De Dev A Tech Lead
De Dev A Tech Lead
De Dev A Tech Lead
DEV A
TECH LEAD
HABILIDADES ESSENCIAIS PARA
IMPULSIONAR SUA CARREIRA
EDUARDO MATOS
De Dev a Tech Lead
Eduardo Matos
Índice
Introdução 9
Sobre exceções . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
Sobre tempo de casa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
Sobre os diferentes termos usados pelas empresas . . . . 12
Deixe clara sua intenção de ser promovido . . . . . . . . 12
Sobre crescimento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
Parte 1 • Mentalidade 15
1
Reclamar é diferente de argumentar . . . . . . . . . . . 23
Reclamar gera antipatia das pessoas . . . . . . . . . . . 24
Reclamar frequentemente enfraquece as reclamações per-
tinentes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
Exercício . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
2
Escolhendo a premissa a ser sacrificada . . . . . . . . . . 39
E se minha equipe tiver um líder que não quer fazer isso? 41
E se eu me sentir um puxa-saco? . . . . . . . . . . . . . 42
Exercício . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
3
Sempre vai existir mais trabalho do que braços para
executar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62
O porquê de trabalhar em tarefas importantes . . . . . . 63
Começando do começo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
Você já sabe o que precisa fazer . . . . . . . . . . . . . . 64
Crie tempo para trabalhar no mais importante . . . . . 64
Se você e seu líder não chegarem a um acordo . . . . . . 65
Baby steps . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66
Faça parcerias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67
Vá até o fim . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67
Escolha o que é mais importante e esqueça o resto . . . 67
Exercício . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68
Parte 2 • Resultados 69
4
Cuide-se para não ser reconhecido por algo ruim . . . . 84
Escolha seu nicho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86
Como se tornar referência . . . . . . . . . . . . . . . . . 87
Mije no poste . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 88
Não vou parecer marketeiro? . . . . . . . . . . . . . . . 90
Evite divergir . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90
Não deixe a peteca cair . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91
Defina sua marca . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91
Não dependa do seu líder . . . . . . . . . . . . . . . . . 92
Exercício . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 92
5
Espera-se que você saiba agir sob pressão quando se
tornar líder . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 111
Comece devagar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 112
Ninguém cresce com tapinha nas costas . . . . . . . . . 112
Não coloque tudo a perder . . . . . . . . . . . . . . . . . 113
Não adianta querer fazer tudo de uma vez . . . . . . . . 114
Exercício . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 114
6
Os cinco tipos de relações . . . . . . . . . . . . . . . . . 133
Sobre sua relação com a empresa . . . . . . . . . . . . . 135
Consideração vs Coragem . . . . . . . . . . . . . . . . . 135
Em muitos casos a competição é uma ilusão . . . . . . . 136
Só existe 1 tipo de relação sustentável: Ganha-ganha . . 137
Como saber se estou na empresa certa? . . . . . . . . . 139
Exercício . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 139
7
Sempre pense em como ser útil . . . . . . . . . . . . . . 158
Exercício . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 159
Conclusão 171
Referências 175
Livros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 175
Pela internet . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 176
8
Introdução
Como programador, por muitos anos busquei formas de tornar
meu crescimento profissional mais determinístico. Eu esperava
que as empresas oferecessem um plano de carreira, por exemplo.
Dessa forma eu só precisaria seguir esse plano. Mais recentemente
as empresas têm trabalhado com alguma espécie de mapa de levels.
Nele são listadas as mais diversas habilidades de um programador,
e qual nível delas é esperado para cada senioridade. Na prática
não é tão diferente de um plano de carreira. Em tese basta
demonstrar que você preenche os checkboxes das habilidades e
pronto, você vai ser promovido.
Na prática a coisa não é tão simples assim. Existe muita sub-
jetividade no processo de promoção de um dev. Por um lado é
preciso aprender cada vez mais sobre tecnologia. Em geral isso
não é um problema, afinal de contas é o que o dev fez em toda sua
carreira. Por outro lado existem diversas outras habilidades que
são esperadas de profissionais mais seniores, e essas habilidades
acabam se tornando diferenciais em sua progressão.
Não que estudar tecnologia não seja importante. Muito pelo
contrário. Estudar tecnologia é fundamental. O programador que
não for capaz de resolver os problemas da empresa através de
código, está morto. Saber programar bem é o mínimo que se
espera.
Este livro não traz nenhuma dica específica sobre tecnologia, prin-
cipalmente porque isto dependeria muito da área onde você está
atuando. Se você for um desenvolvedor front-end, terá de estudar
sobre assuntos diferentes quando comparado a um desenvolvedor
Java ou desenvolvedor iOS, por exemplo.
Aqui eu assumo que você tem feito seu dever de casa e continuará
a fazê-lo, que é estudar sobre tecnologia. Apesar de existirem
assuntos que mudam pouco com o tempo (e você deveria focar
neles primeiro,) muitos assuntos são bastante voláteis e exigem
9
que você esteja em constante evolução. Esse é o mercado onde
você atua, então estudar continuamente é o único caminho para
se manter relevante nele.
Mas eu entendo que tecnologia é a parte fácil para você. O que
te falta é saber exatamente como se comportar para chegar a um
papel de liderança.
Se você está lendo este livro, é porque deseja se tornar um líder
técnico. Esse é o primeiro passo para uma carreira além do nível
sênior. Se tornar líder não significa necessariamente fazer gestão
de pessoas ou se tornar chefe. Em muitas empresas você tem a
possibilidade de crescer como contribuidor individual, isto é, não
precisa ter liderados. O que não se fala é que aquelas pessoas
que desejam seguir esse caminho também precisam desenvolver
algumas habilidades específicas (além das técnicas.)
Neste livro eu divido essas habilidades não-técnicas em três cate-
gorias:
• Mentalidade
• Resultado
• Relacionamentos
Não importa se você pretende tocar sua carreira pro lado de gestão
ou tecnologia, essas habilidades vão ser primordiais de qualquer
forma.
Se você se tornar gestor, haverá outras habilidades que você vai
precisar desenvolver, mas esse é um problema para o seu “eu”
do futuro. Quando chegar lá, você pode se preocupar com isso.
Um passo de cada vez. Primeiro você se preocupa em chegar lá,
depois em desenvolver essas outras habilidades. Mas eu já posso
te afirmar que seguindo os passos que eu trago aqui, você já terá
meio caminho andado.
10
Sobre exceções
Conforme eu falar sobre essas habilidades você pode pensar: “Eu
conheço uma pessoa que foi promovida a Tech Lead e ela nunca
agiu dessa forma.”
Sim, as exceções existem. O fato da pessoa ter chegado lá se
comportando de forma contrária ao que eu disser não significa
necessariamente que aquela habilidade é inútil.
É importante você entender que não existem critérios 100% ob-
jetivos que levem à sua promoção a um cargo de liderança. Seu
crescimento na empresa não depende unicamente de você. De-
pende da empresa ter vaga para sua nova posição, depende dela
ter budget para te pagar um salário maior, depende do quanto seu
chefe gosta de você. . . São muitos critérios, e alguns totalmente
fora do seu controle.
Em vez de você ficar pensando nesses critérios quase aleatórios,
seu foco precisa estar em fazer tudo que estiver ao seu alcance
para aumentar a probabilidade de chegar lá.
11
Sobre os diferentes termos usados pelas empresas
Tech Lead, Tech Leader, Engineering Manager, Tech Manager,
Lead Software Engineer. . . Existe uma gama de títulos que as
empresas usam para designar um dev que está na posição de lid-
erança. Em algumas empresas o Tech Lead tem responsabilidade
de gestão de pessoas, em outras é um líder puramente técnico,
por exemplo.
Neste momento eu peço que você não se apegue tanto a isso.
As habilidades que vou te apresentar são úteis independente do
caminho que você decida seguir. Existem algumas atitudes que
se espera de um líder independente dos detalhes da sua posição,
e é sobre isso que eu falo aqui.
Líder, chefe, gestor e superior também são termos que uso de forma
indiferenciável ao longo do livro, isto é, em nenhum momento os
uso com intenção de trazer uma conotação negativa ou positiva.
12
espera que você evolua para você ser promovido. Parece óbvio,
e realmente é. O óbvio precisa ser dito. Faça o favor de real-
mente executar o que seu líder te passou. A maioria das pessoa
diz que quer crescer mas não está disposta a mover uma palha.
Não somente diga que vai fazer. Assuma o compromisso e faça!
Conforme você começar a trabalhar na lista que ele deixou, você
vai sinalizar que está levando a sério sua intenção de se tornar
um líder.
Sobre crescimento
Podemos quebrar o crescimento profissional em duas componentes:
Experiência e Estudo.
Experiência está relacionada ao que você aprendeu colocando a
mão na massa. Aqui me refiro tanto às hard-skills quanto às
soft-skills. Tudo que você viveu conta. A melhor maneira de
otimizar essa componente é se expondo a diferentes situações. É
o caso de evitar viver o mesmo ano dez vezes.
Estudo tem relação com aquilo que você está consumindo. Estudar
algo não significa que você necessariamente aprendeu, mas é um
indicativo de aumento de repertório, e isso pode agilizar bastante
seu crescimento no curto prazo, e exponencialmente no longo
prazo. Por exemplo, você pode quebrar a cabeça durante anos
sobre como resolver um problema de performance em um sistema,
mas se você tivesse lido um livro sobre processamento distribuído,
talvez tivesse testado algo novo mais cedo e teria evoluído muito
antes.
Aqui o meu objetivo é te apresentar diferentes formas de como
você pode evoluir para um papel de liderança. Essa é parte
do estudo. Se você quiser de fato concretizar essa evolução (e
eu suponho que você queira,) então você precisará botar esse
conhecimento em prática para ganhar experiência e chegar lá.
Ao final de cada capítulo você vai encontrar um ou mais exercícios.
Faça-os. Eles são a transição conhecimento experiência, que
13
é o que você precisa para dar um passo ao próximo nível. Sinta-
se à vontade para adaptar os exercícios ao seu contexto. Se
você entender que existe uma forma melhor para praticar aquela
habilidade, não hesite em mudar. O mais importante é que você
coloque em prática.
Assim como qualquer nova disciplina, você pode se sentir fora da
zona de conforto. Encare essa sensação como um indicativo de
que você está se tornando um profissional melhor.
Imprima intenção naquilo que vai fazer. Faça de propósito. O
mercado funciona como uma escada rolante descendo enquanto
você está tentando subir. Se você ficar parado, vai ser levado para
trás. Para conseguir chegar ao topo, você precisa subir os degraus
mais rápido do que eles descem. Minha meta é que ao final deste
livro você saiba exatamente o que precisa fazer para correr e
chegar ao topo da escada em tempo recorde. Ao longo da leitura
você estará aprendendo técnicas cada vez mais sofisticadas de
correr, e depois só precisará colocá-las em prática para finalmente
alcançar a tão almejada posição de liderança técnica.
Boa leitura!
14
Parte 1 • Mentalidade
Faça o trabalho antes de ter o trabalho. Esta escolha
estará sempre inteiramente em suas mãos. E a forma
de começar é aceitar que tudo depende só de você.
— Keith Ferrazzi
Eu sempre fui uma pessoa pragmática. Eu me interesso em saber
como as coisas funcionam para, em seguida, usar técnicas que me
levem ao objetivo mais rápido.
Uma coisa que me chamou atenção com o passar do tempo foi a
diferença da forma como as pessoas pensam e encaram problemas.
Já vi, por exemplo, pessoas falando “Eu não sou pago pra fazer
isso” enquanto outras falavam “Vem cá que vou te ajudar!”
O primeiro passo para agir de forma mais eficaz é pensar de forma
mais eficaz. Se você repetidas vezes pensa “As pessoas não me
ouvem,” é provável que você evite se expressar, ou que você se
expresse de forma menos assertiva, e a consequência é que as
pessoas realmente te ouçam menos.
Nossos pensamentos têm um impacto profundo em nossas ati-
tudes, e nossas atitudes têm um impacto profundo nos nossos
resultados, e nossos resultados têm um impacto profundo nos
nossos pensamentos. Parece a história do ovo e da galinha.
O ideal é que você comece moldando a forma como você pensa e
encara os problemas. Essa é a forma mais simples de te trazer
benefícios no futuro. Talvez você mude e tenha resultados ime-
diatos, talvez demore um pouco, mas resultados mais positivos
virão.
Por isso este livro começa com essa temática. Tudo começa na
sua cabeça e eventualmente se concretiza no mundo real. Essa
é a melhor forma de começar a se tornar o líder que sua equipe
precisa e sua empresa deseja.
15
Capítulo 1 • Se responsabilize por tudo
Imagine o seguinte cenário: Uma pessoa da sua equipe comete
um erro grave ao rodar os testes automatizados apontando para o
banco de dados de produção. De repente todas as tabelas foram
dropadas.
Daí eu te pergunto: Você é responsável por esse incidente? Se a
sua resposta for não, então eu recomendo que leia este capítulo
até o final com bastante atenção.
Primeiro é importante diferenciar responsabilidade de culpa.
Culpa é algo que você coloca em alguém, enquanto que
responsabilidade é algo que você toma para si.
Uma vez que você coloca a culpa em alguém, seu cérebro cria a
expectativa de que essa pessoa resolva aquele problema. Agora
se você assume a responsabilidade pelo ocorrido, seu cérebro
automaticamente vai começar a arquitetar possíveis alternativas
para resolver o problema e evitar que ele aconteça de novo.
Assumir a responsabilidade significa se tornar parte da solução.
Isso é o mínimo que se espera de um líder.
• Se o líder não conseguir bater a meta, a responsabilidade é
dele por não ter previsto as dificuldades.
• Se o líder não conseguir reter as pessoas, a responsabilidade
é dele por não ter criado um bom ambiente para os liderados.
• Se o líder não conseguir receber investimento, a responsabil-
idade é dele por não ter sido capaz de criar um produto
melhor.
A diferença entre o dono da empresa e você é basicamente o
escopo onde vocês estão inseridos. Se o dono da empresa tem
como escopo a empresa inteira, você tem como escopo a sua
equipe.
Tudo que acontecer na sua equipe a partir de hoje é responsabili-
dade sua. Assumir isso como uma verdade é o primeiro e mais
16
importante teste da sua seriedade em se tornar líder. Se você
discorda disso, por favor feche este livro e vá fazer outra coisa.
Nada do que eu disser daqui em diante vai te servir de muita
coisa. É sério.
Este tópico não é o primeiro por um acaso. Ele é o que, sozinho,
tem maior potencial para te levar a um papel de liderança.
17
Assumindo a responsabilidade mesmo não sendo líder
No mundo as coisas funcionam assim: Você mostra que tem aquela
habilidade e em seguida você é reconhecido por ela. Alguma vez
você já riu antes de ouvir a piada? Aposto que não.
O mesmo acontece com liderança. Não é normal você receber um
cargo de liderança para só depois você se comportar como líder.
Primeiro você demonstra algumas características de um líder, e
só depois você é promovido a um cargo de liderança. Sim, há
exceções, mas exceção é exemplo de burro, então por favor nem
as leve em consideração.
Esse é um ótimo primeiro passo para te preparar pelo que vem lá
na frente quando você formalmente se tornar um líder. Aproveite
que você já pode praticar e estar muito melhor preparado quando
chegar lá.
18
Esses são só alguns exemplos, mas certamente você consegue
pensar em muitos outros pelos quais você e sua equipe passam
no momento.
19
E se eu não conseguir resolver o problema?
Assumir responsabilidade é uma coisa séria. Se o problema tá no
seu colo, não existe a possibilidade dele não ser resolvido. Pelo
menos não sem afetar a sua reputação. Faça o que for necessário.
Se existe alguém no planeta que consegue resolver aquilo, então
você também deveria conseguir. Use o algoritmo DTJ (Dá Teu
Jeito.) Sempre que enxergar um problema, pense: “O que eu
poderia ter feito para evitá-lo?”
Exercício
No próximo incidente que acontecer na sua equipe, assuma a
responsabilidade e garanta que ele seja resolvido o quanto antes.
Em seguida implemente mudanças para impedir que o erro acon-
teça novamente, ou, no mínimo, monitore para saber antes de
todo mundo que o código está com algum problema.
20
Capítulo 2 • Pare de reclamar
Em uma ocasião, fiquei sabendo que os líderes da área de Tecnolo-
gia tinham decidido usar uma nova ferramenta para documentar
os projetos. A minha reação imediata foi de reclamar e falar
que não iria funcionar, bem no meio do escritório. Meu líder
me chamou no canto para dar um feedback em relação a minha
atitude. Esse talvez tenha sido o feedback mais importante que
recebi em toda minha carreira.
É evidente que essa reclamação não surtiu efeito. Se reclamação
fosse um método eficaz para resolver as coisas, não haveria mais
problemas no mundo.
Reclamar é um vício. Aposto que você conhece pessoas que são
viciadas nisso. Não importa o que aconteça, a pessoa sempre tem
do que reclamar. Família, governo, patrão, sociedade etc.
Reclamar é uma forma de não se autorresponsabilizar. É o ato de
colocar a culpa no outro. Uma vez que a culpa é do outro, não
há nada que você possa fazer. O outro que mude.
Reclamar é assinar um atestado de incapacidade de mudança.
Mesmo nos casos que você tiver total condições para atuar no
ocorrido, só o fato de você reclamar já vai te colocar mais distante
de querer buscar essas mudanças.
Mesmo nas situações onde reclamar for compreensível, você pode
estar se colocando em uma posição onde sequer acredita na mu-
dança, e acabar não agindo para alcançar aquele objetivo que
julga relevante.
21
dificilmente.
Quando você leva essa reclamação ao seu chefe, pior ainda. Ele
pode até entender seu ponto de vista e tentar te ajudar, mas se
as reclamações forem frequentes, é provável que você seja visto
como um profissional imaturo. Por que a empresa daria um papel
de liderança a uma pessoa com atitudes imaturas e que se mostra
incapaz de agir naquilo que o incomoda?
22
Traga fatos, não o seu julgamento deles
Fatos são neutros. O fato da sua internet ter caído não é bom
nem ruim. O fato de você não ter sido promovido não é bom nem
ruim. O fato do seu chefe ter tomado uma decisão não é bom
nem ruim.
O que torna os fatos bons ou ruins é a lente que fica entre você
e os fatos. Essa lente se chama julgamento. É uma lente que
distorce a realidade ao criar um significado para ela.
Quanto menos julgamentos você fizer, melhor conseguirá trabalhar
com o que de fato importa. Evite, especialmente, julgar aquilo
que estiver fora do seu controle, como uma decisão da empresa
por exemplo. Se você não tem controle desses eventos externos, o
julgamento só servirá para te abalar emocionalmente.
23
interações, quem seria? A resposta a essa pergunta é um ótimo
guia sobre como você deve buscar se comportar.
Exercício
Deixe um caderninho ou folha de papel à sua mesa durante todo
o dia. Monitore a sua fala e faça uma anotação toda vez que
perceber que está reclamando de alguma coisa. Conte inclusive as
pequenas reclamações, como a lentidão do Jira por exemplo. Cuide
de anotar também as reclamações travestidas de comentários
sarcásticos.
24
Ao final do dia, olhe para todas as reclamações que fez e identifique
o julgamento embutido em cada uma delas. Exponha somente o
fato sem a lente dos julgamentos.
25
Capítulo 3 • Tenha postura de líder
Na minha primeira experiência profissional como programador
eu entrei bem tímido na empresa. Eu nem formado era, e para
piorar as coisas eu fazia faculdade de Engenharia de Telecomuni-
cações, então tive que estudar sozinho para entrar no mercado de
tecnologia.
No começo eu pegava tarefas como qualquer outro. Era humilde
nas minhas opiniões, afinal de contas eu estava só começando.
Com o passar do tempo percebi que eu não ficava devendo nada aos
meus colegas. Em alguns aspectos eu até tinha mais conhecimento
que eles.
Conforme os mais antigos de empresa foram saindo, eu fui me
tornando uma referência. Estudar sempre foi meu forte, então
eu aprendia cada vez mais conforme às nossas necessidades na
época.
Quando você se torna referência, naturalmente as pessoas ol-
ham para você quando precisam resolver algum problema mais
complexo. Informalmente eu tinha me tornado o líder da equipe.
Faço questão de frisar o termo “informalmente.” As pessoas me
consideravam um líder mesmo eu não sendo o chefe.
Alguns anos depois eu percebi que para ser considerado um líder,
a pessoa não precisa ter o cargo de líder. Isso parece óbvio, mas
tem um impacto profundo que poucas pessoas percebem.
Imagine que você seja o CTO de uma empresa e quer criar o
papel de líder técnico em uma equipe. Se tivesse que escolher
entre os devs, daria preferência àquele que já tem postura de líder
e é visto dessa forma pela equipe? Provavelmente sim.
26
liderar iniciativas importantes que por qualquer motivo outras
pessoas não puxam.
Na primeira empresa onde trabalhei, nós versionávamos os ar-
quivos do projeto em um diretório de rede. Ele era nosso backup.
Frequentemente um dev sobrescrevia o arquivo que outro dev
modificou.
Git estava começando a se popularizar, mas ninguém na equipe
tinha conhecimento dessa ferramenta (inclusive eu.) Minha men-
talidade era: “Vou estudar Git o suficiente para tirar quaisquer
dúvidas que por um acaso alguém da equipe venha a ter.”
Repare que estudar para eu executar não era o suficiente. Para a
iniciativa dar certo eu teria que estudar por mim e pelos outros.
Eu já sabia que eventualmente eles teriam alguma dificuldade
(ninguém nunca tinha usado versionamento na carreira.) Essa é a
postura de um líder.
Eu ensinei como funcionavam os comandos essenciais do Git
(add, commit, branch, checkout, stash. . . ). Quando alguém tinha
dificuldade, eu sentava do lado da pessoa e só saía de lá depois que
tivéssemos resolvido o problema. Criei o repositório no Bitbucket
e mostrei como seria nosso esquema de branching.
Essa mesma atitude foi evoluindo para outras áreas, como
JavaScript, PHP etc. Muito antes de ser reconhecido por um
título, você pode ser reconhecido por suas atitudes.
27
empresa.
Não se trata de uma disputa, mas sim de você genuinamente se
preocupar em contribuir o máximo para o sucesso da equipe.
28
Ter um super herói na equipe não é necessariamente
ruim
Se somente o super-herói souber resolver as coisas, aí sim existe um
problema. Se você perceber que está caminhando nessa direção,
então provavelmente a equipe já te enxerga como um líder. Com
isso você pode começar a delegar algumas responsabilidades e
ensinar as pessoas.
Resiliência
Ter postura de líder não garante que todo mundo te verá como
líder ou te tratarão bem. Algumas pessoas vão te tratar como “só
mais um dev da equipe.” Nesses casos não mude seu jeito de agir.
