UNIDADE II-sustentabilidade
UNIDADE II-sustentabilidade
UNIDADE II-sustentabilidade
Introdução
Querido aluno, é uma alegria tê-lo conosco em mais uma aula da disciplina de
Responsabilidade Social e Ambiental.
A nossa temática será sobre o sistema de proteção e governança ambiental internacional. Ela
permitirá que você compreenda o processo de reconhecimento e afirmação da proteção
ambiental no âmbito da Organização das Nações Unidas (ONU). Por meio das conferências da
ONU, discussões, como mudanças do clima, sustentabilidades e outras, passaram a fazer parte
do nosso dia a dia profissional. Além disso, há a aplicabilidade dos documentos internacionais
no ordenamento jurídico brasileiro, em um diálogo cada vez mais recorrente para que os
desafios ambientais sejam enfrentados por todos os Estados.
Portanto, você, como futuro profissional, a partir dessa aula, compreenderá a estrutura
internacional de proteção ao meio ambiente e a relação com o direito brasileiro.
Estou te esperando!
A temática ambiental entrou na agenda global na década de 1960, a partir das preocupações
com os efeitos da explosão demográfica mundial e do aumento da poluição. Em um período de
forte expansão do comércio e das atividades econômicas, houve a constatação dos limites
desse crescimento, que se tornou um assunto de debates entre pesquisadores e atores das
instâncias internacionais.
“ser um centro destinado a harmonizar a ação das nações para a consecução desses objetivos
comuns” (BRASIL, 1945, [s. p.]).
Nota-se, pois, que a ONU se tornou, assim, o centro das discussões globais, atuando por meio
de seus conselhos – Segurança; Econômico e Social; outros –, de suas comissões – Direitos
Humanos (que desde 2006 se transformou em Conselho) e outras – e de suas agências
especializadas – Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a
Cultura (Unesco); Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO);
Fundo Monetário Internacional (FMI).
Além da ONU, organizações foram criadas em âmbito regional, como a Organização dos
Estados Americanos (OEA), em 1948, pelos países das Américas. Na Europa, foram criados o
Conselho da Europa, em 1949, e a Comissão Europeia, em 1951. Esses compõem, hoje, o
arcabouço da União Europeia, a qual, por sua vez, foi criada em 1993.
Os tratados em matéria ambiental costumam ter algumas características, como: (i) os países
signatários se submetem às regras comuns; (ii) os países adotam uma cooperação interestatal,
por meio de agências internacionais ou órgãos específicos que são criados; (iii) o conteúdo dos
tratados depende do estágio atual do conhecimento científico; (iv) os tratados podem
comportar obrigações diferenciadas entre países (BURSZTYN; BURSZTYN, 2012). Os tratados
ambientais são compromissos para enfrentar questões, como poluição, diversidade biológica,
mudança do clima, florestas, entre outros, que são reveladores de como as dinâmicas
ambientais não respeitam fronteiras de Estados. Exige-se deles a cooperação e a articulação
comum para o enfrentamento dos desafios ambientais.
Por evidente, esse é um processo complexo, com dificuldades, porque a estrutura do direito
internacional foi construída em observância a um dos pressupostos do Estado moderno, a
soberania. E isso significa a autodeterminação sobre os seus territórios para dispor livremente
de suas riquezas e de seus recursos naturais. Além disso, a autodeterminação está
diretamente ligada ao desenvolvimento, que é um argumento presente entre os países, em
especial, os emergentes, marcados pela desigualdade em múltiplas dimensões – econômica,
social, ambiental. A cooperação para lidar com os problemas ambientais deve equacionar
esses desafios. Isso demonstra a complexidade dos debates nas instâncias internacionais.
A partir da década de 1970, há o franco desenvolvimento do direito internacional do meio
ambiente, que ocorreu com as conferências no âmbito da Organização das Nações Unidas
(ONU), como veremos a seguir.
Em 1968, a Assembleia-Geral das Nações Unidas, por meio da Resolução nº 2.398 (XXIII),
decidiu pela realização de uma conferência mundial para discutir as questões ambientais.
Dessa forma, ocorreu, de 5 a 16 de junho de 1972, na cidade de Estocolmo, Suécia,
a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, que é considerada um
marco do direito ambiental internacional.
Ao término dos trabalhos foi editada a Declaração de Estocolmo sobre Meio Ambiente
Humano, com 26 princípios. O Princípio 1 da Declaração reconhece o meio ambiente com
qualidade como direito fundamental:
A Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio-92), realizada
em 1992, na cidade do Rio de Janeiro, também conhecida como a Cúpula da Terra,
representou o momento máximo da preocupação ambiental global. Foram produzidos cinco
documentos internacionais: (i) Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento; (ii)
Agenda 21; (iii) Convenção-Quadro sobre Mudanças do Clima; (iv) Convenção sobre
Diversidade Biológica ou da Biodiversidade; (v) Declaração de Princípios sobre Florestas.
Desses, somente a Convenção-Quadro sobre Mudança do Clima e a Convenção sobre
Diversidade Biológica possuem força jurídica vinculante, obrigatória, denominados no direito
internacional de hard law. Os demais são declarações, destituídas de caráter vinculante,
chamadas de soft law.
