O Significado Do Jornalismo

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O SIGNIFICADO DO JORNALISMO

A NATUREZA DO JORNALISMO

RESPONSABILIDADES DO JORNALISMO

O QUE BUSCA O JORNALISMO

OBJEÇÕES AO JORNALISMO

O JORNALISMO COMO GÊNERO LITERÁRIO

O JORNALISMO COMO PROFISSÃO

A natureza do jornalismo

Todos os meios pelos quais a notícia chega ao público são jornalismo. Na base do
seu processo estão a elaboração, a periodicidade e a persistência.

A palavra jornalismo quer dizer apurar, reunir, selecionar e difundir notícias,


ideias, acontecimentos e informações gerais com veracidade, exatidão, clareza,
rapidez, de modo a conjugar pensamento e ação.

É da natureza do jornalismo levar a comunidade, direta ou indiretamente, a


participar da vida social. Nesse sentido, assume uma condição de intermediário da
sociedade.

O jornalismo é uma arte, uma técnica e uma ciência. No julgamento do cético,


porém, é um tipo qualquer de comércio. No do idealista, significa compromisso e
privilégio.

Nada mais velho que o jornal de ontem, afirmam uns. O cínico acha irrelevante e
pretensiosa a cobertura jornalística. Outros veem nela algo mais relevante. Para Rui
Barbosa, a imprensa é a vista da nação. Por ela é que a nação acompanha o que lhe
passa ao perto e ao longe, enxerga o que the malfazem, devassa o que lhe ocultam e
tramam, colhe o que lhe sonegam, ou roubam, percebe onde lhe alvejam, ou
nodoam, mede o que lhe cerceiam, vela pelo que the interessa, e se acautela do que
a ameaça.

Thomas Jefferson, em 1787, refletiu o que viria a se tornar a ideia americana do


livre exercício da opinião: "Se me fosse dado decidir se devemos ter um governo
sem jornais, ou jornais sem governo, eu não hesitaria um momento em escolher a
última alternativa".

Nicolai Lenine, em 1920, defendia outro caminho ao perguntar. "Por que


permitir a liberdade de expressão? Por que um governo que está fazendo o que
pensa ser certo deve tolerar que seja criticado?"

Uma radical mudança, da produção ao consumo, marca a evolução do jornalismo


linear para o eletrônico. O seu espírito - a surpresa, a verdade, a coragem, a
indagação, o questionamento, o estilo, a competição, o ritmo - permanece
inalterável.

Desde o século XV é ininterrupto, ainda que lento, o desenvolvimento do


jornalismo. Cada etapa abriga novas máquinas de comunicar, como nos séculos
seguintes. Mas quem mais conhece a técnica do jornal nem sempre é quem mais
sabe sobre a técnica que se aplicará ao jornalismo no futuro.

Ben H. Bagdikian compara a notícia às mercadorias de consumo de massa


produzidas e distribuídas por homens e máquinas, com a diferença de que, na sua
origem, há um esforço intelectual artesanal que resulta de avaliação pessoal, de
técnica e de organização. Por isso, "o significado fundamental do sistema de
notícias não é econômico, é social". Qualquer que seja o conceito que as pessoas
têm do jornalismo. a sua função só floresce em um clima de liberdade, amplas
garantias constitucionais, pleno respeito aos direitos individuais.

Sem censura à manifestação das opiniões, jornal, rádio, TV e outros meios de


comunicação podem mover-se na realidade do dia- a-dia, às vezes fazendo
história, sem, contudo, a determinação de escrevê-la.

Não tem sido fácil, na maioria dos países, conquistar a liberdade que o
jornalismo hoje desfruta. Em todos os tempos, restrições à palavra causam danos
irreparáveis. Milton pedia que entre todas as liberdades lhe dessem a de escrever
livremente.

No Brasil e na América Latina, a história da luta pela liberdade de imprensa


registra incidentes que vão da proibição à repressão. Como em qualquer outra
parte, os danos sofridos pelo jornalismo atingem as instituições democráticas.

James Reston adverte que "a notícia pode ser verdadeira, mas não é a verdade, e
os repórteres e os homens do governo raras vezes veem-na do mesmo modo". E
lembra "o primeiro grande acontecimento", o homem na notícia, que foi Adão,
para dizer que os relatos de sua criação "sempre foram uma fonte de controvérsia".
O caráter de um jornal ou outro qualquer veículo de informação pode ser medido
pela resistência que oferece às pressões políticas e econômicas. Independência e
rigor são necessários a uma imagem de credibilidade e desassombro.

A opinião pública - e ainda mesmo que só o público - se orienta, quase sempre


decide e raciocina não pelas coisas em si, mas pela feição que lhes damos, pelos
sinais que a mídia lhes atribui. "Matéria e conteúdo de nossas opiniões", segundo
Walter Lippmann.

A ética do jornalismo, por esse motivo, não deve ser assunto exclusivo de
veículos, jornalistas e leitores, ouvintes e telespectadores. Ela está na razão direta
da própria ética da sociedade. É essencial para todos.

Responsabilidades do jornalismo

É natural que, tendo privilégios, o jornalismo também tenha deveres. Jornais,


emissoras de rádio, revistas, emissoras de televisão e todos os meios de
comunicação são instituições sociais que, ao reunir, escrever e divulgar as notícias,
servem à sociedade.

Independência - Para serem úteis, os veículos devem ser independentes. E para


ter independência, devem dispor de bases econômicas suficientes, capazes de
dispensar a subvenção, a tutela ou o controle. Uma imprensa dependente,
manobrada por interesses obscuros, não pode ser confiável.

O caráter do jornalismo emana de instituições políticas e econômicas que


precisam ser livres e independentes para decidir. A sua função, qualquer que seja o
sistema político ou econômico, é fornecer informações que definam a realidade e
facilitem a sua compreensão.

Os veículos destinam-se a oferecer ao mercado de compradores não coagidos


informação e divertimento. Essa missão de natureza social do jornalismo não se
completa sem independência, se ela é usada para fins exclusivos ou manipulada
pela autoridade dominante.

"Onde quer que a imprensa seja livre e todos os homens saibam ler, tudo está
salvo", escreveu Thomas Jefferson. Quanto mais livres e independentes, os veículos
de comunicação mais crescem no respeito e na confiança do público que sabe
distinguir a controvérsia da tendenciosidade.

Ao assumir o compromisso de ser independente, um veículo corresponde à


exigência do público de que seja responsável e digno na medida das expectativas
dos que o leem, o ouvem ou o veem. Não é indispensável um documento para o
consagrar, basta que isso seja comprovado na prática.

