René Guénon - Introdução Ao Hinduísmo

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l&ené Guénon

lntroduction Gén(rra lc :i
I'lltudc cles I)octrincs I I incloucs
['aris l9 2l
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René Guénon

Introdução Geral
ao Estudo
das Doutrinas Hindus

Tradução de Luiz Pontual

Diretor do

lnstituto René Guénon


de Estudos Tradicionais
íníIitüto Sicnd 6udroI
tre @gtübos Qtrra!ícíonaig
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Reservados os direitos de publicaÇão
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para a língua portuguesa.
São Paulo.2009
Copyright : Abdel Wahid Yehyd
Ílütrcs
htqdwã§...'......."..5
Fâftef
Cousider+oes PrelimfuPrai.

Cápíüto I - OrienÍe e Ocidente-........'...-................'... l0


Cryíurlotr - Adivergàrcia..-.----*-.-."......-.....'14
CüUo Ut - o Precmceio clássico-...'...'.,.....'...'."'... 19
ceàítulolv - A§daç§scffiêocpiorrmaruige§-,'... ê
Caturto V - Qres[lbs de oonologia" - '. .. . 4
Ceftom vl - Dficuldades hngiiísticas ........'... -..'......., 37

PaÍtstr
Modos Crerais do Fensarnento &ientd
edüiloI - As graÍdes dü§õe§ do &iente............-42
@ÍilhI - kindpios de unidade das civiliza@...
OÍientai§........-,......,","..,.'.',...,,....,.,.',..-..'ê7
Câdlrom - O que é peoso arrender po'tradição?..52
Ca@rloW r Tradiçtu elelg4o,'..-.,.-,.'-..,............-..';57
C4{tulq v - CraeidsÉea§isseÍEiái§darçe §iia.68
CâpfríoVI - Relaões da metaffsica e da teologia....-77

&pínúoVII - Sinn]olisnro e amoporrodmo'.,...........83


cdrdoYIII - Peusrurgrto mefffieo e Pmeffio*.
fi1osó644,."-,."......,*----,--.-'.--..,---,:88
Caúlox - Boerisnp e exoüerisslo.''....'...'.,.,',",'..102
iChpíüloX - À r*atizaça uitm.f'{ea'.'..',-,.".,.'....'.... 10q
['lu1c III INTRODUCAO
As Dotrtrinas I linth"rs

Capítulo I Signilicação prr:cisa clir palavrlr "hindti'.1 l4


Capítulo Il A perptuidacle ó
Vet|a............. ............. | 19
Capítulo III - Ortodoxia e heten'doxia ....... .... .......... 123 Tnúmeras dificuldades se opõem, no Ocidente, a um
Capítulo IV - A proposito do budisrno................-...-..... I 27 I e.tudo sério e aprofundado das doutrinas orientais em

Capítulo V A Lei de M4nu......................................... 137 Igeral, e das doutrinas hindus em particulrr: os maiores

Capítulo VI - Princípio da instittli@o de castas.... .... .142 obstáculos a este respeito não sáo provavelmente aqueles que podem
Capítulo \rII - Shivaismo e Vishnúsmo....................... 148 proceder dos próprios Orientais. De fato, a primeira condição requerida
Capítulo \{Itr - Os pontos de vista da doutrina-.............152 para tal estudo, a mais essencial de todas, é, evidentemente, ter a
Capítulo D( ONyâya.. ..........158 necessiária mentalidade para compreender as doutrinâs de que se trata,
163 queremos dizer para compreendêJas verdadeira e profundamente; oÍa,
Capínilo X O Vaishêshika"............ ....... .................

Capítulo XI O Sanlúya............. . ....'. .'.....'...........'... 170 eis aí uma aptidão que, salvo raras exceções, carece totalmente aos
Capínrlo )il O Yoga................... ............. . ............... ".17 4 Ocidentais. Por outro lado, esta condição necessária poderia ser
CapíttÍoKtr - O N4infansa... ..........178 considerada ao mesmo tempo como suficiente, pois, quando é
preenchida, os Orientais não têm a menor repugnância em comunicar
Capínrlo )(Ir/ - O Vêdânta................. . . ..... ........... ......184

XV Obsewações compiementares sobte o ieu pensamento tão completamente como é possível fazê-1o.
Capítulo
conjunto da doutrina................... ........ I 89
() ensinamento trarlicional................. 92 Não havendo outro obstáculo real do que acabamos de
Capínrlo XM I
indicar, como ocolTe então que os "orientalistas", isto é, os Ocidentais
que se ocupam das coisas do Oriente, nunca o tenham superado? Não
poderíamos ser acusados de exagero ao af,rrmar que eles- nunca o
Pârte tV iup"au.u* de lato quando se constata que não puderam produzir mais
dique simples trabalhos de erudição, talvez apreciáveis sob um ponto
de vista especial, mas sem,nenhum interesse para a compreensão da
As tnterpretações Ocidentais menor idéia verdadeira. É que não basta conhecer uma língua
gramaticalmente, nem ser capaz de fazer um termo a termo correto'
Capítrlo I O orientalismo oficial. ..................'..195
fara penetrar o espírito dessa língua e assimilar o
pensamento daqueles
Capítuio tr A ciência das rrcligiões...... ...............19 queafalameaescrevem.
Capítulo III O Teosofismo...."... ....'. .....................205
Capítulo lV O Vêdânta ocidenalizado............... 212 Poder-se-ia mesmo ir mais longe e dizer que, quanto mais
Capítulo V - útimas observações...'......................216 uma tradução é escrttpulosamente literfuia, mais ela cone o risco de
......220
Conclusão ser. na realidade, inexata e de coromper o pensamento' visto que não
há equivalência verdadeira entre os teÍmos de duas línguas diferentes,
sobretudo quando essas línguas sáo bastante afastadas uma da outra,
'1

naturalmente tazer cstbrço para assimilá-lâ e para se colocar, tanto


t|,1" l,rrrl', lll,,l,,r'r, llrl, lll, ' lrr r r r '1, 'l' ' r r'lL'l' 'lr
r,'rti,|x,,!r . r1,,. 1'r,r,, ,llr, ,l llllll..lrrl , , , I rrllrrlr' ' l' rrr' rrltr rllrt quanto possível. do ponto de vista daqueles mcsmos que a conceberam.
ttr'rtlrlllrl,r r'lllrll\,ltI llllllr,r r rrr! r l'rlll,l lr' rr' lr'll Dissenros tanto quanto possível porque nern todos podem chega[ lá
igualmente. mns pelo menos todos podem tentálo; ora, bem longe
I |lr', r',,' |.ll.l l.l(, ,'llll,1 ( i'l ,1,, ,1rr, rttrr'r \.1 L rlllr,l tlt' disso. o exclusivismo dos orieütalistas de que falamos e seu espírito
ll(l(' \( il lrr.l(l( l rl( \ l,l,r ,olrlt tlrrr lrr*l' sistemático chegam até o ponto de levír-los. por uma incrível
l.\l()s". ( slcll(iL 'lt l rlltr'.
()ltltir f(,rslr (lo (lll( lll(l()(l()\ (tc I r' lttr t rl,r , lrtt' ttt" rlrr abenação, a se crer capazes de conlprecnder as dolltrinas orjenrris
I I I
' I' I IIIII I I I '

(ltl( o ('lllllllil(l() "llltilt)(l() llislolit{)". ill)llr il(lo il llrrl. lllrll IIIII IIIIt III( melhor do que os próprios Orientais: pretensão que só seria risível se
Sert tltivitllr. os tlir. iottlititrs c ils (j()llll)ililç't)( s l( lll ll;l llllll(llrlt rt'l,rlr\rr. nâo se aliasse a uma vontade bern detertninada de "monopolizar" de
(llrc rlii() sc tllllil (lc conlcstill. c Iliio sc llr)tle (li-lel (lll( lrxlrr r':'sL r"'lorçrr algum rrocio os estudos em questão. E. de tato. tbta desses
sc'jrr ti'ito cllt vato. sobrclLldo qtlitlldo sc l)cltsit r.ltte lttltttlr.s t;ttr' rr especialistas. há na Eutopa, para tratff desses a.'suntos. apenas cefta
lirrt:cccnr scritIll l'llilis colllLtlllen[e inaptos a prodLIZir oLltrit c()isll; lllil\ categoria de sonhaclores extravaganles e de âudaciosos charlatães que
irrlcliznrcnte. (lcsde que a eÍudiçào se torna ulra cspecialidadc. clit se pocleria considerar como LII.I.I grupo ncgJigenciável. não fosse a
tcndc ir scl tomaclít con.lo ltm fim elll si mesmo. no lugar de ser apellas ir.rÍluência deplorável que eles exclcem, sob cliversos aspectos, como o
un] sinlples instrulnel)to. como ela deve sê-lo noÍmalmente. exporemos de modo mais preciso opoftunamenle.

É esta inv:tsão da erudição e dr: seus mótodos pafiiculaÍes Para nos atermos aqui no que se refere aos orientalistas, os
que constitlri Llrn \rer.ladeiro perigo. jíl clue áurisca a absorver âqueles quais se pode denominar "oficiais", assinaliiremos ainda. a títxlo de
qLle seriam talvez capiizes de se cledicar a um outro gônelo de trirhalho observação preliminar, LIm dos abusos que perrlite freqiilentemente o
e quc o hhbito desses métodos estÍeita o horizonte intelectlral daqueles uso deste "método histórico" ao qual já fize;nos alllsão: é o erro que
qlle:r ele se subrreten, inlponclo-lhes uma clefonnação irrenledjável. consiste em estudar- as civilizações orientais como se f,u ia para
civilizações desapatecidas há muito tempo Neste último caso' é
Observc-se que ainda não disselnos tudo, e nem mesnlo evidente que se é forçado, na falta de algo urelhor. a se contentar com
focamos no larlo mais gr'âve da questão: na produção dos orientiilistas, feconstiluições aproximadas, sem nllnca estar seguro de uma perfeita
os tr:lbalhos de pura erudição são a paÍe mais embar:rçosa certamerte. concorclâ cia colll o que existiu realmente outrora, visto que não há
mas não a mais netasta; e. dizetrdo que não havia llada âlém disso, nenhum meio de proceder a verificações diretas. Mas esquece-se que
queríamos trzer entender nada alénl do que tivesse qualquer v.Ilor. as civilizações orientais, pelo menos aquelas que nos interessam
lrcsrno de um iLlcance restrilo. Alguls. na Alemilnha especialnl!-nlc. atualmente. perpetraram-se até nós senl il]terrupção. e que dispõeln
quiseram ir mais longe e. sempre pelos mesmos métod(rs (ltlc l)csse ainda cle replesentlntes lutorizados, cujo palecer va]e
clso naro podem ot-erecer lnais nada, Íazer obta (lc illlcll)relr\-ir'.,rr incomparavelnrente mais. por sLla compreellsão. que toclâ a eÍudição do
aplesentando por acréscimo todo o coll-iLlnto ilc itlÚilts l)r( ( ()rl( I Irirl;r\ mundo: todavia, para cogitar em const-tltá-los não se deYeria Panir
que constilLli sua ltriipria mentalidade e ctltll tt prttlirlrttisrll() rrrrrrrrl( \l() clesse esttanho prirc(rio cle que se sabe nrelhor do que eles ao se ater
dc encaixitr as concePções ctlttl;ls t;rtltis c'lcs sL tlt;'lttlttrr tt'r' 'lrrrrrltrrs sobre o verdacleiro senti.lo de suas próprias concepções Por outro
hrb ituais (lo pc'rtsalltcltlo ctlrot)cLl. laclo, ó preciso dizer também que os Orientais. tendo, e com toda rl1zão,
um bzrixíssimo conceito da intelectualidade européia. preocupam-se
lltll stttlllt. o erto c;tlrilltl rI r',r'' olr' rrl rlr '1,r" rlrrlslil() (lc muito pouco com o que os C)cidentais. de um modo geral, podem
tttr'lrrlrr |ltt'lt. ti rle ltl(l() cllcilllll ,L "rI r'rr lrorrll rl' r r l.r or ttlr'rrl;rl t'
rt pensar ou não a sell respeito: âssim, eles não procLlr:lm dc maneirl
Irlr;ttr'r rI rttit t ' I t t r t |)I()I)IIiI. \'lr(lll,llll'I (lll' .1 lrr rlrrr'rl,l t,,tlrlir_lt,r
t tIrt i r I I t r I
alguma cotrigiJos. e, bem ao cortlário' pelo cfeito de rtma policlez um
((rlI(IiIIII( III(' t1rr.rl,Ir' r 'l"rrlrrrr'l tlll( \'(l]l (' tanto desclenhosa, techanl-se num silêncio que a vaidade ocidental
|,1t,r 1r,lIt IIII(IIr|(|iIt
3
li t;ttc tr "plost ltltstttrr' r'
tomâ scur riilicultlade colno Llllllt ilPlovilçlio
totâlmeÍrte desconhecido no Oricnte. otltlc tlc ttiirt letiit t;ttitlrltttt Mostraremos logo cle início, tão claÍamente quanto

sentido e só poderia ser considerado como Lllna ptova tlc igttotittl irt .' pudermos e após algumas considerações preliminares indispensáveis,
de incompreensão pura e simples; o que dilenlos el'n scgttidit tttoslt:rlri às diferenças essenciais e Í'undamentais que existem entre os modos
as razões disso.
gerais do pensâmento oriental e aqueles do pensamento ocidental'
lnsistiremos em seguida mais especialmente sobre o que diz respeito às
doutrinas hindus, enquanto elas apresentam traços particulares que as
Quanto à este silêncio que alguns reprovam nos Orientais e
que é, no entanto" tão legítimo, só pode haver raras exceções, em favor distinguem das outras doutrinas orientais, se bem que todas tenham
de alguma individualidade isolada que apresente as qualificeções muitas características comuns para justificar no conjul'lto a oposição
requeddas e as atitudes intelectuais necessárias. Quanto àqueles que geral entre Oriente e Ocidente. EnÍim, a respeito dessas doutrinas
saem de sua reserva fora desse caso determinado, só se pode dizer uma hindus, assinalaremos a insllficiência das intelpretações que são
coisa: é queeles representam em geral elementos muito pouccr conentes no Ocidente; cleveremos mesmo, para algumas delas. apontar
interessantes que, por uma razão ou por outra. quase só expõem seus absurdos. Como conclusão deste estudo, indicaremos com todas
doutrinas deformadas sob pretexto de apropriáJas ao Ocidente; as precauções necessárias as condições de uma aproxin.nção intelectuâl
teremos ainda a ocasião de dizer algumas palavras sobre isso. O que entre o Oriente e o Ocidente, condições que' como é fácil prever, estão
qlleremos fazer compreender no momento e o indicamos desde o bem longe de ser atualmente preenchidas do lado ocidental; logo, só
início, é que a mentalidade ocidental é a única responsável por tal queremos mostrar aí uma possibilidade, sem acreditar que de modo
situação, o que toma muito difícil o papel daquele que, mesmo tendo- álgum ela seja suscetível de uma realização imediata ou simplesmente
se encontrado em condições excepcionais e chegado a assimilar cetlas próxima.
idéias, querer exprimi-las do modo mais inteligível, mas sem, todavia,
corompê-las: ele deve rcstringir-se a expor aquilo que compreendeu,
na meclida em que isso pode ser feito, abstendo-se cuidadosamente de
toda preocupação com a "vulgarização" e sem mesmo sustentar nisso o
menol intelesse em cunvencer quem quer que seja.

Dissemos sobre o assunto o bastante para definir


nitidamente nossas intenções; não desejamos absolutamente fazer a.1ui
obra de erudição. e o ponto de vista no qual entendemos nos coloertt t1
muito mais profundo. A verdade não sendo para nós um Íàto hislrilico.
nos importaria mesmo muito pouco, no fundo, determinal cxillillllLrlllc ll
proveniência desta ou daquela idéia que. em sulnil. sír tttts ittlt'tt'ssit
porque, tendo-a compreendido. a sabetltls scr vr.'t'tlltrlt'itit: tttlts
determinadas indicações sobre o pensitnrctlto oli('lllrll porlL tlt p'. rtttilit'
que alguns reflitam, e este sintples tcsttlllttlr 1(lril p()l sr s() Llrllil
irnportância insuspeitada. Aliz'rs. sc lllc\lllo r l( trlrlr'ltro trrto lrttrlcssc
sct ttlingido. tcrílitlos tintla ulllil lil:1il() ;ritt;t tt ltltl;tt lllllil ('rl)(rsiçJrr
tlcslc gôttctrl: selilt tlc rcctttlllctt't tlt ,lttrtlrltt, t tttorlo lttrlrr lr llttr.'
tlt'vctttos itttclcr.lttltltltctttc il()s ()l'lclllrlls. rI, r;rr, ,'', ( )t lrl( lllrlis llllll(ll
ttos rrlit',.'r't't'ttttt rt tttr.'ttot etlttivltlr'tll( ! I t I r ' I
! |IIr I 1
r I t t , trtl r' ttt,,,ttt1rIL Io
11
1C
o fato cle ter-se mudado para outra região. ou lllesmo de ter nascido
lá, não pocleria pol si só moditicar â raçii' nem, poflanto. a n.tentalidade
PARTE I que é inerente a csta. e. rneslrlo se a nludança de meio seja suscetível
rie determinar mais ceclo ou nuis tarde cetlas modificações, estas só
serão moclificações muito secundárias, não Ú'etando as câracterísticas
CONSIDERAÇOES vercladeiramente essenciais da raça, mas fazendo às vezes ressaltar ao
contrário mais nitidamerte algunlas dentre elas. E assim que se pode
constatar sem dificuldacle. enü'c os Americanos, o desenvolviillento
PRELIMINARES levado ao extemo cle algumas das tendôncias que são constitutivas da
mentalidade européiíl modema.

Uma questâo. entretânto. se coloca c não podemos deixar de


indiciu brevemente: lalamos da riça européia e de sua rnentalidade
CAPÍTUI ,O PRIMEIRO próprial n]as há verdadeiramente Llma ri4a européia? Se quiserrnos
entender pol isto tlma raça primitiva, tendo u:r.ta unidade original e uma
perfeita homogeneiclade. é preciso responcler negativiimente. porque
ORIENTE E OCIDENTE ninguém pocle contestar que a popdação âtual da Europa tenha se
formaclo por uma mistllra de elelnentos pefiencentes a raças muito
cliversas, e que havia diferenças étnicas bastante acentlladas' nào
somente cle um país para oufro. mas mesmo no interior de cada
âgrupamento nacional. No entanto. não é menos verd:Ldeiro que os
povos europeus apresentalr muitiis características comuns Para que se
A ptinreita coisa que temos a lazer lo estlldo que
/\ .nlpr""nd.,nos é detelminât a natureza exâta da possa riistingr-ri-1os nitidamente de todos os outros; sua unidade, mesmo
L \opásiçf o qre existe entrt o Odente e o Ocidente. e, se é antes adquilida que primitiva' é suliciente para que se possa falar.
para isto. inicialmente, precisar o sentido que tencionamos atribuir aos como o fizemos, de raça européia. Todavia. esta raça é naturalmente
dois termos dessa oposição. Poderíamos dizer' para ttnra prit.ueita nrenos fixa e menos estável que Llma raça pllra: os elementos europeus,
aprorimação. tal\-ez urtr pouco sumária, que o Ot'iente. para nris. é misturando-se a outras faças. serão mais facilmente absotvidos" e suas
essencialmente a Asia e que o Ocidente é essencialmente a Ettloltlt; tlllts características étnicas clesaparecerão rapidamente; mas isto só se aplica
isso mesn.to dematda algumas explicações Quanclo frtlatnos. p,,t no caso em que há mistura. e. quando há somentc justqrosição, ocore
exemplo. d:r mentalidade ocjclental ou eutopóilt. cttlptt r:lttttlo ao contrário qlle as catacterísticas mentais. clue são aquelas que mais
indif'efentemente unlâ ou olltrtl dessas clnas pitlitvrits. ctllctttlctttos prrt' nos interessam, aparecem cle qualquer moclo com mais televo' Essas
isso a mentalidade própria cla raça européia [olllil(lil elll s( rr ( ()rrlrrlll(). características mentais são, aliás, aquelas pelas quais n ttnitlaclc
Chamaremos, portanto. europeLl tlldo (J (ltlc sc lit':t lt r''slr rlt\'it. c européia é a lrais níti.la: qu[Iisquer que tettham sido as tliÍetcnças
aplicarentos essa dcnomittaçatl cotlltll)l tl lotLrs or ittrlir t,ltt,'r, rlttt rlt'lrt originais tanto neste aspecto como em outl'os. fbrnlou-se POLlco 'I potlcoi
sltítattt. cttt clrtalqrtet ;lartc tltl trllttttltl clll (lllc s( ( II( (,IIII( IILt\\llll os
no curso da história, uma mentalidade especial a cada ttnl tlesscs povos;
Ât,t, t't,'r'tt,,r r'r'' \tt.ttlllitttt,r\. l):ll'ir s,.'ll,rl ,l, ,r,r Irlir lrrr\
n.ns as patticulariclades que os distinguem só são secundlirias em relação
Iirrr'0Petts. c\lliirllcrlle c()lll ()s llleslllo\ rlttL tlrr'. rlttL tt ll,rlll( rl\ rlll
ao fundo cofilum ao qual elas parecem se sobtepor: são em sulna como
lll( slllir lllçll (ltle t(rlllilltlillillll lt tt sitlit ttlt I rrr,'|.r I lrr'rll \ lLl( rll( rlll('
t
i2 falar de uma mentalidade oriental, por oposição à mentalidade
(ltlc
espécies de um mesmo gênero. Ninguém' ltle slllo !'ntlo
ll(lLlclcs
ctlt tttltrritir it ocidental.
duviáam que se possa falar cle uma raça européia' hesiLart't

existência de uma civilização européia; e uma civilizaçãt) nllo


ó ()tltlil Oriente tem uma
Quanclo dizemos que cacla uma das raças do
coisa que o procluto e a expressão de certa mentalidade civilização própria, isto não é absolutamente exato; só é mesmo
rigorosámenie verdadeiro para a raça chinesa, cuja clvilização tem
Não procuramos precisar desde já os traços distintivos cla
piecisamente sua base essencial na unidade étnica Para as outras
no
mentatidade européia, porque eles serão suficientemente ressaltados civilizações asiáticas, os princípios de unidade sobte os quais elas
prosseguimento deste estudo; indicaremos simplesmente que muitas ,.po.rru* são de uma natureza inteiramente diferente, como iremos
influências contribuíram a sua formação; aquela que desempenhou
o explicar mais tarde, e é isso que lhes permite abarcar nessa unidade ele
papel preponderante é incontestavelmente a influência grega' ou' mentos pefiencentes a raças extremamente diversas Dizemos
q*."rào-i", greco-romana. A influência grega é quase que exclusiva civilizações asiáticas, já que aquelas que temos em vista o são todas
poa ,a,u oaig"a, mesmo quando se estenderam sobre outros continentes'
no qu" ." refàre os pontos de vista filostiÍico e científico' apesar da
àomo o Íêi sobletudo a civilização muçulm:ula Aliás, nern se precisa
apariçao de certas tenclências especiâis, e propriamente modernas'
das

quais falarernos mais tarde. Quanto à influência tomana' ela é menos


dizer que, à parte os elementos muçulmanos, não considetamos
absolutàmente ãomo orientais os povos que vivem no Leste da Europa e
ütel".tual que social, e ela se aÍinna sobretudo nas concepções do
Roma- mesmo em cefias regiões vizinhas da Europa: não se deveria confundir
Estado, do direito e das instituições: de resto' intelectualmente os
tudo dos Gregos, de modo um Oriental com um Levantino, o qual é antes exatamente o contrário,
nos tinham quase que tomado empresta<lo e que, pela mentalidade pelo menos, tem as características essenciais
que, através àeles, i somente a influência destes últimos que se pôde
de um verdadeiro Ocidental.
exercer aincla indiretamente. É preciso assinalar também a impofiância'
judaica' que
sob o ponto de vista religioso especialmente, da influência Só se pode ficar sulpreso à primeira vista com a desproporçào
do Oriente; há aí
reencontraremos, aliás, igualmente numa certa parte dos dois corjuntos que constituem respectivamente o que chamamos
por um lado' Odente e Ocidente: se há oposição entre ambos, não pode haver então
um elemento extra-europeu na sua origem' mas que não é,
verdadeiramente equivalência neln mesmo simetria entre os
atual' dois
menos constitutivo da mentalidade ocidental
termos dessa oposição. Há a esse respeito uma cliferença comparável
Se agora considetamos o Oriente. não é possível falar de uma àqrela qre exisie gáograficarnente entre a Ásia e a Europa, a segunda
raça oriental, ou de uma raça asiática, mesmo com todas as restrições .ó apueiendo um simples prolongamento da primeira; da mesma
qú colocumos na consideração cle uma raça européia Trata-se aqui de "omo verdadeira clo Ocidente em relação ao Oriente nào
*on.iru, u situação
um conjunto muito mais vasto, compreendendo populações ben nritis é no fundo maii que aquela do ramo destacado do tronco, e é o que
nua".orua, e com diferenças étnicas bem maioresl podenl-sc tlistirrgtrir' necessitamos explicar agora mais completamente'
nesse conjunto muitas raças mais ou menos pllrils' mas oli'tct
t'lttlit
caracterísiicas muito nítidas e das quais cada uma tctrl tttrtrt civilizirçi'r
própria, muito diÍ'elente das outras: não hí utlla civilizrtr';rtrr otietttrtl
como há uma civilização ociclental: na lcalitllttlr.'' ltri ' ivilizrrçi'es
otientais. Haverá ainda oportLlnidade de tlizcrtttrrs toislts t's1tt ' i;rit ;'rttlt
('ilrlil UIlir (hl.sJt (i\ilililçi)Cs. e itttlielttetttt't l)r'\l( Ilrrllll( lllt rlllili\ \lr(t
rts grlttttlcs clivisirc's gerais qrtc sc prrle r"slltlrtlttt't srrlr trtl rtttl:tlltr:
r.ottlLttltt, tlclctttlll-s!: nlcllos it lirttttit tlo tlttt' lto Itttttlr'
(ll(r)llllill sc il()
rrttilrrs r.'lctttcttttts. tltt ttlclltttt. lltitleí1lios c()lllllll\' lrillll rlll( \( l;l lrr'\\l\t
l
15
desde os tempos chamados históricos pelo menos, o Ocidente nunca
CAPITT]LOil
viveu intelectualmente a não set na medida em que teve uma
intelectuatidade feita de empréstimos do Oriente, direta ou
indiretamente. A própria civilização grega está bem Ionge de ter tido
A DIVERGENCIA essa originalidade da qual aqueles que são incapazes de ver qualquer
coisa além disso se comprazem em proclamar. e que iriam de bonl
grado até pretencler que os Gregos se caluniaram quando thes ocorreu de
ieconhecei o que deviam ao Egito' à FenÍcia. à Caldéia' à Pérsia e
onsidera.ndo-se o que se convenciona denominar a anti- mesmo à Índia. Apesar de todas essas civilizações terem sido
güidacle clítssica. e con.tparaldo-a coni as civilizações incomparavelmente bem mais antigas que a dos Gregos, alguns,
ôfientais. constata-se facilmente que ela é menos cegadás pelo que podemos charnar o "preconceito clássico", são
afastada desters. pelo menos sob cellos âspectos. do que a Europa moder- toàl,r"nt" dispostos a sustental. contm toda evidência. que são elas que
na. A cliferença entre Oriente e Ocidente palece ter sempre aumentado' fizeram empréstimos desta última e que sofreram a inÍ'luência dela' e
mas tal tlivergência é tle un.tii certa mât.lcira unilateral' sentido que é torna-se bastante diÍícil discúil com eles, precisamente poÍque sua
apenas o Ociáente que muclott. cllquantt) que o Ot'iente, cle um
modo opinião só se embasa em preconceitos; mas voltaremos mais
gàral, permanecia sénsivelrrtentc titl cotttct cstava raqllela época' a tal amplamente sobre tal questão. É verdade que os Gtegos tiveram, no
fonto qr" se é habituatlo a encarlt-lo cotrlo atgo lntigo'
sendo que é' no entànto, uma cefia originalidade' mas que Ílão é nada do que se acredita
àntantá. ainda Íelativamente rccentc. A estabiliclade, poder sc-ia comumente, e que não consiste muito mais do que na íorma sob a qual
mesmo clizer a imutabiliclncle. é uma catactcrística que se concorda de eles apresentaraln e expllseram o que tomaram emprestado,
bom grado em colceclet às civilizações orientais, a da China rnodiliiando-o de modo mais ou menos feliz para adaptáJo à sua
especiãlmente, mas cuja interpretação não é tiúvez fácil de se entendet: própria mentaLidade, bem difelente daquela dos Orientais, e mesmo até
o, E.,rop..,t, depois que se dispuseram a crer no "progresso" e na oposta àquela por mais de um aspecto.
"evolução". isto é. depois de um pottco mais de um século, quet'em ver Antes de ir mais além, ptecisatemos que náo quelemos contestar a
aí umá marca de inf'erioridade, enquanto que vemos nisso pelo originalidade cla civilização helênica em tal ou qual ponto de vista
contrário, de nossa paLrte, um estado de equilíbrio do qual a civilizaçào ,rri, or r.not secundário a nosso ver, o ponto de vista da ar1e, por
ocidental se mostrotl incapaz de alcançar. Tal estabilidade afirma-se, exemplo, mas somente no ponto de vista propriamente intelectual que
aliás, tanto nas pequenas coisas como nas grandes, e pode-se encontÍar lá se Lncontra. aliás. rnuito mais reduzido que entre os Orientais Estâ
um exetltplo sutpràendente no tato de que a "mocla"' com suas varirçi'es redução da intelectu:rlidade, este encolhimento' por assim dizer'
contínuas, só existe nos países midentais Em suma, o Ociclental' c podemos afirmá-lo nitidamente em relação às civilizações orientais que
sobretudo o Ocidental moderno, aparece como essencialmc'tltc tllttlrivcl iubsistem e que conhecemos diretamente: e ó possivelmente da mesma
e inconstante, aspiranclo somente ao movimento e à agitaçiio L'll(lr'lilllto maneira em relação às que desapaeceram' em função de tudo o que
o Oriental aprcsenta exatamente o caráter oposto podemos sabel delas, e sobretudo em função das analogias que
existiram manit'estamente entre estas e aquelas. Com efeito' o estucltl
Se sc quisesse figurar esquematicillllclllc ir (livcrll''rr( iir
(l( (ltlL- do Orientc, tal como ó hoje ainda. querendo-se empreendê-ltl tle um
Íalamos, não se del'eria, portanto, traçar dttas littlllts tlttt sc rtlrtslrtttt lxrr moclo verdadeiramente direto. seria suscetível de ajudar enr larga mediria
ltrrbos os laclos cle um eixo; tlras o (lt-ictllc tlcr""tilt stt tt ptr'sr'rrl:rtkl a compreender a Antigtiiclacle. em razão desse caráter cle flxidade e de
pckr prtiprio cixo. e o Ociclentc llttt rtttllt littllrt prttlittrlrr tl' rst ' ir'r' c estabilidade que lndicamos; ele ajudaria até a compreender a Antigüidade
illitsliln(l()-sc cot)t() L t-l rallt() se scl)illit (L) ll(|tl( (). lltl t rrtttrr ,liss,.'ttt,ls grega. para a qual não temos o recurso de uln testemunho imediato'
I)tc(.c(lenlcl]lcnlc. llslc síIl-r010 s(j it l.ltrl()
llli \ llr\1" rlllr llo lllll(lo. iiró qr" se trita aí ainda de uma civilização que eslá tei mente extinta'
11
L6
houve mesmo épocas menos afastadas em que o Ocidente recebeu de
e os Gregos atuais nãô poderiam de nenhum modo ser collsidcrildos
novo a influência direta do Oriente: queremos falar sobretudo do
os legítimos continuadores dos antigos' dos qnais eles nent tllcsttrtr
período alexandrino, e também do que os Arlbes trouxeram à Europa
são. sem dúvida, os descendentes autênticos .
na Iclade Média, e do clual uma parte lhes peftencia propriamente,
É preciso desconfizr, no enlanto, que Ô pensamento, eÍego enquanto que o resto era tirado da Índia; sua inÍ'luência é bem conhecida
quânto ao desenvolvimento das matemáticas, mas ficou longe de se
é, contudo, na sua essência um pensamento ocidental' e que já se

encontra nele, dentre zúgumas outras tendências. a origem e como que o


limitar a esse domínio paÍicular. A divergência reapareceu no
Renascimento, quando se produzia uma ruptura muito nítida com a
germe da maioria daquelas que se desenvolveram, muito tempo depois,
época precedente, e a verdade é que esse pretenso Renascimento foi
ãntre os Ocídentais modemos. Não se deveria' pofianto, levar longe
uma mofie para muitas coisas, mesmo sob o ponto de vism das arIes, mas
demais oemprego da analogia que acabamos de assinalar: mas,
sobretudo sob o ponto de vista intelectual: é diÍícil para um modemo
mantida nos ir-Istos limites, ela pode oferecer ainda serviços
captar toda a extensão e alcance do que se perdeu então. O rctomo à
consideráveis àqueles que quercm compreender verdadeiramente a
Antiguidade clássica teve por efeito um enÍiaquecimento da
Antigüidade e intelpretála do modo menos hipotético possível, e' aliás'
intelectualidade, fenômeno comparável àquele que tinha ocorido
todo perigo será evitado tendo-se o cuidado de ter em conta tudo o que
outrôra entre os próprios Gregos, mas com a diferença capital que ele se
sabemos-rle perfàitamente certo sobre as características especiais da
manifestava agorâ no cut'so da existôncia de uma mesma raça,e não
mentalidade helênica. No fundo, as teuclências novas encontradas no
mundo gteco-romano são. sobretudo. tendências à restrição e à mais na passagem de certas idéias de um povo a outro; é como se esses
Gregos. no momento em que iam desaparecer inteiramente, tivessem se
Iimitação, de modo que iis reservas que se pode inserir numa
vingado de sua própria incompteensão, impondo a toda uma parte da
comparação com o Oriente rlevem proceder quase exclttsivamente do
humanidade os limites de seu horizonte mental. Quando a esta hfluência
receio de atribuir aos antigos do Ocidente mais do que eles pensaram
veio-se juntar a da Reforma, que não foi de resto taLvez intefuamente
verdadeiramente; quando se constata qlle eles tomar am qualquer coisa
independente, as tendências fundamentais do mundo moderno foram
do Oriente. não se deve acreditar que eles o tenham assimilado
nitidamente estabelecidasi a Revolução, com tLtdo o que ela representa
complemmente, nem se apressar em concluir que há lá identidade de
nos diversos domínios, e que equivale à negação de toda tradição, devia
pensamento. Há numerosas e interessantes aproximações a estabelecer
que não têm equivalente no que conceme o Ocidente modemo,mas nâo ê ser a conseqüência lógica de seu desenvolvimento. Mas não vamos entrar
menos venladáiro que os modos essenciais do pensamento oriental são aqui no detalhe de todas essas considerações, pois nos ariscaríamos a
que, saindo dos quadros da mentalidade
e enveredar muito longe; não temos a intenção de fazer especialmente a
completamente outros,
a negligenciar e a história da mentalidade ocidental, mas somente de dizer sobre isso o que
ocidental, mesmo amtiga, se condena fatalmente
oriental, que sr-ttt é preciso para fazer compreender o que a diferencia profundamente da
desconhecer ôs aspectos desse pensamento
precisàmente os maii impotantes e os mais caracteísticos Corrx) ó intelectualidade orientzú. Antes de completar o que temos a dizer dos
"menos", únicil tlili'rcrtçrt modemos a esse respeito, precisamos ainda voltar aos Gregos, para
àvidente que o "mais" não pode sair do estâ
deveria baitar, na tàlta de qualquel outra consideraçixr. plrit rrx)slrrrr
(lc fixar aquilo que só indicamos até aqui de um modo insuficiente, e para
qual lado se encontra a civilização que fez etnptéslitnos tl;ts rrttlr';ts' desobsü'uir o terreno, de qualquer modo, explicando-o com bastante
nitidez para cortar de Lrmâ vez certas objeções que já são demasiado
Para voltirr ao esquemil c;ue intlicltnlrls ttt;tis ltt itttlt. rlt vctttlrs fáceis de prever.
rlizcl rlLrc scLr principal deltito. rtliiis incviliivcl ettl tlttrtltlttt t csrlttr'ttt't ''i
Só acrescentafemos para o momento uma palavra no que se
sinrptiiiclrl trrr't pouco tlcntais as coisils. rcl)rcs('lllilttr!r lt rltvct;" ttt'ilt
Lor)l() cfcsccnlL' tlc ttttt tlttttttl ctlntÍtrtto tltstk' il lll ll'tilr lil( l( ill( (rs refere ã diveÍgência do Ocidente em relação ao Oriente: será que tal
rl ltltt;trlll^ ttt":'lt rIttt t1'' tt''i:t' divergência continuârá a aumentar indefinidamente? As aparências
ltossos rlilts- Nit tclrtitlitrlc. lttlLtvc lcttt;tos
poderiam levar a crer nisso) e. no estado atual das coisas, esta questão
é seguramente uma daquelas que se pode discutir; entretanto, quanto a Capítulo III
nós, não pensamos que isso seja possível; as razões serão dadas na
nossa conclusão.
O PRECONCEITO CLASSICO

emosjá indicado o que entendemos por "preconceito


clássico": é propriamente a parcialidade em atribuir
aos Gregos e aos Romanos a origem de toda
civilização. Não se pode, no fundo, encontrar nisso outra ruzáo além
desta: os Ocidentais, visto que sua própria civilização não remonta, de
fato, muito além da época greco-romana, e deriva desta quase que
inteiramente, são levados a imaginar que deve ter sido assim em todo
lugar, e mal concebem a existência de civilizações muito diferentes e
de origem bem mais antiga; poder-se-ia dizer que eles são,
intelectualmente, incapazes de transpor o Mediterrâleo. Além disso, o
hábito de falar de "a civilização" de uma maneira absoluta, contribui
ainda em larga medida para sustentar esse preconceito: "a civilização",
assim entendida e suposta única, é algo que nunca existiu; na realidade,
semple existiram e ainda existem "civilizações". A civilizaçâo
ocidental, com suas características especiais, é simplesmente uma
civilização entre outras, e aquilo que se chama pomposamente "a
evolução da civilização" não ó nada mais que o desenvolvimento desta
civilização particular desde suas origens relativamente lecentes,
desenvolvimento este que está, aliás, bem longe de ter sido sempre
"progressivo" de modo regular e em todos os pontos: o que dissemos
anteriormente sobre a pretensa Renascença e suas conseqüências
poderia servir aqui como exemplo muito nítido de uma regressào
intelectual que não tem feito mais do que se agravar até nossos dias.

Para quem quer examinar as coisas com imparcialidade, fica


evidente que os Gregos, pelo menos do ponto de vista intelectual,
tomaram verdadeiramente emprestado quase tudo dos Orientais,
conforme eles mesmos o confessam freqúentemente; por mais
2A
ponto e' rreconhecíve1.
mentirosos que pudessem ser, eles não mentiriam sobre este
i

aliás, não teriám nenhum interesse nisso, muito pelo contÍário


Sua

àica originalidade, dizíamos antes, reside na maneira pela qual eles O chamado "milagre grego", como o chamam seus
entusiastas admiradores, reduz-se em suma a bem pouca coisa, ou pelo
as coisas, segundo uma faculdade de adaptação que náo se
"*nrr"auà ,u. qo" ," acha necessariamente limitada 'r medida de menos, onde implica numa mudança profunda, esta mudança é uma
ooãa
decadência: é a individualização das concepções, a substituição do
lua .ompre.nsão; eis aí, em sumâ, uma originalidade de ordem
"ont.rt-,
intelectual puro pelo racional, do ponto de vista metafísico pelo ponto
puramente dialética. Com efeito, os modos de raciocínio, que derivam
de vista científico e filosófico. Pouco importa, a1iás, que os Gregos
àos modos gerais do pensamento e servem para formuláJ'rs'
são' entre
áif"rentes do que entre os Orientais; é preciso eslar sempre
tenham sabido melhor que outros dar a certos coúecimentos um
os Gregos,
"quando
se assinala iertas analogias, aliás' reais, como aquela
do caráter prático, ou que tenham tirado disso conseqüências com tal
atento
grego, por exerplo, com o que se chamou, mais ou menos caráter, enquanto que aqueles que os precederam não o fizeram; pode-
silogisáo
que o se mesmo achar que eles assim deram ao conhecimento um fim menos
exaámentá õ siiogismo hindu. Não se pode mesmo dizer
por um rigor particular; ele só parece puro e menos desinteressado, visto que sua forma mental apenas difícil
raciocínio grego sJ distingue
mais rigoróso que os outros para aqueles que $ele^ têm o hábito
e excepcionalmente lhes permitiria permanecer no domínio dos
princípios. Esta tendência "prática", no sentido mais comum do tetmo,
e està aparência provém unicamente do fato que ele se
"*"f"tl.io, é uma daquelas que deviam ir se acentuando no desenvolvimento da
àr".rru ."-pr" deniro de um domínio mais restrito, mais limitado' e eé visivelmente predominante na
próprio civikzaçáo ocidenlal, época
mettror detiniao por isso mesmo. Aquilo que é efetivamente
modema; só se pode fazer exceçáo a este respeito em favor da Idade
ãI ct"gor, em ôontrapartida, mas com pouca vantagem para- eles' é
Média, muito mais voltada para a especuiaçâo pura.
,.u sutileza dialética da qual os diálogos de Piatão oferecem
,r-"aotot exemplos, e onde se vê a necessidade de examinar
""riu
De um modo geral, os Ocidentais são, poÍ sua natureza,
indefinidamente uma mesma questão sob todos os seus ângulos'
conclusão muito pouco metafísicos; a comparação de suas línguas com as dos
tomando-a nos mínimos aspectos, e para desembocar numa
que' no Ocidelte' Orientais forneceria por si só uma prova suficiente, se todavia os
mais ou menos insignificante; ó preciso crer
os
filólogos fossem capazes de captar verdadeiramente o espírito das
Àáã".no. não são os primeiros a seÍem afligidos de "miopia línguas que estudam. Em contrapartida, os Orientais têm uma
intelectual".
tendência muito âcentuada para se desinteressâr das aplicações e isto se
Talvez não haja razão, afinal, para censüar exageradamente
compreende facilmente, porque qualquer um que se une
humano como essencialmente ao conhecimento dos princípios universais não pode ter
os Gregos por terem estreitado o campÔ do pensamento
inevitável de sua mais que um interesse medíocre pelas ciências especiais e pode no
o-fir"tãtn; po, um lado, havia aí uma conseqüência
ser tomados como miáximo lhes conceder uma curiosidade passageira, insuficiente em
uiçâó mental, da qual eles não podedam
"onrti assim ao alcance todo caso para provocar numerosas descobertas nessa ordem de idéias.
a"rporaar"ia, e, por outro, eles pelo menos colocaram
de uma parte dà humanidade alguns conhecimentos que'.de outro
sério risco de thes permanecer completamente Quando se sabe, de algum modo com uma cefteza
modo,
mâtemática e mesmo mais que matemáfica, que as coisas não podem
alheios. "àrr".iurn
nossos
É fácil se dar conta disso vendo do que são capazes' em
diretamente em pÍesença de certas ser outra coisâ além daquilo que são, há forçosamente desprezo pela
ãias, os Ocidentais que se acham
segundo sua própria experiência, porque a constatação de um fato particular, qualquer que
orientais, e que tentam intelpretá-las
seja, prova nada mais nada menos do que a existência pura e simples
í"n,oiiaua", tudo o quá eles não conseguem identificar às formas
"àn""pço"t
conseguem desse mesmo fato; no máximo tal constatação pode servir, às vezes,
"clírssicas" escapa-lhes totalmente, e tudo aquilo que eles o-
paÍa ilustrar uma teoria, a título de exemplo, mas de modo algum para
hern ou mal é, por isso mesmo, desfigurado a ponto de se tomaÍ
23
)2
experimentais tal como as compreendem os modernos, ciências nas
pÍová-la, e crer no contrário é uma grave ilusão'
quais a tendência "prática" se une à tendência "naturalista" , ambas nào
podendo alcançar- seu pleno desenvolvimento senão em detrimento do
Nestas condições, não há evidentemente espâço para estudaÍ
pensamento puro e do conhecimento desinteressado-
as ciências experimentais em si mesmas' e, do ponto de vista
metafísico, elas só têm, como o objeto ao qual elas se aplicam, um
Assim, o fato de os Orientais não serem nunca vinculados a
valor puramente acidental e contingente; não se nota com muita
ceftas ciências especiais não é de maneira alguma um sinal de
freqtlência a necessidade de isolar as Ieis particulares, que se poderia
inferioridade de sua pafie. e é mesmo, intelectualmente, bem o
coniudo extrair dos princípios, a título de aplicação especial a tal ou
contrário; eis aí, em suma, uma conseqüência normal daquilo que sua
qual domínio deErminado, caso se considerasse que isso vale a pena'
atividade sempre dirigiu para um outro sentido e para um fim
Éode-se então compreender tudo aquilo que separa o "saber" oriental
totalmente diferente. Esses são precisamente os diversos aspectos nos
da "pesquisa" ocidêntal; mas pode-se ainda admirar que a pesquisa quais se pode exercer a atividade mental do homem que imprime a
ctl"gL" ã constituir, para os OcidenÍais modemos, um fim em si a
cada civilização seu caráter próprio, determinandoJhe direção
mesmo, independentemente de seus resultados possíveis'
flindamental de seu desenvolvimento; eis aí, ao mesmo tempo, o que
dá a ilusão do progresso àqueles que, não conhecendo mais do que uma
Um outro ponto que impofil essencialmente notar aqui, e que
que ninguém civilização, vêem exclusivamente a direçâo na qual ela se desenvolve,
se apresenta, aliás, como um corolário do que precede, é
acreditando ser aútnica possível, e não se dando conta que tal
tem estado mais longe do que os Orientais, sem exceção' para ciesenvolvimento em um aspecto pode ser largamente compensado por
expressar, como a Antigüidade greco-romana, o cttlto pela natureza'
uma regressão ern outros aspectos.
uisto q.,. a natureza não tem sido para eles mais do que o mundo das
apa.ên.ias; sem dúvida, essas aparôncias têm também uma realidade' a ordem intelectual. essencial só
Considerando-se às
mas não é mais do que uma realidade transitória e não permanente'
civilizações orientais, há pelo menos duas razões para que os Gregos,
contingente e não universal. Logo, o "naturalismo",- sob- todas as sob esta relação, tenham tomado emprestado tudo delas, entendemos
formas-das quais é suscetível, não pode constituir, aos olhos de homens
tudo o que há de realmente legítimo dentre suas concepções; uma
que podeíamos chamar metafísicos por temperamento, mals que um
destas razões, sobre a qual nós mais insistimos ató aqui, é extraída da
d"ruio rn"rlrto ,ma verdadeira monstruosidade intelectual' inaptidão relativa da mentalidade grega a esse respeito; a outra é que a
"
civilização helênica é de data rnuito mais recente que as principais
preciso dizer, no entanto, que os Gregos, apesal de sua
É civilizações orientais. Isto é verdade em particdar pala a lndia, se bem
tendência aà "naturalismo", nunca concedetam à experimentação
a
atribuem: reconhece-se em que, aí onde há ceftas afinidades entre as duas civilizações, algumas
irnportância excessiva que os modetnos lhe
pessoas aumentam o "preconceito clássico" até afirmar a priori que é a
tocia Antigüidade, mesmo ocidental, um certo desdém pela
a prova de uma influência grega. No entanto, se uma tal inUuência
experiência, o- qual seria talvez bastante difícil de explicar de
modo
oriental' jír que tal interveio realmente na civilização hindu, ela não pôde ser mais do que
diferente do quê vendo aí um traço da influência muito tardia, e pernaneceu necessariamente apenas superficial.
desdérn perdeia, em paÍe sua razão de ser para os Gregos'
cujas
Poderíamos admitir que houve, por exemplo, uma fuÍluência de ordern
preocupações de ordem estéticâ tomavam com freqüência o lugar das
artística. se bem que, mesmo sob este ponto de vista especial, as
irrO". ,áit profundas que lhes escapavam são, portanto, estas últimas
do concepções dos Hindus têm sempre permanecido, em todits as épocas,
consitleraçõÉs que se fàz intervir mais comumente na explicação
pensamos que há aí, na origem pelo extremamente diferentes das dos Gregos; aliás, só se reencontra traços
lrrto dc que se trata; mas nós
já precisos de uma influência desse gênero em uma certa pafle, muito
,r"n,,r. ,1g,, mais. Em todo caso, isso não impede que se encontre restrita tanto no espaço como no tempo, da civilização búdica, que nào
ciências
L'rrlIr ,,s (itcgtts, em um cefto sentido, o ponto de partida das
25
24
CAPÍT[]'LO TV
poderia sel confundialâ oom a civilização hindu propriamente dita'
Más isto nos obriga a dizer pelo menos algumas palavras sob-re aquilo
oue oodiam ser, na Antigtiidade, as relações entre povos diferentes
e
que suscitam' de
àuir'oo -..,o, afastados, depois sobre as diÍiculdades AS REI-AÇoFS ENrRE OS POVOS ANITIGOS
olhos
um modo geral, as questõeJ de cronologia, tão importantes aos
dos adeptà mais ou menos exclusivos do múto famoso "método
histórico".

credita-se muito geralmonte que as relâções entre. a


Grécia e a Índia só coúeçâram, ou pelo menos só
uma importância apreciável, na época
dàs conquistas de Alexandre; de tudo o que. é ceÍtamente anterior a e§ta
data, fala-se entãe simplesmente de semelhanças forhritas entre as duas
civilizações, e, de tudo o que é posterior, ou que se supÕe posterior, fala-
se naturalmente de iofluência grega, como o quer â lógica específica
inerenle ao "preconceito clássico". Eis aí novamente uÍna opiitião que,
como mútas outras, ê desproúda de qualquer fundamento sério, visto
que as relações entÍe os povos, mesmo afastados, eram muito mais
freqüentes na antigiÍdade do que se imagina cômumente. Em suma, as
comunicações não aram muito mais difíceis então do que o eram aioda
há um ou dois séculos atrás, ô mâis precisamente até a invenção das
estradas de ferro e dos navios a vapor; viajava-se sem dúvida menos
amiúde que na nossa época. menos vezes e sobretudo menos rapidamente,
porém üajava-se de uma forma mais proveitosa, porque se tomava o
tempo paÍâ estudaÍ o país que se atravessava, e às vezes mesmo
viaiava-se justamente em vista desse estudo e. dos benefícios
intelectuais que se poderia tirar dele. Nestas condições, não há neúuma
mzão plausível paÍa aatar como "lenda" aquilo que nos é narrado sobre as
viagens dos filósofos gregos! mesmo porque essas viagens expücam
muitas coisas que, de outro modo, seriam incompreensíveis. A verdade
é que, bem altes dos primeiros tempos da filosofia grcga, os meios de
comunicagão deviam ter um desenvolvimento do qual os modemos
estão bem longe de ter uma idéia exata, e issô de um modo normal e
permanente , a despeito das migrações de povos" que nunca ocoÍeram
sem dúvida a náo ser de um modo descontínuo e um tanto excepcional.

4ntre outras provas podeíamos citar em apoio ao que


que.
acabâmos de dizer, indicarenos somente uma, que se refere
especialmente às relações dos pwos mêditerrâneos, e nós o fâzemos
2'1
26
acrescentar que as trocas comerciais não se produziriam de um modo
porque se trata de um fato pouco conhecido ou pelo menos pouco
que ele.merece' seguido sem ser acompanhadas mais cedo ou mais tarde de trocas de
assinaláao, ao qual ninguém parece ter prestado a atenção
uma ordem bem diferente, e principalmente de trocas intelectuais; e
e ao qual apenas se tem dado em todo caso interpretações bastante
todâ a mesmo pode ser que, em ceÍos casos, as relações econômicas, Ionge
inexatàs. O iato do qual desejamos falar é a adoção, ao redor de
de moeda' com de tomar o primeiro plano como acontece entre os povos modemos,
bacia do Meditenânóo, de um mesmo tipo fundamental
adoção' tiveÍam apenas uma importância mais ou menos secundária. A
variações acessórias servindo de marcas distintivas locais; e esta
possa fixar a data exata. remonta ceftamente a tendência de considerar tudo do ponto de vista econômico, seja na vida
ainda que quase não se
pelo menos tendo-se em conta somente o peíodo interior de um país, seja nas relações internacionais, é, com efeito, uma
,rnu épo"u -rrto untiga,
ver aí tendência totalmente modema; os antigos, mesmo ocidentais, com
qoe s" consid.ra maii hábitualmente na Antigüidade' Quis-se
moedas gregas' que teriam exceção talvez dos Fenícios, náo encaravam as coisas desse modo, e os
iuOa atem de uma simples imitação das
Orientais, mesmo atualmente, não as encaram assim também. Aqui é
chegado acidentalmentá ,m regiões longínquas; isto é ainda
um
atribuir 3os ainda a ocasião de dizer novamente o quanto é sempre perigoso querer
exeírplo da influência exagerada que sempre-se costuma
o acâso em formular uma apreciação de seu próprio ponlo de vista, naquilo que se
Gregôs, e também da deplorável tendência de fazer intervir
fosse outra refeLe aos homens que, existindo sob circunstâncias diferentes, com
tudo' aquilo que não se sabe explicar, como se o acaso não
uma outra mentâlidade, situados de outro modo no tempo ou no espaço,
coira que ,* ,o*" dado ã nossa ignorância das causas reais'
para
certamente nunca se colocaram nesse mesmo ponto de vista, e, aliás,
dissimulá-la.
sem nenhuma razã,o de concebêlo; é, no entzmto, este erro que
cometem muito freqüentemente aqueles que estudam a antlgiiidade, e é
Aquilo que nos aparece como certo é que o tipo monetário
também como dizíamos desde o início, o erro que os orientalistas
comum de que se tÍata, compofiando essencialmente uma
cabeça
ou um caÍro do outro' não é mais nunca deixam de cometer.
humana de um lado. ,ro
"uuuio
grego do que itálico ou cartaginês' ou mesmo gaulês
".p""ifi.ua"nt" O fato de os mais antigos filósofos gregos terem precedido
.,,,'it"riao, ,ru uãoção necãstitou \eguramente de um acordo mais ou
ainda que as em vários séculos a época de Alexandre, não autoriza de modo algum a
menos explícito entre os diversos povos mediterâneos'.
inevitavelmente A relaçào que concluir que eles nada conheceram das doutrinas hindus. Para cital um
modalidaáes deste acordo nos escape
serve para certos símbolos exemplo, o atomismo, muito tempo antes de aparecer na Grécia, fora
a respeito desse tipo monetário
""aor,trao. modo idêntico em limites sustentado na India pela escola de Kanâda, depois pelos Jainas e
ou ceÍtas tradições, que se reencontram de Budistasi é possível que tivesse sido importado no Ocidente pelos
contesta as relações
ainda mais aÍh;tados; e, por outro lado, se ninguém
por Fenícios, como cerlas tradições dão a entender, mas, por outro lado,
,àgoiau, qu. as colôniás gregas mantinham com sua metrópole' diversos autores afirmam que Demócrito, que Íbi um dos primeilos entre
poderiam se estâbelecer entre os
o,r-e .e .ont.sta.ia ainda aquelas que
do os Gregos a adotar esta doutrina, ou pelo menos a formulála
êr.got outros pouos? Além dissó, mesmo aí, onde uma convenção claramente, tinha viajado pelo Egito, pela Pérsia e krdia. Os prirreiror'
ncnàao or"" acabamos de dizer nunca interveio, por razÕes que podem
que' de resto' se- filósofos gregos podem mesmo ter conhecido, não somente as doutrinâs
.'e. a. o.aant diversas. que nào pesquisaremos aqui, e
prova de modo algunl hindus, mas também as douúinas budistas, porque eles nãtr siur
l; ;Jr", difícil de determrnar "iata*ent", não se
cefiamente anteriores ao Budismo. e, além disso, este se (lililndiu enl
q;. is.o t"nhu impedido o estabelecimento de troczs mais ou menos
\er pois deviam ser boa hora fora da Índia, nas regiões da Ásia mais vizinhas da Grócia e,
iúL.., os meioi deviam simplesmente ouros' eles
por conseqüência, relativamente mais acessíveis. Esta circunstância
lrtlrrplldos a circun§tància' diferenles
fortificaria a tese, bastante sustentável, de empréstitmrs t'eitos, nâo
fato que exclusivamente por cer1o, mas principalmente da civilização búdica- O
Para precisar o alcance que convém reconhecer ao-

título de exemplo' é preciso que é curioso, em todo caso, é que as aproximações que se pode fazer
irrrli,.rrrrros. ainda que só o tomamos â
29
2E
tlaço erninentemente característico de sua mentalidade. finito e
com as doutrinas da Índia são muito mais numerosas e suryreendentes
perfeito eram para eles termos sinônimos; para os Orientais. ao
no peíoclo pré-socrático do que nos períodos posteriores; o que seria
contrário. o Infinito é que é idênticô à Perfeição. Tal é a diferença
ao papel cias conquistai de Alexandre nas relações intelectuais
"ntáo tocante ã profunda que existe entre um pensaúlento filosófico, no sentido
dos clois povos? Em suma, elas só parecem ter introduzido' no
na Iógica de Aristóteles' europeu da palavra, e um pensamento metatísictl; mas nós teremos
influêncià hindu, aquilo que se pode encontrar
ocasião de voltar mais amplamente depois, sendo estáls ixdicações
e ã qual aludimos antes no que concerne o silogisrno' bem como na
suficientes para o munento, porque nossa intenção não ê estabelecer
paÍe'metaÍísica da obra do mesmo filósofo, pam a qual se poderia
por demais precisas para serem irqui uma compatação detalhada entre as concepções respectivas da
àssinalar tanrbém semelhanças
Índia e cla Grócia. comparação que encontraria aliás dificuldades que
puramente acidentais.
aqueles que as encaram superficialmente quase nem imaginam.
Objetando-se, para salvaguardar. contudo, a originalidade dos
filósofos óregos, quã na um fiurdo intelectual comum a
toda
humariidade, iao."rio dÍrvida que este fundo é algo de muito geral e
uugo p*u fomecer uma explicação satisfatória de senrelhanças precisls
. n-iiiàu,r"rt" determinadás. De resto. a diÍêr'ença das mentalidades vai
que apenas
muito além em muitos dos casos. do qr:e o crêern aqueles
conheceram um único tipo de humanidade; enfie os Gregos e os
Uma
Hindus, pzuticularmente, esta diÍerença eta das mais consideriive.is
semelhante explicação só basta quando se trata de duas
civilizaçÔes
sentido' se bem que
comparáveis ent'e ii, d.tenuoluenclo-se no mesmo
idênticas
independentemente uma da outra, e produzindo concepções
no f,lrao, embora muito cliferentes Íra forma: este é o caso das
dontrims
seria talvez mais plausível'
Àetafísicas da China e da Ínclia. Todavia,
fazê-lo por exemplo
*".Ilto ,"ttat liniites, ver aí, como se ê fbrçado a
quando se constata uma comunidade de símbolos, o resultado de
uma
das tradições primordiais, supondo relações que podem'
iJ.n,iaoa"
peíodo
uiiár. r"-on,* a épácas úem mais recuadas que o início do
chamado "histórico"; mas isto nos levaria muito mais longe'

Após Adstóteles, os traços de uma influêtrcia hindu na filosofia


já que esta
grega, tomam-se mais e mais mros, senão totalmente nulos'
tloiufiu ," encen'a num <lomínio cada vez mais limitado e contingente'
e que este
cada vez mais afasta, do de todâ intelectualidade verdadeira'
clomínio é, na sua grande paÍe, âquele da moral' reÍ'erindo-se
a

p."u.uprço.t qt," ,.,ip.a tbràm completamente alheias aos. Orientais'


il .r.r,"Jri" entie os neo-ptatônicos que se verá reaparecer inlluências
lrlittrllris.eéexatamentenestepontoquesereencontrârílpelaprinleira
u.' r .,,t,c os Gregos cetas idéias metafísicas,
como a do lnlinito Até
e'
crtiro. lonl e1êitõ. os Gregos tinham zrpenas a noçito tlo in<jetlnido'
31
30
estes são de qualquer Íotma os únicos aos quais a determinação
CAPÍTULO V cronológica apresenta um verdadeiro interesse, já que esta mesma
determinação só tem sentido e alcance para o ponto de vista da história.
É preciso assinalar, por outro lado, que, para aumentar a dificr"údade,
existe na Índia, e sem dúvicla também em certas civilizações extintar,
QLTESTOES DE CRONOLOGIA unra cronologia, ou melhor, qualquer coisa que tem a aparência de uma
clonologia, baseada sobre números simbólicos, os quais não devem de
nenhum modo ser tomados literalmente como números de anos; e nâo
se encontraria qualquer coisa de análogo até na cronologia bíblica?
Todavia, essa pretensa cronologia se aplica exclusivamente, na
A s questões relativas ã cronologiâ são as que mais em- realidade, a períodos cósmicos, e não a petíodos histó cos; entre
/\ U*rçurn os orientalistas, e este embaraço é ambos, não há nenhuma confusão possível, não fosse o eÍêito de uma
./ \geralmente bastante justificado; mas, por um lado, ignor'ância muito grosseira. e, no entânto, Íbrçoso ó reconhecer que os
eles não têm razão em atribuil uma impotlância excessiva a essas orientalistas deram tantos exemplos de semelhantes equívocos.
questões, e, por outro, em acreditar clue poderão chegar, por seus
méto,lo. habitrais, a obter soluções definitivas, enquanto que só Uma tendência muito geral entre esses mesmos
chegam de fato a hipóteses mais ou menos fantÍrsistas, sobre as quais é aquela que os leva a reduzir ao máximo. e mesmo
orientalistas
eleslestão bem longe, aliás, cle concorclar entre si Há, no entanto, alguns
muitas vezes além de toda rnedida razoável, a Antigüidade das
casos que não apresentam nenhuma dificuldade real, pelo menos civilizações que eles focalizam, como se estivessem incomodados pelo
enquanto se consente em não complicáJos prazeirosamente com fato de que essas civilizações puderam existir e estar já em pleno
sutilezas e argúcias cle uma "crítica" e de uma "hipercítica" absurdas' desenvolvimento em épocas tão distantes, tão anteriores às origens mais
Tal é o caso especialmente dos documentos que' tal como os antigos recuadas que se pode atribuir ã atual civilizaçâo ocidental, ou melhor,
anais chineses, contêm uma descriçâo plecisa do estado do céu nâ àquelas de que procede diretamentei seu partidarismo a esse respeito
sohre
época à qual se retàrem; o cálculo de sua data exata, baseando-se não parece ter outra desculpa do que essa, que é verdadeiramente
dados ástronômicos determinados, não pode sofrer nenhuma demasiado insuficiente. Além disso, esse mesmo partidarismo se
ambigtiidade. lnfelizmente, tal caso não é getal, e é mesmo excepcional- exerceu também sobre coisas muito mais vizinhas do Ocidente, sob
-outros
e os clocumentos, os documentos hindus em paÍicular, nào todos os aspectos, do que são as civilizaçóes da China e da Índia, e
oferecem na sua maioda nada de tal pzua grriar as pesquisas, o que, no mesmo aquelas do Egito, da Pérsia e da Caldéia; é assim que se fez um
Íundo. prova simplesmente que seu§ autores não tiveram a menor esforço, por exemplo. em "rejuvenescer" a Qabbalah hebraica, de
preocupação data", em vista de reivindicar uma prioridade modo a poder supor nela uma inflr-rência Alexandrina e neoplatônica,
qualquer.
"rn'ifi*o.
enquanto que se produziu exatamente o inverso na realidade; e isto
sempre pela mesma razão, isto é, unicamente porque se cônvencionou rr
A pretensão à originalidade intelectual, qtte contribrri em priori que tudo deve vir dos Gregos, que estes tiveram o monoptilio dos
grande pzllte para o nascimento dos sistemas filosóficos é, ml]snlo entle conhecimentos na Antigüidade, como os Europeus imaginarr tô lo agora.
ãs Ocidàntais, algo totalmente modemo, que a Idade Média ignot'ava e que eles Íbram, sempre como esses mesmos Europeus prctendeltl
aintla: as idéias puras e as doutrinas tradicionais nunca consti tlríram a sêJo atualmente, os educadores e inspiradores do gêncrtt huntano.
proplicdade de tal ou qual indivíduo, e as particulariclades biográficas Platão, no entanto, cujo testemunho não deveria ser sus;teito no caso,
rlrrtlrrelcs qtte as expuseram e intelpretaram sito da mínima ntio teve receio de contar no Timeu que os Egípcios trâtavilm os Gregos
irrrpoltirnciii. Aliás, mesmo para a China, a observaçittl que fizemos há cle "crianças"; os Orientais teriam, hoje aincla, mLtitas razões para dizer
1,,,rr.,, s,i sc aplica, para fala a verclade^
aos escfitos históricos; mas

r-É-
33
32
uma polidez não é certamente posterior àquela data, mas isto é tudo, e não plova
a mesma coisa dos Ocidentais, se os escrúpulos de de nenhum modo que ela não possa ser de muito anterior. Pode muito
vezes de chegar até lá'
tau., "xc.ssiuu não os impedisse muitas apreciação foi justamente bem acontecer que se descubra em seguida outros manuscritos mais
Lembramo-nos, enúetanto, que esta mesma
antigos da mesma obra, e aliás, mesmo não os descobrindo, não se tem o
árrrrrJ, por um Hindu que, escutando pela primeira longe de
vez alguém
se mostrar direito de concluir que não existam, nem, com maior razâo. que nunca
certos filósofos europeus'
arro. ur aonaapçOe\ de existiram. Existindo ainda. no caso de uma civilização que perdurou até
miravrhaao, declarou que havia 1á, quando muito' idéias boas para
nós, é pelo menos verossímil que. o mais freqüentemente, eies nào são
uma criança de oito anos!
deixados ao acaso de uma descoberta arqueológica, como aquelas que
se pode fazer quantlo se trata de uma civilização desaparecida, e, por
Aoueles oue acharern que reduzimos demasiado o papel
quase exclusivo' outro lado. não há nenhuma razão em admitir que aqueles que os
dar.,rp.Judn pelo:' Gregos- [izetrdo derte' de modo
poderian nos objetar que não conhecemos conservam se consiclerarão obrigados um dia ou outro a se desfazer
,ã rrl"r de "aclaptadorei'' que até nós' deles em proveito dos eruditos ocidentais, tanto mais que se pode
não chegaram
i"orit ãt ,"ut ideias e que há muitas coisxs
e particularmente parâ vincular à sua conservação um intelesse sobre o qual não insistiremos,
irto ie e ,..aud., sem àú'idu, em cellos casos'
de mas perante o qual a curiosidade, mesmo omada do epíteto "científico"
o-"Jru*"*o oral dos Íilósofos; porém' onos permitirque conhecemos
julgaÍ
suas
o resto? é muito desprezível.
,aài* ní" t"tlu largamente suficiente pata Por um outro lado, no que se te1'ete a civilizações desaparecidas, é
fomece o meio de ir' numa certa medida'
;;b*r,;;. up'.rur
'ot aqui nos razão; e'.aliás' forçoso se dar conta que, a despeito de todas as pesquisas e de todas âs
ã" ."rfr'..fa,i ao ,le,'conhecido. só pode dar-
escrito que possuímos' há pelo menos fortes descoberlas, há uma multitude de d(rcumentos que nunca se encontrarão,
.*r"Já pela simples razão que eles tbranl destmídos acidentalmente; como os
;ã.*ú ".".i."mento
;; lo. o .nr,n"n,tnto oral con€spondente' no"interior"'
isto é' demais
que ele tinha
foi' àcidentei desse gênelo são, em muitos dos casos, contemporâneos das
Liir"l"".t" a" "special e <le "esotérico"'
imj.térios". com o qual devia ter muilas relaçÕes' próprias civilizaçÔes de que se trata. e não Íbrçosamente posteÍiores à sua
Irã"-àar.r. dos àxtinção, e como podemos ainda constatar muito fieqüentemente
tingido ainda de inspiração oriental Além disso'
a
Lár rà"...r" que ele semeihantes acidentes ao nosso redor, é extremamente provável que a
iiriário.iauo"' mesÃa desse ensinamento só pode nos garantir
qualquer outro' mesma coisa se produziu tambóm, mais ou menos, nas outras
.á *.ro, uf^tudo de sua fonte e menos deformado quegrego' civilizações que se prolongaram até a nossa época; e há mesmo tantas
mentalidade geral do povo sem o que
nã.or" *.no* adaptado à possibiiidades de que tenha sido assim, que se passou, desde a origen
nào teria eridentemettte requerido uma
preparação
Ir"-.orp*.r.,ao
longa e tão difícil como era' àessas civilizações, uma sucessão mais longa de séculos' Mas há ainda
ul,' ,obr.tr,lo uma pÍepaÍação tão
"rf".i que estava em uso nas escolas pitagóricas' qualquer coisa além: mesmo sem acidente.os manuscritos antigos
p""t aquela
"-"apf", podem desaparecer de um modo totalmente natulal, notmal de uma cefia
AIém do mais, os arqueólogos e os orientalistas
serialn muito io.*u, po. r- gasto puro e simples; leste caso, eles são substituídos
oral' ou mesmo de por outros que se comprovam ser necessariamente de uma dâta miLis
,uf umào'i - invocar contLa nós um ensinamento ao qual eles tanto se
.f"rt ,.tOiart, visto que o "lnétodo histórico"apena:' enl conridenrçio iecente, e que são os únicos dos quais se poderá em seguida constalat a
,;; por caracteristica essencial tomaÍ existência. Pode-se fazer uma idéia dísso, em pafiicular, pelo que se pilssil
;;; escrilos que cle um modo constante no mundo muçulmano: um manuscrittt citcttllt e
,iãt rrrr."ràt que eles têm sob sua ústa e os documentos
"l e é aí que. precisamente' se mostra todâ
a in suficiência é transpofiado. segundo as necessidades, de um centro de ensinrttltentrr
,eí"n* *aoát
pr., out.o, e às vezes para regiões bem afastadas. ati'qttc cle csteja
"t Com efeito, há uma observação que se inipõe' mas que se
,r".r" Àe,"a".
encontrando- gravemente danificado pelo uso, tomando-sc quâse (ltlc inlprestável;
p",.ú J"""iti^ .ri o freqüentemente' e que ê a seguinte:
\L.l)lll.lLl'llnacenaobraummunusctilodoqLrrlsep.)(ledeterminari] iaz-se então uma cópia táo exata quanto possível, criPia que tomará
prova bem que a obra de que se trata doravante o lugar do antigo. manuscrito, tltte se utilizatá da mesma
,L,ta 1,,,r trnl rreio qualquer' isto
35
3a
por Llma outra quando estlver
mantivesse sempre idêntico, não só no fundamento, mas mesmo na
maneiÍa, e que será ela mesma substituída
Tai: sucessivas forma; e pode-se constataÍ que tal conservação é perfeitamente
deteriorada por sua vez, e assrm.por diante
para :*::Ytç9es
as pesquisas especiali- realizáwel pelo que ainda sucede hoje em dia entre os povos orientais,
podem seguÍamente ser muito incômodas p-u o, qrui, a fixação pela escrita nunca pÍovocou a supressão da tra-
'radus orientalistas; mas aqueles que procedem assim .não
se
aoI àiçao orat, nem foi considerada como capaz de suplantáJa
pa"oarrpua quâse com este inconveniente' e' mesmo que trvessem
polrco em mudar seus inteiramente. Coisa curiosa, admite-se comumente que cedas obras nào
conheóimentà disso, não consentiriam por tão foram escritas desde sua origem; admite-se especialmente para os
em sl mesmas que
hábitos. Todas essas observações são tão evidentes poemas homéricos na Antigüidade clássica, para as cançÔes de gesta da
que temos
nãà uuf".;u talvez a pena formulá-las, se a parcialidade idud" Médiu; por que,então, não se poderia admitir a mesma coisa
ponto de lhes escondel por
urrinutuao nos orientalistas não os cegasse a quando se trata de obras referentes, não mais ã ordem simplesmente
intefuo tal evidência. literária, mas ã ordem da intelectualidade pura, onde a tÍansmissão oral
tem razões muito mais profundas? É verdadei.ramente inútil insistir ainda
Agora, há um outro fato do qual os paÍidános
do,"método
estaÍ em desacoldo mais nisso, e, quanto a essas profundas razões as quais acabamos de
trlstori.o';-Jo'poderiam talvez levar em conta' sem aludir, aqui nio é a ocasião de desenvolvêJas; teremos, aliás, a
quase em todos os
;à",J;;;..-":' é que o ensinamento oral precedeu emuso durante opoftunidàde de dizer sobre isso algumas palavras mais adiante'
i;;#; ensinamento escrito, e que somente ele esteveque
;:;";;"t" que puderam ser bem mais longos' ainda sua duração
Resta um último ponto que gostaríamos de indicar neste
t.,à"atr.ir*ente determinável De um modo gelal' um
escrito
.-ríí mais que a Íixaçáo capítulo: é que, se muitas vezes ê difícil situar exatamente no tempo
íàãi.rã"la não é, na maior parte dos casos'
um certo período da existência de um povo antigo, é também às vezes
relativamenterecentedeumensinamentoqueeratransmitidoprimeiro
assim' quase tanto, por mais estraúo que isso possa parecer, situá-lo no
e ao qual é bem raro que se pos5a assinalar um.aulor:
orul*.nt.. áspaço. dizer com isso que cefios povos puderam, em
do marrrrscrito Queremos
mesmo que se tivesse a ceÍteza de estar em
possessão
diveisas épocas, emigrar de uma região para outra, e que nada nos
pã.iir"", t* do qual talvez não se tenha nenhum exemplo' seria p.oru qrá as obras que os ântigos Hindus ou os altigos Persas
teria durado a oT1Tl:t1o o*1
ireciso ainaa sabei quanto tempo vezes cone o risco. de ficar
àeixaram, por exemplo, tenham sido todas compostas nos países onde
ãr.ri"rior, eis aí uma questão quê muitas vivem atualmente seus descendentes. Além disso, nada o prova
"
,"À ."rpo*u. Múltiplas razões podem justificar esta exclusividade do
a ausência de também no caso em que tais obras contenham a designação de certos
ora1, a qual não iupõe necessariamente-
-certamente lugares, os nomes de rios ou de montanhas que coúecemos ainda'
"rti*ri"*" .r:" origern é muito longínqua' pelo menos sob a
porque esses mesmos nomes puderam ser aplicados sucessivamente nas
".".ii", 'i.r"ogtafi"r, não é mais que Lrma
iã.Áu da qual a forma fonética àiveisas regiões onde o povo considerado foi levado no curso de suas
Sabe-se'
à"g"n"t.t"Cln"io .ausada por uma necessidade de simplificação' migraçóes. Eis aí algo muito natural: os Êuropeus atuais não tem
poi exemplo, que - o ensinamento dos Druidas perÍnaneceu sempre fre-quentemente o hábito de dar às cidades que fundam em suas colô-
àxclusiuamente oral, mesmo numa época em
que os Gauleses
correntemente de niai e aos acidentes geográÍicos que lá se encontram, denominações
,.gr."-."i" ".rrreciám a escrita, já que se serviviam emprestadâs de seu páís de origem? Discutiu-se às vezes et questâo de
um alfabeto grego nâs suas relações comerciaisl logo' o
€nsinamento
autêntico e' quando muito' podemos ,uúa ," u Hélade dôs tempos homéricos era exatamente a Grécia das
J*àl.o nao ã"i*ou nenhum traçô épocas mais recentes, ou se a Palestina bíblica era ve adeirillrente a
feconstituirmaisoumenosexatamentealgunsfragmentosbem-restntos.
alterado o râgião que designamos aindâ pot este nome; as discussões desse gênero
Scria, aliás, um erro cÍer que a traÍlsmissão oral tenha não são talvez tao vãs quamto se pensâ em geÍâI, e íl questão tem pelo menos
crrsinamento ao longo do tempo; sendo dado o interesse que a
para se motivo de se colocar, mesmo se, nos exemplos que acabamos de citar' é
c,,nscrvação integral deste apresentava, há ao contr'ário
razão
para que ele se muito provável que e1a deve ser resolvida pela afirmativa Em
r'1r'," as prÉcauções necessárias erarn tomadas
1,,',,r,u'
3'1
36
pam
contrâpafiida, no que se refere à Índia védica, há muitas razões
ancestrais dos CAPÍTULO VI
respondei negativamente a uma questão desse gênero; os
iiiarr, "."iu época, aliás, indetermimda, devem ter habitado,numa
que
região muito setentrional, já que, segundo cerlos textos' acontecra
por; mas, quando será que eles DIFICTILDADES
o ior auru a volta no horiion[e sem se
deixaram essa residência primitiva, e ao fim de quantas
etapâs
LINGÜÍSTICAS
de lá até a Índia atual? São questões interessantes -sob um
"h"g*r-
pon o de vista, mas que nos contentamos em assinalar sem
""nã
pretender examiná-las aqui, pois elas não se colocam no nosso
tÔÍra'
Às considerações que tratamos até aqui constituem apenas simples
oreliminares, que nos pareceram necessárias antes de
abordar as
dificuldade mais grave, para a interpretação coffeta
doutrinas orientais:
ãr"tiã* p.p.iãrnente relativas à interpretaçãoo das
nosso objeto principal'
das doutrinas orientais, é aquela que, como já hdi-
J, p*u questões, que constituem camos e pretendemos expor, sobretudo no que vem a
"ràut,it,irnas
é preciso ainda assinalar um outro gênero de dificuldades' seguir, procede da dificuldade essencial existente entre os modos do
pensamento oriental e aqueles do pensamento ocidental Esta diferença
traduz-se natuÍalmente por uma diferença corespondente nas 1ínguas
que são destinadas a exprimir respectivamente esses modos, de onde
surge uma segunda dificuldade, derivada da primeira, quando se trata
de traduzir certas idéias nas línguas do Ocidente, que carecem de
termos apÍopriados e que são, sobretudo, muito pouco metafísicos.
Aliás, isto é em suma âpenas um agravamento das dificuldades
inerentes a toda tradução, e que se encontÍam mesmo, em um menor
grau, paÍa passar de uma 1íngua para outra que lhe é muito vizinha" tanto
filológica quanto geograficamente; neste ú1timo caso ainda, os teÍmos
que se considera como correspondentes, e que têm muitas vezes â
mesma origem ou a mesmâ derivação, são às vezes muito longínquos,
apesar disso, para oferecer quanto ao significado uma eqúvalência
exata. Isto se compreende faciJnrente, porque é evidente que cada língua
deve ser paÍicularmente adaptada à mentalidade do povo que faz uso
de1a, e cada povo tem sua própria mentalidade, mais ou menos
largamente diferente da dos outros; tal diversidade das mentalidades
étnicas é somente muito menor quando se considera povos
pertencentes a uma mesma raça ou que se ligam a uma mesma
civilização.

