Ficha de Português 12º

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Ficha de Leitura/Gramática 1

Ficha defonológicos
Processos Leitura/Gramática 1

Nome___________________________________ N.o _____ 12.o _____ Data ____/ ____/ ____

Avaliação ____________________ E. de Educação _____________ Professor/a ____________

TEXTO A

Lê a apreciação crítica, de Jorge Mourinha, que se segue.

★★
Mulheres à beira
de um ataque
A história verídica das Amazonas de Daomé contada
num filme escrito, dirigido e conjugado no feminino. Fotografia de Ilze Kitshoff, A mulher rei, 2022.

Um filme de ação, ou antes, uma história justificar a atenção. E, se as sequências de ação


de guerra, que se pretende realista, ancorada são corretas, e corretamente apresentadas, falta-
nas histórias que se contam sobre as Agojie, 30 -lhes a verve, o ritmo que lhes dessem um golpe
ou Amazonas de Daomé, imbatível corpo mili- de asa, com o todo sobrecarregado por uma par-
5 tar feminino que existiu realmente até ao início titura a «traço grosso» de um Terence Blanchard
do século XX? No papel, absolutamente nada que já (ou)vimos melhor. Prince-Bythewood
contra, sentia até com algum apetite ao saber gere o todo com uma eficácia tarefeira que revela
que à frente do elenco (e da produção) estava 35 também uma certa falta de personalidade.
a sempre excelente Viola Davis, e que uma das O que sobra, então, são as atrizes – e aí não
10 suas guerreiras é Lashana Lynch, a agente que temos razão de queixa, mesmo que já tenhamos
«herdou» o nome de código 007 em Sem tempo visto Davis muito melhor (é nas cenas mais inti-
para morrer. mistas que a atriz mais brilha, mas a história não
Na prática, A mulher rei, que é esse filme, 40 lhes dá que chegue). Sempre que está no ecrã,
ambientado no início do século XIX e inteira- Lynch vai por aí fora e leva o filme atrás como
15 mente conjugado no feminino (a maioria da uma maratonista etíope, Sheila Atim e Thuso
equipa técnica é feminina), é um espetáculo Mbedu seguram as pontas com grande atenção.
eficaz e correto, mas – bizarramente – sem E A mulher rei fica como um caso singular da
alma nem garra, que Gina Prince-Bythewood 45 Hollywood contemporânea: uma história que
(A velha guarda) filma «aos solavancos». tinha tudo para ser um belo filme simultanea-
20 O argumento de Dana Stevens, que nunca mente popular e inteligente (e relevante para os
escolhe se quer ser uma melodramática nossos dias), mas que, na sua vontade de querer
women’s picture, uma denúncia da imoralidade ser tudo para todos, acaba por ficar aquém do
da escravatura ou um puro filme de guerra, não 50 seu potencial. Vale a pena espreitar, mas con-
a ajuda em nada: logo quando a história (que vém não pôr a fasquia demasiado alta.
25 é, diga-se, fascinante) está a ganhar embalo,
A mulher rei «trava» para prestar atenção a um Jorge Mourinha, in Público (texto adaptado, consultado
par de tramas secundárias que acabam por não em https://www.publico.pt, em outubro de 2022).

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1. Na perspetiva de Jorge Mourinha,
A. o elenco de A mulher rei não foi bem selecionado.
B. o filme A mulher rei não tem qualquer qualidade.
C. o argumento de A mulher rei é caracterizado por alguma indecisão.
D. o filme A mulher rei tem uma excelente banda sonora.

2. Antes de ver o filme, o crítico


A. tinha baixas expectativas.
B. estava com vontade de proceder ao seu visionamento.
C. encontrava-se cético, por não apreciar o trabalho da realizadora.
D. não tinha qualquer tipo de expectativas.

3. Jorge Mourinha critica, acima de tudo,


A. a fraca qualidade da história.
B. a falta de ritmo, de força e de originalidade a nível da realização.
C. o facto de a maioria da equipa técnica ser composta por mulheres.
D. o desempenho de Viola Davis.

4. A oração «que existiu realmente até ao início do século XX» (linhas 5-6) classifica-se como
subordinada
A. adjetiva relativa restritiva.
B. adjetiva relativa explicativa.
C. substantiva completiva.
D. substantiva relativa.

5. A oração «mesmo que já tenhamos visto Davis muito melhor» (linhas 37-38) classifica-se como
subordinada adverbial
A. consecutiva.
B. concessiva.
C. condicional.
D. final.

6. O constituinte «por aí fora» (linha 41) desempenha a função sintática de


A. complemento oblíquo.
B. modificador (do grupo verbal).
C. complemento do nome.
D. complemento do adjetivo.

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TEXTO B

Lê a apreciação crítica, de António Guerreiro, que se segue


e a nota.

