EMILIANAPOMARICORIBEIRO Dissertação

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO


ESCOLA DE COMUNICAÇÕES E ARTES

EMILIANA POMARICO RIBEIRO

Micronarrativas como estratégia de comunicação interna

São Paulo
2014
1

EMILIANA POMARICO RIBEIRO

Micronarrativas como estratégia de comunicação interna

Dissertação apresentada à Escola de


Comunicações e Artes da Universidade de
São Paulo para a obtenção do título de
Mestre em Ciências da Comunicação.

Área de Concentração: Interfaces Sociais da


Comunicação

Linha de Pesquisa: Políticas e Estratégias


de Comunicação

Orientação: Prof. Dr. Paulo Roberto Nassar


de Oliveira.

São Paulo
2014
2

Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio
convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa desde que citada a fonte.

Catalogação na publicação
Serviço de Biblioteca e Documentação
Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo
Dados fornecidos pela autora

Ribeiro, Emiliana Pomarico


Micronarrativas como estratégia de comunicação interna /
Emiliana Pomarico Ribeiro. -- São Paulo: E. P. Ribeiro,
2014.
189 p. + inclui CD.

Dissertação (Mestrado) - Programa de Pós-Graduação em


Ciências da Comunicação - Escola de Comunicações e Artes /
Universidade de São Paulo.

Orientador: Paulo Roberto Nassar de Oliveira


Bibliografia

1. Comunicação organizacional 2. Comunicação interna 3.


Novas narrativas 4. Storytelling 5. Micronarrativas I.
Oliveira, Paulo Roberto Nassar de II. Título.

CDD 21.ed. - 302.2


3

RIBEIRO, E. P. Micronarrativas como estratégia de comunicação interna. Dissertação


apresentada à Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo para
obtenção do título de Mestre em Ciências da Comunicação.

Aprovado em: _____/_____/ 2014

Banca Examinadora

Prof. Dr.: ______________________________________________________________


Instituição: ____________________________________________________________
Julgamento: ____________________________
Assinatura: _____________________________

Prof. Dr.: ______________________________________________________________


Instituição: ____________________________________________________________
Julgamento: ____________________________
Assinatura: _____________________________

Prof. Dr.: ______________________________________________________________


Instituição: ____________________________________________________________
Julgamento: ____________________________
Assinatura: _____________________________
4

Aos meus pais, Cecília Pomarico Ribeiro e


José Roberto Ribeiro, pelo apoio e amor
incondicional em todos os momentos da
minha vida. Ao meu irmão José Roberto
Ribeiro Júnior, pela parceria de sempre.
5

AGRADECIMENTOS

A Deus, pela vida e pelas oportunidades e pessoas que colocou em meu caminho.

À ECA – Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, pelo seu


corpo docente, direção e administração, que me acolheram desde a gradução em
Relações Públicas, e que me fizeram a profissional e a pesquisadora que eu sou hoje.

À Aberje – Associação Brasileira de Comunicação Empresarial, que me proporcionou a


construção de inúmeros conhecimentos pela participação em congressos, cursos e
eventos e pelos investimentos confiados a mim como profissional e pesquisadora,
fundamentais para a viabilização de minha dedicação para a concretização destes
estudos.

Ao meu orientador, Prof. Dr. Paulo Nassar, pela amizade, pelas preocupações e
atenções constantes, por acreditar no meu potencial e por toda a valiosíssima inspiração
diária, refletida em orientações que me fazem crescer profissional, pessoal e
academicamente.

À Profa. Dra. Margarida Kunsch, pelos ensinamentos, pelo carinho e pela dedicação
com que me acompanha desde a graduação.

Ao Prof. Dr. João Carrascoza, pelas palavras sempre inspiradoras que afetam o meu
jeito de sentir e ver o mundo e elevam meus pensamentos.

À Profa. Dra. Marlene Marchiori, por quem tenho grande admiração pelos estudos,
pelo tempo dispensado para ser parte de minha banca.

Aos profissionais e pesquisadores, professores doutores da ECA-USP, Celso Frederico,


Luiz Alberto de Farias, Marília Franco, Mayra Rodrigues e Leandro Leonardo Batista,
pelas aulas e ensinamentos pelas disciplinas cursadas e pela Profa. Dra. Nicole
D’Almeida, da Universidade Sorbonne de Paris, pelas ideias sobre as narrativas
organizacionais em sua disciplina especial realizada aqui no Brasil.
6

Aos meus companheiros e colegas de mestrado Natália Chaves, Ágatha Camargo,


Gustavo Carbonaro, Mariana Passos, Lebna Landgraf e Tânia Pereira, pela amizade e
pelo compartilhamento de dúvidas e de conhecimentos.

À querida Daniela Queiroz, pela amizade, pela paciência, atenção, carinho e disposição
em me ajudar em cada etapa deste mestrado, desde as ideias iniciais do projeto até a
concretização deste sonho.

Aos meus colegas de trabalho Mateus Furlanetto, Else Lemos, Jovanka Mariana, Carlos
Ramello, Elan Oliveira, Andre Nakasone, Priscila Fiorelli, Carolina Modesto, Ana
Cláudia Paro, Raquel Vandromel, Nara Almeida e Michael Povoação, que torceram por
esta minha conquista.

À querida Gisele Souza, por toda a disposição para a revisão deste trabalho e pelas
grandes dicas e ao querido Rodrigo Cogo, por todas as inspirações, pelos incentivos e
pela leal parceria, que me fazem crescer e ter a certeza que não preciso ter medo no
caminho que estou trilhando.

À minhas insubstituíveis amigas de infância, Débora Kataoka, Juliana Horita e Renata


Aoki, por estarem sempre presentes em minha vida e me fazendo sorrir, mesmo em
momentos difíceis.

Ao querido Otávio Nunhez da Silva, pela parceria, pelas conversas amáveis e


inteligentes contribuições.

À Andréia Costa e ao Lucas Lara, pela disponibilização do material gravado e transcrito


das oito entrevistas realizadas pelo Museu da Pessoa.

Aos colegas do Grupo de Estudos de Novas Narrativas da ECA-USP, por todo o


compartilhamento de ideias, tão presentes neste trabalho.

A todos quе direta оu indiretamente fizeram parte dа minha formação, ajudaram-me e


me incentivaram a ter sucesso em minhas realizações, оs mеus mais sinceros
agradecimentos.
7

Sem a ocasião, a virtude de seu ânimo se teria perdido,


assim como, sem a virtude, a ocasião teria sido em vão.
(Maquiavel – o Príncipe)
8

RESUMO

RIBEIRO, E. P. Micronarrativas como estratégia de comunicação interna. 2014.


189 f. Dissertação (Mestrado). Escola de Comunicações e Artes, Universidade de São
Paulo, Sâo Paulo, 2014.

As reflexões sobre a contemporaneidade sugerem que, na rapidez da pós-modernidade e


frente a tantas possibilidades proporcionadas pela multiplicidade de plataformas
midiáticas (tradicionais e digitais), muitas organizações, na urgência de comunicar,
geram grandes quantidades de informações sem relevância para seus públicos.
Limitadas a um modelo pronto e replicadas sem critério, são disparadas para os
indivíduos sem considerar os diferentes sujeitos integrantes/construtivos da cultura
organizacional e suas histórias, memórias e desejos, e sem enxergar as diversas
oportunidades para repensar este processo da comunicação interna. É neste panorama
que o presente estudo pretende detectar oportunidades de envolvimento do público
interno, assim como a criação de narrativas comunicacionais mais atrativas e bem-
sucedidas. Para tanto, busca-se a compreensão da riqueza existente em conteúdos
coletados em projetos de memória oral, de cunho participativo e dialógico, como os
desenvolvidos com base na contação de histórias sobre as experiências vividas dos
funcionários no ambiente organizacional: as chamadas micronarrativas. Este conceito
foi desenvolvido sobre as teorias que interpretam as grandes narrativas da modernidade,
as quais possuíam uma significativa força na vida das pessoas e serviam como
referências para a sociedade, mas que começaram a se enfraquecer a partir do século
XX e se perderam na pós-modernidade, quando o foco passou a ser o indivíduo e suas
histórias. Dessa maneira, ao verificar, descrever, esclarecer e entender o conteúdo
exposto pelos entrevistados em suas micronarrativas organizacionais, é possível refletir
como a comunicação interna pode trabalhar de maneira mais efetiva e afetiva para gerar
novas narrativas que estimulem envolvimento, reconhecimento, identificação,
compreensão e ação de seus funcionários, no lugar das racionalidades, padronizações,
efemeridades e excessividades.

Palavras-chave: comunicação organizacional; comunicação interna; novos contextos;


novas narrativas; storytelling; micronarrativas; memória e história organizacional.
9

ABSTRACT

RIBEIRO, E. P. Micro narratives as internal communication strategy. 2014. 189 f.


Dissertação (Mestrado). Escola de Comunicações e Artes, Universidade de São Paulo,
Sâo Paulo, 2014.

Reflections on contemporaneity suggest that in the fleetness of post-modernity and in


the presence of so many possibilities offered by the multiplicity of media platforms
(traditional and digital), many organizations, in the urgency to communicate, generate
large amounts of information with no relevance to their audiences. Limited to a ready
template and replicated without criteria, this information is issued to individuals without
considering the different members/constructive subjects of organizational culture and
their stories, memories and wishes; missing the various opportunities to rethink the
process of internal communication. Before this scenario, the present study aims to
identify opportunities to involve the internal workforce, as well as creating more
attractive and successful communication narratives. To that purpose, we seek a better
understanding of the richness in the content of oral memory projects, which nature is
participatory and dialogic, such as those developed based on storytelling about the
employees’ experiences in the organizational environment: the micro narratives. This
concept was developed based on the theories that interpret the grand narratives of
modernity, which had a significant influence in people's lives and served as references
to society, but started weakening in the twentieth century and were dissolved in the
post-modernity, when the focus shifted to the individual and their stories. Therefore,
when we verify, describe, explain and understand the contents stated by respondents in
their organizational micro narratives, it is possible to ponder how internal
communications can work more effectively and affectively to generate new narratives
that encourage involvement, recognition, identification, understanding and action from
the employees, in detriment to rationality, standardization, and ephemeral excesses.

Keywords: organizational communication; internal communication; new contexts; new


narratives; storytelling; micro narratives; organizational memory and history.
10

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Entrevistados sorteados...............................................................................107


Tabela 2 – Agrupamentos dos códigos de identificações, associados às suas
categorias.......................................................................................................................118
Tabela 3 – Externalização dos sentimentos pelos entrevistados...................................122
Tabela 4 – Manifestação das subjetividades pelos entrevistados..................................125
Tabela 5 – Humor pelos entrevistados..........................................................................129
Tabela 6 – Presença mitológica pelos entrevistados.....................................................131
Tabela 7 – Heroísmo pelos entrevistados......................................................................135
Tabela 8 – Valorização da memória pelos entrevistados..............................................140
Tabela 9 – Reconhecimento pelos entrevistados...........................................................143
Tabela 10 – Sentimento de pertencimento pelos entrevistados.....................................147
Tabela 11 – Disseminação do conhecimento pelos entrevistados.................................150
Tabela 12 – Vulnerabilidades pelos entrevistados........................................................154
Tabela 13 – As categorias mais frequentes nas falas dos entrevistados........................157
11

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Opções metodológicas adotadas na pesquisa................................................99


12

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO.................................................................................................14

2. AS TRANSFORMAÇÕES DA COMUNICAÇÃO
ORGANIZACIONAL...................................................................................... 17
2.1 Comunicação organizacional: um campo de estudos em constantes
mudanças e evoluções..................................................................................17
2.2 Novos contextos............................................................................................23
2.2.1 O contexto pós-moderno...................................................................24
2.2.2 O contexto digital..............................................................................27
2.2.3 O contexto complexo.........................................................................32
2.2.4 O contexto metapórico e afetivo........................................................34
2.2.5 Consequências dos novos contextos..................................................37
2.3 As transformações contemporâneas sobre o sentir..................................38
2.3.1 O enfraquecimento das experiências e das afetividades....................38
2.3.2 O empobrecimento das memórias e a crise das narrativas................42

3. A COMUNICAÇÃO INTERNA SOB OS NOVOS CONTEXTOS.............44


3.1. O desencantamento da comunicação organizacional..............................44
3.2. Novos contextos, velhas formas de comunicação interna........................47
3.3. O ambiente de trabalho e o novo sentir do funcionário..........................51
3.4. A compreensão do funcionário como potencial humano........................56
3.5. Formas de recepção e de expressão dos funcionários..............................59
3.6. Desafios e oportunidades para a comunicação interna...........................63

