Avaliacao de Alunos - Construindo Um Parecer Avaliativo
Avaliacao de Alunos - Construindo Um Parecer Avaliativo
Avaliacao de Alunos - Construindo Um Parecer Avaliativo
Av a l i a ç ã o d e a l u n o s : c o n s t r u i n d o u m
parecer avaliativo de produção do
e - Av a l p u b l i c a d a e n t r e 2 0 0 8 e 2 0 1 0
MI CHELLE RIBEIRO LAG E DE AM ORIMI
L Ú C I A R E G I N A G O U L A R T V I L A R I N H O II
L Í G I A S I L V A L E I T E III
http://dx.doi.org/10.22347/2175-2753v12i37.3172
Resumo
Este Parecer, desenvolvido na disciplina Prática de Avaliação do Mestrado
Profissional em Avaliação, da Faculdade Cesgranrio, teve por objetivo analisar
14 artigos publicados nos anos de 2008 a 2010, classificados no eixo temático
Avaliação de Alunos, categoria Avaliação de Desempenho Cognitivo ou de
Aprendizagem e incorporados ao banco de dados e-Aval deste curso. Nele,
foram analisados os principais elementos constitutivos dessa produção
científica, entre outros: o problema; objeto e objetivo de estudo; abordagem
avaliativa e resultados. Verificou-se que apesar dos artigos apresentarem o
termo “avaliação” em suas palavras-chave ou no título e se relacionarem de
alguma forma à temática, não desenvolveram uma avaliação normativa que
privilegiasse os aspectos da metodologia da avaliação e adotados na análise
desses artigos.
Palavras-chave: Avaliação de Alunos. Avaliação de Desempenho Cognitivo
ou de Aprendizagem. Estado da Arte da Avaliação.
Abstract
This Opinion, developed in the Evaluation Practice discipline of the Professional Master's
in Evaluation, at Faculdade Cesgranrio, aimed to analyze 14 articles, published in the
years 2008 to 2010, classified in the thematic axis Evaluation of Students, Cognitive or
Learning Performance Assessment category and incorporated into the e-Aval database
of this course. In it, the main constituent elements of this scientific production were
analyzed, among others: the problem; study object and objective; evaluative approach
and results. It was found that although the articles present the term “evaluation” in their
keywords or in the title and are related in some way to the theme, they did not develop
a normative evaluation that privileged the aspects of the evaluation methodology
adopted for the analysis of these articles.
Keywords: Student Evaluation. Cognitive or Learning Performance Assessment. State of
the art of evaluation.
Resumen
Esta Opinión, desarrollada en la disciplina Práctica de Evaluación del Máster
Profesional en Evaluación, de la Faculdade Cesgranrio, tuvo como objetivo analizar
14 artículos, publicados en los años 2008 a 2010, clasificados en el eje temático
Evaluación Estudiantes, categoría de evaluación del desempeño cognitivo o del
aprendizaje y incorporados a la base de datos e-Aval de este curso. En él se
analizaron los principales elementos constitutivos de esta producción científica, entre
otros: el problema; objeto de estudio y objetivo; enfoque evaluativo y resultados. Se
encontró que si bien los artículos presentan el término “evaluación” en sus palabras
clave o en el título y están relacionados de alguna manera con el tema, no
desarrollaron una evaluación normativa que privilegiara los aspectos de la
metodología de evaluación adoptada para el análisis de estos artículos.
Palabras clave: Evaluación del estudiante. Evaluación del desempeño cognitivo o del
aprendizaje. Evaluación del estado del arte.
Avaliação de alunos: construindo um parecer avaliativo de produção do e-Aval publicada
entre 2008 e 2010 1061
Introdução
de uma intervenção na qual o autor participou; e (c) artigos teóricos, que discutem
um ou mais temas do campo conceitual.
Na análise da distribuição dos 14 artigos do período 2008 a 2010 quanto ao tipo
de produção, verifica-se que 13 são resultados de pesquisa e apenas um artigo é
classificado como relato de experiência. Não foram encontrados artigos teóricos.
A predominância de artigos que apresentam resultados de pesquisa pode ser
explicada pela valorização feita pelas revistas acadêmicas para este tipo de
trabalho(VILARINHO; PEREZ; FERREIRA, 2019), por essa ser uma das funções dos
professores de ensino superior (ELLIOT, 2018), ou pode também estar relacionada ao
fato de os docentes terem a oportunidade de realizar pesquisas de observação nos
ambientes das salas de aula, ao conviverem com os “diferentes espaços e ambientes
de ensino e de aprendizagem escolar.” (CARDOSO; PENIN, 2009, p. 116).