Neste caso, as carâcterísticas mentais comuns são


seguramente as mais fundamentais, mas as características secundárias
que se sobrepõem podem dar luger a valiações que são ainda muito
39
38
perceptíveis: e, poder-se-ia mesmo se perguntar se, entre os XVII e a dos dias de hoje fomeceria numerosos exemplos.

ináivíduos que falam uma mesma Língua, nos limites de uma nação que
Devemos âcrcscentar que isto é verdadeiro principaLmente
compreende elementos étnicos diversos, o sentido das palawas dessa
para os povos ocidentais, cuja mentalidade, assim como já indicamos
língua não varia mais ou menos de uma região para outra, tanto que a
aÍrteriormente, é extremamente instável e mutável; aliás, há ainda uma
unificação nacional e lingüística é muitas vezes recente e bastante
aÍificiá: não haveria nac'la de sutpreendente, por exemplo, no fato de razão decisiva parâ que um tal inconveniente náo se apresente no
que a língua comum hetdasse em cada província, tanto para o fundo Oriente, ou que pelo menos seja reduzido a seu mínimo estrito: é que
uma demarcação muito nítida lá se estabelece entre as línguas vulgares,
.o-o pu* a fotma, algumas particularidades do antigo dialeto ao qual
ela veio se sobrepor e que ela substituiu mais ou menos completamente'
que variam forçosamente numa ceÍa medida para responder às
necessidades do uso cofente, e as línguas que servem à exposição das
De qualquer maneita. as diferenças de que falamos são naturalmente
muità màis sensíveis de ttm povo para outro: se é possíve1 ter aí doutrinas, Iínguas que são imutavelmente fixas, e cuja destinaçào
protege de todas as variaçÔes contingentes, o que, além do mais,
dilàrentes modos cle se falar utna língua, isto é, no flindo, de pensar
servindo-se desta língua, há seguramente um modo de pensar especial
diminui ainda a importância das considerações cronológicas. Teria sido
possível, até um certo ponto, encontrar qualquer coisa de análogo na
que se exprime nolmalmente em cada língua distintai e a diferença
Europa na época em que o latim era empregado geÍalmente para o
aiinge, de qualquet foma, seu máximo para lírguas muito difeÍentes
ensinamento e para as trocas intelectuais; uma lÍnpua que tem tal
,*ui dut ãutrãs sob todos os aspectos, ou tnesmo para línguas finalidade não pode ser chamada propriamente uma língua morta, mas
aparentadas Íilologicamente, mais adaptadas a mentalidades e a
ela é uma língua fixa, e é precisamente isso o que lhe dá grande
civilizações muito diversas, porque as aproximações filológicas
vantagem, sem falar de sua comodidade para as relações intemacionais,
permitem muito menos seguramente o- estabelecimento de
onde as "línguas auxiliares" artifictais que preconizam os modernos
àquivalências que as aproximaçães mentais. E por essas razões que,
fracassarão sempre fatalmente. Se podemos falar de uma fixidez
como dizíamos desde o início, a tradução mais literal não é sempre a
imutável, sobretudo no Oriente, e para a exposição de doutrinas cuja
mais exata sob o ponto de vista das idéias, bem longe disso, e é
essência é puramente metafísica, é que, com efeito, tais doutrinas nào
também porque o cànhecimento puramente grarnatical de uma língua é
"evoluem" absolutamente no sentido ocidental desta palavra, o que toma
inteiramente insuliciente para dar a sua compreensáo.
pedeitamente inaplicável para elas o emprego de qualquer "mótodo
por conse- histórico"l por mais estranho e incompreensível que isso possa parecer
Quando falamos do afastamento dos povos e.
qüência, de suas línguas, é preciso notar, aliás. que isto pode ser um aos Ocidentais modernos, que gostariam forçosamente de acreditar no
"progresso" em todos os dornínios, é, no entanto, assim que, na falta de
atàstamento no tempo assim como no espaço, de modo que o que
iremos dizer se aplica igualmente ã compreensão das línguas antigas' recoúecê-1o, se condenam a nunca compreender nada do Oriente.
Muito mais, puaá u* mesmo povo, se ocorre que sua mentalidade
As doutrinas metafísicas não tôm nada para mudar no seu
sofra no curso de sua existência notáveis modificaçÕes, não somente
temos novos substituem na sua língua termos antigos, mas também o fundamento nem mesmo o que se aperfeiçoar; elas podem tão somente
sentido dos temos que se mantêm varia coffelativamente às mudanças se desenvolver sob detefminados pontos de vistâ, recebendo expressÕes
mentais, a tal ponto que, numa lrngua que permaneceu quase idêntica que são mais particularmente apropriadas a cada um desses pontos de
na sua lbrma exterior, as mesmas palavras chegam a não responder vista, mas que se mantêm sempre nunl espírito l'igorosanlente
nrais. na realidade, às mesmas concepções, e que seria preciso então, tradicional. Ocorrendo, por exceção. de outrl nlaneirt c prtxluzindo-se
o sentido, uma verdadeira tradução, substituindo um desvio intelectual num meio mlis ott ttlcttos rcstrito.tll desvio, se for
Prrrir lhes restabelecer
no em uso, por verdadeiramente grave, não talda eln ter por collseqiiêrlcia o abandono
Prrllvlrrs que são, entanto, ainda palavras
L r rrrrplclurnente ciiferentes; a comparação da língua francesa do
século da língua tradicional no meio em questão, tlrlde um idioma de origem
4l
40 que ainda têm intérpÍetes autorizados, do que pala aquelas cuja
vulgar a substitui, mâs que adquire, por sua vez' umâ ceúa fixidez expressão escrita ou figurada é a única que chegou até nós. sem ser
relatià, porque a doutrina dissidente tende espontaneamente
â se
acômpanhada da tradição oral extinta há muito tempo. E ainda mais
oo.i"."* cómo tradição independente, se bem que evidentemente
lamentável que os orientalistas sempre tenham teimado em negligenciar,
ã;;p;;tid" à. qrulqu"i autotidade regular' o oriental' mesmo que saia com uma parcialidade talvez involuntária por um 1ado, mas por isso
das'vías normais áe sua intelectualidade, não pode viver
sem uma
o e fazer mesmô mais invencível, esta vantagem que lhes era oferecida, a eles que
,áiçao ." qualquer coisa que lhe tome lugar' tentaremos
se propunham a esÍudal civilizações que ainda existem, com exceção
seguida tuào o que é para ele a tradição sob seus
"oÀp.""nd".- "- das causas profundas de seu daqueles cujas pesquisas tratâm de civilizações desaparecidas. Logo, tal
aiu"i*, urp".,or; Jis aí, aliás. uma a ele como já rndicávamos anteriormente, estes Ílltimos, os egiptólogos e
desorezo peio Ocidental, que se apresenta muito freqiientemente
assiriólogos, por exemplo, eles mesmos poderiâm certamente evitar
como um ser desprovido de qurlquel liame tradicional' muitos enganos se tivessem um cônhecimento mais extenso dâ
se fosse no mentalidade humana e das diversas modalidades da qual ela é suscetível;
Para tomar agora sob um outro ponto de vista' como porém, tal conhecimento só seria precisamente possível pelo estudo
,"u f.op.io princ"ípio, as diÍiculdades que queríamos assinalar
verdadeiro das doutrinas orientais' o que prestaria assim, indiretamente
árp""iul-"nt" ,o prásente capítulo, podetnos dizer que torla expressão pelo menos, imensos serviços a todos os ramos do estudo da Antigriidâde'
áJ rÀ p"ntu."nto qualquér é nãcessariamente imperfeita em si lodavia, mesmo para este objeto que está longe de ser o mais
."r-u, io.qr" limita à resirínge as concepções para poder encerráJas
adequada' impofiante aos nossos olhos, não se devería trancar-se numa erudição
,urnu ioirnu definida que nunca pode ser completamente quó por si mesma só tem um folte interesse medíocre, mas que é sem
tendo a concepção sempre algo mais que sua expressão:. ?
*"t*o
dúrida o único domínio onde se poderia exercer sem muitos
i-"nru."n máis quando se trata de concepções metafísicas' que irconvenientes à atividade daqueles que não querem ou não podem sair
" fazer-a patÍe do inexprimível, já que é de sua essência
ãàr"ã t".p." dos estreitos limites da mentalidade ocidental moderna Eis aí,
**u ." àb.i, pu.u possibilidades ilimitadas' A passagem de uma repetimoJo ainda uma vez, a razão essencial que torna os trabalhos dos
que a primeira' só
lingou puru outra, iorçoiamente bem menos adaptada orientalistas absolutamente insuficientes para permitir a compreensão
p.Jrnor" em suma o aumento dessa imperfeição onginal e inevitável'
'Àus, modo-a concepção em si de alguma idéia, e ao mesmo tempo completamente inúteis, senão
qr,arrdo se chega a captaÍ de qualquer
tanto quanto mesmo nocivos em cefios casos, paÍa uma aproximação intelectual entre o
atravéi de sua expressão primitiva, identificando-se Oriente e o Ocidente.
que a pensaram' é claro
násriuer a mentalidàde daquile ou daqueles
[u. ,. poa" ,"*pr. ."*.diar que,numa larga medida este inconveniente'
iurao-ti" uma interpretação para ser inteligível' deverá ser um
Toda a
comentário muito muis qre uma t.udução literal pura e simples
no fundo, na identificação mental que é
dificuldade real reside ássim,
há, rnuito ceÍamente' alguns que
requerida para alcançar tal resultadoi
sãá compieta-ente inaptos a isso, e se vê o quanto isso também
ê o único
uf*upurtà o alcance doi trabalhos de simples erudição Este-
modà de estudar as doutrinas que pode ser aproveitável; para
é preciso, por assim dizer, estudá-las "de dentro"'
"oÀp.""nae-tut.
os orientalistas sempre se limitaram a considerá-las "de fbra"'
"rqurn,o
( ) gônero de trabâlho de que se trata aqui é relativamente mais fácil
e
pirlir us tkrutrinas que se trânsmitiram regularmente até a nossa época'
43
propõe a estudar. Eis porque, antes de quaiquer outra consideração, é
necessário situar, dentre as diferentes civiiizações orientais, umas em
relação às ouÍras, atendo-nos, aliás, às grandes linhas e às divisões mais
gerais, suficientes peio menos para uma primeira aproximação, já que
nossa intenção não é entrar aqui num exame detalhado de cada uma
dessas civilizações tomada à paÍe.

Nestas condições, podemos dividir o Oriente em três grandes


OS MODOS GERAIS regiões, que designaremos, segundo sua situação geográfica em relação
à Europa, como o Próximo-Oriente, o Oriente Médio e o Extremo-
DO PENSAMENTO ORIENTAL Oriente. O Próximo-Oriente, para nós, compreende todo o conjunto do
mundo muçulmano; o Oriente médio é essencialmente constituído pela
Índia; quanto ao Extremo-Oriente, é o que se designa habitualmente
sob essà nome, isto é, a China e a Indochina. É fácil cte ver, desde a
primeira abordagem, que essas tÍês divisões gerais correspondem bem
às três grandes civilizações completamente distintas e independentes'
que são, senão as únicas que existern em todo o Oriente, pelo menos as
mais importantes; e aquelas cujo domínio é de longe o mais extenso.
No interior de cada uma dessas civilizações, poder-se-ia, aliás, marcar
AS GRANDES DIVISOES DO ORIENTE em seguida subdivisões, oferecendo variações quase qlre da mesma
ordem que aquelas que, na civilização euÍopéia, existem entre países
diferentes; logo, aqui não se poderia indicar a essas stúdivisões limites
como os de nacionalidades, cuja noção mesma coÍresponde a uma
concepção que,em geral, é estranha ao Oriente.

á dissemos que, mesmo que se possa opor a mentalidade O Próximo-Oriente, que começa -nos confins da Europa,
oriental no seu conjunto à mentalidade ocidental, não se estende-se não somente sobre a parte da Àsia que é.a mais vizinha
pode, entretanto, falar de uma civilização oriental como se daquela, mas também, ao mesmo tempo, sobre toda a Africa do Note;
ele compreende, a bem dizer portanto, países que, geograficamente, são
fala de umá civilização ocidental Há várias civilizações orientais
nitidamente distintas, e cada uma possui, como o veremos adiante, um
tão ocidentais como a própria Europa. Mas a civilizaçáo muçulmana,
princípio de unidade que the é próprio, e diferindo essencialmente de em todas as direções que sua expansão tomou, não deixou de guardar as
caÍacterísticas essenciais que ela tem de seu ponto de paftida oriental; e
ut u pu* outra dessas civilizações; porém, por mais diversas que elas
sejam, todas têm, no entanto, alguns traços comuns, principalmente ela imprimiu essas características a povos extremamente diversos,
,ot o urp""to dos modos do pensamento, e eis aí o que permite formando-lhes assim uma mentalidade comum, mas não â Ponto,
precisamánte dizer que existe de um modo geral, uma mentalidade entretanto, de lhes tirar toda originalidade. As populações berbcres da
cspecificamente oriental. África do Norte nunca se confundem com os Árabes que vivem sobre o
mesmo solo, inclusive é fácil distingui-los, não solnente pelos
Quando se quer empreender um estudo qualquer, é sempre
a costumes especiais que elas conserviuam ou pelo seu tipo íísico, mas
prrpírsito, para the colocar uma ordem, começar por estabelecer uma ainda por uma espécie de fisionomia mental que lhes é própria; é bem
clirssilicaçi-ur baseada sobre as divisões naturais do objeto que se
45
44
por esta última só tem representantes hoje em dia entre os Parsis, que
certo, por exemplo, que,o Kabila é muito mais perto do Europeu'
formam agrupamentos pouco numerosos e dispersos, uns na India, em
certos aspectos. do que o Arabe.
Bombaim principalmente, outros no Cáucaso; para nós, bastaria aqui
Não ó menos verdadeiro que a civiüzação da África do Norte' assilalar sua existência. Não resta mais nada a considerar, na segunda
enquantô tem uma unidade, é, não só muçulmana, mas mesmo- árabe
na de nossas grandes divisões, a não ser a civilização propriamente
suá essência; e, aliás, o que se pode denominar gnrpo fuabe é' no indiana, ou mais precisamente hindu, abarcando na sua unidade povos
mundo islâmico, aquele cuja importância é verdadeiramente de raças muito diversas: entre as múltiplas regiões da Índia, e,
primordial, já que é enire eles que o Islã tomou nascimento' e que é sua sobretudo, entre o Norte e o Sul, há diferenças étnicas pelo menos tão
iiogru ptóp.iu'a hngua tradicional de todos os povos muçulmanos' grandes quanto aquelas que se pode encontrar em toda a extensão da
quãl.qu". ôu" sejam .sua origem e sua raça Ao lado desse grupo iírabe' Europa; mas todos esses povos têm, no entanto, uma civilização
grupo comum, e também uma língua tradicional comum, que é o sânscrito.
di.tingoir"rnot dàis outlos principais, que podemos denominar o
não sejam tâlvez Em ceÍas épocas, a civilização da Índia se expandiu para o Leste, e
tur"o ã o grupo persa, se bem que essas denominações
de uma ã*utidáo rigorosa. 0 primeiro desses grupos compteende deixou tÍaços evidentes em certas regiões da Indochina, como a
sobretudo povos de raça mongol. como os Turcos e-os Tártaros; Birmânia, o Sião e o Cambodja, e mesmo em algumas ilhas da Oceania,
seus

traços mentais o diferenciam grandemente dos Arabes' tanto


quanto em Java especialmente. Por outro lado, dessa mesma civilização hindu
."u. ,roço, físicos, mas, tendo pouca originalidade intelectual' ele saiu a civilização búdica, que se expandiu, sob diversas formas, sobre
depende no fundo da intelectualidade iárabe; e aliás, sob o
ponto de uma parte da Ásia central e oriental; mas a questão do Budismo demanda
dois gmpos árabe e turco, a.despeito de âlgumas explicações que daremos mais tarde.
viita religioso mesmo, esses
formam um conjunto único que se
algumas ãiferenças rituais e legais,
portanto' aqui à separaçào mais No que diz respeito à civilização do Extremo-Oriente, que é a
oíô. oo g*po"persa. Chegamos, única na qual todos os representantes pertencem verdadeirâmente a uma
niofunda õu.'exitte no munào muçulmano. separaçâo que se exprime
única raça, e1a é propriamente a civilização chinesa; ela se estende,
comu-.ntà dizendo que os Arabes e os Turcos são "sunitas", ao passo
como dissemos, âté a Indochina, e mais especialmente o Tonquim e o
que os Persas são "s'hiitas"; essas denominações demandariam muito
Anam, mas os habitantes dessas regiões são de raça chinesa, ou bem
bem algumas reservas, mas não vamos entrar aqul nessas
pura ou bem misturada de alguns elementos de origem Malásia, que
considerações.
ião, todaria, longe de ser preponderantes. É o momento de insistir
Em função do que acabamos de dizer, pode-se observar que as sobre o fato de que a língua tradicional inerente a essa civilização é
divisões geográficas não coincidem sempre estritamente com o campo essencialmente a língua chinesa escrita, que não paÍicipa das variaçÕes
da expansão das civilizações correspondentes, mâs somente com o da língua fâlada; trata-se, aliás, de variações tanto no tempo como no
ponto de partida e o centro principal dessas civilizações' Na Índia' espaço. Um Chinês do NoÍe, um Chinês do Sul e um Anamita podem
àlementos^ muçulmanos se encontram um pouco em toda
paÍe' e o não se compÍeender falando, mas o uso dos mesmos caracteres
mesmo ocorre na China; mas não nos preocupamos quando falamos ideogriáficos, com tudo o que implica na realidade, não deixa de
das civilizações desses dois países, porque a civilização islâmica não é 1ã estabelecer entre eles um liame cuja potência é totalmente insuspeita
absolutamente autóctone. Por outro lado, a Pérsia deveria se ligar' dos Europeus.
étnica e mesmo geogÍaficamente, ao que chamamos Oriente médio;
se

não a classificúoÀ aí, é que sua população atual é inteiramente Quanto ao Japão, que deixamos de lado na nossa divisão
geral, ele se liga ao Extremo-Oriente, na medida em que sofreu a
nruçulmana. Nesse Oriente médio, seria necessário considerar' na
influência chinesa, se bem que possua também por sua vez, com o
lcrrlitlatle, duas civilizações distintas, se bem que tendo manifestamente
olnà ê a da Índia, e outra a dos antigos Persas; mas Shintô, rma tradição própria de um caráter muito difeÍente. Caberia
rurrra lirntc
"o*r*,
4'l
4e
puderam se
Dersuntar até que ponto esses divelsos elementos
*Jntei-; despeito da modemização' isto é' em suma r1a
dirigentes; mas'.eis aí CAPÍILTLO tr
ocidentalização, imposta a esse povo por seus
nos deter aqul'
urna que.l.áo muilo paÍicul I pâra que pudessemos
PRINCÍPIOS DE TINIDADE
omitimos' no
De um outro lado. tbi intencionalmente que nos DAS CIVILIZAÇÕES ORIENTAIS
que está' no gntanto' hem
oue orecede. de fulat na civiliz4ao tibetana'
vistâ que nos
i.""'. A" ser negligeneiuvel, robretudo sob o ponto de certos
oú, ntui:. pan-ietrlarmente Essa civilizaçáo' sob aspectos'

poai"ipo ,orin da úldit conlo r'la China' contudo apresentando


mas' como ela é
iuru.,áiui.r. clttc lhc sÍio absolutatrente especiais;que qualquer outra "p
-31 muito dillcil encontrar atualmente um princípio de
áinàu ,""it cotnpletaltrente igntllatla dos Europeus unidar..le na civilização ocidental; poder-se-ia mesmo
Lrtilmente sem entraÍ nos
civilizaçâo otienial. naro se podcria fnlu dela l-J,lizer que sua unidade, sempre repousando naturalmente
clue ficariatn completarrente lbra de
propósito aqui'
á.r"*àtulnl.nu,ri sobre um conjunto de tendências que constituem uma certâ
conta conformidade mental, não é veÍdadeiramente mais que uma simples
Nós só ternos que considerar' Portanto' tendo. em. unidade de fato, que carece de plincípio colno essa mesma civilizaçào
orientais' que
Íestrições que já indicamos, três grandes civilizações
também carece, desde que, na época do Renascimento e da Reforma, se
;;;;-ri;d; ;.pectivamente às três divisões geogr-áticas' indicadas de
Plll fazeL rompeu o liame tradicional de ordem religiosa, que era exatamente o seu
ini.io,'. qr".ao u, civilizações muçulmane' hindu e chinesa princípio essencial, e que fazia dela, na Idade Média, o que se
mais essellcialmente
lo*rr."na"t a, caracten'rdca' que diferenciam \em' denominava "Crjstandade". A intelectualidade ocidental não podia ter ã
toda\ia' enuar em
e.sai civilizaçÕes tlma§ em retaçào às oulri:t:' sua disposição, nos limites em que \e exerce sua atividade
podemos Iazer.e
muitos dos detalhes a esse respeiro' o melhor
que
sobre os quals especificamente restrita. nenhum elemento tradicional de uma outra
expo[ tão nitidamente quanto possivel os princíptos orderl que fosse suscetível de substituir aquele; fora das exceções
repousa a unidade tundamental de cada uma delas'
incapazes de se generalizar nesse meio, entendemos que, naquela época,
um tal elemento não podia ser concebido diferentemente do modo
religioso. Quanto à unidade da raça européia, enquanto raça, ela é, como
já indicamos, muito relativa e bastante fraca para poder servir de base à
unidade de uma civilização.

Seria arriscado, portanto, ter por isso civilizações européias


múltiplas, sem nenhum vínculo efetivo e consciente; e, de fato, é a partir
do momento em que Íbi quebrada a unidade fundamental cla
"Cristandade" que se viu constituir em seu lugar, através dc nrLritas
vicissitudes e esforços incerlos, as unidades secundárias. fragnrentiilirs e
diminuídas das ' nacionalidades". Porém, até no seu clesvio nrenttl, e
como que apesar dele, a Europa conservava o emprcstinro da Írnica
formação que havia recebido no curso dos sóculos anteriores; as
próprias influências que tinham levado ao desvio exer.^eranr-se em toda
49
4B
"reügião", desde que se queira lhe conservir um sentido preciso e
narledemodosemelhante,sebemqueemcliversosgÍaus;oresultado nitidamente definido; mas, no Islamismo, esse lado estritamente
civilização que
f"i uinO, ".^ mentalidade comum' de onde umamas que' em vez religioso só é, na realidade, o aspecto mais exterior; estes são pontos
n"raun".i, conlum, a despeito de todas as divisões' sobre os quais iremos voltar adiante. De qualquer maneira,
fos'e"aliás' ia
ã"'i;;;;;;'l;;';iru,,.n'" cle urn prittcipio' c.ualcyer vu1
"ausência de considerando-se por ora somente o lado exterior, é sobre uma tradição
;;;;i diãnte, poclendo-se diier' a serviço de uma que se pode qualificar de leligiosa que repousa toda a organização do
;;õi";,-". .oná"nurdo-o a umâ decadência intelectual
que este era o ranço clo mundo muçulmano: a religião não é, como na Europa atual, um
inemediável.Pode-se segufâmente sustentar elemento de ordem social, ao contrário ê toda a ordem social que se
x() qtÉl o, *Y1:
,rãrt"tt" lrr^t".'rl etn tlireçito :t^'^1t-^l.1].,1"td""
de desenvolvjmento integra na religião, cuja legislação é inseparável, lã encontrando seu
ã*.i,.iron.t"nr. clescle entito, pol-qLre \e tr3tx de vias princípio e sua razão de ser. Eis aí o que nunca compreenderam bem,
in.Àn.ilifrr"it; mas. clc qualqttet nrotlo' realmente
tbi pagar caro' ao
infelizmente para si mesmos, os Eulopeus que se relacionaram com
nosso ver, por esse progresso tão enilltccido' povos muçulmanos, e tal desconhecimento resultou nos eros mais
n.ite compreender' em grosseiros e mais inextricãveis; porém. não desejamtls nos deter de
Esta aprcciaçio muito suurÍtria pet
nada comparável ao modo algum nestas considerações, só as indicamos en passant . A esse
,,.itrt"ia,., lt-,go,,'antno nào pode haver' no Oliente'
nacionalidade' é em propósito, acrescentaremos somente duas notas que têm seu interesse: a
tlrts
I',"''j" ,t Liu.t ocitlerrtai': é que a apliL açlio pilrclill resullante oa primeira é que a concepção de "Califado", Ítnica base possível de
]u.r. nu,n, cir ilizaçào. o sinal de unlr tlissolttqiiu no Ocidente' qualquer "pan-islamismo" verdadeirân'tente sério, não é a nenhum grau
Mesmo
r,..,,1a do oue constitúia a sua unidade proÍirnda'
mo- assimilável àquela de uma Íbma qudquer de govemo nacional, e que
i".;;;;; i; r.rrcepçào de nacionalidade é algo essencialmente tudo o que já tem, aliás, tudo o que ê preciso para desorientar os Europeus,
;'"t;,';- ,"-ooàãlit .,,to'Irar nacla de análogo em oriundo' habituados a encaraÍ uma separação absoluta, e mesmo uma oposição,
;;i;., À
;;i*",-;;; nas cidades gregas' nem no Império romano'
á*tenrõ"s sucessivas da cidade origiral' ou
nos seus entre o "poder espiritual" e o "pocler temporal"; a segunda é que, para
;iá" nem pretender instaurar diversos "nacionalismos" no Islam, é preciso a
l.,,i.,nnutn"n,o, medievais mais ou menos indiretos' nas
céltica' nem mesmo nos ignorância suficiente de alguns 'Jovens" Muçulmanos. que assim se
ãoni.a?t"ço"t ou ligas de povos ã maneira auto-qualiticam para precisar seu "modemismo", e entre os qrteis o
tipo feudal'
Éri"ã".^"rg-izaaor"l,itt-q'ituln"'lte segundo o ensinamento das Universidades ocidentais tem obliterado
Por outro lado, o que dissetnos da unidade antiga
da completamente o sentido tradicional.
e' aliás'
"Cristindade",unidade de natúeza essencialmente tradicional'
religio-so-quase que Para nós. é preciso ainda, no que se tet'ere ao Islã, insistir aqui
;;;id" segundo um modo especiat que é o modo
muÇulmano Fnlre as sobre um outfo ponto, que é a unidade de sua língua tradicional:
." rrLi.àt i.oncepçio da unidade do mundo
".à* ;;;ao.'a islunica é' com
ti'iti'uçao eleito' a mais dissemos que essa língua é o árabe. mas devemos precisar que é o
.;#;;.J* tanto por suas árabe literal, distinto em cerla medida do árabe vulgar, que é deste uma
pro-i.i a" Ocidente. e poder-se-ia mesmo dizer que'
geográfica' ela e' sob,diversos alteração e, gramaticâlmente, uma simplificação. Há aí uma dit-erença
características como por sua situaçào
assim' I trrdição nos que é um pouco do mesmo gênero que aquela que assinalamos, para it
;;;;, l;.-.diária entre orienie ocidente;
e
;;'aiJ;;À podendo ser encarada sú mas dois modos
o outro' 1T^tt':n'*"nt"
que é o modo
China, entre a língua escrita e a língua falada; só o á'abe literal potle
apresentar toda a fixidez requerida para preencher o papel tic lfuguu
distintos, sendo um puramente odental' Além rlisso' tradicional, enquanto que o áabe vulgar, como qualquer outra lútgua que
r.rlonriatnente religioso, comum à civilização
ocidental
:,'i-il,'r,*'"õÀált;à e lslamismo se qual' apresentâm como os três serve para o uso corrente, sofreu naturalmente ccflils variaçÔes
enfatizan.tos desde iá' segundo as épocas e de acordo com as regiões. Entretanto, essas
:i";,,;;-,,t ,le .,m -"s-o conjunto, fora do o termo variações são longe de ser tão consideráveis corno se crê comumente
l.',,',ii , Aifi.if. na maioria dos casos' aplicar propriamente
51
50
emprego aludimos a propósito da tradição muçulmana, não existe na Índia,
na Eüopa: elas se apóiam sobretudo na pronunciação e.Íro
insuíic;entes para onde não se pode, por conseqüência, fazer com o Ocidente as
de alguns iermos mais ou menos específicos, e sào aproximações que pelo menos o lado exterior do Islã ainda permitiria;
mesmo uma pluralidade de dialetos' porque tocos os homens
só há aqui não há nada mais que seja análogo ao que são as religiões
o"à fufurn o árabe são perfeitamente capazes de se compreender;
"onrti-toit
ocidentais, e aí só pode haver, para sustentar o contrário, observadores
;; ;;", mesmo no qtre se reÍ-ele ao árabe r"ulgar' ur''a única
-1íngua' superficiais, que provam assim sua perfeita ignorância dos modos do
iara" ã"ra" o Marrocos até o Golfb Pérsico, e os chamados dialetos pensamento oriental. Como nos reservamos de tratar especialmente dâ
à.àúr tnuit ou menos variaclos são uma invenção pura e simples dos civilização da lndia, não é útil por ora se delongar sobre tal tema.
n.ierltalista.. Quanto à língua persa, se bem que não seja fundamental
Donto de vista da tl dição muçulmana' seu emprego
nos
oara o A civilízação chinesa é, tal como já indicamos, a única cuja
irraa.oô, escritor relittivos ao "Sufisrno" lhe dá não obstante' como a unidade é essencialmente, na sua natureza profunda, uma unidade de
p*" -rit oriental do Islã' uma irnportânc'ia intelectual incontestável' raçai seu elemento característico, sob tal relação, é o que os Chrneses
é ainda de chamam de gerz , concepção que só pode ser entendida, sem risco de
Se agora passârnos à civilização hindu' sua unidade
com efeito' inexatidão, por "solidariedade de raça". Tal solidariedade, que implica
ordem pura ã exciusivamente traclicional: ela compreende' por sua vez a perpetuidade e a comunidade da existência, identifica-se,
étnicos muito
elementos peÍencentes a raças oll â agrupamentos aiiás, à "idéia de vida", aplicação do princípio metafísico da "causa
átr";;;;, ; que ser todos igualmente chamaclos de "hindus" no sentido inicial" na humanidade existente; e é da transposição desta noçào no
pertencentes a essas
estrito da palavra, exclusão feita a outros elementos domínio social, com a atualização contínua de todas as conseqüências
dentre elas'. Alguns gostariam
a"r*o, .áçua, ou pelo menos a algumas se tunda práticas, que decorre a excepcional estabilidade das instituições chine-
s,do ussim na origem, mas sua opinião,não
;;;;;ili;" pretensa "raça ariana"' sas. E essa mesma concepção que permite compreender que a
,i0.. nuOu a não ser sobre a suposiçào de uma organização social inteira repousa nesse caso sobre a família, protótipo
ãr. e tirrf.t*"nte devida à imaginaçào muito fénil dos orientalistas:
essencial da raça; no Ocidente, poder-se-ia encontrar algo de aná1ogo,
I-"rr* .ãrr.tit. ârya, de onde ti tito' o nome dessa raça hiperbórea que se até certo ponto, na cidade antiga, cuja família fomava também o
fripoie,*u,nunca foi na realj.dade mais que um epíteto distintivo
ãpii* .orn"n," aos homens das três primeiras castas' e isto núcleo inicial, e onde o "culto dos ancestrais" mesmo, como tudo o que
tal ou qual raça' cuia ele implica efetivamente, tinha uma imporlância da qual os modemos
ifi;;rã;;i.."rte do faro de penencerem- a.
o
.
têm uma certâ dificuldade em captar. No entanto, não acreditamos que
;;ã;r" não deve intervir áqui' É verdade que princípio da
permaneceu de ta1 em outro lugar além da China se chegue tâo longe no sentido de uma
instituiçãá das câstas, como muitàs outras coisas' concepção de unidade familiar, que se opõe a qualquer individualismo,
*áãã l'n"o-pt""ndido no ocidente que não há nada de.surpreendente suprimindo, por exemplo, a propriedade individual, e, por conseguinte a
de longe tenha
no fato de qr" t do o que se liga a isso de perto ou herança, e tornando de qualquer modo a vida impossível ao homem
gáruão toau'.tpecie de ionfusÕés; mas voltaremos sobre
tal questão
que, voluntariamente ou não, se encontre privado da comunidade da
numa outra pafte. famflia. Na sociedade chinesa, isto desempenha um papel pelo menos
O que é preciso Íeter por ora é que a unidade hindu repousa tão considerável quanto o da casta na sociedade hindu, e que ê
comparável a esta sob alguns aspectos; mas o seu princípio é
int"i.utrr"ntá sobie o reconhácimento de uma cefta tradição'
que
totalmente diferente. Por outro lado, a paÍe propriamente metafísica da
."""ú ,irA, aqui toda a ordem social, mas aliás a título de simples
porque a tradição é, na China, mais que em qualquer ouÍro lugar, nitidamente
nfll"rçao às contingências; esta ú1úma reserva é necessiária
como era a do separada de todo o resto, isto é, de suas aplicações zr diversas ordens de
rtatliçito de que se trata nao e mais totalmente religiosa
iria.'nuri de o.d.* mais puramente intelectual e essencialmente relatividades; todaüa, é óbvio que tal separação, por mais proflnda que
e interior'à qual possa ser, não chegaria até uma absolutâ descontinuidade, que teria por
,,'.lr,,ii.i.u. Esta espécie de dupla polarização, exterior
efeito pÍivar as formas exteriores da civilização
de qualquer
modemo' onde as
nrln"ioa *ut. Só se vê isto em demasia no Ocidente
irr,1,ritã.r-.r"ii àespojadas de todo valor tradicional' mas trazendo
vestí;i;s do passado, desde então incompreendido' CAPÍTULO M
"-r.i"ã *nr*vezes Jefeito dà uma verdadeira paródia ritual sem a
;;;;;?;;;
'-.noi .urao de ser. e da qual a observância é propriamente uma
;;;;;;Jtçrd , com toda a força que a acepção etimológica rigorosa dá -o QUE É pnBCrSO
a esta palavra ENTENDER PORTRADIÇAO?

que a unidade de
Dissemos sobre isso o bastante para mostrar
é de uma ordem totalmente
audu ur* àr. grandes civilizaçõcs orientais o que antecede, ocolreu-nos frequentemente falal de
princípios
ãià.".i" a, ,,ia"de
-ãif'"rrrom.nte da civiliz.çio uluirl. (lue ela se aÉia sobre tradição, de doutrinas ou de concepções tradicionais, e
ürn ptofundos c indePendentes das contingências mesmo de línguas tradicionais, e é aliás impossível proceder de modo
duração e
il;;d;;, portanto àminentemente irptos x lhes a§seguÍar diferente quando se quer designar o que constitui verdadeiÍamente todo
."",i"ri4"a". As consi<lerações preceàentes se completaráo' aliás' por o essencial do pensamento oriental sob seus diversos modos; porém, o
si mesmas, no que vem a seguir' quanclo tetemos aos exemplos
ocasião de
que é a tradição, mais precisamente? Para afastar uma confusão que
*nil;il õ^ü;* uma das:*tl"^ç::: poderia acontecer, dissemos logo que não tomamos esta palavÍa no
:T,luestão
de nossa expostçao'
para a compreensão
necessários sentido restrito no qual o pensamento religioso do Ocidente opõe às
vezes "tradição" e "escrita", entendendo pelo primeiro desses dois
termos, de um modo exclusivo, o que foi tão somente o objeto de uma
transmissão oral. Para nós, ao contrário, a tradição, numa acepção
muito mais geral, pode ser tanto escrita quanto oral, apesar de que,
habitualmente, senão sempre, e1a deve ter sido antes oral na sua
origem, como já foi explicado; mas, no estado atual das coisas, a parte
escrita e a parte oral formam em qualquer lugar dois ramos
complementares de uma mesma trzrdição, seja ela religiosa ou não, e
não temos nenhuma hesitação ao falar de "escritos tradicionais", o que
seria evidentemente contraditório se não atribuíssemos à palavra
"tradição" sua signiticação rnais especial; de resto, etimologicamente,
a tradição é simplesmente "o que se transmite" de uma maneira ou de
outra.

Além disso, é preciso ainda compreender na tradiçào. a


títu1o de elementos secundários e derivados. mâs nã() menos
importantes para se ter uma noçào completa clela, fodo o conjunto das
instituições de diferentes ordens que teln seu princípio na própria
doutrina tradicional. Assim considerada, a tladição aparentaria se
55
54
soció1ogos' intelectual; mas a intelectualidade pode estar em estado puro, e daí
confundir com a pÍópria civilização que é, segundo certos ficamos diante de uma doutrina propriamente metafísica, ou a
e de crenças-comuns â um
"o conjunto de técnicas, de instituições intelectualidade pode muito bem estar misturada com diversos
de q-ue vale ao
g*po à" homens durante um cefto tempo"(l)l mas
elementos heterogêneos, o que dá nascimento ao modo religioso e a
que
ã"nl última definição? Pala faler a verdade' não acreditamos outros modos dos quais uma doutrina trâdicional pode ser suscetíve1.
"u, numa
a civilização seja suscetível de se caracterizar comumente restrita
ioÃrr" a"tr" gênero' que será sempre ou muito ampla ou muito Como temos dito, no Islã a tradição apresenta dois aspectos
por cefios urp.itor, correndo o risco de excluir dela elementos comuns distintos, dos quais um é religioso, e é este ao qual se liga diretamente
outros-elementos que
ã io<ia civiliiaçao, e de abarcat'em contlapartida o conjunto das instituições sociais, enquanto que o outro é aquele que é
iOiá*"n""* piop.iamente a iLlgunras civilizações particulares Assim' a puramente oriental, verdadeiramente metafísico. Numa certa medida,
intelectual em
ã"iiniçao antàrioi rJerprezt o que hít de essencialmente houve algo desse gênero na Europa da Idade Médra, com a doutrina
poderia.hcluir no
toda civilização. ji'r que se trata de algo que não
se
de práticas escolástica nâ qual a influência árabe se verificou, aliás, fôrtemente;
;;;; de'"ticnicas". tluc se diz serem "conjuntos mas é preciso acrescentar, para não ir muito longe com as analogias.
"h;ú destinaclas a tloclilicrr o nreio físico"i por outÍo lado'
J.re.iul-ente que a metafísica nunca foi tão nitidamente distinta como deveria ter
palavra
;;,'""d; t. ern "crenças", acrescentando-se' aliás' que esta
tlll sido da teologia, isto é, em suma, distinta de sua aplicação específica ao
qualquer coisa que
áeve ser "tornada no seu sentido habitual"' há aí pensamento religioso, e que, por otttt'o lado, o que se encontra de
religioso' o qual é' na
supõe manifestamente a presença do elemento propriamente metafísico não é completo, permanecendo submetido a
e não se reencontra em ou-
a"álidod., específico de cefias civilizações ceftas limitações que parecem inerentes a toda a intelectualidade
desse gênero que nos
i.ur. É pu.á evitar qualquer inconveniente ocidental; sem dúvida, é preciso ver nessas duas imperfeições uma
que uma civilização é o
.onr"*"..t, no iníciá' em dizer simplesmente conseqiiência da dupla herança da mentalidade judaica e da
;;;;; ; ;.p,'"ssão de uma certa mentalidade comum um grupo de
a
mentalidade grega.
para cada caso particular a
homens mais ou menos extenso, reservando
determinação precisa de seus elementos constitutivos' Na Índia, estamos em presença de uma tÍadição puramente
metafísica na sua essência, à qual vêm se acrescentar, como tantas
que.se refere
Apesar disso, não deixa de ser verdade que' no dependências e prolongamentos, diversas aplicações, seja em cerlos
e a civilização por inteiro é'
ao Oriente, a identificação entre a tradição ramos secundários da própria doutrina, como aquele que se hga à
coniunto'
iã f*áo, juttifi.uaa: tóda civilização oriental, tomadâ no seu
cosmologia, por exemplo, seja na ordem social, que é, aliás,
nos aparece como essencralmente tradicional' e isto resulta estritamente determinada pela correspondência analógica estabelecida
i-"aioiurr"rt" aus explicações que demos no capitulo anterior' Quanto
entre as respectivas fbnnas da existência cósmica e da existência hu-
i'"iriiir"ça" ocidenti' disiemos que ela e- ao contrário attpflilldl
mana. 0 que aparece aqui muito mais claramente do que na tradição
ou ouer caráter tradicional. com exceção de
.'eu elemento rellglo5o' o
islâmica, sobretudo em razão da ausência do ponto de vista religioso e
sociais' para
;;iJ;"" conservou tal caráter' É q'e us instituições ligadas'
dos elementos extra-intelectuais que este implica essencialmente, é a
i"à"."it t"t chamadas radicionais' áe'em set efetivamente total subordinação das diversas ordens particulares para com a
ã;;;; seu princípio, a uma doutrina que também o seja' seja esta
metafísica, isto é, ao domfuio dos princípios universais.
qualquer
àoutrlna, aliái, metafísica, religiosa ou de ?:rTa latureza
tradlclonals' que
conveniente. Em outros termos, as instituições Na China, a separação rnuito nítitla de que falamos ntostra de um
civilizaçào' sáo
.;;;;.;;i.;; seu caráter a todo o conjunto de umadependência lado uma tradição metafísica. e, por outro, ulna tracliçiio social, que
mais
.;,,.'ü;; iã* ruu.-ao de ser pro iunda na sua em relaç-âo a uma
podem parecer inicialmente não somente distintas, coltlo o são, com
ou rlcnos direta, mas sempre desejada e consciente' eÍ'eito, mas mesmo relativa mente inclepeudentes utna da outra, mesmo
;i;;,;;,1;;" .,ru n"n."r" fundamental é' em todo caso' de ordem
56
porque a metafísica sempre permaneceu o privilégio quase que
exclusivo de uma elite intelectual, enquanto que a tradição social, em
razão de sua natueza própia, se impõe igualmente a todos e exige ao CAPÍTULO IV
mesmo grau sua participâção efetiva. Todavia, é preciso tomar cuidado
com o fato de que a tradição metafísica, tal como é constituída sob a
forma de "Taoísmo" é o desenvolvimento dos princípios de uma TRADIÇÃO E RELIGIÃO
tradição ainda mais primordial, contida notadamente no Yi-King , e que é
dessa mesma tradição primordial que decorre inteiramente, se bem que
de um modo menos imediâto e somente enquanto aplicação a uma
oÍdem contingente, todo o conjunto de instituições socials arece que ó muito difícil se entender sobre uma definição
habitualmente conhecido sob o nome de "Confucionismo". Assim, exata e rigorosa de religião e seus elementos essenciais,
encontra-se restabelecida, com a ordem de suas relações reais, a e a etimologia, às vezes preciosa em semelhantes
continuidade essencial dos dois aspectos principais da civilização circunstâncias, só nos serve aqú como um fraco recurso, já que a
extremo-oriental, continuidade que coreria o risco de permanecer indicação que ela nos fornece é extremamente vaga. A reügião, segundo
desconhecida quase que inevitavelmente, se não se soubesse remontar a derivação desta palavÍa, é "o que religa"; mas, deve-se entender por
aló sua fonte comum, isto é, até esta tradição primordial, cuja expres- isto o que religa o homem a um princípio superior, ou simplesmente o
são ideográfica, fixada desde a época de Fo-Hi, se manteve intacta por que religa os homens entre si? Considerando a Antigüidade greco-
um período de quase cilqüenta séculos. romana, de onde veio a palavra, ou mesmo o que ela designa hoje, é
quase cerlo que a noção de religião estava presente nesta dupla acepção,
Após esta tomada de conjunto, devemos agora marcar de um e que mesmo a segunda tinha muitas vezes uma parte preponderante lá.
modo mais preciso o que constitui propriamente esta formâ tradicional Com efeito, a religião, ou pelo menos o que se entendia então por esta
especial que chamamos de forma religiosa, depois marcar o que palavra, incorporava-se de uma maneira indissolúvel ao conjunto das
distingue o pensamento metafísico puro do pensamento teológico, isto ó, instituições sociais, cujo reconhecimento dos "deuses da cidade" e cuja
das concepções em modo religioso, e também, por outro lado, o que o obsewação das formas cultuais largamente estabelecidas, constituíam
distingue do pensamento filosófico no sentido ocidental desta palavra. condições fundamentais e garantiam sua estabilidade; isto era, aliás, o
É nessas distinções profundas que encontraremos verdadeiramente, por que dava a essas instituições um caráter verdadeiramente tradicional.
oposição aos principais gêneros de concepções intelectuais, ou antes, Entretanto, havia desde então, pelo menos na ópoca clássica, algo de
semi-intelectuais, habituais ao mundo ocidental, as características incompreendido no próprio prhcípio sobre o qual essa tradição deveria
fundamentais dos modos gerais e essenciais da intelectualidade oriental. se apoiar intelectualmente; pode-se ver aí uma das primeiras
manifestações da inaptidão metafísica comum âos Ocidentais, inaptidão
que tem por conseqüência fatal e constante uma estranha confusão nas
modalidades do pensamento. Entre os Gregos, em particular, os ritos e os
símbolos, herança de tradições mais antigas e já esquecidas, tinham
perdido rapidamente sua significação original precisa; a imaginâção
desse povo eminentemente aflista, exprimindo-se no grau da fantasia
individual de seus poetas, havialhes recoberto de um véu quase
(l)E. DOLIIIE lffique Nord, Intad4ão. impenetrável, e eis porque se vê filósofos como Platão declararem
Magie a retígion úms du
expressamente que não sabem o que pensar dos mais antigos escritos
que eles possuíam em relação à natureza dos deuses ( I ).
59
concorrentemente, mas talvez sem serem muito melhor
compreendidos na sua razão profunda; e esses "deuses da cidade", por
Os símbolos tinham assim degenerado em simpies aiegorias'
causa das sucessivas extensÕes que seu domÍnio recebeu, tomaram-se,
e, devido a uma tendência invencíve1 para as personificações
finalmente, os "deuses do Império". E evidente que um culto como o
átropomórficas, tornâram-se "mitos", quer dizer, fábulas. das
quajs
na medida em que dos lmperadores, por exemplo, só podia ter um alcance estritamente
cada um podia aceitar aquilo que bem lhe aprouvesse,
social; e sabe-se que, se o Cristianismo foi perseguido, enquanto que
." gru.Aà.t" a atitude cãnvencional imposta pelas prescrições legais' Só outros elementos heterogêneos se incorporaram sem inconvenientes à
poúu -.rrno subsistiÍ. nessas condições, um formalismo puramente
àqueles mesmos que religião romana, é que só e1e acarretava, tanto prática quanto
àxterior, já que únha se tomado incompreensível
teoricamente, um desconhecimento formâl dos "deuses do Império",
eram eniarregados de assegurar a sua conservação conforme
regras
profunda' essencialmente subversivo das instituições estabelecidas. Este desco-
invariaveis, e ã religiao, por ter perdido sua razáo de ser mais
nhecimento não teria sido necessário, aliás, se o alcance real dos ritos
não podia ser nu,t, .oit que um negócio exclusivamente social'
Isto
tempo simplesmente sociais tivesse sido nitidamente definido e delimitado; ele o
expiica como o homem que mudava de cidade devia ao mesmo
o menor escúpulo: e1e tinha de foi, ao contrário, em razão das múltiplas confusões que se produziram nos
.,iO- A" religião e podia fazê-lo sem
domínios mais diversos e que, oriundas de elementos incompreendidos
adotal os .tsoÀ- daquel"s entre os quais se estabelecia, a paÍir daí devia
a que esses ritos compoÍavam, denffe os quais alguns remontariam de
àbediên.ia à legisiação deles que se tornava a sua, e, dessa legislação'
rTau iazia pzae integrante, exatamente no mesmo níve1 muito longe, lhe deram um caráter "supersticioso", no sentido rigoroso
ãigiao
"on.tlt em quejá nos ocorreu de empregar esta palavra.
que" as instituiçoes govemamentais, jurídicas, militares ou oÚras
Esta
de ieligiáo como "vínculo social" entre os habitantes de uma
"or""pçao das variedades locais' se sobrepunha aliás Nesta exposíção, não tivemos simplesmente por objetivo
-"r.à "iaua., à [ual, acima comum â todos os povos helênicos' e que mostrar o que era a concepção de religião na civilização greco-românâ,
,*u orou religião-mais geral,
o que poderia parecer um pouco fora de propósito; quisemos, sobretudo,
io.Àuru eles o único vínculo verdadeiramente efetivo e
""*ã "religião de Es-
,"À-"n,", esta concepção, dizíamos, não era aquela de mais fazer compreender como esta concepção difere profundamente daquela
d",iu,"t
entendido muito tarde' mas de religião na civilização ocidental atual, apesar da identidade do termo
iJo;, sentido em qoá itto
"o que serve para designar tanto uma como outra. Poder-se-ia dizer que o
ii"ftu ja relações evidentes, e devia certamente conÚibuir em
"fu "ontigo Cristianismo, ou preferindo-se a tradição judaico-cristã, adotando, com
parte à sua formação ulterior.
a língua latina, a palavra "religião" tomada emprestado, lhe impôs uma
significação quase que inteiramente nova; há, aliás, outros exemplos
Enhe os Romanos' ocoÍreu quase a mesma coisa que entre os
das formas desse iato, e um dos mais notáveis é aquele que a palavra "criação"
Gregos, com a diferença, todavia, que sua incompreensão
dos Etruscos e de diversos povos' oferece, sobre o qual falaremos mais tarde. O que prevalecerá a panir
simüólicus, emprestadas das tradições
que invade todos os domínios de agora é a idéia de ligação com um princípio superior, e não mais a
;;t"h". nào àe uma tendência êstética de vínculo social, que subsiste ainda até um certo ponto, mas
ã" pà"i"r*4. mesmo aqueles que deveriam ser mais fechados a isso' enfraquecida e colocada a um nível de elemento secundiírio. Para falar
peflence à
;;sim de uma compleia incapacidade para tudo o quementalidade a verdade, isto ainda é apenas uma primeira aproximação; para
ãtã"", pr.".*a intelàctual. Està insuficiência radical da
práticas' já é determinar com mais exatidão o sentido de religião na sua concepçâo
."-"r", qr"., que exclusivamente voltada para as coisaspara que fosse atual, que é a írttca que encaramos agora sob este nome, seria
muito viível e, aliás' em geral muito reconhecida
evidentemente inútil ainda se refedr ã etimologia, cujo uso iá está por
,,.."r.,irio insistir nela aqui; a hfluência grega' exeÍcendo-se em demais descaÍtado, e é só pelo exame direto do que el'etivarnente existe
seruidzt. só podia remediar numa medida bem resúta' De
qualquer
que é possível obter uma informação precisa.
cidade" ainda tiveram lá o papel preponderante no
,,,,1 1,,. ur; "detrses da
cLrlto ptihlico, sobreposto aos cultos familiares
que sempÍe subsistiram
61
60
Devemos dizer logo em seguida que a maioria das
definições, ou melhor, dos ensaios de definição que foram propostos, no
É verdade que eles acrescentam imediatamente, para esta
que sã refere à religião, tem por deslize comum o fato de poder se segunda altemativa que nos parece müto bem ser a ceÍta, estâ restrição:
"se se quer considerá-1a como uma função especial"; mas senão há uma
aplicar a coisas extremamente diferentes, das quais algumas não têm
"função especial", não se trata mais de religião. Só que não terminamos
absolutamente nada de religioso na realidade' Assim, há sociólogos que
pretendem, por exemplo, que "o que caracteriza os fenômenos ainda com todas as fantasias dos sociólogos: uma ouka teoria que lhes é cara
consiste em dizer que a religião se caracteriza essencialmente pela pre-
ieligiosos é sua força obrigatória" (2). Seria o momento de notar que
sença de um elemento ritual; dito de outra maneira, em qualquer lugar
esse caráter obrigatório está longe de pertencer no mesmo grau a tudo o
que é iguâlmente religioso, que pode variar de intensidade,. seja para em que se corstata a existência de ritos quaisquer, deve-se concluir,
práticas e crenças diversas no interior de uma mesma religião' seja sem maior exame, que se está por isso mesmo em presença de
-geralmente fenômenos religiosos. Certamente, encontra-se um elemento ritual em
de úma religião parâ outra; mas, mesmo admitindo que tal
qualquer religião, mas esse elemento não é suficiente, só ele, para ca-
ãaráter seja mais ou menos comum a todos os fatos religiosos, ele está
muito longe de ser próprio deles, e a lógica mais elementaÍ ensina que
racterizar a religião como tal: aqui, como há pouco, a definição
proposta é muito mais ampla, visto que há ritos que não são de neúum
uma definição deve convir não somente "a todo o definido", mas
modo religiosos, e há até muitas espécies de ritos.
também "unicamente ao definido". De fato, a obrigação, mais ou msnos
imposta estritamente por uma autoridade ou um poder de uma natureza
de modo quase constante em Em primeiro lugar, existem ritos que têm urna caracteística
-o é um elemento que se encontra
quàqrrer,
propriamente ditas; em pura e exclusivamente social, civil preferindo-se: este caso deveria se
tudo que se refere às instituições sociais
como mais rigorosamente obrigatório encontrar na civilização greco-romana, se as confusões de que falamos
particular, há algo que se coloque
do que a legalidade?
nãô tivessem então oconido; isto existe atualmente na civi'lizaçáo
chinesa, onde não reina confusão do mesmo gênero e onde as

Aliás, que a legislação se ligue diretamente à religião como no cerimônias do Confucionismo são efeúvamente ritos sociais, sem o
mínimo caráter religioso: é só a este título que eles constituem objeto de
Islã, ou que seja, ao contrálio, inte amente sepamda e independente, como
nos Esados europeus atuais, ela tem este caráter obrigatório tanto num
um reconhecimento oficial que, na China, seria hconcebível em
qualquer outra condição. E o que os Jesuítas estabelecidos na China, no
caso como no outro, e e1a o tem sempre necessariamente, porque esta é
século XVII, tinham compreendido muito bem, considerando muito
uma condição de possibiüdade para qualquer forma de organização
natural parficipar dessas cerimônias e não vendo nada de incomparável
social; queq então, ousaria sustentar seriamente que as instituições
juídicas da Europa modema são revestidas de um caráter reügioso? com o Cristianismo, no que eles tinham muita ruzão, jâ que o
"Uma Confucionismo, ao se colocar inteiramente fora do domínio religioso, e
tal suposição é manifestamente ndícula, e, se nos demoramos nisso
só fazendo intervir o que pode e deve normalmente ser admitido para
um pouco mais do que conviria talvez, é porque se trata aqui de teorias
todos os membros do corpo social sem nenhuma distilção, é desde
queàdquiriram, em certos meios, uma influência tão considerável como
então perfeitamente conciliável com qualquer religião, bem como com
pouco justifrcada. Para finalizar sobre este ponto, não é somente nas
a ausôncia desta. Os sociólogos contemporâneos cometem exatamente o
iociedades que se convencionou chamar de "primitivas", eÍoneamente a
mesmo eqúvoco que outrora cometeram os adversários dos Jesuítas,
nosso ver, que "todos os fenômenos sociais têm o mesmo caráter
quando os acusaram de se submeter às práticas de uma religião
coercitivo" a um ôu outro gÍau, constatação que obriga nossos
"primitivas", as quais estranha ao Cristianismo: tendo visto que lá havia ritos, tinham pensado
sociólogos, falando dessas sociedades chamadas
muito naturalmente que esses ritos deviam ser de natureza religiosa,
tlutnto mais eles adoram invocar o testemunho, mais difícil ó o seu
como aqueles que estavam habituados a encarar no meio europeu.
!'outr'ole, a confessar que "a religião é tudo, a menos que se prefira dizer
quc cla niro é nada"(3)!
63
62 ulra tradição de ordem puramente
equivâ1ente mais ou menos exato de
A civilização extremo-oriental nos servirá ainda de ao Confucionismo. Os Europeus estariam muito
social, comparada
exemplo pa.u ua ontró gênero de ritos não religiosos: com efeito' o equivocados ao taxaÍ tal atitude de hipocrisia, como lhes c:corre fazet;
metafísica'
í;;ír;;",'qr" é, já o disiemos, uma doutrina puramenteque. existem para o Chinês, trata-se apenas de uma simples questão de polidez,
.r.,ssui tam-bém càrtos ntos que lhe são próprios; é assim porque, segundo a idéia que ele faz disso, a polidez pede que se esteja
por
ii.;;J,ê- ,* caráter e um alcance essencialmente metafísicos' ocidentais' conforme, tanto quanto possível, aos coshlmes do país em que se üv4 e
#; Ht-,ui;"; i".orir".nti'"1 qtte isto possa paÍecer aossimplesmente os Jesuítas do século XVII estavam em conformidade com esta de
í"- q*.". insistir niito mais pot ora, ac{escentaremos
tais ritos poderiam modo estrito, quando, vivendo na China, ocupavam uma posiçào na
que, não inao tão longe quanto à China ou à Índia' hierarquia oficial dos letrados e rendiam aos Ancestrais e aos Sábios as
Islã' este não permanecesse
ser encontrados em cel'tos ramos do se
honras rituais que lhes são devidas.
parte por sua própria cüpa'
ôuase tão fechado aos Eutopeu". ctn grande
podem ser
qurnto todo o resto do Oriente' Contudo' os sociólogos
Na mesma ordem de idéias, um outro fato interessante a notar é
áesculpados por se enganarem sobre coisas
que thes são
que, no Japão, o Xintoísmo teÍrL numâ certâ medida, o mesmo caráter e
comolátamente estranhas; aparentândo alguma
razão' eles poderiam
papel que o Confucionismo na China; se bem que tenha também outros
.ã."ã-". ar" ,"a; rito e de Éssência religiosa' se pelo menos o mundo aspectos menos nitidamente definidos, ele é, por excelência, uma
ainda thes
."iã"rür.'t"u* o qurl deveriam ser tnelhor informados' permitiríamos de instituição cerimonial do Estado, e seus funcioniários, que não são em
;iãr;nã;." ,orn"nt" "oi,u, semelhantes; mas' nos
cuja absoluto "sacerdotes", são inteiramente livres para adotar a religião que
bom grado lhes per$rntar se' por eremplo' os rito-s- maç-ônicos'
pesqulsar aqut' possuem' lhes apraz ou não adotar nenhuma. Já ocorreu de termos lido a esse
verdaãeira natureza não pretendemos, aliás' respeito, num manual de história das reiigiões, esta reflexão singular
p-qre são áe fato ritos, um caráter religioso a qualquer segundo a quâl "tanto no Japão como na China, a fé nas doutrinas de
".rr"t""*
grau que seja. uma religião não exclui nem um pouco a fé nas doutrinas de uma outra
religião" (4); na realidade, doutrilas difeÍentes só podem ser
Enquanto peÍÍnanecemos sobÍe este tema' aproveitaremos compaúveis com a condição de não se colocatem no mesmo teÍeno, o que
ainda para assinalar-que a ausôncia total do
ponto de vista religioso
que é' no entanto',o é, com efeito, o caso, e isto deveria ser suficiente para provar que aqui
á* cnn"."s permitiu um outro equívoco'
não pode se tratar de nenhum modo de religião. Com efeito, fora do
"ni."
inverso do precedente, e que é devido, desta vez' a uma mcompreensao
caso das impoÍações estÍanhas, que não puderam ter uma inÍluência tão
o maior respeito por tudo o
reciproca. õ Cirirra., que tem por natureza profunda nem tão extensa, o ponto de vista religioso é desconhecido
grado' quando se encontraÍ
qu"'J a" ota.. tradicional, adotará de bom tanto aos Japoneses como aos Chineses; este é mesmo um dos raros
no Ocidente'
J* orrt o rn.io, o que lhe parecerá constituir a tadição; ora'
traços comuns que se pôde observar na mentalidade de ambos os povos.
poderá adotá-la assim'
onde só a religião apresenta um tal câÍáter' ele
mas de um moão totàlmente superficiai e
passageiro' Até aqui, só tratamos em suma de um modo negativo da
questão já colocada, visto que mostramos sobretudo a insuficiência de
de
Voltando ao seu país de origem, que ele nunca abandonou ceÍas definições, insuficiência que chega até a provocar sua falsidade;
da raça" é muito mais forte
um modo definitivo, porque a "solidariedade devemos agora indicar, senão uma definição propriâmente, pelo menos
Chinês não terá a menoÍ preocupação
fara the permitir isso, essã mesmo uma concepção positiva do que constitui verdadeilamente a religião.
iorn u .àtigiao cujos costumes ele tinha temporariamente seguido;
é
Diremos que a religião compofta essencialmente a leunião de três
nunca a
oue essa ÃHeiao, qua é assim para os outros' ele mesmo elementos de ordens diversas: um dogma, unu moral, um culto; toda
.,;;..b;; ern" moaó reügioso, sendo este modo estranho
à sua vez em que algum desses elementos venha a faltar, nãto se tratará mais
que tenha um
rrcrttalitlade, e, aliás, como nada encontrou no Ocidente de religião no sentido próprio desta palavra. Acrescentaremos em
.,u,ii.t r-rr-r pouco metafísico, só a religião podia ser aos seus olhos
o
65
64
social e sentirnental sobrepuja o elemento intelectual. a pafle do
seguida que o pdmeiroelemento forma a pafie intelectuat da
que,é-o dogma e a do culto se reduzam simultaneamente cada vez n.tais, de
,.tigi'ao, qr.'o ,"grndo tb.ro sua parte social' e que o terceiro' modo que uma tal religião tenda a degenerar num "molalismo" puro e
mas rsto exlge
eleÃento ritual, participa tanto de um como de outrol simples, como se pode constat por um exemplo muito nítido no caso
algumas explicaçÔes. do Protestantismo; no limite que quase atingiu atualmente um cefio
propliamente a uma doutrina "Protestantismo liberal", o qlle resta não é mais un.ra religião,
O termo tlogma iplica-se guardando só uma das pafies essenciais, mas é simplesmente uma
de un.ta
religiosa; sem nos de1õr PoÍ orlt niis caractcrísticas específicas
intelectual' espécie de pensamento filosófico especial. Importa precisar, com
ial ãout.il,u. potlenlos diicr qtrc. se bem clue evidentet.nelte
,o qu" ,"rl'tle nlitis l.rtoliintk). ela não é, no entanto' de ordem cfeito, que a moral pode ser concebida cle dois modos muito
clit'erenciarlos: seja em rlodo religioso, quanclo é ligada em princípio a
Duramcnlc ittlele.ttt;rt: .. lrlil'rs. ',. rr..itlt li':'c. elr 'eriu metll'í'icr
e nào
pitla tomar a foma pafiicular que um dogma ao qual se subordina, seja em moclo tilosófico, quando é
i.iigior.. É ptetit,,. p,,rlirrrt.. tlLlc.
a influência encarada como indepenciente; voltaremos mais adiante a esta segunda
.o,ri,er., u sett pontri (lc vistil. csta dolrtrina sofra de

elementtls cx trll- illle lcctllilis. c;rtc sito' tta sua n]aioria' de ordem Íbrma,
(ltle serve comumente para
sentimentali a pr(pril palavra "crenças"' Pode-se compreender agora porque dissemos antes que é difícil
que é
á",rifnrt t,t ...r,r..pções icligiosas. tlarcit ttlttito bem esse caráter' iá aplicar rigorosamente o termo leligião fora clo conjunto formado pelo
na sua
unrti obrervaçat, psicológica elernentiu' que a crença' entendida
Judaísmo, Cristianismo e [slamismo, o clue confilma a proveniência
,."pçi,o n uis precisa, e-enquanto se opõe ceneza que é totalmente especificamente judaica da concepçzro que ósta palavra expri:re hoje. É
i,*f uf , constitui um ienômeno no
'iqttal a sentitr.tentalidade
".n de inclinação ou de que, em qualquer lugar, as tÉs partes que acabalnos de caracterizar nào
à.,i"*p"rfu um papel essencial, uma espécie
se encontram reunidas nunra meslra concepção tradicional; assim,
necessariatrente que esta
simpatia para u*u iOeiu, o que. aliás, supõe
encontramos na China o porto de vista inteleciual e o ponto de vista
idéia é em si concebida com tlma nllance sentimental mais ou menos
social. aliás. representâdos por dois cotpos de tradição distintos, mas o
pronunciacia mesmo fator sentimental, secundário na doutrina'
torna-se
moral' cuiii ponto de vista moral é totiúmerlte ausente. mesmo na tradição social.
preponderante, e mest.no qllase que exclusivo, -na
Na Ínclia, igualmente. é esse mesmo ponto de vista moral que está
ãep.naenciu de plincípio em relação ao dogma é.uma afirmaçào alrsente: se a legislação não é religiosa corlo no Islã, é porque ela é
soüretuclo teórica: essa moral, cu.ja razão de ser só
pode ser puramente
espécie de legislação' a únicr que inteiramente desproYida do elernento sentimental que, só ele, pode lhe
social, poderia ser encarada como uma
imprimir o car,lter especial de moralidade; quanto à doutrina, ela é
p".ru*." no campo da religião. lá onde as instituições civis :ào
constitui o cr'tlto' têm um puramente intelectual, isto é, metafísica. sem nenhum traço mais da
inclependentes. Enfim, os ritos. cujo cotljunto-
como uma expressitr forma sentimentat que seria necessário p:u'a lhe dar o caráter de um
caráter iritelectual desde que sejam encarados dogma religioso, e sem o qual a ligação de uma moral a um princípio
clue sejrm
simbólica e sensível da cloutrina. e um caráter social desde
pode mris ou rloutrinal é aliás contpletamente inconcebÍvel. Pode-se dizer que o
.,,c*aclo. como "práticas", exiginclo de um lnodo que seL
ponto de vista morírl e o ponto de vista religioso nrest.t.lo snpóem
conlLtniclade
menos obrigatórió a parlicipação de todos os membros cla
essenci,úmente umil certa sentimentalidade, que é. con eteito,
religiosa. desenvolvicla sobretuclo entle os Ocidentais, em detrimento da
reseLvado aos ritos intelectualidade. Há aí, ponanto, algo de verdadeiramcnte especial aos
O termo culto cleveria propriamente set
Ocidentais, aos quais seria preciso acrescentaÍ aqui os Mrrçulmanos, mas
rcligiosos; no entanto, de fato, ele é empregado tamtrérr corretamente'
ainda sem mesrno falar do aspecto extra-religioso cla doutrina destes
,,,,,s ,1" u,r, moclo um tanto abusivo, para designar outÍos ritos'
ritos
por exemplo' como quanclo se tala do "culto dos úrltimos, com a grande difercnça que. para estes' a moral, mantida a seu
t,urirrrentc sttciais
nível secunclário, nunca lbi encarada como existindo por si mesma; a
.rrr. t ''trlrrr" nit China. E no tável que. numa Ieligião onde o elemento
6'7
66
gundo o caso, seja num Galicismo à maneira de Lúz XIV, seja no
mentalidade muçulmanâ não poderia admitir a idéia de uma "moral
entre Angiicanismo ou em ceÍas formas da religião protestaflte, ã qual este
independente", isto é, Íilosófica, idéia que se encontrava outrora
os Giegos e os Romanos, e que é de novo muito difundida no Ocidente rebaixamento, em geral, não parece repugnar. Para terminar,
acrescentamos que, desses dois modôs ocidentais de encarar a religião, o
na época atual.
primeiro é o único capaz de apresentar, com as particularidades
Uma última observação é indispensável aqú: não admitimos de próprias ao modo religioso, as características de uma verdadeira tra-
lodo, como os sociólogos de que falamos há pouco, que a religião seja dição, tal como a mentalidade oriental, sem nenhuma exceção, a
purae simplesmente um fâto social; dissemos somente que ela tem um concebe.
social, o que, evidentemente' não
à1"-"nto constitutivo que é de ordem
é bem a mesma coiia, visto que esse elemento é normalmente
secundário em rclaçãô à doutrina, de uma ordem muito diferente,
de
modo que a religião, sendo social por um lado, é' ao mesmo tempo' Notas:
dgo mái.. Aliás,-há casos, de fato, em que tudo o que é da- ordem social
sJacha tiga<to e como que suspenso à religião; é o caso do Islamismo' (1) 'LÊis",Li\4oX
qual a
como já tiivemos ocasião de assinalar, e tambór.n do Judaísmo, no
legisláção não é menos essencialmente religiosa, mas com esta (2) E. DIIRKHEIM , De la défnilon des pla4rumànzs rcligieur
piti".rí*idua" d" ,ó ser aplicável a um povo determinado; é igualmente o
caso de umu concepção do Cristianismo que poderíamos chamar de (3) E. lfilTTÉ, Mdgie et religiow dau t'§rirye du Nonl, krr'Ãrçáo, p.7 .

