154-Texto Do Artigo-325-298-10-20220527
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1. Professora Doutora do Departamento de Língua e Literatura Vernáculas e do PROFLETRAS da Universidade Federal de Santa Catarina. E-mail:
[email protected].
2. Graduada em Biblioteconomia. Universidade Federal de Santa Catarina.
Todo o conteúdo deste periódico está licenciado com uma licença Creative Commons (CC BY-NC-ND 4.0 Internacional),
exceto onde está indicado o contrário.
Alberto Manguel (1948) nasceu em Buenos Aires, na Argentina. Por ser filho de diplomata, mudou-
se muito jovem para a Europa para estudar, mas logo assumiu, como ele mesmo diz, uma vida nômade.
Esteve em diversos países como França, Espanha, Inglaterra e Canadá. Na sua juventude, lia para Jorge
Luís Borges. Manguel é um escritor de ficção e não ficção. Publicou diversos livros: “Uma história natural
da curiosidade” (2016), “Todos os homens são mentirosos” (2008), “A biblioteca à noite” (2006), “Uma
história da leitura” (1996), entre outros. “Encaixotando minha biblioteca: uma elegia e dez digressões” fala
sobre a relação de Manguel com os livros. Ele retrata sua experiência de encaixotar sua tão estimada
p. 101
VASCONCELOS, S. I. C. C.; KAFER, E. L. Reflexões sobre bibliotecas e leitura com Alberto Manguel. Open Minds International Journal. São Paulo, vol. 3,
n.1: p. 101-102, Jan, Fev, Mar, Abr/2022. ISSN 2675-5157
Open Minds International Journal
São Paulo, v. 3, n. 1, 2022. ISSN 2675-5157
DOI: https://doi.org/10.47180/omij.v3i1.154
RESENHA CRÍTICA
biblioteca na França em 2015. O autor apresenta nas dez digressões não apenas seu amor pelos livros, mas
também reflexões acerca da importância das bibliotecas e da leitura para a sociedade. É um livro que
interessa a bibliotecários, escritores e amantes de livros e/ou bibliotecas.
Alberto Manguel começa descrevendo sua casa na França e sua enorme biblioteca particular. Como
se estivesse em uma conversa casual com o leitor, transmite nas palavras escritas sua paixão pela biblioteca:
“Muitas vezes senti que minha biblioteca explicava quem eu era” (p. 16). Ele exprime sua tristeza ao ter
que encaixotar novamente seus livros e ver o espaço vazio onde eles deveriam estar, porém é a consequência
de sua vida nômade. Por essa razão ele usa o termo “elegia” que remete a essa tristeza ao encaixotar a
biblioteca.
Este livro não mente em sua sinopse quando diz ser uma “Grande declaração de amor aos livros e à
leitura”. Se o livro é uma grande declaração, quem o lê é a testemunha. O autor separa seu livro em
digressões no lugar dos capítulos, pois ele divaga enquanto conta sua história. Esses devaneios favorecem
a sensação de estar em uma conversa. Nessas digressões, há reflexões sobre o incêndio da Biblioteca de
Alexandria, sobre escritores e sua tarefa de encontrar as palavras certas. Mas há sempre um ponto em
comum: o amor pelos livros e discussões relativas à leitura e à sociedade.
Manguel, em suas digressões, nos conta sobre o convite para regressar a Buenos Aires com o
objetivo de trabalhar como diretor na Biblioteca Nacional do país em que nasceu. O argentino expõe as
dificuldades que enfrentou nessa fase: “De um dia para o outro, tornei-me contador, técnico, advogado,
arquiteto, eletricista [...]” (p.152). Para além das dificuldades, ele levanta um debate sobre a leitura
incentivar ou não a formação de cidadãos éticos. O autor estimula a reflexão usando perguntas instigantes
e conclusões muito bem elaboradas, sempre fundamentadas em referências tiradas da literatura. O livro traz
temas relevantes para bibliotecários sobre a importância da biblioteca ser inclusiva, e isso envolve ter meios
para que não alfabetizados possam aproveitá-la. Sobre a formação de leitores, “O único método
comprovado de fazer nascer um leitor é um que ainda não foi descoberto, que eu saiba” (p. 165).
A mais nova publicação de Alberto Manguel é mais que apenas uma autobiografia, é o transbordar
de experiências esperadas de um leitor tenaz, dono de uma biblioteca particular extremamente rica em
quantidade e qualidade. Durante a leitura, deparamo-nos com diversas referências que o autor usa para
fundamentar seus argumentos, desde Platão, Sófocles até Cervantes, Kafka e Dostoiévski.
Enfim, ler “Encaixotando minha biblioteca” é como ter um diálogo com Manguel, é poder ouvir
suas vivências e, quem sabe, aprender um pouco com elas. Mesmo possuindo.
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VASCONCELOS, S. I. C. C.; KAFER, E. L. Reflexões sobre bibliotecas e leitura com Alberto Manguel. Open Minds International Journal. São Paulo, vol. 3,
n.1: p. 101-102, Jan, Fev, Mar, Abr/2022. ISSN 2675-5157