T9. Manoel C Santos. de Camp A Lider Politico
T9. Manoel C Santos. de Camp A Lider Politico
T9. Manoel C Santos. de Camp A Lider Politico
ABSTRACT: This paper portrays the story of a peasant named Manoel Conceição Santos,
one of the largest organizers of the peasant resistance to the military regime. He started
organizing the union of rural workers in the valley of Pindaré-Mirim, in Maranhao, later
helped in the organization of entities important in the national scene as the CUT, the Party of
Workers and CENTRU. By their actions was persecuted, arrested and tortured in military
dictatorship, in exile in Geneva, where engages, along with other exiles, in the fight against
repressive governments. After three years out of Brazil, and returns to continue, until the
present day, struggle for a more just society. He works with associations and cooperatives,
developing activities aimed at the further development of these organizations and the welfare
of workers.
Apresentação
2
Revista História em Reflexão: Vol. 4 n. 7 – UFGD - Dourados jan/jun 2010
MANOEL CONCEIÇÃO SANTOS: de camponês a líder político - por Raimundo Lima dos Santos
A construção do militante
1
Entrevista concedida a Raimundo Lima dos Santos, em 25 de agosto de 2005, no CENTRU, Imperatriz.
2
Diário de Pernambuco – Recife, sexta feira, 06 de agosto de 1982. p. 03.
3
Revista História em Reflexão: Vol. 4 n. 7 – UFGD - Dourados jan/jun 2010
MANOEL CONCEIÇÃO SANTOS: de camponês a líder político - por Raimundo Lima dos Santos
3
Entrevista concedida a Raimundo Lima dos Santos, em 25 de agosto de 2005, no CENTRU, Imperatriz.
4
Revista História em Reflexão: Vol. 4 n. 7 – UFGD - Dourados jan/jun 2010
MANOEL CONCEIÇÃO SANTOS: de camponês a líder político - por Raimundo Lima dos Santos
4
Requerimento de Manoel Conceição Santos à Comissão Especial da Lei Estadual. 10.726/2001.
5
Teoria e Debate. Revista Bimestral da Fundação Perseu Abrano – Ano 18 n. 06. fev/mar 2005. p. 53
5
Revista História em Reflexão: Vol. 4 n. 7 – UFGD - Dourados jan/jun 2010
MANOEL CONCEIÇÃO SANTOS: de camponês a líder político - por Raimundo Lima dos Santos
seu inimigo político. Foi conveniente que o governo fizesse isso, pois toda região ficou
agitada com a prisão do camponês. A própria polícia estava com medo dos camponeses
invadirem a delegacia e matar os policiais6, o prefeito ouvia boatos de vingança.
Isso foi um dos principais motivos para sua viagem à capital. Essa transferência foi
feita de avião, pois visava o mais rápido possível amenizar a situação. O policial que havia
atirado no pé de Manoel da Conceição, com medo de represália dos camponeses, afirmou
que tinha sido o prefeito e o José Sarney que mandaram fazer tal ato.
Além do tratamento médico, segundo Manoel da Conceição, Sarney ofereceu cargos
políticos e dinheiro em troca de apoio, mas a proposta foi rejeitada. Amputada a perna e
feito o tratamento, depois de alguns meses Manoel resolve voltar para a sua cidade, junto
aos trabalhadores rurais. Os que pensaram que uma perna a menos seria motivo para
intimidação, não contaram que isso serviu como um motivo a mais para intensificar a luta
em defesa dos trabalhadores. “Minha classe é minha perna”, esse foi o lema de Mané, que
ficou internacionalmente conhecido.
No ano seguinte sua perna ainda não estava completamente recuperada, então os
trabalhadores fizeram uma arrecadação para um tratamento melhor na cidade de São
Paulo. Na mesma época, por meio de entidades esquerdistas no âmbito nacional, Manoel
realizou uma viagem para alguns países da Europa, Oriente Médio e China. Nessa viagem
passou nove meses, na qual fez um curso de guerrilha na China. Visitou o país observando
sua experiência política, chegou a ser recebido por Mao Tsé-Tung, um dos principais líderes
da revolução comunista chinesa ocorrida em 1949.
