores franceses).
Giovanni Gabrielli A. Sammartini L. V. Beethoven Música dodecafônica (Segunda
Escola de Viena).
G.P. Telleman R. Schumann Música eletrônica
(Pierre Henry e Pierre Concreil,
Karlhainz Stokhausen, Pierre
Boulez).
H. Purcell F. Liszt Música pop (John Lennon, Paul
McCartney).
R. Wagner Música minimalista (Phillip
Glass, Henryk Gorécky, Morton
Feldmann).
F. Schubert
G. Verdi
Brahms
P.Tchaikovsky
F. Chopin
Fonte: adaptado de http://www.malhanga.com/musica/Linha%20do%20Tempo%20da%20Historia%20da%20Musica.html.

34
CAPÍTULO 1
Mahler e Strauss e o Pós-Romantismo
germânico

O Romantismo musical é compreendido entre 1815 e 1910, considerado tardio em


comparação às outras artes que iniciaram o movimento anos antes.

Após a Revolução Francesa, a arte busca se opor aos antigos padrões racionalistas
e clássicos. Dessa forma, fortemente influenciados pelos movimentos em
efervescência na Europa, como a Revolução Burguesa, a Revolução Industrial e
o Iluminismo atrelado ao fim da preocupação com a estrutura formal classicista,
os músicos românticos priorizam expressar de forma intensa as emoções, felizes
ou tristes. O músico passa também a se dissociar dos mecenas, buscando a
autonomia.

A música alemã foi a grande escola influenciadora do Romantismo do final do


século XIX, apesar do caráter individualista, era latente também a expressão de
preocupações sociais e nacionais.

Ainda assim, é importante ressaltar que o Romantismo ainda dividia espaço


com as óperas clássicas que tinham grande alcance na Europa.

O Romantismo possui três gerações:

» Primeira: caracterizada pelo subjetivismo e o lírico.

» Segunda: caracterizada pelo início do pessimismo e melancolia.

» Terceira: caracterizada pela transição para a nova corrente literária,


conhecida como Realismo, movida pelo retrato dos vícios e males da
sociedade.

A partir de 1870 até o aproximadamente o ano de 1949, iniciou-se o período


conhecido como Pós-Romantismo, onde as características de orquestra iniciam
a ceder caminho para a pungente tonalidade de novas e inovadoras formas de
produção musical. Com caráter mais melancólico, destaca-se em especial os
compositores Gustav Mahler (1860- 1911) e Richard Strauss (1864-1949), os
quais veremos a seguir.

35
UNIDADE II │ FUNDAMENTO HISTÓRICO

Gustav Mahler, nascido em 1860, foi um regente e compositor tcheco-austríaco


de origem judaica. O músico se destaca no período romântico por criar um
percurso entre a música do século XIX e a do período moderno.

Mahler realizava combinações de instrumentos e timbres de forma extremamente


criativa, original e profunda. As composições rompem os limites da tonalidade, sua
música possui caráter sombrio e funesto.

Figura 8. Gustav Mahler (1909).

Fonte: http://loc.gov/pictures/resource/cph.3a00825/.

Suas inovações influenciaram inúmeros outros artistas, entre eles Richard Strauss
(1864-1949), compositor e maestro alemão, considerado um dos mais expressivos
músicos entre o final da Era Romântica e a primeira metade do século XX. Suas
composições variam entre obras atonais e valsas/músicas contemporâneas.

Pode-se considerar que a linguagem elaborada pelo artista pode ser comparada à
ascendência modernista do século XX.

Figura 9. Richard Strauss (1904).

Fonte: https://pbs.twimg.com/media/DmhQubvXcAETsjU.jpg:large.

36
FUNDAMENTO HISTÓRICO │ UNIDADE II

Seguido todo o movimento de mudança estrutural promovido também pela


mudança de século, ao final do XIX, a música na Europa se dividia em dois
grupos opostos, provocando uma crise no fazer musical. O estilo Barroco, com
tonalidade e formas simétricas bem definidas entram em oposição à crescente
nova modalidade de se fazer música, baseada na tonalidade e formas abertas.

Vemos assim um estilo romântico entrando em forte decadência e um novo estilo


aparecendo para se tornar um novo modelo para a modernidade iminente.

Assim, pode-se analisar sobre o período que:

Durante o Pós-Romantismo, assiste-se à exacerbação dos meios


expressivos, responsáveis pelo surgimento de obras desmesuradas
como as enormes sinfonias de Gustav Mahler e os gigantescos
poemas sinfônicos de Richard Strauss. Essas obras baseavam-se
não apenas no alargamento e na deformação consciente dos
esquemas formais abordados, como também na ampliação das
próprias fontes sonoras colocadas em jogo – orquestras mais
para estádios do que para salas de concerto... Simultaneamente,
descobriu-se que o timbre, a “cor” do som, podia ser encarado como
elemento informativo, tomado em pé de igualdade com a própria
melodia. Isso fez com que a música passasse a se assemelhar a
vitrais (Mahler) e a pinturas pontilhistas (Debussy). E ao lado do
ultrarrefinamento do estilo, levado a cabo por Ravel, presenciou-
se ao gradual esfacelamento da tonalidade, presente tanto em
Alexander Scriabin quanto no jovem Arnold Schoenberg.
(MORAES, 2015)

Nos próximos capítulos, seguiremos estudando os músicos que fizeram parte


dessa nova era e os movimentos artísticos que irão nascer no século XX.

Escute a Ópera “O Cavaleiro da Rosa” de Richard Strauss, disponível em:


https://www.youtube.com/watch?v=pTElGx8FaoA, e a Sinfonia n o 2
“Resurrection” de Gustav Mahler, disponível em: https://www.youtube.
com/watch?v=4MPuoOj5TIw.

37
CAPÍTULO 2
Debussy e o neoclassicismo na França

O movimento conhecido como Neoclassicismo nasceu na Europa, durante o século


XVIII e perdura até parte do século XIX. Contextualizado no período posterior à
Revolução Industrial e influenciado pela ascendência do Iluminismo. O movimento
surge em oposição ao exagero do período Barroco.

O nome Neoclassicismo remete ao retorno de características da antiguidade clássica


pautada na objetividade, racionalização do emocional e estrutura formal. Muito se
deu também do período renascentista que exaltava a beleza da antiguidade e está
intimamente ligado ao declínio da influência da religião.

A partir da década de 1920, o Neoclassicismo transforma-se em um ideal


estético e de estilo. Composta pela geração nascida após a Primeira Guerra
Mundial, apresenta características menos emocionais, mais objetivas e
antirromânticas. Para esses compositores, o século XIX era malvisto.
Logo, partem para a nova forma, esse período passa a ser conhecida como
Neoclassicismo.

O ápice do Neoclassicismo se dá durante a Primeira e a Segunda Guerra


Mundial, quando os compositores jovens atingem a maturidade. Durante
esse período, o mundo da música vivia uma separação entre o atonalismo
e o Neoclassicismo, com seus respectivos representantes, Schoenberg e
Stravinsky.

Também conhecido como período impressionista na música, esse movimento


originário na França é considerado o marco inicial da arte moderna, onde o artista
Claude Debussy é considerado o pai do estilo.

O nome “Impressionismo” advém da obra do famoso pintor Claude Monet,


denominada “Impressão, nascer do Sol” (1872). Esse período da música tem
forte relação com as outras artes, e busca em suas composições retratar figuras
imagéticas. Apresentando fortes inovações no aspecto técnico e musical com a
presença de harmonia, cores tonais e escalas hexatônicas, torna-se um estilo
baseado na insinuação, completamente contrário ao Romantismo, seus grandes
compositores são os franceses Claude Debussy (1862-1918) e Maurice Ravel
(1875-1937).
38
FUNDAMENTO HISTÓRICO │ UNIDADE II

Claude Debussy, compositor dotado de personalidade forte, rompeu com a tradição


alemã e as formas de compor oriundas da academia, sempre ligado a um forte
nacionalismo.

Figura 10. Claude Debussy (1862-1918).

Fonte: http://www.zeno.org/Fotografien/B/Atelier+Nadar%3A+Claude+Debussy+(1862-1918),+Komponist.

Segundo Benedetti (2005, p. 876), o trajeto de Debussy pode ser dividido em três
grandes momentos:

A produção musical de Claude Debussy está classificada em obras


da juventude, obras de maturidade e obras de síntese. As obras
da juventude vão desde 1880, com a composição do Trio em Sol,
escrita para piano, violino e violoncelo, quando ainda era aluno
do Conservatório Nacional de Paris, até a sua saída antecipada
da Villa Médicis, em 1887, onde obteve, em 1884, o Premier
Prix de Roma em composição, láurea máxima do Conservatório
Nacional de Paris, com a Cantata L’Enfant Prodigue. As obras
consideradas de maturidade foram compostas após sua volta a
Paris do frustrante período passado em Roma como bolsista do
governo francês na Villa Médicis, e foram escritas entre 1887 e
1913. As obras de síntese, nas quais encontraremos as peças
pianísticas que fazem parte desta dissertação, foram criadas entre
1914 e 1917, período que coincide com o início da Primeira Guerra
Mundial e com o final da vida do compositor.

A música de Claude Debussy traz mudanças nas características da harmonia, do


ritmo e do timbre, sua produção sempre esteve alinhada com as demais artes,
39
UNIDADE II │ FUNDAMENTO HISTÓRICO

trazendo inovações na inserção de instrumentos não rotineiros para seu estilo.


Em meio a decadência do sistema tonal e forte influência de Wagner, Debussy
traz a polirritmia, pentatonalismo e modalismo.

Entre suas obras, destacam-se:

» Clair de lune;

» La mer;

» Prélude à l’après-midi d’un Faune;

» Prelúdios;

» Première Rhapsodie;

» Suite bergamasque;

» Voiles.

Assim, torna-se referência para artistas ao longo de todo o mundo, inclusive


para o Brasil com Villa-Lobos e para as próximas gerações de compositores
franceses.

Escute a produção musical, Canope de Claude Debussy, disponível


em: https://www.youtube.com/watch?v=oyynDYlt_BY.

40
CAPÍTULO 3
Música no contexto do século XX:
características gerais

Como já vimos na introdução, a mudança de século foi marcada por grandes


transformações sociais e culturais, a música influenciou e foi influenciada
fortemente nesse contexto. A grande inovação está na quebra dos modelos
tradicionais do fazer e do ouvir música.

O século XX propiciou a popularização e a difusão da música para além das


barreiras físicas, com o aparecimento da tecnologia, principalmente, no quesito
de gravação e reprodução de sons, isso trouxe também para a pauta a criação
de leis que resguardem os direitos autorais. Assim, “essa nova arte atendia aos
desejos de um novo mundo – o das máquinas, das fábricas, da mecanização, das
grandes cidades que surgiam com seus problemas” (KERR, 2007, p. 57).

Figura 11. Modelo de rádio antigo.

Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/r%C3%A1dio-retro-vintage-antigo-caixa-1782893/.

Figura 12. Fonógrafo, primeiro aparelho capaz de gravar e reproduzir sons, inventado por Thomas Edison, em

1877.

Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/fon%C3%B3grafo-cilindro-americana-2254164/.

41
UNIDADE II │ FUNDAMENTO HISTÓRICO

Houve nesse período a criação de novos instrumentos musicais eletrônicos,


propiciando também, a partir da troca de influências, o surgimento de novos
gêneros musicais ao longo do planeta, como:

» Jazz;

» Rock and Roll;

» Disco;

» Funk;

» Hip hop;

» Soul;

» Música Latina;

» Pop;

» Música Eletrônica, entre outros.

As mudanças ocorreram tanto no âmbito da música erudita, com o aparecimento


do dodecafonismo e suas variações e transformações, como no cenário da música
popular, demonstrando a versatilidade da música no período: “alternavam, em
termos de linguagem, estilos completamente distintos num mesmo período de
criação”.

No Brasil, um exemplo disso é Heitor Villa-Lobos. O músico dividia suas


produções entre o contexto de música popular, por meio de estudos no interior
do país; e de música erudita, já que possuía origem abastada, possuía acesso a
partituras clássicas e românticas. Sua contribuição à arte se deve à introdução
de material tipicamente brasileiro em formas clássicas, e, assim, divulgar sua
produção tipicamente brasileira pelo mundo.

As tendências e técnicas de composição que se destacam no século XX são:

» Impressionismo;

» Nacionalismo do séc. XX;

» Expressionismo;

» Música Concreta;

42
FUNDAMENTO HISTÓRICO │ UNIDADE II

» Serialismo;

» Música Eletrônica;

» Influências do Jazz;

» Neoclassicismo;

» Música Aleatória.

Assim, pode-se concluir que:

No século XX, não se produziu apenas uma tendência ou estilo,


mas diversos: impressionismo, nacionalismo, politonalidade,
atonalidade, expressionismo, pontilhismo, dodecafonismo,
serialismo integral, neoclassicismo, microtonalidade, música
concreta, música eletrônica, música eletroacústica, música
aleatória, minimalismo, e ainda se percebem influências do Jazz,
do folclore e do oriente.
(ZAGONEL, 2007, p. 1)

Há 90 anos, o dia 7 de setembro de 1922 marcou a primeira transmissão de


rádio no país, que ocorreu simultaneamente à exposição internacional em
comemoração ao Centenário da Independência do Brasil, inaugurada pelo
presidente Epitácio Pessoa. Leia mais em: http://www.ebc.com.br/2012/09/
primeira-transmissao-de-radio-no-brasil-completa-90-anos.