A missão do jornalista é saber e dizer o máximo possível. A energia que a


alimenta resulta quase sempre da sua independência profissional e da
independência do veículo. Obviamente, existem dificuldades inevitáveis, em
qualquer sistema, entre o governo (de quem não se pode desejar que nutra
desinteresse pela informação) e os veículos (que vivem para publicar notícias).
Lutar para vencê-las. no interesse da sociedade, é uma das tarefas do jornalismo.

Veracidade - Não dizer o contrário do que se pensa; não fazer o contrário do


que se diz. No jornalismo, esta noção de veracidade é mais útil do que qualquer
noção de verdade. A verdade que se apura é geralmente a veracidade que se publica.
Mas não é a última verdade e nem sequer a verdade definitiva.

Por muito tempo, pensou-se que tudo quanto se imprime é a verdade, ainda
que se faça em seu nome. A verdade reclamada por um veículo, um editor ou
mesmo uma opinião pública pode não ser toda a verdade. De fato, em geral, ela é
apenas uma parte ou uma versão da verdade. Na realidade, a verdade no jornalismo
é um ideal tão questionado quanto a verdade na justiça.

O jornalismo serve melhor à verdade sendo ao menos veraz. E para sê-lo, deve
buscar incessantemente todos os ângulos de uma notícia, de uma entrevista ou de
uma opinião. Deve partir do princípio de que uma informação tem sempre mais de
uma versão. Quanto mais ela questiona a verdade, maior número de versões ela
abriga.

Nada mais longe da veracidade, por exemplo, que a visão superficial do


acontecimento. Isto é mais fácil de se perceber quando se comparam as diferentes
notícias dos diferentes veículos sobre um mesmo fato a respeito do qual temos a
nossa própria avaliação. Em casos assim, não só a veracidade é dificilmente
atingida, como a verdade é inatingível.

Atitudes como impessoalidade, neutralidade, independência, responsabilidade


e objetividade contribuem para que a veracidade seja possível no cotidiano de um
veículo. Desse modo, elas ficam tão próximas da verdade que quase sempre se
confundem, e por esse meio ideais distantes como imparcialidade tornam-se mais
próximos de alcançar.

Cada vez mais, as pessoas que consomem notícias fornecidas pelos veículos do
jornalismo querem a verdade, a autenticidade e a honestidade, da mesma forma
que jornais, revistas, emissoras de rádio e de televisão sabem disso tão claramente
que se não correspondem a essas expectativas têm seus dias contados na
concorrência.
A veracidade contém um elenco tão grande de evidências, indícios, sinais,
aspectos e características da verdade que passa por ser ela mesma. Mas, para tanto,
é preciso que configure os mesmos atributos da verdade, que no jornalismo se
exprimem com exatidão - isto é, a reprodução mais fiel, mais imparcial e mais
independente dos fatos.

Objetividade - Em jornalismo, uma informação objetiva é uma informação fiel


ao que relata, precisa no que diz. Em sentido mais amplo, objetividade significa
apurar corretamente, ser fidedigno, registrar as várias versões de um
acontecimento. É também ser criterioso, honesto e impessoal. É publicar a notícia e
identificar a sua fonte, se não houver impedimento.

Para a maioria dos jornalistas, a objetividade é apenas um ideal, algo desejável


mas impossível. Para outros, ela é perfeitamente dispensável numa informação
correta. Contudo, o fato de ser a objetividade um alvo inalcançável não quer dizer
que jornais e jornalistas não devem tentar atingi-lo. Um bom caminho nesse
sentido está no equilíbrio e na honestidade da informação.

Há muitos fatores que concorrem para que a objetividade não se realize. A


formação cultural do jornalista, por exemplo. Ela influi sobre a notícia. Outro
exemplo é a interpretação que separa a notícia apurada na fonte da opinião baseada
em suas consequências políticas, econômicas, etc. Entre uma e outra, pode existir
um grau tão variado de não-objetividade que instala a dúvida e a desorientação no
público.

A objetividade também costuma ser atropelada pela arrogância do jornalista ou


do veículo, que tem por hábito se colocar acima dos fatos, como se fora infalível.
Por estar sempre a dar o que lhe parece ser a última palavra - privilégio que detém
como editor -, aquele que emite a notícia tende a se considerar acima de
contestações.

A objetividade é um conceito de jornalismo que se desenvolveu e se consolidou


nos Estados Unidos em fins do século XIX, projetando- se na imprensa ocidental
com a força de um dogma. Sua origem está na necessidade que sentiram jornais de
qualidade de estabelecer uma fronteira ética em relação a jornais sensacionalistas.

A informação objetiva é, assim, uma resposta à notícia escandalosa,


interesseira, imprecisa, manipulada, que fez a fama da imprensa amarela. É a outra
face da moeda. O conceito de objetividade evoluiu para tornar-se, no século XX, um
padrão universal.

Entretanto, convém não esquecer que o tratamento objetivo das notícias não é
uma questão exclusivamente ética. Um jornal de qualidade pode ser menos
objetivo, menos verdadeiro, menos honesto que um jornal popular. Uma mesma
notícia pode causar reações diferentes em um brasileiro, um inglês e um alemão,
ou mesmo em pessoas de uma só comunidade.

Um fato que desafia contestação-diz Danton Jobim-é que o jornal


contemporâneo, ou mais precisamente o grande jornal de informações, é um constante
esforço para oferecer ao leitor diariamente o quadro tão realista quanto possível da vida
na comunidade. Está longe, por certo, de ser o espelho fiel dos tempos, mas um confronto
dos seus padrões de informação com os do passado mostra que ele tem caminhado
sempre no sentido da objetividade e da exatidão maiores do noticiário.

Honestidade - No jornalismo, predomina a noção de que uma informação não é


uma informação se não for verdadeira. A violação dessa regra abala a reputação do
jornalista e do veículo, ainda mesmo que reparada pela imediata correção ou por
um formal desmentido. A honestidade nas notícias e nos anúncios é o mínimo de
satisfação que um veículo pode oferecer à sua audiência.

A honestidade deve ser um elemento básico do caráter do jornalismo. Deve-se


admitir, porém, que a imprensa nem sempre é honesta e, quando pratica a
manipulação da notícia, é invariavelmente desonesta. Deve-se admitir, também,
que ela não é mal-intencionada ou que faça da má-fé uma virtude. Muitas vezes,
ela simplesmente erra ao se basear em determinadas fontes.

