Hiper Realismo
Hiper Realismo
Hiper Realismo
HIPER-REALISMO: ASPECTOS
TEÓRICOS E PRINCIPAIS TÉCNICAS
HIPER-REALISMO: ASPECTOS
TEÓRICOS E PRINCIPAIS TÉCNICAS
Bauru
2022
Rodrigues, Isabela Doná
R696h Hiper-realismo: Aspectos teóricos e principais técnicas /
Isabela Doná Rodrigues. -- Bauru, 2022
142 p. : tabs., fotos
BANCA EXAMINADORA:
____________________________________________
Profa. Dra. Joedy Luciana Barros Marins Bamonte (Orientadora)
Faculdade de Arquitetura, Artes, Comunicação e Design (FAAC/UNESP)
____________________________________________
Prof. Dr. José Marcos Romão da Silva
Faculdade de Arquitetura, Artes, Comunicação e Design (FAAC/UNESP)
____________________________________________
Profa. Dra. Marta Luiza Strambi
Instituto de Artes Departamento de Multimeios, Mídia e Comunicação (IA/UNICAMP)
Dedico este trabalho ao meu querido avô
José Rodrigues (in memoriam), cuja
presença foi fundamental na minha vida.
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais, Eric e Eliane, por sempre me apoiarem ao longo da minha trajetória e
acreditarem em mim, sem vocês nada disso seria possível. Agradeço por não medirem
esforços para que eu possa realizar meus sonhos.
Aos meus queridos avós, que mesmo muitos quilômetros distantes, me incentivaram
durante esses anos de graduação e compreenderem a minha ausência enquanto me
dedicava a este trabalho.
À Professora Dra. Joedy pela orientação, compreensão e apoio não só durante o
desenvolvimento desta pesquisa, mas no decorrer de toda a minha graduação.
Ao meu primeiro professor de desenho por me apresentar ao incrível mundo das artes.
Aos meus amigos meus sinceros agradecimentos, em especial a Julia e Thaís por me
acompanharem nestes 4 anos de graduação, o apoio de vocês foi essencial.
À Maithê pela amizade de longa data e por compartilhar as aflições e felicidades da
vida comigo.
À Letícia, obrigada por toda sua gentileza, por estar comigo todos os dias me
incentivando e fazendo com que esse sonho se tornasse realidade.
À Luna por sempre me fazer companhia até tarde enquanto desenhava e redigia este
trabalho.
E a todos que direta ou indiretamente contribuíram para a realização deste trabalho.
RESUMO
INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 12
CAPÍTULO 1 ............................................................................................................. 16
1.1 Aspectos sócio-históricos e culturais do hiper-realismo ................................... 16
1.2 Gênese do realismo ......................................................................................... 19
1.3 “Rompimento” com a representação realista.................................................... 26
1.4 O fotorrealismo como suporte para o hiper-realismo ....................................... 27
CAPÍTULO 2 ............................................................................................................. 33
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 51
APÊNDICES.............................................................................................................. 55
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Paul Cadden, in Passing, lápis sobre papel, 54x36cm, sem data. Fonte:
Galeria Plus One Gallery. Disponível em: https://www.plusonegallery.com/artists/77-
paul-cadden/works/2206/. Acesso em: 16 ago. 2022.................................................19
Figura 2 - Chuck Close, Big Self-Potrait, acrílica em tela, 270x210cm, 1967–1968.
Fonte: Galeria Plus One Gallery. Disponível em:
https://www.plusonegallery.com/artists/77-paul-cadden/works/2206/. Acesso em: 16
ago. 2022....................................................................................................................19
Figura 3 - Adriana Varejão, Azulejaria “De tapete” em carne viva, óleo sobre tela e
poliuretano em alumínio e suporte de madeira, 149,90 × 200,70 × 24,90 cm, 1999.
Fonte: Lehmann Maupin (2022). Disponível em:
<https://anualdesign.com.br/blog/5180/o-novo-trabalho-de-adriana-varejao/>. Acesso
em: 15 ago. 2022........................................................................................................20
Figura 4 - Edgar Degas, Bailarina arrumando sua sapatilha, grafite em papel, 53.3 ×
40.6 cm, 1873. Fonte: Metropolitan Museum (2022). Disponível em:
<https://www.metmuseum.org/art/collection/search/333942/>. Acesso em: 15 ago.
2022............................................................................................................................22
Figura 5 - Uma das primeiras ilustrações da câmara escura. Johann Zahn, 1685.
Fonte: The Public Domain Review (2017)..…………………………….………………..23
Figura 6 - Método de ampliação por grade de Albert Dürer. Fonte: The Public Domain
Review
(2017)………………………………………………………………………..…………..…..24
Figura 7 - Jan Van Eyck, O casal Arnolfini, óleo sobre tela, 82 cm x 60 cm, 1434.
Fonte: National Gallery (2022). Disponível em:
<https://www.nationalgallery.org.uk/search?area=&q=casal+arnolfini>/. Acesso em:
15 ago. 2022...............................................................................................................25
Figura 8 - Representação visual de como seria o cômodo utilizado por Vermeer.
Fonte: Steadman (2001).............................................................................................26
Figura 9 - Johannes Vermeer. A Arte da Pintura, óleo sobre tela, 130 x 110 cm, 1666-
73. Kunsthistorisches Museum, Viena. Fonte: Web Gallery of Art
(1996).........................................................................................................................26
Figura 10 - Johannes Vermeer. O Concerto, óleo sobre tela, 69 x 63 cm, 1665-66.
Isabella Stewart Gardner Museum, Boston. Fonte: Web Gallery of Art
(1996).........................................................................................................................26
Figura 11 - Johannes Vermeer. A Carta de Amor, óleo sobre tela, 44 x 38,5 cm, 1667-
68. Rijksmuseum, Amsterdam. Fonte: Web Gallery of Art
(1996).........................................................................................................................27
Figura 12 - Johannes Vermeer. Senhora Escrevendo uma Carta e sua Criada, óleo
sobre tela, 71 x 59 cm, 1670. National Gallery of Ireland, Dublin. Fonte: Web Gallery
of Art
(1996)…………………………………………………………………....…..……...……....28
Figura 13 - Gustave Courbet. Château du Chillon, óleo sobre tela, 86 x 100 cm, 1874.
Musée Gustave Courbet, Ornans. Fonte: Warburg UNICAMP (2022). Disponível em:
<http://warburg.chaa-unicamp.com.br/>. Acesso em: 20 abr.
