LIEBICH - Uma História de Esperança e Amor
LIEBICH - Uma História de Esperança e Amor
LIEBICH - Uma História de Esperança e Amor
O
sozinha, trabalhava duro na roça para
que escrever sobre esta na vida deste casal um testemunho vi- ro centenário, queremos agradecer ajudar na sobrevivência da família.
família? Principalmen- brante do que Deus pode fazer através a Deus como família pela vida des- Quando meu pai tinha cinco anos, o
te a respeito deste ho- de um homem e uma mulher que acre- te homem que ainda hoje fala, e fala Cristovo chegou de viagem muito do-
mem que, se estivesse ditam verdadeiramente no Deus dos poderosamente, por meio da obra que ente, vindo a falecer. Foi um duro golpe
vivo, comemoraria 100 milagres e dos impossíveis. deixou em Ijuí. para a família, porque as dificuldades
anos de vida. Tenho Quando olho hoje para o Lar da Crian- Parabéns, família Liebich, pelo pai e aumentaram sem a presença paterna e
convivido com esta família há aproxi- ça Henrique Liebich, observo a visão pela mãe que vocês tiveram, pela bên- todos tiveram que trabalhar bastante
madamente vinte e sete anos e estou deste casal, que deixou uma obra que ção que foram na vida de vocês; meus e como podiam: capinando, colhendo
casado com Zidrone há vinte e cinco tem marcado a história da cidade de parabéns também a todos netos e bis- milho e feijão e até mesmo pisando nas
anos. Tenho visto, sentido e verificado Ijuí e da Convenção Batista Pioneira netos! E registro a minha gratidão a uvas para os imigrantes italianos que
a grandiosidade, lealdade, fidelidade e do Sul do Brasil. Vejo também o amor, Deus, bem como aos meus cunhados. faziam vinhos. Foram momentos de
fé desta família. o carinho e a dedicação do Pr. Horst Quero destacar que também sou grato grandes dificuldades, mas Deus estava
Henrique Liebich, em sua história de Borkowski e de Betraund, os quais in- à minha esposa, Zidrone Liebich Morei- dirigindo a vida daquele que seria uma
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vida, pode ser comparado a um gigante fluenciaram vidas para investir nesta ra, esta mulher, a qual é um símbolo de grande bênção para muitas vidas.
na fé. Cem anos se passaram, mas sua instituição. Também sou grato a este uma heroína, mulher de fé, amorosa, enrique Liebich, meu pai, Os Grugers foram assentados pela Co- Emília então resolveu casar-se com
mensagem de fé naquilo que Deus fez casal pela bênção do apoio que recebi, amiga e que tem sido um suporte em nasceu no dia 21 de agos- missão de Imigração em Santo Antônio Martinho Grubert, que também era vi-
e pode fazer ainda continua viva, atra- quando casei com Zidrone, investin- minha vida. to de 1911, na Colônia de da Patrulha e, de lá, seguiram para o úvo. Assim, a família aumentou, uma
vés do Lar da Criança Henrique Liebich, do em nosso Ministério na Pioneira. O Também presto meus agradecimentos Imigrantes de Ijuí (RS), seu destino final: a Colônia de Ijuí na vez que se juntaram os filhos dela aos
em Ijuí e também por meio de tudo meu muito obrigado. à Sibila e a Werner, que são bênçãos em situada na Linha Cinco, Linha Cinco. dele, mais os dois filhos que nasceram
aquilo que ensinou e viveu. Quantas vidas transformadas, quan- minha vida, apoiaram-me quando co- hoje Município de Aju- Cristovo e Emília ainda eram crianças, do consórcio.
Sua tenacidade, após sua conversão a tas pessoas atingidas pela Palavra de nheci Zidrone e o fazem até hoje. Como ricaba (RS). Uma vida marcada por um mas, apesar de as famílias terem vindo Os irmãos de Henrique, meu pai, eram:
Cristo, para ter um futuro honrado e Deus, por intermédio do testemunho ainda agradeço a Deus por Cristiano Deus que tudo pode. Aquele que afirmou no mesmo navio, não se conheciam, Teodoro, Rodolfo, Lídia, Rosa, Gustavo,
abençoado, demonstra as qualidades marcante e vibrante do Lar de Crian- Liebich e sua esposa Sibila, aos meus que: “Operando eu, quem impedirá?” nem mesmo na Rússia ou na Polônia. mais Paulo e Ari do segundo casamento
de um homem que lutou, acreditou em ça Henrique Liebich! Deus é fiel, Deus sobrinhos, Alceri Liebich e sua esposa Seu pai, Cristovo Liebich, e sua mãe, Mais tarde, Cristovo, já jovem, come- de Emília. Henrique nunca frequentou
Deus e venceu. Mesmo não tendo fre- nunca desampara aqueles que acredi- Cláucia, a Amaury Liebich e sua esposa Emilia Gruger, fugiram da Rússia para çou a trabalhar como viajante nos car- a escola, nem aprendeu a ler. Ele sabia
quentando escolas, este homem cons- tam verdadeiramente nele. Além dis- Fabiana, e a Paulo Rodrigues e sua es- a Polônia. Neste último país, embarca- retos que traziam alimentos da Argen- somente escrever o próprio nome, mas,
truiu um patrimônio invejável, ao lado so, Deus usou e tem usado este casal, posa Elaine, que investiram em nossas ram em um navio que trazia imigrantes tina para as colônias de imigração do apesar disso, era muito bom em Mate-
da grande baluarte Frieda Liebich, esta Henrique e Frieda Liebich, para aben- vidas nos momentos das maiores crises para o Brasil e a Argen tina. A família Rio Grande do Sul. mática e ninguém conseguia passá-lo
mulher que foi um exemplo de fideli- çoar vidas através do Lar da Criança financeiras que passamos, dando apoio Gruger desembarcou no Brasil em 19 Nesta ocasião, então, conheceu a fa- para trás.
dade a Deus e à sua Palavra. Frieda foi Henrique Liebich. ao nosso ministério. Minha gratidão de outubro de 1890. Já os Liebich, se- mília Gruger e casou-se com Emília. A Aos 13 anos de idade, meu pai depo-
e é uma inspiração para a minha vida e, Neste ano que, caso Henrique Liebich por fazer parte da história da família guiram para a Argentina radicando-se vida deles não era fácil, pois Cristovo sitou sua fé em Jesus Cristo. Recebeu
olhando para o passado e o futuro, vejo estivesse vivo completaria seu primei- Liebich. A Deus, toda glória. em Buenos Aires. continuava com as viagens. Eles tive- a certeza da vida eterna e deixou, a
Pr. Reginaldo Pires Moreira
partir desta data, Cristo conduzir sua -analfabeto tinha tanta intrepidez as- tinha 21 anos de idade e ela 19 anos. O sonho de comprar mais terras para registrar-me, mamãe viu que o nome tar presente e conceder a vitória (“mas
vida terrena. Foi batizado no dia 13 de sim, mas vejo que, por trás dele, estava Ele morava na Linha Vinte e Um, onde plantar continuava no coração de pa- ficou Zidrone. em todas estas coisas somos mais que
fevereiro de 1924 pelo Pastor Gustavo a mão de Deus a conduzi-lo. tinha sua olaria. Ela residia na Linha pai. Seus cunhados, Reinardo e Alberto, Ambos conversaram e resolveram dei- vencedores”, Romanos 8:28)!
Henke e filiou-se à Igreja Batista da Em 8 de outubro de 1932, casou-se Dezoito com seus pais, local que hoje ainda solteiros, também se entusias- xar assim mesmo, devido à distância do Toda manhã, papai pedia a bênção de
Linha Dezoito, localizada em Ijuí (RS), com Frida Reinke, que era bisneta de pertence ao município de Ajuricaba. maram com a ideia de comprar terras e, cartório. Porém, a mamãe sempre me Deus pelo que deveria ser feito duran-
hoje Ajuricaba. Kardl Ferdinand Feuerharmel e de So- Frieda tomou a decisão de seguir a Cris- juntos, foram para um lugar chamado chamou de Sidoni. Louvo a Deus pelo te o dia e, à noite, no culto doméstico,
Agora contava com a ajuda de Deus phia Frederike Caroline Reinke. Segun- to aos 9 anos, batizando-se na mesma Bom Retiro que, na época, pertencia à nome que me deu. sempre havia muito o quê agradecer
Pai, Filho e Espírito Santo. A Palavra de do os registros do livro de chegada de Igreja Batista pelo mesmo pastor de Santo Ângelo. Esta localidade era uma No dia 1º de setembro de 1939, explo- por aquilo que Deus estava fazendo e
Deus tornou-se viva em sua vida como imigrantes da Polícia Federal do Rio de Henrique e no mesmo ano. Ela, no dia região de terra fértil e já havia famílias diu a Segunda Guerra Mundial. Meus também pedíamos perdão pelas falhas
uma lâmpada para os seus pés e uma Janeiro, eles chegaram no dia 1º de se- 13 de janeiro, e ele, em 10 de fevereiro. italianas morando ali. Assim, meus pais pais já vinham sofrendo as consequên- cometidas.