Sempre busque ajudar a resolver os problemas dessas pessoas. No
caminho sempre haverá pequenas pedras onde você vai tropeçar.
Só não deixe que elas te parem. Encare isso como só mais um teste
antes de ser reconhecido como líder. Para um líder, resiliência
não é opcional.
29
Exercício
Se o CTO da sua empresa atuasse por uma semana como líder na
sua equipe, como ele agiria? Use sua resposta para definir como
será a sua postura daqui pra frente.
30
Capítulo 4 • Esqueça justiça
Nós vivemos em um país democrático. Nele existe todo um
arcabouço legal para garantir um ambiente mais justo. Existem
leis, promotores, juízes, advogados, ministério público etc. Temos
também três poderes que suportam essa democracia: Executivo,
legislativo e judiciário. A grosso modo o poder legislativo cria as
leis, o poder executivo garante sua execução e o judiciário julga.
Até aqui imagino que eu não tenha falado nenhuma novidade pra
você, mas o que eu vou falar agora talvez seja: Empresas não são
democracias.
31
Por que empresas não são democracias?
Uma vez eu estava organizando um evento de JavaScript na
empresa onde eu trabalhava. Eu estava no ponto de criar o evento
no Sympla para ter um link que pudéssemos divulgar, e para isso
eu precisava de um nome para o evento. Eu tive a brilhante ideia
de abrir para os próprios devs escolherem no Slack. Eu imaginava
que as pessoas iriam sugerir nomes razoáveis e escolher o melhor.
Em alguns minutos a coisa virou uma zoeira total. A maioria
das sugestões não faziam sentido para um evento minimamente
sério, e eu me vi em um turbilhão de loucura. Até o momento
que unilateralmente batizei o evento e pudemos divulgá-lo.
Entre outros motivos, empresas não são democracias porque
algumas decisões precisam ser tomadas rapidamente. Não há
tempo nem recursos suficientes para garantir que todas as decisões
terão input de todo mundo. Se você já participou de reuniões com
mais de dez pessoas onde era necessário sair com uma decisão,
deve ter percebido o quão difícil é chegar a um consenso.
Saber que você trabalha em um lugar que não é democrático
e nem necessariamente justo é, ao mesmo tempo, libertador e
aterrorizante. De maneira geral as decisões tendem a ser mini-
mamente coerentes, mas é importante que você saiba lidar com
aqueles casos onde, na sua opinião, a coerência passou longe.
32
graus de liberdade para tomar decisões. Confia em mim, não é
fácil.
De qualquer forma existe sim a possibilidade dele ser incompetente.
Nesse caso entenda que toda empresa terá algumas distorções em
seu processo de avaliação e promoção. Nem sempre é possível
explicar como um jabuti foi parar em cima da árvore ou como
aquela pessoa foi capaz de se tornar chefe. Encare isso como
uma exceção e se baseie no que funciona para crescer na empresa.
Fazendo isso suas chances de sucesso serão maiores.
33
outras, mas sempre existe um certo grau de politicagem nelas,
afinal de contas todas são feitas de seres humanos.
Para se tornar mais relevante politicamente você precisa criar bons
relacionamentos com as pessoas, ajudá-las quando precisarem e
apoiá-las em suas decisões. Só tenha cuidado para não ser falso.
Só de você explicitamente apoiar e ajudar as pessoas, existe a
tendência delas quererem retribuir de alguma forma.
Se você quer trabalhar em um lugar onde as pessoas sejam 100%
racionais e não haja necessidade de criar relacionamentos para
fazer as coisas acontecerem, talvez você consiga isso se mudando
para Vulcano. Brincadeira à parte, eu não estou aqui para te
confortar, mas sim para te ajudar a navegar nesse mundo.
34
Como reagir quando você receber uma avaliação ruim
mesmo tendo se esforçado
Só existe uma métrica relevante no mercado de trabalho: Produ-
tividade. Do ponto de vista empresarial, produtividade significa
o quanto uma pessoa é capaz de produzir em relação ao quanto
ela custa. Encargos trabalhistas e impostos podem afetar sever-
amente a produtividade, mas como isso está totalmente fora do
seu controle, concentre-se somente no outro lado da moeda, como
produzir mais.
Muitas vezes seu líder tem dificuldade de justificar uma nota
maior para você. Isso não significa que você não tenha feito o
necessário, mas sim que ele talvez não tenha visto. Já sabendo que
esse tipo de coisa pode acontecer, traga a responsabilidade para
si e reporte tudo que você vem fazendo. Deixe isso documentado.
Vai ser muito útil quando seu líder for te avaliar e comparar com
outras pessoas (sim, existe comparação.) Deixe claro que você
vem sendo produtivo.
Você também precisa tomar cuidado para não se esforçar na
coisa errada. Talvez você coloque muito esforço para disseminar
conhecimento sobre testes automatizados, por exemplo, mas se a
empresa entende que o importante é garantir as entregas, suas
ações não estarão surtindo grande efeito em sua avaliação. Do
ponto de vista da empresa você está sendo menos produtivo do
que poderia, mesmo que o Martin Fowler discorde disso. Tenha
clareza do que seu chefe e sua empresa valorizam.
É possível que você tenha recebido avaliação ruim não por conta
das suas entregas, mas sim por conta do seu comportamento. À
primeira vista pode parecer injusto, mas entenda que as empresas
giram em torno de uma cultura para otimizar a forma como as
coisas acontecem internamente, e se você age de forma a ferir
essa cultura, então pode estar ferindo a produtividade de outras
pessoas, e isso também conta.
para evitar surpresas, não aguarde um feedback semestral ou anual
35
para saber se você está se saindo bem. Puxe essa responsabilidade
e peça esse feedback. Se você não fizer isso, é você quem pode ser
punido, então não conte que outra pessoa intercederá por você,
não importa o quanto você confie no seu líder ou na sua empresa.
Pra fechar
É evidente que se a empresa extrapola aquilo que você considera
razoável, é compreensível que você prefira trabalhar em outro
lugar. Mas não conte que a empresa atenda a todos os seus
critérios de justiça, caso contrário você provavelmente vai se
frustrar com frequência.
Exercício
Liste algumas decisões recentes que sua empresa tomou e que
você considerou injusta. Para cada uma delas, liste pelo menos
dois pontos de vista que fazem aquela decisão parecer justa.
Quando novas decisões “injustas” forem tomadas, liste, ainda que
mentalmente, motivos que as fazem parecer justas.
O objetivo desse exercício é garantir que você seja capaz de reagir
de forma menos emocional em futuras decisões “injustas”, seja
da empresa ou da liderança.
36
Capítulo 5 • Nunca se dê por vencido
Eu tinha uns treze anos quando participei de um campeonato
de futebol de salão no meu bairro. Os vencedores teriam direito
a troféu e medalha. Os times foram definidos por sorteio, e por
pura sorte meu time ficou bem forte.
No começo nos saímos bem, mas em um jogo decisivo logo no
começo tomamos quatro gols. O desânimo bateu em quase todo
mundo. Pra mim o jogo estava perdido, e meus comportamentos
deixavam isso claro. Eu tinha me tornado negligente e só esperava
que o jogo chegasse ao fim. Depois de terminado, percebi que
o jogo durou muito mais do que eu imaginava. Perguntei a um
colega do lado de fora: “Dava tempo da gente virar, né?” Ele
respondeu: “Dava.”
Ao longo da minha carreira já perdi as contas de quantas vezes vi
minhas equipes desistirem no meio do jogo. Prazos que não eram
respeitados. Sprints que não eram entregues. Sempre achei isso
normal quando eu ainda era dev. Aposto que você já viveu ou
ainda vive em um cenário assim. A empresa se torna complacente
com esse tipo de coisa.
Existem projetos que, meses antes do prazo final, já estão fadados
ao fracasso. Esse tipo de coisa é tão comum que até ganhou um
nome: Death March. Todo mundo já aceitou a derrota e aguarda
pacientemente no leito de morte do projeto.
37
exigência por qualidade. Você precisa entender se está realmente
disposto a crescer em um ambiente assim. Se tiver, então cumpra
os prazos. Assim você ganhará o respeito das pessoas.
Um alternativa para fugir da necessidade de dar prazos é fazer
entregas frequentes. Para chegar lá você precisa de duas coisas. A
primeira é trabalhar com lotes pequenos, isto é, quanto menor for
o escopo da entrega, melhor. A única condição é que esse escopo
garanta a resolução do problema proposto pelo cliente/stakeholder.
A segunda é ter foco na execução, ou seja, fazer menos tarefas
simultaneamente. Quanto menos tarefas a equipe pegar ao mesmo
tempo, mais rápido será feita cada entrega. E se as entregas são
feitas rapidamente, então o cliente/stakeholder saberá que não
precisa fazer tanta pressão por uma data.
Mas existem aquelas situações onde é inevitável ter uma data,
como o lançamento de um app para um evento ou a adequação
a uma norma legal. Quando esse tipo de desenvolvimento é
iniciado, é esperado que o time desenhe uma solução para resolver
o problema dentro do prazo estipulado. Invariavelmente o prazo
se aproxima e a equipe percebe que não conseguirá finalizar tudo
a tempo, e uma dessas duas reações acontecem: Desânimo ou
desespero.
Nenhum desses dois sentimentos é bom. O desespero leva a equipe
a trabalhar mais horas e a correr com a solução. Aqui surgem ou
se agravam os problemas de qualidade, e a moral da equipe se
torna nula. Tudo para cumprir a entrega prometida.
Pior que o desespero é o desânimo. Esse é o ponto onde as pessoas
já desistiram de fazer a entrega. Mesmo antes do prazo chegar
as pessoas estão convictas de que não é possível chegar lá. Se
no desespero ainda existe a esperança da entrega ser feita, no
desânimo essa esperança sequer existe mais. Assim como dava
para minha equipe vencer o jogo naquele campeonato, é muito
provável que uma equipe nessa situação também consiga vencer.
Em uma situação assim, a primeira atitude que se espera de você é
38
que não perca a esperança. Quando você se tornar líder, não existe
“Não dá.” Se você recuar sempre que aparecer uma situação difícil,
então nem deveria buscar uma posição de liderança. Líderes dão
um jeito de fazer acontecer.
Encontre um jeito
Vamos dizer que você esteja trabalhando em um projeto que foi
dividido em dez tarefas de mesmo tamanho e tenha um prazo de
três meses. Com dois meses e meio sua equipe entregou duas das
dez tarefas. Quais as chances da equipe entregar as outras oito
tarefas restantes nos últimos quinze dias. Olhando somente para
os números eu diria que as chances são praticamente nulas. Aqui
entraria o famoso “Não dá.”
Esse pensamento surge porque a gente parte da premissa de que
o prazo, o escopo e a qualidade serão mantidos. Se nada mudar,
aí eu concordo contigo, realmente não dá. Porém um exercício
muito importante que você pode fazer para já ser visto como um
líder é repensar essas premissas.
Repensar as premissas significa mudar a estratégia. Se a estratégia
anterior não era boa o suficiente para garantir a entrega, então
pense em uma estratégia que aumente as possibilidades a seu
favor a ponto da equipe acreditar que é possível. Não esqueça de
envolver toda a equipe. Isso não só aumentará o engajamento
deles como também os tornarão muito mais crentes na solução
que vocês decidirem.
39
presente criando problemas pro seu eu do futuro. Então se bater
uma situação de desânimo, no lugar de propor ignorar qualidade,
ainda que temporariamente, negocie uma redução de escopo. Isso
faz milagres!
Quando me refiro a reduzir escopo, estou falando de duas possi-
bilidades. A primeira a ser buscada é uma redução no escopo do
produto. Isso significa negociar para entregar menos funcionali-
dades ou entregar funcionalidades menores. Lembre que você deve
negociar com o Product Manager/cliente/stakeholder, então ele
pode dizer não para você. Nesse caso deixe claro que existe um
alto risco de nenhuma entrega ser feita, então é melhor fazer uma
entrega que resolva parcialmente o problema do cliente do que não
fazer nenhuma entrega. Se ele te mandar dar mais duro, deixe
claro que mesmo dando duro pode não ser o suficiente. Você
trabalha com a realidade e quer ajudar o PM/cliente/stakeholder
a escolher o caminho menos danoso possível.
A segunda possibilidade de corte de escopo envolve criar uma
arquitetura mais simples. É comum a solução técnica envolver
mais componentes que o necessário para gerar valor pro cliente,
então simplificar essa arquitetura pode ajudar a reduzir o tempo
de entrega.
Em um projeto que participei decidimos usar jQuery em vez
de Vue.js por conta da simplicidade e do prazo apertado que
tínhamos. Se a entrega realmente trouxer o sucesso que se espera
dela, então ela poderá ser melhorada no futuro. Mas por favor leve
essas melhorias a sério. Caso contrário os próprios devs ficarão
reticentes quando você propuser uma redução de escopo técnico.
Em último caso você coloca qualidade de lado. Sim, é isso mesmo
que você leu. Você pode usar a alavanca de deixar a qualidade
de lado. Essa é uma decisão mais radical e deve ser sua última
cartada. É melhor ter um time desesperado do que um time
apático.
Dependendo da importância da entrega, trabalhar mais horas
40
e/ou nos fins de semana também deve ser considerada uma opção.
Mas essa precisa ser a exceção da exceção. O impacto negativo
na equipe tende a ser muito grande. Como um futuro líder você
deve puxar essa alavanca só depois que todas as outras não forem
o suficiente e somente se a entrega for crucial (casos assim são
raros.) Seja criativo para não precisar chegar a esse ponto.
Só de se mexer para buscar uma saída de garantir a entrega, isso
já vai te levar a ser visto de outra forma pelas pessoas. Elas vão
entender que você está assumindo uma posição de liderança, ainda
que informalmente, com a melhor das intenções para garantir a
entrega. Não esqueça que o resultado da negociação deve ser um
caminho que simultaneamente atenda o PM/cliente/stakeholder
e permita que a equipe ainda acredite que é capaz de entregar.
41
consequências mais negativas.
Se depois disso tudo seu líder não ceder, então peça um direciona-
mento mais claro e ajude a equipe a executá-lo. Ninguém gosta
de ter um chefe cabeça dura, mas pelo menos você se comportará
de acordo com o que ele espera. Nunca jogue contra se líder, a
não ser, é claro, que ele te mande assediar alguém ou ser antiético.
Nesse caso dê preferência a mudar de equipe ou pedir demissão.
Se você busca ser um líder, então precisa manter sua reputação
intacta.
E se eu me sentir um puxa-saco?
Puxar saco significa concordar com tudo que seu líder diz, mesmo
quando não faz sentido. Não seja puxa-saco. Se você discordar
do que ele disser, traga isso à tona. Explique seu ponto de vista.
Faça suas propostas. Mas uma vez que a decisão estiver tomada,
garanta que os esforços estão alinhados. Se vocês puxarem para
lados diferentes, então tanto sua equipe quanto a empresa vão
pagar caro por isso.
Exercício
Se você estiver trabalhando em uma entrega com prazo fixo onde
existe risco de perder a data, negocie com o Product Manager a
possibilidade de reduzir o escopo da entrega.
Se você não estiver passando por isso, combine com a equipe
para que entreguem uma tarefa por completo antes de começar a
próxima. Meça o tempo médio para completar uma tarefa antes
e depois dessa mudança.
42
Capítulo 6 • Se importe com as pessoas
Formar times de alta performance talvez seja uma das maiores
dificuldades de quem se torna líder. Uma coisa é sentar ao lado
das pessoas e trabalhar juntos. Outra coisa é criar sinergia entre
os membros a ponto do todo se tornar maior do que a soma das
partes.
Aposto que você já ouviu alguém falando: “Pra dar certo basta
todo mundo fazer a sua parte.” Como diria o poeta: “Na teoria,
teoria e prática são a mesma coisa. Na prática não.” É intuitivo
pensar que cada um fazendo a sua parte é o suficiente para a
equipe se sair bem, mas a realidade fica bem longe disso.
Imagine que sua equipe fosse um teclado de computador onde
cada pessoa fosse uma tecla. Nesse momento a responsabilidade
do time é escrever um poema. Se cada um fizer a sua parte
trabalhando individualmente, o quão bem redigido sairá esse
poema? Aposto que não muito, afinal de contas cada pessoa terá
sua velocidade de apertar a tecla, e se ela não se preocupar com
o que os colega estão fazendo, então não saberá se seu trabalha
está sendo efetivo.
Como uma pessoa que deseja se tornar líder, seu papel não é mais
fazer o seu trabalho e ir para casa, mas sim garantir que o time
seja capaz de escrever um poema. Daí você pensa: “Basta eu
reunir todo mundo e mostrar que é importante trabalhar em em
equipe e todos vão ouvir.”
Eu gostaria que as coisas fossem fáceis assim, mas a realidade
costuma não ser tão amigável. Pra começo de conversa, por que
as pessoas te levariam a sério? Você não é chefe. Ninguém é
obrigado a fazer o que você fala. O ato de puxar responsabilidade
é muito nobre, mas contar com a racionalidade das pessoas torna
sua estratégia muito frágil.
43
Por que líderes se preocupam com as pessoas
Importar-se com as pessoas não se trata só de uma questão pessoal.
Você não precisa ter nascido no instante do alinhamento entre os
astros ou recebido o encanto de uma fada. Comportar-se como
líder é mais pragmático do que isso.
Se você se preocupa genuinamente com as pessoas da sua equipe,
suas atitudes naturalmente vão gravitar em torno de ajudá-la a
resolver seus problemas. Por problemas não me refiro somente a
dificuldades técnicas, mas também incômodos com a empresa ou
outros colegas, por exemplo.
Se as pessoas sentem que você está sempre disposto a ajudar, existe
uma tendência natural delas te ouvirem mais. O ser humano tende
a retribuir aquilo que recebeu do outro. Esse é um comportamento
instintivo. Na época das cavernas as pessoas precisavam se ajudar
para sobreviver. Se você vigiou a caverna durante a noite para
eu dormir em paz, então naturalmente farei o mesmo por você.
Lembra quando eu disse que as pessoas não são obrigadas a te
ouvir? Depois de tê-las ajudado algumas vezes, Por que elas não
te ouviriam dessa vez? É claro que essa tática não é 100% eficaz
(nenhuma é,) mas é a melhor chance que você tem para influenciar
as pessoas.
Ganhar influência é o primeiro passo no sentido de ajudar a equipe
a se tornar um time de alta performance. Confiança está na base
das necessidades das equipes, e é justamente isso que você está
construindo.
Crescimento individual
Uma vez que você se preocupa com as pessoas, você também vai
querer ajudá-las a se desenvolverem. Você não precisa necessari-
amente sentar ao lado delas e ter uma conversa sobre carreira.
Não precisa necessariamente fazer one-on-ones.
Uma vez trabalhei com um dev que disse ter interesse em se tornar
44
Product Manager. Minha reação foi de entusiasmo e interesse de
saber como ele chegou àquela conclusão. Em seguida eu troquei
de lugar com ele para que ele pudesse ficar sentado ao lado do
atual Product Manager da equipe, e pedi ao Product Manager
para ajudá-lo a entender como funcionava o trabalho.
Assim como eu, você pode começar entendendo onde a pessoa
gostaria de chegar. Com base nisso você pode ajudá-la colocando-
a em contato com atividades e pessoas que a ajudem nessa jornada.
Como você se sentiria se alguém que não tem obrigação nenhuma
de te ajudar fizesse isso por você?
O crescimento individual inevitavelmente reverbera positivamente
na evolução da equipe. Primeiro porque, se usado corretamente,
o talento individual conta bastante nos resultados da equipe.
Segundo porque a pessoa tende a ficar mais satisfeita dentro da
equipe e consequentemente fazer um trabalho melhor.
Se você, como membro, estivesse em uma equipe onde duas pessoas
igualmente capazes são cogitadas para o papel de liderança, qual
você preferiria que fosse promovida? Aquela que basicamente faz
o trabalho dela ou aquela que te ajuda no dia-a-dia? E se você
fosse um diretor da empresa, quem dessas duas pessoas você iria
preferir promover?
45
para a empresa ao mesmo tempo. Se você só busca o que é melhor
para a empresa, as pessoas não confiarão em você. Se você só
busca o que é melhor para as pessoas, a empresa poderá puní-los.
46
Não pode xingar nem morder o coleguinha. A consequência de
uma atitude assim é que elas baixem a moral e não queiram mais a
sua “ajuda.” Se você fizer isso, é game-over. Seu novo objetivo não
terá sido alcançado. Isso pode exigir algum controle emocional
da sua parte, mas se você quer assumir um papel de líder, então
esse aprendizado vai ser útil de qualquer forma.
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caminho que estamos tomando é um caminho razoável. Por isso
feedbacks não se tratam só de apontar os obstáculos, mas prin-
cipalmente de apontar para a pessoa onde ela está se saindo
bem.
Quando a pessoa recebe um feedback positivo em relação a algo
que ela fez, ela vai se sentir inclinada a repetir aquilo. Em tese
quanto mais ela repetir boas atitudes, mais próxima ela vai ficar
de bater sua meta.
Peça feedbacks
Como eu já disse anteriormente, feedbacks são uma das melhores
ferramentas para o desenvolvimento da pessoas. Isso significa que
você não só pode como deve tirar proveito disso.
Se você só der feedbacks, as pessoas tendem a te ver como tendo
atitude de chefe, mesmo que sua intenção seja só de ajudar.
Pedindo feedbacks você se coloca em uma posição vulnerável, e
elas vão te enxergar como alguém que está na luta junto com elas.
Uma forma de começar essa prática é fazer um combinado para que
vocês se ajudem mutuamente. Entenda o objetivo dela, declare
seu objetivo e combinem de dar feedbacks um para o outro ao
longo do tempo. Assim você evita surpresas desagradáveis no
futuro.
Um último ponto importante de ser mencionado é que ninguém
precisa aplicar tudo aquilo que ouve nos feedbacks. Eles servem
para dar uma direção, mas a decisão do que fazer em seguida é
da própria pessoa. E nunca esqueça de agradecer pelo feedback.
Ele é uma forma da pessoa demonstrar que se importa com você,
então valorize isso para que ela se sinta encorajada a continuar
fazendo.
48
Exercício
Descubra algo que incomoda as pessoas da equipe hoje (carreira,
cultura, tecnologia etc.) e corra atrás para buscar uma solução
ou dar um direcionamento. Se fizer sentido, seja porta-voz e leve
esse descontentamento para seu líder. Negocie um caminho que
funcione melhor que o cenário atual.
49
Capítulo 7 • Encare os problemas de frente
Trabalhei em uma empresa onde recebíamos as tarefas por e-mail.