Os fatos políticos, por exemplo, devem ser acompanhados com a honestidade


por igual transparente para as diversas correntes de opinião que baseiam seu
julgamento nas informações veiculadas. Em casos assim, a honestidade se soma à
exatidão, à imparcialidade, à responsabilidade e à independência do noticiário,
apesar de que um jornalista e um veículo são tão falíveis quanto leitores e ouvintes.

É importante que veículos e jornalistas sejam honestos, não obstante se saiba


que eles conciliam papéis aparentemente tão contraditórios como os de eco de
ideias, de arauto de notícias e de atividade que visa lucro. Como recorda Walter
Lippmann, a opinião pública espera que a imprensa, reproduzindo embora os
padrões morais da comunidade, viva no mesmo plano em que supõe vivam a escola,
a Igreja e as profissões desinteressadas.

Em abril de 1981, The Washington Post confessa em três páginas de explicações


numa edição dominical ter falhado completamente no controle da reportagem de
Janet Cooke, baseada na falsa história de uma criança de 8 anos viciada em heroína.
O fato, sem precedentes no jornalismo, expõe os riscos da informação desonesta.

A denúncia feita pelo ombudsman do jornal revela que, apesar de baseada em


investigações nos meios da droga de Washington, o pivô da "História de Jimmy"
(título da reportagem), uma criança viciada, nunca existiu. A reportagem havia sido
publicada na edição de 28-9-80, com grande repercussão, mas o escândalo se
tornou público quando recebeu o prêmio Pulitzer.

Numerosas acusações negaram veracidade à história. Pressionado pela opinião


pública, o Post encarregou seu provedor de justiça de investigar o assunto e obteve
a confissão da jornalista de que a reportagem havia sido inventada. O jornal
devolveu o prêmio, pediu desculpas aos leitores e a jornalista se demitiu.

Um duro golpe para o jornal que simbolizara o poder e o prestígio da imprensa


norte-americana com a sua histórica série sobre a administração Nixon e o
escândalo Watergate. E uma falha, afinal, indesculpável.

Imparcialidade - O jornalismo pretende ser testemunha da história a partir da


publicação dos fatos. É uma aspiração mais modesta do que a de reconstruir o
mundo pela simples difusão das notícias. Nem por isso alguns dos seus objetivos
deixam de parecer inatingíveis, como a imparcialidade, por exemplo.

O fato de não estar sob o controle do governo, de ser a tribuna comum das
minorias numa democracia, de separar o noticiário do que é opinativo, de se dispor
a não omitir nada do que o público tem direito de conhecer, e de se corrigir ou de se
retificar toda vez que comete um erro, aproxima o jornalismo do seu dever de ser
imparcial.

É discutível se, concretamente, a sociedade considera a imprensa imparcial.


Nem mesmo as pessoas são sempre imparciais. Ainda que para a maioria esse ideal
seja difícil de alcançar, esforços para evitar falhas de cobertura, práticas
tendenciosas, atitudes preconceituosas, exercícios de manipulação, apelos ao
sensacionalismo são hoje mais frequentes do que no passado.

A imparcialidade é para o jornalismo um ideal, como a honestidade, a exatidão,


a veracidade, a responsabilidade, a objetividade, etc. Para muitos jornalistas e
veículos, o seu exercício é tão rigoroso quando se relata uma partida de futebol ou
quando se trata de uma convenção partidária para a escolha de um candidato à
Presidência da República.

A preocupação da verdade, da objetividade, da honestidade, ainda que seja


difícil realizá-las plenamente nos limites de tempo e espaço da notícia, conduz o
jornalismo na direção da imparcialidade, sobretudo porque generaliza a prática que
permite às partes contrárias expor as suas posições.

Por natureza superficial, apurada e elaborada apressadamente, a informação


que os veículos transmitem está em confronto permanente com os ideais do
jornalismo. Quase sempre o repórter encontra a verdade, mas logo descobre que ela
tem muitas faces, algumas das quais não figuram na matéria ou ficam fora do foco
da fotografia.

Nem sempre é lícito publicar um fato só depois que ele tenha sido
exaustivamente apurado. Assim, na maioria das vezes, o jornalista utiliza o faro e
age pelo instinto. Nessas ocasiões é que questões como imparcialidade tornam-se
cruciais, porque enquadram, no mesmo julgamento, a ética profissional e a
consciência do indivíduo.

Exatidão - A imprensa deve ser tão exata quanto responsável. Em ambas as


condutas, costuma repousar a qualidade da informação. Quanto maior a exatidão
da notícia e quanto mais responsável for o veículo, maior será a credibilidade de
quem a emite. O conceito ético embutido aí reflete o que dizia Walter Williams:
"Ninguém deve escrever como jornalista o que não possa dizer como cavalheiro".

A imprensa já foi menos exata e menos responsável, numa época em que


também a sociedade tinha menos acesso ao conhecimento e exigia menos dos seus
governantes. Aperfeiçoada e modernizada, o seu dever de informar com exatidão
corresponde ao seu compromisso com a verdade, isto é, desprezar os rumores para
afirmar unicamente aquilo de que se tenha certeza.

O compromisso da exatidão implica assumir a responsabilidade de tudo o que


se publica, mesmo sem assinatura. A sua prática generalizada reduz o âmbito das
violações legais, estreita as ações da calúnia, da difamação e da injúria, e
desmoraliza os processos desleais para obter uma notícia ou para iludir a boa-fé
alheia. Sendo exata, a informação não corre o risco de ser desmentida ou
desqualificada pela intenção de desonestidade. Sendo exato, o veículo procura ser
honesto com sua audiência, a qual não espera dele atos milagrosos, impecáveis ou
irretratáveis sobre os acontecimentos locais, nacionais e internacionais. Mas,
apenas, que não use de má-fé, induzindo-a a erro.

"Mais notícia e menos comentário." Esse lema que afasta a doutrina em


benefício dos fatos não diminui no jornalismo o seu papel de agitador de ideias,
mas amplia as suas fronteiras éticas, uma das quais é a exatidão. À medida que dá
maior quantidade de informações, o veículo se obriga mais a qualificar o que diz.

Notícias mais objetivas, mais verdadeiras, mais honestas e mais amplas


devem ser também mais exatas, mais responsáveis, mais confiáveis. Ao selecionar
as informações para publicar a notícia, o jornalista trabalha mais com convenções
do que com padrões objetivos. E quase sempre tem de ceder à intuição e à
improvisação. Mas não deve desprezar a exatidão, por mais tentado que seja a
fazê-lo.
Credibilidade - É o valor de confiança que conjuga no veículo a informação
responsável e a informação qualificada. Esse atributo só pode ser emitido pela
opinião pública, a quem cabe decidir sobre fatores de fé como independência,
reputação, veracidade, coerência, exatidão, objetividade, honestidade, clareza,
seriedade, persistência, etc., mas é um dever da imprensa.