'integrâI" e que já ieve em outros tempos uma realizaçáo, efetiva' A


opináo socioiógica só corresponde mesmo ao estado atual da Europa' e @) Chn*us. cap. V, p. 193.
ainda farendo a-bstraçao das considerações doutrinais que, no entanto, só
perderam rcalmente sua impoÍância primordial entre os povos
poderia servir para justificar a
;roEstantes; coisa muito curiosa, e1a que, no
concepção de uma "religião de Estado', isto é, de uma religião
fundo, 3 mais ou menos completamente o objeto do Estado e que, como
tal. se arrisca muito a ser reduzida a um papel de instrumento político,
concepção que, sob certos aspectos, nos leva àquela da religião greco-
romanà, tal como indicamos mais acima. Esta idéia apaÍece como
diametralmente oposta aquela de "Cristandade": esta, ânterior às
nacionalidades, sà poderia subsistir ou se restabelecer após sua
constituição com a cóndição de ser essencialmente "supranacional"; ao
contrário, a "religião de Estado" é sempre encarada de fato, senão em
direito, como nacional, seja ela inleiramente independente, seja
admitindo uma ligação com outras instituições similares por uma
espécie de liame federativo, que em todo caso deixa apenas à autoridade
superior e central uma potência consideravelmente enfraquecida' A
pinreira dessas duâs concepções, a da "Cristandade", ê eminentemente a
ilc unra "Catolicismo", nJ senúdo etimológico da palavra; a segunda, a
tlc urra "rcligião de Estado", encontra logicamente sua expressão, se-
69
6B
aqui por "física", como os antigos sempre faziam, o conjunto de todas
CAPÍTULO V
as ciências da natureza, encarado de um modo completamente geral,
e não simplesmente como uma dessas ciências em panicular, segundo a
CARACTEÚSTICAS ES S ENCIAIS acepção restrita que é própria dos modemos. É portanto com esta
DA METAFISICA interpretação que tomamoso termo metafísica, e deve ser bem
entendido de uma vez por todas que, se nós o empregamos, é
unicamente em razão do que acabamos de indicar e porque estimamos
que é sempre deplorável recorrer a neologismos fora daqueles casos
de absollrta necessidade.
nquanh quc oponto de vista religioso implica
essencialmente a intervenção de um elemento de Diremos agora que, assim compreendida, a metafísica é
orclem sentimental, o ponto de vista metafísico é essencialmente o conhecimento do universal, ou, se quisermos, dos
exclusivarnente intelectual: se benl que tendo para nós uma princípios de ordem universal, aos quais somente convém
significação muito níticla, isto poderia purecer para muitos apenas propriamente o nome de princípios; mas não queremos com isso dar
uÃa caracterização insuliciente deste último ponto de vista'
pouco verdadeiramente uma definição de metafísica, o que é a rigor
familiar aos Ocidentaís, se não tivéssemos o cuidado de dar aqui outras impossível, em razão dessa universalidade mesma que encaramos
no
Drecisoes. A ciência e a filosofia, com efeito, tais como existem como a primeira de suas características, aquela da qual derivam todas
mundo ocidental, Ém rambém preten!Ôes à intelectualidadel se não as outras. Na realidade, só o que é limitado pode ser definido, e a
admitimos de modo algum que essas pretensões sejam metafísica é, ao contrário, na sua própria essência, absolutamente ili-
fundamentadas, e se mantemos que há uma diferença das mais mitada, o que, com evidência, não nos permite encerrar a noção
piofundas entÍe todas as especulações desse gênero e a metafísica' é numa fórmula mais ou menos estreita; uma definição se ria aqui tanto
'poaqu"
u intelectualidade pura, no sentido em que a consideramos é mais exata na medida em que se esforçasse em tomá-la mais precisa.
;go U"t" diferente do que se entende comumente por isso e de um
modo mais ou menos vago. Importa notaÍ que dissemos conhecimento e não ciência:
nossa intenção nisto é marcar a distinção profunda que é preciso
lnicialmente, devemos declarar que, quando empregamos o necessariamente estabelecer entre a metafísica, de um lado, e, de
termo "metafísica" como o fazemos, pouco nos importa sua origem outro, as divelsas ciências no sentido próprio desta palavra, isto é,
histórica, que é um pouco duvidosa e que seria puramente torturta' se todas as ciências particulares e especializadas, que têm por objeto tal
fosse necessário admitir a opinião, aliás, muito pouco verossímil
aos ou qual aspecto determinado das coisas indiüduais. Eis aí, no fundo, a
nossos olhos, segundo a qual ele teria servido de início para designar distinção mesma entre universal e individual, distinção que não deve
simplesmente o-que vinha "após a física" na coleção das obras
de ser tomada como uma oposição, porque não há entre ambos os
Arisiótelet. Não iemos mais que nos preocupar com as acepções termos nenhuma medida comum nem qualquer relação de simetria
diversas e mais ou menos abusivas que alguns
julgalam por bem ou de coordenação possível. Aliás, não poderia haver oposição ou
atribuir a essa palavra numa ou noutra época; esses não são motivos em conflito de qualquer espécie entre a metafísica e as ciências,
tbsoluto suficientes para que a abandonemos, já que' 1al como é, ela ê precisamente porque seus respectivos dotnínios são profundamente
nruito bem apropriada ao que deve normalmente designar, na medida separados; e ocoÍTe exatamenle da mestna maneira, de reslo, em
r l (llrc um termo emprestado de línguas ocidentais pode sô-1o Com relaçào à religião. E preciso compreender bem c1ue, todavia, a
e lt'itr'r. scu sentido mais natural, mesmo etimologicamente,
é aqrtele separação de que se trata não se ref'ere tanto às coisas em si, mas aos
scpLrrtto o qual desigaa o que é "alóm da física"' entendendo, aliás' pontos de vista sob os quais encaramos as coisas; isto é
'71
70
às influências dos tempos e dos lugares; o contingente, o acidental, o
pafticulâÍnente impôrtante parâ o que iremos dizer em especial
variável, pertencentes propriamente ao domínio do individual, são
sobre o modo pelo qual devem ser concebidas as relações que es
mesmo caracteísticas que condicionam de modo necessiário as coisas
difeÍentes ramificaçoei da doutrina hindu têm entre si. É fácil dar-se
individuais como tâis, ou, para falar de maneira ainda mais rigorosa, o
conta de que um mesmo objeto pode ser estudado por diversas ciências
aspecto individual das coisas com suas múltiplas modalidades.
sob dilêrentes aspectos; da mesma maneira, tudo o que consideramos
e
específicos pode ser Portantô, quando se trata de metafísica, o que pode mudar com os
sob certos pontos de vista individuais
tempos e os lugares são somente os modos de exposição, ou seja. as
igualmente considerado, pâra uma tlansposição conveniente, sob o
formas mais ou menos exteriores com as quais a metafísica pode ser
pãnto de vista universal que não é. aliás, nenhum ponto de vista
revestida e que são suscetíveis de diversas adaptâções, e é também,
àspecial, bem como pode também sê-lo aquilo que não é suscetível
evidentemente, o estado de conhecimento ou de ignorância dos
de ser encarado por outro lado em modo individual Desta forma,
homens, ou pelo menos da generalidade dentre eles, em relação à
pode-se dizer qué o domínio cla metafísica compreende tudo o que é
necessárío paraque ela seja verdetdeilamente Llniversal, como ela deve
metafísica verdadeira; mas, no fundo, esta sempre pennanece
perfeitamente idêntica a si mesma, porque seu objeto é essencialmente
ser essenciilmente; e os domínios próprios das diferentes ciências
uno, ou mais exatamente "sem dualidade", como dizem os Hindus, e
não permanecem menos distintos por isso daquele da metafísica'
porqu" não se colocando no mesmo terreno que as ciências tal objeto, sempre porque está "além da natureza", está também além
"rtu,
particulares, não é a nenhum grau o seu irnálogo, de tal modo que da mudança: é o que os Arabes exprimem dizendo que "a doutrina da
I Inidade é única".
nunca pode vir a se estabelecer qualquer comparação entre os
resultados de uma e os das outras.
Indo ainda mais longe na ordem das conseqüências, podemos
acrescentar que não há em absoluto descobertas possíveis em
Por um ouÍo lado, o domínio da metafísica não é de manefua
metafísica, já que, desde que se trata de um modo de conhecimento que
alguma, como pensam certos filósofos que quase não súem do que
não recorre ao emprego de qualquer meio especial e exterior de
se-trata aqú, o que as diversas ciências podem excluir de si, porque seu
investigação, tudo o que é suscetível de ser conhecido pode sê-1o
desenvolümento anral é mais ou menos incompleto, mas antes o que'
igualmente para certos homens em todas as épocas; e é isso mesmo,
por sua própria natureza, escapa ã alçada dessas ciências e ultrapassa
efetivamente, que sobressai de um exame profundo das doutrinas
i*"nru-"ni" o alcance que elas podem legitimamente pretender' O metaffsicas tradicionais. Aliás, mesmo que se admitisse que as idéias de
domínio de qualquer ciência depende sempre da experiênci4 em
evolução e de progresso poderiam ter um cefio valor relativo em
qualquer umJ de suas diversas modalidades, enquanto que o da
essencialmente constituído por algo do qual não há
biologia e em sociologia, o que está bem longe de ser provado, não
rnetafísica é
deixaria de estar certo que elas não têm nenhuma aplicação possível em
nenhuma experiência possível: sendo "além da física", encontramo-nos
relação à metafísica; logo, essas idéias são completamente estraÍúas aos
também, e por isso mesmo, além da experiência. Por conseqüência, o
domínio de cada ciência particular pode-se estender indefinidamente'
Orientais, como foram inclusive, ató o fim do século XVIII
aproximadamente, para os próprios Ocidentais, que hoje acreditam que
se é suscetível disso, sem nunca mesmo chegar a ter o mínimo ponto
elas constituem elementos essenciais ao espírito humano. Isto implica,
de contato com o domínio da metafísica.
notemos bem, a condenação fo[mal de qualquer tentativa de aplicação
A conseqüência imediata do que antecede é que, quando se fala do "método histórico" ao que é de ordem metafísica; com efeito, o ponto
tlo objeto da metafísica, não se deve ter em vista algo mais ou menos de vista metafísico opõe-se radicalmente ao ponto de vista histórico,
,rniiloio ao que pode ser o objeto especial de tal óu qual ciência É ou o assim suposto, e é preciso ver nesta oposição não somente uma
tarnbórn porque esse objeto deve permanecer sempre absolutamente o questão de método, mas também, e sobretudo, o que é mais grave,
rrrsnlo! que ele não pode ser a nenhum grau algo mutável e submisso uma verdadeira questão de plincípio, potque o ponto de vista
'73
'72
medida precisamente, as imperfeições fatais da expressão formal e
metafísico, na sua imutabilidade essencial, é a própria negação das
que a meta limitâda; é, aliás, evidente que essas imperfeições atingirão seu máximo
idéias de evolução e pÍo$esso; assim' poder-se-ia dizer
há como daÍ conta quando a expressão deverá se processar em línguas que, como as
fÍsica só pode sãr estuãada metafisicamente. Não se
línguas européias, sobretudo modernas, parecem tão pouco adequadas
aqui da; contingências, tais como as fufluências individuais que'
à exposição de verdades metafísicas. Como dissemos mais acima,
rigorosamente, não existem a esse respeito e não podem se exercer
justamente a propósito das dificuldades de trâdução e de adaptação, a
solre a doutrina, pois que esta, sendo de ordem universal, portanto
ação; metafísica, porque se abre sobre possibilidades ilimitadas, deve
essencialmente supra-indi vidual, escapa de modo necessário à sua
e de lugares só podem influir' sempÍe reservar a parte do inexprimível, que, no fundo, é mesmo para
mesmo as circunstâncias de tempo
ela todo o essencial.
insistimos nisso ainda, sobre a exprcssão exterior, e de neúum
modo
sobre a essência mesma da doutrina; enfim, em metafísica, não se trata'
como na ordem do relativo e do contingente, de "crenças" ou de Esse conhecimento de ordem universal deve estar a1ém de
"opiniões" mais ou menos variáveis e rnutáveis, já que estas são mais todas as distinções que condicionam o coúecimento das coisas
oJmeros duvidosas, mas exclusivamente de uma certeza permanentê e indiüduais, e das quais a distinção entre sujeito e objeto é o tipo geral e
imutáve1. fundamental; isto mostra ainda que o objeto da metafísica não é em
nada comparável ao objeto especial de não impoÍa qual outro gênero
de coúecimento, e que ele não pode mesmo ser chamado de objeto,
Com efeito, pelo fato mesmo que a metafísica não participa de a não ser num sentido puramente analógico, porque, para poder se
maneira alguma du ràhtividade das ciências, ela deve implicar a
certeza falar nele, é preciso lhe atribuir uma denominação qualquer.
primeiro lugar poÍ seu
absoluta como caracteística intrínseca, e isto em
objeto, mas também por seu método, se tÔdavia tal palavra ainda pode- Da mesma maneira, querendo-se falar do meio do
que se conhecimenÍo metafísico, tal meio só poderá constituir um com o pró-
se aplicar aqui, sem o que esse método, ou qualqüeÍ outro nome
queira dar á isso, não ieria adequado ao objeto A -metafísica exclui' prio coúecimento, no qual sujeito e objeto são essencialmente
portanto, necessuriamente qualquer concepção de caráter hipotético' de unificados; isto mostra que esse meio, se todavia é permitido chamá-
ànde resulta que as verdades metafísicas, em si mesmas, não
poderiam lo assim, não pode ser nada semelhante com o exercício de uma
de nenhum modo ser contestáveis: por decon€ncia, só podem faculdade discursiva como a razão humana indiüdual. Trata-se, já
eventualmente ocorrer discussões e controvérsias pelo efeito de uma dissemos, da ordem supra-individual e, por conseqüência, supra-
exposição defeituosa ou de uma compreensão imperfrita dessas verda- racional, o que não quer dizer de nenhum modo irracional: a
aei. Áia., qualquer exposição possível é aqui necessariamente metafísica não poderia ser contráriâ ã razão, mas ela está acima da
defeituosa, poÍque as concepções metafísicas, por sua nâtureza raz.ão, qtJe só pode intervir nesta de um modo totalmente seeundário
universal, mrncisão totalmente exprimíveis, nem mesmo imagináveis, para a formulação e â expressão exterior dessas verdades que ul-
náo podendo ser atingidas na sua essência a não ser pela inteligência trapassam seu domínio e alcance.
pura e "informal"; elàs ultrapassam imensamente todas as formas As verdades metafísicas somente podem ser concebidas por
possíveis, e especialmente as fórmulas nas quais a linguagem gostaria de uma faculdade que não pertence mais à ordem individual e que pode ser
àncerrálas, fóimulas sempre inadequâdas que tendem a restrilgi-las, e qualificada de intuitiva pelo caráter imediato de sua opôração, mas,
por isso mesmo a desnaturá-las. Tais fórmulas, como todos os bem entendido, com a condição de obserryar que ela não tem
ií'rbolot, só podem servir de ponto de partida, de "suporte".por assim absolutamente nada em comum com o que ceÍos filósofos contem-
tlizcr, para ajudat a conceber o que reside inexprimível em si, e é dado porâneos chamam por inhrição, faculdade puramente sensitiva e vital
a catlu um sà esforçar para concebê-la efetivamente, segundo a medida que é propriamente abaixo da razáo e não mais acima deia. Para
dc sut pr(rpria capacidade inteiectual, suprimindo assim, nessa mesma
'15
14 unir à metafísica, da qual permanecerá sempre tão profundamente
que a faculdade de se
canhar mais precisào, é preciso dizer' poftanto' separada, já que não há nada além da metafísica que seja o
aqui e a innriçào intelectual" da qual a Íilosofia
modema
".,5ioià.o, que tenha conhccimento do universal.
I"*". l.-1.,"..r, porqrÉ nâo a compreendia' a menos
,,.&"riao iqnorá-la purá e simplesmentei pode-se ainda designáJa
Pensamos agoÍa tel carâcterizado o suficiente a metafísica, e
iorrto o in,?r..,o puro' ,.g,ináu nisso o exemplo de
Aristóteles e
pir[l qtrem o intelecto é' com eleito' praticamente não poderíamos fazer mais nada sem enüar na
]eu* .ontrrrdor.' e'coli'ticos àxposição da própria doutrina, o que não caberia aqui; aliás, esses
()
aquilo que possui inlediatatrlente ct)nhecimento dos pflnciplos
(l) que "o intelecto é mai'' daàos serão complementados nos capítulos seguintes. paÍiculamente
Anstóteles clecliua exptessarnente quzmdo falarmos da distinçiro entre metiúísica e o que se denomina em
a
que a ciência". isto é' c;ue a razão'.em suma'.constrói
""tã"ã"ir" já que este geral pelo norne de filosolia no Ocidente modemo Tudo o que
.r, qu" "nltla é nltis vcrcladeilo que o intelecto' ' ácabamos cle dizer é aplicável a qualquer uma clas doutrinas
"ãrlio, ser imediata' e' nào
À n"..rrrrir,r"nte inlirtívcl por stta opetação tradicionais do Oriente. sem nenhuma restrição, apesar de grandes
unr só cot-po com a
sendo reallnellle clistinto tlc seu ohjcttr' cle lblnla
(ir' iirl cetlezu metlllslca: diÍ'erenças cle fotma que possam dissimular a identidade de fundo para
oroDrirt rcttllrtlc filt lilllLlillll('llt(' L'\scll(
com
'la
o uso da razão' ott um observador superÍicial: a concepção de metalisica é verdadeira
i,a-r" pnt, rí tlttc o crr. ro podc se intl'oduzir tanto no Taoísmo. na doutrina hindu. como também no aspecto
e isto
r.:". ir^ f"t*rf^ção de veldades concebitlas pelo intelecto' catáter profundo e extra-religioso do Islanlismo. Mas agora. há algo
n()Ícue a razào €i evldentemente Íalível por conseqüência de seu
semelh:rnte no mundo ocidental? Consiclerando-se o que existe hoje.
Àircunito e mediuto. Aliás, sendo qualquer expressão n€ces-
seguramente só se poderia clar a essa questão uma resposta negativa,
;;;;; impedeita e limitada' o ero é a paÍir de então inevitável
quanto ao conteúdo: por mais já que o que o pensanlento filos(rfico modemo se delicia às vezes em
àrr"i" ir. t"r-à, q"ando já não é mesmoque ela exclt-ti é sempre muito tmà..ntàt com o nome cle metafísica não coresponde a nenhum
o
ffi qu. ," qr"iru dar à expressão. mas um tal eno pode não ter nada de nível à concepção que expusemos; iremos, aliás, voltar a este ponto
,r-"i, do qu. àIa pode encetrar; depois. Enttetanto. o que inclicamos a propósito de Aristóteles e dâ
ôôsitivo como tal e ser apenas em suna uma verdade menor'
parcial e incompleta da verdade doutrina escoli"rstica mostra que, pelo menos, houve aí metafísica de
i.".ànão- torrr.nre nLrrna foimação
verdade numa certa mediria, senão a metafísica totali e, apesar desta
totll. reserva necessária, havia também algo do qual a mentalidade
Agora enfim. é possível dar-se conta do que é a distinção
no seu moderna não of'erece mais o mínimo equivalente, e cuja
entre conhJcimento metifísico e conhecimento científico
puro' cujo compreensão lhe parece interditada.
,"ntiOo aui, protundo: o primeiro refere-se ao intelecto
cujo domínio é o
domínio é o universal; o segundo refere-se à razão'
geral"'Nào se Por outro la<lo. se a reserua que acabamos de fazer se
gà.rf, p".q*, como disse Áristóteles, "só hh ciência do
confundir de modo algum universal e geral como impõe, é porque hth, cotro dissemos antes, limitações que parecem
i"""tiá *iao u"idu,l"i.á*"nt" inercntes a toda a intelectualidade ocidental, pelo
que rliár ntrnca se
ocorre muitas vezes com os lógicos t)cidelltJis'
,autrn"rte acima do geral' mesmo qttaldo lhe dão menos a paltir da Antigiiridade clássical e notamos a esse respeito
"i*rr, vi\ta d:ls clenclas' que os Gregos não tinhar.t.l sequer a idéia de Infinito. De resto, por
lrbusivamente o nome de universal O ponto de
que os Ociclentais modetnos. quando acreclitam pensar enl Infinito,
a1-irmamos. é de ordem individuall é que o
geral não se.opõe tLo
imaginam quase sempre unl espaço que só poderia ser indelinido' e
irrrlividual. mas someÍlte ao particular, e pertence' na realidade'
à

,,r'tlcrr inclividual ampliada; mas o individual pode recebet uma por que áonfundem invencivelmente a eternidade. que resicle
( \l('nsax). rresrno indefinida, sem perder com isso sua natureza
e .rr"róiu1r"nt. no "não-tempo". se pudernros nos expressar assim,
:,t nr srril ttc suas condiqões restritivas e limitativas' e eis porque com a pelpetuidade, que não é mais que Llma ertensão indeÍinida do
(lrl( rrros (l c l ciôncia podeda se estender indefinidamente sem nunca tempo, enquanto que semelhantes equívocos trão ocolrem com os

rl
1"t
16
Orientais? É porque a mentalidade ocidental, voltada quase que
exclusivamente para as coisas sensíveis, faz uma constante conftisào
entre conceber e imaginar, a tal ponto que o que não é suscetível de CAPÍTInN\1
nenhuma representação sensível lhe parece de fato impensávêl por
isso mesmo; e, iá, entre os Gregos, as faculdades imaginativas eram RELAÇOES ENTRE
preponderantes. Isto, com evidência, é exatâmente o contrário do A METAFÍSICA E A TEOLOGIA
pensamento puro; nessas condições, não se poderia ter
intelectualidade no sertido verdadeiro desta palavra, nem, por
conseqüência, metafísica possível Acrescentando-se ainda a essas
considàrações umâ outru c,lnllsão comum, aquela do racional e do
questão que queremos considelar agora não se coloca
intelectuai, nao se percebe que â pre tensa intelectualidade ocidental
no Oriente, em razão da ausência do ponto de vista
só é na realidade, sobtetudo entre os rnodernos, o exelcício dessas
propriamente religioso, ao qual o pensamento
faculdades totalmente individuais e lortlrais que sãÕ a tazáo e a
teológico ó naturalmente inerente; no entanto, ela só poderia se colocar
imaginação; pode-se compreellder então tttdo o que a separa da in-
t"leãt.taii,lrdô oriental, para a qual o único conhecimento verdadeiro
no que se refere ao Islã. onde ela constituiria mais precisamente a
questão das relações que devem existir entre seus dois aspectos
é aquele que tem sua raiz profunda no universal e no informal'
essenciais, religioso e extl à-religioso. os tlttitis se poderia justamente
denominar teológico e metatísico. No Ociderrte, pelo conh'ário, ó a
ausência do ponto de vista metâfísico que taz com que a mesr.na questão
não se coloque em geral; ela só pôde colocar-se de fzrto para a doutrina
escolástica que, com efeito, era tanto teológica, como metal'ísica,
embora, sob este segundo aspecto, seu alcance f'osse restrito, tal como
afirmamos; mas não parece que uma solução muito nítida lhe tenha sido
(l) Demiers ArulYtiqaes, lirro II. dada algum dia. Tratar dessa questão em toda a sua generalidade é de
mais interesse, e o que ela implica essencialmente ê, no fundo, uma
comparação entre dois modos de pensamento diferentes, o pensamento
metafísico puro e o pensamento especificamente religioso.

O ponto de vista metafísico, já dissemos, é o único


verdadeiramente universal, logo ilimitado; qualquer outro ponto de
vista é, por decomência, mais ou menos especializado e restrito a certas
limitaçÕes por sua própria natureza. Já mostramos que é assim mesmo,
especialmente do ponto de vista científico, e também mostraremos que
ocorre da mesma maneira para os outros pontos de vista diversos,
reunidos geralmente sob a denominação comum e muito vaga de
filosóficos, não diferindo, aliás, muito profundamente do ponto de vista
científico propriamente dito, se bem que se apresentem com pretensões
maiores e totalmente injustificadas. No momento, esta limitação
essencial, aliás evidentemente suscetível de ser mais ou menos estreita,
18
existe mesmo pala o ponto de vista teológico; enl ôtrtros termos, escrito, e, portanto, elas não deixaÍam rastros no que é habitual-
este é também um ponto de vista especial, se bem qr,c, naturalmente, mente conhecido, o que não prova aliás nada no sentido negativo, e o
ele não o seja da mesma maneira como o ponto de vista das ciências, que não tem nada mesmo de surpreendente, sendo dado qlre, se casos
nem nos limites que lhe consignam um alcance tão restrito; é desse gênero efetivamente aconteceram, só o foram graças a
justamente pelo fato de a teologia estar num sentido mais próxima da circunstâncias muito particulares, sobre a nah;reza dos quais não nos é
metafísica que as ciências, que se tomâ mais difícil distingui-la possível insistir aqui.
nitidamente, e que conÍusões podem se introduzir ainda mais
facilmente aqui que em qualquer outro lugar. Para voltar à própria questão que nos ocupa presentemente,
lembraremos que já indicamos o que distingue, do modo mais essencial,
Essas conÍusões não deixaram de se produzir de fato e uma doutrina metaíísica e um dogma religioso: é que, enquânto o ponto
propiciaram até un.ta inversão das relações que deveriam normalmente de vista metafísico é puramente intelectual, o ponto de vista religioso
existir entre nretafísica e teologia, jír que, rnesmo na ldade Média, que foi implica, como característica fundamental, a presença de um elemento
no entanto a única época em que a civilização ocidental recebeu um sentimental que influi sobre a própria doutrina e que não the permite
desenvolvimento verdadeiramente intelectual, ocorreu que a conservar a atitude de uma especulaçâo puramente desfuteressada; é,
metafísica, então insuticientemente depurada de diversas com efeito, o que ocoÍre com a teologia, mesmo que de um modo mais
considerações de ordem simplesmente filosófica, foi concebida como ou menos marcado em função do que se considera em uma ou outra das
dependente em relação à teologia; e, se pôde ser assim, só o foi porque diferentes divisões nas quais ela pode se repârtir. Esta característica
a metafísica, tal como a doutrina escolástica a considerava, permanecia sentimental não é em nenhum outro lugar mais acentuada que na foma
incompleta, de modo que não era possível se daÍ conta plenamente de seu propriamente "místíca" do pensamento religioso; e dizemos a esse
caráter de universalidade, implicando a ausência de toda limitação, propósito que, contrariamente a uma opinião por demais difundida, o
pois ela só era concebida efetivamente em ceÍos limites, e não se misticismo, exatamente porque não poderia ser concebido fora do
suspeitava mesmo que houvesse ainda além desses limites uma ponto de vista religioso, i totalmente desconhecido no Oriente. Não
possibilidade de concepção. Esta observação fornece uma desculpa entraÍemos aqui em detalhes mais amplos a esse respeito, ô que nos
suficiente ao engano que fora então cometido, e os Gregos certamente, levaria a desenvolvimentos muito extensos; na confusão tão comum
mesmo na medida em que praticaram uma metafísica verdadeira, que acabamos de assinalar, e que consiste em atribuir uma
puderam se engarar exatamente da mesma forma, se todavia houve en- interpretação mística a idéias que não o são de modo algum, pode-se
tre eles qualquer coisa que corresponderia ao que é a teologia nas apontar ainda um exemplo da tendência habitual dos Ocidentais, em
religiões judaico-cristãs; isto remete em suma ao que já dissemos, ou seja. virtude da qual eles querem encontrar em qualquer lugar o equivalente
que os Ocidentais, mesmo aqueles que foram verdadeiramente puro e simples dos modos de pensamento que lhes são pr'óprios.
metafísicos até um certo ponto, nunca conheceram a metafísica total.
A influência do elemento sentimental fere evidentemente a
Talvez tenha havido, entretanto, exceções individuais, pureza intelectllal da doutrina e marca, em suma, irisemo-lo bem, uma
porque, tal como já notamos antes, nada se opõe em princípio a que haja" decadência em relação ao pensamento metafísico, decadência que, aliás,
em todos os tempos e em todos os países, homens que possam aringir o lá onde se produziu principal e geralmente, ou seja, no mundo ocidental,
c0nhecimento metafísico completo; isto seria ainda possível mesmo no era de qualquer modo inevitável e mesmo necessária num certo sentido,
nrLrndo ocidental atual, se bem que mais dificilmente sem dúvida, em na medida em que a doutrina devia ser adaptada à mentalidade dos
lirziro das tendências gerais da mentalidade que determinam um meio, homens aos quais ela se dirigia especialmente, e entle os quais a
o rrtris tlcstàvorável possível sob este aspecto. Em todo caso, convém sentimentalidade predominava sobre a inteligência, preclorninância que
il( r('s( er)lilr' (lue, se houve tais exceções, não existe nenhum testemunho atingiu aliás o seu apogeu nos tempos modernos. De qualquer maneira,
81
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não é menos verdadeiro que o sentimento é apenas relatividade e rlizíamos antes, qlle tudo o que pode ser encalado sob um ponto de
contingência, e que uma doutrina que the é dirigida e sobrc a qual reage vista individual pode sê-lo também sob o ponto de vista universal, sem
só pode ser propdamente relativa e contingente; e isto pode ser que esses dois pontos de vista sejam por isso menos profundamente
obsérvado pafiicularmente em relação ã necessidade de "consolações" à separados.
qual corresponde, em larga medida, o ponto de vista religioso.
Considerando-se em seguida as coisas em sentido inverso,
A verdacle, em si nlestna. não tem que ser consoladora; se será necessá'io dizer que certas verdades metafísicas, mas não todas,
alguém a considera assim, tanttl tnelhor para ele, certamente, mas a são suscetíveis de serem traduzidas em linguagem teológica, porque
consolação experitttenl.ada ni-«r veu da doutrina, só vem dele mesmo e convém se dar contâ dessa vez de tudo o que, não podendo ser en-
das disposiçires particulares dc sua própria sentimentalidade Ao carado sob nenhum ponto de vista individual, ê da alçada exclusiva da
contrário. unta doutrinit clue sc adapta às exigências do ser sentimental, metafísica: o universal não poderia se encerrar por inteiro num ponto de
e que deve então se fevestil ent si tnesnla de uma foma sentimental, vista específico, não mais que numa forma qualquer o que é, aliás, a
nãõ pode rtais ser dcscle então iclentilicatla ã verdade absoluta e total; a mesma coisa no fundo. Mesmo para as verdades que podem receber a
alterzrção profuncla que nela produz a entrada de um princípio tradução de que se trata, tal Íadução, como qualquer outra formulação,
consoiador é cor relativa de uma talhâ intelectual da coletividade à qual é sempre forçosamente incompleta e parcial, e o que permanece fora
ela se clidge. Por outro lado, é daí que nasce a diversidade irata dos dela mede precisamente tudo o que separa o ponto de vista da teologia
dogrnas leligiosos,provocando sua incompatibilidade porque' ao lugar daquele da metafísica pura. lsto potleria ser apoiado por numerosos
dei inteligência ser una, e de a vetdade, em toda a rnedida em que é exemplos; mas esses mesnros exemplos, para serem conrpreendidos,
pressuporiam desenvolvitrentos dottüjnais que não podeÍamos
compreendida, só poder sê-1o de um único modo, a sentimentalidade é
diveisa, e a religião que tende a satisfazê-la deverá se esforçar para conceber em dar aqui: tal seria, lirnitando-nos a citar um caso típico
formalmente adaptaFse o melhor possível a esses múltiplos modos, que entre outros, uma comparação instituída entle a concepção metafísica
são diÍ'erentes e variáveis segundo as raças e as épocas. Isto não quer
da "libertação" na dolrtrina hindu e a concepção teológica da
"salvaçáo" nas religiões ocidentais, concepções essencialmente
dizer, aliás, que todas as formas religiosas sofram a um grau equivalente,
diferentes, que só a incompreensão de alguns orientalistas pemitiu que
na sua palte doutrinai, a ação dissolvente do sentimentalismo. nem a
necessidade de mudança que the é consecutiva; a comparação entre as assimilassem, de uma maneira aliás puramente verbal. Notamos de
passagem, já que a ocasião se apresenta aqui. que casos como este
Catolicismo e Protesiantismo, por exemplo, seria pâÍicularmente
instrutiva a esse respeito. devem servir ainda para se precaver contra um perigo muito real: ao se
afirmar para um Hindu, para quem as concepções ocidentais são aliás
Podemos obserwar agota como o ponto de vista teológico é tão estranhas, que os Europeus entendem por "salvação" exatamente o que
somente uma pafticularização do ponto de vista metatísico, ele mesmo entende por moksha. , seguramente ele não terá nenhuma
particdarizaçâo que implica uma alteração proporcional; ele é,se Íazáo paÍa contestar tal asserção ou para suspeitar de sua exatidão, pelo
quisermos, uma aplicação a condições contingentes, uma adaptaçào menos até ser melhor informado, ele mesmo poderá em seguida chegar a
cujo modo é determinado pela natureza das exigências às quais ela empregar a palavra "salvação" a fim de designar uma concepçAo que
deve responder, já que essâs exigências especiais são, afinal, sua única nada tem de teológica; haverá então incompreensão recíptoca, e a
razão de ser. Resulta daí que toda verdade teológica poderá, por uma confusão se tornará ainda mais inextricável. OcoÍre exlttitl.nente o
tftrnsposição que a abstrâi de sua forma específica, ser conduzida ã mesmo com as confusões que se produzem pela assimilação rrão menos
vclttatlc inetafísica corespondente, da qual e1a é só uma espécie de errônea do ponto de vista metafísico com os pontos de vista l'ilosóficos
Ilrrrhrç;ro. mas sem que ela tenha para isso equivalência efetiva entre as ocidentais: temos em mente o exemplo de um Muçulntano que aceitava
rlrrrs onlcns cle concepções; é preciso lembrar-se aqui daquilo que de bom grado e como algo bem natureú a denotrinação "panteísmo
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islâmico", atribuída à doutrina metafísica da "Identidade Suprema",
mas, quando the foi explicado o que é realmente o panteísmo no
sentido próprio da palavra, especialmente em Spinoza, repudiou com um CAPÍTI.N-O \1I
verdacleiro horror uma semelhante qualiÍicação.
No que se refere ao modo pelo qual se pode compteender o
que consideramos como a tradução de verdades metafísicas em SIMBOUSMO E ANTROPOMORFISMO
Iinguagem teológica, tomaremos somente um exemplo bastante simples
e bem elementar: esta verdade metafisica: "o Ser é", se quisermos
exprimiJa rie modo religioso ou teológico, dará nascimento a esta outra
proposição: "Deus existe". que só seria estritamente equivalente à nome "símbolo", na sua acepção mais geral, pode se
àaquela com a dupla condiçtro de conceber Deus como o Ser universal, Í lapti.u, a toda expressão fármal de uma dàutrina,
o que está bem longe de tel semple ocorddo efetivamente, e de \-,/ ,-to u.ibul qurnto ligurada: a palavra nào
identificru a existência do ser puro, o que ó metafisicamente inexato' "*pr.rrao
pode ter outra função nem outra razão de ser do que simbolizar a idéia,
Sem clúvida, pot' sua enolme simplicidade, este exemplo não em suma de dar, na medida do possível, uma representação sensível,
corresponcle por inteiro ao que pode haver de nais profundo nas aliás, puramente analógica. Assim compreendido, o simbolismo, que é
concepções teológicas; tal como ele é, não deixa de ter interesse, potque tão somente o uso de formas ou de imagens constituídas como signos de
é precisamente da confusão enffe o que é implicado respectivamente nas idéias ou de coisas supra-sensíveis, e cuja linguagem é um simples caso
duãs fórmulas que acabamos de citar, confusão que procede daquela particular, é evidentemente natutal ao espírito humano, poÍanto,
dos dois pontos de vista corespondentes, é daí, afitmamos, que resultam necessiírio e espontâneo. Num sentido mais restrito, trata-se também de um
as controvérsias intermináveis que surgiram em tomo do famoso simbolismo intencional, r'efletido, cristalizando de ceÍa maneira os
"argumento ontológico", o qual em si só é um produto dessa confusão' ensilamentos da doutrina nas representações figurativas; e, aliás, entre
Um outro ponto importante que podemos notar de imediato a propósito ambos não há, para falar a verdade, limites precisos, porque é bem certo
desse mesmo exemplo, é que as concepções teológicas' não estando que a escrita, na sua origem, foi em toda parte ideográfica, isto é,
isentas das influências individuais como as concepções metafísicas sào, essencialmente simbólica, mesmo nesta segunda acepção, arnda que
podem variar de um indivíduo para outro, e que suas variações sào quase só tenha permanecido de um modo exclusivo na China.
;ntão função daquelas, ou melhor, da mais fundamental dentre elas,
queremos dizer da própna concepção de Divindade: aqueles que De qualquer modo, o simbolismo, tal como é entendido em
áiscutem sobre coisas como as "provas da existência de Deus" deveriam geral, tem um emprego bem mais constante na expressão do pensamento
primeiro, para poderem se entender, assegurar-se que. pronunciando a oriental que na do pensamento ocidentall isto se compreende facilmente
mesma palavra "Deus", querem bem exprimir com isso uma concepção quando se imegina que ele é um meio de expressão menos estreitamente
idêntica, e perceberiam muitas vezes que não é nada disso, de modo limitado que a linguagem usual: sugerindo ainda mais do que exprime, e1e
oue eles nào têm chances de ficar de acordo desde que falam línguas é o supofie mais apropriado para possibilidades de concepções que a-s
dif...n,.r. É aÍ, sobretudo, no domínio dessas variações individuais' palavras não poderiani atingiÍ. Esse simbolismo, no qual a indefinidade
sobre o qual a teologia oficial e sábia não poderia a qualquer grau, aliás, conceitual não é em absoluto exclusiva de um rigor totâlmente
tomar-se responsável, que se manifesta uma Íendência eminentemente matemático, e que concilia assim exigências contrárias em aparência,
antirnetafísica, que é quase geral enÍe os Ocidentais, e que constitui ele é, podendo-se dizer, a língua metafísica por excelência: e aliás. por
plopriamente antropomorfismo; mas isto dernanda algumas
o um plocesso de adaptação secundária paralelo àquele da própria
exlilicaçõcs complementares, que permitirão encarâr um outro lado da doutrina, símbolos primitivamente metafísicos puderam tomaÍ-se
(
lu cs lilo. ulteriormente símbolos religiosos. Os ritos, em especial, têm um
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caráter eminentemente simbólico, em qualquer domínio a que se determinante do erro: tomar o símbolo mesmo pelo que ele
liguem, e a transposição metafísica é sempre possíve1 para a repÍesenta, pôr uma incapacidade de se elevar até sua significaçào
significação dos ritos religioso, bem como para a doutrina teológica à puramente intelectual, tal é no fundo, a confusão na qual reside a raiz
qual são iigados; mesmo para ritos simplesmente sociais, se quisermos de qualquer "idolatria", no sentido próprio da palavra, aquele que o
pao"*ua u razão profunda disso, é preciso remontar da ordem das Islamismo lhe dá de uma maneira particularmente nítida. Quando do
àplicaçÕes, na qual residem suas condições imediatas, à ordem dos símbolo só se vê a forma exteÍior, sua razão de ser e sua eficácia atual
princípios, isto é, à fonte tradicional, metafísica em sua essência. Não igualmente desaparecem: o símbolo é somente um "ídolo", isto é, uma
pretendemos dizer, aliás, que os ritos não sejam mais do que puros imagem vã, e sua conservação é'pura "superstição", tumto que não se
ií.bolor; eles são isto, sem dúvida, e não podem deixar de sêJo, sob encontrará ninguém cuja compreensão seja capaz, parcial ou
pena de ficarem totalmente desprovidos de sentido, mas deve-se ao integÍalmente, de restituir de maneira efetiva o que o símbo1o perdeu,
mesmo tempo concebê-los como possuidores em si mesmos de uma ou pelo menos aquilo que ele só contém no estado de possibilidade
eficácia própria, enquanto meios de lealização que agem em vista do latente. Este caso é o dos vestígios que toda tradição deixa atrás de si,
fim ao qual são adaptados e subordinados. cujo verdadeiro sentido caiu no esquecimento, e é especialmente o caso
de qualquer religião que a incompreensão comum de seus aderentes
Sobre o plano religioso, esta é, evidentemente, a concepção reduziu a um simples formalismo exterior; já citamos o exemplo mais
católica da vidude do "sacramento"; é também, metafisicamente, o surpreendente talvez dessa degenerescência, o da religião grega. É
princípio de ceÍas úas de reaüzação sobre a§ quais diremos algumas também entre os Gregos que se encontra ao mais alto grau uma
palavras mais adiante, e é o que nos permitiu falar de ritos propriamente tendência que aparece como inseparável da "idolatria" e da
metafísicos. Além disso, poder-se-ia dizer que todo símbolo, enquânto materialização dos símbolos, a tendência ao antropomorfismo: eles nào
deve servir essencialmente de suporte para ulrur concepção, tem concebem seus deuses como se representassem ceftos princípios, mas
também uma eflrcácia muito real; e o próprio sacramento religioso, os figuram verdadeiramente como seres de forma humana, dotados de
desde que é um signo sensível, tem precisamente este mesmo papel de sentimentos humanos, e agindo ã maneira dos homens; e esses deuses
pam eles não tinham mais nada que pudesse ser distiato da forma com a
suporte para a "influência espiritual" que fará dele o instrumento de uma
regeneração psíquica imediata ou diferida, de um modo análogo àquele
qual a poesia e a aÍe os haviam revestido, eles não eram literalmente
qu" àt potencialidades intelectuais, inclusas no símbo1o, podem nada além dessa mesma forma. Uma antropormofização tão completa,

suscital uma concepção efetiva ou somente virtual, em razão da capacidade só ela podia dar pretexto ao que se chamou, do nome de seu inventor,
"evhemerismo", isto é , a teoria segundo a qual os deuses não teriam sido
receptiva de cada um. Sob este ângulo, o rito ê ainda um caso particular
do símbolo: é, poder-se-ia dizer, um símbolo "agido", só que com a na origem mais do que homens ilustres; na verdade, não se poderia ter
condição de ver no símbolo tudo o que ele é realmente, e não somente ido mais longe no sentido de uma incompreensão tão grosseha, mais
contingente: tanto nisso como no estudo dos textos, é grosseira ainda que a de ceftos modemos que só querem ver nos
,uu
"it..iorid^d"
preciso saber ir além da "letra" pataÍozer apareceí o "espírito"' Ora, isto símbolos antigos uma representação ou um ensaio de explicação de
à precisamente o que os Ocidentais nunca fazem: os erros de diversos fenômenos naturais, interpretação da qual a teoria muito
interpretação dos orientalistas fomecem aqui um exemplo famosa do 'mito solar" é o tipo mai5 comum.
caracteÍístico, porque eles consistem muito cornumente em desnaturar
os símbolos do mesmo modo que a mentaiidade ocidental, na O "mito", como o "ídolo", nunca passou de um símbolo
".tudados que ela encontra ao incompreendido: um está para a ordem verbal como o outro está pâra a
sLra generúdade, desnatura espontaneamente aqueles
sctt itlcance. ordem figurativa; en tre os Grcgos, a poesia produzia o primeiro como
a arte produzia o segundo; porém, entre povos como os Orientais, paÍa
À ;rrr'tlorniuância das faculdades sensíveis e imaginativas ê aqui a causa os quais o naturalismo e o antropomorfismo são iguaimente estÍânhos,
8't
ncnlrurrr (los dois pôde surgir, e só o poderiam com efeito na sobre a idéia de "cdação": tal concepção, qlle é também estranha aos
irrrirgirlrçlo tlc Ocitlentais que quisessen.l se fazer de intélpretes do que Orientais, exceto aos Muçulmanos, tendo sido também na antigüidade
rriro corrplccndem. A intelpretação naturalista inverte propriamente as gleco-Íomâna, aparece como especificamente judaica na sua origem; a
lclirçocs: unt lênômeno natural pode ser, tanto quaÍlto qualquer outra palavra que a designa é bem latina na sua fotma, mas não na acepção que
coisl na oLclerr sensível, tomado para simbolizar uma idéia ou um recebeu com o Cristianismo, iá qloe creare não queria dizer de início
plirrcípio, e o símbolo somente tem sentido e razão de ser enquanto é nada além que "fazer", sentido que semprc permaneceu em sânscdto, o
tlc unra orclem inferior ao que é simbolizado. Da mesma maneira, é da raiz verbal kri, que é idêntico a essa palavrai houve aí uma mudança
scrn dúvida uma tendência geral e natural do homem utilizar-se da profunda de significação, e este caso é, como já dissemos, similzt àquele
li»nra humana no simbolismo; mas isto, que não se presta em si a mais do termo "religião". Foi evidentemente do Judaísmo que a idéia de que
ob.ieções do que o emprego geométrico ou qualquer outro modo de se trata passou pzra o Cristianismo e o Islarnismo; e, qualto à sua razào
tcpfesentação, não constitui de forma alguma antropomorfismo' essencial de ser, ela é no fundo a meslna que a da interdição dos
cnquanto o homem não é vítima da figuração que adotou. símbolos antropomórficos. Com efeito, a tendência em conceber l)eus
como "um ser" mais ou menos análogo aos seres individuais e

Na China e na Índia, nunca houve nada de análogo ao que parlicularmente aos seres humanos, deve ter como corolário natural, em
sc produzia na Grécia, e os símbolos de figula humana. mesmo que de qualquer lugar que exista, a tendência em lhe atribuir um papel sim-
uso coÍTente, nunca se tomaram "ído[os"; pode-se notar a esse
ur'r'r plesmente "demiúrgico", clllerelnos clizer uml ilção qtre se exerce sohre
propósito como o simbolismo se opõe h concepção ocidental de arte: uma "matéria" supostamente exterior il ele. o que ó o rnodo de açào
nada é menos simbólico que a arte grega, e nada o é mais que as artes próprio aos setes intlividuais. Ncssas contliçõcs. era necessário, para
orientais; mas lá onde a arte só é afinal um meio de expressão e como salvaguardar a noção da uniclade e da infinidade divitlas, atirmar
que um veículo de certas concepções intelectuais, ela não poderia expressâmente que Deus "|'ez o Irundo do nada"" ism é, de nada que
evidentemente set encarada como um fim em si mesma, o que só pode lhe fosse exterior, e estír suposição poderia com efeito limitálo, dando
ocolTer entre povos com sentimentalidade predominante. O nascimento a um dualismo radical. A heresia teológica é aqui apenas a
antropomorfismo só é naturâl para esses povos, e é opomrno notar que expressão de :uÍr non-sens metafísico, o que é, aliás, o caso habitual;
esses povos são aqueles entre os quais, pela mesma razão, pôde-se mas o perigo, inexistindo qu,mto ã metafísica pura, tomava-se muito real
constituiÍ o ponto de vista propriamente religioso; mas, aliás, a religião do ponto de vista leligioso, porque o absurdo, sob esta fotma derivada,
sempre se esforçou em reagir contra a tendência antropomórfica e em não aparecia mais de imediato. A concepção teológica da "criação" é
corrrbrtê-la em princípio. no momento mesmo em que sua concepçào tnai' uma tradução apropriada da concepção metafísica de "manifestação
ou menos falseada no espírito popular contribuía às vezes para universal", e a melhor adaptada ã mentalidade dos povos ocidentais;
desenvolver de fato o contrário. Os chamados povos semíticos, como os mas, não há, aliás, equivalência a estabelecer entre essas duas
Judeus e os Árabes, são vizinhos sob este ângulo dos povos ocidentais: concepções, desde que há necessariamente entre elas a diferença
não se poderia, com efeito, ter outro motivo para a interdição de integral dos ponlos de vista tespectivos aos quais elas se referem: eis aí
símbolos com figuras humanas. comum ao Judaísmo e ao lslamismo, um novo exemplo que vem apoiar o exposto no capítulo,tnte or.
rnâs com a restrição que, neste último, ela nunca foi Íigorosamente
rpJicacla entre os Persas, para quem o uso de. tais sÍtnbolos of'erecia
nrer()s perigos. já que. mai. orientais que os Alabes. e. aliás. de uma
llçir completamente diferente, tinham muito menos tendência ao
rrrrllopotrtltfismo.

lrssirs Liltiuas consiclerações nos levam diretamente a nos explicar


B9
R8
de coisas que não são conheciclas de modo muito cer1o, não se
encontra no Ocidente. pelo menos a partir da Antigiiidade clássica,
nenhuma outra doutÍina que seja verdadeiramente metafísica, mesmo
CAPÍTULO VM
com as restrições que a mistura de elementos contiflgentes, científicos,
teológicos ou de qualquer outra natureza exige; não falamos dos
Atexandrinos, sobre os quais se exefceram 1nfluências orientais
PENSAMENTO METAFÍSICO diretamente.
E
Se considerarnros a filosofia modema no seu conjunto,
PENSAMENTO FILOSÓFICO
podemos dizer de um modo geral que seu ponto de viste não apresenta
nenhuma diferença verdadeiramente essência com o ponto de vista
científico: trata-se sempre de um ponto de vista racional, ou que pelo
firmrLtttus tltte lt metatisica, que é profundamente
menos pretende sê-lo. e qualquer conhecimento que se atém ao
f,\^ ".p.,r".I, cli ciência, não é menàs separada de tudo o domínio da razão, qualificando-o ou não de Íilosófico. é pÍopriamente
l. \qu. os Ociclenlais. e sobretudo os modemos, um conhecimento de ordem científica; se ele procura ser outra coisa,
designanr por filosofia. denominação sob a qual se encontram, aliás, perde por isso todo seu valor, mesmo [elativo, atribuindo-se um
reunidos elementos muito heterogêneos, talvez mesmo inteiramente
alcance que não poderia legitirtlâmente ter: este é o caso do que
dispaÍates. Pouco importa aqui a iltenção primeira que os Grcgos tenham
chamaremos de pseuclo-metafísica. Por outt'o lado, a distinção enne
encerado na palavra filosofia, que parece inicialmente ter domínio filosófico e domínio científico é tão pouco justificada visto
compreendido para eles, de um modo bastante indistinto, qualquer que o primeiro abarca, entre seus múltiplos elementos, cenas ciências
conhecimento humano, nos limites em que estavam aptos a concebê- que são tão especiais e restritas quanto as outras, sem nenhuma carac-
lo; só queremos nos preocupar com o que existe hoje em dia de fato terística que possa diferenciá-las de modo a lhes conceder um nível
sob tal denominação. No entanto, convém notal, em primeiro ]ugar, que'
prívilegiado: tais ciências, como a psicologia ou a sociologia, por
desde que hav'ia metafísica verdadeira no Ocidente, esforçava-se sempre
exemplo. só são chamadas filosóficas peLo efeito de um uso que não se
em leunila a consiclerações relevantes sob pontos de vista específicos
fundamenta sobre qualquer razão lógica, e a filosofia não tem, em
e contingentes, para fazêJa paÍticipar de um conjunto estampando a
suma, mais que urta unidade puramente Íictícia, histórica se quisermos,
denominação filosofia; isto mostra que as características essenciais da
sem que se possa dizer porque não se tomou ou não se conservou o
metafísica, com as profundas distinções que elas implicam, nunca foram
hábito de incorporrr nelâ outras ciências quaisquer. De resto, ciências
destrinchadas com uma nitidez suficiente. Diremos ainda mais: o fato que foram encaradas corno filosóficas numa dada ópoca não o são mais
de tratar a metatÍsica como um ramo da filosoÍ'ia, seja colocando-a hoje em dia, e bastou-lhes [omar un] rnaiol desenvolvimento para que
assim sobre o mesmo plano que quaiscluer relatividades, seja mesmo mal deÍinido, sem queJ no entanto,
saíssem desse conjunto sua
qualificando-a de "frlosofia primeira", como fazia Aristóteles, denota
natureza intínseca tivesse nem um pouco mudado; no Íàto de que cefias
essencialmente um desconhecimento de sell verdadeiro alcance e de ciências ainda permanecem, não se deve considerar isto mais que um
seu caráter de universalidade: o todo absoluto não pode ser uma pafie
vestígio da extensão que os Gregos primitivamente tinham darlo ir
tlc qualquer coisa, e o universal não poderia ser encerrado ou
filosofia, e que con.tprcendia. com e1êito, todas as ciências.
.,,r',1rra"ndido em qualquer coisa que seja. Por si só, este fato é,
lx)r1lnto. Llma marca evidente do caráter incompleto da metâfísica Dito isto, é evidente que a rr.tetafísica verdacleira nao Pode ter
rx irlçrrlrrl. a qual, aliás, se reduz unicamente à doutrina de Aristóteles e
mais relações, nem relações de outra natureza. conr a psicologia por
rlrrs tscolrlslicos, pôrque, com a exceção de algumas consideraçÔes
exemplo, como não tem com a físicit ott cotn a fisiologia: estas são,
Irrl,nrt rliililrs r;ue poclem ser encontradas esparsas aqui e 1á, ou melhor,
9L

matemáticas: estas, se bern que de um alcance restrito. já que são


oxiltar)lente no lresmo título, ciências da natureza, isto é' ciências
exclusivamente limitadas ao domínio da quantidade, aplicam ao seu
lísicas rto scntido prirnitivo e gelal desta palavta Por maior razão'
a
de um tal objeto específico princípios relativos que podem ser encarados como
nrctalísica não potleria ser, a nenhum grau, dependente
constituindo uma determinação imediata em relação a certos princípios
ciôncia especial: pretender dar-lhe uma base psicológica' como o
universais. Assim, a lógica e as matemáticas são, em todo o domínio
gost riârn iertos tiiósoÍbs que só tem como desculpa ignorar totalmente
do cientÍfico, o que oferece mais relações reais com a metafísica; mas,
,, que cla é na realidade, é querer fazer com que o universal depelda
mais ou menos indiretas e bem entendido, por entrarem na definição geral do conhecimento
iniividual. o princípio de suas conseqüências
fatalmente numa crentífico, isto é, nos limites da razão e na ordem das concepçÔes
longínc1uas, á. pot ort.o lado' é também redundar
poftanto propÍiamente anti-metaÍísica A individuais, elâs são ainda muito profundamente separadas da metafísica
e-orr'cepção antràpomórfica,
pura. Esta separação não permite atribuir um valor efetivo a pontos de
n,"t^fi.ico deve necesseriamente bastar-se a si mesma, constituindo o
hasear vista que se colocam mais ou menos mistos entle a lógica e a
único conhecimento verdadeiramente imediato. e ela não pode se
metafísica. como o das "teorias do conhecimento", que tomaram uma
soble nada alóm disso, exatamente porque ela é o conhecimento
dos
impofiância tão glande na filosofia modema; reduzidas ao que elas podem
princípios universais dos quais tôdo o resto det iva, inclusive os objetos
conter de legítimo, essas teorias são apenas lógica pura e simples, e, por
rlc diLrentes ciências, já que estas isolam seus princípios para onde elas pretendem ultrapassar a lógica, não são mais que l'antasias
considetálos segundo seus pontos de vista específicosl isto é
nio pseudo-metafisicas sem â menor consistência. Numa doutrina
seguramente legítimo por parte dessas ciências' r'isto que elas
nem ligar seus obietos a tradicional, a lógica só pode ocupar o lugar cle um ramo de
poideriam ti" de outro modo
"ó.pottá,, próprios Esta conhecimento secundário e dependente, e é o que ocorre' com efeito,
princípios r-rniversaii, sem sair dos Iimites de seus domínios
tanto na China como na Índia: como a costnologia, que a Idade Média
;lüür; nom mostÍa que também não se deve vislumblar flrndar- ocidental também estudava, mais do que a filosofia modema hoje
diretamente as ciênciai sobre a metafísica: é a relatividade mesma de
uma ignora, ela não é, em suma, mais que uma aplicação dos princípios
seus pontos dc vista constitutivos que lhes ilssegLrra a esse respeito
metalísicos sob um ponto de vista específico e num domínio
certa alltonomia, cujo desconhecimento só pode tender a plovocar
determinado; voltatemos a isso a respeito das doutrinas hindus.
contlitos quando normalmente não podeliam ocofl€r: este erro' que
pesa dernáis sobre toda a filosofia rnodema, foi inicialmente o de
O que acabamos de dizer sobre as relações entrc metafísica e
b"r"*"r, que só realizou, aliás, uma pseudo-metafísica' e que só se lógica poderá espantar um pouco aqueles que são habituados a
qual
interessava mesmo por ela a tímlo de pretãcio para a sua física' à
considerar a lógica como dominando num sentido todo conhecimento
acreditava dar assim fundamentos mais sólidos'
possível. porque uma especulação de ordem qualquer não pode ser
válida a não ser com a condição de se conformar rigorosamente às suas
Se agora encaranos a lógica, o caso é um pouco diferente
leisl no entanto, é bem evidente que a metafísica, sempre em razão de
claquele das ãiências observadas até aqui, e que podem -ser. chamadas
sua universalidade, não pode mais ser dependente da lógica que de
experimentais, tendo por base os dados da observação A lógica é ainda
qualquer outÍa ciência, e poder-se-ia dizer que aí há um cn'o
un]a ciência especial, já que é essencialmente o estudo das condições
proveniente do tato de só se conceber o conhecimento no clontÍtio da
próprias ao entenilimento humanoi mas e1a tem um vínculo mais direto
conl a metafísica, no sentido de que o que se chama de princípios
rzão. Todavia, é pleciso tazer aqui uma distinção entrc it pt''iptirl
metafísica, enquânto concepção intelectual pura, e stlil cxprrsiçlrr
higicos só é a aplicação e a especificação, num domínio delerminado' dos
r'.. tlatlciros princípios, que são de ordem universal;
pode-se, ponanto' formulada: enquanto a primeira escapa por total (lls lillritaçÕes
do mesmo gênero que aquela individuais, portanto da razão, a segunda, na metlicla cnt tltLc é possível,
rt rrlizll u esie lespeito uma transposição
possibilidade a propósito da teologia A mesma só po de consistir numa espécie de tladução tlas vctrlatles metâfísicas
rIr ,1urrl irtdicamos a
,,1,r,:,r',,(',,,, pode. iúús, ser feita igualmente no que conceme às em modo discursivo e racional, porque a corlstilLriçato de qualquer
,);.1
93