4. AS NOVAS NARRATIVAS.............................................................................65
4.1 As narrativas comunicacionais entre a tradição e a inovação.................65
4.2 O paradigma narrativo...............................................................................68
4.3 Os mitos, os rituais e o simbólico nas narrativas organizacionais..........78
4.4 A memória na construção de narrativas organizacionais........................80
4.5 A força do audiovisual nas novas narrativas............................................86
4.6 Storytelling....................................................................................................89
13

4.7 Micronarrativas afetivas............................................................................92


4.7.1. Contribuições das micronarrativas para a comunicação interna.........94

5. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS....................................................97
5.1. Enfoque da pesquisa...................................................................................98
5.2. Metodologia de pesquisa............................................................................99
5.2.1. Tipo de estudo......................................................................................99
5.2.2. Método de pesquisa............................................................................100
5.2.3. Estratégia de coleta de dados..............................................................101
5.2.4. Operacionalização da coleta de dados................................................104
5.2.5. As entrevistas......................................................................................104
5.2.6. Definição da população e da amostra.................................................105
5.2.7. Seleção dos entrevistados e caracterização da amostra......................106
5.2.8. Técnica de análise de dados................................................................107
5.2.9. Categorias de análise..........................................................................109
5.2.10. Esquema da pesquisa........................................................................114
5.3. Apresentação, análise e interpretação dos resultados...........................114
5.3.1. Perfil dos entrevistados.......................................................................115
5.3.2. Resultados gerais................................................................................117
5.3.3. Como cada categoria aparece nos depoimentos de vida.....................121
5.3.4. Média da frequência das categorias em todos os depoimentos..........156
5.3.5. Interpretações significativas sobre os resultados................................160

6. CONCLUSÃO..................................................................................................173

REFERÊNCIAS.....................................................................................................176

ANEXOS.................................................................................................................189
Anexo A: Transcrições das entrevistas analisadas.............................................189
14

1. INTRODUÇÃO

Com novos contextos presentes no mundo contemporâneo como o pós-moderno,


o complexo, o metapórico e com as revoluções digitais, os sujeitos e,
consequentemente, os funcionários no âmbito das organizações, tiveram alteradas as
suas formas de sentir o mundo e o trabalho. Com excessos de informação, déficit de
atenção e com experiências vivenciadas de forma superficial, as memórias, as narrativas
e as comunicações atuais entraram em crise.
As reflexões embasadas sob a ótica de um contexto digital, fluido, randômico,
racional, excessivo e exposto demonstram que não há espaço hoje para tradições,
experiências profundas, mitos, histórias e afetos nas organizações. Sem estes focos,
algumas organizações apresentam narrativas que se tornaram velhas perante estes novos
contextos e, por isso, faz-se necessário discutir sobre novas políticas e estratégias da
comunicação - novas narrativas - na comunicação organizacional e, inclusive, na
comunicação interna.
A necessidade de se pensar em novas formas de comunicar que tragam
afetividade, envolvimento e confiança requer uma visão mais ampla e sólida de
conceitos, teorias e modelos. As experiências, as vivências e as percepções individuais
de cada pessoa que faz parte de uma organização precisam ser levadas em consideração
e ser compreendidas a partir de processos de gestão e de comunicação onde o lucro e a
produtividade não sejam o principal enfoque.
Por isso, a intenção do estudo é detectar oportunidades de envolvimento do
público interno, assim como a efetividade da comunicação interna, repensando suas
ações a partir da compreensão sobre os conteúdos coletados em projetos de memória
oral, de cunho participativo e dialógico, como aqueles desenvolvidos sobre a contação
de histórias sobre as experiências vividas no ambiente organizacional – as chamadas
“micronarrativas afetivas”, de funcionários, independentemente de suas funções, cargos,
sexos, idades e do tempo que estes viveram na organização.
A pesquisa vai observar a variação de pensamentos organizacionais entre um
mundo de dimensões instrumentais, com racionalidade, manipulação, regras, persuasão,
lucros e metas, em contradição com os pensamentos organizacionais em uma dimensão
mais simbólica e humana, da produção de sentido, do aprofundamento das emoções, das
15

subjetividades e das afetividades, a partir do entendimento das falas dos próprios


funcionários.
A relevância deste estudo passa pela importância da comunicação nas vidas
social e organizacional contemporâneas e pela dificuldade de envolvimento e
participação do público interno de uma organização, em um contexto de saturações,
excessos informacionais, perda de sentidos e complexidades nos sentimentos e
comportamentos e, por isso, visa contribuir com conceitos e reflexões que levem a uma
melhor compreensão sobre as possibilidades de novas narrativas, como as
micronarrativas afetivas, na comunicação organizacional e na comunicação interna.
Além de analisar como as micronarrativas afetivas podem superar as
dificuldades comunicacionais dos contextos atuais, sendo não apenas mais atrativas para
gerar reconhecimeto, sentimento de pertencimento e gerar maior envolvimento dos
funcionários, mas também, ser fonte de importantes informações sobre o público
interno, sendo fundamentais para repensar a comunicação interna desenvolvida para ele.
Para isso, a condução deste trabalho esteve centrada num extenso levantamento
bibliográfico que consubstanciasse os grandes temas da comunicação organizacional e
da comunicação interna em contextos de mudança, além da utilização de obras que
abordassem a questão da narrativa, adaptando-a sobre o ponto de vista da comunicação,
sendo o trabalho dividido em quatro partes principais.
A primeira parte faz um levantamento sobre os estudos da comunicação
organizacional, suas evoluções e mudanças perante as transformações dos pensamentos
sociais, econômicos, políticos e culturais ao longo dos anos. Após este levantamento, há
reflexões sobre os contextos atuais, com conceitos sobre um mundo pós-moderno,
digital, complexo e metapórico, e as consequências desses novos contextos, que
transformaram a maneira de sentir e estar no mundo, com o enfraquecimento das
experiências e das afetividades, que podem acabar gerando o empobrecimento das
memórias e das narrativas.
Na sequência, o próximo capítulo busca compreender as transformações
sofridas pela comunicação interna a partir dos novos contextos. Este tipo de reflexão
aponta que em alguns casos a comunicação pode estar trabalhando com instrumentos e
formas que talvez não sejam as mais adequadas para se comunicar com seu público
interno sobre estes novos contextos. Também pretende, nesta parte do trabalho,
consolidar as percepções de pesquisadores sobre estudos afetivos e cognitivos para
entender os processos de expressão e recepção de funcionários para saber como a
16

comunicação interna pode, de fato, ser afetiva e efetiva. Além de resumir os principais
desafios e as oportunidades para a comunicação interna sobre todos estes pontos em
discussão.
O capítulo seguinte introduz o conceito de novas narrativas, sobre a
compreensão do paradigma narrativo como uma possibilidade adequada para as
comunicações nos novos tempos. As ideias pretendem unir conceitos e reflexões da
narratividade e da contação de histórias aos processos comunicacionais como
potencializadores das emoções, das sensações e da reumanização dos ambientes
racionais, técnicos e objetivos das organizações. Para isso, há o aprofundamento de
questões ligadas as narrativas como a construção dos mitos, dos rituais e do simbólico,
além de reflexões sobre a importância da memória, esquecida e enfraquecida nos
tempos atuais, tão necessária para a consolidação das narrativas.
Ao final deste capítulo busca-se um esclarecimento sobre o conceito de
storytelling, como exemplo de nova narrativa e há o destaque para as micronarrativas
afetivas, tendo-as como possibilidades de ação estratégica para a comunicação interna,
baseadas sobre as teorias e técnicas do storytelling organizacional, para gerar um
possível reencantamento para a comunicação, sobretudo para a comunicação interna.
O último capítulo trará os conteúdos e análises de pesquisa sobre depoimentos
de funcionários e ex-funcionários – micronarrativas afetivas - de oito diferentes
organizações. O objetivo principal desta pesquisa empírica será verificar se os
entrevistados, pessoas comuns, vivendo seus cotidianos de trabalho nas organizações,
expõem – ou não – suas emoções, seus sentimentos de pertencimento e de
reconhecimento de si próprios, os valores mitológicos da organização e seus próprios
valores, seus atos heróicos, a disseminação de seus conhecimentos e suas identificações
em relação às organizações, sejam elas positivas ou negativas, como suas
vulnerabilidades, ao narrarem suas experiências e suas memórias em relação ao mundo
organizacional.
Com isso, esta pesquisa buscará compreender a força e a riqueza de informações
que podem existir nos relatos das pequenas partes que compõem a organização de forma
que, ao descrever, esclarecer e entender o conteúdo exposto em tais micronarrativas,
passa a ser possível refletir como a comunicação interna pode trabalhar de maneira mais
efetiva para gerar envolvimento, reconhecimento, identificação, compreensão e ação de
seus funcionários.
17

2. AS TRANSFORMAÇÕES DA COMUNICAÇÃO ORGANIZACIONAL

2.1. Comunicação organizacional: um campo de estudos em constantes mudanças e


evoluções

Para o filósofo pré-socrático Heráclito o começo e o fim são o mesmo ciclo. As


mudanças de séculos trazem reflexões sobre os tempos que se passaram com balanços e
sugestões futuras. Por isso, para ele, o real está em constante fluir. Utilizando-se da
reflexão de que não é possível se banhar duas vezes no mesmo rio, o filósofo explica
que tudo muda constantemente no mundo, seja o rio porque as mesmas águas que
correram em um momento não serão as mesmas águas que correrão instantes depois,
assim como a pessoa que se banha nele, a qual também se modifica continuamente no
decorrer da vida, mostrando que tudo está em perene e incessante transformação
(MARTINS, 2007).
Este pensamento pode ser complementado por outro filósofo, o epicurista
Espinosa (1979), para quem a vida é uma sequência de encontros e relações, as quais
afetam e modificam os indivíduos e o real, de maneira positiva ou negativa, profunda ou
superficialmente. As pessoas - seus pensamentos e seus sentimentos - são resultados dos
efeitos que o mundo produz sobre elas, a cada novo instante. A vida é uma sucessão de
passagens. Passam e modificam-se à mercê dos acontecimentos e dos encontros.
Estas ideias traduzem o movimento fugaz das ocasiões, da instabilidade e da
efemeridade naturalmente (re)organizadas, dependentes dos pensamentos de uma época
sobre as necessidades do seu contexto e sobre as transformações dos indivíduos. Assim
se dá a criação, destruição e reconstrução do conhecimento, dinâmico e aberto para
novas reflexões, constantemente (BALDISSERA, 2008).
É desse modo - dinâmico e aberto - que é caracterizado o progresso das ciências
e dos estudos, visto não tanto como o acúmulo gradativo de novos dados, mas sim,
como um processo marcado pelas revoluções do pensamento científico sobre as
mudanças sofridas pela sociedade. O conhecimento tem vigência e legitimidade
enquanto os membros de uma determinada comunidade acadêmica ou área de
especialização o defender como visão e maneira de pesquisa aceitáveis. Quando esse
conhecimento é insuficiente ou gera anomalias na solução das pesquisas, há o que Kuhn
(1982) chama de “fase revolucionária”. As revoluções forçam a comunidade científica a
18

rejeitar a teoria anteriormente aceita em favor de outra incompatível com aquela - teoria
envolta ao que Kuhn (1982) chama de “paradigma”.
O “paradigma” é um modelo ou padrão aceito pela sociedade até o momento em
que, através deste, não se conseguem mais resolver os problemas pesquisados e
irregularidades são provocadas, surgindo então crises que vão gerar um novo
paradigma. “O fracasso das regras existentes é o prelúdio para uma busca de novas
regras” (KUHN, 1982, p.95). Os momentos de crise sobre determinados pensamentos
indicam que é chegada a ocasião para a renovação dos instrumentos, das técnicas, das
teorias e das conceituações.
Assim como todo pensamento científico, o campo da pesquisa em comunicação
organizacional também está em constante dinamismo e desconstrução/reconstrução. A
comunicação organizacional para Riel (1995) engloba as diferentes formas de
comunicação utilizadas por uma organização tais como: relações públicas, estratégias
organizacionais (public affairs), marketing corporativo, propaganda corporativa,
comunicação interna e externa, direcionadas para os públicos de interesse ou segmentos
com os quais a organização se relaciona. É o mesmo entendimento conceitual que
Nassar e Figueiredo (1995, p.19) tem sobre a comunicação empresarial ao comentar de
forma pioneira o ambiente comunicacional e relacional brasileiro: "é a somatória de
todas as atividades de comunicação da empresa. Elaborada de forma multidisciplinar".
Margarida Kunsch (2003), por sua vez, coloca a comunicação organizacional
como uma estratégia que pode ser utilizada como elemento de diferencial competitivo
por parte das empresas e Paulo Nassar, Mateus Furlanetto e Suzel Figueiredo (2009,
p.9) dizem que a comunicação organizacional está associada ao sucesso ou ao fracasso
das reestruturações patrimoniais das fusões e aquisições, às inovações tecnológicas, de
processos de produtos, aos processos de gestão da qualidade, do meio ambiente e de
riscos, à prestação de contas aos acionistas, aos rituais de reconhecimentos e de
passagens organizacionais, uma vez que trata das políticas de relacionamento das
empresas e instituições com a sociedade e com os inúmeros públicos.
Sendo assim, considerando que a comunicação organizacional é um campo de
estudos que diz respeito aos processos de comunicação que caracterizam as
organizações, ela apresenta grandes mudanças de paradigmas durante sua história e
evolução, uma vez que os estudos tendem a verificar o processo de comunicação de
acordo com as necessidades e os pensamentos das organizações em seu contexto social,
histórico, econômico, cultural e político.
19