2022.……………………………………………………...................……………………...29
Figura 14 - Adolphe Braun. Château du Chillon, fotografia em albumina, 36,8 x 42,7
cm, 1863. Museum of fine arts, Boston. Fonte: Warburg UNICAMP (2022). Disponível
em: <http://warburg.chaa-unicamp.com.br/>. Acesso em: 20 abr.
2022.……………………………………………………………….…………………..…….30
Figura 15 - Pablo Picasso, Les demoiselles d’Avignon, óleo sobre lona, 243.90 ×
233.70 cm, 1907. Fonte: Museum of modern art (2022). Disponível em:
<https://www.moma.org/collection/works/79766?sov_referrer=theme&theme_id=5135
?/>. Acesso em: 15 ago. 2022....................................................................................31
Figura 16 - Don Eddy. Private Parking V, acrílico sobre tela, 121,9 x 167,6 cm, 1971.
Oklahoma City Museum of Art. Fonte: Art and Culture (2022). Disponível em:
<https://artsandculture.google.com/entity/don-eddy/m0b4l3v>. Acesso em 30 abr.
2022.…………………………………........................….…………………………………32
Figura 17 - Isabela Doná, Obra 0 – O Tênis, lápis de cor sobre papel, 76 x 56cm,
2020. Fonte: Elaborado pela autora (2020)................................................................33
Figura 18 - Fábio Magalhães. Sem Título (Série Retratos Íntimos), óleo sobre tela ,150
x 150 cm, 2013. Coleção Particular. Fonte: Magalhães (2013). Disponível em:
<https://fabiomagalhaes.com.br/>. Acesso em: 01 mai. 2022.
....................................................................................................................................35
Figura 19 - Luiz Escañuela. Chagas, óleo sobre tela, 25 x 25cm, 2020. Luis Maluf.
Fonte: Luis Maluf (2022). Disponível em: <https://luismaluf.com/passadas/nao-se-
esqueca-do-que-e-epico/>. Acesso em 01 abr.
2022.……………………..………………………………......………..............………..….35
Figura 20 - Marta Penter. Blue train reflection, óleo sobre linho, 190 x 250 cm, 2020.
Fonte: Marta Penter (2020). Disponível em: < https://www.martapenter.com.br>.
Acesso em: 02 abr.
2022.…...………………………........……………………...............................………….36
Figura 21 - Eduardo Kobra. Etnias, tinta de parede, 3.000m², 2016. Fonte: Julia
Pimentel (2016).……………………………………………………………………….……36
Figura 22 - Estruturação da obra de Oliver Sin. Fonte: Sin
(2019).…………………….............................................................……………………..39
Figura 23 - Isabela Doná. Dalí 1, grafite sobre papel, 2015. Fonte: Elaborado pela
autora (2015).……………………………………...........................…………………...…42
Figura 24 - Isabela Doná. Dalí 2, grafite sobre papel, 2018. Fonte: Elaborado pela
autora (2018).…………………………………………...........................…………...……42
Figura 25 - Linha do tempo desenvolvida. Fonte: Elaborado pela autora
(2022).........................................................................................................................44
Figura 26 - Etapa 1 – Xícara. Fonte: Elaborado pela autora
(2022).…………………………………..................................……………………………46
Figura 27 - Processo de documentação. Fonte: Elaborado pela autora
(2022)……………………......................................................…………………………..47
Figura 28 - Processo de retoque na foto original. Fonte: Elaborado pela autora
(2022)…………....................................................................……………………….…..47
Figura 29 - Métodos de passagens. Fonte: Elaborado pela autora
(2022)……………………………………………….............................................……….48
Figura 30 - Processo do desenho do olho. Fonte: Elaborado pela autora
(2022)………………..........................................................……………………………..49
Figura 31 - Colocando marcadores nos desenhos… Elaborado pela autora
(2022)……………………...………......................................................................…….50
Figura 32 - Oficina de desenho ministrada. Fonte: Elaborado pela autora
(2022)………………………………….......................................................…………….51
INTRODUÇÃO
13
Ao acessar o portal de periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de
Pessoal de Nível Superior (CAPES) e pesquisar a palavra-chave “hiper-realismo”, o
resultado obtido foi de 19 artigos, sendo 4 em inglês e 14 sem correlação com a
proposta do projeto. Como resultado, 1 artigo aborda aspectos teóricos do hiper-
realismo: Fabris (2015). Na base de dados da Fundação de Amparo à Pesquisa de
São Paulo (FAPESP) identificou-se quatro artigos, sendo que apenas um que se
encaixa neste projeto: Guelfi (2001). Dentre as referências bibliográficas encontradas
nos portais e bases de dados da CAPES e FAPESP nenhuma faz menção às
metodologias para a técnica hiper-realista.
Na biblioteca eletrônica da Scientific Eletronic Library Online (SciELO), na base
de dados Scopus e na Biblioteca Digital de Teses e Dissertações (BDTD) também não
foram encontrados artigos, monografia, dissertações ou teses utilizando a palavra-
chave hiper-realismo.
Paralelamente ao realizar um levantamento bibliográfico em outros meios de
pesquisa acadêmica, como o Google Acadêmico, obteve-se três resultados: Malpas
(2000), Pessoa (2019) e Dantas (2015) que explanam sobre os aspectos teóricos do
hiper-realismo. Em inglês destacam-se os aspectos teóricos de Chase (1975) e Close
(2014) e Lambert (1981), e práticos de Sin (2019). O livro autobiográfico de Close
expõe o processo criativo e as origens do artista de forma a compreendermos as
técnicas a partir de aspectos históricos, em complemento Sin apresenta técnicas
didáticas para o estudo do desenho, sendo primordial como referencial e Malpas
explicita um panorama do movimento realista, desde seus primórdios até 1987.
Lambert (1981) estabelece um vínculo pertinente sobre a evolução da arte, passando
por artistas como Salvador Dalí até chegar ao movimento fotorrealista, com Don Eddy
e ao realismo social. Enquanto Chase (1975) retrata em seu livro um recorte pertinente
do hiper-realismo desenvolvido principalmente a partir da pop art americana, a obra
tem como singular, a introdução e correção feita por Salvador Dalí, que usava a
técnica realista em suas obras. Em espanhol, a tese “O paradigma do hiper-realismo"
aborda questões conceituais, filosóficas e produções das pinturas hiper-realistas,
sendo de suma importância visto que apresenta e contextualiza a escassez de
referencial para o estudo do hiper-realismo.
Como materiais complementares, foram utilizados Barthes (1984), Benjamin
(2012), Bernardes (2007), Fabris (2004), Steadman (2001). Barthes em “A Câmera
14
escura” cria uma conversa casual em primeira pessoa sobre os efeitos e essência da
fotografia no espectador; enquanto Benjamin disserta sobre a mecanização extinguir
com o que ele denomina de “aura” da obra de arte; Annateresa Fabris, referência
brasileira nos estudos acerca do hiper-realismo, analisa as técnicas de fotografia
criadas no século XIX.