★★★★★
Herberto Helder.
Entre a alegria e o terror
Apresentação do rosto forneceu matéria para 40 propriamente muito favorável à figura e à categoria
outros livros, de prosa e de poesia, de Herberto do autor. Nesse tempo, estava muito
Helder. Como os afluentes, ele foi diluir-se mais em voga a textualidade impessoal.
(mas apenas parcialmente) em correntes prin- Apresentação do rosto é, pois, um livro au-
5 cipais, tais como Os passos em volta e tobiográfico. Mas, desiludam-se os pescadores
Photomaton 45 de anedotas, a escrita da sua própria vida – a
& Vox. Para a história deste livro, importa sa- auto-bio-grafia – nunca foi nem nunca seria
ber que foi publicado pela editora Ulisseia em para Herberto uma sucessão de acontecimen-
maio de 1968, que foi imediatamente apreen- tos, de pessoas, de datas e de lugares. Não é
10 dido pela polícia política, sem outra razão que que ele recorra aos conhecidos processos que
não fosse a de ostentar nalgumas passagens 50 consistem em ficcionar ou romancear os fac-
uma linguagem que, não sendo abertamente tos de uma vida (dos quais resulta um híbrido
obscena, ofendia ainda assim o puritanismo que tem tanto de ficção como de biográfico).
das autoridades. Nas circunstâncias da época, É antes porque ele se situa num plano de in-
15 era um livro apto a suscitar desconfianças. tensidades em que a mimese1, a representação,
E certamente não apenas as da PIDE. 55 não é a das convenções narrativas do género
O autor nunca o republicou. Ele reapare- autobiográfico. Para termos uma ideia do que
ce agora, por decisão da viúva de Herberto isto significa, basta dizer que em todo o livro
Helder, Olga Lima, que, segundo uma nota de surgem apenas dois nomes próprios, de dois
20 edição, seguiu «o texto da publicação original, escritores, Edgar Allan Poe e Michel Deguy,
corrigindo diversos lapsos e erros tipográfi- 60 não há datas nem nomes de lugares. Mas há de
cos assinalados pelo autor num exemplar de facto um lugar identificável, «uma ilha em for-
trabalho». Quanto a eventuais dúvidas que se ma de cão sentado» que transitou, tal e qual,
levantem acerca da legitimidade de republicar para Photomaton & Vox.
25 um livro que o autor manteve na gaveta, diga- Todo este discurso autobiográfico é atraído
-se que a sua leitura é muito jubilante e proveitosa 65 para um centro que ocupa páginas e páginas:
para quem, na condição de estudioso a morte da mãe, quando a criança tem oito
ou de simples leitor, se aproximou da obra de anos. Digamos que essa morte percorre uma
Herberto Helder. Não há nada nele que venha longa parte do livro, até à declaração defini-
30 manchar a grandeza do poeta, do escritor. tiva: «O fundo era de água – como direi? – água
O título traz a indicação implícita de que se 70 de uma alegria trágica. / Depois disseram:
trata de um texto autobiográfico. E o incipit, morreu» (p. 73). Temos aqui uma espécie de
a frase de abertura, segue os protocolos da cena originária, para utilizarmos a linguagem
autoapresentação, como num sketch em que o da psicanálise. Quem conhece a obra de Her-
35 ator vem à boca de cena e se dirige ao públi- berto Helder sabe que esta cena originária tem
co: «Sou o Autor, diz o Autor, e aproxima-se 75 um poder fortíssimo e irradia em muitas di-
das pessoas que estão simplesmente a assistir e reções. É um dos núcleos autobiográficos em
lhe deixam, a ele, a solidão incólume». Talvez torno dos quais o poeta construiu toda a sua
seja pertinente lembrar que o contexto teó- obra poética. Outra cena originária, que se
rico-ideológico em que este livro surgiu não era

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projeta também na sua poesia, é a descober- (ou melhor, do Autor): essa matéria é eminen-
80 ta do sangue menstrual das irmãs da criança. temente autobiográfica, é em grande medida
Acrescente-se, aliás, que neste universo auto- uma expansão desta «apresentação do rosto».
biográfico só há mulheres. E toda a mediação 90 É portanto uma matéria obsessiva, sempre em
com o mundo é da ordem do feminino. Em movimento e em estado de enlouquecimen-
suma: a leitura desta Apresentação do rosto to. Baudelaire quis levar a poesia ao estado de
85 elucida-nos bastante sobre os mecanismos e a apoteose; Herberto Helder leva a poesia (e a
matéria de que é feita a obra poética do autor prosa) ao estado de enlouquecimento.

António Guerreiro, in Público (texto adaptado, consultado


em https://www.publico.pt, em novembro de 2022).

1
Mimese: reprodução artística da realidade.

1. A obra Apresentação do rosto


A. nunca chegou a ser publicada.
B. foi apreendida pela polícia política.
C. foi recentemente republicada, por iniciativa da viúva do autor.
D. não faz jus, pela sua qualidade, à restante obra de Herberto Helder.

2. De acordo com António Guerreiro, esta obra


A. é uma autobiografia, no sentido mais clássico do termo.
B. surgiu num contexto em que o texto autobiográfico estava em voga.
C. é uma autobiografia, apesar de não seguir as normas convencionais deste género literário.
D. é marcada pela ficcionalização dos factos da vida do autor.

3. A utilização do pronome «ele» (linha 3) contribui para a coesão textual


A. lexical.
B. gramatical referencial.
C. gramatical interfrásica.
D. gramatical temporal.

4. A oração «que neste universo autobiográfico só há mulheres» (linhas 81-82) classifica-se como
subordinada
A. adjetiva relativa restritiva.
B. adverbial consecutiva.
C. substantiva completiva.
D. adjetiva relativa explicativa.

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