Para melhor entendimento sobre as mudanças e evoluções nos estudos e


pensamentos sobre a comunicação organizacional, faz-se necessário o levantamento de
um resumo sobre as investigações em diferentes períodos históricos, para se pensar
depois sobre o contexto atual e as novas possibilidades de estudos e paradigmas.
A literatura de comunicação organizacional possui, como raízes conceituais do
campo, teorias como a retórica tradicional, as relações humanas e incipientes teorias de
gestão da organização. Os primeiros estudos vieram da administração e da psicologia e
depois vieram alianças com outras disciplinas, que contribuiram e continuam a
contribuir até hoje com os estudos em comunicação organizacional como a
antropologia, a sociologia das organizações, a linguística, a ciência política.
Apesar destes primórdios, é na segunda metade da década de 1940 que começam
os primeiros estudos sobre a comunicação organizacional, com, por exemplo,
manifestações de Chester Barnard, com o trabalho “A função dos executivos”, de 1938,
que chamou a atenção para a ideia de cooperação humana nas organizações e os
psicólogos Kurt Levin, Keith Davis, entre outros, também tiveram importantes papéis
nesses primeiros estudos (KUNSCH, 2009, p. 64).
Segundo Teresa Ruão (2005), os estudos iniciais usaram o modelo positivista
predominante na investigação científica em finais do século XIX e princípios do século
XX. A autora cita Redding e Tompkins, os quais afirmam que estes estudos colocavam
o investigador como observador neutro dos fenômenos. Os estudos realizados, entre
1900 e 1970, focavam em temas como “a comunicação superior-subordinado, as redes
emergentes de comunicação e canais e os componentes do clima organizacional”
(RUÃO, 2005, p.728).
Essas investigações privilegiavam o estudo do processo comunicativo e a sua
relação com a eficiência organizacional, numa abordagem funcionalista, com a
utilização de métodos quantitativos, variáveis de análise e testes hipotético-dedutivos,
embasados por abordagens mecanicistas, psicológicas e sistêmicas (RUÃO, 2005). A
perspectiva tradicional ou funcionalista (também chamada de mecanicista) teve
predomínio na comunicação organizacional, sobretudo nas décadas de 1960 a 1980, mas
ainda é muito presente em várias organizações na atualidade.
A preocupação dessa abordagem está em considerar e avaliar a comunicação “a
partir do prisma funcionalista e da eficácia organizacional, bem como parte da premissa
de que o comportamento comunicativo pode ser observável e tangível, medido e
padronizado” (KUNSCH, 2009, p.72). A comunicação sobre esta perspectiva está
20

baseada na imposição dos locutores por esquemas técnicos, sendo que os indivíduos
respondem a estímulos externos de uma maneira mecânica, de forma que os processos
sociais, psicológicos e econômicos são percebidos mais como sendo entidades estáticas
(BOUZON, 2011).
Isso indica a organização como uma entidade única, com sua cultura formada
independentemente das pessoas que dela fazem parte e a presença de um caráter mais
informativo da comunicação, visualizando-a apenas como um meio, uma ferramenta,
para atingir os objetivos organizacionais (MARCHIORI, 2008).
A década de 1950 foi marcada pelo aparecimento de publicações especializadas
no campo e o nascimento dos primeiros cursos de licenciatura. Charles Redding
considerou este momento como “de cristalização dos estudos”, quando houve
reconhecimento acadêmico da área e começaram a surgir pesquisas e as primeiras teses
de doutorado, dando maior abertura aos estudos da comunicação no âmbito das
organizações (KUNSCH, 2009, p.65). Os estudos até 1960 eram centrados na
comunicação de negócios e na comunicação industrial, com preocupações sobre as
habilidades comunicativas e a eficácia dos meios de comunicação.
Porém, já por volta da década de 1960, 1970, o positivismo entra em declínio,
surgindo contra-argumentações sobre a posição teórica neutra do investigador, agora
visualizando que ele pode influenciar nas observações a partir de sua interpretação. É
quando surgem novas argumentações contra a objetividade absoluta do positivismo e a
falta de metódos que comprovem sua eficiência pelos sentidos e subjetividades (RUÃO,
2005).
Um momento marcante dessa transição, na década de 1980, foi a edição do livro
“Comunicação e organizações: uma abordagem interpretativa”, de Linda Putnam e
Michael E. Pacanowsky, de 1983, resultado da “Conferência sobre Abordagens
Interpretativas ao Estudo da Comunicação Organizacional”, em Alta – Utah (1981), em
que se discutia sobre preocupações de análise das dimensões simbólicas das
organizações. E a edição especial do Western Journal of Speech Communication
(WGSC, de 1982), que focava a pesquisa interpretativa da comunicação organizacional
(KUNSCH, 2009, p.68).
Assim, abre-se a oportunidade para um estudo baseado na perspectiva
interpretativa que considera os seres humanos em sua condição de atores sociais e suas
interpretações perante suas relações e inter-relações no processo simbólico e subjetivo
da construção da realidade social (MARCHIORI, 2008). Este pensamento acredita que a
21

organização é um fenômeno mais subjetivo e que a sua realidade, portanto, é


socialmente construída por meio da comunicação, a qual se baseia nos símbolos e
significados compartilhados e envolvidos em várias formas de comportamento
organizacional (MORGAN, 1996; PUTNAM, Linda L.; O’DONNELL-TRUJILLO,
1983).
Essa perspectiva considera que a comunicação é co-construída pelos próprios
interlocutores e atores, nos processos de interação e interpretação, a partir de suas
capacidades cognitivas, emocionais e estratégicas, na medida em que produzem
significações sobre a organização. Dessa maneira, a organização se converte em um
produto da comunicação (BOUZON, 2011).
O objetivo, portanto, de muitos dos estudos ditos interpretativos era focado em
mostrar como “cada organização constitui uma realidade particular, que é socialmente
produzida e desenvolvida, através de conversas, histórias, ritos, rituais e outras
atividades diárias” (RUÃO, 2005, p.729). Os estudos interpretativos da comunicação
das organizações priorizam as práticas cotidianas, as interações entre as pessoas e os
processos simbólicos. “Há uma valorização da cultura, das falas e das narrativas das
pessoas” (KUNSCH, 2009, p. 69).
Esse contexto do modelo interpretativo é designando como um momento de
maturidade e inovação. Porém, entre 1980 e 1990, a comunicação organizacional passa
por um período de crise de legitimidade e representação, face à aplicação das teorias
críticas ao seu domínio (RUÃO, 2005), de forma que:

Um grupo de investigadores, precisamente no âmbito interpretativo,


começou a pôr em causa alguns dos pressupostos desta tendência de
pesquisa, nomeadamente a lógica consensual de cultura
organizacional unificada, sugerindo uma maior atenção aos seus
pontos de fragmentação, tensão e conflito. Desta forma, alguma
pesquisa foi-se movendo para uma esfera mais crítica, pela
consideração de uma certa intenção hegemônica nos fenômenos de
comunicação organizacional. (RUÃO, 2005, p.729)

Dessa maneira, as alterações de pensamentos conduziram parte das


investigações interpretativas para um discurso embasado na Teoria Crítica. Sobre a
perspectiva crítica, o pensamento foca o desenvolvimento das organizações baseado nas
relações de poder. No sentido de preencher todas as potencialidades dos seus membros,
como seres humanos, a organização é percebida como uma arena de conflitos, em que
há dominantes e oprimidos (KUNSCH, 2009). Isso significa que o objetivo último dessa
22

perspectiva seria “a criação de espaços organizacionais que possam estimular o


desenvolvimento das pessoas dispondo ambientes de trabalho excelentes”
(MARCHIORI, 2008), com imposição de informações.
Esta perspectiva crítica considera as organizações como instrumentos de
repressão ou controle de ambiente, ocorrendo uma opressão localizada em sistemas de
linguagem e significados e em barreiras estruturais, resultando em distorção da
comunicação organizacional (DANIELS; SPIKER; PAPA, 1997). As pessoas não são
consideradas em suas individualidades, mas sim como se agissem de maneira
padronizada, concentradas em modelos sequenciais e rotinas de comportamento
(EISENBERG; GOODALL, 1995).
Vale ressaltar também, que dentro desses pensamentos, várias teorias da
comunicação foram desenvolvidas ao longo do tempo, na lógica das evoluções e as
transformações no mundo. Pelas obras “Teorias da Comunicação de Massa’ de Mauro
Wolf (2005) e “História das Teorias da Comunicação” de Mattelard e Mattelard (1999),
podemos observar alguns desses estudos.
Esses estudos, de maneira bem resumida, dizem respeito desde teorias em que a
comunicação tinha como função a manipulação das massas e o bombardeio de
informações, como a Teoria Hipodérmica ou Bala Mágica, que considerava as pessoas
como uma massa homogênea de indivíduos iguais e indiferenciáveis, ou seja, um alvo
amorfo que obedeceria cegamente ao esquema estímulo-resposta, ou teorias em que se
pensa apenas no receptor e no poder de infuência das mídias sobre os públicos como a
Teoria de Lasswell, passando por outras abordagens como a empírico-instrumental (ou
da persuasão), em que se considera a credibilidade do comunicador, da fonte e da ordem
das argumentações para se persuadir os públicos e como a abordagem empírica em
campo (ou dos efeitos limitados) que influencia nos relacionamentos comunitários
(WOLF, 2005).
Além dessas, algumas outras valem ser destacadas, seguindo os paradigmas,
como a teoria funcionalista das comunicações de massa, em que se estudam as funções
da comunicação em relação à sociedade e aos indivíduos, considerando o caráter
instrumental da comunicação e suas disfunções como o excesso de informação, ou seja
uma disfunção narcotizante em que a participação ativa vira conhecimento passivo, e a
teoria crítica, influenciadora da Indústria Cultural, que anula a individualidade,
baseando-se em uma racionalidade técnica, na padronização, em que as mensagens
23

objetivas ofuscam a verdadeira compreensão da realidade e a capacidade de entender a


experiência de vida (MATTELARD, MATTELARD, 1999).
Por esses levantamentos e destaques, podemos notar que é uma constante a
avaliação sobre novas formas de se produzir e de se receber comunicações, e sobre suas
teorias, conceitos e efeitos, sendo que, de acordo com Tompkins e Wanca-Thibault
(2001 apud RUÃO, 2005, p. 277), ao entrarmos neste novo século, em que as
organizações estão imersas em um complexo ambiente global, os “investigadores
continuam a desenvolver esforços para definir pontos de interesse, estabelecer fronteiras
e encontrar pistas para o futuro das Ciências da Comunicação no domínio
organizacional”.
Sendo assim, pensando sobre esses paradigmas, perspectivas e teorias da
comunicação, fica-se o questionamento: em um mundo digital, fluido, randômico,
excessivo e exposto que gera mudanças nos pensamentos, nas crenças, nos hábitos de
trabalho, nos estilos de vida, nos comportamentos das pessoas, em sua maneira de sentir
o mundo e estar nele, quais deveriam ser os pensamentos sobre os estudos em
Comunicação Organizacional?

