Do - Curso 150905 Rodada 04 99de Completo
Do - Curso 150905 Rodada 04 99de Completo
Do - Curso 150905 Rodada 04 99de Completo
Autor:
Alessandro Sanchez, Alex Fadel,
Bruno Betti, Edon José Rodarte
Filho, Flávio Milhomem, Guilherme
Carneiro de Rezende, Guilherme
Peña de Moraes, Henrique da
Rosa, Mateus Pontalti, Monique
Mosca Gonçalves, Ricardo
Torques, Ricardo Torques C.,
Equipe Materiais Carreiras
Jurídicas, Felipe Duque
29 de Outubro de 2020
Alessandro Sanchez, Alex Fadel, Bruno Betti, Edon José Rodarte Filho, Flávio Milhomem, Guilherme Carneiro de Rezende, Guilh
Rodada 04
Sumário
1 - Temas Específicos e Aprofundados .............................................................................................................. 4
1.6.1 - Notas sobre o acordo de não persecução penal: full trial x justiça negociada .....................................................40
1097228
Alessandro Sanchez, Alex Fadel, Bruno Betti, Edon José Rodarte Filho, Flávio Milhomem, Guilherme Carneiro de Rezende, Guilh
Rodada 04
A interpretação constitucional pode ser definida como atividade intelectual de revelação do sentido, alcance
e conteúdo de determinada norma constitucional.
Nesse sentido, os métodos tradicionais de interpretação constitucional são classificados à luz da origem, do
meio e da finalidade.
No tocante à origem, há uma classificação clássica que reparte a interpretação em legislativa, judicial,
administrativa e doutrinária.
A interpretação legislativa é aquela desempenhada no exercício da função legislativa, tem como origem o
desempenho dessa função. Nesse sentido, o processo legislativo é a principal forma pela qual essa
interpretação é levada a cabo: é no processo de construção de normas jurídica que talvez nasça essa
interpretação; o legislador pode imprimir o sentido, alcance e conteúdo de uma norma da Constituição ao
produzir norma legal que regule a disposição constitucional.
A par da interpretação legislativa, pode ser que a fonte de determinada interpretação – isto é, a sua origem
– seja a função jurisdicional. Assim, a interpretação judicial é aquela levada a cabo pelo desempenho da
função jurisdicional, notadamente a jurisdição constitucional. No controle de constitucionalidade (quando
judicial), por exemplo, caberá ao Poder Judiciário interpretar a Constituição, impregnando-lhe de sentido,
alcance e conteúdo.
Por fim, é possível ainda se falar em interpretação doutrinária, feita pelos doutrinadores (escritores do
direito) que irão interpretar a Constituição (sentido, alcance e conteúdo de uma norma jurídica veiculada
pela Constituição).
Levando em consideração os meios, nasce uma distinção entre interpretação gramatical, histórica,
sistemática, lógica e teleológica.
Na interpretação gramatical, os meios utilizados pelo intérprete são enunciados de linguagem, levando em
consideração a distinção entre norma e texto (interpreta-se uma norma a partir de seu texto). Essa
interpretação tem relação com a mutação constitucional: o intérprete deve se pautar no texto, que deve
aceitar a construção por ele proposta. Ressalta-se, assim, o limite semântico a que está sujeito o intérprete,
não podendo ultrapassar o texto da Constituição, sob pena de incorrer em atividade inconstitucional. Além
disso, atuar contra esse limite significa produzir um ativismo contra a Constituição, violando com isso a
separação de poderes.
A interpretação histórica é aquela que leva em consideração, como meio, os antecedentes históricos da
norma.
A interpretação sistemática, por sua vez, é aquela que leva em consideração o caráter sistemático da norma,
relacionado ao princípio da unidade da Constituição, isto é, como a Constituição confere caráter sistêmico a
ordem jurídica.
Por fim, a interpretação teleológica leva em consideração valores em jogo, os fins que o intérprete pretende
alcançar na sua atividade hermenêutica.
Essa classificação parte de uma distinção que deve ser feita entre signo de linguagem e significado, conforme
haja ou não correspondência entre eles. Significado é a mensagem que se expressa através da norma
constitucional, é a mensagem traduzida pela norma constitucional; signo de linguagem é o instrumento que
veicula esse significado, é o modo/suporte pelo qual se veicula a mensagem.
Contudo, em regra, o mais comum é que não haja correspondência, de maneira que ora a pretensão do
intérprete é ampliar o sentido do enunciado normativo, ora reduzir o sentido. Quando não houver essa
conformidade, a interpretação será restritiva ou extensiva.
A interpretação extensiva não se confunde com analogia, embora sejam muito semelhantes. A diferença
entre os conceitos está na distinção que existe entre “palavra da lei” e “pensamento do legislador”. Na
interpretação extensiva existe ampliação da palavra da lei (do enunciado normativo); a norma constitucional
não possui lacuna, logo não há que se ampliar um pensamento, mas o próprio texto e seu sentido.
Diferentemente, no caso da analogia há uma lacuna a ser colmatada, de modo que não se amplia a palavra
da lei, mas o pensamento do legislador, suprindo a lacuna via analogia.
nesta rodada para o nosso curso voltado ao ministério público, Vamos conversar sobre o tombamento, as
modalidades de licitação e a alienação de bens públicos.
são temas extremamente recorrentes nas questões de concurso, de modo que no MP não será diferente.
1.2.1 - Tombamento
A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios podem realizar o tombamento, de acordo com o art. 23,
III da CR/88, bem como todos os entes federados podem legislar sobre o instituto.
Natureza do Ato
O tombamento é um ato vinculado e discricionário ao mesmo tempo. Observe que sob o aspecto de que o
tombamento há de se ter por pressuposto a defesa do patrimônio cultural, o ato é vinculado, o que significa
que o autor do ato não pode praticá-lo apresentando motivo diverso. Está, dessa forma, vinculado a essa
razão. Contudo, no que tange à valorização da qualificação do bem como de natureza histórica, o ato é
discricionário, visto a análise do caso concreto, verificando os pressupostos de oportunidade e conveniência
da situação.
Classificação de Tombamento
De acordo com o art. 10 do Decreto-Lei 25/37, o tombamento provisório é aquele que se iniciar com a
notificação do proprietário e subsiste até o momento em que antecede o registro no livro do tombo. Por sua
vez, o tombamento definitivo é aquele que se inicia com o registro no livro do tombo.
De acordo com o art. 6º do DL 25/37, o tombamento voluntário é aquele requerido ou anuído pelo
proprietário. Por sua vez, o tombamento compulsório, nos termos do art. 7º do DL 25/37, é aquele que o
proprietário se recusa a anuir e o poder público impõe o tombamento. Por fim o tombamento de ofício é
aquele que ocorre em relação aos bens públicos.
Em relação ao tombamento de bens públicos, o STJ admite que os municípios realizem tombamentos de
bens da União e dos Estados. O STF, acompanhando o STJ, também já se posicinou pela possibilidade de
entes menores tombarem bens de entes maiores. 1
Ao município também é atribuída a competência para o tombamento de bens (art. 23, III, da CF/1988). Note-
se que o tombamento não importa transferência de propriedade a ponto de incidir a limitação constante do
art. 2º, §2º, do DL n. 3.365/1941 quanto à desapropriação de bens do estado pela municipalidade. RMS
18.952-RJ, Rel. Min. Eliana Calmon, julgado em 26/4/2005
O tombamento individual é aquele que recai diretamente sobre um determinado bem específico. Por outro
lado, o tombamento geral é aquele que recai sobre um conjunto de bens, como bairros e cidades.
Na verdade, quer-se saber se os Poderes Legislativo e Judiciário possuem competência para realizar o
tombamento. De acordo com o entendimento do STF, é constitucional a instituição do tombamento por
meio de uma lei. Em outras palavras, o Poder Legislativo possui competência para tombar 2. Contudo, por
outro lado, o Poder Judiciário não tem competência para instituir o tombamento.
1
Os bens da União podem ser tombados pelos estados, Distrito Federal e municípios. O entendimento é do ministro do Supremo
Tribunal Federal Gilmar Mendes, que julgou improcedente ação na qual a União questionava o tombamento de um edifício de sua
propriedade determinado por uma lei de Mato Grosso do Sul. ACO 1.208/ 2017.
2
ACO 1.208/ 2017.
Direito de Preferência
O tema referente ao Direito de Preferência foi revogado pelo Novo Código de Processo Civil. Dessa forma, o
NCPC disciplinou o direito de preferência no âmbito das alienações judiciais, de maneira que o art. 889, VIII
afirma que a União, os Estados e os Municípios serão cientificados da alienação judicial com antecedência
mínima de 5 dias.
Ademais, o artigo 892, §3º apregoa que no caso de leilão de bem tombado, a União, os Estados e os
Municípios terão, nessa ordem, o direito de preferência na arrematação, em igualdade de oferta.
As coisas tombadas, que pertençam à União, aos Estados ou aos Municípios, inalienáveis por natureza, só
poderão ser transferidas de uma à outra das referidas entidades.
No caso de transferência de propriedade, deverá o adquirente, dentro do prazo de trinta dias, sob pena de
multa de dez por cento sobre o respectivo valor, fazê-la constar do registro, ainda que se trate de transmissão
judicial ou causa mortis.
Na hipótese de deslocamento de tais bens, deverá o proprietário, dentro do mesmo prazo e sob pena da
mesma multa, inscrevê-los no registro do lugar para que tiverem sido deslocados.
A. coisa tombada não poderá saír do país, senão por curto prazo, sem transferência de domínio e para fim
de intercâmbio cultural, a juízo do Conselho Consultivo do Serviço do Patrimônio Histórico e Artistico
Nacional.
Tentada a exportação, para fora do país, da coisa tombada, será esta sequestrada pela União ou pelo Estado
em que se encontrar.
Apurada a responsabilidade do proprietário, ser-lhe-á imposta a multa de cinquenta por cento do valor da
coisa, que permanecerá sequestrada em garantia do pagamento, e até que este se faça. No caso de
reincidência, a multa será elevada ao dobro.
A pessoa que tentar a exportação de coisa tombada incorrerá nas penas cominadas no Código Penal para o
crime de contrabando.
As coisas tombadas não poderão, em caso nenhum ser destruídas, demolidas ou mutiladas, nem, sem prévia
autorização especial do Serviço do Patrimônio Histórico e Artistico Nacional, ser reparadas, pintadas ou
restauradas, sob pena de multa de cincoenta por cento do dano causado.
Sem prévia autorização do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, não se poderá, na vizinhança
da coisa tombada, fazer construção que lhe impeça ou reduza a visibilidade, nem nela colocar anúncios ou
cartazes, sob pena de ser mandada destruir a obra ou retirar o objeto, impondo-se neste caso a multa de
cinquenta por cento do valor do mesmo objeto.
O proprietário de coisa tombada, que não dispuser de recursos para proceder às obras de conservação e
reparação que a mesma requerer, levará ao conhecimento do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional a necessidade das mencionadas obras, sob pena de multa correspondente ao dobro da importância
em que for avaliado o dano sofrido pela mesma coisa.
A falta de qualquer dessas providências, poderá o proprietário requerer que seja cancelado o tombamento
da coisa.
Uma vez que verifique haver urgência na realização de obras e conservação ou reparação em qualquer coisa
tombada, poderá o Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional tomar a iniciativa de projetá-las e
executá-las, a expensas da União, independentemente da comunicação a que alude este artigo, por parte do
proprietário.
Nesta situação, caso o entende que realizou o tombamento concordar, basta haver o cancelamento do
tombamento. O problema reside quando não há essa concordância por parte do ente instituidor do
tombamento. Neste caso, deve-se observar a Proporcionalidade da medida. Em outras palavras, deve-se
analisar se há a possibilidade de outra solução ser feita, isto é, sem demolição. Caso não haja outra forma de
solução que não seja a demolição, esta irá ocorrer. Importante é analisar o caso concreto.
Comentários Finais
3) Bem estrangeiro pode ser tombado. Contudo, o art. 3º do DL 25/37 exclui alguns que não poderão ser
tombados, como os:
Passemos agora, para o estudo das modalidades de licitações previstas na lei nº 8.666/93.
1.2.2 - Modalidades
I. Concorrência;
II. Tomada de Preço;
III. Convite;
IV. Concurso;
V. Leilão.
Concorrência
Conceito: Concorrência, nos termos do art. 22, § 1º, é a modalidade de licitação entre quaisquer interessados
que, na fase inicial de habilitação preliminar, comprovem possuir os requisitos mínimos de qualificação
previstos no edital;
2. Compra ou alienação de imóveis de qualquer valor, salvo os imóveis cuja aquisição seja derivada de
procedimentos judiciais ou dação em pagamento, no qual também é admitido o Leilão;
De acordo com o art. 15, § 1º da Lei de Licitações, o registro de preços será precedido de ampla pesquisa de
mercado. Ademais, os preços registrados serão publicados trimestralmente para orientação da
Administração, na imprensa oficial.
Importante observar, ainda, o previsto no § 4º do mesmo dispositivo legal que legisla que a Administração
não tem a obrigação de contratar com os interessados que esteja com os seus preços registrados, podendo
utilizar de outros meios. O que estes possuem é preferência na contratação em igualdade de condições, caso
a Administração resolva contratar.
Qualquer cidadão é parte legítima para impugnar preço constante do quadro geral em razão de
incompatibilidade desse com o preço vigente no mercado.
Nas compras deverão ser observadas, ainda a especificação completa do bem a ser adquirido sem indicação
de marca; a definição das unidades e das quantidades a serem adquiridas em função do consumo e utilização
prováveis, cuja estimativa será obtida, sempre que possível, mediante adequadas técnicas quantitativas de
estimação e as condições de guarda e armazenamento que não permitam a deterioração do material.
Por fim, de acordo com o § 3º, III do art.15, o registro de preço terá validade não superior a 1 ano.
7. Para compras e serviços que não sejam de engenharia, com valor acima de R$ 1.430.000,00.
No caso de consórcios públicos, aplicar-se-á o dobro dos valores mencionados acima quando formado por
até 3 (três) entes da Federação, e o triplo, quando formado por maior número.
Esses dois últimos cabimentos fazem da Concorrência a modalidade de licitação ser considerada aquela mais
adequada a contratações de grande vulto financeiro.
Comentários relevantes
Nos termos do art. 18, da Lei nº 8.666/93, na concorrência para a venda de bens imóveis, a fase de habilitação
limitar-se-á à comprovação do recolhimento de quantia correspondente a 5% (cinco por cento) da avaliação.
Nesse sentido, o STJ estabelece que na concorrência para a venda de bens imóveis, é vedada, à
Administração Pública, a fixação de caução em valor diverso do estabelecido no art. 18 da Lei n. 8.666/1993 3.
Tomada de Preço
Conceito: Tomada de Preço, segundo o art. 22, § 2º, é a modalidade de licitação entre interessados
devidamente cadastrados ou que atenderem a todas as condições exigidas para cadastramento até o 3º dia
anterior à data do recebimento das propostas.
Cabimento:
1) Para obras ou serviços de engenharia, com valor até R$ 3.300.000,00;
2) Para compras e serviços que não sejam de engenharia, com valor até R$ 1.430.000,00.
No caso de consórcios públicos, aplicar-se-á o dobro dos valores mencionados acima quando formado por
até 3 (três) entes da Federação, e o triplo, quando formado por maior número.
3
(REsp 1.617.745-DF, Rel. Min. Og Fernandes, Rel. Acd. Min. Assusete Magalhães, Segunda Turma, por maioria, julgado em
22/10/2019, DJe 16/04/2020)
Diante do cabimento da Tomada de Preço, pode-se afirmar que essa modalidade, comparativamente à
Concorrência, envolve menor quantidade de dinheiro, motivo pelo qual se destina a contratações de vulto médio.
Participantes:
1) Licitantes cadastrados;
2) Licitantes não cadastrados, desde que cadastrados até o 3º dia anterior à data marcada para o
recebimento das propostas.
a) Registros Cadastrais
De acordo com o conceito de Tomada de Preço, os licitantes devem ser, como regra, previamente registrados
nos órgãos públicos.
O registro cadastral deve ocorrer em órgãos que realizem licitações frequentemente, de maneira, que serão
válidos por, no máximo, 1 ano. Isso de acordo com o art. 34 da Lei nº 8.666/93.
Por fim, outros órgãos públicos poderão utilizar-se do registro cadastral feito por um órgão, nos termos do
art. 34, § 2º da Lei Geral de Licitações.
Convite
Conceito: Convite, nos termos do art. 22, § 3º, é a modalidade de licitação entre interessados do ramo
pertinente ao seu objeto, cadastrados ou não, escolhidos e convidados em número mínimo de três pela
unidade administrativa, a qual afixará, em local apropriado, cópia do instrumento convocatório e o estenderá
aos demais cadastrados que deverão manifestar seu interesse em até 24 horas.
Cabimento:
1) Para obras ou serviços de engenharia, com valor até R$ 330.000,00;
2) Para compras e serviços que não sejam de engenharia, com valor até R$ 176.000,00.
No caso de consórcios públicos, aplicar-se-á o dobro dos valores mencionados acima quando formado por
até 3 (três) entes da Federação, e o triplo, quando formado por maior número.
4
CARVALHO FILHO, José Santos. Manual de Direito Administrativo. 26ª ed. rev. ampl. atual. São Paulo: Atlas, 2013. P. 276
De acordo com o cabimento dessa modalidade, veja que o convite se destina a contratações de menor vulto
financeiro.
O Convite é a modalidade de licitação que não possui edital. Há, na verdade, a chamada carta-convite.
Perceba que esta carta-convite é remetida a, no mínimo, três interessados que pertencem ao ramo do objeto
licitado. Esses interessados são livremente escolhidos pelo administrador público.
Participantes:
1) Licitante convidado, cadastrado ou não, em um número mínimo de 3.
2) Licitante não convidado, que deve ser cadastrado e deve manifestar sua vontade de participar com
antecedência de 24 horas da apresentação das propostas.
Entenda que o licitante convidado não precisa ser cadastrado. Contudo, o licitante não convidado deve ser
cadastrado e manifestar a intenção de participar do certamente com antecedência de 24 horas da
apresentação das propostas.
A lei exige apenas o convite a 3 pessoas. Entretanto é pacifico na jurisprudência (TCU e Tribunais superiores)
o entendimento de que não basta convidar 3 pessoas; é imprescindível que apareçam 3 propostas válidas.
Nesse sentido, a Súmula 248 TCU afirma que não se obtendo o número legal mínimo de três propostas aptas
à seleção, na licitação sob a modalidade Convite, impõe-se a repetição do ato, com a convocação de outros
possíveis interessados ressalvados as hipóteses previstas no parágrafo 7º, do art. 22, da Lei nº 8.666/1993.
Para que o licitante não convidado participe, a Lei nº 8.666/93 exigiu que o administrador público afixasse,
em local adequado, cópia da carta-convite.
Há, ainda, que ser observado duas situações relevantes acerca dessa modalidade.
A primeira delas está prevista no art. 22, § 7º, isto é, é o desinteresse dos convidados ou à limitação do
mercado. Essas situações podem ocasionar a presença de um número menor que 3 interessados. “se isso
ocorrer, a lei considera válido realizar o confronto entre apenas duas propostas, ou, se uma só for
apresentada, celebrar diretamente o contrato”.5 De acordo com o dispositivo legal, a administração deve
justificar essa situação, sob pena de ter que repetir o convite.
A segunda situação que merece ser analisada está legislada no art. 22, § 6º. Essa situação é a existência, no
mercado, de mais de três interessados para o objeto do contrato. Em outras palavras, quis a lei que,
realizando novo convite para objeto idêntico ou assemelhado, é obrigatório o convite a, no mínimo, mais um
interessado, enquanto houver cadastrados não convidados nas últimas licitações.
5
CARVALHO FILHO, José Santos. Manual de Direito Administrativo. 26ª ed. rev. ampl. atual. São Paulo: Atlas, 2013. P. 277
Concurso
Conceito: Concurso, segundo o art. 22, § 4º, é a modalidade de licitação entre quaisquer interessados para
escolha de trabalho técnico, científico ou artístico, mediante prêmios ou remuneração aos vencedores.
Cabimento:
Quando a Administração realiza um concurso, ela não tem como objetivo contratar ninguém. Na verdade,
tem o objetivo, apenas, de selecionar um projeto intelectual e a seu autor fornecer um prêmio ou alguma
remuneração. Cumprida esta situação, a licitação se encerra.
Perceba que a remuneração somente será paga ao autor se este ceder os direitos patrimoniais de seu
trabalho à Administração Pública, nos termos do art. 111, da Lei nº 8.666/93.
Nos termos do art. 51, § 5º, da Lei nº 8.666/93, haverá uma comissão especial para julgar as propostas, que
será integrada por pessoas de reputação ilibada e reconhecido conhecimento da matéria em exame,
servidores públicos ou não.
Leilão
Conceito: Leilão, de acordo com o art. 22, § 5º, é a modalidade de licitação entre quaisquer interessados
para a venda de bens móveis inservíveis para a Administração ou produtos legalmente apreendidos ou
penhorados, ou para a alienação de bens imóveis, cuja aquisição tenha se dado por procedimento judicial
ou dação em pagamento.
Cabimento:
I) Alienação de bens móveis inservíveis ou legalmente apreendidos ou penhorados
II) Alienação de bens imóveis que a AP tenha recebido em razão de dação em pagamento ou
procedimento judicial
III) Para a venda de bens móveis avaliados, isolada ou globalmente, em quantia não superior R$
1.430.000,00 (um milhão, quatrocentos e trinta mil reais), a Administração poderá permitir o leilão.
Por meio dessa modalidade, o licitante terá o direito de compra caso ofereça o MAIOR LANCE.
Observações:
• É vedada a criação de outras modalidades de licitação ou combinação entre elas – art. 22, § 8º.
Observe que essa vedação se dirige ao Administrador Público. Não é uma vedação dirigida ao
legislador, afinal, o Pregão (Lei nº 10.520/02) é uma modalidade de licitação criada após a edição da
Lei nº 8.666/93.
• Nos casos em que couber convite, a Administração poderá utilizar a tomada de preço e, qualquer
caso, a concorrência.
Por fim, vamos estudar agora a alienabilidade condicionada dos bens públicos
Os bens públicos podem ser alienados, desde que estejam desafetados. Contudo, observe que o art. 100 do
Código Civil estabelece que os bens de uso comum do povo e os de uso especial são inalienáveis, enquanto
mantiverem essa qualificação.
Por sua vez, os bens dominicais são alienáveis, desde que cumpridos os requisitos da lei.
Pode-se dividir esses requisitos em dois, ou seja, em requisitos gerais e requisitos específicos.
Requisitos gerais
1. Bem Dominical
2. Interesse público devidamente justificado
3. Avaliação prévia.
4. Requisitos Específicos
Imóveis
OBS:
Os bens imóveis da Administração Pública, cuja aquisição haja derivado de procedimentos judiciais ou de
dação em pagamento, poderão ser alienados também sob a modalidade Leilão.
A lei autorizativa ocorrerá somente para a Administração Pública Direta, Autarquias e Fundações. Observe
que para as Empresas Públicas e Sociedades de Economia Mista não haverá a autorização legislativa.
Móveis
1. Licitação
OBS:
Atente-se para o fato do art. 17, II da Lei nº 8.666/93 não estabelecer qual modalidade de licitação ocorrerá
a alienação. Contudo, observe que o art. 22, § 5º da mesma Lei estabelece que o Leilão será a modalidade
de licitação a ser utilizada para a alienação de bens móveis inservíveis da Administração.
Com a promulgação da Constituição Federal de 1988, os direitos da criança e do adolescente passaram a ser
protegidos, com absoluta prioridade. O artigo 227, caput, da Carta estabelece:
No que tange à convivência familiar, é cediço que os laços familiares, bem como o ambiente em que uma
pessoa em desenvolvimento está inserida, desempenham função fundamental em sua formação.
Nesse sentido, o Estatuto da Criança e do Adolescente prevê em seu artigo 19 que “toda criança ou
adolescente tem o direito de ser criado e educado no seio de sua família e, excepcionalmente, em família
substituta, assegurada a convivência familiar e comunitária, em ambiente que garanta seu desenvolvimento
integral”.
Contudo, não obstante tantos direitos e garantias sejam previstos aos menores, sua inobservância,
mormente em casos que discutam sua guarda ou convivência com os pais ou familiares, é bastante comum
na prática, dando ensejo, muitas vezes, ao que se denomina alienação parental.
Para Maria Berenice Dias, “alienação parental é tida como um descumprimento dos deveres inerentes à
autoridade parental ou decorrentes do dever de tutela ou guarda”6.
De acordo com a Lei 12.318/2010, que regulamentou o tema, alienação parental é o ato que interfere na
formação psicológica da criança ou adolescente, que promovida ou induzida por um dos genitores, pelos
avós ou pelos que tenham a criança ou adolescente sob sua autoridade, guarda ou vigilância, para que
repudie o genitor ou que cause prejuízos ao estabelecimento ou à manutenção de vínculos com este.
6
DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. 11ª Edição: RT.
Com efeito, a prática da alienação parental interfere diretamente na percepção e no afeto da criança pelo
genitor sobre quem se desqualifica.
O parágrafo único deste mesmo dispositivo exemplifica atos de alienação parental, além de outros que
podem ser declarados pelo juiz, se constatados por perícia ou por outros meios de prova: I – realizar
campanha de desqualificação da conduta do genitor no exercício da paternidade ou maternidade; II –
dificultar o exercício da autoridade parental; III – dificultar contato da criança ou adolescente com genitor;
IV – dificultar o exercício do direito regulamentado de convivência familiar; V – omitir deliberadamente ao
genitor informações pessoais relevantes sobre a criança ou adolescente, inclusive escolares, médicas e
alterações de endereço; VI – apresentar falsa denúncia contra genitor, contra familiares deste ou contra
avós, para obstar ou dificultar sua convivência com a criança ou adolescente; VII – mudar o domicílio para
local distante, sem justificativa, visando dificultar a convivência da criança ou adolescente com o outro
genitor, com familiares deste ou com avós.
Cumpre salientar que, apesar de a expressão genitor ser utilizada pelo legislador 7, não se deve excluir outras
categorias de família, como a adotiva e a parentalidade socioafetiva.
Sobre o tema, a 3ª Câmara de Direito Privado do TJSP já decidiu pela modificação da guarda em face do
alienador, ainda que possuísse melhor condição financeira, em virtude da comprovação de alienação
parental:
Sobre a possibilidade de pedido de indenização por danos morais, o TJRS decidiu pela admissibilidade:
7
Disponível em: https://direitofamiliar.jusbrasil.com.br/artigos/404018042/o-que-e-alienacao-parental.
Acesso em 27/10/2020.
Apelação cível desprovida. (Apelação Cível Nº 70073665267, Oitava Câmara Cível, Tribunal de
Justiça do RS, Relator: Jorge Luís Dall'Agnol, Julgado em 20/07/2017).(TJ-RS - AC: 70073665267
RS, Relator: Jorge Luís Dall'Agnol, Data de Julgamento: 20/07/2017, Oitava Câmara Cível, Data de
Publicação: Diário da Justiça do dia 24/07/2017)
Por fim, vale ressaltar que o Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) expediu a Recomendação
32/2016, a qual estabeleceu importante política de combate à alienação parental, por meio de diretrizes
administrativas.
O direito à informação é dogma intrínseco à vida social e à democracia. Não se concebe o Estado
Constitucional Democrático ao arrepio da liberdade de informar e de ser informado.
A repercussão do contexto descrito ocasiona, não raras vezes, violações à vida privada, à honra, à dignidade
e à intimidade. Isso porque a pluralidade de meios de informação dificulta o controle e a salvaguarda dos
direitos fundamentais mencionados. A regulamentação, sobretudo dos provedores online de conteúdo, é
parca e não possui avanço compatível com o nível tecnológico atual da sociedade.
É nesta ambiência que se desenvolveu a teoria do direito ao esquecimento, construção que se posiciona
entre o direito à informação e a tutela de direitos fundamentais, em especial os de primeira dimensão –
plexo detido por indivíduos e que se relaciona intrinsecamente a direitos de defesa projetados em face de
terceiros e do Estado - isto é, abstenção de violações.
O direito ao esquecimento consiste no direito da personalidade de restringir o uso e a perpetuação, por meio
de nova exposição, de fatos desabonadores pretéritos ligados à pessoa. Mais especificamente, liga-se ao
modo e à finalidade com que são rememorados os fatos do passado. É construção utilizada nos litígios em
que se divisa contraste entre direitos fundamentais relacionados à vida privada e às liberdades de expressão
e de informação.
Essa a intelecção do enunciado 531 da VI Jornada de Direito Civil, a tutela da dignidade da pessoa humana
na sociedade da informação inclui o direito ao esquecimento.
Relaciona-se, portanto, ao direito que toda pessoa detém de recolher-se ao anonimato e à vida privada –
temática trabalhada no direito norte-americano como right of privacy:
É que, a dignidade da natureza de cada homem, enquanto sujeito pensante dotado de liberdade
e capaz de responsabilidade, outorga-lhe autonomia não apenas física mas também mora,
particularmente, na condução da sua vida, na auto-atribuição de fins a si mesmo, na eleição,
criação e assunção da sua escala de valores, na prática dos seus actos, na reaviação dos mesmos
e na recondução do seu comportamento. Ora, tal autonomia, face à complexidade da vida social,
pressupõe nomeadamente que cada homem possua uma esfera privada onde possa recolher-se
(rigth to be alone), pensar-se a si mesmo avaliar a sua conduta, retemperar as suas forças e
superar as suas franquezas, esferas essa que os demais sob pena de ilicitude não devem violar,
v.g., intrometendo-se nela e instrumentalizando ou divulgando os elementos que a compõem 8.
A repetição do tema na jurisprudência pátria é fato notório. Da análise de leading cases, verifica-se que a
solução é casuística, porque envolve a análise individualizada da situação e o contraste entre o direito à
memória e à liberdade jornalística e os direitos fundamentais da pessoa enfocada que foram, em tese,
violados.
Tem-se por paradigma internacional da teoria o case envolvendo o Soldatenmord von Lebach, pessoa
condenada por assassinato a soldados alemães, em 1969, e uma emissora de TV alemã que pretendia a
reconstituição dos fatos na forma de matéria jornalística. Ao final, o Tribunal Constitucional Alemão decidiu
pela prevalência dos direitos da personalidade em detrimento da liberdade de imprensa e, por consequência,
impediu a publicação jornalística.
No Brasil, elencam-se como julgados paradigmáticos os casos do massacre da candelária, ocorrido em 1993,
e da Aida Curi, vítima de abuso sexual em 1958. No primeiro caso, prevaleceu o direito da personalidade e a
emissora que rememorou o caso foi condenada ao ressarcimento civil; no segundo, ante a antiguidade dos
fatos e o domínio público do acontecimento, prevaleceu o direito à liberdade jornalística:
8
SOUSA, Rabindranath V. A. Capelo de. Direito geral da personalidade. Coimbra: Coimbra, 1995. p. 317.
(REsp 1335153/RJ, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em
28/05/2013, DJe 10/09/2013)
Portanto, e sem mais delongas, nota-se que a teoria não se presta a ressignificar a história, senão a limitar a
sua reminiscência, sempre que a perpetuação dos fatos atingir de maneira intensa a dignidade da pessoa
enfocada. Nestes casos, há de prevalecer a tutela individual, de modo a se relativizar a liberdade de imprensa
e o direito à memória.
I. A Lei nº 13.146/2015
A Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (nº 13.146/2015), mais conhecida como Estatuto da
Pessoa com Deficiência, tem como desígnio principal assegurar e promover, em condições de igualdade, o
exercício dos direitos e liberdades fundamentais da pessoa com deficiência, visando à sua inclusão social e à
promoção da cidadania.
O Estatuto conceitua pessoa com deficiência aquela que tem impedimento de longo prazo de natureza física,
mental, intelectual ou sensorial, a qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua
participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas.
Note-se que a avaliação da deficiência deverá ser biopsicossocial, realizada por equipe multiprofissional e
interdisciplinar. Segundo prevê o parágrafo 1º do artigo 2º da Lei nº 13.146/2015, devem ser considerados,
para tanto: os impedimentos nas funções e nas estruturas do corpo; os fatores socioambientais, psicológicos
e pessoais; a limitação no desempenho de atividades; e a restrição de participação.
A Lei nº 13.146/2015 representou significativo avanço para o tema, já que unificou parte substancial da
temática em um único diploma. Além disso, também impactou sobremaneira o ordenamento jurídico
brasileiro, em especial no que tange aos institutos da curatela e das incapacidades.
O Código Civil vigente, com a promulgação do EPD, sofreu profundas alterações em seus artigos 3º e 4º, que
versavam sobre as incapacidades relativa e absoluta, respectivamente. O primeiro dispositivo teve todos os
seus incisos revogados, prevendo, atualmente, como única hipótese de incapacidade absoluta, os menores
de 16 anos. Quanto ao segundo artigo, foi retirada do rol de relativamente incapazes a previsão sobre
9
http://www.justificando.com/2015/08/20/lei-brasileira-de-inclusao-e-o-novo-conceito-
Disponível em:
de-deficiencia-sera-que-agora-vai-pegar/. Acesso em 27 de outubro de 2020.
pessoas com deficiência mental (e passou a se referir, tão somente, às pessoas que “por causa transitória ou
permanente, não possam exprimir sua vontade”.
Art. 3º: São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil os menores
de 16 (dezesseis) anos. (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência)
Art. 4º: São incapazes, relativamente a certos atos ou à maneira de os exercer: (Redação dada
pela Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência)
II - os ébrios habituais e os viciados em tóxico; (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015)
(Vigência)
III - aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade;
(Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência)
IV - os pródigos.
