(Hudson Valley 3) O Hoteleiro de Hudson Valley - Alice Clayton
(Hudson Valley 3) O Hoteleiro de Hudson Valley - Alice Clayton
(Hudson Valley 3) O Hoteleiro de Hudson Valley - Alice Clayton
ISBN 9788557173279
Clayton, Alice
O hoteleiro de Hudson Valley / Alice Clayton; tradução de Regiane Winarski. –
São Paulo: Benvirá, 2019.
328 p.
ISBN 9788557173279
Título original: Buns
1. Ficção norte-americana 2. Literatura erótica I. Título II. Winarski, Regiane
19-1922
CDD 813.6
CDU 82-3(73)
– Sócia?
– Sócia.
– Sócia?
– Sócia.
– Sócia?
– Não se você continuar com esse problema recém-desenvolvido
de compreensão... Mas, sim, Clara. Sócia.
Uau.
Eu estava sentada com noventa centímetros de uma mesa de
mogno me separando da minha adulta favorita no mundo, que por
acaso também era minha chefe, e ela tinha acabado de me dizer
que, se eu conseguisse executar de forma extraordinária esse
próximo trabalho, seria promovida a sócia.
Inspirei e expirei. Inspirei e expirei. Era um daqueles momentos,
sabe? Aqueles sobre os quais você lê, do tipo de que se lembra
mais tarde na vida, ao pensar no passado, como um marco, um dia
que se destaca entre todos os outros, um dia cheio de cores e
brilhos e, talvez, um unicórnio. No futuro, eu olharia para trás e diria:
“Foi nesse dia que a minha vida mudou. Foi nesse dia que o
trabalho árduo e as horas e fins de semana passados no escritório e
os encontros e festas perdidos e o sangue e o suor e as lágrimas
passaram a valer a pena, porque eu cheguei aqui, neste espaço e
tempo, porque finalmente conquistei o meu espaço neste mundo”.
Barbara sorriu, me vendo absorver tudo, provavelmente
conseguindo ver minhas engrenagens girando. Ela me contratara
cinco anos e meio antes, me tomara embaixo das asas e me
orientara a cada passo no caminho. E agora estava me dando a
chave do reino. Sócia de uma das agências de branding mais
conhecidas e mais respeitadas do país. Se…
– Se o Bryant Mountain House pular para o século vinte e um, eu
vou ver meu nome no cabeçalho?
Ela assentiu.
– É esse o acordo, menina.
Inspirei e expirei. Inspirei e expirei.
E sorri.
– Vou para lá amanhã.
Eu não tinha carro. Algo nada incomum quando se considera que
passo quase oitenta por cento do ano na estrada e que, quando fico
em casa, em Boston, vou a pé para todos os lugares que preciso. O
trânsito horrível em Boston foi suficiente para me fazer mudar de
canal nas poucas vezes em que tentei ver um comercial de carro,
considerando se gastaria meu suado dinheirinho para finalmente
comprar um.
Apesar disso, eu adorava dirigir e aproveitava qualquer desculpa
para pegar a estrada sempre que um trabalho mais longo se
iniciava. E não dá para negar que trabalhos longos descreviam
minha vida.
Mas agora eu talvez fosse me tornar sócia nessa carreira que
amava tanto. Poderia ser real? Estava mesmo acontecendo? Era…
– Só verifique se o tanque está cheio, certo?
Voltei para o presente, no estacionamento da locadora Hertz, nos
limites da cidade. Eu estava sonhando acordada enquanto o garoto
falava das opções de abastecimento.
– Claro, claro, tanque. Tanque cheio. Pode deixar. – Bati no teto
do carro alugado, um Corolla bege com quatro portas. Firme.
Seguro. Confiável. Muito sem graça. – Posso ir? – Estava ansiosa
para pegar a estrada. Eram só quatro horas até o Bryant Mountain
House, mas eu queria ter certeza de que teria tempo de dar uma
olhada nas coisas antes do jantar.
– Pode. Para onde você vai?
– Catskills, no norte de Nova York…
Parei de falar quando um carro foi aparecendo aos poucos no
lava-jato, chamando minha atenção. O começo da primavera no
nordeste, quando tudo estava carregado e cinza, lamacento e frio,
era um dos momentos mais feios do mundo. Assim, quando aquele
conversível lindo, brilhante, vermelho e tão lindo apareceu e
lembrou ao mundo como era o verão, não consegui parar de olhar.
O carro era ousado, audacioso, espalhafatoso e totalmente
desnecessário.
E muito legal.
O garoto acompanhou meu olhar e ergueu uma sobrancelha.
Eu apontei.
– Quanto custa aquele?
– Boooooa – respondeu ele, subindo em alguns pontos sua
avaliação sobre mim.
Como nasci sete semanas antes da hora, sempre fui pequena. De
legging preta, galochas pretas que praticamente me engoliam
inteira, apesar de serem o menor tamanho na loja, e uma capa de
chuva preta para me proteger do chuvisco intermitente, eu parecia
perfeita para um Corolla bege com quatro portas.
Mas, por baixo da capa de chuva, eu estava de camiseta
vermelho-cereja colada. E, por baixo da legging, estava de calcinha
vermelho-cereja de seda. E, quando tirei o boné e passei a mão
pelo cabelo, transformando meu corte curto em um arrepiado louco,
falei com lábios pintados de vermelho-cereja:
– É, vou precisar daquele ali.
Vinte minutos depois, saí de Boston com meu carro
desnecessário, determinada a arrasar tanto naquele trabalho que
talvez pudesse comprar um carrão daqueles para minha coleção
vermelho-cereja.
Uma sócia merecia um presente especial, certo?
Uma sócia também deveria saber que não é boa ideia usar um carro
esportivo em estradas sinuosas ainda cheias de sal, gelo e poças.
Era por isso que eu raramente tomava decisões impulsivas, que
raramente agia sem pensar. Eu preferia manter as coisas simples e
deixar a maluquice com minha melhor amiga, Natalie Grayson, e
até, de certa forma, com minha outra melhor amiga, Roxie Callahan,
que sabia ser doida quando precisava.
Natalie e Roxie. Nós três tínhamos nos conhecido anos antes,
quando fomos parar em uma faculdade de culinária na Califórnia, as
três com dezoito anos e prontas para grandes mudanças. Roxie era
a única que tinha talento culinário de verdade, e, embora eu tenha
gostado do ano que passei na Califórnia, percebi logo que cozinhar
nunca seria mais do que um hobby e, então, voltei para a Nova
Inglaterra. Natalie teve uma desilusão similar com a culinária e
também voltou para casa, na ilha de Manhattan, que ela achava que
pertencia exclusivamente a ela.
Roxie ficou, deixou sua marca na Califórnia como personal chef
das estrelas e só voltou para a cidadezinha natal, Bailey Falls,
quando sua carreira implodiu por causa de um chantili que virou
manteiga. Essa mesma manteiga foi o que mudou o rumo de sua
vida e a fez apreciar verdadeiramente sua cidade natal, uma cidade
que tinha recebido Leo Maxwell durante o período em que ela ficara
longe, o homem que agora era dono de seu coração.
A próxima vítima da cidadezinha a cair no buraco negro de
encanto e doçura foi Natalie, a garota mais urbana que poderia
existir. Oficialmente, ela morava em Manhattan. Extraoficialmente,
não estava enganando ninguém depois que começou a passar as
noites de meio de semana a cento e cinquenta quilômetros da ilha,
na companhia de Oscar Mendoza, dono da Bailey Falls Creamery e
o único homem capaz de fazê-la pisar além do Bronx.
E ali estava eu, a caminho da mesma cidade, que também era lar
do Bryant Mountain House, o hotel cujo rebranding seria feito por
mim, junto com uma reforma para que saísse do vermelho.
Roxie e Natalie estavam animadas, convencidas de que, depois
que passasse um tempo na excêntrica cidade, eu me apaixonaria
por lá tanto quanto elas e decidiria ficar.
Eu nunca ficava. Em lugar nenhum. Adorava viver na estrada,
conhecendo gente nova, ficando em cada lugar por tempo suficiente
apenas para me envolver com algo que um dia tinha sido incrível e
precisava ser trazido de volta à vida. Depois que isso era feito, era
hora do projeto seguinte.
Eu tinha um apartamento. Tinha coisas nele. Tinha meu nome na
caixa de correspondência.
Mas eu não tinha um lar.
– Não desfaça a mala, garota, você não vai ficar aqui muito
tempo…
Olhei para ela e pisquei. O sol formava uma espécie de eclipse na
cabeça dela, e eu não conseguia identificar as feições individuais
em seu rosto, mas sabia que a expressão era de resignação
cansada. Eu era só mais uma criança em uma casa cheia de outras
crianças. Com as malas nunca desfeitas por completo…
Balancei a cabeça para afastar a lembrança, apertando o volante.
Sócias em conversíveis não pensavam no passado, só pensavam
no futuro. Parei para comprar um café e tomar na estrada, mexi na
playlist e escolhi umas músicas do Fleetwood Mac.
“You can go your own way…”.
Era o que eu pretendia. Seguir meu próprio caminho.
***
***
***
– Ah, pelo amor de… Ai! – gritei quando a cama bateu na minha
cabeça pela terceira vez. Desfazer a mala era difícil quando o único
armário do quarto não era um closet, mas um esconderijo de outro
dispositivo antigo, a cama retrátil. O hábito me fazia abrir a porta do
armário a cada peça de roupa que eu pegava, e eu esquecia que
naquela montanha, com tanta natureza e tantos princípios de vida,
embora não houvesse televisão nos quartos, havia uma cama
retrátil.
Esfreguei a cabeça enquanto empurrava a cama idiota para
dentro do “armário”, depois fui até o guarda-roupa com outra pilha
de roupas. Em seguida, fui até a bolsa, peguei um Post-it e uma
caneta e grudei um bilhete no armário com o aviso: “Não abra essa
porra de novo!”.
