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DESENHO TÉCNICO

ARQUITETÔNICO

Fabiana Galves
Mahlmann
Materiais e instrumentos
de desenho
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Reconhecer os materiais e os instrumentos para realização de dese-


nhos técnicos.
„„ Identificar a utilização de materiais e instrumentos adequados para
o desenho técnico.
„„ Avaliar a importância da utilização dos materiais e instrumentos na
realização de desenho técnico.

Introdução
Na arquitetura, a figura humana e a utilização de elementos textuais são
pontos importantes na concepção dos projetos. Esses fatores proporcio-
nam uma real compreensão das proporções e das dimensões do projeto.
A elaboração de um projeto arquitetônico envolve muitas etapas e
maneiras de expressar a sua concepção, seja pelo modo manual, com os
equipamentos e materiais técnicos ou pelos métodos modernos, com os
equipamentos eletrônicos e softwares de última geração.
O processo de criação é desenvolvido a partir de uma solicitação
para um problema ou um desafio, por meio de desenhos, plantas e
detalhamentos em pranchas, que serão utilizadas depois para a sua
materialização.
Neste capítulo, você verá as etapas nas quais irá reconhecer, identificar
a utilização e avaliar a importância dos materiais no desenvolvimento do
desenho técnico.
2 Materiais e instrumentos de desenho

Características do desenho técnico


O desenvolvimento de um projeto arquitetônico ocorre por meio de diversas
etapas, desde suas primeiras ideias, seguindo para o desenvolvimento dos
problemas e até chegar ao projeto, que será a referência na construção. Para que
o profissional desenvolva um projeto, são necessários instrumentos técnicos,
materiais específicos que irão fornecer as informações necessárias e auxiliar
nessa criação. O projeto arquitetônico é um documento, com informações
técnicas relativas a uma obra.
O método tradicional do desenho técnico utiliza lápis (grafite); caneta
nanquim; réguas; esquadros; compassos; escalímetros; papel (pranchas)
em diferentes tamanhos, tipos e gramaturas (espessuras); entre outros. O
profissional deve ter o conhecimento sobre os materiais e as técnicas de
desenho necessárias para o processo de criação manual. Embora, atualmente,
todo o processo seja realizado com o uso de softwares próprios para esse
segmento da arquitetura, esse conhecimento é necessário também para a
aplicação virtual.
Os croquis servem como um estudo, uma avaliação do que o profissional
começou a pensar para atingir o seu objetivo, atendendo ao que foi solicitado
pelo seu cliente. Mesmo com as mudanças tecnológicas que vem ocorrendo,
em que os instrumentos manuais foram alterados para softwares, não podemos
esquecer que os elementos do desenho técnico mantêm as mesmas caracte-
rísticas e a representação gráfica realizada por meio dos softwares deverá
transmitir todas as informações necessárias para a materialização do projeto.
Para que todos os profissionais consigam entender e ler o desenho técnico,
desde a sua criação até a materialização, eles devem “falar” a mesma lingua-
gem, portanto, existem as normas técnicas, cuja função é determinar as regras
e os conceitos da representação gráfica do projeto. O projeto arquitetônico é
o conjunto de documentos e desenhos que, após aprovado, dará a condição
de materializações de um empreendimento.
O desenvolvimento do projeto arquitetônico é um longo processo, envolvendo
várias etapas. Podemos definir as etapas de um projeto da seguinte maneira:

1. definição do programa de necessidades do projeto;


2. levantamento/visita ao local;
3. estudo preliminar;
4. anteprojeto;
5. projeto legal;
6. projeto executivo.
Materiais e instrumentos de desenho 3

Essa é a estruturação simplificada de um projeto arquitetônico, mas é ne-


cessário sempre entender que cada projeto é único e individual, podendo haver
variações nesse processo de criação. A criação de um projeto arquitetônico
envolve uma junção de questões técnicas com criatividade, proporcionado a
satisfação do cliente.

Materiais e instrumentos adequados para o


desenho técnico
O desenho é uma forma de comunicação utilizado desde o início das ci-
vilizações. Em sua evolução, os desenhos foram mudando, por meio deles
foram sendo traduzidas as características das pessoas, as ideias que queriam
transmitir e as sensações. Isso possibilitou o surgimento do desenho técnico,
com a intenção de representar objetos e construções, o mais fiel possível ao
que foi materializado.
Segundo Francis Ching (2012), os materiais e equipamentos proporcionam
que o trabalho seja prazeroso. Embora a mão e a mente controlem o desenho
acabado, materiais e equipamentos de qualidade tornam o ato de desenhar
agradável, facilitando, em longo prazo, a obtenção de um trabalho de qualidade
(CHING, 2012).
O desenho técnico segue normas internacionais, sob a supervisão da In-
ternational Organization for Standardization (ISO), para a sua representação,
mas cada país também tem as suas próprias normas adaptadas e regidas
pela ISO. No Brasil, as normas são editadas pela Associação Brasileiras de
Normas Técnicas (ABNT), e a norma brasileira (NBR) que regulamenta a
representação de projetos de arquitetura é a NBR nº 6.492. Nessa norma,
estão todas as determinações para esses desenhos, sua criação e execução
(ASSOCIAÇÃO..., 1994). Segundo Schuler e Mukay (2018), a normatização
do desenho por meio da NBR é essencial, pois:

A normatização para desenhos de arquitetura tem a função de estabelecer


regras e conceitos únicos de representação gráfica, assim como uma simbologia
específica e pré-determinada, possibilitando ao desenho técnico atingir o ob-
jetivo de representar o se quer tornar real (SCHULER; MUKAY, 2018, p. 03).

Para o desenvolvimento das etapas de um projeto, precisamos de alguns


materiais específicos. A seguir, você verá a descrição de cada um desses
materiais.
4 Materiais e instrumentos de desenho

Os lápis ou lapiseiras permitem o lançamento de ideias e concepções,


proporcionando a colocação de diferentes tipos de traços e espessuras, cada um
com um significado. O desenho a lápis pode apresentar diferentes espessuras
e tons de traço (Figura 1), e é classificado por letras, números, ou ambos, de
acordo com o grau de dureza do grafite (também chamado de “mina”). O grafite
apropriado para cada uso varia conforme a combinação de números e letras.

„„ Grau do grafite: varia de 9H (extremamente duro) a 6B (extremamente


macio).
„„ Tipo e acabamento do papel (grau de aspereza): quanto mais áspero for
um papel, mais duro deverá ser o grafite utilizado.
„„ Superfície de desenho: quanto mais dura for a superfície, mais macio
deverá ser o grafite.
„„ Umidade: condições de alta umidade tendem a aumentar a dureza
aparente do grafite.

Figura 1. Lápis para desenho realista.


Fonte: Desenho e Pintura (2018a, documento on-line).

Atualmente, as lapiseiras são mais utilizadas do que os lápis pela sua


praticidade, também devem ser observados a espessura (normalmente de
0,5 mm e a de 0,9 mm) e o grau de dureza do grafite. Tanto os lápis como as
lapiseiras podem gerar desenhos com uma excelente qualidade.
A borracha deve ser macia, limpa e de boa qualidade para evitar danificar
a superfície do desenho. O esquadro, como você pode observar na Figura 2,
é um conjunto de duas peças de formato triangular-retangular, com ângulos
de 30°, 45°, 60° e 90°. São utilizados para o traçado de linhas verticais e
outros ângulos, combinados também com a régua paralela, para a execução
dos desenhos.
Materiais e instrumentos de desenho 5

Figura 2. Esquadro para desenho técnico.


Fonte: Desenho e Pintura (2018b, documento on-line).

O escalímetro é o instrumento de forma triangular usado para a marcação


de medidas na escala do desenho. Não deve ser utilizado para o traçado de
linhas, como a régua. Veja exemplos de escalímetros e régua na Figura 3.

Figura 3. Réguas e escalímetros.


Fonte: Brito (2013, documento on-line); Ching (2017, p. 12)
6 Materiais e instrumentos de desenho

O compasso é o instrumento utilizado para traçar circunferências ou arcos.


Tem um formato triangular, uma ponta uma agulha (também conhecida como
a ponta seca) e um grafite na outra extremidade. Segurando o compasso pela
parte superior com os dedos indicador e polegar, imprime-se um movimento
de rotação até completar a circunferência.
Os gabaritos, representados na Figura 4, são peças com elementos vazados,
que permitem a reprodução desses nos desenhos. Para curvas de raio variável
usa-se a “curva francesa”.

Figura 4. Exemplo de gabarito.


Fonte: Ching (2017, p. 9).

A régua paralela tem como objetivo o traçado de linhas horizontais paralelas


entre si no sentido do comprimento da prancheta, e serve de base para o apoio
dos esquadros para traçar linhas verticais ou com determinadas inclinações.
A régua paralela deve ser um pouco menor do que o tamanho da prancheta.
A prancheta, demonstrada na Figura 5, é uma mesa, normalmente em ma-
deira, com inclinação do seu tampo, onde se fixam os papéis para os desenhos.
Materiais e instrumentos de desenho 7

Figura 5. Mesa para desenho técnico com régua paralela.


Fonte: Desenho e Pintura (2018c, documento on-line).

O desenho técnico é apresentado dentro de prancha/papel padronizadas,


com margens e selos, em que constam todas as informações do que está contido
na prancha. A folha na qual o projeto arquitetônico será apresentado chama-se
prancha. Essas pranchas devem seguir os tamanhos determinados pela ABNT
nº 10.068, conforme apresentado na Figura 6 (ASSOCIAÇÃO..., 1987).

Figura 6. Norma ABNT nº 10.068.


Fonte: Associação Brasileira de Normas Técnicas (1987, p. 02).
8 Materiais e instrumentos de desenho

A partir da prancha A0, obtém-se múltiplos e submúltiplos (a folha A1


corresponde à metade da A0).
Qualquer prancha é apresentada dobrada no formato A4, e pode ser en-
caixada em uma pasta neste tamanho, normalmente exigida para os arquivos
(ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 1994).
As escalas são um recurso de representação gráfica que permite reprodu-
zir, proporcionalmente, objetos em diferentes tamanhos em relação as suas
dimensões reais. No desenho técnico, as dimensões dos objetos ou constru-
ções podem ser mantidas, reduzidas ou aumentadas, sempre mantendo a sua
proporção original.
A escala natural é aquela em que as dimensões representadas no desenho
técnico são exatamente as mesmas do objeto real. É indicada por uma abre-
viatura da palavra escala (ESC) seguida por 1:1 (lê-se um para um). Na escala
de redução, as dimensões representadas no desenho técnico são menores que
as do objeto real, por exemplo, ESC 1:20, o que significa que as dimensões
no desenho técnico são 20 vezes menores que as dimensões reais do objeto.
A escala de ampliação é a escala em que as dimensões representadas no
desenho técnico são maiores que as do objeto real, por exemplo, ESC 2:1, em
que as dimensões no desenho técnico são duas vezes maiores que as dimensões
reais do objeto.
Uma cota pode indicar: comprimentos, larguras, alturas e profundidades;
raios e diâmetros; ângulos; coordenadas; etc. Uma cota indica as medidas de
um projeto. Ao cotar um projeto, deve-se observar para que sejam marcadas
as cotas parciais e as cotas totais do projeto, as medidas que são realmente
necessárias para deixar a comunicação mais clara e rápida.
No desenho arquitetônico, são gerados os documentos necessários para
as construções, obedecendo as normas técnicas. Ler e interpretar um projeto
arquitetônico não é difícil, aquelas grandes folhas de papel, conhecidas como
pranchas, expressam a representação gráfica de uma edificação, por meio
de símbolos e representações que indicam a presença de vários elementos
construtivos.

Importância da utilização dos materiais e


instrumentos na realização de desenho técnico
O mais importante é entender a filosofia das tendências modernas que acom-
panham não só a indústria da construção, mas também os demais setores
econômicos ou sociais nos dias atuais, como o consumo consciente, a economia
Materiais e instrumentos de desenho 9

e a otimização dos recursos naturais, a sustentabilidade, a saúde e a segurança


aos trabalhadores e usuários de bens e serviços, a humanização dos processos,
entre outras. Segundo Firmino (2000), os avanços tecnológicos trouxeram
muitas mudanças em vários segmentos:

Os profundos e continuados avanços tecnológicos, em todas as esferas da


sociedade contemporânea vêm proporcionando novas formas de produção,
novos padrões de vida, isto é, uma profunda transformação na reprodução da
própria sociedade, denunciando urgentes necessidades para a compreensão
de diversos fenômenos trazidos por estas transformações, e em especial os
responsáveis por novas características na configuração espacial (FIRMINO,
2000, p. ix).

Lembre-se que, se tratando de tecnologia de materiais e processos, o estudo


e a atualização constantes são requisitos fundamentais para o aprimoramento
do conhecimento necessário ao exercício de qualquer profissão.
A importância da utilização dos materiais e instrumentos disponíveis
para a realização do desenho técnico é imprescindível, pois um projeto ar-
quitetônico é um desenho de precisão, devendo ser fiel ao que será executado
quando o projeto se materializar. O uso de novas tecnologias nos projetos tem
desempenhado um papel fundamental na arquitetura contemporânea. Com
a redução do tempo de execução do processo manual para o processo com o
uso de computadores (softwares gráficos), o profissional consegue apresentar
ao seu cliente um projeto em um período de tempo muito menor.
O projeto arquitetônico é considerado complexo, pois envolve muitos
fatores no seu desenvolvimento, criando situações em que decisões devem
ser tomadas de maneira rápida, proporcionando uma continuidade no seu
processo. Segundo SILVA (1998), a definição para projeto arquitetônico é a
seguinte: “Projeto arquitetônico é uma proposta de solução para um particular
problema de organização do entorno humano, através de uma determinada
forma construível, bem como a descrição desta forma e as prescrições para
sua execução” (SILVA, 1998, p. 39).
Sabemos que um projeto arquitetônico visa buscar uma melhor utilização
dos espaços, qualidade de vida e funcionalidades dos ambientes, ou seja, é a
materialização da ideia para a resolução de um problema com o processo de
criação do profissional.
A linguagem gráfica exige o conhecimento do profissional para que seja
representado de maneira correta para o perfeito desenvolvimento e mate-
rialização do projeto. Utiliza-se o conjunto de linhas, números, símbolos e
indicações normalizadas internacionalmente, ou seja, em qualquer lugar é
10 Materiais e instrumentos de desenho

possível realizar a leitura de qualquer projeto. O desenho técnico é definido


como uma linguagem gráfica universal, de acordo com normas que servem
para padronizar os projetos. Veja um exemplo de representação gráfica de
um projeto na Figura 7.

Figura 7. Representação gráfica digital de um objeto arquitetônico, caracterizando o tipo


de superfície dos materiais e simulando o desempenho frente à luz.
Fonte: Payssé (2006) apud Vecchia e Silva (2007, documento on-line).

Podemos concluir, então, que o uso dos materiais e instrumentos para a


realização dos projetos arquitetônicos é extremamente importante e necessário,
pois somente com esses recursos é que o projeto poderá ser desenvolvido de
maneira técnica e precisa. Seja com o uso dos materiais e instrumentos manuais
ou por meio de computação gráfica, o profissional deverá ter o entendimento
dos instrumentos utilizados para desenvolver seu projeto da melhor maneira
e atendendo às solicitações do seu cliente.
Materiais e instrumentos de desenho 11

1. O desenvolvimento de um projeto c) Representação Projetos de


é um processo de várias etapas. Arquitetura NBR nº 15575:2013.
Quais das seguintes alternativas d) Representação Projetos de
apresenta as etapas de uma Arquitetura NBR nº 13532:1995.
estrutura simplificada de um e) Representação Projetos de
projeto arquitetônico? Arquitetura NBR nº 6492:1994.
a) Definição do programa de 3. A correta utilização das
necessidades do projeto; lapiseiras proporciona clareza
levantamento/visita ao local; na demonstração das ideias e
estudo preliminar; projeto no traçado das representações
legal; projeto executivo. técnicas. Sobre essa questão,
b) Levantamento/visita ao local; assinale a alternativa correta.
estudo preliminar; anteprojeto; a) Os grafites da série B conferem
projeto legal; projeto executivo. um traço mais fino e limpo
c) Definição do programa de para o desenho técnico.
necessidades do projeto; b) Os desenhos a grafite não
levantamento/visita ao local; são de boa qualidade, por
estudo preliminar; anteprojeto; isso, os projetos devem ser
projeto legal; projeto executivo. entregues com representações
d) Definição do programa de feitas em computador.
necessidades do projeto; c) Quanto mais áspero for um
levantamento/visita ao local; papel, mais macio deverá
estudo preliminar; anteprojeto; ser o grafite utilizado.
projeto executivo. d) O desenho a lápis ou lapiseira
e) Definição do programa de permite o lançamento de
necessidades do projeto; ideias e concepções, mas não
levantamento da região por proporciona a colocação de
meio de sistemas de GPS, diferentes representações
sem a visita no local; estudo de materiais, tipos de traços
preliminar; anteprojeto; projeto e espessuras, todos tem
legal; projeto executivo. o mesmo significado.
2. O desenho técnico segue normas, e) O desenho a lápis é classificado
que no Brasil são editadas pela por meio de letras, números,
ABNT. Qual é a norma que ou ambos, de acordo com
regulamenta a representação o grau de dureza do grafite
projetos de arquitetura? (também chamado de “mina”).
a) Representação Projetos 4. Na escala de ampliação, as
de Arquitetura NBR dimensões representadas no
nº 16.280:2015. desenho técnico são maiores
b) Representação Projetos de que as do objeto real, e ela serve
Arquitetura NBR nº 9050:2015. quando o profissional deseja mostrar
12 Materiais e instrumentos de desenho

algum detalhe importante do orientação geográfica,


projeto que a ampliação irá auxiliar. cotas e áreas.
Para representarmos um objeto b) conjunto de plantas, cortes,
15 vezes maior do que as suas fachadas, detalhamentos,
dimensões reais, qual a descrição orientação geográfica, cotas,
utilizada para esse desenho? áreas e representação carros.
a) ESC 1:15. c) conjunto de plantas, cortes,
b) ESC 15:1. fachadas, detalhamentos,
c) ESC 1:15. orientação geográfica,
d) ESC 1,5:1. cotas, áreas e representação
e) ESC 1:150. de figura humana.
5. Ao apresentar um projeto d) conjunto de plantas, cortes,
arquitetônico as pranchas deverão fachadas, detalhamentos,
ser padronizadas de acordo orientação geográfica,
com as normas e com todas as cotas, áreas e vegetação
informações necessárias para sua prevista e existente.
compreensão. Entre as informações e) conjunto de plantas, cortes,
técnicas que devem estar presentes fachadas, detalhamentos,
nessas pranchas podemos citar: orientação geográfica
a) conjunto de plantas, cortes, e representação de
fachadas, detalhamentos, figura humana.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6492. Representação de projetos


de arquitetura. Rio de Janeiro: ABNT,1994.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 10068. Folha de desenho -
Leiaute e dimensões - Padronização. Rio de Janeiro: ABNT,1987.
BRITO, N. Materiais que todo estudante de arquitetura deve ter. 02 ago. 2013. Disponível
em: <http://welovearq.blogspot.com.br/2013/08/materiais-que-todo-estudante-de.
html>. Acesso em: 14 maio 2018.
CHING, F. Desenho técnico para arquitetos. 2. ed. Porto Alegre, 2012.
CHING, F. D. K. Representação gráfica em arquitetura. 6. ed. Porto Alegre: Bookman, 2017.
DESENHO E PINTURA. Esquadro para desenho técnico. 2018b. Disponível em: <https://
www.desenhoepintura.com.br/esquadro-para-desenho-tecnico/>. Acesso em: 14
maio 2018.
Materiais e instrumentos de desenho 13

DESENHO E PINTURA. Lápis para desenho realista. 2018a. Disponível em: <https://www.
desenhoepintura.com.br/lapis-para-desenho-realista/>. Acesso em: 14 maio 2018.
DESENHO E PINTURA. Mesa para desenho técnico com régua paralela. 2018c. Disponível
em: <https://www.desenhoepintura.com.br/mesa-para-desenho-tecnico-com-regua­-
paralela/#comment-4404>. Acesso em: 14 maio 2018.
FIRMINO, R. J. Espaços inteligentes: o meio técnico-científico-informacional e a cidade
de São Carlos (SP). 2000. 267 f. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) –
Universidade de São Paulo, São Carlos, 2000. Disponível em: <http://www.teses.usp.br/
teses/disponiveis/18/18131/tde-26022002-093520/pt-br.php>. Acesso em: 14 maio 2018.
SCHULER, D.; MUKAY, H. Noções gerais de desenho técnico. Cascavel: FAG, 2018.
SILVA, E. Uma introdução ao projeto arquitetônico. 2. ed. Porto Alegre: Ed. UFRGS, 1998.
VECCHIA, L. R. F.; SILVA, A. B. A. Representação gráfica digital durante o desenvolvimento
do projeto arquitetônico. Curitiba: Graphica, 2007. Disponível em: <http://www.exatas.
ufpr.br/portal/docs_degraf/artigos_graphica/REPRESENTACAOGRAFICADIGITAL.
pdf>. Acesso em: 14 maio 2018.

Leituras recomendadas
BRAIDA, F.; FIGUEIREDO, J. Proporções, escalas e medidas. 2013. Disponível em:
<http://www.ufjf.br/estudodaforma/files/2013/05/UFJF_DISCIPLINAS_ESTUDOda-
FORMA_20122_AULA08a_Propor%C3%A7%C3%B5es-escalas-e-medidas_v00.pdf>.
Acesso em: 14 maio 2018.
CORNETET, B. C.; PIRES, D. G. M. (Org.). Arquitetura. Porto Alegre: SAGAH, 2016.
FREIRE, W. J.; BERALDO, A. L. (Coord.) Tecnologias e materiais alternativos de construção.
3. ed. Campinas: Unicamp, 2013.
MONTENEGRO, G. A. Desenho arquitetônico. 4. ed. São Paulo: Blücher, 2001.
STOTT, R. A escala humana no desenho de arquitetura: do Modulor à desconstrução do
corpo. 228 mar. 2016. Disponível em: <https://www.archdaily.com.br/br/784336/a-
escala-humana-no-desenho-de-arquitetura-do-modulor-a-desconstrucao-do-­
corpo>. Acesso em: 14 maio 2018.
UNWIN, S. Analysing architecture. 3. ed. Abingdon: Routledge, 2009.
XAVIER, S. Apostila de desenho arquitetônico: desenho arquitetônico. Rio Grande:
FURG, 2011. Disponível em: <http://www.vidjaya.com.br/unicapital/Cad-EngCivil-­
Apostila_DA_V2-2012.pdf>. Acesso em: 14 maio 2018.
Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para
esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual
da Instituição, você encontra a obra na íntegra.
Conteúdo:
DESENHO E
PLÁSTICA

Marina Otte
Representação
arquitetônica e
artística do objeto
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Reconhecer técnicas e exercícios auxiliares para o desenvolvimento


do desenho de observação.
 Construir um desenho de observação.
 Compor seu próprio passo a passo de desenho de observação.

Introdução
Os desenhos nas cavernas mostram o quão antiga é essa habilidade. Os
rabiscos então representados retratavam o cotidiano a partir da obser-
vação do mundo de quem os executava.
Dessa forma, o desenho de observação caminha com a evolução do homem
e é um dos processos iniciais do desenvolvimento da aptidão do desenhista.
Assim, quanto mais praticado, mais o desenho de observação evolui e ajuda
o profissional que depende dessa competência em seu trabalho.
Neste capítulo, você vai conhecer formas complementares para
desenvolver seus desenhos de observação, aliando-as com a melhor
maneira de elaborá-los para, depois, realizar seu próprio processo com
independência.