Uma pessoa no cargo de coordenação fazia a triagem e priorização
desses pedidos. Várias áreas da empresa demandavam para nós.
Eram inúmeros pedidos, a maioria de correção de bugs, mas de
vez em quando surgia um projeto novo para fazer.
Eu nunca fui coordenador nessa equipe, mas imagino o inferno
que ele passava para organizar isso tudo. Um dia nosso gerente
conheceu um issue tracker chamado Redmine. Essa ferramenta se
tornaria uma mão na roda para nós. Nela poderíamos priorizar as
demandas de acordo com diversos critérios, e as áreas poderiam
fazer o pedido diretamente nela.
Naquela época não existiam instaladores automáticos ou nada
do tipo. Se a gente fosse usar, teríamos que pagar por uma
hospedagem compartilhada e fazer a instalação manualmente. O
Carlos (nome fictício) foi designado para isso. O problema é que
ele nunca tinha mexido com Ruby on Rails, framework no qual o
Redmine é desenvolvido.
A reação do Carlos foi de quase desespero. Ele tinha medo de não
conseguir colocar o issue tracker para funcionar e ser punido por
isso. Nada parecia dar certo. O Passenger, servidor de aplicação
muito comum em aplicações Rails, parecia não ajudar muito.
Nessa época a gente não tinha acesso à linha de comando. Os
arquivos eram enviados por FTP, e a aplicação era reiniciada pelo
painel de controle do serviço de hospedagem.
Depois de muito custo o Redmine finalmente estava no ar e
funcionando. Era possível cadastrar bugs, pedidos de novas fun-
cionalidades, os devs podiam sinalizar que tinham começado ou
terminado uma tarefa. O processo ficou um pouco mais buro-
crático, mas ganhamos muito em organização.
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Desafios sempre vão existir
Essa história se repete frequentemente nas empresas. As ne-
cessidades mudam, as oportunidades surgem e alguém precisa
desbravar a mata virgem. A pessoa precisa dar manutenção em
um sistema com uma linguagem que não conhece, ou instalar e
configurar um banco de dados que nem sabia que existia.
Se por um lado essas situações são inevitáveis, por outro são uma
grande oportunidade de mostrar o quanto você é corajoso. Na
época Carlos não teve a opção de dizer não, mas talvez você tenha
quando passar por isso.
Líderes não escolhem os problemas pelos quais vão passar. Quando
surge algo que precisa ser resolvido, ele vai lá e faz. Não importa
se dá medo, se falta experiência, se falta conhecimento ou seja lá
o que for. Se precisa ser resolvido, o líder dá um jeito de fazer
acontecer.
Já que você quer se tornar líder, adivinha qual é a melhor maneira
de se comportar? Isso mesmo, encarando os problemas de frente.
Medo é um sentimento normal. Carlos ficou com medo quando
recebeu o desafio de instalar o Redmine. Antes de começar a
escrever este livro eu também tinha medo de ninguém se interessar
por ele. Coragem não é o oposto de medo. Coragem é caminhar
apesar do medo.
Essa história pode se repetir não só no âmbito técnico, mas tam-
bém no âmbito de produto, pessoas ou processos. A equipe pode
estar a três meses sem fazer nenhuma entrega, e você vê a opor-
tunidade de liderar uma mudança para amenizar esse problema.
Você toparia?
Se você nunca teve interesse em estudar sobre processos ou Ag-
ilidade por exemplo, é capaz que nem saiba como diagnosticar a
origem do problema. Mas se isso servir de desculpa para você não
encarar a dificuldade de frente, é provável que você vá dar descul-
pas em todas as outras situações que não se sentir confortável.
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Quem é bom em dar desculpas, não é bom em mais
nada
— Autor desconhecido
Olhe para a equipe de forma holística. Não procure só por
problemas que você tem capacidade de resolver. Se você fosse
reclamar sobre alguma dificuldade para alguém de fora da equipe,
de qual dificuldade reclamaria? Você pode usar este teste para
identificar qual problema você precisa encarar.
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Não foi fácil, mas também não foi tão difícil quanto imaginei
quando recebi o não do Diego. Você já deve ter passado por isso
resolvendo bugs, e o mesmo vale para outros tipos de problemas.
Quase sempre existe um jeito mais simples de resolver do que o
que você tinha imaginado que seria necessário em primeiro lugar.
No caso do Kubernetes, precisei aprender alguns poucos comandos.
No caso de um bug, em geral o problema está em uma linha
de código. No caso de processos, talvez uma ou duas práticas
melhoradas já são capazes de mudar o jogo. Saber disso pode te
ajudar a não ficar tão assustado no começo.
Busque apoio
Se você trabalha em uma empresa com mais de vinte desenvolve-
dores, é provável que algum deles possa te ajudar a resolver o
problema que tem em mãos. Não hesite em pedir ajuda. O seu
trabalho é solucionar o problema. Ninguém se preocupa se você
fez sozinho ou com a ajuda de dez pessoas. O que seus líderes
estão olhando é se você tomou ou não a iniciativa.
Aprenda a aprender
Invariavelmente você vai precisar aprender algo novo. Essas
situações emergenciais são boas para testar a sua capacidade de
aprendizado rápido para resolver um problema. O quão rápido
você consegue aprender GraphQL para resolver um problema
de desempenho em consulta no ambiente de produção? O quão
rápido você consegue aprender a configurar uma migração de
banco de dados no Kubernetes para uma aplicação Ruby on
Rails? O quão rápido você consegue aprender a como testar de
forma automatizada um componentes que não pode ser mockado?
Aprender rápido requer uma mentalidade diferente da tradicional,
então é importante que você pratique para saber como usá-la
quando precisar.
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Exercício
Tem algum problema que as pessoas da sua equipe vêm em-
purrando com a barriga nos últimos meses ou até anos? Encare
esse problema de frente e tenha coragem de enfrentá-lo. Ele pode
servir como um ótimo exemplo de que você não teria dificuldade
em puxar responsabilidades complexas quando se tornar líder.
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Capítulo 8 • Suprima a síndrome do impos-
tor
Eu perdi as contas de quantas vezes ao longo da minha carreira
eu tive a sensação de que eu não deveria estar ali. Não era
inteligente o suficiente. Não era tão bom quanto as outras pessoas.
O curioso é que esse é um sentimento comum entre trabalhadores
do conhecimento.
Em princípio sentir que você não atende as expectativa não é um
problema. Você não vai receber um feedback ou uma avaliação
porque pensa em X ou Y. Até porque ninguém é capaz de provar
aquilo que você está pensando.
O problema surge quanto esse pensamento de inadequação começa
a afetar o seu desempenho ou quando ele começa a afetar seu
psicológico. Já aconteceu comigo de eu ter ansiedade a ponto de
ter medo de trabalhar ou falar com meu líder. Eu achava que iria
ser demitido a qualquer momento. Esses pensamentos entravam
em loop na minha cabeça e eu não sabia como me ver livre deles.
55
deixar levar pelo que outras pessoas pensam ou pelo que você acha
que elas pensam, é mais provável que você não se sinta preparado
para exercer o seu trabalho. A grama do vizinho é sempre mais
verde.
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há um mês estudando sobre um assunto e espera que seja tão
bom quanto alguém que se dedica a seis anos. É uma comparação
injusta.
Por outro lado se você se achar melhor, isso pode desencadear um
pensamento de que a empresa não está sendo justa. O que pode
te levar a perder a crença no sistema de promoção da empresa,
afetando a forma como você se comporta. Se a pessoa estiver
hierarquicamente acima de você, pior ainda.
O que você talvez não saiba é que diversos motivos podem ter
levado a pessoa à sua posição atual, desde competências que você
não foi capaz de identificar, até uma preferência pessoal pela parte
dos gestores dela. Se este último te incomoda, leia novamente o
Capítulo 4.
Mas eu entendo que olhar para fora é praticamente inevitável.
Sendo assim, quando for olhar para outras pessoas faça isso para
se inspirar. O que a pessoa fez para alcançar o que ela alcançou e
você também pode fazer? Será que ela tem alguma dica para te
dar? Se você chegar com uma abordagem humilde, aposto que
ela vai fazer questão de te ajudar.
Redução de confiança
Assim como qualquer crença, a síndrome do impostor é capaz
de distorcer a forma como você enxerga a realidade, e como
consequência te levar a agir de forma a confirmar a própria crença.
Você age de acordo com aquilo que você acredita. Se você se vê
como um impostor, então vai agir como um. Você vai confiar
menos no seu potencial. Você vai ser menos assertivo na sua
fala. Você vai inspirar menos confiança nas pessoas. As pessoas
vão sentir a sua insegurança e vão se sentir inseguras quando
dependerem de você.
Existe uma relação forte entre liderança e segurança. As pessoas
se sentem seguras perto dos líderes que inspiram confiança. No
57
instante que você percebe que a pessoa parece não saber o que está
fazendo, o nível de confiança e segurança diminuem bruscamente,
e fica difícil de encarar a pessoa como uma líder.
Você aumenta muito a sua possibilidade de ser visto como líder
se você acredita naquilo que fala. E tudo começa com você não
se vendo como um impostor. Sempre que tiver certeza, fale de
forma assertiva e direta. Quando não tiver, deixe isso claro para
as pessoas e peça ajuda. Seja genuíno. Não se trata de mentir,
mas sim de ser confiante naquilo que você sabe que está certo.
58
não é um impostor.
Talvez você esteja um pouco defasado em relação às exigências do
mercado (em geral não está,) mas enquanto estiver entregando
bons resultados, sempre haverá tempo mais que o suficiente para
você se atualizar. Esse gap não pode ser motivo para você se
deixar afetar psicologicamente.
Aceite os elogios
Quantas vezes você recebeu um elogio e respondeu explicando
para a pessoa o porquê daquele elogio não fazer sentido? Eu
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cansei de fazer isso. O curioso é que eu sabia que essa era uma
atitude péssima, mas meu cérebro já tinha naturalizado responder
de forma depreciativa.
A primeira coisa que você precisa ter em mente é que você não
precisa ser perfeito para receber um elogio. Se você foi capaz de
fazer uma grande melhoria em um sistema e recebeu um elogio
por isso, as pessoas não estão preocupadas se você entregou em
três semanas em vez de duas. Talvez por dentro você faça essa
autocrítica, mas o importante aqui é aceitar que aquilo que você
fez teve impacto positivo para a pessoa, e é isso que importa.
Elogios são ótimos indicativos de que você está indo em um bom
caminho. A pessoa poderia não ter falado nada, mas ela decidiu
ir até você para te elogiar. Quando uma pessoa te elogia, tenha
certeza de que várias outras também te vêem daquela forma mas
não foram capazes de dizer diretamente para você.
Quando os elogios são recorrentes, aí você pode ter certeza de
que você está se diferenciando bastante da média. Aqui você
pode entender isso como um ponto forte e tentar tirar ainda mais
proveito seja lá do que estiver fazendo. Várias vezes ao longo
da minha carreira eu fui elogiado por ser um bom ouvinte. O
resultado é que eu passei a usar essa habilidade com muito mais
frequência para ajudar as pessoas. Um detalhe importante é que
eu não nasci sendo um bom ouvinte. Eu estudei e apliquei aquilo
que aprendi e me tornei um bom ouvinte com o tempo.
Sempre que você for elogiado, a reação correta é dizer “Obrigado.”
Só isso. Quando você discorda da pessoa, é como se não tivesse
aceitado um presente que ela deu. Se você fizer isso, ela vai pensar
duas vezes antes de te elogiar novamente. Entenda que o elogio
é um julgamento do ponto de vista da pessoa, e não seu. Aceite
que ela enxerga algo diferente de você.
Se você quiser ir um pouco mais a fundo, pode pedir detalhes
para a pessoa logo depois de agradecer. Mas não vá muito
fundo, senão corre o risco de virar um interrogatório. As pessoas
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preferem falar sobre elas, não sobre você, então modere o quanto
você puxa a conversa para si.
— Gostei bastante de conversar com você. Me ajudou muito a
tomar uma decisão.
— Foi um prazer! Teve alguma coisa específica que eu falei e te
ajudou mais?
Exercício
Liste as vezes que você tomou atitudes que tiveram impacto
positivo para suas equipes. Esses resultados são exemplos de que
você tem condições de atuar como líder. Agora sua missão é fazer
isso de forma mais frequente. Nem todas as iniciativas surtirão o
efeito que você espera, mas aquelas que surtirem serão um marco
para você. Em vez de buscar grandes vitórias, busque pequenas
vitórias de forma consistente.
61
Capítulo 9 • Tenha foco
Conforme um dev vai se tornando sênior, cada vez mais coisas
caem em seu colo. Desenvolver novas funcionalidades, manter
os sistemas disponíveis em produção, corrigir bugs, desenhar
arquitetura, mentorar devs iniciantes etc.
Se a pessoa disser que está tudo sob controle, provavelmente
tem alguma coisa errada. Sempre vai existir mais trabalho do
que braços para executar. Não importa quantas pessoas forem
contratadas, sempre temos a sensação de que falta mais alguém.
Lá no começo da minha carreira, um dia um colega de equipe
virou a cadeira e falou: “Estranho. Não tem mais nenhuma tarefa
pra fazer.” No dia seguinte a empresa declarou falência. Nesse
momento eu aprendi que ter muita coisa para fazer é um indicativo
de que empresa é saudável.
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as tarefas importantes das urgentes.
Começando do começo. . .
O grande problema é que as tarefas não vêm com uma etiqueta
dizendo qual o seu valor. Muitas vezes você é obrigado a decidir no
calor do momento. Em situações assim, é possível que você pegue
aquelas tarefas que estão “gritando” mais, ou seja, as urgentes.
A questão é que quase sempre existem tarefas urgentes em volume
suficiente para você nunca precisar olhar para as importantes. Se
você se deixar levar pelo piloto automático, provavelmente vai
viver apagando incêndios.
Como você quer crescer para um papel de liderança, a primeira
coisa que precisa fazer em um cenário desse é parar e pensar.
Se você fosse CTO da empresa e olhasse para sua equipe nesse
momento, quais problemas identificaria? Quais deles, se resolvi-
dos, tem grande potencial de trazer um retorno substancial de
produtividade ou de valor para a empresa? Qual iniciativa você
priorizaria (repare que falei qual e não quais)?
Quando você assumir uma posição de liderança, vai ser frequente-
mente exigido de parar e pensar em como sair de uma situação
63
difícil. Aproveite que você ainda não é líder e use todo tempo que
for preciso para desenhar uma iniciativa relevante.
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Combine com seu líder um tempo para você se dedicar àquela
iniciativa. Pode ser uma hora por dia, um turno por semana
(manhã ou tarde), um dia a cada duas semanas ou qualquer
combinado que fizer sentido para vocês.
Em algumas empresas os devs podem pegar tarefas por fora desde
que não comprometam as entregas da equipe. Se esse for seu
contexto, então só precisará manter o foco em sua iniciativa (não
deixando a peteca cair em suas tarefas obrigatórias.)
65
esqueça de fazer seu trabalho brilhar (Capítulo 13.)
The world ain’t all sunshine and rainbows
— Rocky Balboa
Mas tenha em mente que esse deve ser um caso de exceção, não de
regra. O ideal continua sendo criar esse tempo durante o horário
de trabalho para fazer essas melhorias.
Baby steps
É fácil levar seis meses para resolver um problema se você só
dedicar uma hora por dia nele. Quanto mais tempo você levar
para fazer alguma entrega, maior a probabilidade da entrega
nunca ser feita. Sabendo disso, você deve buscar alternativas mais
simples para garantir que o problema será resolvido, ainda que
em parte.
Eu trabalhei com um matemático que tinha a tarefa de melhorar
um algoritmo de marcação de produtos. Tivemos o seguinte
diálogo:
— Quanto tempo você leva pra resolver esse problema?
— Uns três meses.
— Você enxerga alguma solução mais simples e que resolva 80%
do problema?
— Dá pra fazer XYZ.
— Em quanto tempo você consegue entregar?
— Ah, isso consigo fazer hoje!
Agora volto essa pergunta para você: Qual é o XYZ que você
consegue fazer para gerar uma melhoria ainda essa semana? Uma
vez que você entregar XYZ, pense no próximo. E depois no
próximo. Essa é uma forma de mitigar o maior risco na execução
de uma iniciativa, que é não entregá-la.
66
Faça parcerias
Compartilhar a jornada é uma tática interessante tanto para
manter a motivação quanto para dividir os méritos com seus
colegas. Enquanto um de vocês estiver motivado, os outros tendem
a se manter em movimento.
Além disso as parcerias funcionam bem como forma de criar um
relacionamento positivo com seus colegas. Todos sairão vitoriosos
juntos. Mesmo que todos participem, você continuará sendo bem
visto por ter dado o pontapé inicial e se tornado o líder desse
projeto.
Não conseguir firmar parcerias não pode ser uma desculpa para
você não executar a iniciativa. Se ela é realmente relevante, faça o
que for necessário para levá-la até o fim, mesmo que seja sozinho.
Vá até o fim
Qualquer iniciativa que você comece e não entregue terá valor
zero para seu crescimento. Sendo até mais rigoroso, eu diria que
tem valor negativo. Primeiro porque você consumiu tempo da
empresa para trabalhar em uma coisa que não trouxe nenhum
benefício. Segundo porque a não-entrega é uma evidência de que
você carece de capacidade de entrega (Capítulo 11). Se passar
pela sua cabeça culpar a empresa por não ser capaz de entregar,
leia novamente o capítulo 1.
67
O que vai fazer os olhos das pessoas brilharem são os resultados
gerados, e não o fato de você estar codando alguma coisa.
Exercício
Quais problemas você vê sua equipe empurrando com a barriga?
Escolha o mais relevante e que seja factível de você resolver sozinho,
escreva um plano e execute em seguida. Apresente seu plano para
os colegas e peça ajuda. Se algum deles aceitar, enxergue como
um bônus.
68
Parte 2 • Resultados
O homem que faz mais do que ele é pago, em breve
será pago por mais do que ele faz.
— Napoleon Hill
Na época da escola, eu e meus amigos sempre falávamos: “Estudar
em escola é um saco. Fazer faculdade que é bom! Pelo menos a
gente vai estudar sobre alguma coisa que gostamos.” Ledo engano.
Se você já fez ou faz uma faculdade, acho que vai concordar
comigo. 90% das matérias estão na grade fixa. E mesmo que
você ame seu curso, muitas matérias são chatas (se não a maioria
delas.) Das matérias eletivas (opcionais), só uma ou outra parecem
interessantes. Não sei você, mas eu praticamente só peguei as
eletivas que eram mais fáceis de passar. Mas durante a faculdade
a gente pensa: “Quando eu começar a trabalhar as coisas vão ser
diferentes. Vou fazer exatamente aquilo que eu gosto!”
Quando você gostava muito de uma matéria e, por consequência,
a estudava muito, tirar uma nota alta, talvez até um dez, era
praticamente inevitável. Aposto que você já conversou com seus
colegas de escola ou faculdade sobre como seria bom se pudesse
pegar dois pontos de uma matéria e passar para outra. A não
ser para massagear o ego, tirar dez não tem nenhuma grande
utilidade. É um teto intransponível que, quando alcançado, não
te traz vantagens. É o cachorro que corre atrás do carro e não
sabe o que fazer quando ele para.
Não importa o quão bem o Neymar jogasse durante as aulas de
educação física, no máximo ele tiraria dez de qualquer forma,
a mesma nota do rapaz desengonçado que não saía do banco
de reservas. Isso muda profundamente no mercado profissional.
Enquanto que na escola/faculdade existe um limite que nosso
talento pode nos levar, no mercado profissional esse limite inexiste.
É como se você pudesse tirar seis em uma matéria e quatrocentos
e dezenove na outra.
69
O mais legal disso tudo é que no mercado profissional você não
é mais avaliado por ter uma boa média, e sim pelos resultados
que é capaz de trazer. Isso significa que você não precisa mais ser
bom em um monte de assuntos, e sim que você pode tirar proveito
daquilo que você tem mais interesse e provavelmente domina.
Tirar vantagem de focar em seus pontos fortes virou uma realidade,
mas poucas pessoas percebem isso. A maioria briga para se manter
junto à manada. Talvez até façam um bom trabalho, mas nada
que as posicione como diferente dos outros.
Entregar resultados é uma expectativa inegociável do profissional.
Se você contrata um encanador para consertar um vazamento,
não existe um resultado que te satisfaça que não inclua ter o
vazamento resolvido. Esse é o mínimo que se espera, e muita
gente atua nesse mínimo. Para se diferenciar e ser considerado
em futuras promoções e reconhecimentos, é preciso dar um passo
além. Para se diferenciar, esse encanador, além de consertar
o vazamento, poderia, por exemplo, embolsar a parede, passar
massa, pintar a parede e lavar o chão. Vai dar mais trabalho?
Com certeza! Mas eu duvido que o dono da casa não o indicaria
se alguém pedisse uma indicação de encanador.
Esse é o tipo de mentalidade que você precisa ter. Quanto melhor
você conseguir resolver os problemas das pessoas e da empresa,
melhor será a percepção delas em relação a você, e isso tem um
impacto imensurável na sua carreira.
Já vi pessoas que levaram anos para serem demitidas ou que
nunca foram demitidas mesmo agindo de forma tóxica. Mesmo
que os líderes e empresas entendam que comportamento tóxico é
ruim para os resultados da equipe, não é fácil justificar demissões
de pessoas que entregam um trabalho extraordinário.
Não me entenda mal, eu sugiro fortemente que você nunca tenha
uma conduta tóxica. Agir assim pode ter impacto muito negativo
para seus colegas e, dependendo da gravidade do que você fizer,
pode literalmente acabar com a sua carreira de um dia para o
70
outro. Eu trago esse exemplo somente para mostrar o quanto as
empresas valorizam a entrega de resultados.
Não importa muito se você é Back-end, Front-end, Engenheiro
SRE, Desenvolvedor Mobile ou seja lá qual for a sua especialidade,
quanto melhores os resultados que você for capaz de gerar para
a empresa, melhor pra você! Isso significa que você deve buscar
não só fazer bem aquilo para o que foi contratado, mas sempre
que possível entregar mais do que o esperado.
Se seu objetivo é crescer, busque estar o mais próximo possível
dos resultados esperados um nível acima do seu. Se você é pleno,
busque entregar como um sênior. Se é sênior, busque entregar
como um Lead. Se você é Lead, busque entregar como um Head.
Você não cresce com alguém te puxando para cima. Você cresce
quando alguém te coloca em uma posição onde você já deveria
estar há muito tempo.
71
Capítulo 10 • Não fale. Faça!
Eu já perdi a conta de quantas vezes eu ouvi pessoas reclamando e
dando sugestões de como as coisas deveriam funcionar (eu incluso.)