Fiz outra anotação, desta vez no planner, para acrescentar mais
um item à lista de coisas que eu precisava resolver no hotel.
E, com isso, desfiz a mala com a tranquilidade e a economia de
movimentos de alguém que literalmente passou, e passa, a maior
parte da vida adulta vivendo de uma mala.
Não só a vida adulta.
Coloquei no celular um podcast sobre viagens e aumentei o
volume, sabendo que não perturbaria ninguém naquele andar.
Fechei o planner e passei a mão pelo nome na capa. Ficou óbvio
para mim que Archie tinha visto, lido, percebido que eu não era
quem disse que era… e decidiu deixar rolar? Era esse o motivo de
eu estar naquela terra de ninguém, em um andar desocupado? E,
se ele sabia quem eu era, e ele sabia, por que foi tão… humm…
bem… babaca?
***
***
***
– Está cansada?
– Um pouco, e você? – perguntei, encostada no corrimão principal
do saguão.
Tínhamos reunido os malucos e os mandado de volta para a
cidade. Foi uma noite divertida, e a boa notícia era que todos
estavam prontos para marcar seu fim de semana de residente. E
voltar para a Páscoa.
Archie não teve nenhum problema para convidar todos, como se
fossem seus amigos. E acho que eram mesmo. Naquela noite,
todos se misturaram bem. Tudo pareceu muito natural, como se
fôssemos amigos havia anos. Todos felizes, todos em casal. Só que
esse não era o caso. Não com Archie e comigo. Certo?
– Não cansada demais?
– Por quê?
Ele sorriu.
– Venha comigo, quero mostrar uma coisa.
– Ainda preciso das minhas luvas? – perguntei, levantando uma
sobrancelha.
– Definitivamente – respondeu ele e começou a subir a escada.
– A gente não vai voltar lá pra fora? – perguntei, confusa.
– Pare de fazer perguntas – disse ele, olhando para trás, e não
tive escolha senão segui-lo. Subimos seis lances de escada. E
percorremos três corredores. Dobramos várias esquinas. Fomos até
o fim da linha, até a beirada da ala leste.
Depois de um depósito de material de limpeza, quase escondida
atrás de um armário, havia uma porta pesada com um cadeado
pesado.
– É aqui que vocês botam os hóspedes que não puderam pagar?
– sussurrei, espiando por cima do ombro dele.
– Eles fazem o check-in, mas nunca vão embora – respondeu ele
em uma imitação de Vincent Price.
– Só para deixar registrado, isso foi sinistro pra cacete!
– Isto também – disse ele, girando a chave velha de metal para a
porta se abrir.
A escuridão nos chamava, e só consegui identificar uma escada
estreita e íngreme.
– Ah, para com isso!
– Com medo?
– Eu não sou burra. Escadas assim não foram feitas para serem
subidas, a não ser que haja um cara correndo atrás de você com um
machado.
– Posso ver se o Walter da manutenção está disponível.
– Posso ver se o Walter da manutenção está disponível para dar
uma surra em você por dizer uma merda dessa parado no pé da
escada do Psicose.
Uma porta se abriu e se fechou na outra ponta do corredor, e nós
dois demos um pulo.
– Tudo bem, cara, você tem trinta segundos pra me dizer qual é o
assunto aqui, senão vou para o meu quarto tomar um banho de
banheira.
– Hum, um banho de banheira...
Dei um soco no braço dele.
– Vinte e cinco segundos.
Ele riu e puxou uma cordinha. Uma única lâmpada se acendeu,
iluminando a escada e a tornando um pouco menos sinistra. Olhei
para cima: a escada subia por pelo menos dois andares, talvez
mais.
– Tudo bem, eu pergunto: aonde leva?
– Quem não arrisca… – disse ele, e começou a subir a escada.
Escada sinistra ou a imagem mental de Walter com um machado na
mão?
Segui Archie. As paredes tinham o caibro exposto, gesso sobre
arame sobre tijolos. A escada tinha painéis até metade da parede e
depois era aberta.
Nos painéis de madeira, havia assinaturas entalhadas.
Jeremiah, 1897
Bartholomew, 1912
James. Mickey, 1933
George, 1941
Jonathan, 1952
Pensei o dia todo no que Roxie e Natalie disseram. Que não era
perfeito para elas, que era difícil e complicado e maluco, mas que
em determinado ponto elas deixaram de lutar contra e cederam.
Havia uma parte de mim que queria ceder.
Então, ceda.
O brunch provou que eu não podia. Foi cheio de conversas sobre
família, tradições e lembranças compartilhadas e coisas em comum.
As pessoas não enxergam aquilo que funciona como a verdadeira
base da família americana moderna. Metade das pessoas na mesa
não se conhecia um ano antes, mas todas tinham um passado
parecido, um sistema ao pensar na infância coletiva, como ela era.
Eu não tinha isso. Não tinha nada parecido com isso.
Então, estavam planejando repetir o brunch no ano seguinte. No
mesmo horário, no mesmo local. A ideia disso, a frivolidade das
pessoas fazendo planos sem nenhuma preocupação na vida. Se
alguém não pudesse ir, ah... Tudo bem. Se Natalie e Oscar
decidissem passar o feriado em Manhattan com a família dela, tudo
bem. Planos mudam, a cantiga de uma doce família pode facilmente
ser trocada por outra porque a maioria das pessoas tem à
disposição um ambiente típico ao estilo Norman Rockwell, pronto
para ser servido a qualquer momento.
Planos mudam. E, às vezes, as pessoas ficam de fora e são
deixadas para trás e esquecidas sem que ninguém pense duas
vezes. Mas, se você não fizesse esses planos, sabe, e deixasse
tudo solto e livre e sem compromisso, sem amarras, sem ligações…
Ora. Você seria a única pessoa que teria o poder de partir o próprio
coração.
Eu era a única que podia partir meu próprio coração.
Fiquei horas sentada na varanda da suíte, ignorando as
mensagens de texto que eu sabia que estavam chegando de Roxie
e Natalie, só me balançando na cadeira, vendo o lago, aproveitando
a vista. O ar estava fresco, suave e delicado. Do lado de fora. Eu
ouvia as corujas piando umas para as outras, o som das ondas
balançando a doca abaixo, o vento nas árvores que exibiam seu
verde de primavera. Do lado de fora. O céu da noite estava claro,
mil estrelas cintilando naquele domingo de Páscoa. Do lado de fora.
Era mais fácil do lado de fora.
Ouvi uma batida na porta, mas a ignorei. Soou uma vez, duas,
três vezes, cada vez um pouco mais forte e mais insistente. Ignorei
todas. As coisas estavam se abrindo, e eu precisava de espaço para
lidar com os sentimentos.
Mas quando ouvi a porta se abrir e ouvi passos no piso de dentro,
eu soube quem era.
– Não é uma boa hora agora – eu disse, a voz áspera e rouca até
para mim.
– Você não está com dor de cabeça, não é? – perguntou ele. De
dentro.
– Não – respondi. Do lado de fora.
– Eu adoraria saber o que está se passando na sua linda
cabecinha – disse ele. De dentro.
Soltei um suspiro úmido e apertei bem os olhos.
– Não, não quer. – Do lado de fora. – Como foi o resto do dia?
Passos pelo chão. Quando falou, ele estava atrás da passagem
que levava à varanda.
– Bom. Legal. Tranquilo. Horrível.
– Horrível?
– Não foi a mesma coisa – disse ele baixinho. – Sem você.
Eu queria estar lá dentro. Ah, Deus, eu queria mais do que tudo.
Queria minha parte, uma parte dessa torta americana que todo
mundo tinha. Ser incluída, acompanhar, participar, cuidar e ser
cuidada, estar dentro. Mas, eu poderia?
Ouvi mais um passo, o ruído passando do abafado pelo tapete ao
piso seco. Ele estava do lado de fora agora, comigo.
Eu me levantei, virei e o vi parado. Alto e forte, com sardas e
óculos, os olhos calorosos conectados com os meus, ali estava ele.
– Oi – falou, a voz baixa e rouca. Ele tinha trabalhado muito o dia
todo para torná-lo especial para todos.
– Oi – eu disse, minha voz parecendo sem fôlego.
Fiquei fora do alcance dele, apoiada nos calcanhares, me
equilibrando na beirada. Eu queria me virar, me afundar na cadeira
de balanço e falar para ele ir embora, ficar lá dentro, ficar em
segurança. Mas aí ele sorriu, sabe. E eu corri. O que estava se
abrindo aos poucos ao longo do dia agora se desintegrou e eu cedi
e corri. Na direção dele.
Eu me joguei em seus braços, e ele me segurou, meio dentro,
meio fora. Eu estava sufocada, mas agora, em vez de pânico, senti
borboletas e raios de luar e uma luxúria pura que não foi pouca.
Corri para ele porque precisava. Debaixo de um céu noturno no
topo do mundo, onde ninguém podia ver e ninguém podia ouvir,
levei a boca à dele e foi tudo.
Choquei-me com ele com tanta força que ele grunhiu, mas
grunhiu na minha boca, o que foi um pouquinho de paraíso sexy. Em
um instante, seus braços me envolveram. Nesse mesmo instante,
eu o abracei, as mãos loucas e os dedos procurando, explorando,
encontrando calor e pele lisa, e uma gravata sai voando. E, então,
as mãos dele estavam em mim, empurrando as alças do meu
vestido, os lábios repuxando a pele, nos meus ombros e na minha
clavícula, encontrando pele disposta e exposta e quente, e minha
respiração suspira. Muros caem e pés tropeçam e as estrelas estão
acima e meus dedos estão embaixo e um cinto voa enquanto minha
pele canta.