Por fim, a Declaração de Princípios sobre Florestas é um documento sem força jurídica
vinculativa. Em seu conteúdo, ela exprime que os países, em especial os desenvolvidos, devem
empreender esforços para recuperar a Terra por meio de reflorestamento, arborização e
conservação florestal.
Em junho de 2012, a cidade do Rio de Janeiro foi palco da Conferência das Nações Unidas
sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20). A Rio+20 teve dois temas principais: (i) a
economia verde no contexto do desenvolvimento sustentável e da erradicação da pobreza; (ii)
a estrutura institucional para o desenvolvimento sustentável (MELO, 2017). A Rio+20 não teve
a mesma representatividade das conferências anteriores. Os países desenvolvidos, diante da
crise econômica global de 2008, optaram por não se comprometer com medidas vinculantes
ou mesmo metas específicas para as diversas temáticas com pertinência ambiental. O
documento final da Conferência é denominado “O Futuro que Queremos”, contendo 283
tópicos que, em linhas gerais, relaciona a renovação dos compromissos políticos das
conferências anteriores (Estocolmo/1972, Rio/1992 e Johanesburgo/2002) e consigna
proposições genéricas sobre a economia verde e o quadro institucional para o
desenvolvimento sustentável (MELO, 2017).
Por fim, em 28 de julho de 2022, a Assembleia Geral das Nações Unidas aprovou uma
resolução declarando que todas as pessoas têm direito a um meio ambiente limpo e saudável
(ONU, 2022). Apesar de não ser vinculante, a resolução é um importante indicativo para a
proteção ambiental em todo o planeta.
As decisões proclamadas nas conferências das Nações Unidas e nos acordos internacionais têm
influência direta na estrutura jurídica e nos órgãos de governança ambiental nacional. Há uma
simbiose entre direito internacional e nacional na proteção ambiental. Isso se dá tanto pela
incorporação dos tratados ambientais na ordem jurídica brasileira quanto pela inspiração na
elaboração de diplomas legais na legislação brasileira.
Inicialmente, a aprovação de um tratado pelo Brasil passa por estágios, como a negociação; a
assinatura pelo representante do Estado, no caso do Brasil, o Presidente da República; a
aprovação pelas duas casas do Congresso Nacional – Câmara dos Deputados e Senado Federal;
a ratificação, ato pelo qual o país assume a obrigação de cumpri-lo no plano internacional.
Com essas etapas, o tratado é válido em nível internacional. Contudo, para concluir a
incorporação do tratado, o Presidente da República edita um decreto com a sua promulgação
na ordem jurídica brasileira. Com isso, o Brasil assume uma série de obrigações para a
implementação correspondente, de acordo com as disposições específicas de cada convenção.
Para exemplificar, no caso da Convenção-Quadro sobre Mudança do Clima, o Brasil assumiu o
compromisso de reduzir as suas emissões de gases de efeito estufa, o que implica uma série de
medidas e instrumentos para observar as prescrições da Convenção-Quadro, o que afeta todos
os setores do país, como o poder público, a esfera empresarial e a sociedade civil. O Acordo de
Paris, decorrência da Convenção-Quadro, também foi incorporado à ordem jurídica brasileira.
A propósito, o Supremo Tribunal Federal reconheceu recentemente o Acordo de Paris como
um tratado de direitos humanos, ou seja, possui um status especial, de supralegalidade,
estando acima da legislação brasileira, mas abaixo da Constituição (BRASIL, 2022). Isso significa
que a legislação ordinária terá que observar as normas do Acordo de Paris para a redução dos
gases de efeito estufa.
Figura 1
| Status dos Tratados de Direitos Humanos.
Com relação à legislação propriamente dita, o Brasil editou leis a partir das discussões
originárias nos documentos e acordos das organizações supranacionais. Como exemplos, a Lei
nº 12.187/2009, que instituiu a Política Nacional de Mudanças do Clima, e a Lei nº
13.123/2015, que disciplina conteúdo atinente à biodiversidade e ao patrimônio genético.
Saiba mais
Nessa aula, estudamos o sistema internacional de proteção ao meio ambiente. Como forma de
aprofundar, uma sugestão é conhecer o site da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo
(Cetesb), que mantém um banco de dados com as principais convenções internacionais em
matéria de meio ambiente. Trata-se de uma oportunidade de conhecer os documentos e
instrumentos globais das principais temáticas ambientais. Procure conhecer e aprofundar o
conhecimento sobre os principais documentos ambientais em nível internacional.
Introdução
Querido aluno, é uma alegria tê-lo conosco em uma aula sobre um tema fundamental para a
sua formação profissional: a sustentabilidade.
“chegou o momento de o homem administrar tanto a sua própria população com os recursos
de que depende, dado que pela primeira vez na sua breve história se encontra perante
limitações definitivas, e não puramente locais”.