Parágrafo único. A capacidade dos indígenas será regulada por legislação especial. (Redação dada
pela Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência)
De acordo com Pablo Stolze Gagliano e Pamplona Filho, “a curatela (...) visa proteger a pessoa maior,
padecente de alguma incapacidade ou de certa circunstância que impeça sua libre e consciente manifestação
de vontade, resguardando-se, com isso, também o seu patrimônio (...)”10.
Em resumo, a curatela é medida concedida por decisão judicial, que tem como intuito amparar a pessoa que
não possua condições de reger os atos de sua própria vida civil, em virtude de uma enfermidade ou
deficiência mental, ou por uma causa transitória que as impeça de tanto.
10
GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo Curso de Direito Civil - V.6: direito de família. 7.ed..
São Paulo: Saraiva, V.6. 2011. p. 718
Quando inserida no Direito Brasileiro, a curatela relacionava-se precipuamente com a administração dos
bens do curatelado – o que denotava o caráter patrimonialista tanto da sociedade da época (eis que o
instituto foi adotado, pela primeira vez, por meio das Ordenações Filipinas), quanto do direito pátrio.
No Código Civil de 1916, o curador transmitia sua própria vontade nas relações patrimoniais e existenciais
do curatelado – sem considerar seus interesses fundamentais11. Assim como quando nos primórdios do
instituto, aqui, a curatela também possuía caráter patrimonialista, eis que se atinha à proteção do patrimônio
privado.
Promulgado o Código Civil de 2002, ainda que bastante influenciado pelo diploma anterior, a proteção dos
incapazes e das pessoas com deficiência foi largamente aumentada. Previsto nos artigos 1.767 e seguintes,
o instituto da curatela protegia, antes do advento da Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência, os
que “por enfermidade ou doença mental, não tiverem o necessário discernimento para os atos da vida civil;
aqueles que, por outra causa duradoura, não puderem exprimir a sua vontade; os deficientes mentais, os
ébrios habituais e os viciados em tóxicos; os excepcionais sem completo desenvolvimento mental; e os
pródigos”. 12
Atualmente, com o advento do Estatuto da Pessoa com Deficiência, passou-se a entender que, se a pessoa
possui aptidão mental suficiente para tomar decisões, deve ser respeitada, a fim de que não seja concedido
tratamento discriminatório que lhe nega a personalidade jurídica e autoriza a substituição da sua vontade
pelo representante legal13.
Nesse sentido, o artigo 6º da Lei nº 13.146/2015 prevê: “A deficiência não afeta a plena capacidade civil da
pessoa, inclusive para: I - casar-se e constituir união estável; II - exercer direitos sexuais e reprodutivos; III -
exercer o direito de decidir sobre o número de filhos e de ter acesso a informações adequadas sobre
reprodução e planejamento familiar; IV - conservar sua fertilidade, sendo vedada a esterilização compulsória;
V - exercer o direito à família e à convivência familiar e comunitária; e VI - exercer o direito à guarda, à tutela,
à curatela e à adoção, como adotante ou adotando, em igualdade de oportunidades com as demais pessoas.
Desta forma, “a pessoa com deficiência tem assegurado o direito ao exercício de sua capacidade legal em
igualdade de condições com as demais pessoas”14.
Com efeito, alguns casos ensejarão a observância da curatela – situações em que não é viável o exercício
pessoal dos direitos pela pessoa com deficiência, como em hipóteses de deficiências físicas e mentais graves.
12
Disponível em: https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-civil/breves-notas-sobre-o-impacto-do-
estatuto-da-pessoa-com-deficiencia-na-curatela-2/. Acesso em 27 de outubro de 2020.
Observe-se que, tendo em vista a modificação da teoria das capacidades com a promulgação do Estatuto, ao
contrário do regramento anterior, a curatela é plenamente aplicável a pessoas capazes, uma vez que a atual
e única hipótese de pessoa absolutamente incapaz, para o Direito Civil Brasileiro, é o menor de 16 anos.
Por fim, no que tange à abrangência do instituto, a curatela afetará apenas os atos relacionados aos direitos
de natureza patrimonial e negocial, conforme enfatiza o caput do artigo 85 da Lei nº 13.146/15, e nunca
alcançará o direito ao próprio corpo, à sexualidade, ao matrimonio, à privacidade, à educação, à saúde, ao
trabalho e ao voto (§1º do artigo 85).
Tema de grande repercussão prática e que por vezes é cobrado em concursos públicos é o princípio da
unirrecorribilidade, também conhecido como princípio da singularidade recursal.
Sabe-se que os provimentos jurisprudenciais desafiam instrumentos recursivos aos sucumbentes. E, pois, a
sistemática processual civil é pródiga na previsão dos meios de impugnação, conforme se verifica do art. 994
do CPC: São cabíveis os seguintes recursos: I - apelação; II - agravo de instrumento; III - agravo interno; IV -
embargos de declaração; V - recurso ordinário; VI - recurso especial; VII - recurso extraordinário; VIII - agravo
em recurso especial ou extraordinário; IX - embargos de divergência.
E, para a convivência harmônica dos diversos recursos, determina-se que, em linhas gerais, para cada
provimento haja, apenas, uma modalidade adequada à insurgência.
Na doutrina:
para além daquela dicotomia, levando em conta também, mas não só, as decisões proferidas
pelo juízo da primeira instância, como se pode extrair da leitura dos seguintes dispositivos: arts.
1.009, 1.015, 1.021, 1.022, 1.027, 1.029, 1.042 e 1.043.
Veja-se que, por vezes, poderá haver conflito entre recursos distintos, todos aparentemente aplicáveis ao
caso concreto. Nestas hipóteses, deverá o exegeta minudenciar as regras de cada qual e atentar-se,
sobretudo, à natureza do provimento, tal como ocorre na tutela de urgência concedida em sede de sentença:
embora, na essência, contra este provimento seja cabível o agravo de instrumento (art. 1015, inciso I, do
CPC), prevê o Código Adjetivo que da sentença cabe apelação, pelo que deverá ser manejado, exatamente,
este recurso, em detrimento do agravo (frise-se: neste caso, a natureza do provimento prevalecerá, em
detrimento do seu conteúdo, isoladamente considerado).
É bem verdade que a pluralidade de recursos tem o condão de confundir o operador do direito em situações
processualmente conflitantes. Para tais casos, avulta em importância a chamada fungibilidade recursal,
porque, na dúvida objetiva entre recursos em tese cabíveis, a apresentação de recurso equivocado não
prejudicará o recorrente, se houver, ainda, o respeito à tempestividade. A fungibilidade já foi abordada em
rodada anterior.
E se houver o manejo de dois recursos simultâneos, em hipótese vedada pelo ordenamento jurídico? O
segundo será desconsiderado, em decorrência da preclusão consumativa ocorrida após o aviamento do
primeiro recurso. Veja-se o posicionamento do STJ:
É, pois, o caso do acórdão que, simultaneamente, desafie legislação federal e constitucional: deverão ser
apresentados recursos especial e extraordinário, ao STJ e ao STF, respectivamente.
No âmbito da teoria da cognição, pode-se afirmar que a lide contém questões principais, relacionadas ao
mérito da demanda, tal como o pedido de reparação de danos em uma ação indenizatória, e, ainda, questões
prejudiciais e preliminares.
A seu turno, questões prejudiciais são as relacionadas a condicionantes do mérito. Noutros termos, as
prejudiciais são as questões cuja análise precede o mérito e poderão repercutir diretamente em sua
resolução – diferentemente das preliminares, que são obstativas do conhecimento do mérito.
Art. 503. A decisão que julgar total ou parcialmente o mérito tem força de lei nos limites da
questão principal expressamente decidida.
II - a seu respeito tiver havido contraditório prévio e efetivo, não se aplicando no caso de revelia;
III - o juízo tiver competência em razão da matéria e da pessoa para resolvê-la como questão
principal.
15
GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Direito Processual Civil Esquematizado. 11ª Ed. 2020. Pág. 876.
Visou a novel legislação extirpar a chamada ação declaratória incidental, que vigeu sob a égide do Código
revogado.
Para o CPC de 1973, a questão prejudicial não transitava materialmente em julgado, a não ser
que o réu em contestação ou o autor na réplica apresentassem a chamada “ação declaratória
incidental”. Sem esta iniciativa do réu ou do autor, a questão seria conhecida e resolvida pelo
magistrado, mas não seria decidida e, por isso, era incapaz de transitar materialmente em julgado
(sempre no sentido de assumir eficácia externa). Era o que decorria da conjugação dos arts. 5º,
325, 469, III, e 470 daquele Código. O prezado leitor perceberá que a afirmação do parágrafo
anterior parece um jogo de palavras. Mais que isto: ela tem aparência de desperdício de atividade
jurisdicional, a conflitar, até mesmo, com o princípio da eficiência já que a falta de coisa julgada
não obstaculiza novas postulações idênticas e que, pelo menos em tese, poderiam contrastar
com a anterior, colocando em risco o próprio princípio da segurança jurídica. Sim, porque a
diferença entre conhecer e resolver, embora justificável do ponto de vista técnico, nunca o foi
do ponto de vista da atuação jurisdicional, rigorosamente idêntica em um e em outro caso. Nesse
sentido, o prezado leitor concordará que o CPC de 2015 andou bem ao eliminar a “ação
declaratória incidental”. Assim, mesmo sem qualquer iniciativa expressa do réu e/ou do autor, a
questão prejudicial, isto é, a questão de cuja resolução prévia dependa o julgamento do mérito
(art. 503, § 1º, I) transitará em julgado se “a seu respeito tiver havido contraditório prévio e
efetivo” (art. 503, § 1º, II) e se “o juízo tiver competência em razão da matéria e da pessoa para
resolvê-la como questão principal” (art. 503, § 1º, III) 16.
Nota-se que o Código regulamentou a questão prejudicial e a submeteu a regime especial de incidência da
coisa julgada. Para que o debate em torno de ponto prejudicial seja submetido à autoridade da coisa julgada,
é necessário que haja relação de dependência com o mérito; que haja contraditório substancial (participação
no processo e poder de influência), vedada na hipótese de réu revel; e que haja competência ratione
materiae e personae do juízo para resolvê-la. Os requisitos são cumulativos.
16
BUENO, Cassio Scarpinella. Direito Processual Civil. Vol. Único. 5ª Ed - 2020. Saraiva. Pág. 776/777.
E mais: ainda se exige que o processo em que a prejudicial é resolvida não tenha restrição probatória ou
limite cognitivo que impeça o conhecimento vertical e horizontal da questão. É por este motivo que a
doutrina rechaça a possibilidade de a questão prejudicial receber a autoridade da coisa julgada em processo
monitório, em mandado de segurança e em procedimentos do juizado especial, por exemplo, já que, em
todos, há restrições probatórias ou de cognição horizontal.
No ponto, ressalte-se que é desnecessário que a resolução expressa da questão prejudicial incidental esteja
no dispositivo da decisão para ter aptidão de fazer coisa julgada (Enunciado 438 do FPPC), bem como
independe de pedido expresso da parte, em relação à formação da coisa julgada.
Por fim, saliente-se que, conforme o enunciado n. 439, do FPPC, nas causas contra a Fazenda Pública, além
do preenchimento dos pressupostos previstos no art. 503, §§ 1º e 2º, a coisa julgada sobre a questão
prejudicial incidental depende de remessa necessária, quando for o caso.
A tentativa consiste na realização incompleta do tipo penal, do modelo descrito na lei, muito embora tivesse
o agente a vontade de consumar o ato criminoso. Há a prática de ato de execução, mas não chega o sujeito
à consumação por circunstâncias independentes de sua vontade; decorrendo sua tipicidade da conjugação
do tipo penal (CP, arts. 121, 155 etc.) com o dispositivo que a define e prevê sua punição (CP, art. 14, II).
• A Teoria Subjetiva prega a aplicação da mesma pena que a do delito consumado, fundamentando-se na
vontade do autor contrária ao direito.
• A Teoria Objetiva, por sua vez, propõe para a tentativa pena menor que a do crime consumado, já que a
lesão é menor ou não ocorreu qualquer resultado lesivo.
O Código Penal brasileiro adotou a teoria objetiva, aplicando-se à tentativa a pena do crime consumado,
reduzida de um a dois terços.
A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça adota critério de diminuição do crime tentado de forma
inversamente proporcional à aproximação do resultado representado; ou seja, quanto maior o iter criminis
percorrido pelo agente, menor será a fração da causa de diminuição. Neste sentido:
- Quanto à fração aplicada para a redução da pena, em razão do delito tentado, sua modulação é
inversamente proporcional ao iter criminis percorrido. É dizer: quanto maior o caminho percorrido pela
conduta do agente, antes de efetivamente violar o bem juridicamente tutelado pela norma, maior o perigo
ao qual o bem jurídico resultou exposto e maior será o desvalor da conduta, a ensejar uma menor redução
da pena.
- A jurisprudência deste Superior Tribunal firmou que consuma-se o crime de roubo com a inversão da posse
do bem, mediante emprego de violência ou grave ameaça, ainda que por breve tempo e em seguida à
perseguição imediata ao agente e recuperação da coisa roubada, sendo prescindível a posse mansa e pacífica
ou desvigiada (Súmula 582/STJ).
- Na hipótese, o ora agravante e os corréus, como ficou bem delimitado no quadro fático-probatório fixado
pelas instâncias ordinárias, chegaram muito perto da inversão da posse da res acompanhada da cessação da
violência e da grave ameaça, "somente não logrando a subtração do objeto, último ato antes da consumação
do roubo próprio, porque foram flagrados pelo policial militar José Antônio" (fl. 366), de modo que o iter
criminis foi percorrido quase na integralidade, autorizando uma redução mínima da reprimenda.
- A reforma do quadro fático-probatório firmado na origem é tarefa inviável em sede de habeas corpus.
1. A Corte a quo, em decisão devidamente motivada, entendeu que ficou comprovada nos autos,
de forma indene de dúvidas, a prática do delito de latrocínio tentado. Rever os fundamentos
utilizados, a fim de possibilitar a desclassificação da conduta de latrocínio tentado para os crimes
de homicídio em concurso com roubo consumado, bem como de que os agravantes devem
responder pela conduta menos grave, importa revolvimento de matéria fático-probatória,
vedado em recurso especial, segundo óbice da Súmula 7/STJ.
3. Em relação à tentativa, o Código Penal, em seu art. 14, inciso II, adotou a teoria objetiva quanto
à punibilidade da tentativa, pois, malgrado semelhança subjetiva com o crime consumado,
diferencia a pena aplicável ao agente doloso de acordo com o perigo de lesão ao bem jurídico
tutelado. Nessa perspectiva, a jurisprudência desta Corte adota critério de diminuição do crime
tentado de forma inversamente proporcional à aproximação do resultado representado: quanto
maior o iter criminis percorrido pelo agente, menor será a fração da causa de diminuição (HC n.
502.584/SP, Relator Ministro FELIX FISCHER, Quinta Turma, julgado em 6/6/2019, DJe
11/6/2019).
4. No presente caso, o Juízo sentenciante aplicou a redução pela tentativa em 1/3, tendo em vista
o iter criminis percorrido pelo agente, decisão esta mantida pela Corte de origem. Ora, rever tal
conclusão, como requer a parte recorrente, no sentido da aplicação da fração de 2/3, em relação
à tentativa, demandaria o revolvimento de matéria fático-probatória dos autos, o que é inviável
em sede de recurso especial, por força da incidência da Súmula 7/STJ.
5. Saliente-se, ainda, que, ao contrário do alegado - sobre o fato de o tiro não ter atingido as
vítimas -, para caracterizar o crime de tentativa de latrocínio, não é necessário aferir a gravidade
das lesões experimentadas pela vítima, bastando a comprovação de que, no decorrer do roubo,
o agente atentou contra a sua vida com o claro desígnio de matá-la (REsp 1026237/SP, Quinta
Turma, Rel. Ministra LAURITA VAZ, DJe de 1º/8/2011).
(AgRg no AgRg no AREsp 1710516/SP, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA
TURMA, julgado em 06/10/2020, DJe 13/10/2020)
A Lei n. 13.718, de 24/9/2018, entre outras inovações, tipificou o crime de importunação sexual, punindo-o
de forma mais branda do que o estupro, na forma de praticar ato libidinoso, sem violência ou grave ameaça.
Muitos devem se recordar da situação fática que ensejou a iniciativa legislativa de tipificar a conduta de
importunação sexual (indivíduo que, no interior de coletivo, na Cidade de São Paulo, ejaculou nas roupas de
passageira).
Importunação sexual
Art. 215-A. Praticar contra alguém e sem a sua anuência ato libidinoso com o objetivo de
satisfazer a própria lascívia ou a de terceiro:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, se o ato não constitui crime mais grave.
O Estupro diferencia-se da importunação sexual pela presença das elementares violência ou grave ameaça;
o estupro de vulnerável (CP, art. 217-A), por sua vez, pela presunção absoluta de violência contra vítima
menor de 14 (quatorze) anos.
O Superior Tribunal de Justiça firmou o entendimento no sentido de que a prática de conjunção carnal ou
outro ato libidinoso configura o crime previsto no art. 217-A do Código Penal, independentemente de
violência ou grave ameaça, bem como de eventual consentimento da vítima. (AgRg no AREsp n.
1.361.865/MG, Ministra Laurita Vaz, Sexta Turma, DJe 1º/3/2019).
Neste sentido:
(...)
5. Inviável a desclassificação da conduta para aquela prevista nos moldes do art. 215-A do Código
Penal, inserido por meio da Lei n. 13.718, de 24/9/2018, porquanto não há como se aplicar a
nova lei nas hipóteses em que se trata de vítimas menores, notadamente diante da presunção
de violência.
(AgRg no AgRg no REsp 1845858/PA, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA,
julgado em 01/09/2020, DJe 09/09/2020)
(...)
(HC 561.399/SP, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em
23/06/2020, DJe 30/06/2020)
A multa, ao lado da privação de liberdade e de outras restrições - perda de bens, prestação social alternativa
e suspensão ou interdição de direitos -, é espécie de pena aplicável em retribuição e em prevenção à prática
de crimes; e, muito embora a Lei n. 9.268/1996 tenha considerado a multa penal como dívida de valor, não
retirou dela o caráter de sanção criminal que lhe é inerente por força do art. 5º, XLVI, c, da CF.
Não se pode falar em extinção da punibilidade do condenado a pena privativa de liberdade combinada com
pena pecuniária se, cumprida a primeira, a segunda não importou em recolhimento do valor fixado em
sentença aos cofres públicos.
Neste sentido:
(...)
3. Embora a pena de multa possua natureza de sanção penal, na esteira do que foi decidido pelo
Supremo Tribunal Federal na ADI n. 3.150/DF, subsiste a impossibilidade de sua conversão em
pena privativa de liberdade em caso de inadimplemento, por ser dívida de valor (art. 51 do CP).
4. Não obstante esta Corte tenha firmado entendimento no sentido de que o não pagamento da
pena de multa, de natureza penal, inviabiliza a extinção da punibilidade em caso de cumprimento
apenas da pena privativa de liberdade (AgRg no REsp 1850903/SP, de minha relatoria, DJe
30/4/2020), os respectivos reflexos são extrapenais ou apenas acidentais e não atuais, o que
inviabiliza a utilização do habeas corpus, que pressupõe coação ou iminência direta de coação à
liberdade de ir e vir. Precedentes do STF.
5. Hipótese em que a impetrante impugna apenas o quantum da pena de multa aplicada, sendo
incabível a impetração.
1. O Supremo Tribunal Federal, ao julgar a ADI n. 3.150/DF, declarou que, à luz do preceito
estabelecido pelo art. 5º, XLVI, da Constituição Federal, a multa, ao lado da privação de liberdade
e de outras restrições - perda de bens, prestação social alternativa e suspensão ou interdição de
direitos -, é espécie de pena aplicável em retribuição e em prevenção à prática de crimes.
2. A Terceira Seção desta Corte Superior já atestou que: o Supremo Tribunal Federal, no
julgamento da ADI n. 3.150/DF, ocorrido em 13/12/2018, firmou o entendimento de que "a Lei
n. 9.268/1996, ao considerar a multa penal como dívida de valor, não retirou dela o caráter de
sanção criminal que lhe é inerente por força do art. 5º, XLVI, c, da CF. Como consequência, por
ser uma sanção criminal, a legitimação prioritária para a execução da multa penal é do Ministério
Público perante a Vara de Execuções Penais" (CC n. 165.809/PR, Ministro Antonio Saldanha
Palheiro, Terceira Seção, DJe 23/8/2019).
3. As razões colacionadas pelo Tribunal de Justiça de São Paulo estão em conformidade com o
novo entendimento fixado pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento da ADI n. 3.150/DF,
motivo pelo qual devem ser mantidas.
(AgRg no REsp 1839693/SP, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, julgado em
26/05/2020, DJe 05/06/2020)
O rol das provas previstas em lei pelo ordenamento jurídico brasileiro é meramen-te exemplificativo,
admitindo-se as provas inominadas ou atípicas, a exemplo do reco-nhecimento fotográfico, amplamente
utilizado no dia-a-dia forense.
A esse propósito assevera o Tribunal da Cidadania que “o rol de diligências inves-tigativas previsto nos arts.
6º e 7º do Código de Processo Penal é meramente exemplifica-tivo, podendo a autoridade policial coletar
outras provas, ou seja, adotar outras diligên-cias, nos termos do art. 6º, III, do Código de Processo Penal,
dentre elas a colheita de pro-va atípica, isto é, daquela não prevista em lei ou cujo procedimento de obtenção
não es-teja disciplinado no ordenamento jurídico, sempre que tal diligência for necessária para a
investigação e desde que não seja ilícita (expressamente vedada em lei) ou moralmente ilegítima, em
obediência ao princípio da busca da verdade real.” (RHC 81.376/MT, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA
TURMA, julgado em 19/10/2017, DJe 30/10/2017)
Há que se registrar, porém, que essa liberdade não é absoluta, não se admitindo violações a dispositivos de
direito material e processual, pena de ser a prova reputada inadmissível.
O devido processo legal em seu aspecto formal ou procedimental, inclusive, traz uma série implicações
práticas, dentre elas as atinentes ao sistema acusatório, ao ônus da prova, a vedação da prova ilícita, dentre
outras.
Essa vedação, aliás, encontra amparo na Constituição Federal, ex vi do artigo 5, LVI, proibição essa
reproduzida no artigo 157, do Digesto Processual Penal.
Os dispositivos citados não fazem distinção entre prova ilícita e prova ilegítima, li-mitando-se a apregoar que
são inadmissíveis no processo, sejam elas decorrentes de vio-lação a normas constitucionais ou legais.
A doutrina, porém, faz uma diferenciação, asseverando ser a prova vedada gênero, das quais são espécies
as provas ilícitas e as provas ilegítimas. O principal critério utiliza-do para distingui-las é que as primeiras
violam normas de direito material, enquanto as segundas violam normas de direito processual. Parcela da
doutrina admite uma terceira espécie, que é a prova ilegítima, decorrente da violação de regras
procedimentais.
A inutilização da prova está prevista no §3º, do artigo 157, do CPP, que trata do di-reito de exclusão, ou do
inglês, exclusionary rule.
Doutrina e jurisprudência se firmaram no sentido de que as provas derivadas das provas ilícitas, aqui
consideradas em sentido lato, são também reputadas ilícitas, por aplicação da teoria dos frutos da árvore
envenenada (fruits of the poisonous tree). Outros-sim, havendo nexo entre a prova reputada ilícita e as
demais, estas também serão inad-missíveis.
É o que diz a primeira parte do §1º, do artigo 157, do CPP: “São também inadmis-síveis as provas derivadas
das ilícitas.”
Observa-se que o destaque para o termo nexo, que constitui o elemento fundante da teoria sob estudo,
sendo certo que o seu afastamento, qualquer que seja o motivo, não tem o condão de contaminar as demais
provas.
Esta Corte detém entendimento no sentido de que a teoria dos frutos da árvore envenenada tem
sua incidência delimitada pela exigência de que haja nexo causal entre a prova ilícita e as demais
e pela existência de fonte independente, conforme preceitua o ar-tigo 157, § 1.º, do Código de
Processo Penal.
(AgRg na Rcl 38.410/ES, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em
11/03/2020, DJe 18/03/2020)
Impõe-se, por conclusão, que a teoria dos frutos da árvore envenenada encontra limitações, que estão
consubstanciadas em teorias, conforme abaixo se verá:
É evidente, até porque não há nexo entre a prova ilícita e a prova utilizada para fundamentar a decisão.
EMENTA Agravo regimental no recurso ordinário em mandado de segurança. PAD. Provas ilícitas
por derivação. Não ocorrência. Prescrição. Inovação recursal. Agravo regimental não provido. A
declaração de nulidade de interceptação eletrônica não gera a nulidade dos elementos
probatórios colhidos nos mesmos autos que possam ser obtidos por fonte independente, por se
tratar de provas autônomas, tal como se dá com autos de fiscalização conduzidos pelo
impetrante como auditor da Receita Federal. Não há que se falar em aplicação do prazo
prescricional penal às infrações administrativas se a condenação no processo disciplinar não se
deu em razão da prática de atos configuradores de conduta criminosa. No caso, a correlação
entre as condutas apuradas pela comissão e as infrações penais “prevaricação” e “advocacia
administrativa” são feitas apenas pelo próprio impetrante, não tendo constado das conclusões
da comissão processante. Inexiste omissão na decisão agravada em que se apreciam as alegações
devolvidas no recurso ordinário sem se avançar na análise de matérias que importam em
inovação recursal. Agravo não provido.
(RMS 31767 AgR, Relator(a): Min. DIAS TOFFOLI, Segunda Turma, julgado em 22/09/2015,
PROCESSO ELETRÔNICO DJe-210 DIVULG 20-10-2015 PUBLIC 21-10-2015)
HABEAS CORPUS. NULIDADES: (1) INÉPCIA DA DENÚNCIA; (2) ILICITUDE DA PROVA PRODUZIDA
DURANTE O INQUÉRITO POLICIAL; VIOLAÇÃO DE REGISTROS TELEFÔNICOS DO CORRÉU,
EXECUTOR DO CRIME, SEM AUTORIZAÇÃO JUDICIAL; (3) ILICITUDE DA PROVA DAS
INTERCEPTAÇÕES TELEFÔNICAS DE CONVERSAS DOS ACUSADOS COM ADVOGADOS,
PORQUANTO ESSAS GRAVAÇÕES OFENDERIAM O DISPOSTO NO ART. 7º, II, DA LEI 8.906/96, QUE
GARANTE O SIGILO DESSAS CONVERSAS. VÍCIOS NÃO CARACTERIZADOS. ORDEM DENEGADA. 1.
(HC 91867, Relator(a): Min. GILMAR MENDES, Segunda Turma, julgado em 24/04/2012,
ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-185 DIVULG 19-09-2012 PUBLIC 20-09-2012)
c) teoria dos vícios sanados, da tinta diluída ou limitação da mancha purgada (contaminação expurgada,
conexão atenuada, tinta diluída ou doutrina da mancha purgada): o vínculo entre a prova ilícita e a derivada
é muito tênue ou superficial, em virtude a) do decurso de tempo, b) de circunstâncias supervenientes na
cadeia probatória, c) da menor relevância da ilegalidade ou d) da vontade de um dos envolvidos em colaborar
com a instrução.
2. A provas obtidas por meio de cooperação internacional em matéria penal devem ter como
parâmetro de validade a lei do Estado no qual foram produzidas, conforme a previsão do art. 13
da LINDB. 3. A prova produzida no estrangeiro de acordo com a legislação de referido país pode,
contudo, não ser admitida no processo em curso no território nacional se o meio de sua obtenção
violar a ordem pública, a soberania nacional e os bons costumes brasileiros, em interpretação
analógica da previsão do art. 17 da LINDB.
4. A teoria dos frutos da árvore envenenada tem sua incidência delimitada pela exigência de que
seja direto e imediato o nexo causal entre a obtenção ilícita de uma prova primária e a aquisição
da prova secundária.
5. De acordo com a teoria do nexo causal atenuado ou da mancha purgada, i) o lapso temporal
decorrido entre a prova primária e a secundária; ii) as circunstâncias intervenientes na cadeia
probatória; iii) a menor relevância da ilegalidade; ou iv) a vontade do agente em colaborar com
a persecução criminal, entre outros elementos, atenuam a ilicitude originária, expurgando
qualquer vício que possa recair sobre a prova secundária e afastando a inadmissibilidade de
referida prova.
7. A fase investigativa de crimes imputados a autoridades com prerrogativa de foro no STJ, ocorre
sob a supervisão desta Corte, a qual deve ser desempenhada durante toda a tramitação das
investigações desde a abertura dos procedimentos investigatórios até o eventual oferecimento,
ou não, de denúncia.
8. Havendo indícios do envolvimento de pessoa com prerrogativa de foro, os autos devem ser
encaminhados imediatamente ao foro prevalente, definido segundo o art. 78, III, do CPP, o qual
é o único competente para resolver sobre a existência de conexão ou continência e acerca da
conveniência do desmembramento do processo.
9. In casu, embora o juízo de primeiro grau de jurisdição tenha usurpado a competência do STJ
ao desmembrar o inquérito, não há prejuízo concreto à defesa do réu, razão pela qual esse vício
não é capaz de impedir o recebimento da denúncia.
10. Ocorre a inépcia da denúncia ou queixa quando sua deficiência resultar em prejuízo ao
exercício da ampla defesa do acusado, ante a falta de descrição do fato criminoso, da imputação
de fatos determinados ou da circunstância de da exposição não resultar logicamente a conclusão.
11. Na hipótese, a denúncia narra que o acusado, funcionário público, teria, em mais de uma
oportunidade, recebido vantagens indevidas em razão dos cargos que já ocupou e atualmente
ocupa e que teria deixado de praticar atos de ofício e praticado outros com violação de dever
funcional, evidenciando de modo suficiente a presença de elementos que permitem o exercício
da ampla defesa pelo acusado.
13. A verificação da efetiva prática de condutas tendentes a acobertar a origem ilícita de dinheiro,
com o propósito de emprestar-lhe a aparência da licitude, é matéria que depende de provas e
deve ser objeto da instrução no curso da ação penal.
(APn 856/DF, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, CORTE ESPECIAL, julgado em 18/10/2017, DJe
06/02/2018)
d) Proporcionalidade: a exclusão da prova em decorrência de sua ilicitude levaria a uma solução de extrema
injustiça, conduzindo-se, por essa razão, à sua admissão no pro-cesso. É aceita em benefício do acusado, pois
evidencia a preponderância do status liber-tatis em detrimento da inadmissibilidade da prova ilícita. Já a sua
utilização em pro soci-etate levaria a uma proporcionalidade às avessas, sendo, pois, refugado pela
jurisprudên-cia.
e) teoria da destruição da mentira do imputado: a prova ilícita não é utilizada para incriminar o investigado,
mas para demonstrar que ele está mentindo.
f) teoria do risco: aquele que publicamente assume a sua participação e fatos ilíci-tos assume o risco de que
suas revelações sejam captadas e utilizadas em seu desfavor. Casuística: gravação telefônica clandestina feita
por um dos interlocutores, câmeras de segurança.
g) teoria da doutrina da visão aberta: admite a apreensão de elementos probató-rios diversos daquele que
está sendo pesquisado (ex. em cumprimento de mandado de busca e apreensão, em que se busca
documentos, encontra-se fortuitamente droga). No Brasil tem pouca aplicação em decorrência do princípio
da serendipidade ou do encontro fortuito de prova.
h) teoria da renúncia do interessado: verifica-se quando o titular do direito abre mão deste, é dizer, o
próprio acusado admite a utilização da prova em seu desfavor.
1.6.1 - Notas sobre o acordo de não persecução penal: full trial x justiça negociada
O Brasil adotou tradicionalmente o sistema do full trial para a solução de suas contendas na seara criminal.
Ao compulsar a Constituição Federal, possível constatar a opção clara pelo modelo acusatório, afinal o
constituinte consignou expressamente a existência do Poder Judiciário, incumbindo-lhe da solução de
controvérsias, sublinhando inclusive a inafastabilidade da jurisdição como direito fundamental, conforme se
vê do inciso XXXV, do artigo 5º.
Nota-se, outrossim, que as funções de julgar e de acusar foram concentradas nas mãos de instituições
diversas, garantindo-se a isenção de todos os envolvidos na persecução penal.
Neste cenário ainda, possível perceber que o constituinte elencou no catálogo dos direitos fundamentais
uma série de princípios de natureza processual, a exemplo do devido processo legal (formal), do
contraditório, da ampla defesa, do juiz natural, desenhando as vigas mestras do já citado modelo trial.
FERRAJOLI (2002, p. 74) concebeu implicações deônticas categorizadas em axiomas, a fim de estabelecer um
modelo garantista ideal, capaz de, mais do que legitimar o poder punitivo estatal, condicioná-lo ou vinculá-
lo.
Tratam, segundo o festejado autor, de regras do jogo fundamental do direito penal, e consistem no seguinte:
As três últimas categorias tratam do quando e como julgar, dizendo respeito às garantias relativas ao
processo.
Em suma, o full trial acorde à proposição garantista, posiciona as partes do processo de modo equidistante
ao magistrado, garantindo com que um julgador, imparcial, seja capaz de resolver a querela.
Ainda que se conceba o sistema acusatório aqui genericamente referido, sob o viés inquisitorial, em que os
rumos do processo são ditados segundo o princípio da oficiosidade, ou sob o viés adversarial, em que o
desenrolar do processo depende da iniciativa das partes, o processo conserva a sua concepção publicista,
que GRINOVER (1999, p. 18) sublinha “(…) quanto mais o provimento jurisdicional se aproximar da vontade
do direito substancial, mais perto estará da verdadeira paz social. Trata-se da função social do processo, que
depende de sua efetividade”.
Essa opção é aliás, anterior à Constituição, vindo consignada no Digesto Processual Penal, cuja promulgação
se deu ainda nos idos do ano de 1941.
