2021.2 Juan Carlos Leite - Monografia Finalizada (Direito)
2021.2 Juan Carlos Leite - Monografia Finalizada (Direito)
2021.2 Juan Carlos Leite - Monografia Finalizada (Direito)
Três Rios
2021
UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO
Três Rios
2021
CATALOGAÇÃO NA FONTE
UFRRJ/BIBLIOTECA
Licença parental, família e os impactos que o projeto de lei nº 1.974/2021
pode trazer às adoções por casais homossexuais
LEITE, Juan Carlos de Souza/ Juan Carlos de Souza Leite –
2021.67 f.
______________________________ _________________
Assinatura Data
UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO
Banca Examinadora:
_________________________________________________________________________________
Ludmilla Elyseu Rocha, Doutora em Educação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro –
UFRJ (2008)
_______________________________________________________________________
Juliane dos Santos Ramos Souza, Mestre em Direito pela Universidade Federal Fluminense – UFF
(2016)
_______________________________________________________________________
Vanessa Ribeiro Corrêa Sampaio Souza, Doutora em Direito pela Universidade do Estado do Rio de
Janeiro – UERJ (2012)
____________________________________________________________
Verlan Valle Gaspar Neto, Doutor em antropologia pela Universidade Federal Fluminense - UFF (2012)
AGRADECIMENTOS
À minha força de vontade e dedicação, pois sem elas nada disso seria
possível.
LEITE, Juan Carlos de Souza. Licença parental, família e os impactos que o projeto
de lei nº1974/2021 pode trazer às adoções por casais homossexuais. 2021. 67f.
Monografia ( Graduação em Direito) – Faculdade de Direito, Universidade Federal
Rural do Rio de Janeiro, Três Rios, 2021.
LEITE, Juan Carlos de Souza. Parental leave, Family and the impacts that bill
nº1.974/2021 can bring to adoptions by homosexual couples. 2021. 67f. Monograph
(Law Degree) – Faculty of Law, Federal Rural University of Rio de Janeiro, Três Rios,
2021.
With the changes of social relations, especially family ties, rights had to be rethought,
in order to meet groups that, fatefully, fulfill the same requirements as others to be
considered family structures and enjoy the effects of this condition. This extension
occurred, however, through the courts and sparsely, which generated several gaps, one
of which is related to the adopting license and its nuances in relation to homosexual
couples who adopt in Brazil. Because of this, this work is intended to understand if the
recent bill 1.974/2021 presented to the table of the Chamber of Deputies, which deals
with parental leave, has the potential to remedy some distortions in the legal system
and positively impact the adoption by homosexual couples, solving one of the existing
gaps in the rights of this group.
2 FAMÍLIAS .................................................................................................. 12
4.2 Já que não há lei, como os casais homoeróticos possuem alguns direitos
reconhecidos? ............................................................................................. 42
7. CONCLUSÃO ........................................................................................... 58
8. REFERÊNCIAS ......................................................................................... 59
10
INTRODUÇÃO
2 FAMÍLIAS
1
FACHIN, Luiz Edson. Teoria Crítica do Direito Civil. Rio de Janeiro: Renovar, 2003, p. 298.
2
BRASIL. Lei n. 3.071, de 1º de janeiro de 1916. Código Civil dos Estados Unidos do Brasil, Rio de
Janeiro, 1 janeiro 1916. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l3071.htm>. Acesso
em 04 out. 2021.
3
Idem. Ibidem.
4
Idem. Ibidem.
13
[...] A partir das lutas do movimento feminista, foi possível dinamizar essa
construção social, e promover um embrionário rompimento do modelo
patriarcal e tradicional de família. Dessa forma, as responsabilidades familiares
encontram-se em momento de reinvenção, haja vista que dentro da seara
familiar pode-se perceber, gradativamente, a corrosão dessa divisão, e, da
mesma maneira, atesta-se a abertura da esfera pública. 6
Em 1949, surgem, por exemplo, as primeiras garantias legais dos filhos outrora
considerados ilegítimos, desprovidos de qualquer direito em relação aos seus pais
biológicos. A Lei nº 883/49, além de outras inovações, permitiu que esses filhos
pudessem ser, tanto por vontade própria, através de ação específica, quanto por ato
volitivo de seus pais, reconhecidos como descendentes desses, podendo, até mesmo,
cobrar alimentos provisionais em segredo de justiça e ter direitos iguais em relação à
herança. 7
Em que pese essa legislação ter sido, em verdade, vanguardista ao ir na
contramão de boa parte dos preceitos estampados no compêndio civilista do período,
5
DIAS, M. B. Manual de Direito das Famílias. 11º ed. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016.
6
MATOS, A. C. H.; SILVA, D. S. Licença-parental e o enfrentamento da desigualdade de gênero no
mercado de trabalho e âmbito familiar. Revista Brasileira de Direito Civil, Jul/Set 2015. Disponível
em:<https://rbdcivil.ibdcivil.org.br/rbdc/article/view/88/84>. Acesso em: 04 out.2021. P.12.
7
BRASIL. Lei n. 883, de 21 de outubro de 1949. Dispõe sobre o reconhecimento de filhos ilegítimos, Rio
de Janeiro, 21 outubro 1949. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/1930-
1949/l0883.htm>. Acesso em 06 out. 2021.
14
ao estabelecer que a ação de alimentos correria sob segredo de justiça, ela ainda
detinha grande preocupação sobre a imagem do homem provedor e sobre a simbologia
que ele carregava: pilar da família rígida e que, por sua vez, representava-a . É isso,
inclusive, o que diz Barreto.8
Foi somente após treze anos da publicação da Lei que findou a disparidade
acentuada entre filhos nascidos dentro do casamento e os geridos fora dele que, em
1962, o legislador trouxe um tratamento diferenciado à mulher. Isso se materializou
através da promulgação da Lei nº4.121, reconhecida como “O Estatuto da Mulher
Casada”, nomenclatura emblemática, mas não só por isso descabida, pois retratava a
quem a lei se dirigia: a mulher que possuía um vínculo conjugal. 9
O Estatuto da Mulher Casada trouxe diversas modificações para o ordenamento
jurídico. A mulher, que antes só podia trabalhar com o consentimento do marido, o que
acabava por retirar dela a possibilidade de obter certa liberdade marital, passou a
independer da anuência dele, podendo, dessa maneira, trabalhar e galgar certa
independência financeira e, por consequência, individual. Ademais, sua capacidade
para praticar os atos da vida civil, que antes era relativa, retornou à plenitude e, pela
primeira vez, o ordenamento reconheceu que ela produzia patrimônio e, por fim, que
10
esse era autônomo ao de seu marido.
Muito embora esse reconhecimento tenha ocorrido tardiamente, vale frisar que
isso não quer dizer, no entanto, que a mulher brasileira, mesmo antes da revolução
industrial, não trabalhava. Ao contrário, a história brasileira demonstra que a produção
no país foi marcada fortemente pelo trabalho feminino, seja na lavoura ou nas casas
grandes.
8
BARRETO, L. S. Evolução histórica e legislativa da família. Série Aperfeiçoamento de Magistrados 13
10 Anos do Código Civil - Aplicação,Acertos, Desacertos e Novos Rumos, jan./dez. [entre2012-
2019].Disponível:em:<http://www.emerj.tjrj.jus.br/serieaperfeicoamentodemagistrados/paginas/series/1
3/volumel/10anosdocodigocivil_205.pdf>. Acesso em: 06 out. 2021. P. 210.
9
BRASIL. Lei n. 4.121, de 27 de agosto de 1962. Dispõe sobre a situação jurídica da mulher casada,
Brasília/DF, 27 Agosto 1962. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/1950-
1969/l4121.htm>. Acesso em: 08 out. 2021.
10
Idem. Ibidem.
11
BRASIL. Lei n. 6.515, de 26 de dezembro de 1977. Regula os casos de dissolução da sociedade
conjugal e do casamento, seus efeitos e respectivos processos, e dá outras providências, Brasília/DF,
26 Dezembro 1977. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6515.htm>. Acesso em:
08 out. 2021.
15
12
BRASIL. Constituição (1988). Emenda Constitucional n. 9, de 28 de junho de 1977. Dá nova redação
ao § 1º do artigo 175 da Constituição Federal, Brasília ,28 Junho 1977. Disponível em: <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/emendas/emc/emc09.htm>.Acesso em 11 out. 2021.
13
BRASIL. Lei n. 6.515, de 26 de dezembro de 1977. Regula os casos de dissolução da sociedade
conjugal e do casamento, seus efeitos e respectivos processos, e dá outras providências, Brasília/DF,
26 Dezembro 1977. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6515.htm>. Acesso em:
08 out. 2021.