Desta forma, observa-se a necessidade de um material com fins didáticos para
o estudo do hiper-realismo que seja acessível ao público em geral, promovendo uma
democratização do acesso à informação. Ademais, vale ressaltar o aspecto relativo à
formação pessoal, em um Trabalho de Conclusão de Curso de Bacharelado em Artes
Visuais, onde encontro-me em um momento oportuno de aproximar a teoria da prática,
considerando a minha familiaridade com o tema escolhido.
Os objetivos do presente estudo foram identificar metodologias como objetos
facilitadores no ensino do gênero hiper-realista, a fim de desenvolver um livro que
abrange desde os aspectos teóricos a técnicas efetivas; mapear referencial
bibliográfico nas línguas portuguesa, inglesa e espanhola; investigar metodologias
efetivas para o ensino da técnica hiper-realista; desenvolver, a partir dos resultados
do projeto de conclusão de curso e experiências próprias, um livro com ilustração
prático e teórico que auxilie no ensino de hiper-realismo.
Seguindo as instâncias metodológicas para pesquisa no campo das artes
visuais, este projeto classifica-se como de natureza exploratória quanto a seus
objetivos. A pesquisa exploratória, conforme discorrido por Martelli et al. (2020), pode
ser definida como uma metodologia que permite ao pesquisador, encontrar a solução
de problemas sobre temas que ainda são pouco conhecidos ou pouco explorados,
podendo ainda utilizar-se da união de outros tipos de metodologias. Pode-se dizer
assim que estas pesquisas têm como objetivo principal o aprimoramento de ideias ou
a descoberta (GIL, 2002).
Para Pimentel (2015), a pesquisa em arte e sobre arte pode ser definida como:
De acordo com Pereira et al. (2018), com o objetivo definido, pode-se buscar
subsídios na literatura: encontrar estudos semelhantes ou mesmo diferentes, mas
centrados na temática em estudo e que possam complementar o saber necessário
para a realização do estudo de caso. Foram pesquisados artigos, livros, dissertações
e teses em diversos idiomas que abordassem os aspectos históricos, culturais e
sociais do hiper-realismo e diferentes tipos de técnicas.
Salles (2008) enfatiza a ideia de criação artística como redes em construção,
cuja densidade está estreitamente ligada à multiplicidade das relações que a mantém.
A rede ganha complexidade à medida que novas relações são estabelecidas
(SALLES, 2008). Deste modo, as diferentes teorias vão lançar luzes sobre o objeto e
construção de uma percepção sobre o olhar processual como objeto de pesquisa.
Posteriormente, desenvolveu-se os trabalhos artísticos, fotografias e a
produção. A aplicação dos parâmetros sistêmicos no campo das Artes, pode ser
desenvolvida ao longo do processo de criação e depois, para avaliação e refinamento
da obra “já pronta” (VIEIRA, 2013).
Dessa forma, a construção deste trabalho ficou dividida em quatro capítulos. O
primeiro apresentará uma revisão bibliográfica acerca do hiper-realismo, partindo do
realismo e como as técnicas desenvolvidas no decorrer dos séculos como, por
exemplo, a câmara escura e a câmera fotográfica; o “rompimento” com o realismo no
século XX, o fotorrealismo e o hiper-realismo na atualidade, partindo da discussão de
técnicas. O segundo capítulo abordará a metodologia utilizada para o livro com
ilustrações. O terceiro capítulo descreve todo o processo de criação e
desenvolvimento dos exercícios, técnicas e desenhos.
16
CAPÍTULO 1
17
ver com alto grau de detalhamento e diferenciação. Analisando a etimologia da
palavra, segundo Bernardes (2007) o prefixo “hiper” é:
18
Figura 1 - Paul Cadden, in Passing, lápis sobre papel, 54x36cm, sem data.
19
separavam da reprodução quase perfeita da natureza, e consequentemente, da figura
humana (BERNARDES, 2007).
Robert Longo (1953-atual) se baseia nas fotografias de protestos e do
fotojornalismo para trazer ao circuito artístico discussões pertinentes, como a violência
policial e a situação dos refugiados, utilizando os desenhos com carvão e lápis como
uma plataforma para críticas sociais.
No contexto brasileiro, Adriana Varejão (1964-atual) ampara-se no hiper-
realismo demonstrando o domínio das técnicas manuais e em suas obras, tanto
esculturas, pinturas e desenhos que explicitam poéticas precisamente fundamentadas
ao fazer críticas sociais ao mesmo tempo que impressiona os espectadores com a
técnica. Na exposição “Suturas, fissuras e ruínas”, Varejão evidencia em suas obras
a contradição entre uma superfície sólida e fria em contradição ao macio e quente da
carne – ao abrir fissuras em suas telas, a artista possibilita diversas leituras como a
herança colonial, história visual e exploração – ou, ainda, sobre racionalidade e
erotismo, conforme demonstra a figura 4.
Figura 3 - Adriana Varejão, Azulejaria “De tapete” em carne viva, óleo sobre tela e
poliuretano em alumínio e suporte de madeira, 149,90 × 200,70 × 24,90 cm, 1999.
20
Ambos os artistas rompem com a visão “tradicional” de que a arte não teria
finalidade fora a apreciação, como discorrido por Wilde (1890) “o único propósito para
se criar algo inútil é que seja apreciado, por que se for útil não deve ser admirado,
concluindo que toda arte é em parte inútil”.
Para Hegel (1997), divergindo da estética kantiana, o momento central da
estética do belo é a ideia, cabendo ao elemento sensível ser apenas um meio – aliás
inadequado, no qual a verdade se torna perceptível. Dentro da filosofia do espírito do
autor, é defendida a ideia de que o belo artístico é superior ao belo natural e para o
mesmo o sentimento de beleza parte da essência do ser humano e não de algo fora.
Em seu conceito, o belo também é a harmonia perfeita entre forma e conteúdo,
convertendo seu primórdio plástico de beleza ideal para o princípio ativo e reflexivo do
autoconsciente. Na arte, segundo Hegel, pode ser identificada a superioridade de
espírito, o ideal é o produto do trabalho humano pelo argumento de que a natureza
não possui uma forma ideal por não ter sido moldada.