43
CAPÍTULO 4
Nacionalismo e relações com a música
popular e folclórica

O nacionalismo é um conceito cunhado no final da Idade Média e início da Idade


Moderna, a partir do desenvolvimento dos estados-nações, após as Revoluções
Francesa e Industrial. Ele consiste na valorização de uma população pautada na
identificação comum enquanto nação.

Como nação, podemos considerar a comunidade que compartilha uma tradição


única composta por quesitos étnicos, culturais, linguísticos, entre outros.

Ou seja, diferentes nações desenvolveram diferentes tipos de nacionalismo, com


suas características específicas.

A música, como instrumento de reprodução de culturas, nesse período,


contribuiu fortemente para a difusão das ideias nacionalistas, com a promoção
de características musicais (melodias e ritmos) inspiradas em aspectos
regionalistas, como folclores, lendas e histórias populares. Dessa forma,
a música passa a ter alto teor de identificação da produção com seu povo,
propagando o patriotismo.

Podemos considerar, então, que existem duas noções de nacionalismo:

» O Nacionalismo enquanto identidade nacional, muito ligada à


cultura, pautada em características como idioma e/ou etnia.

» O Nacionalismo enquanto estratégia política, visando possibilitar


atitudes pautadas na soberania do estado. No Brasil, vemos esse
exemplo na implantação da República, construção de empresas
estatais, instauração do Regime Militar, entre outros.

Mas qual a relação entre nacionalismo e a música? A relação é que esse conceito
está altamente ligado a dois tipos de música: a folclórica e a popular. Mas você
sabe quais são as características de cada uma? Veremos a seguir!

A música folclórica é uma categoria de música popular e expressão artística


sonora do folclore, composição cultural característica de cada sociedade. É
comumente utilizada para passar uma mensagem de sabedoria popular. Pode
apresentar personagens típicos do folclore de cada região. No Brasil, temos
como personagens famosos como o Saci Pererê, Curupira, Boto Cor de Rosa,
entre outros.

44
FUNDAMENTO HISTÓRICO │ UNIDADE II

Algumas das características do folclore são:

» origem anônima;

» transmissão oral;

» popularização coletiva;

» surgimento espontâneo.

Entre as músicas folclóricas mais conhecidas estão:

Pombinha Branca

Pombinha branca, que está fazendo?

Lavando roupa pro casamento

Vou me lavar, vou me trocar

Vou na janela pra namorar

Passou um moço, de terno branco

Chapéu de lado, meu namorado

Mandei entrar

Mandei sentar

Cuspiu no chão

Limpa aí seu porcalhão!

O Cravo e a Rosa

O cravo brigou com a rosa,

Debaixo de uma sacada,

O cravo saiu ferido,

E a rosa despedaçada.

O cravo ficou doente,

A rosa foi visitar,

O cravo teve um desmaio,

E a rosa pôs-se a chorar.

45
UNIDADE II │ FUNDAMENTO HISTÓRICO

Marcha Soldado

Marcha soldado

Cabeça de papel

Quem não marchar direito

Vai preso pro quartel

O quartel pego fogo

A polícia deu sinal

Acode, acode, acode a bandeira nacional

Se essa rua fosse minha

Se essa rua

Se essa rua fosse minha

Eu mandava

Eu mandava ladrilhar

Com pedrinhas

Com pedrinhas de brilhante

Para o meu

Para o meu amor passar

Reconheceu algumas dessas cantigas? Provavelmente a grande maioria.


Acontece que a cultura é passada através da escola, da família e do
entretenimento, tornando-se, assim, parte do conhecimento público as
criações do nosso folclore.
Figura 13. Representação folclórica.

Fonte: https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=3536069.

46
FUNDAMENTO HISTÓRICO │ UNIDADE II

O dicionário Aurélio define folclore como “reunião das expressões culturais,


artísticas, dos costumes e tradições de um povo que, através da tradição oral,
são preservadas e passadas de uma geração para outra; populário” (Dicionário
Aurélio).

Já a música popular é o termo que considera toda a produção sonora (instrumental


ou cantada) que apresenta questões cotidianas, principalmente dos centros
urbanos. Existe um grande debate acerca da música popular em contraposição à
música erudita e seus respectivos valores. Ainda assim, há muita discordância e
dificuldade de definir de fato o que é a música popular.

No Brasil, a música popular ficou conhecida como um gênero específico, com


a sigla MPB, surgido na década de 1960. A música popular brasileira nasce da
junção da bossa nova com o folclore. Em outros momentos históricos, a MPB
vem apoiando movimentos de resistência à ditadura militar, também nas
manifestações da Jovem Guarda e Tropicália.

Dessa forma, vemos claramente, com o exemplo do Brasil, a relação entre o


nacionalismo, a música popular e o folclore, enquanto categorias influenciadoras e
complementares entre si.

47
CAPÍTULO 5
Música atonal e os dodecafonismo de
Schoenberg

A música, a partir do sistema atonal, é um dos grandes marcos no século XX.


Ao final do século XIX e início do novo século, a música erudita vivenciou a
chamada “crise da tonalidade”, os compositores passaram a ver um esgotamento
do sistema de construção musical vigente.

Arnold Franz Walter Schonberg (1874-1951), um compositor austríaco, cria essa


nova forma de compor música a partir da inquietação com a falta de um sistema
que permitisse composições diferentes, sendo uma alternativa ao sistema tonal, em
expansão pelos compositores Wagner e Debussy.

O atonalismo vem para quebrar também a relação estreita da composição com


o academicismo. Dessa maneira, a música pós-tonal pode dividir-se, segundo
Straus (2000), em três momentos: 1 atonalismo livre, 2 música de 12 sons e
música cêntrica, onde as composições possuem elementos musicais básicos em
comum como: nota, intervalo, motivo, harmonia e coleção.

O grande marco para o surgimento da música atonal foi a composição, por


Wagner, da ópera “Tristão e Isolda”, em 1865. A longa obra, pela primeira vez,
não apresentava tonalidade, trazendo estranheza. A partir desse momento,
surgem vários debates acerca da continuidade do sistema tonal na música da
época.

Assim, estabelece-se o sistema atonal, onde a música passa a não mais ter um
centro. A adoção desse modelo foi bastante difundida entre os compositores.

Então, por volta do ano de 1923, Arnold Schonberg, criou o dodecafonismo,


tornando-se um dos mais marcantes artistas de sua época na música erudita.
Schonberg parte do sentido de que “Composição é: pensar em sons e
ritmos. Toda peça de música constitui a apresentação de uma ideia musical”
(SCHOENBERG, 1995, p. 15).

48
FUNDAMENTO HISTÓRICO │ UNIDADE II

Figura 14. Arnold Schoenberg.

Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Arnold_sch%C3%B6nberg_man_ray.jpg.

O dodecafonismo é um sistema de organização da música atonal.

Dodecafonismo é uma forma de organizar os doze sons da escala


cromática na tentativa de suprimir o sentido de tonalidade. Desta
forma, organizam-se os sons em séries de doze elementos que são
tratados de forma serial, ou seja, por transposição, retrogradação e
inversão (inclusive retrogradação da inversão).
(HARTMANN, 2011, p. 103)

Logo, dentro da música atonal, temos o dodecafonismo e o serialismo, sendo


esse segundo uma metodologia que organiza a composição musical a partir
de uma ou mais séries. A música atonal teve mais desenvoltura na música
erudita, comparada com a popular, ainda que haja estilos marcados por essa
característica na música popular, como o jazz.

Vários autores consideram o dodecafonismo e o serialismo como sinônimos,


porém, também é possível se considerar que o serialismo é uma forma de
organização, mas dentro dela teriam várias não sendo o Dodecafonismo a
única metodologia serial.

Schoenberg foi o representante central da “Segunda Escola de Viena”, ao


lado de seus seguidores Alban Berg (1885-1935) e Anton Webern (1883-
1945). A primeira edição da Escola de Viena é composta por Haydn, Mozart
e Beethoven, nos séculos XVIII e XIX. A produção do compositor pode ser
dividida em quatro momentos:

» tradicionalismo romântico alemão;

» sistema atonal;

49
UNIDADE II │ FUNDAMENTO HISTÓRICO

» dodecafonismo e serialismo e

» reaparecimento da tonalidade.

O percurso do compositor foi posteriormente criticado, seja por abandonar


o sistema atonal, seja por não o ter levado tão longe quanto poderia. Ainda
assim, não restam debates acerca do fato que Schoenberg é considerado o
principal e mais influente nome do modernismo musical de sua época.

Escute a produção musical “Pélleas und Melisande”, de Arnold Schönberg,


disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=-2SvMeyeOgQ.

50
CAPÍTULO 6
Serialismo integral

Em 1908, na Alemanha, Schoenberg trabalha nas organizações atonais e, como


vimos, aproximadamente em 1925, alcança a ordenação baseada em doze sons,
que passa a ser conhecida como dodecafonismo.

As formas conhecidas de composição do século XX são: dodecafonismo, serialismo


integral, aleatorismo e minimalismo.

No período pós Segunda Guerra Mundial, as técnicas musicais passam a dar


espaço para o chamado serialismo integral.

O dodecafonismo, proposto por Schoenberg, passa a ser estudado pela


maioria dos compositores europeus. É quando compositores como Boules e
Stockhausen produziram seus primeiros trabalhos sob essa orientação. Esses
compositores, e outros contemporâneos, são os responsáveis pelo surgimento
do serialismo integral, que não deve ser confundido com o dodecafonismo
(VIGNAL, 1994, p. 751).

O serialismo é o método de composição musical que utiliza uma ou várias séries


como forma de organizar o material musical. Ele se divide em duas formas:

» serialismo dodecafônico;

» serialismo integral.

O serialismo dodecafônico, como vimos no capítulo anterior, faz parte da


música atonal, e é a forma de organizar a composição por meio de doze sons
da escala cromática. São compositores dodecafonismo: Schoenberg, Webern,
Berg, entre outros.

Já o serialismo integral consiste na forma de composição onde todos os


elementos da música são definidos por uma ou mais sequências numéricas. O
serialismo integral propõe a extensão para além de só a altura (como proposto
pelo dodecafonismo), sendo esses: duração, dinâmica e timbre. Sendo
compositores desse estilo: Messiaen, Boulez, Stockhausen, entre outros.

51
UNIDADE II │ FUNDAMENTO HISTÓRICO

O sistema de Schonberg de organização da composição a partir da escala de


doze sons traz variedade ao compositor, visto que possibilita diversas formas de
organização, como:

» Série retrógrada: de trás para frente.

» Série invertida: inversão de intervalos.

» Série invertida retrogradada: de trás para frente da inversão.

Figura 15. Partitura serial.

Fonte: https://hendersonpessoal.wordpress.com/2015/03/08/serialismo/.

Na figura acima, vemos respectivamente:

» Série 1: Original.

» Série 2: Retrógrada.

» Série 3: Invertida.

» Série 4: Retrógrada e Invertida.

É comum referir-se apenas como dodecafonismo e serialismo, mas as


nomenclaturas costumam causar confusões já que ambos são tipos de serialismo.
A diferença se encontra nos quesitos de duração, timbre, altura e intensidade.
São, todos eles, definidos a partir de uma série, que pode ser representada por
sequências numéricas. A ideia do serialismo integral foi aplicada posteriormente
na música eletrônica.

As técnicas chegam ao Brasil por volta de 1939, onde o compositor Cláudio


Santoro, no segundo movimento de sua Sinfonia n o 1, em 1940, utilizou pela
primeira vez a técnica de doze sons.

52
FUNDAMENTO HISTÓRICO │ UNIDADE II

Escute a produção musical, Suite for Piano Op. 25, primeira composição
dodecafônica de Arnold Schonberg, disponível em: https://www.youtube.
com/watch?v=9I8TcVx7mzY.

53
CAPÍTULO 7
Arte conceitual

A arte conceitual se baseia no princípio de que a ideia prevalece sobre a obra


em sua materialidade. A arte passa, do final da década de 1960 a 1970, a ser
usada como instrumento para reflexão e provocação ao público.

O termo “arte conceito” surge pela primeira vez na Revista Anthology, usado por
Henry Flynt, em 1963. O movimento se expressa a partir de fotos, textos, vídeos,
instalações, performances, entre outros. Trazendo a reflexão sobre a concepção de
arte e suas formas de legitimação, partindo da premissa que uma mesma ideia de
obra pode gerar múltiplos entendimentos.

A arte conceitual se tornou possível a partir dos caminhos abertos por movimentos
anteriores como o surrealismo, minimalismo e dadaísmo, que respectivamente
expressavam:

» Surrealismo: movimento artístico originário da França na década


de 1920, fortemente marcado pela espontaneidade, impulsividade e
negação das ordens morais e sociais.

» Minimalismo: movimento artístico originário dos Estados


Unidos na década de 1960, marcado pela utilização do mínimo
para composição das artes, poucas cores, figuras geométricas
simples e repetitivas. Na música, produções com o mínimo de
notas musicais que se repetem.

» Dadaísmo: movimento iniciado na Alemanha, em 1916, em


meio ao contexto da Primeira Guerra Mundial, pretendia negar a
racionalidade e trabalhava com a aleatoriedade para retratar o
absurdo e o caos, um movimento reativo ao cenário de guerra e à
sociedade que a promove.