Tal estado de coisas se deve à intensidade das intervenções antropogênicas que afetaram
decisivamente
A partir dos domínios da ecologia, com as suas preocupações com a superpopulação, uso dos
recursos naturais e a poluição e seus resíduos, houve a transposição de suas análises para
outros domínios, notadamente através dos relatórios patrocinados pelo Clube de Roma, grupo
de empresários e pensadores formado no final da década de 1960 e que patrocinou uma série
de discussões sobre o futuro do planeta. Um dos estudos foi particularmente importante, o
denominado Os limites do crescimento, do ano de 1972, elaborado por cientistas
do Massachusetts Institute of Technology (MIT), também conhecido como Relatório Meadows,
por ter sido liderado por Dennis Meadows e Donella Meadows. A principal conclusão desse
estudo científico foi de que:
Apesar das críticas que recebeu, diante de suas projeções pouco otimistas sobre o futuro da
humanidade, deixando clara a finitude de recursos naturais em uma sociedade de consumo
acelerado, o Relatório Meadows contribuiu para que as discussões ambientais adentrassem
definitivamente no tabuleiro global. Afinal, ele tocou num ponto central para o sistema
econômico global: a necessidade de limitações nos padrões de produção e consumo.
É a partir desse momento que entra em debate uma série de termos e teorias para equacionar
as premissas do crescimento econômico em um mundo finito, limitado. Por isso, a ideia de
crescimento, central para o pensamento moderno e intensificada após o término da Segunda
Guerra Mundial, precisará ser sustentada, razão pela qual se iniciam as formulações teóricas
para uma concepção de desenvolvimento, que deverá ser sustentável. Isto é, um
desenvolvimento em que a economia seja sustentada pelo uso racional dos recursos naturais;
o que é preciso reconhecer, trata-se de um dos grandes desafios da contemporaneidade.
Gradativamente, como veremos, as expressões desenvolvimento e sustentabilidade serão
associadas, com o surgimento da compreensão de desenvolvimento sustentável e de uma
multiplicidade de sentidos para a palavra sustentabilidade.
Em 1972, a Organização das Nações Unidas (ONU) realizou a Conferência sobre o Meio
Ambiente Humano, em Estocolmo, Suécia. Nesse período, deu-se o delineamento dos
contornos da expressão ecodesenvolvimento por Maurice Strong – Secretário-Geral dessa
Convenção –, cabendo a Ignacy Sachs a popularização do conceito como um projeto de
desenvolvimento socialmente inclusivo, ecologicamente viável e economicamente sustentado,
o qual se converteu com o passar dos anos no conceito de desenvolvimento sustentável.
Em 1983, a ONU criou a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, cujo
longo ciclo de audiências e debates com líderes políticos e organizações em todo o planeta
resultou, em 1987, como conclusão de suas atividades, no Relatório Nosso Futuro Comum,
também conhecido como Relatório Brundtland, nome dado em homenagem à senhora Gro
Harlen Brundtland, a ex-primeira-ministra da Noruega, que havia presidido os trabalhos
(MELO, 2017). Esse documento definiu os contornos clássicos do desenvolvimento sustentável,
que passou a ser considerado como aquele
“[...] que atende às necessidades das gerações atuais sem comprometer a capacidade de as
futuras gerações terem suas próprias necessidades atendidas” (ONU, 1991).
O direito ao desenvolvimento deve ser exercido de modo a permitir que sejam atendidas
equitativamente as necessidades de desenvolvimento e de meio ambiente das gerações
presentes e futuras (princípio 03).
Para alcançar o desenvolvimento sustentável e uma qualidade de vida mais elevada para
todos, os Estados devem reduzir e eliminar os padrões insustentáveis de produção e consumo,
e promover políticas demográficas adequadas (princípio 08). (ONU, 1992, [s. p.])
Outro documento representativo dessas conjugações foi igualmente editado ao término dos
trabalhos da Rio-92, a ambiciosa Agenda 21. Trata-se de um documento programático, com 40
capítulos, com as diretrizes para a implementação do desenvolvimento sustentável em todas
as escalas, do global ao local, para o século XXI (MELO, 2017). Apesar de festejada em sua
edição, a Agenda 21 foi perdendo força com os passar dos anos.
Contudo,
“[...] os benefícios e custos da globalização são distribuídos desigualmente, e os países em
desenvolvimento enfrentam especiais dificuldades para encarar esse desafio” (MELO, 2017, p.
29).
Da edição do Relatório Brundtland, passando pela Agenda 21 até chegar aos dias atuais, a
esfera internacional reforçou o aspecto de multiplicidade de significados de desenvolvimento
sustentável e da expressão sustentabilidade, que, inclusive, foi apropriada por adjetivações,
tais como sustentabilidade ambiental, econômica, social, cultural e tantas outras digressões.
Apesar dessas perspectivas, as expressões desenvolvimento sustentáveis e sustentabilidade
conjugam a abordagem preferencial dos documentos oficiais e diplomas legais.
“[...] a atividade econômica não pode ser exercida em desarmonia com os princípios
destinados a tornar efetiva a proteção ao meio ambiente”.
E conclui que:
“A incolumidade do meio ambiente não pode ser comprometida por interesses empresariais
nem ficar dependente de motivações de índole meramente econômica [...]” (BRASIL, 2005, [s.
p.]).
Em meados da década de 1990, o britânico John Elkington propõe o termo Triple Bottom
Line (TBL), no âmbito corporativo norte-americano, o qual fica conhecido no Brasil como o
tripé da sustentabilidade, conjugando as dimensões econômica, social e ambiental. Esse
conceito possui como elementos constitutivos os três Ps da sustentabilidade (people, planet,
profit; ou em português, pessoas, planeta e lucro). Em suma, as empresas devem buscar o
lucro corporativo, mas com responsabilidade social em suas operações, que devem estar
alinhadas no compromisso ambiental com o planeta (MELO, 2017). O TBL é utilizado
atualmente como um dos indicadores de mensuração da sustentabilidade para governos, setor
empresarial e organizações sem fins lucrativos.