Possível perceber que o legislador ordinário já havia desenhado o modelo do full trial, dotando o Ministério
Público (ou o querelante) da função de promover a ação penal, posicionando o réu ou acusado em lugar
diametralmente oposto na relação jurídico-processual.
Pois bem.
O Pacote Anticrime introduziu importantes alterações no Código de Processo Penal, reafirmando a utilização
de instrumentos de justiça penal negociada às infrações de médio potencial ofensivo, assim consideradas as
que tem pena máxima menor do que 4 (quatro) anos, e praticadas sem o atributo negativo da violência
A propósito, a Lei de Ação Civil Pública, lei 7.347, de 1985, traz em seu bojo a previsão do termo de
ajustamento de conduta, consagrando a possibilidade de que os legitimados ali previstos possam celebrar
compromisso de ajustamento da conduta do infrator às exigências legais, mediante cominações.
Outro importante referencial no tocante a essa modalidade de justiça, é a Lei dos Juizados Especiais, a lei
9.099, de 1995, que consagra os seguintes institutos, estes já na esfera criminal:
Mais recentemente foi editada a Resolução 181, do CNMP, alterada pela Resolução 183, do mesmo
Conselho, que instituiu o acordo de não persecução, reconfigurado no atual artigo 28-A, do CPP.
O tradicional modelo de justiça adversarial, ou de full trial, vem cedendo espaço aos acordos no campo da
justiça penal, acudindo aos reclamos propostos nos “considerandos” da já mencionada Resolução 181, do
CNMP:
Considerando a carga desumana de processos que se acumulam nas varas criminais do País e que
tanto desperdício de recursos, prejuízo e atraso causam no oferecimento de Justiça às pessoas,
de alguma forma, envolvidas em fatos criminais;
Considerando, por fim, a exigência de soluções alternativas no Processo Penal que proporcionem
celeridade na resolução dos casos menos graves, priorização dos recursos financeiros e humanos
do Ministério Público e do Poder Judiciário para processamento e julgamento dos casos mais
graves e minoração dos efeitos deletérios de uma sentença penal condenatória aos acusados em
geral, que teriam mais uma chance de evitar uma condenação judicial, reduzindo os efeitos
sociais prejudiciais da pena e desafogando os estabelecimentos prisionais (...)
Apenas para que se tenha uma noção, segundo relatório do justiça em números 2019, de lavra do Conselho
Nacional de Justiça:
Em 2018, ingressaram no Poder Judiciário 2,7 milhões de casos novos criminais, sendo 1,6 milhão
(60%) na fase de conhecimento de 1º grau, 343,3 mil (12,8%) na fase de execução de 1º grau,
18,6 mil (0,7%) nas turmas recursais, 604,8 mil (22,6%) no 2º grau e 103,9 mil (3,9%) nos Tribunais
Superiores. (CNJ, p. 152)
Ainda, há que se consignar que a taxa de congestionamento criminal atinge, segundo o CNJ, a cifra de 73,3%
para a fase de conhecimento. Segundo o Conselho, a duração média dos processos de conhecimento
(levando em consideração como termo final de tramitação a baixa do processo na fase de conhecimento ou
a remessa à instância recursal) é de 3 anos e 10 meses, na Justiça Estadual, e de 2 anos e 3 meses, na Justiça
Federal. Isso, obviamente, desconsiderando a fase investigatória que lhes antecede, extremamente morosa
por conta da deficitária estrutura das Polícias Judiciárias Brasil afora.
Um processo que leva esse tempo de tramitação certamente não será capaz de apresentar uma resposta
satisfatória ao acusado, muito menos à vítima/sociedade, levando os índices de percepção da justiça a vinte
e quatro pontos percentuais em 2017, segundo relatório ICJ Brasil, da Fundação Getúlio Vargas (FGV, 2017).
Houve uma significativa redução de dez pontos de 2013 ao ano de 2017.
Um primeiro pensamento que talvez venha à mente no tocante ao acordo é que ele traduziria impunidade,
afinal, abandonando-se o modelo trial não haveria processo e consequentemente não haveria (eventual)
condenação, tampouco cumprimento de pena.
Esse argumento não procede. Partindo-se do que ordinariamente se vê no dia-a-dia forense, as infrações
que cominam abstratamente pena privativa de liberdade inferior a quatro anos, em casos de crimes
cometidos sem violência ou grave ameaça, resultam ao condenado primário ordinariamente a fixação de
pena inferior a quatro anos, que fatalmente autorizam a substituição da pena privativa de liberdade por
restritiva de direitos, nos exatos moldes do artigo 44, do Código Penal. Assim, com esse prognóstico já
delineado, e considerando o fator confissão, que constitui condição para o acordo e, ainda, atenuante
genérica, o desenvolvimento do devido processo penal não se justifica, fazendo com que se desloquem
esforços dos órgãos da persecução a situações inócuas.
A proposta vem a calhar, a fim de racionalizar o sistema penal, permitindo, ainda, uma resposta célere e
adequada ao infrator, a seu tempo e modo.
O Pacote Anticrime deu um regramento ao acordo, sem contudo solucionar importantes controvérsias já
estabelecidas sob a égide da Resolução 181, tendo sido editado pelo Grupo Nacional dos Coordenadores dos
Centros de Apoio Criminal, enunciados interpretativos da Lei 13.964/19, que, embora não tenham caráter
vinculante, fornecem importantes diretrizes interpretativas, até que os tribunais comecem a enfrentar as
demandas postas.
Enfrentaremos nas rodadas subsequentes algumas dessas controvérsias, à luz, sobretudo, das primeiras
decisões proferidas pelos Tribunais Superiores.
A infiltração de agentes é uma técnica especial de investigação que pode ser usada em qualquer fase da
persecução penal. Está prevista na legislação penal esparsa, dentre as quais, na Lei n.º 9.613/98 (Lei de
Lavagem de Capitais, artigo 1º, §6º17), na Lei n.º 11.343/06 (Lei de Drogas, artigo 5318) e na Lei n.º 12.850/13
(Lei de Organização Criminosa, artigo 3º19).
E é justamente na Lei de Organização Criminosa, a partir do seu artigo 10º, que traz a regulamentação do
assunto, notadamente após a vigência da lei n.º 13.964, de 2019. Os respectivos dispositivos legais tratam, por
exemplo, de seus requisitos, o prazo de duração, a legitimidade para o requerimento, a necessidade de oitiva
do órgão ministerial e do controle jurisdicional prévio, o sigilo do pedido e a especificação de várias questões
específicas da atuação do agente infiltrado. (LIMA, 2020, p. 839/840).
Não é o escopo deste texto esmiuçar tais questões, ainda mais porque o texto legal, por ora, é mais que
suficiente para que o candidato entenda o rito a ser seguido diante de uma situação envolvendo esta forma
de obtenção de prova.
Há discussão doutrinária quanto à validade da infiltração policial à luz da ética. Renato Brasileiro de Lima
explica (2020, p. 840):
Em síntese, se a finalidade das penas é a confirmação das normas éticas, a partir do momento
em que o próprio Estado viola esses preceitos éticos para lograr a aplicação de uma pena, estar-
se-ia demonstrando que pode valer a pena violar qualquer norma fundamental cuja vigência o
direito penal se propõe a assegurar. Para Antônio Magalhães Gomes Filho, cuida-se “de
procedimento cuja legitimidade ética e jurídica é cada vez mais contestada em sociedades mais
avançadas, como a alemã e a norte-americana, pois é incompatível com a reputação e dignidade
da Justiça Penal que seus agentes se prestem a envolver-se com as mesmas práticas delituosas
que se propõem a combater; e mesmo as eventuais provas resultantes dessas operações terão
sido conseguidas através de instigação, simulação ou outros meios enganosos, e portanto de
duvidosa validade. De outro lado, não constitui heresia supor que, entre nós, sobretudo pela
notória má remuneração atribuída aos agentes policiais, tais expedientes encerrariam um sério
risco de atraírem para a criminalidade pessoas que, por sua ligação com as estruturas oficiais,
teriam excepcionais condições para se integrarem às mesmas associações criminosas,
incrementando suas atividades ilegais".
O próprio autor mencionado afirma que, com base no princípio da proporcionalidade, “a periculosidade
social inerente às organizações criminosas acaba justificando o emprego de procedimentos investigatórios
17
Art. 1o Ocultar ou dissimular a natureza, origem, localização, disposição, movimentação ou propriedade de bens, direitos ou
valores provenientes, direta ou indiretamente, de infração penal
[…]
§ 6º Para a apuração do crime de que trata este artigo, admite-se a utilização da ação controlada e da infiltração de agentes.
(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
18
Art. 53. Em qualquer fase da persecução criminal relativa aos crimes previstos nesta Lei, são permitidos, além dos previstos em
lei, mediante autorização judicial e ouvido o Ministério Público, os seguintes procedimentos investigatórios:
I – a infiltração por agentes de polícia, em tarefas de investigação, constituída pelos órgãos especializados pertinentes;
19
Art. 3º Em qualquer fase da persecução penal, serão permitidos, sem prejuízo de outros já previstos em lei, os seguintes meios
de obtenção da prova: VII - infiltração, por policiais, em atividade de investigação, na forma do art. 11;
mais invasivos, sem os quais os órgãos estatais não seriam capazes de localizar fontes de prova e coligir
elementos de informação necessários para a persecução penal” (LIMA, 2020, p. 840).
Outro ponto interessante a ser levantado é o seguinte: por meio das previsões legais, notadamente da lei
n.º 12.850/13, tem-se que ação infiltrada (inclusive a virtual), pode ser executada somente por agentes da
Polícia, entendidos assim aqueles que tem atribuição para a apuração de infrações penais, elencados no
artigo 144 da CF/88. Assim, será que a infiltração de particulares ou civis, sem que se enquadrem
oficialmente no conceito de agente público de alguma das Polícias, configuraria prova ilícita? A maioria
entende que, pelo fato do sujeito ‘infiltrado’ passar a fazer parte de uma organização criminosa e, por vezes,
até mesmo cometer crimes (como o de pertencer a uma já o é), o instituto e suas consequências (licitude da
proa obtida, exclusão de ilicitude ou de culpabilidade com relação à conduta típica do infiltrado etc.) seriam
cabíveis somente aos agentes policiais, na forma da lei.
Assim, membros ou servidores do MINISTÉRIO PÚBLICO, de Corregedorias, das Receitas Fazendárias, da ABIN
etc., não podem infiltrar seus agentes.
Há quem entenda, inclusive, que caso um dos integrantes de certa organização criminosa resolva colaborar
com as investigações para ser beneficiado com a possível celebração de acordo de colaboração premiada,
nessa hipótese o colaborador atuaria de modo infiltrado. Ou seja, simultaneamente haveria duas formas de
obtenção de prova: a pessoa como colaboradora e como agente infiltrado, ainda que não seja policial.
Lado outro, há quem entenda que “na hipótese de se buscar informações sobre o crime organizado mediante
o oferecimento de prêmios legais aos seus próprios integrantes, estimulando-os a se manterem associados
para obter mais informações acerca da organização criminosa objeto da investigação, não há falar em
infiltração de agentes, mas sim em mera colaboração premiada” (LIMA, 2020, p. 842). Principalmente porque
particular não pode ser tido como agente infiltrado.
Insta salientar que existe a figura específica do agente infiltrado virtual (cibernético ou eletrônico), que foi
inserida na Lei das Organizações Criminosas pelo Pacote Anticrime (artigo 10-A da Lei20), mas que já era
prevista no Estatuto da Criança e do Adolescente desde 2017 (artigo 190-A do Estatuto21). Basicamente, esta
modalidade de obtenção de prova possui os mesmos requisitos da infiltração de agentes tradicional.
20
Art. 10-A. Será admitida a ação de agentes de polícia infiltrados virtuais, obedecidos os requisitos do caput do art. 10, na
internet, com o fim de investigar os crimes previstos nesta Lei e a eles conexos, praticados por organizações criminosas,
desde que demonstrada sua necessidade e indicados o alcance das tarefas dos policiais, os nomes ou apelidos das pessoas
investigadas e, quando possível, os dados de conexão ou cadastrais que permitam a identificação dessas
pessoas. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
21
Art. 190-A: A infiltração de agentes de polícia na internet com o fim de investigar os crimes previstos nos arts. 240 , 241 , 241-A
, 241-B , 241-C e 241-D desta Lei e nos arts. 154-A , 217-A , 218 , 218-A e 218-B do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro
de 1940 (Código Penal) , obedecerá às seguintes regras: (...)
De acordo com o art. 190-A do ECA, a infiltração virtual será cabível em três categorias de delitos: pedofilia
(artigos 240, 241, 241-A, 241-B, 241-C e 241-D do Estatuto da Criança e do Adolescente22); crimes contra a
dignidade sexual de vulneráveis (estupro de vulnerável – art. 217-A, do Código Penal23; corrupção de
menores – art. 218, do Código Penal24; satisfação de lascívia – art. 218-A, do Código Penal25; e favorecimento
da prostituição de criança ou adolescente ou de vulnerável – art. 218-B, do Código Penal26); e na invasão de
dispositivo informático (art. 154-A, do Código Penal27).
Já a previsão do art. 10-A, da Lei n.º 12.850/13 traz que a infiltração virtual pode ser utilizada para fins de
investigação dos crimes previstos na Lei das Organizações Criminosas e a eles conexos, praticados por
organizações criminosas.
22
Art. 240. Produzir, reproduzir, dirigir, fotografar, filmar ou registrar, por qualquer meio, cena de sexo explícito ou pornográfica,
envolvendo criança ou adolescente: Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.[…]
Art. 241. Vender ou expor à venda fotografia, vídeo ou outro registro que contenha cena de sexo explícito ou pornográfica
envolvendo criança ou adolescente: Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.
Art. 241-A. Oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir, distribuir, publicar ou divulgar por qualquer meio, inclusive por meio de
sistema de informática ou telemático, fotografia, vídeo ou outro registro que contenha cena de sexo explícito ou pornográfica
envolvendo criança ou adolescente: Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa. […]
Art. 241-B. Adquirir, possuir ou armazenar, por qualquer meio, fotografia, vídeo ou outra forma de registro que contenha cena de
sexo explícito ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente: Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. […]
Art. 241-C. Simular a participação de criança ou adolescente em cena de sexo explícito ou pornográfica por meio de adulteração,
montagem ou modificação de fotografia, vídeo ou qualquer outra forma de representação visual: Pena – reclusão, de 1 (um) a 3
(três) anos, e multa. […]
Art. 241-D. Aliciar, assediar, instigar ou constranger, por qualquer meio de comunicação, criança, com o fim de com ela praticar ato
libidinoso: Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa. […]
23
Art. 217-A. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14 (catorze) anos: Pena – reclusão, de 8 (oito) a
15 (quinze) anos. […]
24
Art. 218. Induzir alguém menor de 14 (catorze) anos a satisfazer a lascívia de outrem: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco)
anos.
25
Art. 218-A. Praticar, na presença de alguém menor de 14 (catorze) anos, ou induzi-lo a presenciar, conjunção carnal ou outro ato
libidinoso, a fim de satisfazer lascívia própria ou de outrem: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos.
26
Art. 218-B. Submeter, induzir ou atrair à prostituição ou outra forma de exploração sexual alguém menor de 18 (dezoito) anos
ou que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato, facilitá-la, impedir ou
dificultar que a abandone: Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 10 (dez) anos. […]
27
Art. 154-A. Invadir dispositivo informático alheio, conectado ou não à rede de computadores, mediante violação indevida de
mecanismo de segurança e com o fim de obter, adulterar ou destruir dados ou informações sem autorização expressa ou tácita do
titular do dispositivo ou instalar vulnerabilidades para obter vantagem ilícita: Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e
multa. […]
(físicas), enquanto as previstas no Estatuto da Criança e do Adolescente e no art. 10-A da Lei das
Organizações Criminosas são virtual (cibernética ou eletrônica).
Quanto aos requisitos legais (para a infiltração de agentes presencial quanto a virtual), estão previstos nos
artigos 10, 10-A e 11 da Lei n.º 12.850/13, e são os seguintes:
a) prévia autorização judicial: que deve mencionar a duração razoável da infiltração, indicar diretrizes a
serem observadas pelo agente, a descrição detalhada dos procedimentos investigatório que poderão ser
produzidos e a determinação expressa no sentido de que haja uma equipe de policiais que prestem apoio
constante ao agente infiltrado, caso sua verdadeira identidade seja revelada. Frisa-se que para eventual
renovação do prazo da infiltração, é necessária decisão judicial fundamentada. No caso de não haver a devida
fundamentação, é perfeitamente possível o reconhecimento da ilicitude da prova e consequente
desentranhamento das informações obtidas;
b) a infiltração está condicionada à existência de elementos, indícios, da existência de crimes. O art. 10, §2º,
primeira parte, da Lei de Organizações Criminosas, prevê expressamente que “será admitida a infiltração se
houver indícios de infração penal de que trata o art. 1º e se a prova não puder ser produzida por outros
meios disponíveis”. No mesmo sentido é a previsão do art. 10-A, §3º, da mesma lei, que trata da infiltração
virtual. Frisa-se que não é necessária prova cabal da existência da organização criminosa, até porque se
existisse tal prova, desnecessária seria a infiltração de agentes. Ainda, deve ser levado em consideração o
risco ou o prejuízo que a não realização imediata da infiltração poderá representar para a aplicação da lei
penal ou também para evitar a prática de novos crimes.
c) indispensabilidade da infiltração: a infiltração somente pode ser admitida quando a prova não puder ser
produzida por outros meios disponíveis, ou seja, é uma medida ultima ratio. A infiltração deve ser precedida
por outros meios de obtenção de provas, mesmo que sejam tão invasivos quanto, como, por exemplo, a
interceptação telefônica;
d) anuência do agente policial: conforme prevê o art. 14, inciso I, da Lei n.º12.850/13, o policial tem o direito
de recusar ou fazer cessar a infiltração. Neste ponto, a transcrição do artigo mencionado é de suma
importância, de maneira que você compreenda, na íntegra, os direitos do agente:
Outrossim, a duração da infiltração será autorizada pelo prazo de até 6 (seis) meses, sem prejuízo de
eventual renovação, desde que comprovada a sua necessidade. Ou seja, a renovação não ocorre de forma
automática, conforme exposto pelo §3º, do art. 10, da Lei de Organizações Criminosas 28.
28
Art. 10 § 3º A infiltração será autorizada pelo prazo de até 6 (seis) meses, sem prejuízo de eventuais renovações, desde que
comprovada sua necessidade.
Neste específico, atenção porque a duração das infiltrações virtuais possuem prazo máximo de 720
(setecentos e vinte) dias (art. 10-A, §4º, da Lei n.º 12.850/13)29.
Mais: O Estatuto da Criança e do Adolescente, no art. 190-A, inciso III,30 também limita a infiltração virtual a
720 (setecentos e vinte) dias, porém, note que sua autorização e eventual renovação ocorrem a cada 90
(noventa) dias!
Para concluir esta breve imersão no tema, mais uma vez é importante diferenciar a atuação de um agente
infiltrado do agente provocador. Enquanto o provocador influencia a prática de crimes, após conquistar de
alguma forma a confiança dos investigados, comportamento este que é decisivo para a ocorrência do tipo
penal, eis que há uma verdadeira indução/instigação ao ilícito, o infiltrado, por sua vez, não influencia em
nada, mesmo após conquistar dissimuladamente a confiança dos os membros da organização criminosa, pois
esta já existe, já comete crimes, independentemente da existência ou não do agente policial infiltrado.
Coo mencionado alhures, a conduta do agente policial infiltrado, só pelo fato de adentrar na empresa
criminosa, já seria típica (artigo 2º da Lei n.º 12.850/13 31). Por isso é que a autorização judicial mostra-se
fundamental para que haja a excludente de ilicitude, nos casos em que o agente age dentro dos limites
(‘alcance das tarefas do agente’, conforme previsto no artigo 11 da Lei da ORCRIM) estipulados por um Juiz
de Direito (na forma do artigo 10, in fine32).
Caso o agente infiltrado aja de forma a desrespeitar tais funções previamente autorizadas pelo magistrado
ou viole, de alguma forma, a proporcionalidade, responderá pelos excessos praticados, nos exatos termos
do artigo 13 da Lei em comento. Daí pode-se dizer que, com relação ao crime previsto no artigo 2º da Lei n.º
12.850/13, diante da autorização judicial, a conduta do Policial seria ou atípica (falta de dolo, por exemplo)
ou perfeitamente lícita (estrito cumprimento do dever legal).
Porém, com relação às condutas praticadas pelo agente infiltrado durante a operação/infiltração, havia
divergência sobre a natureza jurídica dessa irresponsabilidade penal: seria uma escusa absolutória, uma
excludente de ilicitude, um fato atípico ou uma excludente de culpabilidade? O artigo 13, parágrafo único,
da Lei33 nos traz a resposta: aplica-se o instituto da inexigibilidade de conduta diversa, portanto, para a
maioria, trata-se de uma excludente de culpabilidade.
29
Art. 10-A § 4º A infiltração será autorizada pelo prazo de até 6 (seis) meses, sem prejuízo de eventuais renovações, mediante
ordem judicial fundamentada e desde que o total não exceda a 720 (setecentos e vinte) dias e seja comprovada sua
necessidade.
30
Art. 190-A, inciso III – não poderá exceder o prazo de 90 (noventa) dias, sem prejuízo de eventuais renovações, desde que o
total não exceda a 720 (setecentos e vinte) dias e seja demonstrada sua efetiva necessidade, a critério da autoridade judicial.
31
Art. 2º Promover, constituir, financiar ou integrar, pessoalmente ou por interposta pessoa, organização criminosa:
32
Art. 10. A infiltração de agentes de polícia em tarefas de investigação, representada pelo delegado de polícia ou requerida pelo
Ministério Público, após manifestação técnica do delegado de polícia quando solicitada no curso de inquérito policial, será
precedida de circunstanciada, motivada e sigilosa autorização judicial, que estabelecerá seus limites.
33
Artigo 13, parágrafo único. Não é punível, no âmbito da infiltração, a prática de crime pelo agente infiltrado no curso da
O legislador andou bem, eis que, com a teoria da acessoriedade limitada que prevalece no Brasil, os demais
membros da organização criminosa serão punidos normalmente, sem maiores discussões sobre suas
condutas serem típicas ou lícitas, eis que a do agente policial será tida como típica e lícita, porém, não
culpável.
Art. 305. Afastar-se o condutor do veículo do local do acidente, para fugir à responsabilidade
penal ou civil que lhe possa ser atribuída:
O tipo penal incrimina, autonomamente, o fato de o condutor do veículo se afastar do local do acidente para
fugir à responsabilidade penal ou civil que lhe possa ser atribuída. Assim, o sujeito ativo do crime é o condutor
do veículo que se afasta do local dos fatos, não sendo necessário que o acidente seja consequência da prática
de um crime de trânsito, nem que o condutor tenha agido com dolo ou culpa no acidente. “Na verdade, não
consta do tipo penal qualquer exigência quanto à demonstração de culpa do condutor do veículo na causação
do acidente como requisito para a aferir a relevância do seu afastamento do local do acidente” (LIMA, 2020,
p. 1219/1221).
Sobre a tênue diferenciação entre os tipos penais dos artigos 304 e 305 do CTB, nos ensina o CAO CRIMINAL
do MPSP34:
“O delito em tela se distingue daquele tratado no art.304 basicamente por conta da mens legis
que inspirou o legislador. No crime do art. 304, com efeito, o que se tutela, ao reclamar
o auxílio do motorista, é a preservação da integridade física do ofendido, que, prontamente
atendido, terá maiores chances de recuperação, por vezes se evitando, inclusive, uma
consequência mais grave que poderia advir caso fosse deixado à mercê de sua própria sorte, sem
qualquer espécie de socorro. No crime do art. 305, procura-se forçar o motorista a
permanecer no local a fim de não impedir (ou, pelo menos, dificultar), a apuração dos fatos”.
O tipo do artigo 304 é omissivo puro (‘deixar de’), enquanto o ora em estudo é comissivo, necessariamente.
34
http://www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/Criminal/Boletim_Semanal/CAOCrim%20informativo%20outubro%202018_nr2.pd
f, acesso em 28/10/2020
O grande questionamento relacionado ao crime em estudo seria com relação à sua duvidosa
constitucionalidade, “pois impõe que o condutor permaneça no local do acidente, fazendo prova contra si
mesmo, ofendendo os princípios constitucionais da ampla defesa e da não autoincriminação. […] Assim, a
doutrina majoritária entende pela inconstitucionalidade do dispositivo” (PONTOCARRERO, FERREIRA, 2020,
p. 1317). Muitos doutrinadores, por outro lado, entendiam pela constitucionalidade do dispositivo.
A jurisprudência há tempos também não se harmonizava a respeito, havendo decisões de Tribunais Estaduais
em ambos os sentidos.
Recentemente, porém, o STF publicou a seguinte ementa que, em sede de Repercussão Geral (Tema n.º 907)
encerra a discussão:
Segundo o STF, o referido tipo penal tem como bem jurídico tutelado a administração da justiça, que resta
prejudicada com a fuga do agente do local dos fatos, impedindo ou dificultando sua identificação e apuração
do ilícito, tanto na esfera penal quanto na civil.
35
Disponível em: <http://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=4739292>.
“2.Toda pessoa acusada de delito tem direito a que se presuma sua inocência enquanto não se
comprove legalmente sua culpa. Durante o processo, toda pessoa tem direito, em plena
igualdade, às seguintes garantias mínimas: (...)
g. direito de não ser obrigado a depor contra si mesma, nem a declarar-se culpada;”
Sopesados os princípios, compreendo que a evasão do local do acidente não constitui exercício
do direito ao silêncio ou do princípio do nemo tenetur se detegere. A meu sentir, referidos
direitos limitam o Estado de impor a colaboração ativa do condutor do veículo envolvido no
acidente para produção de provas que o prejudique.
Por tal razão, depreendo que a constitucionalidade do art. 305 do Código de Trânsito Brasileiro
não afronta o princípio da isonomia. O conjunto de leis no sentido do recrudescimento das regras
de conduta no trânsito decorre da política criminal que visa acoimar a lamentável e alarmante
situação que envolvem os acidentes de trânsito e que resultam, invariavelmente, mortes e graves
lesões; e a identificação dos envolvidos constitui fator imprescindível para consecução da
finalidade da norma de regência.
Nessa dimensão, compreendo que ao condutor lhe é concedido uma série de direitos
resultantes da autorização conferida pelo Estado, mas que, a seu lado, obrigações são irrogadas
e dentre elas, encontra-se a de permanecer no local do acidente para que seja identificado.
Ressalto que a permanência no local do acidente não comporta ilação de confissão de autoria
delitiva ou de responsabilidade pelo sinistro, mas tão somente a sua identificação.
[…]
Ademais, a vertente que compreende inconstitucional sustenta que o tipo penal pode ensejar a
prisão por dívida. A meu sentir, este argumento não se sustenta, considerando que o tipo penal
em comento, obriga a permanência daquele envolvido no acidente, ainda que decorra
responsabilidade na esfera estritamente civil. O bem jurídico tutelado é a Administração da
justiça que busca a identificação do condutor. Portanto, o agente é punido por evadir-se e não
pela dívida decorrente do sinistro. - negritou-se.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Ação Declaratória de Constitucionalidade n.º 35. Relator Ministro Marco
Aurélio. Pesquisa de Jurisprudência. Acórdão publicado no Informativo 994, julgamento virtual em
9/10/2020. Disponível em <http://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=4739292>. Acesso em:
26 de Outubro de 2020.
LIMA, Renato Brasileiro de. Legislação Criminal Especial Comentada – volume único. 8ª edi. JusPodivm.
2020.
PONTOCARRERO, Cláudia Barros. FERREIRA, Wilson Luiz Palermo. Leis Penais Extravagantes – teoria,
jurisprudência e questões comentadas. Análise artigo por artigo. 5. ed. rev., atual. e ampl. - Salvador: Ed.
JusPodivm, 2020.
Nessa ordem de ideias, a inelegibilidade pode ser classificada como absoluta ou ampla e relativa ou restrita.
• Reporta-se a todo e qualquer mandato eletivo (todo mandato está submetido a essa causa de
inelegibilidade).
• Decorre de uma característica do candidato, que justifica essa inelegibilidade.
• Enumeração taxativa/exaustiva na Constituição (art. 14, § 4º).
• Não se reporta a todo e qualquer mandato eletivo, mas somente a certos mandatos (exemplo: já ter
sido reeleito, manter vínculo de casamento, ser militar etc).
• Decorre de uma circunstância da eleição (viés objetivo), não de uma característica manifestada pelo
candidato (viés subjetivo).
• Enumeração exemplificativa na Constituição (art. 14, §§ 5º a 9º), pois abre-se a possibilidade de
legislação complementar estabelecer outras causas de inelegibilidade relativa ou restrita (causas
legais, por força do § 9º), desde que se leve em consideração a vida pregressa do candidato (condição
material) e a causa de inelegibilidade seja estabelecida por lei complementar (condição formal), como
no caso da LC nº 64/90 (Lei das Inelegibilidades) e da LC nº 135/10 (Lei de Ficha Limpa).
a) Mandato eletivo
No tocante ao mandato eletivo, o art. 14, §§ 5º e 6º, da CRFB discutem questão ligada à reeleição.
Note-se que a norma sobre reeleição decorreu da EC nº 16/97, não é uma norma originária. Essa previsão
surgiu de uma ponderação feita entre dois princípios constitucionais: de um lado, a República (o poder
político deve ser temporário; a República pressupõe temporariedade, não vitaliciedade) e de outro lado a
continuidade e eficiência administrativa (para que o administrador manifeste eficiência, pode ser que se
exija um lapso temporal maior, para a implementação ou execução de políticas públicas de médio e longo
prazo).
Diante dessa ponderação entre República e eficiência, só será possível uma reeleição para mandato
subsequente: atende a República, pois o poder político continua temporário; e satisfaz a eficiência
administrativa, pois 8 anos é um prazo razoável para que políticas públicas de médio e longo alcance possam
ser concebidas e executadas.
Uma norma que permitisse mais de uma reeleição seria tendenciosa a violar a República, aproximando-se
da monarquia (ou seja, tendencioso a tornar o poder político vitalício), logo, poderia ser tida como
inconstitucional. A despeito dessa consideração, há Estados que admitem um número maior de eleições,
como a Colômbia (duas reeleições) e a Venezuela (eleições indefinidas), e há Estado que vedam a reeleição,
como o Uruguai (que tem um mandato maior, de 5 anos, mas veda a reeleição).
Essa distinção é extraída da norma constitucional sobre eleição presidencial. A Constituição, em seu art. 81,
§ 1º, prevê eleições indiretas, no prazo de 30 dias, na hipótese de dupla vacância dos cargos de Presidente e
Vice-Presidente da República ocorrida nos dois últimos anos do mandato. Se essa dupla vacância se der nos
dois primeiros anos, a eleição será direta, no prazo de 90 dias (art. 81, caput).
Diante dessa distinção, nota-se que não há rol de sucessores, mas somente um sucessor (o Vice-Presidente),
e se houver vacância desse cargo deverá haver nova eleição (direta ou indireta, a depender de quando
ocorrer a dupla vacância). Se as demais autoridades (Presidente da Câmara dos Deputados, do Senado
Federal e do STF) fossem sucessores, não teria porque haver nova eleição, seriam eles chamados a sucessão.
Até então essa distinção era apenas teórica, até que a EC nº 16/97 trouxe o tema para a Constituição e levou
o STF a julgar o Recurso Extraordinário nº 366.488, no qual se discutiu a possibilidade de Vice-Governador
de Estado, que já havia sido reeleito e, no curso do segundo mandato eletivo, sucedido o Governador de
Estado, poderia, ou não, ser novamente eleito para a Chefia do Poder Executivo estadual:
A questão foi levada ao Supremo Tribunal Federal, sendo argumentado que o candidato não poderia ter sido
eleito novamente, pois a Constituição faz alusão a “quem houver sucedido ou substituído”, nesse sentido,
tendo em vista que o Vice-Governador de Estado substituiu o titular no primeiro mandato e sucedeu no
segundo, não poderia desempenhar um terceiro mandato.
Embora a Constituição mencione “quem houver sucedido ou substituído”, o STF considera válido a terceira
eleição neste caso. Isso porque, para efeito de reeleição, somente são contabilizados os períodos exercidos
a títulos de sucessão, não sendo contemplados os períodos a título de substituição. Desse modo, no caso
concreto, houve somente dois mandatos: um em decorrência da sucessão, e outro por força de nova eleição.
O STF fez interpretação conforme a Constituição e aplicou o princípio da razoabilidade, fixando essa posição.
Na próxima rodada, daremos prosseguimento ao estudo das causas de inelegibilidade relativa ou restrita.
• Os serviços de saúde onde o parto for realizado assegurarão às mulheres e aos seus filhos recém-
nascidos alta hospitalar responsável e contrarreferência na atenção primária, bem como o acesso a outros
serviços e a grupos de apoio à amamentação.
• Incumbe ao poder público proporcionar assistência psicológica à gestante e à mãe, no período pré e
pós-natal, inclusive como forma de prevenir ou minorar as consequências do estado puerperal. Essa
assistência deverá ser prestada também a gestantes e mães que manifestem interesse em entregar seus
filhos para adoção, bem como a gestantes e mães que se encontrem em situação de privação de liberdade.
• A gestante e a parturiente têm direito a 1 (um) acompanhante de sua preferência durante o período
do pré-natal, do trabalho de parto e do pós-parto imediato.
• A gestante tem direito a acompanhamento saudável durante toda a gestação e a parto natural
cuidadoso, estabelecendo-se a aplicação de cesariana e outras intervenções cirúrgicas por motivos médicos.
• A atenção primária à saúde fará a busca ativa da gestante que não iniciar ou que abandonar as
consultas de pré-natal, bem como da puérpera que não comparecer às consultas pós-parto.