Essa viagem pelo exterior, principalmente pela China, amedrontou alguns setores da
elite conservadora no Brasil, por se tratar de uma época em que o mundo estava dividido
entre duas idéias políticas preponderantes: uma capitalista, liderada pelos Estados Unidos e
a outra socialista, influenciada pela União Soviética. Pode-se dizer que a América Latina
estava sob influência norte-americana, entretanto idéias socialistas estavam muito presentes
em toda zona conhecida por terceiro mundo; por conta disso, além do Brasil, houve
ditaduras no Chile, na Argentina, Peru, dentre outros países.
A viagem de Manoel da Conceição à China significava, para o regime militar, uma
possível proliferação das idéias comunistas no país, principalmente nas zonas mais
castigadas pela concentração de riquezas e de privilégios no país. De fato significou e os
meios de comunicação ligados à ditadura sabiam bem disso. Uma tentativa de
aniquilamento da imagem de Manoel (e de todos com idéias parecidas) perante a opinião
6
Entrevista de Manoel Conceição Santos à Helciane Araújo em 10/01/1992, CENTRU, Imperatriz.
6
Revista História em Reflexão: Vol. 4 n. 7 – UFGD - Dourados jan/jun 2010
MANOEL CONCEIÇÃO SANTOS: de camponês a líder político - por Raimundo Lima dos Santos
A prisão
7
Revista O Cruzeiro, em 11 de outubro de 1972. p. 37.
7
Revista História em Reflexão: Vol. 4 n. 7 – UFGD - Dourados jan/jun 2010
MANOEL CONCEIÇÃO SANTOS: de camponês a líder político - por Raimundo Lima dos Santos
quais constava o local da reunião que era sempre no mato; que na última reunião
assistida pelo declarante, compareceu, para sua surpresa o senhor Manoel da
Conceição Santos o qual passou a incentivar os lavradores até reunirem para
derrubar o governo, dizendo entre outras coisas que nos outros países os
camponeses viviam melhor, médicos ao tempo e a hora e outras vantagens que
no Brasil nunca tiveram ou iriam ter; que, diante de tudo isto, como é natural, o
declarante e outros lavradores ficavam entusiasmados (...) entretanto, está muito
arrependido de ter ouvido Manoel Conceição Santos e que não tornará a tomar
parte de reuniões dessa natureza, pois, assim que souber de tal virá logo avisar as
8
autoridades [...] .
Ainda que nenhum desses camponeses jamais denunciasse Manoel, foram muitos
os depoimentos nos quais as pessoas se declaravam arrependidas de terem participado das
reuniões. Sabe-se que os trabalhadores interrogados nessa época sofreram fortes pressões
psicológicas e físicas, para falarem contra Mané. Uma vez não encontrando nada que o
comprometesse na justiça comum, buscaram elementos para enquadrá-lo numa outra
instância. O Regime Militar criou a Lei de Segurança Nacional, qualquer coisa que
“ameaçasse” essa “segurança” seria fortemente combatida. Na prática, tratava-se de um
mecanismo para acabar com qualquer proposta oposicionista no político, econômico ou
cultural. Nessa perspectiva, toda a esquerda brasileira corria iminente perigo de ser extinta.
Manoel, ao levantar a bandeira para acabar com as desigualdades sociais,
econômicas e políticas; por levantar a bandeira de uma sociedade justa, não poderia
escapar à antipatia daqueles que fariam qualquer coisa para manter a situação de privilégios
para as minorias. O objetivo era conseguir sufocar lentamente, até o completo fim, os
grupos oposicionistas. De forma compassada, pretendiam ludibriar a opinião pública
internacional.
O governo estava disposto a deixar Manoel da Conceição fora de cena. Mesmo não
tendo nada comprovado contra a pessoa do líder sua pessoa foi que em seu poder foram
encontrados materiais considerados subversivos sindical, insistia na proposição de que ele
era subversivo e perigoso. Baseados nessa premissa prenderam-no numa cidade chamada
Tufilândia, em janeiro de 1972. O ponto mais agravante contra como livros editados em
Pequim (capital da China) em língua portuguesa, de autoria de Mao Tse Tung 9.