Nesse vídeo, quero convidá-lo para conhecer as principais discussões sobre a sustentabilidade,
um valor fundamental em nossas sociedades. Faremos uma abordagem do processo de
afirmação do desenvolvimento sustentável e das principais interpretações sobre a
sustentabilidade, no âmbito público e empresarial. Trata-se de um tema que estará muito
presente no seu dia a dia. Vamos juntos? Estou te aguardando para essa aula!
Aula 03: Políticas públicas ambientais
Introdução
Querido aluno, você sabe o que são políticas públicas? Qual é a importância delas em nossa
sociedade? E como as políticas públicas ambientais dialogam com as atividades econômicas?
O que é uma política pública? Quando ela deve ser elaborada? Quem participa da sua
elaboração? Qual o conteúdo de uma política pública? Essas são perguntas necessárias para a
compreensão da importância das políticas públicas de responsabilidade social e ambiental. São
múltiplas as interpretações para essas indagações, mas vamos nos ater às respostas que
dialogam com a nossa atuação profissional.
Fi
gura 1 | A formação da política pública. Fonte: elaborada pelo autor.
A pergunta seguinte é: a quem cabe a elaboração de políticas públicas? Há duas interpretações
para essa indagação (SECCHI; COELHO; PIRES, 2019). De um lado, há os que defendem a
centralidade dos atores estatais na elaboração dessas – por exemplo, agentes políticos e
técnicos dos poderes Executivo e Legislativo –, pela legitimidade e pela capacidade de alocar
recursos financeiros para equacionar os problemas públicos. Do outro lado, há os que
advogam uma compreensão multicêntrica, de que a elaboração das políticas públicas é uma
conjugação da atuação de atores estatais com os atores não estatais, como empresas,
sindicatos, organizações religiosas, organizações não governamentais etc. No caso brasileiro,
as dinâmicas das políticas públicas estão diretamente ligadas ao Estado pela sua centralidade e
intervencionismo histórico. Isto é: o Estado brasileiro é o responsável pela elaboração de
políticas públicas. Mas o fato de ser o responsável não impede a participação dos grupos de
interesse, como o setor empresarial e a sociedade civil.
É importante destacar que o Brasil é uma Federação, em que o Estado divide suas atribuições
com competências atribuídas aos seus entes federativos União, estados-membros, Distrito
Federal e municípios. Assim, políticas públicas são formuladas em termos espaciais ou
territoriais, isto é, aquelas que interessam a todo o país são políticas nacionais, como é o caso
do meio ambiente, da educação, da saúde e de outras áreas. Em articulação com as políticas
nacionais, as políticas estaduais e municipais são estabelecidas atendendo às especificidades e
singularidades de cada recorte territorial.
Mas, qual o conteúdo de uma política pública? Como já mencionamos, uma política pública
parte de um problema público, uma situação que a sociedade exige um conjunto de ações
para a resolução do problema. A política pública abrange o reconhecimento do problema e o
nível de mudança pretendido, ou seja, as transformações desejadas. É nesse ponto que temos
o conteúdo de uma política pública. Essa é composta de princípios, objetivos e instrumentos
para a sua concretização. Os princípios são os elementos estruturantes que balizarão a política
pública; é por meio deles que são definidas as estratégias. Quanto aos objetivos, eles articulam
as mudanças pretendidas, os estágios de implementação de uma política pública e, por vezes,
o tempo necessário. Já os instrumentos são as ações, os meios e os mecanismos que permitem
que a política pública alcance os seus objetivos.
Uma outra forma de compreender as políticas públicas é por meio dos níveis operacionais.
Nesse sentido, temos três níveis: plano, programa e projetos. No plano, temos os princípios,
objetivos e instrumentos, como já estudamos no parágrafo anterior. O plano deve ser aplicado
por meio de programas, que são os recortes ou desdobramentos dele. Para exemplificar, os
programas podem ser aplicados no âmbito dos estados ou dos municípios e podem ser
divididos em projetos, que são a menor unidade de planejamento ou de ação. Portanto,
políticas públicas possuem níveis operacionais na articulação e operacionalização por meio de
um plano, que é um nível estruturante e de longo prazo; com os programas, em um nível
intermediário e de médio prazo; com os projetos, de curto prazo e em um nível operacional
(SECCHI; COELHO; PIRES, 2019). A imagem a seguir expõe os níveis operacionais de uma
política pública.
Pois bem, feitas essas considerações, estudaremos agora as políticas públicas em matéria
ambiental.
Uma política pública ambiental é uma diretriz de planejamento e intervenção estatal, com a
participação do setor produtivo e dos atores não governamentais, para a proteção do meio
ambiente. Uma política pública ambiental condiciona e disciplina as atividades econômicas e
sociais em compatibilização com a proteção ambiental.