14
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, Brasília/DF, 05
Outubro 1988. Disponível
em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>.Acesso em 11 out. 2021.
15
ALMEIDA, V. O direito ao planejamento familiar e as novas formas de parentalidade. Coletânea do
XV Encontro dos Grupos de Pesquisa -IBDCivil, p. 420, 2018. Coletânea do XV. Encontro dos Grupos
de Pesquisa.
16
16
LEITE, Gisele. “O Novo Direito de Família”. Revista Brasileira de Direito de Família. Porto Alegre, v.
9, n. 49, p. 112, 20 ago-set. 2008.
17
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, Brasília/DF, 05
Outubro 1988. Disponível
em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>.Acesso em 11 out. 2021.
17
18
AZEVEDO, À. V. Comentários ao Código Civil. São Paulo: Saraiva, v. XIX, 2003, p.255.
19
ALMEIDA, V. O direito ao planejamento familiar e as novas formas de parentalidade. Coletânea do
XV Encontro dos Grupos de Pesquisa -IBDCivil, p. 420, 2018. Coletânea do XV. Encontro dos Grupos
de Pesquisa.
18
20
BARRETO, L. S. Evolução histórica e legislativa da família. Série Aperfeiçoamento de Magistrados 13
10 Anos do Código Civil - Aplicação,Acertos, Desacertos e Novos Rumos, jan./dez. [entre 2012-2019].
P. 2010 Disponível
em:<http://www.emerj.tjrj.jus.br/serieaperfeicoamentodemagistrados/paginas/series/13/volumel/10anos
docodigocivil_205.pdf>. Acesso em: 06 out. 2021.
21
BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil, Brasília/DF, 10 janeiro 2002.
Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406compilada.htm>. Acesso em: 13
out. 2021.
22
Idem. Ibidem.
23
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. ADI 4.277 e ADPF n. 132. Requerente: Procuradora-Geral da
República. Requeridos: Presidente da República e outros. Relator: Ministro Ayres Britto. Acórdão em
05.05.2011.Disponível
em:<https://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=628635>. Acesso em 20 out.
2021.
24
Idem. Ibidem.
25
BRASIL. Superior Tribunal Federal. Informativo 625 de 02 a 06 de maio de 2011. Disponível em: <
https://www.dizerodireito.com.br/2018/08/informativo-comentado-625-stj.html>. Acesso em 20 out.
2021.
26
BRASIL. Supremo Tribunal de Justiça. Recurso Especial Nº 1.183.378/RS. Recorrentes: K R O e L P.
Recorrido: Ministério Público do Rio Grande do Sul. Relator: Ministro Luis Felipe Salomão, julgado
25/10/2011. Disponível
em:<https://www.stj.jus.br/websecstj/cgi/revista/REJ.cgi/ATC?seq=18810976&tipo=5&nreg=201000366
638&SeqCgrmaSessao=&CodOrgaoJgdr=&dt=20120201&formato=PDF&salvar=false>. Acesso em 25
out. 2021.
19
Como se percebe pela leitura da seção anterior, o direito de família, desde sua
gênese, preocupou-se em estabelecer regras aplicáveis majoritariamente à família
tradicional, a qual é constituída basicamente pelo homem, a mulher e sua prole. Esse,
no entanto, não é o único tipo de configuração familiar existente no bojo da sociedade
brasileira e resguardado pela Constituição da República Federativa de 1988.
Em verdade, vale pontuar que, a família elementar, constituída pela figura do
casamento entre um homem e uma mulher, os quais possuem funções enrijecidas em
razão de seus respectivos gêneros, com direitos e obrigações próprios, que se excluem
entre si, não é e, de acordo com Lévi-Strauss , nunca foi o modelo universal de família
nem o mais predominante:
[...] a maior parte das sociedades não dão muita atenção à família elementar,
tão importante para algumas de entre elas, incluindo a nossa. Regra geral,
como vimos, são os grupos que contam e não as uniões particulares entre
indivíduos. 27
27
LÉVI-STRAUSS, C. O olhar distanciado. Tradução de Carmen Carvalho. Lisboa: Edições 70, LTDA,
2010. P.81.
20
muito, no que parece, com o facto de a criança de que se ocupam ser ou não
a sua. 28
28
LÉVI-STRAUSS, C. O olhar distanciado. Tradução de Carmen Carvalho. Lisboa: Edições 70, LTDA,
2010. P.81.
29
NETO, Verlan Valle Gaspar. Sobre o estatuto das famílias e sobre as famílias. Tribunal de Minas. Juiz
de Fora. 23 de outubro de 2016.
30
BRASIL. Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006. Cria mecanismos para coibir a violência doméstica e
familiar contra a mulher... Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/_ato2004-
2006/2006/lei/l11340.htm. Acesso em 25 out. 2021.
31
DIAS, M. B. Manual de Direito das Famílias. 11º ed. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016, p.80.
21
2.2.1 Matrimonial:
2.2.2 Informal:
32
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. ADI 4.277 e ADPF n. 132. Requerente: Procuradora-Geral da
República. Requeridos: Presidente da República e outros. Relator: Ministro Ayres Britto. Acórdão em
05.05.2011. Disponível em:
<https://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=628635>. Acesso em 20 out.
2021.
33
DIAS, M. B. Manual de Direito das Famílias. 11º ed. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016.P.237.
22
sido tolerada pelo direito, muito embora citada e reconhecida por suas normas punitivas
à época. Com o transcorrer do tempo, no entanto, a sociedade e o legislador, como
reflexo desse mesmo tecido social, passaram a não só tolerar a existência dessa
prática, como também proteger tal união.
Dessa forma, a atual Constituição brasileira passou a prever em seu texto (art.
226,§3º) que, além do casamento, a convivência duradoura entre pessoas de sexos
distintos, homem e mulher, gozaria do status de família, devendo a lei convertê-la em
casamento. 34 Essa parte final é amplamente criticada por Maria Berenice Dias, porque,
segundo ela, é algo inútil e sem sentido, uma vez que a união estável confere aos
indivíduos praticamente os mesmo direitos e deveres que o casamento, sendo apenas
35
menos morosa e burocrática.
A parte inicial do dispositivo constitucional também não foi bem aceita pela
doutrina, muito menos pela jurisprudência. Como guardiã e interprete oficial da
Constituição, a Suprema Corte brasileira foi instada a se manifestar acerca da distinção
feita pelo próprio texto constitucional acerca dos casais homossexuais e
heterossexuais e acabou firmando a tese de que, de acordo com os demais preceitos
e valores constitucionais, a interpretação que deve prevalecer é a de que aqueles
casais têm os mesmos direitos e obrigações conferidas a esses. 36
Em linhas gerais e de forma resumida, pode-se afirmar que a família informal,
como já é possível denotar pelo nome , é aquela que advém de uma falta de
formalidade, ou seja, não passa por um rito previamente estabelecido para ser
constituída. Apesar disso, essa estrutura familiar não é desconsiderada pelas regras
jurídicas. Atualmente, o ordenamento a reconhece.
2.2.3 Homoafetiva:
Mais à frente, essa espécie familiar será melhor aprofundada. Por ora, basta
34
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, Brasília/DF, 05
Outubro 1988. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>.
Acesso em 11 out. 2021.
35
DIAS, M. B. Manual de Direito das Famílias. 11º ed. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016.P.237.
36
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. ADI 4.277 e ADPF n. 132. Requerente: Procuradora-Geral da
República. Requeridos: Presidente da República e outros. Relator: Ministro Ayres Britto. Acórdão em
05.05.2011. Disponível em:
<https://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=628635>. Acesso em 20 out.
2021.
23
entender que essa família é formada por pessoas do mesmo sexo, as quais podem ou
não estarem casadas, sendo o afeto o seu principal formador.
2.2.4 Poliafetiva:
Machado de Assis há muito tempo afirmava em seus escritos que o amor está
37
intimamente ligado à eleição da criatura que lhe preenche a alma. Agora, e se mais
de uma pessoa lhe completa? O nome disso é poliamor, o que forma a família
poliafetiva. No direito brasileiro, tal prática ainda hoje não é amparada.
37
ASSIS, Machado. Helena. Livreiro editor do instituto histórico brasileiro. Rio de Janeiro. 1876. P. 187.
Disponível em:<file:///C:/Users/Windows/Downloads/000181841.pdf>. Acesso em: 04 out. 2021.
38
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso Extraordinário 1.045.273/SE. Reclamante C.L.S.
Reclamados: M.J.O.S e E.S.S. Relator: Ministro Alexandre de Moraes, julgado 21/12/2020. Disponível
em: < https://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=755543251>. Acesso em:
26 out. 2021.
