Trabalho de DGRPP
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PEDAGOGIA
Guarulhos
2023
1. Introdução
Até o século XIX, o conceito de infância se sustentava na noção de mini adultos, não
havendo uma preocupação com materiais voltados exclusivamente para esse público. A
literatura existente eram adaptações de clássicos e não se preocupavam em carregar um teor
pedagógico. A partir do século XX a noção de infância é ressignificada, e segundo Linsingen
(...) “Quando a infância passa a ser vista como um período de aprendizagem, toda e qualquer
mensagem destinada ao infante passa a ser encarada como um veículo transmissor de
conceitos”. (P. 2)
A nova visão de infância carrega consigo a preocupação de criar materiais
informativos, pedagógicos e lúdicos. Os livros infantis tornam-se recursos amplamente
significativos nos ensinamentos não só de disciplinas escolares, mas também de valores,
carregando consigo um teor de transgeracionalidade muito significativo. Da mesma maneira
que as literaturas infantis podem contribuir para a desconstrução de estereótipos, podem
também reforçá-los. Para tanto, a pesquisa utilizará duas literaturas antagônicas para
exemplificar os diferentes papéis da literatura infantil na formação dos indivíduos.
A obra “Tango tem dois papais. Por que não?” é uma literatura infantil que nos abre
espaço para debater temas importantes como as diversas possibilidades de arranjos familiares,
as famílias homoafetivas e até mesmo sobre adoção, o que implica diretamente em falar sobre
diferentes formas de amor e desconstruir a noção de família que historicamente nos foi
imposta com tal naturalidade que se faz muito difícil enxergar outras possibilidades. Segundo
Corrêa (1994), “A história das formas de organização familiar no Brasil tem se contentado
em ser a história de um determinado tipo de organização familiar e doméstica - a família
patriarcal”. (P. 6)
Já a literatura “Feminina de menina, Masculino de menino” é uma obra infantil que
requer certo cuidado ao ser trabalhada em sala de aula, podendo sim servir como material
problematizador. Entretanto, se não abordado da maneira correta, o livro tende a reforçar
estereótipos e papéis de gênero atribuídos aos sexos biológicos, reforçando o imaginário
social de feminino e masculino, menina e menino, mulher e homem, um constante binarismo.
Segundo Botton (2015),
“junto com a revelação de ser o bebê um menino ou uma menina, há a destinação para um
mundo correspondente ao sexo físico, repleto de construções sociais baseadas em aspectos
biológicos, que podem definir o gênero (masculino ou feminino) de quem ainda nem nasceu e
não possui condições de avaliar as destinações que lhe estão sendo feitas”. (BOTTON, p.45,
2015)
Ao olharmos para os livros, filmes, séries e até mesmo para materiais mais pontuais
como aqueles de teor pedagógico, iremos ver uma gama muito restrita de representação do
que seria uma família. Os tempos estão mudando e novas formas de organizações familiares
vem ganhando representatividade, entretanto, ainda é muito presente a visão da família
nuclear como sendo a família ideal, perfeita e universal. Para Oyewumi (2004), “A família
nuclear é uma família generificada por excelência [...] é centrada em uma mulher
subordinada, um marido patriarcal, e as filhas e filhos..” (p. 4) Dentro dessa estrutura
familiar, os membros possuem seus papéis pontualmente definidos advindos de uma
hierarquia de gênero e idade. Mas afinal, tratando-se de um tema tão complexo, justamente
por suas raízes históricas, como abordá-lo nos primeiros anos do ensino?
A literatura “Tango tem dois papais. Por que não?” é uma história que se
compromete com a temática de diversidade sexual de forma respeitosa, simples, divertida e
cautelosa. É uma história linda que fala não só sobre a possibilidade de famílias
homoafetivas, mas que também mostra que família vai muito além dos laços consanguíneos e
das noções sociais criadas por nós seres humanos. O livro permite que indagações iniciais
sejam feitas, levando a um debate que desconstrua não apenas noções de configuração
familiar, mas também de gênero, identidade, pertencimento e respeito.
3. A construção da noção de gênero
BOUTIGNON, Béatrice. Tango tem dois papais. Por que não?. Tradução Fabia Weintraub.
São Paulo: Edições SM, 2011.