Manual de Fruticultura Figueira

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11.

º Fascículo | figueira

Manual
de Boas Práticas
de Fruticultura
Frutas Legumes e Flores em parceria com INIAV, I.P. (Estação Nacional
de Fruticultura Vieira Natividade) e COTR
Contexto geral

Rui Maia de Sousa


Estação Nacional de Fruticultura Vieira Natividade (INIAV, I.P.)

Introdução
A figueira (Ficus carica L.) teve a sua origem no sudoeste
da Ásia (Afeganistão) e foi sendo disseminada pelos gre-
gos e fenícios nas suas incursões pelos diferentes con-
tinentes. A figueira é cultivada, principalmente, em toda
a bacia mediterrânica, sendo a Turquia o maior produtor
mundial de figo, seguida pelo Egipto, Argélia e Irão. Em
Portugal, esta cultura teve o seu auge nas décadas de 60
e 70 do século passado, nomeadamente para a produção
de figo seco. Este era utilizado para o consumo humano
e animal e como matéria-prima para produção de álcool.
Nessa época os produtores de figo tinham a obrigatorie- Figura 1 – Figueiras formadas em vaso clássico
dade de declarar anualmente, ao Estado, a sua produção.
O figo seco é muito energético e de fácil transporte, razão
pela qual foi utilizado pelos combatentes como suplemen- garve, o ‘Figo Côteo’. Cada uma destas cultivares estava
to alimentar nos tempos difíceis da I e II Guerra Mundial. bem adaptada às condições edafoclimáticas de cada uma
As principais regiões produtoras de figo seco em Portugal destas regiões produtoras. As densidades de plantação
eram Mirandela, Torres Novas e Algarve. A cultura para a eram baixas (100 a 150 plantas/ha), o solo era mobilizado
produção de figo seco entrou em declínio, principalmente e as máquinas agrícolas passavam por baixo da copa das
devido ao surgimento de culturas totalmente mecanizadas figueiras para fazer os “terreiros” para facilitar a colheita
que são utilizadas como fonte de matéria-prima para o dos figos do solo (Figura 1).
fabrico de álcool, como o caso da beterraba sacarina. O Atualmente o principal objetivo da produção é produzir fi-
aumento do preço da mão-de-obra e a não valorização da gos para consumo em fresco, a qualidade e o calibre dos
produção também contribuíram para esse declínio, no en- mesmos são relevantes, pelo que as cultivares e as técni-
tanto, atualmente a cultura da figueira começa a renascer cas culturais têm de ser diferentes das do passado. A den-
com a principal finalidade da produção de figo para con- sidade de plantação é maior, os solos não são mobilizados
sumo em fresco. Nos últimos anos tem-se verificado um e as máquinas agrícolas passam ao lado das figueiras,
aumento da área, em 2018 situava-se nos 4.132 ha com uma vez que a copa das figueiras tem de ser baixa (Figura
uma produção de 3.739 (INE, 2018). Segundo a mesma 2). É neste sentido que iremos abordar a “nova” cultura da
fonte, em termos de balança comercial, a produção portu- figueira.
guesa de figo seco é insuficiente uma vez que se impor-
tou, em 2017, cerca de 999 t e exportou-se unicamente
402 t. Em relação ao figo fresco, a situação é inversa, ou
seja, importou-se 87 t e exportou-se 140 t (INE, 2018). As
perspetivas futuras em termos de balança comercial, no
nosso entender, são boas, acrescendo ainda o facto de
cada vez mais se conhecerem os largos benefícios que o
consumo de figo tem para a saúde humana.

A mudança na cultura
A cultura no passado era totalmente de sequeiro. Atual-
mente, está a evoluir para o regadio. A razão desta mu-
dança deve-se ao facto de a cultura se ter desenvolvido
em regiões com microclimas específicos, ou seja, em
regiões com verão quente e seco, uma vez que os figos
eram secos ao sol. As cultivares mais utilizadas nestas re-
giões eram as que geravam mais receita para a produção
de figo seco. No caso da região de Mirandela cultivava-se,
principalmente, o ‘Figo Branco’, no caso de Torres Novas,
o ‘figo Preto de Torres Novas’ ou ‘Mulato’ e, no caso do Al- Figura 2 – Figueira formada em vaso baixo
boas práticas