No Brasil, as políticas públicas ambientais existem desde a década de 1930, com a aprovação
do Código Florestal de 1934, do Código de Águas de 1934 e outros diplomas legais (BURSZTYN;
BURSZTYN, 2012). Na década de 1970, teve início a estruturação dos órgãos administrativos de
proteção ao meio ambiente, mas de forma fragmentada. Esse quadro mudaria na década
seguinte.
A efetiva concepção de proteção ao meio ambiente ocorreu somente em 1981, quando foi
editada a Lei da Política Nacional do Meio Ambiente, instituída pela Lei nº 6.938. Essa é a lei
estruturante da proteção ambiental brasileira e traz os princípios, objetivos e instrumentos
para uma política ambiental para o Brasil.
Em primeiro plano, é preciso mencionar a importância dos princípios, uma vez que toda
política ambiental ocorre pela observância deles. No contexto das nossas discussões, dois
merecem destaque: o princípio da prevenção e o princípio da precaução. O princípio da
prevenção significa agir antecipadamente para evitar os possíveis danos ambientais, que
costumam ser irreversíveis. Assim, as políticas ambientais são formuladas de forma a prevenir
os impactos ambientais negativos. Por meio do princípio da precaução, deve-se observar que,
em situações que predominem a incerteza científica, com a ausência de pesquisas e estudos
científicos sobre as possíveis consequências de atividades econômicas sobre a saúde das
pessoas e o meio ambiente, não se façam as intervenções pretendidas. Esses dois princípios
são balizadores das políticas públicas no Brasil.
O art. 4º da Lei nº 6.938 (BRASIL, 1981) elenca os seus objetivos específicos. Destacaremos os
três mais relevantes para a nossa discussão. O primeiro deles é a
Cabe ao poder público estabelecer padrões de qualidade ambiental para o ar, os recursos
hídricos e o solo. O terceiro objetivo é a
Esse último objetivo articula dois aspectos que convergem para o conteúdo de princípios
ambientais. O primeiro é o princípio do poluidor-pagador, que estabelece a obrigação do
poluidor de reparar os danos causados ao meio ambiente. O segundo é o princípio do usuário-
pagador, que impõe o pagamento pelo uso de recursos ambientais com fins econômicos, como
no caso da cobrança pelo uso de recursos hídricos. Por exemplo, uma empresa ou uma
atividade agropecuária que faça a captação de água em um rio – em níveis que afetem a
qualidade ou a quantidade desse curso d’água – deve pagar por esse uso.
Outro ponto fundamental da Lei nº 6.938/1981 foi a criação do Sistema Nacional do Meio
Ambiente (Sisnama), que é o conjunto de órgãos da União, estados, Distrito Federal,
municípios e suas respectivas administrações indiretas, responsáveis pela proteção, pelo
controle, pelo monitoramento e pela melhoria da qualidade e da política ambiental no país.
Trata-se da estrutura responsável pela administração ambiental no Brasil. O Sisnama é
regulamentado pelo Decreto nº 99.274/1990 (BRASIL, 1990) e estrutura-se em seis recortes
fundamentais:
Por fim, é preciso evidenciar que a partir da PNMA surgiram outras políticas públicas em áreas
específicas em matéria ambiental, como a Política Nacional de Recursos Hídricos; a Política
Nacional de Resíduos Sólidos; a Política Nacional de Biodiversidade; a Política Nacional
Educação Ambiental; a Política Nacional de Mudança do Clima e outras. O fato de termos
políticas em nível nacional mostra a preocupação da articulação entre a União, os estados, o
Distrito Federal e os municípios.
Esse instrumento é uma manifestação do princípio da prevenção, ou seja, tem como objetivo
antecipar e mitigar os impactos negativos de uma empresa ou atividade potencialmente
causadora de poluição ou degradação ambiental. Enquanto procedimento, o licenciamento
ambiental passa por etapas, em que o empreendedor deverá observar as prescrições do órgão
ambiental para a obtenção das licenças ambientais do seu negócio. No licenciamento
ambiental trifásico, que é o mais completo, é necessária a obtenção de três licenças
ambientais. São elas (MELO, 2017): (i) licença prévia, obtida com a aprovação do projeto e de
sua localização; (ii) licença de instalação, em que o projeto é implementado e ganha
materialidade; (iii) licença de operação, que permite o funcionamento da empresa. Caso o
empreendimento seja potencialmente causador de significativa degradação do meio
ambiente, o empreendedor deverá elaborar o Eia/Rima, cuja aprovação pelo órgão ambiental
enseja a concessão da licença prévia, prosseguindo, depois, com as demais etapas. A
propósito, nos casos de exigência de Eia/Rima, será possível a realização de audiência pública,
na garantia do princípio da participação comunitária. Podem requerer a audiência pública o
próprio órgão ambiental licenciador, o Ministério Público, uma entidade da sociedade civil ou
cinquenta ou mais cidadãos (CONAMA, 1987).
O licenciamento ambiental pode ser realizado por qualquer ente federativo – União, estados-
membros, Distrito Federal e municípios –, desde que tenha órgão ambiental capacitado e
conselho de meio ambiente. Para exemplificar, no âmbito federal temos o Instituto Brasileiro
do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) – órgão ambiental – e o
Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA). Esses dois requisitos são obrigatórios para
que um ente federativo proceda ao licenciamento ambiental. A divisão de atribuições entre os
entes federativos encontra-se na Lei Complementar nº 140/2011, que divide as ações
administrativas entre os entes federativos.