linguiLgem humana não permite que seja de outra maneira. A lógica, Aqui é ainda a sentimentalidade que intervém. e que, para
cor.ur, aliás, as matemáticas, é exclusivamente uma ciência de encontrar matéria para satisfazer suas necessidades especiais, se esforça
raciocínio: a exposição metafísica pode revestir um caráter análogo na em tomar e fazer tomar essas convenções pelo que elas não são
sLrl tirrma- mas somente na sua fotma, e, se ela deve sel então confotme absolutamente: de lá resulta um desdobramento de considerações
às leis da lógica, ó porque essas leis têm um fundamento metafísico es-
diversas, umas petmanecendo nitidamente sentimentais tanto na sua
sencial. na falta do qual seriam desprovidas de valor; ao mesmo tempo forma como no conteúdo, outras se disfaÍçando sob aparências mais ou
poróm, é necessiírio que, para ter um alcance metatísico verdadeiro, menos racionais. Aliás, se a moral, como tudo o que peÍence às
àsta exposição seja sempre formulada de tal modo que, como já contingências sociais, varia glandemente em função da época e dos países,
âs teorias morais que aparecem num meio dado, por mais opostas que
indicamos, deixe aberras possibilidades de concepção ilimitadas col.t.to
possam parecer, tendem todas ã justificação das mesmas rcgras práticas,
o própno domínio da metafísica.
que sempre são aquelas que se observa em geral nesse mesmo meiol
isto deveria bastar pafa mostrat que essas teorias sâo desprovidas de
Quânto à moral, falando do ponto de vista religioso, notamos
em parte o que ela é, mas nos reservamos então â falar do que se liga ã
qualquer valor real. só sendo construídas por cada filósofo para
posteriormente colocarem a sua conduta e zr de seus semelhaÍltes, ou
sua concepção propriamente filosófica, enquanto ela é nitidamente
pelo menos daqueles que são os mais próximos, em acordo com suas
tiilerente de sua concepção religiosa. Em todo dornínio da filosofia'
próprias idéias e, sobretudo, com seus próprios sentimentos. E notável
não há nada que seja mais relativo e contingente do que a moral; para
que a eclosão dessas teorias morais se produza sobretudo nas épocas de
falar a vcrdade, nem se trata nrais de um conhecimento de ordem mais
decadência intelectual, sem dÚtvida porque essa decadência é corelativa
ou menos restrita. mas simplesmente de um conjunto de considerações
e consecutiva à expansão sentimentalismo, e também porque,
do
mais ou menos coerente, cujo objetivo e alcance só poderiam ser
pllramente práticos, ainda que, muitas vezes, se tenha ilusão a esse colocando-se assim em especulações ilusórias, pelo menos se conserva
respeito. Com efeito, trata-se exclusivamente de formula regras que se- a aparência do pensamento ausentel este fenômeno ocorreu
jam aplicáveis ã ação humâna, cuja razão de ser reside inteiramente, especialmente entre os Gregos, quando sua intelectualidade gerou, com
artiás, na ordem social, porque essâs regras não teriam nenhum sentido
Aristóteles, tuclo de que era suscetível: para as escolas filosóficas
Íbra do fato que os indivíduos humanos vivetr em sociedade, posteriores, tais como os Epicuristas e os Estóicos, tudo se subordina ao
constituindo coletividades mais ou menos organizadas; e elas ainda são ponto de vista moral, e isto explica seu sucesso junto aos Romanos, para
formuladas colocaldo-se sob um pontô de vista especial, que, em vez quem toda especulação mais elevada era só acessível com dificuldade.
cle ser apenas social como entre os Orientais' é o ponto de vista especi- A mesma característica encontra-se na época atual, onde o "moralismo"
Ílcâmente moral. estÍanho ã maioria da humanidade. Vimos como esse se tomou estranhalnente invasor, mas sobretudo, desta vez, por uma
ponto de vista podia se introduzir nas concepções religiosas, pelo vínculo degenerescência do pensamento religioso, cotno o caso do Protestantismo
cla ordem social a uma doutrina que sofrerá a inflr-rência de elementos mostra bem; é uatural, aliás, que povos de mentalidade puramente
sentimentais; porém. colocado este caso à parte, não se percebe hem o prática, cuja civiüzação é material por inteiro, procurem satisfazer suas
cluc poderia lhe servir de justificativa. Fora do ponto de vista religioso aspirâções sentimentais por esse falso misticismo que encontra umâ de
suai expressÔes nl rnorlrl [ilo.cifica.
lue clá um sentido à moral, tudo o que se liga a esta ordem deveria
logicârnente se recluzit a um conjunto de convenções puras e simples.
cstabclecidas e observadas unicÍrmente pâra tomar a vida em sociedade Passamos em revista todos os ramos da filosoliit que
possívcl e suportável: entretanto, reconhecendo-se francamente este apresentam um caráter bem definido; mâs, por otltK) Iil(lo, há no
,' rrlitcr convencional e tomando seu partido, não haveria mais moral
pensamento filosófico todâs âs espécies de elementos rrlal dctcrtninados,
lilosrilita. os quais não se pode incluir proprianrente em netrl'tutlr desses lamos, e
cujo vínculo não é constituído por qualquer tftlço (lc sua pÚpria natureza,
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mas somente por seu agÍupamento no interior de uma mesma como tal. A metafísica, estando fora e além das relatividades, que
concepção sistemática. Isto ocolre porque. após ter separado perlencem ã ordem individual, escapa pot isso mesmo a qualquer
completamente a metafísica das diversas ciências chamadas filosóÍicas, é sistematização. da mesma maneira, e pela mesma razão que ela nào se
preciso ainda distingui-la, não menos profundamente, dos sistemas deixa encerrar em nenhuma f'órmula.
filosóficos, dos quais uma das causas mais comuns é, já dissemos, a
pretensão à originalidade intelectual; o rndividualismo que se afirma Pode-se compreender agota o que entendemos exatamente
nessa pretensão é nanifestamente contrário a qualquer espírito por pseudo-metafísica: é tudo o que. nos sistemas Íllosóficos, se
tradicional, e tambénr incompatível com qualquer concepção que tenha apresenta com pretensões metaÍÍsicas, totalmente injustificadas por
um alcance metalisico verdadeiro. A metafísica pura é essenciâlmente causa da forma sistemática em si mesma, que basta para retirar das
exclusiva de tFralqucr sistcrna, porque um sistema qualquer se mostra consideraçôes desse gênero qualquer alcance real. Alguns dos problemas
como u[li] concepção Íêchacla c linritlda. como Llm conjunto mais ou que o pensamento fiiosófico habitualmente coloca parecem mesmo
menos estreitrnrente delinido c lintitado. o que nâo é de nenhum modo desprovidos, não somente de toda impofiância, mas de toda
conciliável corn a universalidade da lnetatísica; e, aliás, um sistema significação; há aí umâ quantidade de questões que só se baseiarn sobre
filosótlco é senrpre o sistema cle qualquer um, ou seja, uma construção um equívoco, sobre uma confusão de pontos de vista, que existem, no
cujo valol só poderia ser completâmente individual. fundo, apenas porque são mal colocadas, e que não teriam de nenhum
modo opoftunidade para se colocar verdadeiramente: bastaria, pollanto,
Além disso. todo sistema é necessariamente estabelecido em muitos casos, definir o enunciado de moclo preciso para que tais
sobre um ponto de paÍida específico e relativo, e pode-se dizer que isro equívocos desaparecessem pura e sitnplesmente, se a filosofia nào
o
é, em suma, desenvolvimento de uma hipótese, enquanto a tivesse, ao contrá'io, o maioÍ interesse em conseruá-los, poÍque ela vive
metafísica, que tem um caráter de absoluta cerleza, não poderia admitir sobretudo de quiprocós. Há tambénr outras questões, perlencentes, aliás,
nada de hipotético. Não queremos dizer que todos os sistemas nào a ordens de idéias muito diversas, que podem ter ocasião para se
possam abarrar uma certa parte de verdade, no que se refere a tâl ou qual colocar, mas para as quais um enunciado preciso e exato acaretaria
ponto paúicrilaÍ; nas ê enquanto sistemas qlle eles são ilegítimos, e a uma solução quase imediata, sendo a diiculdade que se encontra muito
falsidade radical de uma tal concepção tomada no seu conjunto é mais verbal que real; mas, se entre essas questões, há aquelai cuja
inerente ã forma sistemática em si. Leibnitz dizia com razão que "todo natueza seria suscetível de dar um alcance metaÍisico, em compensaçào
sistema é verdadeiro no que afirma e làlso no que nega", isto é, que, no elas o perdem inteiramente por estarem inclusas num sistema, vistô que
fundo, ele é tanto mais Íalso porque mais estreitamente limitado, ou, não basta que uma questão seja de natureza metafísica, é preciso ainda
nlrma oLltra linguagem, mais sistemático, visto que uma semelhante que, sendo reconhecida como tal, ela seja encamda e tratada
concepção chega inevitavelmente ã negação de tudo o que ela nào metafisicamente.
pode conter; com toda justiça, isto deveria. aliás, aplicar-se ao próprio
Leibnitz, bem como a outros filósofos, na medida em que sua própria É bem evidente, com efeito, que uma mesma questão pode
concepção se apfesenta também como um sistema; tudo o que se ser tratâda, seja sob o ponto de vista metafísico, seja sob um outro ponto
encontra de metafísica verdadeira é, de resto. tomado emprestado da de vista qualquer; logo. as considerações sobre todas as espécies de
escolástica, e com o agravante de que muitas vezes é desnaturado, já que coisas, às quais a maioria dos filósoÍbs julgaram bom se cledicar, poclem
mal compreendido. Para a verdade do que um sistema alirma, nào se ser mais ou menos interessantes em si mesmas, mas, en'l todo cilso, elas
rlcveria ver aí a expressão de um "ecletismo" qualquer; isto permite não têm nada de metafísico. É, no mínimo, lastimável cltre a talta de
nr)vlnrente dizer que um sistema é verdadeiro na medida em que nitidez, tão característica clo pensamento ocidental nroclct't.to, e que
l)(r'n)rrccc abefto a possibilidades menos limitadas. o que é aliás aparece tanlu nas prdprias coilcepÇÔes c()lll\) llil \tlil expressão.
r'r,ir['ntc. rnas que implica precisamente a condenação do sistema permrtindo que se disctúa indeiinidamente a toÍo e a dileito sem nunca
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resolver nada, deixe o campo livrc a inumeráveis hipóteses às quais
se tem o direito de chamar de filosóficas, mas que náo têm nada em
A concepção de uma dualidade desse gênero tem por único
comum com a metafísica verdatleira mérito representar muito bem a aparência exterior das coisas; porém,
precisamente porque ela se atêm às apaÉncias, é completamente
A esse propósito, podemos ainda notar que' de um modo iuperficial, e, colocando-se sob um ponto de vista específico,
geral, as questões que se colocam apenas acidentalmente, que não têm puiamente individual, ela se toma negativa de qualquer metafísica
Àais que um interesse particular e momentâneo, como se poderia àesde que se queira lhe atribuir um valor absoluto afirmando a
encontrar bastâl'tte na história cta filosofia moderna, são por isso irredutibiliriatle desses dois teÍmos, afirmação na qual reside o
mesmo manilistitmente clesprovi<las de clualquer caráter metafísíco, dualismo propriamente dito. Aliás, não se deve ver nessa oposição
visto que esse cârátcr nilr) é olrtla coisa que a univelsalidade; aliás, as entre espíiito e matéria nada mais que um caso muito paÍicular de
questões desse gênero pertencetll comlrfi)ente à categoriâ dos dualismó, porque os dois termos da oposição poderiam ser diferentes
problemas cuja existência é totalmente arlificial. Só pode ser desses doii princípios relativos, e seria igualmente possível encarar do
verdacleilarnente lnetaÍísictl, repetimo-lo ainda. o que é absolutamente -.rmo -oào uma indeÍinidade de pates de teÍmos corelativos
estável, permanente, independente de toclas as contingências, e em diferentes deste, segllndo outras determinações mais ou menos
particular das contingências históricas: o que é metafísico é o que não especiais. De uma forma bem geral, o dualismo tem por carâcterística
muda, e é ainda a universalidade da metafísica que fàz sua unidade distintiva deter-se numa oposição entre dois termos mais ou menos
essencial. exclusiva da multiplicidade dos sistemas filosóficos como particulares, oposição que. sem dúvida, existe realmentc sob um certo
daquela dos dogmas religiosos, e, por conseqüência, sua profunda ponto de vista, e esta é a pârte de verdade que o dualismo abarca;
imutabilidade. àntretanto, ao declatar essa oposição irredutível e absoluta, sendo que
ela é totalmente relativa e contingente, proíbe-se de ir aléIn dos dois
Do que precede, resulta ainda que a metafísicâ não tem termos que se colociuam, e é assim que, de repente, se está limitâdo
nenhuma relação com concepções, como idealismo, panteísmo, pelo que seu caráter de sistema faz. Se náo se aceita esta limitaçào, e
espiritualismo, materialismo, que trazem precisamente o caráter qu"."ndo-t. resolver a oposição na qual o dualismo se atem
sistemático do pensamento filosófico ocidental; e isto é tanto mais obstinadamente, diÍ'erentes soluções poderão se apresentar: e'
impoftante a notar aqui na medida em que uma das manias comuns dos inicialmente. encontramos, com efeito' duas soluções nos sistemas
orientalistas é queref a todo custo incluir o pensamento orientâl nesses filosóficos, os quais se pode classificar sob a denominação comum de
estreitos qlladros que não são feitos para ele; mais tarde, iremos monismo.
assinalar especialmente o abuso que é feito assim de vãs etiqlletas, ou
pelo menos de algumas dentre elas. Por ora, só queremos insistir sohre Pode-se dizer que o monismo se caracterizâ essencialmente
um ponto: é que a querela entre espit'itualismo e materi:rlismo, em por isso, que. não admitinclo que haja uma irredutibilidade absoluta e
torno da qual quase todo o pensamento filosóÍico após Descartes gira. querendo oltauputto. a oposiçáo aparente, ele crê chegar lã reduzindo
não interessa em nada à metafísica pura; eis aí, aliás' um exemplo um desses dois termos ao outro; tratando-se em particular da oposiçio
dessas questÕes que só ficam por um tempo, que lizemos alusão há entre espírito e matéria, teremos assim, de um lado, o monisrntl
pouco. Com el'eito, a dualidade "espírito-matéria", nunca havia sido espiritualista, que pretende reduzir a matéria ao espírito, e, de ottlro' o
colocada como absoluta e irredutível antes da concepção cartesiana; os mànismo mot.iiali.to, que pretende, ao contrário, reduzir o csPí'ilo il
rrrrtigos, especialmente os Gregos, nem mesmo tinham a noção de matéria. O monismo, qualquer que seja, tem razão em admitir que nrio
"rrlrtórir". no sentido moderno desta palavra, não mais que a maioria existe oposição absoluta, porque nisso ele é menos cstreitamente
rtos Olicntais tem ainda hoje: em sânscrito, não existe nenhuma lirrutado que o dualismo, e constituir pelo menos unr esf'orço para
plrlrvllr tltrc corrcsponda a essa noção, mesmo de muito longe. penetrar a;tes na essência das coisas; mas, quase que fatahnente, cai-
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se num outro problema e negligencia-se completamente, quando conceito sistemático.
não nega, a oposição que, mesmo sendo só uma aparência, não merece
deixar de ser encarada como tal: esta é, pofianto, aqui ainda, a O "náo-dualismo", tal como o monismo, também não
exclusividade do sistema que gera seu primeiro defeito. Por outro lado, admite nenhuma irredutibilidade absoluta, mas assim mesmo difere
querendo-se reduzir diretamente um dos dois termos ao outro, nunca profundamente deste, no sentido de que não pretende de nenhum modo
se sai completamente da alternativa colocada pelo dualismo, já que por isso que um dos dois termos seja pura e simplesmente redutível ao
não se considera nada que esteja tbra desses dois mesmos termos que àutro; ele encara a ambos simultaneamente na unidade de um princípio
tinham sido tomados como seus princípitls fundamentais; seria o caso comum, de onlem mais universal, e no qual eles são igualmente
contidos, não mais opostos propriamente falando, Íms
mesmo de se perguntar se, sendo ambos os termos correlativos, um
âinda tem sua Íazão de ser sem o outÍo, se é lógico conservar um complementares, por uma espécie de polarização que não afeta em
desde que se suprima o outro. nadá a unidade essencial desse prircípio comum. Assim, a inte enção
do ponto de vista metafísico tem por efeito resolver imediatamente a
Além disso, encontramo-nos em presença de duas soluçÔes opoiição aparente, e só ela permite, aliás. que se faça essa oposiçào
que, no fundo, são muito mais equivalentes do que parecem vàrdaâeiramente, lá onde o ponto de vista fitosófico mostrâria sua
supeúicialmente: que o monismo espiritualista afitme que tudo é impotência; e o que é verdadeiro para a distinção entre espírito e
espírito, e que o monismo mâterialista afirme que tudo é matéria, em maiéria o é igualmente para qualquer outra distinção entre todas as que
suma isto tem pouca importância, tanto melhor que cada um se se poderia ãstabelecer da mesma maneira entte aspectos meis ou
encontre obrigado a atribuir ao princípio que se conserva as menos específicos do ser', e que são err multitude indefinida'
propriedades mais essenciais daquele que se suprime Concebe-se que,
nesse teÍÍeno, a discussão entre espiritualistâs e materialistas deva Se se pode, alíás, encalar simultaneamente toda essa

degeneraÍ bem rápido em uma sirnples querela de palavras; as duas indefinidade de diitinções que são assim possíveis, e que são todas
soluções monistas opostas não constituem na realidade mais que duas igualmente verdadeiras e legítimas nos seus Íespectivos pontÔs de
faces de uma dupla solução; mas, enquanto qlle, com o dualismo e o v-ista, éporque não nos encontramos mais fechados numa
monismo, só tínhamos que enfientau' dois tipos de concepçÔes sistematização limitada a uma dessas distinções com a exclusão de
sistemáticas e de ordem simplesrnente lilosófica, agora vai se tratar de todas as oúrasl e assim o "não-dualismo" é o único tipo de doutrina
uma doúrina que se coloca, ao contrário, sob o ponto de vista que corresponde à universalidade da metafísica. Sob um ou outro
metafísico, e que, pol' corseguinte. não recebeu nenhuma denominação uip""to, oi divelsos sistemas Í'ilosóficos podem em geral religar'-se'
.

na filosofia ocidental, c;ue só pode ignorá-la. Designaremos essa seja ao dualismo, seja ao monismo; mas só o "não-dua1ismo", en.t
doutrina como " não-dualismo".ou melhor ainda como a doutrina da funçáo de seu princípio que acabamos de indicar, é suscetível de
"não-dualídade", se se qller traduzir táo exatamente quanto possível o ultrápassar imensamente o alcance de qualquer filosofia, porque
temo sânscrito Adwaita-Vâda, que não tem equivalente usual em soménte ele é própria e puÍamente metafísico na sua essêncía, ou, etr
nenhuma língua européia; a primeira dessas duas expressões tem a outros termos.ile constitui uma expressão do caráter mais essencial e
vantagem de ser mais breve que a segunda, e é por isso que a fundamental da própria metafísica.
adotaremos de bom grado, mas ela tem, no entanto, um ínconveniente
em função da presença da deteminação "ismo", que, na linguagem Se acreditamos necessiário estender-se stthrc csslts

filosófica é, em geral, ligada à designação dos sistemas; poder-se-ia considerações tão longamente como fizemos, é em razito da ignorância
clizer, é verdade, que é preciso incluir a negação na palavra "dualismo" em relaçáo à metafísica vercladeira na qual o Ocidcntc p,:rnranece
pof inteiro, e em especial na sua terminação, entendendo por isto que habitualmente, e também porque elas tem conl o nosso 'tssunto uma
relaçáo bem direta, apesar do que possam parecer ir alguns,
já que a
tirl negação deva se aplicar precisamente no dualismo enquanto
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metafísica é o único centro de todas as doutrinas do Oriente, de poderia se deter. Quanto menos universal é um princípio, mais
modo que não se pode compreender nada delas enquanto não se determinado ele é evidentemente, e por isso mais relativo; podemos
adquire o significado do que é a metafísica, uma noção no mínimo dizer que, de um modo matemático, um "mais" determinativo equivale
suficiente para atastar qualquer confusão possível. Ressaltando toda a' a um "menos" metafísico. Esta indeterminação absoluta dos princípios
diferença que separa um pensamento metafísico de um pensamento mais universais, portanto daqueles que devem ser considerados antes
filosófico, mostramos como os problemas clássicos da filosofia, de todos os outros. é a causâ de muitas dificuldades, não na concepção.
mesmo aqueles que ela encara como os mais getais. l1âo ocupam exceto talvez para aqueles que não são habituados a isso, mas pelo
rigorosamente nenhum lugar em relação ã metafísica pura: a menos na exposição dzrs doutrinas metafísicas, e ela obriga muitas
transposição, que em olrtras circunstâncias tem como efeito fazer vezes a só se servir de expressões que, na sua forma exterior, são
aparecer o sentido plofundo de cefias verdades, desaparecem aqui puramente negativas. É assim que a idéia de Infinito, por exemplo, que
esses pretensos prtlblemas, o que nlostl'â precisamente que eles nào é na realidade a mais positiva de todas, pois que o Infinito apenas pode
têm nenhum senti.lo profurldo. Por outro lado, esta exposição seÍ o todo absoluto, e que, não sendo limitado por nada, não deixa
Íbmeceu-nos a ocasião cle indicar a significação do conceito de "não- nada fora de si, esta idéia, dizíamos, só pode se exprimir por um termo
dualidade", cuja compreensão, essencial para qualquer metâfísica, não de forma negativa, porque na linguagem qualquer afirrnaçáo direta é
o deixa de ser também par-a a interpretação mais panicular das foÍçosamente a afirmação de qualquer coisa, isto é' uma afirmaçâo
doutrinas hindus; aliás, isto é evidente, já que essas doutrinas são de pafiicular e determinada; mas a negação de uma determinação ou de
essência puramente metafísica. uma limitação é propriamente a negaçâo de uma negação, poÍanto
uma afimação real, de modo que a negação de toda determinaçào
AcrescentareÍnos ainda uma nota cuja importância é ca- equivale no fundo ã afirmação absoluta e total. O que dissemos para a
pital: não somente a metafísica não pode mais ser limrtada pela idéia de tnfinito poderia se aplicar igualmente a muitas outras
consideração de uma dualidade qualquer de aspectos complementares noções metafísicas extremamente importantes, mas este exemplo
do ser, mesmo que se trate, aliás, de aspectos muito especiais como basta para aquilo que propomos elucidar aqui; e, aliás, nunca se deve
espírito e matéria, olr, ao contrário, de aspectôs tão univelsais quanto perder de vista que a metafísica pura é, em si, absolutamente
possíveis, como os que se pode designar pelos termos "essência" e independente de todas as terminologias mais ou menos imperfeitas
"substância", mas ela nem mesmo poderia ser limitada pela concepção com as quais tentamos revesti-la para que se tome mais acessível à
do ser puro em toda a sua universalidade, porque e1a não deve ser em nossa compreensão.
absoluto limitada por nada. A metafísica não pode se definida como
"conhecimento do ser" de um modo exclusivo, tal como fazia
Aristóteles: isto é exatamente a ontologia, que é sem dúvida da alçada
da metafísica, mas que não constitui por isso toda a metafísica; é assim
que o que houve de metafísica no ocidente sempre petmaneceu
incompleto e insuficiente, e também sob uma outra relação que
indicaremos adiante.

O ser não é verdadeiramente o mais universal de todos os


princípios, o que seria necessário para que a metafísica se reduzisse à
ontologia. e isto porque, mesmo se ele é a mais primordial de todas as
rleternrirrações possíveis, não deixa de ser uma determinação' e toda
tlL'lerrrrillação é r-rma limitação. na qual o ponto de vista metafísico nào
ti

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CAPÍTULO U Esta distinção entre esoterismo e exoterismo não se
manteve de maneira alguma na filosofia modema, que, no fundo, nào é
de fãto nada além do que é exteriormente, e que, pelo que tem a ensinar,
ESOTERISMO E EXOTERISMO não necessita certamente de nenhum esoterismo, já que tudo o que é
verdadeiramente profundo escapa por completo de seu ponto de vista
limrtado. Agora, a questão que se coloca é saber se tal concepção de
dois aspectos complementares de uma doutdna foi panicular à Grécia:
a bem dizer, haveria algo de surpreendente no Íato de que uma divisão
l\ T..r cut to rle ttossits considerações preliminares, as- que pode parecer tão natural em seu princípio permanecesse tão
I\.in"1",n,,. r,crtsionaltttenle a distinçâo. aliis muito excepcional, mas, de Íàto, não é nada disso. Inicialmente. poder-se-ia
bem conhecida. que cxistia em certas escolas filosóficas da Grécia encontrar no Ocidente, desde a antiguidade, certas escolas em geral
antiga, senão em lodas, isto é, entre clois aspectos de uma mesma muito fechadas, por este motivo mais ou menos mal conhecidas, e que
doutrina. um urais interiore outro mais exterior: eis aí toda a não eram inclusive escolas filosóficas, cujas doutrinas só se exprimiam
significaçãro literal desses dois tenros. O exoterismo. compreendendo para fora sob o véu de cerlos símbolos que deviam parecer bastante
aquilo que era mais elementar, n.nis lacilmente compreensível, e por obscuros aqueles que não tinham a sua chave; e esta chave só era dada
consequência suscetível de ser colocado mais amplamente ao alcance aos aderentes que tinham tomado cefios compromissos, e cuja
de todos, exprime-se somente no ensinamento escdto, tal como chegou discreção tinha sido suficientemente provada. ao mesmo tempo que
até nós de modo mais ou menos completo; o esoterismo, mais sua capacidade intelectuzrl estava assegurada. Este caso, que trata
aprofundado e de uma otdem mais elevada, e dirignclo-se como tal manifestamente de doutrinas muito profundas para se tomarem
apenas aos discípulos regulares da escola, preparados especialmente completamente estranhas à mentalidade comum, parece ter sido
p:u'a compreendêlo, era tão somente o objeto de um ensinamento frequente, sobretudo, na Idade Média, e constitui uma das razÕes pelas
puramente oral, sobre a natureza do qual não se pôde conservar, quais, quando se Íàla da intelectualidade dessa época, é preciso sempre
evidentemente, dados muito precisos. Aliás, deve ser bem entendido fazer reservas sobre o que pode existir além do que é conhecido por
que, já que se trata da mesma doutrina sob dois aspectos diferentes. e nós de modo seguro; é evidente, com efeito, que, tanto neste caso
como que de dois graus de ensinamento. ambos não podiam ser de como no do esoterismo grego, muitas coisas se perderam por nunca
nenhum modo opostos ou contraditórios, mas deviam antes ser terem sido ensinadas a não ser ôralmente, o que é também, como já
complementares: o esoterismo desenvolvia e completava, dando-lhe um indicamos, a explicação da perda qua se total da doutrina drrídica.
sentido mais profundo que só estava contido nela virtualmente, o que o
exoteÍismo expunha sob uma forma muito vaga, muito sirnplificada e Entre essas escolas que acabamos de aludir, podemos
às vezes mais ou menos simbólica, ainda que o símbolo tivesse mencionar como exemplos os alquinüstas, cuja dor.úrina era sobretudo
frequenÍemente, entre os Gregos, uma certa aparência totalmente de ordem cosmológica; mas a cosmologia deve, aliás, sempre ter por
literária e poética, que o fez degenerar em simples alegoria. Nem se fundamento um cefto conjunto mais ou menos amplo de concepções
precisa dizer que, por outro lado, o esoterismo podiâ. na própria escola, metafísicas. Poder-se-ia dizer que os símbolos contidos nos escritos
se subdividir, por sua vez, em vários graus de ensinamento mais ou alquimistas constituem aqui o exoterismo. enquan to qLre sua
rr.rcnos profundos, passando os discípulos de um a outro sucessivamente, intelpretação resenvada constituía o esoterismo; mas a patle do
rlc ircoldo com seus estados de prepaÍação, e podendo, aliás, ir mais ou exoterismo é então bem reduzida, e, como só há em suma razao de ser
rrrtros lunse segundo as possibilidades de srurs aptidÕes intelechraisl mas verdadeira em relação ao esoterismo e em vista tlestc. pode-se
r\lr, ( (l ir\e ludo o que se pode ai'irmar com seguranÇr. questionar se convém ainda aplicar esses dois telmos. Com efeito,
esoterismo e exoterismo são essencialntente coflelativos. visto que
105
104
de modo que' onde nào Um exemplo notável da pluralidade de sentidos nos é
essas palavras são de tbrma comparativa'
fornecido pela interpreÍação dos caracteres ideográficos que constituem
na"xoterlrmo,nãohárnaismotivoparasefalardeesotedsmo;estaúltima a escrita chinesa: todas as significações, das quais esses caracteres sào
seu-sentido
lã*r*rrça"'r- pode assim, quando se quer conseÍvar suscetíveis, podem se agrxpar em tomo de três principais, que
;róri;, il" paradesignar indiitintamente qualquer doutrina fechada' correspondem aos trôs graus fundamentais do conhecimento, e do qual
para o uso exclu\ir o de Lrma elite intelecttral a primeira significação é de ordem sensível, a segunda de ordem racional
exoterismo e a terceira de ordem intelectual pura ou metatÍsicai assim. para nos
Sem <lúvida' poder-se-ia enciual o esoterismo e o
conquaíto se limit:n a um caso muito simples, um lnesmo caractere poderá ser
de uma doutrina qullquer numa tcepção mais ampla' empregado analogicamente para designa tanto o sol como a luz e a
ãirrinnu a concepçl'.i r.la expressito' a primeira seíIdo totalmente
dizer verdade, sendo que só a naturezzi do contexto pennitirá reconhecer. para
p,,".,, q.," '"gun.1" s(r é a exte.iot'ização; pode-se
;;;;;;; " que a concepção cada aplicação, qual das acepções convém adotar, de onde resultam os
.igà,. trlas ittastanclo-se cltl sentido habitual' múltiplos erros dos tradutores ocidentais. Através disso, deve-se
"r.ia. "
reDresenla o csulerislllt). e ii e\plc':'il('
(' exolerismu e isto de Ltm
compreender como o estudo dos ideogmmas, cujo alcance escapa
ããa" rltrc r.esLrtlu Ju prriprirr nirlure/lI dus coi.rs..Entendendo
".a"*iri,,. completamente aos Etuopeus, pode servir de base para um verdadeiro
destamaneira.hápar.ticularmentecml(]Lladoun.inatletattsrcaalgoque ensinamento integral, permitindo desenvolver e coordenar todas as
que' como
.".f.. ."ta esot;rico, e esta é a parte cle inexprimívelcompoÍâ em concepções possíveis em todas as ordens: esse estudo poderá, portanto,
indicamos. toda concepção verdadeiramente metatísica
conceber por si mesmo' com sob pontos de vista diferentes. ser tomado em todos os graus de
ait aÍ algo que óada um só podc ensinamento. do mais elementar ao mais elevado, oferecendo a cada vez
"r.Cn.iu: simplesmente como ponto
a-ajuda áe palavrás e de símbolos que servem novas possibilidades de concepção, e isto é um instrxmento
será mais
à.'uooio p-u u sua concepçào, e sua compreensão da doutrina meravilhosamente apr opriado para a exposição de uma doutrila
em que
;; ;;"" ;.pleta e irofunda segundo a medida e1e a
tradicir.rnal.
.ãn."t.. efetivàmente. M".*o "* doutrinas de outra ordem' cujo
ái"-.. ,a" se estende até o que e absoluta e- 'uerdadeiramente da palavra' Voltemos agora à questão de saber se a distinção entre
*"-pti*".f, e que é o "mistério" no sentido etimológico é completamente esoterisrro e exoterismo, entendida desta vez no sentido pleciso, pode
não deixa de estar cefio que a expt€ssão nunca
se aplicar' às doutrinas orientais. Em primeilo lugar, no lslamismo a
proporção bem menor'
oã"oruau à concepçào, de forma que' numa tradiçáo é de essência dupla, reLigiosa e metzLfísica, como já dissemos;
áquele que compreende verdadei-
;;;il;f; ,i ,i,,aà .rgo análogo: vei alóm das palavras' e' se poderia
pode-se aqui qualificar bem precisamente de exotér'ico o lado religioso
Iurn"nt" e ,"rlp." uqr,.l. q," '"-bt da doutrina, que é. com efeito, o mais exterior e o que está ao alcance
;i;;;;" -0,,"' "espíritoi' de uma cloutrina qualquer é de natllreza-esotérica'
" 'letra é de natureza erotérica lsto seria de todos, e de esoteÍismo seu lado metafísico, qlle constitui o seu
;írl"u;; 'r, que oferecem' sentido proÍundo. e clLre é aliás encarado como a doutrina da elite; e esta
;;il;;i;""i" aplicárel I todos os textos tradicionais' de sentidos,.mai' ou distinção conserva bent seu sentido próprio, já que estas são as duas
rulias mtrito flequentemenle uma plurrlidade
pontos de vista dilerentes; faces de uma só e mesnra doutrina. É preciso nota.r, nesta ocasião, que há
í"íos ptorrnaoi, cortesponclentes a tanto§ algo de análogo no Juclaísnro. onde o esoterismo é representado pelo que
norem. em rez de procurat penetrar esses sentidos -'crítice .prefere-se se denomina Qaá bulalt. palavra cujo sentldo primitivo não é outra coisrr
I;;;;,;.;;; d.ài.ur-,. a lúteir pesqtri.as de exegere e de de
ptlu t*ol:1,-111: que o de "tradição", e que se aplica ao estudo das signilicaçÕes rnuis
tcxtos". segundo métodos laboriosos' instituídos profundas dos textos sagraclos. enquanto que a doutrina exotérica ou
que e paclencra que
rrrrx['Ínr: J.rt" ttubulho, por mais iastidioso seJa
r.,ulgar se atém ã sua signil'icação mais exterior e nlais literal; todavia,
ele está âo
.'i-ii,. i',rr"ia mais fácil q," o o'tto, porque pelo menos esta Qubbalah é, de urn modo getal, menos purarlerlte rretdísica que o
rrl,. rrttr'e ttc todils as inteligências' esoterismo muçulmano, e ela soÍreu ainda. nttmlt certa medida, a

: _: -----.----)
T 07
106 outro
que ela trata. A doutrina metafísica náo oferece em si âbsolutamente
influência do ponto de vista propriamente religioso' no
é
esotedsmo que aquele que se pode encontrar no sentido mais amplo que
comparável à pane metafísica da doutrina escolástica'
mencionamos, e que é natural e inevitável em toda doutrina dessa
i*o-iú"r,.rn.nr. desprendirh das considerações teológicas' No
vista.é quase ordem: todos podem ser admitidos a receber o ensinamento em todos os
i.^1^.1-t.", ao contrrárià, a distinçào dos dois pontos de seus graus, sob a útnica reserva de sercm intelectr-ralmente qualificados pam
aqur melnor que
sempre muito nítidal esta distinçào pernlite observar disso tirar um benefício efetivo; aqui, falamos somente. bem
ãrufou., outro lupar. pelas relaçõc' cntre exoteriçmo e esoterismo' entendido, da admissão em todos os graus do ensinamento, mas não em
"-
.".á, p.l, trensposiçào metatísica. as concepções teológicas recebem todas as funções, para as quais outras qualificações podem ser
um sentido profundo. requeridas; mas, necessariamente, entre aqueles que recebem esse
entre mesmo ensinamento doutrinal, da mesma maneira como este chega
Se passamos parir'ts doutrinâs mais olientais' a distinção
maneira' aqueles que lêern um mesmo texto, cada um o compreende e o assimila
esoterismo à não porJe nais se aplicar da mesma e
"*ot"rirniu dúvida' mais ou menos completamente, mais ou menos plofundamente, de
;;;ü;;,,"ir. its quais a distinção nenr pocle ser aplicável Sem
acordo com a extensão de suas próprias possibilidades intelectuais. Eis
;; q;" ;1, respeitó ã China, poder-se-ia dizer que a tradição social' que porque é totalmente impróprio falar em "Brahmanismo esotérico".
que a tradição
é cómum a todos, aparece como exotérica, enquanto como querem alguns, que aplicaram tal denominação sobretudo âo
é esotérica como tal No entanto' isto só
-"-,rii-.i"", doutrina áa elite, considerar essas duas ensinamento contido nas LlpunislrcLtls; é verdade que outros, falrmdo, por
seria rigorosamente exato com a conclição de sua vez, de "Budismo esotérico", fizeram algo ainda pior, porque só
á"roiri. etn relação à tradição primordial' qual ambas derivam;
da
apresentaram sob esta etiqueta concepções eminentemente fantasistas,
elas são úem nitidamente separadas' apesar dessa
-*Àl'" u"- air"r, que possa encar'á-las como só sendo duas faces de
que não se teferem nem ao Rudismo autêntico nem a nenhum
fonte comum, para se
esoterismo verdadeiro.
uao a"r-u àortrina, o que ê necessário para que se possa falar
desta
.,.noaiu-ant" de eroterismo e de exoterisrno Uma das razões De um manual de históna das religiões ao qual já Íizemos zúusão,
espécie de domínio. misto no qual
5""í"aã" ,.ria" na ausência dessa
que e onde se encontram aliás. se bem que ele se distingua pelo espírito no
se unem' nu medida em sào
á.lit. p"r," de vi\ta religioso' onde qual é redigido, muitas confusões comuns nesse género de obras,
"
rrr.",i*it, o ponto de vista intelectual e o ponto de vista social' aliás em
não tem sobretudo aquela que consiste em tratar como religiosas coisas que não
á"iti""ruo dá pureza do primeiro; porém' esta ausência
da o são de modo algum na realidade, destacamos a seguinte observaçào:
i"-pra tão marcadas a esse respeito' como o exemplo
"onraqrêrcias religioso e onde "Um pensamento indiano ratamente encontra seu equivalente exato fora
inãiã rnor,.u, onae não há nada mais de propriamente da Índial ou, para falar com menos arnbição" maneiras de encarar as
um conjunto único e
il;, ;t ramos da tradição forman-r, contudo'
coisas, que são aliás esotéricas, individuais, extraordiráias, sào, no
indiüsível' Brahmanismo e na Ínclia, vulgares, gerais, normais" (1). Isto é jlrsto' no
fundo, mas exige todavia algumas resetvas. porque não se poderia
É precisamente da Índia que nos resta tatg 1u1' e ê lã
que se
como a do qualificar de inãividuais, nem na Ínclia nem alhures, concepções qlle,
,"- *"noi possibilidades de ss encarar uma distinção
com efeito muita sendo de ordem metafísica, são ao contrário essencialmente supra-
e do exoterismo, porque a tradiçãÔ tem individuais; por olrtl'o lado. essas concepções encontrarr sell
"ú".i..o
unidade para se apresentar, não iomente em dois
cotpos de doutrina
equivalente, se bent que sob fonnas diferentes, em qualquer pit e en1
::;;'"d".: ,ror."..o sob dois aspectos complementares desse género'
que que existe uma doutrina verdadeiramente metafísica, isto é. ent totlo o
:r
,ii,'l qr. real. mente se pode distinguir lá é. a doutrina essencial Oriente, e é somente no Ocidente que não há com eÍ'eito natla que the
tt rrrclrlísica por inteiro, e suas aplicaçÔes de diversas- or
dens' que
coresponda, mesmo longinquamellte.
(orrslilrrctn tilntos ramos secundáiios em relação a ela; mas é benl
,1l.,. isk) não equivale <le neúum modo ã distinção de que se
""i,|,',,t.
149
103
verdade é que as concepções dessa -ordem não sào em
A
nenhum lugar tão geralmeÍlte difundidas quanto na Índia, já que nào se CAPÍTULO X
encontra alhu€s um povo que teúa em geral no mesmo grau as
aptidôes requeridas, se bem que estas sejam, contudo, liequentes entre
tádos os Orientais, especialmente entÍe os Chineses, entre os quais a A REALTZAÇÃO VBrar,ÍStcR
tradição metafísica guardou, apesar disso, um caráter muito mais
fecnádo. O que na Índia pôde contribuir sobretudo para o
desenvolvimento de unra t:rl mentalidade é o caráter puramente
tradicional da uniclade hinclu: não se pode participar realmente dessa
Ao indiczLr as caracteísticas essenciais da metafísica' dissemos
unidacle a não set na medida em clue se assimila a tradição, e como essa que ela constitui um conhecimento intuitivo, isto ó, imediato, opondo-
tradição é de essência metafísica. poder-se-ia dizer que, se todo Hindu se nisto ao conhecimento discursivo e mediato da ordem racíonal. A
é naturalmente metalísico, é porque ele deve sêJo de qualquer modo
por
intuição intelectual é mesmo mais imediata ainda que a intuição sensível'
definição. porque ela é além da distinção entre srÚeito e objeto que estâ últimâ
deixa subsistir; ela é tanto o meio do conhecimento como o pr'óprio
conhecimento, e nela sujeito e objeto são unidos e identificados Aliás,
qualquer coúecimento só merece verdadciranlente estc nome na
medida em que tem poÍ ef'eito pr-odtrzil tttlla tal identificação. mas qlle
sempre permanece, em qualquet lugar. incotrpleta e inrperl'eita; em
outros termos. o único conhecirlento veldadeiro que existe é aquele que
mais ou menos pafiicipa da natureza do coÍlhecimento intelectttiLl puto, o
(1) "Oai{§':cry. Wp 359,ÍnE
conhecimento por excelência. Qualquer outro conhecimento, sendo lnais
ou menos indireto, tem em suma apenas um valor simbólico ou
representativo; não há outro conhecimento verdadeiro e el'etivo além
daquele que nos permite penetrar na própria natureza das coisas, e' se
uma tal penetração pode ocoret até um cefio ponto nos graus inferiores
do conhecimento, é só no conhecimento metafísico, em contrapaftida,
que ela ê plena e totalmente realizável.

A consequência imediata disto é que conhecer e ser sâo, no


fundo, uma só e mesma coisa; se quisemos, são dois aspectos
insepanáveis de uma realidade única, as pectos que não poderiam
mesmo ser distintos de verdade lá onde nldo é "sem dualidade". Isto
basta para tomal' completamente vâs todas as "teorias do coúecimento",
com pretensões pseudometafísicas, que prcenchem um papel considerável
na filosofia ocidental moderta, e que mesmo tendem às vezes, com{l
em Kant por exemplo, a absorver todo o resto, ou pelo menos a se
subordinar a ele; a única razão de ser desse gênero de teorias consíste
numa atitude cofilum a quase todos os filósofos modemos e, aliás,
110 111
oriunda do dualismo cartesiano, atitude que consiste em opor é o de "contemplação", e, se assim fosse tomada. poder-se-ia dizer
artificialmente o conhecer ao seÍ, o que é a negação de qualquer que toda metafísica, com a realização que implica, é a "teoria" por
metafísica verdadeira. Esta filosofia chega assim a querer substituir o excelêncial no entaÍrto, o uso deu a esta palavra uma acepção um pouco
próprio conhecimento pela "teoda do conhecimento", e isto é, de sua diferente e sobretudo muito mais restrita. Inicialmente. tomou-se o
parte, uma verdadeira confissão de iurpotência; nada é mais característico hábito de opor "teoria" e "prática", e, na sua significação primitiva, esta
a esse respeito que esta declaração de Kant: "A maior e talvez única oposição. sendo a da contemplação e da ação, seria ainda justificada
utilidade de qualquer filosofia da razão pllra é, afinal, exclttsivamente aqui, já que a metafYsica se situa essencialmente além do domínio da
negativa, pois que ela é. não Lrm instn-lmento para estender o ação, que é aquele das contingências hdividuars; mas o espírito ocidental,
conhecimento, r.nâs ulrit disciplina para limitá-la" ( 1). Tais palavras nào sendo que quase exclusivamente voltado para o lado da âção, e não
tenderiam simplesrnente a irfinnar que a úlnica pretensão dos fi1ósofos é concebendo nenhuma realização tbra disto, chegou a opor em geral
impor a todos estreitos: limites de seu próprio entendimento? Eis aí. de teoria e realização. E portanto esta última oposição que aceitamos de
resto, o inevitável resultado do espír-ito de sistema, que é, repetimo-lo, fato, para não nos afastârmos do uso recebido e para evitar as
antimetafísico lo mais alto grau. confusões que poderiam provir da dificuldade que se tem ao separatr os
telmos dos sentidos que se está habituado a lhes atfibuir a toflo e a
A metafísica afirma a identidade fttndamental entre coúecer e ser, direito; todavia, não chegaremos até o ponto de qualificar de "prática" a
que não pode ser colocada em dúvida a não ser por aqueles que ignoram realização metafísica, porqlle esta palavra pemaneceu. na linguagem
seus princípios mais elementares; e, como esta identidade é corrente, inseparável da ideia de âção que exprimia primitivamente e
essencialmente inerente à propria natureza da intuição intelectual, ela que não poderia de nenhum modo se aplicar aqui.
não somente a afirma, mas também a realiza. Pelo menos isto é
verdadeiro para a metafísica integral; mas é preciso acrescental-que o Em toda doutrina que é metafisicamente completa, como o sào
que houve de metafísico no Ocidente parece ter sempre permanecido as doutrinas orientais, a teoriâ é sempre acompanhada ou segr"rida de
incompleto sob tal aspecto. Entretanto, Aristóteles colocou nitidamente umzi realização ef'etiva, da qual é somente a base necessária: nenhuma
em princípio a identiÍicação pelo conhecimento, declarando realização pode ser abordada sem uma preparação teórica suficiente,
expressamente que "a alma é tudo o que ela conhece" (2); mas nem ele mas a teoria como um todo é ordenada em vista da rcalização, como o
nem seus continuadores parece ter jamais dado a esta afirmaçâo seu meio em vista do fim, e este ponto de vista é suposto, pelo menos
verdadeiro alcance, extraindo todas as decorências que ela compofta, de implicitamente, até na expressão exterior da doutrha. Por outro lado, a
modo que ela permaneceu para eles como algo puramente teórico. Isto é realização efetiva pode ter, além e depois da preparação teórica, outros
ainda melhor que nada, seguramente, mas é. não obstante, muito meios de uma ordem bem diferente, mas que só são destinados, eles
insuficiente, de tal forma que esta metafísica ocidental nos aparece também, a fomecer um suporte ou um ponto de partida, que em suma
como duplamente incompleta: elajá é assim teoricamente, no sentido de não têm outl'o papel que o de "auxiliares", qualquer que seja aliás sua
que não vai além do ser. como explicamos anteriormente, e, por outro impoÍância de Íato: eis aí. especialmente, a rezão de ser dos ritos de
lado, ela só encara as coisas, na medida mesma em que as encara. de um caráter e de alcance pÍopriamente metafísicos cuja existência já
modo simplesmente teófico; a teoria é apresentada de qualquet maneira assiaalamos. Todavia, com a dilêrença da preparação teórica, esses
como se bâstando a si mesma e como sendo seu próprio fim, enquanto ritos nunca são encarados como meios indispensáveis, são âpenas aces-
deveria constituir apenas uma preparação, aliás rndispensável, em vista sórios e não essenciais, e a tradição hindu, na qual eles ocupam. no
Llc Lrrna realização correspondente. entanto, um importante lugar, é completamente explícita a esse respeito;
mas eles não podem deixar da facilitar grandemente, por sua própria
íl preciso aqui dar uma nota a respeito do modo pelo qual eficácia, a realizaçâo metafísica, isto é, a transfirrrnação deste
(.nll)rclllrros esta palavra "teoria"; etimologicamente,seu primeiro sentido conhecimento virhlal que é a simples teoria num conhecirnento efetivo.
113
t!2
Ficamos a precisar esse ponlo de vista da realização metafísica,
Essas considerações podem seguramente parecer
muito
mesmo a possibilidade porque ele é essencial ao perrsamento oriental, e aliás comum às três
estranhas aos Ocidentais, que nunca encararam grandes civilizaçÕes de que falamos. No entarlto, nesta exposiçAo nào
á" q.*fqr., coisa desse gên"to: ", no entanto' para falar a verdade' queremos insistir nisso além da medida, pois ela deve antes pemanecer
n.,oJ.r"lio encontrar no Ócidente uma analogia parcial' se bem que
forçosamente elementar; nós só o encaramos então, no que conceme
L"r-i,o iongnq,,". com a realizaçào metdisica que.chumaremos de
-mí.ii.u. que..mos dizel qrre hd' nos estados^ mistrcos' no especialmente ã Índia, tanto quanto Íbi estfitamente inevitável tazê-lo, iá
realização que este ponto de vista é talvez :rinda mais difícil de compreender que
çu16 113i' qtte
,entido teológico de'ta pdavrr' algo clc elêtiro' que e- de qualquel'ouúo para a maioria dos Ocidentais. Além clisso, é preciso
um conhecimento simplesme te tedrico, uittda quc uma
reallzaçao
rbrçosarnente limitada Da mesma maneira dizel que. se a teoria pode sempre sef exposta sem reservas, ou pelo
;;;r;';;á; seja sempie tarnbém do menos sob a Írnica reserva de que é r,erdadeiramente inexprimível' não
não sai
.ãrã raà ," ,ui.1o ,odo propt'tu-tntt religioso' se
ocorre da mesma maneira no que tange à realização.
ãámínio indiviauall os estidos místicos não tôm nada de supra-

iJiriOrut. elas só implicam uma extensão mais ou menos indefinida


Ja.s fÀtsü iaua"s ináividuais qtte, tle t esto'.
vào incompura-velmente
mais além do que se supõe em gerul' e sobletudo rlem d-o que os
para (1) "Kritik der reinen Vemunft". ed. Harrenstein. p. 256.
pri.otogn. sào capaze\ dJ conceher, lneslro com todo seu esforço (2) "De anima".
iâ,,,e-la\ enlrJt no "stlbcunsciente'

Esta realização não pode ter unr alcance .ttniversal ou


metafísico, e ela permanece semPre sLrbmetida
à influência de
éo
inAitiauais' principalmente de ordem sentimental; e§re
"f"*"nto.'
.ora- À.t.n ao ponto áe vistà rtligioso, só que ainda mais acentuado
que

em qualquer outro lugar, como já assinalamos' e


e' ao.mesmo tempo
a\pecto de "pltssividade" que se
t"rt'Jr",'" q*. Ae uos ãstados místicos o
,""onh"aa em geral, sem contar que a confusão das duas ordens
l'requentemente uma
intelectual e sentimental pode ser' nesse caso'
sempÍe
ibnte cle itusoes. Enfim, é preciso notar que esta realização'
fr-asmentária e raramente ordenada, não supõe de
modo algum
;;;;;;; teórica: os ritos religiosos riesempenham muito bem nela
5.iJ prriJ-0. ;rrxiliares" que. Ã outras ocasiões' os ritos metafísicos
,rá*ilp'""frr., mas em si mesrna ela é independente da teoria religiosa
que posslrem
,,.r" u t"ologio, isto nào impede, aliás' que os místicos
..n*" ara"t ãológico" evitem muitos enos cometidos por aqueles que
s,-,,, .lesprovidos diso e que são mais capiizes de controlar numa cefla
nrerlir-k suit imaginação sua sentimentalidade Tal como é' a
e
ltrlizrrçao místici, ou em moclo religioso' com suas
limitações
,,.',,,, i,,ir. ó a única realizaqão conhàcida no mundo ocidental:
1,,,,1, ,,r,,,
(liz!-r âqui aintla, comó há pouco, que isto é melhor,que nada'
1,,,,,1,, ,1,,, sc estein nruito longe ria realização metafísica verdadeira'

i
115
114 igualmente a elementos pertencentes a raças diversas, muito menos
ainda uma nacionalidade, já que não existe nada de semelhante no
Oriente. Encaraldo a India na sua totalidade, ela seria antes comparável ao
conjunto da Europa do que a um ou outro Estado europerl e isto não só
por sua extensão ou pela imporlância numérica de sua população, mas
PARTE III tâmbém pelas variedades étnicas que esta apresenta; do Norte ao Su1
da Índia, as diferenças são pelo menos tão gÍândes, sob tai aspecto,
quanto de uma extremidade à outra da Europa. Entre as diversas
regiões, não há, aliás, nenhum elo govemamental ou administrativo,
AS DOUTRINAS HINDUS a1ém daquele que os Europeus estabeleceram recentemente de um
modo bem artificial; tal unidade administrativa, é verdade, tinhajá sido
realizada antes deles pelos imperadores mongóis, e talvez ainda antes
por outros, mas ela sempre Íeve apenas uma existência passageira em
relação à permanência da civilização hindu, e é notável que ela quase
sempre se deva à dominação de elementos estrangeiros, ou em todo
CAPÍTUI-O PRIMEIRO caso não hindus; além do mais, ela nunca chegou ao ponto de supdmir
completamente a autonomia dos Estados particulares, mas antes se
esforçou em fazê-Ios enlraÍ numa organização federativa.

SIGNIFICAÇÃO PRECISADO TERMO''HINDU'' Por outro lado, náo se encontra de nenhum modo na Índia algo
que possâ se comparar ao gônero de unidade que o recoúecimento de uma
autoridade religiosa comum realiza em outros 1ugâres, seja esta
autoridade representada por uma única individualidade, como no
Catolicismo, ou por uma pluralidade de funções distintas, como no
TTludo o oue foi dito até aqui podena servir de introdução' de.um
todas as doutrmas Islamismo; a tradição hindu, sem ser de maneira alguma de natureza
I modo absolutamente geral' ao estudo departicularmente às religiosa, poderia, no entanto, implicar uma organização mais ou menos
respeito mais
orientais; o que diremos agora dIrá análoga; mas não se trata disso, a despeito das suposições gratuitas que
a modos de pensamento que'
ã^o^Jtrina, hinàus, adaptadas especialmente alguns fizeram a este respeito, porque não Çompreendiam como a midade
ii"ii""-i""a" ". "araàterísticas comuns ao pensamento oriental no seu
podia ser realizada efetivamente apena"s pela potência inerente ã própria
ainda assim certos traços distintivos aos
quais
".ri*", "ot"-rhm
;l##;d#;rf"t"ú, tu forma, mesmo quando o fundo é doutrina tradicional. lsto é bem diferente, com efeito, de tudo o que existe
no Ocidente, e, no entanto, é assim: a unidade hindu, já iasistimos nisso, é
l;;;;:;;"r. idêntico ao de outras tmdições' o que é sempre. o caso'
parte uma unidade de ordem pura e exclusivamente tradicional, que não
se tratar de metafísica pura' Nesta
;1^;õ;t que indicamos, .ao a significação necessita, para se manter, de nenhuma forma de organização mais ou
Á, axnosicào interersa preclsar' antes de todas as coisas' menos exterior, nern do apoio de outra autoridade que a da própria
it Àar", .ujo u.o mais ou menos vago gerou frequentes
;r;;i;;';; doutrina.
equívocos no Ocidente.

o que é hindu e o.gue 1ão é' nã3 A conclusão de tudo isso pode ser formulada da seguinte
Para determinar nitidamente maneira: são hindus todos os que aderem a umâ mesrna tradição, com a
a"i*a de lembrar
,',,ur"nu,l; brevemente algumas considerações que 1a
uma raça' pois ele se aplica condição que sejam, bem entendido, devidamente qualificados para
[".",;;;;;;J; i...à nao poa" a"signar
Lt1
116
poder aderir real efetivamente a ela, e não de um modo
e subsisticlo entre eles alguns vestígios de sua origem, sob a forma
ilusório; ao contrário, não são hindus aqueles de modalidades particulares no modo de pensar e de agir'' contanto que
simplesmente extedor e
que, por qualquer razão que seja, não participam dessa mesma tradição' somente elas fossem compatíveis com o espírito da tradição.
Antes de seu estabelecimento na Índia, esta mesma tmdiçào era
Éste é especialmente o cáiso dos Jainas e dos Budistas; é tambérn, nos
a de uma ciülização que não chamaremos "âryrmismo", tendo já explicado
tempos modemos, o dos S*hs, sobre os quais se exercem a1iás influências
por que esta palavra é desprovida de sentido, mas para a qual podemos
muçulmanas cuja marca é muito visível na sua doutrina especial' Tal é a
veúadeira distinção, e não poderia haver outra, ainda que esta seja tào aceitar, na falta de ouúa. a denominação "indo-iraniana", se bem que
seu local de desenvolvimento não tenha sido provavelmente mais o Irã do
dificilmente con.tprcensível, é preciso reconhecê-lo bem, para a
menÍ idade ocidental, habituada a se basear-sobre ouÚos elementos de que a Índia, e simplesmente para matcal que ela devia gerar
posteriormente as duas civilizações, hindu e persa, distintas e mesmo
apreciação, que àqui são inteiramente inexistentes. Nestas condições, é
opostas por alguns traços. Numa cefia época, poÍanto, deve ter ocorrido
um veràadeiio contra senso ftúar, pol exemplo. de "Budismo hindu",
como se faz, todavia, com muita trequência na Europa e em especial na
,ma .i.áo bastâte anáioga àquela que oconéu mais tarde, na Índia,
Frzmça; quando se quer designar o Bttrlisnlo tal como existiu outrora na
com o Budismo; e o ramo separaclo, desviado em relação à tradição
primordial, tomou-se então o que se denomila o "lranismo", isto é, o que
Índiá. nào há ouÍra denominação que possa convir do que a de
àevia ser a tradição persa, chamada ainda "Miudeísmo". Já assheúamos
"Budismo indiano", da mesma maneira como se pode perfeitamente
esta tendência, geml no Oriente, cle douttinas que Íbram de início anti-
falar em "Muçulmanos indianos", isto é. Muçulmanos dalíndia, que nào
são de neúum modo "hindus". Observa-se assim o que estabelece a
tradicionais pffa se colocar. pot sllâ vez, como tradições
independentes; a tradição cle que se tftúa tinha sem dúrvida tomado este
graviclade real de um elro do gênero como o que assinalamos, e por que
caráter muito tempo antes de ser codificada ro Avesta sob o nome de
ãle constitui aos nossos olhos muito mais que uma simples inexatidão de
Zarathustra ou Zotoastro, no qlral é preciso ver, aliás, não a designaçào
detalhes: é que ele testemunha um profundo desconhecimento do caÍácter
de um homem, Íus .lrltes a cle utna coletividade, tal como acontece
mais essenóial da civilizaçáo hindu; e o mais sú?reendente não é que
partilhada por muitas vezes em casos semelhantes: os exemplos de Fo-Hi para a Chin4
esta ignorância seja comum no Ocidente, mâs que ela seja
de Vyâsa para a Índia, de Thoth ou Hermes pi:ra o Egito, mostrarn isto
orientalistas Profissionais.
de modo suficiente. De um outro lado, um vestígio muito nítido do desvio
se trata foi levada â região que é a Índia peÍrnaneceu na própria lírgua dos Persas. na qual certas palavras
A tradição de que
ôbtireram un sentido diretamente oposto àquele que thhan.t
âtual, numa época mais ou menos recuada, e que seria muito drfícil de
já primitivamente e que conserlr'allam em sânscrito: o caso da palavra Deva é
precisar, por hàmens vhdos do NoÍe, segundo certas indicações que
não é, atiás. provado que esses migradores, que terixm aqui o mais conheciclo, mas poder-se-ia citar outros, o do nome de
i'o-"."*or; Inàra, por exemplo, e isto não pode ser acidental' O caráter duâlista
parado sucessivamente em diversas regiÔes, tenham constitLrído um
que se atribui comumente à tradição persa lbsse [eal, scria tamhém
povo propriamente dito, pelo menos na origem, nem que tenham
p.rt"riiAô primitivamente a uma única raça. De qualquer modo' a ú-u prou, manifesta da alteração da doutrina; mas é preciso, no
que entanio, clizer que este caráter paÍece set apenas o resultado de uma
iradição hindu, ou pelo n.rnos aquela que traz hoje esta designação' e
intelpÍetação fatsa ou iricompleta enquanto que há unra oula provir mitis
outróra podia ter úma outra ou mesmo nenhuma designação, estâ fradição'
pela séria, conitituída pela pr-escnça de certos elementos sentimentais; al'inal,
cliÍamos, quando se estabeleceu na Índia, foi adotada cedo ou tarde
nào temos como in.i*lir ttestl qtlestio aqui.
rnaioria dos descendentes das populações indígenas; estes, os
l)r'avidianos por exemplo, tomaram-se poÍanto hindus de qualquer
quanto Apartir do momento em que se produziu a sepiu:tção de que
rr](rrkr "por adoção", mas então eles o foram tão verdadeiramente
grande acabamos áe falar, a üadição rcgut pôde ser chanladrr ptopriamente
rrrlrrclcs tlue sempre foram, desde que tinham sido admitidos na.
rrrriiLr..le tlt civilização tradicional, e ainda assim mesmo deve ter "hindu", qualquer que seja a região em que ela se conservou
119
118
inicialmente e tenha ela recebido ou não desde estão esta
dar
denominação de fato, cujo emprego, aliás, não deve de nenhum modo
tenha havido na tradiçáo qualquer mudança profunda e
qr" CAPÍTULO II
u p"nru.
esiencial; logo só pode ter havido, tanto nesse momento quanto em
seguida, umtesenvolvimento natural e normal do que tinha sido a
tradição primorciial. Isto nos leva ainda a assinalar diretamente um erro A PERPETLIIDADE DO VEDA
dos orientalistas, que, não compreendenclo nada da imutabilidade
essencial da doutrina, acreditaram poder considerar, após a época
"ildo-iraniana", h-ês tloutrinas sucessivas supostas diferentes, às quais
eles deram os respectivos nomes de "Vedismo", "Brahmanismo" e nome Veda, cujo sentido próprio acabamos de indicar, é
"Hinduísmo", Se só se quisesse entender por isto três períodos da história aplicado de um modo geral a todos os escritos fun-
da civilizaçzro hinclLr. seria sem dúrvida aceitável, ainda que as damentais da tradição hindu; sabe-se. aliás, que esses es-
denominaçoes seiam bastante impróprias, e que seja extremâmente critos são divididos em quatro compilações que trazem os nomes
difícil deiimitar e situar cronologicamellte tais períodos' Mesmo respectivos de Rig-Veda, Yaiur-Veda, Siirtttt-Veda e Atharvo'Veda A
querendo-se clizer que a doutrina tradicional, enquanto pelmanecesse a quástão da data na qual essas compilações foram compostas é uma das
,n".*o ,o fundo. teria recebido sucessivamente várias expressões mais ou que rnais pÍeocupam os orientalistas, e estes nunca chegaram a se
menos diferentes para se adaptar às condições particulares, mentais e entender sobre sua solução, limitando-se lnesmo a uma estimâtiva
sociais de tal ou qual época, isto ainda poderia ser admitido, com bastante aproximada de sua Antigüidade. Tanto neste caso como em
reservas análogas às precedentes. Mas não é simplesmente isto o
que qualquer outro, constata-se sobretudo, como já indicamos, a tendênciâ
os orientalistas sustentam: usando uma pluralidade de denominaçÔes' em remontar tudo a uma época tão recuada quanto possível, e também
eles supõem expressamente que se trata de uma série de desvios ou a contestar a autenticidade de tal ou qual parte dos escritos tradicionais,
alteraçdes, incompatíveis com a regularidade tradicional, e -que só sempre se baseaÍldo sobre análises minuciosas de textos, acompanhadas
existiiam na sua imaginação Na realidade, toda a tradição hindu é de d-isseÍtações tão intermináveis quanto supérfluas sobre o uso de uma
essencialmente fundada sobre o Veda, sempte o foi e nunca deixou de palavra ou de uma forma gramatical.
sêJo; poder-se-ia pofianto chamá-la de "Vedismo", eo nome
"Brúmanismo" também lhe convém igualmene para todas as épocas; Com efeito, essas são as ocupaçoes mais habituais dos

pouco impofia no fundo a designação que se preferirá lhe dar' desde orientalistas, e segundo a intenção daqueles que se dedicam a isso sua
qr" ." ,uibu que. sob um ou vários nomes, se trata sempre da mesma destinação trivial . é mostrar que o texto estudado não é tão antigo quanto
coisa; trata-se apenas do desenvolvimento da doutrila contidâ em se penmv4 que ele não deve ser do autoÍ ao qual tinha sempre sido
princípio no Vitla, palavta que significa propriamente, aliás' o atribuído, sá todavia há algurr, ou, pelo menos. que ele foi
.onh""im"rto tradicional por excelência Não há então "Hinduísmo" "interpolado" ou solieu uma alteração qualquer numa época
no sentido de um desvio do pensamento tradicional, pois o que é relativamente recente; aqueles que já estão um tanto a par dos trah'rlhos
verdadeira e purâmente hindr-r é justamente o que, por definição, não da "crítica bíblica" podem fazer uma idéia suÍiciente do que é pot'ctn
admite qualquer clesvio dessa espécie; e' se apesar disso' às vezes prática esses procedimentos. Não é de se espantar que âs Pcsqtrisrr\
ocorreram certas anomalias mais ou menos graves, o sentido da empreendidas num tal espíÍito só consigam avolumar tliscttssôes
lnldição sempre as manteve em ceftos linrites, ou então as rejeitou inúieis, e que os miseráveis resultados dessa "crítica" dissolvente'
intcimrlente da unidade hindu, e, em todo caso, as impediu de jamais quando chegam a ser conhecidos dos Orientais, conÚ'ihuam
iultluirir uma autoridade real; mas, para ser bem compreendido, isto enormemente a lhes inspiraf o desprezo parra o Ocidcnle Eln suma, o
r. ri1'r. lrittrlr ltlgttmas consideraçôes. que escapa totalmente aos orientalistas são sempre as questões de
72r
120
históncas, tanto quanto ouüas contingências, não exercem nenhuma
princípio, e como são precisamente aquelas sem as-quais nada
se
influência sobre o fundamento da doutrina, que tem um caráter imutável
oode compteettder, iá que lodo o re.,to deriva delas e dereria e puramente intemporal, e é aliás evidente que a inspiração de que
tgi.ur.rt. ser deduii.lo .lelas. negligenciam todo o e>senc ial' ,porque
detalhes acabamos de falar pode ocoÍrel em qualquer época. A única dificuldade
;;-"' i;;;r"t de encará-lo' perdendo-se inemediavel tnente nos
aqui tzrlvez seja fazer com que os Ocidentais aceitem uma teoria da
mais insigniticantes ou nas fantasias mais arbitrárias'
inspiração, e, sobretudo. fazer com que compreendam que essa teoria
fot'am não deve ser nem mística nem psicológica, que ela deve sel'puramente
questão da data na qual as diferentes paftes do Vetla
A
ela não tem uma metafísica; isto suporia" aléni disso, desenvolvimentos que nào se
escritas parece verdadeiramente insolúvel, e, aliás'
época mais ou menos longínqua em incluem na nossa intenção atual. Essas poucas considerações devem
importância real, porque, antes da
preciso considerar'. como já bastar para permitir entrever o que os Hindus querem dizer qtrando
q.ããã" r"i escri«i pela primeira vez, é
falam da perpetuidade do Veda, também em correlação. por outro lado,
oraú de uma
t'ivemos ocasião de notiu antes, um período de transmissão
escdta na India seja com a teoria cosmológica da primordialidade do som entre as qualidades
á"rriao irJ""t.inada. É provável tlue a origem da sensíveis, que não podemos expol aqui; este último ponto pode fomecer
e que os caractercs
notavelmente mais antiga clo que se ptetende em geral'
do qual uma explicação do fato que, mesmo posterior-mente ao uso da doutrina, o
;â";;i;r não sejam, aiiás, clerivadós de um althbeto fenício'
disposição De ensinamento oral da doutrina sempre conservolr na India um papel
eles não se apioximam nem pela ftrrnlu tlem .pela preponderante.
orutor", a-a'Úr. o que há de ceflo e que nio se dere rer ltldr'rlem
de

Jrnr- orO.nrçuo e uml [iraçào definitira r'le textos tradicionris


O Veda , sendo o conhecimento tradicional por excelência, é o
fil"*i*"nt"t'notrabalho atnbirído a Vyâsa, nome que não. designa
e
menos ainda um princípio e o funclamento cotl.tlttn cle todos os ramos mais ou menos
verdadeüamente nem urlii personagem histórica
ie.rnàátio. e derivados da doutrina; e, para estes ainda. a qu,estão do
"mito", mas antes, tal como notamos antes' Llma coletividade
desenvolvimento cronológico tem muito pouca importância. E preciso
inteleciuâl. Nessas conclições, a determinação da época de Vyâsa' encarar a tradição em sua integralidade, e não há por que se perguntar
uàrni mao-t" mesmo que elâ seja possível, só interessa
como um simples
alcance doÚrinal e é evidente' poÍ otltro o que, nessa tradição, é primitivo ou não, já que se trata de um conjunto
làto de históna, sem nenhum
cefio número de pedeitamente coerente, o que não quer dizer sistemático, que todos os
iuao, qu" essa época pode compreender um período de pontos de vista que ele comporta podem ser encarados tanto simultânea
acabado, de modo que a questão de
sécrioi; ela podária mesmo nunca ter quanto sucessivamente e que, por conseqüência, é pouco interessante
de fato' o que não quer
seu ponto de partida seria a única a se colocar
pelos procedimentos es- ionhecer a ordem histórica na qual eles se desenvolveram de fato. IsrÔ é
dizei que seja possível lesolvêJa, sobretudo
tão desinteressante na medida etn que se trataria do alesenvolvimento
peciais da erudição ocidental.
desses pontos de vista tal como foi tbtmulado por escrito nas obras clue
podemos conhecet, já que, quando se sabe ver além dos textos e sc
A transmissão oral antecedente é muitas vezes indicada num texto'
vcut'shu ot penetra antes no fundamento das coisas, forçoso é reconhecer que clcs
mas sem nenhum dado cronológico, pelo que se chama
com a maioria das iempre foram concebirlos simultaneamente no seu pr'óprio princí;lio;
iiliaçao espiritual; é o que o.o,','", especial
é "rn
preciso sempre recorrer â ulna eis por que um texto traclicional pode ser suscetível de unra pltttrrlitlrrrlc
Ltpanishads. Na origem. entretanto, ou em correspondência cttnr
irispiração direta, aliás, igualmente inclicada no vanslru'
já que não se de interpretações aplicações. csscs

pouco impor-ta que a diferentes pontos de vista.


traia dà modo algum tie uma obra individual:
tll(liçaro tenhà .i,lo a"p.aa.u ou Íbrmulada poÍ este ou aquele
qlre essa Não se pode atribuir a tal ou qual parte dÍ doLrtlina uru autoÍ
irrtlivítlLro. não sendo este o autor por causa disso' desde
que a origem deterrninado, assim como não se porle fazê-lo em rcltçao arls plóprios
Irrrrliçrlr é essencialmente de ordem supra-in<lividual Fis por
textos védicos, nos quais a doutrina inteita é enccllittla sinteticamente,
rlo Vcrl;r r-'clurnnda apuuruslrcytt' isto é, "não-humana": as cit'cunstâncizrs
r22
pelo menos na medida em que ela é exprimível: e. se tal autor ou
comentalista corüecido expôs tal ponto mâis ou menos particular. isto não
CAPíTULO III
quer dizer evidentemente que outro não o tenha feito antes dele' e ainda
menos que alguém não tenha pensado nisso até aquele momento, meslro
que ninguém o tenha ainda fotmulado num texto definido A exposição ORTODOXIA E HETERODOXIA
pode sem dúvicla se moditicar na sua forma exterior para se adaptar às
circunstâncias: mas não devemos insistir demais nisso, o fundamento
permânece sempre rigorosatrente o mesmo, e essas modificações
àxEriores não âtingem e naio afetam em nada a essência da doutrina' A orlocloxia e a heterodoxia podem ser encaradas não só
Essas consiclerações. levando a questão para o tereno dos princípios, sob o ponto de vista religioso, se bem que este seja o caso mais habitual
permitem corrpteender as principais razões do embaraço clos no Ociclente. mas também sob o potlto de vista muito mais geral da
cronologistas e ilo mcsnlo tenlpo a inauidacle de suas pesquisas; como tradição sob todos os seus modosi no qr-re se reÍêre àL India, é somente
essas razões dc qr-re inÍ-elizmentc cles nilo sc dão conta se atên] à natureza já que 1á não
atravàs desta útltima maneira que se pode comprecndê-los.
mesma das coisas. r': urclhot- seria seglLranlente permanecerem em sells há nada que seja propriamente leligioso, enq[anto que, para o
próprios limites e rcnunciarcm ii levantarem questóes insolúveis. e. Ocidente. não há oo contÍário nacla de verclacleirinnente tradicional fora
aÍjnal, se resignariam sem diticuldade a isso na :nedida ern que apenas da religião. No que diz respeito à metafísicit e a tudo o que procede dela
pcrcebessem que cssas questões não têm nenhum alcance sério: isso é mais ou menos diretamente. a heterodoxia de uma concepçâo não é
o que quisemos erplicar principallnente neste capítulo. cujo tema nào outra coisa, no fundo. que sua falsiclade, rcsultânte de seu desacordo
nos era possível tratar de modo completo em seus aspectos mais com os princípios ftinclamentais; e lieqtientemente essa falsidacle é um
profundos. absurdo maniiesto. na meclicla em que se queita restituir a questão à
simplicidade de seus dados essenciais: não poderia ser de outro modo,
desde que a metafisica, como dissemos, exclui tudo o que apresenia um
caráter hipotético, admitindo somente o que propotciona obrigato-
rirmenle r cerreza rerdrdeirr à compreen'ão.