O pomar As covas de observação devem ter uma profundidade de


A vida económica de um pomar e a sua competitividade 0,80 a 1 m de profundidade. Caso o solo não tenha essa
são fortemente influenciados pelas condições edafocli- profundidade, dificilmente terá condições para implantar
máticas onde está implantado. Outros fatores, também um pomar de figueiras. Este procedimento é fundamental
importantes, são: as cultivares, a disponibilidade de água e recomendável antes da tomada de decisão da implanta-
para rega, a exposição, a orientação, o compasso e a ma- ção de um pomar.
nutenção.
Na fruticultura atual, e em qualquer parte do mundo, é fun- Exigências edafoclimáticas da figueira
damental produzir muito, com qualidade, a baixo custo e Clima
com o máximo de segurança alimentar, utilizando o míni- A figueira é uma espécie de clima subtropical que se cara-
mo de recursos e preservando ao máximo a biodiversida- teriza por ser exigente em calor e não suportar temperatu-
de no pomar e na zona envolvente ao mesmo. ras baixas de forma continuada, mas que resiste a episó-
Nem todas as regiões do País reúnem as condições eda- dios de frio intenso e geadas durante o inverno. A figueira
foclimáticas ideais para a produção de figos, sejam eles tem baixas necessidades em horas de frio, caso as tempe-
lampos ou vindimos, para a produção de figos secos ou de raturas o permitam mantém-se sempre em vegetação sem
figos frescos. No entanto, é possível, em algumas regiões deixar cair as folhas. A figueira morre com temperaturas
específicas, produzi-los de uma forma sustentável. inferiores a 12ºC negativos e os figos morrem com tem-
Os requisitos a observar antes e durante a implantação peraturas inferiores a 6ºC negativos. Após o abrolhamen-
do pomar de figueiras e as técnicas culturais utilizadas na to, as temperaturas abaixo de 4ºC negativos são muito
manutenção do mesmo são fundamentais para o sucesso. prejudiciais, principalmente se tencionamos produzir figos
lampos (Vidaud, 1997). Como na maioria das fruteiras, as
Avaliação das condições edafoclimáticas da parcela temperaturas acima de 35ºC afetam o crescimento da fi-
Para o estudo da aptidão frutícola de uma parcela onde gueira e dos figos, podendo em casos extremos perder as
se vai instalar um pomar de figueiras é imprescindível co- folhas para conseguir sobreviver.
nhecer as condições edafoclimáticas da mesma e compa- A figueira também é sensível ao vento, uma vez que os
rá-las com as exigências edafoclimáticas da espécie e da ramos têm a madeira muito macia, que verga com facili-
cultivar. dade, o que dificulta a formação das árvores e no caso da
caprificação dificulta o voo do inseto polinizador.
Clima Durante o ciclo vegetativo, na fase de maturação dos fi-
Para o estudo do clima envolvente da parcela devem ser gos, a humidade relativa do ar e a precipitação podem
utilizadas as normais climatológicas disponíveis para a comprometer a produção, uma vez que os figos estalam
zona onde se pretende instalar o pomar, nomeadamente: devido à absorção da humidade do ar.
o número médio de dias mensais com temperaturas infe- Em geral, a figueira consegue sobreviver com uma pre-
riores a 0ºC, o número médio de dias com temperatura cipitação média de 600 mm, no entanto, quando esta é
superior a 30ºC, o menor valor de temperatura mínima, distribuída de forma irregular, pode perder as folhas no
o maior valor de temperatura máxima, a temperatura mé- verão e recuperar quando ocorrer precipitação que seja
dia máxima, a temperatura média mínima, a precipitação suficiente para recuperar do stress hídrico, no entanto a
média total e mensal, a humidade relativa média do ar, o produção de figos fica fortemente comprometida.
número médio de dias com granizo, o número médio de
dias com nevoeiro e o número médio de dias com geada. Solo
Com estes dados, que estão disponíveis para algumas re- A figueira, tal como as outras fruteiras, prefere os solos
giões no site do Instituto Português do Mar e da Atmosfera fundos, frescos, férteis e bem drenados. Em geral, o solo
(IPMA), ou caso não estejam, podem ser solicitados ao argilo-calcário com maior ou menor teor de calcário são os
referido Instituto, é possível avaliar a aptidão climática da mais adequados para a figueira, exemplo disso é a região
parcela para a cultura da figueira. do Algarve e de Torres Novas. O pH deverá oscilar entre
valores de 6 e 7,5. A figueira é sensível à salinidade e à as-
Solo fixia radicular. Cerca de 80% do sistema radicular da figuei-
A avaliação das condições de solo da parcela só é pos- ra desenvolve nos primeiros 0,50 m de profundidade. O
sível através de uma visita técnica ao local e da abertura teor de matéria orgânica no solo deverá ser superior a 2%.
de covas de observação para estudar o perfil do solo e
fazer uma análise física do mesmo (profundidade, textu- Antecedentes culturais
ra, porosidade, estrutura e drenagem interna) e química O conhecimento dos antecedentes culturais, ou seja, da
(pH, teor em matéria orgânica e em elementos minerais). cultura ou das culturas que estiveram no terreno nos últi-
boas práticas

mos três a quatro anos e o estado sanitário das mesmas, Os figos lampos iniciam a sua formação no final de se-
é fundamental. Não é recomendável implantar um pomar tembro/outubro, e param o seu desenvolvimento durante
de figueiras em terrenos onde estiveram figueiras nos úl- o inverno, devido à diminuição da temperatura e das horas
timos anos. A presença na cultura antecedente de fungos de luz diárias. No início de março reiniciam o desenvolvi-
radiculares, como a Rosellinia necatrix, a Armillaria mellea mento até à maturação em junho. Estes figos desenvol-
ou uma população elevada de nemátodes são determi- vem-se na madeira “castanha”, logo abaixo das primeiras
nantes para a inviabilização do pomar ou para o insucesso folhas do crescimento do ano (Figura 3), estes figos não
do mesmo. Se a cultura precedente foi a vinha deveremos necessitam de caprificação (polinização), são sempre par-
ter ainda em atenção o teor de cobre no solo que pode tenocárpicos. Os figos lampos quando comparados com
impedir o desenvolvimento radicular das figueiras. os figos vindimos têm um maior teor em água, um menor
É aconselhável antes da plantação do pomar que todas teor de sólidos solúveis totais, a epiderme é mais fina e
as raízes das plantas perenes (fruteiras, vinha, olival e mais sensível ao transporte e, em geral, devido ao seu
outras) sejam retiradas do solo e é recomendável a ins- calibre e teor em água são consumidos em fresco.
talação de pelo menos uma cultura de “limpeza” (aveia, Por sua vez, os figos vindimos iniciam o seu desenvolvi-
tremocilha, tremoço ou outras que melhorem o solo). mento em finais de abril - início de maio, no crescimento
A implantação de um pomar é um investimento que o fru- do ano, na madeira “verde”, na axila das folhas, e ama-
ticultor faz para um período mínimo de 25 - 30 anos. Esse durecem em final de julho – início de agosto, dependen-
investimento deve começar a ser amortizado o mais rapi- do da cultivar (Figura 3). Para produzirem estes figos al-
damente possível o que só acontece se as figueiras tive- gumas cultivares necessitam de caprificação, caso esta
rem boas condições para expressar todo o seu potencial não ocorra, no início de junho os figos pecam (caem), não
produtivo e qualitativo. chegando à maturação. Os figos vindimos podem ser con-
sumidos em fresco, em seco, cristalizados, em compota,
O material vegetal confitados, desidratados, em pasta, etc. Podem ainda ser
A eleição das cultivares a plantar depende do tipo de pro- destilados para a produção de álcool, aguardente, licores,
dução que se pretende: figos lampos ou figos vindimos, etc… Estes figos, em geral, têm menor calibre, menor teor
e se são para consumo em fresco ou em passa ou para em água e maior teor de sólidos solúveis totais quando
outras finalidades. Para qualquer das situações as figuei- comparados com os lampos.
ras a plantar devem ser certificadas, isentas de doenças e
com garantia varietal. Cultivares
Como já referido, a cultura da figueira pode ter duas épo-
cas distintas de produção, uma que ocorre de meados de
maio a meados de julho, que é a época dos figos lampos,
e outra que ocorre de finais de julho a meados de setem-
bro, que é a época dos figos vindimos.
A produção de figos lampos é viável em regiões onde não
ocorram geadas tardias e que induzam precocidade. Para
obter produções competitivas é importante utilizar cultiva-
res produtivas e adaptadas às condições onde se vai ins-
talar o pomar. Para estudar a adaptação das cultivares, o
INIAV – Estação Nacional de Fruticultura Vieira Natividade
(ENFVN), em Alcobaça, iniciou em 1987 a prospeção de
cultivares regionais com aptidão para a produção de figos
frescos (lampos e vindimos) e o estudo de adaptação de
cultivares estrangeiras para o mesmo tipo de produção.
Existem em Portugal diferentes cultivares de figueiras que
se podem agrupar em quatro grupos consoante o tipo de
produção e a sua necessidade ou não de caprificação. As
cultivares do grupo Comum só produzem figos vindimos
sendo estes de formação partenocárpica, um exemplo
deste grupo é a cultivar ‘Pingo de mel’. As cultivares do
grupo Smyrna também só produzem figos vindimos mas
Figura 3 – Ramo com figos lampos e figos vindimos necessitam de caprificação, um exemplo deste grupo é a
da cultivar ‘Lampa preta’ cultivar ‘Euchária preta’. Os outros dois grupos produzem
boas práticas

