Jaborandi
Jaborandi
Jaborandi
Apresentação
O Brasil é um dos maiores detentores de biodiversidade do planeta, abrangendo quase um terço de
toda a floral mundial. Porém o grande potencial econômico e social desses recursos naturais ainda é
pouco explorado no país, principalmente com relação ao desenvolvimento do setor farmacêutico,
seja como fonte de novas matérias-primas, seja como precursores de moléculas terapeuticamente
ativas.
Como exemplo, merece destaque o jaborandi (Pilocarpus spp.), um arbusto que pertence à família
das rutáceas. Os estudos sobre suas propriedades farmacológicas, com base em seu uso tradicional
por comunidades indígenas do Brasil, têm despertado o interesse da indústria farmacêutica. Tal
interesse se deve não apenas à pilocarpina, mas também a vários outros metabólitos secundários
com elevado potencial terapêutico presentes em outras espécies de Pilocarpus.
Bons estudos.
Além disso, sabe-se que 75% dos princípios ativos usados pela indústria farmacêutica para a
produção de medicamentos foram descobertos e isolados a partir de informações sobre o uso
popular/tradicional de plantas medicinais em sociedades nativas.
A maioria dos alcaloides isolados do gênero Pilocarpus é do tipo imidazólico. Acredita-se que o
grupo imidazol seja derivado da histidina, um de seus precursores biossintéticos. Outros alcaloides
não imidazol também foram encontrados nesse gênero.
Neste Infográfico, você vai poder revisar os principais alcaloides presentes em espécies de
Pilocarpus, com seus respectivos efeitos farmacológicos e as principais formas comerciais da
pilocarpina.
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Conteúdo do livro
Já se sabe que o Brasil é um país com uma das maiores biodiversidades do planeta, principalmente
em espécies vegetais. Porém, apesar de as plantas serem os grupos de seres vivos mais bem
estudados por pesquisadores brasileiros, muitas espécies ainda continuam desconhecidas sob o
ponto de vista farmacológico.
Apesar disso, diversas pesquisas têm revelado que muitas plantas medicinais usadas por
comunidades e pela população em geral apresentam diversas moléculas bioativas em sua
composição, com elevado potencial social e econômico para o tratamento e alívio de várias
doenças.
Boa leitura.
FARMACOGNOSIA
APLICADA
Introdução
O Brasil é um dos países com a maior biodiversidade do planeta, com-
portando cerca de 20% de todas as espécies vegetais, distribuídas em
diferentes biomas, como Amazônia, Caatinga, Cerrado e Pantanal. Apesar
de as plantas serem o grupo de seres vivos mais bem estudado no Brasil,
muitas delas ainda continuam desconhecidas sob o ponto de vista cien-
tífico. Apenas 5% de sua vasta diversidade foi investigada sob o ponto de
vista farmacológico. Diante dessa estimativa, podemos dizer que ainda
existe um grande potencial para a pesquisa fitoquímica e a descoberta
de novos compostos bioativos relevantes e úteis como matéria-prima
para o desenvolvimento de novos fármacos de elevado valor econômico
e social para a população.
Neste capítulo você vai estudar uma das principais espécies de uso
medicinal no Brasil, conhecida como jaborandi (Pilocarpus spp.). Também
vai conhecer alguns de seus principais compostos bioativos (metabólitos
especializados), sua relação com as principais rotas biossintéticas e a
importância de cada um deles para o setor médico e farmacêutico.
2 Jaborandi
1 Pilocarpus
Na variada e valiosa biodiversidade do Brasil, podemos encontrar inúmeras
espécies vegetais de uso medicinal, entre as quais merece destaque o jaborandi
(Pilocarpus spp.), um arbusto de médio porte (3 a 7,5m de altura) e bastante
ramificado, pertencente à família das Rutáceas (PINHEIRO, 2002; SAWAYA
et al., 2010; SANTOS; MORENO, 2004).
Em geral, os exemplares dessa espécie são bem distribuídos em quase todo
o território brasileiro, principalmente nas regiões Norte e Nordeste (veja o
Quadro 1, mais adiante), e apresentam folhas compostas e folíolos coriáceos,
de forma lanceolada. Suas flores são pequenas e dispostas em racimos com-
pactos, como pode ser visto na Figura 1. Os frutos são dispostos em cachos
brancos contidos em cápsulas de córtex acinzentado e liso (PINHEIRO, 2002).
Figura 1. (a) Folhetos terminais de P. microphyllus. (b) P. microphyllus colhidas com tesouras
de poda.
Fonte: Lima et al. (2017, documento on-line).