1 O exercício das técnicas de representação


O desenho é ferramenta básica para profissionais que precisam representar ideias
concebidas no campo da imaginação e que devem ser concretizadas na sequên-
cia: “O desenho amplia suas possibilidades, criando a fluência necessária para
que o processo criativo seja mais intuitivo e dinâmico” (BAJZEK, 2019, p. 13).
2 Representação arquitetônica e artística do objeto

Assim, o desenho pode ser uma simulação de uma ideia ou a representa-


ção de uma realidade; via de regra, em um primeiro momento, é mais fácil
representar aquilo que já se conhece do que tentar descrever por meio de uma
ilustração aquilo que está na mente de alguém.
Por isso, dentro do processo de aprendizagem de áreas que envolvem o
desenvolvimento de desenhos para representar ideias, tem início a prática de
representação pelo desenho de observação, que é uma das primeiras etapas
de aprendizagem das técnicas de representação.
A observação direta e desenho do real “[...] é certamente um dos exercícios
mais prazerosos e enriquecedores que alguém pode buscar no campo das
artes” (BAJZEK, 2019, p. 141). Diante disso, é conveniente que o profissional
de design, arquitetura, paisagismo, entre outros, esteja inteirado de técnicas
e exercícios que o auxiliem no processo de representação.
Vários exercícios e técnicas ajudam a melhorar esse processo e, por isso,
inúmeros autores descrevem técnicas específicas. A seguir, veremos algumas
dessas técnicas, especificamente as de desenho de contorno, desenho de
contorno às cegas, desenho de contornos modificados e formatos positivo e
negativo.

Desenho de contorno
A percepção do espaço e dos objetos ocorre por meio da visualização dos
limites desses elementos, que, ao serem replicados, são representados por seus
contornos. Por isso, é muito importante a conscientização das linhas que os
formam e as várias maneiras de executar o seu desenho.
Conforme descreve Ching (2012), o desenho de contornos favorece a acui-
dade visual e, de certa forma, a sensibilidade do tato, visto que observamos
a partir do nosso olho a forma a ser reproduzida e desenhamos com a mão
tocando uma superfície, deslizando sobre o papel e estimulando o tato.
Para praticar esse desenho, deve-se observar muito aquilo que será retratado.
A fim de estimular o início do trabalho, é interessante escolher algo de que
se goste muito, mas mais simples; por exemplo, uma árvore isolada ou uma
garrafa solitária. A partir disso, separa-se um lápis bem apontado ou uma
caneta e, considerando os limites da inspiração, reproduz-se da forma mais
simples somente o contorno principal (Figura 1).
Representação arquitetônica e artística do objeto 3

Figura 1. Desenho do contorno de uma palmeira a partir da observação do real.


Fonte: fotomak/Shutterstock.com; LivDeco/Shutterstock.com.

Escolha um objeto bem iluminado e com contraste com o fundo para facilitar a de-
finição do limite.

Desenho de contorno às cegas


A partir da consciência da existência e da observação dos contornos, é possível
praticar outros exercícios. O desenho de contorno às cegas consiste em eliminar
um gesto automático: olhar para a execução da ilustração.
Para esse exercício, deve-se fixar o olho no objeto que está sendo reprodu-
zido, acompanhar seus contornos e, na mesma hora, desenhar no papel sem
olhar para ele. Caso se sinta necessidade, pode-se girar o corpo em um ângulo
diferente da cabeça para retirar o papel do campo de visão.
É preciso observar lentamente cada curva do objeto e apoiar o lápis ou
a caneta sobre o papel, acompanhando com a mão o percurso que os olhos
fazem. O objetivo não é a reprodução exata, mas, sim, a tomada de consciência
4 Representação arquitetônica e artística do objeto

sobre as texturas e nuances que, às vezes, perdem-se ao mudar o olho entre


o objeto real e a reprodução na folha.
Não é preciso pensar, apenas sentir e reproduzir no mesmo instante que
se visualiza. O desenho, ao final, terá proporções estranhas e provavelmente
algumas linhas ficarão sobrepostas, mas o que se deve observar é a reprodução
das texturas, formas e volumes parciais (Figura 2).

Figura 2. Desenho às cegas com olho fixo no objeto real e como resul-
tado desenho sem proporção, mas com reprodução de formas e texturas.
Fonte: Ching (2012, p. 19).

Desenho de contornos modificados


O desenho de contornos modificados é uma segunda etapa do desenho de
contornos às cegas. Inicia-se com o contorno às cegas, mas se determina
intervalos de conferência e ajustes ao desenho — é importante que seja uma
segunda etapa, para que se treine a percepção e o poder de observação de
formas diferenciadas.
Representação arquitetônica e artística do objeto 5

Uma dica é, por exemplo, no desenho de uma folhagem com várias flores,
determinar a cada flor o intervalo de conferência; depois, passar esses períodos
de conferência para as folhagens e, então, para o vaso. Os detalhes e a maneira
como a forma se configura vão ficando cada vez mais observáveis (Figura 3).
Nesse sentido, é importante o que Ching (2012, p. 20) destaca: “Não se
preocupe com as proporções do conjunto. Com experiência e prática, em
determinado momento desenvolvemos a habilidade de registrar cada contorno
de nosso tema, de guardar uma imagem dessa linha em nossa mente, de
visualizá-la na superfície de desenho e de, então, registrá-la”.

Figura 3. Desenho de contornos modificados: há algumas


semelhanças especialmente com o formato das pétalas.
Fonte: Ching (2012, p. 20).

Desenho de formatos positivos e negativos


Quando observamos uma figura, há uma relação entre ela e o fundo diante do
qual está disposta. Essa relação entre figura, fundo e seus contrastes facilita a
determinação dos limites do objeto, a partir dos quais acabamos desenhando.
6 Representação arquitetônica e artística do objeto

Tão importante quanto a figura, conhecida como “positivo”, é o fundo,


conhecido como “negativo”. Para esse exercício, o foco está nos vazios, ou
seja, nos negativos. Para executá-lo, deve-se procurar no local de estudo um
objeto que tenha partes vazadas em sua superfície.
Na Figura 4, temos como exemplo uma cadeira. Não se deve olhar para as
partes de madeira, mas, sim, para os espaços em branco do fundo. Pode-se começar
desenhando, em vez do encosto, cada um dos 4 triângulos que formam o vazio do
espaldar. Na sequência, pode-se desenhar o retângulo abaixo dos triângulos ainda
no encosto e, depois, cada um dos retângulos que se formam entre cada um dos pés.

Figura 4. Vazios a serem observados para o desenho


do negativo.
Fonte: photka/Shutterstock.com.

Nesta seção, a partir das técnicas de treino de desenhos, você pôde perceber
como é importante observar o objeto, o fundo, seus contornos — todos esses
elementos fazem parte do processo de desenvolvimento da capacidade de desenho
à mão livre e de melhoria da percepção dos objetos, cenários e composições.
A seguir, você verá detalhes específicos para o desenvolvimento do desenho
de observação.
Representação arquitetônica e artística do objeto 7

2 As bases do desenho de observação


Um desenho de observação é a reprodução de uma imagem real sob o ponto
de vista do desenhista. Segundo Gouveia (1998, documento on-line), trata-
-se de um desenho que “[...] tende a ser considerado como representação
mimética da realidade visiva; [...] diferente de uma representação analógica
direta, mecânica, como, por exemplo, a fotografia, manifesta-se como uma
análise e uma seleção dos aspectos inerentes ao lugar, enquanto possibili-
dades projetivas”.
Em um primeiro momento, pode-se considerar que tirar uma foto seria
bem mais rápido e eficiente para reproduzir uma imagem, mas “[...] a câmera
não edita uma imagem para mostrar o que é importante ao olho humano. Ela
é limitada pela maneira na qual a imagem foi enquadrada e pelo tipo de lente
utilizada” (WATERMAN, 2011, p. 114).
Antes de mais nada, um dos significados da palavra observar, segundo o
Dicionário Dicio Online, é analisar (OBSERVAR, 2020). Um bom desenho
de observação começa com uma análise profunda da composição que será
reproduzida. Ao longo da reprodução, essa análise vai gerando novos olhares
e entendimentos sobre a imagem que está sendo reproduzida.
A percepção do que será retratado é essencial e, com o tempo, o olhar se
torna diferente e passa a perceber elementos das formas que não percebia até
então. Nesse processo, algumas dicas são essenciais para a construção de um
desenho de observação.
Primeiro, é importante escolher os materiais: um papel de tamanho A3 ou
A4, carvão ou lápis ou caneta e um apoio são itens básicos para os primeiros
desenhos de observação. No entanto, escolher um material que ajude a linha
que será desenhada a fluir é bastante pessoal.
Apesar de a maneira para segurar o equipamento de desenho também ser
pessoal, pode-se tentar variadas empunhaduras. A primeira dica é não deixar
o braço apoiado sobre a mesa: o cotovelo deve ficar solto para permitir um
movimento mais amplo e solto. A empunhadura tradicional (Figura 5a) é a
mesma da escrita com a mão apoiada sobre o papel: limita os movimentos,
mas pode ser usada. Outra empunhadura faz com que somente um ou dois
dedos toquem no papel (Figura 5b), dando mais liberdade para a execução
dos desenhos (CURTIS, 2015).
8 Representação arquitetônica e artística do objeto

Figura 5. (a) Empunhadura tradicional e (b) empunhadura com a mão mais livre.
Fonte: Syda Productions/Shutterstock.com.

O apoio do desenho é importante: pode ser uma mesa, uma mesa inclinada
(prancheta) ou um cavalete, que tem uma grande vantagem essencial para o
desenho de observação, um novo olhar. “Ficar de pé também possibilita que
você se afaste periodicamente do seu desenho [...]. A simples mudança na
posição relativa permite a você que olhe para seu desenho e o avalie com um
surpreendente novo olhar” (CURTIS, 2015, p. 17).
Por outro lado, ao realizar o desenho em si, é essencial manter-se em uma
posição fixa para enxergar os mesmo ângulos e detalhes do cenário escolhido: “A
composição de uma cena em perspectiva implica nos posicionarmos em um ponto
de vista favorável e decidir como enquadrar o que vemos” (CHING, 2017, p. 226).
Para os primeiros desenhos de observação, pode-se começar com pequenos
objetos de casa. Depois, começa-se a compor um cenário com mais de um
objeto, colocando-os a, no mínimo, um braço de distância do papel em que
se vai desenhar.
Para construir o desenho de observação, começa-se desenhando as linhas
gerais dos objetos, percebendo seus limites. Nesse ponto e ao longo de toda
a execução do desenho de observação, é preciso observar o relacionamento
entre os objetos: qual objeto está na frente, nos lados, no fundo, a distância
entre eles e as linhas — a partir do desenho de um deles, pode-se iniciar o
desenho do próximo objeto.
Na Figura 6, veja que o topo da jarra menor à esquerda está na altura da
alça da jarra maior. Essas relações ajudam a manter a proporção do desenho
ao longo de sua execução.
Depois, pode-se começar a preencher os detalhes dos objetos; se for um pão, por
exemplo, é o momento de desenhar a espessura da casca. Captando a essência dos
objetos, não é preciso reproduzir todos os detalhes, enquanto outros são essenciais
para caracterizá-los — e isso também faz parte do processo de observação.
Representação arquitetônica e artística do objeto 9

Na sequência, faz-se o preenchimento dos objetos, que podem ser sombras


neles mesmos, mas também deve-se avaliar e representar as texturas.

Figura 6. Sequência de desenho de observação: note a textura dada para o pão parecer
rugoso e as jarras parecerem lisas.
Fonte: Cernecka Natalja/Shutterstock.com.

O desenho de observação é uma construção com alguns elementos in-


dispensáveis, mas, ainda sim, é possível fazer escolhas para sua realização.
Tanto os materiais quanto a posição de execução e o conceito final podem ser
adaptados a peculiaridades do executor da ilustração. É importante ressaltar
que o exemplo apresentado na Figura 6 não é fixo: é muito comum que o
desenhista desenvolva o seu passo a passo, que será discutido a seguir.

A percepção é uma experiência unificada e se dá por meio dos sentidos — não é algo
concreto, mas é essencial para o desenvolvimento dos desenhos. Saiba mais sobre a
percepção no link a seguir.

https://qrgo.page.link/3Li84
10 Representação arquitetônica e artística do objeto

3 A individualidade no desenho de observação


Nas áreas de atuação profissional criativas, o desenho de observação também
se diferencia de uma foto por ter a possibilidade de deixar a marca registrada
de quem os executou. É comum, dentro das possibilidades de execução, que
o profissional crie seu próprio passo a passo.
Para individualizar o desenho de observação, é importante, depois de treinar
a representação com objetos ou conjunto de objetos, passar a desenhar temas
sobre sua área de atuação. Paisagistas, designers de interiores e arquitetos
desenham grandes espaços, e essa característica determinará algumas escolhas.
Para isso, deve-se escolher primeiro o material de preferência pessoal, mas,
para essas áreas, devido à necessidade de precisão, na maioria das vezes, lápis
ou caneta são utilizados. O carvão, por exemplo, não é um material muito
preciso — não é errado utilizá-lo, mas, em um primeiro momento, pode difi-
cultar a representação. A cor também pode ser um elemento essencial nessas
áreas, mas nem todo o desenho precisa ser colorido.
A escolha pela coloração também ajuda a individualizar o desenho e, por
isso, é importante testar materiais e possibilidades e escolher algo que agrade,
decidindo quando colorir ou não.

Alguns dos materiais mais comuns para uso da cor nos desenhos são giz pastel, lápis
de cor, aquarela e hidrocores.

O papel em formato A3 é o ideal pelo tamanho das cenas a serem represen-


tadas em áreas como design de interiores, arquitetura e paisagismo, e o tipo
de papel a ser escolhido depende do material que será utilizado no desenho.
Para o uso posterior com aquarela, por exemplo, deve-se utilizar um papel de
maior gramatura, que aceite água sem enrugar.
Representação arquitetônica e artística do objeto 11

Uma grande questão nesse contexto é o apoio: se for um espaço interno,


é possível desenhar em um cavalete de pé, mas estudando a possibilidade
de fazê-lo em áreas externas. Em relação a isso, é comum que o desenhista
dessas áreas opte por uma prancheta simples e prática para poder levar com
mais facilidade aos locais externos.
As proporções para desenhos nessas áreas são essenciais, e o desenhista
pode fazer uso de dois recursos: uma moldura, para decidir o enquadramento
e observar as proporções, e um lápis para medir. A moldura ou visor é de
simples confecção, conforme descreve Ching (2012, p. 29):

[...] pode ser construído cortando-se cuidadosamente um retângulo de 8 ×


10 cm no meio de uma folha de papelão de 21 × 29,7 cm (formato A4) cinza-
-escuro ou preta. Divide-se a abertura ao meio, vertical e horizontalmente,
com dois fios escuros fixados com fita adesiva. O visor criado nos ajuda a
compor uma vista e a estimar a posição e a direção dos contornos. O mais
importante é que, olhando através desta abertura retangular com apenas um
olho, a imagem ótica efetivamente se achata, o que nos torna mais cientes
da unidade entre os formatos positivos da matéria e os formatos negativos
dos espaços.

Neste ponto, é importante decidir que enquadramento se deseja dar ao


desenho: pode-se preencher o papel como um todo, com a cena completa ou
preenchê-lo inteiramente com um detalhe da cena. É possível, ainda, deixar
um espaço em branco entre o limite do papel e o desenho, dando a sensação
de totalidade da imagem representada — isso também será uma decisão do
desenhista e incrementará seu passo a passo.
Além disso, para medir os elementos da cena a ser desenhada, é possível
utilizar o comprimento do lápis: basta segurar o lápis com a mão e estender
bem o braço, de modo que se garanta que a forma de medir permanecerá a
mesma, ou seja, terá a mesma proporção. O lápis vai estar perpendicular à
linha de visão e a medida do objeto estará entre a ponta do lápis e o dedão,
que pode ser movimentado até que se encaixe a medida pretendida — fechar
um dos olhos ajudar a aumentar a precisão (Figura 7).
12 Representação arquitetônica e artística do objeto

Figura 7. Lápis como elemento de medição.


Fonte: Daniel Besik/Shutterstock.com.

Ao enquadrar, é importante verificar se o desenho será na horizontal ou


na vertical, o que terá conexão direta com as proporções da cena. O desenho
de uma igreja, que, geralmente, passa uma sensação de verticalidade e impo-
nência, terá essa sensação potencializada com o papel na vertical, tipo retrato.
Algumas cenas pedem o uso do papel na horizontal ou formato paisagem.
Esse tipo de arranjo dá mais amplitude lateral e mais sensação de estabilidade,
e, por vezes, a decisão de passar a sensação é do próprio desenhista, pois
“[...] outras cenas terão proporções que dependerão daquilo que decidirmos
enfatizar na imagem” (CHING, 2017, p. 226).
Com o enquadramento feito e o início da medição com o lápis, deve-se
decidir que tipo de linha utilizar, pois se trata de um elemento primário e
importante no desenvolvimento de desenhos de observação. Basicamente,
existem dois tipos de linhas: a gestual e a descritiva (BAJZEK, 2019). A linha
descritiva define o contorno da forma de maneira narrativa e precisa, é firme
contínua e constante, além de clara e direta — é ótima para representar elemen-
tos arquitetônicos, detalhes de decoração e é utilizada quando a importância
real do objeto é maior que o restante da cena. Já a linha gestual é mais usada
quando se pretende dar ênfase às conexões entre os elementos; é uma linha
mais leve e solta e pode ter aspecto irregular (BAJZEK, 2019) (Figura 8).
Representação arquitetônica e artística do objeto 13

Figura 8. (a) Desenhos com linhas gestuais em preto e branco; (b) desenho com linha
descritiva e colorido.
Fonte: Leggitt (2004, p. 24).

Essas grandes áreas representadas em desenhos de observação de design


de interiores, arquitetura e paisagismo dependem muito do posicionamento do
autor e da escolha do recorte da cena. Por isso, “[...] é extremamente importante
manter a posição de observação fixa durante todo o processo de desenho a fim
de criar representações precisas de recuos planos com os instrumentos para
medir ângulos” (CURTIS, 2015, p. 56).
Neste capítulo, você viu maneiras de treinar seus desenho e dicas básicas
para o desenvolvimento de desenhos de observação, uma aptidão que pode
ser desenvolvida e aprimorada. Esse desenvolvimento é processual, e cada
etapa é importante, deve ser cumprida e levará o desenhista à excelência em
sua profissão.
14 Representação arquitetônica e artística do objeto

BAJZEK, E. Técnicas da ilustração à mão livre: do ambiente construído à paisagem urbana.


São Paulo: Gustavo Gili, 2019.
CHING, F. D. K. Desenho para arquitetos. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2012.
CHING, F. D. K. Representação gráfica em arquitetura. Porto Alegre: Bookman, 2017.
CURTIS, B. Desenho de observação. 2. ed. Porto Alegre: AMGH, 2015. E-book.
GOUVEIA, A. P. S. O croqui do arquiteto e o ensino do desenho. 1998. Tese (Doutorado em
Estruturas Ambientais Urbanas) – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade
de São Paulo, São Paulo, 1998. Disponível em: https://www.teses.usp.br/teses/disponi-
veis/16/16131/tde-03052010-090659/pt-br.php. Acesso em: 27 fev. 2020.
LEGGITT, J. Desenho de arquitetura: técnicas e atalhos que usam tecnologia. Porto
Alegre: Bookman, 2004.
OBSERVAR. In: DICIO, Dicionário Online de Português. Porto: 7Graus, 2020. Disponível
em: https://www.dicio.com.br/observar/. Acesso em: 27 fev. 2020.
WATERMAN, T. Fundamentos de paisagismo. Porto Alegre: Bookman, 2011.

Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu fun-
cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a
rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de
local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade
sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links.
PROJETO DE
ARQUITETURA E
URBANISMO II

Anicoli Romanini
Representação gráfica
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Listar os instrumentos de desenho técnico.


„„ Analisar as normas do desenho técnico.
„„ Perceber os elementos em planta baixa, corte e elevação.

Introdução
Ter bons instrumentos de desenho é importante, mas saber utilizá-los
para a representação adequada do projeto é fundamental. Por isso, o
projetista deve conhecer os padrões e as normas básicas utilizadas para
a elaboração dos desenhos técnicos, aplicando-os como ferramentas de
apoio ao desenvolvimento de seus projetos.
Neste capítulo, você entenderá a importância do desenho técnico
na representação gráfica de projetos arquitetônicos, pelo método tradi-
cional e com o auxílio do computador. Vai conhecer algumas normas de
desenho técnico disponíveis para a aplicação dos padrões necessários,
identificando como esses elementos são utilizados na representação de
plantas baixas e cortes.

Desenho técnico
O desenho técnico é a representação gráfica do projeto em um ou mais pla-
nos, elaborados de acordo com normas técnicas e padrões que possibilitam
a leitura universal dos objetos. Ele pode ser elaborado manualmente, a partir
dos instrumentos de desenho, ou com o auxílio do computador, apoiado em
softwares de desenho, como AutoCad, IntelliCad, Revit, entre outros. Inde-
pendentemente do meio de execução do desenho, as regras e orientações são
as mesmas, pela compreensão unânime que ele deve passar.
2 Representação gráfica

Ching (2017, p. 17) afirma que “[…] desenhar com o auxílio de réguas,
esquadros, gabaritos, compassos e escalímetros é o meio tradicional de desenho
e representação gráfica em arquitetura, e ainda é relevante em um mundo
cada vez mais digital”. Traçar uma linha à mão, segundo o autor (2017, p. 17),
“[…] realimenta a mente e reforça a estrutura da imagem gráfica resultante”.
Ao elaborar qualquer desenho, é importante considerar a espessura das
linhas em função da hierarquia que a ela está associada. Linhas mais finas são
empregadas para a representação dos desenhos iniciais, linhas de chamada,
linhas de cota, desenhos complementares, pisos, equipamentos, mobiliário,
entre outros. As linhas grossas sugerem forma e substância, representam as
paredes, cortadas ou em vista, bem como a estrutura da obra, a marcação da
linha do corte, entre outros.
A partir dessas definições, diferentes instrumentos de desenho afetarão
a hierarquia de linhas. Canetas nanquim ou lapiseiras de ponta fina (0.3),
com o uso de grafite de mina mais dura (H ou HB) no caso das lapiseiras,
proporcionarão esse efeito. Para o desenvolvimento de linhas mais espessas,
são utilizadas as canetas nanquim ou lapiseiras de pontas mais grossas
(0.7 ou 0.9) com o uso de grafite de mina macia (B ou 2B). As lapiseiras
de espessura média (0.5) são utilizadas para os desenhos complementares
e para a elaboração dos textos. Ching (2017) apresenta uma classificação
bastante interessante sobre a dureza das minas de grafites disponíveis para
a utilização nos desenhos, fazendo recomendações quanto ao seu melhor
uso (Figura 1).
Representação gráfica 3

Figura 1. Recomendações quanto à dureza das minas de grafite.


Fonte: Ching (2017, p. 3).

Independentemente do método de trabalho, à mão ou no computador, a


base do desenho é constituída pelas linhas, cuja essência é a continuidade.
Assim, quando desenvolvidas manualmente, as linhas e suas informações
complementares (textos, números e imagens) necessitam do auxílio de certos
materiais. A seguir, são apresentados alguns.
4 Representação gráfica

„„ As lapiseiras permitem o desenho dos elementos com qualidade. Para a


execução de linhas nítidas e finas (construção do desenho, mobiliário e
equipamentos fixos, cotagem, entre outros), utilize aquelas com menor
espessura, 0.3 ou 0.5, com um grafite mais duro (H ou HB). Para linhas
relativamente espessas e mais fortes (representação final das paredes,
linhas de marcação do corte, entre outros), utilize as lapiseiras 0.7 ou
0.9 com um grafite mais macio (B ou 2B).
„„ A régua paralela (traçados de linhas horizontais, fixada na prancheta),
juntamente com os esquadros de 45°, 30º e 60º (traçados de linhas
verticais e em ângulo), permite o desenvolvimento de desenhos com
mais rapidez e precisão.
„„ O escalímetro é uma régua com diferentes medidas, ou escalas, utilizada
para reduzir ou ampliar os desenhos.
„„ Com compasso, curvas francesas e transferidor, é possível elaborar
linhas curvas. Os gabaritos de formas geométricas, como, por exemplo,
o gabarito de circunferências, chamado carinhosamente de bolômetro,
e os gabaritos de blocos de equipamentos sanitários/hidráulicos e/ou
mobiliários complementam as informações do desenho. Todos eles
possuem aberturas específicas para guiar os traçados.