2.2. Novos contextos

Vivemos uma “fase revolucionária”. São novos contextos que exigem novos
pensamentos para os estudos em Comunicação Organizacional. Para Nassar (2006) a
comunicação vista apenas como ferramenta, como técnica, como na perspectiva
funcionalista, hoje tem pouca utilidade. A Comunicação Organizacional, enquanto
pensamento e ação, como na pespectiva interpretativa, não passa de uma tentativa de
legitimar ou negociar uma determina interpretação, diante de inúmeras outras
interpretações sociais. E, por fim, a Comunicação Organizacional embasada sobre
relações de poder, como na perspectiva crítica, não conseguirá se desenvolver e
sobreviver, uma vez que hoje há a descentralização do poder.
Por isso, faz-se notável o desafio sobre as desconstruções/(re)construções dos
pensamentos sobre Comunicação Organizacional perante a “fase revolucionária” que
vivenciamos neste momento histórico que gera ruptura nos espaços conhecidos de
estabilidade, em uma progressão que tende a mais probabilidades e menos certezas
(MANUCCI, 2010).
24

Sobre a “fase revolucionária” dos contextos e dos pensamentos atuais, podemos


tê-la mais evidente quando entendemos o mundo pós-moderno, complexo e metapórico,
além da globalização e dos sistemas de redes proporcionados pelas mídias digitais, o
que muda e influencia a nossa maneira de se relacionar e, consequentemente, das
organizações em comunicar.

2.2.1. O contexto pós-moderno1

A pós-modernidade caracteriza-se pelo aceleramento da produção tecnológica e


pela multiplicação de produtos de alta tecnologia, a partir de 1975, com o mercado em
vias de internacionalização com a globalização e o imperalismo cultural
(POLISTCHUK; TRINTA, 2003, p. 144). Caracterizada pela velocidade, efemeridade e
fuidez, tem o global ingressando na representação do mundo pelo viés da comunicação
eletrônica e o indivíduo servido por uma multiplicidade de opções simbólicas, que
também lhe alienam, mas agora transportando-lhe da realidade.
O ser humano, na pós-modernidade, perde-se em um mundo construído por
efeitos de representações. É o que Baudrillard (1981) denomina de simulacro, a
reprodução técnica ou representação tecnológica. A realidade é simulada por meio de
imagens, eliminando toda diferença existente entre o real e o imaginário. O simulacro
atua como elemento intensificador do real por meios artificiais, passando a uma hiper-
realidade espetacular, de forma que “a simulação já não é a simulação de um território,
de um referencial, de uma substância. É a geração pelos modelos de um real sem origem
nem realidade: hiper-real” (BAUDRILLARD, 1981, p.8).
Ao falar sobre o mundo hiper-real, Baudrillard (1981) quer dizer sobre um
mundo em que há a liquidação de todos os referenciais existentes, configurando o que
Bauman (2001) chama de Modernidade Líquida na pós-modernidade, ou seja, uma
realidade ágil, fluida, mutante e de reconstruções constantes, em que os possíveis
“padrões, códigos e regras a que podíamos nos conformar, que podíamos selecionar
como pontos estáveis de orientação e pelos quais podíamos nos deixar depois guiar, [...]
estão cada vez mais em falta” (BAUMAN, 2001, p.14).

1
Termo cunhado por Charles Baudelaire no artigo La peintre de la vie moderne, publicado em 1863, para
designar o que é transitório, efêmero ou contingente, mas parte integrante de uma outra metade eterna e
imutável, dentro da dualidade presente em sua obra.
25

É um mundo em que a produção cultural é feita por máquinas de produzir vazio,


de perdas de sentido, causando exterminações simbólicas e com exumações dos
passados, das tradições e das origens, de forma que “a história é o nosso referencial
perdido, isto é, o nosso mito. Esta agonia pelos referenciais fortes, a agonia pelo real e
pelo racional é que abrem as portas para a era da simulação” (BAUDRILLARD, 1981,
p.60).
Assim temos que, frente à crescente globalização, recentemente viabilizada pela
ascenção das novas mídias, que promovem o fluxo constantemente crescente de
informações, ideias e conhecimentos, além da atualização frequente de conceitos sobre
todos os aspectos de nossa realidade, tornando-a um simulacro, nosso mundo se
fragmenta e se torna fluido, colocando em cheque a solidez de preceitos e identidades
das instituições da sociedade tradicional (BAUMAN, 2001), retirando nossos
referenciais, nossos sentidos, nossas histórias e nossos mitos.
Essas mudanças também alteram nossas próprias identidades pessoais, fazendo
com que haja uma perda do “sentido de si” estável, o que é chamado de deslocamento
ou descentração do sujeito (HALL, 2005), um sujeito de identidades híbridas,
consequente da globalização. Isso significa que, em meio a desestruturação e
fragmentação do contexto pós-moderno, Hall (2005) constata a crise identitária do
indivíduo, uma vez que as antigas identidades se dissolveram na fluidez, sobre
deslocamentos e descontinuidades que a contemporaneidade tem mostrado em tempos
mais recentes.
Em “A Identidade Cultural na Pós-Modernidade”, Hall (2005) coloca o
indivíduo, antes da pós-modernidade, como possuidor de uma identidade nacional, sob
a qual o homem se situava no mundo através de aspectos mitológico-culturais,
simbólicos e históricos, expressando o que é fazer parte de uma nação. Porém, com a
globalização, e as novas combinações de tempo-espaço, havendo a compressão de
distâncias e de escalas temporais, as identidades culturais foram afetadas,
fragmentaram-se, perdendo sua identidade sólida (HALL, 2005, p. 67-68).
O “sujeito pós-moderno” (HALL, 2005), portanto, é resultado do processo
fragmentário. Composto de não uma única, mas de várias identidades. A identidade
torna-se móvel, variável, segundo o processo histórico, e a cada mudança, seduz o
sujeito a segui-la, temporariamente, até que mude de novo, jamais unificada com um eu
coerente. A identidade plenamente unificada, sólida, já não existe mais. Dentro de nós
há identidades contraditórias, empurrando em diferentes direções, de modo que nossas
26

identidades estão sendo continuamente deslocadas. Essa descentralização do sujeito é


conceituada por Canevacci (2009, online), como multivíduo:

Uma multiplicidade de ‘eus’, no corpo subjetivo. Essa condição


múltipla favorece a proliferação de ‘eus’ o que acaba por desenvolver
outro tipo de identidade, fluida e pulverizada, que coloca
potencialmente em crise as formas perversas e tradicionais do
dualismo (CANEVACCI, 2009, online).

Isso significa uma mudança também nos pensamentos e nos comportamentos


das pessoas. Com a perda do sentido holístico de suas identidades, elas passaram a se
importar com o “eu primeiro”, querem ser reconhecidas por suas ações, querem
expressar seus desejos e realizá-los, querem se sentir mais importantes como únicas e
não como meras integrantes de um todo igual. O individualismo prevalece na pós-
modernidade, o que vai contra os pensamentos da teoria crítica.
Para Bauman (2001), as pessoas de hoje não aceitam mais aquela modernidade
pesada/sólida/condensada/sistêmica da teoria crítica, impregnada da tendência ao
totalitarismo e “em que as identidades e laços sociais eram pendurados no cabide da
porta da entrada junto com os chapeus, guarda-chuvas e capotes” (BAUMAN, 2001,
p.34). A teoria crítica suspeitava que as vontades, desejos e propósitos individuais eram
obstáculos no caminho e que havia limitações demais à liberdade de escolha dos
indivíduos. Para Bauman (2001), “essa modernidade era inimiga jurada da contingência,
da variedade, da ambiguidade, da instabilidade, da idiossincrasia, tendo declarado
guerra santa a todas essas ‘anomalias’; e esperava-se que a liberdade e a autonomia
individuais fossem as primeiras vítimas da cruzada” (BAUMAN, 2001, p.33).
Por essas ideias, temos a pós-modernidade como um momento histórico, que
rompe com as teorias e perspectivas da comunicação existentes na atualidade. Por essas
questões, Marchiori (2008) cita que a comunicação organizacional necessita hoje
compreender a perspectiva pós-moderna, baseada na visão da complexidade, da
descentralização da autoridade e dos relacionamentos das unidades, primando pelas
individualidades. Uma perspectiva que cultiva a educação, a afetividade, a
reflexividade, o imaginário e a criatividade a serviço do desempenho organizacional;
considerando sua diversidade e suas diferenças. É um pensamento que quer se livrar dos
padrões fixos e se baseia nas incertezas provocadas pela aura pós-moderna.
27

2.2.2. O contexto digital

A pós-modernidade, como já citado, está embasada também sobre as novidades


tecnológicas, que contribuem para a integração do mundo globalizado. Por isso, há a
necessidade da reflexão de novos conhecimentos no campo da Comunicação
Organizacional, refletidos também sobre este contexto digital, em que o ciberespaço, ou
seja, “um espaço de comunicação aberto pela interconexão mundial de computadores”
(LÈVY, 1999, p.92), possibilita a participação “de todos para todos”, que refletem uma
mudança de protagonismos sobre as criações das comunicações.
As novas possibilidades relacionais da sociedade em rede (CASTELLS, 2009),
potencializadas pelas novas mídias digitais, portanto, resultam um contexto em que o
poder das organizações encontra-se cada vez mais descentralizado, de forma que as
relações de poder presentes na perspectiva crítica diluem-se. Sobre este aspecto, a
relação “receptor – emissor” precisa ser repensada, afinal:

aquelas pessoas que foram quase sempre receptores, objetos das


relações públicas e da comunicação organizacional, passam a ser
personagens, protagonistas de conteúdos, de uma história social, que é
o entrelace entre a história do indivíduo, agora ator, e a história da
organização (NASSAR, 2009a, p.292).

Dessa maneira, as organizações devem temer que o seu controle seja perdido
totalmente, e, por outro lado, devem temer que não se tornem controladoras demais, não
permitindo a participação dos públicos. Porém, as corporações, ao mesmo tempo que
querem que suas marcas sejam celebradas e adoradas, não querem que os seus
consumidores se apropriem delas (JENKINS, 2009).
Deve-se assim, repensar a organização como uma guerra com os seus públicos,
forçando-os a aceitar suas mensagens e a comprar seus produtos e ideias. É preciso
entender e prestar atenção às decisões e opiniões dos seus públicos de interesse e
proporcionar experiências (JENKINS, 2009). Para Nassar (2008, p.192), na atualidade,
perante esta questão dos processos participativos, é que as organizações ganham
legitimidade, uma vez que envolvem grande número de protagonistas, observando e
opinando sobre suas políticas e ações. Além disso, as organizações precisam
compreender a participação, envolta por grande abrangência, alta interatividade e
velocidade, como um processo realizado também por não-especialistas, que geram a
descentralização da organização:
28

Essa utilização de mídias digitais por novos usuários não-especialistas


em comunicação, em suas inúmeras formas de uso, além das
mudanças nos comportamentos comunicacionais e relacionais,
enfraqueceu a comunicação empresarial centrada na empresa, com a
criação de novos protagonistas nos processos comunicativos
(NASSAR, 2008, p.194).

O sujeito pós-moderno, dentro dessa dinâmica da rede digital, preza pela


participação e pela interatividade, uma vez que ele deseja ter sua voz escutada,
reforçando seu sentimento de individualidade e de reconhecimento. Este sujeito não
aceita mais padronizações:

Este sujeito rejeita padronizações, sejam de estilos e formas ou de


linguagens, e encontra nas redes sociais digitais a possibilidade de
exercer sua identidade e de reforçá-la através do encontro de
afinidades. Com o gosto pela experimentação bastante liberado, acaba
surgindo outra faceta complicadora para as estratégias comunicativas
de atração: há a perda de comprometimento com a unidade, abrindo
uma possibilidade natural de abraçar vários projetos, produtos,
relações e causas, mesmo que aparentemente antagônicas (COGO,
2012a, p. 23).