Ele enfiou os dedos no meu cabelo, me prendendo com força e
carinho enquanto caí de joelhos, batendo com a patela na pedra fria,
mas nem me importei porque a respiração dele está irregular e
entrecortada e as costas batem na chaminé e partículas de fuligem
caem em mim e tudo está com cheiro de pedaços esquecidos,
queimados e chamuscados do que já foi, mas debaixo daquilo há
sinal e promessa de coisas verdes crescendo e renovação e
primavera.
Novo. Fresco. Limpo. Imaculado. Simples.
E, ah, meu Deus, preciso desse homem agora.
– Clara. Clara. – Ele disse meu nome com urgência, arranhando o
céu com calor e necessidade.
Puxei o zíper e ele está lá, ele é calor e necessidade, e quando
abro a boca e o envolvo, seu corpo todo se enrijece e as mãos se
paralisam no meu cabelo e meu nome se torna a única palavra que
ele sabe, porque agora, debaixo daquelas estrelas, eu sou a única
mulher que ele conhece e de quem precisa e quer e…
Ele é incrível pra cacete. E está fodendo a minha boca. Aquele
homem com lencinho no bolso está fodendo a minha boca. Arrisquei
um olhar para cima e, meu Senhor, ele está delineado nas estrelas,
a cabeça para trás e o mundo é o maxilar dele e essa é a coisa mais
erótica que já vivenciei.
Gutural. Frenético. Só o soltei para tomá-lo na boca de novo,
lambendo e movendo a língua enquanto ele bombeava, quase
descontrolado, e isso não era problema porque eu amo quando
esse homem perde o controle e bota as mãos em mim.
E ele fez isso. Puta merda, ele fez. Seus dedos afundaram no
meu cabelo, puxando e repuxando, e por que a sensação disso é
tão poderosa se não deveria, mas, puta merda, era. As mãos dele
eram grandes, os dedos eram longos, envolvendo minha cabeça,
perdidos e encontrados de novo quando ele me moveu com ele na
boca.
Segurei-o com firmeza na base, as pontas dos dedos subindo e
descendo enquanto eu o soltava da boca lentamente, só para
engoli-lo novamente, devagar e determinada.
– Isso é incrível – murmurou ele, e seus dedos se moveram,
soltando meu cabelo, percorrendo meu rosto, lentos e firmes.
Docemente, ele percorreu minhas maçãs e meu maxilar, com
gentileza. – Incrível.
Ele se move, me afasta dele e, se ajoelhando na minha frente, me
beija de novo, lambe meus lábios, e mais uma vez eu me abri para
ele, sentindo o gosto salgado e doce, gosto de Archie para todo
lado.
– Eu preciso ver você – sussurrou ele, e nós dois abrimos os
botões do meu vestido. Em uma confusão de mãos e dedos, meu
cotovelo para um lado e o rosto dele para outro, os óculos dele
saíram voando na escuridão.
– Desculpa. – Eu ri, mas fiquei maravilhada com o quanto ele
parecia aberto assim, sem nada entre mim e aqueles lindos olhos
azuis.
Ele deixou a cabeça pender e riu.
– A parte horrível é que não consigo ver nada sem eles, tudo vira
um borrão.
O cabelo dele roçou de forma agradável na minha clavícula.
– Esse é o tipo de coisa que uma garota ama ouvir.
– Não vai demorar nada – disse ele, tateando pela varanda. – Isso
é sexy, não é?
– Você está falando sério? – perguntei, apoiada nos cotovelos
para olhá-lo, a calça torta, a gravata de lado, o cabelo desgrenhado.
– É ridículo o quanto você é sexy.
– Humm – disse ele, ainda procurando os óculos.
– Vá para a direita – eu disse, o guiando. – Estão ao lado da…
– Merda.
Eu engoli em seco.
– … balaustrada.
Os óculos caíram, empurrados para o lado pelas mãos agitadas
de Archie.
– Inacreditável – murmurou ele. – Claro que isso tinha que
acontecer.
Eu me sentei e engatinhei até onde ele estava.
– Vem, você não precisa me ver – eu disse, passando a mão
pelas suas costas. – Para me ver. – Peguei sua mão esquerda e a
levei ao meu seio. A respiração dele travou. – Me conta.
– Contar? – Sua voz soou rouca e estrangulada.
– O que você sente. Como eu sou. – Botei a outra mão dele no
meu rosto, virei-a e dei um beijo no centro da palma. – O que você
está pensando.
– Alguma hora, Clara, você vai ter que me dizer o que está
pensando.
Ah. Eu assenti, sem conseguir falar, sem conseguir responder,
mas sabendo que, se eu estava cedendo nisso, estava cedendo em
tudo. Assenti de novo na mão dele e era disso que ele precisava.
A mão no meu seio se moveu de leve, o algodão do meu vestido
fino o suficiente para que eu sentisse os dedos se curvando
conforme o calor da minha pele o guiava. Tremi, a pele reagindo ao
seu toque na mesma hora. Levantei a mão, abri um botão e outro,
puxando o corpete do vestido para conceder acesso a ele. Eu
queria, não, eu precisava sentir suas mãos na minha pele.
– Me conta – murmurei de novo, precisando das palavras dele
tanto quanto do toque.
– Você é… macia – disse ele, um sorriso leve surgindo nos lábios.
– Tão macia...
– Aham. – Eu suspirei quando seus dedos encontraram a abertura
do meu vestido e entraram.
– Renda? – perguntou ele. O polegar passou pelo meu mamilo, e
eu arqueei as costas.
– Aham. – Suspirei de novo.
– É um pouco áspero, sinto os fios se prendendo nos sulcos dos
meus dedos – disse ele. – Mas a sua pele é tão macia.
Eu me apoiei nos cotovelos, deixando a cabeça pender para trás
enquanto ele se movia em cima de mim. A boca deixou um rastro de
beijos pelo meu pescoço, lambeu a base dele, mordiscando minha
clavícula. Ele se sustentou acima de mim, as mãos ainda
explorando. Envolveu meu mamilo e o sentiu crescer com o toque.
Ele sorriu.
– Você está excitada.
Eu o sentia na coxa, duro e grosso.
– Você, não?
Sua resposta foi morder com mais força, os dentes mordiscando o
alto do meu seio, que agora subia e descia a cada respiração,
ficando cada vez mais acelerada com os beijos. Ele puxou a alça do
sutiã pelo ombro, baixou a cabeça e levou a boca até mim.
Todas as minhas terminações nervosas reagiram, todos os
neurônios dispararam e todos os dedos dos pés se contraíram
quando a língua áspera foi passada no meu mamilo.
– Humm… Archie…
Suspirei, as costas se afastando do chão quando os lábios me
envolveram. No entanto, se eu não parava de me mexer embaixo
dele, ele parou de repente. As costas se enrijeceram, as mãos
ficaram paralisadas, a postura toda mudou.
– Archie? – perguntei, levantando a mão para afastar o cabelo de
sua testa.
– Eu preciso contar uma coisa – sussurrou ele, ainda paralisado.
– Tudo bem… – respondi, tentando imaginar o que seria. A
tensão entre nós tinha mudado, se transformado. Ele estava
preocupado, nervoso, e ainda paralisado. – Você quer contar para
mim ou para o meu peito?
Ele riu, o hálito quente no seio em questão. Mas a tensão foi
rompida de novo, e eu o vi relaxar, ao menos um pouco. Posicionei
um braço embaixo da cabeça, me apoiando para poder vê-lo. Ele se
apoiou em um braço acima de mim, a outra mão empurrando, por
reflexo, os óculos desaparecidos.
Ele ainda estava nervoso.
– Eu só dormi com uma mulher minha vida toda.
Ah. Ah…
– Só tive uma primeira vez. Ashley e eu tínhamos dezesseis anos
e tínhamos fugido para a casa de praia dos pais dela. Acendemos
velas e compramos vinho, botamos música suave e foi tudo muito
planejado, muito perfeito.
Visualizei mentalmente o banco de trás de um Chevelle 1972 com
Chuckie Sullivan, um CD do Nickelback tocando. Tremi.
Ele encarou meu tremor como gargalhada.
– Eu sei, é bobo, né?
– Não é bobo, parece bem legal – respondi, ajeitando o cabelo
dele de novo.
Ele se inclinou na direção da minha mão, fechou os olhos e virou
o rosto para beijar o centro da palma.
– Eu só estava pensando como é engraçado perder a virgindade.
É uma coisa que acontece com todo mundo, mas de formas tão
diferentes.
– A questão é que eu só estive com a Ashley, só a Ashley. Nunca
fiz isso com mais ninguém. Eu nem sabia se ia querer depois que
ela se foi.
– Escute, Archie, nós não temos que…
– Até você, Clara – interrompeu ele, os olhos se abrindo e
ardendo nos meus. – Eu quero você, quero você pra caralho, mais
do que eu achava possível, mas… bem… estou meio perdido aqui.
– Archie?
– Sim?
Eu me movi rapidamente, me levantei e rolei de lado, o puxei
comigo, rolei nós dois para eu ficar em cima, movendo sua mão pela
minha perna, que encaixei no quadril dele.
– Acredite quando eu digo que você sabe direitinho o que fazer.
Mas, se você quiser parar, é só dizer.
Os olhos, caramba, que olhos! Profundamente azuis,
profundamente perturbados, em guerra com o passado e o
presente. Eles procuravam respostas nos meus. Eu não podia dizer
a ele o que fazer, mas podia dar uma dica, não podia?
Sem ar, guiei sua mão pela minha coxa. Sem ar, prendi seu
polegar na lateral da minha calcinha. E então, ainda sem ar, botei as
duas mãos no peito dele, querendo ver o que ele faria.
Ele não fez nada. Seu peito subia e descia, e eu subia e descia
junto. Minha cabeça estava me mandando sorrir, tranquilizá-lo, dizer
para ele que estava tudo bem e que podíamos ir devagar, no ritmo
que ele precisasse.
Meu coração estava me mandando ser paciente, porque a
qualquer segundo a guerra interior de Archie acabaria e ele estaria
pronto para uma trepada rápida e imunda, do tipo que não quer
saber de velas nem de música suave.
