2911 (E23) Conclusão Sobre Os Rituais Da Aurora Dourada

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09/01/2024, 09:48 Conclusão Sobre os Rituais da Aurora Dourada

«Conclusão Sobre os
Rituais da Aurora Dourada»
Após terminar a leitura destes rituais, até mesmo para o estudante mais casual deve ficar
aparente que embora eles contenham muito conteúdo instruído e erudito, além de muito
do que é essencial e verdadeiro, no entanto, estão repletos e inflados com muito conteúdo
tolo e pedante, afetado e deslocado, até tal ponto que a obscuridade deliberada substitui
uma simplicidade lúcida. O peregrino, na maioria dos casos ignorante, é espontaneamente
mergulhado em uma corrida crescente de divindades e heróis clássicos, muitos dos quais se
lançaram ruidosamente sobre ele sem rima ou razão.

Conduzido, por assim dizer, a uma Sala de Julgamento em que a lei que lhe é exposta não
é apenas inteiramente desconhecida, mas está escrita em uma língua que ele nem mesmo
consegue ler, ele é interrogado em uma língua estrangeira e julgado com palavras que na
ocasião não transmitem nem sequer um sinal de sentido para ele. À medida que os Rituais
prosseguem, pode-se esperar que essas dificuldades diminuam gradualmente, mas isso está
longe de ser o caso; pois, como vimos, as complexidades já envolvidas pela introdução de
divindades egípcias antigas, sobre as quais é provável que o candidato tenha pouco
conhecimento, são ainda mais acentuadas por uma intrusão geral por parte dos deuses,
anjos e demônios dos hebreus, cristãos, macedônios e frígios, e uma profusa dispersão de
símbolos; que, em conjunto, são capazes de confundir o candidato a ponto de fazê-lo
deixar o templo com a impressão de que todo o ritual é uma grande piada, uma espécie de
carnaval bufão de deuses que na pessoa sã só pode provocar risos; ou, por ser tão
completamente incompreensível para ele, sua ignorância o faz sentir que isso está tão além
dele e acima de seu próprio padrão simples de conhecimento, que tudo o que ele pode
fazer é se curvar diante daqueles que possuem tal linguagem exaltada, no que diz respeito
até mesmo às palavras e alfabeto os quais ele não consegue compreender ou medir.

Naturalmente, o resultado dessa obscuridade é que em ambos os casos os Rituais falham


em iniciar – no primeiro caso, não sendo compreendidos, são ridicularizados; no segundo,
embora igualmente incompreensíveis, são, no entanto, reverenciados. Em vez de ensinar o
alfabeto por meio de caracteres simples, eles o ensinam por hieróglifos grotescos e quase
impossíveis, e em vez de dar ao infante adepto uma simples boneca de pano mágica para
brincar, confiada aos seus cuidados, com prognósticos terríveis e presságio de desastre, dão
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uma gárgula arrancada do próprio telhado daquele templo em cujo chão ele, enquanto
criança, ainda está aprendendo a engatinhar. O resultado foi, como se provou na maioria
dos casos, tão desastroso quanto lamentável.

Há um tempo e um lugar certo para tudo, e há um uso certo para o emprego do


conhecimento, assim como há um uso errado. Quando uma criança aprendeu as regras
simples de adição, subtração, multiplicação e divisão; é legítimo pedir-lhe que resolva um
pequeno problema simples; mas é pura perda de tempo perguntar: “Se vinte e quatro
espadilhas custam um xelim, e uma espadilha dá uma refeição para duas crianças, quantas
crianças você pode alimentar por dois pence e meio?” antes de saber que um mais um é
igual a dois. Se uma criança nunca é ensinada a somar um mais um, é possível que, mesmo
quando adulto, o homem até o dia de sua morte olhe para o formulador da questão da
espadilha de dois centavos e meio como um matemático avançado, talvez até como um
“ocultista avançado”. Mas quando ele tiver aprendido o significado de um mais um igual a
dois, ele descobrirá que esse vasto e impensável problema, afinal, é tão simples quanto
adicionar um a um ou dois a dois.