Um veículo de comunicação precisa ter a visão da sociedade, saber ser a sua


voz e o seu ouvido, os seus olhos e a sua mente. Porque não é legitimado pelo voto
como outras instituições, o jornalismo aspira a ser o porta-voz da cidadania,
forjando uma delegação de confiança que, embora frágil, não é abstrata e se renova
automaticamente toda vez que os cidadãos acentuam a sua preferência. A
credibilidade de um veículo é maior ou menor quanto maior ou menor for a sua
capacidade de publicar versões mais ou menos confiáveis. O juiz dessa medida,
porém, não é unicamente a sua audiência. Muitas vezes, a responsabilidade de uma
imprensa solidamente estabelecida e geralmente respeitada pelos seus padrões de
independência e de exatidão é questionada e submetida à Justiça.

Um exemplo histórico é o caso do governo dos Estados Unidos contra The


New York Times, The Washington Post e outros grandes jornais americanos que
assumiram a responsabilidade de publicar os Documentos do Pentágono, decidido
pela Suprema Corte em favor da imprensa, em 30 de junho de 1971.

Por maioria, os juízes resolveram que a divulgação de documentos


classificados como secretos não violava a Constituição e nem as garantias do
direito do povo de ser informado numa sociedade livre, apesar das objeções do
governo de que tal divulgação afetava a segurança nacional.

Contrariada em seu desejo de publicar os documentos pelo governo que


achava ser do seu direito censurá-los, a imprensa recorreu à Justiça. A decisão da
Suprema Corte reconheceu à imprensa o direito de publicar tudo, ficando sujeita, a
posteriori, a ser responsabilizada pelos excessos porventura cometidos na
publicação.

O confronto entre os limites da liberdade de imprensa e a segurança


nacional, nesse caso, encontrou seu foro adequado na Justiça, mas tornou relevante
a responsabilidade e a credibilidade da imprensa. Uma e outra consagradas no
julgamento como razões inspiradoras da decisão.

Essa brilhante vitória sob a atmosfera da lei numa nação democrática


destruiu o argumento de "dano irreparável" à segurança nacional utilizado pelo
governo para justificar um obstinado desejo de censura prévia.

Ao deitar por terra tal alegação, a Suprema Corte não só deu acesso à
sociedade americana e a todos os povos a informações sobre a participação dos
Estados Unidos na guerra do Vietnă, como também reconheceu valores como
responsabilidade e credibilidade de veículos como o NYT, para o qual "é melhor não
dizer do que dizer pela metade".

O que busca o jornalismo


O jornal moderno é parte da cultura de massa, é resultado de grandes
transformações na imprensa, na sociedade e na história.

Impresso, escrito, falado ou visual, o seu objetivo é informar, interpretar,


orientar e divertir. Associa ainda outras funções como vender através de anúncios e
difundir ideias e eventos mais complexos que a simples notícia.

As técnicas do jornal são as técnicas do jornalismo, digam respeito a um


diário, a uma revista ou a um radiojornal, a um telejornal e a um cinejornal. Tal
como o jornal, o jornalismo não é propriamente uma invenção. Deve ser entendido
como um processo histórico e cultural laboriosamente aperfeiçoado no tempo.

O jornal é anterior à imprensa, e o jornalismo existe há muito, antes de


Gutenberg. Invenção é a tipografia, com as artes gráficas revolucionando a palavra
escrita a partir do livro. Essa intermediação tipográfica nas relações do jornal com
o livro estende ao jornalismo uma responsabilidade na formação das pessoas que
tem a ver com a educação.

Assim como a linguagem, as convenções, os sinais e os símbolos na troca de


ideias, pensamentos, ações e notícias, o jornalismo produz a comunicação coletiva.
Todos os meios pelos quais o homem procura transmitir significação e valores ao
seu semelhante são comunicação: a palavra falada, a palavra escrita, impressos,
gestos, figuras, imagens, etc.

O jornalismo é um dos instrumentos de participação do público na vida social.


Porém, seu conceito industrial evoluiu em relação ao conceito romântico dos
primeiros jornais. Isto acontece não porque o mundo atual seja pior que o antigo,
mas porque a cobertura jornalística melhorou muito e são mais rigorosos os
padrões da notícia.

A missão do jornalismo se confunde com a natureza da informação. Sua


prioridade básica é difundir notícias. Fora dessa função primordial, absorve muitas
outras, como, por exemplo, a de promover o bem comum e a de estimular a mais
ampla e livre troca de ideias entre as pessoas, quaisquer que sejam suas convicções.

Naturalmente, o jornalismo está sujeito a distorções e, na prática, seus


conceitos e definições nem sempre comprovam a teoria. No entanto, o exercício do
jornalismo torna-se mais eficaz e passa a ser melhor compreendido quando são
maiores as garantias à liberdade e quando as opiniões não estão sujeitas ao
controle do Estado.

Na sociedade moderna, o jornalismo fala cada vez mais a linguagem coletiva.


Na engrenagem das suas relações com a comunidade, os veículos têm a chave da
mútua compreensão, da prosperidade nacional, dos anseios humanos, das
conquistas sociais. Dentre todos, o jornal ainda é o que menos pulverização sofre
na sua identidade em uma malha de transmissões eletrônicas.

A lei que rege o jornalismo está no fato, na surpresa, na ideia, na desgraça ou


na glória. A sua seiva é a liberdade. Não se justifica jornalismo sem liberdade de
expressão e pensamento, da mesma forma como não há democracia sem
pluralismo. A liberdade é vital para o jornalismo, tanto quanto o é para a pessoa.

Os direitos e privilégios legais do jornalismo reconhecem, na sua capacidade


de informar e opinar, orientar e entreter, um papel que se identifica na sociedade e
na civilização como inestimável e insubstituível. As notícias gozam de prioridades,
é certo, mas não absolvem de responsabilidades quem as veicula.

Assim, o jornalismo deve estar atento ao seu propósito imediato de levar ao


público as informações seja para gerar nele reações imprevistas ou para causar-lhe
uma sensação tão agradável quanto a que antigamente despertavam trovadores e
novidadeiros com suas cantigas e sátiras como ao elenco de deveres morais
implícito no seu exercício.