Além disso, há uma necessidade compulsiva pelos sujeitos em aparecer via


media, de projetar a si-próprio e o campo-próprio (TRIVINHO, 2011), de forma que há
uma disputa pelo reconhecimento, necessitando fazer-se presente para a alteridade,
desejando glória, prestígio, reputação, fama; superexpor-se ou tornar-se visível, fazer-se
existir de alguma forma, mesmo que de forma diferente a da realidade, como um
simulacro (BAUDRILLARD, 1981). O homem no mundo digital vive a hiper-realidade.
Flusser (2010) analisa este homem sobre o narcisismo e a autoadoração. O culto a
autoimagem e a quantificação de suas aparições nas nodações da rede, faz com que se
perca o olhar do diverso.
Essa necessidade individualista está ligada também a característica de
autonomia, proporcionada pelas mídias digitais, em que o próprio usuário da mídia, faz
suas escolhas no processo de navegação, escolhendo sua interatividade e o caminho que
deseja percorrer pela rede. Isso pode conduzir também a um isolamento social do
indivíduo, vivendo a hiper-realidade e praticando uma sociabilidade aleatória que
abandona interações face-a-face em ambientes reais (CASTELLS, 2003, p.99).
29

Outro ponto causado neste contexto digital é o déficit de atenção perante a


multiplicidade de opções simbólicas e os excessos informacionais, ligados à rapidez
contemporânea da pós-modernidade, que torna tudo efêmero demais perante uma
angústia em que o passado perde lugar para o foco no presente.
Alvin Toffler (1973) foi um dos primeiros a escrever sobre sobrecarga de
informação - information overload – antes mesmo da propagação das mídias digitais. O
autor já alertava que o crescimento das tecnologias aumentaria a produção de
informações de forma tão rápida e em volumes tão grandes que as pessoas teriam
dificuldades em processar e absorver grandes cargas de informação, em discernir suas
relevâncias e em dar algum sentido a elas, analisando-as e transformando-as em algo
realmente útil para suas vidas, ou seja, transformar informação em conhecimento e em
conceito.
Tanta informação faz com que tenhamos dificuldades em gerir o que nos é mais
importante, no que de fato devemos dar mais atenção, para gerar um sentido
significativo. É o que sugere o conceito “Economia da atenção”, cunhado por Thomas
H. Davenport e J. C. Beck (2001), no livro de mesmo nome, para designar a gestão da
atenção – vista como um bem limitado, de importância cada vez maior, em função do
crescente número de conteúdos gerados pelas mais variadas mídias, especialmente pelas
mídias digitais.
A dificuldade em manter o foco em uma única tarefa, devido a gama de
informações que nos são oferecidas, é exatamente o que Holmes (1997) chama de
“Síndrome de Déficit de Atenção”, caracterizada pela incapacidade do indivíduo em
“focalizar sua atenção durante qualquer duração razoável de tempo” (HOLMES, 1997,
p.331). Relacionado a este fenômeno, Lipp (2000, online), do Laboratório de Estresse
da PUC-Campinas, comenta:

O cérebro possui mecanismos de filtragem que evitam a absorção de


informação em excesso. Mas, quando a pessoa quer prestar atenção
em tudo, ela neutraliza o filtro e passa a absorver tudo. Só que não
consegue processar essa enxurrada de informações direito e termina
tendo um decréscimo na capacidade de raciocinar analiticamente
(LIPP, 2000, online).

Nossos cérebros possuem capacidade limitada de atenção e estão sofrendo com


os excessos de informação (NAISH, 2009). Ainda sob o ponto de vista da psicoterapia,
Figueiró (2000) destaca que o cérebro foi preparado para absorver um número limitado
30

de informação por unidade de tempo e, por isso, seria necessário gerir o que devemos
dar atenção e o que podemos deixar de lado, aquilo que não nos seria útil
imediatamente. Só que a maioria das pessoas não consegue fazer isso, a capacidade de
análise sobre a relevância das informações fica comprometida quando se recebe uma
sobrecarga de informações.
A sensação é de que não conseguimos nos manter atualizados com tudo o que
ocorre no mundo. O sentimento é de culpa sobre as leituras acumuladas e sobre as
notícias que não chegaram aos nossos ouvidos. A incapacidade que nos colocamos
quando não sabemos explicar um conteúdo e a ilusão de achar que a pessoa ao nosso
lado está entendendo tudo e que saberia responder a qualquer questão. Há o receio em
dizer “não sei” e se apresentar desinformado.
Todas estas constatações são sintomas que Wurman (1999) considera como
indicadores da dificuldade das pessoas em lidar com a grande carga informacional, que
apenas nos deixa ansiosos, muitas vezes com baixa autoestima e com conhecimentos
superficiais. Para Wurman, “quase todo mundo apresenta algum grau de ansiedade de
informação. Lemos sem compreender, vemos sem perceber, ouvimos sem escutar”
(WURMAN, 1999, p.38).
Envolvendo todas estas questões do contexto digital, seus pontos positivos e
negativos sobre a abertura à participação, à colaboração, à legitimação por diversos
protagonistas, a credibilidade das opiniões positivas ou negativas proporcionada pelas
inter-relações, não apenas com pessoas próximas, mas de desconhecidos falando sobre
um produto ou uma ideia, a potencialização dos excessos informacionais, o déficit de
atenção, o isolamento do homem na hiper realidade, tudo isso está sobre a lógica da
Cultura da Convergência (JENKINS, 2009), que diz respeito:

ao fluxo de conteúdos através de múltiplos suportes midiáticos, a


cooperação entre múltiplos mercados midiáticos e ao comportamento
migratório dos públicos dos meios de comunicação que vão a quase
qualquer parte em busca de experiências de entretenimento que
desejam. Convergência é uma palavra que consegue definir
transformações tecnológicas, mercadológicas, culturais e sociais,
dependendo de quem está falando e do que imaginam estar falando
(JENKINS, 2009, p. 27).

Essa cultura da convergência mostra-nos que por meio das histórias que se pode
navegar e entender as redes, na medida em que os usuários são incentivados a procurar
por partes dessas histórias, fazem conexões, interpretações, escolhas e opinam sobre
31

elas. Essa é a lógica da rede, assim como Nassar (2008) coloca: “são as mensagens, as
histórias que configuram as redes de relacionamentos, só por meio da análise, da
interpretação e da opinião sobre esses conteúdos é possível entender a rede” (NASSAR
2008, p.199).
Através das histórias contadas em diferentes suportes midiáticos, fica mais fácil
envolver o público, uma vez que “a compreensão obtida por meio de diversas mídias
sustenta uma profundidade de experiência que motiva mais consumo” (JENKINS, 2009,
p. 135). Pensamento que pode ser completado pelas ideias de Paulo Nassar (2009a) ao
dizer que além de maior envolvimento, as histórias, expostas como depoimentos de vida
sobre plataformas digitais, sobre acontecimentos reais dos públicos, geram maior
credibilidade, pois é visto como distante dos interesses organizacionais, distante da
imposição de ideias:

O depoimento de vida que nasce no âmbito dos públicos, das redes


sociais ou da sociedade tem um alto valor para a formação da
confiança na empresa ou instituição, porque é percebido pelos
receptores como distante dos interesses das organizações e, também,
compatível com os interesses dos receptores (NASSAR, 2009a,
p.302).

Jenkins (2009) diz que os depoimentos e as histórias são fundamentais em todas


as culturas humanas, o principal meio pelo qual estruturamos, compartilhamos e
compreendemos nossas experiências comuns. É por meio das histórias que conseguimos
mais facilmente atingir o emocional das pessoas, o que Heyer chama de capital
emocional, dentro de uma economia afetiva (JENKINS, 2009, p.105) que é uma nova
configuração da teoria do marketing e de comunicação, que procura entender os
fundamentos emocionais na tomada de decisão dos públicos.
A necessidade de quantificar o desejo, de mensurar as relações e de transformar
o envolvimento, reconfiguram os processos, teorias e perspectivas da comunicação, na
maioria dos casos ainda baseadas nas relações de poder e nas imposições de
bombardeios de informações a públicos passivos. É preciso desenvolver experiências
multisensoriais e multimídias, que criem impressões mais vívidas e recorram à força das
histórias para moldar identificações com os públicos, através de respeito,
reconhecimento e abertura para as suas participações e opiniões, pontos exigidos pelos
indivíduos pós-modernos.
32

Por isso, a convergência será estimulada pelos próprios públicos, que exigem
que as organizações sejam mais sensíveis a seus gostos e interesses. Estamos em uma
época em que as organizações precisam estar mais abertas a renegociar e expandir a
participação dos seus públicos. Mas será que as organizações estão preparadas para este
relacionamento ou estão propensas a conformar-se com as antigas relações com as
mídias?

2.2.3. O contexto complexo

Segundo os contextos pós-moderno e digital, Baldissera (2008), inspirado pela


teoria da complexidade de Morin (2001), reflete sobre um novo pensamento da
comunicação, sobre um paradigma que se propõe a compreender e explicar os
fenômenos em sua realidade complexa, em um mundo de dúvidas, não fixamente
organizado e não linear, bem diferente dos pensamentos previstos na perspectiva
funcionalista/mecanicista. “O pensamento complexo procura compreender/explicar as
incertezas, as indeterminações e a presença dos fenômenos aleatórios” (BALDISSERA,
2009, p.142), isto é, a presença “do acaso”, tão presente nos tempos pós-modernos.
Morin (1996) destaca na teoria complexa exatamente a necessidade de
exploração das zonas de incertezas do conhecimento, argumentando contra a
racionalização e a objetividade. Para ele, a racionalização seria “o fechamento do
universo numa coerência lógica, pobre ou artificial” (MORIN, 1996, p.170) e a
objetividade, apesar de parecer uma condição evidente a todo processo científico de
construção de conhecimento, já que os dados para qualquer análise científica são
objetivos, mostra que:

O que se pode contestar, com razão, é que uma teoria seja teoria
objetiva. Não, uma teoria não é objetiva; uma teoria não é o reflexo da
realidade; uma teoria é uma construção da mente, uma construção
lógico-matemática que permite responder a certas perguntas que
fazemos ao mundo, à realidade. Uma teoria se fundamenta em dados
objetivos, mas uma teoria não é objetiva em si mesma. A objetividade
é uma coisa absolutamente certa. Ela é determinada por observações e
verificações e essas verificações precisam de comunicações
intersubjetivas (MORIN, 1996, p.40).

Por isso, Morin (1996) “retira da palavra método o caráter de corpus, de receita,
de técnica, que lhe foi atribuído pela ciência tradicional e lhe restabelece, na perspectiva
33

da complexidade, o sentido de atividade pensante e consciente” (SOARES, 1999, p.11).


O método, segundo Morin, “é a atividade reorganizadora, necessária à teoria: essa,
como todo sistema, tende naturalmente a degradar-se, a sofrer o princípio da entropia
crescente, e, como todo sistema vivo, deve regenerar-se” (MORIN, 1996, p.329),
reforçando o caracter instável do mundo complexo.
Além disso, Morin (1996) discute sobre a necessidade do reconhecimento das
características da natureza humana, com a aptidão do homem para o múltiplo, o variado,
o contraditório, o subjetivo, o diverso e, inclusive, para o complexo, uma vez que as
características mais “humanas” foram esquecidas em diversos momentos da história,
“em particular no culto da razão, esvaziando-se no conceito de homem sujeito racional a
afetividade, a emoção, os elementos ‘irracionais’” (SOARES, 1999, p.13).
Com as caracteríticas de subjetividade, integração, transitoriedade e afetividade
da teoria complexa, Baldissera aplica esses conceitos à comunicação organizacional.
Assim, o que se poderia chamar de perspectiva complexa, reflete uma preocupação com
o todo, resultante das relações, interações, inter-relações e retroações entre as suas
partes. Este pensamento considera tanto as qualidades/propriedades da cultura
organizacional (todo) como as suas partes, os sujeitos-indivíduos
integrantes/construtivos da cultura organizacional e portadores (construtores e
construções) da cultura de seus grupos socioculturais anteriores e atuais (família,
comunidade e outros grupos). Neste caso, os sujeitos-indivíduos apresentam-se como
mais importantes do que a cultura organizacional (BALDISSERA, 2009, p.140-141).
Esclarecendo:

Não é mais possível pensar o sujeito como da qualidade do passivo.


Essa compreensão (re)afirma o sujeito como do lugar da agência, da
atividade, exigindo um olhar que se afaste dos lugares determinísticos
e deslize para os das tensões, das possibilidades, das influências, da
dialética e da recursividade. Se, por um lado, o sujeito é resultado do
entorno ecossociocultural, por outro, é seu construtor (BALDISSERA,
2009, p.142).

Com esta nova relação, promovida pelos contextos digital e complexo, as


organizações precisam consolidar seus compromissos com os públicos (partes do todo),
uma vez que, para Lipovetsky (2003) esse envolvimento das pessoas também está
ligado a uma maior consciência desses sujeitos pós-modernos sobre a sua própria
atuação no mundo, sobre o seu poder em fazer a diferença e em cobrar das organizações
34

a preservação do meio ambiente, a proteção da saúde e a qualidade de vida; além da


reação desses indivíduos contra as práticas moralmente inaceitáveis como as corrupções
nas empresas, transações ilícitas e remunerações injustas.
Ainda seguindo o pensamento de Lipovetsky (2003), essa importância no foco
nos sujeitos/indivíduos gera a percepção pelas organizações da necessidade de políticas
e estratégias de comunicação e marketing com base em valores fundamentados na
confiança, na solidariedade, na segurança, no antiracismo, no humanismo e a própria e
consequente valorização do homem como parte da organização. As organizações (todo)
passam a perceber cada vez mais que o ganho econômico está relacionado às suas
partes, as pessoas.
Isso não significa o favorecimento das partes contra o todo, mesmo porque uma
organização é “um sistema constituído de elementos diferentes e que são ao mesmo
tempo uma unidade e uma multiplicidade, e pede que não se transforme o múltiplo em
um, nem o um em múltiplo” (SOARES, 1999, p.15). O que se deve levar em
consideração é o valor do todo (organização) por suas partes (pessoas) e vice-versa,
compreendendo a suas complexidades.