A ostentação do conhecimento e o empilhamento de símbolos só é legítimo para o


ignorante quando o objetivo é confundir com uma imagem fulgurante, e não instruir. No
presente caso, o buscador da Verdade é chamado de Criança da Terra e das Trevas, e em vez
de ser mostrado o belo traje de luz que ele um dia será chamado a usar, é imediatamente
enrolado em uma pilha de cortinas de lantejoulas, em faixas de múmias, togas velhas e
roupas íntimas descartadas do Olimpo e do Sinai, o resultado é que, a menos que sua
compreensão seja tão clara quanto esses rituais são obscuros, tudo o que ele obtém é uma
impressão teatral de “criação” e “faz de conta”, e um distanciamento geral das realidades da
Consciência. As palavras o obcecam; ele não consegue ver que Tifão é tão necessário no
Esquema Egípcio quanto Osíris; no cristão, que Satanás é apenas o gêmeo de Cristo. Eles
agrilhoam a liberdade que deveriam desatar, produzindo não apenas uma dualidade, mas
uma multiplicidade de ilusões; de modo que, no final, as chances são de que, em vez de
conversar cara a cara com Adonai, ele se torne um pedante dirigindo-se a uma reunião com
uma multidão no Albert Hall [1] , racionalizando sobre qualidades irracionais.

Felizmente no caso de P. o resultado foi um pouco diferente; já mestre de um vasto


depósito de conhecimento e aprendizado, ele estava menos propenso a suspirar “Minha
nossa!” à exibição de pirotecnia egípcia do que muitos dos outros; de fato, por sua ajuda
ele estava capacitado a fundir ao seu conhecimento um catálogo de aprendizagem

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disruptiva, e a partir disso acrescentar muitas palavras ao grande dicionário de linguagem


mágica que ele estava tentando ansiosamente construir naquela época.

Essa construção de uma linguagem deve ser objeto de todos os rituais; devem aproximar o
buscador passo a passo de sua busca, isto é, aperfeiçoá-lo na língua que um dia espera falar.
Cada Ritual, seja uma letra, uma palavra, uma frase ou um volume, deve conter uma lição
clara e precisa, deve deixar um rastro tão brilhante e deslumbrante que o próprio
pensamento imediatamente evoca o poder vestido com seus símbolos simples, mas
luminosos.

Isso é realizado com muito mais clareza no Ritual de 0○=0○ do que nos quatro seguintes.
O candidato, o futuro Neófito, é conduzido até o Portal do Primeiro Grau, o Grau de
Neófito, e momentaneamente é revelada uma visão fulgurante de Adonai, como se fosse
uma língua de chama cegante das profundezas da escuridão, para mostrar-lhe que há luz
mesmo nesta noite terrível pela qual ele tem que viajar. Ele descobre que embora Adonai
esteja em Kether, Kether também está em Malkuth; mas os Rituais que seguem o 0○=0○,
com exceção do Portal, que consiste mais em símbolos e suas explicações do que em ritos e
cerimoniais, são mais propensos a obcecar do que a iluminar. Claro que se pode
argumentar que, como constituem quatro grandes provações, é afinal uma prova maior
ser colocado sob um guia falso do que sob um guia honesto. Mas, de fato, se assim for,
então certamente o Neófito, Zelator, Theoricus ou Practicus deve percorrer seu próprio
caminho sem a ajuda de outros; além disso, ele não deve ser tentado por outros, e quando
estiver irremediavelmente enredado, ser aliviado de suas provações como o leitor de um
conto de fadas que invariavelmente descobre que, após as mais monstruosas dificuldades,
o herói e a heroína sempre se casam e vivem felizes para sempre. É uma prova melhor dos
poderes de um nadador deixá-lo nadar sem um colete salva-vidas, apesar de ser uma prova
muito maior se você ordenar que ele salte na água com uma pedra de moinho amarrada no
pescoço; mas isso dificilmente é “honroso”, mesmo que no último momento você o tire
da água e restaure a vida dele por meio de respiração artificial. Além disso, você não está
ensinando-o a nadar ou como melhorar seus poderes de natação.

No Ritual de 1○=10○, o Neófito entra na primeira esfera dos Elementos, o Elemento da


Terra, e imediatamente está suscetível a ser vítima das terríveis obsessões mundanas do
caminho de ‫ת‬. Ele viaja por este caminho escuro apenas para se tornar filho do elemento
inconstante do Ar, cujo signo é a lua em constante mudança. O próximo passo o coloca
sob a condição instável da Água e das influências aparentemente desequilibradas de

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Mercúrio. Mas se ele tiver passado pelos caminhos de ‫ ש‬e ‫ ר‬com astúcia e seriedade, ele
entenderá porque é necessário entrar no grau do Elemento Água pelos caminhos do Sol e
do Fogo, assim como ele entenderá em seu próximo passo porque os caminhos de ‫ ק‬e ‫צ‬, ou
seja, de Peixes e Aquário, o conduzem ao fogo de Netzach e não à Água de Hod.