Desde o começo, o jornalismo busca influenciar e alterar padrões de


comportamento, induzindo atitudes, registrando formas de produção e gerando
hábitos de consumo. Contemporaneamente, o rádio nos anos 1930 e a TV nos anos
50 criaram novos impactos e afetaram o prestígio do jornal. Nos anos 70, o jornal
experimenta uma animadora reversão de expectativas. Não é tão relevante que um
tipo de veículo tenha predominância sobre o outro, pelo menos quando não se trata
de programar mensagens comerciais. A televisão aguçou o apetite do público por
mais notícias, como o rádio já o fizera anteriormente, mas isso em lugar de
ameaçar o jornal serviu para torná-lo mais responsável.

Contudo, nenhum veículo de comunicação tem maior ou menor


responsabilidade em relação ao outro em face de questões essenciais como o
tratamento a ser dado às notícias. Usos levianos e tendenciosos da notícia
provocam maléficas consequências, sejam no rádio, na televisão, no jornal ou
através de outro qualquer meio.

Objeções ao jornalismo
As críticas que comumente se fazem ao jornalismo nem sempre partem de
observadores distantes. São mais fáceis de se encontrar entre os próprios
jornalistas, muito embora procedam também de leitores, ouvintes,
telespectadores, de políticos e de membros do governo, aqui entendido como
Executivo, Legislativo e Judiciário.

Muitas das objeções coerentes aos veículos e aos jornalistas, por mais
severas que possam ser, representam, às vezes, reparos e queixas pertinentes da
sociedade, que os jornais, por exemplo, acolhem em seções permanentes como
"Carta dos leitores" ou nas colunas da página de opinião. Outras, contudo, apesar
de relevantes, são ignoradas ou desprezadas.

Em resumo, eis as principais críticas: O noticiário é inexato: - "Os veículos


deviam apurar melhor o que publicam", observam, em síntese, as críticas que
condenam tanto "noticias falsas" quanto "revelações sensacionalistas" nem
sempre atribuídas à pressa da informação, mas a enganos deliberadamente
tornados públicos, erros essenciais e interpretações capciosas.

Nesses casos, não adiantam correções ou explicações dos veículos de que se


trata de erros não intencionais ou de equívocos possíveis na apuração e elaboração
sob pressão de espaço e tempo a que estão sujeitos jornais, rádio e televisão.
Leitores-e mais que eles, as vítimas de tais falhas - têm dificuldade em aceitar tais
justificativas. A "notícia falsa" no jargão jornalístico mais conhecida como barriga
é, na maioria das vezes, um involuntário ato de publicação, sobretudo naqueles
veículos que buscam a qualidade como padrão de referência. Como aconteceu com a
revista Veja ao dizer, na edição de 27 de abril de 1983, que cientistas europeus
haviam conseguido cruzar células de boi com outras, de tomate, criando uma
substância que denominou de "boimate". A revista, que se baseara nas informações
de New Scientia, caiu de 1º de abril, época na qual a imprensa inglesa e, de resto,
europeia, por tradição, costuma divulgar histórias de ingênua mentira entre as
notícias sérias.

Há enganos menos ingênuos que leitores, ouvintes e telespectadores, certa


ou erradamente, arrolam como falhas grosseiras dos veículos e que, muitas vezes,
afetam a sua credibilidade. Essa visão crítica sobre os veículos se transforma em
perda de confiança mais facilmente em países sujeitos à censura em espasmos
democráticos como, historicamente, tem sido o Brasil.

Os veículos são frequentemente relacionados pelas objeções da sociedade


como muito próximos (ou a serviço) do poder; como alterando ou distorcendo os
fatos; como deturpando notícias e opiniões; e defendendo interesses econômicos,
políticos, ou ideias de pessoas, grupos e organizações nem sempre tendo em vista o
bem público.
Notícias inverídicas incluem matérias como a do Jornal Nacional da TV Globo,
emitido no dia 25 de janeiro de 1984. Ao noticiar o comício pelas eleições diretas em
São Paulo com um comparecimento estimado de 500 mil pessoas, afirmou: "Foi
uma festa em comemoração ao aniversário da cidade".

Ou como a informação de O Estado de S. Paulo, de 22 de maio de 1982, em


manchete de primeira página, de que houvera um atentado a bala contra o ministro
da Justiça, Ibrahim Abi-Ackel. A prova seria um pedaço de metal que entrara pela
janela do gabinete de Abi-Ackel, indo cair sobre um sofá. No dia seguinte, viu-se
que o metal era uma porca e fora lançada contra a janela pelo movimento das
lâminas de um cortador de grama.

O Jornal do Brasil publicou que, no carnaval de 1984, o presidente Figueiredo


fizera rigorosa dieta; recebera a visita de uma nora; recebera o irmão Guilherme no
sítio na serra fluminense; e se distraíra jogando videogame num Atari. Figueiredo
garantiu, em seguida, que não fizera qualquer das quatro coisas.

Em edição extra, O Globo de 30 de junho de 1980 publica na primeira página


fotografia do papa João Paulo II beijando o chão. Como o santo padre acabara de
chegar ao Brasil, podia-se supor numa armadilha, que o flagrante era de Brasília.
Mas tratava-se de fotografia antiga, de outra viagem, retocada para dar
verossimilhança, pois na cena de Brasília mostrada pela TV o papa aparecia sem o
solidéu branco sobre a cabeça.

As soluções dos veículos dadas a esses erros: Veja pediu desculpas; a TV Globo
manteve a informação; O Estado de S. Paulo insistiu na tese do atentado; o Jornal do
Brasil publicou o desmentido de sua notícia; O Globo reconheceu a maquiagem em
resposta a uma carta de leitor.

Erros, com reações semelhantes, são comuns ao jornalismo em todas as


partes. Nos Estados Unidos, o Chicago Tribune anunciou em manchete de 2 de
novembro de 1948 que Dewey fora eleito presidente, mas o eleito foi Truman. Na
França, La Presse, de Paris, publica edição especial sobre a chegada aos Estados
Unidos dos aviadores Nungesser e Coli, que haviam morrido durante a travessia. A
Agência France Presse, em 4 de abril de 1985, transmite em sua rede internacional
a morte de Tancredo Neves, que só ocorreria 17 dias depois. Duas emissoras de
rádio brasileiras a Jovem Pan e a Eldorado, com plantão no hospital paulista onde
Tancredo agonizava, noticiam no dia 18 a morte do presidente que só se daria em
21-4-85.

O noticiário é superficial - Esta objeção reclama maior profundidade,


sobretudo no rádio e na televisão, para as notícias relevantes. Os jornais e revistas
também são criticados por dedicarem pouco espaço ou negligenciarem a cobertura
de fatos que envolvem aspectos sociais, políticos e econômicos e contrariam
interesses de grupos privados ou de governos. Esse tipo de crítica compara a
quantidade de notícias vulgares com as notícias importantes para chegar à
conclusão de que estas têm menor espaço, menor repercussão e/ou menor
destaque.