• Incumbe ao poder público garantir, à gestante e à mulher com filho na primeira infância que se
encontrem sob custódia em unidade de privação de liberdade, ambiência que atenda às normas sanitárias e
assistenciais do Sistema Único de Saúde para o acolhimento do filho, em articulação com o sistema de ensino
competente, visando ao desenvolvimento integral da criança.
• Os profissionais que atuam no cuidado diário ou frequente de crianças na primeira infância receberão
formação específica e permanente para a detecção de sinais de risco para o desenvolvimento psíquico, bem
como para o acompanhamento que se fizer necessário.
• As gestantes ou mães que manifestem interesse em entregar seus filhos para adoção serão
obrigatoriamente encaminhadas, sem constrangimento, à Justiça da Infância e da Juventude.
• Os serviços de saúde em suas diferentes portas de entrada, os serviços de assistência social em seu
componente especializado, o Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas) e os demais
órgãos do Sistema de Garantia de Direitos da Criança e do Adolescente deverão conferir máxima prioridade
ao atendimento das crianças na faixa etária da primeira infância com suspeita ou confirmação de violência
de qualquer natureza, formulando projeto terapêutico singular que inclua intervenção em rede e, se
necessário, acompanhamento domiciliar.
• É obrigatória a vacinação das crianças nos casos recomendados pelas autoridades sanitárias.
• O Sistema Único de Saúde promoverá a atenção à saúde bucal das crianças e das gestantes, de forma
transversal, integral e intersetorial com as demais linhas de cuidado direcionadas à mulher e à criança.
• A atenção odontológica à criança terá função educativa protetiva e será prestada, inicialmente, antes
de o bebê nascer, por meio de aconselhamento pré-natal, e, posteriormente, no sexto e no décimo segundo
anos de vida, com orientações sobre saúde bucal.
• A criança com necessidade de cuidados odontológicos especiais será atendida pelo Sistema Único de
Saúde.
• O direito à liberdade compreende várias “liberdades”, entre elas, o de ir, vir e estar nos logradouros
públicos e espaços comunitários, ressalvadas as restrições legais.
• Constitui dever de todos velar pela dignidade da criança e do adolescente, colocando-a a salvo de
qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório e constrangedor.
“É obrigatória a aplicação a todas as crianças, nos seus primeiros dezoito meses de vida, de
protocolo ou outro instrumento construído com a finalidade de facilitar a detecção, em consulta
pediátrica de acompanhamento da criança, de risco para o seu desenvolvimento psíquico”.
• A criança e o adolescente devem permanecer perante a sua família natural e tão somente em
situações excepcionais é que devem desta ser retirados.
• A retirada da família somente pode acontecer em razão de ordem judicial, salvo em situações
emergenciais, quando então a criança ou o adolescente poderá ser encaminhado à entidade, que
comunicará o fato ao juiz no prazo de 24 horas.
• A criança e o adolescente podem ser inseridos, excepcionalmente e por período breve, em medidas
protetivas de acolhimento familiar ou acolhimento institucional, o que poderá ser determinado somente
pelo juiz.
• Portanto, o Conselho Tutelar não poderá ser aplicar as medidas protetivas de acolhimento
institucional e acolhimento familiar (apesar da redação do art. 136, I, do ECA).
• As medidas protetivas de acolhimento institucional e familiar devem ser reavaliadas pelo menos a
cada três meses e dependem de decisão do juiz.
• O programa de acolhimento institucional não se prolongará por mais de dezoito meses, salvo
comprovada necessidade que atenda ao seu superior interesse, devidamente fundamentada pela autoridade
judiciaria.
• Poderão ser utilizados recursos federais, estaduais, distritais e municipais para a manutenção dos
serviços de acolhimento em família acolhedora, facultando-se o repasse de recursos para a própria família
acolhedora.
• Será garantida a convivência da criança e do adolescente com a mãe ou o pai privado de liberdade,
por meio de visitas periódicas promovidas pelo responsável ou, nas hipóteses de acolhimento institucional,
pela entidade responsável, independentemente de autorização judicial.
• Não existindo outro motivo que por si só autorize a decretação da medida, a criança ou o adolescente
será mantido em sua família de origem, a qual deverá obrigatoriamente ser incluída em serviços e programas
oficiais de proteção, apoio e promoção.
• A condenação criminal do pai ou da mãe não implicará a destituição do poder familiar, exceto na
hipótese de condenação por crime doloso sujeito à pena de reclusão contra outrem igualmente titular do
mesmo poder familiar ou contra filho, filha ou outro descendente.
• A família extensa é composta pelos parentes próximos com quem a criança e o adolescente mantêm
vínculos de afinidade e de afetiva. Vai além da unidade pais e filhos. Lembre-se, sempre, da GRANDE
FAMÍLIA.
• A família substituta admite três modalidades: a guarda, tutela e a adoção, cada qual com suas
características próprias.
• O guardião poderá opor-se a terceiros, inclusive em relação aos pais. Porém, não possui o direito de
representação, podendo o magistrado, contudo, em casos excepcionais, deferir o direito de representação
para a prática de atos determinados.
• O deferimento da guarda não importa na cessação do direito de pagar alimentos e nem obsta o
direito de visitas dos pais, salvo expressa e fundamentada decisão judicial em sentido contrário ou se a
medida for aplicada como preparação para a adoção.
• A guarda poderá ser revogada a qualquer tempo, mediante ato judicial fundamentado.
• Na adoção testamentária, o tutor nomeado terá o prazo de 30 dias para o ajuizamento da ação
destinada ao controle judicial do ato e a tutela somente será deferida se restar comprovado que a medida é
vantajosa ao tutelando e que não existe outra pessoa em melhores condições de assumi-la.
• É vedada a adoção requerida por procuração; a adoção é um ato que não pode ser revogado (o
consentimento prestado pelos genitores é retratável até a publicação da sentença concessiva da adoção); a
morte dos adotantes não restabelece o poder familiar dos pais naturais; e, a adoção somente pode ser
deferida por sentença judicial (e não por procuração, ressalvados o direito adquirido em razão de escrituras
lavradas para adoção de adultos antes do advento do Código Civil de 2002).
• É recíproco o direito sucessório entre o adotado, seus descendentes, o adotante, seus ascendentes,
descendentes e colaterais até o 4º grau, observada a ordem de vocação hereditária.
• A adoção deve ser precedida de estágio de convivência, que terá os seguintes prazos:
• Somente poderá ser deferida a adoção em favor de candidato domiciliado no Brasil não cadastrado
previamente, salvo nos casos de adoção unilateral, se requerida por parentes com quem a criança e o
adolescente já mantenha vínculo, ou, ainda, por terceiro, para a adoção de criança com mais três anos ou de
adolescente, desde que o pedido seja oriundo de quem detenha a tutela ou guarda legal, boa-fé e que não
se trate dos crimes de crimes.
• A expansão da educação infantil deverá ser feita de maneira a assegurar a qualidade da oferta, com
instalações e equipamentos que obedeçam a padrões de infraestrutura estabelecidos pelo Ministério da
Educação, com profissionais qualificados conforme dispõe a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996 (Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional), e com currículo e materiais pedagógicos adequados à proposta
pedagógica.
• A expansão da educação infantil das crianças de 0 (zero) a 3 (três) anos de idade, no cumprimento da
meta do Plano Nacional de Educação, atenderá aos critérios definidos no território nacional pelo competente
sistema de ensino, em articulação com as demais políticas sociais.
• A criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa,
preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho, assegurando-se-lhes: I – igualdade de
condições para o acesso e permanência na escola; II – direito de ser respeitado por seus educadores; III –
direito de contestar critérios avaliativos, podendo recorrer às instâncias escolares superiores; IV – direito de
organização e participação em entidades estudantis; V – acesso à escola pública e gratuita próxima de sua
residência.
• É direito dos pais ou responsáveis ter ciência do processo pedagógico, bem como participar da
definição das propostas educacionais.
• O poder público estimulará pesquisas, experiências e novas propostas relativas a calendário, seriação,
currículo, metodologia, didática e avaliação, com vistas à inserção de crianças e adolescentes excluídos do
ensino fundamental obrigatório.
• Os municípios, com apoio dos estados e da União, estimularão e facilitarão a destinação de recursos
e espaços para programações culturais, esportivas e de lazer voltadas para a infância e a juventude.
• O adolescente poderá desempenhar atividades em trabalho educativo (que não é trabalho), como
aprendiz (contrato de trabalho), como estagiário ou, ainda, como empregado que não inserido nos
programas anteriores.
• Entende-se por trabalho educativo a atividade laboral em que as exigências pedagógicas relativas ao
desenvolvimento pessoal e social do educando prevalecem sobre o aspecto produtivo.
• A remuneração que o adolescente recebe pelo trabalho efetuado ou a participação na venda dos
produtos de seu trabalho não desfigura o caráter educativo.
A distinção entre a substituição tributária para frente e a substituição tributária para trás decorre da posição
do responsável tributário na cadeia econômica. Se a sua posição for posterior a posição do contribuinte,
estaremos diante de uma responsabilidade tributária para trás (regressiva):
Isso porque, o responsável “retrocede” uma posição na cadeia econômica para “substituir” o contribuinte.
Isso ocorre, por exemplo, quando a legislação estabelece o regime de substituição tributária nas operações
entre os sucateiros (contribuintes) e as indústrias que adquirem a sucata (responsáveis).
O fato gerador do tributo ocorre quando os sucateiros vendem a sucata para as indústrias. São os sucateiros
os contribuintes da exação. No entanto, a legislação estabelece a responsabilidade pelo pagamento do
tributo às indústrias, que ficam obrigadas a pagar o tributo atinente àquela primeira operação quando da
realização da operação seguinte.
Assim, quando as indústrias destinarem o produto para um intermediário ou para o consumidor final, elas
devem recolher a exação das duas operações: como responsáveis tributários, com relação à primeira; como
contribuintes, quanto à segunda operação:
A responsabilidade tributária para trás é utilizada para facilitar a fiscalização e arrecadação do fisco, nas
hipóteses em que a realização dessas atividades se torne mais simples e mais eficaz quando realizada
unicamente nos agentes econômicos adquirentes dos produtos ou das mercadorias. No exemplo
mencionado, isso ficou evidenciado. Ao invés de se fiscalizar os sucateiros, que muitas vezes atuam na
informalidade, o fisco concentra sua autuação nas indústrias, que além de serem em menor número, atuam
no mercado formal.
Caso o responsável esteja numa posição anterior à do contribuinte na cadeia econômica, estaremos diante
da chamada substituição tributária para frente.
O nome dado pelo instituto repousa na circunstância de o responsável “avançar” uma posição na cadeia
econômica para “substituir” o contribuinte. É o que ocorre com as empresas fabricantes de veículos com
relação às concessionárias. Quando o automóvel deixa o estabelecimento da fabricante, esta última deve
arcar, como responsável tributário, com o tributo que se supõe que irá existir quando da venda do automóvel
pela concessionária ao consumidor final.
Portanto, na substituição tributária para frente ocorre o inverso do que acontece na substituição tributária
para trás. Nesta última, ocorre o diferimento no pagamento do tributo, que é postergado para a operação
seguinte; naquela, o tributo é antecipado para um momento anterior na cadeia econômica, pela presunção
de que o fato gerador atinente à operação seguinte deve ocorrer.
Essa presunção da ocorrência do fato gerador gerou controvérsias na doutrina sobre a constitucionalidade
do instituto, tendo o Supremo Tribunal Federal, no entanto, firmado jurisprudência no sentido da sua
constitucionalidade. Posteriormente, inseriu-se dispositivo expresso no texto constitucional sobre o tema:
Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos
Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
§ 7º A lei poderá atribuir a sujeito passivo de obrigação tributária a condição de responsável pelo
pagamento de imposto ou contribuição, cujo fato gerador deva ocorrer posteriormente,
assegurada a imediata e preferencial restituição da quantia paga, caso não se realize o fato
gerador presumido. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 3, de 1993)
Como se observa, o dispositivo assegura a imediata e preferencial restituição da quantia paga caso não se
realize o fato gerador presumido. Retomando nosso exemplo, caso o veículo não seja vendido pela
concessionária para o consumidor final, faz-se possível a restituição da quantia paga antecipadamente.
Discussão importante dizia respeito à possibilidade de restituição no caso de fato gerador ocorrido a menor.
De fato, como o fato gerador é presumido, não se sabe num primeiro momento qual é a base tributável, o
que impõe que a legislação estabeleça os critérios que devam ser utilizados para apuração da quantia. Tais
critérios, aliás, devem ser razoáveis, mantendo coerência com a realidade. No nosso exemplo, de venda de
veículos, o valor normalmente é estabelecido por uma tabela de algum órgão público ou pela tabela do
próprio fabricante.
De toda forma, ainda que o valor estabelecido pela legislação não padeça de ilegalidade, é possível que o
valor tributável não seja exatamente aquele que foi inicialmente pressuposto. Nesse caso, o Supremo
Tribunal Federal firmou inicialmente jurisprudência no sentido da impossibilidade da restituição da quantia
paga a maior. Dois argumentos principais eram utilizados pela Corte: primeiro, que o artigo 150, §7º, da CF,
apenas assegurava a restituição quando o fato gerador não se realizasse; segundo, que uma interpretação
extensiva, que também autorizasse a restituição no caso de pagamento a maior, contrariaria a própria
funcionalidade do instituto, de facilitar a fiscalização e a arrecadação dos tributos.
No entanto, o Supremo Tribunal Federal, quando do julgamento do RE 593849, reviu seu posicionamento,
tendo aprovado o a Tese de Repercussão Geral nº 201, segundo a qual “É devida a restituição da diferença
do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) pago a mais no regime de substituição
tributária para a frente se a base de cálculo efetiva da operação for inferior à presumida”.
A lei que regula o tema é a lei 8.429/92, lei de improbidade administrativa que veio ao ordenamento jurídico
com uma ideia eminentemente punitiva, como se depreende se sua ementa: “Dispõe sobre as sanções
aplicáveis aos agentes públicos nos casos de enriquecimento ilícito no exercício de mandato, cargo, emprego
ou função na administração pública direta, indireta ou fundacional e dá outras providências”. Não obstante
a ementa da lei, sua abrangência punitiva vem sendo diminuída com o passar do tempo por alterações
legislativas, possibilidade de ajustamento de conduta e acordo de não persecução cível, mitigando o rigor da
lei.
Importante trazer a distinção de Henrique da Rosa Ziesemer36: “Atos de corrupção podem ser imorais ao
passo que a recíproca não é necessariamente verdadeira. Este é um dos desafios da lei de improbidade
administrativa”.
É pacífico que as instâncias cível, penal e administrativa são independentes e que os atos de improbidade
podem ser sancionados em todas estas. Registre-se que “as sanções de improbidade previstas na Lei 8429/92
têm natureza civil, não impedindo, contudo, a apuração de responsabilidade na esfera administrativa e na
esfera penal. Frise-se, portanto, mais uma vez, que a natureza da ação de improbidade é cível” 37.
De início, observa-se que segundo o Superior Tribunal de Justiça, é inviável a propositura de ação de
improbidade somente contra particular, sem a presença de agente público no polo passivo da demanda. A
ação civil de improbidade, que terá rito ordinário (art. 17, da Lei n. 8.429/92), poderá ser proposta pelo
Ministério Público, caso em que a Fazenda Pública terá a faculdade de promover as ações necessárias à
complementação do ressarcimento ao patrimônio público (art. 17, § 2°, da Lei n. 8.429/92).
Se ajuizada pela pessoa jurídica interessada, o Ministério Público atuará obrigatoriamente como fiscal da lei
(art. 17, § 4°, da Lei n. 8.429/92), ou, na dicção do Código de Processo Civil, como fiscal da ordem jurídica
(art. 178, “caput”, do CPC).
A ação de improbidade administrativa será proposta no juízo singular comum, estadual ou federal. Para
Matheus Carvalho38, “não é possível a utilização da competência constitucional para as ações penais em face
de agentes públicos, haja vista a natureza civil das sanções a serem aplicadas”, nas hipóteses do art. 109 da
Constituição.
Em outras palavras, “não existe na Constituição brasileira, qualquer menção a foro especial em processos de
natureza cível”39.
No prazo de 15 (quinze) dias, e estando a inicial em forma, o magistrado mandará autuá-la e ordenará a
notificação do requerido, para manifestação por escrito, quando poderá instruir com documentos e
justificações (art. 17, § 7°).
36
ZIESEMER. Henrique da Rosa. Interesses difusos e coletivos. Salvador: Juspodivm, 2018, p. 563.
37
CARVALHO, Matheus. Manual de direito administrativo. 6. ed. Salvador: Juspodivm, 2019, p. 986/987.
38
CARVALHO, Matheus. Manual de direito administrativo. 6. ed. Salvador: Juspodivm, 2019, p. 996.
39
ZIESEMER. Henrique da Rosa. Interesses difusos e coletivos. Salvador: Juspodivm, 2018, p. 567.
Dentro de um prazo de 30 (trinta) dias, o magistrado poderá rejeitar a ação, “se convencido da inexistência
do ato de improbidade, da improcedência da ação ou da inadequação da via eleita” (art. 17, § 8°), caso
contrário receberá a inicial e mandará citar o réu para apresentar contestação (art. 17, § 9°), oportunidade
que caberá agravo de instrumento (art. 17, § 10°). Na dúvida, deve o magistrado receber a ação e processá-
la, aplicado o princípio do “in dubio pro societate”.
Frise-se que se o magistrado indeferir a inicial da ação de improbidade administrativa, caberá recurso de
apelação, com supedâneo no Código de Processo Civil.
Despertar para a era ecológica, a nível mundial, na década de 1970 - até então, prevalecia em absoluto a
instrumentalização da natureza e dos recursos naturais.
Importante marco literário: Silent Spring (Primavera Silenciosa), de Rachel Carson (1962) – alertou para os
riscos do uso indiscriminado de agrotóxicos.
• 1ª fase: tutela econômica do meio ambiente (até 1950) – finalidade utilitarista e econômica – ex:
Código Civil/1916
• 2ª fase: tutela sanitarista do meio ambiente (1950-1980) – preocupação com o meio ambiente com
vistas à proteção da vida e da saúde humana – ex: Lei nº 5.197/67
• 3ª fase: tutela autônoma do meio ambiente (1980 em diante) – a preocupação com o meio ambiente
de forma autônoma – marco legal: Lei nº 6.938/81 (Política Nacional do Meio Ambiente) – a partir
desta lei, o Direito Ambiental passa a ser visto como ramo autônomo da ciência jurídica brasileira –
primeiro instrumento legislativo em que a proteção do meio ambiente e de seus componentes
bióticos e abióticos (recursos ambientais) foram compreendidos de uma forma unívoca e
globalizada40.
40
ABELHA RODRIGUES, Marcelo. Direito Ambiental Esquematizado. 5 ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2018, p. 62.
1) Fase da exploração desregrada: prevalece a omissão legislativa, com previsões esparsas no direito
de vizinhança, sob a ótica privatística;
2) Fase fragmentária: destacam-se diplomas marcantes, como o Código Florestal/1965, o Código de
Pesca e de Mineração, ambos de 1967 e a Lei de Agrotóxicos, de 1989.
3) Fase holística: foi inaugurada com a Lei 6.938/81, na qual o ambiente passa a ser protegido de
maneira integral, vale dizer, como sistema ecológico integrado e com autonomia valorativa 41.
Importante! Fase atual do Direito Ambiental: era das alterações climáticas e grandes desastres ecológicos -
a transnacionalidade das normas ambientais e a importância do “diálogo de fontes normativas” e do “diálogo
de Cortes” - característica normativa pluridimensional do regime jurídico ecológico contemporâneo
(nacional, comparado, regional, internacional) – o reforço do dever de cooperação internacional e esforço
comum da comunidade internacional no enfrentamento da crise ecológica global contemporânea42.
Art. 225, caput, da CR: a dupla face do meio ambiente (direito-dever fundamental): meio ambiente
enquanto direito fundamental de terceira dimensão x meio ambiente como dever de proteção objetiva,
imposto ao Poder Público e à coletividade.
O meio ambiente como interesse difuso: “todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado”
– conceito estabelecido no art. 81, parágrafo único, do CDC (transindividuais, de natureza indivisível, de que
sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato) – trata-se de bem jurídico difuso,
indisponível, fundamental, que antecede todos os demais direitos, pois sem ele não há vida, nem saúde, nem
trabalho, nem lazer – por esse fundamento, o direito à reparação do dano ambiental é imprescritível.
Bem ambiental na CR = nos termos do art. 225, caput, é o meio ambiente ecologicamente equilibrado, ou
seja, é o equilíbrio ecológico. Deste conceito extrai-se a seguinte divisão do bem ambiental:
41
BENJAMIN, Antonio Herman V. Introdução ao direito ambiental brasileiro. In: Doutrinas Essenciais de Direito Ambiental. V. I.
Organizadores: MACHADO, Paulo Affonso; MILARÉ, Édis. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2011. p. 45.
42
SARLET, Ingo e FENSTERSEIFER, Tiago. A Suprema Corte de Justiça do México e o dever de proteção ecológica. Disponível em:
https://www.conjur.com.br/2019-abr-05/direitos-fundamentais-suprema-corte-justica-mexico-protecao-ecologica
naturais (concepção limitada de meio ambiente); contudo, numa lógica ampliada de meio ambiente,
abrange também os ecossistemas artificiais (urbano, cultural e do trabalho), previstos em outros
capítulos. Ou seja, a proteção constitucional direcionada no art. 225 refere-se apenas ao meio
ambiente natural (fatores e recursos naturais, bióticos e abióticos, e suas correspondentes
interações).
Apesar da divisão realizada pela CR, limitando a questão ambiental para questões ecológicas, o STF, ancorado
na doutrina majoritária, adota a concepção ampla de meio ambiente, nela compreendido o meio ambiente
urbano, cultural, estético e do trabalho:
Vê-se, daí, que o constituinte, com a proteção da fauna e com a vedação, entre outras, de práticas
que “submetam os animais a crueldade”, objetivou assegurar a efetividade do direito
fundamental à preservação da integridade do meio ambiente, que traduz conceito amplo e
abrangente que compreende as noções de meio ambiente natural, de meio ambiente cultural,
de meio ambiente artificial (espaço urbano) e de meio ambiente laboral, consoante ressalta o
magistério doutrinário (CELSO ANTÔNIO PACHECO FIORILLO, “Curso de Direito Ambiental
Brasileiro”, p. 20-23, item n. 4, 6ª ed., 2005, Saraiva; JOSÉ AFONSO DA SILVA, “Direito Ambiental
Constitucional”, p. 21-24, itens ns. 2 e 3, 4ª ed./2ª tir., 2003, Malheiros; JOSÉ ROBERTO
MARQUES, “Meio Ambiente Urbano”, p. 42-54, item n. 4. 2005, Forense Universitária, v.g.)43.
Compreensão filosófica:
43
Adin 4983-CE, voto do Min. Celso de Mello, j. 02.06.2016.
espécie humana44 e, ainda, no art. 225, §1º, VII (vedação da crueldade contra animais),
reconhecendo-se o valor intrínseco dos animais.
O meio ambiente como direito fundamental de terceira dimensão: direito de terceira geração (ou de
novíssima dimensão), que assiste a todo o gênero humano e consagra o postulado da solidariedade,
incumbindo ao Estado e à coletividade a especial obrigação de defender e preservar, em benefício das
presentes e futuras gerações, esse direito de titularidade coletiva e de caráter transindividual (STF, ADIN
3540-DF). Os direitos de terceira dimensão são aqueles relacionados com os direitos de fraternidade (ou
solidariedade).
O meio ambiente enquanto bem de uso comum do povo: previsão no art. 225, caput, da CR e no art. 99 do
Código Civil (bens de uso comum do povo/ bens de uso especial/ bens dominicais) – conceito: sob a ótica
administrativista, bens de uso comum do povo são aqueles que, por determinação legal ou por sua própria
natureza, podem ser utilizados por todos em igualdade de condições, sem necessidade de consentimento
individualizado pela Administração Pública; são bens público afetados e indisponíveis;
Neste sentido, a CR determina em seu art. 20 que são bens da União (bens federais), dentre outros:
III - os lagos, rios e quaisquer correntes de água em terrenos de seu domínio, ou que banhem
mais de um Estado, sirvam de limites com outros países, ou se estendam a território estrangeiro
ou dele provenham, bem como os terrenos marginais e as praias fluviais;
IV as ilhas fluviais e lacustres nas zonas limítrofes com outros países; as praias marítimas; as ilhas
oceânicas e as costeiras, excluídas, destas, as que contenham a sede de Municípios, exceto
aquelas áreas afetadas ao serviço público e a unidade ambiental federal, e as referidas no art.
26, II;
44
Segundo Tiago FENSTERSEIFER, com base no “novo espírito constitucional de matriz ecológica”, que objetiva a superação da
coisificação dos animais, a expressão “todos”, ventilada no art. 225 da Constituição toma a dimensão e amplitude de todos os
seres vivos (humanos e não humanos), caracterizando uma solidariedade ecológica entre espécies. Direitos fundamentais e
proteção do ambiente: a dimensão ecológica da dignidade humana no marco jurídico constitucional do Estado Socioambiental de
Direito. Porto Alegre: Editora Livraria do Advogado, 2008, p. 56.
VI - o mar territorial;
Apesar da terminologia, compreende-se que o dispositivo não estabelece a titularidade do bem em favor da
União, uma vez que o meio ambiente constitui bem de uso comum do povo. O que a CR partilha entre os
entes federados é apenas o dever de gestão dos recursos naturais, enquanto responsáveis por sua
administração e por zelar pela sua adequada utilização e preservação, em benefício de toda a coletividade 45.
De forma semelhante, o art. 26 da CR elenca os bens estaduais. Não há disposição semelhante em relação
aos bens dos Municípios. Contudo, diante da competência disposta no art. 30, VIII (promover, no que couber,
adequado ordenamento territorial, mediante planejamento e controle do uso, do parcelamento e da
ocupação do solo urbano), e da competência do Poder Público municipal para a promoção da política urbana
(art. 182), o Município tem o domínio dos bens ambientais de nível local, a exemplo das áreas verdes urbanas
(art. 3º, XX, da Lei nº 12.651/12 – Código Florestal).
De acordo com o STF, o princípio da precaução encontra-se ínsito no art. 225, caput. Com base neste
entendimento, em julgado de 22.06.2020 (Medida Cautelar na ADPF 656-DF), o STF entendeu
inconstitucional parte da Portaria 43/2020, da Secretaria de Defesa Agropecuária do Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento que, a pretexto de regulamentação da Lei nº 13.874/19 – Lei da
Liberdade Econômica, estabeleceu a aprovação tácita de agrotóxicos, independentemente da conclusão de
estudos técnicos sobre seus efeitos nocivos ao meio ambiente e à saúde. De acordo com o julgado, permitir
a entrada e registro de novos agrotóxicos, de modo tácito, sem a devida análise por parte das autoridades
responsáveis, com o fim de proteger o meio ambiente e a saúde de todos, ofende o princípio da precaução,
ínsito no art. 225 da Carta de 1988. A aprovação tácita dessas substâncias, por decurso de prazo previsto no
ato combatido, viola, não apenas os valores acima citados, como também afronta o princípio da proibição
de retrocesso socioambiental.
45
FIORILLO, Celso Antônio Pacheco. Curso de Direito Ambiental Brasileiro. 17ª ed. São Paulo: Saraiva,
2017, p. 112.
Conforme abordado, o art. 225, caput, traz a compreensão do direito fundamental ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado, enquanto direito de terceira dimensão e dever objetivo de tutela imposto ao
Estado e à coletividade. O cumprimento de tal dever deve observar a natureza do bem ambiental, enquanto
bem de uso comum do povo, interesse difuso, indisponível, imprescritível, transnacional e intergeracional.
A seguir, serão abordados os deveres específicos impostos ao Poder Público para assegurar a efetividade do
direito ao meio ambiente.
3.1. A preservação e restauração dos processos ecológicos essenciais e o manejo ecológico das espécies e
ecossistemas
Preservação, restauração e manejo são termos comuns no ordenamento ambiental que apresentam
distintas conotações.
Um dos instrumentos criados para regulamentar a obrigação descrita foi a Lei nº 9.985/00, que instituiu o
Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza e apresentou as seguintes definições (art. 2º):
VIII - manejo: todo e qualquer procedimento que vise assegurar a conservação da diversidade
biológica e dos ecossistemas;
Não confundir!
• Preservação x conservação: o termo preservação designa proteção rígida de longo prazo, com
limitação estrita de intervenção, enquanto conservação é definida como gênero; a conservação in
situ é aquela específica do local de referência.
• Restauração x recuperação: ambas são modalidades de reparação, sendo a primeira mais restrita,
diante da busca pelo retorno ao status quo ante. No âmbito da reparação de danos ambientais, deve-
se sempre dar primazia para a restauração em face da recuperação.
• Manejo ecológico: pode se referir às espécies (perspectiva individual) ou a um ecossistema
(perspectiva global).
Regulamentação: Lei nº. 11.105/05 (atividades que envolvam OGM e seus derivados), Lei nº 13.123/15
(patrimônio genético) e Lei nº 9.9985/00 – SNUC.
Patrimônio genético é definido como informação de origem genética de espécies vegetais, animais,
microbianas ou espécies de outra natureza, incluindo substâncias oriundas do metabolismo destes seres vivos
(art. 2º, I, da Lei nº 13.123/15).
3.3. Definição, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a serem
especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada
qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção
A Lei nº 6.938/81 – Política Nacional do Meio Ambiente estabelece, como um dos instrumentos da Política
Nacional do Meio Ambiente (art. 9º):
Espécies = Unidades de Conservação, áreas de preservação permanente, reserva legal, biomas de tutela
especial
Tipologias típicas: Unidades de Conservação – diferem-se dos demais espaços territoriais especialmente
protegidos porque não são autoaplicáveis – não basta a presença das características naturais para a sua
proteção, pois dependem de um ato específico de criação; cada UC criada encontra-se sob regime especial
de administração, conforme disciplinado no seu plano de manejo.
Tipologias atípicas: APP, reserva legal, Reserva da Biosfera, servidão ambiental, área verde, terra indígena,
Jardim Botânico Horto Florestal e Jardim Zoológico
Neste caso, há uma mitigação do princípio do paralelismo das formas (estabelece que um ato administrativo
só pode ser modificado pelo emprego da forma idêntica àquela adotada para sua criação) – as Unidades de
Conservação podem ser criadas por ato do Poder Público (art. 22 da Lei nº 9.985/00) mas só podem ser
alteradas ou suprimidas, nos termos da CR, por lei.
3.4. A exigência, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de
significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade
O EIA é uma modalidade de Avaliação de Impacto Ambiental (AIA), que integra o licenciamento ambiental,
e é exigido apenas para obras e atividades potencialmente causadoras de significativa degradação do meio
ambiente.
Como está previsto na CR, o EIA não pode ser dispensado por lei, sob pena de inconstitucionalidade. Neste
sentido, destaque-se o seguinte trecho do voto do Min. Alexandre de Moraes na ADIN 5.312-TO, que, em
julgado de 25.10.2018, declarou a inconstitucionalidade de lei estadual que dispensava atividades
agrossilvipastoris do prévio licenciamento ambiental:
A disciplina do EIA encontra-se na Resolução nº 1/1986 do CONAMA, que dispõe sobre critérios básicos e
diretrizes gerais para a avaliação de impacto ambiental (art. 5º):
III - Definir os limites da área geográfica a ser direta ou indiretamente afetada pelos impactos,
denominada área de influência do projeto, considerando, em todos os casos, a bacia hidrográfica
na qual se localiza;
A parte final do art. 225, §1º, IV prevê a publicidade obrigatória do EIA (princípio da publicidade)
A gestão de riscos ambientais envolve o exercício de três deveres por parte do Estado (tripé da tarefa de
gestão de riscos): avaliação, comunicação e adaptação.
• Em caráter geral, mediante instrumento normativo, a fim de eleger riscos intoleráveis e impor
restrições de caráter genérico a determinadas atividades – ex: a proibição de utilização da técnica de
barragem de rejeitos a montante em operações de mineração (Resolução ANM nº 04/2019)
• Em caráter específico, no âmbito do licenciamento ambiental de cada empreendimento, através das
Avaliações de Impacto Ambiental (AIA);
A comunicação, por sua vez, é um importante instrumento de densificação dos princípios da informação e
da participação pública. Especialmente direcionada às atividades de risco, quando presente incerteza
científica sobre os riscos da atividade/produto/método/técnica, a comunicação é importante para a garantia
do direito a saber, exigindo-se maior democratização na tomada de decisões referentes a riscos para o
reforço de sua legitimidade (governança social dos riscos).
Por fim, a adaptação refere-se ao dever de contínua avaliação das técnicas, métodos e substâncias que
envolvem riscos ambientais, compreendidos em sentido amplo (riscos para a vida, para a qualidade de vida
e para o meio ambiente), com a possibilidade de alteração, a qualquer tempo, das condicionantes da licença
ambiental, de acordo com a evolução do conhecimento científico sobre os riscos 46.
No art. 225, §1º, V, encontra-se o fundamento para o chamado Direito dos Desastres, no que se refere aos
riscos tecnológicos, enquanto no novo segmento jurídico que tem como objeto a prevenção contra riscos de
catástrofes decorrentes de empreendimentos industriais, a exemplo do rompimento de barragens da
mineração.
46
Vide material da Rodada nº 1 (licenciamento ambiental), a instabilidade da licença ambiental e as
melhores tecnologias disponíveis – MTDs.
3.6. A promoção da educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a
preservação do meio ambiente
Como já abordado na rodada anterior, o princípio da educação ambiental encontra-se expresso na CR,
impondo-se ao Poder Público, nas três esferas, o dever de promover a cidadania ecológica.