Da arte medieval ao renascimento e barroco, o desenho era considerado
apenas um estudo ou esboço. Artistas como Dürer (1471-1528), Da Vinci (1452-1519),
Michelangelo (1475-1564) e Raffaello (1483-1520) não davam por terminadas obras
feitas em ponta seca ou carvão. Exemplificando, os retratos e desenhos de animais
feitos por Dürer atualmente são considerados como obras finalizadas, mas na época
do artista tidos apenas como estudos; outrora Da Vinci registrava diversos desenhos
em seus Codex apenas como um processo para a pintura e escultura. Conforme
discorrido por Ramos (2006), o desenho estava subordinado ao fazer da pintura como
projeto e, portanto, sua apreciação voltava-se unicamente a verificar o grau de técnica
do artista.
Paralelamente, adentrando às vanguardas modernas a concepção de desenho
como estudo foi desmistificada, trazendo obras como de Degas (1834-1917) e
Gauguin (1848-1903) vistas como obras finalizadas, sem a necessidade de se tornar
algo a mais que o desenho em papel com grafite ou carvão.
21
Figura 4 – Edgar Degas, Bailarina arrumando sua sapatilha, grafite em papel, 53.3 × 40.6 cm,
1873.
22
1.1 A gênese do realismo
Figura 5 - Uma das primeiras ilustrações da câmara escura. Johann Zahn, 1685.
23
Figura 6 - Método de ampliação por grade de Albert Dürer.
Adentrando ao realismo nos países baixos, Vasari (2020) afirma que Jan Van
Eyck (1390-1441) foi o inventor da tinta a óleo, o qual teria possibilitado ao artista
elevar suas pinturas a outros patamares através da criação de camadas e detalhes
quase imperceptíveis.
Van Eyck obteve sucesso ao reproduzir cenas como “O casal Arnolfini”, como
discorrido por Letts:
24
Figura 7 - Jan Van Eyck, O casal Arnolfini, óleo sobre tela, 82 cm x 60 cm, 1434.
25
Figura 8 - Representação visual de como seria o cômodo utilizado por Vermeer.
Figura 9 - Johannes Vermeer. A Arte da Pintura, óleo sobre tela, 130 x 110 cm, 1666-73.
Kunsthistorisches Museum, Viena.
Figura 11 - Johannes Vermeer. A Carta de Amor, óleo sobre tela, 44 x 38,5 cm, 1667-68.
Rijksmuseum, Amsterdam.
27
Figura 12 - Johannes Vermeer. Senhora Escrevendo uma Carta e sua Criada, óleo sobre tela, 71
x 59 cm, 1670. National Gallery of Ireland, Dublin.
Figura 13 - Gustave Courbet. Château du Chillon, óleo sobre tela, 86 x 100 cm, 1874.
Musée Gustave Courbet, Ornans.
Figura 15 – Pablo Picasso, Les demoiselles d’Avignon, óleo sobre lona, 243.90 × 233.70 cm,
1907.
31
1.3 O fotorrealismo como suporte para o hiper-realismo
Os fotorrealistas surgidos nos anos 1970 como Richard Estes (1932-atual) e
Don Eddy (1944-atual) ao utilizarem da fotografia como base para suas pinturas,
esquivavam-se do enquadramento mais formal, utilizando a linha do horizonte,
centralizando o objeto ou fazendo o uso da regra dos terços; diferenciando-os do
modo de enquadramento de Caravaggio ou Van Eyck, por exemplo, com o
personagem de destaque no centro e com a iluminação quase sempre em cenas
montadas.
Figura 16 - Don Eddy. Private Parking V, acrílico sobre tela, 121,9 x 167,6 cm, 1971.
Oklahoma City Museum of Art.
32
Desta forma, buscando obter uma imagem para além daquela captada pela
máquina fotográfica, o hiper-realismo demonstra ideais e críticas à vida cotidiana
fazendo da mesma o seu mote. Os pioneiros do hiper-realismo acreditavam que cabia
à arte o registro da ordem e das formas existentes no mundo no lugar da expressão
de sentimentos ou emoções internas. Para isso, os artistas representavam o real, mas
eliminavam o caos (MALPAS, 2000).
Há uma veracidade no uso da técnica hiper-realista, resgatando nos seus
primórdios o fotorrealismo, quando analisados podemos notar um certo nível de cópia
da referência fotográfica não aplicada em sua totalidade. Ocorre um descarte do
significado original da fotografia quando esta passa pelo processo manual plástico de
ser desenhada, criando um sentido a ela. Assim, nota-se que pelo apoderamento das
imagens originais o hiper-realismo as ressignifica em sua efetivação plástica.
Figura 17 - Isabela Doná, Obra 0 – O Tênis, lápis de cor sobre papel, 76 x 56cm, 2020.
Figura 18 - Fábio Magalhães. Sem Título (Série Retratos Íntimos), óleo sobre tela ,150 x 150 cm,
2013. Coleção Particular.
Figura 19 - Luiz Escañuela. Chagas, óleo sobre tela, 25 x 25cm, 2020. Luis Maluf.
35
Fonte: Luis Maluf (2022). Disponível em:
<https://luismaluf.com/passadas/nao-se-esqueca-do-que-e-epico/>. Acesso em 01 abr. 2022.
Figura 20 - Marta Penter. Blue train reflection, óleo sobre linho, 190 x 250 cm, 2020.
36
Fonte: Julia Pimentel (2016).
37
CAPÍTULO 2
38
Sua estrutura é minimalista e objetiva, deixando claro em imagens os materiais
utilizados, os métodos ensinados e exercícios.
40
2.2 Referências para a técnica do “passo a passo”
Martin (2014) discorre sobre a importância do domínio da técnica, que pode ser
atingida a partir da construção de experiências. Amparado nas referências
bibliográficas e em vivências construídas ao longo dos anos dedicados ao estudo do
desenho, o livro com ilustrações foi progressivamente construído.
Há 10 anos, ao começar a desenhar, minha maior dificuldade encontrada era
“isolar” na mente que a fotografia utilizada como referência era apenas uma junção de
linhas, pontos e degradês e que, ao seguir à risca linha por linha, este se tornaria
quase perfeito como a foto.
Com exercícios diários de degradê e linha progressivamente construí uma
memória de longo prazo e familiaridade com os padrões e materiais. Para uma técnica
cada vez mais refinada, o método empírico de testar diferentes materiais e modos de
execução, anotando os resultados, pode servir como um guia para futuros desenhos,
visto que seria documentado qual técnica é mais adequada para a execução de cada
obra.
Algo significativo em minha trajetória, foi utilizar exercícios de técnica hiper-
realista para estimular o córtex esquerdo, considerado como o lado responsável pela
criatividade e trabalhos manuais. “Treinar” a visão observando atentamente os
detalhes, texturas, iluminação, etc. me auxiliaram a transformar o tridimensional para
bidimensional e de colorido para preto e branco.