Nessas condições. â orlocloxia constitlri uma só coisa com o


conhecimento verclacleiro. já que ela reside numa concordâlcia constante
com os princípios; e, como pala a tradição hindu, esses princípios sr'ro
essencialmenté contidos no Verla, é evidenternente a concordância coul
o Veda. q:,e constittli o critério de oÍodoxia No entanto. o que é prctiso
compreender bem é que neste caso se trata bem ntenos cle recorrlr i
uuto.idud. dos textos escritos tlo que observeu' a perfeita coerêttt:irt cltr
ensinamento traclicional no seu conjunto; a concordância otl ll'() conl
os textos védicos só é em suma um sinal exteriol da vctrllltlc ott tllt
Íalsidade intrínseca de ttnla concepção, e é esta que conslittri lcllrtrLrrltc
sua ortodoxia ou sua heterodoxia. Se é assirn, objetar-sc' ri lltlvcz por que
não se fala então simplesmente de verdade ou falsir-lrrtlc'i l-i potque a
unidade da doutrina tradicionzLl, com toda a potêncil clLrc lhe é inerente,
f'omece o guia mais seglrro para impedil que :rs divagaçt-rcs individuais
I25
L24 foi correntemente aceita por diversas escolas de "lilosofia física", pois
se alasüem livremente: para isso, basta' aliás'
a potência. que a
a c9,"çi::)T:qi11.o:
que os princípios tradicionais já estavam ausentes. e quando o Epicurismo
Íadição tem em si mesma sem que seja necessdria principalmente lhe deu uma difusão considerável, influência que ainda
umaautoridademaisoumenosanálogaaumaautoridadelehglosa:rSSo afeta os Ocidentais moclernos.
hindu'
,"r.rfàáo qr" Oittemos sobre a verdadeira natureza da unidade
Voltando à Índia, o atomismo sci se apresenti.L inicialmente
Lá onde essa potência da tradição é ausente' e onde não

ltumá celta como uma teoria cosmológica especial, cujo alcance. como tal, era
mesmo uma autoriclacle exteriol que porsa substitui-ll muito limitado; porém, para aqueles que admitiram essa teoria, a
..áiáu, oUt"tuo-se facilmente, através do exemplo da filosofia
e a expansáo sem heterodoxia neste ponto específico devia logicamente propiciar a
ã"ià.niuf ,roa"*o. a qull confusão o desenvolvimento heterodoxia em muitos outros pontos. já que na doutrina tradicional tudo se
se
ir".i aut opiniões nlais ftlnta§istas e contraditóriase chegam mesmoasa
chegaraml
üga estreitamente. Assim, a concepção dos átomos como elementos cons-
iàiru. srtrgem ent'to de modo tão fácil
tiiutivos das coisas tem por corolário aquela concepção do vazio no
,. ir"pot arrr"i,trli.1utl..o,r,lm. d Porqlle nio e]nr,rs,p:s:iv:],1t^::l::i1
"on."pç0.s
qual os átomos devem se mover: de 1á devia sair mais cedo ou mais
umaconcorclâr-tciircorntlsprincipi.)s.jj(lLtClli(lhalnalspIInc]plosno tarde uma teoria do "vazio universal", entendido não num sentido
u"rã.a.i- seÍtti&) da palavra Nun.ta civilização essencialmente
vista' e só rcsta metafísico que se liga ao não-manifestado, mas ao contrário num
ir"J.i"r"f, ao contrário, ás plincípios nunca se peldem de
sentido físico ou cosmológico, e e o que ocorleu com eteito cont ceftas
anlicáJos numa ou noutla ordem, direta ou indiretamente;
as
muito mais raramente; escolas búdicas que, identificanrlo esse vrlzio com ÁÁl'tia ou éter,
alna"pço.t que se sfastam rletes surgirão logo foram naturalmente levadas por isso a negar a existência deste como
.r". l"ia" úesmo excepcionais. e, se às vezes chegarem ainda
a
elemento corporal, e a só aclrnitir quatro elementos em vez de cinco É
ocorer, sua aceitaÇão nunca será muito ampla: esses desvios
sempre
sua origem' e' se sua preciso notar airda, a esse propósito, que a maioria dos filósofos
consrstirão em anomaLias, ta1 como foranl desde gregos também só adn.ritiu quatro elementos, colno as escolas búdicas
incompatír'eis com os princípios
á."riá"d" for tal. a ponto de tomá-los á" q.r" ,a trata, e que, se alguns, no entanto chegaram a falzr de éter, só
ilui" d:i tradiçao, serão, por isso mesmo' rqeitados da o fiieram de um modo muito restrito, dandolhe uma acepção muito
".r"n.;ul,
civilização em que nasceram' mais especial do que os Hindus, e aliás muito menos nítida'
de dizer'
Para dar um exemplo que escbrecerá o que acabamos
teremos que voltar: tal Já dissen.ros suficientemente de onde devem provir os
tomemos o caso do atomismo, ào qual ainda empréstimos quando se constata concordâncias desse gênero, e,
formal
.o*"pçao é niticlamente heterocloxa, porque está em clesacordo sobretudo, quanclo esses empréstimos são feitos de um modo
porque ela
,áià ií"ar, e aliás sua talsidade é facilmente demonstrável'
incompleto, o que talvez constitua suâ mnrca mais visível; e que nã(' se
irrpli.u mesma elementos contraditórios; heterodoxia e absurdo
venha objetar que os Hindus terian.r inventado o éter posterionnente' por
r#-;;**;"-.i verdacleit amente bem sinônimos no fundo Na índia o
de Kanâda: ó razóes mais o,, ,,,",',o, plausíveis, análogas àquelas aceitas em gelll
atomismo apâreceu prlmelro na escola cosmológica pelos físicos modernos; suas razões são de uma ordem tot lrncnte
quase não podiam se
nolivel, de resto. que as concepçÕes heterodoxas àiÍ'"t"nt" não saem cla experiência; não há nenhLlma "evolttção" tlas
puramente
fãÃ;' ;". escolás dedicadai'à especdação .metafísica'
muito trais de
"
concepçÕes trarlicionlis. tal cotrlo já explicamos, e aliÍs o testcttrrttrhrt
poffi. no,"t."no dos princípios, o absurclo se sobressaiatomista dos textos védicos é talo li)mal para o éter quanto pilril os oLltlos
(lLlillro
i,r-"Joio q.r" nas aplicaçõés secundárias A teolia
nunca
grande importância entre os elementos corporais. Logo. llalece que qualdo os Ctcgos cstivcllllll ctn
i,,,rrnu de'rnu sirnples anomalia sem algo mais grave; contato com o pensamento hindtt receberam. etll tllttitos cltsos, esse
lli,r,lLrs. pelo menos enquanto não se associou a ela pensâmento detbrmaclo e llllltilâdo' e nunca o cxl]tlscl'alll l'ielmente tal
quando
t lrr lcvc. 1)ilttltltto, apenas uma extensão bem restÍita' sobletudo iomo o haviam recebiclo: aliás. é possível, cottto intlicanlos, que eles
tarde entre os Gregos' quando
.,,,,,p,,r,,,i,t itqtreta que clevia adquirir mais

É
121
i26
mais
tenham-se encontrado. no clecorrer de sua histór ia' em relações
diretas e seguidas com os Buclistas, ou pelo menos com certos Budistas' CAPITULO IV
do que com os Hindus.

De qualquer modo, no que se referc ao atomisrno SOBRE O BUDISMO irr


acrescentalemos àindà qu" o que constitxi sobretudo a sua
gravidade é o
fato de suas características o predisporenr a selvir de Íundamento a esse
"naturalis;Io" que. em geriil, é tambén.r tanto contrfuio ao pensamento
oriental quantó fleqiiente Das concepções ocidentais, sob fotmas mais A cabarnos de dizer que o Budismo patece mals
o, ,r"nól.; acentuiiclas: potle-se dizer. com efeito, que' se todo I tieaOr. olr antc:. meno. ria.t:tdo du: concepçõe.
"naturalisnto" nao ô liltçllsatllente atolnistil. o aton.lismo é semple mlis l. \oci.ientais clo que as outras doutrinas do Oriente, e,
ou Írenos " tlaturalistil ". pelo menos cotrto lcndênciiL: quando ele se por conseqúência, n.rais fácil de estlrdar para os Ocidentais; sem dúvida
incorpota a um sislelllil filostllico. ctltro lbi o caso entle os Gregos' isto explica a predileção marcada que os orientalistas demonstram por

toma-se até "meciulista". o que nalo .luer selrpl'c dizcr "materiâlista"' ele. Com efeito, estes pensam encortrar no Budismo algo que se
que o materialismo é algo totalmente moclerno lsso pouco impofta enquadre na sua mentalidade. on que pelo menos não escape
aqui, aliás, pois que na índia não se trata de sistenras tilosóficos' nem de completamente a esta; em todo caso, eles não se sentem. colllo com as
dôgmas reiigiososl os próprios desvios do pensamento hindu nunca outras cloutrinas. incomodados pol Lnra total impossibilidade de
foàm nem ieligiosos nem filosóficos' e isto é até verdadeiro para o compreensão que, sem o confessar a si ntesmos, devem. no entanto,
Budismo. que em todo o Oriente é, o entanto' o que palece se perceber mais ou menos conlusa;nente. Tal é pelo menos a implessào
aproximirr mais, sob certos aspectos" dos pontos de vista ocidentais' e o que eles sentem em presença de certas formas do Budismo, porque,
que, por isso mesrno, se presta mais facilmente às lalsas trssimilações como diremos mais tarde. há muitas distinções a fazer a esse respeitol
com ts quais os orientalistas são acostumadosl a esse propósito' e mesmo e, de modo bem natural, eles querem ver nessas formas que thes sào
que o e.studo do Budismo não enÚe propriamente no nosso tetna' e mais acessíveis o Budismo vercladeiro e. de certo modo. primitivo,
preciso. entretanto, dizer aqui pelo menos algumas palavras sobre ele' enquanto que os oLrtros só seriam, segundo eles, altetações mai; ott
nem que seja pa.a dissipar certas confusões correntes no Ocidente' menos tardias. Mas o Budismo, qr.ralquer que seja, e mesmo nos aspectos
mais "simplistas" de que se tenha levestido em algum de seus tamos, é
contudo ainda algo oriental; logo, os odentalistas levam nlttito mais alóm
a assimilação corn os pontos cle vista ocidentais, por exemplo quando
querem fazer do Budismo o equivalente de uma religião no sentido
europeu da palavra. o qlle, de resto, os coloca às vezes numa esú'anha
dificuldade: alguns, nio recualdo diante de uma contradição nos terlros.
não chegaram a cleclatar que se tratava de un.ra "religião atéia"?

Na rcalidade. tliris. o Budismo não é nem "atcu" tte-tl "lcíslit"


ou "panteísta"; o quc se tlcvc- tlizer simplcsmente r' tlttc clc tlrto se
coloca no ponto de vistlt cttt rcli4rlitt ito c;ual c'sses divcls()s lcrnros têm
um sentido; mas, se ele nixr sc colttii err'l tirl l)1nllo tlc vista é
precisamente potque ele ttão i Lttna rr:ligiiro. Assirrr tttcstlto isto que
pocleria parecer o menos cslntnho ii stta pniptia nlcntalidade. os

E.
729
\28 moral, na medida em que seu lado sentirnental pode, com efeito,
orientalistâs encontram ainda um
jeito de desnaturar sLlits
-com
quando querem pÍestar-se mais facilmente a esta confusão, é na realidade encarado stü
;nt -..iuç0"r, e mesmo de vários modos polque' um outro aspecto diÍ'erente e tem uma razão de ser bem diferente, que
quanto ao
o'guditrno como uma filosofia' o desnaturam tanto nem é mesmo de uma otdem equivalente.
"n.ar*
i-ã A"t. uma religião: quando se fala, por exemplo' de "pessimisnxf''
que ou pelo
aã*" t" i", *"i ,ao é o Budismo se caracteriza',
Um exemplo bastará para permitir dar-se conta disso: a fórmula
"."uer"r,visto através da filosotia de Sclropenhauer; o
."nà".0 é o Budismo poÍque' bem conhecida: "Que os seres sejam f'elizes", refere-se à universalidade
ãrJit-" autêntico não é nem "pessimiste" nem "otimista"' Je\'e modo: mas e clos seres, sem nenhuma rcstrição, e não só aos seres humanos; isto é uma
nera ele. u' queslões nio se colocam precisumente
aplica uma extensão da qual o ponto de vista moral, por definição mesma, não é de
"pra.* ,.,"aii* q,re e bem incômodo para alguns não poder a
nenhum modo suscetível. A "compaixão" búrdica não é a "piedade" de
doutrina as etiquctil\ oc itlentuis Schopenhauer; ela seria muito mais comparável à "caridade cósrnica"
nem dos Muçulmanos, que. aliás, é peú'eitamente transponível além de
A verdrde é clue o Budismo não é nem uma religião qualquei sentimentalismo. Assim mesnlo. o Budismo é
de suas formas que
uma filosolia. se beni que. sobrctudo eltr algumas incontestavelmente revestido de uma forma sentimental que, sem chegar
a uma. e a outra
êrrr't pr.fe.ên.ia dos or-ientalistas, ele seja nlais ligado até o "moralismo". constitui, no entanto, um elemento caracteístico do
aspectos do que as doutrinas tradicionais hindus
Com
.J uigrn.
"trata-se^ regtüar' e tendo qual é preciso se dar conta, na medida em que é um daqueles que o
ae escola-s que' estando fol'a da íadição
eieito, diferenciam muito nitidamente .las doutrinas hindus, e que certamente o
;;- ;t." perdirlo de vista a metafísica verdadeira' devem
;;;' por algo que se pareça com o ftzem aparecer como mais alastado que estas da "primordialidade"
inevitavetmente ser levadas a substitui-la tradicional.
pàrã a" vista filosófico numa ceÍa medida' mas numa certa medida
que'
'roa"nta. às vezes chega-se mesmo a encontrar especulações
se só
Um outro po to que convém notar a esse respeito é que existe
superficiaimente. podem letnbrar a psicologia' mas'
"naorrau, 'itto psicologia' coisa totalmente um liame bastante estreito entre a forlna sentimental de uma doutrina e
.rraànt.-"nt", não é propriamente
sua tendência à difusão, tendência que existe tanto no Budismo-como nas
pois que ela só data
;"ã;.i;i ., ..rrro no ocidente, bem recente'
aos Budistas uma religiões, tal con.to prova sua expansâo na maior paÍe da Asia; mas,
realmente de Locke; não se deveria atÍibuir justo
empirisrno mes-mo nisso, não se deve exageraÍ a semelhança, e talvez.não seja
.entatiaua. que procede bem especialmente do modemo
falar em "missionários" búdicos que se expandiram da India em certas
anglo-saxão. épocas, porque, além de nunca terem sido de fato nada mais do que
uiga,trlua p".tor^lidades isoladas, a palavra leva inevitavelmente a
A aproximaçãro. para ser legítima' não deve.chegar até uma iiaginar às métotlos de propaganda e de proselitisnio que são póprios
assimilaçáo e, semelhantemente, no que tange a
religião' o Budisno -Ocidentais.
ponto' impofiante sem clos O que é muito notável por ou[o lado é que, à medidir em
nã" ffr. É efetivamente cornparável a não ser num
que essa difusão se produzia, o Budismo declinava na pr'ópria lndirt'
dúrvida. mas insuficiente para concluir que haja
uma identidade de pen-
que de resto pode se acabando por desaparecer completamente por 1á, após ter Seril(lo crrr
.um"rio, é u irtrodução dà um elemento sentimental'
condições pafiiculares último lugar escolas clegeneladas e nitidarnente heterocloxtts' t1u'-- sio
explicar em todos oa auro. po' uma adaptação às
aquelas que as obras hindus contemporâneas dessa Íltinra lirsc tlo
que são al'etâdas por elas- e
íJp".i"a" no qual sulgilam as doutrinas que 16çlx5 sejam Budismo lntliano apontam. especialmente as obras de S han liitt íic hitryl'
u,,.1 ,nnon,o, long.,l. irnplicar neces'arirmente que sempre só se ocupam clelas para Íefutar suas teorills clll llrtnre rla
".ia
..i.1,,,ír,, ..,nr" espécie. e dit'erença reâl dos
pontos de vista pode ser
refere áoutrina tradicional, sem. aliás' imputáJas de modo rtlgttttl ao lrtndador
rrrrrilo rnais do que uma iemelhança que' em suma' se
"rr"nii"l mesmo clo Buclismo, o que indica bem que elas nin passitvarn de uma
,, ti,nr".e expressãódas doÚrinas; é isto o que aqueles que falam
',ii,,,,t o que eles tomam por degenerescência; e o mais curioso é que são ptecisanrclltc essas formas
(l( "rr(nrl húclica" àesconhecem em especial:

E- i-
130 131
rebaixadas e desviadas que, aos olhos da maioria dos orientalistas, essenciais da oÍodoxia hindu; seria seguramente difícil levar mais
passam a representar com a maior aproximação possível o verdadeiro longe o absurdo e demonstrar uma incompreensão mais completa.
Budismo original. Qualquer que seja a idéia que se faça do Budismo, é, no entanto bem
fáci1 compreender que, nascido num meio hindu e oriundo de gualquer
Voltaremos a isso logo mais; mas, antes de pÍosseguir, importa modo do Hinduísmo, ele devia sempre, mesmo destacando-se deste,
precisaÍ bem que, na realidade, a India nunca foi budist4 contrariamente guaÍdaÍ qualquer coisa em comum, e que o que se encontra de semelhante
ao que os orientalistas pretendem em geral, que querem de qualquer em ambos não se explica de outro modo; Sr. Roussel sem dúvida
modo fazer do Budismo o centro mesrlo de tudo o que tange a India e sua exagerou em sentido contrário insistindo sobre a falta absoluta de
história: a Índia antes clo Budismo, a Índia após o Bodirrro, rul é o originalidade de tal doutrina, mas esta opinião é pelo menos mais
mais nítido que eles acreditarn poder estabelecer, entendendo, aliás, por"ort"
isso plausível que a de Max Müller e em todo caso não implica qualquer
que o Budismo deixou mesmo elpós sua extinçâo total uma marca contradição, e acrescentaremos que ela exprimiria antes um elogio do
profundâ no seu país de origem, o que é cornpletamente falso pela razão que uma cútica àqueles que, como nós, se atêm ao ponto de vista
que acabamos de indicar. É verdade que esses orientalistas, que tradicional, pois que as diferenças entre as douffinas, para serem
imaginam que os Hindus fzeram empréstimos da filosofia grega, poderiam legítimas, só podem ser uma questão de adaptação, fatando sempre
também sustentar, sem muito mais inverossimilhança, que também apenas de formas de expressão mais ou menos exteriores e não afetando
fizeram o mesmo em relação ao Budismo; e não estamos müto seguros de modo algum os próprios princípios; a introdução da forma
que tal não seja o fundo do pensamento de atguns dentre eles. É preciso sentimental está inclusa neste caso, pelo menos na medida em que
reconhecer que há, a esse respeito, algumas honrosas exceções , e é deixa subsistir a metafísica intacta no centro da doutrina.
assim que Barth disse que "o Budismo teve somente a imponância de um
episódio", o que, no que tange a Índia, é a estrita verdade; mas, apesar Dito isto, seria pfeciso se perguntar agora até que ponlo se
disso, a opinião contrária não deixou de prevalecer, sem falar, bem pode falar do Budismo em geral, como se costuma fazer, sem se expor
entendido, da grosseira ignorância do vulgar que, na Eur.opa imagina a cometer múltiplas confusões; para evitáJas, seria necessário ao
de bom grado que o Budismo ainda reina atualmente na Índia! O que contrá'io ter cuidado em definir sempre de qual Budismo se trata,
seria preciso dizer é somente que, pôr volta da época do rei Ashoka, isto é, porque, de fato, o Budismo abarcou e ainda abarca um grande número de
por volta do século III antes da era cristã, o Budismo teve um período ramos e escolas diferentes, e não se poderia atribuir a todas
de grande extensão na Índia, ao mesrrto tempo que começava a se indistintamente o que só pertence propriamente a uma ou a outra dentre
expandir para fora dela, e que tal período foi aliás prontamente seguido de elas. No seu conjunto, tais escolas podem se colocar em duas grandes
seu declínio, porém, mesmo no que diz respeito a essa época, divisões que se denominam Mahâyâna e Hína.yâna, traduzidas
querendo-se encontrar uma similitude no mundo ocidental, dever-se-ia comumente por'"Grande veículo" e "Pequeno veículo", mas que talvez
dizer que tal extensão foi antes bem compar'ável a de uma ordem seria mais exato e mais claro ao mesmo tempo entender por "Grande
monástica do que a de uma religião dirigida a todo o conjunto da Via" e "Pequena Via"; convém muito mais preservar estes nomes, qlle
população; esta comparação, sem ser perfeita, seria seguramente a menos são aqueles que os designam autenticamente, do que substituíJos por
inexata de todas. denominações como as de "Budismo do Norte" e "Budismo do Sul",
que só têm um valor puramente geográfico, aliás demasi:rdo vago, e que
Isso ainda não é tudo o que se refere às fantasias dos não caÍacterizam de nenhum modo as doutÍinas de que se trâta. Só o
orientalistas: vemos alguns, como Max Müller, se esforçar em Mahâyâna pode ser encarado como representando verdadeiramente
rlcscobrir os "germes do Budismo", ou seja, os germes da heterodoxia, uma doutrina completa, inclusive o lado propriamente tnetaÍísico que
pclo rrenos conforme o modo pelo qual o concebem, até nas tlpanishnds constitui a sua paÍte superior e central; o Htnoy-ônu, ao contrário,
(2) t1uc, tirzendo paÍe integrante do Veda, são um dos fundamentos aparece como uma doutrina reduzida de qualquer modo ao seu aspecto
133
1,32
modificações, e não parece muito fácil de resolver', sobretudo àqueles
mais exterior e não indo além do que é acessível à generalidade dos
ramo que não têm quase nenhuma idéia das doutrinas tradicionais com as quais
homens, o que justifica sua denominação, e, naturalmente, é nesse
do qual o Budismo do Ceilão é hoje o representânte ele esteve em contato.
rebaixado áo Éudismo,
mais típico, que ocorrem os desvios cle que falamos há-pouco E neste
'orientalistas Acontece da mesma maneira, em especial com o Extremo-
fonto qu. os invertem verdacleiramente as relações nonnais:
q*."- que as escolas mais desviaclas, as que levam mais longe a Oriente, onde o Taoísmo inÍ'luenciou manifestamente. pelo menos quanto
"1",
heterodoxia, sejam a expressão mais autê:rtica clo I1Íha1'ána ,e
que o próprio às suas modalidades de expressâo, celtos Íalnos clo Mahôyôna; a escola
Hínayâna seja propriamente o Budismo primitivo' ou pelo menos sua Zen. em pafiicular', adotou métodos cuja inspiração taoísta é
eles' o perfeitamerte evidente. Este fato pode se explicar pelo caráter pafiicular
continuação regular, àxcluindo o Ma/r â\'âno que só seria' segundo
da tradição extremo-oriental. e pela separação profunda que existe entre
produto àe um-a série de alteraçÔes e acljlmçÕes mais ou menos tardias'
suas paltes intelior e exterior, isto é, entre o Taoísmo e o Confucionismo;
em tais condições, o Budismo podia de qualquer modo ocupar um lugar
Nisto. em suma, eles só seguem as tendências anti-tradicionais
simpatizar com nurn domínio intermediário entre ambos, e pode-se mesmo dizer que,
de sua própria tncntalictacle, que os levam naturalmente a
em cefios casos. ele verdadeiramente seniu de "cobertura exterior" ao
tuao o qi" é heterocloxo. e eles tar.nbém c6nfsllÍl3m
59 mais
qlre geral. entre Taoísmo, permitindo a este permanecer ser.nprc nruito fechado. bem mais
particlrlarmente a esta lltlst corlcepçix)' quase os
'ôcidentais t.t'totlcrnos. segundo it clual o tlue é mais simples' diríamos de facilmente do que teria podido sem ela. É isto clue explica também por
que o Budismo extremo-or iental assimilou alguns símbolos de origem
úoa grualo o que é tllais rr.rclilllentar, dcve ser por isstl mesmo o mais
taoísta, e por que, por exemplo, ele às vezes identificou Kuan-yin a vm
áriig,j, -Il. tiris preconceitos' nelÍt meslno lhes ocone que o verdadeiro
podãria ser-exaLalrente o contrihrio. Em tais condições' permite-se
Bodllisattr)a. ou mais pÍecisamente a um aspecto lêminino de
apresentada aos Ocidentais Avalokiteshwara, em razão da f,urção "providencial" que thes é comum; e
i.rguntr. qrut estranha caricâtula teria sido isto, notemo-lo de passagem, causou mais um equívoco dos orientalistas
iorio ."nOà o ver<ladeiro Budismo, tal como seu fundador teria formulado'
que esta caricanrra se tÔmou um que, na maioria, quase só conhecent o Taoísmo de nome; eles
e não há como se impedir de sorir ao pensar
que não há imaginaram que Kuan-yin peftencia propriamente ao Budismo, e
O. adnuaçao para tantos deles' seduzindo-os a tal ponto
"Ui* parecem ignora completâmente sua proveniência essencialmente
quem nào tenha úesiiado em proclamar sua adesão' aliás completamente
jeito taoísta.
i'Jrica e "ideal", a esse Budiimo que se acha tão conforme ao seu
mental "racionalista" e "positivista".
Alérr disso. quando se encontram Íiente a algo cujo caráter ou
origem não sabem determincf exatamente, eles têm assaz o hábito de
Bem entendido. quando dissemos qne o Mahâyâna devia ser se
livrar do impasse aplicando-lhe a etiqueta "bútdico"; este é um u.rio
inserido no Br-rdismo desde sua oligem, isto deve ser compreendido
a
independentemenrc das cômodo demais para dissimular seu embaraço mais ou menos
punit ao qu. poderíamos chamar sua essência,
tais consciente, e eles recorrem a isso com tanto gosto que, em virtucle clo
io.au, ,rA, oorn.nos específicas próprias às suas diferentes escolas;
monopólio de fato que chegaram a estabelecer em seu proveitr). saro
tbrmas são tão somente secundárias, mas elas são tudo aquilo que

permlt" en"a.a. 1ã o "método histórico"' e é isto o que dá uma


mais ou menos seguros de que ninguém virá os contradizer': tluc;xrtlcrn
q-uando dizem temer a esse rcspeito pessoas que colocam em princípio cluc nlio hÍ
i,pu.en.ia de justificação às afirmações dos orientalistas
um Budismo "alterado" O competência verdadeira. na ordem de estudos de quc sc. trirlit. llént
que ele
ii-ri i.nayar" é "tardio" ou que o Budismo' saindo.da
só é
lndia' se daquela que se adquirc na sua escola? Nem se prccisa rlizcl tlue. de
,1,-," .n*pUá" aincla as coisas é
e que' aliás' ele devia resto, tudo o que eles cleclaram assim "búdico" ao sabol rlc sLra l-antasia,
rirrxlilicou numa certa medida e de modos diversos'
li,rç,,r,r,u"r,a se moditicar assim para se adaptar. a meios muito inclusive o que o é realmente, não é em todo caso plm clcr nada n.rais que
vão "Budismo alterado"; num manual de história tlas rcligiões que já
tlililr.'rrlcsl trlas toda a questão residiria em saber até onde essas

L
135
i34 sido reâlmente destirado a povos não-indianos; era necessário
à China demonstra' aliás' n-o
mencionamos, onde o capítulo relativo entretanto que ele tomasse sua origem do próprio Hinduísmo, a fim de
rrnu incompreinsão bastante lamentáv:f*llT'^'1,,1'"t:
:ii i"n;*,o
,".,
[r]ffi otrÀtr,o, não resta nenhum vestígio
na china"' e queas
que recebesse os elementos que deviam ser transmitidos em outros locais
-elà necesstiria; mas cumprida essa taretà, era em suma
após uma adaptação
olil#il"?;;;;t"m utuut-'nt' "só têm cle l"di'T:: l-"11-l?I nàrmal que desaparecesse da Índia, oncle ele não tinha seu
;;;;; .; p".iiBudi,*o primitivo" o que os orientalistas.apresentam verdadeiro lugar. A este respeito. poder-se-ia fazer de modo muito justo
saber ptil."-it: t"
;;"',r1, isto é pert-eitamente exato, mas seriapreciso '" uma compffação entre a situação do Budismo em relação ao Hinduísmo e
;;;;;;;;cepção que eles fazem do Budismo' ou se não é antes Judaísmo, com a
a do Cristianismo em relação ao condição, bem
;;;;;:-; ;;ntiaiio.'so rcpresenta efetivamente um Budismo entendido, de sempre manter as diferenças de ponto de vista sobre as quais
degener ado. insistimos.
Taoísmo é ailda
Aqlrcstão das IelaçCres tlo Butlismo com o Em todo caso, esta consideração é a Ítnica que permite re-
a cotrtlição' bem entendido' de se
r.latirume,.,t" tácil de eluciJar. cotn ty:: conhecer no Budismo, sem cometer ilogismo, o caráter de doutrina
;;;;; ; q.-," é o Taoísno; tnas é preciso quaúo reconhecer-qne
se tÍala' lX
nao mals tradicional que é impossível recuszrr pelo menos no Mal'Lâvânu ao
qu"rio", *ri. conlplexa': e o cuso sobtcttttlo mesmo tempo que a heterodoxia não menos evirlente das formas últimas
à hdia' mus tmtes de
de elementos Peltencenles a uadiçts e'traúas sempre desviadas do Hína,-âna: e é ela que tambén explica o que pÔde ser
ãf"*"rat frrrrari, a respeito dos quais pode ser dii'cilao Budismo' por sua
dizer se eles
realmente a missáo do Buddha. Se este tivesse ensinado a doutrina
;;;;;; ;; menos estreitamente ussociados formas heterodoxa que os orientalistas lhe atr-ibuem, seria totalmente inconcebível
ou:e eles só se integraram a alSlumas de suas que tantos Hindus ofiodoxos não hesitassem em encará-lo como um
"i"".'irai-a,
;;;-.;'.ü;p;."rior' ocore o me:mo' por exemplo com relação
ao'
AvatÍira., isto é, como uma "manifestação divina". do qual tudo o que se
elementÔSshivaítasquegozamdetamanhoprestÍgionoBudismo conta apresenta aliás. com efeito, todas as características; é verdade que
tibetano, designacio comumente sob o
nome bem incoreto de
os orientalistas, que decidiram afastar por preconceito tudo o que é de
:ir."rr*.", do- Tibete' porque
isto não é exclusivamente pafiicular ordem "não-humana". pretendem que isto seja apenas "lenda", isto é, algo
"iiat, que demonstra umâ
à iuuu ta*bém se encontra tm Shiva-Baddlta desprovido de qualquer valor histórico, e que seja ainda estÍanho ao
;;;.iação levada ao extremo De fato' a solução
dessa
;;;il;; do Budismo' "Budismo primitivo": mas, afastando esses contomos "lendários", o que
;;;;#';;üi; encontrada no estudo das relações resta do tundador do Budismo enquanto individualidade puramente
H.il ';i o Tantrismo; mas este último.é.tão mal
conhecido
"ô.iàà.:" humana? lsto seria seguramente bem difícil de dizer, mas a "crítica" oci
," ""ü;;icom
que seria quase que inútil falar dele sem entrar
em
aqui; logo' limitar- tiental não se ac:utha com tão pottco, ela chega até a colocar em princípio,
;;Jà;;;n*ti;;ga, dtmài* qut nao se encaixariam como fez Oldenbelg, que os "Indo-Germanos não admitem o milagre";
;;;f;;;;' a est; simples indic:rçâo' pela mesma..razao .:" no' como guardâr sua seried;Lde diante de tais afirmações? Essa chamada
tnenção da c ivilização,tr betana' a
ãet"rminoo a fazer apenas uma breve divisões do "reconstih.rição histórica" da vida do Buddha vale tanto quanto a de sua
as grandes
ããtp"ii"'à" tm i-portância, quando enumeramos doutrina "primitiva", e ela procede inteiü dos mesmos preconceito§; tanto
Oriente. nlrm caso como no outro. trata-se antes de tudo de suprinlir tudo o que
a lmtar pelo menos
incomoda a mentalidade ntodcrna. e é por meio desse procedimento
Agora nos resta ainda unr último ponto eminentemente "simplista" qr.re tais pessoas imaginam atingir a verdade.
tal forma de seu país
,u,,.,rri".ãni. fo, q'" o Buclismo t" "*punàiu de
grande' enquanto uue' no
.1.' ,;rig;; . t"u" urn sucesso tão 1191ii1 Não falaremos mais sobre isso, já que não é o Budismo que nos
e Jrao sena
,,,,,r ,Lu"n"rou tào rapidamente e terminou por desaparecer' propomos a estudal aqui, e que eÍl suma nos bastavâ "situá1o", de um
razão de ser do
1,,i1.,;','"'r..* ;;",,;; q"" residiria a que o Budismo parece
verdadeira
ter lado, em relação às doutl'inas hindus e, por outt-o. em relação aos pontos
i",.',",,, ft,,.if',r,ri O que queremos dizer é
1 i'l
r(
de modo mais ott
de vista ocidentais aos quais se plocuÍa assimilá-lo CAPÍTULO V
."*. i.J""ia.. Após está digressão, podernos' poftanto voltar às
aon""pçOa, propriimente hindus, mas não o
taremos sem antes
io..uiar ,*",ittllriareflexão que pocler'á servir de qualquer modo como
.-à*iuran u n Oo o que acaba de ser dito: se os orientzüistas'
qre são por A I,EI DE MANU
ií* ;;;t I'especializados" no Budismo, cometenl a seu tespeito
iuriot graves, de que pode valer o que dizem das outras
",ror; de estudos
àár',*nrr. qr." putu eles nunca passaram de -um objeto
secundários-e cplase "acidental" etr relação
aquele? T-l ntle u5 noÇões suscetíveis de causar um grande
ff ..b,nrço u.," OcrJentrri.. jJ qtre entle .1.. nau há
I-lequir rlente delas, pode-se citar aquela exprcssa em
sânscrito pelo termçt dlmrnn: seguramente, não laltam traduções plopostas
Notas: por orientalistas, mas a maioria é grosseiramente aproximativa ou mesmo
completamente erônea, sempre em razão das conliLsÕes cle pontos de vista
quc tiveram conhecinrcnto da prjmeira edição deste
{ I ) Ern tunÇào dos leitL,res que assinalamos. Assi:n. às vezes quer-se t\\171iir Llllarm(t por "religião",
que nos levalan a
ii",r irig.** oportuno indicJr br.crve.lentc as razõe§edição apareceu' não
enquanto que o ponto de vista religioso não se aplica a ele; ao mesmo
;Jiút" presente capítulo: quanclo essa prinreira tempo, porérr, deve-se reconhecer que esta não é a concepção da
"
tínhamos nenllum lnotivo pala por ern dúvida
que' como Pretende se se
doutrina, eroneamente suposta religiosa, que essa palavra designa
resttitas e mais nitidamente anti-metafísicas do
i"üurr,lrl"r,", as lbrmas mais propriamente. Pol outro lado, quanto ã r'ealizaçâo dos ritos, que também
ürrrir,,r- t"p.t"rtassem o próplio ensiramento de Shâkya-Muni:
nào
não têm car'áter religioso. eles são designados no seu conjunto por un.I
ii"tr"',r,l* para realiz longas pesquisas que teriam sido ,neccssárias outro termo, tám?.r, tomado então numa acepção especial. técnica de
","p"
o"r" ^pÀ"rd", nais esta
questãto' e' aliás' o que conhecíanos rlo Budisuro
qualquer modo, sendo seu sentido geral o de "ação". Pala aqueles que
Mas' desde eotão as
iào .r" o. moclo algum de latuleza a nos levar a isso querem a qualquer custo identificar uma religião na tradição hindu,
do§ Úabalhos de
;;l;; ,;^, "; urn-urp"",o bem diferente em collseqüência mas hhdri' o que gaünte restaria então o que eles acreditam ser a moral, e é esta que seria
A. K. Coontaraswamy (o qual nenl era budisti\ clramada mais precisamente de dharma; daí, segundo os casos, surgem
sür imp.Tcialjdale) e de sua reinterpretação do
Budisno origiruü' cujo
;;;;;" qrc ulteriornente se ag§gilian várias interpretações mais or"r menos secundáias, como as de "virtude"
a.u.tnt dificil rtistinpir de todas as l,,.,esias
uãràua"iro ."rtiao A

,l[I ãu *n-* r]iúlu'JllEne em üs1a no nlolrentrc de noss'r pnnleiru


rcdqao; nem se ,'Justiça" , "méúto". "dever", noçÕes todas exclusivamente morais de fato,
se tetêrc a +^scs fon,as dcs'iatlas' o
que havíamos esrdto de início mas que, por isso mesmo, não exprimem â concepção de que se tr?rtfl ir
il; .ã;;; ; dispo$os a
L-,"rl*. ilár.Ài,. vilido. Ne'\ta ocasião' acniscentaflxrs que exitamm senpe nenhum grau.
quer que ela se enconte' de'sde que
ã Jor ,.la,cional ile qualqtrer rloufina-
onde
ã""rt".- "
,Jilrrãp"r^ st*.tente's disso; mas, inf"li"rcnte' se às novas infonriqoes que obtiven'xrs O ponto de vista moral, sem o clual essas noç(-)es sax,

irri tát'r-n" ^ r"r* rJa rloutrina de Shâk1'a MLuri (o queemúo quer dizer de kxlas a'§ e'ç clesprovidas de sentido. não existe eln absoluto na Índia; jJ irtsislitros o
dação outas <nisr: cujo suficiente nisso, e indicamos mesmo que o Budismo, o único c;rtc sc l'llt
..,ri. ua.* ,artirt *nte), rrone de mrío bem diverrc
àüs

ciüírler mti-radicional denunciamos' próprio a introduzir isso, niro tinha até então se encaminhiukr nir r iir rIr
sentimentalismo. Aliírs, essas nresmas noções, noteÍno-lo rlc pussagetn,
não são todas igllalmente essenciais sob o próprio ponk) (lc vista nrorali
( .) ) " llte t lf.urisl'rads". T [. Intro<ltqão, pp XXVI-D(MI
e LIII queremos dizer que lrá algumas noções que nào sio e, 'nrLttrs rL tlttalquer
concepção moral: assim, a idéia de dever ou rle obligrrçiLo ó ausente na
rlr r lrú (.rit\lv.l1lIV.

E
I 139
138
maioÍiadasmoraisantigas'adosEstóicosemespecial;ésócomosum Sem dúvida, numa ordem universal. a soma de todos os
*"d;t"tt,;;;rp;l."ntt Kant' que ela chegon a desempenhar
desequilíbrios paniculares concoÍre sempre ao equilibrio total, o qual
o "p.ot ohsenar e e':e proptiçito' iá que
q"'i'tt""a
il;.i ;;#;t. m is keqüenles' é que rdeia' ou
nada poderia romper; rras, em cada ponto, tomado à parle e em si
se trala de urna das ionte: de equivoco mesmo, o desequilíbrio é possível e concebível, e seja na aplicaçào

i:*li:ii:Í*'",':J:il]'"tif '[H':l'1ü?rJ:lff .',::";


tempo
social ou outra qualquer, não é necessário att ibuir-lhe o menor catáter
moral p:ra dehni-lo como contráio, segundo seu alcance próprio, à "lei de
óes' mesmo mais
concePÇu""'#;;-as afastadas no
inlerpretação de todas as harmonia" que rege por sua vez a ordem cósmica e a ordenl huruura. O
otl no esDAÇO, e no entanto mu
;;;;;".".r*o i, ,-,rito sentido de "lei" sendo assim definido, e, aliás. despojado de todas as
p'-rnto de partida'
i"r*. p.tã i.*"urir sua orig'em e seu aplicaqÕes particulares e derivadas às quais ele pode dar ense.io.
que sào as mai: podemos aceitar a palavra "lei" para traduzir tlhttrnn, de um modo ainda
lst,, po'1e PiÚ itlilstiÜ ls lulrrr interprctacÔes imperfeito sem dúvida, mas menos inexato que os outros termos
nitidamente quanto possível' o que
se
correntes, *ni"l!nrn, inclicar'' tão da raiz tomados de empréstimo das línguas ocidentais; todavia. ainda uma vez,
pnr. rllturno Ct''tno mostra o sentido
de,il;;ffirãirl.n," não se trata de nenhum modo de lei ntot'al. e as próprias noções de lei
:";ri';;;i:i. ;','. c .-lcr']'.'l:r' L'\s. PirlirvrJ- nr,slra 'i3nificaÇio mais científica e de lei social oujurídica só se refercm aqui a casos especieis.
(ltlc "nluneiIJ' de scr': é' sc qtll'ermos'
ull'lil
oeral. nào tlerignr r)tlllil ..r)lsir o" t*l'llo^
;;"i;,;;;:.i;;irl de rrrn tctl' cntt'pre..".le'rdo rodo o 'u" A "lei" pode ser encatada enr princípio como um "querer
oualidrtlc' oLr propricdaclt: (üractelí\tica\'
c cletcrminlntlo' pela' universal". por uma transposição analógica que não permite aliás
implic. o ntodo pelo qual e:\e 'er se
:à:,"*;: .,*lllp.!iç0"' t|tc eh.'ejr' subsistir numa tal concepção nada de pessoal, ne[], em grau maior. nada
J* t,.'ratlarae' etn relaçào a crtia circunstámcta
:'.#;,Ji,: '.rã de antropomórfico. A expressão desse querer em cada estado de
panicular'Ame.manoçaopoucseraplicadanáolópara.UmunlC(\Se[. existência manifestzLda é desig:rada como Ptojâpni ouo "Seúor dos seres
pa.a urna espécie' para toclo o
f^.';;;, uma coletiviáade o'guni'oàu' àu de um estado de existência'
produzidos"; e, em cada ciclo cósmico especial, esse mesmo querer
:;1t.[1;*:;", à" u* "itto'"4'rnico trata-se então' nlrm ou noutro manifesta-se cotno o Manu que dá a esse ciclo sua própria lei. O nome
i",#;;;r;;;;tàet totul do universo; Mana não deve. poftíirlto ser tomado como o de u.t.n personagem mítica,
..'::',:',':fi j,[:i"?ff
;;;:';;".;r";',td"*i:T.":'.X;ffi
hierarqtttcamentt
,:: lendária ou histórica; é propriamente a designação de um princípio, que
constituiçâo se poderia clefinir', segundo a significação da raiz verbal /??d/?. como
lundumental' -!1 hamon-ta
'.-hám nôr (:onseoüênciu, do equilrtrrioq" se redu/' aliás' a noÇaü "inteligência ctismic:f' ou "pensamento refletido da ordem universal".
i;l;ri't§i,,Ã Jel'e hierarqui'açào' "de seu csÍáter especificâmente Esse princípio é encarado. por outro lado, como o protótipo do homem,
#rffi i;:üiã'l q'o"ao é despojada chamado m[inovu erqllanto é considerado essencialmente "ser
..*ilÉr*t^aàu'ii*to,-,-.oprincípiodeordem'poÍlanto'como
'"ü-tr;C;ãltpo'içao interioi p.,. u,,-,-"t ou para um.coniunto de pensante". caracteriz;ltlo pela possessão tlct ruanas, elemento mental ou
racional: a concepção de Muna é logo equivalente, pelo tnenos sob cefias
lt Áurii.l que con.[llu| apena\ â
\cÍe\. dhortlrl pode. rtum sentrclo. opor-se relaçôes, àquela que outras tradições, em especial a Qubbaluh hebraica e
seri m,nileslada e\reri(',-ente' na
*- ;i; ;;;i;'sa dispo'içào no'mul' isto é' confotme à nanrreza
dos o esoterismo muçulmano. designam como o "Homem universal". e que
nredida em que a açào nao 'qo o Taoísmo chama de "Rei".
selesedeseusestadoseàsrelaçÕesquedeh.derivam.Nessas
con,licôe'. o que é atllutntn nào e
o pecado no- sentitlo tmldgico' nem
uma Vimos antes qLLC o nome de V.lára design não um homem,
:i:l:,,,:ü"I l,ã *'ila" moral' noçôis que sào tão esftmhas tbma uma lunção
mas uma função: no entanto. esta últinra é de qualqucr
a nuo-con[ormidade"
" à
lli:.,;,,.,,':;'" ;, espirito htndu; é 'itpttt't'àn'"
a i,ptura da harmonia' a destruição
histórica, enqllanto que a oLú[a é uma função cósmica. que não poderia
:1,,,,,,"r,, ,il;' ,",=". à at""quiirutio' se tomar histórica, a não ser na sua aplicaçao especial à ordem social, e
ott rt itt','etsilo tlas relaçÕes hierárquicas

Lr
141
i4C
'="r". início sem dúvida, por escrito em seguida, e eis por que esses autores
"personificação" Em
n isso, aliás, suponha mesmr: queüquer permanecemm desconhecidos e indetenninados: a autoridade deriva
" ou p"tà coletivjdede qy1!T::
suma, a 1ei de Mana' para um ctclo '*a hierárqutcas exclusivamente do que a toma verdadeiramente expressão da lei de
não-à ouou coisa dô que a observáncia das relaçÔes Manu. rsÍo é de sua conformidade à ordem natural das existência qlle
naturaisqueexistementreos\eressubmetidosàscondiçÔesespeciais
que deles eleédestinadoareger.
;;;;;;ü;-;".tta coletividade, com o coniunto da's prescrições
-r".."rrente
I"r*itã. No qut à concepção dos ciclos
" '"f"t"
medidr em que' patr tomá-la
:;r.t.;,t, ;;;;istiremos nisio aqui' naentrff em desenvolvimentos
;;;ii;;;'l;;iigível, seria precisoqlre há entte eles' nào uma sLl-
tlráni" a".o."aos; diremos apenas
lógico e causrl' cada ciclo
cessão cronológica, [IAs um tnà"d"n*ento
iendo determinàclo no seu conjunto
pe,l::T"^t^l*::: t::::Tj5*i"ff:
nrocluc'(r conllnul' suolllErru.l a
\ua ve/ u coll'((liienle' Pol tlmir os modos da
#màí; ;;;iiou"t"t" o anal'rsiit eonstittttiva de todos
manifestação ttniversal'

social' e "lei"' t'u


Quanclo se chega à aplicuçrur l:'":ltln
rlraslrí ou
num
ua"pção .rpi.ifi.r,nente juríctica' podcrá ser formuludr
.ào'i!o q,", *q**" *onllll X,i:i:*:
será atribuíclo a Mtttttr . ot mats
:,i;fffi;"i:Til; ;:'.flil
do s/rástra' pelo
esta atribuição não Maru'r o attot
fiz
;;;;il;;i; c1e
diz.que uma obm
menos no sentido comum em
quc se
ainda' como para-puramente
textos
il*,i'u ; á.ri" ou auqo"rt autàr' Aqui rigorosamente -os
as-sinalável' e
védicos. não há porttrnto ongem históriia
dessi origem e de importância
aliás, cor.no já explicamos, a oue§tào
ha uma prande diferençe notivel
;i;'r;; ;;á.. áe vista doutri'nai; mas

entreambososcasos:enquantoostextosvédicossãodesignadospelo direta' o
i"... .lrrrrr, .";o stndo o fruto de uma inspiração. chamada 'dharmn-
srurirl'
,;;;ffi;; t"mente à classe de escritos tradicionais
os
.új';;fiffi; ;nos fundamental' e que compreende igualmente
só encaÍa como poemas
íàuraro, e os 1/i/rásas. que a erudição ocidental sey selli.do simbólico
1#ãr1".: ép,;;;i, na impo.siuilaáae de captar o
A
;ri;ià"'qo! s/r,u'i ;. torna algo mais do qúe simples "literatura"'
intuieão
distinçào entre e sflxrll equivale' no ÍIndo' à+11a.{a
intelectual pura e imediata' que só
aplica elclusivamente u'o domínio
refletida' de natttreza
,i,l''' pti".rir.' metlfísicos' e cla c.nsciência pellencente\ à
I ir( it) ill- rlue 5e e(erce
sobre os objetos de conltecimento
tyla aplicações
,,,i, ,,,- i,,Jitiara. o que é bem o caso quando ;e ie
.,;,i,,i, ;; .;i;..;. Apesar drsso' a autoriclade tradici orlal do.tllnnm-shâstra'
,1" .,t tores humanos que o teriam
formulado' oralmente de
,;;:, ;;;,, t.,,,
7 43
sentido técnico muito diferente de sua acepção corrente; é preciso
mesmo notar que o termo "1brma", em vez de designar o elemento que
CAPÍTULO VI
denominamos assim para traduzir o sânscrito rúpa, designa então ao
contriário o outro
elemento, aquele que é propriamente a ,,essência
individual". Devemos acrescentar que a distinção que acabamos de
PRINCÍPIO DA INSTITUIÇÃO DAS CASTAS indicar, se bem que an;iloga a da alma e do corpo enfie os Ocidentais,
está longe de ser rigorosamente equivalente desta: a forma não é
exclusivamente a forma corpor.al. ainda que não seja possível insistir
nisso aqui; quanto ao llome. o que ele representa é o conjunto de todas
m apoio 10 que expllsemos no capítl o anterior, as qualidades ou atribuições características do ser considerado. Agora é
acrescentaremos algLlmas precisões referentes A o momento de fazer uma distinção no interior da "essência individual,,:
instituição das citstus, cle inportância pnmordial na lei nânúka, o que se refere ao nome, num sentido mais restrito, ou o que
de Manu. e tão profundamente incompteendida pela generalidade dos deve exprirrir o nome palticular-de cada indivíduo, é o conjunto das
que os
Europeus. Em primeir-o lugar, colociu'emos esta clehnição: a câsta, qualidades que pefiencem propriamente a este, sem que as tenha de outla
Hindus designnm irdiÍ'erentemente por urna ou outra das duas palavras fonte do que de si mesmol gotrika, o qte pefience à raça ou à família, é
jâti e varnal é uma lunção social cle(erninada pela natureza própria de o conjunto das qualidades que o ser tem de sua hereditariedade. poder_
cada ser humano. A palavra t)arna, no seu sentido primitivo, significa se-ia enconü'ar uma rcpresentação analógica desta seErnda distinçào na
"cor", e alguns quiseram encontraÍ nela uma prova ou pelo menos um atnbuição a um indivíduo de um "prenome", que lhe é específico, e de
indício do iato qúe supõe que a distinção das castas teria na origem sido um "nome de Íamília"; aliás, haveria muito o que dizer sobre a
fundada sobre diferenças de raça; mas não é nada disso, porque a significação original dos no[les e sobre o que normalmente eles
mesma palavra tem, por extensão, o sentido de "qualidade" enr
geral, de deveriam ser destinados:i expr.imir, lrlas! como essas consideraçôes nào
onde seu uso analógico para designaÍ a natureza pafiicular de um ser' o se enquadram no nosso plano atual, limitar-nos-emos a indicar clue a
que
que se pode chamar sua "essência individual", e é exatamente isto o determinação do nome verdadeiro se confunde em princípio com o cla
determina a casta, sem que a considerâção de raça só tenha que intervir natureza individual mesma.
como Llm dos elementos que poderiam influir na constituição da
natureza individual. Quantoà palavta iâti, seu sentido próprio é o de O'\rascimento". no sentido do sânscdtoji/i, é propriamente
"nascimento", e pretende-se concluir disso que a casta é essencialmente a resultante dos clois elementos nâmika e gotr[ko; é preciso, poÍanto
heredltária, o qui constitui ainda um eroi se ela é corn mais freqüência distinguir aí a parle da hereditariedade, e ela pode ser considerável, mas
hererlitária de iato, não o é estÍitamente em princípio' podendo ser o também a paltc daquilo através do qual o indivítluo se distinsue de
papel da hereditanedade na formação da natureza individual seus plis e dos outros mcmbros de.ua fumrlia. Com eleito, é eiidente
prápond.aont. na maioria dos casos. mas não sendo, no entanto' de que não há dois seres que apresentem exatamente o mesmo conjunto de
nenir* modo exclttsivo; isto demanda, aliás, algumas explicaçÔes qualidades, seja física. seja psíqr:ica: junto do que lhes é comum, há
complementares. também o que os diÍêrencia; os mesmos que gostariâm de explicar tuclo
no indiyíduo pela inlluência da hereditaneclacle ficariam sem clúvicla
No seu conjunto, o ser individual é encarado como um muito embaraçados em aplicar sua teoda a um caso parliculr tlualquer;
c()nrposto de dois elementos, que são chamados respecÍivamente nál?14' essa int'luência é ir:egável. mas é prcciso dar-se contil de outros
(l fr()fuc. e ríipa, a forma, esses dois elementos são em suma a elementos, como a teoria que acabamos de expor Íàz cic moclo preciso.
"r'sscrrciir" e i "substância" da individualidade, ou o que a escola
rrrrstrÍt liclt tlcnttmina "foma" e "matéria", tendo esses tetmos, a1iás,
um A natureza própria de cada indivícluo comporta
I

145
144
das tendências e mesmo simplesmente na sua parte corpórea, deve ser igualmente
necessariamente, desde a origem, todo o conjunto
reakzada, sob o modo que lhe convém em especial, na organização da
disposições que se desenvolverão e se manifestarão
duranie sua
já que é exammente disso.que se sociedade. A concepção do "corpo social", com órgãos e funções
q"" ad"..inarão em especial'
"riitên"ir, " social 0 conheclmento comparáveis aos de um ser vivo, é, aliás, familiar aos soció1ogos
trata aqui, suá aptidão para esta ou aquela funçào modernos; mas estes foram muito mais longe nesse sentido,
ãu individual deve, pofianto petmitir assinalar a cada ser
"ãir."ru meslna' ou' em esquecerào-se que correspondência e analogia não querem dizer
humano a flmção que the convém em razão dessa natureza
assimilação e identidade, e que a compffação legítima entre ambos os ca-
ãuir* ,"..or, o lugar que ele deve normalmente ocupar na organização sos deixa subsistir uma diversidade necessária nas modalidades de
rãlia. Éoa""" con'ceber facilmente que este é o fundamento de umaã aplicação respectivas; além disso, igporando as razões profundas da
áis;irrçao verdadeiramente hierárquica' isto é, estritamenle conforme analogia, eles nunca puderam tirar nenhuma conclusão válida quanto ao
que demos da noção de
'at*""o,ã;t seres, segundo a interpretaçãopossíveis sem. dÍvida' e'
;;;t;; estabelecimento de uma verdadeira hierarquia. Feitas estas reservas, é
o, erros dJ aplicação, sempre
evidente que as expressões que poderiam indicar uma assimilaçâo não
;ü.*á" nos períodos di obscuridade da tradição' não diminuem em
que. a negação deste deverão ser tomadas a não ser num sentido puramente simbólico, como
,ãáà, íat, o valor do princípio, e pode-se dizer o são também as designações tomadas de empréstimo das diversas
prática' a destruição
imolica. teoncamente pelo menos, senão sempre na paÍes do indivíduo humano quando sâo aplicadas analogicamente ao
obserua-se como é
ã.-árürã rri.r-quià legítima. Ao rnesmo tempo'que "Homem universal".
utru.au'u atitude dos Euiopeus que se indignam um homem não
poaru purru. de sua casta paÍa uma casta superior: isto
implicaria' na
que uma mudança de natureza Estas notas bastam para permitir compreender sem
iáia"a", nem mais nem menos
mesmo para se difrculdade a descrição simbólica da origem das castas, tal como se
de ser ele
individual, isto é, que ta1 homem deveria cessar
encontra em numerosos textos, e inicialmente no Puruslru-sfr.kta doRig-
manifesta; o que
iá*ar o. oroo homem' o que é uma impossibilidade Veda. : "De Puruslm, o Brâmana foi abcrc4 o Kshatiya os btaços, o Vaislrya
toda sua
,-^."i e pot*"i^fmente deide seu nascimento, o será que
duÍante
é e não um as ancas; o Shürlra nasce sob seus pés" (1) Encontra-se aqui a
A questão de saber por que um ser é o ele
"rirtêr"iu. questôes que não têm como se co-locar; a enumeração das quatro castâs cuja distinção é o fundamento da ordem
outro ser é, aliás, uma das
social; aliás, elas são suscetíveis de subdivisões secundárjas mais ou
,".aàa" A que cada u*, segundo sua pópria natureza' -é- um
elemento
total e universal' No entanto' é bem cetlo que menos numerosas'. os Brâhmanas representam essencialmente a
nàce.s,í.io àa harmonia autoridade espiritual e intelectual; os Kshatriyas, o poder administrativo,
que
.ã.Sa"*ç0", desse gênero são completamente estÍaúas àLqueles comportando tanto as atribuições judiciárias e militares, e cuja função
de princípio não repousa
uiu". rui sociedadei cuja constituição carece e
onde real é tão somente o gau mais elevado; os Vaishyas, o conjunto das
,ouãqoJq*. rrio*q"iu, "o.o ut sociedades ocidentais modeÍnas' diversas funções econômicas no sentido mais extenso da palavra,
as funções
oualouer Éomem pode ocupar quase que indi ferentemente compreendendo as funções agícolas, industúais, comerciais e
;ir";i;";r"t, inclusive aquelas para as quais está menos adaptado' e financeiras; quanto aos S/rádras, cumprem todos os trabalhos necessiários
quase que exclusivamente
ànáe, uÉ- ao muis, a riqueza material detém para assegl[ar a subsistência puramente material da coletividade.
toda a suPerioridade efetiva.
Interessa acr€scentar qtse os Brâmrtnas não são de nenhum
Do que dissemos sobre a significaçáo de dharmn' resriÍa modo "sacerdotes" no sentido ocidental e religioso deste ternto: sem
segundo suas
uue a hierarquiá social deve reproduzir analogicamente' dúvida, suas funções comportam a realização dos ritos de diferentes
a constituiçào do "Homem universal'': entendemos
rir,irrri".t."ráiç0.s. e a ordem ordens, porque eles devem possuir os conhecimentos ncccssários para
p,,r'isno que há uma corresponáéncia entre a ordem cósmica dar a esses ritos toda sua eficácia; mas elas compollam também, e antes
encontra na
iruut,,nu, que e§sa correspondência' que naturalmente se
" ou de tudo, a conservação e a transmissão regular da dou trina tradicional;
,,rf.,,,,,ir,,çe"'do indivíduo, encarado, aliás, na sua integralidade
I
- 7 46
aliás. na maior parte dos povos antigos, a funÇão de ensinamento,
a,rrnpoflanle dileletrçl (lue
que Íigura a boca no simbolismo precedente. era igualmente encarada e\i\le cnrre a\ tre\ prinreirrs
Jr4lcrer. enqlranro qlre o.esundô L.a5ta\ e us
como a lunção sacerdotal por excelência. pelo fato mesmo que toda a rc riga ro,.l,l'qr.. rp.irl..o.r,,
civilização repollsava sobre um princípio ckrutrinai. pela mesma Íazào.
lercnça, os Sizj,ías. no
enie .i
os desvios da doutrina aparecem geralmente como que ligados a uma
subversão da hiemrcluia social. como se poderia observar em especial
Xi:ff f
.ri ro conjunru rlo, ."r:,';,,r:i'
'j,!í:$;#::il,'i#l'f
.l'Jl;::f iln:','""fl ve/e\. por lrirnspo5iÇio
,"-:i
rDalrjqicr. nao
nos casos das tentativas feitas diversas vezes pelos K:;lrutriya para
rejeitar a suprentlcia rlos Br-rilurrarla.r . supremacia cuja razão cle ser apareci;r l:::, T*1.
lnilnetrü
r,; .,,,; o,;" il;lJl I JiJ,::r:flT::; ;::tl Ti*::;;
como se Jiz tlue e..g,
nitidamentc para tudo o que clissemos sobre a verlacleira natuÍeza da ,âscera,'r t,dos de Pa,r'r'lra
que o Brâltnnnu J .;;;;;;:"'"t é assirn
civilização hinclu.
\upelio.c\ i ,r.rl,,ç.'."1" i'l]':] :' "'" 'lo' tL'r-s' imuti\ei\. i:ro e.

Por outto larlo. para contpletat. ls consicierações que


acabantos cle expol sunnr-iultente. seria a ocasião dc assinalar os
;::s*:m*;,,u'l r'Triir;ii::: rii;l.J::,,','fi:';,""j
T
.,io,_. q.e.rõe, JJprir. pi^ \"',::':
i, b,:lffi:];
vestígios qLte ess:ls concepções tradicionais e prir.nordiais pucleram
de tongc o\ limitcs r]o domnio
i l,ll' :,1;J :l::;::
social. ,. q,i,,i .,," ,,],f i.,n
deixar nas antigâs ilistituições da Europa" cm particulâr no que se r".i.ll..r rO,
reÍêre à investidula do "direito clivino" conferida aos reis. cujo papel era rô o rre cs\i,,,pi ;.,çeo,o
consirlelado. na odgem. assim conro indica a raiz mesma da palavra re.r ff::,", ffi:::I:Tlln,' :i,'i :"'r'trio\r, i,( q Li
hinclr' niro tt'rs tlet' rcttto' tnui.
dàs irui,rir'0",.;.::;l:';"t"
e,irrd.r no
, como essencialmente regulador da ordem social: mas só poalemos notar
essas coisas de passagem, sem insistir mais do que conviria talvez para
plesente exposiçào. '" não constituem o obicto p ncipal da

fazer sobressail todo seu interesse.

A participação na Tradiçiro só é plenantente eÍêtiva para f rl'lrai;;;lma sm:L rr-eiaer,laa4 BLrÉE $rc{a.jt;,,vishnu_purâna,,
os
membros das três primeiras castas; é o que as diversas clesi_enaçôcs que
lhes sâo exclusivamente reservadas erprintem. eorno a cle,irr.a. quéjá
(l)'REV«h'lX.m
mencionamos. e de dy,tia ou "nascido duiLs vczes,'; a concepçâo do
"segundo nascimento". entendida num sentialo plu.iirnente espiritual. é
aliás uma das que são colnul'ts a todas as doutrinas tradiciónais. e o
próprio Cristianismo ár apresenta no rito do batisruo, o equivalente em
modo religioso. Para os.S/rúrlrus, sua pat.ticipaçrio é, sobretudo indiÍeta
e como que vifiual, porque ent geral ela sír resulta de suas rclações com
âs castas superiores: além disso. pâra Íetomar a analogia do "corpo
social". seu papel não constitui pl.opriamente ulnâ I'Lnção vital. mas
urna atividade mecânica de qualquer modo, e eis por que eles são
representados nascendo, não de urna pafie do corpo de ptrlslza ou do
"Honrern universal", mas da teÍra que está sob seus pés. e que
i o
r'lcrrcnto no qual a nutrição corpoml se elabom. Existe. no entárnto, uma
(nrlrir yclsão segundo a qlual o Sh[idra nasce dos próprios pós
de
I'trt ttrltrr ( I): m;rs a contradição só é aparente, e tritta-se aqui em suma de
(lr)r\ l)r)ntos (lc vista diÍ-erentes. dos qrrais o primeilo ressalta.
sobretuclo
149
148 receber de tais atribuições, obtidas no universal pol' uma
transposição analógica, diversas qualidades ou propriedades dos seres
CAPÍTULO VII dos quais é o princípio. É evidente que se pode conceber assim uma
infinidade de "atributos divinos" e que, aliá, ao encará-lo no seu princípio,
poder-se-ia transpor não importa qual qualidade com uma existência
SHIV AÍSMO E \']SFN'UÍSMO positiva; além disso, cada um desses atributos na lealidade só deve ser
considerado como uma base ou um suporte para a meditação de um
certo aspecto do Ser universal.