Existe um velho ditado que diz: “Falar é fácil. Fazer é difícil.”
Este ditado se aplica como uma luva para a realidade do mundo
e consequentemente das empresas.
O que eu aprendi ao longo do tempo é que fazer discursos bonitos
sobre o que deve ser melhorado é muito popular. É fácil diagnos-
ticar que os sistemas têm poucos testes automatizados. É fácil
identificar que a arquitetura não é mais adequada. É fácil dizer
que os processos da empresa são antiquados.
Aposto que a maioria das pessoas vai concordar contigo quando
disser essas coisas. Mas existe um gap muito grande entre iden-
tificar um problema e atuar para resolvê-lo. Para resolver, você
precisa desenhar uma possível solução, traçar um plano, engajar
outras pessoas e executar. Conforme as dificuldades surgirem,
você vai precisar adaptar ou até repensar seu plano e suas pre-
missas.
A grosso modo, podemos dividir iniciativas em três categorias
diferentes: As que dependem só de você, as que dependem só de
você e há espaço para outras pessoas contribuírem, e as que você
precisa engajar outras pessoas.
72
empecilho muito pequeno para justificar que você fale em vez de
simplesmente fazer.
Por serem mais simples, iniciativas deste tipo não geram uma
projeção muito grande, mas uma forma de potencializá-las é fazer
em volume. Uma coisa é fazer uma pequena melhoria. Outra
coisa é frequentemente fazer pequenas melhorias. Nesse cenário
você vai ser visto como uma pessoa que faz as coisas sem precisar
ser demandado, o que é ótimo para sua carreira.
73
Iniciativas onde você precisa de outras pessoas
As que você precisa engajar outras pessoas costumam ser um
pouco mais complexas. Normalmente essas iniciativas têm um
âmbito que extrapolam a equipe.
Engajar pessoas de outras equipes exige que você tenha uma boa
influência na empresa. Nutrir bons relacionamentos é uma forma
de chegar lá, mas é algo que leva tempo.
Por serem mais difíceis, essas iniciativas têm um potencial muito
maior de te projetar. Se você enxergar uma oportunidade de
liderar ou só de participar de uma iniciativa assim, nem pense
duas vezes antes de embarcar. Não limite seu trabalho à sua
equipe.
Vai lá e faz
Às vezes nós criamos um monte de obstáculos para não fazer
alguma coisa, mas esses obstáculos muitas vezes só existem na
nossa cabeça. “A empresa não prioriza”, “As pessoas não estão
nem aí”, “Meu líder não se preocupa com isso”. . . Na prática o
que acontece na maioria das vezes é que ou as pessoas não vêem
a oportunidade que você vê, ou elas não têm coragem para dar o
pontapé inicial.
O fato da empresa não priorizar não significa que aquela iniciativa
não traga valor. Repito o que disse no Capítulo 9, não há braço
suficiente para atacar todos os problemas, então muitos deles vão
ficar de lado por serem pequenos demais ou por serem menos
prioritários. Não conte que a empresa dará prioridade a tudo
que é importante no seu ponto de vista. Se você esperar isso
acontecer, vai perder muitas oportunidades ao longo do caminho.
Mesmo que as pessoas realmente não estejam nem aí, você pode
puxar a iniciativa e mostrar que existe valor ali. Em muitos casos
não é que elas não ligam, e sim que elas não foram capazes de
perceber os benefícios daquilo que você vem falando. Colocar a
74
mão na massa é a melhor forma de mostrar esse valor para elas.
No pior dos casos você vai chegar à conclusão de que aquilo que
você tinha pensado realmente não é tão útil assim, e tudo bem se
isso acontecer.
Talk is cheap. Show me the code!
— Linus Torvalds
75
Iniciativas que envolvem produto
Se você trabalha com o desenvolvimento de um produto, é provável
que tenha muitas ideias de novas funcionalidades ou melhorias
para implementar, mas que nunca foram priorizadas pelo Product
Manager.
Eu encaro produtos como uma exceção à regra de ir lá e fazer.
Se você tiver uma ideia e der na telha de ir lá e fazer, você pode
tornar o produto pior do que ela era. Esse é um risco real e não
pode ser ignorado.
Produtos não aceitam qualquer tipo de alteração. Existe toda uma
experiência de usuário envolvida. Sem contar que o maior custo
que você tem para desenvolver algo novo é o custo de oportunidade.
Quando você decide desenvolver uma nova funcionalidade ou uma
melhoria, está deixando de fazer muitas outras coisas que, em
tese, poderiam trazer mais valor.
Uma decisão errada no produto e a empresa pode pagar caro por
isso. A minha recomendação é que você sempre alinhe seu ponto
de vista com o Product Manager. Ele entende o produto mais
profundamente que você, e terá uma visão melhor de se aquilo
que você pensou realmente faz sentido ser desenvolvido naquele
momento.
Se existe um ponto que vale a pena atacar em termos de produto
sem precisar de tanto input do Product Manager, esse ponto é
tudo que envolve melhoria de desempenho. Se os clientes têm
de esperar duas horas para um relatório ser exportado, então
reduzir para dez segundos pode ser interessante. De qualquer
forma ainda vale um alinhamento com o Product Manager porque
se essa funcionalidade for pouquíssimo usada, talvez seja melhor
atacar outra frente.
76
Exercício
Tem alguma coisa que você vem falando que poderia ser melhorada
mas nunca colocou a mão na massa? Então chegou a hora!
A minha recomendação é que você tente algo dentro da sua
equipe. Se você pegar uma iniciativa mais complexa, existe uma
possibilidade real de ser mais difícil do que você esperava (quase
sempre é) e você acabar se frustrando e desistindo no meio do
caminho. Tente algo maior quando iniciativas dentro da equipe
não forem mais um problema para você.
77
Capítulo 11 • Seja confiável
Uma das sensações mais frustrantes no ambiente de trabalho
acontece quando alguém se compromete a fazer algo para nós, daí
passamos a contar com esse combinado, e na data de entrega a
pessoa dá uma justificativa para não ter feito.
Essa é uma das formas mais comuns de quebra de confiança
no ambiente de trabalho. O problema de quebrar a confiança,
especialmente com seu líder, é que quanto menos a pessoa confia
em você, menos dependência ela vai querer ter do seu trabalho.
Imagino que você já tenha passado por situações de quebra de
confiança diversas vezes ao longo da sua carreira. Talvez dentro
da sua equipe alguém tenha dividido uma tarefa contigo, e quando
você terminou a sua parte a pessoa nem tinha começado a dela.
Nesse caso a vontade que dá é de pegar a parte dela e fazer você
mesmo. Na próxima vez que surgir a possibilidade de dividir uma
tarefa entre vocês, qual a chance de você querer fazer isso?
78
contrato de aluguel poderia ser assinado mais rapidamente. O
racional é que falta de confiança custa tempo.
A conclusão que podemos tirar é de que quanto mais confiável
você for, mais tempo você economiza dos seus colegas e mais
dinheiro você economiza para sua empresa.
79
mente seu líder se preocuparão o mínimo possível em relação às
suas entregas. Quanto menos eles se preocuparem, mais confiável
você se tornará.
80
é o melhor caminho para discutir possíveis alternativas com seu
líder.
81
em problemas maiores do que você é capaz de resolver. Isso
não significa que você não deva se desafiar, mas sim que existem
problemas que são grandes demais para você. Busque projetos
desafiadores porém factíveis de serem solucionados por você. Com
o tempo você se sentirá cada vez mais confortável de aumentar o
escopo dos seus desafios.
Exercício
Liste todos os combinados que você tem com seu líder e garanta
que eles sejam resolvidos. Procure resolvê-los antes do término do
prazo. Se não há combinados, então se proponha a resolver algo e
crie esse combinado com ele. Não se esqueça de usar as técnicas
mencionadas nesses capítulo, como atualizá-lo com frequência por
exemplo.
82
Capítulo 12 • Seja visto
Existe um velho ditado que diz: “Quem não é visto não é lem-
brado.” Não à toa existe um mercado bilionário de publicidade e
propaganda pelo mundo. Cada empresa quer passar um conceito
para você, assim uma vez que você pensar no conceito, aquela
empresa vem à sua mente.
Em alguns casos mais extremos, a marca se torna tão forte que as
pessoas a identificam como o próprio produto em si. Lâmina de
barbear virou Gillete. Palha de aço virou Bom Bril. Bloco adesivo
virou Post-it. Quando você pensa em pedir comida por aplicativo,
qual aplicativo vem à sua mente? Quando você pensa em pedir
um carro por aplicativo, qual aplicativo vem à sua mente? Esse é
o poder que as marcas têm sobre nós.
Mesmo sendo uma das marcas mais reconhecidas no mundo, a
Coca-Cola investe em torno de quatro bilhões de dólares por ano
em publicidade. Repare que eu disse investe, e não gasta. Se é
um investimento, então podemos presumir que existe um retorno
para ele. Se mesmo sendo reconhecida por quase todo mundo uma
empresa ainda faz questão de aparecer para as pessoas, então tem
algo muito importante aí que muita gente pode estar deixando
passar.
83
interesse. Já trabalhei com uma pessoa que era vista como uma
referência em uma ferramenta que usávamos. Sempre que alguém
queria fazer algo na ferramenta e não sabia como, adivinha quem
as pessoas buscavam?
Mas antes de pensar em aparecer, é importante que você tenha
clareza do que mostrar. Pode ser uma boa ideia colocar um anún-
cio em frente a um McDonalds bastante movimentado. Agora se
for um anúncio sobre um restaurante vegano, colocar a publici-
dade em frente ao McDonalds deixa de fazer sentido. Antes de
pensar na estratégia do anúncio, você precisa definir exatamente
o que vai anunciar.
84
banners para fóruns. Um dia me juntei a um fórum onde outras
pessoas tinham esse mesmo interesse e passei a fazer parte do
time de designers.
Sempre fui uma pessoa muito idealista, e até hoje tenho de me
policiar para não agir assim. Para mim existia um jeito certo
de fazer as coisas, e todos os outros jeitos estavam errados. A
consequência disso é que sempre que alguém falava alguma coisa
que eu discordava, eu fazia questão de postar essa discordância no
fórum. O problema é que isso acontecia frequentemente. Rapida-
mente ganhei o apelido de Do Contra, um personagem da Turma
da Mônica conhecido por contrariar tudo.
Muitos anos depois vim a trabalhar em uma empresa onde, não
surpreendentemente, eu agia de forma muito parecida com a época
dos fóruns. Consegue adivinhar o que aconteceu? Acertou se
disse que passei a ser visto como uma pessoa do contra. Depois
de um feedback do meu líder, finalmente eu percebi o que estava
acontecendo.
É muito fácil encontrar desculpas para você agir de maneira
inconveniente. No meu caso eu achava importante que as pessoas
soubessem “a verdade,” e dizer que as pessoas estavam erradas
não parecia um problema, uma vez que nós somos racionais e
sabemos lidar perfeitamente quando somos contraditos, certo? Só
que não.
Ser reconhecido por algo ruim pode dificultar bastante a sua
jornada de alcançar um papel de liderança. O primeiro passo é
reconhecer que você está agindo mal. Se as pessoas te rotulam,
esse é um sinal forte de que você é reconhecido por aquilo (do
mesmo jeito que eu era rotulado de do contra.) Uma vez que você
aceitar que você age mal, pode começar a prestar mais atenção
em si mesmo e se policiar para não repetir as atitudes ruins. Você
também pode pedir a ajuda de alguém de confiança para te avisar
quando você agir sem perceber. E, principalmente, tenha em
mente que você não age da forma como age por conta da sua
85
personalidade ou de eventos passados. Você age da forma que age
porque você aceitou que você é assim e se sente bem dessa forma.
Você é maleável. Você aprende. Você muda. Então faça o favor
de não dar desculpas e comece a mudar seu rumo.
86
Ruby on Rails, por exemplo, por mais que os novos sistemas
estejam sendo criados em Elixir, pode ser uma boa ideia você se
especializar em Ruby e Rails. Dessa forma a empresa sabe que
sempre vai poder contar contigo quando precisar mexer com o
legado.
Entenda que sempre é possível se tornar uma referência, mesmo
nos casos onde a concorrência é muito alta. Você pode escolher se
tornar uma referência porque genuinamente gosta daquele assunto,
e eu te encorajo a fazer isso! Mas é importante entender que
existem caminhos mais fáceis para chegar lá e colher os mesmos
frutos em termos de percepção das outras pessoas.
87
problema seja resolvido. Inconscientemente a pessoa vai assimilar
que sempre que ela te chamar, o problema será resolvido custe o
que custar. É esse o nível de confiança que você deve buscar.
Não pare de estudar nunca. No momento que você para, você
começa a se tornar obsoleto, especialmente se o tema for volátil
(como é o caso de tecnologia em geral.) Trabalhei como desen-
volvedor full-stack durante alguns anos, e CSS era um dos meus
fortes. Depois me tornei desenvolvedor back-end e fiquei alguns
anos sem tocar em CSS. De repente reparei que meu conhecimento
sobre CSS estava praticamente obsoleto. Obviamente entendo
o básico e ainda sou capaz de montar layouts, mas perdi tudo
que tem de “novo” em CSS, como flexbox, grid-layout, unidades
relativas etc.
Mije no poste
Uma vez que você se tornar uma referência, as pessoas precisam te
enxergar como tal. Sua influência não muda em nada na empresa
se você entender profundamente sobre SQL e ninguém souber
disso.
Uma forma simples de começar a ser visto é falando nos canais
da empresa. Primeiro as pessoas precisam saber que você existe,
mesmo que elas ainda não saibam exatamente o que você faz. Se
alguém vê que você ajudou Fulano, Ciclano e Beltrano sobre um
assunto específico, mesmo que ela nunca tenha te visto, o cérebro
dela começa a associar você com especialista em assunto X. Isso é
você criando a sua marca na cabeça da pessoa. Sim, você deve
pensar como uma marca (falo sobre isso mais à frente.)
Ferramentas de chat como Slack ou Discord, por exemplo, são
ótimas nesse quesito. Como boa parte da comunicação acontece
em canais públicos, lá você pode ajudar essas pessoas ou contribuir
em público. Se você for introvertido, ainda tem a vantagem de
não precisar falar pessoalmente com ninguém. Aposto que por
dentro você deu um sorriso de felicidade. Mesmo em ferramentas
88
como e-mail isso é possível, porque a pessoa pode estar copiada
em uma resposta que você venha a dar. Quanto mais as pessoas
te vêem, melhor.
Outra opção interessante é dar palestras. Sempre que tiver a
chance de fazer isso internamente, faça. Se pedirem voluntários,
seja a primeira pessoa a levantar a mão, mesmo que você ainda
não saiba exatamente sobre o que falar. Assunto é fácil de escolher,
mas a oportunidade de palestrar não. Especialmente se for sobre
um assunto que você domina, palestrar é uma boa forma de ajudar
as pessoas e se mostrar como referência em um assunto.
Palestrar em eventos externos é melhor ainda. Você ganha re-
speito da sua empresa por a estar representando para outros
desenvolvedores, e ainda ganha o respeito de outras pessoas no
mercado por ter falado sobre algo que as interessam. Você pode
sinalizar esse interesse ao seu líder. Se sua empresa tiver um
Community Manager, também fale com ele sobre seu interesse
em palestrar.
Postar em redes sociais também é altamente recomendado. Na
data que escrevi este livro, a rede social mais relevante para assun-
tos profissionais era o LinkedIn. O alcance orgânico (postagens
não patrocinadas) é muito bom, e as pessoas já esperam se deparar
com assuntos profissionais. Como seu objetivo é ser reconhecido,
eu sugiro que você concentre suas postagens em um único tema,
assim você vai reunir pessoas que se interessam pelo mesmo tema
que você e vão te enxergar como uma referência. Para criar uma
audiência de pessoas interessadas pelo que você publica, busque
ser consistente em suas postagens. Esse é um jogo de longo prazo,
então não adianta fazer cinco postagens hoje e mais nenhuma ao
longo da semana. Quanto mais as pessoas interagem com seus
posts (curtidas, comentários, tempo de visualização etc.,) mais
a plataforma vai entregar seu conteúdo a essa pessoa, e para a
plataforma entregar mais, você precisa ter postado recentemente.
Apesar do engajamento importar, resista à tentação de fazer
postagens caça-likes. Se elas não tiverem relação com seu público,
89
você só vai afastar as pessoas que te interessavam em primeiro
lugar.
Você também pode dar um passo além e criar seu próprio blog.
Se você gosta de escrever e quiser mostrar mais profundidade no
assunto, blog é uma boa opção. Medium é uma boa plataforma
para as pessoas te descobrirem, mas ele limita a quantidade
de postagens que as pessoas podem ler diariamente. Também
entenda que postando lá, ou em qualquer outra plataforma, o
conteúdo não pertence a você, e sim a ela. Se quiser ser dono do
que produz, crie seu próprio blog.
Evite divergir
Quanto mais assuntos você escolher se tornar uma referência,
mais difícil vai ser se tornar uma referência em cada um deles.
Ter foco é muito importante, especialmente no começo. Escolha
um tema relevante e domine-o. Quando achar que já aprendeu o
suficiente, é porque chegou aos 30%.
90
Não deixe a peteca cair
Conforme você buscar se tornar uma referência em um assunto,
não deixe a peteca cair nos outros. De nada adianta você dominar
as regras de negócio dos seus sistemas se você está deixando a
desejar nas outras disciplinas. Mantenha pelo menos uma “nota
5” para não ser mal visto.
É melhor ser visto como uma referência dentro da sua equipe e
não ser reconhecido fora dela do que o oposto. Garanta que você
entregue um bom trabalho e seja reconhecido primeiro por seus
colegas. Uma vez que isso acontecer, desbrave outras matas.
91
reforçariam o seu posicionamento? Quais atitudes e resultados
sabotariam sua credibilidade?
Um vez que você tiver respondido a essas perguntas, ficará mais
claro o que precisa fazer para se posicionar e ser reconhecido como
uma referência.
Exercício
Se eu perguntasse para seus colegas onde você se destaca, o que
eles responderiam? Se eles precisarem pensar muito, ou se as
respostas forem difusas, ou se eles não souberem responder, esse
é um sinal de que você ainda tem bastante trabalho a fazer.
Sua missão agora é escolher um assunto para se tornar referência.
Se te ajudar, você pode usar como referência os critérios que
mencionei neste capítulo. Uma vez definido, comece aos poucos a
construir sua marca pessoal em cima desse assunto.
Esse é um jogo de longo prazo, então não fique triste se as pes-
soas não notarem que você está evoluindo. Se você se mantiver
consistente no caminho, o reconhecimento será inevitável.
92
Capítulo 13 • Faça suas entregas brilharem
Neste ponto do livro você já deve ter entendido a importância de
garantir que as entregas sejam feitas. O capital que você ganha
ao realizá-las é vital para seu crescimento profissional. O que
talvez eu não tenha deixado claro até agora é que nem todas as
entregas (e suas respectivas tarefas) são iguais.
Nosso dia-a-dia é permeado por tarefas de diferentes naturezas.
Algumas dessas tarefas têm baixa importância e baixa visibilidade.
Um exemplo desses é preparar o código para ser deployado. Por
mais que garantir que o código esteja em produção é importante,
o ato de preparar o código para colocá-lo lá não tem nenhuma
importância. Quando possível, esse tipo de atividade deve ser
abandonada ou automatizada. Elas só fazem gastar tempo e não
agregam valor à entrega.
Outras tarefas têm alta visibilidade e baixa importância. Um
exemplo disso são relatórios que você por ventura possa gerar e
são usados pelos seus líderes ou por muitas pessoas na empresa.
Por ter alta visibilidade, é importante que você garanta que o
resultado estará conforme o esperado. Erros podem minar a
confiança que as pessoas terão em você. Novamente o ideal é
que essas rotinas sejam padronizadas ou até automatizadas. A
padronização garante que um dia você possa dividir a carga com
seus colegas ou até delegar para eles.
Existem também as tarefas com alta visibilidade e alta importân-
cia. Um exemplo disso é um projeto estratégico para a empresa
onde sua equipe foi escolhida para desenvolver. Nesse caso você
precisa garantir não só que o resultado será entregue, como tam-
bém deve apresentar seus resultados da melhor maneira possível.
Um último tipo de tarefa é aquela com baixa visibilidade e alta
importância. Um exemplo é um projeto de melhoria nos processos
da equipe que reduziu o tempo médio de entrega das funcional-
idades pela metade. Em casos assim o ideal é que você faça o
93
possível para aumentar a visibilidade do que você ou sua equipe
fez.
94
Tímido do jeito que eu era, dificilmente eu conseguiria resolver um
exercício na frente da pessoa. De repente chega alguém pedindo
ajuda. A pessoa sentou ao meu lado e eu literalmente suei frio
e tremi na base. Com muito custo eu consegui ajudar o rapaz
a resolver o exercício e ele foi embora. Com o passar do tempo
percebi que escrevendo no quadro negro era mais fácil de explicar
para mais de uma pessoa. No final do semestre, época de provas
finais, eu já estava resolvendo questões no quadro na frente de
quarenta pessoas. Algumas questões eu não conseguia resolver e
“passava vergonha” na frente dos alunos. Na minha cabeça me
condicionei a pensar que eu estava ali para ajudar, e eu não tinha
obrigação de saber tudo. Isso me ajudou a ter zero vergonha de
dizer que não sabia.
Quando criança eu quebrei o braço e ele teve que ser colocado
no lugar. Enquanto o enfermeiro me segurava, o médico puxava
e girava meu braço em diferentes direções. O som dos ossos
estalando era tão alto que dava para ouvir de fora da sala. Foi
uma das piores dores que eu tive na minha vida, mas meu olhos
sequer lacrimejaram. Sabe por quê? Eu tinha vergonha de chorar
na frente dos outros. Esse era o meu nível de timidez. Se em
alguns meses como monitor eu deixei de ser um bicho do mato e
consegui chegar ao ponto de dar aula a quarenta pessoas, então
eu acredito que você pode fazer o mesmo. Você não precisa fazer
uma TED Talk, e sim dar o melhor de si.
Sobre a apresentação
Garanta que todo trabalho de alta visibilidade que você venha
a fazer esteja impecável em termos de apresentação, qualidade e
precisão. Se você não souber montar uma apresentação bonita,
use um template padronizado da empresa. Pratique as suas
falas com antecedência e verifique se consegue finalizar no tempo
proposto. Se você for tímido, é ainda mais importante que você
pratique. Confira todos os números e informações que colocará
nos slides. Qualquer falha aqui pode te deixar com uma imagem
95
de desleixado.