luz para o seu caminho. Deus o colocou tembro de 1881, procedentes da Alema- Ambos gostavam de ajudar as pessoas e se aventuraram a vender meia colônia, cias da Primeira Grande Guerra (1914 Em tempos de dificuldades, precisáva-
numa família abençoada e abençoa- nha. Seguindo viagem para o Porto do tinham o dom do serviço. Até no dia do pois assim poderiam comprar mais ter- – 1918). Agora era ainda pior. Precisa- mos de muita criatividade, principal-
dora: a Igreja de Cristo. A convivência Rio Grande (RS), desembarcaram no dia seu casamento, Frieda foi tirar leite das ras com a venda. vam comprar alimentos no mercado, mente nestes dias de guerra. Fazíamos
com Deus e a frequência aos cultos, 5 de setembro e, no dia 15 de outubro vacas de um casal de amigos, porque a Com a intenção de investir, papai mas tudo era caro demais e, além disso, queijo e manteiga. Estocávamos a car-
bem como aos estudos bíblicos, fize- e chegaram com seus nove filhos à Co- esposa tinha tido bebê no dia anterior. fez um empréstimo junto aos italia- faltava, entre outras mercadorias, açú- ne assada em latas grandes, cobertas
ram deste grande homem, um homem lônia de Imigrantes Formosa em Santa Que disposição para servir ao próximo! nos e comprou mais terras. Construiu car, farinha de trigo e o querosene que com banha e na forma de charque. O
de fé, o qual acreditava firmemente nas Cruz do Sul, hoje Município de Ferraz, Não vemos isso nos dias de hoje. um galpão, mudou-se para lá e seus usávamos nos lampiões. No entanto, querosene, que estava em falta, subs-
promessas, no poder e na fidelidade de onde já residia Karl Reinke, irmão de So- A cerimônia de casamento foi realiza- cunhados foram com ele, até conse- em relação ao produto que precisáva- tituímos pela banha, a qual alimentava
Deus. Uma vida invejável. Quando olho phia F.C. Reinke, que haviam ingressado da pela manhã, seguida de um almoço. guirem estabelecer-se no terreno. Des- mos vender, o preço era baixo demais. o pavio do lampião para fornecer luz. O
para a vida de meu pai, vejo nele um na Colônia na imigração anterior. Mas, à tarde, já foram trabalhar na ola- sa forma, um ajudava ao outro. Sempre Além disso, a praga dos gafanhotos de- melado da cana substituía o açúcar. A
exemplo de fé a ser imitado nestes dias Como já professavam a fé em Jesus ria. Papai e mamãe tornaram-se uma vi meu pai como um empreendedor de vastava tudo pela frente. farinha de milho servia para fazer pão,
de hoje, quando as pessoas mercade- Cristo, como membros de uma Igreja dupla exemplar em tudo durante a sua sucesso e o segredo era sua fé e espe- No entanto, nada abalava a fé deste gi- polenta, bolos e bolachas. Plantava-se
jam a fé e ficam procurando uma nau Batista, situada na Alemanha, forma- vida conjugal. Um exemplo a ser se- rança em Deus. gante. Papai gostava de lembrar a reco- feijão, arroz, mandioca, batatas, legu-
segura para acreditar. Glória a Deus por ram com outros vizinhos uma comu- guido atualmente. Como louvo a Deus O sogro de papai era um bom carpin- mendação de Cristo registrada em Ma- mes e verduras. As árvores frutíferas
este homem de valor e de tamanha fé, nidade para Estudos Bíblicos e cultos a pela vida dos meus pais! teiro: serrava as madeiras, as tábuas teus 6:25-34 e ressaltava: “Deus sempre também foram cultivadas em meio às
cheio de esperanças e amor. Deus em sua casa. Em 5 de novembro Após o casamento, foram morar em para o telhado e construía as casas. cumpre suas promessas de cuidar de dificuldades. Víamos a mão de Deus a
Meu pai, em sua caminhada terrena, de 1893, foi organizada a la Igreja Ba- uma casa de tijolos coberta de capim. Tudo era feito na base de mutirão entre seus filhos e nós não devemos nos es- sustentar nossa família e, ao invés de
desenvolveu uma grande dependência tista da hoje Convenção Batista Pio- A casa tinha dois cômodos: um quarto os vizinhos. quecer de buscá-lo em primeiro lugar, nos lamentarmos, louvávamos a Deus
da direção divina, que o tornou sábio, neira do Sul do Brasil. e uma cozinha. O fogão era feito de ti- Mamãe era uma força ao lado do papai, pois a Bíblia afirma: ‘Buscai primeiro o e Ele nos dava a vitória.
conforme diz Tiago 3:13: “Quem dentre A filha de Karl F. e Sophia F.C,. Feu- jolos com uma chapa de ferro em cima, fazia trabalhos pesados, cuidava dos reino de Deus e sua justiça e todas essas O dia 25 de dezembro de 1940 foi um
vós é sábio e entendido? Mostre pelo erharmel Ema Auguste Emilia, casou- porém, como eles estavam felizes! dois filhos e, mesmo grávida, quando coisas vos serão acrescentadas’”. Que fé, dia de Natal diferente, pois nasceu
seu bom trato as suas obras em man- -se com seu primo, Ricardo Reinke e Mamãe ganhou de presente de seus estava me esperando, continuava tra- que confiança no Deus que promete es- Cristiano, seu quarto filho. Foi um Na-
sidão de sabedoria.”. Este era meu pai! com ele teve dez filhos, sendo o mais pais uma vaca de leite. Juntando todo balhando ao lado de papai (que mulher
Determinado no trabalho. Orava, bus- velho Gustavo Reinke. Quando ele ti- o seu patrimônio, o casal possuía: meia exemplar!). Ela verdadeiramente era a
cando de Deus sabedoria para aplicar o nha 18 anos, seus pais mudaram para colônia de terra, a olaria, a casa, uma mulher virtuosa de “Provérbios 31” e
dinheiro que ganhava com suor. Ele, de Linha Cinco – Ijuí –, onde morava a junta de cavalos, uma junta de bois, a louvo a Deus ainda hoje pela vida de-
fato, abençoou poderosamente papai e família Gruger. Lá, Gustavo conheceu carroça, o arado e uma vaca. dicada desta mulher extraordinária!
víamos em tudo a mão de Deus a con- Ema Gruger, os dois casaram-se e fo- No dia 29 de abril de 1934, chegou a Eu nasci no dia 13 de setembro de 1938.
duzi-lo. Ainda jovem, comprou meia ram morar em Guarani das Missões, primeira filha: nasceu Naomi, exata- Há pouco tempo, mamãe tinha lido um
colônia de terra onde montou uma então Município de Santo Ângelo. mente dois meses depois de haverem romance cristão intitulado “Sidoni e
pequena olaria, na qual, tanto as má- Ema nasceu no dia em que seus pais vendido a terra da Linha Vinte e Um seus últimos dias em Jerusalém”. O livro
quinas de amassar o barro, como as de desembarcaram no Brasil, no Porto do e comprado novamente a colônia na abordava a história de uma mulher que
cortar tijolos, eram movidas a cavalo. Rio Grande (RS), e é irmã de Emilia, que Linha Dezoito, local onde construíram teve que deixar Jerusalém por causa de
Com isso, papai sonhava em obter lu- se casou com Cristovo Liebich. outra vez uma casa semelhante àquela. sua fé em Jesus Cristo. Por causa dessa
cros para comprar mais terras e se tor- Portanto, Henrique e Frieda eram pri- Nessa nova terra, começaram a dedi- história, mamãe queria que meu nome
nar um agricultor bem-sucedido. Ele mos. Eles cresceram juntos. Quando car-se à agricultura, e tiveram o se- fosse “Sidoni”, porém, quando o pa-
era um homem de grande visão. Fico se casaram, Frieda era dois anos mais gundo filho, Benjamin, que nasceu em pai Henrique chegou da longa viagem
pensando como um homem semi- nova do que ele, sendo que Henrique 25 de maio de 1936. que havia feito para Catuípe, a fim de
Da esq. para a dir. Naomi, Sibila, Cristiano, Zidrone e Cristiano
tal festivo. Cristiano ainda hoje afirma dar dos deveres domésticos com a ajuda casa no terreno da escola para moradia e ele não poderia contratar os serventes.
que seu aniversário é comemorado no de dona Isolina, nossa empregada. En- da família da professora. “Como vamos fazer?”, perguntou papai,
mundo inteiro. Que alegria por ter um quanto isso, papai passava de segunda Em Monte Alvão, a família Liebich pas- e ele mesmo respondeu: “Vamos esperar
irmão festeiro! Também quero re- a sábado com os empregados, homens sou a frequentar os cultos uma vez por até o próximo ano”. Então eu disse que,
gistrar que, em 1942, nasceu Alberto, que trabalhavam na lavoura de arroz. mês na Capela de Nova Ramada que se Albertina – que era nossa empregada
prematuramente, que viveu somente Foi em Monte Alvão que ele conheceu ficava a uns 20 km. –, topar trabalhar comigo como serven-
15 dias. Depois, Frieda teve mais dois uma fazenda, a qual comprou e, em Benjamin, Cristiano, e eu nos divertía- te, vamos dar conta. Então, foi iniciada
abortos, sempre provocados pelo ex- 1948, se mudou para lá. A casa era, mos nas subidas, porque descíamos e e terminada a construção.