Figura 4 – Figo lampo cultivar ‘CN250’ Figura 5 – Figo vindimo cultivar ‘Pingo de mel’

figos lampos e figos vindimos, sendo que as do grupo Ca- epiderme verde amarelada e a forma piriforme oblonga
chopo produzem figos lampos e vindimos que se formam (Figura 5). Em geral forma uma gota de sumo amarelada
partenocarpicamente, como por exemplo a cultivar ‘Prin- no ostíolo dos figos, semelhante a uma gota de mel que
cesa’ e as do grupo S. Pedro que produzem figos lampos impede a entrada de pragas para o interior dos figos. Em
mas que para produzirem figos vindimos necessitam de condições normais, em média, são necessários 20 figos
caprificação, como por exemplo a cultivar ‘Lampa preta’. para perfazer 1 kg. Nas condições de Alcobaça esta cul-
tivar é sensível a Botrytis cinera, quer nos figos quer na
Cultivares para a produção de figos lampos madeira mal atempada (ponta dos crescimentos do ano).
Com base nos estudos efetuados no INIAV – ENFVN, as • ‘Bebera branca’ é uma cultivar portuguesa, com matu-
principais cultivares que se sugerem para a produção de ração na segunda quinzena de agosto. Os figos têm a
figos lampos, pertencem ao grupo S. Pedro e são as se- epiderme rosada e a forma piriforme oblonga. Em condi-
guintes: ções normais, em média, são necessários 19 figos para
• ‘Lampa preta’ ou ‘Lampeira’ é uma cultivar portuguesa, perfazer 1 kg. Devido a ser uma cultivar serôdia, pode ter
com maturação na segunda quinzena de junho. Os figos problemas na produção quando a precipitação ocorra no
têm a epiderme verde-violácea e a forma piriforme oblon- início de setembro.
ga. Em condições normais, em média, são necessários
19 figos para perfazer 1 kg (Figura 3). Nas condições de Em geral, após a primeira ocorrência de precipitação no
Alcobaça esta cultivar é sensível a Alternaria. final do verão os figos deixam de ter qualidade para serem
• ‘Dauphine’ é uma cultivar francesa, com maturação na comercializados, pelo que a precipitação pode ser um fa-
segunda quinzena de junho. Os figos têm a epiderme ver- tor limitante em algumas regiões.
de-violácea escura e a forma globosa. Normalmente, em Como já referido, existem cultivares que produzem figos
média, são necessários 12 figos para perfazer 1 kg. Nas lampos e figos vindimos, no entanto, devido às técnicas
condições de Alcobaça é sensível à mosca preta do figo culturais específicas para cada um dos tipos de produção
(Silba adipata). sugere-se que consoante a finalidade da produção sejam
• ‘Maia’ é uma cultivar portuguesa, com maturação na se- plantadas em setores diferentes.
gunda quinzena de junho. Os figos têm a epiderme verde Alertamos ainda para o facto de uma cultivar poder ser
amarelada e a forma piriforme oblonga. Em média, são uma excelente produtora de figos em determinado país
necessários 17 figos para perfazer 1 kg. e não o ser em Portugal. Por exemplo, a principal cultivar
• ‘CN250’ é uma seleção da cultivar italiana ‘Petrelli’, com produtora de figos na Turquia é a cultivar ‘Sarilop’, no en-
maturação na segunda quinzena de junho. Os figos têm a tanto, nas condições de Alcobaça não forma figos. Outro
epiderme verde e a forma globosa (Figura 4). Em média, exemplo são algumas cultivares francesas que produzem
são necessários 11 figos para perfazer 1 kg. figos vindimos de forma partenocárpica em França mas
quando as plantamos em Portugal necessitam de capri-
Cultivares para a produção de figos vindimos ficação.
As principais cultivares sugeridas para a produção de figos
vindimos pertencem ao grupo comum e são as seguintes: Implantação do pomar
• ‘Pingo de mel’ ou ‘Moscatel’ é uma cultivar portuguesa, O compasso de plantação é definido pelo fruticultor e pelo
com maturação em meados de agosto. Os figos têm a técnico, em função das cultivares, do tipo de produção
boas práticas