39
BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil, Brasília/DF, 10 janeiro 2002.
Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406compilada.htm>. Acesso em: 13
out. 2021.
40
SOUZA, Vanessa Ribeiro Corrêa Sampaio. Relações patrimoniais de família: alguns apontamentos.
IBDFAM. Data de publicação: 06/04/2009. Disponível em:
<https://ibdfam.org.br/artigos/499/Rela%C3%A7%C3%B5es+patrimoniais+de+Fam%C3%ADlia%3A+al
guns+questionamentos+>. Acesso em: 04 out. 2021.
24
42
Infelizmente, conforme mencionado, o Supremo Tribunal Federal não
entendeu como a doutrinadora supracitada e, com isso, o tema da família poliafetiva
perdeu espaço nas discussões jurídicas, continuando à margem das normas legais.
Muito embora isso seja uma verdade, como o conceito adotado aqui acerca da família
está atrelado ao afeto, pode-se afirmar que o arranjo familiar analisado neste tópico
pode ser incorporado ao leque de possibilidades daquilo que chamamos família,
principalmente quando todas as pessoas vivem como e se reconhecem como tal.
2.2.5 Monoparental:
41
SOUZA, Vanessa Ribeiro Corrêa Sampaio. Relações patrimoniais de família: alguns apontamentos.
IBDFAM. Data de publicação: 06/04/2009. Disponível em:
<https://ibdfam.org.br/artigos/499/Rela%C3%A7%C3%B5es+patrimoniais+de+Fam%C3%ADlia%3A+al
guns+questionamentos+>. Acesso em: 04 out. 2021.
42
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso Extraordinário 1.045.273/SE. Reclamante C.L.S.
Reclamados: M.J.O.S e E.S.S. Relator: Ministro Alexandre de Moraes, julgado 21/12/2020. Disponível
em: < https://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=755543251>. Acesso em:
26 out. 2021.
43
VELASCO, C. Em 10 anos, Brasil ganha mais de 1 milhão de famílias formadas por mães solteiras –
Conteúdo G1, 2017. Disponível em: <https://g1.globo.com/economia/noticia/em-10-anos-brasil-ganha-
mais-de-1-milhao-de-familias-formadas-por-maes-solteiras.ghtml>. Acesso em: 26 out. 2021.
25
Muito mais importante do que conhecer tais regras, é saber quais os principais
elementos geradores dessa figura constitucionalmente prevista. A adoção, a viuvez e
o divórcio são os principais criadores dessa espécie familiar, a qual, muitas vezes,
surge de modo inesperado, como sustenta Maria Helena Diniz.45 A propósito, conforme
defende Leite, dependendo do seu início, mostra-se bastante fragilizada, tanto
financeira quanto socialmente. 46
44
BRASIL. Constituição (1988). Emenda Constitucional n. 9, de 28 de junho de 1977. Dá nova redação
ao § 1º do artigo 175 da Constituição Federal, Brasília , 28 Junho 1977. Disponível em: <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/emendas/emc/emc09.htm>. Acesso em 11 out. 2021.
45
DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro, vol. 5: Direito de Família. 20 ed. São Paulo:
Saraiva, 2005, p. 11.
46
LEITE, Eduardo de Oliveira. Famílias Monoparentais. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003,
p. 330
26
Logo, não basta que haja um reconhecimento legal sem que o Estado observe
mais atentamente as especificidades da família monoparental, que, embora possa ser
programada e sadia, muitas vezes surge abruptamente e sujeita os seus membros a
uma situação de desigualdade de gênero e econômica. É preciso que o Estado
intervenha nessa situação e garanta subterfúgios para que os indivíduos possam se
desenvolver de forma adequada e equitativa, tentando, ao máximo, especificar as
sitações de vulnerabilidade aptas a ativarem essa atuação positiva estatal .
47
DIAS, M. B. Manual de Direito das Famílias. 11º ed. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016, p.145.
48
Lebovici, S. (2004). Diálogo Leticia Solis-Ponton e Serge Leibovici. In L.Solis-Ponton (Org.), Ser pai,
ser mãe – Parentalidade: Um desafio para o terceiro milênio (p.22). São Paulo: Casa do Psicólogo.
27
primeiro precisa existir para que o outro também exista (dependência consequencial).
49
Nessa linha de raciocínio, é possível dizer que as figuras parentais são produtos
da sociedade. Ser pai ou mãe é uma construção social e, como tal, não permanece
imutável e livre de mudanças. Ninguém nasce pai ou mãe: torna-se. Nesse processo é
difícil sustentar que um casal homossexual que adota ou que cuida do filho de um ou
do outro não podem assumir, ambos, os papéis de protetores e cuidadores de seus
filhos.
49
ZAMBRANO, Elizabeth. O Direito à Homoparentalidade: Cartilha sobre as famílias constituídas por
pais homossexuais. Porto Alegre: Instituto de Acesso à Justiça, 2006, p.26.
50
ZAMBRANO, Elizabeth. O Direito à Homoparentalidade: Cartilha sobre as famílias constituídas por
pais homossexuais. Porto Alegre: Instituto de Acesso à Justiça, 2006, p.16.
28
resta saber se esse exercício é prejudicial ou não à criança. De uma forma geral,
conforme descrito minunciosamente por Dubreuil, citado por Rodriguez e Paiva, a
criação de crianças por pais homossexuais não se distingue em grande medida da
criação conferida pelos pais heterossexuais aos seus filhos. Assim como ocorre com
esses últimos, os pais homossexuais podem ou não serem ótimos pais. O sexo e o
gênero não são pontos fulcrais que determinam essa operação, e sim a vontade e o
51
preparo para tanto.
Nesse ponto, é pertinente também que seja feita a seguinte reflexão: o que é
ser um bom pai? A resposta a essa pergunta é altamente subjetiva e não raro extrapola
as linhas equidistantes das leis. Até mesmo no Brasil, caso seja feito esse
questionamento a qualquer brasileiro, várias serão as respostas. Fato é que, para a
legislação ( art.22 do ECA), é possível dizer, com relativa segurança, que um bom pai
é aquele que protege, educa e fornece o suficiente material e imaterial para que a
52
criança ou o adolescente possa se desenvolver.
Nesse sentindo, vale pontuar que, como já ocorre, a criação de filhos de casais
homoafetivos passa por situações que, sabidamente, são desafiadoras e
umbilicalmente relacionadas às condições de existências dessas pessoas. O
estranhamento por parte dos colegas de escola, o bullyng e a segregação social são
51
RODRIGUEZ, Brunella Carla; PAIVA, Maria Lucia de Souza Campos. Um estudo sobre o exercício da
parentalidade em contexto homoparental. Disponível em: <
http://pepsic.bvsalud.org/pdf/vinculo/v6n1/v6n1a03.pdf>. Acesso em: 07 de novembro de 2021. P.25.]
52
BRASIL. Lei Federal n. 8069, de 13 de julho de 1990. ECA _ Estatuto da Criança e do Adolescente.
Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm>. Acesso em 11 out. 2021.
29
53
BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil, Brasília/DF, 10 janeiro 2002.
Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406compilada.htm>. Acesso em: 13
out. 2021.
54
Idem. Ibidem.
55
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso Extraordinário 898.060/SC. Reclamante AN.
Reclamado: F G. Relator: Min. Luiz Fux, julgado 29/09/2016. Disponível em: <
https://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=13431919>.Acesso em: 26 out.
2021.
30
Não cabe à lei agir como o Rei Salomão, na conhecida história em que propôs
dividir a criança ao meio pela impossibilidade de reconhecer a parentalidade
entre ela e duas pessoas ao mesmo tempo. Da mesma forma, nos tempos
atuais, descabe pretender decidir entre a filiação afetiva e a biológica quando
o melhor interesse do descendente é o reconhecimento jurídico de ambos os
vínculos. Do contrário, estar-se-ia transformando o ser humano em mero
instrumento de aplicação dos esquadros determinados pelos legisladores. É o
direito que deve servir à pessoa, não o contrário.56
A principal norma a tratar sobre esse assunto foi o art. 14 da Resolução acima
referenciada, que previa e continua a prever o seguinte: “O reconhecimento da
paternidade ou maternidade socioafetiva somente poderá ser realizado de forma
unilateral e não implicará o registro de mais de dois pais e de duas mães no campo
FILIAÇÃO no assento de nascimento”. 58
56
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso Extraordinário 898.060/SC. Reclamante AN.
Reclamado: F G. Relator: Min. Luiz Fux, julgado 29/09/2016. Disponível em: <
https://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=13431919>.Acesso em: 26 out.
2021.