O movimento da arte conceitual aborda principalmente os seguintes tópicos:

» crítica ao formalismo e ao mercado da arte;

» crítica ao materialismo e ao consumo;

» oposição ao hermetismo da arte minimalista;

» popularização da arte como veículo de comunicação;

54
FUNDAMENTO HISTÓRICO │ UNIDADE II

» arte mental e reflexiva;

» radicalismo e culto à antiarte;

» ruptura com a arte clássica e formal;

» uso de fotografias, textos, vídeos, instalações, performances (teatro,


dança).

E tem como principais artistas:

» Maurizio Bolognini – artista conceitual italiano.

» Barbara Kruger – artista conceitual norte-americana.

» Joseph Kosuth – artista conceitual norte-americano.

» Richard Estes – pintor norte-americano, conhecido por suas pinturas


hiper-realistas.

» Chuck Close – artista plástico norte-americano, pintor e fotógrafo


fotorrealista.

» Malcolm Morley – artista fotorrealista inglês.

» Jasper Johns – pintor, escultor e artista gráfico norte-americano.

» Robert Rauschenberg – pintor e artista plástico norte-americano.

» Mike Kelley – artista plástico norte-americano.

No Brasil e na América Latina, a arte conceitual se diferencia da hegemonia


dos Estados Unidos e Europa. Aqui, a arte se caracteriza pelo caráter político,
refletindo o período de ditaduras enfrentado por essas populações. O Brasil traz
como principais artistas: Lygia Clark, Cildo Meireles, Iole de Freias, Amilcar de
Castro e Hélio Oiticica, atuando na composição principalmente de instalações.

Um grande ícone da arte conceitual é o mictório de Marcel Duchamp,


de 1917, apresentado na exposição da Associação de Artistas
Independentes de Nova York sob o pseudônimo de R. Mutt. A ação de
Duchamp trouxe para a discussão a questão do consumo da arte e o
que é arte. Essa ação radical causou espanto e foi considerada uma
atitude revolucionária na história da arte.

55
UNIDADE II │ FUNDAMENTO HISTÓRICO

Figura 16. Marcel Duchamp, A fonte.

Fonte: https://i.pinimg.com/564x/a2/43/54/a2435457bd000ba1b0ae248ceecdd05d.jpg.

56
BRASIL E SUA UNIDADE III
MUSICALIDADE

O Brasil se caracteriza por ser um país de dimensões continentais, por isso possui
também uma infinidade de estilos musicais dos mais diversos tipos. Alguns
herdados dos habitantes que para cá vieram de outros países, outros originados
das criações culturais internas. Sendo assim, a música é um referencial de
cultura brasileira, sendo de extrema importância ao longo da história do país
como forma de resistência, controle social, representação social, entretenimento
e representação do Brasil no exterior. Dessa forma, a música faz parte, mas
também é instrumento contador da história de seu país.

Veremos a seguir um pouco mais sobre esse assunto.

Como percebemos, o Brasil possui uma infinidade de gêneros musicais,


mas você sabe quais são os mais ouvidos?

Segundo pesquisa realizada pela Jovem Pan FM (SP), Transamérica (SP),


FM O Dia (RJ), Beat 98 (RJ), Cidade (RS), BH FM (MG), Piatã FM (BA), Mega
FM (DF), FM 93, em 2010, os gêneros mais pedidos nas rádios do Brasil
são:

Figura 17. Gêneros mais pedidos de 2010.

Gêneros mais pedidos nas radios do Brasil 2010

PAGODE SERTANEJO INTERNACIONAIS


POP/ROCK NACIONAL FORRÓ AXÉ
RAP FUNK

Fonte: elaborada pelo autor, s/d.

Leia mais em: https://super.abril.com.br/mundo-estranho/qual-tipo-de-


musica-e-mais-popular-no-brasil/.

57
CAPÍTULO 1
Corte portuguesa, danças europeias,
independência e república: o Brasil e a
música do século XIX

O Brasil é um país de extrema diversidade, sua música também contém a mesma


característica. A música brasileira inicia sua história com a música indígena
composta de chocalhos, tambor e instrumentos de sopro.

A partir do século XVII, a população africana trazida para ser escravizada pelos
colonizadores traz consigo vasta expressão musical, caracterizada por músicas de
ritmo forte. Os colonizadores portugueses trouxeram suas músicas compostas pela
instrumentação, com bandolins e cavaquinhos, principalmente durante o período em
que a corte portuguesa se muda para as terras brasileiras. Durante o século XVIII, o
cenário da música no país passa a receber influência originária de outros imigrantes,
como as óperas italianas e francesas.

Assim, analisaremos como se dá a cultura em nascimento no Brasil, ao longo do


século XIX.

Podemos considerar que a música no Brasil é composta por dois momentos: o


marcado pela música erudita e pela música urbana e popular.

A referência na nossa cultura das matrizes africanas e indígenas é visualizada


principalmente no estilo das músicas populares.

A corte portuguesa, com D. Maria I e D. João VI, chega ao Brasil, colônia de


seu país, em 1808 e trazem novos instrumentos e uma série de músicos que
residiam em Lisboa, instaurando a cultura erudita em um ambiente marcado
majoritariamente pela musicalidade popular. Essa mudança traz influências
não apenas para a produção musical, mas também aos hábitos e arquitetura
das cidades, que passam a criar espaços de apresentação do novo estilo de
música no Brasil.

A presença da corte trouxe não só referências de Portugal, mas de toda a Europa,


como, por exemplo, as óperas, o bolero e a valsa, além das danças.

“O surgimento do choro, gênero típico da música popular instrumental de caráter


urbano no Brasil, se deu a partir de uma forma de uma interpretação “abrasileirada”
das danças de salão europeias como a polca, a valsa, o schottisch, entre outras.”
(FONTENELE, 2016).

58
BRASIL E SUA MUSICALIDADE │ UNIDADE III

Assim, inicia-se a caracterização de uma música caracteristicamente brasileira,


que vai se incorporar, principalmente na transição do século XIX para o XX, de
elementos melódicos e rítmicos africanos. Exemplos desse resultado são o samba,
frevo, lundu, choro, dentre outras músicas regionais. No âmbito da erudição,
temos Villa Lobos como primeiro grande representante da produção do país.
Após Villa Lobos, outros compositores aparecem com as estéticas já conhecidas
exteriormente, o dodecafonismo, a música concreta e eletrônica.

Figura 18. Concerto de Villa Lobos em Israel.

Fonte: http://imagens.ebc.com.br/kXYAKFQcYjsIAGU1De4rK_nhTHM=/754x0/smart/http://radios.ebc.com.br/sites/default/files/
thumbnails/image/heitor_villa-lobos_ta_1.jpg.

No que tange às danças, temos várias danças advindas de Portugal e Europa,


como o maracatu (ritmo musical tradicional da Região Nordeste), o fandango
(Ritmo musical tradicional da Região Sul, com raízes no Barroco) e a caninha-
verde (Ritmo musical tradicional do Ceará). Desse modo, o Brasil criou também
suas danças típicas como ciranda, bumba meu boi, baião, frevo, carimbó, dentre
outras, muitas vezes extremamente ligadas ao folclore.

Nos capítulos seguintes, estudaremos os estilos populares e eruditos que se


apresentaram no Brasil.

Vimos nesse capítulo que as danças europeias, em especial as


portuguesas, influenciaram fortemente a cultura popular e folclórica
do Brasil, mas você conhece as danças populares portuguesas? As
mais conhecidas são: vira, chula, corridinho e fandango.

59
CAPÍTULO 2
O maxixe – o tango brasileiro –, o choro
e o samba

Falaremos mais a fundo neste capítulo das danças e estilos musicais nascidos no
Brasil no século XIX.

Maxixe
O maxixe é uma dança de salão brasileira nascida em no Rio de Janeiro, entre o
fim do século XIX e o início do século XX. Fortemente influenciada pelo tango,
que durante o mesmo período estourava na Argentina e no Uruguai, por isso, é
referida também como o “tango brasileiro”.

A dança possui ritmo rápido, gerando passos que posteriormente seriam


incorporados também pelo samba. Caracterizado por coreografias de viés sensual,
a dança sofreu discriminação, sendo considerada indecente pela sociedade
conservadora da época. Alguns de seus nomes são: Ernesto Nazareth, Chiquinha
Gonzaga, Grupo Pixinguinha, entre outros.

Figura 19. Joan Sawyer e Jack Jarrott, dançando o maxixe, de uma publicação de 1914.

Fonte: https://en.wikipedia.org/wiki/Joan_Sawyer_(dancer)#/media/File:Joan_Sawyer_and_Jack_Jarrott,_1914.png.

60
BRASIL E SUA MUSICALIDADE │ UNIDADE III

Choro
O choro, mais conhecido como chorinho, é um gênero musical fortemente marcado
pela sua parte instrumental, com flauta, violão e cavaquinho, que também surgiu
no Rio de Janeiro, no século XIX. Com o desenvolvimento do estilo, outros
instrumentos foram agregados. Alguns de seus nomes são: Jacob do Bandolim,
Joaquim Antônio da Silva Calado, Patápio Silva, entre outros.

Figura 20. Chorinho (1942), de Candido Portinari (1903-1962).

Fonte: https://www.flickr.com/photos/pedrosimoes7/39957173313.

Samba
O samba, gênero que marca e representa a identidade cultural do Brasil no
mundo, tem suas origens nos estilos musicais africanos, com forte presença
de instrumentos de percussão (tambor, surdo, pandeiro) e corda (violão e
cavaquinho).

A composição desse estilo musical é marcada por retratar a vida na cidade,


tendo alto teor popular. Por essa característica, possui diversas variações ao
longo do país como:

» samba de raiz;

» pagode;

» bossa nova;

» samba-canção;

61
UNIDADE III │ BRASIL E SUA MUSICALIDADE

» samba-enredo;

» samba de roda;

» samba de terreiro, entre outros.

Alguns de seus nomes são: Cartola, Beth Carvalho, Martinho da Vila, Zeca
Pagodinho, entre outros.

O samba-enredo, em especial, assim como outros gêneros estudados nesse material,


traz consigo forte teor político, onde a letra e a crítica muitas vezes são fatores
primordiais no julgamento para campeã do Carnaval, uma das mais importantes
festas para o povo brasileiro. Em especial no ano de 2018, o desfile das escolas
de samba do Rio de Janeiro se destacou no teor político de suas letras com as
seguintes escolas:

» Salgueiro: tratou o abandono das mulheres negras.

» Beija-Flor: tratou a corrupção.

» Paraíso da Tuiuti: trouxe o ex-presidente Michel Temer como


vampiro e manifestantes enquanto fantoches.

Vejamos a seguir a letra do samba-enredo apresentado pelo Salgueiro em 2018:

Senhoras do ventre do mundo inteiro

A luz no caminho do meu Salgueiro

A me guiar, vermelha inspiração

Faz misturar ao branco nesse chão

Na força do seu ritual sagrado

Riqueza ancestral

Deusa raiz africana

Bendita ela é e traz no axé um canto de amor

Magia pra quem tem fé

Na gira que me criou

62
BRASIL E SUA MUSICALIDADE │ UNIDADE III

É mãe, é mulher, a mão guardiã

Calor que afaga, poder que assola

No Vale do Nilo, a luz da manhã

A filha de Zambi nas terras de Angola

Guerreira, feiticeira, general contra o invasor

A dona dos saberes confirmando seu valor

Ecoou no quariterê

O sangue é malê em São Salvador

Oh matriarca desse cafundó

A preta que me faz um cafuné

Ama de leite do senhor

A tia que me ensinou a comer doce na colher

À bênção, mãe baiana rezadeira

Em minha vida, seu legado de amor ôô

Liberdade é resistência

E à luz da consciência

A alma não tem cor

Firma o tambor pra rainha do terreiro

É negritude, Salgueiro

Herança que vem de lá (ô)

Na ginga que faz esse povo sambar


Compositores: Xande de Pilares, Demá Chagas, Dudu Botelho, Renato Galante, Jassa, Leonardo
Gallo, Betinho de Pilares, Vanderley Sena, Ralfe Ribeiro e W. Corrêa

A letra apresenta uma questão que perpassa as comunidades do Rio de Janeiro,


mas também todo o Brasil, a colocação, os papeis e espaços atribuídos à população
negra, em especial às mulheres enquanto mães, trabalhadoras e indivíduos.

63
UNIDADE III │ BRASIL E SUA MUSICALIDADE

Assim, vemos uma politização desse estilo que é tão visado e se propõe a trazer
temas para além do puro entretenimento, temas que estão inseridos política e
socialmente.

Figura 21. Carnaval na Sapucaí, 2013.

Fonte: https://www.flickr.com/photos/foradoeixo/8463980600/in/photostream/.

Assista ao documentário “A Verdadeira História do Samba”, disponível em:


https://www.youtube.com/watch?v=hNCZcTvnxJA.

64
CAPÍTULO 3
A elitização dos gêneros populares
Importação da música popular
estrangeira

A música popular se encontra em um constante paradigma sob a sua


representação enquanto produção da cultura das cidades e regiões, com
aspectos regionalistas e uma certa limitação territorial em contraponto com
a música popular chamada de “pop”, sendo a música destinada às grandes
massas, de maneira que a primeira costuma influenciar a segunda.