(lampos ou vindimo), do sistema de condução pretendido dois tipos de figueiras: as que produzem figos comestíveis
e pela existência ou não de água para rega. Devendo a (figueira doméstica), que podem ser bíferas (produzem fi-
colheita dos figos ser efetuada diretamente das figueiras, gos lampos e figos vindimos) ou uníferas (só produzem
sem o auxílio de escadas e escadotes, a altura máxima figos vindimos); e as que produzem figos não comestíveis,
das figueiras não deverá ser superior a 2,5 m. Na defini- também designadas por figueiras bravas ou baforeiras ou
ção do compasso deve-se também ter em atenção que as ainda figueiras de toque. Estas figueiras produzem três
folhas das figueiras têm pelos na página inferior, e que na camadas de figos, os lampos, os vindimos e os boloitos.
ponta desses pelos estão gotas de latex que provocam co- O inseto polinizador, que “vive” dentro dos figos, tem três
michão no colhedor de figos, pelo que as figueiras devem gerações anuais que são coincidentes com as três cama-
ter uma copa estreita para facilitar a colheita. das de figos das figueiras baforeiras. Este inseto poliniza-
Com base na experiência adquirida, sugere-se para a dor passa o inverno, em forma de pupa, dentro dos figos
produção de figos lampos em regadio e para a forma de boloitos. Estes figos amadurecem em março, coincidindo
condução em eixo baixo revestido o compasso de planta- com a saída dos insetos polinizadores da 1ª geração. Es-
ção de 5 m x 2,5 m (800 figueiras/ha). Para as mesmas tes voam até aos figos lampos da figueira baforeira pene-
condições e forma de condução, mas para a produção de trando nos mesmos, pelo ostíolo, até ao interior do figo
figos vindimos, sugerimos o compasso de 5 m x 2 m (1000 no qual depositam os ovos. Os figos lampos das figueiras
figueiras/ha). baforeiras amadurecem no final de maio, início de junho
No caso dos pomares de sequeiro, que não se recomenda coincidindo com a saída da 2ª geração do Blastophaga.
por várias razões, e para a forma de condução em vaso No interior destes figos lampos, junto ao ostíolo, ou seja,
baixo sugere-se o compasso de plantação de 6 m x 4 m junto à passagem para o exterior, estão as flores mascu-
(416 figueiras/ha) quer para a produção de figos lampos, linas que contêm pólen. Quando o inseto passa entre as
quer para a produção de figo vindimos. flores, o pólen adere ao seu corpo, sendo transportado até
A orientação das linhas do pomar deve ser no sentido Nor- aos figos vindimos das figueiras baforeiras e das figueiras
te-Sul, situação mais favorável à interceção da luz pelas domésticas, nos quais entra e faz a postura nas flores fe-
folhas. Caso não seja possível seguir esta orientação, de- mininas e, indiretamente, fazem a caprificação. Quando
verá optar-se pelo sentido Este-Oeste. estão recetivas, as flores femininas emitem um aroma que
Feito o estudo da parcela, eleitas as cultivares a plantar, atrai os insetos polinizadores para o interior dos figos.
definido o compasso de plantação, efetuada a encomenda A saída da 3ª geração do inseto ocorre em setembro, coin-
das plantas, realizada a análise de solo e a correção do cidindo com a maturação dos figos vindimos da figueira
mesmo, se necessário, e a preparação do terreno para a baforeira. Estes insetos saem destes figos e entram para
plantação, é chegada a altura de plantar as figueiras. os figos boloitos nos quais vão passar o inverno.
A época de plantação é extremamente importante para o Em qualquer das gerações só as fêmeas dos insetos po-
sucesso do futuro pomar, esta deve estar concluída um linizadores é que saem dos figos, os machos nascem, fe-
mês antes da data prevista para o abrolhamento das fi- cundam as fêmeas e morrem dentro do mesmo figo.
gueiras, que em geral ocorre na segunda quinzena de fe- Só os figos lampos das figueiras baforeiras é que têm flo-
vereiro, dependendo da região em causa. res masculinas viáveis.
As figueiras a plantar podem ser de raiz nua ou em con- Assim, nas figueiras em que os figos vindimos necessitam
tentor. Para ambas as situações é fundamental que as fi- de caprificação para vingarem, como por exemplo os da
gueiras sejam isentas de pragas e doenças. cultivar ‘Lampa preta’, se esta não ocorrer caem (pecam)
Após a plantação, é recomendável/obrigatório a rega de e não chegam a amadurecer. Para evitar que isso aconte-
plantação com cerca de 10 litros de água por planta, para ça e caso exista interesse em produzir esses figos, devem
permitir que a terra se “misture” com as raízes com vista ser colocados, no final de maio ou início de junho, colares
a facilitar o seu contacto com a terra e se inicie a absor- de figos lampos das figueiras baforeiras (5 a 6 figos pen-
ção da água e dos nutrientes. O tronco das árvores deve durados num arame) nas figueiras que queremos polini-
ficar sempre na vertical, independentemente do sistema zar. Estes colares devem ser substituídos semanalmente,
de condução, pelo que é necessário proceder à tutoragem durante três semanas, para obter boas produções. Ao fa-
das árvores. zer estes colares, deveremos ter em atenção que os figos
devem ser furados junto ao pedúnculo para que o inseto
Caprificação saia unicamente pelo ostíolo dos figos e assim transporte
A caprificação é a transferência de pólen das flores mas- o pólen. O número de colares a colocar por figueira depen-
culinas para as flores femininas, de uns figos para os de do tamanho da mesma.
outros, através de um insecto denominado Blastophaga Clarifica-se que no interior dos figos vindimos da figuei-
psenes Cavolini. Dentro da espécie Ficus carica L. temos ra doméstica não se desenvolve o inseto polinizador, isto
boas práticas