Em outros documentos não foi encontrado nada consistente, apenas suposições e a
alegação no sentido de colocá-lo como um homem perigoso que juntou bandos armados
para fazer a destruição em vários níveis. A Secretaria de Segurança Pública na Delegacia
de Ordem Política e Social (DOPS), São Luís fez o seguinte documento:
8
Secretaria de Segurança Pública do Estado. 17 de maio de 1972. p. 9.
9
Essa informação foi extraída de um documento da Casa Militar, Subsecretaria de Inteligência, cedida em 1998
por meio de um pedido de Manoel.
8
Revista História em Reflexão: Vol. 4 n. 7 – UFGD - Dourados jan/jun 2010
MANOEL CONCEIÇÃO SANTOS: de camponês a líder político - por Raimundo Lima dos Santos
Diante do exposto, sou de parecer, salvo melhor Juízo, terem os acusados iniciado
nas penas cominadas pelos arts. 23 e 25 do Decreto-Lei n° 898 de 29.09.69 (dos
Crimes de Segurança Nacional). Isto posto, como haja sobejas provas do fato
delituoso e suficiente indícios da autoria (art.254 do CPPM) e escudado ainda na
alínea D do artigo 255 do mesmo código de processo penal militar, solicito que
seja decretada a prisão preventiva dos acusados Luís Morais dos Santos e Manoel
Conceição Santos; haja vista ambos não terem documento certo, acrescendo mais
o fato de já terem tentado fugir à ação da justiça quando foram detidos e indicados
10
neste inquérito .
[...] a coisa que mais me assustou foram várias caveiras dependuradas. Era uma
coisa imunda os cidadãos com o couro seco, horríveis, com os olhos soltados. Os
torturadores diziam que eram cadáveres de subversivos que se negaram a falar,
diziam depois de algum tempo em que estivesse desaparecido, a opinião pública
iria se esquecer de mim e eles me jogariam no mar ou na montanha [...]. Para
comer, me deram apenas pão molhado em água, durante mais ou menos quinze
dias. Eu tinha que fazer as necessidades fisiológicas no cubículo onde estava, e
depois de alguns dias, não agüentava mais o mau cheiro. Nos primeiros dias me
espancaram muito. Depois me penduraram pelos braços, e ataram o meu pênis
com uma corda para que eu não urinasse [...] acordei num hospital. Depois do
tratamento, voltei novamente para a tortura. Em quatro meses fui seis vezes ao
hospital levado como morto. Numa vez saiu sangue do meu nariz, da orelha e da
boca, e eu estava com o corpo cheio de manchas azuis e roxas [...] (SANTOS
1967: 221).
Essa cena, e muitas outras piores, se repetiram várias vezes. Quando Manoel se
encontrava próximo de não aguentar mais, eles o levavam ao hospital, lhe davam banho de
gelo para espalhar o sangue roxo provocado pelas pancadas. Uma vez o colocaram com
outro preso político e Manoel pediu a ele que espalhasse a notícia de que ele estava nas
mãos do governo. Até então ninguém sabia ao certo seu paradeiro, não sabiam se
realmente estava vivo ou morto. Foi realizada uma intensa campanha em favor de sua
liberdade (e de outros presos) em todo o país e em algumas partes do mundo. O governo
esperou durante oito meses para que o povo esquecesse de Manoel para eliminá-lo, mas as
organizações intensificaram cada vez mais sua campanha. As pessoas ligadas à Ação
10
Em 10 de fevereiro de 1972.