Dentro desse contexto, há também a otimização dos gêneros populares, onde


alguns estilos ganham maior notoriedade na sociedade e podem vir a serem
considerados erroneamente de maior valor que as demais produções. Muito
dessa ocorrência é vista em relação às músicas produzidas nas regiões de maior
destaque do Brasil, principalmente as advindas da Região Sudeste.

Vimos no capítulo anterior alguns gêneros musicais, como o chorinho e o samba.


Esses são estilos nascidos no Rio de Janeiro, que se tornaram destaque no cenário
musical brasileiro, com enfoque para o samba e a MPB, que vieram a se tornar a
“cara” do Brasil no exterior.

A música “Garota de Ipanema”, composta por Tom Jobim e Vinicius de Moraes,


em 1962, é provavelmente a música brasileira mais conhecida internacionalmente
e uma das músicas mais reproduzidas no mundo, sendo interpretada, inclusive,
por cantores como: Frank Sinatra, Amy Winehouse, Cher, Madonna e Tim Maia.
Analisemos a letra a seguir:

Olha que coisa mais linda

Mais cheia de graça

É ela, menina

Que vem e que passa

Num doce balanço

A caminho do mar

65
UNIDADE III │ BRASIL E SUA MUSICALIDADE

Moça do corpo dourado

Do sol de Ipanema

O seu balançado é mais que um poema

É a coisa mais linda que eu já vi passar

Ah, por que estou tão sozinho?

Ah, por que tudo é tão triste?

Ah, a beleza que existe

A beleza que não é só minha

Que também passa sozinha

Ah, se ela soubesse

Que quando ela passa

O mundo inteirinho se enche de graça

E fica mais lindo

Por causa do amor

A música retrata claramente a presença de uma musa inspiradora para o


compositor e os sentimentos que ela desperta ao habitar o cenário do Rio de
Janeiro à época. A letra apresenta também uma dualidade entre a beleza e a
vitalidade da musa inspiradora em oposição à tristeza e solidão do compositor.

Com o sucesso da composição, as análises levaram a fatos como a identificação da


musa inspiradora da fatídica “Garota de Ipanema”. Essa se trata de Hêlo Pinheiro,
jovem de 17 anos na época, é dito ainda que, no momento da composição, Tom e
Vinicius estavam no bar Veloso, na zona sul do Rio de Janeiro. Após o sucesso da
música, o bar alterou seu nome para Bar Garota de Ipanema, sendo conhecido e
visitado até hoje por turistas.

O avanço do capitalismo ocasionou uma nova organização de ordem econômica,


cultural e política. A partir do século XX, o modelo econômico altera a forma de
consumir arte, com o sentido agora voltado para o consumo, enquanto relação
de troca também envolvendo moeda, e, consequentemente, mudança na produção

66
BRASIL E SUA MUSICALIDADE │ UNIDADE III

da música a ser consumida. As transformações tecnológicas e a possibilidade de


difusão ampliada ocasionam a criação e consolidação de hegemonias de estilos
musicais.

Assim, vemos dentro e fora do Brasil o fenômeno que se tornou no século


XXI a música pop, o estilo que almeja e arrebata as grandíssimas massas. O
grande representante desse estilo e, consequentemente, forte exportador de
suas músicas, são os Estados Unidos. Ao longo desse século, as produções norte
americanas se difundiram aos quatro cantos do planeta, tornando-se um grande
símbolo, difundindo inclusive a língua inglesa e a cultura do país de origem.
Esse movimento é um grande aspecto da globalização, sendo parte e produto
dela, principalmente com o aparecimento da internet e canais internacionais
de televisão. O que se percebe é a valorização da música estrangeira acima das
próprias produções dos países importadores, criando graves consequências
culturais, como o apagamento da cultura original do país e substituição pela
cultura americana.

Ao longo da história do Brasil, vemos um pungente consumo de música


estrangeira. O público jovem é majoritário enquanto consumidor desse tipo de
arte importada.

O grande sucesso das produções com o público se dá uma vez que a indústria
trabalha com uma série de pesquisas de perfil da massa e as produções já são
feitas direcionadas para esse consumo. Essas são pautadas com temas cotidianos
para gerar identificação com o ouvinte.

Dessa forma, qualquer produto da indústria cultural não passa de


uma mercadoria que segue as leis do capitalismo. Sendo assim,
como numa linha de produção em série, são produzidos músicas e
artistas para vender.
(CORRÊA, 2006)

Assim, a população brasileira começou a requisitar certos ritmos nacionais,


como pagode, axé e sertanejo. Assim, o mercado começou a perceber uma divisão
entre as músicas de massa, conciliando o internacional e a produção local.

Podemos concluir, então, que a difusão exclusiva da música de um país contribui


para a consolidação de um etnocentrismo, que tem suas consequências vistas
nos pais importadores e se estende não apenas à música, mas influenciando
também na difusão da língua inglesa, entre outras características sociais e até
políticas.

67
UNIDADE III │ BRASIL E SUA MUSICALIDADE

Você sabia que a música Garota de Ipanema é a segunda canção mais


tocada da História? A primeira é Yesterday dos Beatles. Leia mais em:
https://jornalggn.com.br/cultura/yesterday-e-garota-de-ipanema-as-
duas-mais-tocadas/.

68
CAPÍTULO 4
O regionalismo

O termo ‘regionalismo’ vem do conceito de região, que segundo o Dicionário


Aurélio (FERREIRA, 2010) é: “[...] 2. Território que se diferencia por suas
condições particulares; [...] 5. Espaço territorial caracterizado pela origem
das pessoas que ali habitam”. O Brasil é dividido em cinco regiões com base
nas características citadas acima, sendo essas Norte, Nordeste, Centro-Oeste,
Sudeste e Sul. A divisão atual foi iniciativa do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE) em 1969, outras três divisões já haviam sido realizadas em
1913.

O Brasil possui uma infinidade de regionalismos. Sua população foi formada


pela mistura de diversas nacionalidades provindas da Europa e da África, que,
por sua vez, misturaram-se aos nativos que habitavam a nação. Além disso, o
povoamento do país ocorreu de forma desigual, e em várias áreas diferentes e
distantes entre si.

A atual classificação é utilizada para personalizar bacias hidrográficas, aspectos


ambientais, aspectos econômicos e sociais, e desenvolvimento de políticas públicas.

As regiões são compostas da seguinte maneira:

» Região Centro-Oeste: Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e


Distrito Federal.

» Região Nordeste: Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba,


Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe.

» Região Norte: Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima e


Tocantins.

» Região Sudeste: Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e


São Paulo.

» Região Sul: Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina.

O regionalismo é um fenômeno onde um grupo é determinado a partir de


características que compartilha entre si, possuindo elementos linguísticos e
território geográfico limitados.

69
UNIDADE III │ BRASIL E SUA MUSICALIDADE

Como exemplo, temos a cultura indígena, que em levantamento realizado pelo


IBGE, em 2010, identificou 274 dialetos diferentes entre as populações indígenas
mapeadas. De mesmo modo, vemos na Região Sul do Brasil comunidades que
são fluentes em línguas estrangeiras, seja pela tradição familiar decorrente
da imigração ou pela fronteira estreita com outros países. O fenômeno do
regionalismo costuma ser resultado do processo histórico de aprimoramento da
cultura local.

A cultura regionalista é expressa, propagada e preservada a partir da arte, seja na


música, pintura, dança ou outra representação cultural. Logo, ao tratar de música
regionalista, precisamos antes definir a qual região estamos dirigindo nossos estudos.

Vejamos os tipos de expressão musical presentes em cada região:

» Norte: carimbó, o calypso e a marujada.

» Nordeste: xaxado, samba de roda, forró, frevo, axé.

» Centro-Oeste: música sertaneja, moda de viola, rasqueado,


guarânia, punk, rock.

» Sudeste: bossa nova, pagode, samba, choro, funk, lundu.

» Sul: bugio, vanerão, xote, valsa, chamarrita, rock.

Assim como o regionalismo, o nacionalismo e o globalismo são formas de criar


vertentes de classificar as forças sociais, políticas, econômicas e históricas. Assim
como essas, vemos ao longo da história, outras formar de caracterizar períodos
através de forças que se opõem, como: raça, povo, nação, classe e casta, religião e
politica, militarismo e sociedade civil, entre tantos outros.

Ao contrário do conceito de trabalhar o global ou o enfoque nas nações, o


regionalismo prega a identificação e a valorização das características da região
delimitada geograficamente.

Dentro do universo das artes, o regionalismo enquanto expressão se apresentou


também na literatura. Iniciada na época do Romantismo, a literatura regionalista
auxilia na busca da identidade nacional ao abordar como tema o interior do
Brasil, ao contrário do romance que tinha o enfoque na vida urbana.

O primeiro representante desse movimento foi Franklin Távora (1842-1888),


ainda no século XIX, baseando sua escrita em fatos reais, retratando a vida no
nordeste do Brasil.

70
BRASIL E SUA MUSICALIDADE │ UNIDADE III

O movimento regionalista na literatura perpassou por três momentos, sento eles:

» 1o Momento: Romantismo.

» 2o Momento: Realismo Naturalismo.

» 3o Momento: Pré-Modernismo.

Ainda no contexto brasileiro, em 1926 foi lançado o Manifesto Regionalista,


um dos manifestos publicados na Primeira Fase do Modernismo no Brasil
(1922-1930). Redigido por Gilberto Freyre (1900-1987), comandante do Grupo
modernista-regionalista de Recife.

Ao mesmo tempo em que se coloca como negação de um projeto


homogeneizador, busca a afirmação de sua especificidade e
particularidade regional e de seu reconhecimento nacional. A
proposta é de um nacionalismo includente no sentido de respeito à
diversidade cultural e ao mesmo tempo de contracolonização.
(CARVALHO; LOURENÇO, p. 3017)

Dessa forma, fica clara a importância da expressão artística para as regiões,


culturas e sociedade. Dentro de um mesmo país, temos um marcante pluralismo
cultural, onde, entre as cinco macrorregiões, há estilos completamente
diferentes que refletem a identidade de seu povo, assim como o sotaque, as
comidas típicas, as manifestações religiosas, as tradições folclóricas, entre
outras formas de cultura.

71
CAPÍTULO 5
Novas classes, novas músicas:
bossa-nova e o samba canção

A partir de 1920, surge no Brasil uma nova modalidade musical, um subgênero


do marcante samba. O samba canção foi um grande sucesso, principalmente na
década de 1940 e 1950, com forte influência do bolero e da música vinda dos
Estados Unidos. Esse gênero se tornou a nova cara da vida noturna da capital do
Brasil, o Rio de Janeiro, e representou o início do salto musical no país.

O gênero apresenta também uma mudança estrutural na forma de compor


música e, consequentemente, na harmonia. Com ritmo cadenciado e notas
alongadas, o samba canção usa a célula do samba ritmo lento, fazendo a
adaptação do samba a partir de outros instrumentos. A grande distinção entre
samba canção e samba é a oposição entre a dominação da melodia ao invés do
ritmo.

Seu fator marcante é a temática de composições sobre o amor romântico, tendo


forte presença de vozes femininas. As músicas apresentavam a potência vocal dos
cantores e a sensação dramática. Destacam-se nessa época ícones como Elizeth
Cardoso, Aracy de Almeida, Ari Barroso, Noel Rosa, Dorival Caymmi, João
Gilberto, entre tantos outros.

Figura 22. João Gilberto durante seu concerto no Umbria jazz, em 1996.

Fonte: https://en.m.wikipedia.org/wiki/File:Joao_Gilberto.jpg.

72
BRASIL E SUA MUSICALIDADE │ UNIDADE III

No final de 1950, o samba-canção apresenta sinais de esgotamento e começa a dar


espaço para o aparecimento do novo gênero, a marcante bossa nova. Veremos sua
história a seguir.

A bossa nova surge ao fim da década de 1950, com o lançamento do LP “Chega de


saudade”, de Tom Jobim e Vinicius de Moraes. Analisemos a letra a seguir:

Vai, minha tristeza

E diz a ela que sem ela não pode ser

Diz-lhe numa prece

Que ela regresse

Porque eu não posso mais sofrer

Chega de saudade

A realidade é que sem ela não há paz

Não há beleza

É só tristeza e a melancolia

Que não sai de mim, não sai de mim, não sai

Mas, se ela voltar

Que coisa linda, que coisa louca

Pois há menos peixinhos a nadar no mar

Do que os beijinhos que eu darei na sua boca

Dentro dos meus braços

Os abraços hão de ser milhões de abraços

Apertado assim, colado assim, calado assim

Abraços e beijinhos, e carinhos sem ter fim

Que é pra acabar com esse negócio de você viver sem mim

73
UNIDADE III │ BRASIL E SUA MUSICALIDADE

Não há paz

Não há beleza

É só tristeza e a melancolia

Que não sai de mim, não sai de mim, não sai

Dentro dos meus braços

Os abraços hão de ser milhões de abraços

Apertado assim, colado assim, calado assim

Abraços e beijinhos, e carinhos sem ter fim

Que é pra acabar com esse negócio de você viver sem mim

Não quero mais esse negócio de você longe de mim

Vamos deixar desse negócio de você viver sem mim

A letra escrita por Vinicius de Morais retrata os sentimentos de um eu lírico que


sofre de amor, com características melancólicas, no primeiro parágrafo, o autor
personifica a tristeza e a pede que vá buscar a amada, pois sem ela o eu lírico não vê
mais motivo para viver.