A qualquer segundo agora.
A qualquer segundo agora.
A qualquer segundo a…
Ele moveu o polegar. O polegar, o polegar que controlava o
destino da minha calcinha. E do mundo. Ambos eram a mesma
coisa quando aquele polegar perfeito percorreu minha pele, preso
no pedacinho de seda mais pequenininho que já se viu, mesmo
Archie não conseguindo ver sem os óculos, e ele arrancou a
calcinha de uma vez.
E aí eu tomei a frente. Porque sabia que ele precisava de mim. E
porque eu queria. Eu me levantei acima dele, o vestido puxado até
os quadris e os seios escapando do top e o segurei com firmeza,
posicionando-o de forma que, quando eu desci, ele
Ah
Ele
Estava
Lá
E
Ah
Ele
Estava
Tão
Duro
e uma coisa bem parecida com assombro surgiu em seu rosto
quando o recebi dentro de mim.
Uma coisa idêntica a luxúria tomou conta de mim quando ele me
tomou, meu Deus, ele me tomou, me preencheu e me ergueu e
meteu em mim por baixo.
A incerteza sumiu. Os deveria e os e se sumiram. E no lugar
deles havia puro calor carnal. As mãos de Archie seguraram meus
quadris, empurrando e puxando enquanto ele me preenchia e eu me
movia nele, me balançando, sentindo cada centímetro absurdo dele
dentro de mim, ele estava dentro enquanto estávamos do lado de
fora e foi assustador e enlouquecedor e meu Deus, eu estava
gozando e como eu já podia estar gozando e eu tremi e me balancei
e todas as cores sumiram e o mundo se estreitou antes de explodir.
Ele se sentou mais ereto embaixo de mim, os lábios no meu seio
e as mãos nas minhas costas enquanto eu montava nele, montava
até chegar a outro orgasmo e outro, ancorada naqueles olhos
observadores, cheios de tinta e lindos quando o orgasmo poderoso
percorreu seu corpo.
Quando os quadris poderosos pararam, quando seus dedos
libertaram minha pele, quando os tendões do pescoço dele
finalmente relaxaram e o rubor nas bochechas surgiu, nós caímos
na varanda, os lábios dele alternando entre dar beijos cansados no
meu pescoço e sussurrar meu nome.
Clara, ele disse várias vezes. Deus, eu amava ouvir aquele
homem dizer meu nome.
Capítulo 16
***
De quê?
Patinação no gelo.
Ah.
Não curte?
Está. Tecnicamente, fechamos o rinque semana passada, mas costumamos deixar aberto
por alguns dias a mais para os funcionários.
Eu sorri, apesar de tudo. Não devia ser tão complicado assim,
mas era.
Claro. E depois?
Depois, horizontal.
8 da noite?
***
***
Mais uma vez, eu estava voltando para casa com Archie, evitando
encará-lo ou falar sobre qualquer coisa significativa, a não ser o
quanto todo mundo tinha ido bem na prova. Tínhamos ficado lá um
tempo, comemorando com os outros participantes, tomando umas
cervejas, apreciando alguns cachorros-quentes depois de tanto
falarmos de salsicha. Leo se ofereceu para dirigir na volta, para que
Archie pudesse tomar umas cervejas, e isso tornou mais difícil
manter outras pessoas nas nossas conversas, tornou mais difícil
impedir uma conversa real, na qual eu ficaria perdida, sem saber
como agir.
Ninguém na minha vida tinha me dito que me amava. E eu não
sabia como interpretar. Roxie e Natalie me amavam, claro.
Tecnicamente, elas me disseram, mas normalmente nas linhas do
“eu te amo, mas você não pode ir com essa calça”, ou “eu te amo,
mas para de roubar toda a pipoca”, ou “eu te amo, mas Henry Cavill
não é o homem mais sexy do mundo, ponto-final”. Deixando de lado
essas brincadeiras, ninguém nunca tinha olhado nos meus olhos,
enfiado as mãos no meu peito para segurar meu coração e dito “eu
te amo”.
O que acontece depois? Conheço a versão dos livros de
romance. Eu digo a mesma coisa para ele, há mais dois ou três
parágrafos melosos, e fim. Conheço a versão da comédia
romântica, normalmente com uma Julia ou uma Sandra no papel
principal. A música, muitas vezes uma canção escrita especialmente
para o filme, aumenta de volume, há risadas seguidas de beijos, e
muitas vezes o problema que as duas pessoas estão enfrentando
há noventa minutos some porque o amor supera todos os
sentimentos, blá-blá-blá.
O que você faz quando ouve essas palavras pela primeira vez e
seu primeiro instinto é vomitar? É por isso que heroínas de romance
nunca eram ferradas da cabeça como eu, porque, meu Deus, que
história horrível seria.
O essencial era que eu estava morrendo de medo de descer do
ônibus quando chegássemos ao Mountain House porque ficaria
sozinha com Archie, e ele não deixaria isso passar em branco. Evitei
Archie durante todo o caminho de volta, sentada com minhas
garotas ou com todo mundo em um grupo grande, tomando cerveja
do barril que Oscar tinha atenciosamente providenciado-os,
passando copos descartáveis para os outros e parabenizando pela
conquista. Mas agora a atmosfera estava ficando mais tranquila.
Todos se juntando em pares, cochilando ou jogando no celular, e a
interferência inconsciente dos nossos amigos estava
desaparecendo. Ali vem ele e se senta à minha frente no fundo do
ônibus; sozinhos, enfim.
Ele falaria comigo sobre o que tinha dito? Eu precisaria dizer para
ele a mesma coisa? Conseguiria dizer a mesma coisa?
– Ei, Clara, para de ficar tão tensa. Não precisa falar nada, tá?
Opa. O quê?
Eu pisquei e olhei para Archie, que exibia um sorriso pesaroso.
– Como você fez isso? – perguntei, com os olhos arregalados e
mais do que um pouco apavorada. Eu estava surtando?
– Não é difícil saber o que está acontecendo aí dentro – disse ele,
batendo na minha têmpora. – Só não vai ficar surtada demais, tá?
– Tá? – gemi. – Não consigo, sabe, quer dizer… eu…
Ele deu de ombros.
– Eu disse o que precisava dizer. Você pode não dizer nada. Por
enquanto. Está bem?
Eu balancei a cabeça.
– Não entendi. Qual é a pegadinha?
– Bobinha – murmurou ele, mudando de banco e se sentando ao
meu lado. – Não tem pegadinha. Só resolva o que estiver
acontecendo aí dentro e depois a gente conversa.
Eu não merecia aquele cara. De verdade, eu não merecia alguém
tão compreensivo. E, pensando bem, como ele podia me entender
tão bem quando, pela primeira vez, nem eu me entendia?
Capítulo 20
Recebi uma mensagem de texto de Archie por volta das oito e meia.
Eu queria encontrá-lo no telhado? Eu estava enrolando havia horas
e precisava de alguma coisa para me animar. Uns amassos lá no
alto seriam a coisa certa para me ajudar a dormir à noite.
Corri para a escadaria, sorrindo para mim mesma quando vi que a
porta já estava aberta, a forma de ele me mostrar que estava lá em
cima. Subi a escada rapidamente, de repente não querendo outra
coisa além de entrar em seus braços e me aconchegar no peito.
Quando foi que fiquei tão melosa?
Agora mesmo, ao me dar conta de que há benefícios em não
passar todas as noites sozinha, principalmente uma noite em que
você recebe uma notícia ruim.
– Oi – disse ele depois que empurrei a porta e pisei no telhado.
– Oi. – Eu suspirei, tantas emoções surgindo em mim ao vê-lo:
alívio, gratidão, satisfação, misturados com pura luxúria.
O Archie do fim do dia – com a gravata frouxa, sem o paletó e, oi,
o que é isso, mangas dobradas? – era meu Archie favorito. Era bem
diferente do Chefão Abotoadinho que conheci quando cheguei.
Atravessei o telhado até ele, e uma brisa leve soprou a barra da
minha saia. Tinha sido o primeiro dia quente do ano, e o telhado
ainda retinha um pouco do calor. O ar estava quente, leve e
reconfortante, e, quando cheguei perto, fui com ansiedade para seu
abraço.
– Parece que não vi você o dia todo. – Ele suspirou no meu
cabelo.
– Eu andei meio escondida – admiti, adorando a sensação das
suas mãos na minha lombar.
– Ah, cara, isso nunca é uma coisa boa. – Ele riu e deu um passo
para trás para se apoiar na amurada. Puxou-me entre as pernas e
me posicionou para poder me olhar nos olhos. – O que houve,
Mandona?
Pensei se devia contar para ele. Para quê? Ele não poderia fazer
nada. Mas eu queria contar, queria participar desse ritual de fim de
dia chamado “como foi seu dia, querida”, estar dentro desse ritual
pela primeira vez.
– Bem, falei com a Barbara hoje à tarde.
– Quem é Barbara?
– Sério? – perguntei, franzindo o nariz.
– Nunca ouvi você falar dela.
– Isso não parece possível – comentei, pensando em todas as
conversas que tivemos. Eu não falei dela?
– Você não gosta muito do que chamamos de compartilhar. – Ele
riu e segurou minhas mãos entre nós. – Quem é Barbara?
– Ah – respondi, ainda surpresa de nunca ter falado dela. – Ela é
minha chefe.
– Entendi. Barbara, a chefe.
– Mas ela é mais do que isso. Ela me contratou, me ensinou tudo
o que eu sei, basicamente me treinou e criou essa maravilhosa
hoteleira mandona que você está vendo hoje.
– Então é a ela que eu teria que agradecer por essa humildade
incrível?
– Você teria que ser rápido, porque ela acabou de me contar que
vai sair. Várias pessoas vão sair. Já ouviu falar do The Empire
Group?