Em relação ao nível educacional, de acordo com a Lei nº 9.394/1996 de Diretrizes
e Bases da Educação Nacional (LDB), em seu artigo 21: “a educação escolar
compõe-se de: I - educação básica, formada pela educação infantil, ensino
fundamental e ensino médio; II - educação superior” (BRASIL, 1996). Dentre os 14
artigos analisados, constata-se que seis deles correspondem ao Ensino Fundamental,
um é sobre o Ensino Médio, três falam da Graduação, um se concentra na Pós-
Graduação e outros três não se aplicam a qualquer nível de ensino. Nenhum estudo
trata da educação infantil. Assim, a Educação Básica está contemplada em sete
artigos e a Educação Superior, em quatro.
Esses dados indicam que a maior concentração de artigos (sete) se refere ao
Ensino Fundamental, o que talvez possa ser explicado por ser nessa fase inicial da
educação forma que são adquiridos conhecimentos e habilidades de leitura, escrita
e cálculo, além do desenvolvimento da capacidade de aprendizagem (BRASIL,
1996). É também no Ensino Fundamental que a avaliação assume o papel de
promoção às séries posteriores.
Sobre a inexistência de estudos relacionados à educação infantil, Rosemberg
(2013, p. 46) observa que
Cabe salientar que alguns artigos não se enquadraram nos níveis educacionais
considerados uma vez que seus autores não informaram em qual nível o estudo foi
realizado. No entanto, consideraram algum aspecto do desenvolvimento cognitivo.
Assim, foram classificados como “não se aplica” na categorização do presente
estudo
O Problema do estudo
Segundo Moura e Barbosa (2008), o problema de pesquisa é um questionamento
ligado ao tema que procura apontar um aspecto relevante para ser estudado. Para
os autores, o problema deve ser “bem definido e contextualizado, sendo interessante
sintetizá-lo sob a forma de uma indagação ou questão de pesquisa [...]” (MOURA;
BARBOSA, 2008, p. 1). Para Leite (2019), o problema consiste em identificar uma
situação que gera a necessidade do estudo. Vilarinho, Perez e Ferreira (2019, p. 128)
esclarecem que “a existência de um problema representa a motivação para a
elaboração do estudo”.
Dos 14 artigos analisados, observou-se que em 13 havia a presença do problema,
necessidade ou motivação, mas em apenas dois as questões centrais foram
apresentadas claramente. Nos outros artigos, não há uma menção específica sobre
qual é o problema ou necessidade. Em alguns deles, o problema foi identificado no
resumo ou na introdução. Em outros, foi necessário realizar leituras sucessivas de todo
o artigo para se compreender o cerne do estudo. Já em outros casos, a motivação
se confundiu com a necessidade e o problema.
O objeto do estudo
Um objeto de estudo, seja na pesquisa ou na avaliação, constitui-se no foco, no
eixo central que se investiga ou avalia; é um ponto específico que está sendo
estudado dentro de um tema abrangente. Para Worthen, Sanders e Fitzpatrick (2004,
p. 35), a avaliação determina o “valor ou mérito de um objeto de avaliação (seja o
que for que estiver sendo avaliado)”. Tais objetos podem ser pessoas, programas,
políticas, produtos e outros.
Constatou-se que todos os 14 artigos analisados apresentam um objeto de
estudo, ainda que 13 deles não digam claramente qual é. Notou-se, também, que
nenhum estudo conta com uma seção específica para descrever o objeto, o que
acaba sendo feito no decorrer do artigo, sobretudo na introdução.
O único artigo que apontou explicitamente seu objeto de estudo trata de uma
das avaliações em larga escala realizada no Brasil, o Exame Nacional de
Desempenho do Estudante (ENADE), e se refere “à avaliação do conhecimento
adquirido ao longo do curso universitário e é o foco do presente estudo” (SILVA;
VENDRAMINI; LOPES, 2010, p. 186).
Assim, a análise revelou que: quatro artigos tratam de questões relacionadas à
aquisição de conhecimentos em estudos da área da educação; três abordam a
aquisição de conhecimentos em cursos/treinamentos voltados à saúde; seis se
relacionam à aprendizagem do aluno com questões de saúde, evidenciando a
interdisciplinaridade entre esse campo e a educação; e um artigo relata a
experiência em uma etapa de seleção para a residência médica. Destes, sete tratam
da aquisição de conhecimentos verificada por meio de provas e testes.
