Livro Inclusão Educação Sociedade
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Organizadores:
Paola Regina Carloni (Coordenadora)
Arnaldo Cardoso Freire
Tatiana Carilly Oliveira Andrade
Copyright©2018 by: Inclusão, educação e sociedade
Conselho Editorial
Introdução
Voltando à teoria da hipótese de contato, podemos dizer que quando o Art. 37. Constitui modo de inclusão da pessoa com deficiência no tra-
preconceito não é devido a defesas psicológicas, quando é superficial, o balho a colocação competitiva, em igualdade de oportunidades com as
contato e a experiência podem bastar para eliminá-lo; quando funciona demais pessoas, nos termos da legislação trabalhista e previdenciária,
como um mecanismo de defesa psíquica que toma o indivíduo refratário na qual devem ser atendidas as regras de acessibilidade, o fornecimento
á experiência, somente o contato não é suficiente. Por isso, ao derrubar de recursos de tecnologia assistiva e a adaptação razoável no ambiente
os muros dos hospitais psiquiátricos, das escolas especiais, pode passar de trabalho.
a existir ou continuar a haver uma forma de segregação simbólica ou de Parágrafo único. A colocação competitiva da pessoa com deficiência
marginalização (CROCHIK, 2011, p.74). pode ocorrer por meio de trabalho com apoio, observadas as seguintes
diretrizes:
O preconceito surgido daí mostra-se na função de esconder do pre- I - prioridade no atendimento à pessoa com deficiência com maior difi-
conceituoso a fragilidade que o outro revela de si. Quando estereotipado e culdade de inserção no campo de trabalho;
caricaturado, a dificuldade ou fragilidade do outro dificilmente é identifi- II - provisão de suportes individualizados que atendam a necessidades
cado com a fragilidade e dificuldade que todos temos. O sujeito indiferen- específicas da pessoa com deficiência, inclusive a disponibilização de re-
ciado não suporta entrar em contato com o diferente e pode tentar negá-la, cursos de tecnologia assistiva, de agente facilitador e de apoio no am-
justifica-la ou mesmo superproteger a pessoa com deficiência (CROCHIK, biente de trabalho;
2011). III - respeito ao perfil vocacional e ao interesse da pessoa com deficiên-
Talvez, por isso se verifica que os empregos reservados às pessoas cia apoiada;
com deficiências ainda são, em sua maioria, em cargos escondidos e simples IV - oferta de aconselhamento e de apoio aos empregadores, com vistas
como almoxarifados, estoques, telefonia e outros. Locais visíveis nas em- à definição de estratégias de inclusão e de superação de barreiras, inclu-
presas, como o atendimento ao público, dificilmente são empregados por sive atitudinais;
pessoas com algum tipo de deficiência. V - realização de avaliações periódicas;
Mesmo mantendo o aspecto perverso de se incluir numa sociedade VI - articulação intersetorial das políticas públicas;
alienada, que não reconhece a diferença dos sujeitos e não possibilidade a VII - possibilidade de participação de organizações da sociedade civil.
emancipação pela via da educação, que está voltada para o mercado de tra- Art. 38. A entidade contratada para a realização de processo seletivo
Introdução
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A globalização iniciada com as grandes navegações seguiu um per- Os Estados abarrotados de recursos que seus bancos centrais atiram
curso que aparentemente estava dado: encurtar o mundo, aproximar pes- pela janela (para os fundos dos bancos internacionais e nacionais aos
soas. Todavia, o trajeto sinuoso da história nos proporciona um cenário quais estão associados) em pagamentos de altos juros de falsas dívidas
bem mais complexo. No emaranhado de relações criaram-se barreiras sem públicas, ao depositar essas reservas em bancos estadunidenses que pa-
precedentes no traçado de linhas que se cruzam. E, constantemente, nos gam juros cada vez mais baixos, realizam depósitos em divisas em plena
apresentam “novos e poderosos cenários que marcam profundamente a desvalorização, isto é, o dólar. Além disso, o Banco Central do Brasil
sociedade, a educação, o trabalho e toda a atividade humana” (SANDER, particularmente utiliza massivos e inflacionários recursos públicos (in-
2005, p. 18). clusive emissões) para comprar dólares, pretendendo conter (sem resul-
Do ponto de vista econômico, seguem-se algumas observações. tados contundentes) a valorização exagerada da moeda nacional (o real).