Se o desenho for realizado no computador, alguns softwares deverão ser


instalados para a sua elaboração. Da AutoDesk, dois programas dominam
escritórios e escolas de arquitetura e urbanismo. O mais antigo é o AutoCad.
Com ele, é possível elaborar desenhos em 2 ou 3 dimensões, com escala,
precisão e detalhamento, conforme a necessidade do projeto. Entretanto, nos
últimos tempos, o Revit tem ganhado bastante espaço pelo uso da tecnolo-
gia BIM (Building Information Model), ou Modelagem da Informação da
Construção ou, ainda, Modelo da Informação da Construção, que possibilita
a criação de um conjunto de informações geradas e mantidas durante todo o
ciclo de vida de um edifício.
Representação gráfica 5

A seguir, são apresentados dois templates de trabalho a partir dos softwares AutoCad
e Revit.

Fonte: Architectural renovation ([201-?]; Sync with central edited ([2019]).

Para mais informações sobre as opções para o desenvolvimento de seus trabalhos,


entre no site da Autodesk e pesquise sobre os programas.

https://qrgo.page.link/znmoU
6 Representação gráfica

Normas do desenho técnico


O desenho técnico é a representação gráfica do projeto em um ou mais planos
elaborados de acordo com normas técnicas e padrões que possibilitam sua
leitura universal, ou seja, por qualquer pessoa em qualquer lugar. Assim,
não é utilizado apenas por exigência de uma equipe de profissionais ou para
satisfazer as preferências de um desenhista ou de um cliente, por exemplo,
mas pelo sentido de ordem e unificação que apresenta.
No Brasil, sem força de lei, as normas técnicas são editadas e elaboradas
pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) que, desde 1940,
busca estabelecer códigos para instituir parâmetros de qualidade, segurança e
normalidade, regulando as relações entre produtos, consumidores e profissio-
nais de diversas áreas. Como o desenho técnico possui uma linguagem gráfica
padronizada, algumas normas técnicas foram surgindo como uma espécie
de guia, para facilitar a compreensão dos desenhos de diferentes naturezas.
Assim, algumas normas foram elaboradas, como: NBR 10582 (apresentação
da folha para desenho técnico), NBR 8402 (execução de caracteres para escrita
em desenhos técnicos), NBR 8403 (aplicação das linhas em desenhos, tipos,
larguras), NBR 8196 (emprego de escalas), NBR 12298 (representação de área
de corte por meio de hachuras em desenhos), NBR 8404 (indicação do estado
de superfície em desenhos técnicos), NBR 6158 (sistemas de tolerâncias e
ajustes), NBR 8993 (representação convencional de partes roscadas em desenho
técnico), NBR 10125 (cotagem em desenho técnico).
A NBR 6492 (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS,
1994) é a norma técnica que trata diretamente da representação de projetos
em arquitetura. Em sua parte inicial, a norma faz a definição dos diferentes
níveis de desenho entregues em um projeto executivo: planta de situação,
planta de locação, planta de edificação, cortes, fachadas, elevações, detalhes
ou ampliações, juntamente com conceituação de escala, programa de neces-
sidades, memorial justificativo, discriminação técnica, especificações, lista
de materiais e orçamento. Posteriormente, conceitua e caracteriza as fases
do projeto: programa de necessidades, estudo preliminar, anteprojeto, projeto
executivo, projeto como construído, informando quais elementos devem ser
representados, quais documentos típicos devem ser entregues em cada etapa
e quais documentos eventuais complementam a informação em cada etapa,
indicando as escalas de desenho mais adequadas.
Representação gráfica 7

Com base na NBR 10068 (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS


TÉCNICAS, 1987), que estabelece diretrizes para as folhas de desenho, leiaute
e dimensões, além de padronização, a Norma 6492 apresenta os tipos de papéis
utilizados nos desenhos com suas respectivas legendas (selo) e dobramentos.
No Quadro 1, são descritos os tipos de linhas do desenho. Segundo Farrely
(2011, p. 72), para indicar distintos graus de solidez e permanência nos desenhos
(plantas cortes, fachadas, detalhamentos), diferentes variações de espessuras
de linhas são utilizadas:

Uma linha grossa sugere mais permanência ou o material pesado (assim, pode
ser empregada para representar uma parede de alvenaria), enquanto uma linha
fina indica uma condição mais provisória ou um material leve (sugerindo um
móvel temporário, por exemplo).

Quadro 1. Tipos e empregos das linhas segundo as normas técnicas

Tipo Emprego

1 Arestas e contornos
visíveis.
Grossa
2 Linha de corte.

3 Arestas e contornos
não visíveis.

4 Linha de ruptura curta.

5 Linhas de cota e de
extensão; hachuras;
Fina linhas de chamada.

6 Eixos de simetria
e linhas de centro;
posições extremas
de peças móveis.

7 Linha de ruptura longa.

Fonte: Adaptado de Associação Brasileira de Normas Técnicas (1984).


8 Representação gráfica

Além dos tipos de linhas, letras e números, são utilizadas, nas representa-
ções, juntamente com as escalas, indicação de norte, de linhas de chamada,
de sentido, em escadas e rampas. Essas indicações, além de complementar
o desenho, permitem entender as relações da edificação com o seu terreno
e orientação.
A conceituação e o emprego das cotas, cotas de nível e marcações, de
coordenadas para eixos de estruturas, cortes gerais e detalhes construtivos
também são apresentados pela norma de maneira bastante detalhada.
Sobre as cotas, a norma recomenda que elas sejam desenhadas sempre
em metros, que estejam localizadas fora do desenho (salvo alguma impossi-
bilidade), representando o máximo de medidas possíveis, mas evitando a sua
duplicação. A norma sugere, ainda, como desenvolver a indicação e numeração
dos títulos dos desenhos, designação das portas e esquadrias, além do quadro
geral de áreas, esquadrias e acabamentos, trazendo, inclusive, uma convenção
de materiais que pode ser adotada.

As normas técnicas são elaboradas pela ABNT. Como do-


cumento técnico, elas são vendidas pelo site da associação,
e as suas cópias não são autorizadas.
Para saber mais, acesse o link ou código a seguir.

https://qrgo.page.link/4bvvR

Elementos do desenho técnico


No desenho técnico, o maior nível de informações e detalhes é bem-vindo,
porque é com base nos elementos desse desenho (paredes, lajes, vigas, pilares,
esquadrias, desníveis, escadas, cotas e cotas de nível, telhados, entre outros)
que o anteprojeto e o projeto executivo são elaborados para a futura execução.
Representação gráfica 9

Segundo Farrely (2011, p. 70), a planta “[…] é uma projeção ortogonal de


um objeto tridimensional tomada a partir de um plano de corte horizontal”. A
planta é uma vista superior do objeto desenhado, que inclui todas as exigên-
cias do programa de necessidades, espaços e formas apresentadas às funções
associadas, com as condições físicas e ambientais do local implantado. Ela
é composta por uma série de cômodos conectados entre si e por acessos e
circulações.
As plantas podem ser: do pavimento térreo (demonstra a entrada da edifi-
cação e sua relação com os espaços externos), dos demais pavimentos ou do
pavimento tipo (quando se tratar de edifício em altura, sempre demonstrará
as conexões verticais), da cobertura (indicando os caimentos dos planos de
cobertura), de situação (apresentando a edificação no contexto de seu terreno
ou entorno imediato) ou de localização (indicando o contexto da edificação
e do terreno em relação aos terrenos vizinhos e sobre as vias, os passeios,
entre outros).
Conforme afirma Farrely (2011, p. 78), “[…] o corte é uma projeção orto-
gonal de um objeto tridimensional sobre um plano vertical que o secciona”.
Desenhados posteriormente às plantas, ou de forma paralela, os cortes apre-
sentam as dimensões verticais da obra, bem como as suas relações entre o
interior e o exterior, podendo ser longitudinais e transversais, em quantidade
que o arquiteto, engenheiro ou projetista julgar necessária para o adequado
entendimento do projeto.
A planta baixa e o corte da edificação são sessões ou cortes realizados nos
desenhos, respectivamente, de modos horizontal e vertical (Figuras 2 e 3).
Na planta baixa (Figura 2), são representados todos os elementos visíveis
horizontalmente a uma altura de 1,20 cm do piso. Logo, são representados
a estrutura da edificação, as paredes externas e internas (com suas devidas
espessuras), todas as aberturas (portas e janelas), as escadas, as lareiras, os
equipamentos fixos da cozinha e do banheiro, por exemplo, as diferenças
de níveis existentes na edificação, os tipos de pisos, os acessos (principais,
de serviço, de garagem), o norte (e sua orientação solar) e todos os demais
elementos que o projetista achar necessário. Na planta, são demarcadas todas
as dimensões, cotas, necessárias para a sua execução.
10 Representação gráfica

Figura 2. Representação dos elementos em planta baixa.


Fonte: Ching (2017, p. 51).

O corte (Figura 3), elaborado a partir da planta baixa, possui também a


representação de todos os elementos necessários para o entendimento das
alturas da edificação. São representados a estrutura da edificação, inclusive
as fundações, as paredes externas e internas (com suas devidas espessuras),
todas as aberturas (portas e janelas), as escadas, as lareiras, os equipamentos
fixos da cozinha e do banheiro, por exemplo, as diferenças de níveis existentes
na edificação e o telhado. No corte, somente as dimensões verticais, cotas
verticais, são representadas.
Representação gráfica 11

Figura 3. Representação dos elementos em corte.


Fonte: Ching (2017, p. 70).

A estrutura da obra é composta por fundação, lajes, pilares e vigas, po-


dendo ser de madeira, metálica ou de concreto. A fundação é a parte inferior
da construção, que transmite as cargas da construção ao terreno. As cargas
podem ser sapatas isoladas, blocos pré-moldados, feitas por meio de estacas,
entre outras opções.
12 Representação gráfica

As paredes são os elementos verticais da obra que fazem o fechamento


externo da edificação e as subdivisões internas. Podem ser de alvenaria de
vedação ou estrutural (tijolo cerâmico ou bloco de concreto), de madeira, em
drywall (gesso acartonado ou placas cimentícias) ou de woodframe (chapas
de OSB).
As escadas, utilizadas em edificações com mais de um pavimento, fazem
a ligação vertical entre os pavimentos. Possuem as mais variadas formas,
quadrada, retangular, redonda, helicoidal, mistas, com degraus vazados,
fechados, enfim, conforme o desejo dos clientes. As rampas e os elevadores
complementam as possibilidades de deslocamento vertical: as primeiras ga-
rantem a acessibilidade de todos, independentemente da sua condição física,
enquanto os segundos, além da acessibilidade universal, permitem o acesso
mais confortável aos locais mais altos.
As esquadrias fazem os fechamentos dos vãos. São portas e janelas que
podem ser de madeira, ferro, alumínio ou PVC. O telhado é a cobertura da
edificação. Pode ser de uma, duas, três, quatro, cinco ou mais águas, depen-
dendo do projeto, com diferentes inclinações e tipos de telhas (barro, concreto,
metálica, zinco e fibrocimento). Sua estrutura pode ser de madeira ou metálica.
Todos os desenhos apresentados fazem parte do projeto arquitetônico para
demonstração de sua existência. Especificações e detalhamentos são desen-
volvidos em plantas específicas.

ARCHITECTURAL renovation. [201–?]. 1 desenho técnico. Disponível em: https://www.


quadrasol.co.uk/uploads/images/features-images/architecture/renovation.jpg. Acesso
em: 29 maio 2019.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6492:1994: Representação de
projetos de arquitetura. Rio de Janeiro, 1994.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 8403:1984: Aplicação de linhas
em desenhos — Tipos de linhas — Larguras das linhas — Procedimento. Rio de
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— Leiaute e dimensões — Padronização. Rio de Janeiro, 1987.
CHING, F. D. K. Representação gráfica em arquitetura. 6. ed. Porto Alegre: Bookman, 2017.
Representação gráfica 13

FARRELY, L. Técnicas de representação. Porto Alegre: Bookman, 2011.


SYNC with central edited. [2019]. 1 desenho técnico. Disponível em: https://www.
autodesk.com/bim-360/app/uploads/2019/02/Sync-with-central-edited.jpg. Acesso
em: 29 maio 2019.
EXPRESSÃO
PLÁSTICA

Vanessa Guerini Scopell


Expressões plásticas
bi e tridimensional
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Identificar materiais, técnicas e suportes relacionados com os aspectos


inerentes à expressão plástica na sua vertente bidimensional.
„„ Relembrar materiais, técnicas e suportes relacionados com os aspectos
inerentes à expressão plástica na sua vertente tridimensional.
„„ Aplicar a bidimensionalidade e a tridimensionalidade ao design de
interiores.

Introdução
Na arquitetura, as formas e os volumes das edificações, antes de saírem
do papel, são compostos por pontos, linhas e planos. Esses elementos de
estruturação espacial e expressão plástica são a base para a concepção
dos projetos, juntamente à ação de desenhar, que permite ao arquiteto
demonstrar as suas ideias. Tanto os desenhos de duas dimensões como
os de três dimensões têm suas funções no design de interiores, podendo
ser usados para representar diferentes situações e ideias.
Neste capítulo, você vai estudar os conceitos de bidimensionalidade
e tridimensionalidade. Vai verificar as diferenças entre eles e ver exemplos
de aplicações dessas tipologias gráficas nos projetos de interiores.

Desenhos bidimensionais
Os projetos de design de interiores estão sempre vinculados a propostas que
são demonstradas e representadas graficamente por meio de desenhos. Para o
arquiteto Lúcio Costa, o processo projetual e criativo é de extrema importância
para a expressão da arte plástica. Essa representação de ideias e intenções é de
2 Expressões plásticas bi e tridimensional

grande valia para a solução de problemas específicos, que serão resolvidos a


partir de soluções plásticas condizentes com a realidade de cada caso, com o
objetivo de cada ambiente e com a intenção de uso de cada material.
Nesse sentido, você pode considerar que a intenção plástica de cada projeto
ou obra de interiores é que de fato diferencia uma boa arquitetura de uma
construção qualquer. A plástica refere-se tanto à compreensão das formas
arquitetônicas, que surgem por meio de pontos, linhas e planos, como às
expressões de intenções demonstradas pelos meios de representação que
ressaltam traços, cores, texturas e materiais. Isso se dá por meio das demons-
trações bidimensionais, que podem ser transformadas em representações de
três dimensões.
Sempre que você elabora um projeto, traça ou esboça alguma ideia, o
conteúdo visual dessa comunicação é composto por uma série de elementos.
Tanto o ponto como a linha e o plano são aspectos conceituais que você
consegue visualizar em sua mente e, a partir disso, iniciar um desenho. Para
Ching (2013), é possível perceber um ponto no encontro de duas retas, em
uma reta marcando o contorno de um plano, em um plano delimitando um
volume ou em um volume de um objeto que ocupa espaço. “Cada elemento é
primeiramente considerado como conceitual e, a seguir, como um elemento
visual no vocabulário do projeto de arquitetura. Como elementos conceituais,
o ponto, a reta, o plano e o volume não são visíveis, exceto em nossas mentes.
Embora eles não existam de fato, sua presença é sentida por nós” (CHING,
2013, p. 16).
Esses elementos constituem a substância básica daquilo que se vê.
São muitos os pontos de vista a partir dos quais se pode analisar qualquer
manifestação visual, mas um dos mais reveladores é decompor a mani-
festação nos elementos que a constituem, de forma a compreender melhor
o todo. Assim:

Quando são visíveis aos olhos no papel ou no espaço tridimensional, esses


elementos se tornam forma com características de matéria, formato, tama-
nho, cor e textura. À medida que experimentamos essas formas em nosso
ambiente, devemos ser capazes de perceber em sua estrutura a existência
dos elementos primários do ponto, da reta, do plano e do volume (CHING,
2013, p. 16).

Conforme Ching (2013), o ponto pode ser considerado a menor parte de


uma composição visual, tornando-se o centro de atração da composição. Esse
Expressões plásticas bi e tridimensional 3

elemento não apresenta comprimento, profundidade ou largura. Ele marca


uma posição no espaço, mas é estático e sem direção. Assim, um ponto pode
servir para marcar duas extremidades de uma reta, a intersecção de duas
retas, o encontro de retas na quina de um plano ou volume ou o centro de um
campo. Mesmo que o ponto não tenha uma forma, ele começa a ser percebido
quando está situado dentro de um campo visual. Quando está posicionado em
um espaço, ele passa a organizar seus elementos circundantes e a ser uma
referência. Observe a Figura 1, a seguir.

Figura 1. O ponto percebido no espaço.


Fonte: Ching (2013, p. 4).

Já para formar uma linha, é preciso que existam dois pontos no espaço e
que eles estejam unidos:

Dois pontos estabelecidos no espaço por colunas ou formas centralizadas


podem definir um eixo, um recurso ordenador utilizado ao longo da história
para organizar as formas e os espaços edificados. […]
Considerando que a ligação de dois pontos no espaço ou que um ponto
estendido se torna uma linha, constata-se que a linha tem comprimento,
mas assim como o ponto, ela não tem largura ou profundidade. Já enquanto
um ponto é estático, a linha é capaz de expressar visualmente direção,
movimento e crescimento. Uma reta é um elemento essencial na formação
de qualquer construção visual. Ela pode servir para: unir, conectar, sus-
tentar, circundar ou interseccionar outros elementos visuais, descrever as
arestas dos planos e dar formato a elas e destacar as superfícies dos planos
(CHING, 2013, p. 7).

Na Figura 2, a seguir, você pode ver um exemplo de formação de uma linha.


4 Expressões plásticas bi e tridimensional

Figura 2. Formação de uma linha.


Fonte: Ching (2013, p. 6).

Como uma linha apresenta apenas uma dimensão, sua representação deve
conter alguma espessura a fim de torná-la visível. A linha é reconhecida pelo
fato de seu comprimento dominar sua largura. Assim, para formar um plano
bidimensional (Figura 3), é preciso que haja duas linhas paralelas. Conforme
destaca Ching (2013), quanto mais próximas essas linhas estiverem entre si,
mais forte será a sensação de plano criada por elas. Portanto, o plano é um
exemplo de desenho bidimensional, ou seja, que apresenta duas dimensões,
pois é composto por uma altura e um comprimento, porém ainda não tem
profundidade.

Figura 3. Formação de um plano.


Fonte: Ching (2013, p. 18).

Para Ching (2013), em uma composição de uma construção visual, o plano


serve para definir os limites ou fronteiras de um volume. Como a arquitetura
é uma arte visual que se ocupa especificamente da formação de elementos
Expressões plásticas bi e tridimensional 5

tridimensionais — volumes de massa ou espaço —, o plano, formado por


linhas, pode ser considerado um elemento-chave nas fases iniciais do projeto
de arquitetura. Assim, o desenho bidimensional se estabelece por meio de
uma superfície plana sem profundidade. Esse desenho é entendido como uma
representação em que há linhas em duas dimensões (comprimento e largura),
que fazem os contornos e delimitam o desenho. Veja:

A superfície e as marcas tomadas em conjunto revelam um mundo bi-


dimensional que difere completamente do mundo de nossa experiência
cotidiana. O mundo bidimensional é essencialmente uma criação humana.
O desenho, a pintura, a impressão, o tingimento ou mesmo a escrita são
atividades que levam diretamente à formação do mundo bidimensional
(WONG, 1998, p. 237).

Segundo Wong (1998), na maioria das vezes as coisas tridimensionais são


vistas como bidimensionais. Um exemplo é uma paisagem apreciada apenas
por sua beleza em um quadro pintado. Hoje, com o progresso da tecnologia,
uma câmera prontamente transforma tudo o que está na frente de suas lentes
em uma imagem plana, e a televisão transmite instantaneamente imagens
em movimento para uma superfície determinada. Assim, as imagens planas
são essenciais para a compreensão do mundo, dos espaços e das propostas de
arquitetura. Sua representação é necessária e, quando percebida pela visão
humana, pode ser interpretada sob diversos pontos de vista.

Desenhos tridimensionais
Para iniciar uma representação gráfica, os elementos básicos — ponto, reta
e plano — são fundamentais. É a partir deles que um desenho bidimensional
surge e, se ele for desenvolvido, pode se tornar uma figura tridimensional
(Figura 4). Para Ching (2013, p. 56):

Na transição dos formatos dos planos para as formas dos volumes se encontra o
domínio das superfícies. A superfície se refere, em primeiro lugar, a qualquer
figura que tiver apenas duas dimensões, como um plano. No entanto, o termo
também pode fazer alusão a um lugar geométrico curvo e bidimensional de
pontos que definem o limite de uma figura tridimensional.
6 Expressões plásticas bi e tridimensional

Figura 4. Figura plana tridimensional.


Fonte: Ching (2013, p. 42).

Ching e Juroszek (2012) destaca que as pessoas vivem em um mundo


tridimensional de objetos no espaço. Esses objetos sólidos ocupam espaço,
dão forma e definem seus limites. O espaço, por sua vez, envolve e dá vida à
visão dos objetos. Segundo o autor, “[...] um dos maiores desafios ao desenhar
é a representação de objetos tridimensionais no espaço por meio de linhas,
formatos e valores tonais, em uma superfície plana e bidimensional” (CHING;
JUROSZEK, 2012, p. 81). Para a representação tridimensional, é necessário que
o objeto seja demonstrado em três dimensões. Assim, o volume é o elemento
que representa esse tipo de expressão:

O volume se relaciona à extensão tridimensional do objeto ou da região do


espaço. Conceitualmente, um volume é delimitado por planos e tem três di-
mensões: largura, altura e profundidade. Ao desenhar, nos esforçamos para
expressar a ilusão tridimensional de volumes sólidos e do espaço em uma
superfície bidimensional. Todos os objetos preenchem um volume no espaço.
Mesmo os objetos lineares e delgados ocupam espaço. Podemos segurar um
pequeno objeto e girá-lo em nossas mãos. Cada volta do objeto revela um for-
mato diferente, uma vez que muda a relação entre o objeto e nossos olhos. Ao
ver o objeto de diferentes ângulos e distâncias, nossa visão reúne os formatos
na forma tridimensional (CHING; JUROSZEK, 2012, p. 67).

Para Ching e Juroszek (2012), um desenho que apresenta uma vista de


determinado ângulo e determinada distância apenas consegue ilustrar um
Expressões plásticas bi e tridimensional 7

único momento da percepção. Se for uma vista frontal, que apenas mostra a
largura e a altura, a imagem ficará achatada. Mas, se o volume for rotacionado,
a terceira dimensão (a profundidade) será revelada e a forma ficará mais clara.
Segundo o autor, prestar atenção em formatos planos ajuda a ver como eles se
combinam para expressar a tridimensionalidade do volume.
Por meio do desenho à mão e com base em uma superfície bidimensional,
é possível criar profundidade nos desenhos com a aplicação de sombras. As
diferentes tonalidades do sombreamento transformam o desenho de duas para
três dimensões e o posicionam no espaço, demonstrando a característica de
cada superfície. Para criar esse efeito tridimensional, é necessário utilizar
transições graduais de tons claros e escuros. Considere o seguinte:

Os objetos não apenas ocupam um volume no espaço; eles também se or-


ganizam no espaço, uns em relação aos outros e ao entorno. Assim como
as figuras e seus fundos compreendem uma unidade de opostos em uma
superfície bidimensional, as massas sólidas e os volumes espaciais jun-
tos constituem a realidade tridimensional do nosso ambiente (CHING;
­J UROSZEK, 2012, p. 82).

Na Figura 5, a seguir, você pode ver um exemplo de figura plana


tridimensional.

Figura 5. Figura plana tridimensional.


Fonte: Ching (2013, p. 44).
8 Expressões plásticas bi e tridimensional

Conforme Ching e Juroszek (2012), a relação entre as massas e volumes


espaciais nos projetos de arquitetura pode ser verificada em diversas escalas.
Veja a seguir.