Contei tudo para ele. Quem Barbara era, o que ela significava
para mim, como tinha me botado no caminho em que eu estava
hoje. E contei tudo sobre o The Empire Group, a fusão e o que
poderia significar para mim.
– Então você sabe alguns detalhes, mas não todos, é isso? –
perguntou ele quando terminei.
– É, não sei muito. Mas sei o suficiente pra ficar nervosa com o
que isso pode significar para mim e para o meu emprego. Minha
chance de sociedade praticamente acabou, isso é certo.
– Bem, acho que você não devia se preocupar enquanto não
souber todos os detalhes.
– Não devia me preocupar? – perguntei.
Ele balançou a cabeça.
– Eu nunca vi sentido em me preocupar se não houver motivo.
Pode acabar sendo melhor, você não tem como saber.
– Mas a Barbara foi praticamente chutada pra fora – eu disse, a
testa franzida.
– Isso é terrível, claro, mas você mesma disse que ela está
ansiosa para plantar ervas.
– Essa não é a questão, Archie.
Ele juntou minhas mãos, levou até a boca e as beijou.
– Só estou dizendo que é pra gente se preocupar com isso
quando a hora chegar.
– Essa hora é agora. Eu tenho que ir a Boston na segunda para
conhecer meu chefe novo.
– Perfeito, você vai ter a chance de mostrar a ele como é
fantástica. Eu mesmo vou dizer; como o cliente para quem você
está trabalhando, posso testemunhar como você é incrível. – Ele
virou minhas mãos e deixou beijos no centro das palmas. – Quando
digo incrível, é incrível mesmo.
Ele estava brincando, mas a ideia de ele falar com meu novo
chefe, possivelmente contar sobre o que andamos fazendo aqui
além de trabalhar… provocou um arrepio em mim.
Archie reparou e me tomou nos braços.
– Não se preocupe, Mandona. Prometo que vai dar tudo certo.
– Mas você não sabe – eu disse para o ombro dele.
– Se eu fosse você, não passaria mais tempo pensando nisso
enquanto não souber mais.
Eu insisti:
– Mas e se…
– E se marcianos aparecerem amanhã, Clara, e decidirem
explodir a gente? Como você se sentiria se isso acontecesse e você
passasse a sua última noite no planeta se preocupando com uma
coisa sobre a qual não tinha controle, em vez de passá-la comigo,
me deixando fazer coisas com você.
Eu sorri contra minha vontade.
– Deixando você fazer coisas comigo?
– Preferivelmente, coisas em que estivéssemos bem mais
pelados. Mas não sou fresco, aposto que poderia fazer maravilhas
mesmo com você ainda de saia – disse ele com seriedade,
deslizando uma das mãos pela minha perna e escorregando-a para
baixo da minha saia.
– Ah, senhor Bryant. – Eu suspirei, tentando relaxar, tentando não
me preocupar, como ele tinha pedido.
Admito que foi mais fácil relaxar quando ele botou a boca em mim
debaixo do céu noturno.
Mas eu não parei de me preocupar de verdade.
Capítulo 21
Minha mente não parou de girar no caminho até Bailey Falls. Mas
meu estômago começou a embrulhar quando entrei na I-90 Oeste.
Já não estava me sentindo muito bem durante a reunião com Dick
Stevee, piorei um pouco quando estava no estacionamento no
centro de Boston, e, quando entrei na rodovia, só queria chegar a
Bailey Falls antes que o inferno explodisse.
Aparentemente, a sorte não estava do meu lado. O inferno
explodiu no banheiro feminino de uma parada entre Ludlow e
Chicopee: vomitei tudo nos meus sapatos. Vomitei com tanto
estardalhaço que, quando saí do banheiro, uma velhinha com
expressão de solidariedade me deu uma garrafa de água, que
aceitei com gratidão. Fazia muito tempo que eu não tinha gripe, e
por um breve e apavorante momento meu cérebro surtou com a
ideia de que eu estava grávida e que a vida que eu conhecia
mudaria para sempre. Eu estava na metade do corredor de produtos
femininos, a caminho de fazer xixi num palitinho, quando meu
cérebro voltou com a notícia de que eu tinha ficado menstruada dois
dias antes e ainda estava apreciando o milagre da feminilidade
adulta, então não era isso.
Por sorte, eu estava na metade do corredor, então só precisei dar
mais uns vinte passos para chegar ao banheiro antes que outra
rodada de exposição do café da manhã acontecesse.
Eu estava pegando fogo e morrendo de frio, estava tremendo,
mas minhas costas pareciam travadas, e minhas mãos estavam
secas, enquanto meus cotovelos… de alguma forma, meus
cotovelos estavam impossivelmente suados. Mas, se eu estava
morrendo, isso não ia acontecer em um banheiro no Stuckey’s, de
jeito nenhum. Joguei um pouco de água no rosto, cambaleei até a
loja, comprei um Gatorade e um frasco de antiácido, entrei no
conversível vermelho idiota que eu tive que alugar muitas semanas
antes e virei o carro na direção de Bailey Falls.
Levei mais três horas para percorrer o que deveria ter levado
noventa minutos. Tive que parar mais duas vezes para vomitar e,
quando vi os telhados de pedra do Bryant Mountain House, tive
certeza de que estava com uma febre alta o suficiente para
preocupar as legiões de duendes que tinham invadido meu carro.
Deixei as chaves na ignição e assenti fracamente para o
manobrista, dei três passos para dentro do saguão e percebi que
não precisava ir mais longe, o sofá à esquerda da recepção era um
lugar lindo para cochilar se eu só pudesse encostar a cabeça por
um…
Contaram para mim que caí de cara em um divã de cem anos. Não
daria para inventar esse tipo de coisa, sinceramente, e foi lá que
Beverly, da recepção, me encontrou antes mesmo dos meus
sapatos terem caído dos meus pés. Beverly chamou Jonathan, que
chamou Archie, que me levou para o meu quarto como o príncipe
encantado enquanto eu gemia e resmungava loucamente sobre
conversíveis vermelhos e um chefe chamado Dick.
O Bryant Mountain House é como o Barco do amor. E, assim
como o Barco do amor, tem um médico residente. Mais ou menos.
Lá tem o dr. Carlisle, um clínico geral aposentado que vai ao hotel
todas as tardes para jogar pinochle e roubar biscoitos quando acha
que ninguém está olhando. Ele estava lá, no meio do seu pinochle,
quando caí de cara, e seguiu Archie, que me carregava
desacordada no colo até meu quarto, para ver se estava tudo bem.
Não me lembro de muita coisa da conversa, mas, quando o médico
soube que eu tinha vomitado por umas quatro horas, e outras coisas
que não mencionaremos aqui, e depois me ouviu vomitando no
banheiro, declarou que eu tinha uma severa infecção estomacal,
recomendou descanso e líquidos, um balde a uma distância
pequena da cama e que eu deixasse meu corpo se curar sozinho.
Só para deixar registrado, vomitar na frente de qualquer pessoa é
constrangedor. Vomitar na frente do seu mais ou menos namorado
enquanto ele segura o balde galantemente e sussurra palavras
tranquilizadoras e de encorajamento é um novo tipo de inferno.
Archie não queria ir embora. Recusou-se. Ele me botou na cama,
me tirou da cama quando necessário, pediu travesseiros,
cobertores, um aquecedor portátil e um ventilador giratório, três
tipos diferentes de canja de galinha e quatro tipos diferentes de
picolé. E pelo menos um litro de Lysol, o que deu ao quarto um belo
aroma de hospital, mas que, sem dúvida, era melhor do que o cheiro
de vômito.
Eu não conseguia nem pensar em tomar um dedo de caldo de
galinha, e, quando Archie tentou me provocar com um picolé de
cereja, lembro-me vagamente de dizer a ele que enfiasse em um
lugar bem particular – enquanto corria para o banheiro de novo.
Acabei encolhida no ladrilho frio, convencida de que ia morrer e que
a última coisa que eu veria seriam as garrafinhas de xampu
enfileiradas como soldadinhos armando um ataque contra a pilha de
toalhas indefesas.
O delírio no chão do banheiro levou a um episódio confuso em
que fiquei convencida de que Archie estava andando no teto, e tinha
sido enviado pelo próprio Jesus Cristo para entregar a mensagem
de que Marte era adequado para a vida humana desde que Matt
Damon conseguisse fazer as plantas crescerem.
Por volta das três e meia da madrugada, a febre passou, e
lembro-me de um homem com mãos maravilhosamente frescas
prendendo o edredom nos meus ombros e arrumando meu cabelo
suado, e do delicioso peso da mão dele apoiada acima das minhas
pálpebras fechadas. Lembro-me do aroma leve de xarope de
panqueca e de sardas pequenas dançando na frente dos meus
olhos antes de eu cair em um sono ininterrupto e abençoado.
Capítulo 22
Ah, meu bom Deus, Archie ainda estava lá. Ele viu tudo, esteve
presente em todas as minhas nojeiras, me viu no fundo do poço. Eu
fui nojenta, mas, pior do que isso, fui fraca. E ele viu tudo. Droga.
Gemi e rolei para o lado. Esse movimento fez todos os músculos
do meu corpo, principalmente os da barriga, se contraírem.
Meu gemido alertou Archie, que se virou na cadeira onde estava
lendo o jornal, tomando café e mastigando um pãozinho de canela.
Ele sorriu.
– Como está se sentindo?
– Depende. – Fiz uma careta e me esforcei para me sentar. –
Quando você estacionou um caminhão na minha boca?
– Infelizmente, foi um caso sério de infecção estomacal que fez
isso – disse ele, botando o café de lado rapidamente para ajeitar um
travesseiro atrás de mim.
Olhei em volta. Copos de ginger ale pela metade, pacotes de
biscoitos de água e sal quase cheios, um cesto de lixo agora limpo
ao lado da cama e… flores?