O noticiário discrimina minorias - Parcelas da sociedade como as mulheres, os


negros, os pobres, se sentem discriminadas pelos grandes jornais, revistas,
emissoras de rádio e de TV, que argumentam - só os põem em foco para situar
aspectos negativos. Os veículos são acusados de má vontade, má-fé e falta de
sensibilidade pela "indiferença" em relação aos "reais problemas" dessas
comunidades.

O noticiário é parcial - Essa objeção elege o tratamento dado pelos grandes


veículos à criminalidade como faccioso, discriminatório e intencionalmente
manipulado, porque "condenam" supostos culpados antes do julgamento;
privilegiam as informações obtidas de fontes policiais, sempre prontas a indiciar
culpados; fazem grande alarido em torno de criminosos de origem humilde
enquanto silenciam ou minimizam crimes de colarinho-branco ou mesmo de
marginais importantes que desafiam a polícia e a Justiça protegidos por defensores
caros.

O noticiário é manipulado - A crítica contesta o grau de independência que os


veículos atribuem às notícias em relação à opinião. Para ela, não só o noticiário
sofre pressões opinativas dos editores, repórteres e redatores, como também da
direção que controla a opinião.

As objeções consideram que um "dono" do veículo age como se fora um


"dono" das notícias, mesmo aquelas que são fornecidas mediante concessões
públicas, como os canais de rádio e de televisão. E apontam como abusivas atitudes
de proprietários que velam pelas suas posições ideológicas com "conselhos" aos
editores ou frontais intervenções para dizer-lhes o que está certo ou errado.

"Nós fornecemos todas as informações necessárias, mas nossas opiniões são,


de uma maneira ou de outra, dependentes do meu caráter, das minhas convicções e
do meu patriotismo", assim justifica Roberto Marinho o seu hábito de ligar para a
redação (jornal, rádio e TV) para fazer comentários, sugestões e críticas.

Marinho, 82 anos, elegantemente vestido, proprietário único da Rede Globo, é


descrito por The New York Times como o homem que influencia pessoalmente o
noticiário dos seus veículos e que, da base de seu poder a TV Globo, orienta a sua
intenção patriótica para consagrar ou demolir pessoas.
Os críticos da manipulação de notícias denunciam a existência de alianças
entre a direção das empresas e as estruturas locais de poder. Para eles, jornais,
rádios e televisões são instrumentos de trocas de favores entre a direção da
empresa e seus amigos poderosos. No Brasil, a crítica ao procedimento dos meios
de comunicação começa nos anos 80 a se tornar aguda e disseminada. O público
demonstra ter mais informações do que supõem os veículos sobre jornalismo
monopolista, establishment, tráfico de influência, manipulação oficial, pressões
econômicas e amordaçamento de minorias.

Outra forma de manipulação da notícia foi reconhecida pelo Wall Street


Journal, de Nova York, Estados Unidos, em abril de 1984, ao admitir que sua
credibilidade como principal publicação norte-americana dedicada aos assuntos
econômicos fora seriamente abalada pelo vazamento de informações da coluna
especializada - "Heard" - de R. Foster Winans, em proveito de corretores
profissionais, informações que só seriam publicadas posteriormente.

A reação do jornal foi imediata e enérgica para salvar a sua reputação. Winans
confessou aos investigadores da bolsa de valores e do WSJ ter deixado vazar
importantes informações mediante pagamento dos interessados. O jornal publicou
os detalhes do escândalo, apurado por uma equipe de 12 repórteres e redatores.
"Existe uma obrigação para com os leitores quando se tem um problema desse
tipo", afirmou o chefe da redação, Norman Perslstine.

Embora colunas assinadas sejam vulneráveis à manipulação, como


demonstrou o caso de Winans, cujos dados influíam nas cotações da bolsa, de tal
modo que o seu conhecimento prévio seria valioso para os investidores, a ação do
Journal, afastando o colunista, representou uma pronta satisfação aos leitores.

O noticiário é sensacionalista - Equivale a dizer: os veículos dão mais espaço


ao crime e às más notícias do que às boas. Não é o relato inadequado das notícias
sobre crimes que desagrada, mas a sua apresentação minuciosa - e como acontece
na TV - geralmente brutal. Os veículos, nesse caso, se apoiam em críticos
imparciais e numa audiência, que parece maioritária, interessada no noticiário
mais completo quanto possível de crimes como assalto, atentado, sequestro ou atos
de terror. Muitas vezes, pela eficiência de sua investigação, os veículos se
antecipam à polícia e ajudam na captura dos criminosos.

O noticiário é difamatório e não respeita o direito de resposta -


Frequentemente, dizem as objeções, os veículos valorizam tanto falsas acusações
ou suspeitas que não procuram comprovar, que incidem na publicação de
difamações, calúnias, etc. cujos danos não são convenientemente reparados e até
mesmo perdem interesse para os responsáveis pela sua veiculação. Outras vezes, os
veículos simplesmente remetem para a coluna dos leitores os pontos de vista das
vítimas em resposta a denúncias ou acusações divulgadas com destaque de
primeira página, títulos garrafais em páginas internas ou reprodução de imagens,
nos veículos, sejam jornais, revistas ou televisão.

Ainda que possam alegar proteção da lei, os que fazem objeção a essa conduta
se sentiriam distinguidos com uma voluntária reposição da verdade toda vez que
pudessem comprovar o erro das publicações, o que nem sempre ocorre. Tal objeção
não reluta em apontar outra distorção de conduta dos veículos: muitas vezes eles
aproveitam o desmentido para ampliar deliberadamente a ofensa, a suspeita ou a
insinuação contestada.

O noticiário despreza o compromisso com a educação Para certos críticos do


jornalismo mais atentos às funções sociais dos veículos, estes procuram fugir às
suas responsabilidades com a educação das pessoas. As objeções a este respeito
procuram evidenciar um crescente desinteresse dos veículos pela crença de valores.
"Os jornais, revistas, rádio e TV não costumam ir além dos objetivos de diversão,
especulação e manipulação política."

A imprensa, por ser mais durável que outros meios como o rádio e a TV-
observam os críticos -, têm obrigação de educar o público a partir mesmo da
finalidade de ajudar os leitores a distinguir o que é importante do que não é, no
labirinto de informações.