„„ Na escala de um objeto, a relação entre cheios e vazios existe entre a


forma de uma massa sólida e o volume do espaço ocupado pelo objeto
ou nele contido.
„„ Na escala de um cômodo, a relação entre cheios e vazios ocorre entre
a forma do espaço delimitado por paredes, teto e piso e as formas dos
objetos nele contidos.
„„ Na escala de uma edificação, a relação entre cheios e vazios é percebida
nas configurações de paredes, tetos e pisos, bem como nos tipos de
espaço que esses elementos definem.
„„ Na escala urbana, a relação entre cheios e vazios surge entre a forma
da edificação e o contexto espacial no qual ela se insere. O entorno
pode dar continuidade ao tecido urbano existente de um lugar, formar
um pano de fundo para outros prédios, definir um espaço urbano ou
permanecer isolado no espaço, como um objeto.

Outra maneira de utilizar desenhos em três dimensões é aplicar as técnicas


de perspectiva para representar os volumes. A perspectiva pode ser compreen-
dida como uma maneira de representar figuras tridimensionais que provoca a
ilusão da espessura, da dimensão, do aspecto e da profundidade. Esse tipo de
desenho, segundo Ching (2013), estimula diversos pontos de vista:

Sistemas de desenhos de vistas múltiplas, vistas de linhas paralelas ou pers-


pectivas cônicas englobam uma linguagem visual de comunicação de projeto.
Devemos ter a capacidade de não apenas “escrever” nessa linguagem, mas
também de a “ler”. Esse entendimento deve ser completo o bastante para que
sejamos capazes de trabalhar confortavelmente e com distintos sistemas de
desenho. Devemos ser capazes de transformar a bidimensionalidade de um
desenho de vistas planas em uma vista tridimensional de linhas paralelas.
Ao visualizar um conjunto de desenhos de vistas múltiplas, devemos ser
capazes de imaginar e desenhar o que veríamos se estivéssemos parados em
determinada posição dentro de uma planta (CHING, 2013, p. 211).

Na Figura 6, a seguir, você pode ver desenhos de materiais em três


dimensões.
Expressões plásticas bi e tridimensional 9

Figura 6. Desenhos de materiais em três dimensões.


Fonte: Ching e Juroszek (2012, p. 170).

Existem diversos tipos de perspectiva. Elas podem ser usadas conforme a


facilidade do designer de se adequar a cada técnica. Todas elas são importan-
tes recursos de visualização tridimensional que podem ser expressos à mão.
Para Wong (1998), assim como o desenho bidimensional, o tridimensional
também busca estabelecer harmonia e ordem visual, ou gerar interesse visual
intencional.
O autor ressalta que representar tridimensionalmente um objeto é mais
complicado porque vistas de ângulos deferentes devem ser consideradas
simultaneamente. Além disso, muitas das relações espaciais são complexas,
não podendo ser facilmente visualizadas no papel. Por outro lado, o desenho
tridimensional é menos complicado do que o bidimensional porque lida com
formas e matérias tangíveis no espaço real. Desse modo, todos os problemas
presentes na representação ilusória de formas tridimensionais no papel (ou
qualquer tipo de superfície plana) podem ser evitados.
10 Expressões plásticas bi e tridimensional

O espaço pictórico é uma ilusão de espaço ou profundidade representada em uma


superfície bidimensional por vários meios gráficos. Esse espaço pode ser plano, pro-
fundo ou ambíguo, mas, em todos os casos, não passa de uma ilusão. No entanto,
certas combinações de linhas, formatos, valores tonais e texturas utilizadas em uma
superfície de desenho podem provocar, no sistema visual humano, a percepção
de um espaço tridimensional. Se você compreender o modo como infere formas e
espaços tridimensionais daquilo que vê, pode utilizar essas informações para fazer
a imagem desenhada do objeto parecer plana ou volumétrica. Você pode projetar
a imagem para frente, na direção do observador, ou fazê-la retroceder muito na
profundidade do desenho. Em uma superfície bidimensional, é possível determinar
relações tridimensionais entre objetos (CHING; JUROSZEK, 2012).

Bidimensionalidade e tridimensionalidade no
design de interiores
Nos projetos de arquitetura em geral, e especificamente nas propostas de
design de interiores, a forma de representação é um recurso fundamental para
a expressão das ideias e o entendimento de cada alternativa. Tanto os desenhos
bidimensionais (plantas baixas) como os tridimensionais (perspectivas) são
importantes aliados na expressão plástica dos projetos. Veja:

Toda forma pictórica começa com o ponto que se põe em movimento […]
O ponto se move [...] e nasce a reta — a primeira dimensão. Quando a reta
se desloca para formar um plano, obtemos um elemento bidimensional. No
movimento do plano para os espaços, o encontro de planos dá surgimento
ao corpo (tridimensional). Uma síntese de energias cinéticas que movem o
ponto convertendo-o em reta, a reta que se converte em plano e o plano que
se converte em uma dimensão espacial (CHING, 2013, p. 65).

Assim, todas as formas de representação têm por objetivo a distribuição das


partes da proposta em relação ao todo. Para Ching e Eckler (2014), é possível
utilizar qualquer sistema de desenho para analisar o contexto e gerar as ideias.
Para diagramas em que é necessária a análise de um ponto específico ou não tão
abrangente, o desenho bidimensional é um recurso suficiente. Porém, quando
a representação e a demonstração exigirem mais detalhes, é importante haver
um sistema de expressão tridimensional. Considere o seguinte:
Expressões plásticas bi e tridimensional 11

Na arquitetura de interiores, os desenhos bidimensionais mais utilizados


são a planta baixa e elevações, juntamente com os detalhamentos de mo-
biliários, paginação de piso, planta de forro e iluminação. Plantas e ele-
vações são representadas pela “principal face de cada vista de um volume
retangular [que] é paralela ao plano do desenho” (CHING; JUROSZEK,
2012, p. 121).

Cada um deles é a projeção ortogonal de um aspecto particular de objetos


ou construções. Essas vistas ortogonais são abstratas, uma vez que não cor-
respondem à realidade óptica. Elas são um modo conceitual de representação,
baseado mais no que se sabe a respeito de alguma coisa e menos no que é visto
a partir de determinado ponto no espaço. Não há referência ao observador,
mas, se houver, os olhos do espectador estarão a uma distância infinitamente
grande (CHING; JUROSZEK, 2012).
A planta baixa representa um corte horizontal do edifício, ou seja, mostra
como ele seria visualizado se fosse cortado por um plano que o interceptasse.
As plantas baixas demonstram o interior de uma edificação, revelando uma
vista que, de outro modo, não seria visualizada. Elas demonstram relações
horizontais e padrões que não são detectados facilmente quando se está no
interior de uma edificação. Assim, “Em um plano horizontal de desenho, as
plantas baixas são capazes de evidenciar a configuração de paredes e pilares,
o formato e as dimensões do espaço, o padrão das aberturas (portas e janelas)
e as conexões entre os cômodos internos e entre estes espaços e os externos”
(CHING; JUROSZEK, 2012, p. 147). Observe a Figura 7, a seguir.
Já as elevações ou vistas internas (Figura 8) são projeções ortogonais de
um objeto ou de uma construção em um plano de desenho vertical, paralelo a
uma de suas faces. Segundo Ching e Juroszek (2012), as elevações diminuem
a complexidade tridimensional de um objeto a uma representação bidimen-
sional, constituída de altura e largura ou comprimento. Ao contrário de uma
planta, uma elevação imita a observação humana em posição ereta e oferece
um ponto de observação horizontal. Considere o seguinte:

Ainda que as vistas em elevação das superfícies verticais de uma edificação


estejam mais próximas da realidade sensorial do que as plantas ou os cortes,
elas não conseguem representar a profundidade espacial de um desenho em
perspectiva. Portanto, ao desenhar objetos e superfícies em elevação, devemos
utilizar alguns recursos gráficos para representar profundidade, curvatura ou
obliquidade (CHING; JUROSZEK, 2012, p. 162).
12 Expressões plásticas bi e tridimensional

Figura 7. Representação de planta baixa bidimensional.


Fonte: Ching e Juroszek (2012, p. 147).
Expressões plásticas bi e tridimensional 13

Figura 8. Representação de elevação.


Fonte: Ching e Juroszek (2012, p. 162).

Os croquis (Figura 9) são outra tipologia plástica que pode ser utilizada
tanto na representação em duas dimensões como na tridimensional. O desenho
à mão livre “[...] é a linguagem, a forma de expressão que permite a fluidez
entre o pensar e o gesto manual que executa tal pensamento. Ajuda na obser-
vação da arquitetura e na assimilação do conhecimento, bem como na sua
forma construtiva e seus detalhes” (PAIXÃO, 2014, documento on-line). Na
arquitetura de interiores, o desenho à mão livre pode ser expresso a partir de
croquis. Segundo Pinhal (2009), um croqui pode ser definido como o
14 Expressões plásticas bi e tridimensional

Primeiro esboço de um projeto arquitetônico. Um croquis (palavra francesa


eventualmente aportuguesada como croqui ou traduzida como esboço ou
rascunho) costuma se caracterizar como um desenho de arquitetura, moda
ou um esboço qualquer. Um croqui, portanto, não exige grande precisão,
refinamento gráfico ou mesmo cuidados com sua preservação, diferente de
desenhos finalizados. Costuma ser realizado em intervalos de tempo relati-
vamente curtos, como períodos de 10 a 15 minutos. O que costuma ser mais
importante no croqui é o registro gráfico de uma ideia instantânea, através
de uma técnica de desenho rápida e descompromissada (PINHAL, 2009,
documento on-line).

Figura 9. Croquis.
Fonte: Ching (2017, p. 245).
Expressões plásticas bi e tridimensional 15

Já nos desenhos tridimensionais, as perspectivas são a forma mais re-


presentativa para o design de interiores. A perspectiva surgiu no período do
Renascimento e, segundo Malheiros (2011), é uma técnica aplicada em desenhos
e pinturas para conferir a eles profundidade e proximidade com o real.
Atualmente, existem programas que conseguem gerar volumetrias em três
dimensões e, consequentemente, perspectivas. Assim, esse tipo de desenho
pode ser feito também por meio do computador, não somente à mão.
Você ainda deve notar que as tipologias de expressões plásticas, tanto em
duas quanto em três dimensões, não se limitam à fase final de comunicação
dos projetos de arquitetura de interiores. Elas têm importante função desde o
início das propostas. Independentemente de a ideia ser expressa artística ou
tecnicamente, todos os tipos de desenhos servem para comunicá-la e contribuem
para facilitar o seu entendimento.

A projeção ortográfica é um meio de representar um objeto tridimensional em duas


dimensões. Na arquitetura, a projeção ortográfica geralmente assume uma destas
três formas: planta baixa, corte ou elevação. Uma planta baixa é o corte horizontal
imaginado de um cômodo ou uma edificação a 1,2 m acima do solo ou do nível de
piso acabado. Um corte consiste na seção vertical de uma edificação ou espaço. Uma
elevação representa a vedação externa da edificação, isto é, sua face ou fachada.
As imagens tridimensionais transmitem ideias que não podem ser representadas
por desenhos bidimensionais — plantas baixas, cortes e elevações. A representação
das três dimensões confere profundidade a uma imagem, tornando-a mais realista.
Enquanto algumas representações tridimensionais não passam de croquis, outras
adotam abordagens mais precisas. As perspectivas axonométricas e isométricas, por
exemplo, são construídas geometricamente (FARRELLY, 2014).

1. Todo desenho bi ou tridimensional a) O ponto serve como uma


se inicia a partir de elementos referência, marcando
básicos, que, conforme são uma posição no espaço,
desenvolvidos, dão vida às ideias de podendo ser percebido por
cada designer. Sobre esses elementos, meio de sua largura e seu
assinale a alternativa correta. comprimento idênticos.
16 Expressões plásticas bi e tridimensional

b) Pode-se perceber a composição primeiro momento, os desenhos


com plano, reta e ponto à bidimensionais. Sobre as expressões
medida que se experimenta plásticas tridimensionais,
as formas dos ambientes assinale a alternativa correta.
e das edificações. a) Um quadrado e um
c) Uma linha pode ser entendida círculo são exemplos de
como a conexão de dois expressão tridimensional.
pontos no espaço; sua largura b) Para representá-las, é necessário
e seu comprimento são uma saber a profundidade e a altura.
marcação no espaço. c) É possível representá-las
d) Um plano não apresenta por meio da aplicação
profundidade, apenas altura e de valores tonais.
comprimento, sendo formado d) Podem ser representadas
por suas perpendiculares. pela variação abrupta
e) A linha, assim como o ponto, de tons escuros.
não é estática e tem o poder e) São projeções ortográficas
de expressar visualmente o geradas por cortes
movimento e a direção. horizontais ou verticais.
2. Para iniciar uma representação 4. A técnica da perspectiva
gráfica, os elementos básicos contribui para a expressão
— ponto, reta e plano — das ideias, sendo uma forma
são fundamentais, pois é a tridimensional de representação
partir deles que um desenho no design de interiores. Sobre
bidimensional é concebido. Sobre esse tipo de desenho, assinale
as representações bidimensionais, a alternativa correta.
assinale a alternativa correta. a) A perspectiva estimula e instiga
a) Um desenho bidimensional diversos pontos de vista.
é sinônimo de volume. b) A perspectiva ignora as
b) Um desenho bidimensional se dimensões de profundidade
estabelece por meio de uma nos desenhos.
superfície com profundidade. c) A perspectiva é uma
c) Um desenho bidimensional técnica única que não
é compreendido como apresenta variações.
uma expressão com d) A perspectiva é considerada a
comprimento e altura. técnica mais simples para se usar.
d) Um desenho bidimensional e) A perspectiva estabelece
tem como principal exemplo relações espaciais básicas e fáceis.
o ponto e uma linha. 5. O desenho, como linguagem
e) Um desenho bidimensional fundamental na arquitetura,
representa fielmente a é uma forma de expressão de
experiência cotidiana. ideias e intenções. Assim, existem
3. Um desenho tridimensional se vários tipos de desenhos de
inicia a partir dos elementos duas ou três dimensões que
básicos que formam, em um são adequados a cada situação
Expressões plásticas bi e tridimensional 17

e a cada intenção. Sobre as ser utilizadas em todos


representações bi e tridimensionais, os casos e para todos os
assinale a alternativa correta. contextos e necessidades.
a) Os croquis requerem um nível d) As representações
alto de detalhamento com bidimensionais são
indicação de dimensões. indicadas para representar
b) Um croqui pode ser definido pontos específicos e não
como a planta baixa final tão abrangentes.
do projeto, precisa e e) Tanto o croqui como as
refinada tecnicamente. plantas baixas e elevações são
c) As representações elaborados exclusivamente
tridimensionais devem pelo computador.

CHING, F. D. K. Representação gráfica em arquitetura. 6. ed. Porto Alegre: Bookman, 2017.


CHING, F. D. K. Arquitetura: forma, espaço e ordem. 3. ed. Porto Alegre: Bookman, 2013.
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www.colegiodearquitetos.com.br/dicionario/2009/02/o-que-e-croqui/>. Acesso em:
04 dez. 2018.
WONG, W. Princípios de forma e desenho. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
Conteúdo:
DESENHO
ARTÍSTICO

Juliana Wagner
Revisão técnica:

Sabrina Assmann Lücke


Arquiteta e Urbanista
Mestra em Ambiente e Desenvolvimento
com ênfase em Planejamento Urbano

W133d Wagner, Juliana.


Desenho artístico / Juliana Wagner, Carla Andrea Lopes
Allegretti, Diana Scabelo da Costa Pereira da Silva Lemos;
[revisão técnica: Sabrina Assmann Lücke]. – Porto Alegre:
SAGAH, 2017.
168 p. il. ; 22,5 cm

ISBN 978-85-9502-241-6

1. Arquitetura – Desenhos. I. Alegretti, Carla Andrea


Lopes. II. Lemos, Diana Scabelo da Costa Pereira da Silva.
III.Título.

CDU 744.43

Catalogação na publicação: Karin Lorien Menoncin CRB-10/2147

DA_Impressa.indd 2 01/12/2017 10:39:43


Desenho de objetos
tridimensionais
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Diferenciar os materiais básicos, instrumentos e superfícies de desenho.


„„ Escolher a posição mais adequada para desenhar e empunhar o lápis.
„„ Identificar as habilidades para elaboração de desenhos e os elementos
de sua composição.

Introdução
Desenhar é a capacidade de observar e compreender as relações entre
os elementos da composição. Contudo, antes de começar a desenhar, é
preciso escolher o material adequado de desenho.
Neste capítulo você irá conhecer os materiais básicos para desenhar,
além de aprender sobre como a posição do desenhista e a pega do lápis
podem interferir no resultado da composição. Ainda, verá a técnica mais
utilizada no desenho artístico, o desenho de observação, bem como as
cinco habilidades básicas para desenhar.

Materiais e superfícies de desenho


A escolha do material adequado certamente contribui para a confecção de
um bom desenho. Os materiais para desenho podem ser classificados em três
categorias: profissional, universitário e escolar.
Os materiais escolares são especialmente produzidos para serem atóxicos,
e a diferença de manejo entre os materiais profissionais e universitários é
pequena, embora as linhas profissionais sejam mais extensas e duráveis.

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156 Desenho de objetos tridimensionais

Materiais

Grafite

O grafite não era muito usado como instrumento de desenho até 1795, quando
passou a ser fabricado na forma de lápis com corpo de madeira pelo francês
Nicholas Conté. Além da forma de lápis, apresentada na Figura 1, o grafite
também está disponível na forma de bastões retangulares maciços e sem re-
vestimento, conforme você pode observar na Figura 2, lápis cilíndricos “sem
madeira” e em pó, podendo ser aplicada diretamente à superfície do desenho.
Os grafites são classificados pela sua dureza, do mais macio, que resulta na
cor preta e é classificado como B, ao mais duro, que resulta em um acinzentado
e é classificado como H.
Escala do grafite mais duro ao mais macio é:

9H > 8H > 7H > 6H > 5H > 4H > 3H > 2H > H > HB > B >
2B > 3B > 4B > 5B > 6B > 7B > 8B > 9B

Para rafes, desenhos e projetos a mão livre, recomenda-se o uso de lápis


macio do tipo B.

Figura 1. Lápis.
Fonte: Xiuxia Huang/Shutterstock.com.

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Desenho de objetos tridimensionais 157

Figura 2. Grafite em barra.


Fonte: Shoptime (c2017).

Carvão vegetal

O carvão é considerado o mais antigo instrumento de desenho e é, atualmente,


comercializado em duas formas: carvão vegetal e carvão comprimido.
O carvão vegetal em barra, veja exemplo na Figura 3, é feito com o car-
bono seco que sobra após a queima da madeira. A barra de carvão vegetal
de melhor qualidade é o carvão de videira, um material seco e farelento que
borra facilmente e necessita de fixador para aderir ao papel.
Já o carvão comprimido, em forma de lápis, também apresentado na Figura
3, é um instrumento de desenho mais versátil, feito de carvão vegetal em pó
misturado com aglutinante. O aglutinante ajuda na aderência do pigmento à
superfície do papel e enriquece a cor preta.

Figura 3. Carvão vegetal e carvão comprimido.


Fonte: Burhan Bunardi/Shutterstock.com.

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158 Desenho de objetos tridimensionais

Superfícies
O sistema moderno de formatos de papel International Organization for Stan-
dardization (ISO) se baseia em uma observação feita pelo professor de física
alemão Georg Christoph Lichtenberg que, em 1786, percebeu as vantagens
de os tamanhos de papel terem uma razão entre altura e largura, ou seja, um
papel com a razão de Lichtenberg mantém sua proporção quando é cortado
pela metade. No sistema ISO os formatos vão de A4 até A0.

Tamanho

O tamanho padrão dos papéis varia de A0 a A8, veja os diferentes tamanhos


de papéis conforme sua classificação:

A0 – 84,0 × 118,8 cm
A1 – 59,4 × 84,0 cm
A2 – 42,0 × 59,4 cm
A3 – 29,7 × 42,0 cm
A4 – 21,0 × 29,7 cm

A Figura 4 apresenta um modelo para que você tenha ideia de proporção


entre os diferentes tamanhos de papel.

Figura 4. Tamanhos de papel.

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Desenho de objetos tridimensionais 159

Além da série de tamanhos A, existem tamanhos intermediários, da série


B e C, que são utilizados para envelopes. O Canadá e os Estados Unidos são
os únicos países industrializados que não utilizam o sistema ISO.

Você pode saber mais sobre as séries, formatos e usos dos variados tamanhos de papel
no livro Fundamentos de Design Criativo (AMBROSE; HARRIS, 2012).

Fibra

Os papéis mais comuns são fabricados com fibras de madeira, já os mais


nobres com fibras de algodão puro. Papéis de fibras de algodão são duráveis e
permanentes, ou seja, mantém suas propriedades originais após muitos anos.
Os papéis de fibras de madeira, por sua vez, precisam ser tratados quimica-
mente para obter um PH neutro e evitar o amarelamento e a deterioração.

Gramatura

Refere-se à espessura do papel e é expressa em gramas, portanto, quanto


maior for a gramatura do papel maior será a sua grossura. As gramaturas
variam comumente entre 90, 120, 180, 210, 240, 320 g/m 2, mas existem outras
gramaturas disponíveis, dependendo da aplicação do papel.

Indicação de uso

Veja as indicações de uso para os diferentes tipos de papel:

„„ Papel sulfite: papel liso, conforme apresentado na Figura 5, utilizado


para esboços.
„„ Papel para técnicas secas: papel liso ou texturizado, ilustrado na Figura 6,
usado para desenhos com grafite, carvão, nanquim, pastel seco e oleoso.
„„ Papel para técnicas úmidas: papel texturizado ou liso, indicado para
técnicas úmidas como aquarela e tinta acrílica.
„„ Papel para marcador: papel de alta-alvura, especialmente desenvolvido
para marcadores.

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160 Desenho de objetos tridimensionais

„„ Papel vegetal: papel liso e translúcido para grafite, marcadores, nan-


quim, etc.

Mecânica do desenho
A posição para desenhar interfere no resultado final do desenho, portanto, o
desenhista deve estar afastado do objeto desenhado cerca de 60 cm – mais
ou menos um braço seu de distância – para obter uma visualização clara do
objeto desenhado.
O desenhista também deve se manter em uma posição fixa, para não perder
o ponto de observação. A posição da mesa, prancheta ou suporte de desenho
deve formar um ângulo de 90° em relação à linha de visão para que o desenho
não se deforme, conforme você pode observar na Figura 5.

Figura 5. Desenho de observação.


Fonte: Curtis (2015, p. 20).

Além da posição correta para desenhar, a pega do lápis pode permitir ou não
uma maior movimentação do instrumento de desenho sobre a superfície do papel

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Desenho de objetos tridimensionais 161

e, desse modo, possibilitar uma maior fluidez e expressão do traçado. Tente uma
empunhadura alternativa, conforme ilustrado na Figura 6, que proporcione um
controle maior sobre a pressão da ponta do instrumento sobre o papel.

Figura 6. Desenho de observação.


Fonte: Curtis (2015, p. 21).

Desenho de observação
O desenho de observação consiste na observação real do objeto tridimensional.
Na técnica de observação in loco, apreendemos do objeto aquilo que é mais
relevante, captamos a sua essência. Nesse processo, contamos com a ajuda
dos posicionamentos corretos do papel e do desenhista e das habilidades de
percepção necessárias para desenhar: percepção das bordas, dos espaços, dos
relacionamentos, de luz e sombra e do todo.
O desenho de observação, além de propiciar o desenvolvimento de seu próprio
traçado, produz um resultado personalizado, bem gestual e muito expressivo em
todos os seus elementos, como as linhas, os preenchimentos, a luz e a sombra.

Cinco habilidades básicas para desenhar


Segundo a autora Betty Edwards (2000), as cinco habilidades básicas para
desenhar são:

1. Percepção das bordas: os contornos dos objetos.

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162 Desenho de objetos tridimensionais

2. Percepção dos espaços: as partes que preenchem os contornos e também


as que ficam fora dele.
3. Percepção dos relacionamentos: as relações entre as partes do mesmo
objeto, entre os objetos da cena ou, ainda, entre as figuras e o fundo,
por exemplo, quando percebemos que a alça da xícara fica centralizada
no seu bojo e que um dos alhos está na frente dos outros três.
4. Percepção de luz e sombra: é a percepção do claro – a parte que fica
mais “para fora” dos objetos, e do escuro – a parte que fica mais “para
dentro” dos objetos.
5. Percepção do todo: é a composição total da cena.