Nesse vídeo, estudaremos as políticas públicas ambientais. Qual a importância delas e como se
relacionam com as suas atividades profissionais? É o que responderemos! Para isso, faremos
uma leitura da Política Nacional do Meio Ambiente e do Sistema Nacional do Meio Ambiente.
Ao final, o estudo de um importante instrumento: o licenciamento ambiental. Vamos juntos?
Estou te aguardando para essa aula!
Aula 04: Responsabilidade em matéria ambiental
Introdução
Querido aluno, nessa aula, estudaremos um dos temas mais importantes para a sua formação
acadêmica e profissional: a responsabilidade em matéria ambiental.
Vamos juntos!
O arcabouço jurídico de proteção ao meio ambiente tem como objetivo a prevenção aos
impactos ambientais que causem poluição ou degradação, notadamente em casos de dano
ambiental. Com a ocorrência de um dano ambiental, adentra-se nas discussões sobre a
responsabilidade em matéria ambiental (MELO, 2017).
Em que pese a sua importância, o ordenamento jurídico brasileiro não confere uma definição
de dano ambiental. Por essa razão, a sua compreensão passa por elementos doutrinários e
pela interpretação dos tribunais superiores, especialmente o Superior Tribunal de Justiça
(MELO, 2017). Antes de adentrar nos aspectos doutrinários e jurisprudenciais, é importante
conhecer dois conceitos legais e que estão associados ao entendimento do dano ambiental.
São eles: degradação da qualidade ambiental e poluição.
Já o conceito de poluição possui amparo legal no art. 3º, III, da Lei nº 6.938/1981, considerada
“[...] como a alteração, deterioração ou destruição, parcial ou total, de qualquer dos recursos
naturais, afetando adversamente o homem e/ou a natureza”.
Leite e Ayala (2010, p. 102), após análise da legislação brasileira, apresentam o seguinte
conceito:
Dano ambiental deve ser compreendido como toda lesão intolerável causada por qualquer
ação humana (culposa ou não) ao meio ambiente, diretamente, como macrobem de interesse
da coletividade, em uma concepção totalizante, e, indiretamente, a terceiros, tendo em vista
interesses próprios e individualizáveis e que refletem no macrobem.
Por essa leitura, o dano ambiental pode atingir o macrobem ambiental, esse que é o meio
ambiente em uma visão global e integrada, como bem de uso comum do povo, e os
microbens, que são a parte corpórea do meio ambiente (fauna, flora etc.). Ademais, o dano
ambiental pode afetar interesses individualizáveis, patrimoniais ou extrapatrimoniais.
Nesse sentido, diante das várias dimensões jurídicas, apresentaremos duas das principais
classificações doutrinárias e jurisprudenciais sobre o dano ambiental: quanto à extensão do
bem protegido e quanto à extensão do dano ambiental (LEITE; AYALA, 2010).
Compreende-se como
“[...] dano ambiental lato sensu (em sentido amplo) o que afeta os interesses difusos da
coletividade e, como tal, todos os componentes do meio ambiente (meio ambiente natural,
cultural, artificial)” (MELO, 2017, p. 374).
“[...] o dano individual, que afeta interesses próprios, e somente de forma indireta ou reflexa
protege o bem ambiental” (MELO, 2017, p. 374).
Quanto à extensão do dano, a divisão em: (i) dano patrimonial; (ii) dano extrapatrimonial.
Dano ambiental patrimonial
“[...] é o que diz respeito à perda material do bem atingido. É o dano físico, material” (MELO,
2017, p. 375).
Quanto ao dano extrapatrimonial ou moral ambiental, é aquele que ofende valores imateriais,
reduzindo o bem-estar, a qualidade de vida do indivíduo ou da coletividade ou atingindo o
valor intrínseco do bem. O dano extrapatrimonial pode ser dividido em individual e coletivo. O
dano moral ambiental individual é aquele que acarreta dor ou sofrimento psíquico para uma
pessoa, como no caso de um pescador impedido de exercer sua atividade econômica por causa
de um dano ambiental. O dano moral ambiental coletivo, por sua vez, se dá pelo prejuízo à
imagem e moral coletiva dos indivíduos. Com esses apontamentos, fica evidenciado o caráter
multifacetário do dano ambiental no ordenamento jurídico brasileiro.
Entende-se por responsabilidade a obrigação de responder pela ação ou omissão que seja
lesiva a uma pessoa, patrimônio ou em face de uma obrigação legal. Na esfera ambiental, a
responsabilidade surge com a conduta considerada lesiva ao meio ambiente. Nesse sentido, a
Constituição Federal de 1988 disciplina a responsabilidade em matéria ambiental nos
seguintes termos:
“[...] nos casos em que a infração seja cometida por decisão de seu representante legal ou
contratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou benefício da sua entidade” (BRASIL,
1998, [s. p.]).