Tais defeitos parecem mais evidentes em veículos pertencentes a grandes


conglomerados, onde é mais presente um magnata como Rupert Murdoch, do que
em veículos que conservam a tradição individual ou familiar. Os primeiros tendem
a ser mais arrogantes e mais mercantis, condicionados a um estilo cínico que faz do
lucro a prioridade, apesar de que uns e outros tendem a descartar igualmente o
compromisso com a educação.

O jornalismo como gênero literário

Há espíritos - escreve T. S. Eliot - com os quais tenho uma estreita afinidade,


não se põem a escrever senão sob a pressão de uma oportunidade imediata, ou que
somente sob essa pressão atingem seu melhor rendimento. É tal predisposição de
espírito que me proponho considerar como característica do jornalista.

Por sua vez, George Bernard Shaw afirma que "o jornalismo pode reivindicar
para si a mais alta forma de literatura". E explica:

Pois a mais alta literatura é jornalismo, inclusive Platão e Aristóteles tentando


impor bom senso e juízo à Atenas do seu tempo e Shakespeare povoando aquela
mesma Atenas com elizabetanos. Nada que não seja jornalismo terá duração como
literatura ou terá alguma utilidade enquanto existir. Assim, que outros cultivem o
que talvez chamem de literatura. Para mim é o jornalismo.

Apesar das boas relações entre jornalismo e literatura, definir a identidade que
os une não é simples. Assim como T. S. Eliot, Shaw e outros se inclinam em
valorizar a condição literária do jornalismo, reconhecendo-o como literatura sob
pressão, há os que negam esse acréscimo de qualidade e até acusam-no de obstruir
a criação literária. E não são poucos.

O jornalismo é uma das categorias da literatura é uma literatura de massa. Na


opinião de Alceu Amoroso Lima, é um gênero literário, com seu próprio estilo, as
suas regras, o seu jargão. Esse conceito concilia as fórmulas contraditórias que
cercam a natureza do jornalismo: uma, de que o jornalismo, em si mesmo, não é
literatura: outra, de que o jornalismo é literatura sob pressão.

Gênero literário, na definição clássica, é a espécie de construção estética


determinada por um conjunto de normas objetivas, a que toda composição deve
obedecer, na moderna, uma soma de esquemas estéticos, com base metodológica e
racional, que representam formas de expressão.

Apoiado nessa concepção metodológica e racional dos gêneros literários, Alceu


Amoroso Lima considera o jornalismo como um deles e o situa como prosa de
apreciação, ao lado da crítica e da biografia, neste esquema:

O jornalismo é uma literatura sob pressão à medida que o que dele permanece
como literatura resulta de um exercício de criação ainda que mais de transpiração
do que de invenção, mas nem por isso desprovido de inspiração sob a pressão do
tempo, a pressão do espaço e a pressão das circunstâncias.

A intimidade do jornalismo com a literatura, de um lado, e a dificuldade de


distinguir a literatura do jornal da literatura do livro - ou a literatura da era
eletrônica da literatura convencional, de outro lado, embaraçam os consumidores
de acontecimentos e ideias, apesar de que, para George Santayana, "literatura
consiste em transformar acontecimentos em ideias".
Muitas dificuldades partem do fato de que não é possível fazer distinção entre a
forma e o estilo, às vezes nem mesmo em relação ao conteúdo. Não há diferença
substancial na linguagem - e até se reconhece que a melhor linguagem de uma
época pode estar em jornais e revistas. Para Gide, porém, e para um numeroso
séquito de escritores poetas, romancistas, ensaístas, pensadores, não há obra de
arte no jornalismo.

Para esses escritores que distinguem entre jornalismo e literatura, seja André
Gide, William Faulkner ou James Joyce, um é independente do outro. E ao contrário
dos que pregam a permanência do jornalismo, eles consideram que jornalismo é a
morte da palavra. Alguns dos grandes escritores brasileiros, como Machado de
Assis e Euclydes da Cunha, apesar de se terem projetado em jornais, se
consideraram livres quando longe deles puderam fazer exclusivamente literatura.

No Brasil, o jornalismo absorve, desde os seus primórdios, a literatura como


second métier. Pode-se dizer que essas duas carreiras crescem juntas na imprensa,
uma influenciando a outra. É por isso que, na sua primeira fase e até mesmo no
limiar da tecnologia eletrônica, o jornalismo mantém no seu perfil acentuado traço
literário.

O fato político é anterior ao fato literário no jornalismo brasilei ro, mas a sua
técnica se aperfeiçoa e se desenvolve à medida que os jornais conciliam a natureza
polêmica com a natureza reflexiva que a expressão literária fornece. Dessa
inter-relação surge uma qualificada opinião que vai se tornar tradicional.

Observada a distância no tempo, a convivência desde cedo de jornalistas com


homens de letras no Primeiro e no Segundo Reinado, e no começo da República,
gera na imprensa um brilho próprio cuja origem é a seiva literária. Da metade do
século XIX às primeiras décadas do século XX, essa luminosa presença pode ser
aferida no embate de ideias.

O jornal, no Brasil, substitui o livro, sem deixar de ser instrumento das


transformações políticas, econômicas e sociais. Um escritor como Machado de
Assis enfrentou dificuldades com editoras numa fase em que nossos livros eram
impressos em Lisboa e no Porto ou em Paris. O jornal adota, então, o romance, o
conto, a poesia, a crônica, o teatro.

O folhetim - e pouco mais tarde a crítica, no espaço próprio do rodapé, além do


moderno suplemento literário com o review - um rio caudaloso cuja nascente e foz
têm curso no jornalismo Nos fascículos diários ou semanais da imprensa, os
leitores tomam contacto inicial com muitos dos maiores escritores e dos grandes
títulos da literatura. Assim, por muito tempo - até que o livro adquire autonomia e
se liberta das páginas da imprensa - a técnica do jornal é também a técnica
literária, um elenco variado de estilos e não um estilo comum.
Só com a modernização da imprensa e com as mudanças que desde então se
projetam na produção econômica e cultural, o jornalismo se enquadra na atividade
especializada da notícia, e a literatura deixa de ser considerada um complemento
do jornal para ser uma profissão

Nada impede que a reportagem, a interpretação, a análise, o editorial se


convertam em expressões de belas-letras. Mas o grau de informação exigido pelos
veículos busca padrões mais consistentes de comunicação do que os padrões típicos
da literatura. Sobretudo, porque o jornalismo moderno deixou de se preocupar com
a permanência, para se ater à persistência que convém mais a uma ideia de
objetividade, exatidão, imparcialidade e variedade. A natureza que expressa o
jornalismo gera um caráter, um estilo e uma conduta que estão prontos a sacrificar
bens e virtudes, se isto favorecer propósitos inerentes à notícia, como surpresa,
clareza, pitoresco, síntese, consenso, emoção, impacto, novidade, efeitos, etc. O
jornal, mais que qualquer outro meio, exercita essas faculdades da notícia e
exatamente nisso é mais útil que seus concorrentes.

