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Chovia muito lá fora.

Annie, uma garota de 10 anos, ouvia o cintilar das gotas caindo entre os
vãos do teto de madeira. A pouca luz das velas que restava apagava-se conforme o vento as
soprava. A garota aprendera a se virar desde que se entendia por gente, sua avó, a única
pessoa que vivia em sua casa além dela, era fraca o bastante para levantar às pálpebras e
nunca saia da sua cadeira de balanço, nem para tomar banho, fator que sempre fizera Annie se
questionar como a idosa nunca fedia apesar de anos sem se limpar. Annie só tinha certeza de a
avó estar viva devido ao seu ronco que ecoava por toda casa. Mais de tarde, o vento apagara
todas as velas da casa exceto uma, Annie correu e apanhou a mesma, colocando-a sobre um
prato em cima do colo da avó para que ambas pudessem se aquecer em meio ao vendaval,
mas a resposta da vó fora a mesma, um ronco após o outro, sem esboçar qualquer tipo de
reação. Annie refletia se realmente a avó estava viva ou seus roncos eram fruto de sua
imaginação, quando de repente ouviu um som estrondoso vindo da cozinha. Assustada, a
garota apanhou o prato e foi investigar o que era. Chegando na cozinha, não notara nada de
diferente, tanto os velhos e mofados armários quanto a pequena mesa irregular estavam
intocáveis, ao se virar para trás tomou um susto, um pequeno gato preto de olhos esmeralda a
fitava com um olhar avassalador, seus grandes olhos cor-de-lima e suas afiadas pupilas
despiam-na até à alma. Annie olhou para o gato e perguntou:

--Como entrou aqui, Gato?

O gato respondera com uma voz incrivelmente grossa e sarcástica:

--Bem eu simplesmente apareci, mas deves estar se perguntando como. Eu sempre apareço
cedo ou tarde, as pessoas tentam me evitar, me negar, e até fugir de mim, mas no fim não
conseguem, uma vez que apareço, é impossível se livrar de mim.

Annie olhava o animal com desconfiança:

--Mas, então, como devo chama-lo?

--Bem... Já me deram muitos nomes, bons, maus, nomes odiosos, calorosos, não me importo.
Gostei deste nome que me dera, pode-me chamar de Gato. Está frio e escuro de mais aqui,
estás vendo aquela porta -- O gato apontou com seu com seu nariz pontiagudo à uma estreita
porta branca atrás das costas da garota. --Vamos dar um passeio, devo-te mostrar algumas
coisas.

A garota nunca tinha reparado que a porta existia, mesmo passando a vida inteira na casa, mas
ainda assim sentia-se intrigada e questionou a criatura:

--Gato, mas afinal, o que existe além da porta? E sinto muito, porém não poderei ir, pois minha
avó está sozinha lá na sala.

--Menina, primeiramente, estragaria a surpresa se te contasse os mistérios que envolvem a


porta, segundo, que a única coisa que sua avó faz é dormir, veja, não faria nem um mal sairmos
por somente um instante.

--Mas como passaríamos em meio a essa tempestade? --Retrucara Annie.

O gato gargalhou

--Minha querida, por que ainda está relutante em não ir? Venha, precisas conhecer a verdade
que tenho a te proporcionar, e também vejo que apesar da resistência, sua alma está inquieta
e tentada a desvendar os mistérios que a porta guarda em seu interior.
Annie sabia que o que o animal falava era verdade, mas mesmo assim conseguia enxergar um
pouco de maldade e astúcia nos olhos do felino.

--Assim irei, mas não demorarei! Minha avó está sozinha, e outra, veja, minha vela está quase
acabando, logo não teremos muito tempo, aprece-se no que tem à me mostrar!

O gato limitou-se à rir.

--Ótima decisão, pequena. Vamos! Não irá querer perder nenhum detalhe.

Annie abria caminho, iluminando o trajeto com o resto que restava da vela, Gato encontrava-se
logo atrás, olhando diretamente às costas da menina, seus olhos ardiam em meio a escuridão.
Ao chegarem na porta, Annie viu que Gato agora encontrava-se à seu lado e ambos encararam-
se por um instante. A porta levava à um pequeno quarto de bebê, os raios do sol atravessavam
a janela e produziam um incrível arco-íris na parede branca atrás de Annie. A garota
maravilhava-se com o quarto, quando ouviu um choro. Um lindo berço branco encontrava-se
abaixo da janela, nele um bebê chorava, foi só então que a garota se lembrou de que o gato
ainda estara à seu lado, intrigada, perguntou:

--Gato, onde estamos?

Gato respondera:

--Onde estamos, de onde viemos e para onde iremos. Perguntas tolas que os humanos não são
capazes de responder. Quanto a sua questão, creio que a entenderá em breve, para isso, basta
seguirmos em frente e atravessar aquela outra porta.

Annie não tinha percebido, mas havia uma estreita porta branca ao lado do berço, desta vez a
porta possuía diversos arranhões e marcas de uso e tempo. O felino abrira caminho e Annie o
acompanhou. Somente uma fração da vela de Annie restava no prato, e Annie sabia que
precisava se apressar pois sua avó ainda estava sozinha na casa. No outro lado da porta, a
garota deslumbrara um incrível bosque verdejante, à cima de sua cabeça, conseguia ver às
mais variadas árvores frutíferas que conhecia, sob seus pés, flores de todas as cores coloriam o
solo pincelavam o solo com tons de violeta, amarelo e azul. Gato olhava-a como um lobo olha
para um cordeiro, especialmente em direção ao pouco da vela que restava, e a menina
indagou:

--Por que estamos aqui afinal?

Gato mudou a direção de seu olhar, e olhos diretamente aos olhos da menina. Por algum
motivo, o medo tomou conta do coração de Annie, e ela já sabia que havia algo estranho no
animal, o verde de seus olhos parecia arder suas entranhas, e o negro de seus pelos era mais
sombrio que todas as tormentas que já sofrera.

Gato sorriu.

--Querida, por que perdes o teu tempo interrogando-me invés de apreciar o que tenho a te
mostrar...

Neste momento, uma menina surgira em meio às árvores, brincando. Era a própria Annie, um
ou dois anos mais nova. A garota mais velha t

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