Dois são os requisitos para configurar a responsabilidade penal da pessoa jurídica: (i) a decisão
deve ser praticada pelo representante legal ou pelo órgão colegiado da empresa; (ii) a conduta
deve satisfazer ou beneficiar os interesses da pessoa jurídica. Assim, uma decisão do
representante legal/contratual ou de um órgão colegiado, que beneficie a empresa, enseja a
discussão do cometimento de um ilícito penal e, caso se confirme, ela poderá ser condenada
isolada, cumulativa ou alternativamente às penas de multa, restritivas de direitos e prestação
de serviços à comunidade (BRASIL, 1998). Registra-se que não é obrigatório a dupla imputação,
isto é, a persecução penal simultânea da pessoa jurídica e da pessoa física responsável no
âmbito da empresa. Já as pessoas físicas que cometem crimes ambientais poderão sofrer as
penas restritivas de liberdade, restritivas de direitos e multa, de acordo com o crime ambiental
cometido.
A responsabilidade administrativa ambiental, por sua vez, surge quando a pessoa física ou
jurídica pratica uma infração administrativa que, segundo definição legal, é
“[...] toda ação ou omissão que viole as regras jurídicas de uso, gozo, promoção, proteção e
recuperação do meio ambiente” (BRASIL, 1998, [s. p.]).
“[...] não raras vezes o poluidor se defendia alegando ser lícita a sua conduta, porque estava
dentro dos padrões de emissão traçados pela autoridade administrativa e, ainda, tinha
autorização ou licença para exercer aquela atividade”.
“[...] não há direito adquirido à manutenção de situação que gere prejuízo ao meio ambiente”
(BRASIL, 2018a, [s. p.]).
Com relação ao caso fortuito e da força maior, que são clássicas excludentes de
responsabilidade, elas não podem ser invocadas para elidir a obrigação de reparar os danos
causados. Uma vez que o empreendedor assume a atividade, ele é integralmente responsável
pelos danos decorrentes de sua atividade econômica. Isso porque o STJ adota a teoria do risco
integral em matéria ambiental, que não admite excludentes e atenuantes na responsabilização
do degradador (BRASIL, 2014).
A primeira pergunta é: quem deve reparar? Por evidente, o causador do dano ambiental.
Todavia, essa resposta precisa ser adequada com a figura do poluidor no sistema jurídico
brasileiro. Conforme a Lei nº 6.938/1981, que instituiu a Política Nacional do Meio Ambiente, o
poluidor é a pessoa física ou jurídica, de direito público ou de direito privado, direta ou
indiretamente responsável pela poluição ou degradação ambiental (BRASIL, 1981). Por esse
conceito, tanto pessoas de direito privado – empresas – quanto as entidades da Administração
Pública Direta – União, estados, Distrito Federal e municípios – e indireta – autarquias,
fundações públicas e outras – podem ser consideradas como poluidoras. Mas, há um aspecto
muito importante: o poluidor pode ser direto ou indireto. O poluidor direto é aquele que
efetivamente causou a degradação, ao passo que o poluidor indireto é aquele que, de alguma
forma, contribuiu para o dano ambiental. Como exemplo, instituições financeiras podem ser
responsabilizadas por empréstimos a empresas que causem danos ambientais; a empresa
como poluidora direta, a instituição financeira como poluidora indireta, porque sem o
empréstimo não teria ocorrido o dano ambiental. E o último ponto a ser destacado é que pela
jurisprudência firmada pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) os poluidores direto e indireto
são solidários, significa dizer que aqueles que participaram do dano ambiental ou que tiraram
proveito da atividade são igualmente responsáveis pela reparação. Assim, uma ação civil
pública – a principal ação de natureza ambiental – pode ser ajuizada em face de ambos,
poluidor direto ou indireto, ou de qualquer um deles.
A Lei da Política Nacional do Meio Ambiente (BRASIL, 1981) e a Lei da Ação Civil Pública
(BRASIL, 1985) relacionam, basicamente, duas formas de reparação do dano ambiental: (i) a
reparação/restauração e a (ii) indenização pecuniária. Uma outra modalidade de reparação é
destacada pela doutrina: a compensação ecológica (MELO, 2017). Dessa forma, são três as
modalidades de reparação do dano ambiental: (i) reparação específica (in natura); (ii)
compensação ecológica; (iii) indenização pecuniária. Destaca-se, em um primeiro momento,
que a ordem estabelecida deve ser observada, ou seja, deve ser priorizada a reparação
específica sobre as demais modalidades, que são subsidiárias.
Agora, se não for possível a reparação específica, adentra-se nas hipóteses de compensação
ecológica ou de indenização pecuniária. A compensação ecológica é a substituição do bem
lesado por outro equivalente (MELO, 2017). Para essa modalidade, além da impossibilidade da
reparação específica, é preciso que a área a ser compensada seja do mesmo tamanho da área
do dano e que tenha a mesma importância ecológica. A indenização pecuniária, por fim, é a
forma clássica de reparação no direito civil, mas subsidiária no direito ambiental (MELO, 2017).
Os valores arrecadados a título de indenização são destinados para o fundo para reconstituição
dos bens lesados, criado pela Lei da Ação Civil Pública.
Uma questão relevante é a cumulação de pedidos em uma ação civil pública ambiental, isto é,
tanto a reparação específica – obrigação de fazer ou de não fazer – quanto a indenização
pecuniária. O STJ entende por essa possibilidade. Segundo a Súmula 629,
Portanto, aquele que cometer um dano ambiental poderá ser obrigado reciprocamente a
reparar onde ocorreu o dano ambiental e destinar recursos financeiros para o fundo para
reconstituição dos bens lesados.