cesso de trabalho. na verdade, um casarão muito antigo. corríamos à frente da carroça, ganhan- Neste ano um tanto conturbado, ma-
Nesse tempo, nossos pais, Henrique e Tinha um galpão grande, campo para do disparado, mas, na descida, ficá- mãe estava grávida e, no dia 26 de ju-
Frieda, estavam preocupados em ar- criar gado, um pomar com vinte laran- vamos longe, para trás, até encontrar nho, nasceu o filho Roberto.
ranjar uma escola para seus filhos, pois jeiras e muito mato. outra subida para alcançar a carroça e Em Monte Alvão, havia muita necessi-
os dois mais velhos já tinham sete e A moradia ficava bem no alto, com uma subir nela de novo. Casal Henrique e Frida com seus 9 filhos – 1969 dade de uma parteira, pois o hospital
dez anos, e não havia escola nesse lu- vista ampla para o campo, de onde po- Em 1950, houve uma Conferência grato diante do Senhor”. res sobre exegese e Homilética, a arte de era distante e não havia transporte
gar. Os vizinhos reuniram-se e resolve- díamos contemplar a criação de gado Evangelística com o Pastor Filip Sche- Então orei a Deus: “Senhor, consagro preparar sermões e Estudos Bíblicos. motorizado. Por isso, Frieda era muito
ram construir a escola. Enquanto ela das fazendas ao redor. Mas, o maior rer. Nesses dias eu, Zidrone, Naomi e a minha vida toda ao teu serviço, sou Aos 17 anos, recebi uma incumbência solicitada para atender as mulheres da
não ficava pronta, Naomi e Benjamin problema era a água, que precisava ser Benjamin, aceitamos a Jesus Cristo menor de idade e a tua palavra ensina por parte de meu pai Henrique: ensinar região em seus partos.
foram estudar na Linha Quinze, fazen- puxada manualmente de um poço de como nosso único e suficiente Salva- que devemos obedecer em tudo aos os Estudos Bíblicos às quintas feiras à Em 24 de outubro de 1954, ela foi fa-
do o trajeto a cavalo. Quando, porém, 24m de profundidade. Ela servia para dor. Fomos batizados no mês de março pais. Desse modo, obedecerei. Toma noite, em nossa casa, para os vizinhos. zer o parto de uma moça solteira que
a escola ficou pronta, foi uma alegria a lavagem de roupas, bem como para de 1951, no rio Ijuí, pelo Pastor Oskar conta, trabalhe na vida dos meus pais Além disso, eu ainda trabalhava como havia vindo para a fazenda com o pre-
para toda a comunidade e para as abastecer a casa e os porcos que eram Horn. Os candidatos eram ao todo trin- e me orienta como te servir e prepara- secretária e líder dos jovens. O Templo texto de trabalhar, mas, na verdade ela
crianças, principalmente para a famí- criados confinados. ta e sete, dos quais cinco eram adultos -me para o que Tu queres, Senhor. Eu da Igreja ficava a 7 km de distância da queria ter o filho longe da família, dar
lia Liebich, pois havia três alunos dessa Nos tempos de estiagem, era preciso e os demais eram adolescentes da sede creio na tua direção”. fazenda, e fui vendo quanto trabalho a criança e voltar como se nada tivesse
família lá matriculados: Naomi, Benja- trazer água de uma vertente que ficava e de várias congregações da Igreja Ba- Fui perguntar ao Pastor Oscar Horn, havia naquele lugar para que eu fosse acontecido.
min e Zidrone. a 1 km, numa baixada. Ali também foi tista de Ijuí. como poderia ensinar as crianças da co- uma verdadeira missionária. Um casal de idosos agregados na fa-
Em 15 de novembro de 1946, nasceu improvisado um banheiro para tomar Deus colocou em meu coração uma munidade Ele me forneceu um material Em 10 de outubro de 1950, nasceu zenda Liebich a abrigou em sua casa e
Sibila. Ela, ainda recém-nascida, ficou banho, um tanque para lavar roupa e firme convicção de que estava me cha- chamado “Jóias de Cristo” com histórias Odeti, a caçula das mulheres. queria adotar a criança. Porém, quando
muito doente. Foi um momento de a um varal para secá-la. mando para trabalhar como missioná- bíblicas para crianças. Comecei então a No ano de 1952, meu pai, e seu vizi- o menino nasceu, o casal estava enfer-
família exercer a fé e crer nas promes- Papai Henrique precisou derrubar mato ria. Conversei com os meus pais e lhes praticar, contando histórias bíblicas para nho, Matias Wagner, resolveram fazer mo e disse à ela que estava desistindo
sas de Deus. Ele ouviu as nossas orações para plantar feijão, milho e trigo. Ao disse que desejava ir para a cidade de as crianças aos domingos à tarde. uma sociedade para fabricar tijolos. A da adoção. Mamãe Frieda, além de fa-
e ela se restabeleceu. Glória a Deus! mesmo tempo, continuou plantando Ijuí, com a finalidade de fazer o cole- Mais tarde, fiz um curso bíblico por olaria foi montada nas terras do senhor zer o parto, ficou dando assistência ao
Finalmente, a nova moradia estava pron- arroz nas terras arrendadas que agora gial e de depois ir para uma Escola de correspondência pelo Seminário Ba- Matias, onde a terra era mais apropria- bebê, à mãe e ao casal.
ta. Muito bonita. Uma casa grande cons- estavam perto, enquanto preparava as Missões. Falei para eles que tinha como tista do Recife e só me aceitaram por- da. A finalidade era fazer tijolos, vender Quando o menino tinha oito dias de
truída com jardim. Tínhamos muitas va- terras do banhado, fazendo drenagens objetivo trabalhar como professora no que confundiram meu nome com uma e construir suas casas de alvenaria. vida, a mãe o abandonou, deixando-o
cas de leite, uma boa tropa de gado e um para o cultivo de arroz em suas pró- Orfanato de Tocantins. pessoa do sexo masculino. O envelope O trabalho foi feito com os empregados com o casal. Quando mamãe chegou
rebanho de ovelhas. Muitas árvores fru- prias terras. Meus pais não concordaram com a onde recebia as lições vinha sempre de ambos e dos filhos mais velhos. Era para dar assistência, encontrou o casal
tíferas e uma carroça para passeio, com No meio de tantas atribulações e lutas, ideia e disseram que Deus chamaria endereçado ao Sr. Zidrone. três de cada lado, tudo muito divertido! desesperado.
um toldo que nos abrigava da chuva e do nasceu no dia 24 de julho de 1948, Ar- outras pessoas que já moravam naque- Escrevi para eles informando o erro e, As construções foram feitas em 1954 e Então, ela trouxe o menino com ela e,
sol. Era o orgulho dos filhos. Como Deus naldo, o sétimo filho. la cidade e tinham melhores oportu- como resposta, me disseram que eu cada um fez a sua casa. Para Henrique como amamentava seu filho Roberto
é fiel! Como duvidar das promessas deste Papai também precisou correr atrás da nidades para se preparem e que, com poderia fazer o curso. Entretanto, eu e sua família foi um tempo de muito de quatro meses, passou a amamentar
Deus que nunca falha? construção de uma escola na localida- certeza, eu encontraria muitas crianças não receberia o diploma, já que o cur- sacrifício porque, nesse tempo, Benja- também o menino a quem deu o nome
Papai pensava em comprar mais terras de. Até que isso acontecesse, os filhos aqui mesmo em Monte Alvão – filhos so era destinado a homens que dese- mim precisou servir o Exército, mas as de Astrogildo. Papai notificou ao Juiza-
para angariar fundos. Arrendou uma ficaram praticamente um ano sem es- dos agregados das fazendas – para jassem ser pastores ou obreiros. Como plantações precisavam de cuidados e a do de Ijuí e recebeu a guarda provisória
lavoura de arroz situada em Monte Al- cola. Depois que a ela foi construída, os exercer o meu trabalho missionário. almejava o conhecimento, aceitei as olaria não podia parar. da criança.
vão, uns 10 km distante de onde mora- professores ficaram hospedados na casa Fiquei muito triste, mas lembrei da imposições dessas condições. Então, papai reuniu a família, como Em 1956, no dia 9 de julho nasceu Vil-
va. Mamãe Frieda ficava cuidando das da família Liebich, até que se encontrou recomendação do Apóstolo Paulo em Quero registrar a bênção que foi o apoio sempre fazia, quando tinha que tomar son, o caçula da família.
crianças, tirando leite, capinando, tra- uma professora casada com um agricul- Colossenses 3:20: “Filhos, em tudo recebido por parte do Pr. Oscar Horn: alguma decisão. Dessa vez, a dificuldade No ano de 1957, Henrique e Frieda co-
tando dos porcos e cavalos, além de cui- tor. Então, a comunidade construiu uma obedecei a vossos pais, pois fazê-lo é empréstimos de livros, aulas particula- era que só daria para pagar os pedreiros memoraram as bodas de prata – 25 anos
A Grande Família Liebich – 1965
de casados – e, realmente, eles eram um crianças que precisavam de um lar e de do Sul do Brasil. Ao que papai Henrique
casal exemplar, o qual colheu e espa- que havia necessidade de uma institui- respondeu: “tenho convicção que esta
lhou muitas bênçãos em sua existência. ção que as abrigasse, cuidasse delas e é a vontade de Deus, e só contarei com
Em 1958, Naomi, sua filha mais velha, também pudesse trabalhar com as fa- Ele e com aqueles que Ele mover para
casou-se com Willi Vanderven. mílias, pois assim poderiam restaurar sustento desta obra que é Dele”.