A partir do terceiro parágrafo, a cena muda, volta o otimismo ao imaginar a


volta da amada. Com o uso de palavras no diminutivo, o autor expressa nessa
parte que a junção com a pessoa amada consiste na felicidade futura.

No último parágrafo, o autor dá então seu ultimato, ao expressar que deseja a


reparação imediatamente e, assim, ser feliz ao lado de sua amada.

Figura 23. Estátua de Tom Jobim, no Rio de Janeiro.

Fonte: https://www.flickr.com/photos/ewolivera/31067573973.

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BRASIL E SUA MUSICALIDADE │ UNIDADE III

Esse novo gênero vem do contexto do otimismo pós-guerra e forte aproximação


com os Estados Unidos. O novo governo de Juscelino Kubitschek apresenta
muitas promessas como os “50 anos em 5” e a forte urbanização, com o
fortalecimento da cultura de massa e o aparecimento da televisão.

O estilo apresenta transformação na relação do cantor e o instrumento com ritmo


sincopado, ambos passam a caminhar lado a lado na produção musical, e traz como
diferencial a leveza e a beleza nas músicas, além da forma de cantar quase falada.

As letras são possuem linguagem coloquial e costumam tratar de temas leves.


Estudiosos acreditam ser influência do “cool jazz” e do impressionismo de
Debussy. Em seu segundo momento, a bossa nova passa a refletir um pedido
social de maior politização da música.

A bossa nova nasce como uma evolução do samba, e rompe com as tradições
anteriores na música popular brasileira. Duas de suas canções mais famosas são:
Desafinado (1958), de João Gilberto; e Samba de uma nota só (1960), de Tom
Jobim. Em ambas as composições é possível ver a música e a letra comunicando-se,
expressando o que é esse novo estilo que quebra com os antigos padrões
harmônicos, principalmente o que vinha de Villa lobos. Naves (1998) explana:
“Trata-se de uma tradição que recorre ao excesso, tanto sinfônico quanto coral,
como forma de representar um Brasil exuberante, pujante em seus elementos
físicos e culturais.”

Nos anos iniciais da bossa nova, a venda de discos internacionais representava


cerca de 60% do total, fato que foi revertido com o estouro do novo estilo. Com
os artistas Antonio Carlos Jobim, Vinicius de Moraes, Candinho, João Gilberto,
Carlos Lyra, Roberto Menescal, Nara Leão, Ronaldo Bôscoli, Baden Powell,
Luizinho Eça, os irmãos Castro Neves, Newton Mendonça, Chico Feitosa, Lula
Freire, Durval Ferreira, Sylvia Telles, Normando Santos e Luís Carlos Vinhas.

Há que se destacar o protagonismo de João Gilberto (1931- 2019), considerado o


pai da bossa nova. O cantor e compositor baiano serviu de referência para toda
a música que veio após suas produções. Ao longo da carreira, completou uma
discografia com 52 obras.

A bossa nova divide o período com a incidência da arte conceitual no Brasil,


como vimos em capítulos anteriores.

As produções musicais eram compostas principalmente da combinação com voz e


instrumento acústico, principalmente o violão, além do piano e da percussão.

75
UNIDADE III │ BRASIL E SUA MUSICALIDADE

O boom do estilo dura uma década, e em 1960 cede espaço à MPB.

Assista o documentário “Lupicínio Rodrigues sobre o samba-canção,


bossa-nova e suas influências”, disponível em: https://www.youtube.com/
watch?v=RZEfhQL9t9E. Ouça a famosa música “Chega de saudade”, de João
Gilberto, disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=CX6XQ1huZOA.

76
CAPÍTULO 6
Música política: tropicalismo e jovem
guarda

As próximas décadas são marcadas pela música de protesto. Em meio à ditadura


militar, iniciada em 1964, vemos a coexistência de estilos de música com diferentes
estilos e tendências políticas que combatem esse regime, como o Tropicalismo e a
Jovem Guarda.

A canção de protesto surge para relatar uma insatisfação, uma denúncia ou uma
aspiração de mudança na sociedade em que estão inseridas. Essa modalidade não
se limita a uma forma, podendo ser música popular, erudita ou compor outras
produções artísticas. A música de protesto é o instrumento de disseminação de
insatisfação.

Importantes momentos para a música política no Brasil foram os Festivais da


Canção. Com seu auge no fim dos anos 1960, os festivais movimentavam toda a
população brasileira através do rádio e posteriormente da televisão. Vejamos, a
seguir, a cronologia dos importantes festivais de música na época:

» Cronologia dos festivais na TV Excelsior:

› I Festival de Música Popular Brasileira: realizado em São Paulo,


em abril de 1965, o festival teve como vencedor a composição
“Arrastão” de Edu Lobo e Vinicius de Moraes sob a interpretação
de Elis Regina:

Eh! tem jangada no mar

Eh! eh! eh! Hoje tem arrastão

Eh! Todo mundo pescar

Chega de sombra, João Jovi

Olha o arrastão entrando no mar sem fim

É meu irmão me traz Iemanjá pra mim

Minha Santa Bárbara me abençoai

Quero me casar com Janaína

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UNIDADE III │ BRASIL E SUA MUSICALIDADE

Eh! Puxa bem devagar

Eh! eh! eh! Já vem vindo o arrastão

Eh! É a rainha do mar

Vem, vem na rede João pra mim

Valha-me meu Nosso Senhor do Bonfim

Nunca jamais se viu tanto peixe assim

› Festival Nacional de Música Popular Brasileira: realizado em


São Paulo, em julho de 1966, o festival teve como vencedor a
composição “Porta-Estandarte”, de Geraldo Vandré e Fernando
Lona, sob a interpretação de Tuca e Airto Moreira.

» Cronologia dos festivais na TV Record:

› II Festival de Música Popular Brasileira: realizado em São Paulo,


em setembro e outubro de 1966, teve como vencedora a composição
“A Banda”, composição de Chico Buarque e interpretação de Chico
Buarque e Nara Leão. Vejamos a letra a seguir:

Estava à toa na vida

O meu amor me chamou

Pra ver a banda passar

Cantando coisas de amor

A minha gente sofrida

Despediu-se da dor

Pra ver a banda passar

Cantando coisas de amor

O homem sério que contava dinheiro parou

O faroleiro que contava vantagem parou

A namorada que contava as estrelas parou

Para ver, ouvir e dar passagem

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BRASIL E SUA MUSICALIDADE │ UNIDADE III

A moça triste que vivia calada sorriu

A rosa triste que vivia fechada se abriu

E a meninada toda se assanhou

Pra ver a banda passar

Cantando coisas de amor

(Estava à toa na vida

O meu amor me chamou

Pra ver a banda passar

Cantando coisas de amor

A minha gente sofrida

Despediu-se da dor

Pra ver a banda passar

Cantando coisas de amor)

O velho fraco se esqueceu do cansaço e pensou

Que ainda era moço pra sair no terraço e dançou

A moça feia debruçou na janela

Pensando que a banda tocava pra ela

A marcha alegre se espalhou na avenida e insistiu

A lua cheia que vivia escondida surgiu

Minha cidade toda se enfeitou

Pra ver a banda passar cantando coisas de amor

79
UNIDADE III │ BRASIL E SUA MUSICALIDADE

Mas para meu desencanto

O que era doce acabou

Tudo tomou seu lugar

Depois que a banda passou

E cada qual no seu canto

Em cada canto uma dor

Depois da banda passar

Cantando coisas de amor

Depois da banda passar

Cantando coisas de amor

Depois da banda passar

Cantando coisas de amor

Depois da banda passar

Cantando coisas de amor

› III Festival de Música Popular Brasileira: realizado em São Paulo,


em outubro de 1967, teve como vencedora a composição “Ponteio”,
de Edu Lobo e Capinam. Como segundo, lugar esteve “Domingo
no Parque”, de Gilberto Gil, sob a interpretação de Gilberto Gil e
Os Mutantes. Em terceiro lugar, esteve a canção “Roda Viva”, de
Chico Buarque, sob sua interpretação, E em quarto lugar, esteve a
canção “Alegria, Alegria”, de Caetano Veloso, sob a interpretação
de Caetano Veloso e Beat Boys.

› IV e V Festivais de Música Popular Brasileira: aconteceram


respectivamente de novembro a dezembro de 1968 e novembro de
1969.

» Festival Internacional da Canção: produzido pela TV Rio e Rede


Globo no Maracanãzinho, Rio de Janeiro:

› I FIC: 1966;

› II FIC: 1967;

80
BRASIL E SUA MUSICALIDADE │ UNIDADE III

› III FIC: 1968;

› IV: FIC: 1969;

› V FIC: 1970;

› VI FIC: 1971;

› VII FIC: 1972.

Durante os Festivais Internacionais da Canção, foram lançadas importantes


canções brasileiras conhecidas até os dias atuais, como: Travessia (Milton
Nascimento e Fernando Brant, 1967), Sabiá (Chico Buarque e Tom Jobim, 1968),
Pra Não Dizer Que Não Falei de Flores (Geraldo Vandré, 1968), É Proibido
Proibir (Caetano Veloso, 1968), BR-3 (Antônio Adolfo e Tibério Gaspar, 1970),
Fio Maravilha (Jorge Ben,1972), entre outros clássicos.

Em meio ao regime ditatorial, é implantado o Ato Institucional n o 5 (AI-5),


que censura a imprensa e a produção artística, com a execução dos órgãos
Departamento de Ordem Política e Social (DOPS) e a Divisão de Censura e
Diversões Públicas (DCDP).

Após o endurecimento ainda maior do regime militar, vemos a canção “Pra


Não Dizer Que Não Falei de Flores, de Geraldo Vandré (1968), no III Festival
Internacional da Canção representar o sentimento dos músicos engajados da
época. Analisemos a seguir a letra:

Caminhando e cantando e seguindo a canção

Somos todos iguais braços dados ou não

Nas escolas, nas ruas, campos, construções

Caminhando e cantando e seguindo a canção

Vem, vamos embora, que esperar não é saber

Quem sabe faz a hora, não espera acontecer

Pelos campos há fome em grandes plantações

Pelas ruas marchando indecisos cordões

Ainda fazem da flor seu mais forte refrão

E acreditam nas flores vencendo o canhão

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UNIDADE III │ BRASIL E SUA MUSICALIDADE

Vem, vamos embora, que esperar não é saber

Quem sabe faz a hora, não espera acontecer

Há soldados armados, amados ou não

Quase todos perdidos de armas na mão

Nos quartéis lhes ensinam uma antiga lição

De morrer pela pátria e viver sem razão

Vem, vamos embora, que esperar não é saber

Quem sabe faz a hora, não espera acontecer

Nas escolas, nas ruas, campos, construções

Somos todos soldados, armados ou não

Caminhando e cantando e seguindo a canção

Somos todos iguais braços dados ou não

Os amores na mente, as flores no chão

A certeza na frente, a história na mão

Caminhando e cantando e seguindo a canção

Aprendendo e ensinando uma nova lição

Vem, vamos embora, que esperar não é saber

Quem sabe faz a hora, não espera acontecer

A canção expressa a luta do jovem, dos protestos contra a barbárie que estavam
presenciando, aos direitos que estavam sendo cerceados e aos retrocessos
que eram vivenciados. Com uma letra de pacificidade, pregava que a união da
população poderia vencer, trata-se de um hino de resistência.

O Tropicalismo foi o movimento de contracultura que tinha como propósito fazer


arte tipicamente brasileira, sem influência de estilos estrangeiros, na música com

82
BRASIL E SUA MUSICALIDADE │ UNIDADE III

uma mistura de rock, samba e música clássica utilizavam de artefato as metáforas


na composição de suas linguagens e sonoridades sofisticadas, com a companhia da
inovadora guitarra elétrica. Esse estilo trouxe grandes nomes que ainda permanecem
em produção séculos depois, como Caetano Veloso, Milton Nascimento e Gilberto
Gil. Elis Regina, Gal costa, Maria Bethânia, entre outros. Características musicais a
aproximação com a música raiz, como o samba, o xote e as letras com linguagem
direta ou alegórica.

Figura 24. Movimento Tropicália.

Fonte: https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/diversao-e-arte/2017/11/01/interna_diversao_arte,638139/show-
tropicalismo.shtml.

Principais artistas que representaram a Tropicália nos bastidores do Festival


Internacional da Canção, transmitida pela TV Globo em 1968, acima, da
esquerda para a direita, estão Jorge Ben Jor, Caetano Veloso, Gilberto Gil, a
mutante Rita Lee e Gal Costa. Abaixo estão os irmãos Sérgio Baptista (esq.) e
Arnaldo Baptista (dir.), que também integram a banda Os Mutantes.

Em 1965, é apresentado o Programa Jovem Guarda, televisionado pelo canal


Record, em São Paulo. O programa, apresentado por Roberto Carlos, Erasmo
Carlos e Wanderléa, durou até 1968 e mudou toda a linguagem musical,
comportamental e a moda da juventude da época. Marcado pela alegria e
descontração, o movimento era majoritariamente influenciado pelo rock
internacional, com temática amorosa.

83
UNIDADE III │ BRASIL E SUA MUSICALIDADE

Figura 25. Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Wanderléa.

Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Jovem_Guarda#/media/Ficheiro:Roberto_Carlos,_Erasmo_Carlos_e_Wanderl%C3%A9a_
durante_a_grava%C3%A7%C3%A3o_do_filme_Roberto_Carlos_e_o_Diamante_Cor_de_Rosa.tif.

Os movimentos da Tropicália e da Jovem Guarda se contrapunham, por um


lado, um movimento alegre e focado no tema do amor, por outro, um movimento
plenamente político e de resistência. Essas diferenças, por vezes, geram
hostilidades, principalmente à Jovem Guarda, que por muitos era visto como
uma alienação da juventude.

84
CAPÍTULO 7
A música popular brasileira
pós-tropicalismo

Vimos no capítulo anterior que o movimento tropicalista, marcado pela


contestação e experimentalismo, surgiu da união de artistas brasileiros, a
partir dos Festivais de Música Popular Brasileira. O estilo veio sobrepor a
bossa nova e se comunicava com as outras artes, como as artes plásticas (com
exemplo de Hélio oiticica) e o cinema (com o ícone Glauber Rocha). Com
letras dotadas de poesia e jogos de linguagem, o movimento se caracterizava
pelo excesso, com uso de roupas coloridas e cabelos compridos.

O fim do tropicalismo acontece em 1968, com o fatídico episódio onde ocorre a


prisão de Caetano Veloso e Gilberto Gil durante um show, ambos são acusados
de desacato e então são exiliados.

O movimento pós-tropicalista ocorre entre 1969 e 1974, durante o mesmo período


de governo de General Médici, um mandato marcado pela “linha dura”. Assim,
realiza a expressão através de canções com temáticas marginais, sombrias
e melancólicas, demonstrando um derrotismo da juventude em relação aos
desmontes que estavam sendo feitos contra o país, democracia e a liberdade. Gal
Costa, participante do Tropicalismo, com o exílio de seus companheiros, passa a
ser a grande representante dos pós-tropicalismo.

Figura 26. Gal Costa, 1971.

Fonte: https://commons.wikimedia.org/w/index.php?sort=relevance&search=gal+costa&title=Special%3ASearch&profile=
advanced&fulltext=1&advancedSearch-current=%7B%7D&ns0=1&ns6=1&ns12=1&ns14=1&ns100=1&ns106=1#/media/
File:Gal_Costa,_1971.tif.

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UNIDADE III │ BRASIL E SUA MUSICALIDADE

O endurecimento da ditadura e, consequentemente, o fim do Tropicalismo


marcam o início de uma nova era em busca de um novo estilo que representasse
principalmente a juventude. O vazio não fazia parte apenas da música, mas de
todo o contexto cultural.

Nesse período, havia os grupos do Tropicalismo que conseguiram sobreviver e


essa situação abriu forte espaço para a imersão das gravadoras estrangeiras no
Brasil, marcando a forte influência que a música internacional, principalmente o
Rock n Roll vai gerar sob o Brasil.

O pós-tropicalismo traz elementos que anteriormente eram vistos como


concorrência da MPB. O cenário de censura e exílio dificultava a produção
dos grandes nomes. Logo, a Música Popular Brasileira passa por um período
de aparecimento de novos artistas e começa a ser considerada como música
de qualidade, com mais sofisticação, tratando-se também de uma manobra da
indústria fonográfica do Brasil para se manter no mercado capitalista.

Durante os anos mais próximos da instauração do AI-5, há o congelamento


de demanda musical do público, que volta à tona a partir de 1975, quando se
percebe um pequeno afrouxamento das cordas da ditadura.

86
CAPÍTULO 8
Sofisticação da indústria fonográfica

Como já mencionamos em capítulo anteriores, no século XIX temos o


aparecimento da fonografia, que significa o registro do som. Essa técnica se
tornou possível a partir da invenção do fonógrafo, o primeiro instrumento de
gravação e reprodução das produções sonoras.

Figura 27. Disco de vinil.

Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/bra%C3%A7o-%C3%A1udio-black-disco-gramofone-15962/.

Ao longo das décadas, vemos o desenvolvimento da tecnologia e a difusão das


produções sonoras com a consolidação da indústria fonográfica.

A indústria fonográfica é o consolidado de gravadoras, empresas que realizam


a gravação e comercialização de produtos sonoros em diversos formatos.
Inicialmente, eram os discos de vinil, posteriormente o CD e por último os
formatos de som digitais. Cada um desses produtos, ou seja, a gravação sonora, é
denominado fonograma e possui um código único universal.

A tecnologia propicia a globalização, então, percebemos o Brasil se


desenvolvendo na indústria fonográfica, não muito atrás das grandes
potências capitalistas.

Em 1930, em meio ao governo de Getúlio Vargas, há uma grande popularização


do rádio, inclusive para fins políticos, como a criação da “A Voz do Brasil”,
na época denominada “Programa Nacional”. Essa transmissão passa a ser
obrigatória, e passa assuntos governamentais. O programa ainda hoje está
ativo, sendo o mais antigo programa da rádio brasileira.

87
UNIDADE III │ BRASIL E SUA MUSICALIDADE

Vemos na difusão da indústria fonográfica um protagonismo do eixo Rio-São


Paulo, não mais apenas a capital do Brasil na época, o Rio de Janeiro.

São Paulo também pôde desenvolver seu próprio circuito cultural,


com gravadoras, casas de espetáculo e estações de rádio próprias,
ou seja, pôde desenvolver uma indústria de cultura própria que
se colocava como uma alternativa à produção cultural divulgada
desde o Rio de Janeiro. Essa acirrada disputa política e simbólica
entre a capital federal e o centro econômico do país teria diversas
consequências.
(VICENTE; DE MARCHI, 2014, p. 16)

Junto ao crescimento da televisão no Brasil, em 1969, a Rede Globo de Televisão


cria a gravadora Som Livre. Os Festivais de Música Popular, marco importante
dos movimentos Jovem Guarda e Tropicália, impulsionaram as gravadoras
a realizarem uma mudança do mercado, marcada agora pelo público jovem,
principalmente.

Os anos de 1960 representaram um grande crescimento, com grande produção


de discos, chegada intencional das gravadoras internacionais ao Brasil, como
a Philips, em 1960, e a compra da Companhia Brasileira do Disco, do grupo
Warner, bem como empresas nacionais de comunicação rádio e tv investindo na
indústria fonográfica com a criação de suas próprias gravadoras.

Com a instauração da ditadura militar no Brasil, que dura 21 anos, e o fim dos
movimentos musicais de resistência pela censura, abrem-se as portas para as
gravadoras internacionais, valorizando essas empresas e a produção musical
estrangeira sob a nacional. Assim, as gravadoras nacionais tradicionais ficariam
limitadas a pequenos públicos, com baixa difusão nas grandes populações urbanas.

Nesse período, o Brasil atravessa um grande crescimento econômico, conhecido


como “milagre econômico”, seguido de uma estagnação da economia,
aumento exacerbado da inflação que é denominada a “década perdida”.
Logo, toda a indústria fonográfica precisou se adaptar a essas mudanças e
à imprevisibilidade do cenário econômico no país, situação ainda mais dura
para as gravadoras nacionais.

No final da década de 1980, as gravadoras passam a adquirir uma nova estratégia,


buscando atingir o grande público e assim temos, principalmente a partir de
1990, o lançamento de CDs de diversos nomes da música brasileira. No fim
dessa década, a indústria brasileira já estava arrecadando grandes quantias na
comercialização de discos dos mais diversos gêneros musicais.

88
CAPÍTULO 9
O Rock dos anos 1980

A década de 1980 representou um momento muito importante na história do


Brasil, a transição entre a ditadura militar iniciada, em 1964, e a implantação da
democracia em 1985.

Em 1984, temos o movimento “Diretas Já”, composto majoritariamente pela


juventude, que se mobiliza e vai às ruas para reivindicar a volta das eleições
diretas para a presidência. Durante esse processo, vemos a retomada do cunho
político nos movimentos musicais, como era a Tropicália até a instituição da
censura. No ano seguinte, ocorre a eleição indireta de Tancredo Neves para a
Presidência da República, marcando o fim do regime ditatorial militar no país.

Figura 28. Movimento Diretas Já.

Fonte: http://agenciabrasil.ebc.com.br/sites/_agenciabrasil/files/gallery_assist/3/gallery_assist639591/prev/408928d7eb415.jpg.

O gênero musical mais marcante do período foi o rock n roll, um estilo forte
e politizado com reflexos em suas letras. Esse gênero teve maior difusão no
Brasil, com a difusão do rock internacional, principalmente via televisão, com as
transmissões do canal MTV.

O rock se divida em vários sub estilos, sendo esses:

» Grunge;

» Britpop;

» Neopsicodelismo;
89
UNIDADE III │ BRASIL E SUA MUSICALIDADE

» Metal;

» Indie rock;

» Death metal;

» Black metal;

» Rock industrial;

» Pop punk;

» Entre outros.

Cada um dos estilos de rock dos anos 1980 configurava uma forma específica
de se vestir e comportar, influenciando fortemente o público jovem.

Não podemos esquecer da construção do rock no cenário da música mundial e


do Festival de Woodstock, ocorrido entre os dias 15 e 18 de agosto de 1969,
em Nova York, nos Estados Unidos. Como sinal de resistência da cultura,
principalmente contra a Guerra do Vietnã, estava consolidado o festival, que
contou com trinta e dois artistas, entre eles: Santana, Janis Joplin, The Who,
Jimi Hendrix, entre outros, além de mais de 400 mil espectadores. Nesse
período, havia uma efervescência do uso de drogas em especial as sintéticas,
como o LSD. Devido ao grande público, uso exacerbado de drogas, longos
congestionamentos, o festival gerou um legado com algumas mortes, mas se
tornou o maior festival de rock da história mundial, servindo de exemplo de
protesto político através do rock n roll.

No Brasil, não só como ouvintes, a juventude começa a criar bandas de diferentes


estilos que arrebatavam grandes públicos. Amparadas por grandes nomes
indústria fonográfica nacional, como a Som Livre, as bandas se diferenciam
fortemente, de acordo com a região de que vinham, principalmente no eixo Rio
de Janeiro, São Paulo, Brasília e Região Sul.

O Rio de janeiro tem o rock composto por bandas de caráter romântico, essas
ganham grandes proporções por se localizarem na região onde se localizam
as gravadoras. São Paulo tem em suas produções o reflexo de sua realidade,
a vida caótica das grandes metrópoles urbanas. Brasília, a capital do Brasil,
contribuiu com grandes nomes do rock nacional, como Renato Russo, as
músicas refletiam a vida na capital, onde a juventude possui poucas opções de
diversão. A Região Sul apresentava um estilo que caminhava entre o caráter
romântico e político.

90
BRASIL E SUA MUSICALIDADE │ UNIDADE III

Um importante momento da consolidação do rock na década de 1980 foi


o festival Rock in Rio, com sua primeira edição em 1985, realizando um
grande evento no Rio de Janeiro, com a presença de grandes nomes do rock
internacional, como Queen, Iron Maiden, Whitesnake, Ozzy Osbourne, AC/
DC, Scorpions, entre outros, assim como grandes nomes da música brasileira
como Blitz, Gilberto Gil, Barão Vermelho, Erasmo Carlos, Rita Lee, Moraes
Moreira, Os Paralamas do Sucesso e diversos outros. O evento se consolidou
como um dos maiores festivais musicais do mundo, realizando edições até
a presente data. Vemos então a junção do rock com o já conhecido estilo
brasileiro da MPB.

A partir de 1989, o rock começa a perder sua unanimidade no Brasil, grande


parte do declínio desse estilo se deve ao falecimento de alguns de seus grandes
representantes como Renato Russo, Cazuza e Raul Seixas.

Figura 29. Cazuza.

Fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/b/bb/Cazuza_flickr.jpg.

91
CAPÍTULO 10
Modismo de classes: forró, lambada,
samba-funk, samba-reggae, afoxé

O modismo por definição é aquilo que está na moda, que atinge um grande
público. O Brasil, com sua enorme proporção territorial e grande diversidade de
estilos musicais, possui vários gêneros que arrebatam as massas, muito ligado
às regiões e talvez até a classes específicas. Dentro desses exemplos, podemos
citar o forró, a lambada, o samba-funk, o samba-reggae e o afoxé, esses gêneros
ganharam volume a partir do final da década de 1980.

O forró, estilo de origem nordestina denomina não só a produção musical,


mas também a dança. A música tem o predomínio do triângulo, sanfona e
zabumba como instrumentos e a dança é marcada por ser composta de casais,
com aproximação e sensualidade durante a dança, com movimentos de pés
arrastados. Recentemente, o forró se subdividiu em vários tipos, como o forró
eletrônico, forró universitário e o forró pé de serra. Grandes nomes desse
gênero são: Alceu Valença, Banda Calypso, Dominguinhos, Elba Ramalho e
Luiz Gonzaga. No calendário nacional, o dia 13 de dezembro é reconhecido
como o Dia Nacional do Forró.

