O Significado Do Jornalismo
O Significado Do Jornalismo
O Significado Do Jornalismo
A NATUREZA DO JORNALISMO
RESPONSABILIDADES DO JORNALISMO
OBJEÇÕES AO JORNALISMO
A natureza do jornalismo
Todos os meios pelos quais a notícia chega ao público são jornalismo. Na base do
seu processo estão a elaboração, a periodicidade e a persistência.
Nada mais velho que o jornal de ontem, afirmam uns. O cínico acha irrelevante e
pretensiosa a cobertura jornalística. Outros veem nela algo mais relevante. Para Rui
Barbosa, a imprensa é a vista da nação. Por ela é que a nação acompanha o que lhe
passa ao perto e ao longe, enxerga o que the malfazem, devassa o que lhe ocultam e
tramam, colhe o que lhe sonegam, ou roubam, percebe onde lhe alvejam, ou
nodoam, mede o que lhe cerceiam, vela pelo que the interessa, e se acautela do que
a ameaça.
Não tem sido fácil, na maioria dos países, conquistar a liberdade que o
jornalismo hoje desfruta. Em todos os tempos, restrições à palavra causam danos
irreparáveis. Milton pedia que entre todas as liberdades lhe dessem a de escrever
livremente.
James Reston adverte que "a notícia pode ser verdadeira, mas não é a verdade, e
os repórteres e os homens do governo raras vezes veem-na do mesmo modo". E
lembra "o primeiro grande acontecimento", o homem na notícia, que foi Adão,
para dizer que os relatos de sua criação "sempre foram uma fonte de controvérsia".
O caráter de um jornal ou outro qualquer veículo de informação pode ser medido
pela resistência que oferece às pressões políticas e econômicas. Independência e
rigor são necessários a uma imagem de credibilidade e desassombro.
A ética do jornalismo, por esse motivo, não deve ser assunto exclusivo de
veículos, jornalistas e leitores, ouvintes e telespectadores. Ela está na razão direta
da própria ética da sociedade. É essencial para todos.
Responsabilidades do jornalismo
"Onde quer que a imprensa seja livre e todos os homens saibam ler, tudo está
salvo", escreveu Thomas Jefferson. Quanto mais livres e independentes, os veículos
de comunicação mais crescem no respeito e na confiança do público que sabe
distinguir a controvérsia da tendenciosidade.
Por muito tempo, pensou-se que tudo quanto se imprime é a verdade, ainda
que se faça em seu nome. A verdade reclamada por um veículo, um editor ou
mesmo uma opinião pública pode não ser toda a verdade. De fato, em geral, ela é
apenas uma parte ou uma versão da verdade. Na realidade, a verdade no jornalismo
é um ideal tão questionado quanto a verdade na justiça.
O jornalismo serve melhor à verdade sendo ao menos veraz. E para sê-lo, deve
buscar incessantemente todos os ângulos de uma notícia, de uma entrevista ou de
uma opinião. Deve partir do princípio de que uma informação tem sempre mais de
uma versão. Quanto mais ela questiona a verdade, maior número de versões ela
abriga.
Cada vez mais, as pessoas que consomem notícias fornecidas pelos veículos do
jornalismo querem a verdade, a autenticidade e a honestidade, da mesma forma
que jornais, revistas, emissoras de rádio e de televisão sabem disso tão claramente
que se não correspondem a essas expectativas têm seus dias contados na
concorrência.
A veracidade contém um elenco tão grande de evidências, indícios, sinais,
aspectos e características da verdade que passa por ser ela mesma. Mas, para tanto,
é preciso que configure os mesmos atributos da verdade, que no jornalismo se
exprimem com exatidão - isto é, a reprodução mais fiel, mais imparcial e mais
independente dos fatos.
Entretanto, convém não esquecer que o tratamento objetivo das notícias não é
uma questão exclusivamente ética. Um jornal de qualidade pode ser menos
objetivo, menos verdadeiro, menos honesto que um jornal popular. Uma mesma
notícia pode causar reações diferentes em um brasileiro, um inglês e um alemão,
ou mesmo em pessoas de uma só comunidade.
O fato de não estar sob o controle do governo, de ser a tribuna comum das
minorias numa democracia, de separar o noticiário do que é opinativo, de se dispor
a não omitir nada do que o público tem direito de conhecer, e de se corrigir ou de se
retificar toda vez que comete um erro, aproxima o jornalismo do seu dever de ser
imparcial.
Nem sempre é lícito publicar um fato só depois que ele tenha sido
exaustivamente apurado. Assim, na maioria das vezes, o jornalista utiliza o faro e
age pelo instinto. Nessas ocasiões é que questões como imparcialidade tornam-se
cruciais, porque enquadram, no mesmo julgamento, a ética profissional e a
consciência do indivíduo.