57
BRASIL. Provimento nº63, de 14 de novembro de 2017. Institui modelos únicos de certidão de
nascimento, de casamento e de óbito, a serem adotadas pelos ofícios de registro civil das
pessoas naturais, e dispõe sobre o reconhecimento voluntário e a averbação da paternidade e
maternidade socioafetiva no Livro “A” e sobre o registro de nascimento e emissão da respectiva
certidão dos filhos havidos por reprodução assistida. Diário da Justiça Eletrônico -Portal CNJ. Brasília,
DF, n. 191, p. 8-12, 17 nov., 2017. Disponível em:<http://www.cnj.jus.br/dje/djeletronico>.
Acesso em: 26 out. 2021.
58
Idem. Ibidem.
59
Idem. Ibidem.
31
60
que seria possível a dupla paternidade; a outra, que isso não seria viável.
Fato é que, desde o início, como já mencionado, a primeira corrente não fazia
muito sentido quando lido apenas o artigo 14 do Provimento acima citado, sem
referência ao estabelecido anteriormente pelo STF. Isso é tão verdadeiro que, de
acordo com o pedido de providências, instaurado pela Corregedoria Geral da Justiça do
Estado do Ceará-CE sobre a acertada interpretação desse dispositivo, o Ministro João
Otávio de Noronha, em 18/07/2018 , decidiu que: “o termo unilateral presente no art. 14
do Provimento 63/2017- CNJ limita o oficial de registro civil das pessoas naturais a anotar
apenas pai ou mãe socioafetivos, não possibilitando o registro de ambos ao mesmo
tempo”. 61 Dessa forma, consagrou, por mais equivocada que seja, a real intenção do
dispositivo.
Atualmente, esse provimento do CNJ possui feição nova, porém continua servindo
como empecilho para o reconhecimento da dupla paternidade do registro. Em 2019, por
meio do Provimento Nº 83 de 14/08/2019, estabeleceu-se, ao arrepio do princípio da
eficiência e da vinculação de todos os órgãos do judiciário aos precedentes
jurisprudenciais com eficácia contra todos que: 1) Só um pai ou mãe pode constar no
registro pela via extrajudicial (art.14, §1º do provimento referenciado) ; 2) Caso
queiram, podem solicitar, por meio judicial, a inclusão de dois pais e duas mães (art.14,
§2º do provimento referenciado). 62
60
TARTUCE, Flávio. Anotações ao Provimento 63 do Conselho Nacional de Justiça. Segunda
parte.Jusbrasil, [s.l.], maio 2018. Disponível em: <
https://flaviotartuce.jusbrasil.com.br/artigos/584420957/anotacoes-ao-provimento-63-do-conselho-
nacional-de-justica-segunda-parte-parentalidade-socioafetivo> . Acesso em: 26 out. 2021.
61
BRASIL. Conselho Nacional de Justiçal. Pedido de providências 0003325-80.2018.2.00.0000.
Requerente: CORREGEDORIA GERAL DA JUSTIÇA DO ESTADO DO CEARÁ-CE.Requerido:
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA . Min. João Otávio de Noronha. Julgado 18/07/2018. Disponível
em: < file:///C:/Users/Windows/Downloads/SEI_0054255_02.2018.8.16.6000%20(1).pd>.Acesso em: 26
out. 2021.
62
TARTUCE, Flávio. O provimento 83/2019 do Conselho Nacional de Justiça e o novo tratamento do
reconhecimento extrajudicial da parentalidade socioafetiva. Disponível em:
<https://www.migalhas.com.br/FamiliaeSucessoes/104,MI309727,81042-
O+provimento+832019+do+Conselho+Nacional+de+Justica+e+o+novo>. Acesso em: 26 out. 2021.
32
pedidos de dupla paternidade do registro, que foi julgado pelo Ministro Marco Aurélio
Belizze:
A mãe pretendia incluir no registro do menor o nome de seu pai biológico, com o
qual ela estava se relacionando novamente. No entanto, já constava no assentamento
registral do infante o nome do antigo companheiro da mulher, o qual reconheceu e
registrou a criança como se sua fosse. Nesse caso, o STJ, acertadamente, afastou tal
possibilidade, pois reconheceu que a multiparentalidade não pode servir para afastar
vários princípios caros ao direito, dentre eles a afetividade.
Inobstante a esse apontamento, pode-se concluir que, em que pese o CNJ trazer
dificuldades para o reconhecimento da dupla paternidade e a legislação civilista não prever
expressamente regras atinentes à família parental, deixando um grande vazio acerca até
mesmo da recepção dessa estrutura como família, há posicionamento vinculante do STF
63
BRASIL, Superior Tribunal de Justiça. REsp: 1674849/RS. Recorrente: A C V D (Menor). Recorrido:
E A C D. 3ª T, Min. Rel. Marco Aurélio Bellizze, DJE 23/04/2018. Disponível em:
<https://processo.stj.jus.br/processo/revista/documento/mediado/?componente=ITA&sequencial=1698834&
num_registro=201602213860&data=20180423&formato=PD>. Acesso em: 28 out. 2021.
33
favorável a essa espécie familiar, o que põe um ponto final em boa parte das discussões
acerca do instituto.
64
BRASIL. Decreto n.º 21.417-A, de 17 de maio de 1932. Regula as condições do trabalho das mulheres
nos estabelecimentos industriais e comerciais., Rio de Janeiro, 1932. Disponível em: <
https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1930-1939/decreto-21417-a-17-maio-1932-526754-
publicacaooriginal-1-pe.html> . Acesso em: 28 out. 2021.
34
65
BRASIL. DECRETO-LEI N.º 5.452, DE 1º DE MAIO DE 1943. Aprova a Consolidação das Leis do
Trabalho., Rio de Janeiro, 1 Maio 1943. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-
lei/del5452.htm>. Acesso em: 28 out. 2021.
66
STF. AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE: ADIN Nº 939-7. Relator: Ministro Sydney
Sanches. Dj: 18/03/1994. RedirSTF, 1997. Disponivel em:
<http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=266590>. Acesso em: 28 out.
2021.
67
BRASIL. LEI Nº 13.109, DE 25 DE MARÇO DE 2015. Dispõe sobre a licença à gestante e à adotante,
as medidas de proteção à maternidade das militares grávidas e a licença-paternidade, no âmbito das
forças armadas , Brasília/DF, 25 Março 2015.Disponível em: <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13109.htm>. Acesso em: 07 de novembro
de 2021.
35
68
BRASIL. LEI Nº 13.257, DE 8 DE MARÇO DE 2016. Dispõe sobre as políticas públicas para a primeira
infância e altera a Lei nº 8.069/90, o Decreto-Lei nº 3.689/41, a CLT, aprovada pelo DECRETO-LEI Nº
5.452/43, A LEI Nº 11.770/2008, E A LEI Nº 12.662/2012, Brasília/DF, 8 Março 2016. Disponível em: <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2016/lei/l13257.htm>. Acesso em: 07 de novembro
de 2021.
69
BRASIL. LEI Nº 11.770, DE 09 DE SETEMBRO DE 2008. Cria o Programa Empresa Cidadã, destinado
à prorrogação da licença-maternidade mediante concessão de incentivo fiscal, e altera a Lei n o 8.212,
de 24 de julho de 1991, Brasília/Df, 09 de setembro de 2008. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11770.htm>. Acesso em: 07 de novembro
de 2021.
70
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, Brasília/DF, 05
Outubro 1988. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>.
Acesso em 11 out. 2021.
71
JÚNIOR , A. M. S.; SEVERINO , L. F. Licença-maternidade e estabilidade da Gestante
para homens. Revista de Direito e Garantias Fundamentais, Vitória, jul./dez. 2013. Disponivel em:
<http://sisbib.emnuvens.com.br/direitosegarantias/article/view/365/187>. Acesso em:
22 Junho 2019.
36
a possibilidade de haver licença para a mãe adotante. O prazo da licença adotante era
originalmente calibrado pelo critério etário. Esse parâmetro, felizmente, não vigorou,
72
tendo sido adotado, em 2013, um único prazo, igual ao concedido à mãe biológica.
Insta salientar que essa licença não se estendia, como regra, a ambos os
adotantes, mas somente à mulher que adotava, sendo alvo de severas críticas.
Vejamos o que comenta DIAS:
Felizmente, atualmente isso não é mais dessa forma. Com a edição da lei 12.873
de 201374, o ordenamento passou a permitir que a mulher ou o homem que adota
possam usufruir da licença maternidade de cento e vinte dias. É isso o que diz a atual
redação do art. 71-A, caput da lei 8.213 de 199175.