No dia 24 de maio de 1960, Henrique e muitas vidas e famílias. O Pastor Oscar Horn escreveu para o
Frieda foram à vila de Ajuricaba, como Foi aí que Papai Henrique falou: “Frieda, Pastor Ricardo Petrowski, que era pri-
de costume, para fazer compras. Che- você lembra do que dissemos à Zidrone, mo do pai de Frieda, e que havia fun-
gando à loja de Norberto Oderman que quando ela compartilhou conosco o de- dado um Instituto para Cegos no Rio
também resolvia problemas de meno- sejo dela de trabalhar no Orfanato Soren de Janeiro, pedindo informações sobre
res junto à Comarca de Ijuí, este foi em Tocantins, e que nós respondemos a o processo de registro e de organiza-
logo apresentando três crianças aos ela que poderia trabalhar aqui mesmo?” ção de uma instituição beneficente.
meus pais: Jose Clenio, de quatro anos, Parece-me que Deus está nos pegando Também contou sobre o chamado de
Lourdes, de dois anos e João Enio, de pela nossa palavra, mandando o Orfa- Zidrone para a obra missionária.
nove meses. Explicou que as crianças nato para nossa casa. O Pastor Ricardo, com muita dedica-
haviam sido abandonadas por agre- Naquela noite, no costumeiro culto ção, enviou uma cópia dos Estatutos
gados de uma fazenda e acrescentou: doméstico, papai Henrique expôs sua de Orfanatos da Convenção Batista
“vocês poderiam me ajudar a resolver preocupação em relação às crianças Brasileira, no Rio de Janeiro, e uma
esse problema?” que já estavam em nossa casa e de orientação dos passos a seguir para
“Vocês, que já tem uma criança, pode- tantas outras que precisavam de um fundar uma organização. Junto com
riam abrigar mais essas três até que eu lar. Ele concluiu, pedindo que orásse- esse material, ele enviou também uma
encontre os pais, ou arranje outra solu- mos para que Deus nos mostrasse sua carta para mim, Zidrone, pedindo que
ção?” Papai lhe respondeu: “Mas eu já vontade sobre a criação de um orfana- eu orasse para ter plena convicção de
estou aguardando há seis anos vocês en- to em nossa casa. que Deus estava me orientando para
contrarem a mãe do menino que está co- Papai Henrique foi se aconselhar com iniciar esta obra junto com os meus
migo e até hoje não pode ser registrado”. o Pastor Oskar Horn sobre a possibili- pais, pois certamente ela iria envolver
Contudo, conversando com Frieda, eles dade de organizar o orfanato e como toda a família.
resolveram levá-los para o seu lar, pois fazê-lo. Ele achou louvável a ideia, mas Respondi que via claramente a direção
o amor falou mais alto. alertou para as dificuldades de conciliar divina para a minha vida na fundação
No caminho de volta para casa, o tema orfanato, família e sustento, e que não desta obra, mas também tínhamos
da conversa, nesses longos 20 km poderíamos contar com o auxílio das convicção de que somente Deus sabia
de carroça, era o problema de tantas igrejas da Convenção Batista Pioneira por quanto tempo o Lar ficaria sobre
a direção da nossa família. Até hoje
agradeço por esta carta tão amável. O brinquedo favorito Primeiras crianças no orfanato H. Liebich
Creio ter sido orientada por Deus para
uma profunda sondagem da sua so- Liebich, Frieda Liebich, Arnold Reinke, registrado o Orfanato como pessoa ju- este município queria formar professo-
berana vontade. Tive que fazer muitas Frieda Reinke, Willy Van der Fee, Nao- rídica. Posteriormente, foi elaborado o res para a zona rural, a fim de, como
renúncias em minha vida, ficando até mi Von der Fee, Benjamin Liebich, Elzira regimento interno que regulamentaria parte do currículo, ensinar às crianças
aos quarenta anos de idade no Orfa- Cristina Liebich, Arlindo Cardoso, Al- o funcionamento. e às famílias o modo de cultivar horta-
nato. Mas nunca me arrependi por ter bertina Cardoso, Dorvalino dos Santos, As instalações eram na residência da fa- liças e árvores frutíferas.
obedecido e confiado nos propósitos Iracema dos Santos, Cristiano Liebich, mília Liebich. O Orfanato foi aberto com Assim, as crianças, entre os anos de
soberanos de Deus. Zidrone Liebich, Sibila Liebich, Alvine sete crianças que já estavam no Lar de 1961 e 1964, ficaram sob os cuidados
No dia 11 de fevereiro de 1961 foi fun- Minikel e Alma Endel. Henrique, uma desde 1954 e as seis que de Frieda e de sua filha, Sibila. Em 1961,
dado o Orfanato Batista “Henrique Lie- A primeira diretoria ficou assim cons- chegaram no decorrer do ano de 1960. os internos chegaram a ser dez crianças
bich”. A reunião foi dirigida pelo Pastor tituída: presidente – Henrique Liebich; Nesse momento, papai Henrique viu e, no ano de 1962, já eram vinte e qua-
Oskar Horn, representante credenciado secretária: Zidrone Liebich; tesoureiro: a necessidade de que eu fosse fazer o tro. Em 1963, eram trinta e três, sendo
da Primeira Igreja Batista de Ijuí. Willy Vander Fee; conselheiro: Pastor curso de magistério no Instituto Assis que, em 1964, atingiu-se o número de
Os sócios fundadores foram: Henrique Oskar Horn. Foi aprovado o estatuto e Brasil, em Ijuí, que era gratuito, pois quarenta e seis crianças. Em 1965, eram
Caminhão de Henrique – o transporte para a igreja em Monte Alvão
já cinquenta crianças (que era a capaci- suas missas aos paroquianos: Dizia ele: período difícil em sua saúde. Então, o Porém, o seu convênio médico era com
dade máxima da instituição). “Vocês querem conhecer a verdadeira casal resolveu morar na casa ao lado o Sindicato Rural do Rio Grande do Sul
Para abrigar esse número de crianças, religião pura e sem mácula diante de com os dois filhos menores e eu pre- e só atendia pela Santa Casa de Miseri-
foram ampliadas as instalações. Como Deus Pai? Vão visitar o orfanato Hen- cisei deixar o trabalho na escola para córdia em Porto Alegre.
a cozinha da casa enorme, foi transfor- rique Liebich”, citando Tiago 1:27. Isso ficar somente no Orfanato. Em novembro, fui com ele para Porto
mada em dormitório para as crianças moveu caravanas de muitos paroquia- O sonho de uma sede própria para o Alegre. Chegando ao hospital, a inter-
pequenas. Também foi construída uma nos que vinham passar um dia no Or- Orfanato parecia impossível, mas não nação só poderia ser feito na enferma-
grande área coberta, pegada à casa já fanato trazendo muita alegria através parávamos de pedir a Deus. Ele sabia ria com outros dez pacientes. Em lágri-
existente, onde funcionava o refeitório de jogos, brincadeiras e mantimentos. onde estavam os recursos e onde seria mas, eu disse: “Papai, como eu gostaria
e outras atividades, principalmente nos Uma divulgadora fervorosa que surgiu a futura sede. Nós ficamos firmes na de ficar com você em um apartamento.
dias de chuva. após o ano de 1964 era Maria Berta, a promessa de Jesus (Marcos 9:23). Tudo Abraçando-me ele me falou: “Filha, fi-
Também próximo a este recinto, cons- Tia Mimi, como gostava de ser chama- é possível ao que crê. que tranqüila”. Deus está aqui. Ele fará
truiu-se uma cozinha menor, duas salas da. Era esposa do Pastor Ditmar Junge, Em 1969, o Pastor Horst e Bertraund a sua vontade, se ele me quiser curar, o
–uma destinada à costura, outra para que veio da Alemanha para pastorear a Borkowski vieram ao Brasil e à Argen- fará, não depende das circunstâncias.