Em teoria, após anos de prática a dificuldade para executar um retrato ou
objeto em hiper-realismo é a mesma, o que difere é a quantidade de linhas, pontos,
degrades e o tempo de execução. Comparativo entre dois desenhos realizados nos
períodos de 2015 (Figura 16) e 2018 (Figura 17).
41
Figura 23 - Isabela Doná. Dalí 1, grafite sobre papel, 2015.
43
CAPÍTULO 3: Processo criativo
44
Fonte: Elaborado pela autora (2022).
45
A obra de Ralph Mayer (1996) tornou-se uma referência indispensável na
questão prática do livro com ilustração, visto que a produção concomitante descreve
e demonstra o uso de diversos materiais e métodos essenciais para o hiper-realismo.
Após os procedimentos descritos anteriormente em relação a estruturação
deste projeto, iniciei o processo criativo de montagem dos desenhos para o livro com
ilustrações. Para tal, foi necessário:
1-) A escolha dos objetos ilustrados, na qual utilizei os seguintes parâmetros:
tridimensionalidade, objetos com menor complexidade estrutural, que favorecessem
o estudo de sombra e luz.
46
Figura 27 - Processo de documentação.
3-) A foto utilizada como referência foi manipulada por meio do Adobe
Photoshop apenas para corrigir menores erros e, quando necessário, converter para
monocromático;
47
4-) Foram utilizados diferentes métodos de passagem para os desenhos, sendo
demonstrados no livro;
48
Figura 30 - Processo do desenho do olho.
7-) Com o auxílio do Adobe Illustrator, foram inseridas linhas guias em cor
vermelha para servir como um norte para o leitor.
49
Figura 31 - Colocando marcadores nos desenhos.
50
Figura 32 - Oficina de desenho ministrada.
51
visual e o “olhar de artista” me ajudaram para que tivesse uma ideia melhor do que
estava criando.
52
CONSIDERAÇÕES FINAIS
53
Diante disso, espero que o livro com ilustrações possa contribuir de alguma
forma para o aprendizado de qualquer pessoa que se interesse por esta técnica,
independente da faixa etária, o ensino da arte deve ser um direito de todos.
54
REFERÊNCIAS
ARGAN, Giulio Carlo. Arte moderna. 2ª edição. São Paulo: Companhia das letras.
1994. 736 p.
BARTHES, Roland. O óbvio e o obtuso: ensaios críticos III. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 1990.
55
de ensino e aprendizagem. Revista Contemporânea de Educação, v. 15, n. 32,
2020. Disponível em: <doi.org/10.20500/rce.v15i32.31554>. Acesso em: 05 mar.
2022.
FABRIS, Annateresa. O desafio do olhar. São Paulo: WMF Martins Fontes. 2011
GIL, Antônio Carlos. Como classificar as pesquisas? São Paulo: Atlas, 2002.
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58
APÊNDICES
59
SUMÁRIO
1. Epílogo | 3
2. A história do hiper-realismo | 4
3. Materiais | 8
6. Métodos de passagem | 37
7. Animais | 45
9. Elementos do retrato | 58
10. Retrato | 60
60
A HISTÓRIA DO
HIPER-REALISMO
61
Mas qual seria o motivo dos artistas manterem o uso da câmera escura em
sigilo entre os séculos XV e XIX? Acredita-se que os artistas escondiam sua maneira
de captar e fixar a referência imagética para resguardar seus métodos e proteger-se
da concorrência com outros artistas (que era muito acirrada), e mesmo para se
precaver dos perigos da Inquisição.
Posteriormente no século XIX, com a invenção da fotografia propriamente dita
surgiu um receio sobre o fim dos pintores. Entretanto, diversos artistas souberam
aproveitar a nova tecnologia como Courbet e Toulouse-Lautrec. Courbet inclusive foi
um dos artistas censurados por ter sua arte aproximada demais de uma fotografia,
precisamente por buscar a representação exata do que via, negligenciando a visão
romântica da arte na época.
O rompimento com o realismo data anteriormente a Revolução Francesa em
1789. Neste período, os artistas começam a trabalhar a auto conscientização da
problemática do “estilo”, iniciando debates e experimentações que originariam novos
movimentos.
Os artistas do início do século XX procuraram inspiração na arte oriental e
africana por acreditarem que estas continham algo que a europeia já não possuía
mais, a expressividade intensa, clareza de estrutura e a simplicidade na técnica. Assim
os artistas modernos precisaram se tornar inventores em prol de garantir a atenção
desejada, prezando pela originalidade das obras em detrimento ao domínio das
técnicas que costumeiramente observamos nos artistas nos séculos anteriores.
Durante este período, a fotografia ainda é utilizada como referência no processo
criativo de artistas das vanguardas fauvistas, futuristas, cubistas, entre outras; mas
seu papel é muito mais de apoiar a desconstrução do real do que o de auxiliar sua
reprodução.
Nos anos 1970 artistas fotorrealistas como Richard Estes e Don Eddy, ao
utilizarem da fotografia como base para suas pinturas, se esquivavam do
enquadramento mais formal, utilizando a linha do horizonte, centralizando o objeto ou
fazendo o uso da regra dos terços. Diferenciando, por exemplo, do modo de
enquadramento de Caravaggio ou Van Eyck que utilizavam do enquadramento formal
com o personagem de destaque no centro, com a iluminação quase sempre em cenas
montadas.
Em Nova York, alguns anos depois, surge a técnica hiper-realista com suas
62
raízes no fotorrealismo, resultado de uma colisão entre o culto da arte pop pelo objeto
iconográfico – moderno, fabricado e, sempre que possível, novo e reluzente – e a
resposta equivalente da fotografia diante destes objetos, sob uma luz artificial e
estática. Embora os realistas sociais utilizassem as fotografias como referencial para
suas obras.
Buscando obter uma imagem para além daquela captada pela máquina
fotográfica, o hiper-realismo demonstra ideais e críticas à vida cotidiana fazendo da
mesma o seu mote. Os pioneiros do hiper-realismo acreditavam que cabia à arte o
registro da ordem e das formas existentes no mundo no lugar da expressão de
sentimentos ou emoções internas. Para isso, os artistas representavam o real, mas
eliminavam o caos.
Há uma veracidade no uso da técnica hiper-realista, resgatando nos seus
primórdios o fotorrealismo, quando analisados podemos notar um certo nível de cópia
da referência fotográfica não aplicada em sua totalidade. Ocorre um descarte do
significado original da fotografia quando esta passa pelo processo manual plástico de
ser desenhada, criando um sentido a ela. Assim, nota-se que pelo apoderamento das
imagens originais o hiper-realismo as ressignifica em sua efetivação plástica.