Prosseguindo, a legislação militar, especificadamente a lei 13.109/201576, ao
dispor sobre a licença à gestante, também considerou a licença à adotante e ao
adotante. O prazo em relação à primeira foi estipulado tendo como base a idade do
adotando: caso ele tenha menos de um ano, o prazo de licença será de noventa dias,
já na hipótese de ele ter mais de um ano, o prazo diminui, chegando a trinta dias. No
que toca ao militar adotante, o prazo é o mesmo conferido aos pais biológicos: 20 dias.
Findando essa parte, cita-se que os empregados de empresas consideradas
“cidadãs” que queiram adotar, sequer possuem o direito de dilatação do prazo, visto
72
BRASIL. DECRETO-LEI N.º 5.452, DE 1º DE MAIO DE 1943. Aprova a Consolidação das Leis do
Trabalho., Rio de Janeiro, 1 Maio 1943. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-
lei/del5452.htm>. Acesso em: 28 out. 2021.
73
DIAS, M. B. Manual de Direito das Famílias. 11º ed. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016.
74
BRASIL. LEI Nº 12.873, DE 24 DE OUTUBRO DE 2013. Brasília, 24 de outubro de 2013. Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2013/lei/l12873.htm>. Acesso em: 07 de
novembro de 2021.
75
BRASIL. Lei n. 8.213/91. Lei de Benefícios e Serviços Previdenciários. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8213cons.htm. Acesso em 11 out. 2021.
76
BRASIL. LEI Nº 13.109, DE 25 DE MARÇO DE 2015. Dispõe sobre a licença à gestante e à adotante,
as medidas de proteção à maternidade das militares grávidas e a licença-paternidade, no âmbito das
forças armadas , Brasília/DF, 25 Março 2015.Disponível em: <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13109.htm>. Acesso em: 07 de novembro
de 2021.
37
que a lei 11.770/2008restou silente acerca da adoção. 77 Assim, eles estarão sujeitos
ao pálio da legislação trabalhista e a todas as suas limitações, como, por exemplo, a
impossibilidade de ambos os adotantes utilizarem a licença.
Sabe-se que as licenças para cuidar dos filhos existentes atualmente no Brasil,
de uma forma ou de outra, refletem um pensamento de segregação de funções
familiares em razão do gênero. Em vários países do mundo, contudo, tal atitude não é
seguida. Nesses países, utiliza-se uma licença denominada parental, a qual possui
vários significados a depender da localidade, mas pode ser compreendida, como diz
Barros, basicamente como: “[...] um reflexo da transição entre o conceito de ‘pátrio
poder’ e o de ‘autoridade parental’; e objetiva tornar o pai cada vez mais participante
das responsabilidades familiares” 78.
De acordo com Addati et al, uma pesquisa publicada pela OIT (Organização
Internacional do Trabalho) apontou três aspectos importantes sobre a licença parental:
1) Aproximadamente um terço dos 169 países analisados possuem algum tipo de
licença parental, sendo que uns concedem a licença a ambos os pais pelo mesmo
prazo, ao passo que outros oferecem a oportunidade de os pais escolherem quem irá
gozar do prazo para cuidar da criança; 2) Em muitos dos países analisados, a licença
parental é utilizada após as demais licenças, como um complemento; 3) Os países que
79
concedem a licença parental são os mais desenvolvidos.
A União Europeia, bloco político e econômico composto por diversos países, por
exemplo, possui diretrizes específicas sobre a licença parental. A Diretiva do Conselho
da UE 96/34/CE80, de 03 de junho de 1996, traz, dentre outras determinações, que o
77
BRASIL. LEI Nº 11.770, DE 09 DE SETEMBRO DE 2008. Cria o Programa Empresa Cidadã, destinado
à prorrogação da licença-maternidade mediante concessão de incentivo fiscal, e altera a Lei n o 8.212,
de 24 de julho de 1991, Brasília/Df, 09 de setembro de 2008. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11770.htm. Acesso em: 07 de novembro
de 2021.
78
BARROS, Alice Monteiro de. A Mulher e o Direito do Trabalho. São Paulo: LTr, 1995, p.91.
79
ADDATI, Laura; CASSIRER, Naomi; GILCHRIST, Katherine. Maternity and paternity at work: law and
practice across the world. Genebra: Organização Internacional do Trabalho, 2014, p.64.
80
UNIÃO EUROPEIA. Directiva 96/34/CE do Conselho de 3 de Junho de 1996 relativa ao Acordo-quadro
sobre a licença parental celebrado pela UNICE, pelo CEEP e pela CES. Jornal Oficial nº L 145 de
19/06/1996 p. 0004 – 0009. Disponível em: <https://eur-lex.europa.eu/legal-
content/PT/TXT/?uri=CELEX:31996L0034>. Acesso em: 07 de novembro de 2021.
38
81
SCHEFFER, Juliana de Alano. A INSERÇÃO DO INSTITUTO DA LICENÇA PARENTAL NO DIREITO
BRASILEIRO. Repositório institucional da UFSC. Disponível em: <
https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/182147/_TCC%20Juliana%20de%20Alano%20
Scheffer.%20A%20inser%C3%A7%C3%A3o%20do%20instituto%20da%20licen%C3%A7a%20parent
al%20no%20direito%20brasileiro..pdf?sequence=1&isAllowed=y>. Acesso em: 07 de novembro de
2021.P. 72.
39
Vários são os fatores que contribuem para que certos grupos sejam
marginalizados por força da falta de direitos. Em relação ao público LGBTQIA+, embora
o exercício precário da cidadania seja ainda um grande problema, a falta de
representativade e representação são um dos principais motivos possíveis que geram
o silêncio legiferante no que tange a esse grupo.
Muitos autores definiram a cidadania ao longo dos anos. No Brasil, ela está
82
RIBEIRO, Renato Janine. Apesar de renovação. Congresso tem poucos gays, negros e mulheres.
Jornal da USP. São Paulo, 17/10/2018. Disponível em: < https://jornal.usp.br/atualidades/apesar-da-
renovacao-congresso-tem-poucos-gays-negros-e-mulheres/>. Acesso em: 05 out. 2021.
40
intimamente atrelada à noção dos direitos políticos, ou seja, quem pode votar e ser
votado é, então, cidadão.
Isso decorre da ideia, defendida por Hanna Arendet e citada por Lafer, de o voto
83Por
ser o direito a ter direitos, o que, na visão dela, seria, de fato, a cidadania. certo,
essa abordagem é a melhor para o termo, faltando, talvez, somente uma profundidade
epistemológica. Para contornar tal necessidade, a teses de Marshal abaixo são
suficientes:
O autor supracitado tinha vários trabalhos acerca da noção de cidadania. O mais
importante dizia respeito ao seu significado. Ele acreditava que ela tinha a ver com o
status que detinham aqueles que eram considerados “membros completos da
sociedade” 84 e que, por sua vez, possuíam direitos e obrigações iguais. Essa
designação, vale frisar, só se aplicaria às sociedades em que houvesse um sistema de
igualdade.
Com relação a isso, o próprio estudioso reconhecia que, quando diante do
cenário capitalista, essa noção não se aplicaria muito bem, porque o que vigora é “um
conflito de princípios opostos” 85, os quais estão ligados à ordem econômica ou aos
modelos de comportamentos tolerados.
Além disso, é interessante mencionar que ele defendia que dentro da cidadania
estariam englobados três direitos: políticos, sociais e civis. Em que pese todos
comporem o termo, o próprio propositor dessa ideia reconhecia que os direitos
políticos, de votar e ser votado, seriam os mais importantes, uma vez que viabilizariam
a existência dos demais86. Volta-se, dessa forma, novamente, à tese aceita no Brasil
sobre o conceito de cidadania.
Não obstante, toda essa reflexão entorno do conceito de cidadania não seria tão
relevante sem se considerar as noções de representatividade e representação. Isso
decorre do fato de as lutas engendradas no final do século passado terem sido muito
mais sobre identidade do que sobre a noção de certos grupos poderem votar ou não.
A cidadania não conseguiria, ainda que com certa ampliação, por si só, resolver essa
questão. A partir daí surgem, então, as formas de justiça social cunhadas pela filósofa
83
LAFER, Celso. A Reconstrução dos Direitos Humanos: Um diálogo com o pensamento de
Hannah Arendt. São Paulo: Companhia das Letras 1988.
84
MARSHALL, T. H. Cidadania, classe social e status. Rio de Janeiro: Zahar, 1967, p. 62.
85
Idem.Ibidem.
86
Idem.Ibidem.
41
87
FRASER, N. (2006). Da redistribuição ao reconhecimento? Dilemas da Justiça numa era “pós-
socialista”. Traduçao: Julio Assis Simões. Cadernos de Campo. São Paulo, número 14/15, pp. 231-
239. Disponível em:< https://www.revistas.usp.br/cadernosdecampo/article/view/50109/54229> . Acesso
em: 07 de novembro de 2021.