Trata-se de instrumento para a garantia do exercício do dever de proteção ambiental imposto não apenas
ao Estado mas à coletividade em geral.
Regulamentação:
• art. 2º, X, da Lei nº 6.938/81: estabelece como princípio da Política Nacional do Meio Ambiente a
educação ambiental a todos os níveis de ensino, inclusive a educação da comunidade, objetivando
capacitá-la para participação ativa na defesa do meio ambiente
• Lei nº 9.795/99 – Lei de Política Nacional de Educação Ambiental
3.7. A proteção da fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função
ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade
Neste dispositivo, além de estabelecer o dever do Poder Público de proteção da fauna e da flora, a
Constituição da República proibiu a realização de práticas que comprometam a função ecológica da flora e
da fauna, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais à crueldade.
Em relação à função ecológica e à extinção de espécies, relaciona-se com a relevância da flora e da fauna
para a manutenção do equilíbrio ecológico e da biodiversidade.
No que se refere à vedação de práticas que submetam os animais à crueldade, diferentemente, não se
relaciona com o equilíbrio ecológico ou com a biodiversidade. Trata-se de norma de cunho essencialmente
moral, que decorre da natureza sui generis dos animais, como seres sencientes.
Com base no referido dispositivo, compreende-se que a Constituição da República estabeleceu verdadeiro
mandado de criminalização da prática de crueldade contra animais, o que restou materializado no art. 32
da Lei nº 9.605/98, que tipifica o crime de maus-tratos a animais.
Prevalece na doutrina que a proibição da crueldade animal tem natureza de norma-regra, na medida em que
define imediatamente um comportamento inadmissível, não permitindo sequer uma ponderação com
princípios ou outros valores constitucionais. Trata-se, assim, de proteção absoluta. Uma vez constatado que
determinado tratamento ao animal tem natureza cruel, ele necessariamente deve ser proibido e
sancionado47. Contudo, na jurisprudência do STF, a interpretação do preceito tem sido realizada à luz da
ponderação de interesses, nos casos de conflito com outros valores constitucionais 48.
A compreensão do conteúdo e do alcance da proibição de práticas cruéis para com os animais sofreu
alterações ao longo do tempo, na ótica da interpretação conferida pelo STF. Nos clássicos julgados sobre a
inconstitucionalidade das práticas da “farra do boi”, da “briga de galo” e da “vaquejada”, o STF conferiu forte
valoração ao preceito, dando-lhe sobreposição sobre manifestações culturais. Nos dois primeiros julgados,
a questão foi encarada sob a lógica do direito fundamental ao meio ambiente ecologicamente equilibrado,
bem como da proteção à dignidade da pessoa humana, a partir da compreensão de que o tratamento cruel
com os animais constitui em estímulo às pulsões mais primitivas e irracionais do ser humano e por isso
denigre a própria dignidade humana49. Diferentemente, no julgado da “vaquejada”, o STF avançou da
concepção antropocêntrica para o reconhecimento de uma dignidade própria para os animais, com base no
reconhecimento da sua natureza de ser senciente, no sentido de que a proteção constitucional teria como
destinatário o próprio animal. Nas palavras do Ministro Luís Roberto Barroso 50:
Ao vedar práticas que submetam animais à crueldade (CF, art. 225, §1º, VII), a Constituição não
apenas reconheceu os animais como seres sencientes, mas também reconheceu o interesse que
eles têm de não sofrer. A tutela desse interesse não se dá, como uma interpretação restritiva
poderia sugerir, tão somente para a proteção do meio ambiente, da fauna ou para a preservação
das espécies. A proteção dos animais contra práticas cruéis constitui norma autônoma, com
objeto e valor próprios.
Com base no entendimento transcrito, há doutrina que defende a autonomização da proteção dos animais
em relação ao Direito Ambiental e, consequentemente, o surgimento de um novo ramo jurídico, o Direito
Animal, cujo objeto é a proteção dos animais enquanto seres sencientes, dotados de valor e dignidade
própria.
Destoando dos julgamentos anteriores, no dia 28 de março de 2019, o STF entendeu para
constitucionalidade da prática do sacrifício de animais em rituais religiosos, formando a seguinte tese: É
47
KRELL, Andreas J. e CAVALCANTE LIMA, Marcos Vinícius. A vedação constitucional de práticas cruéis
contra animais e a correta interpretação das normas legais sobre vivissecção pelas comissões de ética
no uso de animais. In: Revista Brasileira de Direito Animal. Vol. 10. Nº 19, 2015, p. 134.
48
A expressão crueldade – do latim crudelitas, de crudus, originário de cruor (sangue vivo) – tem o
sentido de prática dolosa, impiedosa, tirana e insensível contra os animais. Conforme CAETANO DA
SILVA, Luciana e BARETA, Gilciane Allen. Algumas considerações sobre a crueldade contra animais na
Lei 9.605/98. In: Direito Penal Contemporâneo: estudos em homenagem ao Professor José Cerezo Mir.
Luiz Regis Prado (org.). Vol. I. São Paulo: Editora RT, 2007, p. 320
49
Conforme voto do Ministro Cezar Peluso na ADIN nº 1.856/RJ, acórdão de 14 de outubro de 2011
(“briga de galo”).
50
ADI nº 4.983/CE, voto-vista do Ministro Luís Roberto Barroso.
constitucional a lei de proteção animal que, a fim de resguardar a liberdade religiosa, permite o sacrifício
ritual de animais em cultos de religiões de matriz africana (RE 494601).
Caiu na prova! Na prova oral do LVII Concurso do Ministério Público do Estado de Minas Gerais (2019), um
dos pontos abordados foi o princípio da dignidade animal.
Fique atento! Há uma tendência de cobrança da temática nos concursos, especialmente do Ministério
Público, diante da evolução doutrinária e jurisprudencial e de novas legislações que reconhecem os animais
como sujeitos de direitos, exemplo do Código Estadual de Proteção aos Animais de Santa Catarina (Lei nº
12.854/03), do Código de Direito e Bem-Estar Animal do Estado da Paraíba (Lei nº 11.140/18) e do
recentíssimo Código Estadual do Meio Ambiente do Rio Grande do Sul (Lei nº 15.434/2020).
Como reação ao julgamento de inconstitucionalidade da vaquejada pelo STF, o Congresso Nacional aprovou
a PEC nº 96/2017 (PEC da vaquejada), acrescentando o §7º ao art. 225 para dispor que não se consideram
cruéis as práticas desportivas que utilizem animais, desde que sejam manifestações culturais, conforme o §
1º do art. 215 desta Constituição Federal, registradas como bem de natureza imaterial integrante do
patrimônio cultural brasileiro, devendo ser regulamentadas por lei específica que assegure o bem-estar dos
animais envolvidos.
A Lei nº 13.364/16 reconhece o rodeio, a vaquejada e o laço, bem como as respectivas expressões artísticas
e esportivas, como manifestações culturais nacionais, eleva essas atividades à condição de bens de natureza
imaterial integrantes do patrimônio cultural brasileiro e dispõe sobre as modalidades esportivas equestres
tradicionais e sobre a proteção ao bem-estar animal (art. 1º).
O art. 225, §2º, da CR prevê o dever de recuperação de forma específica para a mineração, em atenção ao
princípio do poluidor-pagador.
51
STJ, REsp 1797175 SP, voto do Ministro Relator Og Fernandes, j. 21.03.2019.
O Decreto nº 9.406/18 estabelece o fechamento da mina como parte do ciclo de vida da operação e dispõe
a recuperação ambiental da área degradada como parte fundamental do processo de fechamento da mina.
A Lei nº 12.334/10 – Política Nacional de Segurança de Barragens dispõe que a desativação ou recuperação
da barragem deve ser objeto de projeto específico (art. 18, §1º).
O art. 225, §3º, determina a responsabilidade ambiental nas três esferas (administrativa, civil e penal), além
de constituir o fundamento constitucional para a responsabilidade penal da pessoa jurídica.
Com base neste dispositivo, compreende-se que a CR estabeleceu mandado expresso de criminalização em
matéria ambiental, determinando a intervenção do legislador penal para a tutela dos bens jurídicos
ecológicos, a exemplo da flora e da fauna. Legitima-se, desta forma, a intervenção do Direito Penal para a
tutela do meio ambiente, enquanto bem jurídico supraindividual, o que restou concretizado na Lei nº
9.605/98.
Nos termos do art. 225, §4º, da CR: a Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o
Pantanal Mato-Grossense e a Zona Costeira são patrimônio nacional, e sua utilização far-se-á, na forma da
lei, dentro de condições que assegurem a preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos
naturais.
(MPMG 2017) A Caatinga e o Cerrado não são patrimônio nacional, nos termos da CR.
(MPSC 2014): A Mata Atlântica é considerada, nos termos da Constituição da República, patrimônio da União.
R: errado.
Não confundir, ainda, os biomas de proteção especial com as Unidades de Conservação. A Amazônia é um
bioma de proteção especial na CR (patrimônio nacional) e não uma Unidade de Conservação.
Terras devolutas são aquelas que não se encontram formal e legitimamente incorporadas ao patrimônio
particular e aquelas já incorporadas ao domínio público mas não afetadas a qualquer uso público. São, por
isso, bens públicos dominicais (não afetadas a qualquer uso público) que, em regra, são alienáveis. A CR
estabeleceu, portanto, uma exceção à regra, determinando a indisponibilidade das terras devolutas
necessárias à proteção dos ecossistemas naturais.
Nos termos do art. 20, II, da CR, são bens da União as terras devolutas indispensáveis à defesa das fronteiras,
das fortificações e construções militares, das vias federais de comunicação e à preservação ambiental,
definidas em lei.
8. AS USINAS QUE OPEREM COM REATOR NUCLEAR DEVEM TER SUA LOCALIZAÇÃO DEFINIDA DEM LEI
FEDERAL
a) toda atividade nuclear em território nacional somente será admitida para fins pacíficos e
mediante aprovação do Congresso Nacional;
O art. 22 estabelece a competência legislativa privativa da União para legislar sobre atividades nucleares de
qualquer natureza (inciso XXVI).
A atividade nuclear é estabelecida em regime de monopólio da União, nos termos do art. 177, V, da CR.
A proteção do meio ambiente não se encontra exclusivamente disposta no capítulo próprio, havendo
inúmeras outras previsões dispersas, como consequência da necessidade do tratamento da questão
ambiental de forma holística e transversal. Citem-se os seguintes exemplos:
Art. 5º, LXXIII: “qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a anular ato
lesivo (...) ao meio ambiente (...), ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas
judiciais e do ônus da sucumbência”.
Art. 23, VI: “É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios:
(...) proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas”.
Art. 24, VI e VIII: “Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente
sobre: (...) florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do solo e dos recursos
naturais, proteção do meio ambiente e controle da poluição; (...) responsabilidade por dano ao
meio ambiente (...)”.
Art. 129, III: “São funções institucionais do Ministério Público: (...) promover o inquérito civil e a
ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros
interesses difusos e coletivos”.
Art. 170, VI: “A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre
iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social,
observados os seguintes princípios: (...) defesa do meio ambiente, inclusive mediante
tratamento diferenciado conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus
processos de elaboração e prestação”.
Art. 186, II: “A função social é cumprida quando a propriedade rural atende, simultaneamente,
segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos: (...)
utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente”.
Art. 200, VIII: “Ao sistema único de saúde compete, além de outras atribuições, nos termos da
lei: (...) colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho”.
Art. 220, § 3º, II: “Compete à lei federal: (...) estabelecer os meios legais que garantam à pessoa
e à família a possibilidade de se defenderem (...) da propaganda de produtos, práticas e serviços
que possam ser nocivos à saúde e ao meio ambiente”.
O Código Civil, em seu art. 1.142, traduz estabelecimento comercial como “(...) todo complexo de bens
organizado, para exercício da empresa, por empresário, ou por sociedade empresária”. Para tanto, fez uso
dos ensinamentos de OSCAR BARRETO FILHO já conceituava o estabelecimento empresarial como:
“(...) complexo de bens, materiais e imateriais, que constituem o instrumento utilizado pelo
comerciante para a exploração da atividade mercantil.” (Oscar Barreto Filho)
No que tange sua natureza jurídica, restou pacífico na doutrina de que se trata de uma universalidade de
fato, ou seja:
(b) formado pela vontade do sujeito (portanto, uma relação infinita em sua variedade); e
“Na universalidade de fato o conjunto de coisas singulares, simples ou compostas, resulta da vontade da
pessoa que lhes dá a destinação comum que melhor lhe aprouver. Já na universalidade de direito, há um
complexo de relações de direito a que a ordem jurídica atribui caráter unitário. É nesse sentido que se devem
compreender os enunciados dos arts. 90 e 91 do Código Civil.”
É válido ressaltar que o Código Civil considera uma universalidade de fato a reunião de bens por um
particular. O estabelecimento nada mais é do que a reunião dos bens da empresa por um Empresário
(particular).
2. Elementos
Dividem-se em duas categorias: bens corpóreos e bens incorpóreos. A primeira é traduzida no conjunto de
mercadorias, instalações, máquinas, utensílios, dinheiro, veículos, imóvel, etc. A segunda, por sua vez, são
as coisas imateriais, que não ocupam espaço no mundo exterior, são ideias, frutos da elaboração abstrata
da inteligência ou do conhecimento humano. Existem na consciência coletiva.
Na categoria de bens incorpóreos, estão os direitos que seu titular integra no estabelecimento empresarial,
tais como: patente de invenção; modelo de utilidade; marcas; desenhos industriais; ponto; título do
estabelecimento; perfis de redes sociais.
Observação importante: O nome empresarial integra o estabelecimento, mas não pode ser
alienado, pois é personalíssimo. O nome empresarial não pode ser objeto de alienação, pois
integra os direitos de personalidade, conforme o art. 1.164, CÓDIGO CIVIL .
Sobre o tema, OSCAR BARRETO FILHO e MARLON TOMAZETTE afirmam que, embora seja possível o
exercício do direito de propriedade sobre alguns dos elementos singulares do estabelecimento empresarial
(ex.: móveis; imóvel), sobre a unidade do estabelecimento empresarial o empresário pode exercer direitos
obrigacionais/pessoais, e não direito real.
“(...) não conseguimos vislumbrar um direito real sobre o conjunto, distinto do direito real sobre
as coisas singulares que compõem o conjunto. A mera possibilidade dos elementos integrantes
do estabelecimento não pertencerem ao empresário já afasta a possibilidade de vislumbrar uma
propriedade plena sobre o conjunto. A unidade do estabelecimento existe apenas para fins
obrigacionais e por isso devese falar em direitos pessoais sobre o estabelecimento.” (Marlon
Tomazette)
Por conseguinte, OSCAR BARRETO FILHO afirma que o empresário NÃO é proprietário do estabelecimento,
mas sim seu titular.
Não, pois ser empresário pressupõe organização dos fatores de produção, o que gera a organização do
próprio estabelecimento empresarial.
Tamanha a importância do estabelecimento empresarial para o nosso estudo, que a jurisprudência chegou
a debater a possibilidade de sua penhora, o que, no final das contas, foi permitido, como se observa da
Súmula nº 451/STJ, bem esclarecida neste julgado:
Embora o estabelecimento empresarial possa fazer parte do patrimônio do empresário, com este
(patrimônio) NÃO se confunde.
5. Fundo de negócio
Entende-se fundo de negócio as instalações velhas, a mercadoria não vendida, o saldo, o resíduo, os restos
mortais do negócio, o que NÃO se confunde com o estabelecimento empresarial:
6. Atributos (aviamentos)
Os atributos que ressaltamos acima são: (A) Organização”; e, (B) A boa administração”, capazes de agregar
valor para o estabelecimento, mas não são considerados elementos, já que não tem valor separado do
estabelecimento. A doutrina lhe deu nome, é o que se denomina aviamento. Dividem-se em aviamento
objetivo e aviamento subjetivo.
7. Trespasse
Aqui, estamos diante da alienação do estabelecimento empresarial titularizado pelo empresário, razão pela
qual tem livre disponibilidade sobre a sua universalidade de fato. A transferência para outro empresário é
possível de acordo com o artigo 1.143 do Código Civil, com algumas restrições que serão tratadas adiante.
Somente será configurado quando houver a transferência de todo o complexo de bens ou quando haja
elementos suficientes para que a atividade empresarial seja mantida. Ao contrário disso, é entendimento
firmado por alguns Tribunais de Justiça que não há que se falar em sucessão empresarial quando o trespasse
não for constatado no caso em concreto.
No que diz respeito à sua eficácia quanto à terceiros, o Código Civil, em seu art. 1.144, dispôs que para a
eficácia do trespasse quanto a terceiros, é necessário a averbação do respectivo contrato que tenha por
objeto tal alienação no registro público de empresas mercantis à margem da inscrição do empresário ou
sociedade empresária, com a publicação na imprensa oficial.
O legislador, no art. 1.145 do Código Civil, fixa como condição a concordância expressa ou tácita de todos
os credores do empresário ou o pagamento de todos os credores, como a seguir:
1) No caso de trespasse integral, o mais perguntado pelos certames, situação em que são
transferidos todos os bens da empresa para outro titular, é necessário a notificação dos credores.
2) Por outro lado, se o trespasse for parcial, a alienação do estabelecimento empresarial não
precisará de concordância dos credores, caso restem bens suficientes para cumprir com as
obrigações contraídas.
Na necessidade de notificação dos credores, considera-se o aceite tácito acerca da alienação se o credor
não se manifestar contrariamente no prazo de 30 dias do recebimento da notificação. Se o alienante assim
não proceder, deixando de colher a anuência dos credores ou deixando de notificá-los, o trespasse será
considerado irregular, sendo possível ao adquirente, inclusive, perder seu estabelecimento caso o
alienante tenha a sua falência decretada.
Cabe destacar que o trespasse irregular configura ato de falência, permitindo a decretação de falência do
alienante:
Destaca-se, no que diz respeito aos débitos anteriores a transferência, vale dizer que o adquirente será o
novo responsável pelo seu pagamento. O devedor anterior (aquele que vendeu a empresa), será responsável
solidário se estes débitos estiverem regularmente contabilizados por determinado período, nos moldes do
art. 1.146 do Código Civil.
Débitos vencidos: Devedor Primitivo ficara solidário por um ano, contados dos débitos já
vencidos ou de sua publicação. Logo, no caso de débitos já vencidos o devedor primário fica
vinculado solidariamente até completar um ano da publicação na imprensa oficial.
Débitos vincendos: Devedor Primitivo ficara solidário por um ano, contados da data do
vencimento de cada uma das obrigações futuras. Em vista dos débitos que ainda estão para
vencer, a responsabilidade começa a ser contada da data de vencimento.
No que tange aos créditos de natureza tributária, cabe ao Direito Tributário tratar o tema com regras que
lhe são próprias. O caput do art. 133 do Código Tributário Nacional trata estabelecimento e fundo de
comércio como sinônimos. No mesmo dispositivo determina a responsabilidade em seus incisos I e II, a
seguir:
Art. 133. A pessoa natural ou jurídica de direito privado que adquirir de outra, por qualquer título,
fundo de comércio ou estabelecimento comercial, industrial ou profissional, e continuar a
respectiva exploração, sob a mesma ou outra razão social ou sob firma ou nome individual,
responde pelos tributos, relativos ao fundo ou estabelecimento adquirido, devidos até a data do
ato:
I - integralmente, se o alienante cessar a exploração do comércio, indústria ou atividade;
(DESTAQUE NOSSO).
Assim, a responsabilidade será integral do adquirente caso o alienante cesse as suas atividades ou retome
as suas atividades apenas após 6 (seis) meses.
Caso o alienante continue explorando as suas atividades dentro do prazo de seis meses a contar da alienação
do estabelecimento devidamente averbado no órgão competente e publicado no DOE – Diário Oficial do
Estado, a responsabilidade será subsidiária.
Em se tratando de créditos trabalhistas, a Consolidação das leis do trabalho é no sentido de que a alienação
do estabelecimento não afete os contratos dos empregados, que se mantém vigentes.
A responsabilidade pelas dívidas trabalhistas será exclusiva do sucessor e apenas haverá solidariedade em
casos de fraude. É importante ressaltar que a solidariedade se explica como a possibilidade de avançar no
patrimônio do alienante ou adquirente independentemente de ordem.
“Art. 9º da CLT. Serão nulos de pleno direito os atos praticados com o objetivo de desvirtuar,
impedir ou fraudar a aplicação dos preceitos contidos na presente Consolidação.”
Agora vamos falar dos créditos trabalhistas em vista de uma alienação do estabelecimento durante o
processo de falências ou recuperação judicial que faz efeitos nas esferas fiscal e trabalhista, conforme
determinação do inciso II, art. 141 da Lei 11.101/05:
Havia discussão em vista de a alienação do estabelecimento ser realizada em recuperação judicial, pois o
art. 60, parágrafo único, da Lei 11.101/2005 não trazia previsão legal que enfatizasse as dívidas trabalhistas,
somente mencionando as dívidas fiscais:
Ainda que não integrem o estabelecimento empresarial, o Código Civil (art. 1.148) estabelece que, salvo
disposição em contrário, o adquirente se sub-roga nos contratos estipulados para exploração do
estabelecimento, se não forem personalíssimos:
O artigo 1.147 do Código Civil determina que o alienante de estabelecimento empresarial não pode, salvo
cláusula contratual em sentido contrário, fazer concorrência com o adquirente pelo prazo de cinco anos,
como a seguir:
A proibição de o alienante do estabelecimento concorrer com o adquirente antes de decorridos cinco anos
da operação de trespasse é uma prática que visa coibir a prática de concorrência desleal. O objetivo é evitar
o desvio de freguesia e clientela.
Conforme entendimento do STJ, que apontou para observância do prazo máximo de 5 (cinco) anos em um
precedente, não é possível que o trespasse preveja clausula de não restabelecimento por período
indeterminado:
Entretanto, no acórdão mencionado acima, embora tenha sido reconhecida a abusividade do período
indeterminado, não houve um afastamento peremptório da possibilidade de aumento do prazo de 5 (cinco)
anos.
Nessa senda, os JURISTAS DAS JORNADAS DE DIREITO CIVIL parecem ter reconhecido a possibilidade de
alargamento deste prazo, sem afastar a atuação do Poder Judiciário quando abusivo:
“A regra [art. 1.147 do CC] possui, contudo, natureza dispositiva e as partes negociais
(alienante e adquirente) podem dispensar, limitar ou ampliar a interdição legal, mediante
cláusula inserida no instrumento contratual elaborado, cuja averbação está prevista no art.
1.144.” (Marcelo Fortes Barbosa Filho)
A alienação do estabelecimento não provoca apenas a transferência das dívidas, mas também a transferência
dos créditos e isso ocorre logo a partir do momento da publicação no DOE – Diário Oficial do Estado.
A regra é parte integrante do art. 1.149 do Código Civil que no caso de cessão dos créditos exonera o devedor
que pagar o cedente de boa-fé, o que significa que o adquirente do estabelecimento deve avisar os devedores
para que paguem diretamente a ele, do contrário, poderá ficar com um baita prejuízo.
O Ministério Público, na esteira dos arts. 128, incs. I e II, e 130-A da Constituição da República, é constituído
por dois ramos, sob controle finalístico do Conselho Nacional.
(i) Ministério Público Federal, que atua junto ao Supremo Tribunal Federal, Superior Tribunal de
Justiça, Tribunais Regionais Federais, Juízos Federais e instâncias administrativas da União;
(ii) Ministério Público do Trabalho, que atua junto ao Tribunal Superior do Trabalho, Tribunais Regionais
do Trabalho e Juízos do Trabalho;
(iii) Ministério Público Militar, que atua junto ao Superior Tribunal Militar e Conselhos de Justiça Militar,
(iv) Ministério Público do Distrito Federal e Territórios, que atua junto ao Tribunal de Justiça, Juízos de
Direito distritais e instâncias administrativas do Distrito Federal.
Nessa ordem de ideias, Hugo Nigro Mazzilli enfatiza que “inexiste Ministério Público Eleitoral, enquanto
instituição: só existem funções eleitorais do Ministério Público, que devem ser cometidas pela lei ao
Ministério Público Federal ou dos Estados, cabendo ao Promotor Eleitoral o exercício das funções de
Ministério Público junto à Justiça Eleitoral (perante Juízes e Juntas Eleitorais), podendo ser ele membro do
Ministério Público local” (MAZZILLI, Hugo Nigro. Regime Jurídico do Ministério Público. 5a ed. São Paulo:
Saraiva, 2005, p. 77).
Os Ministérios Públicos dos Estados são denotados nos Tribunais de Justiça, Tribunais de Justiça Militar,
Conselhos de Justiça Militar, Juízos de Direito estaduais e instâncias administrativas dos Estados.
Sobre a instutição do Ministério Público especial, em âmbito estadual, decidiu o Supremo Tribunal Federal
que:
“Ministério Público Especial junto ao Tribunal de Contas do Estado. Instituição que não integra
o Ministério Público Comum do Estado-Membro. Consequente inaplicabilidade, ao Ministério
Público Especial, das cláusulas constitucionais, que, pertinentes ao Ministério Público Comum,
referem-se à autonomia administrativa e financeira dessa Instituição, ao processo de escolha,
nomeação e destituição de seu Procurador-Geral e à iniciativa de sua lei de organização. Alcance
e significado do art. 130 da Constituição da República. Transgressão desse preceito constitucional
pelo Estado de Goiás. Inconstitucionalidade do § 7º do art. 28 da Constituição Estadual, na
redação dada pela EC nº 23/1998 promulgada pela Assembleia Legislativa local. Ação direta
julgada procedente. O Ministério Público Especial junto aos Tribunais de Contas estaduais não
dispõe das garantias institucionais pertinentes ao Ministério Público Comum dos Estados-
membros, notadamente daquelas prerrogativas que concernem à autonomia administrativa e
financeira dessa Instituição, ao processo de escolha, nomeação e destituição de seu titular e ao
poder de iniciativa dos projetos de lei relativos à sua organização. Precedentes. A cláusula de
garantia inscrita no art. 130 da Constituição - que não outorgou, ao Ministério Público Especial,
as mesmas prerrogativas e atributos de autonomia conferidos ao Ministério Público Comum -
não se reveste de conteúdo orgânico-institucional. Acha-se vocacionada, no âmbito de sua
destinação tutelar, a proteger, unicamente, os membros do Ministério Público Especial no
relevante desempenho de suas funções perante os Tribunais de Contas. Esse preceito da Lei
Fundamental da República - que se projeta em uma dimensão de caráter estritamente subjetivo
e pessoal - submete os integrantes do Ministério Público Especial junto aos Tribunais de
Contas ao mesmo estatuto jurídico que rege, em tema de direitos, vedações e forma de
investidura no cargo, os membros do Ministério Público Comum. O Ministério Público Especial
junto aos Tribunais de Contas estaduais não dispõe de fisionomia institucional própria e, não
obstante as expressivas garantias de ordem subjetiva concedidas aos seus Procuradores pela
própria Constituição da República (art. 130), encontra-se consolidado na ‘intimidade estrutural’
dessas Cortes de Contas (...), que se acham investidas – até mesmo em função do poder de
autogoverno que lhes confere a Carta Política (CF, art. 75) – da prerrogativa de fazer instaurar,
quanto ao Ministério Público especial, o processo legislativo concernente à sua organização”
(STF, ADI nº 2.378, Rel. Min. Celso de Mello, J. 19.05.2004, DJU 06.09.2007).
O Conselho Nacional do Ministério Público é formado por 14 membros, escolhidos dentre brasileiros de
notável saber jurídico e reputação ilibada, com mais de 35 e menos de 66 anos, e nomeados pelo Presidente
da República, depois de aprovada a indicação pelo voto da maioria absoluta dos membros do Senado Federal,
com mandato de dois anos, admitida uma recondução.
O Conselho Nacional do Ministério Público é desenhado como órgão de fiscalização dos atos concernentes à
autonomia financeira e administrativa, inclusive sob o aspecto disciplinar, da Instituição, em ordem a garantir
a participação da sociedade no planejamento de políticas ministeriais, e bem o aperfeiçoamento do modelo
institucional em vigor.
O direito do consumidor pode ter como ponto de partida a elaboração da Constituição Federal vigente. As
discussões por ocasião da assembleia constituinte já davam conta da necessidade da tutela de seus direitos.
O Código de Defesa do Consumidor nasce com espírito protetivo e se transforma em um verdadeiro divisor
de águas em relação ao acesso à justiça. No caso do CDC, a defesa do consumidor pode se dar a título
individual ou coletivo, na forma do art. 81. No caso da defesa coletiva, observa-se a questão referente aos
interesses e direitos difusos, coletivo e individuais homogêneos, cujos conceitos vêm estampados nos incisos
do artigo em apreço. Ponto de destaque é a legitimidade prevista no art. 82, que se afigura como
concorrente, autônoma e disjuntiva:
Art. 82. Para os fins do art. 81, parágrafo único, são legitimados
concorrentemente: (Redação dada pela Lei nº 9.008, de 21.3.1995) I - o Ministério
Público, II - a União, os Estados, os Municípios e o Distrito Federal; III - as entidades e
órgãos da Administração Pública, direta ou indireta, ainda que sem personalidade
jurídica, especificamente destinados à defesa dos interesses e direitos protegidos por este
código; IV - as associações legalmente constituídas há pelo menos um ano e que incluam entre
seus fins institucionais a defesa dos interesses e direitos protegidos por este código, dispensada
a autorização assemblear. § 1° O requisito da pré-constituição pode ser dispensado pelo juiz, nas
ações previstas nos arts. 91 e seguintes, quando haja manifesto interesse social evidenciado pela
dimensão ou característica do dano, ou pela relevância do bem jurídico a ser protegido.
Desta feita, assim se desenha a tutela do consumidor em juízo, tendo em vista sua natureza constitucional
protetiva, como se verifica do art. 1º do CDC: “Art. 1° O presente código estabelece normas de proteção e
defesa do consumidor, de ordem pública e interesse social, nos termos dos arts. 5°, inciso XXXII, 170, inciso
V, da Constituição Federal e art. 48 de suas Disposições Transitórias”. A defesa coletiva do consumidor em
juízo inaugura uma nova fase do processo coletivo brasileiro, reforçando o microssistema processual coletivo
e trazendo ferramentas mais robustas na defesa de interesses e direitos coletivos lato sensu. Nesse passo,
permite a lei, em seu art. 83, o ajuizamento de todos os tipos de ação cabíveis no ordenamento jurídico
brasileiro.
2 - QUESTÕES OBJETIVAS
Encerrados os temas da aula de hoje, agora entra em campo nosso time de professores com 50 questões
distribuídas do seguinte modo:
Vamos lá!
Comentários
O princípio da eficácia integradora exterioriza que a Constituição deve ser um instrumento de agregação, e
não de desagregação política.
Por dedução, o produto da interpretação constitucional somente pode ser considerado como válido na
medida em que contribua para integrar, pacificar e ordenar as relações dos poderes públicos entre si e destes
com a sociedade.
“Ação direta de inconstitucionalidade. Legitimidade ativa da Defensoria Pública para ajuizar ação
civil pública (art. 5º, inc. II, da Lei nº 7.347/1985, alterado pelo art. 2º da Lei nº 11.448/2007).
Tutela de interesses transindividuais (coletivos strito sensu e difusos) e individuais homogêneos.
Defensoria Pública: instituição essencial à função jurisdicional. Acesso à justiça. Necessitado:
definição segundo princípios hermenêuticos garantidores da força normativa da Constituição e
da máxima efetividade das normas constitucionais: art. 5º, incs. XXXV, LXXIV, LXXVIII, da
Constituição da República. Inexistência de norma de exclusividade do Ministério Público para
ajuizamento de ação civil pública. Ausência de prejuízo institucional do Ministério Público pelo
reconhecimento da legitimidade da Defensoria Pública. Ação julgada improcedente (...). É de J. J.
Gomes Canotilho a lição segundo a qual: ‘Num Estado de direito democrático, o trabalho
metódico de concretização é um trabalho normativamente orientado. Como corolários
subjacentes a esta postura metodológica assinalam-se os seguintes’ princípios (...). O princípio
do efeito integrador a indicar que ‘na solução dos problemas jurídico-constitucionais deve dar-
se primazia aos critérios ou pontos de vista que favoreçam a integração política e social e o
reforço da unidade política. Como tópico argumentativo, [esse princípio] não assenta numa
concepção integracionista de Estado e da sociedade (conducente a reducionismos,
autoritarismos, fundamentalismos e transpersonalismos políticos), antes arranca da
conflituosidade constitucionalmente racionalizada para conduzir a soluções pluralisticamente
integradoras’” (STF, ADI nº 3.943, Rel. Min. Cármen Lúcia, J. 07.05.2015, DJU 06.08.2015).
Comentários
Nesta questão, considerando que, na tarefa de interpretar o texto constitucional, deve-se priorizar uma
análise global (alternativa A); o Princípio da Concordância Prática ou da Harmonização não estabelece uma
hierarquia para solver conflitos entre direitos e garantias fundamentais (alternativa B); em razão de ser a
Constituição o pressuposto de validade e eficácia de todas as normas jurídicas, admite-se uma presunção de
constitucionalidade relativa das normas infraconstitucionais (alternativa C) e o Princípio da Supremacia
Constitucional, aplicado precipuamente em Constituições rígidas, situa a Constituição no ápice do
ordenamento jurídico nacional (alternativa D), pode-se afirmar corretamente que a norma constitucional é
imperativa, de ordem pública e deve emanar da vontade popular, sendo essencial que o intérprete lhe
confira a mais ampla extensão possível, de acordo com o princípio da máxima efetividade a que se refere a
alternativa E.
