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RESUMO
O presente trabalho tem como objetivo analisar os aspectos legais voltados à educação dos surdos,
fazendo uma reflexão desde as correntes comunicativas que impulsionaram suas conquistas, o
reconhecimento da Língua Brasileira de Sinais e as leis que norteiam e garantem a inclusão dos
mesmos, desde o ensino regular ao ensino superior. Buscou-se por autores e pesquisadores
relacionados ao tema a fim de dar o embasamento teórico necessário , bem como realizou-se uma
análise bibliográfica onde foram coletadas informações legais acerca do assunto. Após análise pôde-se
compreender que o processo de inclusão acontece, porém não em sua totalidade, visto que muitas
vezes os alunos são apenas inseridos no ambiente educacional (conforme previsto em lei), porém
tendo muitos de seus direitos esquecidos ou até mesmo negados.
INTRODUÇÃO
Ao longo dos anos, a pessoa com deficiência foi vista de maneiras diversas devido às
influências sociais, religiosas, culturais e sofrendo também a influência das informações e do
conhecimento adquirido com o passar do tempo, já que com base nestes é possível reconstruir
conceitos. Foram vários abandonos, extermínios e o constante repúdio que marcaram a
história da educação especial até que fosse possível garantir direitos e reconhecer as pessoas
com deficiência como indivíduos com limitações, porém com capacidades para progredir,
especificamente do surdo, como também todo o empenho para que fossem respeitadas sua
cultura e sua forma de comunicação. Ao longo desta pesquisa será apresentada a evolução
das leis que tem como objetivo amparar e defender os direitos da pessoa surda, como também
uma discussão sobre o conceito de inclusão e quais os resultados das lutas travadas por estes
cidadãos.
1
Jéssica Maria Rosa da Cunha: Graduada pelo Curso de Pedagogia da Universidade Estadual do Paraná,
[email protected];
2
Francismara Janaina Cordeiro de Oliveira: Graduada pelo Curso de Pedagogia da Universidade Estadual do
Paraná, [email protected];
3
Elizabeth Regina Streisky de Farias: Doutora em Educação pela Universidade Estadual de Ponta Grossa – PR,
[email protected]
ANÁLISE DAS LEIS ACERCA DA INCLUSÃO DOS SURDOS
Percebe a surdez como uma deficiência que deve ser minimizada pela estimulação
auditiva. Essa estimulação possibilitaria a aprendizagem da língua portuguesa e
levaria a criança surda a integrar-se na comunidade ouvinte e desenvolver uma
personalidade como a de um ouvinte. Ou seja, o objetivo do Oralismo é fazer uma
reabilitação da criança surda em direção à normalidade.
4
O Congresso de Milão foi uma conferência internacional de educadores de surdos, em 1880, no
qual ficou definido que o oralismo era superior ao uso de gestos na comunicação, proibindo assim o
uso da língua de sinais nas escolas.
Esta abordagem, por mais humanizada que fosse ainda apresentava falhas, pois as
diversas formas de comunicação têm estruturas diferentes, o que acabava dificultando o
aprendizado do surdo.
De acordo com Cantelle ([2009?], p. 03):
A partir dos anos 60, nos Estados Unidos um pesquisador chamado Willian Stokoe,
iniciou os seus estudos sobre as línguas de sinais em especial ASL (American Sign
Language – Língua Americana de Sinais), o autor concluiu que elas ocupavam todos
os requisitos científicos para serem consideradas línguas, tendo estrutura gramatical
própria, assim como as línguas orais e que esta deveria ser utilizada na escolarização
da pessoa Surda. Aliado ao estudo de Stokoe surge uma nova e atual proposta
educacional, o Bilinguismo, que se fundamenta no ensino de duas línguas para o
sujeito surdo, sendo a língua de sinais como 1ª língua (língua materna), e 2ª língua, o
português na modalidade escrita.
A proposta bilíngue surgiu baseada nas reivindicações dos próprios surdos pelo
direito à sua língua e pelas pesquisas linguísticas sobre a língua de sinais. Ela é
considerada uma abordagem educacional que se propõe a tornar acessível à criança
surda duas línguas no contexto escolar. De fato, estudos têm apontado que essa
proposta é a mais adequada para o ensino de crianças surdas, tendo em vista que
considera a língua de sinais como natural e se baseia no conhecimento dela para o
ensino da língua majoritária, preferencialmente na modalidade escrita.
Além da lei 10.436 de 2002, o Decreto 5626/2005, em seu artigo 3º passa a tratar
LIBRAS como disciplina curricular obrigatória para os cursos que fazem formação de
professores, como também, nos cursos de Fonoaudiologia, tanto em instituições públicas,
como em instituições privadas de ensino.
A partir deste Decreto, LIBRAS deixa de ser de uso exclusivo de surdos e
especialistas e passa a ser disseminada em outros meios, tendo um de seus objetivos
alcançados: a propagação da língua.
As primeiras propostas da inclusão amparadas pela legislação brasileira acontecem a
partir da Constituição Federal de 1988, no artigo 206 que cita os princípios nos quais a
educação deve embasar-se, entre eles há o que garante a “I - igualdade de condições para o
acesso e permanência na escola”. (BRASIL, 1988). Ainda analisando a Constituição, no
artigo 208 há a garantia, como dever do Estado, de atendimento educacional especializado
preferencialmente na rede regular de ensino.