Observe, na Figura 7, essas habilidades básicas em um modelo de desenho.

Figura 7. Habilidades básicas de desenho.


Fonte: KUCO/Shutterstock.com.

Saiba mais sobre técnicas de preenchimento – tonalidade localizada, luz e sombra,


hachura e textura – nos livros Desenho para Arquitetos, de Francis Ching (2012), e Desenho
de Observação, de Brian Curtis (2015).

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Desenho de objetos tridimensionais 163

Evidenciando o elemento compositivo


A partir da técnica de observar, qualquer desenho pode ser construído com
a utilização de linhas, superfícies e volumes, evidenciando mais ou menos o
elemento compositivo, conforme você pode observar nas Figuras 8, 9 e 10.

Figura 8. Desenho de Rembrandt, Pedro ao Leito de Morte de Tabitha (Kupferstichkabinett,


Dresden) evidenciando linhas.
Fonte: Curtis (2015, p. 44).

Figura 9. Georges Seurat, Espetáculo Secundário do Circo (1887-1888, Museu Metropolitano


de Arte de Nova York), evidenciando as superfícies do desenho.
Fonte: Curtis (2015, p. 288).

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164 Desenho de objetos tridimensionais

Figura 10. William Hogarth, Absurdos de Perspectiva, 1754, gravura evidenciando volumes.
Fonte: Curtis (2015, p. 287).

A artista plástica e crítica de arte Fayga Ostrower (2013) em seu livro Universos da Arte
apresenta vários exemplos de arte, arquitetura e design de trabalhos elaborados
utilizando linhas, superfícies e volumes. Certamente, a escolha do material de desenho
adequado, um bom grafite e um papel de qualidade, influenciam de forma positiva
no resultado de uma composição. Porém, um desenho simples, elaborado somente
tendo linhas como seu elemento primário, pode ser muito interessante e valoroso
se for executado em um gesto livre, com um traço próprio e original. Um traçado
personalizado pode ser adquirido com o exercício diário do desenho, experimentando
técnicas e testando materiais.

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Desenho de objetos tridimensionais 165

1. Avalie o desenho de observação de uma cafeteira a seguir e, depois assinale a


alternativa que apresenta o que devemos observar quando avaliamos um desenho
de observação?

a) Observar se as formas elementares do objeto


foram representadas no desenho.
b) Observar se a reprodução do objeto desenhado é fidedigna.
c) Observar se o acabamento do desenho final está perfeito.
d) Observar o fator estético.
e) Observar se as medidas condizentes com a realidade.
2. Observe o desenho de observação de uma cafeteira do tipo italiana, a seguir.
Sobre as cinco habilidades básicas para desenhar relacionadas a esse desenho, é
correto afirmar que:

Fonte: Imagem cedida por Daniela Duarte Alves.


a) a percepção do todo está relacionada com a percepção das bordas, dos espaços,
dos relacionamentos e da luz e sombra, além da proporção do objeto desenhado.
b) as bordas do desenho não interferem na proporção do objeto.
c) a proporção do objeto independe da percepção do todo.
d) a observância dos relacionamentos é irrelevante na percepção do todo.
e) a percepção espaços não alteram a proporção do objeto.

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166 Desenho de objetos tridimensionais

3. O desenho de observação a seguir evidencia qual elemento compositivo?

Fonte: Nuh Ugur Karsli/Shutterstock.com.


a) A Linha. d) O Ritmo.
b) A superfície. e) A assimetria.
c) O volume.
4. Sobre as cinco habilidades básicas para desenhar relacionadas aos desenhos de
observação a seguir, assinale a alternativa que demostra corretamente a percepção
das bordas, espaços, relacionamentos, luz e sombra que o desenho apresenta.
Fonte: adaptada de psynovec/Shutterstock.com

a)

b)

c)

d)

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Desenho de objetos tridimensionais 167

e)
5. O desenho de observação a seguir evidencia, além do elemento compositivo,
um recurso compositivo que o torna interessante visualmente. Que elemento
compositivo e que recurso são esses?

Fonte: babayuka/Shutterstock.com.
a) Linha e profundidade. d) Linha e vazio.
b) Superfície e vazio. e) Superfície e profundidade.
c) Volume e profundidade.

AMBROSE, G.; HARRIS, P. Fundamentos de design criativo: uma introdução abrangente


aos princípios do design criativo, apresentados por meio de explicações detalhadas
e ilustrados com exemplos do design contemporâneo. 2. ed. Porto Alegre: Bookman,
2012.
CHING, F. Desenho para arquitetos. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2012.
CURTIS, B. Desenho de observação. 2. ed. Porto Alegre: McGraw-Hill, 2015.
EDWARDS, B. Desenhando com o lado direito do cérebro. Rio de Janeiro: Ediouro, 2000.
OSTROWER, F. Universos da arte. Campinas: Unicamp, 2013.
SHOPTIME. Grafite em barra Caran D’ache Grafcube 015 mm 6b 0782.256. Rio de Janeiro,
c2017. Disponível em: <https://goo.gl/ACcczb>. Acesso em: 22 nov. 2017

Leitura recomendada
OCVIRK, O. G. et al. Fundamentos de arte. 12. ed. Porto Alegre: AMGH, 2014.

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168 Gabaritos

Gabaritos

Para ver as respostas de todos os exercícios deste


livro, acesse o link abaixo ou utilize o código QR
ao lado.

https://goo.gl/3EzCQx

DA_Gabaritos.indd 168 01/12/2017 17:08:44


Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para
esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual
da Instituição, você encontra a obra na íntegra.
Conteúdo:
REPRESENTAÇÃO
GRÁFICA

Sílvia Eidt Monteiro


Instrumentos de
representação gráfica
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Identificar os instrumentos de representação gráfica.


„„ Descrever a utilização dos instrumentos para os desenhos.
„„ Praticar a representação gráfica com o uso dos instrumentos.

Introdução
Embora os avanços tecnológicos tenham alterado significativamente o
processo de desenho, os padrões para representar graficamente projetos
seguem as mesmas diretrizes do processo manual. Por isso, é fundamental
você conhecer o desenho à mão antes de utilizar as ferramentas digitais.
Para desenvolver um desenho técnico manual, você precisa conhecer
as ferramentas existentes. Assim, vai conseguir representar graficamente
uma ideia por meio de plantas, cortes, vistas, perspectivas, detalhamento,
etc. A correta representação gráfica de um projeto é importante para a
sua legibilidade, bem como para a compreensão do cliente e de quem
vai executar o que foi planejado.
Neste capítulo, você vai conhecer os materiais utilizados para traçar
linhas, os instrumentos existentes para guiá-las e as superfícies adequa-
das para receber o desenho. Também vai aprender a manusear esses
instrumentos para produzir elementos gráficos em superfícies de papel
e ver como praticar a representação.
2 Instrumentos de representação gráfica

Instrumentos de representação gráfica


Para começar o estudo deste capítulo, é recomendável que você se faça uma
pergunta: o que é representação gráfica? Para Ching e Juroszek (2001), re-
presentação gráfica é o ato de desenhar como processo ou técnica de
representação de algo — um objeto, uma cena ou uma ideia — por meio de
linhas em uma superfície. Podem ser desenhos de apresentação, utilizados
para persuadir o observador quanto aos méritos de uma proposta, ou ainda
podem ser desenhos construtivos ou de detalhamento, que geram instruções
gráficas para a execução de projetos.
Partindo dessa definição, você pode perceber que a linha é o elemento
inerente a todo tipo de desenho. A representação gráfica se baseia no poder
de uma composição de linhas para transmitir uma ideia. Embora as ferramen-
tas digitais possam aprimorar as técnicas tradicionais, o processo tátil de se
desenhar no papel é o meio mais sensível para você aprender a linguagem
gráfica (CHING, 2017).
Por isso, você vai ver inicialmente os instrumentos utilizados para traçar
linhas e composições. Depois, vai conhecer os instrumentos de apoio ao
desenho e os papéis mais adequados a cada caso.

Instrumentos para o desenho — traço e composição


O lápis é um ótimo aliado para o desenho à mão livre, pois a espessura da mina
do grafite varia durante o uso e o traço se modifica conforme a pressão aplicada.
O lápis precisa ser apontado, é relativamente barato e indicado para croquis.
Já a lapiseira é indicada para o desenho técnico. Cada lapiseira aceita uma
espessura de mina de grafite que varia de 0,3 mm a 2 mm. As minas de grafite
de até 0,9 mm não precisam ser apontadas e mantêm uma precisão maior
quanto à espessura do traço, conferindo uniformidade à linha. No desenho
técnico, são utilizadas lapiseiras com espessuras variadas para representar
os diferentes elementos do projeto (CHING, 2017).

Tanto nos lápis como nas lapiseiras, as minas de grafite variam entre 9H (extremamente
duras) a 6B (extremamente macias). Para traços mais fortes e grossos, utilize minas mais
macias. Já para traços mais leves e finos, utilize minas mais duras.
Instrumentos de representação gráfica 3

A caneta bico de pena é a precursora de todas as canetas. Possui ponta


metálica com um orifício ligado à ponta por um recorte, que serve de canaleta
para a tinta escorrer aos poucos, conforme o uso. Você deve mergulhar a caneta
na tinta nanquim para usá-la. A evolução dessa caneta é a caneta-tinteiro.
Ela possui um reservatório interno para uma tinta à base de água, alimentada
por uma ponta de metal, por capilaridade. Ambas são muito interessantes
para a caligrafia artística, já que o traço varia conforme a pressão exercida
(CHING, 2017).
A caneta nanquim possui uma ponta tubular e é ideal para a representação
de projetos, pois produz uma linha precisa e uniforme, sem a necessidade de
aplicar pressão. A caneta nanquim clássica é recarregável, utiliza tinta à base
de água e possui espessuras que variam entre 0,1 mm e 2 mm. Já existem no
mercado várias marcas de canetas nanquim descartáveis, que não precisam ser
recarregadas e limpas após o uso, com as mais variadas espessuras. O traço
dessas canetas pode ser apagado em papel vegetal (CHING, 2017).
Há outras canetas mais conhecidas e amplamente utilizadas no dia a dia. A
caneta esferográfica é hoje a mais popular para a escrita cotidiana. Ela desliza
facilmente devido à sua tinta à base de óleo, sendo ideal para uso prolongado.
A evolução da esferográfica é a caneta roller-ball. Sua tinta líquida à base de
água tem melhor absorção pelo papel. A caneta à gel, como o próprio nome
diz, possui uma tinta espessa e opaca, com pigmento suspenso em um gel à
base de água. Já a caneta hidrográfica possui a ponta de feltro com os mais
variados formatos para trabalhos artísticos (CHING, 2017).
Inúmeras são as maneiras de colorir um desenho. Entre elas: lápis de cor,
caneta hidrográfica, aquarela e giz pastel. O lápis de cor mais adequado
é o aquarelável, que confere homogeneidade maior à superfície da pintura.
Existem canetas hidrográficas coloridas com várias pontas que se adequam
a cada necessidade: ponta chanfrada, em pincel, etc. A aquarela é a maneira
mais tradicional de pintura com o uso de pincel. O giz pastel pode ser utilizado
direto no papel ou espalhado com os dedos (DOYLE, 2007).

Instrumentos de apoio ao desenho


A régua T e a régua paralela são utilizadas juntamente à mesa de desenho
— que deve ser de material liso e bem-acabado — para traços paralelos e para
apoiar os esquadros e demais instrumentos. Ambas possuem funcionamento
semelhante. A régua T, embora de grande dimensão, é portátil. Ela possui
uma barra transversal que desliza ao longo de um apoio encaixado na borda
4 Instrumentos de representação gráfica

da mesa. Já a régua paralela é fixa à mesa por meio de um sistema de cabos


e roldanas, que permite a ela deslizar livre e paralelamente à superfície
(CHING, 2017).
Os esquadros, assim como as réguas, são instrumentos fundamentais para
o desenho técnico. São utilizados para apoiar o traçado de linhas verticais
e linhas em ângulos específicos. Recomenda-se a utilização de um jogo
composto por dois esquadros, de material transparente, um de 45°–45° e
outro de 30º–60º. Existe também um tipo de esquadro que é regulável por
meio de um braço móvel, porém ele não é tão utilizado quanto os clássicos
(CHING, 2017).
O escalímetro é essencial para você fazer medições com precisão e deixar
o desenho em escala. O mais conhecido tem o formato triangular e seis lados
com seis escalas. O escalímetro de arquitetura possui as seguintes escalas:
1:20, 1:25, 1:50, 1:75, 1:100 e 1:125. Serve somente para marcações e não para
apoiar o traçado, como os esquadros e réguas. O transferidor é normalmente
composto de material transparente e também serve somente para marcação,
porém de ângulos (CHING, 2017).
Para círculos, formas geométricas e curvas, você pode utilizar o compasso,
os gabaritos e a curva francesa. O compasso é fundamental para desenhar
círculos. Ele possui uma ponta metálica que marca o centro do círculo e, na
outra extremidade, possui um local para fixar o grafite, a lapiseira ou a caneta,
dependendo do modelo. Os gabaritos são compostos de material transparente
com aberturas vazadas para guiar o traçado de formas predeterminadas, como
círculos e outras formas geométricas. Já a curva francesa é um instrumento
utilizado para guiar o traço de curvas irregulares (CHING, 2017).
Outros materiais muito utilizados são a borracha, para apagar os erros, e
os pincéis ou escovas, para “varrer” os restos de grafite e borracha de cima do
desenho sem esfregar e borrar. Para apagar a tinta nanquim do papel vegetal,
há um líquido especial que deve ser usado em pouca quantidade para não
amolecer o papel demasiadamente.

Superfícies de desenho — tipos de papel


Os papéis transparentes são ideais para sobreposições e permitem fazer cópias
e correspondências entre desenhos. Para o desenho técnico, os mais utilizados
são o papel vegetal e o papel manteiga, que possuem variações na transpa-
rência e na qualidade de acabamento. Você deve escolhê-los de acordo com
a finalidade de uso.
Instrumentos de representação gráfica 5

O papel manteiga é mais barato, mas rasga mais facilmente com minas de
grafite mais duras. Assim, é mais utilizado para croquis e estudos simples.
O papel vegetal possui uma transparência mais nítida, é mais espesso, mais
resistente, permite raspagens e correções. Por isso, é utilizado para entregas
finais de projeto.
O papel pode, ainda, ser fabricado com fibras de algodão ou com fibras
de madeira, ambas com boa durabilidade. São comercializados por diferentes
marcas comerciais e em diferentes gramaturas — que significa o peso de
uma folha de 1 m² expresso em gramas —, com superfícies lisas ou rugosas
(CHING, 2017).
Para o desenho técnico, prefira papéis lisos com gramatura média, de
maneira a permitir que o papel seja enrolado ou dobrado. Todos esses papéis
podem ser encontrados em bloco, folha avulsa e rolo.

A textura e a porosidade do papel afetam a sensação de dureza ou maciez de um


grafite. As superfícies porosas absorvem melhor o desenho do que as extremamente
lisas e densas, borrando menos. Já as superfícies mais ásperas, com texturas, tendem
a fazer grafites mais macios borrarem mais.

Como utilizar os instrumentos de desenho


Você sabe como adquirir ou desenvolver sua técnica para utilizar os instru-
mentos de desenho? A habilidade de utilizar esses instrumentos só é adquirida
com a prática contínua. A boa execução vem com muito treino. Por isso, é
fundamental você trabalhar corretamente desde o começo. Aqui, você vai
conhecer as técnicas fundamentais para a representação gráfica por meio dos
instrumentos descritos na seção anterior.
Inicialmente, preste atenção na superfície que vai receber o desenho. O
papel deve estar sempre fixado à mesa de desenho ou à prancheta com fita-
-crepe, fita mágica ou tachas. Não utilize fitas com a cola muito forte ou de
baixa qualidade, pois elas deixam resíduos no papel. Você deve fixar a folha
pensando em não danificá-la na hora da sua retirada. Além disso, a folha deve
6 Instrumentos de representação gráfica

estar alinhada com a régua T ou a régua paralela. Caso contrário, o desenho


ficará torto. Uma boa maneira de evitar isso é sempre iniciar o desenho traçando
primeiro uma margem para a folha, o que obriga você a observar as arestas.
Lembre-se de que a linha é o elemento principal do desenho. Por isso, o
modo como você a desenha merece uma atenção especial. Utilize as lapiseiras
ou as canetas nanquim — que são os instrumentos adequados para o desenho
técnico — da maneira mais reta possível, para assim respeitar sua espessura,
o que não acontecerá se os planos forem demasiadamente inclinados. Você
deve desenhar a linha em um único traço, com paciência, sem pressa, em ritmo
constante, exercendo a mesma pressão na quase totalidade de sua extensão,
exceto no início e no fim, em que pode aplicar uma pressão levemente maior.
Assim, evite redesenhar traços sobre os anteriores e apagá-los. Sempre puxe
a caneta ou a lapiseira ao longo do esquadro ou régua, nunca a empurre de
maneira arrastada. O ponto a se visualizar durante o traçado é o ponto de
chegada e não o de partida. As canetas e lapiseiras possuem uma longa ponta
revestida de metal justamente para vencer a espessura do esquadro e da régua
sem manchá-los e deslizar sobre eles (CHING, 2017).
A marcação de uma distância é realizada com o escalímetro apoiado na
régua T ou na régua paralela para as medidas horizontais, e no esquadro para as
medidas verticais. A marcação de uma medida de raio no compasso também
é feita com base no escalímetro apoiado, ou você pode realizar previamente
a marcação do raio no papel. Fixe a ponta metálica do compasso no centro
do raio e gire a outra haste, exercendo certa pressão para desenhar o círculo.
O compasso, os gabaritos e a curva francesa são os instrumentos utilizados
para traçar círculos ou curvas. Já o transferidor não serve para essa finalidade;
serve somente para marcar ângulos (CHING, 2017).
Os esquadros também são apoiados sobre a régua T ou a régua paralela,
deslizando sobre ela. Evite arrastá-los sobre traços recém-feitos para não
borrar — é necessário planejar o desenho. O esquadro deve ser segurado de
maneira firme durante o traçado da linha. Na Figura 1, observe uma forma
de utilização dos esquadros, a sobreposição para compor diferentes ângulos
(CHING, 2017).
Instrumentos de representação gráfica 7

Figura 1. Sobreposição dos esquadros comuns de 45°–45° e 30°–60° para formar ângulos
de 15° e 75°.
Fonte: Ching (2017, p. 26).

Todos os instrumentos devem ser levantados, e não arrastados, para evitar


que borrem o desenho. Pelo mesmo motivo, mantenha as mãos e os equipa-
mentos sempre limpos. Você pode proteger parte da superfície do desenho com
papel manteiga, deixando visível somente a parte em que está trabalhando,
evitando danificá-la.
Para aumentar a vida útil dos instrumentos, os manuseie com o máximo
cuidado possível e os armazene sempre em seus estojos após a limpeza. Nunca
utilize o escalímetro como régua para traçar linhas, pois a ponta metálica da
lapiseira e da caneta estragam o equipamento. Tampouco utilize a borda dos
esquadros e do escalímetro para cortar papel com estilete. Para isso, utilize
uma régua metálica própria para corte.
Você deve considerar ainda a correta iluminação. Ela é fundamental
para evitar o sombreamento causado pela mão do projetista. Seja a ilumi-
nação natural ou artificial, ela deve estar localizada no topo, ou no lado
contrário da mão utilizada para desenho — no caso de destros, deve estar
localizada à esquerda. Luminárias articuladas fixadas à mesa de desenho
permitem posicionar a luz da maneira mais favorável, de acordo com a
necessidade.
8 Instrumentos de representação gráfica

Acesse o link a seguir para assistir a um vídeo sobre o posicionamento do papel na


mesa, o uso correto da régua T, de esquadros, escalímetro e lapiseiras.

https://goo.gl/CfNyJH

Representação gráfica com o uso dos


instrumentos
Agora que você já sabe quais são os instrumentos de representação gráfica e
a forma de utilização de cada um, que tal colocar em prática o que aprendeu?
Aqui, você vai estudar a linguagem do desenho técnico, iniciando por linhas
paralelas e perpendiculares, figuras geométricas e ângulos, linhas curvas e,
por último, desenhos em perspectiva e croqui.
Segundo Ching (2017, p. 6), “[...] o desenho não é simplesmente uma questão
de técnica; é também um ato cognitivo que envolve percepção visual, avaliação
e raciocínio de dimensões e relacionamentos espaciais”. Ou seja, é o desenho
e todo o processo intelectual nele envolvido que levam ao ato projetual.

Linhas paralelas e perpendiculares


Para sugerir profundidade nos desenhos técnicos, as linhas sofrem uma
gradação no traçado em função do plano em que se encontram. As linhas
em primeiro plano, mais próximas do observador, são sempre mais grossas
e escuras. Já as do segundo plano, mais afastadas do observador, são mais
finas e claras.

Pratique conforme a Figura 2. Com lapiseira 0,9 mm, utilize uma mina de grafite mais
macia (a 2B, por exemplo) para traçar a linha de cima. Troque o grafite para o HB e H
para notar a diferença. Para as demais linhas, vá utilizando lapiseiras 0,7 mm, 0,5 mm
e 0,3 mm, alternando entre grafites mais e menos macios.
Instrumentos de representação gráfica 9

No caso da utilização de caneta nanquim, você pode utilizar a 0,9 mm com tinta
de cor preta para desenhar a linha de cima. Vá alternando a espessura das canetas
nanquim utilizadas até a 0,05 para a última linha. Caso deseje o traço mais fino ainda
mais claro, utilize a caneta com tinta cinza.

Figura 2. Gradação no traçado, linhas mais grossas e mais escuras no topo até linhas mais
finas e mais claras.
Fonte: Ching (2017, p. 20).

Pratique também o encontro de duas linhas perpendiculares com lapiseira


e caneta nanquim de diferentes espessuras e durezas de grafite. Essas linhas
devem sempre se tocar no seu encontro, porém sem se passarem demais,
mantendo uma relação lógica do início ao fim do desenho. Lembre-se: as
linhas horizontais são traçadas com régua T ou régua paralela, e as verticais,
com esquadros.
10 Instrumentos de representação gráfica

Figuras geométricas e ângulos


Agora que você já sabe como fazer linhas de diferentes espessuras e tonalidades,
veja, a seguir, uma aplicação dessa diferenciação. Na Figura 3, as linhas mais
claras são chamadas de linhas guias. Elas são essenciais para a construção de
desenhos mais complexos, como o pentágono.

Pratique conforme a Figura 3, utilizando os instrumentos já conhecidos. Com o esca-


límetro, defina uma medida para as laterais do quadrado e trace a linha com o apoio
do esquadro e da régua. Utilize o esquadro de 30°–60° para desenhar o triângulo
equilátero, com ângulos internos de 60°. Utilize o compasso para delimitar as arestas
do pentágono. Não é necessária fórmula matemática para desenhá-lo.
Observe que, para o desenho da figura geométrica, é utilizada uma espessura mais
grossa e escura a fim de realçá-la bem. As linhas guias ficam quase imperceptíveis.

Figura 3. Ilustração de três figuras geométricas comuns: um triângulo equilátero, um


quadrado e um pentágono.
Fonte: Ching (2017, p. 26).
Instrumentos de representação gráfica 11

Linhas curvas
Agora, você vai praticar linhas em forma de arco ou circunferência e retas
em um mesmo desenho. Utilize o mesmo peso na caneta ou lapiseira para as
linhas curvas e as demais linhas que compõem o desenho, pois aqui as curvas
não são somente guias.
Para traçar uma tangente contínua a uma curva, conforme a Figura 4,
desenhe primeiro a curva desejada com o compasso, marque onde a tangente
deve encontrá-la e depois desenhe a linha reta. Isso é importante para evitar
um desenho desencontrado (CHING, 2017).
Para desenhar um arco entre tangentes, utilize linhas paralelas como guias para
determinar o centro do arco, sendo que a distância entre as linhas é o raio desejado.
Já para desenhar dois círculos que sejam tangentes entre si, trace uma linha que
vai do centro de um círculo até o outro, ambos no mesmo eixo (CHING, 2017).

