2016 - ABC - Minério de Niquel Sulfetado
2016 - ABC - Minério de Niquel Sulfetado
2016 - ABC - Minério de Niquel Sulfetado
níquel sulfetado
no Brasil
João Batista Guimarães Teixeira
Consultor Independente - Grupo de Metalogênese,
Centro de Pesquisa em Geofísica e Geologia,
Instituto de Geociências, Universidade Federal da Bahia
RESUMO
Os principais países produtores de níquel nos últimos cinco anos foram: Filipinas (18,46%), Indonésia
(15,06%), Rússia (13,97%), Austrália (11,42%) e Canadá (10,94%). O crescimento da economia mundial
no início da década de 2000 gerou o aumento da produção do níquel metálico, que atingiu 1,416 milhões
de toneladas em 2007. O Brasil apresentou uma expansão de 14,5% no volume de suas reservas e uma
retração de 24,9% na produção de níquel no período 2013-2015. Três depósitos de níquel sulfetado
encontram-se em produção no país: Americano do Brasil, em Goiás; Fortaleza de Minas, em Minas
Gerais e o depósito de Santa Rita, na Bahia. A escassez de depósitos de níquel sulfetado no Brasil
pode ser creditada a uma série de fatores, dentre eles a carência de mapas geológicos de detalhe ou
em escala adequada e a ausência de levantamentos básicos de prospecção, envolvendo geofísica,
geoquímica e sensoriamento remoto.
As superligas de níquel, que foram inventadas na quel foram iniciados em todo o mundo, incluindo os
década de 1930, com características de elevada projetos brasileiros de Barro Alto (GO) e Onça-Puma
resistência mecânica, boa resistência à fadiga e à (PA), com capacidade combinada de mais de 100.000
fluência, boa resistência à corrosão e capacidade de t por ano, ao atingirem plena produção.
operar continuamente em elevadas temperaturas. No período de 2008 a 2009, instalou-se a crise eco-
Além das turbinas de jatos, as superligas de níquel nômica internacional, causando forte retração nas
encontram aplicações variadas em altas tempe- atividades de mineração. Como resultado, ocorreu a di-
raturas, como em motores de foguetes e veículos minuição na produção de níquel, que decaiu para 1,32
espaciais em geral, reatores nucleares, submarinos, milhões de toneladas. Em 2011, a produção mostrou
usinas termoelétricas e equipamento da indústria um leve crescimento para 1,810 milhões de toneladas.
petroquímica. Em 2014, foi observada a expressiva redução de 10%
no total da produção de níquel eletrolítico (Tabela 1).
Os principais países produtores de níquel nos úl-
MERCADO MUNDIAL timos cinco anos foram: Filipinas (18,46%), Indonésia
(15,06%), Rússia (13,97%), Austrália (11,42%) e Canadá
O crescimento da economia mundial no início da dé- (10,94%). De acordo com o DNPM (2014), o Brasil
cada de 2000 gerou o aumento da produção do níquel apresentou uma expansão de 14,5% no volume de
metálico, que atingiu 1,416 milhões de toneladas (t) suas reservas e uma retração de 24,9% na produção
em 2007. Entretanto, ainda naquele ano, a indústria de níquel no período 2013-2015.
chinesa iniciou a produção de aços inox série 200, um Em janeiro de 2014, o governo da Indonésia proibiu
novo tipo de aço inoxidável contendo Cr e Mn, que a exportação de minérios brutos, inclusive de níquel
requer menores concentrações de níquel do que os laterítico. Por este motivo, o preço do metal voltou a
aços comuns. Outro substituto, também desenvolvi- subir até o segundo semestre do mesmo ano, quando
do na China, é o gusa-níquel (Nickel Pig Iron -NPI), entrou novamente em queda, atingindo hoje valores
formado pela fusão do minério laterítico, tendo como em torno de USD13,000/t, os mais baixos dos últimos
resultado uma liga de ferro-níquel de alto teor. Além anos. A Figura 1 mostra o gráfico da evolução do preço
da produção de NPI na China, vários projetos de ní- do níquel em USD por tonelada nos últimos cinco anos.
Tabela 1 Principais países produtores de níquel no mundo 2010-2014 (em toneladas métricas).
Figura 2 Localização dos três depósitos de níquel sulfetado que se encontram atualmente em produção no Brasil (Fonte: Elaborada pelo autor).