porque as flores femininas destes figos são longistilas, liar para a figueira, encontram-se no quadro 1.
enquanto as flores femininas dos figos vindimos das fi- No quadro 2 apresentam-se as quantidades de referência
gueiras baforeiras são brevistilas. Para que a postura do dos diferentes nutrientes a aplicar em função da produção
inseto polinizador tenha sucesso é necessário que o ovo esperada de figos, tendo como base a produção por hec-
seja depositado junto do ovário da flor. Quando nasce, tare e o pH entre 6,0 e 7,5.
a larva vai alimentar-se do ovário da flor da figueira. No Em geral, um terço do azoto necessário ao pomar é apli-
caso das flores femininas da figueira baforeira o inseto cado um mês antes do abrolhamento previsto e os res-
consegue ter sucesso na postura, no entanto, no caso tantes dois terços até final de maio. Na determinação da
das flores femininas das figueiras domésticas o estilete da fertilização a realizar no pomar deve ser tido em conta a
flor é longo e o oviscapto do inseto não consegue depo- quantidade de azoto fornecido pelo coberto vegetal e pela
sitar o ovo junto do óvulo da flor e a larva ao nascer mor- água da rega. A aplicação pode ser feita diretamente ao
re por falta de alimento. Assim, os figos polinizados não solo ou através da fertirrega. Recorda-se que a figueira é
têm no seu interior larvas do inseto polinizador. Também sensível à asfixia radicular pelo que em solos argilosos,
não contêm o inseto que fez a polinização, isto porque a regar antes de final de maio para efectuar a fertirrega pode
figueira contém na seiva uma enzima proteolítica, deno- trazer problemas. O fósforo e o potássio em geral são apli-
minada ficina, que o decompõe. Esta enzima é a mesma cados no final do inverno de uma só vez. Dependo do solo
que provoca queimaduras na pele quando deixamos cair e das condições meteorológicas, o fósforo, o cálcio, o boro
uma gota de látex ou quando andamos a colher figos e e o zinco devem merecer uma especial atenção. É nosso
ficamos com comichão. entendimento que as fertilizações foliares só se justificam
em casos de comprovada carência e em determinadas zo-
Fertilização nas do pomar.
As operações culturais num pomar estão interligadas A matéria orgânica desempenha um papel relevante nas
umas com as outras, pelo que a quantidade e a qualidade caraterísticas físicas, químicas e biológicas do solo. Em
da produção e a conservação da mesma também depen- Portugal, os solos em geral são pobres em matéria orgâ-
dem da fertilização. Esta deve ser equilibrada, o que só é nica, pelo que a aplicação anual ou bianual é aconselhada
possível tendo por base as análises de terra, de folhas e para manter um teor próximo de 1,5 a 2%. Sugere-se que
de água da rega. esta seja aplicada no outono, devendo ser bem curtida.
Os valores de referência para interpretação da análise fo- Na escolha da proveniência do estrume (bovino, aves ou

Macronutrientes (%) Micronutrientes (mg kg-1)


Espécie
N P K Ca Mg S Fe Mn Zn Cu B
1,70 0,09 1,00 3,00 0,15 50
Figueira a a a a > 0,65 a > 50 > 20 > 12 >4 a
2,50 0,30 3,00 5,00 0,30 100
Quadro 1 – Valores de referência para interpretação dos resultados da análise de folhas de figueira, colhidas no terço médio
do lançamento do ano, colhidas a meio da estação (julho a agosto) // Fonte: LQARS (2006)

Produção Azoto (kg/ha) Fósforo (kg/ha) Potássio (kg/ha) Magnésio (kg/ha)


esperada
(t/ha) Insuficiente* Suficiente* Suficiente* Suficiente* Suficiente*

<2 30 0 – 20 0 - 15 0 - 30 5

2-4 30 – 50 20 – 40 15 - 30 30 - 45 10

4-6 50 – 70 40 – 50 30 - 45 45 - 60 15

6 - 10 70 – 90 50 - 70 45 - 60 60 - 100 20

> 10 100 - 120 70 - 100 60 - 100 100 - 120 30


Quadro 2 – Quantidades de azoto (N), fósforo (P2O5), potássio (K2O) e magnésio (Mg) recomendadas em pomares de figueiras
em produção (kg/ha), com base nos resultados da análise foliar e na produção esperada // Fonte: LQARS (2006)
* Níveis de nutrientes considerados adequados em folhas do terço médio dos lançamentos do ano na época usual de colheita
boas práticas

outra) deve ser tido em atenção o pH do solo e o da ma-


téria orgânica.