Produz-se assim uma exportação de lucros, juros e outras rendas de
A economia global interconecta todos os países dentro de um sistema capitais externos que debilitam nossa situação fiscal e cambial, quando
mundial extremamente desigual, no qual existe um centro formado por se deveria aproveitar essas reservas para realizar investimentos sociais,
economias com alta renda, forte produtividade e poder de condicionar produtivos e de infraestruturas necessários para o desenvolvimento da
e dominar as economias de menor desenvolvimento e riqueza. Essa região (SANTOS, 2016, p. 199).
economia mundial globalizada produz um desenvolvimento desigual e
combinado articulado de forma sistêmica. É característica desse sistema Ora, o deslocamento constante de recursos nacionais, que poderiam
uma grande instabilidade com períodos longos de alto crescimento e ou- ir para infraestruturas diversas, e resolver ou amenizar problemas graves
tros de baixo crescimento ou mesmo de acréscimo e recessão (SANTOS, de ordem estrutural, certamente amplia o fosso entre aqueles que neces-
2016, p. 195). sitam e as possíveis fontes provedoras de suas necessidades. E quando se
pensa o Brasil no contexto latino-americano após o “dilúvio neoliberal” e
O processo de globalização sua “cruzada privatista” (BORÓN, 1995) as projeções são ainda mais in-
quietantes.
impõe às nações o desafio de abrirem-se ao fluxo do mercado mundial
promovido pela universalização do capitalismo. Ao mesmo tempo, cada A fusão da crise fiscal com o discurso auto-incriminatório do Estado que
país necessita criar estratégias próprias, locais e em blocos regionais propagam os porta-vozes do neoliberalismo levou diversos governos da
para manter sua identidade e soberania (ALMEIDA, 2003, p. 33). A região a adotar políticas tão selvagens quanto imprudentes – e, em al-
questão da soberania e das tomadas de decisões se mostra premente guns casos, altamente corruptas – de desmantelamento de agências e
frente aos organismos internacionais que invadem e suprimem interes- empresas estatais ou paraestatais, cujos resultados, em termos da pro-
ses locais (ARAÚJO, 2013, p. 64-65). visão de bens públicos, são até agora francamente negativos (BORÓN,
1995, p. 79).
De acordo com Costa e Lemes (10/2015), a tradição de se fazer Dellani e Moraes (2012, p. 3) entendem que “a inclusão é uma ino-
política a favor dos interesses de um grupo em detrimento da coletividade, vação, cujo sentido tem sido muito distorcido e polemizado pelos mais di-
traz percalços para propostas que são impostas ao invés de se conscientizar ferentes segmentos educacionais”.
dos problemas balizadores em determinada realidade. Assim, as autoras Para esses autores a inclusão escolar continua sendo caminhos com-
apoiando-se em Bobbio (2004), defendem que o direito não é algo dado ou plexos, a devida efetivação dessa modalidade de ensino é ainda incipiente
e com muitos entraves a serem solucionados, pois que a maior dificuldade
mesmo conquistado, mas, sim um processo impregnado de interesses con-
está no fato de que não há o reconhecimento do “outro” como diferente,
frontados, que desembocam em decretos, declarações, leis, dentre outros
sintetizando a não aceitação das diferenças, logo não há a superação de
que potencializam a legitimidade das ações:
paradigmas tão arraigados na cultura social e isso, dizem os autores, são
frutos de nossa história. Citando Mantoan (2003) os autores explicam
A linguagem dos direitos tem indubitavelmente uma grande função
que “a inclusão escolar faz repensar o papel da escola e conduz a adoção
prática, que empresta uma força particular às reivindicações dos mo-
de posturas mais solidárias e para a convivência”, pois esse é um conceito
vimentos que demandam para si e para os outros a satisfação de novos
novo que carece de tempo para ser abstraído, implementado; necessita de
carecimentos materiais e morais; mas, ela se torna enganadora se obs-
mudança nos paradigmas, nas concepções educacionais, e principalmente
curecer ou ocultar a diferença entre o direito reivindicado e o direito
na prática pedagógica.
reconhecido e protegido. (BOBBIO, 2004, p.9).