– De onde vieram as tulipas?
– Mandei trazerem, queria que você tivesse uma coisa bonita para
olhar quando finalmente acordasse – disse ele, fazendo carinho no
meu cabelo e o afastando da minha testa.
– Isso foi legal – eu disse, tentando sorrir, mas, puta que pariu, até
meu rosto estava doendo. – Você não devia chegar muito perto.
Estou fedendo.
– Você não está fedendo.
– Bem, meu cabelo deve estar nojento, e, falando sério, você não
precisa fazer isso – eu disse, me afastando um pouco dele. O quarto
parecia quente demais. – Você se importa de abrir a janela, deixar
um pouco de ar fresco entrar?
Ele franziu a testa.
– Eu não faria isso ainda, não é bom você pegar frio. Seu pobre
corpo passou por muita coisa nos últimos dois dias.
– Ah, acho que vou ficar bem.
– Talvez mais tarde – disse ele, encerrando o assunto. – Já está
com fome?
Fiz uma careta.
– Meu Deus, não! Vou passar o resto do ano sem comer.
– Você quase não comeu desde segunda. Precisa recuperar suas
forças. Aqui, por que você não se deita. Vou mandar trazerem canja.
– Ele começou a puxar a coberta por cima de mim e, finalmente, me
dei conta do que ele tinha dito.
– Desde segunda? Espera, que dia é hoje? – perguntei, me
lembrando de repente da reunião em Boston e da minha conversa
com Dick e…
– É quarta, querida, você ficou apagada a maior parte do tempo –
disse ele, tranquilizador, mais uma vez ajeitando meu cabelo.
– Eu fiquei apagada por dois dias? – gritei, empurrando as
cobertas e tentando sair da cama. Só tinham me dado uma semana
para terminar o projeto do hotel, e agora eu tinha menos tempo
ainda. Que pesadelo.
– Clara, volte para a cama. Você precisa descansar. – Ele puxou
delicadamente meu cotovelo, mas eu já estava quase fora da cama
e queria ar fresco. Ugh, e um banho.
– Estou bem, de verdade, vamos abrir aquela janela e arejar um
pouco este quarto – falei, calçando os chinelos e oscilando um
pouco nas pernas que pareciam não ficar de pé havia meses. – Só
vou olhar rapidinho meus e-mails e tomar um banho. Onde está meu
celular?
– Não sei – disse ele, olhando em volta. – Não o vejo desde que
trouxemos você para cá.
– Ah, cara – falei, gemendo e indo rapidamente até a bolsa,
tentando não reparar que minha cabeça ainda estava girando um
pouco. Revirei-a procurando o aparelho. – Droga, não está aqui!
Onde está minha outra bolsa?
– Perto da escrivaninha. Vou buscar para você.
– Pode deixar – eu disse, já a caminho, minha mente tentando
relembrar tudo o que tinha acontecido desde que chegara de
Boston. – Meu celular não tocou esse tempo todo?
– Não ouvi, mas não estava prestando atenção em nada além de
você. Você estava muito mal.
– Desculpa, nem imagino como deve ter sido horrível – eu disse,
olhando para ele da bolsa. – Por favor, me diga que eu não vomitei
em você!
– Ok – disse ele, dando de ombros.
– Ah, Deus, que nojo! – exclamei, tirando tudo da outra bolsa e
não encontrando o celular. – Estou tão constrangida.
– Não há motivo para ficar constrangida. – Ele sorriu e andou até
mim, que agora virava de cabeça para baixo a bolsa e a sacudia. –
A cortina do chuveiro levou a pior.
Onde estava meu celular?
– Aham… Cortina do chuveiro. – Barbara tinha tentado ligar? Dick
tinha tentado ligar? Meu Deus, e se ligaram para o hotel e deixaram
escapar que eu teria que ir embora em poucos dias? – Espera, que
cortina do chuveiro?
– Você não lembra? – Archie sorriu e esticou a mão para
massagear meu ombro. – Você ficou dizendo que estava bem, que
não ia mais vomitar, mas saiu correndo para o banheiro e não
conseguiu chegar a tempo.
Agora que ele estava falando…
– Archie, falando sério, estou com uma dívida enorme com você.
Não consigo acreditar que você ficou aqui durante tudo isso. Eu
podia ter me virado, e você não teria que ver aquilo tudo. Bem, acho
que agora não sobrou mistério nenhum.
– Você não tem dívida nenhuma comigo e estava precisando de
mim, por isso fiquei.
– Não estou dizendo que não agradeço, mas, minha nossa, eu
não esperaria que ninguém ficasse ao meu lado durante uma coisa
dessas, eu não teria pedido nem à Roxie para ficar. – Tentei pensar
nas lembranças confusas do trajeto na segunda. Eu me lembrava de
ter usado o telefone no carro e deixado um recado para Barbara. O
celular ainda estaria no carro?
Vi meus tênis no canto, mas, antes que pudesse pegá-los para ir
ao estacionamento, reparei que Archie estava um pouco quieto
demais.
– O que foi? – perguntei.
– Você não precisava me pedir para ficar, Clara. É óbvio que eu
ficaria. Onde você acha que eu estaria com você doente? – Ele
parecia meio intrigado, quase magoado.
– Desculpe. Não foi isso o que eu quis dizer, eu só… Foi muito
legal da sua parte cuidar de mim até eu ficar bem, e agora eu estou.
Estou bem melhor. Pode voltar ao trabalho. – Eu me sentei em uma
cadeira de canto e comecei a amarrar os tênis, ignorando a dor de
cabeça lancinante atrás dos meus olhos.
– Relacionamentos não são só diversão, Mandona. Às vezes,
quando metade do casal está mal, a outra parte a ajuda a se
levantar, sabia? – Ergui o olhar do cadarço, e ele estava ali, olhando
com carinho para mim. – Por que você está calçando os tênis?
Eu me levantei.
– Tenho que correr até o carro, acho que deixei o celular no banco
da frente. É o único lugar onde pode estar e…
– Ah, não – disse ele, me segurando pelos ombros e me levando
até o banheiro. – Você disse que queria tomar um banho, e estou
achando que um longo banho de banheira seria perfeito, não de pé.
Vou providenciar a canja sobre a qual falamos e, se você realmente
precisar, posso ir até seu carro… depois.
– Isso parece incrível, Archie, de verdade. Mas preciso do meu
celular por causa de umas coisas da fusão, então me deixa ir lá
rapidinho e aí eu volto para tomar uma ducha.
– Clara, você mal se aguenta de pé. Você vomitou direto por dois
dias e teve febre de quarenta graus. Você não vai a lugar nenhum.
Se precisa tanto daquele celular, eu vou buscar. Mas depois que
você tomar um banho e voltar para a cama.
Tirei as mãos dele dos meus ombros.
– Archie, preciso do meu celular. Agora. Não posso me dar ao
luxo de estar sem contato nem por uma hora, menos ainda por
quarenta e oito. Preciso ver meus e-mails, verificar as mensagens
de voz, apagar incêndios. Não tenho tempo para continuar doente.
– Isso é ridículo. Se você está doente, você está doente. Não
pode simplesmente declarar que não está.
Afastei o cabelo da testa.
– Na verdade, posso. E agradeço imensamente tudo o que você
fez por mim, mas agora tenho que voltar ao trabalho. É simples
assim.
– Acho uma péssima ideia – disse ele, parando na frente da porta.
Minha dor de cabeça explodiu com tudo, turvando minha visão,
avermelhando-a.
– Eu preciso do meu celular! Vou buscar meu celular. Se você
acha ou não que é uma péssima ideia, é irrelevante. – Parei na
frente dele, com as mãos nos quadris.
– Não entendo – disse ele. – Você está com raiva de mim por
cuidar de você?
– É isso o que está acontecendo? Porque parece que você está
tentando tomar decisões por mim com base no que você acha que
eu deveria estar fazendo, e vou logo avisando que isso nunca é uma
boa ideia.
– Puta merda – murmurou ele, passando a mão pelo cabelo. –
Você está puxando briga comigo. Não acredito.
– Estou tentando muito não fazer isso, Archie, e agora é a parte
em que você se dá conta de que sou mais do que capaz de me
cuidar.
– É esse o problema? – perguntou ele, incrédulo.
– Que droga! – gritei. – Eu só quero pegar meu celular idiota, e
você está aqui achando que tem o direito de tentar me impedir!
– Vou buscar a porra do telefone, se é tão importante para você! –
gritou ele.
– Deus, você não entende! – falei com rispidez. – Não é só o
telefone, é tentar pedir sopa quando eu disse que não queria, e me
mandar ficar com a janela fechada quando eu queria que ficasse
aberta, e me mandar tomar banho de banheira em vez de banho de
chuveiro.
– Você está com raiva de mim porque eu quero ajudar? Cuidar de
você?
– Sim! – Joguei longe o tênis que ainda não tinha calçado e
quebrei o abajur da mesa de cabeceira. – Não preciso de ninguém
me ajudando e não preciso de ninguém cuidando de mim. Eu
sempre cuidei de mim mesma, nunca precisei de ninguém e não
posso me dar ao luxo de precisar agora. Eu sempre vou tomar
minhas próprias decisões, fazer o que eu quero e quando eu quero
porque eu fui feita assim. Sei que você está acostumado a cuidar de
pessoas, sei o que você passou com a sua esposa, mas vamos
deixar bem claro: eu nunca vou ser essa garota, está bem? Eu
nunca vou me acostumar a contar com os outros, porque sabe como
a gente fica? Sozinha, destruída, abandonada. Então, não preciso
da ajuda de ninguém, na verdade eu prefiro o oposto. É mais fácil
assim, quando não esperamos nada de ninguém.
Ele ficou em silêncio. O único som no quarto era a minha
respiração, carregada.
– Ah, cara – sussurrou ele finalmente. – Nunca ia dar certo, não
é?
Minha respiração parou completamente.