88
FRASER, N. (2006). Da redistribuição ao reconhecimento? Dilemas da Justiça numa era “pós-
socialista”. Traduçao: Julio Assis Simões. Cadernos de Campo. São Paulo, número 14/15, pp. 231-239.
Disponível em:< https://www.revistas.usp.br/cadernosdecampo/article/view/50109/54229> . Acesso em:
07 de novembro de 2021.
89
SAKAMOTO, Leonardo. Contarato dá lição de civilidade diante de preconceito nojento. Uol notícias.
30/09/2021. Disponível em: < https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2021/09/30/contarato-
cpi-covid-sakamoto-uol-news.htm>. Acesso em: 06 out. 2021.
42
Além de usar a estrutura partidária para, por exemplo, provocar o STF com
ADIN [ação direta de inconstitucionalidade], ADPF, que só o partido pode fazer
- e o partido só faz se houver a representação lá dentro - o próprio lugar de
representação me permite a fala, portanto, instalar o debate. (...) Só o
mandato, só a representação permite isso, a instalação do debate, a voz. Eu
me levantei e me levanto sempre na tribuna do plenário da Câmara, nas
comissões, contra os inimigos dos direitos LGBT e dos direitos humanos em
geral.90
4.2 Já que não há lei, como os casais homoeróticos possuem alguns direitos
reconhecidos?
90
FERNANDES, Marcella. Representatividade LGBT é mais que aprovar projetos de lei, diz Jean Wyllys.
Disponível em: < https://www.huffpostbrasil.com/2018/06/01/r epresentatividade-lgbt-e-mais-que-
aprovarprojetos-de-lei-diz-jeanwyllys_a_23447238/>. Acesso em: 07 de novembro de 2021
43
91
DUTRA, Carlos Alberto de Alckmin. A Evolução histórica do Controle de Constitucionalidade de Leis
e Seu Papel no Século XXI. Disponível
em: https://www.al.sp.gov.br/repositorio/bibliotecaDigital/470_arquivo.pdf . Acesso em 14 de novembro
de 2021.
92 BRASIL. Constituição (1988). Emenda Constitucional n. 16, de 1965. Altera dispositivos
constitucionais referentes ao Poder Judiciário., Brasília , 26 de novembro de 1965. Disponível em: <
https://www2.camara.leg.br/legin/fed/emecon/1960-1969/emendaconstitucional-16-26-novembro-1965-
363609-publicacaooriginal-1-pl.html> .Acesso em 11 out. 2021.
93
BUZOLIN, Lívia Gonçalves. Direito homoafetivo [livro eletrônico] : criação e discussão nos poderes
judiciário e legislativo. São Paulo : Thomson Reuters Brasil, 2019,p.41.
94
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, Brasília/DF, 05
Outubro 1988. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>.
Acesso em 11 out. 2021.
44
Como se percebe pela leitura do enxerto acima, boa parte dos parlamentares
que se manifestaram logo após a decisão da Corte Suprema tinham a sensação de
que os seus poderes estavam sendo usurpados por ela. Isso, no entanto, não passava
de um sentimento desprovido de coerência com a realidade. No caso, o STF exerceu
o seu direito enquanto órgão dotado de competência para tanto e, portanto, cumpriu a
sua missão constitucional, ainda que os fundamentos de sua decisão possam ser alvo
de críticas.
Ante todo o exposto, é fácil entender o porquê de os casais homossexuais
possuírem alguns direitos reconhecidos mesmo sem lei que os contemplem.
Os direitos dessas pessoas têm sido reconhecidos pelo Poder Judiciário,
principalmente pelo STF, o qual vem atuando de forma contramajoritária e não raras
vezes de forma contrária ao Congresso Nacional para proteger os princípios e a
unidade do texto constitucional.
95
BUZOLIN, Lívia Gonçalves. Direito homoafetivo [livro eletrônico] : criação e discussão nos poderes
judiciário e legislativo. São Paulo : Thomson Reuters Brasil, 2019, p.54.
45
O primeiro grande passo dado pela justiça nesse sentido foi ter conferido, por
meio do julgamento da ADI4.277/DF e ADPF 132/RJ, aos casais homossexuais o
mesmo direito à união estável que era empregado aos casais heterossexuais. 96
A partir daí, outros órgãos do judiciário e até mesmo o Congresso passaram a
discutir mais o assunto.
No judiciário, o CNJ foi um dos órgãos que regulamentou a matéria por meio da
resolução 175, que traz uma vedação aos cartórios nacionais em se recusarem a
97
celebrar o casamento entre pessoas do mesmo sexo.
No Congresso, a decisão do STF causou um aumento no debate a respeito do
tema, como se aufere pela tabela a seguir:
96
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. ADI 4.277 e ADPF n. 132. Requerente: Procuradora-Geral da
República. Requeridos: Presidente da República e outros. Relator: Ministro Ayres Britto. Acórdão em
05.05.2011.Disponívelem:<https://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=6286
35>. Acesso em 20 out. 2021.
97
BRASIL. Resolução 175, de 14 de maio de 2013. Dispõe sobre a habilitação, celebração de casamento
civil, ou de conversão de união estável em casamento, entre pessoas de mesmo sexo. Brasília, DF:
Conselho Nacional de Justiça, 2013. Disponível em: <
https://atos.cnj.jus.br/files/resolucao_175_14052013_16052013105518.pdf>. Acesso em: 14 de
novembro de 2021
98
BUZOLIN, Lívia Gonçalves. Direito homoafetivo [livro eletrônico] : criação e discussão nos poderes
judiciário e legislativo. São Paulo : Thomson Reuters Brasil, 2019, entre página 20 e 30.
46
É bem possível que a prática da adoção entre os humanos seja bastante antiga
e difundida em diferentes sociedades, ainda que de forma diferenciada. Não é incomum
termos notícias de sociedades do passado (e do presente), de indivíduos que são
acolhidos por pessoas que não são seus genitores. O abandono, o conflito familiar,
desastres ambientais e mesmo a morte dos pais biológicos são alguns dos fatores que
podem responder por essa prática a qual, no Brasil, começou a ser regulamentada no
início do século passado, como se verá adiante.
Muito distante de pormenorizar o tema, porque não é o foco deste trabalho, é
importante expor, em breve síntese, o trajeto histórico que a adoção percorreu no
Direito nacional.
No início, um dos primeiros diplomas normativos a tratar da adoção no Brasil foi
o Código Civil de 1916100 (o mesmo código que, conforme apontado anteriormente,
preocupava-se muito mais com o patrimônio do que com a pessoa). Nele, previam-se
vários pontos reprováveis do ponto de vista contemporâneo que não mais existem,
sendo os mais lamentáveis os seguintes: 1) Só podiam adotar aqueles que não
tivessem filhos; 2) O parentesco gerado com a adoção não se estendia aos demais
componentes da família, de modo que o adotado não tinha direito a participar da
99
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, Brasília/DF, 05
Outubro 1988. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>.
Acesso em 11 out. 2021.
100
BRASIL. Lei n. 3.071, de 1º de janeiro de 1916. Código Civil dos Estados Unidos do Brasil, Rio de
Janeiro, 1 janeiro 1916. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l3071.htm>. Acesso
em 04 out. 2021.
47
sucessão da avó, por exemplo ; 3) O adotado era tido como uma classe inferior dentro
da classe dos ascendentes, recebendo ele menos do que os filhos biológicos na
herança .
Com o transcorrer do tempo, vários outros diplomas legislativos surgiram, o que
pôs fim a praticamente todas as disposições descritas no parágrafo anterior. A
promulgação da Constituição de 1988, nesse ponto, representou um grande abalo no
instituto -como em quase todos os ramos do Direito-, fornecendo a ele uma nova
dimensão.
O art. 227, §§5º e 6º da Carta Maior estabeleceram, respectivamente, que a
adoção seria assistida pelo Poder Público, na forma da lei, e que nenhuma distinção
seria estabelecida entre os filhos biológicos e adotivos, o que colocou um ponto bem
101
acertado na disparidade outrora implantada.
A partir daí e com o objetivo de atender à reserva legal, como ensina Dias, o
Estatuto da Criança e do Adolescente passou a regulamentar a matéria em parte, uma
vez que tratava apenas da adoção de menores, ficando a cargo do Código Civil do
período regulamentar a adoção de pessoas maiores. Essa abrangência normativa
serena durou até a promulgação do atual Código Civil, em 2002. Com a vigência do
compêndio civilista atual, surgiu a necessidade de resolver um conflito de normas, uma
que tanto o código contemporâneo quanto o ECA estavam dispondo acerca da Adoção.