Figura 4. Desenho de linha tangente ao arco, arco entre tangentes e círculos tangentes
entre si.
Fonte: Ching (2017, p. 28).
12 Instrumentos de representação gráfica

Desenho em perspectiva e croqui


Até agora, você utilizou os conhecimentos que adquiriu em representação
gráfica para desenhos em duas dimensões. Na Figura 5, você pode observar
a evolução do desenho em projeção ortogonal — vista bidimensional — à
projeção perspectiva, passando pela projeção oblíqua.

Figura 5. Projeção ortogonal, projeção oblíqua e projeção perspectiva.


Fonte: Ching (2017, p. 30).
Instrumentos de representação gráfica 13

Para praticar o desenho técnico de perspectiva isométrica de um prisma, com a


utilização de prancheta, esquadro e caneta, assista ao vídeo disponível no link a seguir.

https://goo.gl/AHGJpS

Para finalizar este capítulo, mas não menos importante, que tal fazer
uma composição tridimensional à mão livre, utilizando lápis ou lapiseira?
Observe, na Figura 6, a evolução de um croqui em etapas: primeiro, es-
tabeleça uma estrutura para a composição com linhas principais; depois,
aplique textura com tonalidade e sombreamento; por último, adicione os
detalhes significativos.
14 Instrumentos de representação gráfica

Figura 6. Evolução do desenho em croqui.


Fonte: Ching (2001, p. 97).
Instrumentos de representação gráfica 15

1. Inúmeros são os instrumentos à b) Transferidor, para descobrir


venda no mercado para o traçado o ângulo mais aproximado
de linhas. O profissional deve saber do raio interno.
identificar qual é o mais adequado c) Linhas paralelas às tangentes;
para cada situação. Qual é a o encontro delas será
caneta ideal para a representação o centro do arco.
gráfica em um desenho técnico d) Qualquer raio pode ser utilizado.
à mão e bidimensional? e) Régua T e esquadro
a) Esferográfica. para definir o ponto.
b) Nanquim. 4. As diferentes espessuras de linhas e
c) Roller-ball. intensidades de traço servem para
d) Hidrográfica. diferenciar os objetos de acordo
e) Tinteiro. com a distância do observador
2. A representação gráfica se baseia e os materiais que representam.
no poder de uma composição Quais são a espessura de mina de
de linhas para transmitir uma grafite e a dureza mais adequadas
ideia, sendo a linha o item mais para traços grossos e marcados?
básico de um desenho. Quais a) 0,9 mm e 2B.
instrumentos de apoio servem b) 0,9 mm e HB.
para traçar linhas paralelas e c) 0,9 mm e B.
perpendiculares entre si? d) 0,7 mm e 2B.
a) Esquadro e lapiseira. e) 0,7 mm e HB.
b) Régua T e escalímetro. 5. Na representação gráfica, há
c) Caneta e régua paralela. instrumentos que servem de apoio
d) Transferidor e esquadro. ao traçado de linhas retas, de
e) Régua paralela e esquadro. linhas curvas e de circunferências.
3. Por vezes, é necessário compor Por vezes, as linhas possuem
linhas em forma de arco ou inclinação, não são paralelas ou
circunferência e retas em um perpendiculares entre si. Quais dos
mesmo desenho. No caso do instrumentos a seguir podem ser
desenho de um arco entre utilizados para precisar um ângulo?
tangentes, que recurso pode a) Esquadros e transferidor.
ser utilizado para determinar b) Transferidor e gabaritos.
o centro do arco? c) Escalímetro e esquadros.
a) Linhas perpendiculares d) Gabaritos e régua T.
às tangentes. e) Transferidor e escalímetro.
16 Instrumentos de representação gráfica

CHING, F. D. K. Representação Gráfica em Arquitetura. 6. ed. Porto Alegre: Bookmann, 2017.


CHING, F. D. K.; JUROSZEK, S. P. Representação gráfica para desenho e projeto. Barcelona:
Gustavo Gili, 2001.
DOYLE, M. E. Desenho a cores: técnicas de desenho de projeto para arquitetos, paisagistas
e designers de interiores. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2007.

Leitura recomendada
NEUFERT, P.; NEFF, L. Casa, apartamento, jardim. 2. ed. Barcelona: Gustavo Gili, 2008.
Conteúdo:
GEOMETRIA

Cristiane da Silva
Representação de formas
tridimensionais
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Reconhecer a evolução histórica da representação tridimensional,


bem como os conceitos básicos pertinentes aos sistemas de projeção.
„„ Classificar os sistemas de projeção e os tipos de perspectivas.
„„ Desenvolver a habilidade de visualizar e expressar formas e espaços
em três dimensões.

Introdução
A representação de objetos e formas tridimensionais é algo que vem
desde a antiguidade, teve considerável evolução ao logo do tempo e, até
hoje, é um tipo de representação muito importante e rico em detalhes.
Este capítulo tem como propósito ampliar seus conhecimentos no que
diz respeito à representação de formas tridimensionais.
Neste capítulo, você perceberá a importância dos sistemas de pro-
jeção, conhecerá os conceitos básicos e a classificação desses sistemas.
Para além de conceitos, você será convidado a desenvolver a habilidade
de visualizar e expressar formas e espaços em três dimensões.

A representação tridimensional na antiguidade


Embora hoje se reconheça a importância da tridimensionalidade e das represen-
tações em perspectiva, nem sempre foi assim. Na antiguidade, considerava-se
importante o ente representado, mas não a tridimensionalidade. Além disso,
pessoas e objetos eram desenhados de acordo com sua relevância social. Não
havia uma preocupação com o senso de distribuição e equilíbrio, e muitas
pinturas tinham uma aparência achatada. Mais tarde, o Naturalismo grego e
2 Representação de formas tridimensionais

romano suavizaram as formas, mas o traçado com representação tridimensional


ainda não era realizado (SANZI; QUADROS, 2014).
Com a Renascença, grandes transformações no modo de pensar passam a
permear as ideias daqueles que viviam nessa época. As descobertas de Nicolau
Copérnico, as grandes viagens marítimas e a ampliação do conhecimento de-
sencadearam uma nova forma de ver Deus, o homem e o mundo. A busca pelo
conhecimento é uma grande marca do período. O pintor Giotto foi o primeiro
a utilizar empiricamente o desenho de perspectiva em suas pinturas, inspirado
pelo arquiteto Filippo Brunelleschi. Em 1511, o arquiteto Leon Baptista Alberti
publicou seu primeiro desenho de perspectiva, chamado Della Pictura; depois,
vieram Leonardo da Vinci, entre outros que são precursores atualmente no
estudo da perspectiva (SANZI; QUADROS, 2014).
Veja, na Figura 1, o diagrama do experimento de Brunelleschi com
perspectiva.

Figura 1. Experimento de Brunelleschi com perspectiva.


Fonte: Sanzi e Quadros (2014, p. 10).

A Renascença foi um grande marco para a evolução dos desenhos. Vejamos


uma pintura renascentista de Giorgio Vasari, na Figura 2, a seguir.
Representação de formas tridimensionais 3

Figura 2. Pintura renascentista.


Fonte: Sanzi e Quadros (2014, p. 10).

A perspectiva é uma forma de representação muito importante que, como


vimos, teve seus primeiros estudos há muitos anos, na renascença — período
em que houve grandes mudanças e em que a arte, o desenho e a ciência evo-
luíram expressivamente.
Sanzi e Quadros (2014, p. 11) definem perspectiva da seguinte forma:

Perspectiva é um desenho que representa a realidade tridimensional, ou


seja, denota os objetos como os vemos, dando uma ilusão de profundidade.
O desenho de perspectiva é um eficiente instrumento de estudo e avaliação
de produtos. Na arquitetura, permite simular formas, percursos, espaços e
pensar detalhes que ilustrará a concepção de uma edificação.

A perspectiva é muito utilizada no trabalho de arquitetos, engenheiros,


projetistas e desenhistas. Por sua relevância e riqueza em detalhes, contribui
para que o profissional possa expressar suas ideias de forma clara, exempli-
ficando a proposta do projeto ou desenho.
4 Representação de formas tridimensionais

Sistemas de projeção
Entende-se o desenho como uma operação gráfica, onde se utilizam linhas que
ajudam a representar e a compor o objeto. Quando se desenha, representa-se
a realidade em um plano. A essa operação gráfica dá-se o nome de sistemas
de projeção (SANZI; QUADROS, 2014).
Um sistema de projeção é composto por três elementos básicos, que são
os centros de projeção, as linhas projetantes e o plano de projeção. Sanzi e
Quadros (2014) explicam que o centro de projeção é o lugar no espaço de onde
saem as linhas projetantes que interceptam o objeto a ser representado. Já o
plano de projeção é uma superfície ilimitada, onde o objeto projeta-se. Para
entender melhor, vejamos um exemplo na Figura 3, onde temos o desenho da
projeção de um ponto (objeto).

Centro de projeção

Objeto

Projetante

Projeção

Plano de projeção

Figura 3. Sistemas de projeção.


Fonte: Sanzi e Quadros (2014, p. 11).

Vamos conhecer agora os dois tipos de sistemas de projeção: o cônico e


o cilíndrico.
Representação de formas tridimensionais 5

Projeção cônica
Na projeção cônica, as projetantes convergem para o centro de projeção, for-
mando uma superfície semelhante à de um cone. Isso ocorre porque o centro de
projeção está a uma distância finita em relação ao plano de projeção. Vejamos
a Figura 4, que exemplifica uma projeção cônica (SANZI; QUADROS, 2014).

Centro de projeção

Objeto
Projetantes

Projeção Plano de
projeção

Figura 4. Sistema de projeção cônica.


Fonte: Sanzi e Quadros (2014, p. 12).

Projeção cilíndrica
Na projeção cilíndrica, as linhas projetantes são paralelas entre si e, além
disso, o centro de projeção está a uma distância infinita em relação ao plano
de projeção. Vejamos a Figura 5, que exemplifica uma projeção cilíndrica
(SANZI; QUADROS, 2014).
6 Representação de formas tridimensionais

Centro de projeção

Objeto

Projetantes

Projeção Plano de
projeção

Figura 5. Sistema de projeção cilíndrica.


Fonte: Sanzi e Quadros (2014, p. 13).

Você pode saber mais sobre os tipos de projeções cônicas e cilíndricas consultando
o capítulo 1 do livro Desenho de perspectiva (SANZI; QUADROS, 2014).

Tipos de perspectiva
Sanzi e Quadros (2014) explicam que o desenho de perspectiva origina-se de
um sistema de projeções, e os dois tipos de projeções abordadas anteriormente
(cônica e cilíndrica) dão origem a diversos tipos de desenho. Aqui, vamos
observar o desenho de perspectivas paralelas e lineares exatas. Vejamos um
quadro, elaborado por Sanzi e Quadros (2014, p. 14), com os sistemas de
projeção e os tipos de desenho.
Representação de formas tridimensionais 7

Quadro 1. Sistemas de projeção e tipos de desenho.

Sistemas de Cilíndrico Projeções Geometria descritiva


projeção ortogonais
Desenho técnico

Projeções Perspectivas Cavaleira


oblíquas axonométricas
Isométrica

Cônico Perspectiva Visuais dominantes


linear exata
Três escalas

Pontos medidores

Perspectiva de observação

Fonte: Sanzi e Quadros (2014, p. 14).

Sanzi e Quadros (2014) afirmam que, a partir do sistema de projeção


cilíndrico, é possível desenhar uma perspectiva cujas retas projetantes são
paralelas entre si, ou seja, produz-se uma perspectiva paralela. Veja a Figura 6.

Figura 6. Perspectiva paralela.


Fonte: Sanzi e Quadros (2014, p. 16).
8 Representação de formas tridimensionais

Já, se o sistema de projeção utilizado for o cônico, Sanzi e Quadros (2014)


destacam que as retas projetantes serão convergentes e produzirão uma pers-
pectiva linear exata. Veja a Figura 7.

Figura 7. Perspectiva linear exata.


Fonte: Sanzi e Quadros (2014, p. 16).

Representações tridimensionais
Quando se representa um objeto, busca-se demonstrá-lo da forma mais clara
e realista possível. É comum utilizar projeção ortográfica nas representa-
ções, pois, nelas, as linhas de projeção encontram o plano do desenho em
ângulos retos, o que possibilita que se mantenha verdadeira em tamanho,
formato e configuração. Isso evidencia a principal vantagem dos desenhos
de vistas múltiplas, que é a possibilidade de posicionar os pontos de modo
preciso, estimar o comprimento e a inclinação de retas e descrever o formato
e a extensão de planos. Assim, pode-se comunicar as informações gráficas
necessárias à descrição, à pré-fabricação e à execução de um projeto, por
exemplo (CHING, 2012).
Representação de formas tridimensionais 9

Um ponto importante destacado por Ching (2012) é que um único desenho


de vistas múltiplas não expressa perfeitamente um objeto, porque falta a pro-
fundidade, a terceira dimensão fica achatada no desenho. Por isso, somente
com a observação de vistas adicionais será possível um entendimento perfeito.
Isso justifica a necessidade de uma série de vistas distintas e relacionadas para
descrever a natureza tridimensional de uma forma.
Vejamos um exemplo de uma representação de um objeto por meio de uma
projeção ortogonal na Figura 8.

Linhas de
projeção

Desenho Objeto
Plano do
desenho

Figura 8. Projeção ortogonal.


Fonte: Ching (2012, p. 136).

Veja, pela Figura 8, que, para construir uma projeção ortogonal, desenhamos
linhas projetantes paralelas a partir de vários pontos do objeto de modo que
elas incidam perpendicularmente ao plano do desenho. Depois, conectamos
os pontos projetados na ordem adequada para obter a vista do objeto ou da
edificação no plano do desenho. A imagem que resulta no plano do desenho
é chamada de vista ortogonal (CHING, 2012).
10 Representação de formas tridimensionais

Ching (2012) explica que existem duas convenções para regular a relação
entre vistas ortogonais, que são: a) a projeção do primeiro ângulo, em que
colocamos o objeto no primeiro quadrante e o projetamos para trás, como se
projetássemos as sombras das faces internas dos planos do desenho — nesse
caso, são projetados os aspectos do objeto mais próximos do observador; e
b) a projeção do terceiro ângulo, em que o objeto é posicionado no terceiro
quadrante e, uma vez que o plano do desenho encontra-se entre o objeto
e o observador, projetam-se as imagens do objeto para frente do plano do
desenho — nesse caso, desenhamos e vemos as imagens nas faces externas
do plano do desenho.
Podemos encontrar nomenclaturas equivalentes de acordo com o livro que
estivermos consultando. Por isso, cabe destacar que o primeiro quadrante pode
ser entendido como primeiro diedro e, nesse mesmo raciocínio, terceiro qua-
drante pode ser entendido como terceiro diedro — são expressões equivalentes.
Vejamos a Figura 9, que representa os quatro diedros, numerados de um a
quatro no sentido horário, começando com o quadrante superior esquerdo. A
Figura 9b ilustra as projeções do primeiro ângulo, e a Figura 9c, as projeções
do terceiro ângulo (CHING, 2012).

(a) (b) (c)

Figura 9. (a) Quatro diedros. (b) Primeiro ângulo. (c) Terceiro ângulo.
Fonte: Ching (2012, p. 136).

Os planos principais são o horizontal, o frontal e o lateral. Veja o exemplo


desses três planos principais na Figura 10.
Representação de formas tridimensionais 11

Pla
no
ho
rizo
nta
l

sta
Are
Are
sta
Aresta

ral
late
no

Pla
no
Pla

fro
nta
l

Figura 10. Principais planos de projeção.


Fonte: Ching (2012, p. 137).

Ching (2012, p. 148) explica como organizar as vistas para facilitar a leitura
e interpretação de um objeto tridimensional da seguinte forma:

A distribuição mais comum de uma planta e suas elevações constitui na trans-


posição do plano do desenho projetado sobre a caixa transparente em uma
projeção de terceiro ângulo. Depois de cada vista ser projetada, giramos as
vistas, a partir das arestas, sobre um único plano, representado pela superfície
do desenho. A planta, ou vista superior, passa pra cima, no alto do desenho,
e fica verticalmente alinhada com a vista, ou elevação frontal, enquanto a
vista, ou elevação lateral, se alinha ao lado da frontal. O resultado é o conjunto
coerente de vistas ortogonais relacionadas e separadas pelas arestas da caixa
de projeção imaginária.
12 Representação de formas tridimensionais

A Figura 11 demonstra a organização das vistas, conforme mencionado


pelo autor.

Plano horizontal

Aresta

l a
er
lat
no
Pla
Plano frontal
Aresta

Planta

Elevação frontal Elevação lateral

Figura 11. Organização das vistas.


Fonte: Ching (2012, p. 138).
Representação de formas tridimensionais 13

1. Em relação à representação de e) o desenho de perspectiva não


formas e objetos na antiguidade, deve ser considerado como
é correto afirmar que: um instrumento eficiente de
a) sempre houve preocupação estudo e avaliação de produtos.
com o senso de distribuição 3. Sobre os sistemas de projeção,
e equilíbrio nas pinturas é correto afirmar que:
da antiguidade. a) o centro de projeção, um dos
b) na antiguidade, considerava-se elementos básicos de um sistema
importante o ente representado, de projeção, é uma superfície
mas não a tridimensionalidade. limitada onde o objeto se projeta.
c) o naturalismo grego e romano, b) o plano de projeção, um dos
além de suavizar as formas, elementos básicos de um
trouxe a representação sistema de projeção, é o lugar no
tridimensional ao traçado. espaço de onde saem as linhas
d) na antiguidade, o ente projetantes que interceptam
representado era importante, o objeto a ser representado.
mas sua condição social c) são elementos básicos de um
não tinha relevância sistema de projeção: as linhas
para os desenhos. projetantes, as escalas e os
e) desde a antiguidade, antes objetos a serem representados.
mesmo do Renascentismo, d) um sistema de projeção é
considerava-se importante composto por três elementos
a tridimensionalidade. básicos, que são os centros de
2. Sobre perspectiva, é projeção, as linhas projetantes
correto afirmar que: e o plano de projeção.
a) Leonardo da Vinci foi o e) são elementos básicos de um
primeiro a utilizar o desenho de sistema de projeção: os centros
perspectiva em suas pinturas. de projeção, as escalas e os
b) é um tipo de desenho objetos a serem representados.
que foi importante apenas 4. Sobre a projeção cônica,
na antiguidade. é correto afirmar que:
c) é um desenho tridimensional a) na projeção cônica, o centro
que dá uma ideia de ilusão, de projeção está a uma
ou seja, não denota os distância finita em relação
objetos como os vemos. ao plano de projeção.
d) é um desenho que representa b) na projeção cônica, as linhas
a realidade tridimensional, projetantes são paralelas entre si.
ou seja, denota os objetos c) na projeção cônica, o centro
como os vemos, dando uma de projeção está a uma
ilusão de profundidade.
14 Representação de formas tridimensionais

distância infinita em relação gráficas necessárias à


ao plano de projeção. execução de um projeto.
d) na projeção cônica, as b) para representar a profundidade
projetantes convergem para o de uma forma não é
centro de projeção, formando necessária uma série de vistas
uma superfície semelhante distintas e relacionadas.
a um prisma retangular. c) com uma única vista já é
e) a luz de uma vela que intercepta possível descrever a natureza
um objeto e produz sua sombra tridimensional de uma forma.
na parede não pode ser um d) para descrever a natureza
exemplo de projeção cônica. tridimensional de uma forma ou
5. Sobre a representação de objeto, é necessária uma série de
formas tridimensionais, é vistas distintas e relacionadas.
correto afirmar que: e) as projeções ortográficas não
a) embora procurem demonstrar possibilitam manter o verdadeiro
um objeto da forma mais tamanho, formato e configuração
clara e realista possível, não do objeto a ser representado.
podem comunicar informações

CHING, F. D. Desenho para arquitetos. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2012.


SANZI, G.; QUADROS, E.S. Desenho de perspectiva. São Paulo: Érica, 2014. (Série Eixos).
Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para
esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual
da Instituição, você encontra a obra na íntegra.
Conteúdo:
PERSPECTIVA
DE INTERIORES

Marcos Antonio Leite


Frandoloso
UNIDADE 3
Representação gráfica
dos métodos específicos
do desenho tridimensional
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Distinguir desenho tridimensional de desenho bidimensional.


„„ Identificar os métodos dos desenhos tridimensionais.
„„ Explicar a relevância da representação gráfica em desenhos
tridimensionais.

Introdução
A maneira como as pessoas se relacionam com os objetos e os espaços
abertos ou fechados está intimamente ligada ao sentido da visão, pois as
coisas do mundo têm altura, largura e profundidade, as três dimensões.
Neste capítulo, você vai ver as diferentes formas de representar o
processo de criação do projeto de design de interiores. A escolha de uma
representação depende do que você pretende informar ao seu cliente e
às equipes de execução de elementos, como mobiliário e revestimentos.
Como você vai ver, é possível desenvolver desenhos em duas dimen-
sões — altura e largura (bidimensionais) — ou aliar a profundidade para
compor desenhos tridimensionais.
2 Representação gráfica dos métodos específicos do desenho tridimensional

Desenho tridimensional × desenho


bidimensional
As diferentes formas de representação do design de interiores geram aborda-
gens distintas de cada um dos elementos do ambiente a ser projetado. Nesse
sentido, as projeções em duas dimensões (bidimensionais) permitem apresentar
informações para atender a objetivos relacionados com a execução. Isso ocorre
pois essas projeções podem apresentar ao cliente e às equipes de execução
medidas de alturas e larguras, por meio de especificações constantes em
plantas baixas, cortes ou secções e vistas ou elevações.
Por outro lado, os desenhos tridimensionais permitem a visualização desses
ambientes aliando a terceira dimensão, que é a profundidade. Assim, as pers-
pectivas (uma das formas de se fazer essa representação) mostram um edifício
ou um espaço interno de modo mais aproximado daquilo que é percebido pelo
olho humano a partir de determinado ângulo (LEGGIT, 2008, p. 44).
Na Figura 1, você pode ver as diferentes formas de representação bidi-
mensionais e tridimensionais. A tarefa central da arquitetura e do design de
interiores é mostrar as formas, construções e ambientes — que por natureza
são tridimensionais — em uma superfície bidimensional, como o papel ou a
tela de um computador. Autores como Ching (2017, p. 37) e Ching e Bingelli
(2013, p. 71) reforçam essa relação com desenhos de múltiplas vistas, paraline
ou em linhas paralelas e perspectivas, constituindo uma linguagem gráfica
que é governada por um conjunto de regras e princípios.
A forma de desenvolvimento das perspectivas pode ser bastante variada.
Você pode fazer desenhos à mão livre ou croquis, com ou sem o auxílio
de instrumentos como esquadros e escalímetros, ou mesmo por meio de
programas computacionais. A simulação do ambiente poderia ser simpli-
ficada, assemelhando-se a uma fotografia desse ambiente ainda nas etapas
de concepção e projeto, a fim de que se possa mostrar uma aproximação do
resultado ao cliente.
Representação gráfica dos métodos específicos do desenho tridimensional 3

Figura 1. Representações bidimensionais e tridimensionais.


Fonte: Ching (2017, p. 31).

Métodos de desenho tridimensional


De acordo com as necessidades de representação dos objetos e dos ambientes
internos ou externos, são empregadas distintas maneiras de apresentação
gráfica tridimensional. Conforme a classificação de Ching e Bingelli (2013),
além dos desenhos de múltiplas vistas ortogonais, que são as plantas baixas,
cortes e vistas ou elevações, os desenhos tridimensionais do tipo paraline
4 Representação gráfica dos métodos específicos do desenho tridimensional

ou de linhas paralelas utilizam as projeções axonométricas ou oblíquas. Já


as perspectivas adotam um ou mais pontos de fuga. Você pode ver essas
projeções na Figura 2.

Figura 2. Projeções ortogonais, oblíquas e em perspectiva.


Fonte: Ching (2017, p. 30).