Por fim, a pretensão de reparação aos danos causados ao meio ambiente é imprescritível,
conforme decidiu o STF (BRASIL, 2020). Por outras palavras, uma ação civil pública de
reparação de danos causados ao meio ambiente não está sujeita ao instituto da prescrição,
podendo ser ajuizada mesmo que tenha se passado vários anos da ocorrência do dano. Trata-
se de demonstração da relevância do bem ambiental, cuja proteção é imprescindível para
todas as atividades humanas.
Saiba mais
Olá! Tudo bem? Neste vídeo, faremos uma abordagem sobre a proteção ambiental
internacional e nacional. Conheceremos as principais conferências das Nações Unidas para, em
seguida, adentrarmos nas políticas públicas ambientais, em especial, a Política Nacional do
Meio Ambiente. Por fim, realizaremos uma abordagem da responsabilidade civil, penal e
administrativa em matéria ambiental. Quero convidá-lo para dialogarmos sobre a governança
para a sustentabilidade. Vamos juntos?
Estudo de caso
Para contextualizar sua aprendizagem, imagine que você trabalha como consultor na área
ambiental e foi contratado por determinada entidade da sociedade civil para emitir análise
técnica sobre um caso que envolve a conduta poluidora de uma empresa e a possível
responsabilidade em matéria ambiental.
Nesse sentido, trata-se de problemática que envolve empresa do ramo têxtil, em que o
processo industrial envolve o uso intensivo de produtos químicos. A atividade é considerada
potencialmente causadora de significativa degradação, sendo que a empresa se submeteu ao
licenciamento ambiental, com a elaboração do estudo prévio de impacto ambiental
(Eia/Rima). Durante o procedimento administrativo, foi realizada audiência pública e uma
parcela significativa da população das cidades vizinhas manifestou-se contrária à instalação do
empreendimento, por estar muito próximo de um rio que abastece várias cidades e pelos
riscos envolvidos. Apesar das manifestações contrárias, o órgão ambiental licenciador
concedeu as licenças ambientais e a empresa está em operação há mais de três anos.
No início do ano de 2022, diante dos efeitos econômicos advindos da pandemia, a empresa
resolveu cortar custos operacionais, e um dos aspectos mais afetados foram as operações de
tratamento dos efluentes líquidos e gasosos gerados em sua dinâmica industrial. Apesar da
redução de custos no sistema de tratamento de efluentes, as metas financeiras pretendidas
não foram atingidas.
Diante desse relato, a análise agora é com você. Para tanto, emita as suas considerações sobre
a possível responsabilidade da empresa no caso em questão.
Reflita
Vamos, juntos, articular os principais aspectos para a resolução do nosso estudo de caso.
Em primeiro lugar, é necessário contextualizar que o caso se trata de um dos aspectos mais
recorrentes e sensíveis da nossa realidade: o desenvolvimento de atividades econômicas em
respeito à proteção ao meio ambiente. Trata-se de uma questão recorrente no universo
profissional, mas com consequências para todos, uma vez que os impactos ambientais têm
efeitos sociais e econômicos. Para a resolução, é importante identificar que o problema
conjuga o conhecimento dos instrumentos regulatórios das atividades econômicas previstos na
Lei nº 6.938/1991, que instituiu a Política Nacional do Meio Ambiente, em especial, o
licenciamento ambiental, com a responsabilidade ambiental, ou seja, as consequências pelo
descumprimento das normas ambientais, com a ocorrência de dano ambiental.
Nesse sentido, a partir do problema proposto, nota-se que a empresa cumpriu normalmente
os procedimentos do licenciamento ambiental. Por se tratar de atividade potencialmente
causadora de significativa degradação do meio ambiente, foi exigida a realização do estudo
prévio de impacto ambiental (Eia/Rima), inclusive com a realização de audiência pública,
momento de informação e participação da sociedade. Diante da regularidade das etapas
procedimentais, foram concedidas as licenças ambientais, com o funcionamento das
operações.
Contudo, podemos notar que, diante das dificuldades financeiras, especialmente decorrentes
dos efeitos da pandemia de Covid-19, a empresa optou por reduzir custos e direcionou esse
intento nos procedimentos e nas medidas de controle de suas externalidades, ou seja,
daquelas que podem causar poluição. E, aqui, temos o início do problema, porque, ao reduzir
as medidas de tratamento de efluentes, de uma atividade que é reconhecidamente poluidora,
aumentaram os riscos de um dano ambiental, que viria a ser confirmado.
Quanto às alegações da empresa, elas não coadunam com o sistema jurídico brasileiro, isso
porque a Constituição Federal, em seu art. 225, § 3º (BRASIL, 1988), determina a tríplice
responsabilidade – civil, penal e administrativa – para os causadores de dano ao meio
ambiente. No caso, é possível discutir a responsabilidade penal da pessoa jurídica, porque
houve uma decisão do órgão colegiado, que beneficiou a empresa, já que deixou de investir
recursos financeiros com essa conduta que, ao final, ocasionou o crime de poluição (BRASIL,
1998). Além disso, essa conduta pode ser analisada à luz da responsabilidade administrativa
ambiental (BRASIL, 2008). E, por fim, implicará a obrigação de reparar os danos causados ao
meio ambiente.