passar e classificar roupas –, lavande- Igreja Batista de Ijuí. Ele foi o Conselhei- tina. Ele veio para fazer conferências Além do mais, eu não sou melhor do
ria, banheiros e um dormitório para os ro do Orfanato e ela se tornou uma líder evangelísticas nas Igrejas de fala alemã que esses meus companheiros que es-
meninos maiores. Na casa, havia seis exemplar no trabalho feminino da Igreja, e ela para visitar os grupos de mulheres tão aqui. O plano de Deus é perfeito”. E
quartos. No quarto do casal ficavam como também da União Feminina das e auxiliá-las com treinamentos. Vindo citou o Salmos 18:30: “O caminho de
dois bebês e num foi montado o escri- Em 1964, aconteceu minha formatura Também descobrimos que os sacos nos Igrejas Batistas da Pioneira, incentivando a Ijuí para um encontro de senhoras Deus é perfeito, a Palavra do Senhor
tório e os outros quartos eram usados e, em 1965, assumi a direção do Or- quais vinha o adubo, eram de tecido esta União a sustentar a missionária Eli – onde ela foi preletora –, Tia Mimi é provada: Ele é escudo para todos os
para as meninas maiores e líderes. fanato e ainda trabalhava como pro- muito bom. Então, alvejávamos esses Hepner no trabalho do Orfanato. falou-lhe sobre o orfanato Liebich e que nele confiam.” E, com um olhar de
Graças a uma doação, foi instalada fessora na Escola Municipal, aonde as sacos e tingíamos o pano para trans- O grupo de Mulheres Cristãs em Ação também a acompanhou para uma vi- autoridade do diácono que era, falou:
uma bomba no poço para puxar a água crianças do Orfanato estudavam. Neste formá-lo em vestidos, camisas, bermu- de cada Igreja, ia adotar uma ou mais sita. Ela contou a seu marido sobre o “Fique na casa de sua tia, seja uma
para a caixa e distribuí-la para cozinha, ano, Sibila foi para Ijuí, a fim de fazer o das, forro de cama, toalhas e até mo- crianças para ajudá-las com objetos Orfanato e ambos ficaram comovidos bênção para ela e seus primos. Apro-
os banheiros e a lavanderia. Mais tarde, colegial e, para se sustentar, trabalhou chilas para as crianças irem à escola. de uso pessoal, lembrando delas nos com essa obra. Voltando para Alema- veite para visitar os enfermos deste
foi construído um poço artesiano. como doméstica. Quando terminou, Os agricultores da redondeza, sabendo seus aniversários, no Natal e em suas nha, começaram a fazer uma campa- hospital, enquanto os enfermeiros cui-
A família Liebich e o Orfanato funciona- continuou em Ijuí para fazer o curso disso, doavam os sacos do adubo que orações, visitá-las e convidá-los para nha para ajudar a trazer energia elétri- dam de mim. E, antes de eu deixá-lo
vam juntos, formando uma grande famí- bíblico no Instituto Bíblico da Conven- usavam para o Orfanato. as férias. O grupo de Mulheres Cristãs ca para o Orfanato. ali naquele leito daquela enfermaria,
lia. Meus pais eram chamados de pai e ção Batista Pioneiro do Sul do Brasil. Os pneus velhos viraram os brinquedos em Ação da Igreja de Candeia (RS) não No ano de 1971, Henrique e seus filhos, ele orou por mim, pela mamãe, pelos
mãe por todos. Na Igreja de Monte Alvão, Após terminar esse curso, foi para Ale- preferidos das crianças. se limitou somente a estas tarefas, mas Cristiano e Benjamin, foram conhecer filhos e pelas crianças do Orfanato e,
Henrique era chamado de “Pai Abraão”. manha continuar seus estudos no Se- Por causa de, o Orfanato estar em nos- convidou todas as crianças para um as terras em Mato Grosso do Sul e vol- juntos, citamos o Salmos 23, o seu Sal-
Todos nós tínhamos obrigações: ir à minário Batista de Hamburgo, a convi- sa casa e dirigido por nosso pai, como acampamento com elas. O mesmo fez taram entusiasmados, pois elas eram mo preferido.
escola; ajudar nos trabalhos domésti- te da professora Dorothea Novak. presidente, não fazíamos nenhum tipo a O grupo de Mulheres Cristãs em Ação baratas e boas para o plantio mecani- Na saída, passei pela direção da Santa
cos e na roça cada um de acordo com Também em 1965, o governo brasileiro de campanha para angariar fundos. To- da Igreja Conde de Porto Alegre (RS), o zado, já que eram planas. Casa e falei do meu desejo de ser útil,
sua idade e condições. Não faltavam oferecia empréstimos aos agricultores, das as doações eram por iniciativa dos qual levou as crianças e monitoras para Henrique fazia planos. Como o preço das fazendo visita aos enfermos daquela
as horas de lazer, esportes e passeios. incentivando o plantio de soja em lar- próprios doadores. Nós confiávamos em passearem com elas na Praia de Guia- terras preço pelo qual venderia as terras instituição, enquanto meu pai estivesse
É claro que também não faltavam as ga escala. Meus pais e meus irmãos, Deus e em suas promessas para sus- ba, em Guiaba (RS), na casa dos irmãos de Monte Alvão, daria para comprar internado. Então, como acharam a idéia
brigas e as correções. Tudo era como Benjamin e Cristiano, resolveram partir tentar a obra (Salmos 10:14), e Ele foi Ela e Werner Kulle. muitas terras e destinar alguns hectares louvável, recebi um crachá de voluntá-
uma família comum, só que em dose para a agricultura mecanizada, adqui- dando os recursos à nossa família e des- Mime se tornou minha grande amiga, para o Orfanato. Mas Deus tinha pen- ria, e podia circular livremente pelas en-
mais intensa. rindo tratores, plantadeiras, ceifadeiras pertando outras pessoas a nos ajudar, confidente e companheira de oração, samentos e caminhos diferentes, “mais fermarias, levando consolo para tantos
É verdade também que os filhos mais e um caminhão. fazendo trabalhos voluntários, doando sempre me hospedava por uns dias em altos”, como Ele diz em Isaias 55:8 e 9. que não tinham ninguém para visitá-los
novos do casal não tiveram a mesma Com isso, também melhorou o meio de mantimentos, roupas, brinquedos, ma- sua casa, todas as vezes que eu precisa- No ano de 1972, Henrique descobriu e muitos receberam também a Cristo
atenção e relacionamento com os pais transporte, pois, inicialmente, usávamos terial escolar ou fazendo visitas ao Lar. va de um refrigério, ou mesmo quando que estava com câncer no intestino. como Seu Salvador pessoal.
do que os mais velhos, porque tiveram o trator com uma carreta para ir à Igre- Uma visita preciosa nos primeiros anos precisei me recuperar de uma cirurgia. Naquele ano, a colheita de soja não Foi uma bênção o Ministério de Volun-
que compartilhar seus pais com mais ja. Depois, íamos de caminhão, e isso do Orfanato era a do Padre Afonso Jutta Sper e seu esposo me propor- deu nem para as despesas. O médico tária na Santa Casa. Eu passava o dia in-
cinquenta. Se era difícil para os filhos, era uma festa para as crianças, porque Pároco, em Ajuricaba. Ele gostava de cionaram maravilhosas férias em sua disse que ele deveria ir à São Paulo teiro no hospital e, na hora da visita, ia
certamente era também para os pais cantávamos na ida e na volta. Muitos conversar com papai sobre a sua fé e casa por várias vezes. Em 1967, ma- para fazer uma cirurgia e o tratamen- ficar com papai. E ele queria um relató-
desta grande família. vizinhos também iam à Igreja conosco. foi o primeiro a fazer campanhas em mãe Frieda estava passando por um to, pois lá os recursos seriam melhores. rio minucioso da minha missão no hos-
pital. Também compartilhava comigo o meu pai, mantenedor da obra. por Ele e continuará através de pessoas
suas experiências na enfermaria. Nunca Em março de 1973, Henrique convocou fiéis que servem ao Senhor. Confio ple-
se queixava e sempre agradecia a Deus uma Assembleia da Sociedade para dis- namente que, quando Deus abre uma
por tantas bênçãos recebidas durante cutir sobre o futuro do Orfanato. A reu- porta, ninguém fecha e confio na fide-
sua vida e por estas da sua enfermidade. nião foi dirigida pelo Pastor Oskar Horn, lidade do Senhor.