Talvez o forró mais conhecido nacional e internacionalmente seja a canção do


mestre Luiz Gonzaga denominada “Asa Branca”, vejamos a letra a seguir:

Quando olhei a terra ardendo

Qual fogueira de São João

Eu perguntei a Deus do céu, ai

Por que tamanha judiação

Eu perguntei a Deus do céu, ai

Por que tamanha judiação

Que braseiro, que fornalha

Nem um pé de plantação

Por falta d’água perdi meu gado

Morreu de sede meu alazão

92
BRASIL E SUA MUSICALIDADE │ UNIDADE III

Por farta d’água perdi meu gado

Morreu de sede meu alazão

Até mesmo a asa branca

Bateu asas do sertão

Entonce eu disse, adeus Rosinha

Guarda contigo meu coração

Entoce eu disse, adeus Rosinha

Guarda contigo meu coração

Hoje longe, muitas léguas

Numa triste solidão

Espero a chuva cair de novo

Pra mim voltar pro meu sertão

Espero a chuva cair de novo

Pra mim voltar pro meu sertão

Quando o verde dos teus olhos

Se espalhar na plantação

Eu te asseguro não chore não, viu

Que eu voltarei, viu

Meu coração

Eu te asseguro não chore não, viu

Que eu voltarei, viu

Meu coração

93
UNIDADE III │ BRASIL E SUA MUSICALIDADE

A música retrata a especificidade da comunidade sertaneja no nordeste do


país e suas lutas. O nome da composição remete a uma espécie de pombo, ave
migratória à qual o eu lírico se identifica ao ver a necessidade de deixar sua
região em função da devastadora seca que a assombra.

Figura 30. Típico trio de forró pé-de-serra: zabumba, sanfona e triângulo. Caruaru (Pernambuco), Brasil.

Fonte: https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Caruaru-S%C3%A3o-Jo%C3%A3o-2005-Trio-forr%C3%B3.jpg.

A lambada é um gênero muito famoso na Região Norte do Brasil, seus


instrumentos são a guitarra elétrica, tambor, baterias e saxofone. Alcançou
sucesso internacional na década de 1980, com as vozes de Barbosa, Sidney,
Fafá de Belém, entre outros.

Figura 31. Lambada.

Fonte: https://www.flickr.com/photos/nunoduarte/2801870408.

94
BRASIL E SUA MUSICALIDADE │ UNIDADE III

O afoxé e o samba-reggae são provenientes da Região Nordeste, em alguns


casos na Bahia. O afoxé, estilo muito ligado em sua origem com manifestações
religiosas de matriz africana e posteriormente ao movimento negro, tem maior
destaque em Pernambuco e na Bahia e faz uso de instrumentos muito próprios:

O afoxé (ou agbê), cabaça coberta por uma rede formada de


sementes ou contas, é percutido agitando-se a rede, que fricciona
no corpo da cabaça. Os atabaques, basicamente de três tipos,
com três tamanhos diferentes, que em conjunto traduzem o som
do ijexá, tocado no afoxé atualmente. O agogô, formado por duas
campânulas de metal, com sonoridades diferentes, é quem dita o
ritmo aos demais instrumentos.
(https://geografianordeste.wordpress.com/2017/05/30/axe-afoxe-samba-reggae/)

Um destaque dentro do universo do afoxé é o grupo Filhos de Gandhi, que tem


como referências Gilberto Gil e Caetano Veloso.

Figura 32. Filhos de Gandhi – Bahia, Brasil.

Fonte: https://www.flickr.com/photos/agecombahia/5503088143/.

Já o samba-reggae, também muito forte na região da Bahia, e ligado ao movimento


negro, nasceu a partir da banda Olodum, conhecida internacionalmente pelo seu
ritmo marcante e visual único, já tendo contado com a presença até do ícone
Michael Jackson em uma gravação. O ritmo fortemente percussivo tem como
instrumentos tambores, pandeiro, atabaque e guitarra elétrica. Outros grandes
nomes do fenômeno samba-reggae são Ivete Sangalo, Margareth Menezes,
Carlinhos Brown, Timbalada, e muitos outros.

95
UNIDADE III │ BRASIL E SUA MUSICALIDADE

Figura 33. Samba-reggae com a banda Olodum.

Fonte: https://www.flickr.com/photos/agecombahia/4353099905/.

Criado em 1960, o samba-funk é o resultado do aumento da influência da música


norte americana no Brasil, o gênero é composto da junção do tradicional samba
com o funk americano. O nome mais marcante que podemos trazer desse estilo é o
incomparável Tim Maia.

Figura 34. Tim Maia.

Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:TIM_MAIA_SONIA_D%27ALMEIDA_1987.jpg.

Assim encerramos a apresentação de algumas das inúmeras musicalidades que


podem ser encontradas no Brasil, país tão vasto e rico em cultura e produções
musicais.

96
MUSICALIDADE UNIDADE IV

A musicalidade é o processo de expressão por meio da construção da produção


musical. Já vimos nas unidades anteriores esse processo no Brasil e no mundo ao
longo dos séculos.

Neste momento, trabalharemos a musicalidade como produção humana e sua


relação com os computadores, a política, a religião e a sexualidade.

CAPÍTULO 1
Música computacional

Com o avanço massivo da tecnologia e o aparecimento do microcomputador


em 1960, vemos mudanças que atingem vários setores da sociedade. Isso gerou
também uma nova forma de expressão artística, a arte computacional. A música
computacional nasceu da influência da música eletrônica e dos instrumentos
eletrônicos advindos do século XX. Ela é definida como a composição musical
gerada ou composta por meio do auxílio de computadores.

Essa técnica não é apenas uma forma de síntese musical, mas também pode
atuar na musicologia, musicoterapia e educação musical. Sua característica de
possuir extrema precisão, trabalha de maneira acertada a altura e o timbre dos
sons, produzindo composições com alto nível de refinamento, seja atuando na
gravação ou processamento digital.

Essa prática teve início na década de 1960, quando os artistas estavam interessados
em experimentar os novos produtos tecnológicos, com ênfase para o computador e
as linguagens de programação, expor seus processos de criação e se aproximar do
público consumidor de arte. O Happening, ação comum na época, era uma forma
de exibição que combinava o ambiente, a obra de arte e o espectador, considerando
todos eles elementos importantes (VENTURELLI, 2004, p. 56).

97
UNIDADE IV │ MUSICALIDADE

A computação pode ser relacionada em diversos tópicos acerca do contexto da


música, como os avanços na acústica, difusão e sonorização; análise e síntese de
canções; análise de músicas através de artefato computacional; educação musical a
partir de instrumentos computacionais e análise da emoção e comunicação a partir
da música.

Essa nova forma artística teve importante contribuição em áreas correlatas,


como o desenvolvimento do cinema e aspectos tecnológicos. Grandes nomes
do movimento são Karlheinz Stockhausen (1928-2007) e Herbert Eimert
(1897-1972).

Uma performance de improvisação livre envolvendo recursos computacionais


pode ser classificada do mesmo modo que uma composição eletroacústica, como:

» Acusmática, utilizando-se somente de meios eletrônicos para


geração e manipulação sonora, ou

» Eletroacústica mista, utilizando instrumentos acústicos além dos


meios eletrônicos.

Figura 35. Representação da interação homem e computador no fazer musical.

Fonte: https://pixnio.com/objects/electronics-devices/people-woman-man-music-business-hand-music-instrument-desk-
technology-office-focus.

Essa modalidade pode ser caracterizada pela duplicidade na forma de interação


com a composição computadorizada, seja pela interação humana ou a partir de
dispositivo especializado para esse fim.

98
MUSICALIDADE │ UNIDADE IV

O computador também pode ser um, importante instrumento de auxílio


ao ouvido humano na análise dos sons mais complexos. Outra utilização
exponencial tem sido o uso da disciplina no ensino de música.

A arte computacional tem se tornado mais comum, ao contrário do início do século


XX, em decorrência da popularização dos computadores e dispositivos de preços
mais acessíveis.

A própria tecnologia, de tempos em tempos, se recria e se torna um desafio para


o consolidado anterior. Tivemos a invenção de instrumentos que gravavam e
reproduziam o som, seguidos da materialização da música por meio de suportes,
como LP’s e CDs. Com o avançar do tempo e o aumento da complexidade da
ciência computacional, temos o aparecimento de MP3, que é a compactação
de um número grande de músicas em um dispositivo. No século XXI, temos
outros desafios, como o armazenamento em nuvem, que passa a dispensar
suporte materializado e o fenômeno dos streamings, mudando novamente todo
o mercado consolidado de música até então, obrigando-os a se modernizarem.

Você já ouviu alguma música que perceptivelmente possuía elementos


computadorizados, na voz ou na instrumentação? O gênero de música
eletrônica apresenta grande parte de sua composição baseada em
aspectos computacionais, e tem se tornado um estilo musical em ascensão
nas últimas décadas, inclusive com grandes festivais de proporção
internacional. Desse modo, ao que tudo indica, estaremos cada vez mais
interagindo, produzindo e consumindo arte produzida a partir de e por
máquinas.

99
CAPÍTULO 2
Música e política

Vimos, ao longo deste material, a história da música a partir do século XIX.


É perceptível que a arte, em especial a música, tem forte papel enquanto
manifestação da sociedade em relação ao cenário político ao qual estão inseridos.

Para estabelecermos a relação entre a música e a política, precisamos entender


seus significados individuais para elencar as influências entre si.

A política é um termo comum e costumeiramente relacionado a um caráter


vago. Para essa análise, podemos assumir que em um de seus casos, segundo
Maar (1998, p. 9):

A política surge junto com a própria história, com o


dinamismo de uma realidade em constante transformação que
continuadamente se revela insuficiente e insatisfatória e que
não é fruto do acaso, mas resulta da atividade dos próprios
homens vivendo em sociedade.

Figura 36. Parlamento, local de muitas decisões políticas.

Fonte: https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Parlamento-IPPAR1.jpg.

A música é uma maneira de expressão artística baseada na utilização de sons e ritmos


em espaços de tempo passíveis de diversas formas de organização. Com o exposto
em capítulos anteriores, poderíamos afirmar que, igual à política, a música surge
com a própria história, já que desde os primórdios observa-se a produção do que

100
MUSICALIDADE │ UNIDADE IV

consideramos música pelos homens nas mais distintas formações de sociedades,


sendo inegavelmente uma prática cultural e humana.

Podemos entender a música relacionada a vários significados de política, não


só o próprio fazer musical que pode ser entendido como ação política, mas
também ao assumir o caráter de arte politizada.

Dentro da música politizada, podemos citar o exemplo do Brasil, onde o período


mais expressivo na atuação da música como objeto de repúdio e resistência foi
durante a ditadura militar (1964-1985), com o movimento da Tropicália, mas em
diversos outros momentos percebemos essa representação.

De igual modo, é inegável o uso da música enquanto instrumento de


convencimento e transmissão de mensagens, controle social ou expressão de
um grupo sobre seus seguidores, como na política (como é exposto em regimes
totalitários) ou como, veremos a seguir, na relação com a religião e sexualidade,
entre outros.

A utilização da música como forma de propagação de política é estudada,


por exemplo, no famoso compositor Villa Lobos e sua relação com o governo
de Getúlio Vargas. Através do plano educacional cívico-artístico-musical
proposto por ele.

Vemos também, a nível mundial, o papel da música como manifestação política


diante de atrocidades ocorridas ao longo da história, como guerras, massacres
e políticas de exclusão. Para citar uma banda que atua ativamente com teor
político, temos a banda de rock Pink Floyd. Criada em 1965, em Londres, a
banda, à época composta por Syd Barrett (guitarrista e vocalista), Nick Mason
(baterista), Roger Waters (baixista e vocalista) e Richard Wright (tecladista e
vocalista), tem como as principais composições políticas:

» “Us And Them” e “Money”, do álbum The Dark Side Of The


Moon, de 1973. O álbum critica a ganância, a guerra e a obsessão
por dinheiro da sociedade.

» “Welcome To The Machine”, do álbum Wish You Were Here, de


1975. O álbum critica exatamente a indústria musical

» “Pigs (Three Different Ones)” e “Dogs”, do álbum Animals, de 1977,


que foi inspirado pelo icônico livro de George Orwell “Revolução
dos Bichos”. A produção da banda critica o capitalismo e a
exploração das classes mais baixas.

101
UNIDADE IV │ MUSICALIDADE

» “Another Brick In The Wall”, do álbum The Wall, de 1979. A famosa


música critica o sistema educacional que poda e transforma as
crianças em fantoches em massa.

» The “Fletcher Memorial Home” do álbum The Final Cut, de 1983.


Crítica e cita nome de políticos como Margaret Thatcher e Richard
Nixon.

Assim, a banda se tornou uma grande representante da politização por


meio das músicas e da consolidação do rock enquanto um estilo em grande
parte ligado ao protesto social, político, entre outros. Vimos também esse
movimento no Brasil no movimento da Tropicália e no rock de 1980, como,
por exemplo, na canção de Renato Russo, “Que País é Esse?”:

Nas favelas, no senado

Sujeira pra todo lado

Ninguém respeita a constituição

Mas todos acreditam no futuro da nação

Que país é esse?

Que país é esse?

Que país é esse?

Que país é esse?

No Amazonas

E no Araguaia ia, ia

Na Baixada Fluminense

No Mato Grosso

E nas Gerais

E no Nordeste tudo em paz

Na morte eu descanso

Mas o sangue anda solto

102
MUSICALIDADE │ UNIDADE IV

Manchando os papeis

Documentos fiéis

Ao descanso do patrão

Que país é esse?

Que país é esse?

Que país é esse?

Que país é esse?

Terceiro mundo se for

Piada no exterior

Mas o Brasil vai ficar rico

Vamos faturar um milhão

Quando vendermos todas as almas

Dos nossos índios num leilão

Que país é esse?