Ao deitar por terra tal alegação, a Suprema Corte não só deu acesso à
sociedade americana e a todos os povos a informações sobre a participação dos
Estados Unidos na guerra do Vietnă, como também reconheceu valores como
responsabilidade e credibilidade de veículos como o NYT, para o qual "é melhor não
dizer do que dizer pela metade".
Objeções ao jornalismo
As críticas que comumente se fazem ao jornalismo nem sempre partem de
observadores distantes. São mais fáceis de se encontrar entre os próprios
jornalistas, muito embora procedam também de leitores, ouvintes,
telespectadores, de políticos e de membros do governo, aqui entendido como
Executivo, Legislativo e Judiciário.
Muitas das objeções coerentes aos veículos e aos jornalistas, por mais
severas que possam ser, representam, às vezes, reparos e queixas pertinentes da
sociedade, que os jornais, por exemplo, acolhem em seções permanentes como
"Carta dos leitores" ou nas colunas da página de opinião. Outras, contudo, apesar
de relevantes, são ignoradas ou desprezadas.
As soluções dos veículos dadas a esses erros: Veja pediu desculpas; a TV Globo
manteve a informação; O Estado de S. Paulo insistiu na tese do atentado; o Jornal do
Brasil publicou o desmentido de sua notícia; O Globo reconheceu a maquiagem em
resposta a uma carta de leitor.
A reação do jornal foi imediata e enérgica para salvar a sua reputação. Winans
confessou aos investigadores da bolsa de valores e do WSJ ter deixado vazar
importantes informações mediante pagamento dos interessados. O jornal publicou
os detalhes do escândalo, apurado por uma equipe de 12 repórteres e redatores.
"Existe uma obrigação para com os leitores quando se tem um problema desse
tipo", afirmou o chefe da redação, Norman Perslstine.
Ainda que possam alegar proteção da lei, os que fazem objeção a essa conduta
se sentiriam distinguidos com uma voluntária reposição da verdade toda vez que
pudessem comprovar o erro das publicações, o que nem sempre ocorre. Tal objeção
não reluta em apontar outra distorção de conduta dos veículos: muitas vezes eles
aproveitam o desmentido para ampliar deliberadamente a ofensa, a suspeita ou a
insinuação contestada.
A imprensa, por ser mais durável que outros meios como o rádio e a TV-
observam os críticos -, têm obrigação de educar o público a partir mesmo da
finalidade de ajudar os leitores a distinguir o que é importante do que não é, no
labirinto de informações.
Por sua vez, George Bernard Shaw afirma que "o jornalismo pode reivindicar
para si a mais alta forma de literatura". E explica:
Apesar das boas relações entre jornalismo e literatura, definir a identidade que
os une não é simples. Assim como T. S. Eliot, Shaw e outros se inclinam em
valorizar a condição literária do jornalismo, reconhecendo-o como literatura sob
pressão, há os que negam esse acréscimo de qualidade e até acusam-no de obstruir
a criação literária. E não são poucos.
O jornalismo é uma literatura sob pressão à medida que o que dele permanece
como literatura resulta de um exercício de criação ainda que mais de transpiração
do que de invenção, mas nem por isso desprovido de inspiração sob a pressão do
tempo, a pressão do espaço e a pressão das circunstâncias.
Para esses escritores que distinguem entre jornalismo e literatura, seja André
Gide, William Faulkner ou James Joyce, um é independente do outro. E ao contrário
dos que pregam a permanência do jornalismo, eles consideram que jornalismo é a
morte da palavra. Alguns dos grandes escritores brasileiros, como Machado de
Assis e Euclydes da Cunha, apesar de se terem projetado em jornais, se
consideraram livres quando longe deles puderam fazer exclusivamente literatura.
O fato político é anterior ao fato literário no jornalismo brasilei ro, mas a sua
técnica se aperfeiçoa e se desenvolve à medida que os jornais conciliam a natureza
polêmica com a natureza reflexiva que a expressão literária fornece. Dessa
inter-relação surge uma qualificada opinião que vai se tornar tradicional.
Essa é uma profissão dinâmica e tão responsável que é das poucas - ou das
únicas que não permitem o silêncio quando se quer ou se precisa calar. E também
das raras nas quais, para se ser militante, basta ser substantivamente jornalista,
sem necessidade de qualquer outro acréscimo. Faz-se carreira no jornalismo como
em poucas outras profissões e certamente se dará melhor nela quem for capaz de
prover a vocação com boa dose de competência, espírito público, coragem e
honestidade.