A promulgação da conhecida Lei Nacional da Adoção pôs um basta no conflito e
102,
atribuiu ao ECA a função de tratar sobre o assunto, o que até hoje persiste.
Feito esse recorte importante, é necessário entender o que é, afinal, a adoção.
Na prática, muitos não têm dificuldade em identificar esse processo. O grande
problema está, então, em conceituá-la. Vale acentuar que, como já dito, o problema da
conceituação não se refere apenas à adoção. De uma forma geral, os conceitos
carregam forte teor de subjetivismo próprio de sua essência. Deixando essa reflexão
de lado, seguindo a doutrina contemporânea e o minimalismo conceitual, pode-se dizer
que a adoção é um ato jurídico estrito senso, o qual depende de atuação judicial. É
nesse sentido que se posiciona Dias. 103
Diferente dos negócios jurídicos, os quais comportam a manifestação de
101
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, Brasília/DF,
05 Outubro 1988. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>.
Acesso em 11 out. 2021.
102
DIAS, M. B. Manual de Direito das Famílias. 11º ed. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016,
p.814.
103
DIAS, M. B. Manual de Direito das Famílias. 11º ed. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016,
p.818.
48
vontade humana na determinação dos efeitos, os atos jurídicos estrito senso são só
sujeitos à vontade em sua gênese: uma vez acabados, seus efeitos são submetidos à
vontade legislativa, a qual em sua maior dimensão se manifesta através da lei. Assim
se desenvolve a adoção. Ninguém é obrigado a adotar. No entanto, uma vez que opta
por tal instituto, sujeita-se às consequências já determinadas pelos ditames da lei.
Ninguém adota com condição, termo, encargo. Uma vez perfeito e acabado por decisão
judicial, o ato é irrevogável. Como dito, a vontade termina na feitura do ato.
Inerente a essa responsabilidade, não é qualquer pessoa que pode adotar. O
ECA trouxe vários requisitos para que o indivíduo seja titular desse direito, sendo os
principais os seguintes: 1) Ser maior de 18 anos ( art. 42, caput do ECA); 2) Ser
dezesseis anos mais velho do que o adotado (art. 42, §3º do ECA); 3) Não ser
ascendente nem irmão do adotado (art.42, §1º do ECA); 4) Apresentar reais vantagens
para o adotado ( art.43, caput, do ECA). 104
Pela simples leitura dos requisitos acima, vê-se que a condição sexual do sujeito
não é um elemento a ser ponderado para deferir o pleito à adoção. Aliás, mesmo que
tal entrave viesse a existir, cabalmente seria inconstitucional e totalmente contrário à
jurisprudência atual, a qual, desde 2010, com a célebre decisão do Ministro Luis Felipe
Salomão que reconheceu o princípio do melhor interesse do menor como principal fator
a ser considerado, trouxe para discussão a necessidade imperiosa de o direito não
fechar os olhos aos fenômenos que estão colocados no mundo das coisas,
estabelecendo um tratamento isonômico em relação aos casais homossexuais. 105,
Dessa forma e em sintonia com o entendimento doutrinário e a jurisprudência
atual, pode-se dizer que os casais homossexuais podem adotar no Brasil. Resta saber,
então, quais sãos os tipos de adoção admitidas para essa configuração familiar e quais
são os principais efeitos provenientes desse ato.
São várias as formas pelas quais a adoção pode se manifestar. Em relação às
pessoas homossexuais, consideradas através de um prisma individual, a adoção é
admitida em vários moldes, até mesmo de forma unilateral – quando se adota sem um
companheiro ou companheira-. No que tange aos casais compostos por pessoas do
mesmo sexo, as adoções possíveis são as mesmas disponíveis para os casais héteros.
104
BRASIL. Lei Federal n. 8069, de 13 de julho de 1990. ECA _ Estatuto da Criança e do Adolescente.
Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm>. Acesso em 11 out. 2021.
105
BRASIL. Supremo Tribunal de Justiça. Recurso Especial Nº 1.183.378/RS. Recorrentes: K R O e L
P. Recorrido: Ministério Público do Rio Grande do Sul. Relator: Ministro Luis Felipe Salomão, julgado
25/10/2011.Disponívelem:<https://www.stj.jus.br/websecstj/cgi/revista/REJ.cgi/ATC?seq=18810976&tip
o=5&nreg=201000366638&SeqCgrmaSessao=&CodOrgaoJgdr=&dt=20120201&formato=PDF&salvar
=false>. Acesso em 25 out. 2021.
49
Assim, de acordo com o art. 42, §§2º e 4º do ECA, é possível que um casal adote
conjuntamente na constância do casamento ou união estável ou, ainda, mesmo que
separados é possível adotar. Nesse último caso, é apenas exigido que haja uma boa
relação entre os adotantes e que haja vínculos afetivos com o não detentor da
guarda.106
Prosseguindo, completo e apto a produzir os seus efeitos previamente dispostos
na lei, o ato da adoção, que é concretizado pela decisão constitutiva judicial, tem
eficácia imediata e começa a produzir todos os seus efeitos.107
Inclusive, eventual recurso que objetive desconstituir essa decisão, como regra,
não possuirá efeito suspensivo (art. 199-A do ECA). 108
Ora, nada mais do que justo. Sabe-se que o procedimento de adoção no Brasil
é uma verdadeira prova da paciência dos adotantes e do adotado, sujeitando-os a anos
de espera e inúmeros trâmites burocráticos. Obstar os efeitos do ato por mera
interposição recursal seria uma verdadeira atrocidade legal e totalmente distante dos
postulados da duração razoável do processo e da proteção integral das famílias e do
menor.
Dando continuidade, dentre os principais efeitos gerados pelo ato da adoção
está a condição de parentesco. Adotantes e adotados passam a ser parentes uns dos
outros, o que acaba por trazer vários direitos para ambos, como o nome e a sucessão
legítima. Para o direito, serão considerados pais e filhos (art. 41, caput, do ECA). 109
Automaticamente, diferentemente do que ocorria no início da regulamentação
da matéria, o adotado também terá vínculos de parentesco com os demais
componentes de sua nova família substituta. Na sucessão, herdará em igualdade de
condições com os demais filhos do casal. Terá, além disso, todos os direitos que os
demais filhos, inclusive ao nome.
Deixando esses efeitos civis de lado e adentrando no objeto deste trabalho, cabe
mencionar que a adoção tem como implicação também na constituição o direito à
licença maternidade, seguindo as regras dispostas na Lei 8.213/91 110,subseção VII e
106
BRASIL. Lei Federal n. 8069, de 13 de julho de 1990. ECA _ Estatuto da Criança e do Adolescente.
Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm>. Acesso em 11 out. 2021.
107
DIAS, M. B. Manual de Direito das Famílias. 11º ed. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016.
108
BRASIL. Lei Federal n. 8069, de 13 de julho de 1990. ECA _ Estatuto da Criança e do Adolescente.
Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm>. Acesso em 11 out. 2021.
109
Idem. Ibidem.
110
BRASIL. Lei n. 8.213/91. Lei de Benefícios e Serviços Previdenciários. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8213cons.htm>. Acesso em 11 out. 2021.
50
111
BRASIL. DECRETO-LEI N.º 5.452, DE 1º DE MAIO DE 1943. Aprova a Consolidação das Leis do
Trabalho., Rio de Janeiro, 1 Maio 1943. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-
lei/del5452.htm>. Acesso em: 28 out. 2021.
112
BRASIL. LEI Nº 12.873, DE 24 DE OUTUBRO DE 2013. Brasília, 24 de outubro de 2013. Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2013/lei/l12873.htm>. Acesso em: 07 de
novembro de 2021.
51
113
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. RE 778889, Relator(a): Min. ROBERTO BARROSO, Tribunal
Pleno, julgado em 10/03/2016, ACÓRDÃO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-159
DIVULG 29-07-2016 PUBLIC 01-08-2016. Disponível em:
<https://stf.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/862919746/recurso-extraordinario-re-778889-pe-
pernambuco/inteiro-teor-862919754>. Acesso em: 07 de novembro de 2021.
114
MANGIAPELO, Bruna. Número de adoções cai 46% na pandemia; são mais de 650 crianças e
adolescentes na espera por um lar em MG. G1 Sul de Minas. Alfenas-MG, 06/09/2021. Disponível em:
< https://g1.globo.com/mg/sul-de-minas/noticia/2021/09/06/numero-de-adocoes-cai-46percent-na-
pandemia-sao-mais-de-650-criancas-e-adolescentes-na-espera-por-um-lar-em-mg.ghtml>. Acesso em
10 out. 2021.