Atualmente o hiper-realismo é reconhecido pela forma como percebe o mundo
visual em que vivemos e celebra detalhes ignorados e intrincados, visíveis no
cotidiano.
63
LINHA
DO TEMPO
Linha do tempo
64
MATERIAIS
Lapiseira
Lápis graduado
65
As marcas Mars Lumograph da Staedtler possuem lápis de todas graduações
citadas acima, tendo um grafite com mistura homogênea e minas não tão porosas,
tornando-os adaptáveis a qualquer estilo de papel.
Borrachas
66
Apontadores
Estilete
67
Esfuminhos
Boleador
68
Pincel
Canetas em gel brancas são ideais para pequenos detalhes em branco, como
nos olhos.
Papéis
69
mais duros o uso da borracha pode ser dificultado; em contrapartida este estilo de
papel permite a construção gradual de camadas de grafite.
Bristol Fabriano 4L
Verniz
70
TÉCNICAS BÁSICAS E EXERCÍCIOS
Hachuras
As hachuras são mais visíveis na construção de textura ou planos de fundo.
Para a execução correta, é necessário seguir um padrão de riscos, podendo ser um
uma só direção ou se cruzando, como demonstrado na figura abaixo.
Linhas
As linhas são mais utilizadas na criação de cabelos, pelos e servem como
exercício para o controle do peso da mão sobre o papel. É importante o domínio da
pressão no lápis para que possa iniciar o fio sem pressão para não marcar a entrada,
aplicar pressão no meio e aliviar ao sair.
71
Preenchimento com círculos
Este estilo de preenchimento será recorrente em desenhos que possuem
superfícies lisas ou retratos.
O preenchimento em círculos é o mais eficiente para áreas grandes, visto que
é possível preenchê-las sem deixar marcas. Uma dica para executar esta técnica é
fazer um chanfro na ponta do lápis, pois a ponta fina pode acabar riscando o desenho.
Pontos
A técnica de pontilhismo é empregada geralmente em detalhes como, por
exemplo, poros ou pelos. Para executar o degradê em pontilhismo, é necessário
aumentar o número de pontos e diminuir a distância entre eles para deixá-los mais
escuros, como demonstra a figura 1. Para deixar o desenho mais claro, deve-se fazer
o processo inverso diminuindo o número de pontos e aumentando a distância entre
eles, como observado na figura 2.
Lembre-se que é mais fácil construir o pontilhismo desta forma, executando
primeiro os dois extremos e gradualmente completando-os dos dois lados do degradê.
72
Degradês
O degradê pode ser considerado como o “coração do desenho realista”. A
execução perfeita e suave do degradê fará com que as nuances do desenho se tornem
mais realistas dando forma e profundidade à obra. É essencial para um desenhista o
domínio desta técnica, seja na utilização de apenas uma graduação ou na mistura
delas. Para tal, a familiaridade com o material é conveniente e quanto mais a prática
se torna frequente, melhor o conhecimento da técnica.
Em espaços grandes, como é o caso dos rostos, o degradê de preenchimento
em círculos com a ponta chanfrada é o ideal, enquanto para pequenos e detalhes,
utilize da ponta do lápis afiada e o preenchimento em círculos.
Na imagem observa-se três tipos de degradês: o primeiro com a utilização do
lápis graduado 2H, o segundo com o lápis 6B e o terceiro com a mistura dos dois. O
objetivo deste exercício é não aplicar pressão no lápis quando não for para textura
lisa, pelo fato de que priva da possibilidade do uso da borracha para iluminação ou
detalhe, utilize das misturas para todos os desenhos e adquira o hábito de treinar os
degradês de uma ou mais graduações antes de cada desenho.
73
Esfumar
74
Pincel Esfuminho
75
Com a foto a ser reproduzida e mãos, faça a passagem das marcações para o
suporte.
Passo 1. Com a referência, você pode utilizar um dos métodos de passagem para
fazer as marcações.
76
Passo 3. Use um lápis de graduação média e ponta chanfrada para fazer uma base
homogênea. Nota: é importante a ponta chanfrada para que o grafite não entre nos
sulcos criados pelo boleador.
Passo 4. Para obter os degradês que darão profundidade ao nosso desenho, você
pode utilizar diferentes graduações, cautelosamente para não obstruir os sulcos.
Passo 5. Por fim, use a lapiseira e um lápis macio, como o 8B com ponta afiada, para
criar os fios de cor preta e o pincel para amenizar o contraste.
78
FUNDAMENTOS DO DESENHO
(linhas, pontos, luz e sombra, textura)
Chiaroscuro
O chiaroscuro é uma técnica que se assemelha aos holofotes e iluminação de
cena utilizados no teatro, pois as luzes são pensadas diretamente para o destacar o
principal, podendo ser mais brusco como nas obras de Caravaggio ou mais tênue
como em Vermeer.
Na arte contemporânea o chiaroscuro é utilizado por alguns artistas, mesmo
que sutilmente, como é possível notar na obra Murundu (2019) de Luiz Escañuela.
79
Sem título 2014.
Luz e sombra
Para trabalhar com a luz e sombra, utilize a técnica de valores - todos os
desenhos têm valores claros, médios e escuros. Os desenhos realistas deste livro
têm, em média, ao menos 5 valores.
Os valores no desenho são responsáveis por dar a forma no objeto,
consequentemente torná-lo mais realista e estão diretamente relacionados à
iluminação.
Os olhos recebem a luz refletida dos objetos, que é enviada e interpretada pelo
cérebro.
80
Destaque ou parte mais branca
O destaque ficará posicionado em direção a luz, podendo ser representado com
a ausência de grafite no local (técnica em que se preserva o branco no desenho). Esse
elemento tem como função o nivelamento entre os pontos claros, já que deverão ser
mais escuros que o destaque.
Área clara
É uma técnica caracterizada por ser mais escura em comparação ao destaque.
O objeto é posicionado levemente em diagonal com a direção da luz a área clara com
uso de grafite,
Dica: na maior parte dos casos, a autora utiliza as graduações de lápis 2H ou
HB.
Meio tom
O meio tom é o segmento onde nota-se que a luz incidente não é mais direta
em comparação às demais técnicas.
Dica: graduações de lápis HB a 3B.
Sombra principal
81
O ponto mais escuro do desenho, onde não há a incidência de luz, serve de referência
extrema para as demais sombras,
Dica: pode ser realizada com graduações de lápis 6B a 12B.
Luz refletida
Parte do desenho onde a iluminação é proveniente da luz refletida de outras
regiões do desenho.