Questão 3. A doutrina elenca alguns princípios de interpretação especificamente constitucionais, nos quais
se encarta o princípio da concordância prática, que consiste na busca do intérprete e aplicador das normas
constitucionais:
a) Pela coexistência harmônica entre bens constitucionalmente protegidos que estejam em uma aparente
situação de conflito entre eles, evitando-se o sacrifício total de um deles em detrimento do outro.
b) Pela primazia de pontos de vista que favoreçam a integração política e social, de modo a alcançar soluções
pluralisticamente integradoras.
c) Pela garantia de manutenção do esquema organizatório-funcional estabelecido pela Constituição ao
prever um sistema harmônico de repartição de competências entre os entes federativos.
d) Por uma interpretação que atenda a harmonia entre os três Poderes do Estado, evitando a ofensa ao
princípio da tripartição dos poderes.
e) Por uma solução que atenda aos anseios dos diferentes setores da sociedade.
Comentários
“Habeas corpus. Crime de desacato a militar (art. 299 do Código Penal Militar). Controle de
constitucionalidade (arts. 1º; 5º, incisos IV, V e IX, e 220 da Constituição Federal) e de
convencionalidade (art. 13 da Convenção Americana de Direitos Humanos (Pacto de São José da
Costa Rica). Alegada ofensa à liberdade de expressão e do pensamento que se rejeita.
Criminalização do desacato que se mostra compatível com o Estado Democrático de Direito.
Ordem denegada (...). O direito à liberdade de expressão deve harmonizar-se com os demais
direitos envolvidos (honra, intimidade e dignidade), não eliminá-los. Incide o princípio da
concordância prática, pelo qual o intérprete deve buscar a conciliação entre normas
constitucionais (...). ‘Se é esperado do intérprete que extraia o máximo efeito de uma norma
constitucional, esse exercício pode vir a provocar choque com idêntica pretensão de outras
normas constitucionais. Devem, então, ser conciliadas as pretensões de efetividade dessas
normas, mediante o estabelecimento de limites ajustados aos casos concretos em que são
chamadas a incidir. Os problemas de concordância prática surgem, sobretudo, em casos de
colisão de princípios, especialmente de direitos fundamentais, em que o intérprete se vê
desafiado a encontrar um desfecho de harmonização máxima entre os direitos em atrito,
buscando sempre que a medida de sacrifício de um deles, para uma solução justa e proporcional
do caso concreto, não exceda o estritamente necessário’” (STF, HC nº 141.949, Rel. Min. Gilmar
Mendes, J. 13.03.2018, DJU 15.03.2018).
Comentários
A interpretação conforme a Constituição comporta dois subprincípios. Um, com esteio na doutrina norte-
americana, funciona como critério de interpretação, pelo qual a norma jurídica somente pode ser declarada
inconstitucional quando a invalidade seja manifesta e inequívoca. Outro, de acordo com a doutrina alemã,
funciona como técnica de decisão, pelo qual uma norma jurídica não deve ser declarada inconstitucional
quando possa ser interpretada em consonância com a Constituição, de maneira que o órgão judicial elimina
as possibilidades de interpretação incompatíveis com o ordenamento constitucional, com redução do
conteúdo normativo, sem afetar a expressão literal da norma subjugada a controle de constitucionalidade.
como legislador negativo, mas não tem o poder de agir como legislador positivo, para criar norma
jurídica diversa da instituída pelo Poder Legislativo. Por isso, se a única interpretação possível
para compatibilizar a norma com a Constituição contrariar o sentido inequívoco que o Poder
Legislativo lhe pretendeu dar, não se pode aplicar o princípio da interpretação conforme a
Constituição, que implicaria, em verdade, criação de norma jurídica, o que e privativo do
legislador positivo. Em face da natureza e das restrições da interpretação conforme a
Constituição, tem-se que, ainda quando ela seja aplicável, o é dentro do âmbito da representação
de inconstitucionalidade, não havendo que converter-se, para isso, essa representação em
representação de interpretação, por serem instrumentos que tem finalidade diversa,
procedimento diferente e eficácia distinta. No caso, não se pode aplicar a interpretação
conforme a Constituição por não se coadunar essa com a finalidade inequivocamente colimada
pelo legislador, expressa literalmente no dispositivo em causa, e que dele ressalta pelos
elementos da interpretação lógica” (STF, Rp nº 1.417, Rel. Min. Moreira Alves, J. 09.12.1987, DJU
15.04.1998).
Comentários
O método normativo-estruturante, produzido por Friedrich Müller, é extraído a partir da diferenciação entre
texto e norma constitucional, porque “o texto de um preceito jurídico positivo é apenas a parte descoberta
do iceberg normativo” (MÜLLER, Friedrich. Rechtsstaatliche Form, Demokratische Politik-Beitrage zu
Öffentlichem Recht, Methodik, Rechts – und Staatstheorie. Berlin: Duncker & Humblot, 1977, p. 146).
“Habeas corpus. Direito Penal. Contravenção penal. Vias de fato. Violência doméstica e familiar
contra a mulher. Lei nº 11.340/2006. Artigo 226, § 8º, da Lei Maior. Direitos humanos da mulher.
Sistema protetivo amplo. Interpretação da lei. Alcance. Infração penal – crime e contravenção.
Combate à violência em todas as suas formas e graus. Substituição da pena privativa de liberdade
por restritiva de direitos. Inviabilidade (...). Consoante magistério de Inocêncio Mártires Coelho,
com apoio em Niklas Luhmann, Friedrich Müller e Castanheira Neves: ‘não existe norma jurídica,
senão norma jurídica interpretada, vale dizer, preceito formalmente criado e materialmente
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Gabarito: C
A descentralização é o fenômeno de distribuição de competências para uma pessoa jurídica ou física distinta.
Em outras palavras, a descentralização é a repartição EXTERNA de competências. Não há, entre as entidades,
hierarquia. O que há entre elas é o controle finalístico, tutela, supervisão ministerial ou vinculação.
Questão 2. De acordo com a conceituação dada pela doutrina pertinente, o ato administrativo unilateral,
discricionário e precário pelo qual a administração consente na utilização privativa de bem público para
fins de interesse preponderantemente privado é denominado:
a) permissão de uso de bem público.
b) autorização de uso de bem público.
c) concessão de direito real de uso de bem público.
d) concessão de uso de bem público.
e) cessão de uso de bem público
Comentários
Gabarito: B
A autorização de uso de bem público é um ato administrativo unilateral, discricionário, praticado a título
precário, que visa atender interesse predominantemente privado. Por sua vez, a permissão de uso de bem
público é um ato administrativo unilateral, discricionário, praticado a título precário, atendendo ao mesmo
tempo interesses público e privado. Por fim, a concessão de uso de bem público não é ato administrativo.
Na verdade, está-se diante de um contrato administrativo. Portanto, a concessão possui o caráter da
bilateralidade.
Questão 3. Caso haja uma licitação a ser realizada na modalidade concorrência com o tipo melhor técnica,
o prazo mínimo a ser observado entre a publicação do edital e a próxima fase será:
a) 45 dias
b) 30 dias
c) 15 dias
d) 8 dias
e) 5 dias úteis
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Gabarito: A
i) 45 dias:
a) Concurso
b) Concorrência, quando o contrato for regime de empreitada integral ou o tipo de licitação for melhor
técnica ou técnica e preço.
ii) 30 dias:
a) Concorrência, quando a licitação for com o tipo Menor Preço ou Maior Lance ou Oferta
b) Tomada de preço, quando a licitação for com o tipo Melhor Técnica ou Técnica e Preço
iii) 15 dias:
a) Tomada de preço, quando o tipo for Menor Preço ou Maior Lance ou Oferta
b) Leilão
a) Convite
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Gabarito: E
Letra E – De acordo com o art. 4º, §2º da Lei, As sociedades controladoras, controladas, coligadas ou, no âmbito
do respectivo contrato, as consorciadas serão solidariamente responsáveis pela prática dos atos previstos nesta
Lei, restringindo-se tal responsabilidade à obrigação de pagamento de multa e reparação integral do dano
causado
Questão 5. Ainda de acordo com a Lei 12.846/2013, e o acordo de leniência, julgue os itens abaixo:
I - A celebração do acordo de leniência isentará a pessoa jurídica de eventual multa aplicável.
II - O acordo de leniência exime a pessoa jurídica da obrigação de reparar integralmente o dano causado.
III - Os efeitos do acordo de leniência serão estendidos às pessoas jurídicas que integram o mesmo grupo
econômico, de fato e de direito, desde que firmem o acordo em conjunto, respeitadas as condições nele
estabelecidas.
IV - A proposta de acordo de leniência somente se tornará pública após a efetivação do respectivo acordo,
salvo no interesse das investigações e do processo administrativo.
V - Em caso de descumprimento do acordo de leniência, a pessoa jurídica ficará impedida de celebrar novo
acordo pelo prazo de 5 (cinco) anos contados do conhecimento pela administração pública do referido
descumprimento.
São incorretas:
a) III e IV
b) I e II
c) II e III
d) I, II e III
e) I, II e V
Comentários
Gabarito: E
Letra E - Trata-se de tema importante e atual, que vem ganhando espaço nas provas mais recentes. Atenção
a leitura dos artigos 16 e 17 da Lei Anticorrupção.
I – Errado – O acordo de leniência isentará das seguintes sanções: A) publicação extraordinária da decisão
condenatória e b) proibição de receber incentivos, subsídios, subvenções, doações ou empréstimos de
órgãos ou entidades públicas e de instituições financeiras públicas ou controladas pelo poder público, pelo
prazo mínimo de 1 (um) e máximo de 5 (cinco) anos.
II – Errado – De acordo com o art. 16, §3º, o acordo de leniência não exime a pessoa jurídica da obrigação de
reparar integralmente o dano causado.
V – Errado – De acordo com o art. 16, §8º, o prazo é de 3 anos e não de 5 anos.
Comentários
A alternativa A é verdadeira, porque, em recente julgamento (ADIN 4815), o STF declarou a interpretação
conforme a Constituição dos arts. 20 e 21 do Código Civil, no sentido de ser inexigível o consentimento de
pessoa biografada, relativamente a obras biográficas literárias ou audiovisuais, sendo por igual desnecessária
autorização de pessoas retratadas como coadjuvantes ou de seus familiares, em caso de pessoas falecidas.
A alternativa B é falsa, porque a proibição de disposição do próprio corpo que implique diminuição
permanente da integridade física é excepcionada nos casos de exigência médica. Assim dispõe o artigo 13,
“caput”, do Código Civil: Salvo por exigência médica, é defeso o ato de disposição do próprio corpo, quando
importar diminuição permanente da integridade física, ou contrariar os bons costumes.
A alternativa C é falsa, porque não há que se falar em pacífica possibilidade de recusa a tratamento médico
ou intervenção cirúrgica em razão do exercício da liberdade de crença, sobretudo em se tratando o paciente
de pessoa incapaz. Do contrário, o enunciado 403 do CJF registra que “o direito à inviolabilidade de
consciência e de crença, previsto no artigo 5º, VI, da CF, aplica-se também à pessoa que se nega a tratamento
==10be0c==
médico, inclusive transfusão de sangue, com ou sem risco de morte, em razão do tratamento ou da falta
dele, desde que observados os seguintes critérios: a) capacidade civil plena, excluído o suprimento pelo
representante ou assistente; b) manifestação de vontade livre, consciente e informada; e c) oposição que
diga respeito exclusivamente à própria pessoa do declarante.” (grifo nosso)
A alternativa D é falsa, porque é válida, com objetivo científico, ou altruístico, a disposição gratuita do próprio
corpo, no todo ou em parte, para depois da morte, nos termos do artigo 14, “caput”, do Código Civil.
A alternativa E é falsa, porque inexiste prevalência, como regra geral, do direito de amplo acesso à
informação e de liberdade de manifestação do pensamento. Em verdade, não há hierarquia entre os direitos
e garantias fundamentais (teoria da convivência das liberdades públicas), motivo pelo qual, em caso de
colisão, aplica-se, no caso concreto, a técnica da ponderação.
Questão 2. Com base nas disposições legais relativas ao instituto da ausência, é correto afirmar que:
a) Desaparecendo uma pessoa que estava em perigo de vida e cuja morte era extremamente provável, o juiz,
a requerimento do interessado ou do Ministério Público, declarará a ausência e nomear-lhe-á curador.
b) Regressando o ausente enquanto perdurar a sucessão provisória, retomará os bens existentes no estado
em que se acharem; mas se o fizer dez anos depois do trânsito em julgado da sentença que a conceder,
perderá ele o domínio dos bens arrecadados.
c) Presume-se a morte dos ausentes no momento da abertura da sucessão provisória, mas somente se pode
afirma-la em absoluto após a sucessão definitiva.
d) Fica o domínio dos bens arrecadados preservado ao ausente no curso da sucessão provisória, salvo se
provado que a ausência fora voluntária e injustificada, caso em que o perderá.
e) Aplica-se o procedimento relativo à herança jacente para a arrecadação dos bens do ausente, quando não
comparecer herdeiro ou interessado para requerer o inventário em até trinta dias após o trânsito em julgado
da sentença de abertura da sucessão provisória.
Comentários
A alternativa A é falsa, porque a declaração de morte presumida, no caso de extrema probabilidade de morte
em que estava em perigo de vida, prescinde da decretação de ausência, com base no artigo 7º, I, do Código
Civil.
A alternativa C é falsa, porque se presume a morte, quanto aos ausentes, nos casos em que a lei autoriza a
abertura de sucessão definitiva, conforme intelecção do artigo 6º do Código Civil.
A alternativa D é falsa, porque se o ausente aparecer no curso da sucessão provisória e ficar provado que a
ausência foi voluntária e injustificada, não perderá ele o domínio dos bens arrecadados, mas tão somente
sua parte nos frutos e rendimentos em favor do sucessor (art. 33, parágrafo único, do CC).
A alternativa E é verdadeira, porque preceitua o artigo 28, §2º, do Código Civil, que, não comparecendo
herdeiro ou interessado para requerer o inventário até trinta dias depois de passar em julgado a sentença
que mandar abrir a sucessão provisória, proceder-se-á à arrecadação dos bens do ausente pela forma
estabelecida nos arts. 1.819 a 1.823, isto é, segundo o procedimento relativo à herança jacente.
Questão 3. Trata-se de meio indireto de o devedor, em caso de mora do credor ou em razão de causa
objetiva que impeça o regular adimplemento, exonerar-se do liame obrigacional e de seus respectivos
riscos, depositando judicialmente ou em estabelecimento bancário a coisa devida. Sobre o pagamento em
consignação, assinale a alternativa correta:
a) A consignação é cabível quando o credor, sem justa causa, opor-se ao recebimento do pagamento, mas
se a recusa referir-se tão somente à forma indevida pela qual se deu a quitação, ainda que sem motivo justo,
não há que se falar em sua possibilidade.
b) Tendo em vista que a consignação em pagamento implica a extinção da obrigação, uma vez realizado o
depósito da coisa devida, não pode o devedor, em qualquer hipótese, requerer o seu levantamento.
c) O difícil acesso à residência do credor não possui o condão, por si só, de autorizar a realização do
pagamento em consignação pelo devedor, cabendo a este o emprego das medidas necessárias ao regular
adimplemento da obrigação.
d) Se o devedor, possuindo conhecimento do litígio que recai sobre o objeto da obrigação, efetuar o
pagamento a qualquer dos pretendidos credores, caberá àquele que eventualmente o recebeu de forma
indevida adimplir a obrigação ao verdadeiro credor, não podendo o devedor ser compelido a fazê-lo duas
vezes.
e) Quando a obrigação tiver por objeto coisa indeterminada e sua escolha competir ao credor, a ele será
priorizado o exercício dessa decisão, ao que, somente após a sua inércia, haverá ao devedor a possibilidade
de deliberar sobre a coisa a ser depositada.
Comentários
A alternativa A é falsa, porque a consignação tem lugar, dentre outras hipóteses, se o credor não puder, ou,
sem justa causa, recusar receber o pagamento, ou dar quitação na devida forma, conforme o artigo 335, I,
do Código Civil.
A alternativa B é falsa, porque enquanto o credor não declarar que aceita o depósito, ou não o impugnar,
poderá o devedor requerer o levantamento, pagando as respectivas despesas, e subsistindo a obrigação para
todas as consequências de direito (art. 338 do CC).
A alternativa C é falsa, porque a consignação tem lugar, dentre outras hipóteses, se o credor for incapaz de
receber, for desconhecido, declarado ausente, ou residir em lugar incerto ou de acesso perigoso ou difícil
(art. 335, III, CC).
A alternativa D é falsa, porque o devedor de obrigação litigiosa exonerar-se-á mediante consignação, mas,
se pagar a qualquer dos pretendidos credores, tendo conhecimento do litígio, assumirá o risco do
pagamento, na forma do artigo 344 do Código Civil.
A alternativa E é verdadeira, porque se a escolha da coisa indeterminada competir ao credor, será ele citado
para esse fim, sob cominação de perder o direito e de ser depositada a coisa que o devedor escolher, com
fulcro no artigo 342 do Código Civil.
Questão 4. Tendo por base a ideia de que o patrimônio de uma pessoa falecida não pode ficar sem
qualquer destino, preocupou-se o legislador em apresentar uma solução aos casos em que se não
vislumbra, de início, um possível interessado a quem caiba a sua administração e titularidade, o que
originou os institutos da herança jacente e vacante. A respeito do tema, marque a alternativa incorreta:
a) Ainda que declarada a vacância da herança, poderão os herdeiros, excluídos os colaterais, legalmente se
habilitar, salvo se decorridos cinco anos da abertura da sucessão.
b) É possível a declaração, desde logo, da vacância da herança, se verificada a renúncia de todos os chamados
a suceder.
c) Denomina-se jacente a herança deixada por alguém que faleceu sem deixar testamento ou herdeiro
legítimo notoriamente conhecido, até o momento da entrega dos bens arrecadados ao sucessor
devidamente habilitado ou da declaração de sua vacância.
d) Após declarada vacante a herança, não são os bens arrecadados prontamente transferidos ao domínio do
Município ou do Distrito Federal, se localizados nas respectivas circunscrições, ou da União, quando situados
em território federal.
e) Aos credores é garantido o direito de pedir o pagamento das dívidas reconhecidas, nos limites das forças
da herança, mesmo que esta já tenha sido declarada vacante.
Comentários
A alternativa A é verdadeira, porque a declaração de vacância da herança não prejudicará os herdeiros que
legalmente se habilitarem; mas, decorridos cinco anos da abertura da sucessão, os bens arrecadados
passarão ao domínio do Município ou do Distrito Federal, se localizados nas respectivas circunscrições,
incorporando-se ao domínio da União quando situados em território federal. Não se habilitando até a
declaração de vacância, os colaterais ficarão excluídos da sucessão. (art. 1.822 do CC).
A alternativa B é verdadeira, Quando todos os chamados a suceder renunciarem à herança, será esta desde
logo declarada vacante (art. 1.823 do CC).
A alternativa C é falsa, porque falecendo alguém sem deixar testamento nem herdeiro legítimo notoriamente
conhecido, os bens da herança, depois de arrecadados, ficarão sob a guarda e administração de um curador,
até a sua entrega ao sucessor devidamente habilitado ou à declaração de sua vacância (art. 1.819 do CC). É
preciso, portanto, que, cumulativamente, não haja sucessão testamentária nem legítima para que se
considere jacente a herança.
A alternativa E é verdadeira, porque é assegurado aos credores o direito de pedir o pagamento das dívidas
reconhecidas, nos limites das forças da herança, nos termos do artigo 1.821 do Código Civil, mesmo após a
declaração de vacância.
Questão 5. O casamento consiste na união de duas pessoas, reconhecida e regulamentada pelo Estado,
formada com o objetivo de constituição de uma família e baseado em um vínculo de afeto. A respeito do
tema, assinale a alternativa correta:
a) Não será permitido, em qualquer caso, o casamento de quem não possua, no mínimo, 16 (dezesseis) anos
de idade.
b) A pendência de homologação ou decisão sobre a partilha de bens do casal acarreta ao divorciado a
impossibilidade de constituir novo matrimônio.
c) Cinge-se a necessidade de audiência do Ministério Público no processo de habilitação para o casamento
aos casos em que os nubentes forem incapazes.
d) A pessoa com deficiência mental ou intelectual em idade núbil pode contrair matrimônio, observada
sempre a necessidade de autorização de seu assistente ou curador.
e) O cônjuge que incidiu em erro ou sofreu coação quanto à constituição do matrimônio pode demandar a
anulação do casamento, não possuindo, em regra, a coabitação, mesmo havendo ciência do vício, o condão
de validar o ato.
Comentários
A alternativa A é verdadeira, porque a lei 13.811/19 conferiu nova redação ao artigo 1.520 do Código Civil,
para suprimir as exceções legais permissivas do casamento infantil, não sendo mais possível, em qualquer
caso, o casamento de quem não atingiu a idade núbil, isto é, 16 (dezesseis) anos.
A alternativa B é falsa, porque a pendência de homologação ou decisão sobre a partilha de bens do casal
representa causa suspensiva do casamento, isto é, consiste em uma situação de menor gravidade que não
possui o condão de impedir a constituição do novo matrimônio, mas apenas impõe sanções patrimoniais aos
cônjuges, na forma do artigo 1.523, III, do Código Civil.
A alternativa C é falsa, porque a audiência do Ministério Público faz-se necessária aos processos de
habilitação para o casamento em geral e não apenas nos casos em que haja incapaz, segundo o artigo 1.526
do Código Civil.
A alternativa D é falsa, porque, conforme o artigo 6º, I, do Estatuto da Pessoa com Deficiência, a deficiência
não afeta a plena capacidade civil da pessoa, inclusive para se casar e constituir união estável. Nesse
seguimento, dispõe o artigo 1.550, §2º, do Código Civil, que a pessoa com deficiência mental ou intelectual
em idade núbia poderá contrair matrimônio, expressando sua vontade diretamente ou por meio de seu
responsável ou curador. Vê-se, portanto, que não há que se falar, via de regra, na necessidade de autorização
do assistente ou curador do deficiente para o casamento, sem embargo da hipótese em que o deficiente em
idade núbil ainda não possua 18 (dezoito) anos, caso em que haverá tal necessidade, mas tão somente pelo
fator etário, como ocorre de maneira geral.
A alternativa E é falsa, porque o cônjuge que incidiu em erro, ou sofreu coação, pode demandar a anulação
do casamento; mas a coabitação, havendo ciência do vício, valida o ato, ressalvadas as hipóteses dos incisos
III e IV do art. 1.557, nos termos do artigo 1.559 do Código Civil.
Comentários
A alternativa A é falsa, porque se considera litigante de má-fé aquele que alterar a verdade dos fatos, nos
moldes do artigo 80, II, do Código de Processo Civil.
A alternativa B é verdadeira, porque retrata fielmente o disposto no artigo 536, §3º, do Código de Processo
Civil.
A alternativa C é falsa, porque de ofício pode também o juiz condenar o litigante de má-fé a pagar multa, a
indenizar a parte contrária pelos prejuízos que sofreu e a arcar com os honorários advocatícios e com todas
as despesas que efetuou (art. 81, “caput”, CPC).
A alternativa D é falsa, porque o valor das sanções impostas ao litigante de má-fé reverterá em benefício da
parte contrária, consoante o artigo 96 do CPC.
A alternativa E é falsa, porque se considera litigante de má-fé aquele interpuser recurso com intuito
manifestamente protelatório (art. 80, VII, CPC), estando, pois, sujeito às sanções correspondentes.
Comentários
A alternativa A é verdadeira, porque consta do artigo 77 do Código de Processo Civil um rol exemplificativo
de deveres das partes, de seus procuradores e de todos aqueles que participam do processo, dentre os quais
se verifica o dever de não formular pretensão ou de apresentar defesa quando cientes de que são destituídas
de fundamento. No entanto, o §2º do mesmo dispositivo especifica que constitui ato atentatório à dignidade
da justiça, dentre os deveres processuais indicados, a violação ao disposto nos incisos IV e VI, isto é, não
cumprir com exatidão as decisões jurisdicionais, de natureza provisória ou final, e criar embaraços à sua
efetivação, e praticar inovação ilegal no estado de fato de bem ou direito litigioso.
A alternativa B é verdadeira, porque aos advogados públicos ou privados e aos membros da Defensoria
Pública e do Ministério Público não se aplica a multa pela litigância de má-fé, devendo eventual
responsabilidade disciplinar ser apurada pelo respectivo órgão de classe ou corregedoria, ao qual o juiz
oficiará, conforme o artigo 77, §6º, do CPC.
A alternativa C é verdadeira, pois em exata consonância com o artigo 77, §2º, do CPC.
A alternativa D é falsa, porque, reconhecida a prática de inovação ilegal no estado de fato de bem ou direito
litigioso o juiz determinará o restabelecimento do estado anterior, podendo, ainda, proibir a parte de falar
nos autos até a purgação do atentado, sem prejuízo da aplicação de multa de até vinte por cento do valor
da causa, de acordo com a gravidade da conduta, conforme o artigo 77, §7º, do CPC.
A alternativa E é verdadeira, porque reproduz fielmente o disposto no artigo 334, §8º, do Código de Processo
Civil.
Questão 3. No que se refere à ação monitória, todas as alternativas a seguir estão corretas, exceto:
a) Funda-se a ação monitória em prova escrita sem eficácia de título executivo, da qual se extrai o direito do
autor ao pagamento de quantia em dinheiro, à entrega de coisa ou bem e/ou ao adimplemento de obrigação
de fazer ou de não fazer.
b) Nos embargos opostos em sede de ação monitória, é admissível a invocação de matéria passível de
alegação como defesa no procedimento comum.
c) A oposição de embargos à ação monitória sujeita-se ao prévio oferecimento de segurança do juízo, salvo
se figurar como ré a Fazenda Pública.
d) É possível a apresentação de reconvenção na ação monitória, porém, não é autorizado ao autor desta o
oferecimento de reconvenção à reconvenção.
e) Constitui-se de pleno direito o título executivo judicial, se não realizado o pagamento determinado pelo
juiz ou se não forem apresentados embargos à ação monitória pelo réu ou mesmo se estes forem rejeitados.
Comentários
A alternativa A é verdadeira, porque a ação monitória pode ser proposta por aquele que afirmar, com base
em prova escrita sem eficácia de título executivo, ter direito de exigir do devedor capaz o pagamento de
quantia em dinheiro; a entrega de coisa fungível ou infungível ou de bem móvel ou imóvel; o adimplemento
de obrigação de fazer ou de não fazer (art. 700, “caput”, I, II e III, CPC).
A alternativa B é verdadeira, porque dispõe o art. 702, §1º, CPC, que os embargos à ação monitória podem
se fundar em matéria passível de alegação como defesa no procedimento comum.
A alternativa C é falsa, porque, independentemente de prévia segurança do juízo, o réu poderá opor, nos
próprios autos, no prazo de 15 (quinze) dias, embargos à ação monitória (art. 702, “caput”, CPC).
Comentários
Gabarito: B
I O art. 5º, XL, da Carta Magna (“a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu”) é de incerta aplicação
aos casos em que a lei posterior é mais benéfica ao réu em alguns aspectos e prejudicial em outros.
A doutrina majoritária interpreta que, em tais hipóteses, deve aplicar-se uma ou outra lei, integralmente,
em bloco, sem que possam combinar-se os aspectos mais favoráveis delas, mercê de proibir-se a
denominada lex tertia ou princípio de combinação. O STF considera que a retroatividade da lei “em tiras”
consiste em velada deturpação da nova percepção que o legislador, responsável por expressar os anseios
sociais, manifestou a respeito dessa mesma conduta, ferindo de morte o princípio da legalidade e o regime
democrático.
II Ao contrário do que consta da questão, não representa exceção, mas confirmação da regra, já que se aplica,
na data do julgamento, a lei vigente quando do cometimento dos fatos o que, em última instância, consiste
justamente no princípio do tempus regit actum.
III A hipótese é de aplicação da Súmula 711/STF: “A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao
crime permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência”.
IV Cuida-se do texto do Pacto de San Jose da Costa Rica: “Artigo 9º - Princípio da legalidade - Ninguém poderá
ser condenado por atos ou omissões que, no momento em que foram cometidos, não constituam delito, de
acordo com o direito aplicável. Tampouco poder-se-á impor pena mais grave do que a aplicável no momento
da ocorrência do delito.”
V O uso da analogia, em razão do princípio da legalidade estrita, é vedado exclusivamente às normas penais
incriminadoras.
Questão 2. O legislador brasileiro adotou para a definição do lugar do crime a teoria da ubiquidade híbrida
ou mista; assim, considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou
em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado; mesmo no estrangeiro. A
respeito do lugar do crime e da extraterritorialidade da lei penal brasileira, analise as proposições abaixo
e, em seguida, assinale a opção correta:
I No tocante ao lugar do crime, o Código Penal Brasileiro adotou a teoria da atividade, que o considera como
o local onde ocorreu a conduta criminosa.
II Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte, exceto
se em outro local produziu ou deveria produzir-se o resultado.
III Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro, os crimes de injúria, calúnia e difamação
praticados contra o Presidente da República do Brasil.
IV Nos crimes tentados, o lugar do crime será onde o agente pretendia que tivesse ocorrido a consumação
do delito.
V Nos crimes complexos, não se aplica a teoria da ubiquidade, mesmo que o delito-meio tenha sido cometido
em território brasileiro.
a) Estão corretas todas as assertivas
b) Está correta apenas 1 das assertivas
c) Estão corretas 2 assertivas
d) Estão corretas 3 assertivas
e) Estão incorretas todas as assertivas
Comentários
Gabarito: E
II A assertiva contraria o texto do art. Art. 6º do Código Penal: “Considera-se praticado o crime no lugar em
que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o
resultado”.
III De acordo com o art. 7º do Código Penal,ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro,
os crimes contra a vida ou a liberdade do Presidente da República.
IV No crimes tentados, o lugar do crime será o local onde realizado o último ato de execução.
V Aplica-se, no caso, a Teoria do Efeito Intermédio. Praticada a ação, verificado o resultado; ou mesmo, tendo
o iter criminis tocado o território nacional, nos crimes complexos internacionais, aplica-se a lei penal
brasileira.
Questão 3. A punibilidade é o direito que tem o Estado de aplicar a sanção penal, prevista na norma
incriminadora, contra quem praticou a infração penal. A respeito da punibilidade, analise as proposições
abaixo e, em seguida, assinale a opção correta:
I – No que toca à punibilidade, não se aplicam às penas restritivas de direito os mesmos prazos previstos
para as privativas de liberdade.
II - O indulto extingue os efeitos penais primários e secundários, penais e não penais, da condenação, exceto
para fins de reincidência penal.
III - A reincidência penal implica o aumento, em um terço, do prazo da prescrição da pretensão punitiva.
IV - A extinção da punibilidade do crime principal não se estende ao crime acessório.
V - Nos termos da Lei n° 7.716/1989, que define os crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor,
constitui efeito da condenação a perda do cargo ou função pública, para o servidor público, e a suspensão
do funcionamento do estabelecimento particular por prazo não superior a 3 (três) meses; no entanto, tais
efeitos não são automáticos, devendo ser motivadamente declarados na sentença.
a) Estão corretas todas as assertivas
b) Está correta apenas 1 das assertivas
c) Estão corretas 2 assertivas
d) Estão corretas 3 assertivas
e) Estão corretas 4 assertivas
Comentários
Gabarito: C
I De acordo com o Art. 109, Parágrafo único, do Código Penal, O indulto extingue os efeitos penais primários
e secundários, penais e não penais, da condenação, exceto para fins de reincidência penal.aplicam-se às
penas restritivas de direito os mesmos prazos previstos para as privativas de liberdade.
II Cuida-se do entendimento constante da Súmula 631 do STJ: “O indulto extingue os efeitos primários da
condenação (pretensão executória), mas não atinge os efeitos secundários, penais ou extrapenais”.
III Em conformidade com o Art. 110 do CP, é a prescrição da pretensão executória que adota tal critério.
IV Nos termos do art. 108 do CP, “A extinção da punibilidade de crime que é pressuposto, elemento
constitutivo ou circunstância agravante de outro não se estende a este. Nos crimes conexos, a extinção da
punibilidade de um deles não impede, quanto aos outros, a agravação da pena resultante da conexão”.
V A Lei 7.716/1989 prevê como efeito da condenação a perda do cargo ou função pública, para o servidor
público, e a suspensão do funcionamento do estabelecimento particular por prazo não superior a três meses;
no entanto, esclarece, em seu art. 18, que os efeitos não são automáticos, devendo ser motivadamente
declarados na sentença.
Questão 4. A propósito do erro de tipo, analise as proposições abaixo e, em seguida, assinale a opção
correta:
I O erro sobre elemento do tipo exclui o dolo e, por isso, incide sobre a ilicitude do comportamento,
refletindo na culpabilidade, de modo a excluí-la ou atenuá-la.
II O indivíduo que ofende a outrem, desconhecendo-lhe a condição de funcionário público, não responde
pelo crime de desacato, já que afastado o dolo quanto à elementar do tipo, mas subsiste o delito de injúria,
pois a honra do particular também é tutelada pela lei penal. Tem-se, na hipótese, um erro de tipo que não
exclui a criminalidade do fato.
III Comete um delito putativo por erro de tipo a mulher que pratica atos abortivos e depois se descobre que
na verdade não havia gravidez.
IV No Direito Penal brasileiro o erro sobre os elementos do tipo impede a punição do agente, pois exclui a
tipicidade subjetiva em todas as suas formas.
V O erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime exclui o dolo, mas permite a punição por crime
culposo, se previsto em lei.
a) Estão corretas todas as assertivas
b) Está correta apenas 1 das assertivas
c) Estão corretas 2 assertivas
d) Estão corretas 3 assertivas
e) Estão incorretas todas as assertivas
Comentários
Gabarito: D
I O erro sobre elemento constitutivo do tipo exclui o dolo, conforme disposto no art. 20 do Código Penal;
incidindo, portanto, sobre a tipicidade, já que o dolo a integra como elemento volitivo (subjetivo) do tipo
penal.