Espécies Localização
Pilocarpus pennatifolius Lemmaire Bahia, Goiás, Mato Grosso and Mato Grosso
do Sul, Minas Gerais, Paraná, Pernambuco, Rio
Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo
Pilocarpus spicatus St. Hilaire Bahia, Espírito Santo, Rio de Janeiro e São Paulo
O jaborandi foi apresentado à medicina ocidental pela primeira vez em 1873, quando
o médico Symphrônio Coutinho levou uma folha como amostra para a Europa. Pouco
tempo depois, em 1875, seu alcaloide principal, a pilocarpina, foi isolado. Curiosamente,
o seu efeito oftalmológico foi uma descoberta secundária — foi seu uso entre os índios
brasileiros para causar suor intenso e salivação o que de fato despertou o interesse
dos médicos (PINHEIRO, 2002).
2 Biossíntese da pilocarpina
Apesar de todos os alcaloides apresentarem aminoácidos na sua biossín-
tese, a variedade estrutural dessa classe é enorme. Já foram descritos milha-
res de estruturas químicas diferentes para alcaloides isolados de vegetais.
Essa diversidade estrutural está diretamente associada às unidades precursoras
de aminoácidos e à via biossintética. Por exemplo, entre os aminoácidos precur-
sores, destacam-se a fenilalanina, a tirosina, o triptofano, a lisina e a ornitina.
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Alcaloides
A maioria dos alcaloides isolados do gênero Pilocarpus é do tipo imidazólico,
cujo grupo imidazol acredita-se que seja derivado da histidina, um de seus
precursores biossintéticos. Outros alcaloides não imidazol também foram
encontrados neste gênero (SAWAYA et al., 2010). Veja na Figura 4 a lista e a
estrutura química dos alcaloides imidazólicos extraídos de Pilocarpus.
Ao longo dos anos, alguns pesquisadores tentaram sintetizar alguns desses
alcaloides, porém os rendimentos finais eram muito baixos e comercialmente
inviáveis. Por isso, as folhas de espécies de Pilocarpus continuam sendo a
principal fonte de pilocarpina. A pilocarpina e outros alcaloides semelhantes
foram isolados de várias espécies de Pilocarpus, porém, apesar da semelhança
estrutural, como já abordamos, apenas a pilocarpina possui atividade no
sistema nervoso central (SNC), com ação colinérgica direta sobre o sistema
parassimpático (bexiga, glândulas lacrimais, sudoríferas e salivares). Segundo
Sawaya et al. (2010), também é bastante utilizada no tratamento do glaucoma
e da xerostomia em pacientes submetidos à radioterapia.
Já o seu isômero, a isopilocarpina, em geral está presente nas espécies de
Pilocarpus apenas em concentrações muito baixas. Além disso, não apresenta
qualquer atividade farmacológica com potencial terapêutico (SAWAYA et
al., 2010).
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Cumarinas
As cumarinas são metabólitos secundários biossintetizados a partir do ácido
p-cumárico, um derivado da fenilalanina. Além das cumarinas simples, como
a escopoletina, nas espécies Pilocarpus também são encontradas pirano- ou
furanocumarinas (chalepina e bergaptina) ou com uma estrutura angular
(alo-xantoxiletol e 3-metoxi-angelicina), como você pode ver na Figura 5.
A eficácia de infusões de jaborandi no tratamento de doenças de pele
(psoríase e vitiligo) pode estar relacionada a essa classe de produtos naturais.
Algumas cumarinas também apresentaram bons resultados como antioxidante
e contra a doença de Chagas. Já as cumarinas sintéticas derivadas da seselina
exibem atividade potencial contra o HIV (SAWAYA et al., 2010).
Flavonoides
Os flavonoides representam um dos grupos mais importantes de metabólitos
secundários e, como as cumarinas, também são biossintetizados a partir da
fenilalanina. Entre outras as atividades atribuídas aos flavonoides, merecem
destaque a ação antioxidante, analgésica, sedativa e anti-inflamatória.
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Terpenos
Vários estudos apontam a presença de terpenos nas espécies de Pilocarpus,
principalmente óleos voláteis. Os terpenos são biossintetizados a partir de
isopentenil difosfato, pela via do mevalonato, que dá origem a mono-(C10),
sesqui-(C15), di-(C20) e triterpenos (C30). Nas plantas, os terpenos desem-
penham papel fundamental na atração de polinizadores, garantindo a repro-
dução dos vegetais. Eles também apresentam uma variedade de atividades
biológicas, como inseticida, antimicrobiano e antisséptico (SAWAYA et al.,
2010). Acompanhe a estrutura química de alguns terpenoides extraídos de
Pilocarpus na Figura 7.