A notícia, expressão básica do jornalismo, tem o seu próprio território. Ela


serve à literatura, faz literatura e até é literatura. Mas, acima de tudo, é jornalismo.
Por isso não é uma contradição que seja um gênero literário, Contudo, a sua
essência é também antiliterária à medida que não pode alterar os fatos, como não
deve ser prolixa, sob pena de distorcê-los ou descaracterizá-los.

O jornalismo como profissão


O jornalismo compreende em suas extensões, além do jornal e da revista, o
radiojornalismo e o telejornalismo. Desdobra-se em especialidades que vão da
informação doméstica, científica ou econômica à política, esportiva, artística e ao
documentário cinematográfico. Outras formas de comunicação na propaganda,
relações públicas e assessorias públicas e privadas são também jornalismo.

A profissão reúne uma variedade de aptidões e uma multiplicidade de talentos


que os antigos limites do repórter, do redator e do editor tornaram-se insuficientes
para expressá-la. A notícia emitida por diferentes e autônomos meios, esteja no
processo artesanal ou no sistema tecnologicamente mais avançado, é uma
poderosa força de atração tanto para os que se dispõem a buscá-la para
transmiti-la quanto para os que a recebem e a usam como uma necessidade da qual
não abrem mão.

O jornalismo não concentra o seu fascínio sobre os que o abraçam no poder


político ou no poder econômico. Ao contrário, são os riscos e não o dinheiro que
seduzem os jornalistas, à semelhança talvez dos mesmos motivos pelos quais as
pessoas se sentem satisfeitas como atores, literatos, professores ou de modo geral
artistas.

Essa é uma profissão dinâmica e tão responsável que é das poucas - ou das
únicas que não permitem o silêncio quando se quer ou se precisa calar. E também
das raras nas quais, para se ser militante, basta ser substantivamente jornalista,
sem necessidade de qualquer outro acréscimo. Faz-se carreira no jornalismo como
em poucas outras profissões e certamente se dará melhor nela quem for capaz de
prover a vocação com boa dose de competência, espírito público, coragem e
honestidade.

Os três principais aspectos que caracterizam o jornalista são vocação, técnica e


ética. A vocação quer dizer aptidão inata de sentir e relatar as coisas, mas quer dizer
também aprendizado e treinamento num constante esforço de aperfeiçoamento,
sobretudo para os que não tiveram oportunidade de escolha própria; a técnica pode
ser aprendida nas escolas ou na prática e quer dizer o acúmulo de conhecimentos
reciclados ou renovados em função do tempo e do papel que se ocupa no veículo, a
ética quer dizer não só o código de regras morais que se tem por implícito na
atividade do jornalismo, mas também as próprias normas individuais e coletivas
que atuam interna e externamente sobre o jornalista para delimitar o espaço de
responsabilidade, critério e julgamento em que se move.

Habilitação - O que habilita o jornalista é um conjunto de exigências que muda


de acordo com a época. Antes das escolas, era a redação a única a formar
jornalistas. Isso em parte continua, porque o fato de se cursar uma escola não
exclui a convivência prática que é, na realidade, a que influi decisivamente. Mas,
desde o fim da produção industrial convencional, o jornalismo mudou. As novas
máquinas de informar, o avanço social, a concorrência das mídias desafiaram o
jornalista a melhorar o seu padrão.

Os repórteres, redatores, editorialistas, editores, comentaristas e analistas de


jornais, revistas, rádio, TV e todas as demais mídias são hoje mais bem preparados
que os do passado. Sabem mais sobre política, economia, educação, saúde,
esportes, artes e relações internacionais que seus predecessores. E, embora saibam
que a objetividade é um ideal difícil, se esforçam mais para ser imparciais do que
costumavam fazer os jornalistas antigos.

Oportunidades - O rádio, antes, e, depois, a televisão aguçaram o apetite do


público por notícias. Esse fato obrigou os jornais e revistas a uma mudança tão
profunda quanto a que significou a passagem da era de Gutenberg para a era da
informática. Mas também abriu possibilidades ilimitadas, em empregos, salários e
reconhecimento público, para os jornalistas.
O sempre crescente campo do noticiário, a revolução na arte de transmitir e de
anunciar, as informações sobre o serviço público, a evolução nas técnicas visuais, a
revolução na utilização das fotografias, a evolução na cor das mensagens, a
revolução na impressão, o recrutamento de novos talentos, respondem em todos os
meios do jornalismo e campos afins, como o livro, a publicidade, as relações
públicas, etc., por oportunidades crescentes.

Esses horizontes não excluem, pelo contrário acentuam os deveres do


jornalismo. Os jornalistas têm a obrigação de conservar a confiança do público, já
que falam sem legitimidade em nome dos indivíduos, da comunidade, da opinião
pública ou da sociedade. Consciente e deliberadamente, devem estar em contato
com o público, prestando atenção às queixas contra injustiças, violações de
direitos, preconceitos e abusos, de modo a assumir voluntariamente
responsabilidades tidas por suas, como instituição aberta que quer ser.

Perspectivas - A clássica diferença do passado entre grandes e pequenos


veículos já não divide o horizonte dos jornalistas. O desenvolvimento econômico e a
diversificação industrial oferecem condições praticamente iguais em instituições
grandes, médias ou pequenas, dependendo sempre da qualificação profissional.

Contudo, é certo que jornais, revistas, emissoras de televisão, assessorias do


serviço público, consultorias de empresas privadas, setores de relações públicas,
emissoras de rádio, agências noticiosas, empresas de publicidade, são mais
atraentes para jornalistas com boa base cultural e conhecimento de línguas.

A seleção nos melhores empregos não se limita ao reconhecimento de um


curso universitário. Frequentemente se procura somar a uma opção experiências
em administração, direito, marketing, ciências, etc., sem excluir, no entanto, a
prova de qualificações práticas mesmo para quem não é portador de grau superior.
Acertadamente, a seleção em jornalismo rejeita a exclusiva prova do diploma.

Não se deve perder de vista que o jornalismo oferece alternativas de exercício


em funções tão distintas como editor de moda, redator de textos de propaganda ou
apresentador de notícias na TV; colunista da bolsa, titulador de matérias ou
setorista de turfe. Para os que começam, é mais fácil treinar em pequenos e médios
veículos do que nos grandes.

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