Formas Básicas
O método de formas básicas ensina a replicar qualquer coisa que esteja em
sua observação a partir de forma geométricas básicas, desconstruindo e simplificando
objetos para que possam ser representados com maior profundidade.
Este método também auxilia ao passar o que imagina para o papel, a prática
constante desta técnica, combinada com a desconstrução de objetos, pessoas e
cenas ajuda no aumento da bagagem visual do artista, assim conforme mais vezes
ele replica mais fácil se torna.
Passo 1. Para realizar inicie selecionando algo para desenhar, neste caso
escolhemos uma mão.
82
Passo 2. Observe e assim desconstrua em sua mente quais formas se encaixam na
mão.
83
Passo 4. Em seguida, apague levemente as linhas e trabalhe no contorno das formas,
no formato real do objeto a partir do que observa e do que já foi desenhado.
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Passo 5. Para finalizar, baseando-se no que você observa, crie sombras para dar
mais profundidade ao objeto.
85
Texturas
Lisa e metal
86
Passo 2. Utilizando a quina do lápis com a ponta chanfrada, aplique uma camada
utilizando pressão uniformemente amassando o papel com um grafite duro com o 2H
ou 4H
87
Passo 4. Utilize esfuminho tamanho 2 para uniformizar, certifique-se que este está
limpo para não manchar o desenho. Nas áreas mais claras do desenho, use o auxílio
do pincel.
88
Pedra/Texturizado
A textura arenosa pode ser utilizada para objetos ou superfícies com textura ou
rugosidades sem padronização.
Para a demonstração, foi utilizada uma fotografia de uma parede rochosa.
Dica: Escolha um papel com textura e gramatura alta, como o Fabriano 4L.
89
Passo 2. Use um lápis macio, como o 8B, com a ponta fina e sem colocar pressão
para criar textura no papel. Dessa forma, evita-se amassar o papel para não cobrir
todos os pontos brancos na estrutura do papel.
Passo 3. Com o mesmo lápis e seguindo os padrões que possam ser observados na
fotografia, aplique levemente pressão no lápis para criar a textura da pedra. Utilize
pontos, riscos e degrades para criar profundidade.
90
Passo 4. Utilize a borracha TomBow para ressaltar pontos de luz e dar profundidade
ao muro.
Drapeado
Passo 1. A partir da foto original, faça o esboço em lapiseira com grafite HB. Marque
com lápis 6B ou 8B os vincos e linhas mais escuras.
91
Passo 2. Em seguida, vá para a parte mais clara e comece a preencher o espaço com
a técnica circular, vá aos poucos escurecendo onde necessário.
Passo 3. suavize todo o desenho com esfuminho e pincel e sature as partes escuras
se necessário.
Quadriculado
94
o mínimo possível de peso na mão. Passe linha por linha, se necessário
utilize o auxílio de uma régua
Mesa de luz
É o modo mais rápido de fazer passagem, mas também não é o mais detalhista,
visto que se o desenho não estiver extremamente bem delimitado podem ocorrer erros
durante o processo.
95
Aferição
O método de passagem por aferição remete aos grandes artistas do
expressionismo, os quais se utilizavam desta técnica para poder representar o que
era observado como o máximo de veracidade quanto à proporção.
A aferição consiste basicamente em medir tamanhos com auxílio do
instrumento e do seu olho dominante, o qual podemos chamar de régua visual.
Passo 1. Escolha o objeto a ser representado e posicione a sua frente, pode ser uma
cena que está no seu campo de visão.
96
Passo 2. Faça a aferição na horizontal e na vertical com o lápis ou material que estiver
utilizando, assim você criará mentalmente uma relação de altura X largura para
estabelecer a proporção.
Dica: Tente não mover tanto a cabeça para não perder o seu ponto de
observação e faça constantes verificações dos tamanhos a serem observados, note
antes de iniciar o desenho se o objeto possui linhas ou relações de proporções de
tamanhos entre si. Deixe o braço esticado.
Passo 3. No suporte faça uma marcação para simbolizar o início e utilize a aferição
feita para marcar o tamanho
97
Passo 4. Faça o mesmo processo na horizontal, para comparar os tamanhos e
efetuar marcações a fim de construir o esboço.
98
Passo 5 . Progressivamente, continue o processo até obter o contorno do objeto.
99
Passo 7. Inicie o sombreado de acordo com o que você observa de incidência de
sobre o objeto, utilize lápis com a ponta afiada ou uma lapiseira.
Passo 8. Para finalizar, suavize com o pincel macio, esfuminho e ilumine com a
borracha.
100
Formas básicas
101
102
103
ANIMAIS
Para animais com pelo é necessário o uso das técnicas de risco e pontilhismo,
o desenho se torna mais real quando se constrói utilizando primeiro uma base de tons
simples, sem aplicar força no papel e depois construímos fio a fio utilizando a lapiseira
e alguns lápis de graduação maior com a ponta fina.
104
Na foto pode ser visto melhor as técnicas utilizadas
Passo 2. Com lápis de graduação dura, como o 3H, crie uma base clara e faça
movimentos retos para criar a estética “riscada”.
105
Passo 3. Esfume com o pincel e preencha as manchas com um lápis macio.
Passo 4. Com a lapiseira, faças fios finos saindo de dentro das manchas.
106
Passo 5. Com lápis de graduação macias e ponta fina, reforce alguns dos fios de
forma aleatória.
107
Penas
Foto de referência
Passo 2. Inicie pela parte mais escura do desenho, neste caso a parte interior da
pena, como é uma parte delicada e fina, utilize a lapiseira para executar.
108
Passo 3. Utilize um lápis de graduação H para criar uma base de cor clara e acentuar
as bordas na pena.
Passo 4. Com a lapiseira e grafite 2B, faça linhas partindo das extremidades para o
interior. Posteriormente, com o lápis de graduação B trace as linhas onde é necessário
escurecer.
109
Passo 5. Esfume com o pincel para deixar o desenho suave.
110
111
112
PROPORÇÕES BÁSICAS E ANATOMIA
Proporção áurea
A proporção áurea é uma constante real algébrica irracional denotada pela letra
grega \phi, ou representada por 1,618. Esta proporção é encontrada na natureza, na
arte e em outros campos em diversas formas, por exemplo, uma construção de um
“rosto perfeito”, nos ossos humanos, colmeias, coelhos se reproduzem em phi, flores
crescem nesta proporção.
113
A Intenção no uso da proporção é fazer com que o cenário, e objetos e os
personagens entrem em harmonia, fazendo com que os pontos de força dirijam seu
olhar para a parte que se localiza na seção Áurea.