120 Recursos Minerais no Brasil: problemas e desafios
3 km, mostrando-se alongado na direção leste-oeste. G2. O corpo de minério S1, hospedado por websterito
Esta intrusão é associada a um conjunto de cerca de e gabronorito na sequência mais fracionada do com-
vinte outras intrusões correlatas do Arco Magmático de plexo, forma um conjunto de vários corpos irregulares
Goiás, formadas durante o Ciclo Orogênico Brasiliano e descontínuos de sulfetos de Ni-Cu disseminados
(0,67-0,60 Ga). (Figura 3). Estes corpos apresentam características
Os principais tipos litológicos do depósito são como geometria, teores, relações de contato e estru-
cumulados que variam de dunito, peridotito, piroxe- turas próprias, bem como diferentes posições espacias
nito, hornblendito a diversos tipos de rochas gabróicas. dentro do complexo (SILVA et al., 2011). Americano do
Estes formam duas sequências com composição e Brasil tem reservas estimadas em 5,0 Mt de minério,
evolução distintas, denominadas, respectivamente, a teores de 0,62% Ni, 0,65% Cu e 0,04% Co (NILSON
Sequência Norte e Sequência Sul. O depósito é formado et al., 1986).
por quatro corpos de minério, chamados S1, S2, S3 e
Figura 3 (a) Sulfetos disseminados no corpo de minério S1 de Americano do Brasil; (b) fotomicrografia de sulfetos mostrando grãos arredondados de
pirita circundados por pirrotita e calcopirita; (c) fotomicrografia plagioclásio intercumulus intimamente associado a sulfetos; (d|) minério com
textura reticulada, em testemunho de sondagem; (e) fotomicrografia de contato gradational entre sulfetos maciços e grãos de ortopiroxênio;
(f) fotomicrografia de sulfetos intersticiais e cristais cumulados de ortopiroxênio (Fonte: SILVA et al., 2011).
Capítulo I Potencial Mineral do Brasil 121
Figura 4 Variedades de minérios remobilizados de Fortaleza de Minas. (A) Minério de pirrotita, calcopirita e pentlandita em fraturas de serpentinito;
(B) minério em serpentinito; (C) minério cisalhado com leitos de sulfetos na foliação milonítica de serpentinito e talco xisto; (D) minério com
remobilização de pirrotita e pentlandita em fraturas do serpentinito; (E) minério com alternância de leitos de silicatos, óxidos e sulfetos; (F)
aparência geral do minério de formação ferrífera da lapa do corpo mineralizado; (G) formação ferrífera da fácies sulfeto transformada em
minério por injeções de minério maciço; (H) minério com veios de pentlandita e calropirita remobilizados em fraturas de formação ferrífera
(Fonte: CARVALHO; BRENNER, 2010).
122 Recursos Minerais no Brasil: problemas e desafios
olivina ortopiroxenito e ortopiroxenito (Figura 5). As da ordem de 1,6 Mt, tendo Rússia, Canadá e Indonésia
reservas são estimadas em 18 Mt de minério, com como os principais produtores. As duas principais
0,50% Ni, 0,20% Cu e 0,35 g/t de Pt + Pd (FERREIRA empresas produtoras no Brasil eram a Votorantim e
FILHO et al., 2013). a Anglo American, com três complexos metalúrgicos
produzindo matte de níquel, liga FeNi, carbonato de
níquel e níquel eletrolítico.
PANORAMA DO MERCADO BRASILEIRO A Vale iniciou a implementação do projeto Onça
Puma, no Pará. Outro importante projeto de níquel en-
De acordo com dados da ABM – Associação Brasileira trou em fase de implementação pela Anglo American,
de Metalurgia e Materiais, em 2006, o Brasil produziu em Barro Alto (GO). O tipo de minério desses projetos
36.300 t de níquel. A produção mundial naquele ano é predominantemente laterítico. Outros projetos de
foi de 1,3 Mt. As exportações alcançaram 24.000 t e as níquel que entraram em fase de implantação foram
importações atingiram 6.000 t. Os investimentos em Vermelho (PA) e São João do Piauí (PI), da Vale, e Jacaré
curso na época foram da ordem de US$4,0 bilhões. Em (PA), da Anglo American.
outubro de 2006, a Vale iniciou o processo de aquisição A empresa Mirabela Mineração iniciou suas ope-
da INCO, grande produtora de níquel no Canadá. rações em 2009 na Mina Santa Rita, em Itagibá (BA),
Segundo dados do Plano Nacional de Mineração produzindo sulfeto de níquel para exportação (50%)
2030, do Ministério de Minas e Energia, em 2008, o e comercializando o restante para produção metálica
Brasil ocupava o 13o lugar no mundo, atingindo a marca no Brasil.
de 67.000 t de níquel. A oferta mundial naquele ano foi
Figura 5 Fotomicrografias do minério sulfetado do depósito de Santa Rita, hospedado em dunito. (A) Minério intersticial típico, em ortopiroxenito; (B)
massa de sulfeto constituída por agregados de grão fino de pentlandita, pirrotita e pirita com calcopirita subordinada (cor amarelo forte). O
ortopiroxênio em contato com os sulfetos apresenta bordas arredondadas; (C) massa de sulfeto constituída por agregados de grão fino de
pentlandita e pirita com pirrotita subordinada; (D) massa de sulfeto constituída por agregados de grão fino de pentlandita, pirrotita e pirita com
calcopirita subordinada. O comprimento do lado maior do retângulo nas fotomicrografias B, C e D é de 5,00 mm, enquanto na fotomicrografia
A é de 1,25 mm (FERREIRA FILHO et al., 2013).
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