Poda
A poda é uma operação cultural que se pratica com vá-
rios objetivos: reduzir o período improdutivo das figueiras,
manter o equilíbrio entre a frutificação e a vegetação, man-
ter o bom estado sanitário das figueiras, permitir a entrada
de luz em toda a copa das figueiras, manter as figueiras no
espaço que lhe foi destinado, reduzir a alternância, obter
figos de qualidade e em quantidade, prolongar a vida eco-
nómica do pomar e aumentar a competitividade.
O sistema de condução mais adequado é aquele que per-
mite tirar o máximo rendimento das figueiras, com o míni-
mo de fatores de produção. Os custos com a mão-de-obra
têm de ser reduzidos, pelo que figueiras do pomar não
podem ser todas geometricamente iguais, como se fosse
um jardim. Os pomares devem estar organizados de modo
a que cada ramo tenha o seu espaço, sem ensombrar o
ramo vizinho, e com o máximo de figos de qualidade.
Na cultura tradicional da figueira, a forma de condução é o
vaso clássico, num compasso muito largo (10 x 10 m, 8 x 8
m, 8 x 6 m), com pernadas inseridas a 1,2 m a 1,5 m acima
do solo e cada uma com 4 a 5 m de altura o que origina
figueiras com copas muito largas e altas, incompatíveis
com a colheita dos figos diretamente da figueira (Figura 1).
Figura 6 – Tubo em forma de círculo para ajudar
Devido à necessidade de se reduzir os custos de produ- a inclinação das pernadas
ção, as máquinas agrícolas têm de passar ao lado das fi-
gueiras e não debaixo destas. Assim, para formar um vaso
baixo a inserção das pernadas terá de ser aos 0,5 - 0,6 m mar as futuras pernadas sobre as quais se vai desenvol-
acima do solo e o topo das mesmas terá de ter uma altu- ver a copa das figueiras. Nestes ramos, os que tiverem um
ra máxima de 2,5 m. No mesmo sentido, da redução da comprimento superior a 0,50 m, retira-se, manualmente,
necessidade de mão-de-obra, o compasso de plantação o gomo terminal para que a futura pernada engrosse e
terá de ser mais estreito (4,5 a 5 m x 2,5 a 3 m) para que forme ramos laterais (se guarneça). Nos restantes, que
o tempo “morto” de deslocação do colhedor entre figueiras nesta fase ainda não atingiram os 0,50 m, será efetuada a
seja mínimo e o número de figos colhidos seja máximo mesma operação logo que estes atinjam esse comprimen-
(Figura 2). to. Até final de julho, em cada pernada, e sempre que esta
cresça 0,30 m - 0,40 m após a última retirada do gomo
Formação das figueiras no primeiro ano terminal, elimina-se novamente o gomo terminal que, en-
Nas novas plantações de figueiras, com a forma de con- tretanto, se formou. Os ramos laterais das pernadas (ante-
dução em vaso baixo, preconiza-se que após a plantação, cipadas) que se dirigem para o interior da copa devem ser
estas sejam cortadas a 0,5 - 0,6 m acima do solo deven- eliminados para não provocarem ensombramento no in-
do o primeiro gomo abaixo do corte ficar voltado para o terior da copa. As futuras pernadas devem ficar com uma
vento predominante. É importante referir que para que o inclinação próxima dos 45º e bem distribuídas de forma a
figueiral comece bem, este corte deve estar concluído até formarem um “círculo” pelo que, por vezes, é necessário
meados de fevereiro. Este deve ser ligeiramente inclinado, colocar um arame / tubo, em forma de círculo, para ajudar
para que a água da chuva escorra facilmente, devendo na inclinação e na distribuição das mesmas (Figura 6). Es-
ainda ser protegido com pasta cicatrizante para evitar que tas intervenções em verde são fundamentais para ajudar
a água se “infiltre” na madeira esponjosa da figueira. as figueiras a formar rapidamente a copa tal como pre-
Em meados de abril selecionam-se os 5 a 6 rebentos que tendemos, evitando-se assim que formem madeira onde
estão na parte mais alta da figueira e que estejam bem não é necessária. Não devemos esquecer que os cortes
distribuídos e eliminam-se todos os restantes. efetuados na poda de inverno estimulam a formação de
Em finais de maio elegem-se os 3 a 4 ramos que vão for- nova madeira abaixo do corte que fizemos, pelo que, por
boas práticas

vezes, ainda desequilibram mais as árvores. Se tudo cor- Na formação da copa das figueiras cada pernada deve-
rer normalmente as intervenções no inverno são mínimas, rá ter ramos laterais mais finos do que ela e os ramos
resumindo-se à definição da extremidade das pernadas. da base devem ser mais grossos e mais compridos dos
Devemos ter presente que os utensílios de poda (tesoura que estão acima destes. Tem de haver uma hierarquia de
e serrote) antes de serem utilizados devem ser afiados, baixo para cima. As pernadas terminam num único ramo
para que os cortes fiquem lisos, lubrificados para ser mais até chegarem à altura pretendida. Quando esta é atingi-
fácil a sua utilização, e desinfetados com álcool a 70º para da faz-se um atarraque sobre um ramo lateral que esteja
evitar a disseminação de doenças, nomeadamente o vírus voltado para fora da copa. Assim, durante o segundo ano
do mosaico. Esta desinfeção deverá ser efetuada no mí- o controlo do crescimento dos ramos é efetuado, também
nimo 4 vezes ao dia (manhã, meio da manhã, ao almoço em verde, através da eliminação manual dos gomos ter-
e a meio da tarde). Deve-se ainda desinfetar os utensílios minais nos ramos que estão a crescer muito ou através da
sempre que se poda uma figueira que apresente algum desramação (eliminação total do ramo com corte em bisel)
sintoma de doença. dos ramos que estão a ficar demasiadamente grossos em
relação à pernada. O corte em bisel permite que os gomos
Formação das figueiras no segundo ano que estão dormentes na base do ramo cortado, desper-
Um ano após a plantação, cerca de 15 dias antes do abro- tem, dando origem a novos ramos, mas mais fracos. As
lhamento, pode ser necessário efetuar incisões em algu- desramações efetuam-se até meados de junho.
mas pernadas que estejam mais desguarnecidas (falta de Tendo-se a estrutura da copa da figueira formada, a poda
ramos laterais). Estas incisões (cortes em v invertido) são a seguir depende da cultivar e da finalidade da produção:
efetuadas cerca de um centímetro acima do gomo a partir produzir figos lampos ou produzir figos vindimos.
do qual pretendemos que se forme um ramo lateral, de-
vendo-se por isso dar preferência aos gomos laterais das Produção de figos lampos
pernadas. Os ramos orientados para o interior da copa Para a produção de figos lampos, a poda baseia-se prin-
não nos interessam porque provocam sombra, e os vol- cipalmente em intervenções em verde a seguir à colheita
tados para fora também não porque alargam a copa em dos figos lampos. No inverno as intervenções são míni-
demasia e ensombram os ramos laterais. As incisões são mas e ponderadas, porque cada ramo que eliminamos
efetuadas unicamente na casca com a ajuda de uma na- estamos a perder produção. Devemos ter presente que,
valha ou da lâmina do serrote (Figuras 7). dependendo da cultivar, cada extremidade de um ramo
pode produzir 2 a 4 figos lampos. Assim, a seguir à colhei-
ta (final de junho), nos ramos mais vigorosos, eliminamos
a extremidade com um atarraque, deixando unicamente
4 a 6 folhas. Não devemos esquecer que as folhas para
além de “fabricarem” o alimento para a planta também a
protegem do calor, pelo que, devemos ter algum cuidado
nesta intervenção em verde.
Em finais de agosto/início de setembro, começam a surgir
novos ramos abaixo dos cortes (atarraques) feitos em final
de junho. Devido aos dias começarem a ficar mais curtos
e a temperatura a descer, os figos formam-se mas não se
desenvolvem, ficando hibernantes a aguardar o aumento
da temperatura e do número de horas de luz. Com esta
poda, substituímos uma ponta de um ramo por 3 ou 4 pon-
tas de ramos, fazendo assim com que a produção dupli-
que ou triplique. Quanto maior for o crescimento desses
ramos na fase final do ciclo, maior será a quantidade de
figos lampos, razão pela qual a rega e a fertilização mode-
rada, são importantes nesta fase do ciclo.