12 Jaborandi
Figura 8. Estruturas químicas de uma lignina, (1) lirioresinol B, e de uma amida, (2) pelitorina,
extraídas de espécies de Pilocarpus.
Fonte: Sawaya et al. (2010, documento on-line).
SANTOS, A. P.; MORENO, P. R. H. Pilocarpus spp.: revisão sobre sua constituição química
e atividades biológicas. Revista Brasileira de Ciências Farmacêuticas, v. 40, nº. 2, p.115-137,
abr./jun. 2004. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pi
d=S1516-93322004000200002. Acesso em: 27 fev. 2020.
SAWAYA, A. C. H. F. et al. Pilocarpine and Related Alkaloids in Pilocarpus Vahl (Rutaceae).
In: CASSIANO, N. M. (ed.). Alkaloids: properties, applications and pharmacological effects
(biochemistry research trends). New York: Nova Science Publishers, 2010. p. 63–80.
SOURCETECH. Pilocarpina. c2020. Disponível em: https://www.sourcetech.com.br/
pilocarpina/#. Acesso em: 27 fev. 2020.
Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu fun-
cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a
rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de
local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade
sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links.
Dica do professor
Entre as inúmeras espécies de uso medicinal no Brasil, merece destaque o jaborandi (Pilocarpus
spp.), um arbusto de médio porte, muito ramificado e bem distribuído em quase todo o território
brasileiro, principalmente nas regiões Norte e Nordeste.
Porém, devido à grande diversidade dessa espécie, é fundamental realizar a correta identificação do
material vegetal a ser utilizado, seja de forma caseira para o tratamento de doenças, seja para a
produção industrial de fitoterápicos.
Nesta Dica do Professor, você vai conhecer técnicas e exemplos para identificar corretamente uma
planta medicinal e evitar efeitos indesejáveis, tóxicos ou fatais.
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Exercícios
1) A vasta biodiversidade do Brasil pode fornecer inúmeras plantas medicinais. Entre elas está
a espécie Pilocarpus jaborandi, que apresenta grande valor comercial devido à presença de
pilocarpina, um alcaloide imidazol cuja principal ação farmacológica é usada atualmente no
tratamento do glaucoma.
A) No tratamento de inflamação.
B) No tratamento de xerostomia.
C) No tratamento de hipertensão.
D) No tratamento de infecção.
E) No tratamento de cefaleia.
A) Pilocarpus alatus.
B) Pilocarpus carajaensis.
C) Pilocarpus microphyllus.
D) Pilocarpus giganteus.
E) Pilocarpus grandiflorus.
A) Ornitina e arginina.
B) Lisina e fenilalanina.
C) Tirosina e triptofano.
D) Histidina e treonina.
E) Treonina e lisina.
4) Além dos alcaloides, como a pilocarpina, nas espécies de Pilocarpus também são encontrados
vários outros metabólitos secundários com efeitos terapêuticos relevantes. Nesse sentido,
qual metabólito a seguir está presente em espécies de Pilocarpus com eficácia para doenças
dermatológicas, como psoríase, por exemplo?
A) Terpenos.
B) Cumarinas.
C) Flavonoides.
D) Ligninas.
E) Triterpenos.
A) Isopilocarpina.
B) Epiisopiloturina.
C) Isopilocarpidina.
D) Pilosinina.
E) Anidropilosina.
Na prática
Os produtos naturais derivados de plantas têm sido as fontes de medicamentos há milhares de
anos. De fato, as plantas têm sido usadas popularmente para o tratamento de muitas doenças
diferentes, e várias pesquisas fitoquímicas de muitas espécies revelaram a presença de um grande
número de novos compostos pertencentes a diferentes classes farmacêuticas.
Várias plantas da família Rutaceae são economicamente valiosas, seja como alimento, uso
ornamental ou medicinal. O gênero Pilocarpus, que pertence a essa família, encontra-se distribuído
por quase todo o território brasileiro e a maioria de suas espécies é nativa do Brasil, popularmente
conhecida como jaborandi.
Veja, Na Prática, um estudo sobre o alcaloide das folhas de P. microphyllus, a epiisopiloturina, para
tratamento da esquistossomose.
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Sourcetech Química
Acesse o site para conhecer um pouco mais sobre a Sourcetech Química, empresa que se dedica ao
cultivo de jaborandi (Pilocarpus microphyllus) para posterior extração, isolamento e purificação de
pilocarpina para a indústria farmacêutica.
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