Nas projeções ortogonais, as linhas são projetadas paralelamente entre si


e perpendicularmente ao plano do desenho. É necessário preservar o que se
chama de verdadeira grandeza, pois a relação de dimensões em todos os
planos é a mesma, sem apresentar distorções ou escorço.
Nas projeções oblíquas, as linhas projetadas são paralelas entre si, porém
oblíquas ao plano de desenho, como você também pode ver na Figura 1. As
diferenças entre cada um dos sistemas se devem aos distintos ângulos entre
as faces e o plano de desenho:
Representação gráfica dos métodos específicos do desenho tridimensional 5

„„ isométricas, em que os três eixos principais são representados com


ângulos iguais ao do plano de desenho;
„„ dimétricas, em que dois dos três eixos principais estão em ângulos
iguais ao do plano de desenho;
„„ trimétricas, em que os três eixos estão em ângulos diferentes.

Dependendo de cada uma das metodologias e tipos de representações


oblíquas, são aplicados fatores de redução de algumas das projeções. A mais
comum dessas representações axonométricas é a isométrica, pois é uma re-
presentação com todos os ângulos iguais e com a igualdade de medidas. Na
Figura 3, você pode perceber essa aplicação em um conjunto de edifícios e
em uma visão “explodida” ou expandida de elementos de um desses edifícios,
que serve para a identificação de cada um dos componentes do ambiente.

Figura 3. Perspectiva isométrica de uma propriedade rural.


Fonte: Yee (2016, p. 185).

Por outro lado, nas projeções em perspectiva, também chamadas de


perspectivas cônicas, as linhas projetadas convergem de um ponto central
que coincide com o olho do observador. Dessa maneira, elas são uma forma
mais realista de se representar o ambiente construído e a paisagem urbana.
Nelas são aplicados métodos para a redução de dimensões de acordo com as
6 Representação gráfica dos métodos específicos do desenho tridimensional

linhas convergentes. Yee (2016, p. 225) apresenta as vantagens de adotar as


perspectivas de projetos preliminares e croquis à mão livre para demonstrar
forma, escala, textura, iluminação, contornos e sombras, além da organização
espacial. Como representação final, a perspectiva é uma aproximação bastante
fiel do resultado proposto.

A escolha do sistema de representação a ser adotado depende do que você


pretende demostrar no seu projeto. A representação é um ponto de vista, mas
é por meio dela que o cliente pode compreender suas propostas de forma mais
clara e direta.

A importância da representação gráfica em


desenhos tridimensionais
As representações tridimensionais podem ser um recurso valioso para os
profissionais do design de interiores. Elas permitem uma apresentação mais
rápida das intenções projetuais por meio de croquis. Nelas, são perceptíveis
as noções de escala e as proporções do projeto. Afinal, sempre são observadas
relações geométricas nos desenhos e seus componentes, como paredes, pisos
e tetos, no caso de ambientes internos.
Durante a criação do projeto, desde a sua conceituação geral, as repre-
sentações tridimensionais contribuem para a sua viabilização. Contudo, em
um primeiro momento, não há a necessidade de utilizar muitos elementos ou
detalhes. A ideia é auxiliar eficazmente o processo de tomada de decisões,
inicialmente do(s) projetista(s). Com o avanço do processo projetual, o objetivo
é promover a comunicação com os clientes e usuários, geralmente leigos e
sem conhecimentos técnicos de visualização de esquemas e desenhos bidi-
mensionais, como plantas baixas e elevações.
Por meio de perspectivas, é possível desenvolver os elementos verticais e
horizontais e suas associações. Além disso, é possível estudar os efeitos de
cores no ambiente, ampliando ou reduzindo a percepção pelo usuário. Podem
ser feitas representações bidimensionais e tridimensionais para a concepção
de um ambiente e das relações entre espaços adjacentes.
Representação gráfica dos métodos específicos do desenho tridimensional 7

Na Figura 4, os projetistas exploram as relações internas e externas com


o objetivo de atrair os clientes até a loja, inserida em um edifício histórico
atrás de edifícios adjacentes.

Figura 4. Loja Katherine Hamnett em Londres, Foster + Partners, 1987.


Fonte: Higgins (2015, p. 31).

Na Figura 5, os projetistas utilizam a representação em perspectiva oblíqua


para definir a integração entre os elementos e o mobiliário em um dormitório.
8 Representação gráfica dos métodos específicos do desenho tridimensional

Figura 5. Dormitório infantil em Paris, h2O Architects, 2009.


Fonte: Higgins (2015, p. 44).

As imagens que ilustram este capítulo mostram diferentes empregos das represen-
tações tridimensionais. Cabe a você definir em que etapa do processo projetual é
mais importante usá-las e qual é o seu objetivo. Como você viu, é possível utilizá-las
de forma esquemática e manual, em forma de croquis, ou em representações finais,
com a adoção de instrumentos de desenho ou mesmo ferramentas computacionais.
Representação gráfica dos métodos específicos do desenho tridimensional 9

1. A representação axonométrica desenvolvidos pelos profissionais


do tipo isométrica é uma de arquitetura e design de
das mais utilizadas no design interiores. Nesse sentido, o que
de interiores. Qual é a sua é verdadeira grandeza em uma
principal característica? representação bidimensional
a) Todos os ângulos são ou tridimensional?
diferentes uns dos outros. a) É a aplicação de fatores de
b) Dois ângulos são iguais. redução das proporções e
c) Todos os ângulos são iguais. medidas dos elementos.
d) Apresenta a visão do observador b) Consiste em mostrar todos
em um ponto de fuga. os componentes com
e) Os três eixos são diferentes. suas dimensões reais.
2. As representações expandidas c) É a projeção das proporções
são também uma forma de do objeto de acordo com a
apresentar os componentes e sua distância do observador.
elementos do ambiente. Em qual d) Consiste em permitir que
dos tipos elas podem ser melhor o observador escolha seu
classificadas e visualizadas? ponto de vista para perceber
a) Cônica com dois pontos de fuga. o espaço desenhado.
b) Bidimensional ortogonal. e) São as medidas reais do objeto
c) Perspectiva com um representadas segundo a
ponto de fuga. escala de desenho adotada.
d) Oblíqua isométrica. 5. É importante compreender as
e) Obliqua trimétrica. diferenças entre as características
3. A representação gráfica é uma de uma planta baixa e de uma
excelente ferramenta para perspectiva. Qual é o principal
auxiliá-lo no design de interiores. elemento para a diferenciação
Em qual das etapas de projeto entre os desenhos bidimensionais
as perspectivas manuais podem e tridimensionais?
contribuir para demostrar as a) A localização do observador
intenções gerais do ambiente? em relação ao plano
a) Na etapa de apresentação de desenho.
para o cliente. b) As plantas baixas apresentam
b) Na etapa de criação distorções de proporções
e conceituação. entre os seus elementos,
c) Nas etapas de criação e enquanto as perspectivas
desenvolvimento da proposta. sempre são representadas
d) Em todas as etapas. em verdadeira grandeza.
e) Apenas na conceituação inicial. c) A etapa de desenvolvimento do
4. Os desenhos são uma simulação processo de projeto de design
dos objetos e ambientes de interiores a ser adotada.
10 Representação gráfica dos métodos específicos do desenho tridimensional

d) A forma como as projeções e) O modo como as linhas axiais


do objeto são representadas do objeto representado são
no plano de desenho. percebidas pelo observador.

CHING, F. D. K.; BINGGELI, C. Arquitetura de interiores ilustrada. 3. ed. Porto Alegre: Book-
man, 2013.
CHING, F. D. K. Representação gráfica em arquitetura. 6. ed. Porto Alegre: Bookman, 2017.
FERNANDO, P. H. L. et al. Desenho de perspectiva. Porto Alegre: Sagah, 2018.
HIGGINS, I. Planejar espaços para o design de interiores. São Paulo: GG, 2015.
LEGGITT, J. Desenho de arquitetura: técnicas e atalhos que usam a tecnologia. Porto
Alegre: Bookman, 2008.
YEE, R. Desenho arquitetônico: um compêndio visual de tipos e métodos. 4. ed. Rio de
Janeiro: LTC, 2016.

Leituras recomendadas
CHING, F. D. K. Desenho para arquitetos. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2012.
DOMINGUEZ, F. Croquis e perspectivas. Porto Alegre: Masquatro, 2011.
GALESSO, L. Como desenhar perspectiva: aprenda a desenhar #3. ABRA — Escola de
Arte, 17 maio 2013. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=15RNlEtXuko>.
Acesso em: 11nov. 2018.
KUBBA, S. A. A. Desenho técnico para construção. Porto Alegre: Bookman, 2014.
QUADROS, E. S.; SANZI, G. Desenho de perspectiva. São Paulo: Érica, 2014.
Conteúdo:
MODELAGEM
DIGITAL

Gabriel Lima Giambastiani


Modelagem digital básica
para representação
tridimensional
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Descrever os tipos básicos de modelagem tridimensional.


„„ Identificar as ferramentas de modelagem digital para a representação
de objetos tridimensionais.
„„ Usar técnicas de modelagem para a criação de objetos e ambientes
em três dimensões.

Introdução
A modelagem tridimensional é uma técnica utilizada para a representação
de um objeto em três dimensões. Essa modelagem pode ocorrer tanto
em um ambiente real, como é o caso das maquetes físicas, quanto em um
ambiente virtual. É desta última abordagem que este capítulo se ocupará.
A evolução da computação pessoal e a diminuição do custo de ar-
mazenamento e processamento possibilitaram o desenvolvimento de
ferramentas para a construção de modelos complexos em ambientes
computacionais. Dessa forma, artistas, arquitetos, designers e engenheiros
dispõem de um grande número de ferramentas para modelar e repre-
sentar suas criações.
Neste capítulo, você irá reconhecer os tipos básicos de modelagem
tridimensional e as diferenças entre as ferramentas disponíveis no mer-
cado. Além disso, você verá exemplos de como aplicar esses conceitos
à criação de seus próprios modelos.
2 Modelagem digital básica para representação tridimensional

Tipos de modelagem tridimensional


Segundo Ching (2015), o principal objetivo do desenho de arquitetura é re-
presentar formas, construções e ambientes tridimensionais em uma superfície
bidimensional. Já na modelagem tridimensional, o modelo do objeto represen-
tado é desenvolvido em um ambiente tridimensional, que pode ser tanto real
quanto virtual. A modelagem tridimensional em um ambiente real é o caso
das maquetes físicas, em que utilizamos materiais como papel, isopor, argila
e plástico para criar um modelo (mobiliário, edificações, espaços internos).
Este processo costuma ser feito em escalas reduzidas.
Existe, também, a modelagem desenvolvida em um ambiente virtual, utili-
zando programas especializados. Nesse caso, o desenho se aproxima bastante
do desenho em duas dimensões, pois manipulamos uma representação de um
ambiente tridimensional em uma tela.
Há uma grande variedade de programas para modelagem tridimensional no
mercado, desde programas proprietários (3ds Max, Autodesk Inventor, Auto-
desk Maya, Autodesk Softimage, Cinema 4D, Gmax, Lightwave, MicroStation,
Rhinoceros 3D, SketchUp, Solidworks, ZBrush) até opções de software livre
(Art of Illusion, Blender, CB Model Pro, KPovModeler, Metasequoia, POV-Ray,
Wings 3D). Apesar desta variedade, tais programas compartilham princípios
em comum. Portanto, é importante compreender os fundamentos básicos da
modelagem tridimensional, independente da ferramenta escolhida.

Software proprietário é aquele em que o proprietário restringe a redistribuição, cópia e


modificação do programa. Um exemplo de software proprietário é o pacote Microsoft
Office e seus componentes (PowerPoint, Excel, Word).
Software livre é aquele que é disponibilizado para ser usado, copiado, modificado
e redistribuído livremente. Contudo, um software livre pode ser gratuito ou pago.
Um exemplo de software livre é o Libre Office, com ferramentas semelhantes às do
pacote Microsoft.
Modelagem digital básica para representação tridimensional 3

Coward (2019) divide os programas de modelagem tridimensional em mo-


delagem poligonal e modelagem paramétrica. Segundo o autor, os programas
de modelagem paramétrica são comumente utilizados na engenharia, enquanto
os programas de modelagem poligonal são voltados para a área de artes. Essas
categorias, no entanto, acabam se sobrepondo com frequência, motivo pelo qual
essa distinção tem mais relevância a título de compreensão dos fundamentos
da modelagem tridimensional do que em uma aplicação prática.

Modelagem poligonal
A modelagem poligonal (polygonal modeling, também chamada de mesh
modeling) consiste na manipulação de uma malha, isto é, um conjunto de
vértices, arestas e faces que definem a forma de um objeto poliédrico. Este, por
sua vez, é um sólido de três dimensões com faces poligonais planas, arestas
retas e vértices acentuados. A palavra poliedro (πολύεδρον) tem origem grega
e resulta da junção entre “poli” (πολύς, “muitas”) e “hedra” (ἕδρα, “faces”).
A Figura 1 ilustra um golfinho feito em malha poligonal.

Figura 1. Exemplo de malha poligonal representando um golfinho.


Fonte: Chrschn (2007, documento on-line).
4 Modelagem digital básica para representação tridimensional

Na modelagem poligonal, o usuário trabalha como um escultor, manipu-


lando a matéria prima, subdividindo, aprofundando e extrudando, até chegar
ao resultado pretendido. Nesse tipo de modelo, a precisão das medidas não é
tão importante quanto o resultado obtido. Imagine que você deseja modelar
um golfinho, como no exemplo da Figura 1. A dimensão exata da nadadeira
do golfinho não é tão importante quanto a configuração do conjunto. Cabe a
ressalva, no entanto, de que esse tipo de modelagem pode ser utilizado para
representar projetos de arquitetura e engenharia, casos em que a precisão é
imprescindível.

Veja, no link a seguir, como o software Zbrush é utilizado para o desenvolvimento de


personagens e cenários e como passou a fazer parte da indústria do entretenimento.

https://qrgo.page.link/M5fu1

A modelagem poligonal atingiu um alto grau de desenvolvimento técnico,


proporcionando que os personagens, objetos e cenários desenvolvidos com essa
técnica sejam utilizados em indústrias como as de vídeo games, marketing e
cinema. Além disso, o potencial artístico dessa técnica não deve ser desprezado,
como demonstram os trabalhos do artista Ian Spriggs, na Figura 2.
Modelagem digital básica para representação tridimensional 5

Figura 2. Retrato de Geoff Anderson. Imagem produzida pelo artista Ian Spriggs.
Fonte: Spriggs (2019, documento on-line).

Modelagem paramétrica
A primeira geração de programas de desenho para computador remonta à
década de 1950 (SCHILLING; SHIH, 2015). Aqueles primeiros programas
podiam ser comparados a equivalentes digitais de pranchetas de desenho.
O desenvolvimento da computação pessoal e a diminuição do custo de arma-
zenamento e processamento foram fundamentais para a evolução do desenho
assistido por computador, em inglês, computer aided design (CAD), favore-
cendo a criação de verdadeiros modelos digitais. A modelagem paramétrica
e a indústria da construção se beneficiariam dessa evolução.
6 Modelagem digital básica para representação tridimensional

Em um software de modelagem paramétrica, dimensões e outras caracterís-


ticas do objeto são definidas por variáveis, também chamadas de parâmetros.
Suponhamos que você deseja modelar uma caixa. A largura, a profundidade
e a altura dessa caixa são parâmetros, assim como sua origem, isto é, o ponto
de referência para a criação do objeto.
Trazendo este exemplo para a área da arquitetura, a altura de uma parede
é considerada um parâmetro. Assim, podemos alterar esse valor diretamente
em programas de modelagem específicos para arquitetura e a altura do objeto
parede será ajustada para a nova dimensão. A Figura 3 apresenta uma imagem
da interface do software Archicad. No modelo está selecionada uma parede
e é possível visualizar a caixa de diálogo em que informações como largura,
altura, materiais e componentes podem ser ajustadas.

Figura 3. Interface do software Archicad, programa de modelagem BIM para arquitetura.


Modelagem digital básica para representação tridimensional 7

Como já mencionado, as técnicas de modelagem paramétrica e modelagem


poligonal podem se sobrepor, uma vez que muitos programas possibilitam
manipular o modelo de maneira paramétrica ou modificando a malha poligonal
diretamente.

Ferramentas de modelagem digital


Todo trabalho de modelagem envolve, em maior ou menor grau, um processo
de abstração. Abstrair deriva do verbo latino trahere, que significa divergir,
separar algo de sua totalidade. Visto que a modelagem é uma operação analítica,
na medida em que se separa algo mentalmente em partes, esta é, também, um
trabalho de abstração (GIAMBASTIANI, 2018). Dessa forma, a pessoa que
modela deve, primeiramente, imaginar aquilo que deseja criar para, então, usar
as ferramentas disponibilizadas pelo software de modelagem para representar
aquilo que imaginou. No entanto, esse processo se retroalimenta, uma vez que,
ao elaborar um modelo, você pode perceber que a solução imaginada não era
a melhor, refinando a imagem mental que tinha anteriormente, que servirá
de base para uma nova versão ou modificação do modelo que deu origem à
revisão. Esse preâmbulo serve para salientar a importância do planejamento
no processo de modelagem. É importante que você pesquise referências do
objeto ou espaço que deseja modelar, assim como é igualmente importante
ter uma ideia clara do modelo que deseja construir, ainda que essa ideia sofra
correções ao longo do caminho.
A maioria dos programas de modelagem oferece uma série de ferramen-
tas, que serão os blocos básicos de construção de geometria, as geometrias
primitivas (O’CONNOR, 2015). Esses objetos serão o ponto de partida para a
construção de formas mais elaboradas. Não importa o grau de complexidade
da forma, esta será o resultado de um conjunto de operações realizadas sobre
uma geometria primitiva.
8 Modelagem digital básica para representação tridimensional

Quais são estas geometrias primitivas? Isso pode variar, de acordo com o
modelador utilizado. São comuns formas geométricas básicas como a linha,
o círculo, o paralelepípedo e a esfera. O software SketchUp, por exemplo,
apresenta a ferramenta retângulo, ilustrada na Figura 4. Com ela é possível
criar um retângulo em qualquer um dos planos de um espaço tridimensional.
Na Figura 4, um retângulo de lados iguais foi criado no plano XY. Esse pri-
mitivo pode ser modificado (cortado, dividido, subtraído, extrudado) para a
criação de novas formas.

Figura 4. Primitivo retângulo criado no software SketchUp.

Uma das modificações mais comuns na criação de modelos 3D é a extrusão.


Extrusão é um processo mecânico em que um material, comumente metal ou
plástico, tem sua passagem forçada através de uma matriz. Ao final, o material
adquire a forma da matriz pela qual foi forçado.
Modelagem digital básica para representação tridimensional 9

Na modelagem tridimensional, uma forma pode ser extrudada no sentido


de um eixo ou obedecendo a um caminho. Veja, na Figura 5, o retângulo da
Figura 4 modificado (processos de subtração) e extrudado no sentido do eixo
Z. O resultado é um volume, ou sólido, criado a partir do retângulo primitivo.

Figura 5. Extrusão de face no sentido do eixo Z.

Observe que as operações descritas foram feitas a partir de alterações


diretas no objeto (retângulo, subtrações, extrusão). Se fosse necessário al-
terar a dimensão do retângulo original, não seria possível fazê-lo mantendo
as alterações posteriores, pois seria necessário criar um novo retângulo e
refazer os processos. Para resolver esse problema, alguns programas como
o Rhinoceros possibilitam que você modele a partir de parâmetros. Veja, na
Figura 6, que as caixas mostradas à esquerda orientam o programa a criar uma
caixa (geometria primitiva) e dois parâmetros controlam a dimensão da base
e a altura do objeto criado. Se for necessário alterar as dimensões da base,
o modelador pode alterar o valor associado a esse parâmetro e o modelo é
atualizado para a nova dimensão. Esse exemplo evidencia as diferenças entre a
modelagem poligonal, no primeiro exemplo, com o uso da ferramenta SketchUp,
e a paramétrica, neste segundo exemplo, utilizando o software Rhinoceros.
10 Modelagem digital básica para representação tridimensional

Figura 6. Controle da forma a partir de parâmetros modificáveis, utilizando o software


Rhinoceros.

O portal Archdaily publicou uma lista com os melhores e mais populares programas para
arquitetura. Dentre eles, estão alguns modeladores, como 3D Studio Max, Rhinoceros,
SketchUp. Veja esta lista no link a seguir.

https://qrgo.page.link/DBb9L

Aplicação das técnicas de modelagem para


ambientes e objetos
Agora que você conhece as principais técnicas de modelagem e as diferenças
entre elas, iremos usar este conhecimento para modelar uma sala simples,
com uma janela e uma porta, conforme mostra a Figura 7.
Modelagem digital básica para representação tridimensional 11

Figura 7. Planta do espaço a ser construído.

A representação de projetos de arquitetura, design de interiores e objetos deve ser


precisa. Portanto, preste atenção à qualidade e à precisão dos desenhos que você
utilizará como base para criar seu modelo tridimensional. Uma boa prática consiste
em "limpar" o arquivo que servirá de base para a criação do modelo: remova objetos
duplicados, linhas sobrepostas, confira medidas duvidosas, etc.

Como dito anteriormente, toda a forma, por mais complexa que seja, é criada
a partir de uma geometria primitiva. Em nosso exemplo, poderíamos começar
com um quadrado de 3 m de lado, seguido de um deslocamento com o valor da
espessura da parede — usaremos 15 cm neste exemplo. Após o deslocamento,
poderíamos executar uma extrusão com a altura do ambiente — usaremos 3 m
neste exemplo. O resultado seria algo aproximado à imagem da Figura 8.
12 Modelagem digital básica para representação tridimensional

Figura 8. Resultado das primeiras operações com os objetos primitivos.

A seguir, poderíamos trabalhar nas aberturas. A partir da planta é possível


perceber que tanto a porta quanto a janela estão posicionadas no centro das
paredes correspondentes. A Figura 9 ilustra como se chega a um mesmo resultado
por caminhos diferentes na modelagem. Na primeira imagem, à esquerda, os
vãos da porta e da janela foram modelados a partir de operações subtrativas;
na segunda, à direita, os vão são o resultado de uma soma de duas caixas, uma
formando a parede e, outra, a verga, no caso da porta. Para a janela, duas caixas
formam a verga e o parapeito, sendo o espaço da janela o vão entre as duas.

Figura 9. Diferentes maneiras de modelar os vão de portas e janelas.


Modelagem digital básica para representação tridimensional 13

Agora, suponha que você deve modelar um ambiente complexo, com


muitos móveis, objetos e acabamentos. A tarefa exigiria um grande esforço,
caso você tivesse que modelar todos os objetos. Por isso é bastante prático
utilizar modelos criados previamente por terceiros na composição de seus
modelos. Há muitos profissionais que se dedicam a criar modelos fiéis de
peças famosas de mobiliário, além de marcas de materiais construtivos que
disponibilizam versões digitais de seus produtos para que arquitetos e desig-
ners especifiquem-nos em suas criações. Em nosso exemplo, utilizaremos
componentes prontos para a porta e a janela. A Figura 10 ilustra o resultado
da adição de componentes prontos.

Figura 10. Adição de componentes prontos: porta e janela.

O exemplo da porta e da janela ilustra a importância de se montar uma


biblioteca com os modelos mais utilizados em sua área de atuação. Com o
tempo, o esforço de acumular bons modelos representa um ganho significativo
em produtividade.
14 Modelagem digital básica para representação tridimensional

Observe como, em poucos passos, é possível criar um modelo elaborado a


partir de formas simples. Se quiséssemos, poderíamos seguir incrementando
o modelo da sala com mobiliário, acabamentos, objetos de ambientação, etc.