Em suas orações, fazia suas as palavras pois era o pastor interino da Igreja Ba- Então pela fé foi decidido encaminhar
de Davi nos Salmos 18:1-3. “Eu te amo, tista de Monte Alvão, da qual era repre- a Junta de Serviço Social o pedido para
ó Senhor força minha. O Senhor é a sentante. Ele já havia dirigido, a pedido que a Convenção Batista Pioneira do
minha rocha, a minha cidadela, o meu de Henrique, a Assembleia de fundação, Sul do Brasil na Assembléia a ser real-
Deus, o meu rochedo em quem me re- e agora estava presente na Assembleia, ziada no mês de maio de 1973 estu-
fugio; o meu escudo, a força da minha a qual visava buscar uma solução para a dasse a possibilidade de assumir o Or-
salvação, o meu baluarte. Invoco o Se- continuidade do Orfanato. fanato, sendo que a família Liebich se
nhor, digno de ser louvado!” Foi uma reunião carregada de orações, comprometeria doar um terreno mais
Falando com a equipe médica que o lágrimas e emoções que pairavam na at- o dinheiro recebido da Alemanha pró
operou, ela me informou que o caso mosfera e em todos os presentes como energia elétrica em Monte Alvão. Tam-
dele não tinha mais solução do pon- um grito de socorro. Nessa ocasião, Hen- bém a família se comprometeria a con-
Pastor Horst e Bertraund Borkowski
to de vista da medicina. Por isso, para rique, naquela calma que lhe era peculiar tinuar mantendo o Orfanato até que a
curá-lo, “só um milagre”, pois o câncer em momentos de crise, começou a falar: Convenção Pioneira tivesse uma estru- ção Batista Pioneira, que aconteceu de março de 1973. morrer em sua casa e que iria naquele
já estava espalhado e estimavam uns Agradeço a Deus por ter sustentado a tura para abrigar todas as crianças. entre os dias 11 e 15 de abril de 1973. Henrique ainda pôde comemorar a dia mesmo.
seis meses de vida. mim, à minha família e às crianças abri- Na mesma semana, fui conversar com A decisão da Assembleia da Conven- chegada deles com um churrasco e Ao chegar em casa, disse que queria
Uma semana antes do Natal, papai teve gadas em meu lar desde 1954, quando o casal, o Pastor Ditmar e Mimi Junge, ção foi aceitar o pedido de assumir o muitos amigos e parentes. falar com cada filho, junto com Frieda
alta do hospital, mas teria que conti- recebemos o primeiro menino. sobre esta decisão. Tia Mimi logo disse Orfanato, com a promessa do Pastor Em abril, ele precisou ser internado no e, no outro dia, continuou a falar com
nuar em Porto Alegre. Então, ficou na Agradeceu aos filhos pelo apoio e pelo que a Convenção não teria condições Borkowski de que iria se empenhar na Hospital de Ajuricaba e apareceram cada um dos internos do Orfanato.
casa da tia Rosa, irmã dele, e eu voltei espaço dividido no seu lar com tantas de fazer aquilo, a não ser que houvesse campanha na Alemanha. tumores em suas costas e pediu ao Dr. Reuniu a família e passou a Benjamin a
para o trabalho do Orfanato, sendo que crianças e pelo respeito que tiveram uma ajuda da Alemanha. Nesse mesmo Foi escolhida uma Comissão que iria Lauro que os removesse. O médico lhe responsabilidade de cuidar do inventário
mamãe foi passar o Natal com ele. com a decisão de seus pais em manter instante, ela disse: “Vou escrever para trabalhar imediatamente na escolha explicou que o sofrimento ainda seria e dos negócios financeiros, informando
Ela voltou com a notícia de que papai financeiramente o Orfanato. o Pastor Horst Borkonski, pois a espo- do local e do planejamento da cons- maior com as feridas abertas. Então, os detalhes que precisavam ser acerta-
teria alta para vir para casa em breve, Disse ele: “Sou grato aos sócios que sa dele conheceu o Orfanato, relatou trução. O Pastor Borkowski, também ele queria que o médico que o havia dos. Recomendou que devíamos sempre
e que a tia telefonaria para nos dizer sempre estiveram ao meu lado nas ao esposo e ambos ficaram comovidos nesta viagem, veio com o objetivo de encaminhado para Porto Alegre viesse primar pela paz e pela harmonia, seguin-
quando deveríamos ir buscá-lo de carro. horas precisas e decisivas. Agradeço com esse trabalho. Se eles souberem visitar a Argentina. de Ijuí, para saber sua opinião. do os princípios da Palavra de Deus.
Mas papai resolveu fazer uma surpre- aos pastores: Pastor Oskar Horn pelos da enfermidade de Henrique, com cer- Nesta oportunidade antes de regres- Esse médico conversou longamente Papai recebeu muitas visitas e só que-
sa. Numa manhã, bem cedinho, che- conselhos, advertências, orientações, teza farão algo” Ela disse para o Pastor sar para a Alemanha, visitou meu pai, com ele, dizendo que, pelo que conhe- ria tomar os calmantes para dor à noite,
gou ele com sua maleta. Imaginem! assistência espiritual e seu ombro Ditmar: “Fique orando com a Zidrone Henrique, e lhe assegurou que iria se cia a seu respeito, era um homem de pois desejavas estar lúcido durante o
Ele havia viajado mais de 400 km, to- amigo. Ao pastor Ditmar Junge e sua eu vou escrever para colocar essa car- envolver numa campanha para que o fé, preparado para a vida eterna com dia. Pedia sempre que cantássemos hi-
mando um ônibus para Ijuí e outro até esposa Mimi, pelo seu amor prático e ta ainda hoje no correio. Tenho certeza Orfanato continuasse, o que o deixou Deus. Afirmou para ele que a enfermi- nos do Hinário do Cantor Cristão e lês-
Monte Alvão, desembarcou no ponto presente, estimulando, consolando, va- de que, quando a carta chegar às suas muito feliz, vendo que Deus estava dade estava num estado em que não semos, como sempre, a Bíblia Sagrada.
mais próximo de sua casa que ficava a lorizando e divulgando o trabalho. Ao mãos, ele saberá quem tem o dinheiro enviando o socorro e também compro- havia mais nada a fazer. Ele disse: “Nós, Na véspera do dia da sua morte, levan-
7 km este trecho. Andou de trator em Pastor Manfred Grelet, pela admiração, para investir, pois ele sabe quem são as vando a fidelidade divina. como médicos, podemos somente tou-se e, amparado, foi até a janela.
pé, porque não podia sentar-se, pois a visão e encorajamento para o trabalho pessoas amigas que têm amor por Deus Sibila, minha irmã que havia ido para amenizar sua dor”. Ele então perguntou Olhando para o céu disse: “Obrigado,
cirurgia ainda estava aberta. Esta aven- social. Ao Pastor Joel e sua esposa Ely e pelas pessoas que precisam de ajuda”. Alemanha, casou-se com Werner F. quanto tempo de vida ainda tinha. O Senhor por tudo que me deste nesta
tura foi em janeiro de 1973. Lopes, pelo auxílio na integração do Assim aconteceu. O Pastor Borkowski Geiger e, juntos, estavam se preparan- médico riu e disse: “O senhor sabe que vida. Que segurança, que fidelidade!”
Graças a Deus, a cirurgia fechou, mas ou- Orfanato com a Igreja. Ao Pastor Ju- recebeu o patrocínio para a viagem e a do junto à Deutche Misisons Gemaide isso somente pertence a Deus, pode Papai era verdadeiramente um servo
tras complicações começaram a surgir e racy e sua esposa Nery, pela assistência promessa de sustentar o Orfanato, en- DMG (Comunidade Alemã Missionária) ser uma semana, um mês ou anos. De- do Deus Altíssimo, um exemplo para
outras foram aparecendo. O médico Lau- espiritual às crianças”. quanto as Igrejas da Alemanha e as do para serem enviados ao Brasil como pende da vontade Dele”. E conversaram nossas vidas.
ro Ivo Resler de Ajuricaba, que prestou Quanto à continuidade do trabalho, Brasil se mobilizassem para construir Missionários no Orfanato. Quando a ainda sobre a salvação em Cristo e a Ele havia pedido que buscássemos sua
assistência médica às crianças do Orfa- confio no Senhor. Ele é o socorro das um lar para essas crianças; missão soube de que papai tinha pouco direção divina. filha e seu genro, que moravam em
nato com muita dedicação no período crianças e levantará pessoas para sus- Com essa promessa, ele veio ao Brasil tempo de vida, antecipou o envio dele, Depois da saída do Dr. Milton, Henri- Planalto (PR). E ele perguntava a toda
de 1970 a 1975, também ajudou muito tentar esta obra que obra foi iniciada participar da Assembleia da Conven- sendo recebidos no Orfanato no dia 20 que falou com Dr. Lauro que desejava hora se já haviam chegado. Quando
Vista aérea do complexo do Lar da Criança H.L. – 1978
tos bisnetos
Podemos ver as maravilhas que Deus
fez para o Orfanato. Em 1974, fui
convidada pelo Pastor Horst Borko-
wski para ir à Alemanha participar da
Assembleia da Convenção Batista da
Alemanha, onde foi criada a Ação Mis-
sionária para a América do Sul (MASA),
da qual o Pastor H. Borkowski foi ins-
tituído presidente. Foi autorizada a
campanha para a construção da sede
Sepultamento de Henrique – 09/05/1973
própria do Orfanato.