O caminho que conecta Hod com Netzach é o 27º caminho do Sepher Yetzirah que
responde à letra ‫פ‬. É o reflexo da Esfera de Marte e é o mais baixo dos caminhos
horizontais. A Chave do Tarô atribuída a este caminho é mui justamente a 16ª Chave – a
Torre; que vimos no Ritual de 4○=7○ que representa uma torre atingida por um
relâmpago, simbolizando a Torre de Babel atingida pela ira do Céu, e também o Poder da
Tríade precipitando-se e destruindo as colunas de escuridão, a luz de Adonai brilhando
através dos véus e consumindo os Rituais elementais dos graus de 1○=10○, 2○=9○, 3○=8○ e
4○=7○.

Teme-se que, em muitos casos, o candidato pode nunca ter percebido a necessidade dessa
destruição do conhecimento superficial e do arreamento do Touro, Águia, Homem e
Leão sob o deslumbrante chicote do Espírito. E descobrimos que, embora esses rituais
permitissem a P. dominar uma linguagem, eles dificultavam de muitas maneiras seu
progresso natural, ajudando em grande parte a obcecar sua Nephesh pelas Qliphoth – suas
paixões e emoções sendo despertadas por um contínuo cortejo de Deuses nus; seu Ruach
pelo fantasma das palavras mortas – pela dualidade da casca e do fruto das coisas; e seu
Neschamah pelo Tetragrammaton, ou seja, ele aspirava principalmente a poderes mágicos,
não para que eles pudessem acendê-lo como a chama de uma lamparina ao longo de seu
caminho, mas para que eles pudessem consumir, como o fogo no altar, suas propiciações e
sacrifícios a um Deus pessoal.

Assim o encontramos, por assim dizer, com um pentagrama figurando diante dele e
dizendo: “Ele não está completo sem sua ponta do topo”. Isso indubitavelmente está
correto, mas neste momento ele ainda não percebia que quando a Tríade Superna desce e
está repousando na ponta mais alta do Pentagrama, sendo este agora o ponto de junção,
que ele se torna a mais importante de todas as pontas, e que as quatro inferiores são pouco
mais que suportes, pernas e braços para o corpo cuja cabeça agora usa a Coroa.

Quando o peregrino percebe que as quatro características da Esfinge, os quatro


elementos, as quatro letras do Nome, apenas respondem ao quinto; então pode-se dizer
que o Ritual teve sucesso em seu propósito e o iniciou, caso contrário, falhou. Não adianta

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(mesmo que você seja o próprio Hierofante) fingir representar ‫ יהוה‬antes que você perceba
o que significa ‫יהשוה‬.

O verdadeiro conhecimento adquirido por P. nessa época, como veremos em um capítulo


posterior, foi adquirido por seu trabalho com Fras. C.S., V.N. e I.A [2] .; e ele era tão
ardente em sua busca pelo conhecimento que chegou ao ponto de invocar Mercúrio
obtendo acesso e copiando os Rituais e Conhecimentos de 5○=6○ pertencentes a Fra. F. L.
[3] , dizendo a si mesmo: “Tudo pelo Conhecimento, até a vida, até a honra, Tudo!”.

Notas de Rodapé:

1. «Refere-se ao Royal Albert Hall, um centro de eventos de Londres, fundado em 1871, que opera até hoje.» ↩︎

2. «Respectivamente, Fratres Causa Scientiæ (Julian Baker), Volo Noscere (George Cecil Jones) e Iehi Aour
(Allan Benneth).» ↩︎

3. «Em uma anotação feita por Crowley à mão em uma cópia deste livro, ele elucida que F.L. é I.A., ou seja, Allan
Benneth. Talvez este tenha sido o mote de Benneth como Adeptus Minor.» ↩︎

Capítulo traduzido por Alan Willms em setembro de 2022. Foto ilustrativa de Patrick no
Unsplash.

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