CHING, F. D. K. Architectural graphics. 6th ed. Hoboken: John Wiley & Sons, 2015.
CHRSCHN. Dolphin triangle mesh. 2007. Disponível em: https://en.wikipedia.org/wiki/
File:Dolphin_triangle_mesh.png. Acesso em: 27 nov. 2019.
COWARD, C. A beginner's guide to 3D modelling: a guide to Autodesk Fusion 360. San
Francisco: No Starch, 2019.
GIAMBASTIANI, G. Sistemacidade em arquitetura: conceito de sistematicidade em ar-
quitetura em três projetos escolares: Affonso Eduardo Reidy, Arne Jacobsen e Javier
Garcia-Solera. Dissertação (Mestrado em Projeto de Arquitetura) – Faculdade de Ar-
quitetura, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2018.
O’CONNOR, R. Beginner’s guide to create models in 3ds Max® 2016. Scotts Valley: Create
Space Independent Publishing Platform, 2015.
SCHILLING, P.; SHIH, R. Parametric modelling with SolidWorks 2015. Mission: SDC, 2015.
SPRIGGS, I. Portrait of Geoff Anderson. 2019. Disponível em: https://www.artstation.com/
artwork/rR5Y36. Acesso em: 27 nov. 2019.

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mento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede
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PROPRIEDADE
INTELECTUAL

Cristiano Prestes Braga


Propriedade industrial:
desenhos industriais
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Definir desenho industrial perante a legislação.


„„ Reconhecer as formas objeto de proteção como desenho industrial
(bidimensional e tridimensional).
„„ Declarar os requisitos que um pedido de desenho industrial deve
atender para ser concedido.

Introdução
A propriedade intelectual é um direito que visa proteger direitos relativos à
atividade intelectual humana aplicada no campo artístico e industrial. Neste
capítulo, estudaremos o desenho industrial, forma de proteção de direitos
imateriais regulada pela Lei da Propriedade Industrial e aplicada a produtos
com diferencial competitivo, definindo o instituto, reconhecendo as formas
de apresentação e declarando os requisitos necessários para a proteção legal.

Desenho industrial
A propriedade intelectual está dividida em:

„„ direito autoral;
„„ propriedade industrial;
„„ direitos sui generis.

Ao contrário do direito autoral, o instituto da propriedade industrial tem


como foco a regulação, por intermédio da Lei nº. 9.279, de 14 de maio de 1996,
de direitos e obrigações relacionados com a atividade empresarial, atinentes
à proteção de marcas, patentes, desenho industrial e concorrência desleal.
82 Propriedade industrial: desenhos industriais

Desde que temos notícias de atividades industriais destinadas à venda de


produtos, sabemos que um dos desafios do empresário sempre foi encontrar
um diferencial que pudesse fazer o seu produto chamar mais a atenção do
comprador do que o produto do concorrente. E uma das formas utilizadas
para destacar o produto estava concentrada na forma de apresentação perante
o público consumidor.
Com o acirramento da concorrência, que deixou de ser local e passou a
ser mundial, cada vez mais investimos na criação de novas configurações
visuais aplicadas a todo e qualquer tipo de produto, no intuito de diferenciá-
-lo da concorrência e, também, de gerar mais valor agregado a ele e à marca
da empresa.
O Estado, para estimular os investimentos na inovação de produtos nos seus
mais variados aspectos, estabeleceu o direito de uso exclusivo e temporário
à inovação, a depender da análise e do preenchimento de certos requisitos
predefinidos para garantir ao titular o direito de uso das ferramentas disponi-
bilizadas para o exercício efetivo e pleno do monopólio durante o prazo legal.
Entre essas inovações, está o desenho industrial, cuja regulação, no Bra-
sil, remonta ao início do século XX. Atualmente, está explicitado na Lei da
Propriedade Industrial (BRASIL, 1996).

Considerando o grau de importância que o desenho industrial está adquirindo no


âmbito da competição empresarial, precisamos ter bem claro o seu conceito, de modo
que possamos reconhecer as formas passíveis de proteção e definir corretamente os
requisitos legais que permitem proteger um produto sob o aspecto do desenho industrial.

Conceito de desenho industrial


É bastante comum encontrarmos conceitos de desenho industrial em alusão
ao design de produtos. Isso não está completamente errado, mas precisamos
lembrar que a esfera de aplicação do design é muito mais ampla do que a
limitada proteção do desenho industrial, conforme veremos a partir da análise
dos conceitos legal e doutrinário sobre desenho industrial.
A Lei da Propriedade Industrial (BRASIL, 1996) define o desenho indus-
trial como a forma plástica ornamental de um objeto ou o conjunto ornamental
Propriedade industrial: desenhos industriais 83

de linhas e cores que possa ser aplicado a um produto, proporcionando resultado


visual novo e original na sua configuração externa, podendo servir de tipo
de fabricação industrial. O conceito legal destaca claramente duas formas de
desenho industrial sujeitas à proteção.
A legislação inicia a definição do desenho industrial como a “forma plás-
tica ornamental de um objeto” (BRASIL, 1996). Analisando separadamente
cada um dos termos dessa definição, podemos dizer que a forma plástica
diz respeito à plasticidade, que é a capacidade de modificação do formato de
um objeto, tanto acidental quanto intencional. O corriqueiro, inegavelmente,
é que a modificação do formato deve ser sempre intencional, com base na
estratégia que o empresário criou para vender o seu produto com um diferencial
importante quando comparado ao da concorrência.
Outro termo utilizado na definição legal é ornamental, que deriva de
ornamento. Se a forma plástica precisa de tal característica, significa dizer
que o produto terá como destinação o uso como enfeite, decoração, adorno,
entre outros.

O desenho industrial significa, em resumo, a modificação do formato de um objeto


para que ele possa satisfazer o consumidor apenas em relação ao aspecto da confi-
guração visual.

Por outro lado, a legislação também define o desenho industrial como o


“conjunto ornamental de linhas e cores que possa ser aplicado a um produto”
(BRASIL, 1996). Agora não falamos mais em forma plástica, mas em conjunto
de linhas e cores que não precisa, necessariamente, ser aplicado à nova forma
plástica, podendo, pois, ser concretizado em um objeto com um formato
comum e não registrável.
É indispensável, porém, que essas duas formas de desenho industrial possam
ser identificadas, de acordo com a legislação, como uma configuração externa
do objeto/produto, desprendida de qualquer função técnica ou funcional.
Nesse exato sentido, a doutrina jurídica especializada na matéria conceitua
desenho industrial como objetos de caráter meramente ornamental, “objetos
de gosto”, como se dizia no passado (SILVEIRA, 2012). Essa forma, segundo
a doutrina, entretanto, deve ser desvinculada da função técnica — não pode
84 Propriedade industrial: desenhos industriais

consistir em forma necessária para que o produto preencha a sua finalidade,


hipótese em que seria o caso de um modelo de utilidade (SILVEIRA, 2012).
O motivo pelo qual o desenho industrial não pode estar vinculado à função
técnica do produto está na previsão legal de proteção desse tipo de inovação
por intermédio das patentes, bem como na expressa definição legal de que
desenho industrial é a nova configuração externa de um produto — ou seja,
está ligado, unicamente, ao aspecto visual.

Não é correto conceituar desenho industrial como unicamente o design de um produto,


pois o design tem aplicação muito mais ampla do que o simples formato plástico ou
conjunto de cores e linhas do desenho industrial, podendo, inclusive, criar novas
funções técnicas para determinados produtos, cuja proteção será regida, nesse caso,
pelas normas patentárias.

Limitações do desenho industrial


Evidentemente, não são todas as configurações visuais externas que podem
ser registradas como desenho industrial. Existem limitações que precisam ser
observadas e consideradas pelos interessados em buscar a proteção legal via
desenho industrial. Uma das formas que não podem ser objeto de proteção é
aquela determinada essencialmente por considerações técnicas ou funcionais,
cuja proteção decorre de outras normas legais.

Quando um produto está protegido como patente, não significa que a função técnica
afasta a possibilidade de proteção do produto via desenho industrial. Dependendo do
tipo de produto, podemos identificar diversas formas de proteção concomitantemente,
tal qual percebemos nos smartphones utilizados atualmente, os quais são protegidos
por patentes, marcas e desenho industrial.
Propriedade industrial: desenhos industriais 85

A Lei da Propriedade Industrial prevê, ainda, que tudo o que for contrário
à moral e aos bons costumes não será registrado como desenho industrial,
justamente para evitar constrangimentos ou desconfortos desnecessários nas
relações sociais com objetos que possam chocar ou incomodar um determinado
grupo de pessoas (BRASIL, 1996).
O desenho industrial aplicado ao produto não poderá ofender a honra ou
a imagem de pessoas, evitando, com isso, o abuso e a infringência a outros
direitos e garantias constitucionais que asseguram a indisponibilidade e a
necessidade de autorização prévia para uso comercial, como o direito de
imagem e o direito ao nome, protegidos pelo Código Civil brasileiro.
O desenho industrial também não poderá atentar contra a liberdade de
consciência, crença, culto religioso ou ideia e sentimentos dignos de respeito
e veneração. Não é possível, por exemplo, proteger um objeto com a imagem
de Jesus Cristo com características de um diabo ou de um demônio, devido ao
respeito que deve ser mantido em relação àqueles que o cultuam e o veneram.
Não podemos, igualmente, registrar a forma comum, vulgar, necessária ou
determinada pelas considerações técnicas ou funcionais de um produto. Uma
armação de óculos, por si só, não recebe a proteção legal, a menos que esteja
esteticamente apresentada de tal forma que a torne nova e original em relação
às conhecidas no mercado em termos de forma, linhas e cores.
No mesmo sentido, a legislação não considera os produtos que guardam
consigo padrões puramente artísticos, pois são requisitos para proteger um
objeto por meio do desenho industrial sua viabilidade de reproduzi-lo em
escala industrial para explorá-lo economicamente, e com exclusividade, e a
criatividade empregada para dar um aspecto visual inovador.

Não basta que o produto esteja revestido de nova forma plástica ou novo conjunto
de cores e linhas, haja vista que a lei estabelece limites para não infringência a outros
direitos já protegidos pelo sistema jurídico brasileiro e estrangeiro.
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Formas do desenho industrial


Definido o conceito e apresentadas as limitações para o registro de um objeto
como desenho industrial, passamos às duas formas de desenho capazes de
receber o certificado de registro da entidade estatal.
Na verdade, essas duas formas já foram analisadas quando trabalhamos o
conceito legal de desenho industrial, mas elas são conhecidas, na prática e na
doutrina especializada, como formas tridimensional e bidimensional do desenho.
A forma tridimensional nos remete a tudo o que é representado por uma
superfície em três dimensões: altura, comprimento e largura. Um objeto que
apresenta essas dimensões permite que possa ser materializado, tocado e
visualizado na sua amplitude máxima de ângulos e relevo.
Quando a Lei da Propriedade Industrial considera o desenho industrial
como a forma plástica ornamental de um objeto, está se referindo à forma
tridimensional do desenho. Sempre que for requerido o pedido de registro de
um desenho industrial na forma tridimensional, o interessado deverá demons-
trar essa condição mediante desenhos que permitam visualizar corretamente
as dimensões, conforme o registro concedido para proteção da configuração
ornamental aplicada em calçado representado na Figura 1.

Figura 1. Configuração visual aplicada em calçado.


Fonte: KKulikov/Shutterstock.com.

A forma bidimensional, por seu turno, simboliza aquele objeto que


pode ser identificado em apenas duas dimensões: altura e largura. A sua
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característica visual, portanto, sempre estará apresentada em um ângulo


plano por não portar a dimensão do comprimento, que dá a sensação de
relevo ao objeto tridimensional.
A Lei da Propriedade Industrial também considera o desenho industrial
como o conjunto ornamental de linhas e cores que possam ser aplicadas a um
produto (BRASIL, 1996). Nesse caso, está se referindo à forma bidimensional
do desenho, exemplificada na Figura 2, a qual demonstra, claramente, a forma
plana em duas dimensões de um tapete composto pelo conjunto ornamental
de linhas e cores.

Figura 2. Padrão ornamental aplicado em tapete.


Fonte: maffi/Shutterstock.com.

Reconhecer as duas formas de desenho industrial permite identificar um


desenho industrial à luz da legislação, enquadrando-o corretamente na sua
classificação para que não haja problemas no pedido de registro. Isso porque é
necessário preencher o formulário de requerimento de registro com a indicação
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do que é reivindicado pelo interessado, sob pena de perder a oportunidade


ao divulgar um objeto cuja proteção do seu aspecto visual externo estará
limitada ao campo de aplicação indicado e às figuras que o ilustram e que
serão anexadas ao pedido.
Logo, as formas bi e tridimensional de desenho industrial são as encontradas
na legislação, sendo cruciais para identificar e aplicar corretamente o conceito
analisado anteriormente.

Requisitos legais do desenho industrial


Agora que já conhecemos o conceito de desenho industrial e as duas formas
de que pode ser aplicado a um produto, resta-nos analisar os requisitos legais
que precisam ser preenchidos para que o interessado tenha sucesso no pedido
de registro.
Antes, porém, verificaremos as formalidades do pedido de registro de
um desenho industrial, de modo que tenhamos bem claro o fluxo das etapas
que precisam ser vencidas até que os requisitos, enfim, sejam objeto de
exame. Apontaremos, depois, os efeitos da concessão do registro para que
o interessado compreenda, na totalidade, os benefícios de ser titular de um
desenho industrial.

Forma de registro do desenho industrial


A Lei da Propriedade Industrial estabelece as etapas principais e necessárias
que o interessado deverá observar quando for depositar o pedido de regis-
tro de um desenho industrial, ficando as especificidades do processo e do
procedimento para o Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), a
autarquia federal responsável pela análise, concessão, manutenção e extinção
dos processos de registro de desenho industrial, bem como pela emissão das
instruções normativas, indicando, detalhadamente, as orientações adicionais
àquelas previstas na legislação.
O pedido de registro do desenho industrial pode ser requerido por qualquer
pessoa, seja física ou jurídica. Basta que tenha legitimidade para ser titular
do pedido de registro, ou seja, que seja quem efetivamente criou a forma
estética aplicada a um produto ou quem adquiriu, regularmente e na forma
da lei, os direitos sobre a forma tri ou bidimensional aplicada ao produto. Aos
estrangeiros, também é garantido o direito de requerer o registro no Brasil,
nos termos do acordado da Convenção da União de Paris (CUP).
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O titular do desenho industrial poderá iniciar o processo de registro pes-


soalmente ou por intermédio de um procurador, o qual irá representá-lo,
como mandatário, durante toda a tramitação do pedido, devendo efetivar o
requerimento mediante peticionamento eletrônico junto ao INPI, contendo:

„„ o relatório descritivo quando for necessário;


„„ as reivindicações específicas quando for necessário (para proteger a
combinação bidimensional de cores, por exemplo);
„„ os desenhos representando o objeto no qual está aplicada a nova forma
estética;
„„ o campo de aplicação;
„„ o comprovante de pagamento prévio da guia de retribuição para o ato
do depósito.

Todos os documentos juntados com o requerimento de pedido de registro


deverão estar em língua portuguesa.

O depositante precisa delimitar o campo de aplicação do


desenho industrial de acordo com a Classificação Interna-
cional de Desenho Industrial, também conhecida como a
Classificação Internacional de Locarno, que é um sistema
administrado pela Organização Mundial da Propriedade
Intelectual (OMPI) com a relação dos produtos e os seus
respectivos códigos para uso nos pedidos de registro de
desenho industrial, a qual está disponível para acesso no
INPI neste link:

https://goo.gl/u7qovi

Feito o protocolo do pedido de registro, caberá ao INPI vistoriar o cor-


reto preenchimento do formulário, dos desenhos, do campo de aplicação,
do pagamento da taxa correspondente e das demais exigências para, então,
encaminhar o pedido de registro para o exame formal, no qual se verifica se
o aspecto visual do desenho industrial é passível de registro (e se não consta
alguma limitação legal) e se os requisitos foram atendidos pelo depositante.
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Tanto no exame preliminar quanto no exame formal, o INPI poderá intimar


o depositante para corrigir e/ou complementar algum dado, documento ou
pagamento que possa ter sido operacionalizado de forma deficiente dentro das
regras da Lei da Propriedade Industrial e/ou das instruções do INPI.
Em termos gerais, essas são as etapas básicas que o depositante deverá
superar até a concessão definitiva do registro do desenho industrial para gerar
os efeitos e direitos decorrentes da proteção reconhecida pelo INPI.

Requisitos legais exigidos para o registro


Assim como os demais direitos de propriedade intelectual, o desenho industrial,
para ser registrado, precisa preencher alguns requisitos legais específicos.
São eles:

„„ a novidade;
„„ a originalidade;
„„ a possibilidade de servir para a fabricação em escala industrial.

O requisito da novidade diz respeito ao desenho industrial que não estiver


compreendido no estado da técnica, o qual, segundo a lei, é auferido por todo e
qualquer meio de prova disponibilizado publicamente antes da data do depósito
do pedido de registro, tanto no Brasil quanto no exterior. É preciso muito
cuidado com a criação a ser protegida via desenho industrial, pois o produto
poderá não obter o registro caso haja prova de que as formas do desenho já
tenham sido publicizadas antes do protocolo do pedido de registro. Não são
raros os exemplos de artistas que divulgam as suas criações em eventos,
revistas ou sites antes mesmo de formalizar o pedido de registro. Isso acaba
dando margem para que outras pessoas reproduzam a configuração visual e
lhe retirem o aspecto da novidade e, consequentemente, a chance de auferir
as vantagens conferidas pelo registro.
O requisito da originalidade, por sua vez, estará presente quando o dese-
nho industrial apresentar uma configuração visual distinta daquelas aplicadas
em objetos anteriores. O objeto, para ser original, não precisa ser novo. Basta
que acrescente novos elementos ao objeto que já existe ou faça uma combi-
nação de elementos já conhecidos, gerando um aspecto visual que possa se
diferenciar daqueles que já estejam no estado da técnica.
Compreendida a diferença entre os requisitos referidos, podemos ficar em
dúvida sobre como identificar a novidade e a originalidade de um desenho
industrial. Investigar essa questão previamente ao pedido de registro é fun-
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damental, sendo conhecida como busca de anterioridade, semelhante àquela


realizada antes do pedido de registro de marcas e de patentes. É por meio dessa
busca que o interessado no registro identificará e comparará a sua criação com
outras já existentes e disponibilizadas ao público por intermédio de qualquer
documento no Brasil ou no exterior ou com as já registradas junto ao INPI,
sempre lembrando que a pesquisa deve considerar o campo de aplicação da
nova configuração visual.

Nem sempre o INPI vai analisar se o pedido de registro de desenho industrial preenche
os requisitos da novidade e da originalidade, pois a Lei da Propriedade Industrial não
dispõe sobre essa obrigatoriedade. Todavia, a legislação disponibiliza ao titular do
pedido do registro a possibilidade de requerer o exame de mérito para que o INPI
empregue os esforços necessários para averiguar se o desenho industrial é, de fato,
novo e original. O exame de mérito geralmente é conferido ao titular interessado em
dar maior relevância ao seu registro de desenho industrial e provar para eventuais
parceiros ou concorrentes que a inovação aplicada ao seu produto tem potencial
seguro para exploração comercial.

Por fim, o requisito da fabricação em escala industrial exige que o objeto


possa ser facilmente multiplicado em termos de quantidade de unidades, sob
pena de ser considerado uma obra de caráter unicamente estético, que não
está contemplada do rol de possibilidades da Lei da Propriedade Industrial
para obter a concessão do registro como desenho industrial.

Garantias do registro
Ultrapassadas as formalidades anteriormente analisadas, o INPI concederá o
registro de desenho industrial ao titular depositante do pedido, estabelecendo,
de acordo com a delimitação formalizada no requerimento inicial, as garantias
conferidas pela legislação que poderão ser utilizadas dentro do período de
vigência regular do desenho industrial.
Em posse do certificado de registro, o titular do registro de desenho indus-
trial terá assegurado o direito de uso exclusivo durante todo o prazo de validade
do registro. Os terceiros interessados em reproduzir as formas de desenho
industrial aplicado a um determinado produto protegido só o poderão fazer
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mediante autorização prévia do titular ou quando expirar o prazo de proteção.


Caso contrário, apenas o titular poderá utilizá-lo e explorá-lo economicamente.
Com esse direito de uso exclusivo, o titular do registro de desenho industrial
tem à sua disposição todos os mecanismos legais necessários para eliminar
as cópias identificadas e impedir a fabricação, a comercialização, a oferta e
outras maneiras de uso, total ou parcial, não autorizadas do desenho protegido.
Uma vez que está garantido ao titular do desenho industrial registrado a
disponibilidade de uso, ele ainda poderá autorizar ou transferir os direitos de
uso do desenho nos termos da legislação pertinente, permanecendo vigente,
qualquer tipo de acordo, até o fim do prazo de validade do registro.

Abrangência, vigência e continuidade do registro


Afora a garantia de direitos ao titular do registro de desenho industrial, a con-
cessão ainda faz o balizamento do alcance da proteção para que seja possível
criar as estratégias empresariais necessárias para o aproveitamento máximo
desse monopólio temporário.
Após a concessão, o direito de uso exclusivo do desenho industrial terá
um prazo de vigência de 10 anos, prorrogável por mais três períodos suces-
sivos de 5 anos cada, totalizando, assim, 25 anos de proteção. É importante
ressaltarmos que o prazo de 25 anos só estará garantido se o titular efetuar
o pagamento das taxas de anuidade obrigatórias para prorrogação dos três
períodos disponibilizados após o transcurso do prazo base e inicial de 10
anos. Gerenciar adequadamente o registro é condição fundamental para o
titular não ver a sua criação ser replicada por terceiros em face da prematura
extinção do registro.
Além disso, o desenho industrial também está alicerçado no princípio da
territorialidade, garantindo, assim, a proteção, se requerida junto ao INPI,
apenas no Brasil. Se o titular entender que a sua criação tem potencial para
exploração econômica em outros países, ele poderá se beneficiar da CUP e
requerer a prioridade unionista para assegurar a novidade do aspecto visual
do seu objeto até a data da entrada na fase nacional dos países selecionados.

Algumas vantagens do desenho industrial registrado


O desenho industrial permite transformar um produto comum em um objeto
de desejo, e muitas empresas têm investido na pesquisa e no desenvolvimento
de novos conjuntos visuais para estarem sempre na frente da concorrência e
no desejo de compra dos consumidores. No Brasil, a indústria de móveis e
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a de calçados são exemplos dessa postura, concentrando a maior parte dos


pedidos nacionais de registro de desenho industrial.
Entretanto, o desenho industrial tem potencial para ser aplicado aos mais
diferentes setores da indústria, agregando valor e competitividade a produtos
como joias, alimentos, embalagens, brinquedos, roupas, automóveis, eletro-
domésticos, acessórios, entre outros.
No momento em que a empresa entende as formas e o processo de prote-
ção, conseguirá visualizar a importância que o desenho industrial registrado
adquire na competição pela atenção do consumidor, desde que esteja alinhado
ao propósito de posicionamento da empresa.
É inegável, contudo, que o certificado de registro de desenho industrial
permitirá montar estratégias diferentes para exploração e até mesmo a criação
de novos nichos de mercado, aproveitando o apelo do produto a partir deu
aspecto visual novo e atraente, seja na forma tri ou bidimensional, gerando
maior valor à marca, maiores receitas, maior competitividade e maior prazo
de sobrevivência no mercado.

BRASIL. Lei nº. 9.279, de 14 de maio de 1996. Regula direitos e obrigações relativos à
propriedade industrial. 1996. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
Leis/L9279.htm>. Acesso em: 28 jan. 2018.
SILVEIRA, N. Direito de autor no design. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2013.

Leituras recomendadas
BARBOSA, D. B. Da ornamentalidade e acessoriedade como características do desenho
industrial. 2013. Disponível em: <http://www.denisbarbosa.addr.com/arquivos/200/
propriedade/da_ornamentalidade_acessoriedade_di.pdf>. Acesso em: 28 jan. 2018.
BRASIL. Instituto Nacional da Propriedade Industrial. Classificação Internacional de
Locarno. 2017. Disponível em: <http://www.inpi.gov.br/menu-servicos/desenho/
classificacao>. Acesso em: 28 jan. 2018.
BRASIL. Instituto Nacional da Propriedade Industrial. Guia básico de desenho industrial.
2017. Disponível em: <http://www.inpi.gov.br/menu-servicos/desenho>. Acesso em:
28 jan. 2018.

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