Tenha em mente que algumas pessoas talvez não estejam a par
do assunto que você vai trazer, então sempre traga contexto do
que você vai falar. Se necessário faça uma rápida passagem pelo
que te motivou a fazer esse trabalho e qual o resultado esperado.
Exercício
Busque algo de interessante que você ou sua equipe fez recente-
mente e apresente para os outros devs. Veja com seu líder como
faz para marcar uma apresentação e marque uma data.
96
Capítulo 14 • Esteja sempre um passo à
frente
Era dia 15 de Dezembro de 2012 quando fui a um meetup de
JavaScript na minha cidade. Todas as palestras foram interes-
santes, mas a de Angular.js chamou minha atenção. Nessa época
eu achava bem estranho usar um framework para desenvolver um
site (no caso do palestrante era um e-commerce.) jQuery domi-
nava o mercado com larguíssima folga e parecia ser a ferramenta
mais adequada.
Algum tempo depois trabalhei em um projeto onde decidimos usar
Angular.js. Me dediquei e estudei bastante sobre a ferramenta,
e em alguns meses eu já me sentia perfeitamente confortável em
desenvolver e testar aplicações com ela. Lembrei da palestra e
do palestrante, e pensei que já devia estar praticamente com o
mesmo nível de conhecimento dele.
Eu não podia estar mais errado. Eu descobri que esse palestrante
tinha virado core commiter do Angular.js. Esse feito é pelo
menos umas duas ordens de magnitude mais complexo do que
somente ser um bom desenvolvedor. Primeiro você se torna
um bom desenvolvedor de aplicações, depois se torna um bom
professor/palestrante, e por fim se torna um bom desenvolvedor
da ferramenta em si.
O caminho trilhado por esse palestrante diz muito sobre alguém
que realmente quer ser visto como líder em algum aspecto. Você
precisa sempre estar um passo à frente das pessoas à sua volta.
97
Essa analogia é perfeita para descrever um líder. Por um lado
líderes usam o farol baixo para entender os problemas atuais
da equipe e como resolvê-los. Por outro usam o farol alto para
identificar problemas e oportunidades futuras e decidir como se
preparar para chegar lá.
Se você quer se destacar em alguma habilidade, busque estar um
passo à frente dos seus colegas. Se a sua equipe decidiu usar
ElasticSearch, por exemplo, então você pode se desenvolver nesta
ferramenta antecipando todas as necessidades que aparecerem.
Surgiu a necessidade de montar um cluster? Você já sabe como
fazer. Surgiu a necessidade de fazer uma consulta mais complexa?
Você já conhece alternativas. As consultas estão lentas? Você já
conhece as principais causas.
98
Experimentar conta como uma forma de prática. Quanto mais
você experimentar em cima do assunto que quer se desenvolver,
melhor. Exemplos de livros, cursos ou tutoriais são ótimos pontos
de partida para você experimentar diferentes opções e alternativas
para resolver o mesmo problema. Quando comecei a aprender
inglês, por exemplo, a minha diversão era abrir o dicionário em
uma página aleatória para aprender algumas palavras novas.
Para consolidar ainda mais o conhecimento eu recomendo que
você tenha contato o mais frequente possível com o assunto do
seu interesse. Estudar uma hora por dia nos cinco dias da semana,
por exemplo, é mais eficaz do que estudar por cinco horas no final
de semana. Isso acontece porque aprendemos melhor de forma
espaçada do que de forma concentrada. Na nova seção de estudos
você vai ser obrigado a relembrar o que viu na última, o que
sinaliza para seu cérebro que aquele conhecimento é importante.
Não espere ter pleno conhecimento sobre um assunto para pas-
sar para outro mais avançado. Se você sente que já sabe entre
60%—70% do assunto atual, pode buscar um conteúdo mais
avançado. O objetivo aqui é se manter em estado de flow, isto é,
um estado onde você se sente desafiado o suficiente para continuar
evoluindo, evitando o tédio por saber demais (70%—99%) e a
ansiedade por saber de menos (0%—60%).
Uma forma interessante de consolidar o que vem aprendendo
é fazendo as próprias anotações. Estudos mostram que fazer
anotações enquanto consome um conteúdo aumenta a sua retenção.
Dessa forma não hesite em anotar pontos importantes sobre o
que estiver aprendendo. Quando comecei a aprender Kubernetes,
eu sempre anotava os comandos novos que aprendia, assim eu
podia voltar à anotação daquele comando para relembrar o que
eu tinha visto. Monte sua própria cheatsheet.
Busque entender o que dá origem aos conceitos importantes no
assunto que você estiver estudando. Esta técnica facilita não só
para você entender melhor o que já existe, como também abre
99
espaço para criar as suas próprias abordagens. Quando entrei
em contato com Agile eu vi um monte de práticas e cerimônias,
mas não ficava muito claro o que elas se propunham a resolver.
Com o tempo percebi que a Agilidade parte de uma dessas duas
premissas: 1) Trabalhamos em um contexto onde não sabemos
se aquilo que pretendemos fazer vai entregar valor ou não. 2)
Sabemos que aquilo que pretendemos fazer vai entregar valor, mas
queremos ter retorno, ainda que em parte, desse valor o quanto
antes. Todas as cerimônias e práticas, incluindo as mais modernas,
se derivam de uma dessas duas premissas. Hoje consigo analisar
criticamente se uma prática realmente vai ajudar no meu contexto
e como posso adaptá-la para isso.
Tenha visão
Visão é uma habilidade que te permite formar imagens do futuro
sem que necessariamente você esteja rumando para lá. É uma
habilidade que requer uma dose de criatividade e ousadia. O fator
mais importante da visão é permitir que você e o time tenham um
100
ponto de chegada que ajude a tomar melhores decisões no presente.
Imagine sua equipe definiu sua visão como “fazer deploy em 1
clique.” A partir dela a própria equipe pode julgar quais melhorias
técnicas irão deixá-la mais próximo de alcançar esse resultado. Se
for necessário escolher entre uma ou outra prioridade, se apoiar
na visão pode ajudar a escolher o melhor caminho.
No seu caso específico, você pode fazer um exercício com a equipe
ou consigo mesmo para imaginar o futuro e criar uma visão. Com
isso fica mais fácil de você se adiantar pensar o que é necessário
para que você esteja um passo à frente. Se a equipe decidiu que
vai passar a usar a AWS, você já pode começar a estudar a partir
de hoje.
É comum que algumas pessoas tenham dificuldade de criar o
futuro, então pode acontecer da sua equipe não conseguir criar
uma visão. Nesse caso você pode puxar essa responsabilidade
e criar a visão você mesmo. Em uma das primeiras equipes
que trabalhei, eu puxei a adoção e implementação do GIT, eu
puxei experimentos para usar outras bibliotecas (Dojo Toolkit
e ExtJS), eu puxei a adoção de um framework para Back-end
(Zend Framework) etc. Faça o que mais ninguém está fazendo.
Exercício
Marque uma conversa com sua equipe onde será discutido o
tema visão. Onde as pessoas imaginam que a equipe pode estar
no futuro? Quais problemas terão resolvido? Quais ferramentas
estarão usando? Como as pessoas estarão interagindo? Como será
a relação com os stakeholders? Como os clientes se sentirão? Use
estas ou crie suas próprias perguntas de acordo com o que achar
pertinente. Uma vez que as pessoas chegarem a um consenso,
Resuma em uma frase a essência do quê vocês buscam e deixe essa
frase visível para que vocês recorrentemente lembrem de caminhar
na direção correta.
101
Capítulo 15 • Inspire confiança
Um reality show que eu gostava bastante de assistir era O Aprendiz.
Em termos de liderança esse reality tinha pouco para ensinar em
alguns casos e muito a ensinar em outros. O próprio estilo de
liderança do Roberto Justus e seus conselheiros acabavam dando
preferência a pessoas que pensavam somente em si, uma vez que
somente um deles sairia vencedor do programa. A sala de reunião
mais parecia um show de horrores (hoje eu percebo isso, mas na
época não.) Os participantes precisavam apontar os erros uns
dos outros na expectativa de não serem demitidos. Se fosse uma
empresa de verdade, ela teria o que a gente chama de cultura
tóxica. De qualquer maneira o programa cumpria seu propósito,
que era entreter os espectadores.
Em especial gostei muito da quinta temporada. Ela teve um dos
participantes mais marcantes de todas as temporadas, o Henrique.
No quarto episódio dessa temporada o objetivo da tarefa era
vender 500 kits com um coco, um furador e um canudo. Henrique
era líder da equipe Masters. Já tinha se passado algum tempo
desde o início do desafio, e sua equipe ainda não tinha conseguido
vender nenhum kit. Henrique ficou incomodado com as desculpas
dos liderados por não terem vendido nada, e ele se viu obrigado a
negociar os cocos por conta própria. Resultado: Na cena seguinte
ele consegue fazer a primeira venda de 50 kits.
Henrique era bastante polêmico, tinha um ego inflado e era bas-
tante incisivo com os outros participantes, mas o que não dá para
negar é que ele inspirava confiança quando se tratava de obter
resultados.
Outro líder, esse na vida real, que inspira bastante confiança é o
Elon Musk. A Tesla, uma de suas empresas, em 2020 reportou
lucro anual pela primeira vez desde que foi criada. Mesmo tendo
sido uma empresa deficitária por muitos anos e tendo lucro muito
abaixo dos lucros bilionários de outras montadoras de veículos,
na data que escrevo este livro a Tesla é a que tem maior valor de
102
mercado.
Recentemente Elon Musk passou a mencionar Bitcoin em sua bio
no Twitter, e pouco depois a criptomoeda teve uma valorização
de 13%. Ele sabe o quanto é influente nas redes, e pode ter usado
essa tática para valorizar o investimento de 1,5 bilhão de dólares
que fez através da Tesla. Até o fim de Fevereiro o investimento
teve uma rentabilidade estimada em 1 bilhão de dólares. Quando
alguém inspira confiança, suas palavras movem outras pessoas.
103
confiança em uma situação e não inspirar confiança em outra.
Talvez a sua equipe te acompanhe se você puxar a iniciativa
de uma melhoria. Mas essas mesmas pessoas não te seguiriam
se você repentinamente fosse promovido a CTO e desse novos
direcionamentos para a área. É importante ter isso em mente
para que você não se frustre pelas pessoas não confiarem em você
em um dado contexto. O importante é você inspirar confiança em
contextos pequenos e aumentar com o passar do tempo. Quanto
maior o seu círculo de influência, maior a probabilidade de você
ser promovido.
Um ponto crucial para você inspirar mais confiança é prestar
a atenção na forma como você fala. Quanto mais as suas falas
tiverem inflexão de pergunta, menos assertivas elas soarão e menos
confiante você parecerá. Quando as frases que você fala terminam
com uma tonalidade mais aguda, parece que você está fazendo
uma pergunta, e você parece menos confiante. Por outro lado,
quando suas frases terminam com uma tonalidade mais grave,
parece que você está fazendo uma afirmação, e você soará mais
confiante. Para você notar a diferença, fale, em voz alta, as
seguintes frases:
1. O projeto precisa ser entregue até Março.
2. O projeto precisa ser entregue até Março?
Na segunda frase o final é mais agudo, certo? Essa é a técnica
natural da nossa linguagem para sinalizar uma pergunta. É
fundamental que quando você quer se mostrar mais seguro, então
as suas afirmações precisam ter tonalidade de afirmações. Sabe
aquelas pessoas que falam de um jeito que você não sabe se foi
uma pergunta ou uma afirmação? É exatamente disso que você
precisa fugir.
104
desenvolvedor júnior, eu falava de forma mais confiante em relação
a alguns assuntos, e essa foi uma das principais ferramentas que
me levaram a ser mais ouvido pelas pessoas.
Eu não ficava em cima do muro nas minhas falas. Isso não significa
que eu não falava besteira. Sempre falei e sempre vou continuar
falando, mas não de propósito é claro. Eu tento restringir as
minhas falas à assuntos que tenho mais conhecimento, mas ainda
assim estou propenso a erros. Mudar e melhorar é um sinal de
que a gente está evoluindo.
Se você já fosse o líder da sua equipe, como você se expressaria?
Essa é uma boa forma de você chegar à conclusão de como deve se
expressar. Mesmo se você tiver medo, a sua voz precisa sinalizar
confiança. Você pode deixar claro para as pessoas que não tem
certeza, mas que o caminho que está sugerindo parece o mais
adequado, então você acha que vale seguir em frente mesmo
havendo chances de dar errado.
105
Seja destemido
Trabalhei em um projeto onde o serviço de exportação dos dados
dos clientes era muito lento. Essas exportações eram importantes
para os clientes porque nosso dashboard não permitia que todas
as suas informações fossem cruzadas, então era comum os clientes
preferirem a liberdade do Excel para fazer esse trabalho.
Essas exportações costumavam levar muitos minutos para ficarem
prontas, e como tínhamos um grande volume de clientes que
rodavam essa rotina diariamente, frequentemente tínhamos prob-
lema de exportações engargaladas. Isso era um problema há anos,
e várias tentativas de otimizações do algoritmo foram feitas. Con-
forme a empresa crescia, a gente levava cada vez mais tempo para
exportar, sem contar o crescente consumo de memória e CPU.
Várias pessoas brilhantes tentaram otimizar as consultas que eram
feitas no banco de dados, mas não obtiveram bons resultados. A
exportação se tornou um problema tão mítico que ninguém queria
mais tocar nele. Tentar alterar alguma coisa tinha se tornado
quase uma garantia para o fracasso.
A gente tinha dois grandes problemas na exportação. O primeiro
deles era fazer todas as consultas necessárias para exportar os
dados. Eram tantas consultas que em clientes grandes só esse
processo poderia levar meia hora ou mais. O segundo grande
problema era fazer o cruzamento desses dados na aplicação. Pelo
grande volume de dados o consumo de memória ficava alto, e o
consumo de CPU também. O tamanha do cliente era uma variável
tão importante que chegamos a separar a exportação deles em
um processo separado para não interferir nos clientes pequenos.
Um dia tive a ideia de fazer todas as consultas de uma só vez
em vez de fazer um monte de “pequenas” consultas. A minha
ideia era que o banco de dados se sairia melhor que nós para
cruzar os dados. Quando dei essa sugestão recebi uma respostas
praticamente ensaiada: “A gente já tentou de tudo aqui e nada
funcionou.”
106
Nessa mesma época aconteceu aquela migração que contei no
Capítulo 7 que me colocou em contato com o Kubernetes. Parte
dessa migração envolvia esse serviço de exportação. Como esse
era o cliente com maior volume de dados, acabei tendo uma ótima
oportunidade de testar a minha abordagem para a exportação.
Quanto executei aquilo que tinha pensado, o resultado foi uma
exportação não só mais rápida (~1 a 2 minutos para esse cliente)
como também tinha menor consumo de memória e CPU. A ideia
tinha dado certo!
Não sabendo que era impossível, foi lá e fez.
— Jean Cocteau
Depois de algumas semanas rodando um projeto piloto, fizemos a
migração completa das exportações para o novo formato. Esse se
tornou um caso de sucesso para nossa área tanto em termos de
melhoria na percepção dos clientes como em termos de economia
de recursos (reduzimos o consumo de memória e CPU em mais
de 90%.)
O aprendizado que tive nessa época foi o quanto não podemos ter
medo de correr atrás de soluções. Quando você se tornar Tech
Lead, essa vai ser a sua obrigação, mas enquanto não chega lá
você tem todos as desculpas que quiser para não desbravar um
problema para resolvê-lo. Ainda não é sua obrigação fazer uma
coisa dessas, mas certamente pode ter um impacto muito grande
na percepção das pessoas em relação ao trabalho que você faz,
sem contar que você vai se mostrar mais preparado para assumir
um papel de líder.
Sempre existe uma maneira de resolver os problemas, você só
precisa descobrir qual. Quando tiver a sensação de que o problema
é impossível de ser resolvido, se faça a seguinte pergunta: “Se
a empresa contratasse um engenheiro do Google, ele seria capaz
de resolver esse problema?” Se a resposta for sim, então existe
uma maneira por mais que você ainda não saiba como. O fato
de você ainda não ser formalmente líder te dá mais tranquilidade
107
de buscar uma solução. Não tem problema de você ficar meses
trabalhando nessa melhoria (desde que não atrapalhe suas outras
entregas.) Os resultados que você obtiver aqui serão úteis não só
para a percepção das pessoas em relação a você, como também te
tornarão mais experiente e servirão de case para você apresentar
em futuras entrevistas. Seja destemido.
Exercício
Existe algum problema “impossível” de ser resolvido na sua equipe
ou na sua empresa? Se sim, dedique-se a resolvê-lo. Correr
para cima do problema é uma das melhores formas de você ser
reconhecido pelas pessoas.
108
Capítulo 16 • Mares calmos não fazem bons
marinheiros
Trabalhei como gestor em uma equipe que já vinha com dificul-
dades de fazer entregas há vários meses. Fazíamos retrospectivas
frequentemente para tentar solucionar esse problema. Nada pare-
cia funcionar efetivamente. Cada entrega demorava para sair, e o
volume de entregas também era baixo.
De repente a pressão para mudar o cenário aumentou radicalmente.
De uma Sprint para a outra eu fui praticamente intimado a resolver
esse problema. Se o cenário não tivesse um indicativo de melhora,
certamente eu seria punido de alguma forma. Foi a situação onde
mais estive pressionado na minha carreira. Quando você é líder
e sofre pressão do seu líder, não tem muito para onde correr. É
um jogo solitário. As únicas pessoas com quem talvez você possa
contar são seus liderados.
Eu perguntei à equipe se todo mundo era capaz de entregar duas
tarefas de cinco pontos em uma semana. Todos concordaram que
seria tranquilo. Como a equipe tinha cinco devs, então uma conta
simples mostrava que a equipe, em tese, era capaz de entregar
cem pontos em duas semanas. Nosso record até então era de
quarenta pontos em duas semanas.
Colocamos na parede: 100 pontos na Sprint. Se tornou a nossa
meta. Pensamos em tudo que nos atrapalhava em nosso dia-a-dia,
incluindo o Slack. Precisávamos manter o foco, saber como cada
pessoa poderia melhor contribuir em cada momento, e trabalhar
bastante em equipe. O combinado que fiz com meu líder era que
se o time não entregasse pelo menos quarenta pontos na primeira
semana, alguma coisa precisaria ser mudada. Não importa o
quanto a gente já tivesse mudado até então, se não alcançássemos
os quarenta pontos eu precisava entrega um plano de mudanças.
Isso me assustou por dois motivos. Primeiro porque eu estava
puxando todas as alavancas saudáveis que eu conhecia. Eu não
queria e nem podia pedir que as pessoas trabalhassem mais horas,
109
por exemplo. Segundo porque eu tive zero suporte do meu líder,
então não dava nem para contar que ele me ajudaria a pensar em
caminhos alternativos.
Ao final da primeira semana a equipe conseguiu entregar 44 pontos,
sendo que a última tarefa saiu no final da sexta-feira. Ao fim do
Sprint entregamos 89 pontos. Não alcançamos os cem pontos,
mas fomos capazes de mais que dobrar nosso melhor resultado.
Pouco tempo depois, dentre todas as equipes da empresa, a nossa
era a que tinha entregas mais regulares e em maior volume. A
pressão que sofremos acabou nos forçando a aprender a trabalhar
de uma forma muito melhor que as outras equipes. Mesmo tendo
uma equipe bastante júnior (em com paração com o restante da
empresa,) nossos números estavam entre os melhores.
110
para que você realmente pense duas vezes se você quer ou não ser
líder. Se quiser, então precisa estar disposto a sofrer uma pressão
que nunca sofreu antes. Sofrer pressão é um indicativo de que
você está crescendo.
111
Comece devagar
Você pode começar a se habituar com pressão ainda como um dev
da equipe. Se sua equipe precisa fazer uma entrega importante,
você pode se comprometer em fazer as coisas acontecerem. Seja
criando uma estratégia ou mantendo as pessoas motivadas, você
já vai sentir o que significa ser responsável por fazer algo acontecer.
Você precisa sentir que existe algo a perder, ainda que seja parte
da sua credibilidade por não fazer uma entrega. Por pior que
possa parecer, o medo da dor move mais as pessoas do que o a
expectativa por vitória, então se você não tiver nada a perder,
também não terá nada a ganhar. Não seja café com leite.
Com o passar do tempo você pode pegar projetos na equipe que
estão fora do contexto de produto (mas que sejam relevantes) ou
até projetos fora da equipe. Conforme você se sentir confortável
em pequenos contextos, aumente o nível de complexidade e pressão
que você está inserido. Mas tome cuidado para não passar muito
do ponto. O objetivo é se habituar aos poucos, e não sofrer
psicologicamente.
112
mares mais revoltos. Depois de passar um tempo por lá, não tem
problema voltar para o litoral e curtir um descanso. Mas tenha
em mente que ficar no litoral por muito tempo vai te tornar uma
pessoa fraca.
Homens fortes criam tempos fáceis, e tempos fáceis
geram homens fracos; mas homens fracos criam tem-
pos difíceis, e tempos difíceis geram homens fortes.
— Provérbio oriental
113
importante sem ter o preparo adequado também pode ser um
erro.
Busque se arriscar, mas nunca correndo o risco de atingir a ruína.
Se você ganhar, pior ainda. Você vai se sentir mais confiante e
apostar em ruínas ainda maiores, até o dia que você vai colocar
tudo a perder. Existe um preço máximo que se deve pagar pelo
risco. Entenda qual é o seu e não se deixe passar de lá.
Exercício
Defina qual o próximo movimento que você pode fazer para se
desafiar sem se expor ao risco da ruína. Uma vez que estiver
executando, tenha em mente que a dificuldade é um indicativo de
que você está crescendo.
114
Capítulo 17 • Seja aliado do Product Man-
ager
No começo da minha carreira eu trabalhei em uma empresa onde
a mesma pessoa fazia o papel de Product Owner e ScrumMaster.
Eu achei isso estranho e fui pesquisar sobre o que a comunidade
achava disso. Encontrei diversas justificativas para evitar essa
dualidade, mas a que me chamou mais a atenção dizia que esses
papéis se contrabalanceavam. Enquanto o Product Owner tinha o
interesse em cobrar mais da equipe, o ScrumMaster tinha interesse
em proteger a equipe.
Hoje em dia não é mais tão comum encontrar equipes que tenham
ScrumMasters, mas eu continuo vendo uma tensão semelhante
existindo entre o Product Manager (PM) e o Tech Lead. De
um lado o PM tenta extrair o máximo do time em termos de
entregas. Quanto mais funcionalidades sair, melhor. Do outro
lado o Tech Lead está preocupado em qualidade e escalabilidade.
Quanto maior a cobertura de testes e mais escalável for a aplicação,
melhor.