Nossa chance sempre foi zero.
– Eu vou embora em cinco dias.
Eu fiz questão que fosse assim.
– Meu novo chefe me deu uma semana para terminar aqui e,
depois, tenho que voltar para Boston, para me candidatar ao
próximo projeto.
Eu bloquearia todos os caminhos possíveis até que não sobrasse
nenhum.
– Talvez seja melhor assim, Archie.
Talvez eu tenha feito de tudo para que fosse assim, Archie.
– Eu voltarei algumas vezes ao longo do próximo ano para
verificar o progresso que você e sua equipe fizeram.
Sua equipe. Não “nossa” equipe. Não haveria nada nosso.
– Talvez um dia a gente possa tentar e…
– O que eu falei, o que eu disse. Aquelas palavras… – Ele engoliu
em seco, e eu sofri. – Aquilo não significa nada?
Sua expressão suplicava para que eu dissesse que não era
verdade.
Eu respirei fundo, prendi o ar e expirei.
– Se você for embora, acabou – disse ele, os olhos azuis gelados.
– É o fim.
– Eu tenho que ir. É meu trabalho.
Eu sou o meu trabalho.
– Você é muito boa no seu trabalho – disse ele, assentindo. – E é
por isso que não acredito nem por um segundo que você tem que ir.
Você acabou de me dizer que ninguém te obriga a fazer algo que
você não queira.
– Isso é diferente.
Não é, não.
– Não – disse ele com tristeza. – Não é.
Ele se virou para sair.
– Sinto muito, Archie. De verdade.
Ele parou e falou por cima do ombro, recusando-se a olhar para
mim:
– Sabe qual é a pior parte, Clara? – Ah, Deus, não diz meu nome,
não vou conseguir se você disser o meu nome. – Eu sei que você
sente muito.
Ele saiu. Terminei de calçar os tênis e fui procurar meu celular.
Estava no banco do passageiro, onde eu tinha deixado.
Você não podia ter deixado que ele buscasse a porcaria do
telefone?
Se pudesse, eu teria deixado.
– Não acredito.
– Porra nenhuma.
– Meninas, parem com isso.
– Ah, tá.
– Porra nenhuma.
– Obrigada, de verdade, muito obrigada por serem compreensivas
com isso. – Joguei o garfo no prato, que retiniu, abandonando o
pedaço de bolo.
Eu tinha me encontrado com Roxie e Natalie para contar que eu
iria embora mais cedo do que achava e pedir que elas fossem me
atualizando sobre o casamento, para eu poder estar na cidade para
os compromissos de madrinha. Assim que dei a notícia e comi um
pedaço do bolo de limão de Roxie, fui atacada pelos dois lados, com
elas dizendo que eu estava sendo escrota e como ousava sair da
cidade assim.
Foram dias horríveis. Passei o resto da quarta-feira me
recuperando da doença enquanto tentava reassumir o controle dos
meus e-mails e espremer nos cinco dias que me restavam as
semanas de trabalho que ainda teria.
Eu não ficava sozinha com Archie desde aquela manhã, não sei
se por coincidência ou por planejamento. O único encontro que tive
com ele foi durante uma conversa muito rápida e superficial com ele
e o pai sobre os detalhes da temporada de verão.
De início, ele se recusou a olhar para mim e, quando olhou, não
foi com o calor e o carinho que eu tinha me acostumado a ver. O
sorriso lento, o humor rápido, a forma como os olhos azuis
brilhavam quando eu estava sendo lasciva… ou ficavam mais sérios
quando eu estava sendo realmente lasciva. Tudo isso estava
perdido para mim agora, escondido por trás da máscara de trabalho
e de negócios.
O que eu esperava? Eu parti o coração dele. Parti o meu, se é
que eu tinha um. E não sabia mais se tinha.
Minhas melhores amigas também estavam convencidas disso.
– É que eu não entendo – protestou Natalie, segurando o garfo na
mão fechada e pontuando cada palavra com uma batida na mesa. –
Vocês ficavam tão bem juntos, de verdade! Porra, Clara!
– Olha, vocês sabiam que não ia durar. Não tinha como. Eu teria
que ir embora de qualquer jeito. Ele sabia. Eu sabia. Porra, vocês
sabiam, então parem de me encher o saco!
Natalie apontou o garfo para mim.
– Vou encher seu saco o quanto eu quiser, Morgan, porque você
está agindo como uma idiota. Essa é a pior decisão que você podia
tomar, você não pode ir embora. Não pode!
– Clara, querida – disse Roxie, sempre a voz da razão. Ela me
conhecia melhor do que todo mundo, era sempre a mediadora, a
que conseguia segurar Natalie quando ela começava a exagerar.
Ela acalmaria a situação, conseguiria articular para Natalie o que
realmente estava acontecendo, que para mim era impossível ficar.
Roxie daria sentido à situação. – Que monte de merda você está
falando.
– Espera, o quê? – perguntei, virando a cabeça para ela com
surpresa.
– Eu te amo – disse ela, os olhos tristes –, mas você está
cagando pela boca. E você sabe que não forço muito a barra porque
sei que é difícil pra você. Sei que você odeia quando acha que
alguém está tentando te dizer o que fazer, mas, neste caso, eu não
ligo. Sem equívoco e sem dúvida, isso é um erro. Se você fizer isso,
se deixar esse homem que te ama, você vai se arrepender pelo
resto da vida.
Lágrimas quentes e intensas arderam por trás das minhas
pálpebras. Mas eu não as deixaria cair. Não podia.
– Todo mundo ficou maluco? A questão aqui não sou eu, não é
nem o Archie. – Um nó do tamanho de uma laranja surgiu na minha
garganta por eu ter dito o nome dele em voz alta. – Pelo amor de
Deus, eu não tenho escolha! É o meu trabalho, caso alguém tenha
esquecido, e o meu trabalho me obriga a estar em um lugar
diferente o tempo todo. – Engoli em seco, e a laranja aumentou de
tamanho. – Foi divertido, foi muito divertido estar aqui com vocês e
conhecer todo mundo e conhecer o Leo e o Oscar, e até o Chad e o
Logan, ver a Trudy de novo e, sim, claro, o Archie. – O nó estava do
tamanho de um abacaxi. – Eu amei o tempo que pude passar com o
Archie, foi incrível e maravilhoso e, porra, ele é… meu Deus, ele é
tudo… mas isso não importa porque eu tenho que ir. Não posso ficar
aqui. Então, isso é só… – Dei um suspiro tão profundo que até
meus dedos dos pés de repente ficaram exaustos. – É assim que as
coisas são. – Olhei para as duas por pálpebras pesadas. Tudo
parecia pesado, todas as partes de mim pareciam sobrecarregadas
e muito tristes. – Está bem?
Roxie balançou a cabeça e repuxou os lábios como quem tivesse
muitas coisas a dizer, porém sabia que nenhuma delas adiantaria.
– Está bem.
– Não está bem, mas está bem – concordou Natalie, a voz,
normalmente alta e forte, não mais do que um sussurro agora.
Peguei o garfo, sem fome, mas precisando de alguma coisa para
fazer.
– Está bem.
Capítulo 23
Prezado Dick,
Estou escrevendo para contar neste Quatro de Julho que estou
anunciando minha independência e entregando meu pedido de
demissão. Embora este e-mail não seja acompanhado por fogos de
artifício reais, saiba que, na minha cabeça, eles estão explodindo
sem parar agora. Sabe, eu amo meu emprego. Ou melhor, amava
meu emprego até você e o The Empire Group aparecerem e
mudarem tudo. Mudar é bom, e eu nunca tive medo de mudança,
mas, neste ponto da minha vida… apenas não.
Vou ficar até o fim do projeto do Oakmont, mas considere essa a
minha última contribuição. Não sei para onde a vida vai me levar,
mas me alivia saber que não vou ser, nunca, sua sócia.
Atenciosamente,
Clara Morgan
– Não, eu não tenho reserva. Mas, Bert, você me conhece, sou eu,
a Clara. Clara Morgan. Passei semanas aqui na primavera.
– Eu conheço você, senhorita Morgan, e é por isso que sei que
você conhece as regras. Ninguém entra sem reserva. – Bert, o
segurança, franziu a testa para mim por cima da prancheta. – A não
ser que você tenha um passe diário. Você tem um passe diário?
Bert estava cortando meu barato.
– Não, mas, se precisar comprar um, eu compro.
– Alguém sabe que você vem? – Ele me encarou. Eu sabia o que
realmente estava perguntando. Archie sabia?
– Não – falei, engolindo em seco. – Foi uma coisa de ímpeto.
– Aham – disse ele, franzindo a testa. – Achei que podia ser esse
o caso.
– Mas estou aqui por um bom motivo, eu juro – falei, me
esforçando para parecer arrependida e merecedora.
– Você não está planejando fazer uma cena, está? – perguntou
ele, com expressão de dúvida.
Engoli em seco novamente.
– Não. – Eu certamente não estava planejando.
– Quer comprar um passe diário, é? O dia está quase acabando.
– Ele olhou para o relógio.
– Bert, estou implorando! Só me dá o passe diário e prometo que
você não vai se arrepender.
– Não posso dar o passe diário. – Droga. Comecei a pensar se
conseguiria entrar pela floresta na encosta da montanha e não me
perder. – Mas posso vender um passe.
– Bert. Eu te amo.
– Acho bom você manter essas palavras à mão, senhorita Morgan
– respondeu ele, um pouco vermelho quando lhe entreguei meu
cartão de crédito.
– Você não precisa ligar lá para cima e informar certas pessoas
de que estou a caminho – olhei para ele com expressão de súplica
–, precisa?
Ele achou graça e me entregou o crachá e meu cartão de crédito.
– Acho que não.
Soltei um suspiro de alívio.
– Obrigada, Bert. – Comecei a fechar a janela, mas ele acenou
para mim.