52
Justiça, em 2019, foram 3.143 adoções no país. Um ano após, esse número foi para
2.184. No ano corrente, esse número desceu para 1.517.
A distinção entre as diversas famílias apenas agrava essa tendência atual. A
vida corrida e intensa do trabalho e a morosidade e deficiência da justiça brasileira
também não contribui. Todos esses vetores, infelizmente, apenas servem para
aumentar a falta de interesse ou melhor dizendo: disposição das pessoas que um dia
pensaram em adotar uma criança.
Feita essa parada necessária para analisar a situação dirimida pelo julgado
acima, com o fito de pôr um fim a esse capítulo, o qual já se estendeu mais do que o
planejado inicialmente, passa-se a expor os principais questionamentos que surgem
ao analisar a licença adotante em relação aos casais homossexuais. Antes, é
importante deixar bem cristalino que se trata de questões abertas, passíveis até mesmo
de futuros desdobramentos e aprofundamentos. Por ora, basta citá-las.
A primeira questão que surge é a seguinte: é possível que um componente de
um casal masculino goze da licença paternidade de cinco dias e o outro utilize a licença
maternidade de cento e vinte dias? A lei veda que a licença maternidade seja estendida
a mais de um adotante. No entanto, é silente em relação à concessão simultânea a
respeito de outras licenças. Ademais, a jurisprudência, como citado outrora, já se
manifestou sobre a possibilidade de extensão da licença gestante aos adotantes.
Para terminar, o mesmo poderia ocorrer em relação a um casal de mulheres?
Nesse caso, ambas poderiam gozar de uma licença de 120 dias; uma usufruiria da
licença gestante; a outra, da licença adotante.
115
BRASIL. Câmara dos Deputados. Projeto de lei nº 1974/2021. Dispõe sobre o instituto da
Parentalidade em todo Território Nacional e altera as Leis 5.452, de 1º de Maio de 1943 (Consolidação
das Leis do Trabalho), 8112/1990 (Regime Jurídico dos Servidores), 8212/1991 (Lei Orgânica da
Seguridade Social), 8213/1991 (Regime Geral da Previdência Social) e 11770/2008 (Empresa Cidadã).
Disponível em: < https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=201914>.
Acesso em: 07 de novembro de 2021.
53
legislativa, quando ela foi proposta, quais os seus fundamentos e se já houve projetos
semelhantes. É imprescindível também discorrer sobre o processo legislativo para que
ele seja aprovado e quais as possíveis implicações para a adoção por casais
homossexuais no Brasil caso efetivamente venha a ser convertido em lei.
O Projeto de Lei n. 1974/2021, de autoria da Deputada Federal Sâmia Bomfim,
foi apresentado à mesa diretora da câmara dos deputados em 26/05/2011. Desde
então, aguarda apreciação pela comissão de trabalho, de administração e serviço
público da Câmara dos Deputados. Esse projeto, conforme sua própria ementa
descreve, dispõe sobre:
Entre os mais variados produtos jurídicos que podem advir dessa condição, a
proposição se preocupa em garantir ao sujeito que exerce a função parental um tempo
junto à criança e ao adolescente. Por causa disso, há previsão de que: 1) À uma ou
duas pessoas que exerçam as funções parentais em relação à criança recém nascida
ou que acabou de ser adotada serão garantidos uma licença parentalidade, que durará
180 dias, independentemente da idade do adotado, e um salário, a ser custeado pela
116
BRASIL. Câmara dos Deputados. Projeto de lei nº 1974/2021. Dispõe sobre o instituto da
Parentalidade em todo Território Nacional e altera as Leis 5.452, de 1º de Maio de 1943 (Consolidação
das Leis do Trabalho), 8112/1990 (Regime Jurídico dos Servidores), 8212/1991 (Lei Orgânica da
Seguridade Social), 8213/1991 (Regime Geral da Previdência Social) e 11770/2008 (Empresa Cidadã).
Disponível em: < https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=201914>.
Acesso em: 07 de novembro de 2021.
117
Idem. Ibidem.
54
Câmara PL3076/1997 1997 Arquivado Dispõe sobre Estabelecer uma licença para
120
a licença o empregado que cuidasse de
parental alguém enfermo, sem vínculo.
118
BRASIL. Câmara dos Deputados. Projeto de lei nº 1974/2021. Dispõe sobre o instituto da
Parentalidade em todo Território Nacional e altera as Leis 5.452, de 1º de Maio de 1943 (Consolidação
das Leis do Trabalho), 8112/1990 (Regime Jurídico dos Servidores), 8212/1991 (Lei Orgânica da
Seguridade Social), 8213/1991 (Regime Geral da Previdência Social) e 11770/2008 (Empresa Cidadã).
Disponível em: < https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=201914>.
Acesso em: 07 de novembro de 2021.
119
BRASIL. DECRETO-LEI N.º 5.452, DE 1º DE MAIO DE 1943. Aprova a Consolidação das Leis do
Trabalho., Rio de Janeiro, 1 Maio 1943. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-
lei/del5452.htm>. Acesso em: 28 out. 2021.
120
BRASIL.Câmara dos Deputados. Projeto de lei nº 3076/1997. Dispõe sobre a licença parental.
Disponível em: <http://imagem.camara.gov.br/Imagem/d/pdf/DCD15MAI1997.pdf#page=78>.Acesso
em: 07 de novembro de 2021.
55
121
BRASIL.Senado Federal. Projeto de lei nº PEC nº 229/2019. Altera o inciso XVIII do art. 7º da
Constituição Federal e revoga o inciso XIX da Constituição Federal e o § 1º do art. 10 do Ato das
Disposições Constitucionais Transitórias para dispor sobre a licença parental compartilhada.. Disponível
em: < https://legis.senado.leg.br/sdleg-
getter/documento?dm=8057661&ts=1630408100269&disposition=inline>. Acesso em: 07 de novembro
de 2021.
122
BRASIL.Senado Federal. PL 165/2006. Acrescenta dispositivos à Consolidação das Leis do Trabalho,
aprovada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943, para dispor sobre a licença-parental.
Disponível em: <https://legis.senado.leg.br/sdleg-
getter/documento?dm=4711808&ts=1630411442387&disposition=inline>. Acesso em: 07 de novembro
de 2021.
123
BRASIL.Senado Federal. PEC 355/2017. Dá nova redação ao art. 7º para dispor sobre a Licença
Parental.. Disponível em: <
https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1590295&filename=PEC+35
5/2017>. Acesso em: 07 de novembro de 2021.
56
124
FIGUEIREDO, Argelina Cheibub; LIMONGI, Fernando. MUDANÇA CONSTITUCIONAL,
DESEMPENHO DO LEGISLATIVO E CONSOLIDAÇÃO INSTITUCIONAL. Disponível em:<
http://anpocs.com/images/stories/RBCS/rbcs29_10.pdf>. Acesso em: 07 de novembro de 2021, p.15.
125
BRASIL. Câmara dos Deputados. Entenda o processo legislativo. Infográfico lei ordinária. Disponível
em: < https://www.camara.leg.br/tema/assets/images/infografico-lei-ordinaria.png>. Acesso em: 01 nov.
2021
57
Para terminar este capítulo, pontua-se que, uma vez aprovado, muito embora
não disposto expressamente em sua justificativa inicial, esse PL impactará
positivamente a adoção por casais homoafetivos. Isso porque garantirá isonomia entre
a adoção e a gestação biológica ao estabelecer um mesmo período para ambas as
licenças. Ademais, proporcionará aos adotantes o mesmo direito que os pais biológicos
têm de estar com o seu filho, concretizando, assim, o princípio do melhor interesse do
menor, o qual poderá usufruir da presença de ambos os pais ou mães por um período
de tempo, podendo se apropriar de seus hábitos e familiarizar-se com o novo ambiente
familiar, o que, em seu último estágio, contribuirá igualmente para a solidificação do
conceito de família pautado no afeto.
58
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
BARROS, Alice Monteiro de. A Mulher e o Direito do Trabalho. São Paulo: LTr,
1995.
BRASIL. Lei n. 3.071, de 1º de janeiro de 1916. Código Civil dos Estados Unidos
do Brasil, Rio de Janeiro, 1 janeiro 1916. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l3071.htm>. Acesso em 04 out. 2021.
DIAS, M. B. Manual de Direito das Famílias. 11º ed. ed. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2016.
DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro, vol. 5: Direito de Família.
20 ed. São Paulo: Saraiva, 2005, p. 11.
FACHIN, Luiz Edson. Teoria Crítica do Direito Civil. Rio de Janeiro: Renovar,
2003, p. 298.
NETO, Verlan Valle Gaspar. Sobre o estatuto das famílias e sobre as famílias.
Tribunal de Minas. Juiz de Fora. 23 de outubro de 2016.