II O erro de tipo invencível ou escusável, quando essencial, afasta dolo e culpa; quando vencível, somente o
dolo. Na hipótese, o que se tem é um erro de tipo acidental, onde se ofende um servidor público, pensando
tratar-se de um cidadão ordinário. Não há erro quanto à conduta de ofender alguém, o que dá ensejo à
punição pelo crime contra a honra, previsto no art. 140 do CP.
III Tanto no erro de tipo essencial quanto no delito putativo por erro de tipo (também chamado de delito de
alucinação) há uma falsa percepção da realidade. Em ambos os casos, o agente não sabe exatamente o que
faz. Não obstante, diferenciam-se as duas situações porque no erro de tipo o agente pratica tipo penal sem
querer, enquanto no delito putativo por erro de tipo o agente pratica um fato atípico sem querer.
IV O erro de tipo invencível ou escusável, quando essencial, afasta dolo e culpa; quando vencível, somente o
dolo. Daí não excluir a tipicidade em todas as suas formas.
Questão 5. A respeito dos crimes contra a fé pública, analise as proposições abaixo e, em seguida, assinale
a opção correta:
I – Tanto o charlatanismo (art. 283), quanto o curandeirismo (art. 284), são classificados no Código Penal
como crimes contra a fé pública.
II - Fabricar, adquirir, fornecer, possuir ou guardar objeto especialmente destinado à falsificação de qualquer
papel público constitui contravenção penal.
III - No crime de falsa identidade (art. 307 do CP), cujo tipo prevê uma hipótese de “dolo específico”, é
possível a desistência voluntária (art. 15 do CP) quando, apesar da realização da conduta, não se
implementou a especial finalidade à qual estava orientada a conduta.
IV - O crime de falsidade material se consubstancia na alteração do conteúdo de documento, ainda que
parcial, omitindo declaração que dele devia constar, ou nele inserindo ou fazendo inserir declaração falsa ou
diversa da que devia ser escrita.
V - Há concurso material de crimes quando o falsificador posteriormente usa o documento falsificado que se
esgota nessa conduta.
a) Estão incorretas todas as assertivas
b) Está correta apenas 1 das assertivas
c) Estão corretas 2 assertivas
d) Estão corretas 3 assertivas
e) Estão corretas 4 assertivas
Comentários
Gabarito: A
II Petrechos para falsificação de moeda – CP, Art. 291 - Fabricar, adquirir, fornecer, a título oneroso ou
gratuito, possuir ou guardar maquinismo, aparelho, instrumento ou qualquer objeto especialmente
destinado à falsificação de moeda: Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa.
III O crime do art. 307 é formal (de consumação antecipada). Consuma-se o crime com a atribuição efetiva
da falsa identidade, independentemente de atingir o especial fim de agir. Por esta razão, impossível iniciar a
execução e desistir voluntariamente da dela.
V Não se pode condenar o réu pelo crime de uso de documento falso quando ele próprio foi quem fez a
falsificação do documento. A pessoa deverá ser condenada apenas pela falsidade, e o uso do documento
falso configura mero exaurimento do crime de falso. STF. 1ª Turma. AP 530/MS, rel. orig. Min. Rosa Weber,
red. p/ o acórdão Min. Roberto Barroso, julgado em 9/9/2014 (Info 758).
Comentários
Gabarito letra C, conforme Art. 24. Nos crimes de ação pública, esta será promovida por denúncia do
Ministério Público, mas dependerá, quando a lei o exigir, de requisição do Ministro da Justiça, ou de
representação do ofendido ou de quem tiver qualidade para representá-lo, § 2o Seja qual for o crime,
quando praticado em detrimento do patrimônio ou interesse da União, Estado e Município, a ação penal
será pública. Tendo como vítima um ente público, a ação será sempre pública incondicionada.
A e B (versão correta) são entendimentos do STF sobre a matéria. Alternativa D, texto do artigo 25, do CPP.
a) Não sendo caso de arquivamento e tendo o investigado confessado formal e circunstancialmente a prática
de infração penal sem violência ou grave ameaça e com pena mínima igual ou inferior a 4 (quatro) anos, o
Ministério Público poderá propor acordo de não persecução penal, desde que necessário e suficiente para
reprovação e prevenção do crime, mediante condições.
b) O acordo de não persecução é vedado nos crimes praticados no âmbito de violência doméstica ou familiar,
ou praticados contra a mulher por razões da condição de sexo feminino, em favor do agressor.
c) Para a homologação do acordo de não persecução penal, será realizada audiência na qual o juiz deverá
verificar a sua voluntariedade, por meio da oitiva do investigado na presença do seu defensor, e sua
legalidade.
d) Homologado judicialmente o acordo de não persecução penal, o juiz devolverá os autos ao Ministério
Público para que inicie sua execução perante o juízo de execução penal.
e) O descumprimento do acordo de não persecução penal pelo investigado também poderá ser utilizado pelo
Ministério Público como justificativa para o eventual não oferecimento de suspensão condicional do
processo.
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Gabarito: alternativa A, conforme Art. 28-A. Não sendo caso de arquivamento e tendo o investigado
confessado formal e circunstancialmente a prática de infração penal sem violência ou grave ameaça e com
pena mínima inferior a 4 (quatro) anos, o Ministério Público poderá propor acordo de não persecução penal,
desde que necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime, mediante as seguintes condições
ajustadas cumulativa e alternativamente:
Comentários
Gabarito: alternativa C
A absolvição de outros implicados em ações penais por fatos semelhantes, pela falta de provas, não prejudica
a propositura da ação penal. Aliás, nem sempre os motivos ensejadores da absolvição serão extensivos aos
demais agentes, como por exemplo se se tratar de hipótese de negativa de autoria!
Comentários
GABARITO: alternativa A
Art. 23-A. O tratamento do usuário ou dependente de drogas deverá ser ordenado em uma rede
de atenção à saúde, com prioridade para as modalidades de tratamento ambulatorial, incluindo
excepcionalmente formas de internação em unidades de saúde e hospitais gerais nos termos de
normas dispostas pela União e articuladas com os serviços de assistência social e em etapas que
permitam:
[...]
I - deverá ser precedida de declaração escrita da pessoa solicitante de que optou por este regime
de tratamento;
II - seu término dar-se-á por determinação do médico responsável ou por solicitação escrita da
pessoa que deseja interromper o tratamento.
II - será indicada depois da avaliação sobre o tipo de droga utilizada, o padrão de uso e na
hipótese comprovada da impossibilidade de utilização de outras alternativas terapêuticas
previstas na rede de atenção à saúde;
III - perdurará apenas pelo tempo necessário à desintoxicação, no prazo máximo de 90 (noventa)
dias, tendo seu término determinado pelo médico responsável;
[...]
§6º A internação, em qualquer de suas modalidades, só será indicada quando os recursos extra-
hospitalares se mostrarem insuficientes.
§7º Todas as internações e altas de que trata esta Lei deverão ser informadas, em, no máximo,
de 72 (setenta e duas) horas, ao Ministério Público, à Defensoria Pública e a outros órgãos de
fiscalização, por meio de sistema informatizado único, na forma do regulamento desta Lei.
Comentários
GABARITO: alternativa B
Art. 63. A competência do Juizado será determinada pelo lugar em que foi praticada a infração
penal.
b) INCORRETA: O início da alternativa está correto, conforme prevê o art. 60, da Lei n.º 9.099/95. Entreanto,
a parte final da alternativa é incorreta quando aduz que consideram-se infrações penais de menor potencial
ofensivo os crimes a que a lei comine pena MÍNIMA não superior a 2 (dois) anos, visto que o texto legal
menciona que a pena máxima é que não pode ser superior a 2 (dois) anos, conforme prevê p art. 61, da Lei
n.º 9.099/95:
Art. 60. O Juizado Especial Criminal, provido por juízes togados ou togados e leigos, tem
competência para a conciliação, o julgamento e a execução das infrações penais de menor
potencial ofensivo, respeitadas as regras de conexão e continência.
Art. 61. Consideram-se infrações penais de menor potencial ofensivo, para os efeitos desta Lei,
as contravenções penais e os crimes a que a lei comine pena máxima não superior a 2 (dois) anos,
cumulada ou não com multa.
c) CORRETA: Trata-se da previsão legal so benefício da Suspensão Condicional do Processo, prevista no art.
89, caput, da Lei n.º 9.099/95:
Art. 89. Nos crimes em que a pena mínima cominada for igual ou inferior a um ano, abrangidas
ou não por esta Lei, o Ministério Público, ao oferecer a denúncia, poderá propor a suspensão do
processo, por dois a quatro anos, desde que o acusado não esteja sendo processado ou não tenha
sido condenado por outro crime, presentes os demais requisitos que autorizariam a suspensão
condicional da pena (art. 77 do Código Penal).
Art. 29. O trabalho do preso será remunerado, mediante prévia tabela, não podendo ser inferior
a 3/4 (três quartos) do salário mínimo
a) à indenização dos danos causados pelo crime, desde que determinados judicialmente e não
reparados por outros meios;
b) à assistência à família;
§ 2º Ressalvadas outras aplicações legais, será depositada a parte restante para constituição do
pecúlio, em Caderneta de Poupança, que será entregue ao condenado quando posto em
liberdade.
e) CORRETA: uma das hipóteses de revogação da autorização de trabalho externo do preso é a punição por
falta grave, conforme prevê o art. 37, da Lei de Execuções Penais:
Art. 37. A prestação de trabalho externo, a ser autorizada pela direção do estabelecimento,
dependerá de aptidão, disciplina e responsabilidade, além do cumprimento mínimo de 1/6 (um
sexto) da pena.
Parágrafo único. Revogar-se-á a autorização de trabalho externo ao preso que vier a praticar fato
definido como crime, for punido por falta grave, ou tiver comportamento contrário aos requisitos
estabelecidos neste artigo.
Comentários
GABARITO: alternativa C
I. INCORRETA: para a configuração do delito descrito, faz-se necessário que tenha sido gerado perigo de
dano, conforme prevê o art. 309, do Código de Trânsito Brasileiro:
Art. 309. Dirigir veículo automotor, em via pública, sem a devida Permissão para Dirigir ou
Habilitação ou, ainda, se cassado o direito de dirigir, gerando perigo de dano:
Art. 304. Deixar o condutor do veículo, na ocasião do acidente, de prestar imediato socorro à
vítima, ou, não podendo fazê-lo diretamente, por justa causa, deixar de solicitar auxílio da
autoridade pública:
Penas - detenção, de seis meses a um ano, ou multa, se o fato não constituir elemento de crime
mais grave.
Parágrafo único. Incide nas penas previstas neste artigo o condutor do veículo, ainda que a sua
omissão seja suprida por terceiros ou que se trate de vítima com morte instantânea ou com
ferimentos leves.
III. INCORRETA: São mais variadas as competências do juiz da execução, conforme prevê o art. 66, da Lei de
Execuções Penais:
I - aplicar aos casos julgados lei posterior que de qualquer modo favorecer o condenado;
e) livramento condicional;
f) incidentes da execução.
V – determinar:
i) (VETADO);
IV. CORRETA: É o texto legal do art. 112, §2º, da Lei de Execução Penal:
Art. 112. A pena privativa de liberdade será executada em forma progressiva com a transferência
para regime menos rigoroso, a ser determinada pelo juiz, quando o preso tiver cumprido ao
menos: (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)
[...]
§ 2º A decisão do juiz que determinar a progressão de regime será sempre motivada e precedida
de manifestação do Ministério Público e do defensor, procedimento que também será adotado
na concessão de livramento condicional, indulto e comutação de penas, respeitados os prazos
previstos nas normas vigentes. (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)
b) São inelegíveis, no território de jurisdição do titular, o cônjuge e os parentes consanguíneos ou afins, até
o terceiro grau ou por adoção, do Presidente da República, de Governador de Estado ou Território, do Distrito
Federal, de Prefeito ou de quem os haja substituído dentro dos seis meses anteriores ao pleito, salvo se já
titular de mandato eletivo e candidato à reeleição.
c) Os analfabetos e os inalistáveis são inelegíveis.
d) O Presidente da República, os Governadores de Estado e do Distrito Federal, os Prefeitos e quem os houver
sucedido, ou substituído no curso dos mandatos poderão ser reeleitos para dois períodos subsequentes.
e) São inelegíveis, no território de jurisdição do titular, o cônjuge e os parentes consanguíneos ou afins, até
o segundo grau ou por adoção, do Presidente da República, de Governador de Estado ou Território, do
Distrito Federal, de Prefeito ou de quem os haja substituído dentro de um ano anterior ao pleito, salvo se já
titular de mandato eletivo e candidato à reeleição.
Comentários
A alternativa C, de acordo com a qual os analfabetos e os inalistáveis são inelegíveis, está correta, por força
do art. 14, § 4º, todos da Constituição da República.
Comentários
O militar da ativa é elegível, atendidas as seguintes condições: (i) se contar menos de dez anos de serviço,
deverá afastar-se da atividade; (ii) se contar mais de dez anos de serviço, será agregado pela autoridade
superior e, se eleito, passará automaticamente, no ato da diplomação, para a inatividade, como dispõe o art.
14, § 8º, da Constituição da República.
Questão 3. No que se refere à inelegibilidade por motivo funcional, é correto afirmar que:
a) Para concorrerem aos mesmos cargos, o Presidente da República, os Governadores de Estado e do Distrito
Federal e os Prefeitos devem licenciar-se aos respectivos mandatos até 4 (quatro) meses antes do pleito.
b) Para concorrerem a outros cargos, o Presidente da República, os Governadores de Estado e do Distrito
Federal e os Prefeitos devem renunciar aos respectivos mandatos até 6 (seis) meses antes da diplomação.
c) Para concorrerem a outros cargos, o Presidente da República, os Governadores de Estado e do Distrito
Federal e os Prefeitos devem renunciar aos respectivos mandatos até 6 (seis) meses antes do pleito.
d) Para concorrerem a outros cargos, o Presidente da República, os Governadores de Estado e do Distrito
Federal e os Prefeitos devem renunciar aos respectivos mandatos até a data da diplomação.
e) Para concorrerem aos mesmos cargos, o Presidente da República, os Governadores de Estado e do Distrito
Federal e os Prefeitos devem renunciar aos respectivos mandatos até 1 (um) mês antes da diplomação.
Comentários
A teor do art. 14, § 6º, da Constituição da República, para concorrerem a outros cargos, o Presidente da
República, os Governadores de Estado e do Distrito Federal e os Prefeitos devem renunciar aos respectivos
mandatos até seis meses antes do pleito,
Comentários
O Estatuto da Criança e do Adolescente é aplicável às pessoas que têm até dezoito anos de idade. Contudo,
nos casos expressos em lei, aplica-se excepcionalmente o Estatuto às pessoas entre dezoito e vinte e um
anos de idade (art. 2º, Estatuto). Entre os casos excepcionais, tem-se a possibilidade de aplicação e execução
de medida socioeducativa. Para fins de apuração de ato infracional, deve-se levar em conta a idade quando
da ação ou da omissão. No caso em questão, caio praticou o ato infracional ainda com dezessete anos, não
importando que venha a completar a maioridade durante o trâmite do procedimento. A propósito, a Súmula
605 do STJ indica que “a superveniência da maioridade penal não interfere na apuração de ato infracional
nem na aplicabilidade de medida socioeducativa em curso, inclusive na liberdade assistida, enquanto não
atingida a idade de 21 anos”. Levando-se em consideração vários aspectos, é possível que se adote
procedimento diferenciado da regra geral, concedendo-se a remissão ao adolescente, a qual poderá ser
cumulada com medida socioeducativa, desde que não seja privativa de liberdade. Desse modo, não se tem
a viabilidade da cumulação da remissão com medida socioeducativa de semiliberdade.
Alternativa “A”: incorreta. O fato do ato infracional ter sido cometido com violência ou grave ameaça não é
impeditivo à concessão da remissão, devendo ser levada em conta ainda o constante do art. 126, do Estatuto.
Alternativa “B”: correta. A remissão somente poderá ser cumulada com medidas socioeducativas em meio
aberto, não se admitindo que o seja com semiliberdade ou com internação.
Alternativa “C”: incorreta. Como explicado acima, ainda que o agente tenha completado a maioridade, ainda
assim estará sujeito ao procedimento de apuração do ato infracional.
Alternativa “D”: incorreta. Na verdade, o delito praticado pela autoridade policial está tipificado no art. 235,
do Estatuto, qual seja: “Descumprir, injustificadamente, prazo fixado nesta Lei em benefício de adolescente
privado de liberdade”. Em conformidade com o previsto no Estatuto, a apresentação do adolescente ao
Ministério Público deveria ser imediata. Não sendo possível, deveria o mesmo ser encaminhado para uma
entidade de atendimento. Não sendo isso possível, então, deveria ser encaminhado ao Ministério Público no
prazo de 24 horas.
Questão 2. (VUNESP – Juiz de Direito Substituto – RJ/2016) Com relação à Convenção sobre os Direitos da
Criança da ONU, tratado internacional de proteção de direitos humanos, com início de vigência em 1990,
é correto afirmar que
a) a de diferenciação utilizada pela legislação específica brasileira, define criança como todo ser humano que
não atingir a maioridade civil e penal ou for declarado totalmente incapaz, desde que menor de 18 anos, nos
termos da legisla-ção aplicável.
b) em respeito aos princípios da anterioridade e da legalidade, bem como ao garantismo processual, foram
criados os Protocolos Facultativos adesivos, versando sobre a) Venda de Crianças, Prostituição Infantil e
Pornografia Infantil e b) Envolvimento de Crianças em Conflitos Armados, para tipificação de delitos contra
a dignidade sexual e de guerra envol-vendo crianças.
c) ao estabelecer a obrigação dos Estados de respeitar responsabilidades, direitos e obrigações dos pais,
apropriados para o exercício, pela criança, dos direitos que contempla, adotou o princípio do best interest
of the child-, encampada pelo artigo 227, caput, da Constituição da República Federativa do Brasil.
d) estabelece, em seu rol de direitos contemplados, a proteção de crianças estrangeiras, inclusive contra a
migração interna forçada e utilização em experiên-cias médicas e científicas, prevendo a entrega como
instituto de cooperação internacional.
e) visando a observação dos direitos das crianças, estabeleceu forma de monitoramento peculiar (special
force machinery-), via relatórios apresentados pelo Comitê sobre os Direitos da Criança aos Estados- -Partes,
para análise e acompanhamento.
Comentários
A Convenção sobre os Direitos da Criança e do Adolescente foi o documento internacional com o maior
número de ratificações. No âmbito brasileiro, a sua vigência ocorreu após o advento do Estatuto da Criança
e do Adolescente, muito embora esta lei já estivesse em conformidade com os dispositivos da norma
internacional.
Alternativa Correta: letra “c”. O princípio do best interest of the child se refere ao superior interesse da
criança, que deve ser observado pela administração, pelo legislador e pelo julgador. O art. 227 da
Constituição Federal, ao prever a prioridade absoluta, encampa o superior interesse da criança e do
adolescente.
Alternativa “a”: incorreta. Em conformidade com a Convenção, será criança a pessoa que tiver menos de
dezoito anos de idade, a não ser que, em conformidade com a lei aplicável à criança, a maioridade seja
alcançada antes (Artigo 1). Conforme se vê, admitiu-se que cada Estado Parte faça previsão de outra idade
(“em conformidade com a lei aplicável à criança”).
Alternativa “d”: incorreta. Não há essa previsão na Convenção sobre os Direitos da Criança da ONU.
Alternativa “e”: incorreta. Foi estabelecida como forma de monitoramento a partir de relatórios enviados
pelos Estados Partes ao Comitê sobre os Direitos da Criança da ONU, por intermédio do Secretário-Geral das
Nações Unidas. Tais relatórios devem relatas as medidas que tenham adotado com vistas a tornar efetivos
os direitos reconhecidos na convenção e sobre os progressos alcançados no desempenho desses direitos,
com periodicidade quinquenal (art. 44, item 1, b, da Convenção). De outro lado, admite-se que o Comitê
solicite aos Estados Partes maiores informações sobre a implementação da convenção. A cada dois anos, o
Comitê submeterá relatórios sobre suas atividades à Assembleia Geral das Nações Unidades, por intermédio
do Conselho Econômico e Social.
Comentários
b) Súmula Vinculante 41
c) Sumula Vinculante 19
d) Tema 217: É constitucional taxa de renovação de funcionamento e localização municipal, desde que
efetivo o exercício do poder de polícia, demonstrado pela existência de órgão e estrutura competentes para
o respectivo exercício.
e) Tese 325 da Repercussão Geral: As contribuições devidas ao Sebrae, à Apex e à ABDI, com fundamento na
Lei 8.029/1990, foram recepcionadas pela EC 33/2001
Comentários
a) Nos termos do artigo 151, inciso III, a União não pode instituir isenções de tributos de competência dos
Estados, do Distrito Federal ou dos Municípios. Não existe essa exceção mencionada pela alternativa.
b) Nos termos do artigo 151, inciso III, a União não pode instituir isenções de tributos de competência dos
Estados, do Distrito Federal ou dos Municípios. Não existe essa exceção mencionada pela alternativa.
c) Nos termos do artigo 151, inciso III, a União não pode instituir isenções de tributos de competência dos
Estados, do Distrito Federal ou dos Municípios. Essa regra, embora se refira à União, também se aplica aos
estados-membros da federação.
e) O artigo 156, §3º, inciso III, autoriza que lei complementar da União possa fazê-lo.
Comentários
e) Tema 829 de Repercussão Geral: Não viola a legalidade tributária a lei que, prescrevendo o teto, possibilita
o ato normativo infralegal fixar o valor de taxa em proporção razoável com os custos da atuação estatal,
valor esse que não pode ser atualizado por ato do próprio conselho de fiscalização em percentual superior
aos índices de correção monetária legalmente previstos.
Comentários
A incorreta é a letra “A”, pois em desacordo com o art. 3º da lei 7.347/85: Art. 3º A ação civil poderá ter por
objeto a condenação em dinheiro ou o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer.
Todas as demais encontram respaldo na lei, nos arts. 5º, §§ 1º,2º, 6º e 7º, respectivamente
Comentários
A incorreta é a letra “C”, pois esta é a redação do art. 16 da lei 7.347/85, com o limitador territorial, que não
encontra eco na lei 7.853/89. O correto seria: “Art. 4º A sentença terá eficácia de coisa julgada oponível erga
omnes, exceto no caso de haver sido a ação julgada improcedente por deficiência de prova, hipótese em que
qualquer legitimado poderá intentar outra ação com idêntico fundamento, valendo-se de nova prova”. As
demais alternativas estão de acordo com o texto da lei em apreço, nos arts. 4º. §1º, 5º, 4º, §2º e 6º.
Questão 3. Para a defesa dos interesses e direitos difusos e coletivos da criança e do adolescente, assinale
o único não legitimado, de acordo com a lei 8.069/90:
a) Ministério Público
b) Defensoria Pública
c) União
d) Territórios
e) Associações legalmente constituídas há pelo menos um ano e com pertinência temática.
Comentários
A única não legitimada pelo texto do ECA é a Defensoria Pública. Todavia, possui legitimidade para atuar em
direitos difusos e coletivos de crianças e adolescentes, de acordo com a LC80/94 c/c Art. 5º, II da Lei 7.347/85.
Cuidado com o enunciado, que limita ao ECA. Os demais possuem previsão no art. 210 da lei 8.069/90: “Art.
210. Para as ações cíveis fundadas em interesses coletivos ou difusos, consideram-se legitimados
concorrentemente: I - o Ministério Público; II - a União, os estados, os municípios, o Distrito Federal e os
territórios; III - as associações legalmente constituídas há pelo menos um ano e que incluam entre seus fins
institucionais a defesa dos interesses e direitos protegidos por esta Lei, dispensada a autorização da
assembleia, se houver prévia autorização estatutária”.
Comentários
Alternativa A: CORRETA
Todos sabemos que os preceitos inscritos no art. 225 da Carta Política traduzem, na concreção
de seu alcance, a consagração constitucional, em nosso sistema de direito positivo, de uma das
mais expressivas prerrogativas asseguradas às formações sociais contemporâneas. Essa
prerrogativa, que se qualifica por seu caráter de metaindividualidade, consiste no
reconhecimento de que todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. Trata-
se, consoante já o proclamou o Supremo Tribunal Federal (RTJ 158/205-206, Rel. Min. CELSO DE
MELLO), com apoio em douta lição expendida por CELSO LAFER (“A reconstrução dos Direitos
Humanos”, p. 131-132, 1988, Companhia das Letras), de um típico direito de terceira geração
(ou de novíssima dimensão), que assiste, de modo subjetivamente indeterminado, a todo o
gênero humano, circunstância essa que justifica a especial obrigação – que incumbe ao Estado e
à própria coletividade (PAULO AFFONSO LEME MACHADO, “Direito Ambiental Brasileiro”, p. 121-
123, item n. 3.1, 13ª ed., 2005, Malheiros) – de defendê-lo e de preservá-lo em benefício das
presentes e futuras gerações, evitando-se, desse modo, que irrompam, no seio da comunhão
social, os graves conflitos intergeneracionais marcados pelo desrespeito ao dever de
solidariedade na proteção da integridade desse bem essencial de uso comum de todos quantos
compõem o grupo social. (RECURSO EXTRAORDINÁRIO 627.189 SÃO PAULO, j. 08.06.2016)
Alternativa B: CORRETA
A Constituição da República estabelece o meio ambiente ecologicamente equilibrado não apenas como
direito fundamental, mas como dever imposto ao Poder Público e à coletividade, o que se extrai do art. 225,
caput:
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum
do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o
dever de defendê-lo e preservá- lo para as presentes e futuras gerações.
Além do dever genérico imposto no art. 225, caput, o §1º impõe para o Poder Público deveres específicos, a
exemplo da obrigação de exigir Estudo Prévio de Impacto Ambiental para instalação de obra ou atividade
potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente (inciso IV).
Já nos §§2º e 3º, a CR estabelece outros deveres específicos para o Poder Público e para a coletividade,
consistentes na obrigação de recuperar áreas degradadas da mineração e a tríplice responsabilidade
Ambiental (administrativa, civil e penal) por atos lesivos ao meio ambiente.
Alternativa C: INCORRETA
O art. 225, §4º estabelece os biomas de proteção especial, constituindo patrimônio nacional. São eles:
Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal Mato-Grossense e a Zona
Costeira.
Alternativa D: CORRETA
Alternativa E: CORRETA
Dispõe o art. 170, VI, da CR, em relação aos princípios que regem a ordem econômica:
Gabarito: C
Questão 2. Assinale a alternativa correta no que se refere à proteção constitucional do meio ambiente
a) Compete privativamente à União definir espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente
protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização
que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção;
b) A responsabilidade penal da pessoa jurídica, embora prevista na Lei nº 9.605/98, não encontra previsão
expressa na Constituição da República;
c) A Floresta Amazônica brasileira é considerada, pela Constituição da República, patrimônio da União;
d) Nos termos da Constituição da República, não se consideram cruéis as práticas desportivas que utilizem
animais, desde que sejam manifestações culturais, conforme o §1º do art. 215, registradas como bem de
natureza imaterial integrante do patrimônio cultural brasileiro, devendo ser regulamentadas por lei
específica que assegure o bem-estar dos animais envolvidos;
e) A Constituição da República estabelece o dever do Poder Público, com a colaboração da comunidade, de
promover e proteger o patrimônio cultural brasileiro, prevendo expressamente, em rol taxativo, os seguintes
instrumentos para a preservação do patrimônio cultural: inventários, registros, vigilância, tombamento e
desapropriação.
Comentários
Alternativa A: INCORRETA
Alternativa B: INCORRETA
A responsabilidade penal da pessoa jurídica está prevista expressamente no art. 225, §3º, que assim dispõe:
Alternativa C: INCORRETA
Como já destacado na questão anterior, o art. 225, §4º, prevê os biomas com proteção especial na
Constituição, constituindo patrimônio nacional (e não patrimônio da União), de forma que enseja a atuação
do Poder Público no âmbito das competências comuns, não havendo que se falar em competência exclusiva
da União.
Alternativa D: CORRETA
Trata-se da exata dicção do art. 225, §7º, da CR, que constitui reação do constituinte ao julgamento de
inconstitucionalidade da “vaquejada” no âmbito do Supremo Tribunal Federal (efeito blacklash).
Fique atento(a)!
Está pautado para o dia 05 de novembro de 2020, o julgamento da ADIN 5728 contra a EC 96/201752.
Alternativa E: INCORRETA
A proteção ao patrimônio cultural brasileiro vem inscrita no art. 216, §1º, da CR:
Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial,
tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à
memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem:
I - as formas de expressão;
Gabarito: D
Comentários
52
http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=451941
Gabarito: C
Das lições do art. 1.164 do Código Civil, depreendemos que o nome empresarial, personalíssimo, não poderá
ser alienado.
Comentários
Gabarito: Falsa.
O art. 94, III, alínea 'c', da Lei 11.101/05 apresenta esse cenário como uma hipótese de decretação de
falência!
Comentários
A teor do art. 128, inc. I, da Constituição da República o Ministério Público da União compreende o Ministério
Público Federal, o Ministério Público do Trabalho, o Ministério Público Militar e o Ministério Público do
Distrito Federal e Territórios.
Não é ramo do Ministério Público da União, portanto, o Ministério Público Eleitoral a que se refere a
alternativa C.
Comentários
Os Procuradores-Gerais nos Estados e no Distrito Federal, consoante o art. 128, §§ 3º e 4º, da Constituição
da República, devem ser nomeados pelo Chefe do Poder Executivo, para mandato de dois anos, permitida
uma recondução, dentre integrantes da carreira que façam parte de lista tríplice, e, de outro giro, podem ser
destituídos por deliberação da maioria absoluta do Poder Legislativo.
Comentários
O Conselho Nacional do Ministério Público detém atribuição para rever, de ofício ou mediante provocação,
os processos disciplinares de membros do Ministério Público da União ou dos Estados julgados há menos de
um ano (alternativa A); zelar pela autonomia funcional e administrativa do Ministério Público, podendo
expedir atos regulamentares, no âmbito de sua competência, ou recomendar providências (alternativa B);
elaborar relatório anual, propondo as providências que julgar necessárias sobre a situação do Ministério
Público no País (alternativa D) e rever, de ofício ou mediante provocação, os processos disciplinares de
membros do Ministério Público da União ou dos Estados julgados há menos de um ano (alternativa E).
Portanto, o candidato deve assinalar a alternativa C, de acordo com a qual o Conselho Nacional do Ministério
Público é dotado de atribuição para receber e conhecer das reclamações contra membros ou servidores do
Ministério Público da União ou dos Estados, podendo avocar processos disciplinares em curso, determinar a
remoção ou a disponibilidade e aplicar outras sanções administrativas, assegurada ampla defesa, em
consonância com o art. 130-A, § 2º, inc. III, da Constituição da República.
a) Compreende-se por SAC o serviço de atendimento telefônico das prestadoras de serviços regulados que
tenham como finalidade resolver as demandas dos consumidores sobre informação, dúvida, reclamação,
suspensão ou cancelamento de contratos e de serviços.
b) O SAC garantirá ao consumidor, no primeiro menu eletrônico, as opções de contato com o atendente, de
reclamação e de cancelamento de contratos e serviços.
c) O SAC estará disponível, ininterruptamente, durante vinte e quatro horas por dia exceto nos fins de
semana, ressalvado o disposto em normas específicas.
d) O SAC obedecerá aos princípios da dignidade, boa-fé, transparência, eficiência, eficácia, celeridade e
cordialidade.
e) Os dados pessoais do consumidor serão preservados, mantidos em sigilo e utilizados exclusivamente para
os fins do atendimento.
Comentários
A incorreta é a letra “C”. Está em desacordo com o art. 5º do Decreto, pois o SAC deve estar disponível sete
dias da semana. As demais alternativas estão de acordo com os arts. 2º, 4º, 8º e 11:
Art. 2o Para os fins deste Decreto, compreende-se por SAC o serviço de atendimento telefônico
das prestadoras de serviços regulados que tenham como finalidade resolver as demandas dos
consumidores sobre informação, dúvida, reclamação, suspensão ou cancelamento de contratos
e de serviços.
Art. 4o O SAC garantirá ao consumidor, no primeiro menu eletrônico, as opções de contato com
o atendente, de reclamação e de cancelamento de contratos e serviços.
Art. 8o O SAC obedecerá aos princípios da dignidade, boa-fé, transparência, eficiência, eficácia,
celeridade e cordialidade.
Art. 11. Os dados pessoais do consumidor serão preservados, mantidos em sigilo e utilizados
exclusivamente para os fins do atendimento.
Questão 2. Assinale a alternativa que não está de acordo com o entendimento sedimentado do Superior
Tribunal de justiça sobre direito do consumidor:
a) O Superior Tribunal de Justiça admite a mitigação da teoria finalista para autorizar a incidência do Código
de Defesa do Consumidor - CDC nas hipóteses em que a parte (pessoa física ou jurídica), apesar de não ser
destinatária final do produto ou serviço, apresenta-se em situação de vulnerabilidade.
b) A inversão do ônus da prova, nos termos do art. 6º, VIII, do CDC, não ocorre ope legis, mas ope iudicis,
vale dizer, é o juiz que, de forma prudente e fundamentada, aprecia os aspectos de verossimilhança das
alegações do consumidor ou de sua hipossuficiência.
c) Em demanda que trata da responsabilidade pelo fato do produto ou do serviço (arts. 12 e 14 do CDC), a
inversão do ônus da prova decorre da lei (ope legis), não se aplicando o art. 6º, inciso VIII, do CDC.
d) A devolução em dobro dos valores pagos pelo consumidor, prevista no art. 42, parágrafo único, do CDC,
pressupõe apenas a existência de pagamento indevido do consumidor.
e) Não se aplica o Código de Defesa do Consumidor à relação contratual entre advogados e clientes, a qual
é regida pelo Estatuto da Advocacia e da OAB - Lei n. 8.906/94.