2.2.4. O contexto metapórico e afetivo

Diante desta realidade pós-moderna, digital e complexa, o Prof. Ciro Marcondes


Filho (2008) apresenta o conceito de “metáporo”, contra o termo “método”, o qual
carrega a ideia de caminho já traçado, algo definido por onde temos que passar (meta +
odos = caminho que vai para o outro lado). O “metáporo” é uma proposta que respeita a
fugacidade, a efemeridade e as múltiplas oportunidades da pós-modernidade (meta +
poro = múltiplas passagens).
A realidade da pesquisa em Comunicação Organizacional é de uma
epistemologia metapórica. Ela é ágil, mutante e, por isso, pensar e estudar a
comunicação não pode significar se fechar em resoluções sobre mensagens
padronizadas, racionais, objetivas, disparadas em meio a tantas outras informações a
todos os indivíduos, esperando que os impacte e os transforme. A comunicação precisa
ser pensada e pesquisada como um processo aberto aos surgimentos dos acontecimentos
comunicacionais, um processo mutante, de reconstruções constantes.
A comunicação só ocorre quando há afeto. Afetar significa comover, provocar
uma modificação, mexer com os sentidos e com os sentimentos (MARCONDES
35

FILHO, 2008). O afeto é capaz de trazer uma modificação no ser, que o leva a sentir e a
pensar de maneira diferente àquela anterior ao fato de ter sido afetado (ESPINOSA,
1979). O afeto leva a pessoa a ter diferentes atitudes e comportamentos, ou seja, leva-a
para uma ação, movida pelo seu novo sentir.
A comunicação só ocorre quando a mensagem consegue afetar o invisível, o
interior da pessoa, a sua alma, que, segundo Nietzsche (2003) é uma estrutura social de
impulsos e afetos, e quando essa intensidade da afetivação é exteriorizada, tomando o
corpo da pessoa afetada em matéria de expressão e de ação. Isso significa que a
comunicação só ocorre quando “os afetos ganham a espessura do real e se efetuam”
(ROLNIK, 1989, p.26), quando as mensagens afetam o invisível e se exteriorizam em
uma ação visível.
Espinosa (1979), o filósofo dos afetos, esclarece essa compreensão, ao afirmar
que, quando um corpo é afetado, esse afeto pode aumentar ou diminuir a sua potência
de agir, estimulando-o ou refreando-o. Se os afetos produzem alegria, a potência de agir
é aumentada, caso contrário, se são causa de tristeza, ela diminui. O afeto, quando de
fato ocorre, leva a pessoa a uma ação, positiva ou negativa.
Por estes pensamentos, Marcondes Filho (2008) define a comunicação
exatamente como um “acontecimento”, um processo que ocorre apenas quando se afeta
profundamente uma pessoa, gerando nela mudanças em sua mente e em seu coração,
levando-a a uma ação. Para o autor, comunicação não é transmissão de informações.
Mesmo se houver troca e compartilhamento, é mais do que isso, é um processo que
pode ser (re)construído, fluidamente, de acordo com os afetos gerados e com as
reverberações causadas no interior das pessoas. Por isso, a comunicação, para ele, é um
acontecimento raro nos tempos atuais, pois, em meio a tantas informações, são
pouquíssimas as mensagens que conseguem afetar e modificar as pessoas que as
recebem.
Paulo Nassar (2006) também vê a comunicação organizacional como um
acontecimento, que é desenhada de acordo com os relacionamentos, ou seja, com os
afetos produzidos pela co-participação dos membros constitutivos de uma organização:

A comunicação organizacional é meta-organizacional, ela acontece, é


desenhada em um ambiente relacional, enredado, em que a empresa
ou instituição não é mais o centro, mas é co-participante. A
organização não tem mais o poder de dizer que quer ser percebida de
uma forma ou de outra, a partir de uma área de comunicação ou de
gestão. Ela será aquilo que a rede relacional perceber; será aquilo que
36

expressará uma intensa negociação e trocas. Essa rede não admite


participantes passivos (NASSAR, 2006, p.34).

Braga (2011), baseado na ideia do metáporo e tratando a comunicação como um


acontecimento, coloca que a comunicação possui um carácter “tentativo”, ou seja, não é
possível ter certeza se a comunicação vai ser efetiva ou não, já que depende do afeto
que ela causará no interior do receptor, em algo que é invisível e depende da
compreensão dos sentimentos da alteridade.
Por ser a comunicação uma tentativa, o autor acredita que não é possível se ter
controle sobre ela e isso ocorre devido a dois fatores: os resultados da comunicação são
probabilísticos, ou seja, uma mesma interação pode trazer resultados múltiplos, e o grau
de incerteza e imprecisão que geram a ausência de controle, uma vez que é difícil saber
se a comunicação foi efetiva sem conhecer o outro, o que o outro sente (BRAGA,
2011).
Para Marcondes Filho (2008), a redução desses riscos probabilísticos se dá
quando as interações comunicacionais são menos modificadoras das relações sociais e
humanas, só assim ela pode “acontecer”. Para ele, a boa comunicação, aquela bem
sucedida, é a que articula, integra, vincula e cria reconhecimento mútuo, pelos afetos.
Ela depende das interações dos participantes, da clareza dos enunciados, do atendimento
de objetivos diversos, do equilíbrio ou desequilíbrio dos participantes, de forma que é
preciso interpretar o sentido de uma fala e ajustar esse sentido ao repertório do receptor,
para que o afeto exista e a comunicação aconteça (BRAGA, 2011).
Sendo assim, a comunicação sobre a perspectiva metapórica e afetiva deve tentar
provocar uma mudança positiva, ativada por valores transcendentes, tocando o invisível,
o que está dentro de cada pessoa que a recebe, o que torna a probabilidade maior de
efetividade quando as mensagens estão ligadas ao emocional e são potencializadas em
uma perspectiva micro, individual, contra a racionalização, a massificação e o excesso
de mensagens.
Para Baldissera (2009) “a significação da/na comunicação se atualiza no
acontecer, pela disputa de sentidos que os sujeitos materializam no ato comunicacional”
(BALDISSERA, 2009, p.143), ou seja, seguindo a proposta metapórica, que leva em
consideração as incertezas, (re)interpretações e (re)construções de significados no
momento em que a comunicação ocorre:
37

A comunicação ultrapassa a ideia do planejado, organizado; a


possível aparente ordem da comunicação organizacional guarda
em si a tensão ordem/ desordem, estabilidade/ instabilidade,
(des)organização/ dispersão/ reorganização de sentidos.
Novamente assume relevo a incerteza. (BALDISSERA, 2008, p.
171)

Isso demonstra que vivenciamos um momento profundo de reflexão e de


questionamentos sobre

o relacionamento entre o controle e a liberdade organizacional, a


natureza do poder e da autoridade, o individualismo e o
coletivismo, a informação e o conhecimento. A
responsabilidade, a estrutura social, a tecnologia e,
principalmente, o comportamento dos seres humanos são cada
vez mais questionados pelas organizações, pelas sociedades e
pelas pessoas (KUNSCH, 2010, p.11).

Essas características que compreendem um contexto que ao mesmo tempo reúne,


contextualiza, globaliza, também reconhece o concreto, o individual, o particular, o
singular, o micro, apontam para a necessidade da pesquisa em comunicação
organizacional em compreender os novos comportamentos institucionais e individuais.

2.2.5. Consequências sobre os novos contextos

A partir das reflexões desses novos contextos e das perspectivas, paradigmas e


teorias apresentadas, pudemos verificar diferenças de pensamentos que abordam desde
manipulação e controle até a perda de controle; da persuasão e imposição de ideias à
dissuasão na hiper-realidade; de influências de pessoas próximas até influências de
pessoas desconhecidas, vindas de qualquer parte do mundo pelas mídias digitais.
Vimos também discussões sobre as preocupações com efeitos mensuráveis,
racionais, visíveis e comportamentais a necessidades de atenções com efeitos sobre a
afetividade, pelo capital emocional. Da transmissão de informações para a produção de
sentidos. Teorias sobre indivíduos iguais e indiferenciáveis, para teorias que necessitam
enxergar que os indivíduos de hoje são influenciados pelo social e possuem múltiplas e
fragmentadas identidades.
Por fim, verificamos também a mudança da imposição de cultura, para o direito
das pessoas em contribuir ativamente com sua cultura pelas transformações midiáticas,
38

pela cultura da convergência. De consumidores passivos para interativos e de interativos


para participativos. Enfim, reflexões que discorrem sobre transformações culturais,
econômicas, políticas, sociais, educacionais e, obviamente, comunicacionais.
Estas questões trazem uma reflexão sobre os novos comportamentos tanto em
relação aos produtores como em relação aos consumidores de comunicação, uma vez
que perante o sujeito pós-moderno, o mundo hiper-real, complexo e metapórico, as
novas tecnologias e a chamada cultura da convergência, temos um sistema em que as
pessoas simultaneamente são intimadas a construir-se como sujeitos autônomos,
responsáveis, livres e conscientes e, ao mesmo tempo, a constituir-se como objetos
submissos, inertes, obedientes, conformes. Precisamos nos exprimir, votar, produzir,
decidir, falar, participar, jogar e com isso, produzir palavras e sentidos. A linguagem
que antes era “Compro, consumo, gozo”, hoje é “Voto, participo, estou presente, isto
diz-me respeito” (BAUDRILLARD, 1981, p. 117).
Isso significa que um mundo veloz, efêmero, repleto de incertezas, sem
referenciais e sentidos faz com que os indivíduos também ganhem novas características.
Em uma realidade fragmentada, mutável, não linear e sem histórias, há uma
transformação sobre o sentir do homem na contemporaneidade. Questões que exigem
uma mudança também nas formas de se criar e de receber as comunicações.

2.3. As transformações contemporâneas sobre o sentir

Apesar de todas estas reflexões sobre os contextos da contemporaneidade, na


angústia de comunicar, na rapidez da pós-modernidade e frente a tantas possibilidades
proporcionadas pela multiplicidade de plataformas existentes (tradicionais e digitais),
acabam-se gerando grandes quantidades de informações, padronizadas, fechadas em
modelos e disparadas para todos os indivíduos, sem considerar os diferentes sujeitos
integrantes/construtivos da cultura organizacional e suas histórias, memórias e desejos,
e sem enxergar as múltiplas oportunidades para construir e reconstruir o processo da
comunicação.

2.3.1. O enfraquecimento das experiências e das afetividades

Nassar (2013) caracteriza nossa sociedade informacional como produtora de


paralisia social, ao contextualizar os excessos comunicacionais em nossa sociedade e
adaptar os conceitos trazidos por McLuhan (1964) de hipnose e de esfriamento dos
39

sentidos pelo aquecimento dos meios na contemporaneidade. Ou seja, pelo excesso de


informações sobre os indivíduos, acabamos vivendo uma vida sem história e sem
geografia, que nos afasta de nossas memórias pessoais e sociais, o que nos leva a um
contexto sem identidades e em que as narrativas atuais não são capazes de se sustentar e
de comunicar2 (NASSAR, 2013).
O contexto atual suprimiu as riquezas das experiências profundas e,
consequentemente, a maneira de criar, de receber e, sobretuto, de sentir as
comunicações. As pessoas e as organizações estão ficando saturadas de informações,
enfraquecidas de experiências e carentes de sentidos e de afetividades. Para Larrosa-
Bondía (2002), a experiência é o que nos passa, o que nos acontece e o que nos toca.
Porém, perante esse contexto de excessos de informação, muita coisa se passa, pouca
coisa nos acontece e quase nada nos toca ou nos afeta profundamente.
Larrosa-Bondía coloca em seu texto pontos importantes sobre o enfraquecimento
das experiências, reflexo de um contexto em que as pessoas não possuem tempo,
sobretudo tempo para falar e ouvir, ou seja, para comunicar. Os indivíduos estão mais
preocupados em ser sujeitos informantes e informados, do que sujeitos dispostos a
cultivar a arte do encontro; estão menos preparados a interagir, para afetar e serem
afetados, e menos dispostos a dar tempo e espaço para as experiências:

a experiência, a possibilidade de que algo nos aconteça ou nos toque,


requer um gesto de interrupção, um gesto que é quase impossível nos
tempos que correm; requer parar para pensar, parar para olhar, parar
para escutar, pensar mais devagar, olhar mais devagar, e escutar mais
devagar; parar para sentir, sentir mais devagar, demorar-se nos
detalhes, suspender a opinião, suspender o juízo, suspender a vontade,
suspender o automatismo da ação, cultivar a atenção e a delicadeza,
abrir os olhos e os ouvidos, falar sobre o que nos acontece, aprender a
lentidão, escutar os outros, cultivar a arte do encontro, calar muito, ter
paciência e dar-se tempo e espaço (LARROSA-BONDÍA, 2002, p.
24).