9
Revista História em Reflexão: Vol. 4 n. 7 – UFGD - Dourados jan/jun 2010
MANOEL CONCEIÇÃO SANTOS: de camponês a líder político - por Raimundo Lima dos Santos
O exílio
Ao sair do DEOPS Manoel ficou sob proteção das igrejas católica e presbiteriana,
além da proteção da Anistia Internacional. Essas entidades prepararam todas as condições
10
Revista História em Reflexão: Vol. 4 n. 7 – UFGD - Dourados jan/jun 2010
MANOEL CONCEIÇÃO SANTOS: de camponês a líder político - por Raimundo Lima dos Santos
necessárias à partida de Manoel para o exterior. Genebra, capital da Suíça, foi o local
propício para Manoel se exilar, como de fato aconteceu em março de 1976. Antes de deixar
o país, fez um desabafo em jornais e revistas brasileiros e a correspondentes internacionais,
relatando o seguinte:
Vou saindo de meu país, não para fugir da luta e sim, para prosseguir juntos,
lutando em outras terras, a fim de evitar a precipitação imediatista aventureira que
só serve para atrapalhar a marcha da Revolução Brasileira. Prefiro andar mais
devagar numa caminhada mais longa enfrentando os altos e baixos, os fluxos e
refluxos, mais que seja um caminho seguro sem perigo de perder para a ultra-
esquerda aventureira ou a direita aventureira reformista conciliatória dos
antagonismos de classes [...] abraços fraternos a todos os amigos. Breve
11
voltarei .
11
Revista Veja, em 8 de março de 1976, p. 28.
11
Revista História em Reflexão: Vol. 4 n. 7 – UFGD - Dourados jan/jun 2010
MANOEL CONCEIÇÃO SANTOS: de camponês a líder político - por Raimundo Lima dos Santos
A luta partidária
12
Revista História em Reflexão: Vol. 4 n. 7 – UFGD - Dourados jan/jun 2010
MANOEL CONCEIÇÃO SANTOS: de camponês a líder político - por Raimundo Lima dos Santos
como essa é de fundamental importância porque “O trabalho empírico por si só vai encontrar
dificuldades para vislumbrar seus horizontes; o trabalho intelectual sem o mínimo de
concretude se perde no irrealismo” 12.
No ano seguinte, Manoel participou de uma equipe a qual acreditava que a luta
institucional no campo partidário poderia contribuir bastante para o objetivo de uma
sociedade justa, socialista, pois a conquista dos espaços burocráticos, a conquista das
instâncias de poder em escalas pequenas pode significar uma gradual conquista do poder
em escala macro. Na visão de Mané, a luta armada que foi um elemento decisivo em outros
países que fizeram uma revolução em favor dos trabalhadores, a exemplo da Rússia em
1917, da China em 1949, Cuba em 1959 e vários outros que fizeram o levante pelas armas,
não daria certo no Brasil por vários motivos. Os movimentos das décadas de 20 e 30,
liderados por sindicalistas e militantes da esquerda, foram todos reprimidos e extintos com
certa facilidade; da mesma forma aconteceu mais recentemente, na Guerrilha do Araguaia.
A fundação de um partido político criado e dirigido por trabalhadores deveria ser uma
alternativa recomendável, foi o que fizeram os primeiros fundadores do Partido dos
Trabalhadores, dentre eles, Manoel da Conceição, terceiro filiado do partido, e muitos outros
pelo Brasil afora. Manoel acompanhou especialmente a fundação do PT no nordeste, que
começou pelos Estados de Pernambuco, Rio Grande do Norte e Paraíba. Sua atuação,
especialmente, se intensificou mais nessa Região, foi o primeiro presidente em Pernambuco
em 1982 (antes, foi o segundo vice-presidente no estado de São Paulo). No mesmo ano em
que foi presidente do partido em Pernambuco se colocou à disposição para ser candidato a
governador do Estado.
visão do candidato. Não cabe aqui fazer uma análise dos motivos da derrota, pois o mais
importante é compreender os fins, mais que os meios. Manoel não deixou de atuar em favor
de seus ideais, de contribuir com os trabalhadores.