Cabe salientar que 10 artigos da área de educação são, de algum modo,
relacionados à saúde, às áreas de medicina, enfermagem e fonoaudiologia. Esta
concentração de artigos relacionados à educação em saúde vai ao encontro dos
dados pesquisados na base e-Aval no período de 2001 a 2013, ao mostrar que essa
área do conhecimento “é a que mais se utiliza de processos e estudos avaliativos [...],
de certa forma zelando pela prática da saúde na sociedade” (LEITE; AGUIAR;
OLIVEIRA; TESSEROLLI; DANTAS, 2018).
Objetivo de estudo
Para Scriven (2018, p. 386), o objetivo é “uma descrição bastante específica de
um resultado pretendido”. Vilarinho, Perez e Ferreira (2019, p. 129) destacam que “a
clareza dos objetivos é fundamental para o desenvolvimento das demais partes do
estudo”. A especificação de objetivos claros tende a minimizar as dificuldades dos
autores no desenvolvimento da metodologia e obtenção dos resultados.
Todos os 14 artigos apresentaram seus objetivos ao final da introdução, sendo
que em sete deles, ainda no resumo, são explicitadas as metas. Em apenas um dos
estudos o propósito não é exposto claramente, sendo a identificação realizada a
partir de (re)leituras da introdução.
Verificou-se que em alguns artigos há mais de um objetivo explicitado, seja na
mesma frase ou em locais distintos do texto. Em determinados casos, as metas
apresentadas são sinônimas, não implicando em alteração significativa no conteúdo
Referencial teórico
O referencial teórico é o alicerce de um trabalho científico e, de acordo com
Marconi e Lakatos (2003), deve se correlacionar com o estudo para que haja um
embasamento nas interpretações do significado dos dados levantados. Segundo
Vergara (1998), o referencial tem por objetivo apresentar os estudos sobre o tema ou
problema já desenvolvidos por outros autores. “Dessa forma, o autor [...] e o leitor [...]
tomam conhecimento do que já existe sobre o assunto, ou seja, sobre o estado da
arte” (VERGARA, 1998, p. 34), o que, para a autora, oferece contextualização e
consistência ao estudo.
Percebeu-se que todos os 14 estudos analisados utilizaram artigos de revistas
científicas e que 12 deles consultaram livros para construir seu referencial teórico.
Anais de eventos, teses de Doutorado, dissertações de Mestrado, legislação,
publicações de Associações e Conselhos, jornais e relatórios técnicos/de atividades
também foram examinados, em maior ou menor quantidade em cada estudo.
A partir da lista de referências dos artigos, verificou-se que cada autor consultado
aparece no referencial teórico até, no máximo, quatro vezes. Em alguns estudos é
utilizada apenas uma de suas publicações, já em outros eles foram referenciados por
mais de um trabalho.
Destaca-se o fato de os autores mais citados datarem dos anos 2000 e de apenas
dois deles serem estrangeiros, o que sugere uma tendência a construção do
referencial a partir da produção nacional. Além disso, em vários artigos não há
utilização de todo o potencial de suas referências, pois os autores citam brevemente
grande quantidade de publicações, em detrimento de uma análise mais profunda.
Em relação ao nível educacional dos artigos, verifica-se que alguns autores são
consultados em diferentes estudos, o que mostra a preferência por tais estudiosos em
determinado nível de ensino. Por exemplo, dentre os sete artigos analisados, que
abordam a Educação Básica, três citam o mesmo estudo dos autores Paula, Mota e
Keske-Soares (2005), sobre consciência fonológica e alfabetização. Ainda sobre a
mesma temática, o artigo de Mota e Keske-Soares é citado novamente em dois dos
artigos analisados, agora ao lado Gindri (GINDRI; KESKE-SOARES; MOTA, 2007).
Outros autores que se destacam na produção bibliográfica da Educação Básica,
especificamente no Ensino Fundamental, são Stivanin e Scheuer (2008), cujo trabalho
sobre leitura de palavras é citado em três dos artigos. Já Smythe e Everatt, são citados
em três artigos sobre o nível de palavras de crianças alfabetizadas em diferentes
línguas.