Assim, segundo Dellani e Moraes (2012) incluir requer mudança de
postura, de crítica, de novos olhares, uma vez que a escola não é uma “es-
As autoras apontam que os avanços educacionais são decorrentes de trutura pronta e acabada”. Portanto, exige uma mudança de mentalidade,
lutas de cunho democrático que visam uma sociedade de oportunidades e de reflexão, de valorização da diversidade humana.
igualdades sociais para todos. No entanto ressaltam a meta 04 que promul- Nesse sentido, refletir acerca da Inclusão Educacional ainda requer
ga a universalização da educação inclusiva não abarca o ingresso e perma- um projeto de currículo e de práticas pedagógicas que possam nortear os
nência de todos os alunos no ensino dito regular. Deixando clara a relação inúmeros caminhos que devem ser trilhados nessa nova demanda do ensino
“dialética” entre direito e o dever no sistema educacional. Direito esse, que aprendizagem. De acordo com Matos e Mendes (2014, p. 36), “atores e au-
Post 12: Todo transsexual está condenado ao inferno, segundo a palavra 5 - Naturalização dos gêneros
do Senhor. Deus me livre dessas aberrações. (Internauta 12. Curtidas: 2.
Descurtidas: 37). A categoria “naturalização dos gêneros” remete a uma ideia errônea
em que gênero estaria enclausurado no sexo biológico designado ao sujeito
O pensamento da transfobia é justificado por uma teologia puniti- no momento de seu nascimento, e vinculado ainda à reprodução humana.
Referindo-se a certo binarismo de gênero profetizador de corpos e compor-
va e inferiorizante, atribuindo ao sagrado expectativas preconceituosas e
tamentos esperados (BARBOSA E SILVA, 2015).
sentenciando as pessoas transexuais e travestis a um lugar de sofrimento.
No primeiro exemplo temos o seguinte comentário:
Interessante notar que há um grande índice de reprovação do mes-
mo, o número de “descurtidas” chegou a 37, enquanto o de curtidas apenas
Post 3: [...] come o ** dele então e daqui nove meses me fala se vai nas-
2. Revela ser um dos comentários mais reprovados nesse estudo por outros
cer um filho. Lol. (Internauta 3. Curtidas: 4. Descurtidas: 4).
internautas.
Tais discursos podem ser ainda associados ao sentimento de “pena”,
Dividindo-se igualmente o número de curtidas e descurtidas, o in-
atribui-se a esse grupo uma série de justificativas nas quais conferem ao
ternauta invoca o tema da reprodução como se fosse necessário para legiti-
sagrado a possibilidade de libertá-lo de algum erro ou pecado.
mar o gênero feminino ou masculino de uma pessoa.
É possível notar algo semelhante na fala do próximo internauta:
Post 17: Jesus pode liberta-las, se elas quiserem do espírito da luxúria,
herdado de seus antepassados ou de suas transgressões. (Internauta 17. Post 11: Sou MULHER e me considero extremamente ofendida ao ter
Curtidas: 1. Descurtidas: 5). a mesma denominação desses 2 seres abomináveis!! isso não é, e nunca
será MULHER. isso é um absurdo!! (Internauta 11. Curtidas: 26. Des-
As reações desses comentários foram poucas, mas a maioria “des- curtidas: 145).
curtidas”. Percebe-se uma tentativa de justificar a transexualidade como
algo desviante a partir de uma norma supostamente divina. Há nesse caso uma reação contrária do público de modo geral, com uma
Nesses casos é presente um interesse em transformar a transexu- grande quantidade de descurtidas (145) referente ao comentário da internauta.
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