O que dissemos sobre o simbolismo pelmite


í^\,[:Ji:H,IiiJiIl' i1''ol'ollll"'lili -:H ;: compreender o modo pelo qual a ilcompreensão que dá nascimento ao
\r, ;;;r:';:'d.u".ã concebiclo como impessoal ou
,". antropomorfismo pode ter como resultado fazer dos "atrjbutos divinos"
e aliás
.^-.',,essoal? Estâ questào pode geriu tiiscussões intermináveis' tântos "deuses", ou seja, entidades concebidas sobre o tipo dos seres indi-
."-' ii"if pottltte ell só 1'rocede t1e concepçÓes parclals e ln- viduais, e para as quais é imputada uma existência própria e independente.
::;J.i;::'; ".. ql,ril''"'i' i'':'ir'ptocurar cortciliar 'em 'e colocar acirna
que é propriame e o seu'
Esse é um dos ca*sos mais evidentes da "idolatria", que toma o símbolo
pelo que é simbolizado, aqui revestindo a lbrma do "politeísmo";mas é
à; ;;;t" esieciat, teológico ou filosófico' dizer que Pl':Í!1"^.5
;;; ;;o i. ti't, meta-l'í'ico' é preci'o ilspecto sob."t'" claro que nenhuma doutrina jamais foi politeísta em si mesma e na sua
() qual e enca- essência, já que ela só podia se tornar assim pelo efeito de uma
á"1" iÃpltt*l qtranto pe':oal \csundo o
"supra-pessoal". em sil pessoal em
rado: impessoal, ou. ,t q'"t'to'l <leformação proÍunda, que, aliás, se generaliza mesmo muito mais
,"L"ia"'i."rfi"r,ação universal' mas' bem entendido' ::t *qt raramente do que se acredita em geral; a bem dizer, só coniecemos
l.,.rr.,nalidade caráter antropom?.l'tl; ^"t::
Ji mesmo um único exemplo certo da generalização desse equívoco, o da
divina' rpresente qualqLrer
ql," e naaa..,itio se re\Eluardlr da confusào entre
per§onauoaue E
civilização greco-romÍnra, e pelo menos airda houve nela algumas
"indiviclualidade". exceções na sua elite intelectual. No Oriente, onde a tendência ao
antropomoÍfismo não existe, à parte aberrações individuais sempre
acabamos de tbrmula ' e
A distinção fttrdamental que possíveis, lnas raras e anormais. nada de semelhante ocorreu; isso
secundários e
-.1, n,al âs contradicÔes aparentes dos pôntos cle vista espantará sem dúrvida muitos Ocidentais, cujo conhecimento exclusivo
síntese supedor' é expressa pela da Antigiiidade clássica leva a querer descobrir eln ttdo "mitos" e
',riài,,ii". * tàüi".Ã"' 'Jã"à" a" uma
metafísicaextlemo-orientalcornoadistinçãoentre-.'Não.Ser.'e'.Ser'.1 "paganismo", mas. no entanto é assim. Na lndia, em particular, uma
;;;;;;"t níticla na doutiina hinclu' como a identidade.essencial imagem simbólica qlle representa um ou outro dos "aributos divinos".
ã^ .ãi"ris* p".^ o quer. aliás, sob a
diversidade das formas de que ela chamada Protika, :niro é absolutamente um "ídolo", já que nunca Íbi
ci lrincipro impe:\oill' portünro ab\olurumetrte tomada por outra coisâ além do que é realmente, um supofte de
;"á;'';';;;;t; ''
bralmn: a "penónalidade divina que e meditação e um meio auxiliar de realização, cada um podendo. itliÍts, se
rrniverral, ê <Jesignado como
sua'.implicando llm,8rau menor ligar de preferência aos símbolos que estejam mais contbrmes its sLtas
una determinação ou uma especificaçào
geral lsltu.ora Brahma'
;;^;"i;;,.*lià;á"' tem como denomrnaçào mais por nenhuma atnbuição disposições pessoais.
,.,, iriiri,ra", náo pode ser caráerizado "além de
"" dizendo que ele é Nirsun or: lshvvurtt é encarado sob uma triplicidildc dc ilspectos
,,::',ilr. ; ;.:. .*pl'.t"arnda ou "além d-e qualquer principais, que constituem a Trimíirti ou "tripla manifestaçiro". e dos quais
,,,,,,lrrrrer oualificaÇào", e Ninisheslu
iontrapenida' Ishvtara é §a'qr,a
chamado ou outros aspectos mais particul:ues derivarn, secundÍuios em relação
:l,'i;;l;;,, l-;; porque ele pode
::,,,;iiii.,,,i ,' ;':s, u'i.ri,"'n)' oo"concebido diretamente" àql;reles. Brthmâ é lsh--ara enquanto princípio prodlrtor dos seres
150 151
manifestados; ele é chamado assim porque é considerado como o é Sorasy,ttÍí, a tle Vi.ylmu é LcLl;:hnú, a cle .S/rlL,rr é pânatí. Seja
leflexo direto. na orclem da nlanit'estação. de Brolmta. o Principio entle os Sâoll'(l.!. seja entre os Vnishnats . alguns ligant_se mais
supremo. É p:-ecistl notar-. pâra cvitar qllalquer contusào. que a palavra paÍicularnlente à consicleração das r,.árrÀtl.l -po. esà razào sâo
Builu é ner;Íra. enquanto qte Bruhnúi é masculinal o ellprcgo, cotrente chamados S/ráÀra.y. Além do nrais, cadl nln clos " princípios de que
entr os orientalistiu. c1a lbrma Bralwuttt, que Ú comum aos clois gêneros, acabamos de tirlar pocle aindii scr enciu.ado sob Lrma pluralidade clc aspcc_
tem o grâve incon\,enicnte de dissimular csta distinção essencial. que é tos mais ptulicrLlarizados, e de cada um deles clerivam também outros
ainda ilarcada às r'ezes por erptr:ssões cotl.to Pttrt Bruhnn ou o "suprcmo aspectos secundários. derivação que freqüentemente é descritâ conlo
Brúma" e ADuru-Brttltnu ott o "ttlio-stq;tenlo Baila". Os outros clois un.n Íiliação sinrbólica. Não potlemos eYidcntenrente <Jescnvolver zLqui
aspectos constitlllivos tla Tl i,rlilll ^ coittpletlentales Llln do oLltl o. si'1 . todas essas concepções. na medicla em qLre ltosso trabalho não é expor.
que é hishtdrü cnquiln(o ptincÍpin anitlaclor e collsetvadot clos sercs. e especiÍicamente as dout nas enr si, mas somente indicar em qual
Slilrr, clue é I;luLtrru cn(ltlatllo princípio. niLo clcstruiclo:'como se diz a espírito elas deverr ser estudadas desejando-se compreendô-las.
toÍo e il dirc-ito. ntas. cttttt ttlais cxillidan. tlanstblinador: estit§ sÍo
portunto "funç(les tLniversais". e nlto enticlades separadas e mlis ,llt Os Slra\'a,r, e os Vaishnaltts têm ambos. no conjunto de
irenos inclividualizadas. escritos tradicionais que ó coletivamente tL-sirnado sob o nôme de
S/rnIi, seus próprios livros, P urânos e T(utrLt.\, clue concspondem rnais
parliculârmente às suas respeclivas te,nclêucils. Tais tendências
Pata se coLocar, como indicarnos, sob o ponto de ali mam-se em especial na interyr.ctltÇio da doürina dos z1r,atdftr,r ou
vista qLle relhoÍ se adapta às sttiis próprias possibilicladcs. cada um "manilestações clivinas" : esta ckrutrina. clue é estreitamente Iisada à
poclerá natnlalmente conceder a preponclerância a unla ou olltÍa dessas (OI)CcPÇiio.los ciclo' trisrrriL,'r. rrrereceril ludo tn e.lt|do e.peciil. qrre
funções, e sobrttudo. em razão de slla simetf ia pelo menos aparentc. das nâo pensamos em aborclar no tlolllento. Acresce taremos siinplcsmente,
cluas funções complementaÍes de Visluru e de 5/rila: c1e 1ii, a distinção para concluir sobrc a questá-io clo Shiveusnto e do Vishnuísmo, que,
entre "Vishnuísmo" e "Shiv:tísno", que não são "seitits" como os qualquer que seja a via clue cada un escolhai. como a mais confornte à
Ocidentais e tenden.L mas somentc vias cle realizitçào dil'erentcs. alilts sua própria nâtureza. o objetivo Íinal ao c1r-ral ela tencle. rlesrle que ela
igualrlente Jegítimas e ofioaloxas. No elltanto, convém iLcrcscentar qtte o seja estritamcnte ortodoxa. é sempre o mesll.lo: é uma Íealização
Shivaísmo. menos expandido que o Vish uíslro e dando menos eÍetiva de itrclent ntetafísica, que poderi,r somente ser mais ou rnenos
importância aos ritos exte orcs é. ao mesnto tetllpo. l'll:lis elevado num imediata. e larrlróm mais ou nenos cotnpleta, segutdo as contlições
sentido e concluz mais diretanente ã [ealiz:rçio metafísica pura: isro se pafiicularcs c a extcnsiio clas possibiliclacles jntelectLráiis cje cada ser
compreende ser. clificulclade. peJn própr:ia nâtureza do princípio ao clual l'tumano.
ele clá preponclerância, pcttque a "trar s l'orn'l:rção ". que deve ser JLlui
enterclida no sentido rigttrosanrente etimológico. é a passagem "aiénl
da tbrma". que só parece scÍ una destruiçào do ponto de vista especial e
contingente da manilestaçao: é a passagern do manifestaclo ao nro-
nrmifestado, através da qual se opela o retorl]o ã inrutabilidacle cterna .lo
I'rincípio sllpremo, Íbra da c1uâl nada pocleria cxistir a não ser de ntodo
ilLrsririo.

Cada um dos "âspcctos divinos" é encarado colllo


r l.tr[, rlc una p.Íôncia ou enelgia própria. clue é chamada S/raktl, e que é
rr

rt Irrr'r, rrIrrrIlr \irlholic rente sob uma tbnla t'cmilil'ttt: it Shokti de Brahntâ
1-5 3
L52
estritamente ofiodoxas, elas não poderiam naturalmente entrar em
CAPÍTULO Vil conflito ou em contradição. Já mostramos que toda concepçào
sistemática, fruto do indiüdualismo intelechral caro aos Ocidentais
modemos, é a negação da metafísica, que constitui a essência mesma da
doutrina; dissemos também qual é a distinção profunda entre o
OS PONTOS DE \'ISTA DA DOUTRINA pensamento metafísico e o pensamento filosófico, este fltimo
consütuindo apenas um modo específico, proprio do Ocidente e que não
poderia se aplicar validamente ao conhecimento de uma doutrila
tradicional que se manteve na sua pureza e integralidade.

s indicações que antecedem permitem compreender a Logo, não há "filosofia hindu" como também não há "filosofia
coexistência, na unidade essencial de uma mesma chinesa" por tanto que se queira conservar na palavra "filosofia" uma
doutrina rradicional, de uma multiplicidade de pontos significação no mínimo nítida, significação que se encontra determinada
de vista que não afeta em nada essa unidade Aliás, em todas as.coisas' pela lürha de pensamento que procede dos Gregos; e enfim,
cada um traz evidentemente em sua compreensão uma espécie
de
dizer que
considerando sobretudo o que a filosofia se tomou nos tempos
perspectiva que lhe é própria, e, por decorrência' poder-se-ia modemos, é preciso confessar que a ausência desse modo de pensamento
^há
t*tot modos de compreender mais ou menos diferentes quanto os numa civilização não tem nada de particulamente lamentável. Mas os
já que, desde que
indivíduos; mas isto só é verdade no ponto de partida, orientalistas só querem encarar filosofia e sistemas nos Darshanas, aos
que não
se eleve acima do domínio individual, todas essas diferenças' quais eles pretendem, aliás, impor as etiquetas ocidentais: tudo isso
acaÍretam nenhuma incompatibilidade, desaparecem necessariamente'
porque eles são incapazes de sú dos esquemas "clássicos", e porque
Além da diferença que é assim inerente à natureza patlicular dos ignoram inteiramente as diferenças mais caÍacterísticas entre a
rliversos seres humaros, cada um pode ainda, por outro lado, se colocar mentalidade oriental e a mentalidade ocidental.
sob mú1tip1os pontos de vista pâra estudar a doutrina sob este ou
aquele
urp""to Áui, ô, tn"no, nitidamente defiddo, e que poderá aLiás sêlo na
Sob tal prisma, sua atitude é bem comparável a de um homem
é, mais afastado, na ordem
-àdidu "* que mais paÍicularizado, isto quô, não conhecendo nada da civilização euopéia at al, e por acaso
descendente àas aplicações, da universalidade principial A totalidade
em princípio
tendo tido nas mãos os programas de ensinamento de uma
dos pontos de vistà posiíveis e legítimos é sempre.contida,
já Universidade, tiraria a singular conclusão de que os sábios da Europa
e súteticamente, na própria doutrina, e Ô que dissemos sobre a
se dividem em várias escolas rivais, das quais cada Llma tem seu
pluralidade de sentidos que um texto tladicional oferece basta para
sistema filosófico particular, e das quais as principais são as dos
mostrar de que modo e1â pode se encontrar lá; logo, não haveÍá outra
matemáticos, físicos, químicos, biólogos, lógicos e psicólogos; este
coisa a fazei do que desenvolver rigorosamente, segundo esses diversos engano seria seglrramente bastante ridículo, mas não seria muito mais
pontos de vista, a interpretação da doutrina fundamental' do que a concepção corrente dos orientalistas, e estes nem mesmo
deveriam ter a desculpa da ignorância, ou antes é sua própria
É exatamente isso o que ocoreu na Índia, e é o que exprime a ignorância que é imperdoável. Por mais inacreditável que iskr piu'eça,
palavra sânscrita Darshanct, que não significa propriamente outra coisa não há como negar que as questões de princípio, que eles p cccrn alastar
tlo que "visão" oLl "ponto de vista", porque a raiz verbal drísh' cle onde com parcialidade, nunca se apresentam à sua nrentc, pol demais
tlerivada, tem como sentido principal"vet" . Os Darshanas são, portanto os
r-i
estreitamente especializada aliás para poder ainclu conr;:rreendê-las e
lxnllos de vista da doutrha, e não são, como a maior
parte dÔs
apreciar seu alcance; este é um estlanho c.lso cle "uriopiiL intelectual" no
olicrtlrttistas imagina, "sistemas filosóficos" que concorreriam e se último grau, e pode-se estal bem certo que, corn senrelhiurtes disposiçôes,
oprrri;rrrr tttts iIOs olltros; na medida integml em que essas "visões" são
155
154
do ritmo e de suas relâções cósmicas, de onde deriva seu emprego
eles nunca chegaÍão a penetrar o sentido verdadeiro do menor
que esses sábios da para certos modos preparatórios da realização metafísica, é comum a
fragmento de qualquãr uma deisas doutrinas orientais
modo, em confotmidade com todas as civilizações orientais, mas, em contrapartida, totalmente
É.líopu ," ir".r-tiiam de interpretar a seu
eslranhô aos Ocidentais.
seus pontos de vista totalmente ocidentais'

O tyâkarctna é a gramática, mas que, em vez de se apresentar


pontos de como um simples conjunto de regras que parecem mais ou menos
Para voltar à verdadeira compreensão das coisas, os
arbitrárias porque se ignora a sua razão, assim como acontece em geral
vista sob os quais a doutrina pode ser encarada são evidentemente
por outro lado' nas línguas ocidentais, se baseia ao contÍário em concepções e
suscetíveis de.ser mais ou menos multiplicados; mas'
de qualquer modo há aqueles que classificações que estão sempre em relação estreita com a significação
não são todos igualmente ineduíveis, e
quais os outros podem estar subordinados' lógica da linguagem. O niruukta é a explicação dos termos importantes ou
são os mais funáamentais, aos
pontos de vista secundários em dificeis que se encontram nos textos védicos; essa explicação não
Poder-se-á entâo semple agrupar os
últimos são repousa sômente sobre a etimologia, mas também, com mais
tomo dos pontos de vista principais, e assim estes os
tantos ramos freqüência, sobre o valor simbólico das letras e das sílabas que entram na
únicos que se limitará a considerar sepamdamente, como
que composição das palavras; de 1ã provêm inúmeros erros da parte dos
do estudà da doutnna, os outros só constituindo simples subdivisões'
orientalistas, que não podem compreender nem mesmo conceber este
aliás não é mesmo necessário precisar na maioria dos casos Nas
grandes divisões, nos ramos principais, que são propnamente
os último modo de explicação. absolutamente próprio às línguas
que palavra tomou habitualmente' e tradicionais, e muito análogo àquele que se encontra na Qabbalah
borrhonor,, no sentido esta
admitida na India' distingue- hebraica, e que, por conseqüência, só querem e só podem ver
segunao a itassificação quá é geralmente
se"seis, que é preciso tomar cuidado para não confundir com
o que se etimologistas fantasistas, ou mesmo r,,ulgares "trocadilhos", o que
natuÍalmente é algo bem diferente na realidade.
chama oJseis Vedangas, porque seu número é o mesmo'

sign:dtca literalmente. "membro-do Veda": O jyotishu é a astronomia, ou, mais exatamente, é tanto a
A palavra Vedânga
do Yeda' porqtx astronômia quanto a astrologiâ, que nwrca se sepaÍzram na Índia, assim
esta designação é aplicada a cerlas ciências auxiliares
quais um ser age como nunca o foram em qualquer povo antigo, mesmo entre os CÍegos,
são comp-araáas aos membros corporais por meio dos
que se serviam indiferentemente dessas duas palalras para designar urna
erteriorà"nte; os tratados firndamentais que se Ligam a essas ciências' dos
de sua só e mesma coisa; a distinção entre astronomia e astrologia é totalmente
quais vamos dar a enumeração, fazem paÍe da smrití ' e' em razão
o primeiro lugar. mesmo A modema, e é preciso acrescentar, a1iás, que a verdadeira astÍologia
i"tuçao ai.",u com o Veáa, 1á ocupam
e da pronúncia exata' tradicional, tal como se conservou no Oriente, não tem quase nada em
Skiíshô é a ciência da articulação correta
comum com as especulações "divinatórias" que alguns procuram
implicando, com as leis de eufonia, que são mais importantes
e
constituí com o mesmo nome na Europa contemporânea. Enfim, o Kalpa,
deienvolvidas em sânscrito do que em qualquer outÍa 1íngua' o
palavra que de rcsto tem muitos outros sentidôs, é aqui o conjunto das
conhecimento do valor simbólico das letras; nas línguas tradicionais'
prescrições que se ligam ao cumprimento dos ritos, e cujo conhecimento
com efeito, o uso da escrita fonética não exclui de nenhum modo a
é indispensável paÍa que estes tenham sua plena eficácia; nos.rr?Írz,r que
manutenção de uma signiÍicaçáo ideográfrca, da qual o hekaico
e o árabe
ciência da prosódia' as exprimem, essas prescrições são condensadas er.n frlrrnulas de
ot'erecem igualmente ã exemplo. O Chhandas é a
aparência bastante semelhante a das fórmulas algébricas, por rneio de
que detenüna a aplicação dós diferentes metros em correspondência
uma notaçào simbólica particular.
.i,,nr as modalidaáes vibratórias da ordem cósmica que eles devem
no
cxplirttir, e que de fato são algo bem diferente de formas "poéticas"
profundo Além dos Vedângas, é preciso morcionar ainçLr os Unuvedas , termo
s,'rrtirh PLrltinente litel'ário desta palalra; aliás, o conhecimento
15?
156 possa algumas vezes parecer se identificar à concepção da escola
que designa conhecimentos de ordem inferior' que contudo
se
à qual seus que o desenvolveu principalmente; a confusão sobre este ponto é ainda
urr"iàrn nuíru bur" estritamente tradicional; a ordem qr:afro upavedas' daquelas que são naturais aos Ocidentais, acostumados a remeter às
;;;;;;;"t se referem é a das aplicações pútic as' Há
nestes seus princípios individualidades, como verdadeiras "invenções", todas as concepções
àr" sã" ii*d., aos quÍI tro Vedas encottrando que lhes são familiares: este é um dos postulados pelo menos implícito
].."ã"ir"ã., ã*^ ierlo e u medicina, ligada assim ao Rig-.Veda;
'ài."i ao Yajur'Veda; Gândhanta- de seu "método histórico", e, hoje em dia, o ponto de vista religioso
'yrdí"u irar, a ciência militar ligada mecânica e mesmo não escapa das conseqüências dessa mentalidade especial, que
Ãtoiiu,ligada ao Sâma'Veda i SúaDaryü'Vedct' a desenvolve a esse respeito todos os recursos dessa exegese anti-
u:u.qJ,"**, iigãaut uo Athctrva-Veda' Segundo as concepções tradicional a qual já aludimos.
ocidentais,essassãoartesantesdoqueciênciaspropriamenteditas;
á"r tlarlicional que lhes é dado aqui thes confere um
"-pir""ôi" dos Os seis Darshanas, são o Nyá.ya e o Vaisheshika, o Sânkhya e
;;;á,;.,m ptuco diferente. Êem entendido' essas enumerações
modo as outras o Yoga , a Mímânsa. e o Vedântai eles são habitualmente enumerados
i"àan*ot e dos Upaveclas nào excluem de nenhum
quais algumas pelo nesta ordem e por pares, a fim de marcar suas afinidades: quanto a
;i'êilil;õ;á" es'tao ta inclurdas, mas dentre astempos antigos; sabe- querer assinalar uma ordem de sucessão cronológica no seu
*árã, r"rã ig-amente cultivadas na Índia desde geral de desenvolvimento, esta é uma questão inútil e sem interesse real, pelas
nome
." * ã"t"ãa,icas em especial, compreendendo' sob o razões que já expusemos, desde que se trata de pontos de vista que, desde a
"r" pa,t-grnita ot iyakra-gantta, a aÍiÍméLlca' bíja'ganita' a
; gl"ii:,
dois origem, eram implicitamente contidos em perfeita simultaneidade na
aíjÀrr,'e rekia-ganita, u g"o-"ttiu, receberam' sobretudo.nosdo qual a doutrina primordial. Pode-se dizer, pera caracteriáJos sumariamente, que
,Í."iro, desses úês ramos, um notável desenvolvimento'
os dois primeiros desses pontos de vista são analíticos, enquanto que os
Éu.-áú, po. lnt..*édio dos Árabes, devia se beneficiar mais tarde
outros quâtro são sintéticos; por outro lado, os dois últimos se
distrnguem dos outros na medida em que são, de um modo direto e
Tendo assim dado uma idéia sucinta do conjunto
dos
imediato, interpetações do próprio Veda do qual todo o resto deriva de modo
coúecimentosradicionaisdaÍndia'que,aliás'constituemtodoscomoque mais afastado; logo, as opiniões heterodoxas, mesmo parcialmente, nâo
asDectos secundários da dourin4 voll-aremos aSora
aos Dnrshanas ' qÚe
têm como se apegar a eles, enquanto que algumas podem ter ocorrido
;'";;"; ;;"".ados também como fazendo parte integrante desse
efeito' nas escolas consagradas ao estudo dos quatro primeiros Darshanas.
i".Ã.oni*to, sem o qual nunca se compreenderá nada' Comuma das Como definíções bastante breves seriam forçosamente incompletas,
que, na Índia tanto quanto na
não se deve esquecer -China' pouco inteligíveis e em conseqüência pouco úteis, julgamos prefeível
ressaltar
Àui. g.ur". injúrias quê se poderia fazer a um pensador seria reservar um capítulo parlicular às indicações gerais referentes a cada
caráter que' nas
u notiOra" e"a origiralidirle de suas concepções'
qualquer Darshana, na medida em que o tema é deveras importante, em vista do
essencialitente tradicionais, bastaria para lhes tirar
"*r!"iã", objetivo ao qual nos propomos aqui, para merecer ser tratado com
ui"ur"" Sem dúvida, entre aqueles que se ligaram especialmente
escolas alguma extensão.
de um ou outÍo dos Dttrshanas' pode ter-se formado
;;;ú" "f.tiuo. particulares' mas
or" ta àittingr.a entre si por algumas interpretaçÔes da
l.r^ áit.ige"ii"t nunca pud'eram " 'f"t- muilo sem sair dos limiteselas
pontos secundários'
.rraoAotiu; i"t""t"ndo com mais freqüência a
diferenças de
siro mais aparentes do que reai s ná fundo' e sáo antes
diversas Além
c*pr"s.ão, àhá., út"i, pâra se adaptar a compreensões
visÍa" nunca foi- propriedade
tlisxr. ó bem evidente que um "ponto de
('x(lusivl de uma escôla qualquer, ainda que' contendando-se em
ele
superficialmente em vÉz de procurar captar sua essência'
crrcitlti-ltt
L59
158
Dissemos que o Nyaya é essencialmente a lógica; mas
Dissemos
CAPÍTI]LO D(
devemos acrescentar que este termo tem aqui uma acepção menos
restrita do que entre os Ocidentais, e isto porque o que ele designa, em
vez de ser concebido como uma parte da tilosofia,é como que um ponto
O NYÂYA de vista da doutrina total. Escapando à estrcita especialização inevitável
para a lógica encarada em modo lllosófico, e não tendo aliás como se
integrar a qualquer sistema, a lógica hindu tem por isso um alcance
muito maior; e. para compleendê-la. que se lemble aqui do que
palavn Nlrila tem por sentido próprio o de dizíamos a respeito das caracteúticas da metafísica: o que constitui o
/\^ 'li,;ni."" e nlesrlo cle "llétodo"l dizer' como fàzem objeto próprio de uma especulaçâo nào sâo precisamente J\ mesmas
-Ã,,tgr,t, cla começolr por designar ulna escola e
qLre coisas que ela estuda, mas é o ponto de vista sob o qual ela estuda as
se tol'nou sinôninla de ltigica' é invefier toda
a,ordem coisas. A lógica. dissemos âinda i 1tes, concerne às condições do
qr" t:
"rr,."g.,i,1"
,iatual, po-rqre, por tão pouco que se itdrllita tl:'" entendimento hun.uno; o que pode ser considererdo logicamente é
.t,iitu :tt"]1.-d-:11
antetlor' e
caracteri;ar pol' uln llol.ne que tenha urlu signilicrtção pofianto tudo o que é objeto do entendinrento humano. na medida em
á-.on,.ário que teria ocorido se todavia t.*:t Dtrshtnrt
;;;;;;; qualquer' De fato' ffeta-se
que é considerado efetivamente sob tal âspecto. Por conseqüência, a
;;ã;; .;., monopolizado pot umaseescola tratou clisso no que se refere ao
lógica compreende no seu ponto de vista as coisas consideradas como
lxatamente de lógica e sempre "objetos de prova", isto é, de conhecirnento lacional ou discursivo: no
a Gautama'
;;;;;;;; "^ qr;tão. cujo àesenvolvimento é atribuído personagens e mesmo
N)'á) a , este é o sentido do ternro padiitthct , e, apesar de algumas
rrto-, ,a- oua aria no,ra, que foi comum à muitas diferenças, é também, na antiga lógica ocidental, a verdadeira
que' aliás' não é acompatüaclo aqui cle
a'ir-niàJ al, rraia ,ntig,,, e ser ligado
significação das "categorias" ou "predicamentos". Se as divisôes e
por mais vaga que seja' pos'sa
i"nfrr.-u inai.rçao biogiática, classificações estabelecidas pela lógica têm ao mesmo tempo um valor
qlle' no Oriente' ocone
u-uÃo iraiulariidade frecisa Aqui oconeu o ontológico real, é poque há necessariamente correspondência entrc
,.apra .- semelhaltei casos: as individualidades não
contam em ambos os pontos de vista, clesde que não se estabeleça uma oposiçào
havido' numa
,"ir[ao a dourina; d perfeitamente possível que tenha que
ladical e artificial cntre o sujeito e o objeto como a filosofia modema
Gautama'
ton*inqu" e indeterminacla, um homem chamado faz. Aliás, o ponto de vista lógico é analítico, porque individual e
ramo
;Jrh, ;-';;;.;crado ro esn-rdo e ao ensinanento cleste
"íoa" de
racional; é apenits a título de sirnples aplicação à ordem individual que os
.orf,""i."n," qíe constitui a lógica; mas tal fato nluito rerossímil
não
pnncípios lógicos. rresmo os mais gerais, são derivados dos princípios
só se conservou
tem interesse em si mesmo, e o nofile desse homem metafísicos universais.
patâ designar de algum modo o
.(.r* r* totalmente simbólico,
;rg':"g"a"""1.t intelectual" formado por todos zLqueles. que' durante um
O N,r,ár,a distingue dezesseis padârthcLs , dos quais o primcit'o
ncinào.ui, duraÇào é lào indeterminada qumlo a origem 'c dedicamm é chamado Drumânu. palavrii que tem o sentido habitual de "provl". e
qual já demos
l. ..r-"'.t*d". Esse geneto de "entidade coletiva"' da
no sentido
que nruitas vezes é ató mesmo traduzida por "evidência"; nlts cstii
;,,,;õh em Vyâsa,irão é aliás uma escola' pelo menos intelectual: e'
última tradução é imprópria em muitos casos, e tem, ern contrlpiir-tida.
.,,,,rum desta palavra, mas antes Llma vercladeira função o inconveniente de t)rzel pensar na concepção da evidôncia crr'tc\iJlll,
próplios que se
notlcr'-sc-ia dizer c, mesmo a respeito dos nomes que só é realmente válida no domínio exclusivo da rnatcrnriticir. l)ara lixar
i,1,,:(. r",,1,,r, comô que ligados da mesma
maneira a cada um dos outr os a verdadeira signitlcação cla palavra 1:tramâna, é preciso notar que seu
l),r.1ltrtttrrs:l'eitâs de un1a vez por todas' estas notas nos dispensarão de primeiro sentido é o de "rnedida". o que ele designt atpri sijo os meios
r,,llrrt rt isso nltlis tarcle. legítimos de conhecimento na ordem racional, senckr 11r-rc crda um só é

l'^
76r
conl cÍ'eito âplicável numa certa medida e sob cenas condições, ou, os dois pontos de vista: enquanto que o silogismo grego só remete
cln outr'os tennos, no interior de um certo domínio particular cuja em suma aos conceitos ou às noçôes das coisas, o ffgumento hindu
cxtcnsin <Jefile seu alcance própno; e a enumeração desses meios de remete mais dÍetamente às própriar coisas.
conhecimento ou de prova fomece as subdivisões do primeiro
p«lârlha . O segundo é prameya ou "o que está paÍa ser provado", isto Esta Írltima observação pede algumas explicações; e. de
é, o que é suscetível de ser conhecido por um ou outro dos meios que início, é evidente que ela cliz respeito, nâo à forma exterior do
acabrimos de citar; ele compreende, como subdivisões, uma classificação raciocínio, que pode ser quase que idêntica em ambos os casos, mas ao
tle todas as coisas que o entendimento humano na sua condição individual fundo mesmo do que lá está implicado. Dissemos qlle a separaçào e a
pocle atingir. Os ouÍos padârthas são menos importantes, e ligam-se oposição entre sujeito e objeto são sempre especiais à filosofia
sobretudo às diversas mo<ialidades do raciocínio ou da demonstração: moderna; porém, entre os Gregos, a distinção entre a coisa e sua noção
nâo pretendemos dar aqui a enlrmeração completa deles, mas contentar-
já tiúa ido muito longe, no sentido de que a lógica encarava
nos-emos em assinalar especialmente aquele que é constituído pelos exclusivamente as relações entre as noções, como se as coisas só nos
membros de um argumento regular. fossem conhecidas através destas. Sem dúvida, o conhecimento racional
é bem um conhecimento indireto, e eis por que ele é suscetível de
O argumento de que se trata, chamado nyáva numa acepção eqrúvocos; no entanto, se ele não atingisse as coisas mesmas numa
secundária e restrita deste termo, e que é em suma o tipo da certa medida, seria inteirâmente ilusório e não seria verdadeiramente um
demonsúação metódica, comportrL sob sua forma inteiramente conhecimento a nenhum graul se, portanto, sob o modo racional, pode-
desenvolvida, cinco avayavas, membros ou partes constitutivas: se dizer que conhecemos um objeto pof intermédio de sua noção, é
pratijnâ, a proposição ou a asserção que se quer proYaÍl hetu, a Íazão porque essa noção é algo ainda do objeto, porque ela pafticipa de sua
justiiicativa dessa asserção; ut)ârana, o exemplo que vem para apoiar natureza exprimindo-a em relação a nós.
issa razão, e que lhe sene de ilustração de qualquer modo, lembrando
Lrn câso comumente conhecido; upanaya, a aplicação no caso especial É assim que a lógica hin<lu encara, não somente o modo
em questão, o da proposição enunciada inicialmente; efftm, niSamana '
pelo qual concebemos as coisas, mas antes as coisas enquatto sào
o resultado ou a conclusão, que é a afrmação definitiva dessa mesma concebidas por nós, nossa concepção sendo verdadeiramente
proposição como demonstrada. Tal é a foma completa do algument(-) inseparável de seu objeto, sem o que ela não seria nada de real; e, a esse
demonstrativo. mas dá-se a ele às vezes também fomas simplificadas e respeito, a definição escoláistica da verdade como adaequatio rei et
abreviadas, comportando somente, seja os três primeiros membros, seja intellectLts, em todos ()s graus do conhecimento, é, no Ocidente, o que
os três últimos; sob esta última fotma em patlicular, ele apresenta uma mais se aproxima da posição das doutrinas tradicionais do Oriente,
semelhança muito nítida com o silogismo cuja teoria foi estabelecida porque ela é o que hr'Í de ntais confonne aos dados da metafísica pura.
por Aristóteles. Aliás, encontra-se aqui o equivalente do grande termo e Aliás, a doutrina escolásticzt, enqlÉmto continuava a de Aristóteles nas
tlo pequeno termo, designados respectivamente pelos nomes v1'ápaÀa suas grandes linhas, comigiu-a e completou-a em muitos pontosl é
ou continente e v y-âpya ou conteúdo, que se referem ao mesmo ponto Iamentável que ela niro tcnha chegado a se libertar inteirâmentc das
de vista da extensão lógica; quanto ao meio termo, seu papel é limitações que constituíalr a herança da mentalidtrde helênica. e
de lirzga ou sinal também que ela rão tenlta penetrado as conseqüências proÍirntlas clo
lrreenchido pela razão, helu, qlue é também chamada
princípio, já colocado poI'Adstóteles, da identificação pclo conhccinrcnÍo.
i;L,c l,ermite reconhecer a li1'áptÍ, isto é, a ligação invariável que existe
tirrtlci o continente e o conteúdo. Todavia, essas analogias incontestáveis,
r;rrr' t[i o tlue pensar, como uma hipótese pelo menos verossímil, de que É precisamente err virtutle r.lesse princípio t;Lrc, clcstle que o
Arisl(itclcs tsria tido qualquer conhecimento do N-yáya, não devem sujeito conhece um objeto, por nuis piucial e srrpcrlicial rnesmo que
I rzc r t sr.lttccc t q ue. como á indicamos,
r
j subsistem diferenças sutis entre seja tal conhecimento. algo dO objeto estil no sUjcito c torna-se parte
L62 163
de seu ser; qualquer que seja o aspecto sob o qual encaramos as
coisas, são sempre as coisas mesmas que atingimos, pelo menos sob CAPÍTULO X
uma certa relação, que forma em todo caso um de seus atributos, isto é,
um dos elementos constitutivos de sua essência. Admitimos, caso seja
forçoso, que aí se trate de "realismo"; a verdade é que as coisar sào O VAISHESHIKA
assim, e que a palavra aqui não altera nada: mas, com todo rigor, os
pontos de vista especiais do "tealismo" e do "idealismo", com a
oposição sistemática que sua conelação denota, não se apliccun aqui, onde
estamos bem além clo dotlínio limitaclo do pensamento filosófico. O nome do Vaisheshíko é derivado da palavra yíshesha ,
que significa "caráter distintivo" e, por conseqüência, "coisa
Além disso, nito se cleve perdel de vista que o ato do individual"; este Darslluna é logo constituído pelo conhecimento das
conhecimento âplesentâ duas taces inseparáveis: se há identificação do coisas individuais como tais. encaradas err modo distintivo. rrtr sua
sujeito ao objeto. há também. e por isso mesmo, assimilação do objeto existência contingente. Enquanto que o Nrd.1,a considera as coisas na sua
pelo sujeito: atingindo as coisas na sua essência. nós as "realizamos", relação com o entendimento hunnno. o Vai.yheshikt as considera mais
com toda a lbrça da palavra, como estados ou n.rodalidades de nosso diletamente no que elas são em si mesmas; observa-se imediatamente a
próprio ser: e se a idéia, à medida em que ela é verdadeira e adequada, diferença entre esses dois pontos de vista, mas também sua relação, já
participa da natllreza da coisa. é que, inversamente, a própria coisa que o que as coisas são no conheciinento é, no tundo, idêntico at_r que
pàl-ticipa também da natureza da idéia No fundo. nào l.tá dois mundos elas são em si mesmas; nus, aliírs. a diferença entÍe os dois pontos de
separados e radicalmente heterogêneos. tais como a filosofia modema vista só desaparece quando eles são ambos ultrapassados, de modo que
supõe ao qualificá-los de "subjetivo" e "objetivo", ou mesmo sua distinção pode sempre ser mantida nos limites do domínio ao qual
soblepostos à maneira do "mundo inteligível" e do "mundo sensível" eles se aplicam propriamente.
de Plàtao; mas, como dizem os Álabes. "a existência é úaica", e tudo o
que ela contém não é mais que a manifestação, sob mírltiplos modos, de Esse donrínio é evidentemente o da natLneza manifestada,
um Írnico e mesmo princípio, que é o Ser universal. fora do clual o ponto de vista individual mesmo, do qual esses dois
Dttr.slnnas rcplesentâm modalidades, não tem neúurn sentido possível;
porém. zi marrittstação uriversal pode ser encarada de dois modos
diferentes: seja sinteticamente, a partir dos princípios dos quais ela
procede e que a deternrinam em todos os seus modos, e é o que o
Sânkhya faz, tal conro veremos mais adiante; seja analíticamente, na
distinção de seus ntúltíplos elementos constitutivos, e ó o que Íaz o
Vaisheshika.

Este últirrx) l]onto .le vista pode [tesnlo sc ]irrritar à


consideração especial dc urn clos modos da maniÍ'estaçiur rrnivcr.sal. tal
como aquele que constitui o conjunto do mundo sensívc'I, c tlc ljrto. ele
está obrigado a se linritiu qltasc qlte exclllsivantcntc a isso. 1'xrrtlue as
condições dos outros moclos escirparrr necessíu-iinucnlc às lircLrldades in-
dividuais do ser hunrano: só se potle atingi,las ;tor einn. de qualquer
ll
1,6 4 165
maneka, isto é, pelo que, no homem, ultrapassa as limitações e as vista imediatamente superior, e ainda particular, ao qual o Sô.nkhya
relatividades inerentes ao indivíduo. Isso provém manifestamente do se refere.
ponto de visla distintivo e analítico que vamos caracterizar no
momento; mas não se pode compreender completamente um ponto de Apesar disso, o objetivo mesmo do Vaisheshika pode
vista especial a não ser com a condição de ultrapassáJo, desde que esse determinar, numa pat1e daqueles que se consagraram em especial ao
ponto de vista se apresenta, não como independente e tendo toda sua seu estlldo, uma ceÍa tendência antes "natüalistâ", mas que, sendo
razão de ser em si mesmo, mas colro que ligado a certos princípios de geralmente estranha ao espírito oriental, nunca pôde tomar na Índia o
que deriva, como utna aplicação numa ordem contingente, de algo que é desenvolvimento que ela teve na Grécia, entre os "filósolbs físicos";
de uma ordem diferente e suPerior. no entanto, algumas escolas pertencentes às formas mais degeneradas
do Budismo deviam só elas levar tal tendência até as conseqüências em
Vimos que essa ligeção conr os princípios, assegurardo a que devia desembocar logicamente, e isso só foi possível porque elas
unidade essencial da doutrina em todos os seus ramos, é uma estavam abertamente fora da unidade tradicional hindu. Não é menos
característica cornum a todo o conjunto dos conhecimentos tradicionais verdade que essa tendência, que se afima na concepçâo atomista, já
da Índia: ela marca a diferença profunda que existe eíúe o Vaisheshika existia na exposição habitual do Vaisheshika, pois que a origem do
e o ponto de vista científico tal como os Ocidentais o entendem, ponto atomismo, apesar do que ele tem de heterodoxo, é ligada a Kanâd4
de vista do qtnl o Vaisheshika é, no entanto, nesse conjrmto, o que há de simultÍmeamente ao desenvolvimento mestrla do Vaishesldka, que, entretanto,
menos afastado. Na realidade, o Vaislleshika é notavelmente mais não é necessariamente solidiário dele. O nome de Kanâda parece, aliás,
próximo do ponto de vista que constituía. entre os Gregos, a "filosofia conter uma alusão a esta concepção, e, se ele foi aplicado
física"; sempre sendo analítico, ele o ó menos que a ciência moderna, primitivamente a um indivíduo, não passou de um simples apelido; o
e, por isso mesmo, ele não é submetido à estreita especialização que leva fato de que ele tenha se conservado só mostra ainda a pouca
esta última a se perder no detalhe indefinido dos fatos experimentais.
importância que os Hindus atribuem às individualidades. Em todo
caso, no que este nome designa atualmente pode-se observar algo que,
Trata-se aqui de algo que é, no fundo, mais racional, e em razão do desvio que exprime, lembra mais as "escolas" da
mesmo, numa certa medida, mais intelectual no sentido estrito da Antigüidade ocidental do que o que encontramos de análogo a respeito
palavra; mais racional porque, sempre se atendo ao domínio individual, dos outros Darsftana,r.
é desprendido de qualçer empirismo; mais intelectual porque nunca
perde de vista que toda a ordem individual é ligada aos princípios uni- Como o N_vá,ya, o Vaisheshika distingue um certo número de
versais, dos quais ela tira toda a realidade de que é suscetível. Dissemos
padânhas, mas. bem entendido, determinando-lhes de um ponto de
que por "física", os antigos entendiam a ciência da natureza em toda sua vista dit'erente; esses padârthas não coincidem portanto com os do
gineralidade; esta palavra conviria bem aqui, pofianto, mas é preciso dru- N1tâya, e todos podem nlesmo entrar nas subdivisôes do segundo
se conta, por outro lado, da restrição que sua acepção sofreu entre os desles, p1g41g1q on "o que é objeto de prova" . O Vaisheshika encata sets
modemos, e que é bem caracierística da mudança de ponto de vista à paünhas, dos cluais o pdmeiro é chamado dravya; Íradtz-se
qual ela corresponde. É assim que, se é preciso aplicar uma designaçào \.ulgarmente esta palavra por "substância", e pode-se iazê-ln. com
ocidental a um ponto de vista hindu, preferimos para o Vaisheshika a de efeito, com a condição cle se entender este tefmo, não no scntido
"cosmologia"; e, aliás, a "cosmologia" da Idade Média, apresentaldo-se metafísico ou universal, nras exclusivamente no sentido felâliyo ern que
liticlamente como urn aplicação da metafísica às contingências da ele designa a Íunção do sr-rjeito lógico. e que é ac;uclc cpte exisre
orle rn scnsível, é desta ainda mais próxima do que a "filosofia física" igualmente na concepção das categolias de Alistírteles.
ttrrs (ilcgos ela, a qual, quase sempre, só tomava seus princípios na
orrlcrrr corrtingcnte, e quando muito no interior dos limites do ponto de O segundo padâtha é a qualidade. chanratla gum, palavra
161
),6 6
grauj mas, se se encarasse as ações na integÍalidade de suas
que reencontraremos a propósito rlo Sânkfita, mas aplicada de
conseqüências temporais e mesmo intemporais, tal distinção
outrá modo; aqui, as qualidades de que se tratâ são os atributos dos
o que a escolástica denomina "acidentes" desapareceria, como seria possível, aliás, prever ao notar que todos os
seres manifestados,
que ê seu suporte' atributos, quaisquer que sejam, procedem igualmente de um mesmo
encaÍando-os em relação á substância ou ao sujeito
individual Ao transportar essas princípio, e isto tanto sob a relação da substância quanto sob a da essência.
na ordem da manifestação em modo
Àesmas qualidades além desse modo especial para consideÍá-las no
Poderemos ser mais breves sobre os três parláthas, que vêm
prhcipio mesmo de sua manifestâção, dever-se-ia encará-las como
um em seguida, e que representam em suma categorias de relações, isto é,
ionstiiutivas da essência, no sentido em que este termo designa
ainda certos atributos das substâncias individuais e dos princípios
nri*íoio conelativo e completnent da substância, seja na ordem
relativos que são as condições determinantes imediatas de sua
I"i*À^f , seja mesmo. relliivlmente e por correspondência- analógica' manifestação. O q,uato padônha é sâmâan, isto é, a comunidade de
na ordem individual; mas a essência. mesmo individual' onde os
escapa do qualidade que, nos graus diversos de que é suscetÍvel, constiflri a sobre-
atributos residem "eminentemente" e não "formalmente"'
lado da existência entendida posição dos gêneros; o quinto é a particllla-ridade ou a diferença,
p""i" a" vista do Vaislresftika, que está do chamada mais especialmente yishesho, e que é o que pertence
'nà-s".r s"ntido mais estrito, e eis por que os atributos verdadeiramente só
pÍopriamente a uma substância determinada, aquilo pelo quál ela se
são para eles "acidentes".
diferencia de todas as outras; enfim, o sexto é sarnavâya, a agregaçào,
de bom grado estas últimas concepções numa isto ê, a relação íntima de inerência que une a substância e seus atributos,
Expusemos
que é aliás em si mesma um âtributo da substância. O conjunto desses
linsuasem que deve tomá-la-s mais particularmente compreensíveis
seis padâthas , compreendendo assim as substâncias e todos seus
uqi.tÀ qu.'sao habituados à doutrina aristotélica e escolástica; esta
que o atributos, con.sliÍtat bkâra ou a existência; em oposição correlativa está
linzuagem é, aLiás, na ocorréncia' a menos inadequada daquelas-
abltâya ott a não-existência, do qual se faz às vezes um sétimo
õ;;;;;," coloca à nossa disposição. A substância, nos dois sentidos dos
não padânha , mas cuja concepção é puamente negativa; é propriamente a
q*ir á.iu purrr., é suscetível, é a raiz da manifestação' mas ela é
que são "privação" entendida no sentido aristotélico.
á* .i ."t-u .*ifestada, ela só o é por seus atributos e neles'
suãs moaaUaaa.s, e que, inversamente, só têm
existência real' segundo
ári" otA.- contingente da nanífestação, na subsÍância e para ela; é No que se reÍ'ere às subdivisões dessas categorias,
produz' insistiremos somente nas da primeira: são as modalidades e as
,áriu q"" as qualidãdes subsistem, e é para e1a que a ação se
condições gerais das substâncias individuais. Encontra-se aqui, em
primeiro lugar, os cinco á/ri?tas, ou elementos constitutivos das coisas
O terceiro padârtha é, com efeito, kanna ot a ação; e a ação'
com esta corporais, enumerados a parlir daquele que corresponde ao último grau
qualquer que seja sua diferença em relação à qualidade' entra
que uma desse modo de nraniÍ'estação, isto é, segundo o sentido que
na nàçao'geral-dos atributos, porque ela não é nada
mais.
;;;;;1;" ie ser" da substâncià; ó isto que indica' na constituição da corresponde proprianlente ao ponto de vista analítico do Vaisheshika '.

dos prithiwi ou a terra, í/r ou a ígua, tejas ou o fogo, yaju oit o rr'. âkcr:ilut
Iingrug"., a expÍessão da qualidade e da ação sob a forma comum ou o éter; o Sânkhyo, ao contrário, considera esses elemcntos nir
A ação é encarada como consistindo essencialmente
no movimento, ou antes' na mudança, porque esta noção múo
".,:uàr-"tiúuti"ór. mais ordem inversa, que é aquela de sua produção ou de sua delivação. Os
qrul o moümento só constitui
nu uma espécie' é aquela que se cinco elementos se manifestarn respectivamente pclas einco
que apresenta de qualidades sensíveis que lhes correspondem e lhes são inercntes. c que
aDlica mais exaEmente aqu1, e mesmo aquela
"*t"nru,
por conseqilência' que a ação peftencem às subdivisões da sepunda categoria; eles são dctcrntinuçÕes
,,i,,if,,t,, fisica grega. Podei-se-ia tlizer.
"
i Pirlir o sel um modo transitório e momentâneo, enquanto que a substanciais, constitutivas de tudo o que pertence ao muntlo sensíveI;
permanente e estável a qualquer um grande erro seria cometido se eles fossem considetados como mais
iul,li,l,r,lc ó ttm rnodo Íelativamente
).6 B
169
ou menos aniíogos aos "corpos simples", aliás, hipotéticos, da seja. subrnetido à condição espacial; não se pode encontrar algo
química modem4 e mesmo assimilando-os a "estados físicos", segundo simples ou indivisível que saia da extensão, portanto dessa modalidade
uma interpretação bastante comum, mas insuficiente, das concepções especial de manifeslação que é a existência corpórea. Tornando-se a
palavra "átomo" no seu sentido próprio, o de "indivisível", o que os
cosmológicas dos Gregos.
Íísicos modemos não fazem mais, mas que é preciso Íazer aqui, pode-
Após os elementos, a categoria de dravya compreende Kâla, o se dizer que um átomo, devendo ser sem partes, deve ser também sem

tempo, e dlsh, o espaço, condições fundamentais da existência extensão; ora, uma soma de elementos sem extensão nunca formará
corpórea, e acrescentâremos. sem poder nos demorar nisso, que elas uma extensão; se os átomos são o que eles devem ser por definição, logo
representam rcspectivamente' nesse ntodo especial que constifüi o
é impossível que eles cheguem a formar os corpos.
mundo sensívei. a atividade clos dois princípios que, na ordem da
manifestação universal. são designados como S/ríva e Vislznz' Essas A este raciocínio bem conhecido, e, aliás. decisivo, iuntaremos
ainda este, que Shankarâchârya emprcga pam Íefutar o atomismo (1):
sete subdivisões let'erem-se exclusivamente à existência corpórea; mas,
quando se está consirlerando integralmente um ser individual ta1 como o duas coisas podem entrff em contato por uma parte delas mesmas ou
àr humano, ele compreende, além de sua rnodalidade corpórea, por sua totalidade; para os átomos, que não têm pafies, a primeira
hipótese é impossível; só resta pofianto a segunda, o que significa de
elementos constitutivos de uma outra ordetn' e esses elementos são
um outro modo que o contato ou a agregação de dois átomos só pode
representados aqui pelas duas últimas subdivisões da mesma categoria'
âimâ e manas. O manas ou, para traduzir esta palavra por outra de raiz
ser realizada por sua coincidência ptua e simples, de onde resulta
manifestamente que dois átomos reunidos não são mais, quânto ã
idêntica, o "mental" é o conjunto das faculdades psíquicas de ordem
extensão, que um só átomo, e assim por diante indefinidamente;
individual, ou seja, daquelas que pertencem ao indivíduo como tal, e
portanto, como antes. átomos em número qualquer nunca formarâo um
entre as quais, no homem, a Íazáo é o elemento característico; quanto a
corpo. Assim, o atomismo só representa uma impossibilidade, como já
âtmâ, qie se toma eqüvocadamente por "alma", é propriamente o
princípi,c transcendentá ao qual se liga a individualidade e que the é
indicamos ao precisar o sentido em que deve ser entendida a
heterodoxia; mas, o atomismo sendo colocado à parle, o ponto de vista
iuperior, princípio ao qual deve ser aqui ügado o intelecto puro, e que
do Vaisheshíkn, reduzido então ao que tem de essencial, é peffeitamente
se'distingue do mancts,, ou antes do conjunto composto do ntanai e do
legítimo, e a exposição que precede determina suficientemente o seu
organisilo corporal, como a personalidade, no sentido metafísico' se
alcance e a sua significação.
distingue da individualidade.

É na teorie dos elemenlo' corporais que a concepção


atomista aparece especialmente: um átomo ou ano' é potencialmente
pelo menos, da naiureza de qualquer um dos elementos, e é pela
ieunião de átomos desses diferentes modos, sob a ação de uma força
"não-perceptíve1" ot atlríshta, que todos os colpos são formados Já
disseÀos que tal concepção é expressamente contírria ao Veda'
qu.e

afirma em contrapafiidã a existência dos cilco elementos; não há'


solidariedade real e fte este e aquele' É, aliás' muito
fr,rn,-À
"".1r*-"as contradições que são inerentes ao atomismo' cujo
iricil evidenciar
clro lundamental consiste em supor elementos simples na ordem
eolPritca. enquanto que tudo o que é corpo é necessariamente
r',,rrr1r,rl,,. scntlo sempie divisível exatamente poÍque desdobrado' ou
t\)
Ll i
Estes são. antes de hldo, os cinco tonmâtras, determinaçÕes
CAPÍTULO XI
incorpóreas e não-perceptíveis. que serão os princípios respectivos dos
ctnco bhíitqs, ou elementos corporais: o Vaishesheko só tinha que
considerar estes últimos, e não os tanmâtros . cuja concepção só é
O SÂNKHYA necessária quando se quer )igar a noção dos elementos ou das condições
da modalidade corporal aos princípios da existência universal. Err
seguida, vêm as factüdades individuais, produzidas pela diferenciação
da consciência da qual elas são como tantas funções, e que sâo
.Â. ,Sr?nlillrr lis.a-se ainda ao domínio da natureza' isto é' encaradas como sendo em número de onze. dez extemas e uma intema:
í l,r, 'n ilêst-rrcrto universal. mas, como já indicamos'
n.r, as dez faculdades extemas compreendem cinco faculdades de
U7.,,nri.t.r,,.l, .le*tr rez sinteriertncnte. a parl ir dos conhecimento que, no domínio corpóreo, são faculdades de sensação, e
princípbs cluc r.nintul sua procluçittl e clos quais ele.adquire toda
cletet cinco faculdades de ação; a faculdade interna é o mana:| lanto
iur rlrria"i". 0 clesenvolvimenio desse ponto dr: vista' intermediárioé facddade de conhecimento como fàculdacle de ação. que é unido
e. a metafísica'
rle qualquel modo entre a cosmologizt c\: Vaíshashiku diretamente ã consciência individual. Enfim. encontraremos os cinco
porém' esse
iÉulaà ao antigo sábio Kapila; para dizer a verdade' elementos corporais enumerados clesta vez na ordem de sua produção ou
"t
n"a" à..ig"r"em absoluto uma personagem, e tudo o que se diz dele de sua manifestação: éter, ar, fogo, água e ten'a; têm-se assim vinte
"i.
aDresenta um iaráter puamente simbólico' Quanto
ã denominação do quatro /a/l|ra.' que compreendem Prnkriti e Íodas suas modiÍicaçÕes.
(ii\ersamente interprerada: ela deriru de que
íi,,inro, ela foi 'arAh'r'á'
;i;;iii;; "enumeração" ou "cálcu1o", e também às vezes "raciocínio": Até aqui. o Sônkhya só considera as coisas sob a relação da
procede pela enumerlçáo
elã design, propriamente uma doutrina que tal como indicamos
substância, entenclicla no sentido universzú; porém,
com efeito' o
;;il;; ;"t àiú"r,"t graus clo ser manil'estado, e istottrê'distinçáo antes. cabe encarar conelativamente, como o oüro pólo da
todo e na
ou'e caracteriza o SánÀhla que pode se lesutnir manifestação, um princípio complementar daquele, e que se pode chamar
considercçuo de vinte cinco /{i'11ras ou princípio:
e elemenlos de essência. E. o princípio ao qual o Sânkhr-a dá o nome de Purutsha ou

verdadeirás, correspondentes a esses graus hierarquizados' de Pwnas, e que ele encara como um vigésimo quinÍo tottwa,
inteiramente independente dos anteriores: todas as coisas manifestadas
Colocando-se sob o ponto cle vista da manifestação' o
Sânklt'tct são produzidas por Prakriti, mas, sem a presença de Purusha, nis
toma coÃo ponto de partida Prttkriti ot Pratlhâno' que é a sllbstância produções só terianr ur.na existência puramente ilusória. ContrzLriamente
todas
indit'erenciâda e não-manifestacla em si' mas de onde
-.oit^'p-."4"m
r.lrliu"truf, ao que alguns pensanr, a consideração desses dois princípios nào
por modificação; este primeiro tattw'l é a ràiz or apresenta o rrenor caliiter dualista: eles não derivam Lrm do olltlo e
,.
mf. a da manifestação, e os tí'nr"as seguintes representam suas
(lue é
tampouco são lcdrLtívcis um ao oLltro, mas procedem ambos do Ser
.traiti"oç0"s em diversos graus No primeiro grau eslá Buddhi universal, no qual constituern a primeira de todas as distinções. Alilis. o
puro' Sânkltt'a n'ao tem corno ir além dessa mesma distinç&r. c ir
ir,rrte. .ttu-uOu .lZrlror ou o "grande princípio"' e que é o intelectojá na
transcendente em relação aos indivíduos; aqui'
estamos. consideração do Ser puro não entra no seu ponto de vista; cntrctanto,
rrunitêstação. mas não ainda na ordem univenal No grau segulnte' ao não sendo sistemático. ele torna possível tudo o que o ultlapassa, c por
qtrc
cirnttitrio, encontramos a consciêncía individual' ahnnkara' isso ele não é de modo alqurn dualista. Para ligar isso ao tlue já
por uma determinação "particul:rrista"' a respeito do dualisrno, acrescentarenros tprc ir concr-pçào
;;;;.'.i" à" princípio intelectualque produz, por sua vez' os elementos dissemos
àxprimir assim, e
i,,u1.,,.1,,-." ocidental de espírito e nratéria não correspontle ir tlistinção entre
si l'tt ittlcs. essência e substância a não ser num domínio muito cspccíllco e a título
113
t']2 concepção de Pr kriti que eles identificam ã noção de matéria. o
de outros'
de simples aplicação pafiicul entle uma indefinidade que é completamente falso, e que, aliás, eles não estão levando em conta
análàgos iguoi."ni" possíveis; observa-se por isso como' sem
" afastados PtutLslta na sua inteÍpletação delbrmada. A substância universal é algo
;.;;;; ainclã no t"rr"nà du metâfísica pllra' peÍnanecemos
bem diferente da matéria, que não é mais que umii determinação
das limitações do pensamento filosófico' restritiva e especializada; e já tivemos ocasião de dizer que a própria
de Pra'tnd : ela possui noção de matéria. tal como se constituiu entre os Ocidentais modemos.
Devemos ainda voltar um pouco à concepção não existe entre os Hindus, da mesma maneira como não existia entre os
perfeito equilíhrio
t.êr nrra. ot, qualidlcies cônslilr'rliva' qile estào em próprios Gregos. Vê-se bent o que poderia ser um "materialismo" sem
manilestlção ou modlllcaçco
na r"ua in.litcrencirtçàrI prirn'rrdirl: toda a matéria; o âtornisl'lto dos antigos, mesmo no Ocidente, se foi
equilíbrio' e os seres'nos seus
da substância reprcsenra Lmla rupturt desse "mecanista", não Íbi por isso "materialista", e convérn deixar à filosofia
três-.8tr'l74s em
il;;i;t estad,os de ma,rittstação' pafiicipam dos .
moclerna etiquetas que, só tendo sido inventadas por ela, não poderiam
indefinidamente
;i;;;. ;.;r.. e' por assin clizct' segunclo propoÍçõesmas condiçÕes da verdadeiamente ser aplicadas em outro lugar'. Além disso, se bem que se
,uaioOor.'gr*, g,t,,,ts. nãt' são' porLant" e\tados' Iigando ã natureza, o Siittkhyo, pelo modo como a encara. não con€
universal. às quais lodos os scres manÚestados
sao
mesmo o risco de gerar uma tendência ao "naturalisnto" como aquela que
"*ii,e*io
suÀmetidos. e é preciso tomar cuiclado
para distinguir condições especiais
constatamos a respeito da form:r atonista do Vui:;hesltika. com muito
ooã a"atr-nrtn tal ou qu estado otl modo da manit'estação' como o
dos mais razão, ele não pode ser cle nenhum modo "evolucjonista", como
:;;r;;;;;;p". qtre condicionam o estado corpóreo à exclusão
à essêncja pura do Ser alguns o imaginaram, e mesmo qulndo se torna o "evolucionismo" na
outros. Os três gLlnas s o" sa/nvíI, a conformidade sua concepção mais get'al e sem fazer dele o sinônimo cle um grosseiro
;';;r, il" i identificacla à luz inteligível ou aoraTas'
conhecimento' e
a impulsão "transformismo": tal confusão de pontos de vista é por demais absurda
ràã.".ria" cotuo uma tendência ascendente; estado e' de para que nela nos detenhautos.
:;T;;.i;.;.t*;à tq.,at o ser se desenvolve num cerlo /arms' a
ràdi,. etn um nívcl determinado da existêncial entim'
".í"u.. Quanto à reptovação de "ateísmo", eis o que é preciso deduzir: o
assimilada à ignorância' e representada
como uffir
lbt.i,iio"a., insuficientes e Sânkb,a é niisltyrLul, isto é, ele não iaz com que a concepção ü Ishwcrra
como são
,.rãJ.i" à"*"ra"nte, Pode-ú constatar dos orientalistas' sobretudo intervenha; mas, se tal concepção niio se acha nele, é por não ter razão de
ln.r,rao i^fro. as interpretações correntes lá estar, sendo datlo o ponto de vista de qlle se trata, assim como ela é
,.'',,'a os dois nrimeilos gunas, os quais eles
pretendem traduzir pelas
ausente tanto no N,fr?rtr qlnnto no Vaisheshiku. A não-inclusão num ponto
ã.';*;;çil;;;;.iiu""a' "bondade" e "paixão"' enquanto não há'
Não podemos de vista mais ou menos especial só se toma negação quando esse ponto
ã"ià-."ii.*,". nada de morul nem de psicológico nelesimpoÍtmte' nem de vista pretendc sc. colocal como exclnsivo, ou seja, quando ele se
à. lrl"a" mais completo aqui esta concepção.tão no que se constitLri como sistenlii. o c;ue não ocorre aqui; e poderíamos pergulltar
"rp"t
fali das dive.sas aplicaçÕes que ela permite' especialmente aos olientalistas se a ciência européia. sob sua foma atual. deve ser declrlacla
,"i.r" a t"o.i, doi elementos: contentar-nos-emos em assinalar sua
essencialmente "atéia". porclue não lâz intervir a idéia de Deus no sen
existência. domínio, o que cle fato niLo é o caso^ já que há algo lã que está lirra de
seu alcance. Ao lado clo Sânkhl'u de que acabamos clc lrlar'. cxiste,
Por outro lado, sobre o Sânkhva' em geral'. não temos
aliás, um otttro clorslutttu, encarado às vezes como urrr scglrntkr rarno
necessidadedeinsistirneletãolongamentecomoseriaprecisoseiánão do Sânkhya, complefircntaÍ do anterior. e que, pafa scr tliÍi.r'cncildo
essenciais de-sse
ii;.,,.r;,r*, assinalado. em boa pÃe, as caracterísÍicase em comparaçao deste, é qualificatlo d.e se.sh'vara, encarando ao contnilio lr corrccpçlo
rr,rrrlLr Llc ri:ta iro mesmo lemlo que ur do
vai'lrr's/iiÁa
equívocos os. orienrali'ta: de Ishwara; esse tlorslttttttt, que trataremos agot'lL, ó uilLrclc que se
l;;;i:',;, ;;,,:. ;;;r-;"' rincla clis'ipar algtrn'
filósófico qualilicam-no de designa habitualmente sob o nome de l'oga. irJcntilitrrrdo itssim a
,rr( l(,nt.rrrr o 5,inÀirla como um sitre-ma
"materialista" e "atéia"; é óbvio que é a
doutrina com a pr'ópria meta ar que ela se propõe e x l)rcssltrente.
,i,i,,,,'^,,,"' .,',,,,, A,,utrira
l'15
L14 ordem inversa daquela de seu desenvolvimento, e como que
retomando à sua última finalidade, que é idêntica ao seu princípio
inicial. Em relação à manifestação, o princípro primeiro é Ishwara oluo
CAPÍIIiI-O )«I Ser universal; isto não quer dizer que esse princípio seia absolutamente
primeiro na ordem universal, na medida em que nnrcamos a distinção
fundamental que é preciso fàzer entre Ishwara, que é o Ser, e Brahma,
O YOGA que está além do Ser; mas, para os seres manifestados, a união com o
Ser universal pode ser encarada como constituindo um estágio
necessiírio em vista da união com o suptemo Brahma. Além disso, a
possibilidade de ir além do Ser, seja teoricarnente, seja quanto à
realização, supõe a metafísica total, que o Yoga-shâstra de Patanjali
A iJl.,li: üí1Jlf if l:x il:::ffi::,;:ii1l";":,i"lT
não sabemos pÔr que muitos. aumrcs
não tem a pretensão de representar sozinho.
-Ãpr"rrg", que ela e
.*o.rJ-* ert, iala'ra' fleminina' ent;uento que em sãnscrito
"#;J,";;,.;;;.;;"i;;" designa principalmente é a uniào eretiva do
A realização metafísica consistindo essencialmente na
identificação pelo coúecimentô, hrdo o que não é conhecimento em si só
;;;,h;"r_. com o universal; aplicado .:t_.
u: ?a,r:han_1., c!J1à tem um valor de meios acessórios; também o Yoga toma como ponto de
ele indtca que esse
;il;i;;t" em sfttras é atÍibuída a Patanjali'
dessa união' comportando os
partida e meio fundamental o que ó chamado ekâgrya, isto é, a
Darshana tem por meta a realização de
"concentração". Esta concentração mesma é, como Max Miiller confessa
é somente u1.1onto
ili"; ;"; alcançáJa Enquanto que o Sánkft1a
n6 senÚdo que
(1), algo totalmente estranho ao espírito ocidental, habituado a jogar
;i;;;" iJ.i.".
-ó"é portanto deessencialmente' apesar do
realização' .metalisrco
que pensâm
toda sua atenção sobre coisas exteriores e a se dispersar na sua
;d;;;;, sJ truta uq'i mulriplicidade furdefinidamente mutante; ela mesma tomoll-se quase que
t":'
"uma filosofia"'
ffi}il.,!","";il,,,-,àt ui, pretensos
como os orientalistas impossível, e no entanto ela é a primeira e a mais impoftante de todas
que se e-sforÇam em
i":" *"r.o, .o,no "esoterislas" A concentração pode tomar como
as condições de uma realização efetiva.
"iiJàit, fantasias a àout'inaque nào têm' um "método de
.rlr,i*ii-í* o ponto
suporte, sobretudo no começo, um pensamento qualquer, um símbolo tal
à;;;;irt";"* dos poderes latentes ào organismo.humano" como uma palavra ou uma imagem; mas em seguida esses meios
incomparavelmente
ãã1." à. q*uao refire-se a toda uma oütra oÍdem' e que escapa
auxiliares tomam-se desnecessários, tanto quanto os ritos e outros
l,rr,".io. uo'qu" interpretaçÔes desse gênelo implicam' "adjuvantes" qle podem ser empregados concorrentemente em ústa do
;;t"à,,ãt àt isso É muito naüral' visto que não há mesmo fim. E evidente, aliás, que tal fim não poderia ser atingido
LffimâtJã ^'uo';
rãda análogo quá teja conhecido no Ocidente' somente pelos meios acessórios, exfínsecos ao coúecimento, que
acabamos de mencionar em último lugar; mas não é menos verdade
Sob o ponto de vista teórico' o loga completa .o
Siinklrya que tais meios, sem terem nadâ de essencial, náo são de modo algurn
que' sendo idêntico ao Ser
int oauriràã a'.on"epção de lshwara' ptlrtcípio múltsplo
negligenciáveis, porque eles podem ter uma gÍande eficácia para
r",rir"^J, p".-i u unificaçao, primeiro dê Purus,ha' facilitar a realizaçáo e conduzir, senãô a termo, pelo menos aos seus
" existências particulares' e enl.seguida de
estágios preparatórios.
-iirrurnoé encarado somente nas
cluando
distinção' pois
Prakriti, sendo o Ser universal a1ém de sua
"
,l;"";-t;" princçio comum Por outro lado' o Yoga admite o Tal é a verdadeira razão de ser de tudo o que é designado pelo
tlcscllvolvimentodanaturezaoudamanifestaçãotalcomooSônL]llg ÍeÍmo hatha-yoga, destinado, por um lado, â dest.tir, ou antes, a
que deve conduzir
por base de uma realização
:i:':;";, ;r*tio.;do-a numa
"transformar" o que, no ser humalo, faz obstáctrlo à stra lmiiro com o Uni-
;l(',,,,1"r* natrreza contingente, ele a encara de qualquer modo versal, e, por outro lado, a preparar essa uniio pela assimilação de
l-11
1"'16
almejados por si mesmos, esses poderes não constituem mais do
ceftos ritmos, principalmente ligados à regulação da respiraçào;
que simples acidentes, provenientes do domínio da "grande ilusão",
mas, pelos motivoi que demos antes, não insistiremos sobre as
como tudo o que é da ordem fenomenal. e o Yogt só os exerce em
,noáulidud", da realizaçáo. Em todo caso, é preciso sempre lembrar-se
teórico é o único circunstâncias totalmente excepcionais; considerados de outro modo,
lue, de todos os meios preliminares, o conhecimento eles só constituiriam obstáculos à reabzação completa. Observa-se
.je.áad.i.a-ent" indispensável, e qlre em seguida' na própria
assim como é destituída de fundamento a opinião r,ulgar que faz do logí
realização, é a concentraçAo que importa mais e do. modo
mais