Dois anos depois, já na cidade de Imperatriz no Maranhão, Manoel se reúne e
discute com outras pessoas uma ramificação do CENTRU no Maranhão, com os mesmo
propósitos da entidade fundada em Pernambuco; apesar de algumas diferenças
operacionais, o sentido é o mesmo. Da fundação desta entidade até os dias atuais, sua
existência é de muita importância para a realização de projetos em benefício dos
trabalhadores do campo, especialmente no sul do estado. Graças a essa entidade foram
criadas e organizadas associações e cooperativas pelo Maranhão, com a ajuda de recursos
provindos de ONGS, órgãos governamentais brasileiros e estrangeiros. A partir do CENTRU
foi possível a criação da escola sindical Padre Josimo14, que desenvolveu uma proposta de
capacitação em cooperativas e a implantação de culturas permanentes em oitos municípios
do Maranhão.
No início da década de noventa, Manoel é um dos articuladores para a criação do
Centro Nacional de Apoio às Populações Tradicionais – CNPT (atualmente, Instituto Chico
Mendes). Paralela a criação desta entidade, Mané se coloca como um dos defensores e
articuladores na criação da primeira reserva extrativista da Região Tocantina, a reserva do
Ciriaco. O CNPT, desde a fundação, acompanha essa área com a elaboração de projetos,
bem como em outros fatores relacionados à sua organização política e econômica. Além
disso, o CNPT acompanha outros grupos de populações tradicionais pela região e defende
a criação da nova reserva extrativista, a da Mata Grande (em processo de realização) nas
proximidades de Imperatriz.
Participou da articulação da Rede Frutos do Cerrado em dez municípios, sendo
apenas um no Tocantins. Esse projeto visa o desenvolvimento da cultura dos produtos
nativos dessa região, visando, além do cultivo, a preservação e a defesa contra os
devastadores que visam mais o lucro imediato que a preservação das riquezas vegetal e
animal.
Em 1994, lança-se candidato a senador pelo PT, no Maranhão, sem perder os
princípios políticos que sempre defendeu. Apesar de não ter sido eleito, teve a simpatia de
111 mil eleitores que votaram no projeto defendido por ele. Três anos depois, torna-se
14
Padre Josimo morreu na região do Bico do Papagaio, assassinado por fazendeiros, insatisfeitos com a luta do
padre em favor da reforma agrária.
14
Revista História em Reflexão: Vol. 4 n. 7 – UFGD - Dourados jan/jun 2010
MANOEL CONCEIÇÃO SANTOS: de camponês a líder político - por Raimundo Lima dos Santos
O trabalho cooperativo
Depois dessa campanha política, praticamente não esteve envolvido com o partido
na esfera burocrática. Seus trabalhos, desde então, têm se dado mais no âmbito social, não
partidário, pelo menos de forma direta. Manoel tem se dedicado bastante às atividades de
organizar cooperativas no Maranhão, desde 1992 vem tentando consolidar um projeto de
criação de pequenos animais, acompanhado de implantação de culturas permanentes, na
ótica do cooperativismo. Para fortalecer essa proposta, Manoel vem trabalhando com outras
lideranças, os Grupos de Produção de Base (GPB’s). Com esse modelo, organizaram
pequenos grupos para discutirem o que é melhor para a comunidade. Isso faz parte de uma
prática que Manoel aprendeu em seus vários anos de convivência com movimentos e
grupos. A organização começa abrangendo poucas pessoas, depois associações,
cooperativas e daí por diante.
Manoel participou diretamente da criação de oito cooperativas, que na sua forma de
ver é um instrumento imprescindível para o desenvolvimento de uma sociedade de forma
mais harmoniosa. Foram criadas as cooperativas de Imperatriz, João Lisboa, Amarante,
Montes Altos, Estreito, Riachão, São Raimundo das Mangabeiras, Loreto e Balsas. Sem
contar com a atuação indireta da criação das cooperativas de Viana e Caxias, todas no sul
do Maranhão.
Para Manoel, as entidades que lutam pelos trabalhadores rurais devem aproximar-se
mais das cooperativas, assim ele acredita que há mais chances de fortalecer essas
cooperativas e oferecer maiores vantagens aos trabalhadores. Sem a aproximação de
entidades e grupos afins, Mané não acredita que possa algum trabalho social se
desenvolver de forma eficiente, sempre correrá mais risco de fracassar 15.