Produção de figos vindimos


Relativamente à poda para a produção de figos vindimos,
no inverno (fim de janeiro) eliminamos os ramos demasia-
damente grossos, com cortes em bisel (Figura 8), estes
Figura 7 – Efeito da incisão vão originar novos ramos nos quais se vão formar figos
boas práticas

serido.
• Na extremidade do eixo deve existir um único ramo para
evitar o ensombramento.
• O controlo da altura do eixo é sempre efetuado em verde
através de um atarraque sobre um ramo orientado para o
vento dominante.
As diferenças deste sistema em relação ao vaso são as
seguintes: as figueiras após a plantação não são atarraca-
das; ficam mais estreitas; permite um maior número figuei-
ras/ha; não têm pernadas definitivas, ou seja, os ramos
são substituídos ao longo dos anos por outros mais novos
e mais fracos; os figos são mais fáceis de colher porque
estão mais visíveis; o tempo de colheita/kg é menor, por-
Figura 8 – Corte em bisel e formação de novos ramos que as figueiras estão mais próximas umas das outras; e
começam a produzir mais cedo.
É importante referir que em qualquer forma de condução,
vindimos. Os ramos mais fracos não sofrem qualquer in- em geral, os ramos na horizontal são mais produtivos do
tervenção no inverno. Em meados de junho selecionamos que os ramos na vertical, pelo que deveremos favorecer a
os ramos de forma a que o topo da copa fique fechada, horizontalidade.
mas que permita a entrada de luz até ao interior. Deve-
se privilegiar os ramos mais fracos e eliminar pela base Principais Pragas e Doenças
(desramação), com corte em bisel, os mais fortes. A ma- A cultura da figueira tem vários inimigos, estando estes
nutenção da copa no inverno seguinte baseia-se em atar- a aumentar ou a ganhar importância nos últimos anos
raques sobre ramos laterais (ramos demasiadamente al- devido às alterações climáticas. Insetos que não causa-
tos são cortados acima de um ramo que está direcionado vam problemas têm vindo a tornar-se praga, no entanto,
para fora da copa) e em desramações. Estas intervenções as práticas culturais e a melhor utilização dos meios de
têm como objetivo fazer com que cada figueira ocupe uni- proteção permitem o controlo das pragas e das doenças.
camente o espaço que lhe está destinado. Num figueiral O fungo radicular Rosellinia necatrix, que provoca a po-
plantado num compasso de 5 x 3 m (666 figueiras/ha) dridão das raízes, pode inviabilizar a utilização de alguns
cada figueira ocupa 15 m2, ou seja, pode ter ramos no
sentido da linha com um comprimento de 1,5 m e no sen-
tido da entrelinha ramos com 1,3 m para que fique 2,4 m
para a passagem das máquinas agrícolas. Os ramos de
duas figueiras vizinhas não se devem cruzar para que não
ocorra ensombramento. Os ramos para serem produtivos
necessitam de luz solar, assim como os figos para terem
qualidade.
Devido à necessidade de produzir muito, com qualidade,
e a baixo custo, já se estão a implantar pomares de figuei-
ras com compassos mais apertados da ordem das 1580
figueiras/ha e com formas de condução mais estreitas,
como seja o eixo central baixo revestido, semelhantes aos
que se praticam nas outras fruteiras.
Os princípios desta forma de condução são os mesmos do
sistema em vaso e que são:
• Manter uma hierarquia ao longo do eixo central em que
os ramos estão distribuídos de uma forma radial sem que
nenhum deles tenha um diâmetro e um cumprimento su-
perior ao eixo.
• Cada um dos ramos não deve ter um diâmetro e um com-
primento superior ao que está abaixo dele.
• Nenhum ramo que esteja inserido noutro, deve ter um
diâmetro e um comprimento superior àquele onde está in- Figura 9 – Ramo com sintomas de Botrytis
boas práticas