Após as breves contribuições advindas da Constituição Federal de 1988, há outro
marco legal que busca acrescentar à educação das pessoas surdas no Brasil, o Estatuto da
Criança e do Adolescente (ECA). Em concordância com o artigo 208 da Constituição, o
Artigo 54 inciso III do ECA, afirma como dever do Estado o “atendimento educacional
especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino”.
(BRASIL, 1990)
Portanto, ressaltando e definindo as garantias das pessoas com deficiência, este artigo,
trata ainda sobre o momento em que o atendimento educacional especializado deve acontecer.
De acordo com o ECA, no artigo 54, inciso IV, este atendimento pode acontecer “[...] em
creche e pré-escola às crianças de zero a seis anos de idade” (BRASIL, 1990), dando a
oportunidade para que o mesmo aconteça desde o início da vida escolar da criança, ampliando
suas possibilidades de aprendizagem.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) 9394/96, também contribui
para a compreensão referente à Educação Especial. De acordo com o Artigo 58:
Diante destas determinações, o parágrafo primeiro define que o aluno poderá receber
serviços especializados que o auxiliem durante o processo de ensino aprendizagem,
equiparando suas condições aos demais alunos.
Em concordância com isso e em amparo aos surdos, há a Lei nº 12.319/2010, que trata
sobre a regulamentação da profissão do tradutor e intérprete de LIBRAS. Aqui são tratadas as
atribuições deste profissional:
5
Documento elaborado na Conferência Mundial sobre Educação Especial na Espanha em 1994, com
o objetivo de estabelecer critérios para políticas em concordância com o movimento de inclusão
social.
internacionais, organizações de apoio nacionais, organizações não governamentais e outros
organismos, através da implementação da Declaração de Salamanca” (BRASIL, 1994, p. 5).
A Declaração de Salamanca também concorda com algumas legislações já citadas
aqui, que buscam a garantia de direitos das pessoas com deficiência, como o direito à
educação. Além disso, “o princípio orientador deste Enquadramento da Ação consiste em
afirmar que as escolas se devem ajustar a todas as crianças, independentemente das suas
condições físicas, sociais, linguísticas ou outras” (BRASIL, 1994, p. 6). Sendo assim, a
inclusão das pessoas com qualquer deficiência, como também, os indivíduos em situações de
pobreza, os discriminados por sua raça, religião e outros. Ainda neste documento, é
esclarecido o termo “necessidades educativas especiais” referindo-se a “todas as crianças e
jovens cujas carências se relacionam com deficiências ou dificuldades escolares” (BRASIL,
1994, p. 6).
As novas concepções sobre as necessidades educativas especiais, presentes na
Declaração de Salamanca considera que:
Para o ingresso dos estudantes surdos nas escolas comuns, a educação bilíngue –
Língua Portuguesa/Libras desenvolve o ensino escolar na Língua Portuguesa e na
língua de sinais, o ensino da Língua Portuguesa como segunda língua na modalidade
escrita para estudantes surdos, os serviços de tradutor/intérprete de Libras e Língua
Portuguesa e o ensino da Libras para os demais estudantes da escola. O atendimento
educacional especializado para esses estudantes é ofertado tanto na modalidade oral
e escrita quanto na língua de sinais. Devido à diferença linguística, orienta-se que o
aluno surdo esteja com outros surdos em turmas comuns na escola regular.
(BRASIL, 2008, p. 12)
Considera-se pessoa com deficiência aquela que tem impedimento de longo prazo de
natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou
mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em
igualdade de condições com as demais pessoas. (BRASIL, 2015)
Com base na análise das leis, nota-se que há respaldo legal para atender os alunos com
deficiência, no entanto, ainda pouco se vê sendo executado com relação a isso. Na Educação
Básica o processo de inclusão de alunos com deficiência acontece, porém não em sua
totalidade, tendo em vista que muitas vezes são apenas inseridos na escola de ensino regular,
mas não tem seus direitos assegurados, pois muitos consideram o trabalho de garantir a real
inclusão uma tarefa difícil, visto que, existe a necessidade da adaptação curricular, a busca por
materiais que auxiliem no processo de ensino-aprendizagem. No Ensino Superior o processo
de inclusão torna-se ainda mais difícil, pois além do baixo índice de alunos com deficiência
matriculados na instituição, o que acaba ocasionando a prática rotineira nas aulas, há também
a expectativa de que o aluno desenvolva sua autonomia na busca por conhecimento.
Com relação ao aluno surdo, as barreiras se tornam ainda mais difíceis, visto que o
conhecimento oferecido em sala de aula é em português e a língua usada pela maioria dos
surdos é LIBRAS. O aluno surdo que, apesar de uma inclusão deficitária na Educação Básica,
consegue vencer barreiras e ingressar na Universidade, demonstra suas capacidades,
derrubando mais uma vez, os paradigmas relacionados a aprendizagem. No geral, ingressar,
permanecer e concluir um curso superior é um desafio para todos, especialmente para alunos
com deficiência auditiva.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei nº 10436, de 24 de abril de 2002. Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais -
Libras e dá outras providências. Brasília, DF. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10436.htm>. Acesso em: 12/11/2017.
GUANIRELLO, Ana Cristina. O Papel do Outro na Escrita de Sujeitos Surdos. São Paulo:
Plexus, 2007. 119 p. Disponível em:
<https://books.google.com.br/books?id=7IeimJ7artQC&printsec=frontcover&hl=pt-
BR&source=gbs_ge_summary_r&cad=0#v=onepage&q&f=false>. Acesso em: 19/07/2017.