No ano de 2002, Manoel participou da criação da Central de Cooperativas do
Maranhão, com o intuito de fortalecer os laços do cooperativismo no estado,
consequentemente, consolidar valores solidários entre os agricultores. Ao lado da
participação na esfera da cooperativa, procurou se engajar em atividades com a mesma
bandeira como a Rede Frutos do Cerrado, que busca o desenvolvimento e preservação das
frutas nativas com objetivo de proporcionar bem estar aos trabalhadores do Sul do
15
Entrevista concedida a Raimundo Lima dos Santos, em 06.07.05, no CENTRU, Imperatriz.
15
Revista História em Reflexão: Vol. 4 n. 7 – UFGD - Dourados jan/jun 2010
MANOEL CONCEIÇÃO SANTOS: de camponês a líder político - por Raimundo Lima dos Santos
O meu sonho, que tenho assim... desde muitos anos que eu venho perseguindo, é
como eu chamo assim: a nossa libertação deste modelo de desenvolvimento
capitalista em todos os planos, todos os sentidos; no sentido econômico, no
sentido organizacional dos trabalhadores e trabalhadoras, no sentido cultural, no
sentido do conhecimento científico e técnico; tá numa sociedade que não vê o
trabalhador como uma força de trabalho, mercadoria; não vê o técnico, o cientista,
com seu conhecimento como uma mercadoria, mas vê ele...tanto a força de
trabalho do operário, do trabalhador rural como uma coisa necessária ao
desenvolvimento, dentro de uma relação humana que a gente é dono da força,
mas também é dono da propriedade e da produção. A gente também é dono do
conhecimento científico e técnico, mas também é dono da propriedade, da
produção, sabe? E dos meios que ela dispõe para o bem estar de todos. Quer
dizer... mas não vê a força de trabalho e nem o conhecimento científico e técnico
como uma coisa que é mercadoria, não passa de uma mercadoria que tem um
valor (econômico), porque essas coisas são incomparáveis, entendeu? Você por
exemplo... a força de trabalho, o conhecimento como se fosse o sol, a lua, as
estrelas, as águas do mar, a terra, que não podia ser vistos nunca como
16
mercadoria, mais como um produto da sociedade [...] .
Para muitas pessoas, falar de uma sociedade justa é sinônimo de arcaísmo, é algo
ultrapassado e sem mais possibilidades de dar certo, é mais fácil viver o individual e pregar
o fracasso das tentativas. Para Mané, as pessoas perderam a capacidade de sonhar.
Diferentemente, Manoel, até o momento, vive e acredita nessa sociedade, não apenas
observando, mas contribuindo ativamente para esse projeto que, se não é o de construir um
mundo melhor, deve ser pelo menos o de fazer um ser humano capaz de olhar além do
próprio umbigo.
16
Entrevista concedida a Raimundo Lima dos Santos, em 25.08.05, no CENTRU, Imperatriz.
16
Revista História em Reflexão: Vol. 4 n. 7 – UFGD - Dourados jan/jun 2010
MANOEL CONCEIÇÃO SANTOS: de camponês a líder político - por Raimundo Lima dos Santos
Referências Bibliográficas
BOBBIO, Noberto. As ideologias e o poder em crise. 4 ed. Brasília: Editora UnB, 1995.
BOURDIEU, Pierre. Razões práticas: sobre a teoria da ação. Campinas, SP: Papirus, 1996.
HOBSBAWN, Eric. A Era dos extremos. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
LEAL, Vítor Nunes. Coronelismo, enxada e voto. 5 ed. São Paulo: Editora Alfa-Ômega,
1975.
LUNA, Regina Celi Miranda Reis. A terra era liberta. São Luís: UFMA/Sec. Educação, 1984.
MARTINS, José de Sousa. Expropriação e violência: a questão política no campo. 2 ed. São
Paulo: Editora Hucitec. 1982.
SANTOS, Raimundo Lima dos. A (não) reforma agrária de FHC: problemas e desafios no
assentamento Alegria. Imperatriz: Ética, 2007.
17
Revista História em Reflexão: Vol. 4 n. 7 – UFGD - Dourados jan/jun 2010