O autor, ao afirmar sobre o empobrecimento das experiências perante um mundo


dinâmico e ininterrupto, fala-nos, sobretudo, do enfraquecimento relacional, ou seja, na
falta de tempo e de espaço para os afetos entre as pessoas, mudanças no sentir e no
comunicar. Sem tempo para vivenciar experiências profundas, a memória não consegue
se estabelecer. Não há espaço hoje para relações sustentáveis e duradouras, nem para a
2
(informação verbal). Discussão levantada pelo Prof. Dr. Paulo Nassar em reunião do Grupo de Estudos
de Novas Narrativas, da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, no dia 27 de
fevereiro de 2013.
40

valorização do indivíduo, substituídas por relações mediadas e comerciais. No presente,


as emoções deram lugar ao modo racional de ser, as comunicações perderam para
simples informações e o relacionar-se ganhou novas formas e sentidos.
Para o filósofo epicurista Espinosa (1979), relacionar-se é a lógica natural da
vida. Viver é ser parte do mundo e é estar sujeito a constantes encontros com outras
partes deste mundo. Encontrar-se com estas outras partes é relacionar-se com elas,
afetar e ser afetado por elas.
Porém, se há inúmeras possibilidades de encontros superficiais, pouca coisa
pode afetar de fato, profundamente. O que ocorre no contexto da abundância de
informações, da velocidade e da efemeridade é um movimento contínuo de
desencantamento, uma vez que a magia que toca o ser se desfalece em novos estímulos
que rapidamente os substituem e são substituídos.
Com o surgimento de novos afetos, efeitos de novos encontros superficiais,
“certas máscaras tornam-se obsoletas. Movimentos de quebra de feitiço. Afetos que já
não existem e máscaras que já perderam o sentido” (ROLNIK,1989, p.33) é o resultado.
Uma vez enfraquecido, o afeto, produto de um trocar mais intenso entre os seres,
produto de um sentir mais profundo e duradouro, apenas reflete o esfacelamento das
experiências na sociedade contemporânea e a perda de sentido entre elas.
No centro da problemática do enfraquecimento das experiências e das
afetividades, está a relação entre a ação constante dos meios de comunicação e o
conjunto de conhecimentos sobre a realidade social. As formas de se ter experiências
são transformadas de acordo com as mudanças no contexto social e as novas interações
possibilitadas pelos meios de comunicação.
O surgimento de novos meios de comunicação não somente modificam ideias,
conceitos e formas de interação, mas também modificam a percepção da realidade e a
interação com o ambiente. Como descreve Marshall McLuhan (1964, p 52) “os efeitos
da tecnologia comunicativa não ocorrem aos níveis das opiniões e dos conceitos: eles se
manifestam nas relações entre os sentidos e nas estruturas de percepção”.
Isso significa que o resultado das experiências está no diálogo que ocorre entre a
nossa forma de organização psíquica, nossas inter-relações sociais e a quantidade e
forma de organização das informações que a mídia impõe. As novas formas
tecnológicas “transformam não só o equilíbrio de poder entre nossos sentidos, mas
também nossa experiência” (JOHNSON, 2001, p.131), seja ela em relação aos diversos
meios de comunicação, como à nova cultura de interfaces.
41

Sendo assim, esse contexto, vigoroso pelas mídias digitais, redesenha a


arquitetura da inteligência em uma estrutura rizomática (DELEUZE e GUATTARI,
1983), ou seja, de múltiplas possibilidades proporcionadas pelas infindáveis
oportunidades de inter-relações e pelas inúmeras informações que recebemos, as quais
não apenas impõe ao habitar contemporâneo um novo ritmo do viver, do experimentar e
do sentir, mas também uma nova forma de compreender os estímulos, uma nova forma
de afetar e de ser afetado.
São tempos da internet e da atenção difusa. São diversas abas abertas no
navegador para um consumo de informações em desastrada leitura dinâmica. Em um
mundo onde o clique muitas vezes substitui o virar de páginas, a psicotecnologia de
Kerckhove (1997), ou seja, a maneira de ser afetado pelas mídias achata-se em um vasto
oceano epistemológico com profundidade ínfima. Como, então, conseguir uma atenção
sobre esta nova experiência do habitar?
Pergunta que demonstra que as preocupações atuais são sobre um indivíduo
servido por novas tecnologias e novas maneiras de estar e interagir no mundo. Um
indivíduo servido por uma multiplicidade de opções simbólicas, pela abundância e pela
automação (PINK, 2007). Momento de enfraquecimento das experiências, de atenção
difusa, memórias fragmentadas e superficiais, e de pouca afetividade. De velocidade,
efemeridade e ambiguidade.
O medo das pessoas está intimamente embutido em suas histórias. E esta
insegurança perante as novas tecnologias, as redes sociais, a grande quantidade de
informação no presente, os relacionamentos e as atividades a curto prazo e as
experiências superficiais, geram nas pessoas uma necessidade de registrar suas histórias,
proliferando, sem controle, uma tentativa de produção extensa de memórias virtuais no
campo particular (GARDE-HANSEN, 2011). É uma tentativa de individualização
contra a massificação. É uma tentativa de subjetividade, em um mundo em que a a
objetividade e a racionalidade prevalece. O presente não é experimentado
profundamente, apenas registrado para um passado sem tempo de ser avaliado no
futuro.
A consequência disso é que o mundo e as pessoas tiveram sua “maneira de
sentir” totalmente transformada. A regra embasada na frase “Não há longo prazo”,
enfraqueceu os laços socias, causando a corrosão das lealdades, dos compromissos
mútuos e, consequentemente, a corrosão do caráter das pessoas, desencantadas pela falta
de magia que se dilui na falta do reconhecimento do indivíduo, da subjetividade e da
42

afetividade. Isso faz com que as pessoas coloquem sua vida emocional, interior, à deriva
(SENNETT, 2010, p.19).

2.3.2. O empobrecimento das memórias e a crise das narrativas

Ao mesmo tempo em que as pessoas possuem uma obsessão pelas novidades e


pelas informações, elas consomem vorazmente mensagens superficiais e passageiras.
Ao mesmo tempo em que buscam formar uma opinião particular sobre o mundo, são
enfraquecidas as suas capacidades de fazer conexões significativas entre os
acontecimentos – efêmeros e esquecíveis.
A sensação exposta pela comunicação é a necessidade de atender a esse desejo
de informação, de ter sempre notícias novas, mas que acabam sendo cada vez mais
pobres em histórias interessantes, as quais já vêm com uma opinião formada. Por isso,
pode-se dizer que a experiência está sendo afetada, de certa forma, de um jeito negativo
pelas novas técnicas.
Walter Benjamin (1986a), ao falar ainda sobre a modernidade já observava a
pobreza de experiências que caracterizava o progresso, apoiados em tempos
homogêneos e vazios. Para ele, sujeitos produzidos e manipulados pelos aparatos da
informação e da opinião, seriam sujeitos incapazes de experiência. Incapacidade
reforçada pelo periodismo trazido pelas mídias e potencializados na pós-modernidade
(LARROSA-BONDÍA, 2002).
Benjamin (1986a), contesta sobre um contexto da ruptura do sistema corporativo
medieval e a ascensão da burguesia europeia, em que se principiaram as condições
desfavoráveis sobre as experiências. O sistema artesanal era propício para o encontro
entre as experiências do mestre e as vivências dos aprendizes, algo que o sistema fabril
veio a romper. Um tempo em que os imperativos econômicos passaram a mediar as
relações interpessoais e em que a globalização emergiu como ameaça às tradições
(FROCHTENGARTEN, 2005).
Para Benjamin, essa pobreza de experiências reflete homens tristes,
desanimados, cansados e sem forças, isso porque eles não concentram todos os seus
pensamentos em planos simples e grandiosos para serem realizados em um dia, ao
contrário disso, devoram tudo, todas as informações, toda a “cultura”, e ficam saciados
e exaustos (BENJAMIN, 1986b, p.118).
43

Benjamin retrata a modernidade através de Baudelaire (GATTI, 2008),


escrevendo sobre a transitoriedade das coisas, do momento passageiro, de um mundo de
visões rápidas e fugidias, de instantes mágicos que desaparecem rapidamente. Esse
novo olhar sugere também uma nova forma de percepção do mundo, em que o homem
desliga-se de sua memória e vive em estado de choque no presente, com a sua
consciência ligada ao cotidiano e ao exterior dos fatos. O homem não está mais
mergulhado na sua subjetividade, o que gera uma alteração na formação das memórias
e, consequentemente, uma crise nas narrativas.
Os novos contextos reforçam estes aspectos e estas consequências. O homem,
isolado, que vive tão apenas seu cotidiano efêmero, encontra-se bombardeado por
disparos de informações sem sentido e perante o enfraquecimento das experiências que
geram o empobrecimento na formação das memórias. Sobre isso, há as teorias de
Halbwachs (2004), que é o primeiro a trazer a ideia, em 1925, sobre a construção da
memória, elaborando uma espécie de “sociologia da memória coletiva”. A memória,
para ele, depende de uma base social, de interação social, sendo que as conversas seriam
o fundamento para ativar a memória.
Assim, a memória individual seria construída a partir das condições, das
referências e das lembranças de um grupo, sendo sempre uma referência a “um ponto de
vista sobre a memória coletiva” (HALBWACHS, 2004, p.55). Desse modo, as
memórias individuais seriam aquelas formadas de acordo com o papel do sujeito e suas
interações no interior do grupo, a partir das suas relações sociais.
Por isso, o isolamento proporcionado e ampliado pelo contexto de novas mídias
altera a construção das memórias e, consequentemente, das narrativas. Relações sociais
e narrativas são base para toda comunicação. Sem narrativas interessantes, a
comunicação fica desencantada, inclusive a comunicação interna (entre a organização
com seus funcionários).
44

3. A COMUNICAÇÃO INTERNA SOB OS NOVOS CONTEXTOS

3.1. O desencantamento da comunicação organizacional

O suposto desencantamento da comunicação, resultado deste contexto de


mudanças sobre as narrativas do mundo, pode ser comparado ao reflexo do que Max
Weber (2004) abordou como o desencantamento do mundo, ou seja, “processo pelo
qual as coisas concretas deixaram de ser transubstanciações do divino, do sagrado e
foram absorvidas pela lógica da produção industrial e transformadas em produtos
mercantis” (CONTRERA; BAITELLO, 2010, p.102). Para os autores, o caráter
autorreferente da tecnologia se apresenta em todo o sistema ideológico, o qual
“enlouqueceu”, inclusive pela falta de capacidade de interagir com outras esferas da
existência, tais como o sentimento, a intuição, o devaneio e o sonho (CONTRERA;
BAITELLO, 2010).
O desencantamento do mundo na visão weberiana, resgatada por Bendassolli
(2007) reflete que, não havendo mais uma magia (dada pela religão protestante) que
decidia o destino humano, o indivíduo encontra-se perante uma racionalização que o
deixa em constante instabilidade e com a responsabilidade ética das suas próprias
escolhas: objetivas e constantes, dadas as mudanças constantes do mundo e as inúmeras
informações superficiais lançadas a todo o momento. Decisões em curto prazo, que não
exigem comprometimento, sacrifícios e lealdades, já que nada possui um sentido muito
claro, há muitas oportunidades e tudo é efêmero.
Para Mayra Rodrigues Gomes (2001), a perda do imaginário é efeito não apenas
de inflação de informação que causa anestesia, como também a substituição da
percepção pela triagem da máquina, uma vez que, “aos sujeitos, substituídos por
máquinas, restam essa morte do viver por mediações, porque todas as próteses, aliadas à
velocidade, prejudicam a mnese” (GOMES, 2001, p.136), ou seja, prejudicam a
memória e o imaginário, levando o homem a ter também uma prótese automática de
percepções superficiais sobre um mundo fragmentado.
É por esta reflexão, que Sennett (2010) aborda a questão “Como pode um ser
humano desenvolver uma narrativa de uma identidade e história de vida numa sociedade
composta de episódios e fragmentos?” (SENNETT, 2010, p.27). E é justamente neste
ponto que a comunicação organizacional também precisa ser pensada segundo este
contexto dinâmico, de reestruturações constantes, em que o longo prazo não é algo
45