imediato, porque ela está em relação direta com o conhecim€nto' e' uma espécie de mágico, até mesmo feiticeiro; de fato, aqueles que fazem
'qu" u,.,.,, ação qualquer é sempre - t"put-'d1 de suas mostra de ceÍas Íaculdades singulares, correspondentes ao
enquanto
a nleditação otl a contemplação intelectual, chamada em desenvolvimento de algumas possibilidades que não são, aliás,
conseqtiências,
não pode ter unicamente de ordem "orgânica" ou fisiológica, não são de modo
sânscrito r//r-v.'ina, tlaz seu fl'uto cm si mesma; enfim' a ação
no seu algum logís , mas homens que, por uma razào ou por outra, e geÍalmente
como et'eito nos fazer sair clo domínio da ação, o que implica'
metaÍísica Todavia, pode-se ir meis por insuficiência intelectual, são levados a uma realização parcial e
ÀLJetivo verdacleiro, ttnla tealização
e cleter-se na obtenção de inferior, que não ultrapassa a extensâo de que a individualidade humana
ou ,"nn, longe nessa tealizaçâo, nle§n.lo
a graus secunúírios que ó suscetível, e pode-se teÍ ceÍeza de que eles não irão muito alén.r disso.
estados superiores. mas não definitivos; é esses
Para a realização metafísica verdadeira. livle de todas as contingências,
as obserúncias especiais que o voga--shosta prcscreve se referem
pode-se portanto essencialmente supra-individual. o Yogi tolnou-se idêntico a
sobremaneira; mas, em vez de transpôJos sucessivamente'
de uma esse "Homem universal" sobre o qual demos algumas palavras
mmbém, se bem que mais dificilmente sem dúrvida, ultrapassáJos
última via que anteriormente; mas, para tirar s conseqiiéncils que isso comporta,
só vez para atingir diretamente o objetivo final, e é essa
seria preciso sair dos limites que pensávamos nos impor presentemente.
o rcrmà râja-toga muitas vezes designa No entanto' esta expressáo Aliás, é sobretudo ao huthu-1,o13u, isto é, à preparação, que se refere o
deve ser eniendida também, mais estritamente, a pafiir da meta mesma
Darshana a respeito do qual apresentamos estas poucas considerações,
da realização, quaisquer que sejam seus meios ou modos.particulares'
mentais destinadas sobretudo. na nossa intenção, a cortar os erros mais
que devem natuial-.nte t" aduptat o melhor possível às condições
em rodos difundidos sobre este tenral o festo, isto ó, o que se refere à meta última
e'mesmo fisiológicas de cada um; neste sentido, o h(ttka-yoga '
râja-yogtt da realização, deve ser remetido de preferência à parte puramente
os seus níveis, iem por razão de ser essencial conduzir ao '
metafísica da doutrina. que é o Vedânta.
O Yogí , no sentido próprio da palavra' é aquele que realizou a
r-rnião perfeiti e definitiva; não se pode poftanto aplicar sem
abuso esta
denominação àquele que se dedica simplesnrente ao estudo do Yoga'
'DarsÀr, (l)Prefrácio aos "Sao«l &rtks oÍ tle Earr'l ppJO(tr, )O(V.
enquanto no , neÍr mesmo àquele que segue efetivamente a
sem ter ainda chegado à meta
vidà da realização que lá está indicada,
sllprema pâra u quuf ela tende. O estado de Yagi verdadeiro é o
do ser
qr" atirlgiu e poisui em pleno desenvolvimento as possibilidades mais
elevadas; todos os estados secr.mdifios aos quais aludimos the
pefiencem
poder-
também ao mesmo tempo e por isso mesmo, mas por acréscimo'
se-ia dizer, e sem atdb;ir mais importância do que eles
já têm, cada um
rr scu nível, na hierarquia da existência total da qual eles são como tântos
dizer o mesmo em relação à possessão de
clcllrcntos constitutivoi. Pode-se
(eltos l)odctes especiais e mais ou menos extraordinários, tais como
rrt;rrt'lcr tlttc siur chamados siddhis ou vibhütis: bem longe de dever ser
118 r'1 9
sentido: no sentido lato, é a ação sob todas as suas formas, que é
muitas vezes oposta a.in1na ou o conhecimento, o que conesponde
CAPÍIULO)tr ainda ã distinção dos dois útltimos tlDarsharuts; no ,"niido específico e
técnico. é a ação ritr-ral, tal como é prescrita no Veda, e esie último
sentido é naturalmente lreqiiente na Mímânsíi, que se propõe a dar as ra_
zões dessas prescdções e pr-ecisar seu alcance.
A MIMÂNSÂ
A Mimân:sti corneçâ por considerar os diversos pramanà.s ol
meios de prova. que são aqueles inclicados pelos lógicos. e também por
outms Íbntes de conhecimento com as quais estes não tinham por que
A DiLllvru /,,í/,Iril?§íi significa literalmente "reflexão se
.ocupar
no seu domínio particular: pocler_se-ia conciliar, aliás,
jr,,l'trntk,: 1àcihnente as diferentes classificrções dcsses
I de Ltrn tnodJ gcral. ela se aplica ao estudo Trr. tnkiuLts ronsidcmndo_as
simplesmente como mais ou menos clesenvolvitlas e completas, polque
./ \i'ertetir.lo do Vr',1a . tcndo por nlcta determinar o sentido
elas não têm nada de contraditório. Em scgLrida distinr:uem_se várias
exato da.ràn,li e dela extrait as conseqiiências que são inrplicadas. seja
espécies de prescrições ou de injunçÕes, a divisao nrais gcral sendo a
na ordern prática, seja na orclem intelectLlal Assim entendida. a rie
injturção direta e a de injunção indireta; a ptrte do VitlLr clue contém
Mínúnsti compreende os dois úrltimos dos seis Donsl:an./,t, qLIe são
preceitos é chamada brahmuta. por oposição ..tt) ollutt r(t àr-r lõrmula
então designados como Pfin'a-Mírttânsô e Llttara-Mírnânsâ, isto é' a
ritr:al, e tudo o que é conticlo nos textos védicos é t utttftt o! bríihnnrut.
primeira e a segtnda Mímânsri, e qtte se ligam respectivanente às duas
Aliás, só há preceitos no brâlntnna, já que as Ltptutishtttl.s, puramente
ordens que acabamos de indicar. Logo, a primeira Mímânsâ é tambem
charnNla Kanna-Mintânsâ, locando o domínio dâ ação, enquanto que a
doutrinais, e que são o fundamento do Vetluiinrtt, entrarl nesta
segunda é chamada B/ialnu-Mínúnsô, tocando essencialmente o co-
categoda; mas o brôhntrLna prático, ao qual a. Mínúrtsti se liga em
especial. é aquele que indica o morlo de cumprir os ritos, as condições de
nhecimento de Brahma; é notável que seja o sLlpremo Bhrohma, e nào
tal realização, as modalidades que se aplicam às cliversas circunsáncras.
mais Ishv;ara, o encarado aqui, potque o ponb de vista de que se trata é o
explicando a significação dos elementos simbólicos que entrâm nesses
da metafísica pura. Esta segünda Mí111â11sâ é prcpriamente o Vedânda: e'
ritos, e dos rlraitr.rrr rlrrc- convém empregar para cada caso determinado.
quando se fala de Mtmânsâ se;n epíteto, cono o fazemos no presente
capítu1o, é sempre da primeia Mtnúnsá que se trata exclusivamente,
A lespeito dir nalul.eza e da eficácia do manÍrú, como
também, cle urr nrorlo rnlis geral, a respeito da autoridade tradicional
A exposiçiro desle Durslrcma é atribuícla a Jaimini, e o método
qtle se segue é este: as opiniões errôneas sobre uma questâo são do Veda e de sur or.igcnr "n-ro-humana,', a Mímônsti desenvolve a teoda
cia perpetuidade tlo sorrr ir qual já aluclimos antes, e, mais precisantente,
inicialmente desenvolvidas, em seguida retutadas. e a solução verdadeiril
da questão é finalmente dada como conclusào de toda essa discussãoi tal
da associação orisinal c ;rr.pétLrii clo som articulado com o sentido do
nrétodo de exposição apl€senta uma analogia notável com o da doutrinl
ouvido, que 1àz da lirrgrragcnt algo bem diÍêrente de unta convcltç-ro
escolástica da Idade Média ocidental, Quanto à natureza dos tema.s
mais ou menos arbitr.lir.iiL. [tncontr.zrse ih igualmente unuL lcor.ia tla
infalibilidade da doúrina tr.atlicional. infalibiliclaclc qLre tlcvc scr conccbicla
lÍirtados. ela é defir]ida. no começo mesmo dos,tilrí.s de Jaimini, como um
csludo qlre deve estabelecer as provas e as l?zões de ser do dhanna, na como inerente à ptúpria rkrutr.irrlr, c cpre, por decon.ôncia. li-ro
l)crtcnce de
srur conexão com Kárla ou "o que deve sel cunlprido" lnsistimos o
nenhum modo aos intlivítluos lrurllrnos: cstcs sri plrrlicil.xrnr tlela na
\uli(icntc na noção de dharma, e no que é preciso entendeÍ por medida em que conhecent clttivirrncntc a tktutr.ina c cn I (luc ii intcrpr€tam
trrrlirrrritlatlc da ação ao tlhanno , que é aquilo de que se trata exatamente, e, então n)estno. csta inlllihjlitltrtlc rriir tlcvc scr ligada aos
indivíduos como tais, nras sentpt.c ir tloutrirra r;rrc sc cxpr.irnc por etes. É
lrrcr'isrrrrrt'rle lriltti: lembraremos que a palavra kon?l(t lem um duplo
181
180
designar as fases sucessivas de ambos. Esta semelhança não é
por isso que somente aqueles. que toll:t"T " ::i:
'"i11 ,tLt-"^'i' cuJa certamente foÍuita, mas não se deveria ver aí nada além do que ela
o,raiificados para compor escrilos tradicionai' verdaderros' exprime na realidade, um sinal da aplicação de um mesmo espírito com
ela é
;ilil;;;*i;iú da auroridadc da uadrçào pnmordial'. de. onde
que a rndividualídade do duas atividades conexas, apesfi do que distintas; isto para rcduzir a seu
ãdroau ie- s.., f.,ndum"nto exclusivo, sem justo valor as pretensões dos sociólogos que, movidos por um defeito
"
autor humano tenha a menor panicipação: tal distinção enÍ'e autoridade
é aquela da bastante comum que consiste em tudo reduzir ã sua especialidade,
rrrá"*"ri"r e autolidade deiivada na ordem tradicional
-tn A aproveitam todâs as similitudes de vocabrúár'io que podem encontrar,
a" smriti, c4te já indlcamos a respeito da "lei de Manu" paÍiculannente no dor nio da lógica, pzLra concluir que são empréstimos
"rt'i de inÍàlibilid;de como inerente somente à doutrina é'
..r""pir" aliás'
mesmo também' no das instituições sociais como se as idéias e os modos de raciocínio não
;;;;;i ;", Hindus e.os Mt'tçLtlmanosr ela érr.tente xo ponto de vista pudessem existir independentemente dessas ilstituições, que nào re-
;;;á;:d;;" q* o catolicisnti uplicr especial
compreendlda no seu presentam, no entanto, a bem dizer. mais clo que uma aplicação de certas
religioso.lír que a "infalibilidade pontiticul"' 'e-bem idéias necessariamente preexistentes. Alguns acreditaram sair desta
à éu
princípio, aparecc como essenctaltrente ligacla sua
-funçã9:.q" que alternativa e manter a primordialidade do ponto cie vista social,
irá,p'"ôãã da rlot-tttina, e não a uma individr"ralidade'
"rarizadrt inventando o que eles denominaram "mentalidade pr'ó-lógica"; mas esta
n*.u e lotafu.t fora do exercício desta funçtro cujas condições são
suposição bizarra, tanto quanto sua concepção geral rlus "plimttivos",
rigorosamente determinadas. não se baseia em nada de sério, e ela é mesÍno contrudita por tudo o que
que se sabemos de ceÍo da Antigüidade, e o melhor seria rclcgÍ-lu ao domínio
Em raáo da nâtureza da lv[ímânsâ' é a este Dar'slzrna
ciências auxiliares do Veda' qte da fantasia pura, com todos os "mitos" que seus inventorcs atribuem
ligarn mais àiretamente os Vedângas. gratuitamente aos povos cuja verdadeira mentalidade elcs ignorarn. Há
definições para d:Lr-
á!iiri*o, anteriormente; basta reportar-se a essas
mütas diferenças reais e profundas enúe os modos tle pcnsar próplios a
com o presente tema E
se conta do esffeito liame que e-las apresentam cada raça e a cada época, sem imaginar modalidades inexistentes, que
que têm' para a
;;r; ;r" a Mtmônsâ insistã sobre a importância. pronÚtncia coreta que a complicam as coisas mais do que explicam, e sem ir procural o suposto
comprànsão dos textos, a ortografia exata e a tipo primordial da humanidade em algum povoado degenerzrdo, que
e também distinguindo as diferentes classes de
manÍrds
,rorrírot não sabe mais lruito bem o que pensa, nlas que ceftamente nunca
""ti"u,
,"gunào ot.it*ot que lhes são piópri9s, o
q1e dizrespeito
"" fP*'
relatlvas ao \\'okaratta' pensou o que lhe é atribuído: todavia, os verdadeiros modos do
Po"r outro ]ado, encontram-se lá consideraçÕes
pensanrento hur.nano, cliferentes dos do Ocidente modemo, escapam
das palavras e
i* à, É."."i*ls, como a distinção da acepção regular cei'tas formas por completo tânto aos sociólogos como aos orientalistas.
i." *ui u."pço"s dialetais ou bátbt", notas sobre
que têm um
ooa,"rlu.., qtre suo empregad x no Veda e sobre os termos
Para voltar ;a
Mímânsli após esta digÍessão, assinalaremos
I;;;;;;;;r,. de seu ,ã,tid, ustral: errr muitas ocasiões' é preciso
ainda as intet?rctações etimológicas e simbólicas
que ainda uma noção que desempenha aqui um imponante papel: csta
"a..t""r,", noção, designada pela palavra apfina, é dentre as mais difíceis tle se
objeto do niruíta' Enfim' o coúecimento do ivvotisha é
;;;.iil; explicar nas línguas ocidentais: não obstante, vanros tentilI lrzcr'
" áo"nninal o tempo em que os ritos.devem ser cumpridos;
n"a".ralo prtu compreender em que cln colrsiste e o que ela compoflrL. No capítulo
qrr*á ,ã rrlpr, vimos que elá resume as prescrições que targem à sua
". án,lu ,"utiruçio Além di.sso, a Mímânsâ trata de um grande número de anterior, dissemos que ir ação, bcrn difercnte do conhccinlcnto liult() l|isto
,, como no resto, não âca clil suas conseqiiências enr si rrcsrrra; soh cste
isso' iá
l;;.;; d" G;p*déncir. e não há motivo para se espantar com tradicional: aspecto, a oposição é. no fundo. a da sucessão e da sinru llirnc irlatlc. e sio
.'1,," * lit i-çá" hindu toda a legislaçáo ê essencialmenle
pelo..qual são as próprias condições dc toda rçÍ1o que lizenr c()nl (lLrc clt niro possa
rxrlc se obsenaL, de resto. uma cérta analogia no modo produzir seus efeltos a nio ser de modo sucessivo. No crrlunto, para que
as di\cussões
1,,r,i,,,.,,t,,.. por um lrdo. os debirles iundicos' e' poÍ oulro'
uma coisa possa ser causa, é preciso qLre ela cxistiL illuillnlente, e eis por
.l:t filirtt,ittttii, c hÍr também identidade nos terlnos que seNem para
-82
que a verdadeira relação causal não pode ser concebida a nào ser 183
os tlês gunds , a rcação conespondente é necessária para restabe]eceÍ
como uma relação de simultaneidade: se ela firsse concebida como uma esse equilíbrio, a soma de todas as diferenciaçÕes devendo sempre
relação de sucessão. teria um instaÍlte ent clue algo que não existe mais eqiiivaler finalmente à indiferenciação total.
produziria algo que não existe ainda, snposição manifestamente
absurda. Logo, paÍái que uma ação. que cm si rnesma é tão somente Estas considerações, nas quais a ordem humana e a ordem
uma modificação Ít.romentâneâ. possit tcr r-esultados futuros e mais ou cósmica se cruzafit novamente. completam a idéia que se pode fazer
menos longínquos, é preciso quc cla tcnha. no instarte mesmo em que das relações enÍÍe karmd
se cumpre, urn etcit0 nilo l)ctccplívcl presentemente- mas que,
e tllnrnu; e é preiiso àcrescentar
imediatamente que a relação. senclo uma conseqüência bem natural
subsistinclo cle Lrrlt nrotlo pcnlancnle. pelit ntenos rclativamente, da
ação, não é de neúum modo uma "s.mção,, no sentido moml; lá não
produziú nt is lilr'(lc. polsul vcz. o resultado pcrceptível. há na_
da que seja do âmbito cio ponto de rista moral, e mesmo, na verdade,
esse
ponto de vista podeda muito bem ter nascido somente da incompreensào
É cstc eltito não-perceptível, potcncial de qualquer modo, que dessas coisas e de sua deformação sentimental. De qualquer
é chartratlo «7rírru, porclue ele é sobleposto e nã() anterior à ação; ele màn"ira, a
reação, na sua influência em retomo sobr.e o ser que pioduziu a açào
pode ser considerado. seja como um estado posterior da pr.ópria ação, seja
inicial, rctoma o caráter individual e mesrro t"mporál qu,e o apúrvtt
coÍr'ro Ltm estado antecedente do resultado. o efeito deYendo ser sernpre intermediário nâo tinha mais: se este ser não se encontra mais então no
colltido vitlllalmente na sua causa, da qual ele não poderia proceder cle estado em que estava primeiramente, e que só era um modo transitório
outro modo. Aliás, mesmo no caso em que ceÍto resultado parece seguir de sua rnanifestação, a mesma rcação, mas clespojada das condições
imecliatamente a ação no tempo, a existência intermediária de um caÍacterísticas da individualidade original, potlerzi aincla atingi_lo num
apftrva nao é menos necessá.ia, desde que há ainda sucessão e nào outro estado de manit'estação, pelos elementos q,,. ,sségu.u- u
perfeita simultaneidade. e que a ação em si mesma é sempre separada de continuidade desse novo estado com o estado antececlerrte : é aqi i ,lue se
seu resultado. Deste modo, a ação escapa à simultaneidade, e mesmo. afima o encadeamento causal dos diversos ciclos de exjstência. e o que é
numa certa medida, às limitações da condição temporali com efeito. o verdade para um ser determinado é também, segunclo a n:ais rigorosa
tupún a, getme de todas as suas conseqüências futuras, não estando no analogia, para o conjunto da manifestação unirel.siLl. Sc insistimos um
domínio da manifestação corpórea e sensível. está fora do tempo pouco demais nesta explicação não é simplesntente polque ela fonrece
comum, mas não tbra de toda duraçiu.r. porclue ele ainda pertence à um exemplo intelessante de um ceÍo gênero de teorias orientais. nem
ordem das contingências. Agora, o upíin'Lt p<tde, por um lado, mesmo porque tercmos ocasião de assinalar postedormente uma
permaneceÍ ligado ao ser que cumpriu a açio. corrro sendo doravante um interpretação falsa cle upíirt,u clue já foi dada no Ocidente; é também, e
elemento constitutivo de sut individualidacle encarada na sua paÍe sobretudo, polque o que se trata aqui tem um alcance efetivo dos mars
incorpórea, onde persistirá tanto quanto esta lrcsma durar, e, por outro consideúveis, mesmo na prática. ainda que, neste último ponto, seja
lado, ele pode sair dos limites dessa ildividualidade parâ entrar no conveniente não abandonar uma cefta reserva, e que sêja melhor
dornínio das energias potenciais da ordem cóst.nica; nesta segunda pafie, contentar-se em dar inclicações muito gerais, como fazemos aqui,
se o apíirva é representado por uma imagem sem dúviria imperfeita. deixando a cada unt o cuidado de desenvolver e tirar conclusões em
como uma vibração emitida em um cefio ponto, tal vibração. após se conformidade com sr"ras próprias faculdades e tendências pessoais.
propagar até os conlins do domínio que pode atingir, voltalá em sentido
irrverso a seu ponto de partida, e isto, como a causalidade exige, sob a
lirlnrii cle uma reação da mesma natureza que a ação rnicial. É isto
l)rccisilllcnte o que o Taoísmo, por sua vez, designa como ,,ações e
rl'r\'(ics c{)ncofdantes": qualquet ação, conlo mais geralmente toda
rrrrrrili'slrrçr'ur, scndo uma ruptura de equilíbrio, tal como dissemos sobre
1A 4 185
O caráter incomunicável do coúecimento totâl e definitivô
CAPÍIIJI-O XIV provém do que há de necessariamente inexprimível na ordem
metafísica, e também do fato que este conhecimento, para ser
verdadeiramente tudo o que ele deve ser, não se ümita à simples teoria,
mas comporta em si mesmo a realizaçáo correspondente; eis porque
O VEDÂNTA dizemos que ele nâo é suscetível de ser ensinado a não ser numa certa
medida, e vê-se que esta restrição se aplica sob a dupla relação da teoria
e da realização, com a ressalva que seja esta última o obstáculo mais
absolutâmente intransponível. Com efeito, um simbolismo qualquer pode
omo iá dissenos. coín o Vedânta estamos no domínio sempre sugerir pelo menos possibiüdades de concepção, mesmo que elas
da metufísica pura; é, pofituto supér11uo repetir que ele não possam ser expressas por inteirc. e isto sem Íàlar de cenos modos de
não é nen uma filosot'ia nem unla religião, se bem que transmissão que se efetuam fora e além de toda rcpresenÍação formal,
os orientalistas queiram forçosamente ve[ nele uma oll outra, ou meslno modos cuja idéia deve parecer demasiado inverossímil a um Ocidental
ambas, como Schopenhauer. O nome deste último Darshana stgttific4 para que seja útil ou simplesmente possível insistir nela. É verdade, por
h V«k" , e a gla\44 "fim" deve ser entendida aqui no
etinrologicanrente "frm outro lado, que a comprcensão, mesmo teórica, e a paÍir de seus graus
duplo sentido, que também existe em francês, de conclusão e de meta; mais elementares, supõe um esforço pessoal indispensável e é
com efeito, as Upanishads, sobre as quais ele se baseia essencialmente, condicionada pelas atitudes receptivas especiais daquele a quem um
formam a última parte dos textos védicos, e o que é lá ensinado, na ensinamento é comunicado; é bâstante evidente que um mestre, por
medida em que pode sêlo, é o objetivo último e supremo do mâis excelente que seja, não poderia compreender por seu aluno, e que
conhecimento tradicional por inteiro, livre de todas as aplicaçÕes mais é a este que cabe exclusivamente assimilar o que é colocado ao seu
ou menos particulares e contingentes que ele pode propiciar nas ordens alcance.
diversas. Adesignação mesma das Upanihads, indica que elas sio Se é assim, é porque todo conhecimento verdadeiro e
destinadas a desüxir a ignorância, raiz da ilusão que encerra o ser nos verdadeiramente assimilado é já por isso mesmo, não uma realização
entraves da existência condicionada, e que elas operam este efeito etêtiva sem dúvida, mas pelo menos uma realização virtual, se se pode
fomecendo os meios de aproximar o conhecimento de Brahma; se só se unir essas duas palavras que, aqui, só se contradizem na aparência;
trata de aproximar este conhecimento é porque, sendo rigorosamente diferentemente, não se poderia dizer como Aristóteles que um ser "é flrdo
incomunicável na sua essência, ele apenas pode ser atingido o que ele coúece". Quanto ao caráter puramente pessoal de toda
efetivâmente pol um trabalho eshitamente pessoal, ao qual nenhum realização, ele se explica de modo muito mais simples por esta nota,
ensinamento exte or, por nuis elevado e ploftmdo que seja, não tem o cuja forma talvez seja singular, mas que é totalmente axiomática, que o
poder de suplantar. A interpletâção que acabamos de dar é aquela sobre a que um seÍ ó, só pode ser ele mesmo, que o é excluindo qualquer outro;
qual todos os Hindus competentes concordâIl]; seria evidentemente se é necessiíÍio formular verdades tão imediatas é porque sâo elas
ridículo prefeú a conjectllra sem alltoridade de alguns autores europeusl precisamente que se esquece com freqüência, e que colt]poÍanl, aliÍs.
que queíem que a uoanishad seja o conhecimento obtido ao se colocar conseqüências bem outras do que aquelas que os espÍ'itos sqrcrl'iciais
aos pés de um preceptor; aliás, Max Müller (l) , aceitando ao mesmo podem supor. O que se pode ensinzr, e ahda de mo do incompleto. sti sào
tempo esta última significação, é forçado a Íeconhecer que ela não indica meios mais ou menos indiretos e mediatos da realização metalísica. como
nada de verdadeiramente característico, e que ela conviria a qualquer uma indicamos a respeito do Yoga, e o primeiro de todos csscs ntcios, o mais
(fis outras porções do Veda , pois que o conhecimento oral é seu modo e mesmo o único
indispensável, absolutamente indispcnsável, é o
comum de transmissão regular. conhecimento teórico em si. No entanto, convérn acrcsccnt que, na
metafísica total, a teoria e a realização nunca se separatn completamente;
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187
pode-se constatá-lo a cada instante nas Llpcuishads, onde é muitas o Princípio supremo, designado como 'Brahma, porJe somente ser dito
vezes bastante difícil distinguir o que se liga respectivamente tanto a "sem dualidade", porque. sendo além de qualquer determinação,
uma quanto a outra, e onde, para falar a verdade, as mesmas coisas se mesmo do Ser que é a primeira de todas, ele não pode ser caracterizado
ligam a ambas, segundo o modo com o qual são encaradas. Numa por qualquer atribuição positiva: assim exige sua inhnidade, que é
doutrina que é metafisicamente contpleta, o ponto de vista da necessa.damente a totalidade absolutÍ1, compreenclendo em si todas as
realização reage na exposição mesma da teoria. que a supõe pelo menos possibilidades. Logo não pode haver nada que seja realmente fora de
implicitamente e nunca pode ser independente dela, porque a teoria, não Brahma, porque esta suposiçâo equivaleria a limitá-lo; como
tendo em si mais do que urn valor de preparação, deve ser subordinada decorência imediata, o mundo, entendendo por esta palavra, no sentido
à realização como o meio é enr relação ao lim em vista do qual ele é mais amplo de que sejâ suscetível, o conjunto da marifestação universal,
instituído. não é distinto de Brahma , o.l, pelo menos, só se distingue dele em modo
Todas essits considerações são necessiírias para se compreender o ilusório. Por outro lado, no entanto, Brqhma ê absolutamente distinro do
ponto de vista do Vctlâtúu, oU. melhor ainda, seu espírito, já que o ponto mundo, pois que a ele não se pode aplicar nenhum dos atributos
de vista rnetafísico. não tendo nenhum ponto de vista especial, não pode detenninativos que convóm ao mundo, tocla a manifestação universal
ser chamado assim a não ser num sentido bem analógico; aliás, elas se sendo rigorosamente nula em vista de sua infinidade; e observar-se_á que
aplicalian.r de modo semelhante a qualquer outra forma da qual a tal irreciprocidade de relação acareta a condenação formal do
metafísica tradicional pode ser revestida, em outras civilizações, visro "panteísmo", bem como de todo "imanentismo,'. Aliás, o panteísmo,
que esta, por razões que já precisamos, é essencialmente una e não pode desde que se atribua a esta denominação um sentido suficientemente
deixar de sê-lo. Nunca ó demais insistir sobre o fato que, aqui, sâo as preciso e razoável, é inseparável do "naturalismo,,, o que nos leva de
Upanishads que, fazendo pafte integrante do Veda, representam a tradição novo a dizer que ele é nitidamente anti-metafísico; é poÍanto absurdo
primordial e fundamental; tal como se evidencia expressamente, o ver "panteísmo" no Vedânta, e no entanto esta idéia, por mais absurda
Vedânta foi coordenado de modo sintético, o que não quer dizer que seja, é aquela que os Ocidentais, mesmo especialistas, fazem com
sistematizado, nos Braltmasfr.tras, cuja composição é atribuída a mais freqüência: seguamente esse preconceito pode dar, aos Orientais
Bâdarâyana; aLiás, este é identificado à Vlti;sa, o que é paÍicularmente que sabem o que é realmente o "panteísmo,,, uma idéia elevada do valor
significativo para quem sabe qual é a função intelectual que este nome da ciência européia e da perspicácia de seus representantes I
é de uma extremâ concisão,
designa. Os Brahmasfitras, cujo texto E evidente que não podemos sequer dar. uma rápida aprcciação
propiciaram numerosos comentários, dentre os quais os de da doutrina no seu conjunto; algumas das questões que sãó trataàas nela,
Shankarâchârya e de Râmânuja são de longe os mais impol.tantes; estes como por exemplo a da constituição do ser humano encarado
dois comentários são rigorosamente ortodoxos tanto um quanto o outro, a metafisicamente, poderão se tomar objeto de estudos particulares_ Ater_
despeito de suas aparentes divergências. que, no fundo, só são nos-emos somente num ponto, referente à meta suprema, chamada
diferenças de adaptação: o de Shankarâchârya representa mais ntoksha ot mukti, isto é, a "libertação',, já que o ser que a atinge é
especialmente a tendência shaiyu, e o de Râmânuja a tendência liberado dos enhaves da existência condicionada, em qualquer estatio e sob
yaishnava as indicações gerais que demos a esse respeito nos qualquer modo que seja. pela identificação per{eita com o Univemal: é
dispensarão de desenvolver presentemente tal distinção, que só conduz essa realização qlle o esoterismo muçulmano chama de ,,ldentidade
a vias que tendem para Lrma meta idêntica. suprema", e é por aí somente, que um homem se torna l,r_r,gi no
O Vedânta, justamente por ser puramente metafísico. verdadeiro sentido desta palavra. O estado do Vogí nã<t é cntão ânálogo
apÍesenta-se essencialmente como adwaita-yâ.da ou "doutrina da nào- a um estado especial quzrlquer, mas ele contém todos os estados possíveis
tlualitlade"; explicamos o sentido desta expressão ao diferenciar o como o principio contém todas as suas conseqüêncilsl aqLrcle que lá
lx'nsiunento metafísico do pensamento filosófico. Para determinar o seu chegou é chamado aínda de jivan-muÀlr, isto é ,,libe o e;r vidai, por
irlcilncc lanto quanto possível, diremos agora que, enquanto o Ser é "uno,', oposição a videha-mukta ou "libeno Íbra da Íbrnta',. expressão que
1BB
designa o ser para o qual não ocorreu a realização, ou antes, de vifiual
que ela era, só se tomou efetiva após a morte ou após a dissolução do
composto humano. Aliás, tanto num caso como no outro, o ser é CAPÍTULO XV
definitivamente lívre das condições individuais, ou de tudo aqülo cujo
conjunto é chamado nâma e rüpa, o nome e a forma, e mesmo das
condições de toda manifestação; ele escapa do encadeamento causâl NOTAS COMPLEMENTARES SOBRE
indefinido das ações e reações, o que não ocorre na simples passagem a
um outro estado individual, mesmo ocupaldo um nível superior ao OCONJTINTODADOUTRINA
estado humano na hierarquia dos graus de existência.
maniÍ'esto, por outro lado, que a ação não pode ter
É
conseqüências a não ser no domínio da ação, e que sua eficácia pára
pÍecisamente onde sua inf'luência cessa; a ação não pode ter portanto
como efeito liberar-se da ação e fazer obter a "libertação"; 1ogo, uma \ Jesra exposiçào, que quisemos rão sinrética quanto
ação, qualquer que seja, só poderá quando muito conduzir a realizações
parciais, comespondendo a certos estados superiores, mas ainda
1\ lH'-'ff L,-i:liT:'-,J;:;':;iTff[
Darshana, como este se liga à metafísica, que é o centro",,comum a
T:::il
determinados e condicionados. Shankarâchãrya declam expressamente partiÍ do qual se desenvolvem, em diversas direções, todos os ramos da
que "não há outro meio de se obter a "libertação" completa e fhal a nào
doutrina; isto nos dava, aliás, a ocasião de precisar um certo nÍrmero de
ser pelo conhecimento; a ação, que não é oposta ã ignorância, não pode
pontos importantes relativamente à concepção de conjunto desta doutrina.
afastálo, enquanto que o conhecimento dissipa a ignorância, como a
A esse respeito, é preciso compreender bem que, se o Vedânta é
luz dissipa as trevas" 121; e a ignorância, sendo a raiz e a calrsa de toda
contado como o último dos Darshanas, porque ele representa o
limitação, quaurdo desaparece, a individualidade, que se caractedza por
término de todo conhecimento, ele é assim mesmo, na sua essência, o
suas limitações, desaparece por isso mesmo. Tal "transformação", no princípio do qual todo o rcsto deriva e só é a especificação ou aplicação.
sentido etimológico de "passagem além da forma", não muda, aliás, em
Se um conhecimento não dependesse assim da metafísica, ele ceLreceria
nada as aparências; no caso do i-Ú-qn7!uk!a' a aparência individual
literalmente de princípio, e por conseqüência não poderia ter nenhum
subsiste naturalmente sem nenhuma mudança exterior, mas ela não
caráter tradicional; é isto que estabelece a diferença capital entre o
afeta mais o ser que se reveste dela, na medida em que este sabe
coúecimento cientÍfico, no sentido em que esta palavra é tomada no
efetivamente que a aparência é só ilusórial no entanto, bem entendido,
Ocidente, e o que lhe corresponde, na Índia, de modo menos inexato. É
saber isto efetivamente é algo bem diferente do que ter uma concepção
manifesto que o ponto de vista da cosmologia não é equivalente ao da
puramente teórica. Na seqüência da passagem que acabamos de citar,
física modema, e mesmo que o ponto de vista da lógica tradicional
Shankarâchârya descreve o estado do lagi na medida bem restrita em
também não é em rclação ao da lógica filosófica encarada, por exemplo, à
que as palawas podem exprimiJo ou antes indicá-lo; estas considerações
maneira de Stuat Mill; já temos marcado estas distinções. A
formam a verdadeira conclusão do estudo da natureza do ser humano a
cosmologia, mesmo nos limites do Vaisheshika, não é uma ciôncia
qual aludimos, mostrando, como a meta suprcma e ílltima do conheci
experimental como a física atual; em razào de sua ligação com os
mento metafísico, as possibilidades mais elevadas que este ser é capaz priacípios, ela é, como os ollÍ os ramos doutrinais, bem ntais dcdutiva do
..Je rtingir. que indutiva: a física cartesiana, é verdade, também era dedutiva, mas
tinha a grande falha de nâo se apoiar de fato em princípios, tltáls numa
simples hipótese filosófica. e é isto o que provocou seu insucesso.
(l) lntroduction to the {Jpanishads, pp. DO{X.L)OOC.
Q\ tunA-Bodha.
.J (
190
19),
A diferença de método que acabamos de assinalar, e que metafísica, com a qual seu ponto de vista próprio nâo permite, com
traduz uma diferença profunda de concepção, existe mesmo para ciências efeito, qualquer relação, a ciência ocidental perãeu em alcance
que são verdadeiÍamente expôrimentais, mas que, sendo, apesar disso, necessariamente o que ela ganhava em independência, e seu
muito mais dedutivas do que no Ocidente, escapam a qualquer desenvolvimento voltado para as aplicações práticàs foi compensado
empirismo; é apenas nessas condições que tais ciências merecem ser por uma diminuição especulativa inevitável.
encaradas como conhecimentos tradicionais, mesmo de uma
importância secundiíria e de uma ordem inferior. Aqui, pensamos Esta.s poucas observações completam tudo o que já dissemos
sobre
sobretudô na medicina considerada como tm Unateda: e o que falamos o que sepâra profundamente os pontos de vista rcspectivos do Oriente
e
a esse respeito vale igualmente para aa medicina tradicional do do.Ocidente; no Oriente, a tradição é verdadeiramente toda a civilização,
Extremo-Odente. Em nada perdendo de seu caráter prático, essa pois que ela abarca, por suas conseqüências, todo o ciclo dos
medicina é algo bem mais extenso do que é aquilo a que se está conhecimentos verdadeiros, a qualquer ordem que se liguem, e todo
o
acostumado a designar sob este nome; além da patologia e da conjunto das instinüções sociais; turjo é incluso em germe ná tradição
desde
terapêúica, ela compreende, em especial, muitas considerações que no
Ocidente seriam abarcadas pela fisiologia ou mesmo pela psicologia,
I origem, pelo fato mesmo que ela rieline os principios universaii de onde
derivam todas as coisas com suas leis e suai condições, e a adaptação
mas que, naturalmente, são tratadas de um modo todo diferente. Os necessária numa época qualquer só pode consistir nunt desenvolvimento
resultados que tal ciência obtém na aplicação podem, em numerosos adequado, segundo um espírito rigorosamente dedutivo e anllógico,
das
casos, parecerem extraordinários àqueles que só fazem uma idéia soluções e esclarecimentos que convém em especial à mentalidàde desta
bastante inexata dela; acreditamos, aliás, que é extremamente difícil época-. Concebe-se que, nessas condições, a influôncia da tl.adição
tenha
para um Ocidental chegar a um conhecimento suficiente nesse gênero uma força da qual ninguém poderia se livrar, e que qualquer cisn,, que
de estudos, onde são empregados meios completamente diferentes de aconteça nela redunde imediatamente na constituição de uma pseudo_
investigação daqueles a que se está acostumado. tradição; quanto a romper aberta e definitiva."nt" tod; liame
tradicional, nenhum indivíduo nem o deseja e nem isso"or]
lhe é possível.
Acabamos de dizer que os conhecimentos práücos, enquanto Isto permite ainda compreender a natureza e as características do
se ligam ã tradição e têm nela sua fonte, só são, no entanto, ensinamento pelo qual se transmite, com os princípios, o conjunto
das
coúecimentos inferiores; sua derivação determina sua subordinaçâo, o disciplinas próprias a assimilar ea integrar iodas as coisas à
que só é estritamente lógico, e os Olientais, que, por temperamento e por in telectualidade de uma civilizaçâo.
profunda convicção, se interessam muito pouco pelas aplicações
imediatas, nunca sonharam em transportaÍ à ordem do conhecimento
puro qualquer preocupação de interesse material ou sentimental:, o único
elemento suscetível de alterar essa hierarquização natural e normal dos
conhecimentos. Esta mesma causa de perturbação intelectual é também
aquela que, generalizando-se na mentalidâde de uma raça ou de uma
época, provoca principalmente o esquecimento da metafísica pura, a
qual ela substitui ilegitimamente por pontos de vista mais ôu menos
especiais, ao mesmo tempo que gera ciências que não têm cômo
rcivindicar qualquer princípio tradicional. Essas ciências são legítimas
cn(luanto se mantêm em justos limites, mas não se deve tomáJas por
()ullir coisa do que elas são, isto é, por conhecimentos analíticos,
lirrgnrcrrliirios e relativos; e assim, separando-se Íadicalmente da
L92 193
um matiz diferente, e faz assimilar o papel do instrutor ao de um
"irmão mais velho", guia e sustentáculo natural daqueles que o segue nâ
CAPÍTULO XVI via tradicional, e que não se tomâÍá um "ancestral" a não ser após a morte;
mas a expressão "nascer ao conhecimento" não deixa de ser, tanto, 1á como
em qualquer outro lugar, de um uso corrente.
O ensinamento tradicional se transmite em condições que sào
O ENSINAMENTO estritamente determinadas por sua natureza; para produzir seu pleno
TRADICIONAL efeito, ele deve sempre se adaptar às possibilidades intelectuais de cada
um daqueles a quem se dirige, e se graduar em proporção aos resultados
já obtidos, o que exige, por parte daquele que o recebe e quer ir mais
adiante, um constante esforço de assimilação pessoal e efetivo. Estas
são conseqüências imediatas do modo pelo quai todâ a doutrina é
considerada e é o que indica a necessidade do ensinamento oral e direto,
issemos que a castâ superior, a dos Brâhmanas, que nada poderia substihrir, e sem o qual, aliás, a vinculação a uma
tem como função essencial conservar e transmitir a "filiação espiritual" regular e conínua faria falta inevitavelmente,
doutrina tradicional: esta é a sua verdadeira razão de exceto em certos casos muito excepcionais onde a continuidade pode
já que é sobÍe esta doutrina que toda a ordem social repousa, que nào
ser, ser assegurada de outro modo, muito dificilmente explicável em
poderia encontrar em outro lugar os princípios sem os quais não há nada linguagem ocidental para que nós nos detenhamos nisso aqui. De
de estável nem de durável. Lá onde a tradição é tr.rdo, aqueles que são os qualquer rnodo, o Oriental está a salvo dessa ilusâo, demasiadamente
seus depositários devem logicamente ser tudo; ou pelo menos, como a comum no Ocidente, que consiste em acreditar que tudo pode se
diversidade das funções necessiárias ao organismo social acarreta uma aprender nos liwos, e que redunda em colocar a memória no lugar da
incompatibilidade entre elas e exige sua realização por hdivíduos inteligência; para ele, os textos nunca tiveram mais que o valor de um
diferentes, esses indivíduos dependem todos essencialmente dos "suporle", no sentido em que já empregamos esta palavra, e seu estudo
detentores da tradição, pois que, se não paÍticipassem de modo efetivo só pode ser a base de um desenvolvirnento intelectual, sem.jamais se
desta, não poderiam iguâlmente participar de modo eficaz da vida confundir com o próprio desenvolvimento: isto reduz a emdição ao seu
coletiva: é este o sentido verdadeiro e completo da autoridade justo valor, colocando-a no nível ilferior. que só the convém
espiritual e intelectual que peÍence aos Brâhmanes. Ao mesmo tempo, é normalmente, o de meio subordinado e acessório do conhecimento
esta também a explicação da ligação profunda e indefectível que une o verdadeiro.
discípulo ao mestre, não somente na Índia, mas em todo o Oriente, cujo Há ainda um outro aspecto sob o qual a via oriental é em
análogo no Ocidente modemo se procuraria em vão; a função do antítese âbsoluta aos métodos ocidentais: os modos do ensinamento
instrutor é verdadeiramente, com efeito, uma "patemidade espiritual", e é tradicional, que o fazem não precisamente "esotérico", mas antes
por isso que o ato ritual e simbólico pelo quai ela começa é um "segundo "iniciático", opõem-se evidentemente a qualquer difusão inconsiderada,
nâscimento" para aquele que é admitido a receber o ensinamento por difusão mais nociva que útil aos olhos daquele que não é logrado por
uma transmissão regular. É esta idéia de "pâtemidade espiritual" que a certas apar'ências. Inicialmente, é permitido duvidar do valor e do
palavra guru exprime de modo bem exato, designando o instrutor entre alcance de um ensinamento distribuído de modo indistinto, e. sob uma
os Hindus, e que tem também o sentido de "ancestral"; é a esta mesma forma idênticq aos indivíduos mais inegavelmente dotados, nlaís
itléirr t1ue, entre os Árabes, a palavra sheikh altde, que, com o sentido diferentes em atitudes e temperamenlo, tal como se pratica atualmente
entre todos os povos europeus: esse sistema de instrução, seguramente o
PrírP[io de "velho", tem um uso idêntico. Na Chha, a concepçâo
ttorrirtlrntc th "solidariedade da raça" dá ao pensamento correspondente mais imperfeito de todos, é exigido pela mania igualitária que destruiu
195
194
o sentimento mais ou menos vago
não só a noção verdadeira, mas até d*"
todo
da hierarquia; e, no entanto, para pessoas às quais " :1',tt:
da ciência experimental modema'
;;;;;J "f;";", segundo ó
"tpítito
-estivessem cegadas por seus QUARTA PARTE
;;;;, ;. elas não tão completamenrc
que o das
;;il";. t;.timentais, um fato máis aparente do física?
tanto na ordem intelectuai como na ordem
i-,,olrlnrlec nâtrrrâis.
E d;;:;il; ãri,u em retaçào a qual o oriental.'q::.nun '"'
'u'ao qualquer interesse em
ã *.il"t de propaganda não encontrando
concepções' ê rcsolutamente
ã*"*. "trni," u qouiqrr"t pÍeço suasé que esta delolml e de-snatura
"-oLai. AS INTERPRETAÇOES OCIDENTAIS
ffiio;"f,,;ú,;.''i*tgu'i"çaà"'
doutnna, preiendendo cálocá-la no nível
da mentalidade
inevitavelmente a
iloi,, ;;il;o deatomá-la acessível; não se trata da doutrina se

do entendimento limitado do vulsari


ffi;#;;";;;ingt semeoiaa elevarcm' se possível' ã cSlPreensão
da
i;ffi; il indivídirosintegral Estas são as únicas condições possíveis
ffi;à;;suafuza uma seleçáo apropriada'
#, ;;#üi ;. u.,,u tilt" intelectual' por gtu' q'" coresponde à
cada um limitando-se necessariamente uo CAPÍIIn-O I
;**^ á"'.* p.optio "horizonte mental"; e é este também o
uma
;.;;;i";t;"t à, á"'otd"n' que suscita' Quando se,Seneraliza'
diferente que a ignorãncra pura e
;;:;iá;";" nefasta de modo bemsempre persuadidos dos O ORIENTALISMO OFICIAL
rirnrt"t,'l"*", * orientais serão T".'t" -1i: do-que de suas
obrigató^ria"
il:il;"#;; ueà reais da "instruçào
"srústa, ver' eles têm perfeila razáo '
benterto,ias, e, ao nosso
sobre a naürreza do
a se diier
Haveria muitas ouEas coisas
pos'Ível considerar sob aspectos mais
ensinamento radicional' que é
pa"ir"a". ainda; mas, não temos a pretensào de esgotar as
"orno T\ iremos aqú pouca coisa sobre o orientalismo oficial, polque
ãr.**,limitar-nos-emosa^Tt:',"""rt::';[.*"'f il,tt:"r1t:rffi :
vlsta en
imediato ao Ponto de para todo I Ii, a.siráluào. diversas vezes a insuficiência de ser-rs
;ffi;;"çd ."p"i*ro-lo, não vaiem sotnente para a lnclia'
mas I-l métodos e a falsidade de suas conclusões: se o
natumlmente teriam se encaixado consideramos quase que exclusivamente, enquanto que quase Íral(l nos
o Oriente; parece portanto que elas até
;Jr;;; I"g*a" p^n" deite estudo' tnas preferimos reservá-las
de,pois do que
preocupávamos com as ouüas interpretações ocidentais, é polque o
;q*;";á" q* poderiam ser melhor compreendidas orientalismo oficial aparenta pelo menos uma seriedacle (lLrc cstas rào
hindus, que consütuem um dispõem, o que nos obriga a fazer uma diferença que lhe dÍ vantagem.
iiirr",i,o. a dizerim parlicular das doutrinas geral'
das doutrinas tradicionais em Longe de nós contestff a boa fé dos orientalistas, que cnr gcrtl csth tbra
";;;;-'
- '- ;il;"pre'sentati'o brevemente quanto
Aor", deioncluir' só nos resta precisar' tão de dúvida, bem como a realidade de sua emdição cspccial; o que
das interpretações ocidentais dessas contestamos é sua competência em relação a tudo o clr.rc Lrltrapassa o
oossível, o que se deve pensar
para algumas dentre elas' já o
11]"rm^.'aãlr#""- hindusl e, ute'n ait'o' domínio da simples erudição. Aliás, é preciso honrenagear a modéstia
com a ocasrão que se
ii;::',"";;;;re suficientemente' d9 3cordo
exposrçao'
bastante louvável com a qual alguns deles, tendo consciência dos
irprcsctltitva no decorrer de nossa
196 1 9'7
limites de sua verdadeim competência, recusam se dedicar a um necessário esforçar-se em destnú-las sem se prcocupar com aqueles
trabalho de lnterpretação das doutrinas; mas, infelizmente, estes são uma que as emitiram ou que as defenderam, e cuja honorabilidade não está de
minoria, e o grande número é constituído por aqueles que, tomando a neúum modo em causa.
erudição como um fim em si mesmo, tal como dizíamos no inicio,
acreditam sinceramente que seus estudos lingtiísticos e históricos thes As considerações de pessoas, que constituem muito pouco em
dão o direito de falar de tudo quanto é coisa. relação às idéias, não poderiam de modo legítimo impedir de combater
as teorias que obstam certas realizações; aliás, como essas realizaçôes,
Em relação a estes últimos, pensamos que se deveria ser sobre as quais voltaremos na nossa conclusão, não são possíveis de
bastante severo, quanto aos métodos que usam e aos resultados que modo imediato, e como qualquer preoc[pação com propaganda nos é
obtêm, e respeitando ao mesmo tempo, bem entendido, as interdita, o meio mais eltcaz para combater as teorias em questão não é
individualidades que podem o merecer sob certos aspectos, sendo bem drscutir indefinidamente sobre o câmpo em que elas se colocam, mas
pouco responsáveis por seu partidarismo e suas ilusões. O exclusivismo é fazer aparccer as razões de sua falsidade, ao mesmo tempo que
uma conseqüência natwal do estreitâmento de visão, aquilo que a verdade pura e simples, que só importa essenciàlmente
restabelecer
chamamos de "miopia intelectual", e esse defeito mental não parece àqueles que podem compreendé-la.
mais curável que a miopia física; aliás, como esta, tratâ-se de uma
deformação produzida pelo efeito de certos hábitos que conduzem a ela Tal é a grande diferença, sobre a qual não há acordo possível
insensivelmente e sem que se perceba, ainda que se es§a sem dúvida com os especialistas da erudição: quando lalamos de verdade,
predisposto a isso. Em tais condições, não há por que se espantar com a entendemos por isso simplesmente uma verdacle cle fato, que tem sem
hostilidade de que a generalidade dos orientalistas dão mostra em dúvida sua importânci4 mas secun<iiária e contingente; o que nos interessa
Íelação àqueles que não se submetem a seus métodos e não adotam suas numa doutrina ó a verdade, no sentido absoluto da palavra. clo que nela
conclusões; trata-se apenas de um caso paÍicular das conseqüências que está expresso. Aqueles que se colocarq ao conmirio, sob o ponto cle vista da
o abuso da especialização normalmente provoca, e uma das húmeras erudição não se preocupam de modo algum com a verdacle das idéias:
manifestações desse espírito "cientista" que se toma com muita no fundo, eles não sabem o que é, nem fllesmo se existe, e netn se
facilidade como o verdadeiro espírito científico. perguntam sobre isso; a verdade não é nada para eles^ corn exceção dcr
caso muito especial em que se tmta exclusivamente da verdade
Só que, apesar de todas as desculpas que se possa encontrar histórica. A mesma tendência se afirma de modo semelhante com os
para a atitude dos orientalístas, constatamos que os poucos resultados historiadores da filosofia: o que lhes interessa não é saber se lal idéia é
válidos que seus trabalhos puderam fomecer, sob esse ponto de vista verdadeira ou falsa, ou em qual medida ela o é; mas saber unicarnente
específico da erudição que lhes é próprio, estão bem longe de quem emitiu tal idéia, em quais termos a formulou, em que datl e em
compensar o dano que podem causztr à íntelectualidade geral, quais circunstâncias acessórias o fez; e essa história da filosoÍia, que
obstruindo-lhe todas as outras vias. que poderiam levar aqueles que não encara nada fora dos textos e dos detalhes biográficos, ptetcntle
seriam capazes de seguilas muito mais além: em função dos substituir a própria filosofia, que acaba perdendo assim à pouco úc vtlor
preconceitos do Ocidente modemo, basta declarar solenemente, paÍa afas- intelectual que ainda podia lhe restar nos tempos moder-nos. Aliris, rrsnl
tar dessas vias quase todos os que seriam tentados a percorrê-las, que se precisa dizer que tal atitude é a mais desfavorável possívcl para se
isto "não é científico", porque não está conforme aos métodos e às compreender uma doutrila qualquer: aplicando-se unicalncntc â leil.a. ela
teorias aceitas e ensiladas oficialmente nas Universidades. Quando se hata nào pode penetrar o espírito. e assim a meta nresrt|ir li r;trirl clir rc pr()pôe
de se defender contra um perigo qualquer, perde-se em geral seu tempo lhe escapa fatalmente; a incompreensão só pocle genrr interptetações
procurzrndo responsabilidades; se. poÍanto algumas opiniões sào fantasistas e arbitrárias, isto é, verdadeiros eÍl.os. ll.lesnlo quando sd se
perigosas intelectualmente, e pensamos que é o caso aqui, será trata de exatidão histórica.
r
198 199

É o que acontece, numa medida muito mais ampla que em CAPITULO II


qualquer outro lugar, com o orientalismo, que se depara com concepções
tàtahente estranhas ã mentalidade daqueles que tratam delas; é a
falência do chamado "método histórico", mesmo sob a relação da simples ACIÊNCIA DAS RELIGIÕES
verdade histórica, da qual a pesquisa é sua razão de ser, como a
denominação que the foi dada indica' Aquetes que usam tal método
alimentam o duplo erro, por um lado, de não se dar conta das hipóteses
mais ou menoi temeÍáÍías que ele implica, e que podem se resumir
priÍrcipalmente na hipótese "evolucionista", e, por outro lado, de se iludir .( opo.trno dizer aqui algumas palavras referentes ao que se
iobre ieu alcance, acreditando tal método aplicável a tudo; dissemos por 1-l chama "ciência das religiões", já que o que estamos trâtando
que ela não é de nenhum modo aplicável ao domínio metafísico, de I-ldeve sua origem e\atâmente aos estudos indianisus; isto
ánde qualquer idéia de evolução é excluída. Aos olhos dos partidários permite ver de modo imediato que, nesses estudos, a palavra "religião" não é
desse métàdo, a primeía condição para poder estudar as doutrinas tomada no sentido exato que lhe reconhecemos. Com efeito, Burnouf,
metaÍisicas é evidentemente não ser metafísico; da mesma forma, aqueles que parece ser o primeiro a ter dado sua denominação a essa ciência, ou
que o aplicam ã "ciência das rc1igiões" pretendem mais ou menos o que se supõe tal, não faz a moral ligurar entre os clementos
ábertr*ert" que é desqualificado para tal estudo aquele que peÍença a constitutivos da religião, que assim ele reduz a clois: a doutrina e o rito;
uma religião qualquer: 1ogo, melhor seria proclamar a competência isto permitiu-lhe encaixar na religião coisas que não se ligam de
exclusiva, em não importa qual ramo, daqueles que têm dele apenas nenhum modo ao ponto de vista religioso, .já que pelo menos ele
um conhecimento exterior e superficial, aquele mesmo que a emdição reconhecia com razão qte no Veda não há moral. Tal é a confusâo
basta para dar, e é sem dúvida por isto que, no que diz respeito às fundamental que se encontra já no ponto de putida da "ciência das
doutrinas orientais, a opinião dos Odentais é considerada nula e reügiões", que pretende reunir sob este mesmo trome lodas as doutrinas
inconveniente. tradicionais, de qualquer natureza que sejam na realitlade; mas muins
outras conftlsões üemm ainda se juntaÍ â estas, sobrcllldo a partir do
Há ali, antes de tudo, um temor instintivo de tudo o que momento em que a mais lecente erudição introduziu nesse dorúnio seu
ultrapassa a erudição, arriscando evidenciar o qllanto ela é medíocre e no temível apaÍelho de exegese. de "cítica de textos" e de "hipercrÍtica",
fundà pueril; mas este temor reforça-se de seu acordo com o interesse, mais apropriado a impressionar os ingênuos do que a conduzir para
muito mais consciente, que se liga à manutenção desse monopólio de conclusões sérias.
fato que se estabeleceu em proveito dos representantes da ciência oficial
em tódas as ordens, e os orientalistas talvez ainda mais completamente A pretensa "ciência das religiões" baseia-se inteiraÍnente em alguns
que os outros. A vontade bem frmada de não tolerar o que poderia ser postulados que são como tantas idéias preconcebidas: assim, é admitido
perigoso para as opiniões admitidas, e pÍocuar desacreditar por todos os que qualquer doutrina deve ter começado pelo "naturalismo". no qual só
meiãs, encontra de resto sua justificativa nos próprios preconceitos que vemos, ao con trário, um desvio que, em todos os lugares em qrte ocorrell
cegam essas pessoas com suas esffeitas visões, e que as leva a negar esteve em oposição com âs tradições primordiais e regulares; e,
qu"rlq.,"t valôr ao que não sai de sua escola; aqui ainda, nào tofturando textos que não se compreende, acaba-se scntprr: cxtraindo
iircliminamos a sua boa fé, mas constaÍrmos simplesmente o efeito de deles algurlra interpretação corúbrme a esse espírito "naturalistlr". É ussim
r.rnra tendência bem humana, pela qual se está mais persuadido de algo
que se elaborou toda a teofia dos "mitos", especialmentc â (k) "lnito solar",
rllr rnctlitla em que se tem um interesse qualquer ali envolvido' o mais lamoso de todos, do qual um dos principais propagadores foi
Max Müller, quejá úvemos oporlunidade de citar víuits vezes porque ele é
200 241
müto reprcsentativo da mentalidade dos orientalistas. Essa teoria do há alguns que, pelo menos apaÍentemente, não vão tão longe: são os que
"mito solar" não é outra coisa do que a teoria astromitológica enunciada pertencem ã tendência do "Protestantismo liberal"; mas, conservando ao
e sustentada na França, por volta do fim do século XVIII, por Dupuis e mesmo tempo nominalmente o ponto de vista religioso, estes querem
Volney (l). reduzi-lo a urn simples "moralismo", o que equivale de fato a destruí-lo
pela dupla supressão do dogma e do culto, em nome de um
Sabe-se qual foi a aplicação dessa concepção ao Cristianismo bem "racionalismo" que não passa de um sentimentalismo disfarçado.
como a todas as outras doúrinas, e já assinalamos a confusão que ela
impüca de modo essencial: desde que se nota no simbolismo uma Assirq o resultado final é o mesmo que para os descrentes
correspondência com certos fenôtnenos astronômicos, apressa-se em puros e simples, amadores da "moral independente", ainda que a
concluir que aí só há uma representação desses fenômenos, enquanto intenção talvez seja mais bem dissimulada; em suma, isto é apenas a
que eles mesmos, na realidade, são símbolos de algo que é de uma finalização lógica das tendências que o espírito protestante traz em si
ordem totâlmente diferente, e que a correspondência constatada não desde o início. Recentemente viu-se uma tentativa, felizmente frustrada,
passa da aplicação da analogia que religa harmonicamente todos os para que esse mesmo espírito peneb:asse. sob o nome de "modemismo", no
graus do ser. Nessas condições, não é muito difícil encontrar próprio Catolicismo. Esse movimento propunha substituir a religiâo por
"naturalismo" em tudo quanto é lugar, e seria mesmo espantoso que não uma vaga "religiosidade", isto é, por uma aspiração sentimental que a
se encontrasse, na medida em que o símbolo, que pertence forçosamente "via moral" basta para satisfazer, e que, para alcançá-la, tlevia se esforçar
à ordem natuÍal, é tomado pelo que representa; no fundo, o erro é o em destruir os dogmas aplicando-lhes a "crítica" e constituindo uma
mesmo que o dos "nominalistas" que confundem a idéia com a palalra teoria de sua "evolução", ou seja. servindo-se senrpre dessa mesma
que serve para exprimi-la; é assim que os própnos eruditos modemos, arma de guerra que é a "ciência das religiões", que talvcz nunca teve outra
encorajados alirás pelo prcconceito que os leva a supor que todas as razão de ser.
civilizações são como que calcadas sobre o tipo greco-romano, vão
forjando-os "mitos" por incompreensão dos símbolos, que é o único Já dissemos que o espírito "evolucionisttr" é inercnte ao "método
modo pelo qual eles podem strrgir. histórico"; pode-se observar uma aplicação sua, entte tnttitâs olltras, na
singular teoria segundo a qual as concepções religiosas, ou que se supÕe
Deve-se compreender por que qualificamos um estudo desse religiosas, terieun passado necessariamente por uma série de Íàses
gênero de "pretensa ciência", e por que nos é completamente sucessivas, dentre as quais as principais têm comumente os nomes de
impossível tomáJo a sério; é preciso ainda acrescentar que, fingindo ao fetichismo, politeísmo e monoteísmo. Esta hipótese é comparável aquela
mesmo tempo se dar um ar de imparcialidade desinteressada, e enunciada no domínio da lingüística, segundo a qual as línguas, durante seu
exibindo mesmo a ínsípida pretensão de "dominar todas as doutrims" (2) , desenvolvimento, passariam sucessivamente pot formas monossilábicas,
o que ultrapassa a justa medida nesse sentido, essa "ciência das aglutinante e t'lexionai: esta é uma suposição totalmente gratuita, que
religiões" é simplesmente, na maior paÍe do tempo, um lulgar não é confrmada pol qualquer fato, e em reiação ã qual os fàtos são
instrumento de polêmica nas mãos de pessoas cuja verdadeim intenção mesmo nitidamente contrá'ios, visto que nunca se encontrou o menor
é dela se servir contra a religião, entendida desta vez no seu sentido indício da passagem real de uma para outra dessas Íbrmas; o que se
próprio e habitual. Esse emprego da erudição num espírito negâdor e tomou por três fases sucessivas, em vitude de uma idéia preconcebida,
dissolvente é natural aos fanáticos do "método histórico"; é o próprio são simplesmente três tipos diferentes aos quais se ligâm respcctivâmente
cspírito desse método, essencialmente antitradicional, pelo menos logo que os vários gnrpos lingüísticos, cada um permanecendo sentprc no tiPo ao
saia de seu domínio legítimo; e é por isso que todos os que atribuem qual pertence.
tltrirltluer valor rezrl ao ponto de vista religioso aqui são recusados como Pode-se dizer o mesmo de uma outra hipótese de ordem mais
inci )rnl)clcntes. No entanto, entre os especialistas da "ciência das religiões", geral, aque.la que Auguste Comte tbrmulou sob o nonte de "lei dos três

l
r
2t2 203
estados" e nâ qual ele transfoma em estados sucessivos diÍêrentes de "contra-religião", se pudermos usar tal expressào; enfim. ela não
domínios do pensamento, que podem sempre existir simultaneamente. é igualmente aquilo de onde tanto a rcligião como a ciência teriam surgido,
mas entre os quais ele quer que haja uma incornpatibilidade, porque segundo uma terceira opinião que não é melhor lundamentada do que as
supôs clue todo conhecimento possível tivesse exclusivatrtente por objeto duas anterioles; todas essas confusões mostram que os que falam
a expücação dos lànômenos naturais. o que na realidade só se aplica ao dessas coisas não sabem muito bem do que se trata. Na rialidade, a
conhecimento científico. E nítido como essa concepção fantasista de magia perlence ao domínio cla ciência, e, mais precisamente, da ciência
Comte, que. senr ser propriamente "evolucionista". tinha algo do mesmo experimental; ela se retêrc à nranipulação de certas forças que são cha-
espírito. é apârcnlada ã hipótese do "naturalismo" primitivo, pois que as madas, no Extremo-Orieltte. de "influências errantes"' e cujos efeitos,
religiões. segundo essc ponto de vista, srl podem constituir ensaios por mais estrânhos que posslm parecer. não deixam de ser fenômenos
pt"ematuros e Plovisrit'ios e ao mesmo tempo un.lâ preprrlção natllrais com suas lcis como totlos os ouIos. Tal ciôncia é segummente
indispenshvel tlo r;uc ntlis tar{le setá a explicaçiro cientÍfica; e, no pr'óprio suscetível de uma bme triLtlicional, tnas, assinl n.lesmo. ela sempre tem um
desenvolvirnento da irse religiosa. Cornte pensoll estabelecer de modo valor de uma aplic4ão contingente e secunclífia: no entanto, é preciso
preciso. conro tantas subdivisões, ori trts grtus. fetichismo, politeísrno e aüescenti , pam se fixar na sua imponância. que em geral ela é
molrotcísmo. Não insistiremos mais na cxplicaçito dessa conccpçào. desclenhada dos verdadeiros detentores da tritdiçiio que. salvo em ceÍos
aliírs em geral bastante conhecida, mas pensamos que seria bom marcar casos específicos e cleterminâdos, a abanclonant aos tllltlltlllitistas erantes
a corelação, Íieqiientemente clesapercebida. .le pontos de vjsta que tiram proveito dela distraindo o povo.
diversos. que procedem das nresnrits tctttltlltciits ger-ais do espírito Esses mágicos. encontrados colr IictliienciiL na India. onde
ocidental moderno. recebem comumente a denominação á'abe dc /«r1irr. isto é. "pdlres" on
"mendigos". são homens cuja incapacidade inlclcclttal os impediu de
Para terminiu'de môstrar o quc sc tlcve pensar clessas três prosseguir na via de uma realização metafísiclt. tal cottltl observatrlos;
pretensas fases das concepções rcligiosas. lctttbrrtcnros primeilo o que já eles chamatn a atenção clos estrangeiros enl csPr"rcilLl' c llilo lllerecem
dissemos anteriormente, ou seja. c;uc IlLttrcu ltoLttc qualquer doutdna mais consideração do que o que sells cornpirlriolils lhcs tlão. Não
essencialmente politeísta, e que o ;xrlitcísttxr ó, cnt sutna, como os "mitos" pretendemos de modo algutll contestar â realidatlc tltts li'ttôtttenos :rrsirtt
que se ligarr a eles de modo muikr estleito. nrrh nrais que uma grosseira procluzitlos, se bem que às vezes eles sejanr sotllcltlc itrlitados ott
deÍbrmação resultante de uma pIoÍutttla inconrpreensãct; de resto, simulitdos, enr condiçircs (lLre süpÕem aliás trrna Potôrrcia dc sugestào
politeísmo e antrcpomoríismo só siro vcrclatleirrntente geÍlemlizados entre pouco comurn. peÍto da qLrill os resultados obtidos pehs Ocidentais que
os Gregos e os Rorttlnos. e, cm clualcluet outto lugar. pellnanecemm no tentam se dcdical ao rncsmo tipo dc expedmentação parecen]
domínio tlos cnrrs inclividuais. Qualqucr doutrina vedadeiramente completamente negligcnciltveis e insienificantes; o que contestamos é o
tradicional é na rcâlidaclc nronoteístâ. Ou. r.nais exatamente. é uma intercsse desses ltnônrcnos. tltts cluais a doúrina pllra e a reeüizaçào
"doutrina da unidacle" olr nresrro da "não-tlualir-lade". que sc torna metafísica que estil colllpoíll são absolutamente indepentlentes Agola é
monoteísta quando se quer naduzi-la ert modo religioso: quanto às o momento de se letttbral qr.re tudo o que provénl c1o domínio
rcligiÕes propriamente ditas, Juclaísmo, Cristianisno e lslamismo, é por expeÍimental nllltcâ p[()vil ttacll. a menos que sejir negativarllente' e no
demais evidente que elas são puramente monoteístas. Agora. no que se máximo pode servir para ilustlar urna teoÍizr; ul.l.l cxenllllo não é um
refere ao fetichismo, este termo, de or-igem porluguesa, significa iirgumento nem uma explicaçittt. e nada ó mais iltigico tlo que fazer
litcralmente "têitiçaria"; o que ele designa não é religião ou algo rnais ou com que um princ(tio, ntcsmo relativo, depencla tlc Ltttla de suas
rrrcnos zrnálogo, mas antes magia, e mesmo do tipo rnais inferior. aplicações parliculares.
A magia não é de modo algum urta foma de religião, que se Se nos ativemos a determinar aqui a vetdacleila nrlLrr-czâ da Ínagia
rrliás. primitiva ou desviada. e também não é, como outi:os é porque se lhe a[ibú um papcl considelivel nlrnla ccrla concepção da
algo que se oponha forçosamente à religião. uma espécie "ciência das religioes". que é iLqr-rela que se chittltli "escola sociológica";

a
q- 2A 4
T
245
depois de se tef tentado durante muito tempo dar uma explicação
sobretudo psicológica aos "fenômenos religiosos", procllra-se agora, CAPIII]LO M
com efeitô, dar-lhes uma explicação sociológica, e a esse respeito já
falamos da definição da religião; ao nosso veÍ, esses dois polltos de vista
são ambos falsos, e igualmente incapazes de daÍ conta do que é
verdadeiramente a religião, ainda mais da tmdição em geral. Auguste O TEOSOFISMO
Comte queria comparar a mentalidade dos antigos ã das crianças, o que
era demasiado ridículo; mas o que também o é, é que os sociólogos
atuais pretendem assimilálo ã dos selvagens, que eles chamam de e devemos, ainda que deplorando a cegueira dos
"primitivos", enquamto clue nós os consideramos ao contrário como odentalistas oficiais, pelo menos respeitar sua boa fé,
degenerados. Se os selvagens setnpre estiveram no estado inferior em não podemos fazer o
mesmo quando se trata de
que os vemos, não se poderia explic como existe enfie eles um monte de autores e divulgadores de ceÍas teoriâs sobre zrs quais devemos falar
usos que eles mesmos não cômpreendem mais, e que, sendo muito agora, e que só podem ter como efeito l'azer com que os estudos
diferentes do que o que se encontra em qualquer outr-o lugar, o que exclú orientais sejam desacreditados e afastar deles as pcssoas sérias. mas mal
a hipótese de uma importação estrângeira. só podem ser considerados info,rmadas, apresentandoJhes, como a exptessão irutêntica das doutrinas
vestígios de
civilizações desaparecidas. civilizaçÕes que, numa da India, um tecido de divagações e absurdos^ scgul.antcntr: indignos de
Antigüidade bastante recuada, pré-histórica mesmo, devem ter sido a dos merecer atenção. A difusão desses delírios s(r terl. aliiis. inconvenientes
povos que têm como descendentes e últimos l€u.tanescentes os selvagens negativos, mas graves, sobre os quais acabat)tos tle lhlar-; como a de
atuais; assinalamos isto para permanecer no ten'eno dos fatos, e sem muitas outras coisas análogas. tal difusão é. alénr disso, eminentemente
prejudicar outras razões mais profundas, que são ainda mais decisivas ao apropriada a desequilibrar os gênios mais fracos e as inteligências menos
nosso ver, mas que seriam muito pouco acessíveis aos sociólogos e outros sólidas que os Ievam a sério, e, a esse respcito. ch constitui un
"observadores" analistas. Acrescentarcmos sirnplesmente que a unidade verdadeiro perigo para a mentalidade geral, perigo cujiL rcalidade já é
essencial e fundamental das tradições perrnite rnuitas vezes interpretar comprovada por exemplos bastante lamentávcis. Essrs iniciritivas
com um uso judicioso da analogia, e terdo sempre em conta a deixam de ser inof'ensivas na medida em que os Ocidcntais âtuais têm
diversidade das adaptações, condicionatla pela diversidade das uma tendência marcada para se deixar leviu' 1.nr tudo o que ostenta
mentalidades humanas, as concepções às cluais os usos de que aparências extraordinárias e maravilhosas; o desenvolvimento de sua
acabamos de falar se ligan primitivamente. antes que fossem reduzidos civilização num sentido exclusivamente priítico, enquanto a priva de
ao estado de "superstições"; do mesmo modo. a mesn.ra unidade permite qualquer dircção intelectual eÍ'etiva, abre caminho à todas as
também compreender numa lzu'ga medida as civilizações que nos extravagâncias pseudo-científicas e pseudo-metafísicas, mesmo que elas
deixaram monumentos esclitos ou Íigurados: é isto que indicávamos desde pareçam pouco aptas a satisfazer esse sentimentalismo que entre os
o início, ao falarmos dos préstimos que o verdadeiro coúecimento do Ocidentais desempenha um papel tão considerável, em razão da própria
Oriente poderia dar a todos os que querem estudar seriamente a ausência de intelectualidade verdadeira.
Antigüidade e procuram tirar dele ensinamentos válidos, nào se
contentando com o ponto de vista totahnente exterior e superficial da Além disso, o hábito de dar a prepontlcrância à
sintples erudição. experimentação no domínio cientifico, de se Iigar (luase que
exclusivamente aos fatos e atribuir mais valor a elcs do quc às idéias,
vem ainda reforçar a posição de todos aqueles quc. par:r cdiliciu'iu teorias
(| ) l)Lrplis. Oigíne de tous les cultes; Yolney,lzs Ruines. mais inverossímeis, pretendem se apoiar em í'enôrrrcnos quaisquer,
(. t) I i. llruloú. In k:íence des Religians, p.6.
verdadeiros ou supostos, com fieqüência mâl contÍolados, e era todo
2A'1
2A6
caso mal interpretados, e que têm por isso mesmo muito mais chances urf certo aspecto da mentalidade oriental, e é nisso que eles são
de sucesso junto ao grande público do que aqueles que, querendo só logrados, por não conhecerem essa mentalidade, e mais facilmente na
ensinar doutrinas sérias e seguras, se dirigem unicamente à inteligência medida em que não pensam encontrar nela uma concon€ncia embaraçosa
pura. Esta é a explicação mais natural da concordância, desconceftante ã para si mesmos.
primeira vista, que existe, como se pode constatar nâ lnglaterra e nos
Estados Unidos em particular, entre o desenvolvimento exagerado do Às vezes chegam a ocorer esn-rüúas alianças, especialmente no
espírito prático e um desdobramento qrase que indefinido de todos os campo da "ciência das religiões", do qual se destaca o exemplo de
tipos de loucuras pseudo-religiosas, nas quais o experimentalismo e o Bumoú; talvez este tàto se explique simplesmenle pela tendência anti-
pseudo-misticismo dos povos anglo-saxões se satisfâzem por sua vez; religiosa e anti-tradicional dessa pretensa ciência, tendência que a coloca
isto prova que, apesar das aparências, a mentalidade mais prática nào e naturalmente em relação de simpatia e mesmo de afinidade com todos os
a mais equilibrada. elementos dissolventes que, por outros meios, prosseguem num trabalho
paralelo e concordaÍrte. Para quem não desejâ mais se ater às aparências,
Na própria França, o perigo que assinalamos, apesar de haveria observações muito curiosas e insmúivas a tazer, tanto neste como
menos visível, não é negligenciável; ele existe na medida em que o em oühos domímos, no sentido de saber qual piu'tido tir.r às vezes da
espírito de imitação do estrangeiro, a influência da moda e a futilidade desordem e da incoerência, ou do que assint piuece' enl vista da
mundana se unem pÍra favorecer a expansão de semelhantes teorias em realização de um plano bem definido e colll o dcsconhccimento de
cerlos meios e para fazer com que se encontre nelas os meios materiais de todos os que só constituem instrumentos mais tttt tncnos inconscieffes;
uma difusão ainda mais ampla, através de uma propaganda que se de qualquer maneim estes são meios políticos, nlas de tttna política um
reveste habilmente de formas múltiplas para atingir os mais variados pouco especial, e, aliás, contrariamente ao que algutls podedzrm crer, a
públicos. A natureza desse perigo e sua gravidade não permitem que se política, mesmo nosenúdo mais estrito cnr quc é entendida
observe qualquer tolerância para com os que constituem a sua causâ; habitualmente, não é alheia por totâl às cclisits cltlc cncilrillrlos nesse
estamos aqui no domínio do cha atanismo e da fantasmagoria, e, se é momento.
preciso lastimaÍ sinceramente os ilgênuos que formam a grande maior-ia
daqueles que se deleita com isso, as pessoas que lideram Entre as pseudo-doutrinas que exelccllr utnl
inlluêtrcitr
conscientemente essa clientela de incautos e fiuem com que esta s va nefasta em setores mais ou menos amplos da tnentalidatle ocidental, e
aos seus interesses, em qualquer ordem que seja, não inspira mais do que que, sendo de origem bastante recente, pode se colocar, na maioria, stlb
o desprezo. Aliás, nesse tipo de coisa, há muitas maneiras de ser a denominação comum de "neo-espiritualismo", há aquelas, como o
enganado, e a adesão às teorias em questão está longe de ser a única; ocultismo e o espiritismo, por exemplo, sobre as quais não diremos
entre aqueles mesmos que as conbate pol'diversàs razões, a maior parle nada aqui, porque elas não têm nenhum ponto de contato com os esttr(los
é prepalada de modo n]uito insuficiente e cometem uma falta orientais; a pseudodoutrina que interessa mais precisamente, e c;uc de
involunt:ária, mas capital, de tomar o que só é o prodllto de uma oriental só tem a forma exterior sob a qual se apresentiL é o que
aberração puramente ocidental por idéias verdadeiramente orientais; chamaremos "teosofismo" . O uso deste termo, apesar dc ser utn pouco
seus ataques, com freqüência dirigidos com as intenções mais inusitado, se iustifica suficientemente pela pÍeocupaçÍo enl evitar as
louváveis, perdem por isso quase que todo o alcance real. Por outro confusões; com efeito, não é possÍvel neste caso ptclctir o termo
lado, certos orientalistas oficiais também levam essas teorias a sédo; nào "teosofia", que já existe há muito tempô para dcsigllilr. entle as
queÍemos dizer que eles as encarem como verdadeiras em si mesmas, especulações ocidentais, algo bem diferente e de lotrgc nluito nrais
porque, sendo dado o ponto de vista especial em que se situam, eles respeitável, cuja origem deve ser remontada à Idatle MÚdial ltqui, trata-
rrcrnr chcgam a colocar a questão de sua verdade ou falsidade; mas as se unicamente deconcepções que pertenecrn Pr.ptiltnente à
torrsitlcram injustamente como representaüvas de uma certa paÍe ou de organização contempoÍânea que se intitula "Sociecladc 1'eosófica", cujos
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208
membros são "teosoflstas", expressão que, em lnglês, aliiis, tem uso
corrente, e não "teósofos".
O que caracteriza à primeira vista o "tcosol'istlro" ó tt ustt tlc
uma terminologla sânscrita bastante comPlicada, cttios lcr'rllos sar(r