A gente tende a acreditar que o mundo gira em torno de nós.
A não ser que nós ativamente lutemos contra essa tendência,
queremos que as coisas aconteçam do nosso jeito. Primeiro quero
minhas necessidades atendidas, depois eu posso pensar no outro.
A prova disso é a frequência com que pessoas de diferentes equipes
ou departamento se desentendem e soltam frases como “Eles são
<inserir adjetivo ruim>” ou “Eles sempre fazem <inserir atitude
ruim>”.
A partir disso surge a síndrome do pequeno poder. Segundo
o Wikipedia, a síndrome do pequeno poder é uma atitude de
autoritarismo por parte de um indivíduo que, ao receber um poder,
usa de forma absoluta e imperativa sem se preocupar com as
consequências e problemas periféricos que possa vir a ocasionar. É
o porteiro que mesmo te conhecendo há anos barra a sua entrada
no prédio porque você não está com a chave para abrir o portão.
115
A pessoa coloca uma seriedade desproporcional ao trabalho que
ela faz. Se o meu trabalho é ser o guardião da qualidade do código,
então vou brigar até as últimas consequências para garantir isso.
116
tem chance de dar certo se todos os procedimentos forem segui-
dos. Se seguir procedimentos fossem o suficiente, as equipes de
desenvolvimento e operações nunca teriam problemas entre si, e
tampouco surgiria o tempo DevOps.
117
Não é que cada um deva defender o seu lado, mas sim que cada
um deve entender os diferentes lados para se tomar a melhor
decisão. O conhecimento do próprio trabalho funciona não para
se tornar um guardião dele, e sim para levantar possíveis riscos
para a definição do melhor caminho a ser tomado. Não se trata
de você ganhar ou perder. Se trata da equipe/empresa ganhar
ou perder. Se a discussão vira uma batalha de argumentos, todo
mundo perde.
118
é que enquanto os incentivos não mudarem, os comportamentos
das pessoas também não irão mudar.
Se você trabalha em um local assim, então buscar colaborar talvez
não tenha o resultado esperado em termos de reconhecimento
pelas pessoas. É fundamental que você entenda seu contexto para
evitar ir contra a forma como as coisas funcionam. Quando sugiro
que você busque colaborar, me refiro especialmente a empresas
mais modernas. Se você está em um ambiente mais antiquado,
considere buscar uma empresa mais atualizada ou você pode
ficar para trás no mercado tanto em termos de comportamentos,
práticas e tecnologia.
119
trabalho será descartado de qualquer forma, então porque ter um
ter um trabalho adicional?
Na fase Expand o produto já demonstrou que tem uma boa tração
e que chegou o momento de escalá-lo. Como os experimentos
em muitos casos são rudimentares, essa fase será a divisora de
águas sobre a possibilidade ou não desse experimento escalar. Se
por algum motivo não for possível escalar, o produto morre por
aqui. Se for possível, o produto alcançará a próxima fase: Extract.
No momento em que escrevo esse livro, a rede social Clubhouse
passa por essa fase. O hype cresceu muito rápido e também caiu
muito rápido, e até agora a empresa não conseguiu mostrar que
é capaz de escalar este produto (por enquanto ainda não existe
o aplicativo para Android, por exemplo.) Outras redes sociais
já estão trabalhando em funcionalidades semelhantes e podem
superar o Clubhouse muito por conta da sua atual incapacidade
de crescer em velocidade suficiente para se manter no mercado.
Na fase Extract o produto já mostrou fit com o mercado e cresceu o
suficiente para atender à demanda. Nesta fase a empresa começa a
pensar em como lucrar. Alguns ganham dinheiro vendendo espaço
para publicidade, outros ganham dinheiro com mensalidade. O
modelo de negócios pode variar bastante. Uma vez que o produto
está consolidado, quaisquer mudanças que tirem o produto do
ar passam a ter um custo muito alto. Testes automatizados se
encaixam muito bem nesse contexto. Primeiro porque os testes
vão te dar uma garantia maior de qualidade, e segundo porque os
testes vão permitir que alterações sejam feitas com confiança de
que nada irá quebrar, o que estimula mudanças frequentes.
120
uma melhoria precisa ser realizada. Se você está do lado dele o
tempo todo, então tudo que sugerir será visto como uma forma
de melhorar o próprio produto.
Não importa o quão boa tecnicamente sua equipe é, se o produto
que está desenvolvendo não trouxer resultados para a empresa,
entenda isso como um problema seu também. O Product Manager
costuma ser visto como uma espécie de líder da equipe, então
ter um bom relacionamento com ele pode ajudar bastante no seu
crescimento. É mais provável que seu líder avalie melhor os devs
que têm bom relacionamento com o PM do que os que não têm.
Exercício
Marque uma conversa com o Product Manager da sua equipe
para entender o que mais o incomoda e se comprometa a ajudá-lo.
Tenha essa conversa frequentemente, pelo menos uma vez a cada
duas semanas.
121
Capítulo 18 • Faça o que a empresa valoriza
Em uma época da minha vida eu participei de diversos processo
seletivos em empresas bastante promissoras. Em uma delas o
processo foi bastante técnico do início até o fim. Durante uma
das entrevistas o gestor comentou que os devs júniores e plenos
tendiam a querer correr com as entregas, e a consequência era um
código difícil de manter. O que ele esperava dos desenvolvedores
mais sêniores era justamente o oposto. Eles deveriam prestar mais
a atenção na qualidade do que era feito para evitar problemas
futuros. Essa seria uma forma inclusive de engajar uma mudança
de mentalidade nos devs mais iniciantes.
Eu acabei indo trabalhar em outra empresa, mas essa coisa de
desenvolver com mais cuidado acabou ficando na minha cabeça.
Eu concordava totalmente com essa visão. Na nova empresa eu
levantei bastante a bandeira de qualidade. Fazia questão não
só de pautar o meu trabalho nisso como também de influenciar
outras pessoas para que trilhassem o mesmo caminho. Apesar
dos devs mostrarem interesse em aprender mais sobre testes
automatizados, a empresa não via lá tanto valor nisso. Eu nunca
fui punido, mas também nunca cresci nessa empresa. Eu tinha
escolhido a bandeira errada.
Essa empresa tinha foco muito maior em fazer entregas do que
ter uma alta qualidade. Não importa o quão bem eu fizesse meu
trabalhando ensinando as pessoas a testarem suas aplicações, eu
nunca teria o reconhecimento da empresa. Nessa época eu era
dogmático, isto é, eu acreditava que o certo era o certo e o restante
era errado. E na minha cabeça, o certo era investir em qualidade.
Eu estava enganado.
122
limpa, Programação funcional, TDD, microsserviços etc. Não que
esses assuntos não sejam relevantes, mas levá-los a ferro e fogo é
problemático.
Quando trabalhamos em uma empresa, acabamos nos influen-
ciando por esses conceitos e imaginando que eles são aplicáveis em
qualquer contexto. Se a empresa não usa microsserviços, então
eu preciso enfiar goela abaixo essa forma de criar aplicações para
que passemos a fazer do jeito certo. Se ninguém pratica TDD,
então pior ainda!
Lembro quando o David Heinemeier Hansson (também conhecido
como DHH) fez uma postagem no seu blog intitulada TDD is
dead! Long live testing. Os devs ficaram horrorizados com essa
visão. Como o DHH tem coragem de dizer que TDD está morto?
Essa era uma das verdades mais absolutas até então. Ir contra
algo tão sagrado era visto como uma heresia.
Não importa quais as verdade absolutas você segue hoje, se elas
não se encaixam na sua empresa, tentar forçar ou vai te manter
estagnado, ou vai degradar a visão que as pessoas têm de você.
Ainda que você ganhe a admiração dos devs, isso não garante
que você será bem visto pelos seus líderes. Se você for realmente
capaz de mostrar que aquela prática traz valor, então evangelizar
as pessoas com essas boas práticas pode fazer sentido. Mas tome
cuidado para não viver dando murro em ponta de faca.
Seja pragmático
Em algum aspecto você deve concordar com a cultura da empresa.
Se agarre a esse aspecto e cresça a partir daí. Se a sua empresa
valoriza performance, por exemplo, então faz sentido você se
especializar o máximo possível nesse tema.
Pense que seu seu objetivo é resolver problemas, e ser purista
tende a te afastar disso. Você não só pode como deve ter suas
preferências pessoais, mas elas não podem ditar a forma como
você vai trabalhar caso elas venham a atrapalhar a empresa.
123
Lembre que seu objetivo, como qualquer outro funcionário, é gerar
valor para a empresa e para os clientes. Tudo que você for fazer
precisa estar alinhado com isso. Evite fazer as coisas só porque
você acha o mais correto. Sempre que você trabalha em algo que
não tenha potencial de gerar valor para a empresa, você está se
tornando menos produtivo.
124
Quando a empresa exige muito das pessoas
Eu trabalhei em uma empresa que infelizmente foi à falência.
Praticamente todas as pessoas foram demitidas. Enquanto todo
mundo juntava suas coisas, um colega ainda estava mexendo no
computador. Perguntei o que ele estava fazendo, e ele contou que
precisava finalizar um trabalho senão a empresa teria problemas.
Ele também tinha sido demitido.
Ambientes com um nível muito alto de cobrança acabam con-
tribuindo para o surgimento de workaholics, isto é, pessoas vici-
adas em trabalho. Existem alguns setores da economia que são
mais famosos por isso. Não vou mencionar aqui, mas você já deve
ter uma boa noção de quais setores são esses.
Ambientes assim acabam premiando pessoas que trabalham muito
além do combinado. Essa é a cultura da empresa, então dificil-
mente as pessoas serão promovidas se não demonstrarem esse
comportamento, mesmo que elas entreguem um bom resultado.
Ser um exemplo para os colegas é importante para reforçar a cul-
tura da empresa, e isso também se torna um critério de avaliação.
Você deve chegar à própria conclusão se está disposto a seguir esse
caminho. Você analisa o fato da empresa julgar isso importante,
e julga se está de acordo com isso. Você pode até tentar mudar
as coisas, mas a probabilidade de causar um impacto positivo não
está a seu favor.
125
uma empresa que faz vista grossa quando pessoas agem assim,
considere isso como uma bandeira vermelha e saia o quanto antes.
Mesmo que você não se envolva com nada, saiba que você terá
muita dificuldade de crescer fazendo um trabalho correto, e se a
empresa se envolver em um escândalo, outras empresas vão ficar
receosas em te contratar.
Exercício
O que a sua empresa mais valoriza hoje? Entregar bons resultados?
Ajudar as pessoas? Puxar iniciativas? Escolha algo que ela
valoriza e também que você se sinta confortável em fazer. Em
seguida coloque a mão na massa.
126
Capítulo 19 • Lidere mesmo sem autoridade
Eu sou de uma época que não se falava de liderança em tecnologia.
Os devs basicamente tinham um backlog de tarefas para fazer, e
diariamente algumas dessas tarefas eram finalizadas. Um gerente
dava o prazo e os devs deveriam cumprir.
O bem estar das pessoas não era tão importante. Ninguém se
preocupava com você a não ser, talvez, os seus colegas. Qualidade
não tinha a menor importância. Eu lembro que tive que pedir
permissão ao meu gerente para que nós pudéssemos começar a
fazer testes automatizados. Não deu muito certo.
Na época eu era dev júnior, mas várias coisas me incomodavam.
Por ser estudioso eu tinha contato com muitas coisas diferentes,
e queria poder aplicar aquilo no trabalho. Quando acabei de
entrar na empresa eu tive um pouco de dificuldade de emplacar
algumas mudanças. As pessoas que estavam lá, mais experientes,
não confiavam tanto no que eu falava. Com o tempo essas pessoas
foram saindo e outras entrando. Eu percebi que umas pessoas
eram mais cabeça dura do que outras. Quando as pessoas mais
cabeça dura saíram, as coisas começaram a acontecer. De repente
o que eu falava começou a ser ouvido e as melhorias ganharam
vida.
Eu não sabia o que era liderar. Só me via como alguém que queria
melhorar as coisas. Esse estilo me acompanha até hoje. Quando
vejo algo errado eu já quero corrigir. Com o tempo aprendi que
algumas mudanças valem mais do que outras.
Você não começa a liderar quando sua empresa te coloca em
um cargo de líder. Você começa a liderar quando traz para si
a responsabilidade de mudar uma realidade, por menor que ela
seja.
127
Não existe fracasso, e sim resultado
Lembro quando percebi que a minha equipe tinha devs que faziam
as tarefas bem rápido, e outros eram muito mais lentos. A gente
tinha um grande gap de conhecimento. Decidi organizar uma
espécie de mob programming. Coloquei todos os devs na sala de
reunião para que pudéssemos resolver um bug juntos, assim os
mais lentos teriam a oportunidade de ver como os mais rápidos
pensavam na hora de fazer uma tarefa.
No fim das contas não deu muito certo. Tínhamos uma hora para
fazer isso, mas passamos cinquenta minutos só configurando o
projeto na máquina. Eu acabei abandonando a ideia. Olhando
para trás eu vejo que essa iniciativa tinha tudo para dar certo.
Como líder eu achei que tinha fracassado, mas na verdade o
fracasso não foi o evento, e sim eu ter parado cedo demais.
Isso acontece com frequência. A gente pega uma iniciativa, executa
e falha. Em seguida atribui a isso o termo fracasso. Na prática não
se trata de um fracasso, e sim de um mero resultado. Resultado
é um fato. Fracasso é o seu julgamento sobre esse fato. É
importante diferenciar esses dois termos por conta da forma como
normalmente os interpretamos. Fracasso tem uma conotação
de algo definitivo, isto é, nada pode ser feito para reverter o
resultado com o tempo. Por outro lado resultado é só mais um
marco. O resultado pode sim ser importante, mas ele continua
sendo um intermediário. Você pode continuar trabalhando para
que o próximo resultado seja melhor.
Por que essa história de fracasso e resultado é tão importante
para quem quer se tornar líder? Porque seu objetivo de se tornar
líder estará permeado de resultados. Muitos positivos e muitos
negativos. Enquanto você encarar essas entregas somente como
um resultado intermediário no caminho da liderança, você terá
uma tendência maior em continuar. Se qualquer um deles te fizer
parar, aí sim você pode dizer que fracassou. Sempre tenha um
objetivo de prazo mais longo, caso contrário existe uma grande
128
chance de você desistir no meio do caminho por ter tropeçado em
um pequeno obstáculo.
129
desejável, em algum momento elas vão ficar com vergonha de não
te seguirem. Torne fácil para as pessoas se juntarem a você.
O começo é duro
Eu sei que no começo engajar as pessoas não é nada fácil. A
minha sugestão é que você faça o oposto disso. Busque liderar
suas próprias iniciativas. Conforme você tiver bons resultados, as
pessoas vão querer te seguir. Todo mundo quer estar próximo de
quem faz coisas legais.
Faça algo que é relevante, e com o tempo as pessoas tendem a te
seguir. O começo é solitário mesmo. A autoridade acompanha
seus resultados, não o oposto. Apenas comece.
Exercício
Existe algo que você sabe que pode fazer mas não colocou em
prática por medo das pessoas não te seguirem? Se sim, comece
sozinho. Ao longo do tempo conte para seus colegas os resultados
que vem tendo, e em algum momento um deles deve começar a
te seguir.
130
Parte 3 • Relacionamentos
Se quiser ir rápido, vá sozinho. Se quiser ir longe, vá
acompanhado.
— Provérbio africano
Ao longo da minha vida sempre fui uma pessoa introvertida. Eu
fazia questão de não depender de ninguém para nada. Ia ao
cinema sozinho. Estudava sozinho para as provas. Guardava
minhas mágoas para mim quando estava chateado.
Com o tempo percebi o quanto o ser humano depende da vida
em sociedade. É plenamente possível alcançar um monte de
coisas legais trabalhando sozinho, mas é muito mais fácil quando
você pode contar com a ajuda de diferentes pessoas. Isso vale
tanto para o trabalho do dia-a-dia quanto para seu crescimento
profissional.
À primeira vista parece injusto depender de outras pessoas, mas
seja lá como você julgue, é um fato com o qual você precisa saber
lidar. É importante que você tenha um bom relacionamento com
as pessoas à sua volta se quiser chegar longe na carreira.
Não importa o quanto você se enxergue como um super-herói, em
algum momento você precisará de outras pessoas para alcançar
seus objetivos. Isso é importante para todos, especialmente se
você busca crescer na carreira além de sênior.
Em empresas não existe trabalho que um líder faça e que não
dependa de outras pessoas, então os relacionamento são parte
fundamental do trabalho. Quando seus líderes cogitarem o seu
crescimento para o papel de liderança, certamente vão avaliar o
quanto seu relacionamento com seus colegas é bom. Se você não
faz nada além de abaixar a cabeça e escrever código, suas chances
de ser promovido para líder são praticamente nulas.
Felizmente você está lendo este livro e agora saberá o que pode
fazer para melhorar nesse quesito. Não importa o quanto você é
131
tímido ou introvertido, sempre existirá uma forma de você evoluir
seja lá onde você quiser. A pessoa mais carismática com quem
trabalhei era introvertida e tímida (muito mais que eu.) Mesmo
com essas características ela foi capaz de ser reconhecida e criar
ótimos relacionamentos. Se essa pessoa conseguiu, você também
consegue. Mas as coisas não acontecem por um acaso, então
arregace as mangas e faça o que for necessário para se desenvolver.
É no desconforto que você evolui.
132
Capítulo 20 • Pense ganha-ganha
Nós vivemos em uma sociedade muito competitiva. As empresas
disputam clientes a tapa. Existem menos vagas do que as pessoas
querendo ser promovidas. Para um ganhar o outro necessaria-
mente precisa perder. Certo? Não exatamente.
Mesmo não sendo bilionários, eu e você vivemos com mais conforto
hoje do que Luis XIV, o Rei Sol, em 1600. Pessoas comuns no
século XXI vivem melhor do que um rei no século XVII. Essa é a
prova de como a sociedade evoluiu de lá para cá. As condições
não melhoraram só para os mais ricos, e sim para todos.
A vida em sociedade não é um jogo de soma zero. Se fosse, desde
o século XVII até hoje uma parte da sociedade teria melhorado de
vida enquanto outras teriam piorado. A evolução tecnológica, a
evolução da medicina, a evolução nas condições de trabalho, tudo
culminou em nos trazer melhores condições de vida. Se melhorou
para todos, então na verdade esse é um jogo de soma positiva,
isto é, todos podem simultaneamente ganhar.
Sempre quando olhamos para o futuro distante, existem compor-
tamentos que nos levam de forma mais segura em uma direção
onde nós vamos ganhar, e curiosamente o caminho está em aju-
dar os outros a ganharem junto conosco. Olhando as interações
do dia-a-dia talvez isso não faça sentido, mas olhando em um
horizonte longo você será capaz de chegar a essa conclusão.
133
Na relação ganha-ganha, nós fazemos questão de garantir que os
dois lados ganhem ao mesmo tempo. Um caso típico é quando
fazemos questão de estar alinhados com nosso líder. Ele ganha por
ter alguém na equipe que trabalha pelo que foi alinhado, assim
aumentando as chances da equipe alcançar melhores resultados,
e o liderado ganha por mostrar ser um profissional engajado e
confiável para receber futuras promoções.
A relação ganha-perde é aquele onde para você ganhar, a outra
pessoa necessariamente tem que perder. Um caso típico são as
competições em geral, especialmente quando há confronto direto
entre os adversários. Em um jogo de futebol, por exemplo, tão
importante quanto marcar gols é impedir que a outra equipe
também marque. Apesar de em alguns casos o ambiente de
trabalho parecer assim, essa não é uma boa forma de encará-lo.
Mais à frente explico o porquê.
A relação perde-ganha também é aquela onde um lado ganha e
o outro perde, mas o lado perdedor é o seu. Um caso típico é
quando você é obrigado a pagar caro por um produto ou serviço
porque não há concorrência. Em alguns aeroportos, por exemplo,
taxistas cobram mais caro pelas corridas porque os motoristas
por aplicativo são impedidos de parar lá.
A relação perde-perde é aquela onde ambos os lados saem perdendo.
Ela é mais comum do que você imagina. Quando um colega fala
mal de outros colegas, por exemplo, é um caso de relação perde-
perde. Quem fala mal perde por tentar intoxicar outros colegas, e
quem é mal falado perde por ser maldosamente exposto.
A relação ganha é caracterizada pela pessoa buscar ganhar in-
dependente das consequências para o outro lado. Se você é um
negociador e usa essa fórmula, dificilmente as pessoas vão querer
continuar negociando contigo no futuro. Uma vez que a pessoa
perceber que você não está nem aí para se ela vai ser beneficiada,
ela não vai mais confiar em você.
134
Sobre sua relação com a empresa
Como funcionário, você tem um relacionamento com sua empresa.
Cabe a você definir qual tipo de relação quer nutrir com ela.
Ela definirá quais barreiras você vai precisar criar para manter
a relação sustentável. Vou focar nas relações ganha-perde e
perde-ganha por elas serem bastante comuns e não percebermos
claramente os males que elas trazem.
A relação ganha-perde, onde você ganha e a empresa perde, te
coloca em uma posição de ganância. Desde que você ganhe,
tanto fazer se a empresa perde ou ganha. Um caso prático desse
comportamento é quando uma iniciativa de outra equipe se mostra
mais importante para os resultados da empresa, mas você faz
questão de brigar para que sua iniciativa seja priorizada. Fazendo
isso você está indo contra o que é melhor para a empresa, o que
não é nada bom. Sempre tenha os interesses da empresa em
mente e busque trabalhar para que eles sejam atendidos, mesmo
que eventualmente eles não sejam benéficos para você no curto
prazo. Pense que você está em um jogo de longo prazo, então é
importante jogar de forma a beneficiar a empresa também.
A relação perde-ganha, onde você perde e a empresa ganha, te
coloca em uma posição de mártir. É aquela pessoa que faz de
tudo para entregar bons resultados pela empresa, mas nunca é
beneficiado por isso. Um exemplo é a pessoa que trabalha nos fins
de semana mas nunca recebe recompensa em folga. Essa relação
é péssima porque ninguém consegue se manter nesse contexto
indefinidamente. Ainda que você consiga, existe uma boa chance
de você sair psicologicamente afetado. Ansiedade, depressão,
síndrome do impostor e burnout são algumas possibilidades.
Consideração vs Coragem
É fácil dizer que é importante nutrir uma relação ganha-ganha,
mas nem sempre é tão simples assim levar isso à risca. Às vezes nos
deparamos com situações onde não temos coragem ou consideração
135
suficiente para buscar essa resolução.