eles chegaram de madrugada, falou fúnebre foi dirigida pelo Pastor Rena- O Pastor H. Borkowski era um homem
com eles e assim essa foi sua última to Sales que, em sua mensagem, usou de grande visão, de amor a Deus e às
semana e seu último dia. o texto do Apocalipse 14:13.: “Bem- pessoas necessitadas. Consciente da
No dia 8 de maio de 1973, às 6.00 ho- -aventurados os mortos que desde missão grandiosa e urgente que estava
ras, com sessenta e um anos, tombou agora morrem no Senhor. Sim, diz o sob a sua responsabilidade de conduzir
este herói da fé. Foi ao encontro do Espírito para que descansem dos seus a “Ação Missionária para a América do
Deus que ele tanto amou e obedeceu trabalhos e as suas obras os sigam.” Sul”, viu na construção do Lar da Crian- de exército de pessoas para sustentar,
neste mundo. “Bom e fiel este servo, Este texto também foi gravado na lá- ça “Henrique Liebich”, uma porta aberta não só a ação de socorro ao Orfana-
sob o pouco foste fiel, sob o muito te pide dos túmulos do casal Henrique e para a primeira ação missionária. to Liebich, mas outros lares no Brasil,
colocarei. Entra no gozo do teu Se- Frieda no cemitério em Monte Alvão, Para executá-la, transformou sua Argentina, Peru e Chile, bem como o
nhor”. Papai entrou na glória celestial. município de Ajuricaba, onde também casa em escritório, organizou sua sustento de missionários em campos
Se estivesse vivo neste dia 21 de agosto foi sepultado seu filho Arnaldo que grande equipe de voluntários da missionários na América do Sul e fun-
de 2011, comemoraria o seu centená- morreu em 1980. Igreja Batista em Dissildorf, da qual cionários nos lares de crianças.
rio. Nós podemos afirmar como a Bíblia Henrique e Frieda tiveram nove fi- era pastor, para preparar e enviar A construção do Lar da Criança Hen-
fala de Enoque: “Andou Henrique com lhos: quatro mulheres e cinco homens, material para a campanha. rique Liebich durou de 1975 a 1978
Deus e já não está aqui, porque Deus o 22 netos e 34 bisnetos. O número de Sua esposa, Bertraud, junto à União quando, no dia 19 de novembro de
tomou para si”. crianças abrigadas em seu lar de 1954 Feminina das Igrejas Batistas da Ale- 1978, foi inaugurada a linda aldeia
Muita gente veio se despedir de papai. a 1975 foi de noventa e oito. manha, se tornaram grandes aliadas com nove casas-lares, sede administra-
O sepultamento foi no dia 9 de maio de Frieda viveu vinte e nove anos como da campanha em suas Igrejas. O Pastor tiva, parque de lazer, quadra esportiva,
1973 e chovia muito. A própria nature- viúva e faleceu aos 89 anos (oitenta e Borkowski, em seu desafio, falava sobre horta e pomar com capacidade de re-
za chorava pela partida deste homem, nove anos), no dia 14 de Outubro de papai Henrique que ele não sabia ler e ceber cem crianças.
que a tantos abençoou, mas acredito 2002, tendo visto todos os filhos casa- nem escrever, mas sabia ler a angústia Trabalhei no Lar da Criança em Ijuí,
que havia festa no céu. A cerimônia dos e conhecido todos os netos e mui- e a dor das crianças abandonadas, sem como diretora, até março de 1979, se-
recursos e órfãs. guindo para Atibaia (SP), onde fiz o Cur-
Pastor Borkowski diante da placa inaugural do Lar da Criança Henrique Liebich
Eu participei nos primeiros seis meses, so Básico de um ano no Instituto Palavra
de maio a outubro de 1974, viajando da Vida. Ao término deste ano, fui para
pela Alemanha, visitando igrejas, insti- São Paulo, onde estudei Educação Cristã
tuições de idosos, encontros regionais no Seminário Batista Regular e durante
de senhoras e pude ver milhares de um ano, Missões Judaicas com a Missão
pessoas se envolvendo na construção Brasileira Messiânica. Fiz o Curso de Li-
e no sustento das crianças através de derança da APEC e fui trabalhar como
apadrinhamento. Missionária da APEC em convênio com
Na casa dos Borkowski, o telefone não a MASA até dezembro de 1985, quando
parava de tocar. Eram pessoas queren- me casei com o Pastor Reginaldo Pires
do aderir à campanha. Um verdadeiro Moreira. Fui trabalhar na Congregação
milagre: era Deus levantando um gran- Batista de Getúlio Vargas e trabalha-
Adolescentes do Lar da Criança Liebich visitando a construção da 1ª Casa-Lar
mos juntos até hoje. Minha irmã, Sibi- dando as pessoas ao
la Geiger, e seu esposo, Werner Geiger, nosso redor.
ficaram no Lar da Criança até 1981 e Sou imensamente
assumiram o trabalho missionário em grata a Deus por
Maravilha (SC), depois em Águas de tantas pessoas na
Chapecó e Planalto Alegre onde estão Alemanha que, com
residindo atualmente. suas orações e ofer-
A graça e o imenso amor de Deus que tas, levantaram re-
iniciou o Lar da Criança com a família cursos para tornar
de Henrique e Frieda Liebich, continuam a sede própria do
estimulando pessoas para dar continui- Lar da Criança uma
dade a esta grandiosa obra que, no dia realidade. Também
11 de fevereiro de 2011, completou cin- agradeço à Conven-
quenta anos de existência. E isso porque ção Batista Pionei-
Deus é o Senhor da História e, através ra do Sul do Brasil,
dela, reflete sua misericórdia. Por isso, pelo apoio dado, re-
devemos louvá-lo, agora e em toda cebendo o lar como
eternidade, com as palavras registradas entidade da Sociedade Beneficência to, Nosso Senhor e Salvador.
no Apocalipse 4:11: “Tu és digno, Senhor Tabea. Sou grata também a Deus, pe- Que linda história de fé, norteada pela
e Deus nosso, de receber a glória, a hon- las pessoas que ainda hoje investem esperança e por um tão grande amor é
ra e o poder, porque todas as coisas tu no sustento das crianças e por aquelas a história de meus pais! Uma história
criaste, sim, por causa da Tua vontade que dedicam suas vidas dando carinho, que mostra a fidelidade de um Deus que
vieram a existir e foram criadas.” cuidado e amor a estes pequeninos dia promete em sua Santa Palavra (I João 5,
E como será bom estar à direita do e noite no Lar da Criança “Henrique 14-15). E esta é a confiança que temos
Supremo Senhor naquele grande dia Liebich”. Nele, que se pedirmos alguma coisa se-
do julgamento e ouvi-lo dizer: “Vinde Tenho gratidão a Deus por meus pais gundo a Sua vontade, Ele nos ouve. E, se
benditos de meu Pai! Entrai na posse que compreenderam o plano divino, sabemos que nos ouve em tudo o que
do reino que vos está preparado des- acreditaram e se deixaram usar para pedimos, sabemos que já alcançamos as
de a fundação do mundo. Porque tive que esta obra assistencial viesse a exis- coisas que lhe temos pedido. Precisa-
fome, e me deste de comer, tive sede, tir. Também agradeço à vida de meus mos nos conscientizar de que Deus quer
e me destes de beber, era forasteiro e irmãos, Benjamin Liebich, Naomi Van- sempre o melhor para nós. Se crermos
me hospedastes, estava nu e me ves- derven e Sibila Geiger, que respeitaram nisso, ele responderá às nossas orações.
tistes, enfermo e me visitastes, preso e a vontade de nossos pais, se sujeitaram “E tudo quanto pedirdes em meu nome,
fostes ver-me!... Em verdade vos afirmo a muitas privações, cooperando com eu o farei, para que o Pai seja glorificado
que, sempre que o fizestes a um destes o trabalho de diversas maneiras, ten- no Filho. Se me pedirdes alguma coisa
meus pequeninos irmãos, a mim o fi- do se tornado também fundadores do em meu nome, eu a farei” (João 14:13-
zestes”. (Mateus 25:31-46) projeto, para que este grande sonho se 14). Essa também é uma promessa “tão
Esta palavra do Senhor Jesus é uma tornasse a realidade que é hoje: o “Lar tremenda”, que muitos simplesmente
promessa de que Deus há de recom- da Criança Henrique Liebich”. Também não conseguem acreditar nela. Mas,
pensar a cada um que, em obediência não posso esquecer de agradecer a Ar- como alguém já disse: “Deus nunca dei-
a Deus, participa na obra de amor ao naldo (in memoriam), Odeti, Roberto e xa de cumprir suas promessas”. Louvo a
próximo onde e como Ele mandar. A Vilson, que eram menores e cresceram Deus pela confiança dos meus pais nes-
obra continua sendo urgente e é im- nessa grande família, repartindo o colo, te Deus que também é o meu Deus, que
perdoável não ouvir o clamor desses a atenção dos pais e participando de abençoou nossas vidas através deste
milhões de crianças carentes, espalha- várias obrigações familiares, junto aos casal maravilhoso chamado Henrique e
das pela face da Terra. irmãos que se amavam sem distinção. Frieda Liebich.
Sigamos o exemplo do casal Henrique Deus recompensará a cada um, segun- A Deus, toda glória por esta linda his-
e Frieda Liebich e de seus filhos, aju- do o amor que tenham por Jesus Cris- tória de fé, esperança e amor.