Que país é esse?

Que país é esse?

Que país é esse?

E “Perfeição” da banda de Renato Russo, a Legião Urbana:

Vamos celebrar a estupidez humana

A estupidez de todas as nações

O meu país e sua corja de assassinos

Covardes, estupradores e ladrões

Vamos celebrar a estupidez do povo

Nossa polícia e televisão

103
UNIDADE IV │ MUSICALIDADE

Vamos celebrar nosso governo

E nosso Estado, que não é nação

Celebrar a juventude sem escola

As crianças mortas

Celebrar nossa desunião

Vamos celebrar Eros e Thanatos

Persephone e Hades

Vamos celebrar nossa tristeza

Vamos celebrar nossa vaidade

Vamos comemorar como idiotas

A cada fevereiro e feriado

Todos os mortos nas estradas

Os mortos por falta de hospitais

Vamos celebrar nossa justiça

A ganância e a difamação

Vamos celebrar os preconceitos

O voto dos analfabetos

Comemorar a água podre

E todos os impostos

Queimadas, mentiras e sequestros

Nosso castelo de cartas marcadas

O trabalho escravo

Nosso pequeno universo

Toda hipocrisia e toda a afetação

Todo roubo e toda a indiferença

Vamos celebrar epidemias

É a festa da torcida campeã

104
MUSICALIDADE │ UNIDADE IV

Vamos celebrar a fome

Não ter a quem ouvir

Não se ter a quem amar

Vamos alimentar o que é maldade

Vamos machucar um coração

Vamos celebrar nossa bandeira

Nosso passado de absurdos gloriosos

Tudo o que é gratuito e feio

Tudo que é normal

Vamos cantar juntos o Hino Nacional

(A lágrima é verdadeira)

Vamos celebrar nossa saudade

E comemorar a nossa solidão.

A característica política atrai bastante a população mais jovem que, em geral,


costuma a identificar-se e a posicionar-se mais assertivamente nas questões de
protesto, quase uma característica intrínseca às juventudes, sendo, dentro desse
meio, onde o rock de protesto mais se difunde.

Assista ao famoso clipe “Another Brick in The Wall”, do Pink Floyd,


disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=YR5ApYxkU-U.

105
CAPÍTULO 3
Música e religião

Antes de iniciarmos a análise sobre a relação entre a música e a religião,


precisamos abordar mais a fundo o que é a religião. Conceito, assim como a
música, amplamente conhecido, entretanto de complexa conceituação.

Há que se tratar também da diferenciação entre religião, religiosidade e


instituição religiosa, sendo assim: a religiosidade é a capacidade natural
humana de acreditar, de ter fé. É a base de qualquer crença. A religião é um
produto da religiosidade natural, por meio da qual se conecta com o sagrado,
cria sentidos e pode ser dividido com a coletividade da comunidade religiosa.
Já as instituições religiosas são organizações que preservam e difundem os
ensinamentos da religião.

Desde os primórdios da humanidade há registros de religiosidade e suas


primeiras formas de organização de crenças, com o intuito de explicar o mundo,
as questões fundamentais e distinguir o profano do sagrado. Assim, surgiram
diversas religiões, com diferentes adorações e características ao longo do globo
relacionadas com as culturas de cada sociedade e região, ainda hoje surgem
novas expressões de religiosidade.

As religiões compactuam de ações em comum, como:

» caráter público;

» hierarquias clericais;

» reuniões regulares;

» estabelecimento de limites entre o sacro e o profano;

» a sacralização de determinados locais, veneração de divindades;

» escrituras sagradas ou tradição oral;

» sacrifícios, festas, serviços funerários e matrimoniais;

» meditação, arte, calendários religiosos e

» um sistema de crenças no sobrenatural, geralmente explicando a


vida após a morte ou a origem do universo.

106
MUSICALIDADE │ UNIDADE IV

As religiões podem diferenciar-se tanto pelas características quanto pela forma de


adoração, por exemplo:

» Panteístas: as divindades são representadas pelos elementos


naturais (o vento, a água, o fogo, os animais etc.).

» Politeístas: as divindades são personificadas e sob forma humana,


com separação entre o feminino e o masculino.

» Ateístas: não acreditam na existência de divindades


personificadas e sim em uma harmonia universal.

» Monoteístas: as religiões monoteístas acreditam em um deus


único personificado.

Assim, Coutinho (2012, p.179) expõe sobre as práticas religiosas:

As práticas religiosas configuram a relação do homem com o sagrado,


englobando ritos, rituais, orações e outros. Os ritos religiosos são
heranças culturais religiosas que determinam formas especiais de
viver as crenças, nomeadamente o culto e a devoção pessoal. Os
rituais religiosos são gestos, palavras, procedimentos, imbuídos
de simbolismo, que efetivam os ritos religiosos, sendo resultado
das normas estabelecidas por tradições religiosas. Os rituais são as
ações e os ritos são as estruturas. Por tão interligados, facilmente se
confundem.

Vemos ao longo da história o grande papel da religião nas sociedades, regiões e


governos como parte do controle e do poder da instituição, seja na doutrinação da
população ou encadeando guerras, disputas e marcos históricos.

O avanço da ciência gerou a diminuição do monopólio de religiões milenares em


grandes sociedades, ocasionando, também, o aparecimento de novas religiões, com
diferentes vertentes.

Mas qual a relação entre a religião e a música? Segundo Veiga (2013), a música se
relaciona com a religião de várias maneiras, quer nos sistemas de crença, quer no
controle do poder. Ambas são universais da cultura.

Ao longo de toda a história, a música é vista atrelada à religião como forma de


entrar em contato com o divino.

107
UNIDADE IV │ MUSICALIDADE

A religião nunca é vinculada apenas ao intelecto. Ela envolve igualmente


as emoções que são tão essenciais na vida humana quanto o intelecto e a
capacidade de pensar. A música, o canto e a dança apelam para as emoções. Na
maioria das religiões, as pessoas extravasam a tristeza ou a alegria pela música
instrumental e pelo canto; em algumas, também pela dança, que é um meio
bastante antigo de expressão religiosa (GAARDER, 1952).

De mesmo modo, as religiões usam a música como um caminho para se


aproximar de seus fiéis. Segundo o filósofo Santo Agostinho, “Quem canta reza
duas vezes”.

Grandes compositores, inclusive já abordados em nosso material, se envolveram


na produção de música religiosa, como foi o caso de Mozart, Beethoven e Vivaldi,
artistas os quais compuseram missas.

Figura 37. Coro em igreja.

Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/altar-igreja-coro-%C3%B3rg%C3%A3o-m%C3%BAsica-1139831/.

O Brasil, em decorrência de suas heranças de colonização, tem ao longo de sua


história a predominância considerável da religião católica e, consequentemente, a
música religiosa católica. Ao longo das últimas décadas, a vertente evangélica no
país tem crescido massivamente, com a expansão de igrejas, canais de televisão,
rádios e artistas gospel. Essas mudanças podem ser visualizadas a partir do
gráfico realizado pelo IBGE, a partir dos censos do ano 2000 em comparação
com o ano 2010.

108
MUSICALIDADE │ UNIDADE IV

Figura 38. Censo IBGE 2000-2010.

2010

Católicos romanos Evangélicos pentecostais/neopentecostais


Sem religião Evangélicos de Missão
Outras religiosidades Espíritas
Evangélicos não determinados Umbandistas e candomblecistas

Fonte: adaptada de https://censo2010.ibge.gov.br/noticias-censo?id=3&idnoticia=2170&view=noticia.

Portanto, pode-se concluir que a música e a religião se entrelaçam enquanto


expressões individuais e culturais desde o início das civilizações, e sua ligação
ultrapassa as mais distintas funções, havendo registros que para a expressão
religiosa as duas podem ser uma só.

109
CAPÍTULO 4
Música e sexualidade

Para finalizarmos nosso caderno de estudos, trataremos da relação da música


com a sexualidade. Você sabe conceituar sexualidade? A sexualidade, assim
como outros termos já estudados, é amplamente conhecida, porém, pouco nos
prestamos a analisar seu conceito. Podemos definir como uma característica
natural dos seres humanos de busca de prazeres não apenas representados
pela relação sexual.

A sexualidade é um tema pouco abordado nas sociedades, e é permeado por um


certo tabu, onde, em diversos contextos, é malvista a expressão da sexualidade,
como é o caso de comunidades mais tradições, principalmente elencadas a
algumas religiões.

A música, enquanto forma de expressão, pode servir de instrumento para


exteriorizar a sexualidade e a orientação sexual. Dessa forma, vemos
gêneros musicais que, em suas temáticas, tem maior colocação de aspectos
da sexualidade como também há músicas de resistência de comunidades que
buscam por expressar e legitimar suas orientações sexuais.

O Brasil possuiu, ao longo de sua história e até hoje, diversas músicas de


diferentes gêneros musicais que apresentam tópicos ligados à sexualidade,
alguns exemplos disso são: samba, maxixe, forró, algumas músicas da MPB,
axé e mais recentemente o funk.

Muito devido à popularização e ao sucesso das músicas com temáticas sexuais,


se dá a indústria do entretenimento, segundo Trotta (2009):

O sexo é um dos temas mais frequentes da esmagadora maioria


dos produtos veiculados pela indústria do entretenimento. Ao lado
de seu par romântico – o amor – as narrativas que apresentam
direta ou indiretamente algum tipo de referência sexual formam
um eixo discursivo para o qual filmes, músicas, livros e shows
continuamente apontam. A diversidade das narrativas sexuais é
bastante grande.

No século XXI, temos bagagem para pensar a sexualidade enquanto a junção da


constituição sexual atrelada à identidade de gênero.

110
MUSICALIDADE │ UNIDADE IV

Todos aprendemos desde o ensino fundamental, nas aulas de ciência, o conceito


de sexo biológico, a distinção de homens e mulheres para tal disciplina. Esse
conceito binário torna-se limitante quando pensamos na identidade de gênero,
que nada mais é do que o gênero ao qual o indivíduo se identifica, podendo ser
cisgênero ou transgênero, assim, estando ligado ou não ao sexo biológico.

Portanto, uma vez que a sexualidade está ligada à identidade de gênero, vemos a
importância de tratar desse assunto e como a música se relaciona como forma de
expressão e representação do indivíduo.

O Brasil ainda apresenta pouco avanço na conscientização acerca do respeito


com as diferenças, nesse caso as de identidade de gênero, expressão de gênero
e orientação sexual, além de pouco desenvolvimento na desconstrução do
machismo e outras crenças limitantes que acabam refletindo-se na música,
que muitas vezes reproduz e torna-se instrumento de difusão e consolidação
de preconceitos. Por ser um trabalho conjunto à conscientização e respeito às
diferenças, a música atua também como instrumento de luta e resistência contra
estigmas que atingem os indivíduos citados. Seja como forma de expressão ou
de representação, a música tem um papel muito importante na sua relação com a
sexualidade do indivíduo e suas particularidades.

Um importante marco na expressão da sexualidade na música foi o


lançamento da canção “Like a Virgin”, da Madonna, em 1984. Com
letra de teor sexual e performance com figurino de noiva, a cantora
explicita a sua crítica ao comportamento conservador. A música fez,
e ainda faz, grande sucesso e está entre as 100 músicas na lista da
Billboard. A cantora produziu outras músicas de igual temática.

Figura 39. LP do álbum “Like a Virgin”, da Madonna.

Fonte: https://www.flickr.com/photos/51764518@N02/18159918041.

Assista o videoclipe, disponível em: https://www.youtube.com/


watch?v=s__rX_WL100.

111
Para (não) finalizar

Pudemos ver ao longo de nosso caderno de estudo o percurso que a música


traçou ao longo dos séculos, em especial as mudanças durante a transição do
século XIX para o XX. As alterações de ordem política, social e tecnológica e o
papel da música enquanto instrumento de expressão, resistência e controle são
importantíssimos não apenas para ação dos grupos como forma de retratar a
história, assim a música cumpre um importante papel político e social.

Uma vez que a música também é objeto de estudo, passou por avaliações, críticas
e indagações. Afinal, tudo que se fez ainda é música? Com certeza sim, e a prova
disso é o aumento exponencial do consumo dessa arte de maneira exponencial
e escalável como nenhuma outra alcançou, seu sucesso foi amparado pelas
intensas mudanças tecnológicas as quais as sociedades passavam.

A criação de novas formas de compor, de ouvir, de analisar, de estudar, de pensar


e de ver a música mudaram drasticamente, possibilitando o aparecimento de
mudanças em todas as áreas da música, desde a composição, com o atonalismo,
até a musicologia e a criação de inúmeros novos gêneros e estilos musicais.

Estudamos a relação da música com a história, as sociedades, a cultura, a academia,


o ser humano, seus compositores, as nações, as demais artes, o nacionalismo e o
regionalismo, a massa, a indústria musical, as tecnologias, a política, a religião e
a sexualidade. Desse modo, iniciamos o debate acerca de todo o macroverso que
permeia as produções artísticas musicais, mas a sua complexidade não se esgota
aqui.

Pudemos perceber como a música influenciou e foi influenciada durante as


mudanças dos séculos. Esperamos que todo o conteúdo apresentado seja o início
de um rico estudo acerca dessa característica intrínseca ao ser humano que é a
música.

Até mais!

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