Já nos quatro artigos de Educação Superior, não há predominância de qualquer
autor. Contudo, há certa convergência em três desses estudos ao utilizarem como
referencial publicações produzidas por Conselhos, seja de acreditação, Conselho
Regional de Medicina de São Paulo, Conselho Nacional de Educação ou Conselho
Nacional de Saúde. A maior parte desses estudos consultou as diretrizes específicas
dos cursos para seu desenvolvimento.
Ao considerar os cinco artigos que possuem o objetivo de avaliar algum objeto,
verificou-se que três deles utilizam referências próprias da avaliação, sobretudo
relacionadas ao desempenho cognitivo de indivíduos com necessidades especiais e
dificuldades de aprendizagem.
Uma dificuldade encontrada na análise foi a falta de padronização de
referências em alguns artigos, já que são utilizados formatos diferentes para o mesmo
autor, dentro do mesmo artigo. Foram encontrados, ainda, casos de autocitação
que, embora permitidos, devem ser cuidadosamente utilizados dentro do necessário
para situar o leitor sobre achados anteriores do autor do texto.
Metodologia
Segundo Marconi e Lakatos (2003, p. 83), “método é o conjunto das atividades
sistemáticas e racionais que [...] permite alcançar o objetivo [...], traçando o caminho a
ser seguido, detectando erros e auxiliando as decisões [...]”. Dessa forma, a metodologia
científica se constitui em uma série de processos e etapas a serem seguidos para
desenvolver o estudo pretendido. Para Scriven (2018, p. 41), “metodologia é o estudo de
procedimentos investigativos ou práticos que visam melhorar a prática – e os métodos
que resultam deste estudo”.
Resultados
Os dados coletados em um estudo e apresentados de forma organizada constituem
seus resultados e devem ser interpretados segundo evidências. No que diz respeito às
avaliações, Scriven (2018, p. 452) salienta que “resultados normalmente são os efeitos
pós-tratamento”. “A forma como [...] serão utilizados depende das decisões tomadas
pelos sistemas e indivíduos que detêm o poder” (SILVA, 2014, p. 55).
Em artigos científicos,
as considerações finais do estudo. Diferente dos demais, um único artigo não apresenta
conclusão.
Em 13 artigos são apresentados ou analisados os desempenhos dos estudantes em
testes e provas aplicados, a partir do número de acertos. Os estudos fazem, ainda, uma
comparação dos achados dentre os grupos amostrais, seja entre alunos de diferentes
séries, de escola pública ou particular, ou ainda, entre indivíduos que possuem algum
distúrbio/dificuldade com um grupo de controle. Em apenas um estudo os resultados
obtidos decorrem da aplicação de questionário para levantamento de informações e
opiniões sobre drogas entre escolares, não resultando de teste de desempenho.
Na seção destinada à discussão dos resultados, os autores comparam os achados
com a literatura, elaborando possíveis hipóteses para explicação dos dados.
Domingues, Amaral e Zeferino (2009), por exemplo, analisam as notas obtidas nos quatro
tipos de avaliação a que são submetidos alguns estagiários de medicina, percebendo
que há uma tendência de concentração dos conceitos na parte superior da escala.
Dizem eles:
4 artigos
8 artigos
2 artigos
Atingido totalmente
Atingido parcialmente (pelo menos 1 objetivo não atingido)
Não atingido
Dessa forma, verifica-se que em oito artigos os objetivos propostos nos artigos são
alcançados e contemplados nos resultados apresentados. Já em dois estudos os
resultados atingem parcialmente os propósitos e em quatro artigos não se verifica o
cumprimento dos objetivos dos estudos na seção destinada aos resultados.
Recomendações
De acordo com Marconi e Lakatos (2003, p. 232), “as recomendações consistem em
indicações, de ordem prática, de intervenções na natureza ou na sociedade”. Devem
ser baseadas nos resultados encontrados. Por vezes são acompanhadas de sugestões
que podem, por exemplo, propor novas temáticas de estudo.
No que diz respeito às avaliações, seus resultados levam a “recomendações cuja
meta é otimizar o objeto [...] em relação a seu(s) propósito(s) futuro(s).” (WORTHEN;
SANDERS; FITZPATRICK, 2004, p. 36).
Ao analisar os artigos, verifica-se que em 13 deles existem recomendações e/ou
sugestões, tanto no sentido de dar continuidade aos estudos sobre o tema, caso de seis
artigos, quanto para orientar o trabalho de profissionais de saúde e educação ou, ainda,
para possibilitar uma melhoria no objeto analisado. Contudo, apenas em um artigo é
dito de forma explícita:
O parecer avaliativo
Referências
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