Testemunhos
dos filhos
C
omo me lembro do meu pai! Ele me ensinava com insistência sobre o que
era certo e o que era errado. Ele era um homem justo, sincero, temente
a Deus e, além de tudo, um homem de fé que amava realmente a Deus.
Trago marcas profundas em minha vida do seu amor a Deus e da fé que
ele tinha no Deus dos milagres.
Fico pensando sobre sua grande dificuldade de cantar, mas pareço ouvi-lo ainda
hoje, assobiando com alegria os hinos do cantor cristão, enquanto trabalhava.
Odeti Santos O hino preferido dele era o de número 386, denominado “Cristo, meu deleite”. A
primeira estrofe diz: “Há se eu tivesse mil vozes para o Brasil encher, com os lou-
vores de Cristo, que singular prazer!”
No leito de dor, nos últimos dias de sua vida, pedia que cantássemos o hino de nú-
mero 343, chamado “Sempre firmes”. A primeira estrofe diz: “Minha morada, Jesus
assegura. Paz e conforto na luta feroz. Dá-me teu braço, transporta-me à altura,
onde poderei escutar tua voz”.
Agradeço muito a Deus e aos meus pais, Henrique e Frieda Liebich, pelo seu exem-
plo de fé, obediência e submissão a Ele. Tenho certeza que um dia nos encontrare-
mos na glória e louvaremos a este Deus, que foi fiel em suas promessas aos meus
pais. Com saudades.
É N
com satisfação e orgulho que venho falar da pessoa de meu pai. Um homem
sério, íntegro, decidido e de boa conduta. a minha infância e adolescência, foi de um valor imenso ter pais que souberam colocar
Meio rude, com pouco estudo, mas com um enorme coração. limites bem claros para nós, filhos, e, quando desobedecíamos, a correção não falhava.
Com meu pai, aprendi a trabalhar duro desde muito cedo. Porém, o que me marcou profundamente, não foi a repreensão, principalmente de
Ele era bem rígido na educação de seus filhos, principalmente com os mais velhos, papai, mas o fato de que, depois de um castigo, não mais se falava do assunto e
como eu, que sofreram bastante. Mas, passados todos esses anos, e vendo a juven- isto me dava a certeza de que eu tinha sido perdoada. Papai e mamãe deixaram para mim um
tude atual, penso que foi melhor assim. A bondade de meu pai refletiu-se, princi- exemplo muito forte de amor e respeito entre o casal.
Cristiano
palmente, quando apareceram as primeiras crianças carentes e ele as acolheu, sem Não me lembro dos dois discutindo ou repreendendo um ao outro na presença dos filhos.
Liebich
pensar duas vezes... o resto, vocês já sabem... hehehe. Com saudade. Sibila Geiger Papai não sabia ler nem escrever, mas foi usado no seu ministério como diácono. Com a sa-
bedoria vinda do alto, ele tinha palavras de orientação para as pessoas necessitadas de ajuda.
Mamãe era aquela que dirigia as devocionais no lar. Fazia a Escola Bíblica Dominical em nos-
sa casa aos domingos pela manhã com a participação de vizinhos; parentes e amigos. Grande
Meu pai era um homem de fé, justo nos negócios, trabalhador, fiel a Deus e di- era a alegria de todos quando, um domingo por mês, chegava o pastor Oscar Horn com seu
zimista. Batalhador, alguém que confiava fielmente nas promessas de Deus, que carro Ford 29, vindo da Igreja de Ijuí, há 50 km!
nunca desanimava em meio às dificuldades e que sempre tinha uma palavra de Mais tarde, quando se construiu a capela em Monte Alvão, era triste quando chovia e não
esperança e fé de que Deus sempre é fiel. Um homem amoroso. podíamos ir à Escola Bíblica Dominical e ao culto, por causa das estradas lamacentas.
Papai não media esforço para trabalhar para Deus, um homem verdadeiramente No início, fomos de carroça e a cavalo e, mais tarde, de trator e carreta. Quando nossos pais pude-
trabalhador. Levava com alegria as crianças para os cultos. Quando tinha evangeli- ram adquirir um caminhão, sentimos conforto na mudança, porém, mais importante que o meio
zação, empenhava-se para convidar as pessoas para ouvirem sobre Cristo. Oferecia de transporte, era o desejo e a alegria de poder levar a grande família Liebich, e todos os vizinhos
Roberto o caminhão para levá-las e buscá-las durante os dias de evangelização. Verdadei- que quisessem ir, à casa de Deus para louvá-lo. Vi na prática com meus pais, o que é buscar em
Liebich ramente, meu pai era um grande evangelista. Desprendeu-se de suas proprieda- primeiro lugar a Deus e às suas coisas, pois, dificilmente ficava alguém em casa no dia de culto
des, visando o bem das crianças do Lar. Fez muita falta quando morreu, pois eu o para preparar o almoço, o que se fazia no dia anterior ou ao regressar da programação.
considerava um líder de sucesso. É com gratidão que me lembro destas e de tantas outras lições preciosas que aprendi com
Um casal exemplar, nunca vi meus pais brigarem, pois sempre sabiam resolver os meus pais, enquanto eles puderam estar em nosso meio. Restam saudades!
seus problemas de maneira digna, não criando embaraços para os filhos. Mesmo
B
na hora da morte, meu pai nos chamou, um a um, e teve uma conversa de alguém om ter a oportunidade de testemunhar sobre o meu pai, Henrique, e minha saudosa
que realmente sabia para onde iria. Ele nos disse que Jesus era seu Salvador, que mãe, Frieda Liebich. Meu pai era um homem bastante severo quanto aos negócios,
estava preocupado com a nossa situação espiritual e gastou quase uma hora com gostava de tudo certo, ensinava a honestidade, a lealdade e a fidelidade, o que tam-
cada um de nós. Meu pai, um homem exemplar. Com grande saudade. bém se aplicava ao relacionamento familiar. Ele exigia que os filhos fossem obedientes
e respeitassem um ao outro.
Meu relacionamento com mamãe era mais próximo, pois trabalhávamos juntas nas lidas di-
árias da casa e também na roça. Enfim, estávamos sempre próximas e sempre vi em mamãe
A
Naomi van uma mulher fiel a Deus e à família.
dmirava o caráter, a lealdade e a palavra de meu pai. Quando ele dizia, Ela era a mulher da Bíblia, a mãe que a lia a Bíblia para os filhos e também para papai.
der Vem
podia-se acreditar e confiar. Um homem que ajudava as pessoas. Um Hoje, ao testemunhar a respeito deles, fica minha gratidão e saudade, por tudo que represen-
homem que tinha amor pelas pessoas, um exemplo de dedicação aos taram em minha vida.
filhos, exemplo de fé, de coragem, de entusiasmo.
Meu pai e minha mãe formavam um casal exemplar, fiéis, dedicados e consa-
grados. Eles acreditavam que, operando Deus, quem os impediria? Acreditavam
também na fidelidade do Deus, o qual prometeu que, mesmo quando fôssemos
Benjamin infiéis, Ele permaneceria fiel.
Liebich Que entusiasmo eu via nesse casal! Minha mãe orou para que Deus salvasse Ar-
naldo e meu pai pregou Deus, honrou a palavra e Arnaldo se salvou. Que mulher
extraordinária, minha mãe Frieda! Meus pais tinham o dom da hospitalidade. Eles
recebiam com carinho os pastores e meu pai era amigo deles. O que mais dizer?
Tudo que eu disser será pequeno, diante da grandiosidade deste homem e desta
mulher. Então, quero agradecer a Deus pela bênção de ter sido filho deste casal
maravilhoso. Quantas saudades!
Benjamin Liebich
Q
uero registrar meu orgulho pelo pai e a mãe que tive. Meu pai realmente
era um homem abençoado por Deus, ele tinha plena confiança de que
Ele ouvia suas orações e nunca se intimidava diante dos problemas que
surgiam. Deus era o seu socorro, bem presente nas horas de tribulações.
Acredito também que o sucesso do meu pai pode se creditar à honrada esposa que
ele tinha, pois minha mãe, Frieda, era uma mulher de oração, submissa a Deus e a
meu pai, um exemplo de amor e abnegação.
Vilson Liebich Admirava ver minha mãe com a Bíblia aberta, lendo para papai e meus irmãos.
Uma mulher de grande fé, mas, além disso, uma mulher para toda obra e que
trabalhava todo dia para o sucesso da família.
Meu pai foi um homem que venceu a morte, não se intimidando diante dela. Nos
seus últimos dias, chamou os vizinhos para falar-lhes de Cristo e da esperança
da vida eterna. Aos filhos, fez várias recomendações. Aconselhou que eu ouvisse
os meus irmãos mais velhos, porque eles tinham interesse em minha vida. Se eu
tivesse escutado este conselho de meu pai, os meus dias hoje seriam de mais feli-
cidade e vitória. Por que não o escutei?
Hoje, resta a saudade deste homem e desta mulher, que marcaram nossas vidas
pelo amor que tinham a Deus e ao próximo. Com saudades.
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