Comentários
A única alternativa que está em desacordo com as teses do STJ é a letra D, pois a devolução em dobro dos
valores no artigo mencionado pressupõe, além do pagamento indevido pelo consumidor, a má-fé do credor
(Tese nº7 da Edição nº 39 do STJ em Teses). As demais alternativas correspondem exatamente às teses 1, 2,
5 e 8 da mesma edição.
3 - QUESTÕES DISCURSIVAS
Agora vamos às 20 questões discursivas, que observam a seguinte distribuição:
Vamos lá!
Comentários
O princípio da correção funcional exige que o juízo ou tribunal, ao proceder à interpretação, não desvirtue
as competências que hajam sido atribuídas a cada um dos órgãos constitucionais, de tal molde que o
equilíbrio entre os Poderes do Estado desenhado pela Constituição, como pressuposto do respeito aos
direitos fundamentais, se encontre plenamente garantido.
medicamento pode surtir o mesmo efeito terapêutico para o tratamento da patologia da parte
autora, entendo que no caso concreto deve-se privilegiar a máxima efetividade do direito à saúde
em detrimento do princípio da correção funcional e da reserva do possível. Ademais, não cabe
ao Poder Judiciário se imiscuir na relação médico-paciente para alterar o tratamento prescrito,
substituindo a medicação prescrita e, assim, violando ato privativo da prática da medicina. A
responsabilidade pela eficácia e adequação da medicação é do médico, presumindo-se que ele
tenha conhecimento das possíveis alternativas e tenha feito a melhor escolha em prol do
paciente” (STF, ARE nº 1.227.596, Rel. Min. Marco Aurélio, J. 25.09.2019, DJU 30.09.2019).
Comentários
A origem da razoabilidade (reasonableness) remonta ao direito anglo-saxônico, a partir do caso Lochner, nos
Estados Unidos, quando a Suprema Corte aludiu à razoabilidade interna (internal reasonableness), isto é,
compatibilidade entre meio e fim, e razoabilidade externa (external reasonableness), ou seja, legitimidade
dos fins, como critérios de aferição dos atos legislativos.
Comentários
As doutrinas que se ocupam do tema da responsabilidade civil extracontratual do Estado foram construídas
para lidar com as situações de sujeição geral dos administrados em relação ao Poder Público. Nesse prisma,
tais regras de responsabilidade servem como garantia aos administrados submetidos ao império estatal, ou
seja, é o contrapeso da supremacia geral que tem o Estado, no exercício do seu poder de polícia.
Casos há, todavia, em que o Estado mantém vínculos especiais com certas pessoas, tais como servidores
públicos, alunos de escolas públicas, presos mantidos em cadeias e penitenciárias etc. São relações de
supremacia especial, também chamadas de relações de custódia, submetidas a regime disciplinar mais
rigoroso e que, por consequência, devem seguir parâmetros distintos de responsabilidade por parte do
Estado.
Nessas vinculações diferenciadas, a responsabilidade do Estado é mais acentuada do que nas relações de
sujeição geral, à medida que o ente público tem o dever de garantir a integridade das pessoas e bens
custodiados. Por isso, a responsabilidade estatal é objetiva inclusive quanto a atos de terceiros. Os exemplos
mais comuns são: o preso morto na cadeia por outro detento; a criança vítima de briga dentro de escola
pública; bens privados danificados em galpão da Receita Federal. Em todas essas hipóteses, o Estado tem o
dever de indenizar a vítima do dano, mesmo que a conduta lesiva não tenha sido praticada por agente
público. Cabe, porém, advertir que a responsabilidade estatal é objetiva na modalidade do risco
administrativo. De acordo com a jurisprudência do STF e do STJ, o preso que tenha se suicidado também
ensejará a responsabilidade do Estado, em razão do risco ser inerente ao meio no qual o detento foi inserido
pelo próprio Estado.
Assim, por exemplo, o preso assassinado na cadeia por outros detentos durante rebelião gera dever de o
Estado indenizar a família. Entretanto, se a morte teve causas naturais (força maior), não há dever de
indenizar. Quando ao fato de terceiro, não constitui excludente da responsabilidade nos casos de custódia,
em razão do mais acentuado dever de vigilância e de proteção atribuído ao Estado nessas relações de
sujeição especial.
Em caso de inobservância do seu dever específico de proteção previsto no art. 5º, XLIX, da CF, o
Estado é responsável pela morte de detento. Essa a conclusão do Plenário, que desproveu
recurso extraordinário em que discutida a responsabilidade civil objetiva do Estado por morte de
preso em estabelecimento penitenciário. No caso, o falecimento ocorrera por asfixia mecânica,
e o Estado-Membro alegava que, havendo indícios de suicídio, não seria possível impor-lhe o
dever absoluto de guarda da integridade física de pessoa sob sua custódia. O Colegiado asseverou
que a responsabilidade civil estatal, segundo a CF/1988, em seu art. 37, § 6º, subsume-se à teoria
do risco administrativo, tanto para as condutas estatais comissivas quanto paras as omissivas,
uma vez rejeitada a teoria do risco integral. Assim, a omissão do Estado reclama nexo de
causalidade em relação ao dano sofrido pela vítima nas hipóteses em que o Poder Público ostenta
o dever legal e a efetiva possibilidade de agir para impedir o resultado danoso. Além disso, é
dever do Estado e direito subjetivo do preso a execução da pena de forma humanizada,
garantindo-se-lhe os direitos fundamentais, e o de ter preservada a sua incolumidade física e
moral. Esse dever constitucional de proteção ao detento somente se considera violado quando
possível a atuação estatal no sentido de garantir os seus direitos fundamentais, pressuposto
inafastável para a configuração da responsabilidade civil objetiva estatal. Por essa razão, nas
situações em que não seja possível ao Estado agir para evitar a morte do detento (que ocorreria
mesmo que o preso estivesse em liberdade), rompe-se o nexo de causalidade. Afasta-se, assim,
a responsabilidade do Poder Público, sob pena de adotar-se a teoria do risco integral, ao arrepio
do texto constitucional. A morte do detento pode ocorrer por várias causas, como homicídio,
suicídio, acidente ou morte natural, não sendo sempre possível ao Estado evitá-la, por mais que
adote as precauções exigíveis. Portanto, a responsabilidade civil estatal fica excluída nas
hipóteses em que o Poder Público comprova causa impeditiva da sua atuação protetiva do
detento, rompendo o nexo de causalidade da sua omissão com o resultado danoso. Na espécie,
entretanto, o tribunal “a quo” não assentara haver causa capaz de romper o nexo de causalidade
da omissão do Estado-Membro com o óbito. Correta, portanto, a decisão impositiva de
responsabilidade civil estatal. RE 841526/RS, rel. Min. Luiz Fux, 30.3.2016. (RE-841526)
Questão 2. Joana da Silva impetrou mandado de segurança contra ato praticado pelo Presidente do
Concurso Público para preenchimento de vagas de agente da polícia federal, que indeferiu pedido de
realização do exame de sanidade física e entrega de documentos médicos em data diversa da prevista no
edital.
Constava, expressamente, no edital a vedação de remarcação de provas em razão de problemas temporários
de saúde.
A Impetrante, alegou ter direito líquido e certo consistente na possibilidade de realização da prova de
aptidão física em outra data, ante a comprovação de seu estado de gravidez, sem que importe na violação
do princípio da isonomia, em face da peculiaridade do caso e considerando a proteção constitucional da
gestante e do nascituro.
Tendo em vista as regras que regem o concurso público, os princípios norteadores da Administração Pública,
o ato administrativo de indeferimento do pedido formulado por Joana está correto? Justifique.
Comentários
O ato administrativo de indeferimento do pedido formulado por Joana é considerado ilegal, de acordo com
o entendimento do Supremo Tribunal Federal
No julgamento do Recurso Extraordinário 630/773/DF sob o regime de repercussão geral, a Corte Suprema
firmou o entendimento da inexistência de direito dos candidatos à prova de segunda chamada nos testes de
aptidão física, em razão de circunstâncias pessoais, ainda que de caráter fisiológico ou de força maior, salvo
contrária disposição editalícia.
Por outro lado, o próprio Supremo Tribunal Federal fixou tese de Repercussão Geral no sentido de que é
constitucional a remarcação do teste de aptidão física de candidata que esteja grávida à época de sua
realização, independentemente da previsão expressa em edital do concurso público. Recurso Extraordinário
(RE) 1058333.
No caso hipotético, o Presidente do Concurso Público indeferiu o pedido formulado por Joana para realização
do exame em data diversa da prevista no edital, pois continha expressa previsão editalícia fixando a
impossibilidade de remarcação de provas em razão de problemas temporários de saúde.
Com efeito, o concurso público é regido pelas regras estabelecidas no edital. As normas contidas no edital
do concurso público, obrigam tanto os candidatos quanto a Administração Pública. Assim, conforme
entendimento firmado pelas Cortes Superiores, possibilitar a remarcação da prova em razão de problemas
temporários de saúde, quando há expressa disposição no edital proibindo tal ato, causa ofensa ao princípio
da isonomia e ao princípio da impessoalidade que regem a Administração Pública, pois esta não pode
conceder tratamento diferente do previsto nas regras previamente estabelecidas, que possa beneficiar ou
prejudicar um (ou alguns) dos candidatos, ainda quando envolvido circunstancialmente em situação ou
condição individual diferenciada, motivada ou não por força maior, deixando, inclusive de observar o
interesse público.
Por outro lado, no RE 1058333, o STF afirmou ter o constituinte estabelecido expressamente a proteção à
maternidade, à família e ao planejamento familiar, a condição de gestante goza de proteção constitucional
reforçada. Em razão deste amparo constitucional específico, a gravidez não pode causar prejuízo às
candidatas, sob pena de malferir os princípios da isonomia e da razoabilidade.
De acordo com o Ministro Luiz Fux, “o efeito catalizador dessa exclusão é facilmente vislumbrável em uma
sociedade marcada pela competitividade. As mulheres têm dificuldade em se inserir no mercado de trabalho
e a galgar postos profissionais de maior prestígio e remuneração. Por consequência, acirra-se a desigualdade
econômica, que por si só é motivo de exclusão social”
Em outras palavras, é incabível equiparar a gravidez a doença ou a razões de força maior que impeça a
realização de determinada etapa do concurso público pelos candidatos.
Portanto, pelas razões expostas, o ato do presidente da comissão do concurso foi equivocado.
Comentários
A desigualdade imotivada entre filhos é odiosa e nociva ao desenvolvimento saudável do infante. Por este
motivo, não poderá haver distinção entre a prole, em regra. As necessidades elementares dos filhos são, em
essência, iguais, o que impõe o tratamento equivalente, no que toca à mantença propiciada pelos pais.
Entretanto, não se pode afirmar, de absoluto, que os filhos não podem reunir necessidades especiais; neste
caso, admite-se a fixação de prestação alimentar diferenciada, atendendo-se à igualdade substancial.
Confira-se:
percentual dos alimentos destinados a prole, pois se presume que, em tese, os filhos -
indistintamente - possuem as mesmas demandas vitais, tenham as mesmas condições dignas de
sobrevivência e igual acesso às necessidades mais elementares da pessoa humana. 4- A igualdade
entre os filhos, todavia, não tem natureza absoluta e inflexível, devendo, de acordo com a
concepção aristotélica de isonomia e justiça, tratar-se igualmente os iguais e desigualmente os
desiguais, na medida de suas desigualdades, de modo que é admissível a fixação de alimentos
em valor ou percentual distinto entre os filhos se demonstrada a existência de necessidades
diferenciadas entre eles ou, ainda, de capacidades contributivas diferenciadas dos genitores. 5-
Na hipótese, tendo sido apurado que havia maior capacidade contributiva de uma das genitoras
em relação a outra, é justificável que se estabeleçam percentuais diferenciados de alimentos
entre os filhos, especialmente porque é dever de ambos os cônjuges contribuir para a
manutenção dos filhos na proporção de seus recursos. 6- Não se conhece do recurso especial
pelo dissídio jurisprudencial quando houver substancial diferença entre a cognição exercida no
paradigma e a cognição exercida na hipótese, justamente porque são distintas as premissas
fáticas em que se assentam os julgados sob comparação. Precedentes. 7- Recurso especial
parcialmente conhecido e, nessa extensão, desprovido.
Comentários
A lesão a direitos da personalidade é indenizável. Para tanto, não se utiliza o termo reparação, pois, à falta
de desfalque patrimonial, não se afigura juridicamente possível a exata restituição do status quo; o dano
moral é passível de compensação, de modo a minorar os efeitos da conduta, por meio da indenização
patrimonialmente determinada.
Para a determinação do quantum a ser fixado a título de dano moral, rechaça-se a tarifação estanque: faz-
se necessária a individualização, com base no caso concreto, juntamente com o sopesamento do bem
jurídico atingido.
Como recurso à segurança jurídica, a jurisprudência consolidou o chamado método bifásico de fixação do
dano moral. No primeiro momento, deve-se atribuir um valor básico considerando o interesse jurídico lesado
e um grupo de precedentes, ao passo que, na etapa seguinte, analisam-se as circunstâncias do caso para
fixar em definitivo a indenização.
Desta forma é que se determina o valor adequado à reparação razoável da ofensa extrapatrimonial.
O STJ consolidou o posicionamento no enunciado 1 da edição n. 125 da sua seção de jurisprudência em teses:
a fixação do valor devido à título de indenização por danos morais deve considerar o método bifásico, que
conjuga os critérios da valorização das circunstâncias do caso e do interesse jurídico lesado, e minimiza
eventual arbitrariedade ao se adotar critérios unicamente subjetivos do julgador, além de afastar eventual
tarifação do dano.
Comentários
Considerando que a liquidez da obrigação constitui requisito imprescindível à exigência de sua satisfação,
quando, embora reconhecido judicialmente o débito ao final da fase cognitiva, ainda não haja definição exata
de seu quantum, faz-se necessária a prévia liquidação da sentença.
Pode essa liquidação, a requerimento do credor ou do devedor, realizar-se por arbitramento, quando
determinado pela sentença, convencionado pelas partes ou exigido pela natureza ou objeto da obrigação;
pelo procedimento comum, quando houver necessidade de alegar e provar fato novo, com fulcro no artigo
509, “caput”, I e II, do Código de Processo Civil; ou mesmo por mero cálculo aritmético, caso em que,
diferentemente das outras modalidades, não se faz necessária a inauguração de etapa processual específica
à liquidação.
Isso porque, quando a apuração do valor depender apenas de cálculo aritmético, o credor poderá promover,
desde logo, o cumprimento da sentença, nos termos do artigo 509, §2º, do Código de Processo Civil, não
mais consistindo esta, portanto, modalidade autônoma de liquidação na atual sistemática processual, o que
encontra claro fundamento nos princípios da economia e da celeridade processuais, cabendo ao exequente
instruir a petição de cumprimento de sentença com concomitante demonstrativo discriminado e atualizado
do débito, com as especificações necessárias, na forma da lei.
Comentários
Para se conceber um fato como uma infração penal, é necessário verificar a sua tipicidade, a qual se constata
por meio da exata adequação da conduta ao modelo abstratamente previsto na norma penal incriminadora
(subsunção).
Tal abordagem ao conceito de tipicidade se adapta à noção de tipicidade formal, fruto das teorias causalista
e finalista.
Para tais teorias, preconizadas por Liszt/Beling e Welzel, respectivamente, o fato revela-se típico quando
reúne os seguintes elementos.
• Conduta voluntária
• Nexo de causalidade
• Relação de tipicidade
Diferenciam-se, no entanto, as aludidas teorias, no que toca à alocação do dolo e da culpa; na primeira,
causalista, considerados elementos da culpabilidade; e na segunda, finalista, como elementos da conduta.
Crítica válida que se faz a tais teorias é de que estas não cuidam da necessária ofensa ao bem jurídico, assim
como da imputação objetiva desse resultado ao seu agente. Zaffaroni elaborou a teoria da tipicidade
conglobante, segundo a qual é típica a conduta praticada pelo agente que se revela, concomitantemente,
antinormativa e ofensiva aos bens de relevo para o Direito Penal (tipicidade material).
Assim, inexistindo a ofensa, inexiste a tipicidade e, ausente esta, não há crime; figurando, portanto, a
aplicação do princípio da insignificância como causa excludente da tipicidade.
O Supremo Tribunal Federal, no que toca à conceituação de tipicidade, adota o princípio da tipicidade
conglobante, aplicando-o por meio do reconhecimento do princípio da insignificância.
Tal princípio, o princípio da insignificância, preceitua que o Direito Penal não se deve ocupar de condutas
que produzam resultado, cujo desvalor - por não importar em lesão significativa a bens jurídicos relevantes
- não represente, por isso mesmo, prejuízo importante, seja ao titular do bem jurídico tutelado, seja à
integridade da própria ordem social.
No entanto, a fim de que não reste desvirtuada a aplicação de tão importante princípio, a Corte
Constitucional balizou os critérios a serem verificados quando de sua aplicação.
Neste sentido, o julgado que figura como leading case na aplicação do princípio da insignificância, verbis:
O princípio da insignificância - que deve ser analisado em conexão com os postulados da fragmentariedade
e da intervenção mínima do Estado em matéria penal - tem o sentido de excluir ou de afastar a própria
tipicidade penal, examinada na perspectiva de seu caráter material. Doutrina. Tal postulado - que considera
necessária, na aferição do relevo material da tipicidade penal, a presença de certos vetores, tais como (a) a
mínima ofensividade da conduta do agente, (b) a nenhuma periculosidade social da ação, (c) o reduzidíssimo
grau de reprovabilidade do comportamento, e (d) a inexpressividade da lesão jurídica provocada - apoiou-
se, em seu processo de formulação teórica, no reconhecimento de que o caráter subsidiário do sistema penal
reclama e impõe, em função dos próprios objetivos por ele visados, a intervenção mínima do Poder Público.
O sistema jurídico há de considerar a relevantíssima circunstância de que a privação da liberdade e a restrição
de direitos do indivíduo somente se justificam quando estritamente necessárias à própria proteção das
pessoas, da sociedade e de outros bens jurídicos que lhes sejam essenciais, notadamente naqueles casos em
que os valores penalmente tutelados se exponham a dano, efetivo ou potencial, impregnado de significativa
lesividade. o Direito Penal não se deve ocupar de condutas que produzam resultado, cujo desvalor - por não
importar em lesão significativa a bens jurídicos relevantes - não represente, por isso mesmo, prejuízo
importante, seja ao titular do bem jurídico tutelado, seja à integridade da própria ordem social.
(HC 84412, Relator(a): Min. CELSO DE MELLO, Segunda Turma, julgado em 19/10/2004, DJ 19-11-2004 PP-
00037 EMENT VoL-02173- 02 PP-00229 RT v. 94, no 834, 2005, p. 477-481 RTJ VoL-00192-03 PP-00963)
Composição da
Questionamento Fundamento
Nota da Questão
Aspectos A apresentação clara e escorreita do conhecimento, por
microestruturais meio da linguagem adequada e da coerência das ideias,
(coerência, clareza, é elemento importante que será considerado para a
10%
ortografia, propriedade composição da nota.
vocabular e raciocínio
jurídico)
Análise da Teoria da Zaffaroni elaborou a teoria da tipicidade conglobante,
Tipicidade Conglobante segundo a qual é típica a conduta praticada pelo agente
que se revela, concomitantemente, antinormativa e 30%
ofensiva aos bens de relevo para o Direito Penal
(tipicidade material).
Natureza jurídica da Inexistindo a ofensa, inexiste a tipicidade e, ausente esta,
aplicação do princípio da não há crime; figurando, portanto, a aplicação do
30%
insignificância no Direito princípio da insignificância como causa excludente da
Penal tipicidade.
Parâmetros de aplicação A fim de que não reste desvirtuada a aplicação de tão
do princípio da importante princípio, a Corte Constitucional balizou os
insignificância critérios a serem verificados quando de sua aplicação.
Após a instrução processual penal, o juiz sentenciante acolheu a pretensão do Estado e condenou o acusado
nas penas do art. 155, §4º, I, c/c art. 61, II, h, do Código Penal; uma vez que a vítima se tratava de senhor
idoso, maior de 80 anos de idade.
A Defensoria Pública interpôs recurso de apelação, com vistas à reforma parcial da sentença, visando à
exclusão da agravante genérica.
Qual fundamento deverá ser utilizado nas contrarrazões ministeriais apresentadas?
Comentários
Decisão recente da Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça (03.09.20) firmou entendimento no sentido
de que o furto a residência de idoso não é agravado se ele estava ausente.
Por se tratar de agravante de natureza objetiva, a incidência do art. 61, II, "h", do CP independe da prévia
ciência pelo réu da idade da vítima, sendo, de igual modo, desnecessário perquirir se tal circunstância, de
fato, facilitou ou concorreu para a prática delitiva, pois a maior vulnerabilidade do idoso é presumida.
No entanto, quando não se verifica qualquer nexo entre a ação do paciente e a condição de vulnerabilidade
da vítima, pois o furto qualificado pelo arrombamento à residência ocorreu quando os proprietários não se
encontravam no imóvel, não há que se falar em agravamento da pena. De fato, os bens subtraídos poderiam
ser de propriedade de qualquer pessoa, nada indicando a condição de idoso do morador da casa invadida.
(HABEAS CORPUS No 593.219 – SC)
Composição da
Questionamento Fundamento
Nota da Questão
Aspectos A apresentação clara e escorreita do conhecimento, por
microestruturais meio da linguagem adequada e da coerência das ideias,
(coerência, clareza, é elemento importante que será considerado para a
10%
ortografia, propriedade composição da nota.
vocabular e raciocínio
jurídico)
Natureza objetiva da A incidência do art. 61, II, "h", do CP independe da prévia
agravante genérica ciência pelo réu da idade da vítima, sendo, de igual
modo, desnecessário perquirir se tal circunstância, de 45%
fato, facilitou ou concorreu para a prática delitiva, pois a
maior vulnerabilidade do idoso é presumida.
Relação de causalidade Quando não se verifica qualquer nexo entre a ação do
entre a condição da paciente e a condição de vulnerabilidade da vítima, pois
vítima e a prática delitiva o furto qualificado pelo arrombamento à residência 45%
ocorreu quando os proprietários não se encontravam no
imóvel, não há que se falar em agravamento da pena.
Comentários
Art. 385. Nos crimes de ação pública, o juiz poderá proferir sentença condenatória, ainda que o
Ministério Público tenha opinado pela absolvição, bem como reconhecer agravantes, embora
nenhuma tenha sido alegada.
A Constituição de 1988 entregou ao Ministério Público, de modo privativo, a função de promover a ação
penal, consagrando ser ele o dominus litis. A ele cabe, pois, a função de definir os rumos da persecução penal.
Com a novel redação do artigo 28, do CPP (com eficácia suspensa por força de liminar proferida pelo STF),
essa titularidade ficou bastante clara, pois extinto o controle anômalo exercido pelo Poder Judiciário sobre
o arquivamento do inquérito policial.
O raciocínio que inspirou essa novidade legislativa, que, ao lado do artigo 3º-A, do CPP, consagrou
definitivamente o sistema acusatório no processo penal brasileiro, deveria sepultar de vez o artigo 385, do
CPP, que parece absolutamente incoerente com a postura inerte exigida do Magistrado.
Apesar das críticas doutrinárias existentes em torno do artigo 385, do CPP, a doutrina majoritária, assim
como a jurisprudência, tem se posicionado no sentido de que o dispositivo é constitucional, pois não deve o
juiz ficar subordinado à vontade do membro do Ministério Público.
Nesse norte:
III - A decisão do Juiz não é vinculada pelas alegações finais apresentadas pelo Ministério Público,
podendo ele condenar o réu, mesmo quando o Parquet opina pela absolvição.
IV - Havendo provas para julgar o feito, condenando o réu, o Juiz não deve se atrelar à opinião
do Ministério Público, quando este requer a absolvição.
(HC 185835 AgR, Relator(a): ALEXANDRE DE MORAES, Primeira Turma, julgado em 05/08/2020,
PROCESSO ELETRÔNICO DJe-204 DIVULG 14-08-2020 PUBLIC 17-08-2020)
Comentários
O tema abordado pela questão exige que o candidato esteja atualizado. Sabe-se que as sanções disciplinares
são aplicadas quando estiver comprovado que o reeducando praticou uma falta. No caso de faltas leves e
médias, as sanções serão definidas por lei estadual. Já no caso de faltas graves, a própria Lei de Execução
Penal as definirá, tanto para as penas privativas de liberdade (arts. 50 e 52 da LEP) quanto para as restritivas
de direitos (art. 51 da LEP).
Até pouco tempo, o entendimento do Superior Tribunal de Justiça era de que para a aplicação de sanção por
ocorrência de falta grave seria imprescindível a instauração de PAD, conforme prevê a Súmula 533 do STJ:
1. O Supremo Tribunal Federal tem entendido que a oitiva do condenado pelo Juízo da
Execução Penal, em audiência de justificação realizada na presença do defensor e do Ministério
Público, afasta a necessidade de prévio Procedimento Administrativo Disciplinar (PAD), assim
como supre eventual ausência ou insuficiência de defesa técnica no PAD instaurado para
apurar a prática de falta grave durante o cumprimento da pena.
2. No sistema de jurisdição una, o procedimento judicial conta com mais e maiores garantias que
o procedimento administrativo, razão pela qual o segundo pode ser revisto judicialmente,
prevalecendo a decisão judicial sobre a administrativa.
3. Por outro lado, em um sistema congestionado como o da Execução Penal, qualquer atividade
redundante ou puramente formal significa desvio de recursos humanos da atividade principal do
Juízo, inclusive e notadamente a de assegurar os benefícios legais para que ninguém permaneça
no cárcere por período superior à condenação.
4. Desse modo, a apuração de falta grave em procedimento judicial, com as garantias a ele
inerentes, perante o juízo da Execução Penal não só é compatível com os princípios do
contraditório e da ampla defesa (art. 5º, LIV e LV, da CF) como torna desnecessário o prévio
procedimento administrativo, o que atende, por igual, ao princípio da eficiência de que cuida
o art. 37 da Constituição Federal.
5. Provimento do Recurso com a afirmação da seguinte tese: “A oitiva do condenado pelo Juízo
da Execução Penal, em audiência de justificação realizada na presença do defensor e do
Ministério Público, afasta a necessidade de prévio Procedimento Administrativo Disciplinar
(PAD), assim como supre eventual ausência ou insuficiência de defesa técnica no PAD
instaurado para apurar a prática de falta grave durante o cumprimento da pena”.
(STF - RE 972598, Rel. Min. Roberto Barroso, Tribunal Pleno, julgado em 04/05/2020, Processo
Eletrônico Repercussão Geral - Mérito DJe-196 Divulg 05-08-2020 Public 06-08-2020 – grifou-
se)
Depois disso, alterando o posicionamento anterior, assim também decidiu o Superior Tribunal de Justiça:
2. O entendimento foi sumulado por esta Corte, conforme o enunciado 533 da Súmula do STJ:
"Para o reconhecimento da prática de falta disciplinar, no âmbito da execução penal, é
imprescindível a instauração de procedimento administrativo pelo diretor do estabelecimento
prisional, assegurado o direito de defesa, a ser realizado por advogado constituído ou defensor
público nomeado".
(STJ - AgRg no HC 581.854/PR, Rel. Min. Nefi Cordeiro, Sexta Turma, julgado em 04/08/2020, DJe
13/08/2020 – grifou-se)
Ou seja, a Súmula 533 do STJ está superada, ainda que não tenha sido formalmente cancelada e, assim, não
é imprescindível a instauração de procedimento administrativo disciplinar para a aplicação de sanção
disciplinar por falta grave.
Importante, contudo, é também se atentar para a tese firmada pelo STF no sentido de que estará afastada a
necessidade do PAD apenas em caso de “oitiva do condenado pelo Juízo da Execução Penal, em audiência
de justificação realizada na presença do defensor e do Ministério Público", destacamos.
Comentários
Sim, o Tribunal Superior Eleitoral, no AC nº 20.239/RJ, decidiu que a norma veiculada pelo art. 14, § 7º, da
Constituição da República, não tem o condão de tornar inelegível o cônjuge do Governador de Estado ou do
Distrito Federal para sua sucessão, tendo sido o titular eleito para o primeiro mandato e renunciado até seis
meses antes do pleito.
Comentários
O artigo 130 do Código Tributário Nacional traz a primeira hipótese de responsabilidade por sucessão:
Art. 130. Os créditos tributários relativos a impostos cujo fato gerador seja a propriedade, o
domínio útil ou a posse de bens imóveis, e bem assim os relativos a taxas pela prestação de
serviços referentes a tais bens, ou a contribuições de melhoria, subrogam-se na pessoa dos
respectivos adquirentes, salvo quando conste do título a prova de sua quitação.
Parágrafo único. No caso de arrematação em hasta pública, a sub-rogação ocorre sobre o
respectivo preço.
É importante observar que o dispositivo seguiu a linha do artigo 129, ao tornar os sucessores responsáveis
não apenas pelo tributo devido, mas por todo o crédito tributário. Quanto ao seu âmbito de abrangência, a
norma trouxe os seguintes requisitos para caracterização dessa modalidade de responsabilidade:
2º: O imóvel tenha provocado a ocorrência de fato gerador cuja obrigação não tenha ainda sido extinta, com
relação aos seguintes tributos: a) impostos cujo fato gerador seja a propriedade, o domínio útil ou a posse.
É o caso do ITR e do IPTU; b) taxas pela prestação de serviços, do que é exemplo a taxa de lixo; c)
contribuições de melhoria.
3º: A prova da quitação desses tributos não conste do título de aquisição, conforme ressalva expressa
prevista pelo artigo 130 do CTN. Assim, se na transação restar comprovado, por meio de certidões emitidas
pelas fazendas públicas, a inexistência de débitos com relação ao imóvel transacionado, eventual equívoco
na informação certificada não justifica a cobrança do valor apurado do adquirente.
4º: O bem não tenha sido adquirido em hasta pública, caso em que incide o parágrafo único do artigo 130.
Presentes os pressupostos acima mencionados, deve ocorrer a consequência prevista pelo dispositivo,
segundo a qual os créditos tributários relativos a esse imóvel “subrogam-se na pessoa dos respectivos
adquirentes”.
O termo sub-rogação é normalmente utilizado no sentido de substituição, razão pela qual a doutrina
majoritária adere ao posicionamento de que, ocorrida a hipótese prevista no artigo 130 do Código Tributário
Nacional, o contribuinte originário é excluído do polo passivo, que passa a ser ocupado exclusivamente pelo
responsável tributário. Nessa perspectiva, a Fazenda Pública não poderia mais cobrar o crédito tributário do
antigo proprietário, mas tão somente do novo adquirente.
No entanto, não foi essa a interpretação adotada recentemente pelo Superior Tribunal de Justiça quando do
julgamento do AREsp 94294053.
A Corte assentou que a sub-rogação referida nesse dispositivo não deve ser interpretada da mesma forma
que a sub-rogação do Direito Civil. Isso porque, segundo o relator, a sub-rogação do Direito Civil é sempre
no crédito e decorre do pagamento de um débito. Ou seja, quem paga determinada dívida sub-roga-se em
todos os direitos, ações, privilégios e garantias do credor primitivo em relação ao devedor principal e fiadores
(art. 349, do CC/2002). No Direito Tributário, todavia, a sub-rogação é na posição de devedor, assemelhando-
se a uma cessão de dívida, com todas as consequências pertinentes. Ademais, segundo a Corte, não seria
razoável que a garantia do credor pudesse ser desfalcada em razão de um negócio jurídico do qual não
participou.
Assim, para o Superior Tribunal de Justiça, a responsabilidade do artigo 130 do Código Tributário Nacional
“tem caráter solidário, aditivo, cumulativo, reforçativo e não excludente da responsabilidade do alienante,
cabendo ao credor escolher o acervo patrimonial que melhor satisfaça o débito cobrado a partir dos vínculos
distintos”.
Comentários
A questão referente ao processo e ao direito coletivo refere à necessidade de adoção de uma fórmula
instrumental nova, a fim de solucionar os conflitos decorrentes da mudança social.
Processo Coletivo: “compreendido como o conjunto de normas e princípios que regem o equacionamento
dos conflitos envolvendo direitos ou interesses coletivos em sentido amplo, desse suas origens, sua evolução,
53
STJ - AgInt no AREsp: 942940 RJ 2016/0168848-2, Relator: Ministro HERMAN BENJAMIN, Data de Julgamento: 15/08/2017, T2 -
SEGUNDA TURMA, Data de Publicação: DJe 12/09/2017)
com dados úteis colhidos no Direito Comparado, sua configuração atual, seus institutos e, finalmente, suas
perspectivas.” (Ricardo Barros Leonel. Manual do Processo Coletivo. 4ª ed. 2017. Malheiros. P. 25.
“Processo Coletivo é aquele instaurado por ou em face de um legitimado autônomo, em que se postula um
direito coletivo lato sensu ou se afirma a existência de uma situação jurídica coletiva passiva.” (João Paulo
Lordelo. Manual Prático de Processo Coletivo. 8ª ed. 2018).
Comentários
Sim, é imprescindível a organização do Ministério Público junto ao Tribunal de Contas, como decidiu o
Supremo Tribunal Federal na Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 2.884, in expressis: “o Ministério
Público especial junto aos Tribunais de Contas qualifica-se como órgão estatal dotado de identidade e de
fisionomia próprias que o tornam inconfundível e inassimilável à Instituição do Ministério Público comum.
Não se reveste de legitimidade constitucional a participação do Ministério Público comum perante os
Tribunais de Contas dos Estados, pois essa participação e atuação acham-se constitucionalmente reservadas
aos membros do Ministério Público especial” (STF, ADIn nº 2.884, Rel. Min. Celso de Mello, J. 2.12.2004, DJU
20.5.2005).