terrenos para novas plantações devido à sua presença na


cultura antecedente. Na aquisição das plantas devemos
ter em atenção a presença deste fungo nas raízes que se
identifica por um bolor de cor esbranquiçada. As figueiras
abrolham normalmente e em maio os ramos começam a
amarelecer, a murchar e secam acabando a figueira por
morrer. A presença deste fungo no pomar ainda não é con-
trolável. As figueiras que morrem com esta doença devem
ser arrancadas e queimadas assim como todas as raízes
da mesma.
Outro fungo radicular que provoca a morte das figueiras
é Armillaria mellea que se desenvolve principalmente na
zona do colo. O sistema radicular das figueiras seca e as
raízes ficam inteiras. No caso da Rosellinia as raízes par-
tem-se com muita facilidade.
Na parte área os fungos Alternaria solani e Botrytis cine-
ra, nalgumas condições, quando não controlados, podem
comprometer a produção de figos, principalmente dos Figura 11 – Mosca do figo
lampos (Figura 9).
Nos últimos anos tem surgido uma nova doença em Por-
tugal que é a ferrugem da figueira (Cerotelium fici), que temperatura e humidade.
provoca a queda das folhas e a consequente perda de Entre as pragas, a mosca do figo (Silba adipata) tem as-
produção (Figura 10). sumido cada vez mais importância na cultura da figueira
Para qualquer destes fungos deveremos ter em atenção podendo nalguns casos destruir 60 a 70% da produção de
a drenagem atmosférica do pomar, a drenagem interna figos lampos (Figura 11 e 12). Logo que os figos têm 3 mm
do solo e durante o ciclo vegetativo evitar copas muito (final de março) iniciam a postura no ostíolo do figo. As
fechadas. Para controlo destas doenças devemos atuar larvas dirigem-se para o interior do figo através das gala-
preventivamente, principalmente à queda da folha e ao rias que vão abrindo. Posteriormente abrem um orifício na
abrolhamento e durante o ciclo vegetativo dependendo da epiderme do figo, em geral na zona próximo do pedúnculo
e vão para o solo para se transformarem em pupa e termi-
narem o ciclo. Os figos caem prematuramente. Em geral
podem ocorrer 6 gerações/ano (Costa, 2019). O controlo
desta praga deve ser baseado na colocação de armadi-
lhas para captura em massa. Por vezes, dependendo do
atrativo (fosfato diamonio a 4%), é necessário colocar pe-
quenos troços de madeira de figueira dentro das armadi-
lhas para melhorar a captura. As larvas desta mosca não
se confundem com as da mosca da fruta, porque em geral
só temos uma a duas larvas por figo e destrói os figos
ainda verdes.
Outra praga importante é mosca-do-mediterrâneo (Cerati-
tis capitata) que provoca estragos próximo da maturação,
tendo um grande impacto negativo na produção de figos
vindimos. Cada figo pode conter 1 a 8 larvas que ao ali-
mentarem-se destroem o interior do figo provocando o seu
apodrecimento e queda. Em geral podem ocorrer 7 a 8
gerações/ano. Devido à época em que surge a praga (2 a
3 semanas antes da maturação) a melhor estratégia será
a captura em massa, sendo as armadilhas com atrativo
colocadas cerca de 45 dias antes da maturação dos figos.
Em geral esta praga não causa estragos nos figos lampos.
A cochonilha (Ceroplastes rusci) é importante nos poma-
Figura 10 – Folha com sintomas de ferrugem res de figueiras próximos de olivais ou figueirais abando-
boas práticas

sícone. Este é formado por um tecido vegetativo carnudo


que no seu interior contem centenas de flores originando
cada uma delas um fruto que designamos por aquénio e
que vulgarmente se denomina grainha, estes sim, são os
frutos da figueira. A grainha pode estar bem constituída
quando os figos são caprificados ou pode estar “chocha”
quando não ocorre caprificação, ou seja, ocorreu a parte-
nocarpia.
Os figos devem ser colhidos com pedúnculo para evitar
a rápida instalação dos fungos no tecido “rasgado”. Pela
mesma razão deve evitar-se ferir a epiderme. Os figos
devem ser colhidos “inchados”, ou seja, quando deixam
de estar virados para cima e ficam na horizontal. Quando
começam a ficar pendentes já estão muito maduros para
serem comercializados em fresco.
Os figos para comercialização em fresco devem ser colhi-
dos diretamente para a embalagem onde vão ser comer-
cializados.
Devido à maturação dos figos ser escalonada, a colheita
deverá ser efetuada de dois em dois dias.
A colheita deve ser efetuada nas horas de menor calor.
Sendo o figo muito perecível devido a ser um tecido vege-
tativo, rico em água e em sólidos solúveis totais, que faci-
litam a rápida progressão dos fungos, deverá ser colhido
durante a manhã e vendido durante a tarde.
Os figos fendilhados também facilitam a progressão dos
Figura 12 – Galarias abertas pela lagarta da mosca do figo fungos, pelo que é importante uma boa gestão da rega
próximo da colheita, assim como a nutrição em cálcio. O
fendilhamento é provocado pelo aumento da humidade
nados. Provocam o enfraquecimento das figueiras e a for- próximo da colheita.
mação de fumagina resultante da segregação de melada. Não se devem colher figos com humidade relativa do ar
Em geral podem ocorrer duas gerações. O seu controlo alta, uma vez que a epiderme se “rasga” mais facilmente,
deverá ser efetuado com óleo parafínico antes do abro- e os figos embalados húmidos apodrecem mais rapida-
lhamento. mente.
A lagarta da folha (Choreutis nemorana) tem vindo ao lon- É possível conservar figos frescos durante 6 a 7 dias em
go dos últimos anos a ganhar importância, no entanto, não condições de ambiente controlado e a temperatura entre
tem sido necessário efetuar tratamentos. Em geral tem 4 a 6º C.
duas gerações/ano. A primeira geração surge em finais Em relação aos figos secos devemos ter em atenção a
de maio, na parte terminal dos lançamentos do ano, nas colheita e a secagem dos mesmos, assim como o con-
folhas mais jovens. Destrói parte da folha deixando uni- trolo da traça ao anoitecer, razão pela qual os tabuleiros
camente as nervuras. Forma uma teia no interior da qual devem estar tapados durante a noite. O expurgo deve ser
forma um casulo e completa o ciclo. Quando retiramos a efetuado logo que os figos são retirados dos tabuleiros de
teia e se está no estado larvar, desce imediatamente até secagem, andes de serem armazenados.
ao solo por um fio de seda que forma.
Os pássaros são outra praga que pode causar prejuízos
Referências
avultados, principalmente nos pomares junto a grandes
• Costa, A. (2019) – El cultivo de la higuera en el campo de
centros urbanos. Os diferentes equipamentos existentes
Albatera. Edicão Nobel, S.A. Madrid.
para afastar os pássaros parecem ter algum efeito sobre
os estorninhos, no entanto o mesmo não acontece com • INE, (2018) – Estatísticas agrícolas 2017. Edição 2018.
os melros. Instituto Nacional de Estatísticas, I.P.Lisboa.
• LQARS (2006) – Manual de fertilização das culturas.
Colheita INIAP/LQARS. Lisboa.
O figo não é um fruto, é uma infrutescência denominada • Vidaud, J. (1997) – Le Figuier. Edição CTIFL. Paris.

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