– Também lhe dei um crachá do estacionamento de hóspedes,
apesar de você tecnicamente não ser hóspede. Assim, você pode
estacionar perto do prédio principal caso esteja tentando chegar lá
rápido. – Ele piscou.
– Obrigada, muito obrigada!
– Boa sorte! – gritou ele quando me afastei.
– Espero não precisar, senão volto pra chamar você, Bert! – gritei
para ele.
Olhei rapidamente para o relógio no painel. Quatro e meia. Revirei
o cérebro tentando lembrar o que eles faziam no Quatro de Julho.
Eu tinha tratado disso com a recreação. Eu sabia. Sabia que havia
torta de lagosta no jantar. Sabia que havia fogueira e marshmallow.
Sabia que haveria fogos no lago… Mas havia alguma outra coisa
especial que eles faziam durante o dia. Corrida de melancia?
Arremesso de ovos? Era provável, mas, não, era outra coisa. Uma
grande tradição, uma coisa que sempre fizeram, mas eu não
conseguia lembrar por nada no mundo!
Fiz a última curva e ali estava. Ocupando o horizonte todo, o hotel
era grandioso, muito grandioso. No brilho quente do verão, era
brutal a diferença para a impressão quase fria que eu tivera quando
o vira pela primeira vez numa tarde gelada, tantos meses antes.
Agora, o hotel resplandecia em sua melhor forma. As varandas,
cheias de jardineiras, explodiam com flores vermelhas e laranja, as
cadeiras de balanço estavam ocupadas por pessoas de todas as
idades, e bandeiras americanas esvoaçavam nos parapeitos do
telhado.
O gramado da frente, onde eu vira crianças procurando ovos de
Páscoa, estava verdejante e aparado, e as crianças desta vez
jogavam croquet com os mesmos bastões que os pais empunhavam
quando aprenderam a jogar. Mais cadeiras de balanço ocupavam a
varanda do Salão Poente, que era virada para as montanhas, e
estavam cheias de hóspedes tomando um coquetel vespertino antes
de irem para o grande churrasco.
E outra coisa… Droga, por que eu não conseguia lembrar?
Não importava, o hotel estava lindo e convidativo. Dirigi
rapidamente até o estacionamento, passando direto pelo manobrista
e entrando direto na primeira vaga que vi. Passei as mãos pelo
cabelo, belisquei as bochechas como uma boa Scarlett e saí
andando para a casa principal.
Depois de dois passos dentro do saguão, dei de cara com a sra.
Banning e a sra. Toomey.
– Olá, meninas! Como estão? Senti falta de vocês! – exclamei,
acelerando o passo para abraçá-las. Eu estava cheia de amor para
dar.
– Pois eu não – bufou a sra. Banning.
– Nem eu – disse a sra. Toomey com o mesmo mau humor.
– Qual é o problema? – perguntei, olhando para baixo para ver se
tinha derramado alguma coisa no meu vestido, me perguntando por
que elas não queriam me abraçar. A não ser que…
– Que coragem a sua de aparecer aqui – repreendeu-me a sra.
Banning, me olhando como se preferisse me ver pendurada no
mastro, no lugar da bandeira.
A sra. Toomey assentiu intensamente.
– E em um feriado, ainda por cima. Só espero que não tenha
vindo para causar mais problemas para ele, mocinha.
– Ahhh… – Suspirei, finalmente compreendendo. – E o “ele” de
quem vocês estão falando seria o Archie?
– Ah, então você se lembra do nome dele, é? – disse a sra.
Banning, erguendo tanto as sobrancelhas que fiquei surpresa de
sua testa não se abrir.
– Entendi, então todo mundo sabia que nós estávamos…
– Sim, exatamente – sussurrou a sra. Toomey. – Todo mundo
sabia que vocês estavam. Se você voltou para partir o coração dele
de novo, saiba que não vamos permitir, não é, Hilda?
– Isso mesmo, Prudence.
– Na verdade, uma das novas máquinas industriais de passar
lençóis acabou de chegar. Quer uma demonstração?
– Ora, Prudence, isso é um pouco demais, você não acha?
– Hilda, não tente me segurar, estou furiosa com essa mocinha
e…
– Sou mocinha agora? – perguntei, sorrindo apesar do fato de
minha morte estar sendo planejada bem na minha frente.
– Sua filha da puta! – ouvi do outro lado do saguão, e vi várias
mães tamparem os ouvidos dos filhos e os levarem para longe.
– Ah, cara – eu gemi e me virei para ver não só Natalie, mas
também Roxie, Leo, Oscar, Polly, Chad, Logan, Trudy e o namorado
novo dela, Wayne Tuesday. – Claro que a turma do amendoim
estaria aqui…
– Sou alérgica a amendoim – disse Polly.
– Você não é alérgica a amendoim – respondeu Leo.
– Mas todo mundo da minha sala é, por que eu não posso ser?
– Você não é alérgica a amendoim, gatinha, aceita de uma vez –
disse Leo.
– Eu sou intolerante à lactose – comentou Logan.
– Só quando come um pote inteiro de sorvete – acrescentou
Chad. – O que você devia parar de fazer.
– Vou criar uma linha de sorvetes na leiteria – declarou Oscar.
– Ah, que ótimo! – disse Trudy. – Se for bom, vou usar no
restaurante.
– Claro que vai ser bom – resmungou Oscar.
– Ninguém está dizendo que não seria bom, eu só estava dizendo
que…
– Seus filhos da puta! – gritou Natalie, se virando para todos. –
Calem a boca! E você, sua filha da puta – ela apontou para mim –, o
que você está fazendo aqui? E, Polly, toma dez dólares e vamos
encerrar o dia. – Ela enfiou algumas cédulas na mão de Polly para o
pote do palavrão, que a menina carregava para todos os lados
agora. Naquele ritmo, Polly ia conseguir pagar a própria faculdade.
– Clara! – Roxie sorriu. – Você veio para…?
– Sim, sim, vim. – Assenti com alegria. – Vocês sabem onde ele
está?
– Ele está na máquina de passar lençóis – comentou a sra.
Toomey, e a sra. Banning a mandou calar a boca.
– Está na varanda do terceiro andar – disse Roxie, sorrindo. –
Vão fazer o Salto da Varanda de Quatro de Julho.
Sim! Era isso! Era essa a tradição que eu não estava lembrando,
o Salto da Varanda. Desde que o hotel tinha sido construído,
hóspedes e funcionários pulavam da varanda do terceiro andar no
lago abaixo para comemorar o aniversário do país. Era a tradição
mais antiga e amada. Fora os pãezinhos. E eles pulavam
pontualmente às cinco da tarde.
Olhei para o relógio do saguão na hora em que ele começou a
tocar.
Bong…
Meu coração pulou na garganta. Saí correndo para a escada.
Subi em um pulo os três primeiros degraus e corri pelos restantes
como um furacão. Ouvi uma confusão de pessoas atrás de mim,
esbarrando umas nas outras conforme tentavam me seguir, mas eu
estava muito à frente.
– Para onde estamos indo?
– Você não prestou atenção? Para o terceiro andar, vem!
– Isso é tão empolgante!
– Que bom que já tenho pipoca!
Bong…
Eu estava no patamar do segundo andar, correndo rápido e
passando por hóspedes à esquerda e à direita. Apesar de estar
correndo, apesar de estar em disparada para encontrar o homem
que eu amava mais do que tudo no planeta, não pude deixar de
reparar que tinham tirado o tapete e que o piso de madeira embaixo
era incrível.
Bong…
Meus pés tocaram no primeiro degrau do terceiro andar e eu
quase derrubei um vaso de palmeira. Era uma planta nova.
Cheguei no quinto degrau. Desejei ter tempo, mais tempo, para
pensar no que dizer agora que tinha chegado, agora que o veria de
novo. O que eu poderia dizer para fazer com que ele me escutasse
e soubesse o quanto eu estava arrependida de ter saído do jeito que
saí? Eu poderia fazê-lo me ver, me ouvir, me amar de novo? E se
ele não me amasse mais? Ah, merda.
Bong…
– Vocês a estão vendo? Onde ela está?
– Pinup, para de bater em mim, isso não me faz ir mais rápido!
– Desculpa, desculpa, com licença, perdão, desculpa, com
licença!
– A máquina de passar, estou dizendo, a máquina de passar vai
cuidar dela!
– Estou preocupada com você, Prudence!
– Por que alguém pularia de uma varanda?
– Por que todo mundo não pularia?
Subi o último andar e olhei como louca em volta. Havia uma
multidão reunida na varanda, algumas pessoas de roupa de banho e
algumas ainda de vestido de verão e shorts, todas na beirada da
amurada de madeira, preparadas e esperando alguma coisa, algum
tipo de sinal, para pularem no lago.
Entrei no local, a minha turma do amendoim a menos de três
metros de mim, abri caminho até a frente dando cotoveladas como
uma groupie em um show, tentando chegar na frente antes que…
Bong…
Cinco horas.
Ali. No meio da amurada, em cima, pronto para pular. Ele se virou
com um apito na boca, pronto para soprar e avisar a todos que era a
hora.
Abri caminho na multidão, e um homem particularmente robusto
abriu o braço e quase me fez cair, mas, quando dei mais um
empurrão com minhas pernas de corredora, ele me viu.
Os olhos dele se encontraram com os meus e, em sua surpresa e
seu choque e em minha alegria e em meu arroubo apaixonado…
Bem. O mundo simplesmente sumiu.
Mas meu impulso ainda estava agindo.
Na hora que ele soprou o apito, me choquei contra o último grupo
de pessoas e pulei na amurada, batendo contra o peito dele ao
passar o braço pelo seu pescoço… e empurrar nós dois da
amurada.
Ele soprou o apito durante toda a queda.
***
Bjs!
Alice
Conheça outras obras de
Alice Clayton
Table of Contents
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Epílogo
Agradecimentos
Conheça outras obras de Alice Clayton