Se você está com pressa de fazer uma entrega e pede ajuda para
uma pessoa de outra equipe, talvez você não tenha a preocupação
de saber o quanto as entregas dela vão ser afetadas. Nesse caso
faltou consideração pela pessoa. Para chegar a uma relação ganha-
ganha, necessariamente você precisa ter uma alta consideração
pelo próximo.
Se seu líder pede para você trabalhar no fim de semana e depois
você ficou com medo de pedir folga, é nítido que faltou coragem
para você buscar uma compensação. Para chegar a uma relação
de ganha-ganha, necessariamente você precisa ter coragem de
cobrar o que for necessário.
Não subestime estes dois atributos. Consideração e coragem vão
fazer toda a diferença na sua busca por relações mais saudáveis.
Cuide do outro e de si mesmo.
136
uma relação indireta entre os resultados que você produz e o
surgimento de novas vagas e oportunidades na empresa.
Pensando somente no cenário atual, as pessoas na empresa vivem
em um jogo de ganha-perde. para uma pessoa ser promovida,
outra pessoa deixa de ser promovida. Pensando no cenário futuro,
se os resultados da empresa forem cada vez melhores, então todos
entram no jogo de ganha-ganha.
Quanto mais a longo prazo você pensa, menos importa ter con-
correntes. Pensar somente no curto prazo acaba te levando a
ter atitudes que podem comprometer seu futuro. Talvez faça
sentido, por exemplo, brigar com a equipe de infra porque eles
não querem deployar a sua aplicação na sexta-feira. Brigar por
conta de um fato isolado como esse pode acabar minando suas
relações. Relações essas que são fundamentais para a geração de
valor no longo prazo e crescimento de ambos.
137
vaga. Essa é uma situação bem chata. Mas o que você talvez
não perceba é que essa disputa te tornou um profissional melhor.
Agora suas chances em uma nova oportunidade cresceram. Se
surgir uma oportunidade amanhã, você estará mais preparado.
Se você pensa ganha-ganha, não vai enxergar esse evento como
uma vitória do seu colega e uma derrota sua. Você vai enxergar
como um crescimento dele e um possível futuro crescimento para
você. A questão é como usar esse evento como alavanca em vez
de encarar como uma porta que se fechou
Se você pensa ganha-ganha, então já deve ter criado um bom
relacionamento com essa pessoa que foi promovida. Isso vai ajudar
bastante desse ponto em diante. Lembre que essa pessoa terá
uma certa influência em futuras promoções e indicações, então se
você já tinha um bom relacionamento com ela, é provável que ela
levante seu nome em novas oportunidades. Por outro lado se você
a enxergar como ganhadora e você como perdedor, então você
tenderá a não querer colaborar, e tudo pode virar motivo de você
querer ir contra ela. Seu lado emocional vai agir negativamente
contra você. Quanto mais você agir negativamente, menos chances
você terá de crescer. Se o relacionamento com a pessoa ficar ruim,
suas chances de crescer ficam ainda mais reduzidas.
Daí você pensa: “Mas eu posso pedir demissão e começar em
outra empresa!” Você até pode, mas essa talvez não seja a melhor
saída. Quando você começa em uma nova empresa, vai precisar
ganhar a confiança das pessoas a partir do zero. Enquanto isso os
funcionários mais antigos já vêm acumulando essa confiança há
bastante tempo. Sem contar que se você for mudar de empresa
sempre que se sentir frustrado, então pode vir a se mudar com uma
alta frequência, o que não vai ser nada legal para o seu currículo.
Aprender a enxergar a vitória dos outros como ganha-ganha pode
te ajudar a evitar tudo isso.
Não existe relação ganha-ganha 100% do tempo, mas no longo
prazo qualquer relação precisa ser majoritariamente ganha-ganha.
Às vezes você vai precisar trabalhar mais horas para entregar
138
um projeto importante, e em outro momento a empresa pode
compensar te dando alguns dias de folga, ou talvez te enviando
para um congresso. Como em qualquer relacionamento, uma hora
um cede, e outra hora o outro cedo. Desde que um lado não perca
consistentemente, a relação tende a ser saudável no longo prazo.
Exercício
Como você descreveria seu relacionamento com essas pessoas?
• Seus colegas de equipe.
• Seu líder.
• Sua empresa.
139
É uma relação ganha-ganha? ganha-perde? perde-ganha? perde-
perde? ganha? O que você precisa fazer para transformar essas
relações em ganha-ganha? Não se esqueça de ter consideração
pelas pessoas buscando o que é bom para elas, e também de ter
coragem para buscar o que é bom para si mesmo.
140
Capítulo 21 • Abrace o mensageiro
Nem só de boas notícias vivem os devs. É comum alguém chegar
à nós reclamando de algo que não está funcionando. Isso acontece
especialmente quando criamos aplicações para uso interno. O
problema é que nem sempre somos tão receptivos com essas
pessoas.
Eu comecei minha carreira trabalhando em uma empresa muito
departamentalizada. Lá eu fazia gestão das demandas de melhoria
dos nossos sistemas. Desde a coleta de requisitos até a entrada em
produção, essas demandas levavam meses para serem entregues.
O tempo de entrega era tão grande que quaisquer mudanças eram
mal vistas, porque elas faziam esse tempo aumentar ainda mais.
Qual era a nossa solução para reduzir o pedido de mudanças?
Obrigávamos os clientes internos a preencherem uma documen-
tação de mudança. Era algo tão chato que as pessoas acabavam
evitando esse trabalho.
Há também aqueles casos mais críticos onde quando alguém chega
fazendo uma queixa, essa pessoa ainda leva uma bronca por ter
feito aquilo. Já aconteceu comigo de eu ter feito alguma besteira,
e quando me reportei à pessoa responsável ela ficou brava. Não
seja essa pessoa.
141
falar contigo novamente. Como consequência a sua relação com
aquela pessoa não vai ser das melhores.
Como líder, já é esperado que você seja receptivo com as pessoas.
O quanto antes você demonstrar que é capaz de agir assim, mais
cedo será considerado para uma posição de liderança. Não esqueça
do Capítulo 3: Tenha postura de líder.
142
manutenção, sendo todas as fases sequenciais. Quanto mais tarde
chegavam pedidos de alteração, mais caro isso custava.
Mas se existe uma constante em desenvolvimento de software,
essa constante é a mudança. Em Fevereiro de 2001 foi lançado
o manifesto para desenvolvimento ágil de software, e o quarto
princípio trata justamente deste ponto. Ele diz: “Mudanças nos
requisitos são bem-vindas, mesmo tardiamente no desenvolvimento.
(. . . )” Não que seguir um plano não tenha valor, porém é mais
interessante conseguir se adaptar a mudanças.
Preste a atenção em como você e sua equipe andam desenvolvendo
seus projetos. Não é porque vocês fazem Sprints semanais que isso
significa que vocês são ágeis. Em essência, busque colocar algo
funcionando na mão do cliente o mais frequente possível, daí sim
você pode ter feedback e melhorar seu produto. Se você faz isso
com uma boa frequência, então sempre haverá espaço para que
mudanças surjam, até porque você já está desenvolvendo sabendo
que elas virão. Quando a pessoa faz um pedido e sua equipe já
sabe absorver essa melhoria e implementar rápido, ela vai estar
muito mais disposta a ajudar vocês.
Exercício
Na próxima vez que alguém te reportar um problema, ouça o que
a pessoa tem a dizer e agradeça por ela ter reportado. Tratar bem
as pessoas mesmo quando a notícia é ruim é um passo importante
para quem quer assumir um papel de liderança.
143
Capítulo 22 • Não crie inimigos à toa
Em algum momento da sua carreira você vai trabalhar com alguém
que você não gosta. Eu diria até que as chances são grandes de
você encontrar pelo menos uma pessoa que você não gosta em
cada empresa que for trabalhar.
Talvez a pessoa seja chata, passiva-agressiva, cínica, sarcástica,
invejosa, intransigente ou tenha qualquer outra característica que
te leve a não gostar dela. Não importa muito o que acontece, mas
dá aquela vontade de falar umas “verdades” e colocar a pessoa
no lugar dela.
144
Evite a pessoa
Essa é uma estratégia simples, intuitiva e que funciona. Se você
precisa da ajuda da equipe de marketing, por exemplo, mas sabe
que existe uma boa chance do líder te irritar, então talvez seja
melhor pedir ajuda para outra pessoa da equipe.
Se por um lado você deve buscar ser menos irritável, por outro
deve buscar se expor menos a pessoas que te irritam. Se for
uma pessoa na sua equipe, aí o buraco é mais embaixo. Em
tese você pode até evitar uma pessoa da equipe, mas isso pode
afetar severamente o desempenho de vocês. Ter uma relação
puramente profissional normalmente não é o suficiente em uma
equipe, a menos que a equipe seja grande e você naturalmente
tenha pouco contato com a pessoa. Para que uma equipe atinga
a alta performance, necessariamente os membros precisam confiar
uns nos outros, e eu não vejo como pode você pode confiar em
uma pessoa que você evita.
Se a pessoa que te irrita está na sua equipe e você percebe
que vocês vão ter problemas, então você pode cogitar mudar
de equipe. Você pode falar para seu líder que você e a pessoa
têm temperamentos diferentes e acredita que isso pode causar
problemas para a equipe, e que prefere trabalhar em outro time.
Dependendo do nível de conflito entre você e a pessoa, seu líder
já deve ter percebido que vocês não trabalham bem juntos. É
melhor você pedir uma transferência do que brigar com a pessoa
e afetar entregas da equipe.
145
poder de te atrapalhar. Eu nunca vi ninguém se beneficiar de ter
um inimigo. Esse é a típica relação perde-perde, onde um tenta
sabotar o outro sempre que possível, e, em contrapartida, quem
sofre com isso é a empresa. Não se esqueça de que vocês fazem
parte de algo maior, então é fundamental que você pense nas
consequências que suas atitudes podem causar à companhia.
146
Se por um lado você pode ter a ajuda de uma pessoa que você
não gosta, por outro você também pode ajudar. Várias vezes
fiz indicações de pessoas que eu não gostava muito. Eu soube
entender a diferença entre nossa relação e a capacidade profissional
delas. Talvez eu não fizesse a indicação se fosse para trabalhar
diretamente comigo, mas se for para trabalhar em outra equipe
e ajudar a empresa a entregar os objetivos, então a indicação é
bem vinda. Além de ajudar a empresa, essa é uma atitude que
ajuda a apaziguar a relação entre vocês. Lembre do gatilho da
reciprocidade.
Exercício
Você trabalha com alguém que te irrita? Essa pessoa afeta os
resultados que você entrega? Se sim, converse com ela sobre isso
para definirem uma forma de interação que funcione para ambos.
Quando for falar com ela, não a acuse de ser irritante ou algo
do tipo. Traga a responsabilidade para si e diga que tal compor-
tamento te deixa irritado. É você que se sente irritado, e não a
pessoa que te irrita. É fundamental entender a diferença entre
esses dois pontos de vista e deixar claro para a pessoa que é um
problema seu, e não dela. Isso a levará a agir de forma mais
empática e a estar mais disposta a te ajudar.
147
Capítulo 23 • Ouça
Muitas pessoas estão passando por alguma situação nesse mo-
mento das vidas delas, seja pessoal ou profissional, mas não têm
ninguém com quem se sintam à vontade de compartilhar. Talvez
estejam com uma dificuldade de relacionamento, com medo de
tomar uma decisão, frustradas por não se verem reconhecidas,
com raiva pela empresa ter tomado uma decisão que afetou seu
dia-a-dia etc.
São muitos os possíveis motivos que levam as pessoas à necessitar
serem ouvidas. Em muitos casos não se trata nem de uma coisa
específica, e sim de um acúmulo de pequenas coisas. O ser humano
costuma não ser muito bom lidando com sentimentos, então um
comportamento comum é tentar simplesmente ignorar várias coisas
que no fundo ainda incomodam.
Ouvir é uma prática tão importante que a principal atividade que
um gestor deve desempenhar, perante seus liderados, é fazer one-
on-ones frequentes. One-one-ones são conversas onde o gestor está
lá para ouvir os liderados, entender se existe algum desconforto
deles em relação à alguma coisa, seja pessoal ou profissional, e,
dentro do possível, ajudar o liderado a contornar esses problemas.
Sim, a principal ferramenta do gestor é ouvir.
Ouvir é um diferencial
Eu não tenho muitas lembranças de colegas de trabalho que eram
bons ouvintes. Essa é uma habilidade que raras pessoas desen-
volvem. É um terreno que poucas pessoas estarão lá para competir
contigo. Se você praticar com frequência, pode rapidamente criar
esse diferencial na sua carreira.
O curioso é que em muitos casos a necessidade das pessoa está
em simplesmente serem ouvidas. Você não precisa dar opiniões,
sugestões nem dicas. Você só precisa ouvir mesmo. As pessoas
gostam de falar, expressar suas opiniões. A gente tem a impressão
148
de que o que sabemos é importante e precisa ser espalhado para o
mundo, então por que não falar? Isso acaba acontecendo também
nas nossas conversas do dia-a-dia. Quando um colega dá uma
opinião, a nossa tendência é querer dar a nossa opinião também,
quando poderíamos simplesmente pedir para a pessoa falar mais
sobre o que ela pensa. Repare em como seus colegas interagem
quando têm uma conversa normal no dia-a-dia.
Ouvir é uma forma de ajudar seus colegas a se desintoxicarem
de algumas emoções e a se conhecerem melhor. Você não precisa
ser gestor para isso, basta usar algumas técnicas que vou citar
mais adiante. Como consequência você vai nutrir melhores rela-
cionamentos, será visto como uma pessoa mais confiável e poderá
ajudar indiretamente na melhoria de performance da pessoa e da
equipe.
Não julge
Talvez o principal motivo pelo qual as pessoas costumam não
expor os problemas pelos quais elas passam se dá pelo medo de
julgamento. O ser humano baseia muito do seu comportamento
de acordo com o que outras pessoas podem pensar dele.
Agora que você sabe que esse sentimento existe, a sua missão é
não julgar aquilo que a pessoa fala. O não-julgamento começa
na sua forma de pensar. Quando você estiver ouvindo, não deve
pensar se a pessoa está certa ou errada. É justamente isso que a
pessoa teme. Encare o que ela fala como simples fatos, isto é, não
são positivos nem negativos. Julgamento é exatamente a criação
de significado para um fato.
Expressões faciais também podem denotar que você está fazendo
um julgamento. Expressões de espanto, nojo e desaprovação são
algumas formas do seu corpo mostrar como você está interpre-
tando os fatos, isto é, julgando o que a pessoa está trazendo.
Alguns são mais sutis, como negar com a cabeça enquanto a
pessoa fala. Fazendo isso você mostra desaprovação, o que pode
149
levá-la e não querer continuar se abrindo contigo.
As palavras também podem trazer uma grande carga de julga-
mento se você usá-las de forma errada. Após a pessoa ter te
contado algo, você pode reagir com “por que você fez isso?” ou
você pode responder com “como você estava se sentindo quando
fez isso?” A primeira reação aparenta trazer uma carga de julga-
mento. Essa é uma consequência da palavra porquê. Existe uma
boa possibilidade da pessoa querer se justificar, exatamente o que
ela não gostaria de precisar fazer para começo de conversa.
A segunda reação mostra que você tem interesse em entender
mais sobre o que aconteceu, não o porquê. Isso não só abre espaço
para a pessoa trazer mais fatos, como também a ajuda a entender
melhor o que se passava com ela mesma. Autoconhecimento
costuma ser uma grande fonte de insights sobre como a pessoa se
enxerga e como ela pode lidar melhor com seus problemas.
Não interrompa
Se você é como a maioria das pessoas, enquanto a outra pessoa
fala, provavelmente você fica pensando no que vai responder. Esse
é um sinal de que você ainda precisa praticar a escuta ativa. A
interrupção é um caso mais claro de que você estava pensando
no que responder. Você não só não esperou a pessoa terminar,
como ativamente cortou o que ela estava falando só para você se
expressar.
Em uma conversa normal do dia-a-dia isso é até esperado (apesar
de um pouco mal educado.) Mas em uma conversa mais profunda
o recomendado é que você faça justamente o oposto. Interrupções
são inconscientemente encaradas como uma falta de vontade sua
de ouvir o que a pessoa tem a dizer. E se você não se preocupa
com o que ela tem a dizer, então porque ela se abriria com você?
As pessoas gostam de serem ouvidas, então garanta que você irá
ouví-las até a última palavra.
Voltando do almoço sentei com um colega de equipe e começamos
150
a conversar sobre os negócios da empresa. Nessa época eu estava
começando a praticar escuta ativa, então eu fazia questão de
nunca interromper as pessoas. Eu sempre olhando nos olhos dele
enquanto nós conversávamos, e em um momento ele falou uma
frase que parecia ter parado bem no meio, mas eu não tinha certeza.
Ficamos em um silêncio ensurdecedor, e eu calado olhando nos
olhos dele. Depois de mais de dez segundos ele continuou de onde
tinha parado. Eu poderia ter interrompido, mas fiz questão de
esperar pacientemente. E é exatamente isso que você deve fazer
daqui em diante.
A natureza nos deu duas orelhas e uma só boca para
nos advertir de que se impõe mais ouvir do que falar.
— Zenão de Cítio
Não dê conselhos
Normalmente as pessoas acham que o valor da conversa está
naquilo que elas falam. Se a pessoa vem falar contigo, é porque
ela deve querer seus conselhos, certo? Na maioria das vezes eu
diria que não.
Quando alguém te chama para conversar, no fundo o que ela
precisa é de um patinho de borracha. Tá bom, não exatamente um
patinho, mas também não alguém que vai ficar dando conselhos.
Existem basicamente dois problemas ao dar conselhos. O primeiro
é que quando você dá um conselho, provavelmente você está
tentando resolver o problema errado. Não que a pessoa tenha
mentido, mas na maioria das vezes o que a pessoa fala não é
de fato o problema raiz. Mas você vai ficar sedento em dar o
conselho porque tem a resposta perfeita na ponta da língua. Essa
ansiedade vai evitar que você cave um pouco mais fundo para
entender o que está por trás do que a pessoa fala. Se você entrar
na conversa já decidido de que não dará conselhos, então pelo
menos esse problema você já vai evitar.
O segundo é que mesmo que você identifique a causa raiz, o
151
seu conselho vai ser medíocre. Você não tem todos os fatos em
mãos. Seu perfil de tolerância a risco é diferente da pessoa. Suas
experiências de vida são diferentes da pessoa. Suas habilidades
são diferentes da pessoa. Com tanta coisa diferente, o que te faz
acreditar que seu conselho é perfeitamente aplicável a ela.
Uma situação que você deve ser cuidadoso ao dar conselhos é
quando você quer motivar uma pessoa a mudar algo. O ser
humano fica muito mais propenso a executar aquilo com o que
ele mesmo se comprometeu do que aquilo que ele ouviu de outra
pessoa. Aqui o indicado é que você ajude a pessoa a chegar a um
próximo passo por conta própria em vez de seguir aquilo que você
falou.
Faça perguntas
Se é bom evitar conselhos, então a ferramenta que te resta para
interagir com a pessoa são as perguntas. Por incrível que pareça,
as perguntas têm um potencial maior de causarem um impacto
positivo na pessoa do que quaisquer afirmações que você venha
a fazer. Isso acontece por um motivo muito simples: Perguntas
ajudam a pessoa a se conhecerem melhor. Ela vai entender melhor
o que a leva agir de certa forma. Ela vai entender os medos que
tem. Ela vai entender melhor as alternativas que existem. Ela vai
entender melhor o problema que tem em mãos. Nunca subestime
o poder das perguntas.
Pessoas adoram falar sobre elas mesmas, então tire proveito disso
e faça perguntas para que elas possam se sentir bem em ter
alguém as ouvindo. Um fato curioso que eu reparei ao longo das
minhas práticas é que se você fizer um bom trabalho de engajar
a pessoa com perguntas, em algum momento da conversa ela vai
querer saber mais sobre você também. Mas cuidado para que
sua conversa não vire um interrogatório. Dê preferência a fazer
perguntas abertas, isto é, aquelas que não podem ser respondidas
só com um sim ou não.
152
A melhor forma de fazer boas perguntas é se importando de
verdade com a pessoa. Você precisa sair do automático de dizer
“tudo bem?” e esperar que a pessoa responda afirmativamente.
Se a pessoa responder “estou ótimo!” então se você realmente se
importa com ela, provavelmente vai querer saber o que aconteceu
para ela dizer que está ótima. Não estou dizendo que você tem
que ser o chato que quer saber tudo sobre a vida da pessoa, mas
sim que você pode usar essa forma de pensar para fazer perguntas
que as engajem mais.
153
tudo, e agora vai ter a chance de entender melhor. No terceiro
caso porque você vai ter uma nova chance de entender o que a
pessoa disse e evitar um grande mal entendido.
Exercício
Em sua próxima conversa, busque fazer pelo menos cinco per-
guntas antes de cada afirmação. Isso vai te forçar a entender
exatamente o que passa pela cabeça da pessoa, e consequente-
mente vai te tornar um melhor ouvinte.
No começo pode ser difícil, mas se mantenha firme porque quando
as coisas começarem a funcionar, você não vai mais conseguir se
imaginar agindo como no passado.
154
Capítulo 24 • Nutra relacionamentos
Em uma área com tantos profissionais introvertidos, é funda-
mental que a gente converse sobre como nutrir relacionamentos.
Acabamos não dando muito valor para eles, e trabalhamos de
empresa em empresa conhecendo pessoas novas e esquecendo as
antigas.
Nutrir relacionamentos é um trabalho ativo e permanente. Se ele
já é útil fora do ambiente de trabalho, é ainda mais útil dentro dele.
Lembre que são pessoas que tomam a decisão de você receber ou
não um aumento. São pessoas que decidem se você é promovido
ou não. São pessoas que te convidam ou te rejeitam em um novo
projeto. Se essas relações ficam desnutridas, as suas chances de
crescimento podem diminuir drasticamente.
Não importa se você é introvertido ou extrovertido, a natureza
humana é implacável. Quando se trata de relacionamentos, a
sociedade invariavelmente vai dar preferência àqueles que se rela-
cionam bem. Não se trata de você ser a pessoa mais popular
do seu círculo social, e sim de fazer o mínimo e lembrar que as
pessoas existem, lembrá-las que você se importa com elas e que
está à disposição.
155
pessoa que foi trabalhar lá, não seria nada estranho se ela te
indicasse à vaga.
Outra possibilidade é que essa pessoa decida criar um negócio
próprio, e por ter um bom relacionamento contigo ela pode querer
te convidar para empreender junto dela. Oportunidades ocultas
podem surgir única e exclusivamente por conta dos seus relaciona-
mentos.