Harmonia no rosto
Medidas similares às que temos no rosto, que podem ser usadas para criação
de uma face ou auxiliar para quando a fotografia não estiver clara.
Ossos da face
O estudo dos ossos da face faz parte da formação de um artista completo por
auxiliar na construção de retratos sem referência e entender quando algo está fora de
seu devido lugar.
114
Neste estudo, baseado em Netter (2019), estão destacadas as estruturas mais
importantes do crânio em visão frontal para um artista. É importante destacar que
estas as partes podem levemente ser levemente modificadas dependendo da etnia ou
da morfologia da pessoa.
A partir do crânio é possível construir qualquer retrato, o que difere as pessoas
são as pequenas medidas de proporção e o acúmulo de gorduras localizadas em
pontos específicos, como na maxila e nos ossos frontais.
115
Neste estudo anatômico, também baseado em Netter (2019), identifiquei as
partes mais importantes do crânio em vista lateral. Por ser um estudo de anatomia
voltado artista e não para fins médicos, não há necessidade de nomear cada osso,
forame e estrutura, focando nos que seriam as regiões principais para o
desenvolvimento do desenho.
Paralelamente, ao construirmos um desenho de um bebê a proporção irá mudar
devido ao estágio de desenvolvimento do crânio (conhecido popularmente de
“moleira”) que, dependendo do período, não está completamente fechado; a região da
mandíbula devido à ausência dos dentes se encontra menor e mais fechada
Em razão das diferentes etnias e descendências, algumas pessoas possuem o
osso frontal mais aparente, ou as medidas entre as formas dos olhos podem
diversificar.
116
Neste esquema, baseado no livro “Atlas de Anatomia Humana para Artistas” de
Peck (2012), podemos observar como os ossos da face se assemelham a uma
espécie de “máscara” conectada a parte oca do crânio; concomitante podemos
observar como a pele fica por cima dos 14 ossos da nossa face.
117
ELEMENTOS DO RETRATO
Posições
118
119
RETRATO
OLHOS
Foto original
Para esse desenho, o papel usado foi Hahnemuhle Bristol de 250g/m², lapiseira
0.3 com grafite HB, lápis graduados de 2H, HB, 3B, 6B, borracha Mono Zero e
esfuminho nº 2.
Uma dica: é importante que para a execução se utilize uma folha sulfite
embaixo da mão para não borrar.
Passo 1. Faça as marcações no papel como guia para o desenho (Capítulo 6 - Método
de passagem.)
120
Passo 2. Comece pela parte mais escura do desenho, que neste caso é a pupila,
utilizando o lápis 6B.
Passo 3. Em seguida, passa para a íris utilizando a mistura das graduações de lápis,
sugestões: 6B, HB, 2H e 4B. Faça o uso do esfuminho para manter o aspecto liso do
desenho e preserve os brancos.
121
Passo 4. Para o sombreado do olho, como o contorno é feito tanto interna quanto
externamente a íris, utilize a técnica circular (Capítulo 4 - Exercícios básicos) para não
marcar seu desenho com riscos. Utilize um pincel de cerdas macias para uniformizar
o sombreado. As rugas devem ser feitas com um lado sombreado em degradê e o
outro com o branco preservado.
122
Passo 6. Crie a textura de pele seguindo os padrões da foto original, no supercílio a
textura é formada por linhas de comprimento maior enquanto abaixo do olho são riscos
curtos que se juntam.
123
Passo 8. Com a lapiseira faça os cílios da pálpebra móvel inferior (que sairão da parte
que foi preservada em branco) e as veias aparentes na região dos olhos.
Passo 9. Com o auxílio da borracha maleável ilumine alguns poros para criar mais
profundidade ao desenho, conforme demonstra a imagem.
124
Olho feito de outro ângulo com o mesmo processo
125
126
NARIZ
Foto original
Para esse desenho, o papel usado foi Hahnemuhle Bristol de 250g/m², lapiseira
0.3 com grafite HB, lápis graduados de 2H, HB, 3B, 6B, 8B borracha Mono Zero,
borracha maleável e esfuminho nº 2.
128
Passo 4. Seguindo o fluxo observado no esquema, faça pontos de diversos tamanhos
diferentes que serão os poros.
Passo 5. Utilize a borracha maleável e a mono zero para criar pontos de iluminação
ao redor dos poros para demonstrar a profundidade dos mesmo e trazer dimensão ao
desenho.
129
ORELHA
Foto original
Passo 2. Inicie o desenho pelos pontos mais escuros com lápis macio, como o 8B ou
10B.
130
Passo 3. Inicie o degradê a partir das sombras escuras, tomando o cuidado para não
deixar riscos e marcas, para isso utilize a técnica circular.
Passo 4. Passe o pincel para suavizar a textura e, caso julgue necessário, utilize o
esfuminho.
131
Passo 5. Para a iluminação, utilize a borracha maleável
132
BOCA
Foto original
Passo 2. Com um lápis macio, faça a marcação das partes mais escuras e ranhuras
da boca.
Dica: Utilize o 8B com a ponta afiada
133
Passo 3. Com o lápis HB, faça uma base clara em toda extensão da boca sem
utilizar pressão.
Passo 4. Com um lápis macio, variando entre 2B e 4B com ponta fina, faça os
sombreados aos poucos utilizando o método circular atentando-se aos brancos que
devem ser preservados.
134
Passo 6. Por último, faça uso da caneta borracha para dar luz a alguns pontos visíveis
na foto original.
CABELO
Passo 1. Utilizar um dos métodos de passagem para transpor as linhas da foto para
o papel.
135
Passo 2 - Com uma lápis médio (HB) com ponta fina faça a uma sombra média
seguindo o caminho original no cabelo para servir como base.
Passo 3. Com a lapiseira com grafite 2B e lápis com gramatura macia e ponta fina,
escureça as extremidades de cada parte da mecha preservando a parte onde observa-
se o reflexo da luz.
136
Passo 4. Utilize a caneta borracha com a ponta chanfrada para criar os fios claros
que farão a composição da parte iluminada, dando profundidade ao desenho.
137
Outro exemplo a partir de uma mecha:
138
139
140
141
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esta versão do livro com ilustrações é apenas o core do projeto que tenho a
intensão de continuar desenvolvendo e, futuramente, irá contemplar mais tópicos a
fim que se torne um guia para todos que desejem aprender sobre a arte do hiper-
realismo.
Recomendo a todos meus leitores que experimentem todas as vertentes da
arte possíveis, que se encontrem e se identifiquem neste âmbito, pois segundo
Schopenhauer, a arte é uma redenção que liberta o homem de suas vontades e,
portanto, da dor.
142