Não podemos e nem queremos fazer aqui, nem mesmo tomados com freqúência num sentido muito cliverso ditquele qtre tenl nit
sumariâmente, o histórico, no entanto interessânte sob diversos realidade, o que não é sulpreendente, desde que eles só servetn pala
aspectos, dessa "sociedade Teosófica", cuja fundadora soube utilizar-se, recobrir concepções essencialmente ocidentais. e tão alastadas quanto
graças ãinfluência singular que exercia em seu circulo, dos possível das idéias hindus. Assim, para dar um exemplo, a palavra
conhecimentos mais variados que possuía, os quais seus sucessores karma, qte significa "ição" conio já dissemos, é usada constantemente
carecem totâlmente; sua pretensa doutrina, formada de elementos to- no sentido de "causalidade", o que é mais do que uma inexatidão;
mados de empréstimo das fontes mais diversas, muitas vezes de valor porém, o que é mais grave é que essa causalidade é concebida de um
duvídoso reunidos num sincretismo confuso e pouco coerente,
e modo bem especial, e que, por causa de uma falsa intelprctação da
apÍesenta-se plimeiro sob a forma de um "Budismo esotérico" que, teoria do apin;a q.ue explanamos a respeito rJa Mimârtsâ, se chega a
como já indicamos, é puramente inraginário; ela redundou num suposto disfarçáJa como uma sanção moral. Já nos explicamos de modo sufi-
"Cristianismo esotérico" que é igualmente fantasista. Nascida nos Estados ciente a esse propósito, o suficiente páuâ quc se dê conta de toda a
Unidos, essa orgaaização, difundindo-se imediatamente por todo o mundo, confusão de pontos de vista que supõe tal delirl'rnaçin, e aitrcla' reduzindo-
tomou-se puramente inglesa na direção, corn exceção de alguns ramos a ao essencial, deixamos de lado todos os absultlos itccsstirios de que ela
dissidenles de fraca importância; apesar de todos os seus esforços, é envolvida; de qualquer maneira, ela mostlil col'no o "teosol'ismo" é
apoiados por certas proteções que lhes assegtlram consideraçÔes impregnado de sentimentalidade própria aos Ocidentais. e, aliás, para
políticas que não vamos determinar, eletnunca conseguiu recrutar mais do perceber até que ponto ele compele ao "nrot'alisnto" e ao pseudo-
que um núrmero muito reduzido de Hindus desviados, profundamente misticismo, basta abrir qualquer uma clets oblits elr que essas
desprezados por seus compatriotas,. mils cttjos nomes podem se impor concepções são expressas; e meslno, quanclo se cxatninr obras cada vez
à ignorância européia; aliás, na írdia acredita-se etl geral que a mais recentes, percebe-se que tais tendências conlilluillll sc acentuando,
"sociedade Teosófica" é uma seittt protestiute de um gênero bem talvez porque os chefes da organização têm unlâ tnelttalitlaclc sempre
paÍticular, assimilação que pa-rece justiticar, Por §uâ vez, seu pessoal, mais medíocre. mas talvez também porque essa ot ientação seja

seus procedimentos de propaganda e suas teDdências "moralistas", sem verdadeiramente a que nlelhor rcsponde á meta a qlre se plop(iem.
falar de sua hostilidade, às vezes hipócrita e às vezes violenta, contra
todas as instituições Íradicionais. Sob o prisma das produções A única tazão de ser da terminologia sânscrita no
"teosofismo" é dar ao r;ue lhe sewe de doutrina, porque não podemos
intelectuais, surgiu sobretudo, desde is indigestas compilações do início,
um monte de relatos lirntírsticos, graças à "clarividência" especial que consentir em chamar zqLrilo cle tloutrina, uma aparência própria para iludir
se obtém, parece, pelo"desenvolvimento dos podercs latentes do organismo os Ocidentais e a seduzir alguns deles, que amam o exolismo na totma,
humano"; também surgiram algumas traduções, bastante ridículas de mas que, no fundo, ticam muito felizes em reencontraÍ nela concepções e
textos sânscritos, acompanhadas de comentários e interpretações mais aspirações adequaclas às suas, e que seriam bem incilpazes de
ridícu1os ainda, e que a própria "Sociedade Teosófica" não tem coragem compreender qualquer coisil relativa às doutrinas âtltenticâmente
de exibir muito publicamente na índia, onde difunde de preferência as orientais; esse estado de espíl ito, Íieqüente naqueles clttc sc tlcnonrinam
obras que desnaturam a doutrina cristã sob pÍetexto de expor o seu "gente bem", é bem comparável ao dos filósofos qtlc cxllcrillrentlm a
necessidade de empregar pâle\'Tas exhâordináiâs c Ptctcl)siosil's para
pretenso sentido escondido: um segredo como este, se verdadeiramente
cxistisse no Cristianismo, não se explicaria e nem teria qualquer razão de exprimil idéias que, em suma, não diferem muito proÍirnthttrente das do
scl viilickr, porque é evidente que seria inútil procurar profundos misté- vulgo.
rios crrr trxlts essas elocubrações "teosofistas".

l.
271
274
O "teosofismo" atribú uma importância considerável à mesma é contraditóda no supremo grau. Convám dedicar-se
especialmente a combater a idéia de "Itencamação", pdneiro porque ela
idéia de "evolução", o que é bem ocidental e modemo; e' como a
ao qual ele é de certa forma ligado é absolutamente contrária à verdade, como acabamos de mostrar em
maioria dos ramts do
"tpititit-o,
idéia à da "reencamação" Esta ú1tima poucas palavras, e em seguida por uma outm lazão de ordem mais
nor suas oriqens, associi essa
contingente, ou seja, que essa idéia, popularizada sobretudo pelo
loncepção iur... t.. surgido com alguns sonhadores sociústas da
os quais e1a se destirava a espiritismo, a mais insípida de todas as escolas "neo-espirihralistas"' e ao
primeirà m"tad" do século XIX, para
a mesmo tempo a mais diÍundida, é uma das que contribuem de modo
explicar a desigualdade das condições sociais, pâÍticularnente chocantes
que, para quem mais eficaz a esse col:tpso mental que assinalamos no ilício do presente
seu ver, se ber.rrque, no ftndo, ela seja totâlÍnente natural
e
capitulo, e cujas vítimas inÍêlizmente são muito mais numerosas do que
compreende o princípio da instituição das castas, fundada na diferença
aqueles que não estão a par dessas coisas podem pensar.
das;aturezas individuais, a questão nem se coloque; de resto, as teorias
desse gênero, como as do "evolucionismo" não explicam nada
de fato' e'
dificuldade, mesmo que indefinidamente' Naturzúmente não podemos insistir aqui neste ponto de vista;
.""rurido ao mesmo tempo a
por inteiro, se de fato há mas, por outlo lado, deve-se ainda acrescentiu' que. enquanto os espíritas
deíxam-na finalmente perÍnanecer
se esforçam em demonsr?r a pretensa "reencirnaçãtl"' cla ntesma maneira
dificuldade; e, se não há, tais teorias são pedeitamente inúteis'
que a imortalidade da a1ma, "cientificamentc", oLr se.ia, pela via expe-
pretensão de fazer remontar a concepção
à rimental, que nem é capaz de proporcionar o tníttinxr resLtltatlo a esse
Quanto a maioria dos "teosofistas" parecc ctlnsidc-titr isso uma
respeito,
"reencamacionista" à Antigiiidade, ela não se baseia em nada, a não
ser
de onde espécie de dogma ou de artigo de fé, que se clcvc adrnitir por motivos
sobre a hcompreensâo de algumas expressões simbólicas'
de ordem sentimental, mas sem que lhes ocorra tentar dar qualquer
surgiu uma grÀsseira interpretação da "metempsicose' pitagórica' no
prova racional ou sensível. Isso mostra de modo tttttittt níti(b que se trata
,"niido d" uÀa espécie tie "tremslbrmismo" psíquico; do mesmo modo
de constituir uma pseudo-religião, em concotrência clrtn as religióes
tomou-se por vidás terrestres sucessivas o que, não só nas doutrinas
de verdadeiras do Ocidente. e sobretudo com o Catolicisrlto. pol'que, no que
hindus, más no proprio Budismo, é uma série indet'inida de mudanças
estados de um ser, cada estado tendo suas condições caracteísticas
se refere ao Protestantismo, este se acottlotla nluit() benl à
próprias, diferentes das condiçÕes tle otttros, e constituindo paÍa o ser
multiplicidade de seitits, que ele mesmo engendra csl)ontancillllente
por causa de sua ausênciit cle princípios douttintis; essa pseudo-religião
um'ciclo da existência que ele só pode perconer uma rinica vez, é a
mesmo de mocltl mais geral corpórea, só "teosofista" tentou se diu uma forma definida tomando como ponto centlal
existência tetrestre, oll
a predição da vinda iminente de um "grande instrutor", apresentado pol'
representando um estado particular entre u[]il indefinidade de outros'
seus profetas como o Messizts fuflrro e como uma "reencamação" dcr
A verdadeira teoria dos estados múltiplos do ser é da mais Cristo: entre as diversas transfomaçõe§ do "teosofismo", esta, que
esclarece singulannente sua concepção do "Cristianismo esotérico"' é a
alta importância sob o ponto de vista metafísico; não podemos
desenvoivê-la aqui, mas nos ocon'eu fazer por obrigação algumas alusóes a
última em voga, pelo lrenos até o momento, mas não deixa de ser a
ela, especialmente a respeito do apitn'a e das "ações e reações
menos significativa.
concordantes". Quanto ao "reencamacionismo", que cons tur apena§ uma
caúcatuÍa inepta dessa leoria, todos os Orientais, salvo talvez alguns
ignorantes o.t rrr"no, ocidentalüados cuja opiaião é desprovida de
-u-i,
tiualquer valor, são unanimemente opostos; aliás, seu absurdo metafísico
ó bcm facilmente demonstrável, porque admile que um ser possa
passar
viirilrs vezes por um rnesmo estado, o que leva a supor uma limitação da
l\rssitrilitlatli universal, isto é, a negar o Infinito, e essa negação em si

al
2L3
212
do qual ele sempre se aproximava cada vez mâis. a ponto de merecer a
qualificação de "pietismo"'r; e, após algumas vicissitudes, que não interessa
expor aqui, o movimento acabou-se apagando pouco â Pouco pol intciro.
CAPÍTULO IV
No entanto, o espírito que tiúa presidido a tirndação clessa orgeurizaçào lào
devia se limitar a uma mimifestaçáo isolada, e outros ensaios an/rlogos
foram tentados ao sabor das circunstâncias e etn geral sem maior sucesso;
O VEDÂNTA OCIDENIALZADO citaremos somente o Âna-Sumiii, associaçãto Í'undada, há um meio
século atrás, por Dayânantlit Sataswati^ que alguns chamaram de "o
Luther da intlia". c que r'steve cnt rclações com os flindadores da
"Sociedade Teosó[cr".

I Ytrma ordem de idéias mais ou menos conexa daquela O que é notírvel é qlle, tanto nessa associação como no
l\lu ou. o "teosofismo" pertence, devemos ainda Brahma-Sanrui, a tendência anti-tradicional lol)lilva conlo pretexto um
I \ -"*ioo. certos "movimentos" que, por terem tido retorno à simplicidade primitiva e à dottúina ptttit ür Veda; piua júgar essa
seu ponto de paltida na propria índia, não deixam de ter uma
inspi-raçào pretensão, basta sabeÍ como o "moralismo", 1'rtcocttpaçio d(nrinante em
totâlmente ocidentul, e nos quais é preciso observar que essas todas essas organizações, é estrdnho ,ttt V«lu, lllilli o l'rotcstilntismo
irfluências políticas por nós referidas no capítulo precedente pretende igualmente rcstaurff o Cristianisltlo Printitivo cnl t(xlil il sua
constituem .,*, p fa prcponclelar,te. A origem desses
"movimentos" pureza, e nessa similitude há muito mais quc Ltntlt sitnplcs cttiltcidÔncia. T.rl
Roy
remonta à prirneira metade do seculo XX, época em que Râm Mohun aúude não carece de habilidade pwa fazer corll (lLlc ilri illovitçCles sr"iarn
'Brahnn-Samíij
frndo, o ou "lgreja Hildu Reformada", cuja idéia lhe aceitas, sobretudo num meio forÍemente ligatkr lt trlrrliçr-ro. cont I qultl
um
havia sido sugerida por missionáios angliczuros, e onde foi organizado seria imprudente romper tão aberlamentel mas, atltrtilitttlo-rc vcrtlatlcira
"culto" exatai.rente ialcado sobre o plano dos serviços protestantes Até e sinceramente os princípios fundamentais (lcssil lÍirtliçiio, Pol ir's()
então, nunca houve nada como isso, algo a que se pudesse aplicar uma mesmo todos os desenvolvimentos e todas as cttttsctliii'llciits L;ttc tlclcs
denominação tal como a de "Igrela Hindu" or-r de "Igreja Brahmânica"' derivam regulalmelte também deveriam set itdtnitidos; c o (ltlc os qtlc
vista
sendo quÉ tal assimilação não seria possível nem pelo ponto de se dizem "reformadores" não fazem, e é pot'isso quc todos os que têln o
ess"nciaj da tradição hindu, nem peb t:rotlo de organização
-qrre
the
sentido da tradição percebem sem dificuldade que o desvio real nilo cstrit
corresponde; de fato, essa foi a prirlieilLr tentalivâ par. a se faz-er do de modo algum do lado em que estes afirmam que se encontra.
Brahmanismo uma rcligião no sentido ocidental da palavra, e se qttis Râm Mohun Roy tinha-se dedicado pafiicularmente a
fazer, de uma só vez, urna religião fomentada por tendências idênticas interpretar o Ved[ütttr conforme suas próprias idéias; ainda que insistinclo
àquelas que caracterizam u Prote.tcnli\mo coÍn ÍazÁo sobre a concepção da "unidade divina", que, aliás, tltttlcit
nenhum homem competente tinha contestado, mas exprinlindo-a ent
Como era natural, esse movimento "reformador" foi temos muito mais teológicos do que metafísicos, ele dcsüÚurâva a
fortemente encorajado e sustentado pelo govemo britânico e doutrina sob muitos aspectos para encaixá-la nos Polllos de vistlt
pelas
sociedades de missÔes anglo-indianas; mas e1e era por demais ocidentais que tinha adotado e fazia disso algo que acabrtvit pol'pÍll'cccl-
manifestamente anti-tíâdicional e por demais contrário ao espírito uma simples filosofia tingida de religiosidade, uma espóeic tle "tleístno"
hindu para que pudesse vingar, e percebeu-se que, na realidade' ele não travestido de uma fiaseologia oriental. Tal interpretaçÍo ó cntax), no seu
ur,t., coisa senão um instrumento da dominação estrangeira Aliás' próprio espírito, tão afastada quanto possível da tradiçixr c tla metatÍsica
"ru
conro um efeito inevitável da introdução do "livre exame", o Brahrua- pura; ela não representâ nada mais que umâ teoria intlividual sem
,\rrrrir?l suhdividiu-se logô em múltiplas "Igrejas", como Ô Protestantismo autoridade e ignora tota-lmente a realização qtte é o único objetivo

L aa
275
2L4
Um outro ramo ainda mais completatlrcnte desviado, e em
verdadeiro de qualquer doutrina
geral mais conhecido no Ocidente, é aquelc que loi fundado por
Vivekânanda, discípulo do ilustre Rânukrishna mas infiel a seus
Esse foi o protótipo das deformaçÕes do Vedânta, jâ que em
ensinamentos, e que recrutou adeptos sobrettttlo na América e na Austriilia,
seguida outras ocorreriam, e sempre no sentido- de^uma ap-roximaçào
onde mantém "rrissões" e "templos". O Vctlânttt tomou-se o qlle
coã o Ocidente, porém uma aproximação da qual o Oriente ficaria com Schopenhauer tinha imaginado, uma religião sentimental e "consolante",
todos os prejuíios, com grande detrimento da verdade doutrinal com uma fofte dose de "nroralismo" protestante; e, sob esta forma
empreitada verdadeiramente insensata e diametralmente oposta aos
muito decadente, ele aproxinta-se estranhamente do "teosofismo", para o qual
intár'esses intelectuais das duas civilizações, mas que afetaria
ele é antes um aliaclo natural do que um rival ou um concorrente. Os
pouco a mentalidade oriental na sua generalidade, visto que as coisas
procedimentos "evangélicos" dessa pseudo-religião asseguramJhe
àesse gênero lhe parccem totalmente negligenciáveis Em termos
certo sucesso nos países anglo-saxÕes, e o que mostta bem seu caráter
lógicos] não é tunçâo do Oriente aproximar-se do Ocidente seguindo
de sentimentalismo é o fervor que ela imprirne à sua propaganda, porque
seis desvios mentais, como os propagandistas de todo tipo que a a tendência ao proselitismo totalmente ocitlcntal teina com intensidade
Europa lhe manda insidiosamente se empenham. mas em vão: é o
fontes nessas organizações que só têm de oriental o nomc c itlgttmas aparências
Ocidànte que, ao contrâ'io, deve voltitr, quiurdo quiser e puder, às
por puramente exteriores, o suficiente para atrail tts curiosos c os amadores
puras de tóda intelectualidade verdadeita. da qud o Oriente, sua vez'
àe exotismo da qualidade mais medíocre. Ussc sr.rposto Vedânta é
nunca se afastou; e, nesse dia, a concrirdia se cullprirá por si só, como
oriundo dessa bizara invenção americana' tlc itlspilitçao tlmbém bem
por acréscimo, sobrc todos os pontos secundários que só pertencem à
protestante, que se intitulou o "Padamento ckLs lleligiires"' e é melhor
ordem das contingências.
àdaptado ao Ocidente na medida em c[tc nlais pnrltrndanlente
Pâra voltar às deformações do Vetlônta, se quase ninguém na
desnaturado; ele não tem por assim dizer nittla ttlais cttt ctlt.tttttlt com a
Índia lhe atribui impofiância, tal cotro disscmos há pottco, é preciso, no
doutrina metafísica que ele qlrer representa[' c rliio rrlcÍccc que haja
entanto fazer exceção de algumas indivrdrralidades que têm um interesse
mais demora em tomo dele; mas tínhamos qttc ltkr tltctlos assinalar stta
especial nisso, no qual a intelectuali.lade não panicipa; existem' com
existência, como a das outras instituições sintilarcs. Pilril sc plecaver
efàito, algumas dessas deformações cnias razões são exclusivamente
contra as assimilações etrôneas que aqueles tlue i.ts cotthcccttt poderianl
políticas. úão pretendemos contar aqtli por qual sólie de ciÍctlÍlstâncias tal
ser tentados a Íàzer, e tambóm porque, parl aquclcs que nito as
Mahâríija usrtrpador, pertencente à câsta dos S/ti?r/ras, para obter o
foi levado a conhecem, é bom ser um tanto informado sobte essas coisas, já que sio
simulacio de uma investidura tratlicional itnpossível,
muito menos inof'ensivas clo que podem parecer à primeila vista'
despojar a autêntica escola de Shankalachafya de seus bens, e a instalar
lugu, Llma outl'il escola, revestindo-se falsamente do nome e da
"*'a".-u
autoridâd; do mesmo Shankaracharya, e dando a seu chefe o título de
Jagaclguru ou "instrutor do mundo" que só peÍence legitimamente ao
,"idud"i.o sucessor espiritual daquela escola' Essa escola, naturalmente,
ensina apenas uma doutrina minguada e parcialmente heterodoxa; paÍa
âdaptar a exposição do Vedânta às condições atuais, e1a pretende
apoiá-la sobre as concepções da ciência ocidental modema, que não têm
nada a ver com esse domínioi e, de fato, ela se dirige principalmente
aos Ocidentais, dentre os quais muitos chegaram a receber dela o título * O "pretismo" é urna seita cristã çe se desenvolveu na l'n*tssia. cqia douürna se
hrrrxrrífrco de Vedântabhüshana ou "omamento do Vedânta", o que não
ba^seiana plena subodinâção à letra do Evangelho. (N' cltt T )
ttcir;r ttc tevertir-:e de cena ironia
2L't
2.16
genial ou somente talento sob um ponto dc vista tlrtrtlclucr: e' no en-
CAPÍIUI,O V tanto, os casos desse gênero estão longe de scr taros.
Se existe um preconceito setll Ittnclttllcnto. ó tt;uele, caro
aos panidfuios da "instrução obrigatória"' scgttntlo o tlual o súer real
seria inseparável do que se convencionou chanliLl tlc rlloralidade. Não se
ú-ruraes oesenvaçÕes concebe logicamente porque um criminoso tleveria ser necessadaÍnente um
idiota ou um ignotmte, ou porque seria impossível que um homem se
servisse de sua inteligência e de sua ciência para prejudicar seus seme-
lhantes, o que ao conttário acontece com muita freqúência; além disso,
não se concebe também como a verdade de uma concepção dependeria
T-talando das interpretações ocidentais, ativemo-nos do que tal ou qual indivíduo emitiu; nras nada é menos lógico que o
voluntariamente às géneralidades, na medida que
H 'prd"-os. sentimento, mesmo que cefios psicólogos tenham falado de uma "lógica
I evitando levantal' assim questões de
dos sentimentos".
personalidades, muitas vezes ínitantes, e aliás inúteis quando se trata Os pretensos aÍgumentos que intervcitll lllls questões de peÍ-
unicamente de um ponto de vista doutrinai, como é o caso aqui E muito sonalidades são, poÍanto, completamente insigrr il'icantc sl tlue se sirva
curioso observar como os Ocitlentais na sua maioria têm dificuldade pam disso em políúca, domÍnio em que o sentimcnlo tlcscnlpcnhl unt gralde
compreender que as consiclemções dessa ordem não provam papel, isto se compreende até um ceÍo ponto. ainda clttc tttuitas vezes haja
absólutamente nada ir favot' olr contra o valor de uma concepção um abuso disso, pois é fazer pouco das pcssoas ditigindo-se assim
qualquer; isto ilustra bem até que ponto eles valorizam o individualismo exclusivamente à sua sentimentalidade; mas, introduzir os mes[Ios
intelÉctual, tonto quanto o sentimenlalismo do qual este é inseparável' procedimentos de discussão no dotnínio intclcctuxl, isto é
Com efeito, ,obe-.. o quanto os detalhes biográficos mais verdadeiramente inadmissível. Acreditanros t;Ltc Ú tront insistir unr
insignificantes ocupam lugar no clue deveria ser a história das idéias, e pouco nisso, já que tal tendência é demasiatlo hitbi(ttal no Ocidente. e
é a ilusão que consiste em crer que, quando se conhece que, se não explicássetnos nossas intenções, algttns potlcriant ató mesmo
"oro "o*r-
um nome próprio ou uma data. se possui por isso mesmo um têntar nos acusar cle unta Íalta de precisão e tlc "telcrôncias", tle uma
coúecimenio real; e como podeda ser de outro modo, quando se aprecia atitude que, de nossa pat1e, é perfeitamente in(ellcional c ctlnsciente.
mais os fatos do que as idéia.s? Finalmente. Pcnsamos ter suficientemente respondido por'
Quânto às próprias idéias, desde que se chegue a considerálas antecipação ã maioria das objeções e das críticas que poderiam nos ser
simplesmente invenção e propriedade deste ou daquele indivíduo, e dirigidas; isto não irnpedir'/r sem dúvida que elas nos sejam feitas apesar
desâe que, além clisso, se esteja influenciado e mesltto domilado por todo de tudo, mas aqueles que as tizerem provarão sobÍetudo sua própria
tipo de preocupaçoes motais e sentimentais, é mttito natural que a incompreensão. Assinr. talvcz nos censuÍem de não nos subnletermos a
upreciuçào dessas idéias, que não são mais encaradas em si e para si certos métodos teputados "cicntílicos", o que seria, no entallk). da úrltima
mesmas, seia afetada pelo que se sabe do caráter e das açÕes do homem inconseqüência já que tais nrétodos, que na verdade niio passam de
ao qual elas são atribuídas; em outros termos, relacionar-se-á as idéias à "literários" são aqueles mesmos cuja insuficiência já ntls ctrpcnhamos
simpatia ou à antipatia que se sente com aquele que as concebeu, como em mostrar, e que. por razões de princípio quc .iii expusemos,
se sua verdade ou falsidade pudesse depender de semelhzmtes
estimamos que sua aplicação às coisas de que se trata at;tli é irnpossível
contingências. Nessas condições, talvez possa se admitir ainda, se bem e ilegítima.
que com alguma reserrr'a, que um indivíduo perfeitamente honrado Íenha
lirrrnulado ou sustentado idéias mais ou menos absurdas; mas o que Infelizmente a mania dos textos, dlls "lbntes" e da
nr.rlcir sc qller consentir é que um outro indivíduo julgado desprezível bibliografia é de tal modo difundida nos nossos dirs' ela toma de tal
tcllhir li(to ssit'n mesmo um valor intelectual ou mesmo artístico, algo

al
) 19
2rB
modo os aspectos de sistema que, muitos, sobretudo entre os transcrições para ler os textos sânscritos' c cxislellr ctliçircs ltilits
sob esta forma para sua intenção.
especialistas, experimentarão um verdâdeiro mal estar em não encontrar
nida de semelhante, tal como sempre ocoÍTe, nos casos aniálogos, àqueles
que sofrem a tiÍania de um hábitol e, ao mesmo tempo, só compreenderão Sen.r dúrvida, é possível renlccliat llLrlrlâ ccltil medida a
muito dificilmente, ainda que cheguem a compreender, e consentindo ambigúiclade oÍográfica que resulta do tcdttzitlo nútrtero de letl'as que
em aceitar a possibilidade de se colocar, como o fazemos, num ponto de compõen.r o alíabeto lâtino por meio de alguns anilíciosi é exatamente o
que os olientalistas desejzu-iun fazer, porém () Inodo de trzmscrição ao qua]
vista bem diferente daquele da erudição, que é o único que com certeza
encararam. Logo, não é absolutamente a esses "especialistas" que Ch.gurar'r estí longc tle ser o melhot. porque implica convenções por
tencionamos nos d igir pa! ticlúarmenle, mas antes aos espíritos menos demàis arbitrárias, c, sc essc aspecto tivesse aclui qualquer importância,
estreitos, mais clesprendidos de toda e qualquer parcialidade, e que não não teria sido muito difícil encontfal um olrtro que fosse preferível,
tragam o cunho dessa deformação mental que o uso exclusivo de ceÍos desfiguranrio nrL'rros .ls palavras e antes as aproximando de sua real
pronrincia. No eÍltanto, como os que obtiveratn um conhecimento do
métodos provoca, detbrmação que é uma verdadeira enfermidade e que
qualificarnos de "miopia intelectual" Seria compreender-nos mal tomar .sânscrito não têm nenhuma dificuldade em rcstabelecer a oftografia
isso como um apelo ao "grande público", em cuja competência nào exata, e como os outros não necessitanl dclc dc ncnhuur modo para a
compreensão das idéias, que no fundo só ela inlcrcssa vcrcladeiramente,
temos a menor confiança, e, aliás, temos horor a tudo o que pârece ser
pensamos que não haveria sérios inconvenicnlcs ettt tlis;lcttsitt tlualquer
"lulgarização", por motivos quejá indicamos; mas não cometemos o eflo
de cónfundir a verdadeira elite intelectual com os eruditos de profissào, e
artifício da escrita e complicação tipogli'rlica, c qttc ptttlcríanlos nos
a exrensa facutdade de compreensão vale incomparavelmente mais, ao limitar a adotar a transcrição que nos pilrcccs\c litnl() ü ttlilis \in'lples
nosso ver, do que a erudição, que só constitui um obstáculo, na medida
como a mais conforme à pronúncia, e a clirig,ir os qtre se intelessam
particulaÍmente por esses detalhes às obras cspccializatlits.
em que se toma uma "especialidacle", enl vez de ser, como seria normal,
um símples instrumento ã serviço dessa compreensão, isto é, do
De qualquer modo, devíamos pcltt tltcttos cs(it cxplicrtçito
conhecimento puro e da verdadeira intclectualidade.
Enquanto nos dedicamos a explicar as críticas possíveis, aos gênios analíticos, sempre dispostos ã chicana. colll() Irlllit tlits raras
devemos ainda assinalar, apesar de sctl pouco interesse, um ponto de
concissões que nos Íbi possível fazer a sctls ltribilos tncnlais,
concessão requerida pela polidez que se devc sclllplc Lrsill conl as pes-
detalhe que poderia se prestal a críticas: nilo clemos necessiário ter de se '
soas de boa fé, e também por nosso desejo eru !úàst todos os m'!l-
submeter ã transcrição bizarra e conlplicadl pzua os temos sânscritos que
entendirios sobrc pontos, aliás, secundários e questões acessórias, niio
tíúamos citaclo, que ó geralmente usda entle os oÍieritalistas Tendo o
provenientes de modo estrito da diferença irredutível entre os pontos de
alfabeto sânscrito muito mais câracteres que os altàbetos europeus!
forçoso é Íepresentar váfias letras distintas pol'una só e mesma letra,
vista de nossos contÍaditorcs e os nossos; para aqueles que sustentinn
cujà som seja vizinho por sua vez dos sons de umas e outras letÍas' se esta última posição nacla podemos fazer' não tendo inltlizmente
nenhum meio pena fbntecer a outlem as possibilidades dc cotnptectrsittr
bem que com diferenças muito apreciáveis, mas que escapem aos
recursás muito restritos de pronúncia de que as lírguas ocidentais
de que carecem. lsto posto, podemos agora tirar dc tlosstt cstudtr
algumas conclusões que se impõem, para determinal ainda rttclhot-dtl qttc
dispõem. Nenhuma transcrição pode ser verdadeiramente exata, e o
me]ior seria seguramente abster-se dela; mas como é quase impossível fiiemos até agora o seu alc;mce' conclusôes nas quais as (ltlcst')es de
fiicil pr'('vcl, ll1âs nas
erudição não terão a mínima paÍicipação, como é
ter caracteres sânscritos de forma coreta pam uma obra impressa na
quais indicaremos, sem nos privar, aliás, de unla cctllt tt-'servl itt-
Europa, a leitura desses caracteres seria uma dificuldade totalmente
inútil para aqueles que não os conhecem, e que não são por isso menos dispensável sob muitos aspectos! o benefício efetivo clttc tleve resultar
irplos rlue os ouros a compreender as doutrinas hindus; aliás, há até essàncialmente de um coúecimento verdacleiro c plofundo das

"i'spcc ialistas" que, por mais fantástico que pareça, quase só utilizam as doutrinas orientais.
221
224
permite não se desesperar ao vê-lo tomâr. nu ocasião. uma direção
totalmente diferente e mesmo oposta, dc nxxkr qr-re o remédio se
enconfaria então naquilo que é, aos nossos ttlhos, o situl mesmo da
inferioridade; mas isto não constituiria vcl dacleiratnente um remédio,
CONCLUSAO
repetimolo, a não ser sob certas condições, ti»a das quais poderia ser,
ao contrário, um mal ainda maior em compalaçilo com o estado atual.
Isto pode parecer muito obscuto, e há, reconhecemos, umâ certa
dificuldade em torná-lo tão completzrmente inteligível quanto seria
desejávet, mestro cctlocatrclo-se sob o ponto de vista do Ocidente e
esforçando-se enr talar sua linguagem; tentaremos fazer isso, no
e, pela leitura do exposto, alguns Ocidentais puderem entanto, mâs advertindo que as explicações que iremos fomecer náo
tomar consciência do que carecem intelectualmente, se poderiam corresponder ao nosso pensanlento pol inteiro.
|J puderem, não diremos mesmo compreender, mas somente
entrevêlo e pressenti-lo, este trabalho não terá sido feito em vão Não Em primeiro 1ugar, a mentllitladc csl)cciill de alguns
queremos com isto nos refbrir unicamente às vantagens inapreciáveis Ocidentais nos obriga a declarar expresslllllcnlc (ltlc ni-lo (lueremos
que poderiam obter diretamente para si mesmos, aqueles que seriam formular aqui nada que se pareça de pcrto ott tlc lttnge com
assim levados a estudar as doutrinas orientais, onde enconffariam, mesmo "profecias"; talvez não seja muito diÍícil tlar cslit ilttsitrt il() cxpor os
com poucas aptidões requeridas, conhecimentos dos quais não há nada resultados de certas deduções sob uma fornta apto;rt irttlrt, tttlts isso ttr'itt
de comparável no Ocidente, e em relação aos quais as filosofias que se oco1Te sem um pouco de cha a{anismo, a mcnos (ltlc sc cslciit nttnt cstatltr
passarpor geniais e sublimes não vão além de brincadeiras de criançal de espírito que predisponha a uma espécie dc atlto- sttgcsl io: tkrs tlois
nao há medida comum entre a verdade plenamente assentida, por uma termos dessa altemutiva. cr primeiro nos ittspitlt tttltlt t'r'pttgttitte ilt
concepção de possibilidades ilimitadas, e numa realização adequada a invencível, e o segundo representa um caso (lLlc ttito (i li'liztttclt(c rt
esta ioacepçãó. e as hipóteses quaisquer imaginadas por fantasias
nosso. EvitzLremos assim as precisões que nittt ;rrxlctÍlttttos.itrslilicitt pot'
individuais na medida de sua capaciditde essencialmente limitada Há ainda qualquer razão que seja, e que, aliás, se não fbsscttt ltrohlclttiilitili', sctiirttt
outros resultados de um interesse nlais geral, e que são' aliás, ligados de qualquer fbrma inúrteis; não somos daquelcs t;uc pcrlsirlll (lLlc trlll
àqueles a título de conseqüências miris ou menos longÍnquas; queremos conhecimento detalhado tlo t'uturo poderia sel vantatjoso piuzt o ltttttlcttt, c
aludir à preparação, sem dúvicla a Iongo prazo, mas não obstante consideramos perf'eitanlente legítimo o descÉdito que a prática das rtllcs
efetiva, de uml aproxil.nação intelectual entle o Oriente e o Ocidente' divinatórias atinge no Oricnte. Este seria um motivo suticiente pttlit
condenar o ocultismo e âs outras especulações similares, que att ibttcttt
Ao falar da divergência do Ocidente em relação ao Oriente, tanta importância a essc tipo de coisas, mesmo que não houvcssc na
que se vai acentuando mais tio que nunca na época modema,. dissemos ordem doutrinal outras cottsiclerações ainda mais graves c uritis tlccisivas
que não pensávamos, apesar das aparências, que tal divergência pudesse para fazer rejeitar absolutamente concepções que são tnnto t;uitnór'icrts
conthuar assim indefinidamente. Em ouhos iermos, parece-nos difícil quanto perigosas.
que o Ocidente, por sua mentalidade e pelo conjunto de suas tendências,
se afâste sempre cada vez mais do Oriente, como faz atualmente, e
que
Admitiremos que não seja possível prevcl atualÍucnte il§
não ocorra mais cedo ou mais tarde umâ reação que poderia, sob certas
circunstâncias que poderão determinar uma mudança tlc rlilcçuo nrt
condiçÕes, ter os efeitos mais felizes; isto nos perece mcsmo mais difícil desenvolvimento do Ocidente; mas a possibüdade de urln td nlutlança só é
n, ,l.,"ãidu em que o domínio no qual a civilização ocidental modema contestável para aqueles que acreditam que tal desenvtllv inle nto, no sell
sc tlcscnvolve é, por sua própria natueza, o mais limitado de todos Além sentido atual, constitui um "progresso" absoluto. Para nós. essa idéia de
tlisso. o cardter mutável e instável particular à mentalidade do Ocidente
223
222
um "progresso" absoluto é desprovida de significação, e já ligam à uma ou outra das duas possihilitlirtlts t;ttc ltcilblltttos de
indicar já ocoreram, se bem quc ltltt;tttlr.'ttle' tlcvitkr a tecentes
indicamos a incompatibilidade de certos desenvolvimentos, cuja
acontecimentos que agitaram a Euro;lit. lllils (ltlc llilo slto itintla rnttito
conseqüência é que um progÍesso relativo num domínio determinado
considerítvcis. apesar do qtle se p()lisil l)('lli\ill, l)illil dctcrnliniu-a esse
acarreta em outro uma regressão correspondente; não dizemos equivalente
respeito resultatlos prrúitntlos e tlttnivtis. Alilis. ttttttlitttçits colllo as que
porque não se pode Íãlar de equivalência entre coisas que não são nem
consitlclanros potlcttt sc oPcrâr lcnlil c !.lil(lllilllllclltc c potlcm demandar
da mesma natureza nem da mesma ordem. E isto que aconteceu com a
alguns sécLtkrs punt sc crttttptit. cottll ptti.:ttl lanrbétn zrcontecer de
civilização ocidental: as pesquisas feitas unicamente com o fim das
repente por ciltiistlolcs lli;litl;ts c irttlltcvislilsl llo cntanlo, mesmo no pri-
aplicaçáes práticas e do progresso material levaram. como deviam
meiro caso^ é vcrossírril tlttc eltegttc lllll lllolrento em que haja uma
necessar-iamente, a ttma regressão na ordem puramente especulâtiva e
ruptura mais olr r)lcrx)s hrttstlr. rtttttt vctrlatlcita. solução de continuidade
intelectual; e. como não há medida alguma comum entre esses dois
em relação ao estâ(kr itntet iot.
domínios. o que se perde assim de um lado vale incomparavelmente
mais clo clue o que se ganha do outrol é preciso toda a deformaçào
De qualquer modo. adnti(it'cttlos ;titrtlrt t;ttc sc-ia inlpossível fixar
mental cta grande maioria dos Ocidentais modemos para apreciar as
de antemão, mesmo de mocltt aptoxilttirrkr. lt rlltlit tlc Ltrttit tal mudança;
coisas de olltro modo. De qualquer nraneiru, considerando-se apenas
todavia, a bem da verdadc tlcvcttttrs tlizt't tlttt' ittlttt'lcs (lnc tôln algum
um desenvolvimento unilinear, tbrçosamente se está submetido a ceÍtas
conhecimento das leis cícliclts c rlt sttlt itplitltçlto ilos pcríodos
condições limitativas, que são mais estreitas quando esse desenvolvimento
históricos poderiam peltl tttetttts se 1x't'tltilit ltlptttltlts llrcvisr)es e
se cumpre na ordem material tlo que em qualquer outro caso; pode-se
determinar épocas comprcctttlitlltr ctlltc (('11()r lilllil(si lttas itl'tslcr-nos-
dizer mesmo que a mudança de direção de que acabamos de falar deverá,
emos inteimmente aqui tlcssc l.:itttto rlc tottrirlt'titçoes. tta tttctlidit cnl
é quase cefio, produzir-se num moÍlento dado. Quanto à natureza dos
que elas foram às vczcs sittttlllrliLs l)ol l)essolls tlttt' ttltrt litthittt't ttctllrum
acontecimentos que contribuirâo a isso, ó possível que se acâbe
coúecimento real clas lcis its tlttilis ltcithittltrrs tlt ltlttrlit'. c l)ant (lueln
percebendo que as coisas às quais se atribui uma importância exclusiva
era mais fácil falal tlcsstts r.oisiLs llolqtlc ils iplttttltvltttt ltintlit tnltis
iroje em dia ião impotentes para dar os resultados que se espera delas;
completamente; esta Úllilltit Icllcxilo llax) (love soI tI)lllll(lil (olllo Lllll
*á, ,lr"r.o isto supona já certa rnotlificação da mentalidade comum, paradoxo, mas o quc cllt exptitltc tr litcl'illlllclllc ('xill(,
ainda que a decepção possa ser sobretudo sentimental e dirigir-se, por
.^"-pú, à constatação da inexistência de um "progresso" moral paralelo A questão tlttc sc colrtit lLgora ó I sc!,Llilltc: sl-lpondo-se que umâ
ao proglesso chamado científico. Com efeito, os meios da mudança, se
reação ocorra no Ocitlerttc rttttttrt épocil indetenrrilada, e como
não vierem de outro lugar, deverão ser de uma mediocridade
conseqüência de qLraist;trcr cvcrltos, e que ela provoque o abandono
proporcional itquela tlll mentalidade sobre a qual irão agir; mas essa
daquilo em que a civilizrrçào ctrlopéia atual consiste por hteiro, o que
mediocndade nos deixa apreensivos sobre os resultados'
aconteceria depois'? MLrilos cils()s satt) possíveis, devendo-se encarar as
vár'ias hipóteses quc lhes eortcspontlem: a mais desfavoritvcl é aquela
Pode-se ainda supor que as invenções mecâniczs, impulsionada§
em que nada poderirt sLrhslilttil csta civilização, e assitrl dcsitpatccendo.
sempre mais adiante, chegarão a um grau em que paÍecerãode tal modo
perigosas que se estará obrigado a renunciat a elas, seja pelo teror que
o Ocidente, entreguc ir si tttcsttttl, se encontrarizl ntlgttlhiLtkr nl piol'
berrbríne. Para se cottr;ltcctttlcr essa possibilidade, bastil lcllclil (ltrc. scln
atgr,ns de seus efeitos engendrarão pouco a pouco. seja mesmo por
conseqüência de um cataclismo que deixaremos a cada um a mesmo ir muito aléttt tlos chlmados tempos histtilicos. cllcolllrillll-se
a força muitos exemplos dc civilizaçtles clue desaparecetarrr pol itttcirol às
possibilidade de representar ao seu modo' Nesse caso aind4
de mas vezes, elas eram as dc povos que igualmente se cxliltgttit'ltttt. tnas tal
irr,,triz da mudalça seria ordem sentimental' dessa
que se atem de muito peÍto ao fisiológico; e suposição só é quasc rcrlizi,'tvel para civilizaçires l)ltlil() cslrcitamente
scr I inrc ntalidade
que vários sintomas que se localizadas, e para as que têm uma extensão maior, tt ttlitis plattsível que se
n()ti cnÍ)s, sem insistitmos demasiado,
I
225
224
tliltt lltlattrtts.
obsewem povos sobreüvendo, mas reduzidos a um estado de diferentes sobre os quais ela se exercc l)lcstlll('lll('lllcl
degenerescência mais ou menos comparável ao estado dos selvagens
bem entendído, de algumas poptrlaçircs tlcgcttetlttlits. c aitttla. mcsmo
para estas, ela talvez seja mais nociva qttc tilil, lxrrt;Lrc st'r trttnalu tlc seus
atuâs, como já observamos antes; não é múto útil insisú mais nisso para
conqLristadores o qtle eles têm de pior.
se dar conta do que há de inquietante nessa primeira hipótese.

O segundo caso seria aquele em que os representantes de outras Para os Orientais, jít indicamos crttl viitias circunstâncias, o
quanto nos palece justil-icado seu desptezo ;.rata o Ocidente, tanto que a
civilizações. isto é, os povos orientais, para salvar o mundo ocidental de
raça européia âcentllil sltil insistência em alirmer sua odiosa e ridícula
tal decâdência irremediável, assimilar-nos-iam de bom grado ou à
pl'etensão a un.u superioridade ntental inexistente, e a querer impor a
força, supondo que tal c,risa fosse possível, e que, aliás, o C)riente
consentisse nisso na sua totalidade ou em alguma de suas partes todos os homens uma assitlilação qrte. etn lazâo de suas características
instáveis e mal definidas, t'elizmente é incapaz de realizar. E preciso
componentes. Esperanlos que ninguém esteja tão cegado pelos preconceitos
toda a ilusão e toda a cegueira que gel anr o t.tlitis absutdo partidarismo para
ocidàntais pzur não rccoúeceÍ como essa hipótese seria preferível à
acreditar que a mentalidade ocidentll potlcrá ttm dia conquistar o
anterior': hiveria decerto em tais circunstâncias, um peíodo transitório
Oriente, e que homens, para os quais sti hít vcttladcira sttperioridade na
ocupaclo por revoluções étnicas muito penosas, do qual é difícil ter
intelectuâlidade, chegarão a se deixar setluzir pttt ittvcnçircs nrecânicas,
uma idéia, mas o resultado final seria de naturezâ a compensar os
para as quais experimentam somente rcPuglliillr. ilt, ttllts ttl'io rt nlínima
estragos causados fatalmente por uma semelhante catástrofe; todavia, o
admiração. Sem dúvida, pode ocomer quc os ( )ricrttitis itccitcrll, otl ilntes,
Ocidánte deveria renunciar às suas características próprias, e assim se
sofram certas necessidades da época atuitl. lltits cttcitl:tttdtl-its como
encontraria absorvido pura e simplesmente. Eis por que convém encarzl
puramente transitórias e mais incômodzts quc villllilioslri. e no ltndo só
um terceiro caso como o mais favolável sob o ponto de vista ocidental,
aspirando livrar-se de todo esse "progresso" tttitlcrirtl. ito tlttal nunca se
mesmo equivalente, para falar a verdade, do ponto de vista do conjunto
interessarão verdadeirarnente, exceção fêita it ccrtas intlivitlttalidittles
da humanidade terrestre, já que, se viesse a se realizar, o eieito seria
formadas com uma educação completamentc ocitlctrlall tlc Ltttt tnodo
fazer desaparecer a anomalia ocidental, não por supressão como na
geral, as modiicações nesse sentido permanccclll biLsliúllc sLt;trliciais.
primeira íripótese, mas, como na segunda, por um retomo à
apesar de algumas aparências que poderianl ils vczcs litzct crer ntr
intelectudidãde verdadeira e normall mas esse retomo, em vez de ser
imposto e forçado, ou aceito quantlo muito e suportado de fora, seria
contrário aos observadores de fora, e isto tncsttlo ctlttt os cslotços do
mais ardente e internpestivo proselitismo ocidcntal lntelectualmente. os
enào efetuaclo de modo voluntário e como que espontaneamente Para
que seja realizável, logo se vê o que esta última possibilirlade implica: Orientais têm o maior intercsse em não mudar nos dias de hoje mais do que
mudaram durante os séculos anterioresi tudo o que dissemos aqui é para
seria necessltrio quc o Ocidente. no mesmo instante em que seu
prováJo, e é uma das ruões pela qual uma aproximaçáo verdadeirr e
desenvolvimento no seu sentido atual tocasse seu fim, encontraria em
profunda só pode vir, assit.t.t cotno é lóg:ico e normal, de unra mudança
si mesmo os princípios de um desenvolvimento num outro sentido, que
poderia desde então cumprir-se de modo bem natural; e este novo realizada do lado ocidental.
àesenvolvimento, tomando sua civilização comparáve1 às do Oriente,
permitir-lhe-ia conservar no mundo, não uma preponderâlcia à qual não Precisamos voltar ainda às três hipóteses descl'itas, paril malcar
iem neúum únúo e que só se deve ao uso da força brut4 mas pelo menos o com mais precisão as contlições que detenrrinariam a rcalizaçíio rle uma
ou de outra delas; a esse respeito, tudo depende evidentcl]lcnlc do estado
lugar que pode legitimamente ocupff como representante de uma
mental no qual se encontraria o mundo ocidental no rrlott.lcnto em que
civilização entre outras, e uma civilização que, nessas condições, não
atingisse o ponto de parada de sua civilização aturll. Sc este estado
sclia niáis um elemento de desequit'brio e de opressão para o resto dos
homc'ns. Não se deveria acreditar, com efeito, que a dominação ocidental
mental fosse então tal corlro é hoje, a primeila hiptitcsc é que deveria
necessariamente se realizar, já que náo haveria nada qne pudesse
l)ossir sct apreciada de outro modo pelos povos de civilizações

1
226 ),2'/
substituiÍ aquilo a que se renunciaria, e que, por outro lado, a negligenciável, mas que talvez sefia ntttilo rliitcil c rrliiis irrtltil tlclirrir
assimilação por outras civilizações seria impossível, as diferenças das aqui. De qualquer maneira, insistittros srrlrtt o litto tlc t1ttc. pata se
mentalidades indo até a oposição. Essa assimilação, que conesponde à preparff para a mudança referida, nittt Ú tlc ttcttlttttll llxxlo llcccssiili() tltlL'
nossa segunda hipótese, suporia, como mínimo de condiçóes, a existência a massa ocidenttrl, mesmo limitando-sc ir r)lirssir cltlttttatlit intclectual,
no Ocidente de um núcleo intelectual, mesmo que só formado de uma tenha parlicipação de início; mesmo quc isso t:rttt litssc l'tÍ lnlente im-
elite pouco numerosa, mas muito bem constituída, para fornecer o possível, seria antes nocivo sob cetltls itspcctos. pâftl colneçÍf, basta
intelmedirírio indispensável para reconduzir a mentalidade geral às portanto que llgunras individualidacles contpreenclam a necessidade de
fontes da intelectualidade verdadeira, imprimirdoJhe uma direção que uma tâl mudançâ, nrárs com a condição bem entendido, de que a
não teria. ali/rs. nenhuma necessidade de ser consciente paÍâ as Ívmsas. compreendam vetdadeita e protLndatnente .
Já mostralnos o ciu'áter essencialmente tradicional de todas as
Desde que se considere como possível a suposição de uma ciülizações orientais: a talta de ligação eletivâ !r uma tradição é, no fundo, a
parada da civilização, a constiluição prévia dessa elite aparece como a raiz mesma do desvio ocidental. O rctorno a unra civilização tradicional,
única capaz de salvar o Ocidente, no momento requerido, do caos e da nos seus princípios e em todo o conjunto clc suts instituições, paÍece,
dissolução; e, de resto, para interessar os cletentores das tradições portanto a condição fundamental dâ tlansÍi)rlllnçilo cla qtttl ircabamos
orientais no destino do Ocidente, seria essencial mostlar-lhes que, se suas de falar, ou antes, como que idêntica lt cssa lll!:§lllil lrilll s linlllação, que
apreciações mais severas nao são injustas em relálção ã intelectual idade se cumpriria desde que tal retolllo li)ssc Plcllilrllclltl clctttado, e em
ocidental tomada no seu conjunto, pode haver ainda honráveis condições que petmitiriam âté prescrvzu- o t;Lrc rr civilizitçittt ocidental
exceçÕes, indicando que a decadência dessa intelectualidade não é atual pode contel'de veldadeifttrnente vall(tlios() srll.t ltlgttns ilsPectos.
absolutamente inemediável. Dissemos que a realização da segunda contanto somente que as coisits tralo letornitssclll illó o In)nto ilntcÍio[ em
hipótese não seria isenta, trânsitoriamente pelo menos, de alguns que uma renúncia total sc intporia. Esse rctoltlo rr t[Lrtliçiro sc aprcsenta
aspectos discrepantes, desde que o papel da elite se reduziria a servir então como a mais csscttcial llnalidade tlcntrc rulttclits tluc a elite
de ponto de apoio a uma ação da qual o Ocidente não teria a iniciativa; intelectual deveria dctenttinilr colllo sua rtlivitlitrlcl rr tlilictrldade
mas tal papel seria outro se os acontecimentos the dessem tempo para consiste em realizal inlcgrulmente tudo o (lLlü o Íeloll)o itttlllica nirs
exercer uma tal ação diretamente e por si mesma, o que corresponderia várias ordens. e trmt.rúrtt tlclinir exâtamente suas ttxrtla litlittlcs.
ã possibilidade da terceira hipótese. Com efeito, pode-se conceber que
a elite intelectllal, uma vez cotrstituída, agiria à maneira de um Ditcnros srttt:ctrlc rluc a Idade Mótlia scrve como exemplo de
"fermento" no nrundo ocidental, para pl€parar a ttansformação que, um desenvolvinrento tlarliciottal propriamentc ocidental; seria em suma
tornando-se ef'ctiva, lhe permitira trâtar, senão de igual para igual, pelo o caso de não c0piar ()u tcconstilttit' pura e simplesmente o que então
menos como uma potência autônoma, com os representantes autorizados existiu, mas de sc inspintl pinr il lditptação exigida pelas circunstâncias.
das civilizaçÕes orientais. Se há uma "tradiçiio ocitlcttt:t1". ó lá que ela se encontra, e não nas
fantasias dos ocultistls er tlos pseudo-esoteristas; essa tradição era
Neste caso, a transformação teria uma aparência de então concebida enr nrod() rcligioso, mas nâo percebentos como o
espontaneidade, e poderia se dar sem choques na medida em que a elite Ocidente seria capaz dc conccbê-la de outro modo, hoie rnenos do que
adquirisse a tempo uma influência suficiente para dirigir realmente a nunca; bastaria que tlgutnas pcssotls tivessem consciência da unidade
rnentalidade geral: a1iás, o apoio dos Orientais não lhes faria falta nessa essencial de todas as doutlinits tradicionais no seu princípio, tal como
tarefa, porque estes sempre serão favoráveis, como é nahlral, a uma deve ter ocorrido tambétn rraquela época, já que hí ntLritos indícios que
aproximação em tais bases, na medida em que teriam igualmente um sugerem isso, na Íaltâ de provas tangíveis e escfitas cujit ar'rsência é bem
intercsse nisso, o qual, por ser de uma ordem bem diferente daquela natural, a despeito do "método histórico" do qual essas coisas nào
os Ocidentais encontraÍiam, não seria de modo algum paÍicipam em nenhum nível. Na medida em que a trasião permitiu no
I
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deconer de nossa exposição, indicamos as caracteústicas principais as possibilidades que comporta sejartr v,'tIrrI irrrrrrenlc iIirnitadas, tal
da civilização cla ldade Média, enquanto esta apresenta analogias muito como explicamos ao caracterizar o pcnsiur('rl(,. rrrclalísico. E de meta-
reais, se bem que incompletas, com as civiLizações orientais, mas não física que se trata essencialmente, gris rlrre sri isso lxrde ser chamado
pr'ópria c pln'ame te intelectuall e isso ros lcvir a precisar que, pam a
voltaremos mais a isso; tudo o que queremos dizer agora é que o
Ocidente, de posse da tradição mais apropriada às suas condições elite de que liüanros, a trâdição. na sut cssôncia plofunda, não tem de
paticulares, e, aliás, suficiente para a generalidade dos indivíduos, seria ser concebida sob o modo especificlnrcntc rcligioso. que, aÍinal, só é
ou menos penoso a outras un.tzt questão cle atliLptação irs conclições tla ntcntalidade geral e mediana.
assim dispensado de se adaptar de modo mais
formas iradicionais que não foram feitas para esta pane da Por outro h(k). csta clilc. lnrtes mcsnro dc realizar uma modificação
hunanicltde; pode-se perceber o quanto essa vantagem seria apreciável na orienlação do pensa nrcnto conlun, poderia já. por sua
rnfluência, obter na ordem tlas contingôncias zügumas vantagens muito
apreciírvcl.
impofiaÍrtes, como fàzer desaparecer as dificuldades e os mal-
No início, o tlabalho a realizar deveria se ater ao ponto de visla entendidos que de olltro modo sâo inevitávcis nas relações com os
pur n'rcnte intelechral, que é o. mais essencial de todos, porque é o povos orientais; mas, repetimo-lo. cstls sio conseqüências
pont., de vista dos princípios, clo qual tocb o resto depende; é evidente secundárias da realização primordialnrentc inrlir;tnsiivel, e isto, que
que as conseqüências se expancliriam enl segt'tida, de modo mais ou condiciona todo o resto e em si mesmo não é cotulir'ioniukt prtl natla, é de
uma ordem totalmente interior. O que clevc tlcst'rrrpt'rrlrrr o primciro
menos rápido, a todos os outros donlínios, por uma repercussão bem
papel é, assim, a compreensão das questões (lc plirreÍpios errjir vc«latlcira
natural; modificar â mentalidade de un meio é o único modo de
provocar, nem que seja socialmente. ulla mudança ptotirnda e durável, e natureza tentamos expliciu aqui, e esta cott)l)recnsilo irrrpliciL, no
qr"r". pelas conseqiiêr)cias. é um método emirentemente fundo, a assimilação ckrs modos essenciais tkr pensarrcnto oricntal;
"ntn"ç,o. aliás, quanto mais se pensa cnr modos difer:ntcs. t' soluclrrtlo scm que.
iiógico, cligno apenas da agitação inlpaciente e esléril dos Ocidentais
utuuit. Aliá., o ponto de vista inlclectual é o único qne pode ser de um lado, se terha consciência da diÍ'crcnçir, rrcrhunrir irliança é
evidentemente possívcl. cxatamente como sc se l;rlrrsse (lilcÍcntes
abordado de modo irnediato, visto qrte a universalidade dos princípios
línguas, um dos inlcllocut(n'cs ignorando a língtrir tlr orrllo. lris por quc
os toma assimiláveis a qualquer hotllenl. de não importa qual raÇa, com a
os trabalhos dos oricnlirlistirs não podem servir'1)iuir o (lu(' sc trirtir. (pliuldo
Linica condição de uma capaciclatlc de compreensão suficiente; pode
já não constituenr urrr obstriculo pelas razões clatlirs; cis lxrl t;Lrc tanrbénr,
parecer singular que o que é m is litcilmente captável numa tradição
tendo julgado útil cscrcvcl tais coisas, nos prolx)ntos, além disso, a
ieja precisamente o que ela ten dc mais elevado, no entânto isto se
compieenrJc' scnr dificuldade, j/r qLre se tmta de algo que está livre de
definir e desenvolvcr ec os pontos denúo dc uma série de estudos
metaÍísicos, seja cxporrtlo (lirctarnente alguns aspectos das doutrinas
todai as contingôncias. Isto tllrbém explica o tào de as ciências
orientais, as da índir errr paÍicular, seja adaptando essas mesmas
tratiicionais secundltrias. que Íl,lo são mais do que aplicações
contingentes, não serem, sob sua lbrma oriental, inteimmente doutrinas da maneila (lLrc nos peLrece mais inteligível, quando
considerzLremos umir tal ldrptução preferível à exposição pura e
assimiláveis aos Ocitlentais: qlrânto a constituir ou festituir o seu
equivalente num modo que convenha à mentalidade ocidental, esta é simples; em todo clso. o (luc apresentaremos assinr scr'ír sempre no
uma tarefa cuja reâlização só pode parecer uma possibilidade bastante
espírito, senão na letftr. urnx intcryletação tão escru pu lostmente exala
e fiel quanto possível tlas (l()Lrtrinas tradicionâis, e o c;tte colocaremos
rcmota e cuja impoúância aliás, se bem que ainda considerável, em suma
de nossa autoria serão soblcludo as imperfeições tirtais da cxprcssão.
é apenas acessória.

Para que se comprcendesse a necessidade tle Lrrnl aproximação


Se nos limitamos a encarar o ponto de vista intelectual, é
ponltrc clc é, de todos os modos existentes, o primeiro que merece ser com o Oriente, ativemo-nos, à parte a questão do hcnefício intelectual
que seria o seu resultado inrediâto, a um ponto rle vista que é ainda
lorrsirlclluloi mas lembramos que é preciso entendêJo de tal modo que
.l i L
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bastante contingente, ou que pelo menos parcce sê-lo quando nào se plesscn(i(k) l)clo polrco quc (lisst.llx'\ ,r rr",lx ll,r rl,t tt'rtlizltçlirt
liga a certas considerações distant€s que não nos era possível abordaÍ, e que met lÍsicit, nlirs lro nlcsnlo tcrtlltrt, ittrltr rllr.ri,,r', rirlor", lx lil\ (lttitis llii()
se fixam, sobreludo, ao sentido pl olundo dessas leis cíclicas cuja po(líanlos ittsislit rtutis niss(). sohl('ltllo lrrrrr i \lxr'.t\itr,lrtllitttittlttcottto
existência nos limitamos a mencionar; isto não impede que esse ponto de csta; titlv('/ vollt'rtrrs ir isso cttl (|ltttrt ln lr',lilit. llr,l', r' lrlcr i\() scl)lpre
vista, tal como expusemos, nos pareça muito apropriado a reter a
o lentl-rnrr r;rrr'. sr'l'rrrrrlrr urllr liilrlttlit crltr'tttrr r t ' t t l , ' r t I t1t tc sithc' dez
r ir t l r r t
l
r t

atenção das pessoas sérias e a fazê-las refletir, com a única condiçáo sri tlcvr,' ctnillrr nr)\/c, I)(' tlrrirk;ttlt tl,rrlrr. lr(lrr o (llrc ;rocle ser
de que não estejam inteiramente ofuscâdas pelos preconceitos comuns dcsclvolvirhr sr.lt t(.\r.tvit\, islrr ti, lttrltr o r1ttt. lxrrI sr't cr;ttitttitkt ckt Iado
do Ocidente modemo. llUril tf l('lr'orrr'rr rlrr lt|lrllst(it (. ittttrlrr tttitt', rltlt sttlicicntc para que,
iL(lUClcs (lUC ll(t,,t,irlll r rrtttIrtl.r'ttrh' lo. tttr",ttlü ttlto ittllo alénl disso, as
Esses prcconceitos atingemo mais alto grau entre os povos csl)cc U lit{( ,('§ rtttrtllltr rt" r' Itit1,1t 11 II1III1,'. rhr ()r trlt ttlt ttltltlcrno pareçam
germânicos c nglo-saxões, que são assim os mais afastados dos tais corrro srtrr rtrr tr'rrIt,IrrrI, , r',lo i', ( ulrr rttnrt pcstlttisit irtútil e ilusória,
ôrientris, nrâis mental do que fisicamentel como os Eslavos não têm scln l)Iirt(lIro r' ',r'ttt Ittt,tItrItrIr'. r' rrrlrr', tt'sttlliulos tttctlírcrcs nno
mais do que uma intelectualidade rcduzida de qualquer modo ao CoI)l)c sllI Ir'rr lr'llllrrt ttl.ttl ', r",l l\rr,' rI rtll'ttItlt (lll('lCnlla un-]
mínimo, e como o Celtismo quase que só existe no estado de lembrança hor'izottl(. tlr'lr'rlllrrl ',llllr ' I ' I I ' I I ' \rl .l Iillrl ttlr litttilltt il islo stlrl
I r I I ( I r I I

histórica, só restam os povos chamados latitlos' que, com efeito, o sào rulivitlru['
pelas línguas que falam e pelas modalidades específicas de sua
iivilizaçao, senão por suas origens étnicas, nos quais a realização de
um plano como o que acabamos de indicar poderia, com algumas
chances de sucesso, tomar seu ponto de paftida. Esse plano comporla em
suma duas Íàses principais, que sio â constituição da elite intelectual e
sua ação sobre o meio ocidental; nlas' sobre os meios tanto de uma como
de outreL náo se pode dizer nadâ iltualnlente, porque seria prematÚo sob
todos os aspectos; só queÍemos consiclerar, repetimo-lo, possibiLdades
sem dúrvida muito remotas, mas que não deiKam de ser possibilidades' o
que é súiciente paÍa que se deva encâÍá-lâs.

Entle ils coisas que preccdern, há algumas que talvez tivés-


semos hesiliLtkr en] cscrcver antes dos últimos acontecimentos' que
pârecem ter aproxintaclo um tanto essas possibilidades, ou que, pelo
menos, podem permitir compreendêlas melhor; sem atribuir uma
importância excessiva às contingências históricas, que em nada afetam a
realidade, não se deve esquecer que há uma questão de opoÍunidade que
deve muitas vezes interuir na formulação exterior dessa verdade.

Faltam ainda muitas coisas paÍa que esta conclusão seja


completa, e essas coisas são aquelas mesmas que concernem os aspectos
nrais protundos, portanto os mais verdadeiramente essenciais das
rkrutrirus orientais e dos resultados que se pode esperar de seu estudo
iulrrcles cupazes de levá-las adiante; nuna certa medida, isto pode ser

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