156
No ambiente de trabalho você pode frequentemente conhecer
pessoas diferentes. Podem ser pessoas de outras equipes ou até
de outras áreas. Se a sua empresa tiver fóruns para assuntos que
abranjam várias equipes, como um encontro de Front-ends, por
exemplo, então essa é uma boa oportunidade de conhecer pessoas.
Desse ponto em diante basta manter o contato.
Mantenha contato
Relacionamentos nascem, crescem e morrem se você deixar. Sabe
aquela pessoa massa que você conheceu em um evento mas que
nunca mais teve contato? Provavelmente o relacionamento entre
vocês faleceu.
O curioso é que para manter relacionamentos não é necessário
muito mais que mandar uma mensagem para a pessoa perguntando
como ela está, o que anda fazendo e se você pode ajudar com
alguma coisa. Hoje em dia não existe mais justificativa para
você não manter contato. Você pode enviar uma mensagem no
LinkedIn ou no Instagram, por exemplo. Se você quiser dar um
passo além, pode marcar uma conversa por vídeo.
Talvez você pense que está sendo chato com ela, mas a realidade
é que dificilmente você será visto dessa forma. Pessoas gostam de
serem lembradas. Elas se sentem especiais de alguma forma. Você
poderia estar assistindo à alguma série do Netflix, mas lembrou
da pessoa e parou por alguns minutos para dar atenção à ela. Isso
soa quase como um elogio.
Tome cuidado para não criar a expectativa de que todo mundo vai
te responder. Algumas pessoas podem ler suas mensagens e ignorá-
las. Ser rejeitado faz parte do jogo da vida, então simplesmente
siga em frente. A pessoa está perdendo uma oportunidade de
voltar a falar contigo. Talvez você lembre dela quando surgir algo
legal, mas por ela não ter te respondido você pode preferir não
tentar entrar em contato novamente. Não que eu recomende isso,
mas é compreensível se você seguir essa linha.
157
Pessoas que são muito assediadas (no bom sentido) podem estar
menos dispostas a te responderem. Mas isso não significa que
você não pode tentar entrar em contato com elas. O pior que
pode acontecer é você ser ignorado, mas isso já vinha acontecendo
mesmo antes de você mandar a mensagem, então na prática o
pior cenário é nada mudar.
Crie conexões
Se por um lado é bom criar novos relacionamentos, por outro é
melhor ainda quando você conecta as pessoas. Se você conhece
uma pessoa que pode ajudar a resolver o problema de outra, então
não pense duas vezes antes de conectá-las.
Para fazer isso você precisa basicamente de duas coisas. A primeira
é ter uma ampla rede de conexões. Quanto mais pessoas você
conhecer, mais possibilidades terá de conectá-las. A segunda é que
você precisa saber quais problemas elas enfrentam no momento.
Talvez um conhecido precisa de um Front-end freelancer confiável
para um projeto e você conhece a pessoa perfeita para indicar,
mas se você não sabe dessa necessidade, não vai fazer nada. E
uma forma de descobrir isso é justamente entrando em contato
com essas pessoas periodicamente.
Sempre se mantenha aberto a pessoas que venham falar contigo.
Isso aumentará ainda mais as chances de você encontrar conexões
que façam sentido para elas. Se você não responder ou for grosseiro
em algum momento, existem boas chances da pessoa te ignorar
dali em diante.
158
Se você esperar precisar das pessoas para pedir a ajuda delas,
provavelmente terá sérias dificuldade em ser ajudado. Dificilmente
alguém vai fazer questão de te ajudar sendo que vocês não se
falam há anos. Lembre do gatilho da reciprocidade: As pessoas se
sentem inclinadas a te ajudarem se você as tiver ajudado antes.
Tudo começa por você. Não espere que as pessoas venham falar
primeiro contigo. O mundo não gira em torno de você. Seja
humilde, entre em contato com elas e busque ajudá-las no que for
possível.
Cuide para não esperar nada em contrapartida. Algumas pessoas
vão te sugar e ir embora. Esse é um problema delas, não seu.
No jogo das probabilidades existem boas chances de você sair
ganhando se ajudá-las.
Quando me refiro a ajudar, não estou me referindo necessaria-
mente a fazer algum trabalho para elas. Ajudar pode ser algo tão
simples quanto dar uma indicação de livro, conectá-la com outra
pessoa, oferecer uma oportunidade na sua empresa, e até parar
por alguns minutos para ouví-la. Pense que qualquer necessidade
que a pessoa tenha pode ser um potencial para você ajudá-la. Se
a pessoa disser que não quer a sua ajuda, não insista. O objetivo
é ser útil, e não chato.
Exercício
Quando foi a última vez que você entrou em contato com as
pessoas que trabalharam contigo em empresas anteriores. Entre
em contato com elas para saber como estão e o que vêm fazendo.
Se quiser dar um passo além, marque um encontro com todos os
membros de uma antiga equipe.
159
Capítulo 25 • Seja empático
Sempre que eu leio um bom livro, penso: “Todo mundo deveria
ler esse livro!” Esse pensamento é natural. Se o livro foi bom
para mim então deve ser bom para outras pessoas também. Isso
acontece porque projetamos nossas experiências, sentimentos e
vontades nas outras pessoas, e temos a ilusão de que elas vão se
comportar e gostar exatamente daquilo que gostamos.
Empatia não significa fazer com o outro o que gostaríamos que
fosse feito conosco. Empatia significa fazer com o outro aquilo que
ele gostaria que fosse feito. Essa diferença é sutil porém crucial.
Quando me tornei líder, minha primeira atitude foi conhecer cada
pessoa da equipe e entender onde elas gostariam de chegar. Esse
trabalho é importante para que eu saiba como posso ajudar cada
uma delas individualmente, evitando o problema de rivalidade
para crescimento dentro do próprio time.
Quando você se tornar líder, vai precisar agir de forma semelhante.
Mesmo que você não seja um gestor de pessoas, vai precisar saber
lidar com cada membro da equipe para extrair o máximo de cada
um. Assim você terá uma alavancagem muito maior para fazer
entregas.
160
vai se sentir frustrada e desistir de ser líder (talvez até mude de
empresa.)
Criar altas expectativas para pessoas menos experientes costuma
não ser uma boa receita. Você precisa entender que as pessoas
evoluem aos poucos, e que se elas cometerem um erro, então é
sua responsabilidade, como uma pessoa mais experiente, de guiá-
la para que ela não cometa o erro novamente. Quando alguém
comete um erro acidentalmente ou por falta de experiência, você
deve entender que ambas as causas são solucionáveis. A primeira
criando melhores processos, e a segunda ajudando a pessoa a se
desenvolver.
É ilusório achar que todo mundo vai ser tão experiente quanto você.
Uma das expectativas de profissionais mais sêniores é justamente
que sejam capazes de ajudar os menos experientes. Quanto mais
você for capaz de fazer isso, mais você demonstra que está apto a
assumir um papel de liderança. Lembre-se que liderança começa
nos pequenos atos, e não no cargo que a empresa por ventura
venha a te dar.
161
para aprender. Eu não sei se ele estava sendo pressionado a fazer
a entrega. Eu não sei nada a não ser o resultado do trabalho dele.
162
Exercício
Existe algum sistema ou trecho de código que um antigo desen-
volvedor criou e deixou de legado para você? Se sim, imagine que
ele era um programador totalmente sensato, em seguida pense em
5 motivos que levariam um programador sensato a ter deixado o
código do jeito que está hoje.
Isso te ajudará a criar empatia e parar de culpar a pessoa, além de
contribuir para dissipar o sentimento de raiva que normalmente
surge em uma situação assim.
163
Capítulo 26 • Gerencie seu líder
Se existe uma coisa que eu literalmente já cansei de ouvir foram
reclamações de chefes. E sim, eu também estive nesse barco
por muitos anos. Esse é provavelmente o assunto mais polêmico
quando se trata de gestão de carreira.
“As pessoas não pedem demissão da empresa, e sim de seus chefes.”
Essa frase é bem famosa e apesar de não ser 100% verdadeira,
existe uma grande carga de verdade nela. O ponto é que se
você quer levar a sério crescer na carreira, então invariavelmente
precisa aprender a lidar com seus líderes. Se existe uma certeza
em relação à sua carreira é que em algum momento você vai ter
um chefe que não gosta, então é importante saber como reagir
em relação a isso.
Mesmo quando você gostar do seu líder, não necessariamente
a atuação dele vai estar alinhada àquilo que você busca para
si. Você pode, por exemplo, estar buscando crescer, mas seu
líder não te diz exatamente o que você precisa fazer para dar um
próximo passo na carreira. Ou ainda você pode estar buscando
tranquilidade por um tempo, mas seu líder te cobra um prazo
atrás do outro.
164
para não se sentir frustrado quando ele der a palavra final em
relação a algum assunto. Em última instância é ele quem vai
responder pelos resultados.
Como líder eu tento evitar ao máximo exercer o poder que eu
naturalmente tenho dada a minha posição, e assim deveriam fazer
todos os líderes. Mas eu não posso assegurar que todos os líderes
vão fazer isso, por isso é importante que você saiba trabalhar com
chefes mais autoritários também. Não é para reclamar nem se
curvar, e sim aceitar o fato de que existe uma diferença hierárquica
a ser respeitada. Siga esse pensamento e as coisas fluirão de forma
mais suave.
165
ter um nível de maturidade maior do que a média. São poucos os
casos onde liderados estão dispostos a trabalharem em conjunto
com seus líderes, então isso pode te destacar da maioria.
Você pode trabalhar pelo sucesso do seu líder de diversas formas.
Correndo atrás de resolver problemas que antes dependiam dele.
Ajudar o time a tomar decisões que antes precisavam passar
por ele. Puxando o time para fazer as entregas que estavam
combinadas. Você só não deve assediar ninguém moralmente ou
pensar que é você quem manda agora. Todo esse movimento
precisa ser na camaradagem com seus colegas. Essa é uma boa
forma de você exercitar a influência sem ainda ter autoridade.
166
Uma vez que a decisão estiver tomada, cabe a você chegar ao
melhor resultado possível. Jogar contra é a pior decisão que
você pode tomar. Essa atitude pode minar toda a confiança que
seu líder tem em você, além de potencialmente atrapalhar os
resultados da sua equipe. Use o princípio Disagree & Commit.
Ele diz que não tem problema em discordar do caminho a ser
tomado, mas uma vez que os próximos passos forem definidos,
todos precisam remar na mesma direção.
Mantenha-o atualizado
Para que você cresça na empresa, seu líder precisa saber de tudo
que você tem feito. Isso é importante demais para que você
somente deixe na mão dele. Nada garante que seu líder está
vendo tudo que você está fazendo. E mesmo que ele veja, nada
garante que ele anote ou lembre de tudo que aconteceu. Você não
pode deixar de crescer por conta de um possível desleixo dele.
Dito isso, busque mantê-lo atualizado de tudo que acontece. As
entregas que você faz, os desafios que contornou, as contribuições
com outras equipes, sua evolução em termos de conhecimento, os
experimentos que tem feito etc. Não só fale tudo, como também
deixe registrado de forma escrita. Algo tão simples quanto um
documento no Google Docs já deve ser o suficiente. Faça anotações
semanais, fale sobre elas nas reuniões de one-on-one e mande o
consolidado no final do mês.
Essas anotações vão ser úteis quando ele fizer sua avaliação de
desempenho. Vai ficar muito mais fácil justificar um aumento
salarial ou uma promoção. Nessas discussões de nivelamento que
acontecem durante a avaliação de desempenho, quanto mais dados
seu líder tiver para te defender, melhor. Se ele não fizer, faça você
mesmo. Não dê sorte ao azar.
167
Seja proativo
Invariavelmente você vai ter um líder que te dá zero direciona-
mento. De alguma forma você vai ter que fazer um trabalho sem
saber exatamente para onde ir. Nesse caso você pode puxar essa
responsabilidade e definir seu próprio rumo. A partir dos objetivos
da empresa, você pode pensar em como você especificamente pode
contribuir com eles. Uma vez definido, leve seu plano ao seu líder
e valide com ele se seu plano faz sentido e se pode executá-lo.
Esse alinhamento é importante para evitar surpresas. Não se-
ria nada legal se depois de alguns meses você descobrisse que
trabalhou em iniciativas que seu líder não concordava. Diversos
motivos podem levar seu líder a não te dar uma direção, mas
apesar desse ser um trabalho dele, a falta de direcionamento pode
afetar sua efetividade, então o problema que era dele passa a ser
seu também.
Como uma pessoa que busca assumir papel de liderança, é muito
importante que você consiga fazer seu próprio julgamento dos
problemas que precisam ser atacados para trazer melhores resul-
tados à empresa. Quanto antes você demonstrar isso, mais rápido
será considerado para um papel de liderança.
Ofereça ajuda
Se você perceber que seu líder tem dificuldade de executar o
próprio trabalho, não hesite em oferecer ajuda. Qualquer ajuda
que você der não só terá impacto nos resultados da empresa, como
também levará seu líder a confiar mais em você. Quanto mais
você for capaz de ajudar seu líder, mais preparado você está para
um dia assumir a posição dele, e mais confiante ele ficará de que
você é capaz de executar em um nível mais alto.
168
Garanta que as coisas aconteçam na ausência do seu
líder
Um medo que muitos líderes têm é de saírem de perto da equipe
e o andamento das tarefas ficar mais lento. Se você for capaz
de ajudar a manter o ritmo de entregas, então demonstrará que
é uma pessoa confiável e que tem capacidade de fazer as coisas
acontecerem. Se você consegue fazer o que seu líder faz, então
tem boas chances de ser considerado para essa posição no futuro.
169
equipe. Estou buscando crescer na carreira e pensei que essa era
uma boa forma de exercitar novas habilidades.” Ainda que ele
não saiba responder de bate-pronto, pelo menos vai considerar
te incluir em uma iniciativa dessa natureza assim que ela surgir.
Quanto mais específico você for, melhor. Deixar seu objetivo
claro também é importante. Se ele entender que você consegue
alcançar seu objetivo de outra forma, então ele te fará essa pro-
posta. Lembre que é ele quem te avalia, então se ele diz que é
melhor, provavelmente é melhor mesmo.
Exercício
Como você pode ajudar seu líder a alcançar melhores resultados?
Converse com ele para entender melhor quais os seus desafios
e ajude-o sempre que possível. Sempre que tiver resultados,
positivos ou negativos, compartilhe com ele. Quanto mais você
compartilhar, mais ele vai entender que você está levando seu
trabalho a sério.
170
Conclusão
Logo no começo da minha carreira participei de um evento que
fez minha cabeça explodir. Eu não imaginava que o ambiente de
trabalho poderia ser tão legal quanto as pessoas estavam pintando
ali. Era um evento sobre desenvolvimento Ágil. Tive meu primeiro
contato com algumas pessoas que viraram medalhões nessa área,
como o CFC e o Garrido, e a Samanta Cicilia, que já naquela
época era uma figurinha carimbada na comunidade de qualidade.
Participei de algumas dezenas de eventos nessa área. Eu fazia
questão de consumir todo conteúdo sobre agilidade que vinha
pela frente. Aprendi sobre gestão de produtos, sobre processos e
sobre pessoas. Eu gostava tanto de participar dos eventos e falar
sobre esse assunto com as pessoas que meu sonho passou a ser
trabalhar exclusivamente com isso. Eu amava tecnologia, mas
essa força era maior.
Meu sonho era me tornar um Agile Coach. Ajudar equipes a
se organizarem melhor para entregar resultados. Eu sabia sobre
Scrum, sobre Kanban, sobre eXtreme Programming, mas por
algum motivo ainda não me sentia preparado. Lembro que em uma
conversa com um antigo líder ele comentou que no passado uma
pessoa tinha pedido demissão para trabalhar em uma consultoria
muito famosa na área de Agilidade. Nesse momento eu fiquei
sonhando que poderia ser comigo.
O medo me impediu de dar qualquer passo no sentido de me
tornar um Agile Coach. Nunca me apliquei a uma vaga. Nunca
falei para ninguém, fora meus próprios colegas, que eu tinha
esse sonho. Eu continuava ali no dia-a-dia programando e não
executando nenhuma ação concreta que me fizesse alcançar meu
objetivo. Conclusão: Não fui Agile Coach nem sequer por um
dia.
Contraste isso com a história de um antigo colega de equipe. O
sonho dele era trabalhar fora do Brasil. Ele já não suportava mais
171
a qualidade de vida e salários daqui. Não via outro futuro para a
própria carreira que não fosse trabalhar no exterior. Ele tirou a
certificação de Inglês, se aplicou em diversos processos seletivos
mundo afora. Canadá, Portugal e Holanda são só alguns países
que me vieram em mente. Ainda no Brasil ele se mudou para
outras cidades com a expectativa de que se sentisse melhor, mas
sua cabeça ainda estava em trabalhar fora do Brasil.
Com cerca de dois anos nessa batalha, ele finalmente foi aprovado
em um processo seletivo na Europa e logo se mudou para lá. Na
última vez que conversei com ele, parecia estar bastante satisfeito
com a escolha e o que tinha alcançado. No fim ele conseguiu
chegar onde queria.
Por que ele conseguiu e eu não? Aliás, o que leva algumas pessoas
a alcançarem seus objetivos enquanto outras ficam pelo caminho?
Essa é uma questão que me intriga há muitos anos. Eu tive um
colega, por exemplo, que no período de um ano saiu do absoluto
zero em Inglês para criador de legendas de séries. Outras pessoas
passam anos a fio estudando e não chegam nem perto dessa
capacidade.
A conclusão que eu cheguei é que existem muitos aspectos que
influenciam, mas o principal deles e aquele no qual eu gostaria
de focar aqui é o quão obstinada a pessoa é em alcançar aquele
objetivo. A obstinação pode ou não ter origem na racionalidade.
Ela não depende de credo ou classe social.
Pessoas comuns têm um nível mediano de obstinação. Algumas
parecem que descobriram como ligá-la em nível máximo. Como
explicar, por exemplo, histórias de pessoas que foram de catadoras
de lixo à empresárias de sucesso? Ou como explicar pessoas que
tiveram todas as oportunidades na vida mas nunca alcançaram
nada? É claro que os resultados da pessoas não se baseiam
unicamente na obstinação. Duas pessoas igualmente obstinadas,
por exemplo, podem ter destinos muito diferentes de acordo com
os recursos que tiveram ao longo da vida.
172
Sabe meu antigo colega de equipe que foi trabalhar na Europa?
Ele era obstinado por isso, e fez o necessário para alcançar esse
objetivo. O rapaz que praticamente dominava Inglês com aprox-
imadamente um ano de estudo também era obstinado. Ele era
viciado em séries e esse foi o seu gatilho. Já no meu caso, eu não
parecia tão obstinado assim. Apesar de gostar muito da ideia de
ser um Agile Coach, minha obstinação não era grande o suficiente
para que eu me aplicasse a uma vaga arriscando tomar um não.
Não ter um alto nível de obstinação não significa que a pessoa
não possa alcançar seus objetivos, mas vai deixá-lo mais distante
do que ele poderia estar. Uma forma de se tornar mais obstinado
em relação ao seu objetivo é entender o porquê de alcançá-lo.
O curioso é esse porquê não precisa ser inspirador para outras
pessoas nem soar como a salvação da humanidade. A função
do porquê é te mover nos momentos onde qualquer outra pessoa
pararia, e só isso.
Te contei toda essa história para chegar aqui e te perguntar:
Por que você quer se tornar Tech Lead? É bem possível que
a primeira resposta que tenha vindo à sua cabeça seja algo do
tipo “Porque quero ajudar as pessoas” ou “Porque quero crescer
na carreira.” Nada contra essas respostas, mas elas parecem
superficiais. Quando você tiver que escolher entre ler um livro
sobre liderança e assistir a uma série no Netflix a sua resposta te
faria caminhar no sentido de ler o livro? Se não, então o porquê
ainda está muito superficial.
Se necessário, cave ainda mais fundo e descubra o porquê do
porquê. A tendência é que seu primeiro porquê não seja profundo o
suficiente, então continue cavando o quanto for necessário. Lembre
que você não precisa contar sobre o seu porquê para ninguém,
então não existe juízo de valor em relação a ele. Se ele é capaz de
te mover, então é o porquê correto.
Os direcionamentos que eu dei ao longo do livro não serão neces-
sariamente simples no dia-a-dia, e a ideia nem é essa. Mas se você
173
aplicar o que aprendeu, as chances de ter um futuro promissor na
sua carreira estão todas a seu favor. Agora vai lá e faz!
174
Referências
Se eu vi mais longe, foi por estar sobre ombros de
gigantes.
— Isaac Newton
Não posso terminar este livro de outra forma a não ser citando as
referências que me deram suporte. Recomendo a leitura de todas.
Livros
• Leading Without Authority: How the new power of
co-elevation can break down silos, transform teams, and
reinvent collaboration
• Leadership Strategy and Tactics: Field manual
• Os 7 Hábitos das Pessoas Altamente Eficazes: Lições
poderosas para a transformação pessoal
• Empatia Assertiva: Como ser um líder incisivo sem
perder a humanidade
• Secrets to Winning at Office Politics: How to achieve
your goals and increase your influence at work
• As 21 irrefutáveis leis da liderança
• Turn the Ship Around!: A true story of turning followers
into leaders
• As 4 Disciplinas da Execução: Garanta o foco nas metas
crucialmente importantes
• The Effective Manager
• Como Mensurar Qualquer Coisa. Encontrando o valor
do que é intangível
• Implementando o Desenvolvimento Lean de Soft-
ware: Do conceito ao dinheiro
• A velocidade da confiança: O elemento que faz toda a
diferença
• RISE: 3 practical steps for advancing your career, standing
out as a leader, and liking your life
• Sucesso no trabalho: Como os melhores gestores e fun-
175
cionários trabalham menos e rendem mais
• Como fazer amigos e influenciar pessoas
• Just Listen: Discover the secret to getting through to
absolutely anyone
• The Advice Trap: Be humble, stay curious & change the
way you lead forever
• The Feiner Points of Leadership: The 50 basic laws
that will make people want to perform better for you
Pela internet
• Brag documnent — Julia Evans
• Seniority: the role of flying hours and the personal
upgrade in a technology team’s evolution - Bernardo
Carneiro
• Is High Quality Software Worth the Cost? - Martin
Fowler
• Aprendendo a aprender: ferramentas mentais
poderosas para ajudá-lo a dominar assuntos difíceis
- Barbara Oakley
• O risco da ruína vale a pena? - Thiago Nigro
• 3x Explore, Expand, Extract - Kent Beck
• O fracasso não existe e eu posso provar - Geronimo
Theml
• 5 Key Teachings Of Stoicism For Living A Better
Life - Ryan Holiday
• 8 razões porque você não cumpre as suas metas -
Geronimo Theml
176