desejado, dificultando os diálogos e os relacionamentos e em que as comunicações


também se tornaram desencantadas e objetivas, ou seja, nem afetivas, nem efetivas.
Um contexto fragmentado, dinâmico, efêmero, abundante, de exposição
constante a mensagens desinteressantes, sem encantamento, e rapidamente
transformadas em lugares-comuns através da reprodução “viralizada” de seus
conteúdos, que por si só dificilmente alcançam um nível de profundidade suficiente para
tocar, engajar, e produzir afetos, transformam os meios de comunicação e os produtores
de conteúdos, já conformados no ritmo industrial de produção de mensagens, em
grandes máquinas de produzir vazio.
Vazio esse derivado de uma ausência de uma narrativa afetiva na comunicação,
ou seja, a falta de uma visão que subjaz às ideias, às práticas, aos hábitos e aos sonhos
das pessoas que fazem parte de uma organização (BOFF, 2012). É por meio da narrativa
que se é capaz de explicar origens, evoluções e propósitos, sejam da vida pessoal ou
profissional do indivíduo, das suas histórias, do seu lugar como ser humano no mundo,
inclusive no mundo organizacional.
Por isso, é justamente a ausência destas narrativas que colaboram para a falta de
magia da comunicação, para o sentido perdido, não comunicando o cuidado, a
cooperação, o amor, o respeito, a alegria e a afetividade. Sentimentos perdidos, que
foram substituídos por vazios baseados em histórias sem passado, comunicações
superficiais, de baixa credibilidade e em todo tipo de relações insustentáveis.
Dentro desse contexto, a comunicação organizacional enfrenta o desafio de
humanizar sua comunicação perante uma infraestrutura fabril e mecanizada, imersa em
uma superestrutura ideológica fragmentada, o que culmina em uma desumanização de
seus processos, a qual resulta em uma esterilidade simbólica cuja frigidez deve ser
reavivada por uma nova comunicação, imune ao desenfreado fluxo informativo que
exaure conteúdos e criatividades, apaga os resquícios de humanidade que refletem os
homens por trás da mensagem e os distribui aos consumidores de mensagens,
despreparados para uma abordagem mais profunda dos significados atribuídos.
Isso tudo siginifica que a velocidade das mudanças, o registro incontrolável da
vida pelo medo da perda do presente, o enfraquecimento das relações pessoais, os
excessos de informações e as multiplicidades de opções simbólicas potencializadas
pelas tecnologias digitais e redes sociais, pelo mundo complexo e efêmero e a
massificação das mensagens disparadas a todos os meios, fizeram com que nosso olhar
46

ficasse turvo, como sobre uma nebulosa contínua, indiferenciada e insensível. A


cegueira sobre uma comunicação inexistente.
Para existir, a comunicação precisa compreender esta nova maneira de sentir o
mundo e, a partir dessa compreensão, ser diferenciada. Ela necessita de um olhar que
quebre o contínuo e o transforme em descontinuidade, em diversificação, em
explicação, em representação. Ela precisa ser capaz de gerar experiências realmente
profundas, que mexam com as emoções, primando a subjetividade no lugar da
objetividade e da racionalidade.
Assim, como visto até agora, a cultura social e a cultura organizacional são
tecidas e reorganizadas hoje no contexto da complexidade, ou seja, não devem ser
assumidas como verdades absolutas e inquestionáveis, prontas e fechadas, assim como
também não deveriam se impor coercitivamente sobre os indivíduos, uma vez que nos
encontramos em uma sociedade em que há mais interesse em participação pelos sujeitos
e que, por isso, também exige maior transparência por parte das organizações.
As ideias de Baldissera (2008) apontam para um contexto que exige mudanças
para aquelas organizações que ainda visam a comunicação como um processo técnico-
informativo. Em um mundo fluido, complexo e efêmero, como este da pós-
modernidade, compreendemos que a comunicação não pode ser tratada como simples
transmissão de informações, dispostas excessivamente em diversos veículos como na
perspectiva funcionalista/mecanicista, nem ser impassível e de caráter impositivo como
na perspectiva crítica. Ela deve ser exatamente o oposto disso. Informações excessivas,
geralmente objetivas e racionais, prejudicam a atenção e a retenção de conteúdos e
podem não ser capazes de afetar, de produzir um sentido para as pessoas que as recebem
(NASSAR, 2013) 3.
Os excessos de informações deixam no ar apenas uma sensação de algo
informado. Encenam um faz de conta sobre a comunicação, em que os protagonistas são
conteúdos sem identidades e as principais cenas trazem a liquidação do sentido e a
violência exercida contra os afetos, de forma que “A informação é cada vez mais
invadida por esta espécie de conteúdo fantasma, de transplantação homeopática, de
sonho acordado de comunicação” (BAUDRILLARD, 1981, p. 105).

3
(informação verbal) Discussão levantada pelo Prof. Dr. Paulo Nassar em reunião do Grupo de Estudos
de Novas Narrativas, da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, no dia 27 de
fevereiro de 2013.
47

Vivemos o mundo da abundância e dos excessos. Nassar (2010, online) afirma


que: “Entre muitos [excessos], destaca-se o de informação, cujo desenho é labiríntico,
seja frente às mídias tradicionais ou digitais”. Tantas mensagens levam a perda de
sentido, a qual está exatamente ligada à ação dissolvente e dissuasiva da informação,
nas mídias (BAUDRILLARD, 1981) perante este desenho labiríntico, em que as
mensagens são disparadas e se cruzam - são somadas, multiplicadas em rede – e se
perdem, sem tempo para serem resgatadas e reavaliadas.
A sobrecarga de informações sem sentido, disparadas sem efeitos
comunicacionais, sem afetar profundamente os indivíduos precisam ser repensadas.
Comunicar não significa informar, pelo contrário, a “grande quantidade de informações
suscita uma comunicação mais difícil” (WOLTON, 2006, p.17):

a comunicação, isto é, a intercompreensão, não é proporcional à


eficácia das técnicas. Complexa por natureza, a comunicação
complicou-se ainda mais nestes últimos trinta anos, devido ao
progresso técnico. Hoje em dia todo mundo vê tudo ou quase tudo,
mas percebe, ao mesmo tempo, que não compreende melhor o que
acontece. A visibilidade do mundo não basta para torná-lo mais
compreensível. [...] Na ponta dos canais e das redes, encontramos
frequentemente a incompreensão, para não dizer a incomunicação
(WOLTON, 2006, p.18-19).

Dessa maneira, encontramo-nos sobre um contexto em que as comunicações


encontram-se em crise. “Na realidade o mundo ficou pequeno e estamos sufocados de
informação. Não surpreende que vivamos em crise. Todos os grandes saltos da
humanidade geraram crises” (REBOUÇAS, 2010, p.186). São novos indivíduos,
vivendo e interagindo em novos ambientes, mas que se encontram muitas vezes sobre
velhas formas comunicacionais. Por isso, faz-se necessária uma resignificação do olhar
do comunicador (NASSAR, 2007), inclusive ao que diz respeito à comunicação interna
de forma que a comunicação seja um agente de transformação do ambiente
organizacional.

3.2. Novos contextos, velhas formas de comunicação interna

Diante dos acontecimentos e cenários incertos que permeiam a sociedade


contemporânea, vale a reflexão sobre a relação dos objetivos da organização com seus
funcionários, ou seja, com a comunicação interna. A comunicação interna, segundo
48

Kunsch (2003, p. 154) “corre paralelamente com a circulação normal da comunicação


que perpassa todos os setores da organização, permitindo seu pleno funcionamento”,
sendo, portanto, um setor que deve ser planejado intencionalmente, trabalhado e
repensado sobre os novos contextos.
A comunicação interna é a comunicação voltada para todos os funcionários, para
que saibam dos assuntos e objetivos gerais de interesse da organização, para que se
motivem e para que se integrem para o alcance destes. Por isso, este tipo de
comunicação deve incentivar a troca de informações e estimular experiências e
diálogos. Assim como consta no Plano de Comunicação Social da Rhodia S. A., a
comunicação interna é uma estratégia para “compatibilização dos interesses dos
empregados e da empresa, através do estímulo ao diálogo, à troca de informações e de
experiências e à participação de todos os níveis” (RHODIA apud KUNSCH, 2003, p.
154).
Seguindo este pensamento da comunicação entre a organização e seus
funcionários, Nassar e Figueiredo (1995) concordam que a comunicação interna tem o
papel de manter o relacionamento com os funcionários, de forma a permitir que eles
conheçam os objetivos e as estratégias da organização, bem como suas novidades
organizacionais, para que seus interesses e desempenho reflitam também na imagem
que os públicos externos terão da empresa, uma vez que o funcionário é um dos porta-
vozes da organização e influi diretamente na imagem e no conceito da empresa
(KUNSCH, 2003).

O fato é que se torna inconcebível a ideia de uma empresa que se


comunica ‘muito para fora’ (por meio de publicidade, eventos,
assessoria de imprensa etc.) mas não olha para o próprio umbigo. Se o
trabalhador não conhece a empresa na qual trabalha e não sabe qual a
filosofia que a anima, torna-se difícil estabelecer metas e passar para
os consumidores e a sociedade a imagem que se deseja. (NASSAR,
FIGUEIREDO, 2006, p. 42)

Marchiori (2006) diz que a organização não pode apenas preocupar-se com a
qualidade dos produtos, serviços e tecnologia, mas também com a qualidade dos
relacionamentos que a organização desenvolve para com seus públicos, principalmente
ao que se refere ao relacionamento com o público interno, visando a criação de um
ambiente no qual informação, conhecimento e competência sejam valorizados,
49

estimulando o comprometimento, a confiança, o sentimento de pertença, o orgulho e o


auto-desenvolvimento.
Para isso, interpreta-se a importância sobre a criação de um clima sinérgico entre
a organização, suas políticas e seus funcionários, adequando os canais para cada
diferente grupo de profissionais existentes dentro de uma mesma organização,
permitindo a formação do conhecimento e a participação dos colaboradores em todos os
níveis, estimulando o potencial humano para fundamentar uma cultura pró-ativa com
foco no negócio e para criar uma filosofia inovadora e aberta às mudanças
(TORQUATO, 2002).
Porém, apesar destas definições e do levantamento sobre as importâncias da
comunicação interna, ela é um processo complexo uma vez que geralmente as
organizações preocupam-se em primeiro lugar com os lucros e as comunicações
racionais com fins mercadológicos, deixando em segundo plano o incentivo de
participação dos funcionários, levando à desmotivação e ao descomprometimento
(ANDRADE, 1977), o que é potencializado pelo contexto apresentado no Capítulo 2.
É preciso compreender as tranformações do mundo e observar que a
comunicação interna precisa ser motivo de humanização em um ambiente racional e
sem afetos, em que não há tempo e contexto para relacionamentos e interações, notar
que se outrora o campo da comunicação organizacional e da comunicação interna era
caracterizado por uniformidade e homogeneidade, com mensagens iguais para todos os
públicos da organização, é preciso levar em consideração hoje as diferenças e a
multiplicidade (MUMBY, 2010, p. 29), e dar a importância para o valor sobre os
relacionamentos entre estas diversidades. Porém:

a realidade é que as corporações modernas não conseguem suportar a


ideia de que seres humanos experienciam o mundo e uns aos outros e
“fazem significado’ de qualquer forma que não seja mediada e
patrocinada por processos de corporatização” (MUMBY, 2010, p. 24).

Assim, temos que a comunicação interna, na maioria das organizações, ainda


visa o controle, a censura e a repressão. Não evoluiram, prevalecendo os processos
informativos, em suas excessividades e produções de ruídos, de boatos e mal estares.
Buscam a estagnação, mesmo em um contexto mutante. Não se importam com a
emoção, com a produção de sentidos, com as afetividades positivas dos seus públicos,
não os convidando para agir e para co-criar as comunicações da organização.
50

Sobre estes pensamentos, Paulo Nassar (2009b) enxerga exatamente que aquelas
mensagens embasadas na dimensão instrumental da comunicação, focadas no
funcionalismo e na mecanização, na automação e na lucratividade, com mensagens
disparadas pelos níveis gerenciais e sem espaço para feedbacks, tornaram-se ineficazes.
Estas seriam as mensagens quantitativas do modelo administrativo, objetivas e técnicas,
para fins de produtividade e de economia de tempo, com receptores passivos, tratados
como meras funções, como business (MATOS, 1998), as quais podem ser chamadas de
velhas formas de comunicação, uma vez que se tornaram ineficazes perante os novos
tempos.
Porém, apesar destes aspectos negativos da comunicação organizacional em seus
excessos, imposições e insensibilidades, Kunsch (2010, p.46) nota que a dimensão
predominante nas organizações ainda é a dimensão instrumental, ou seja, aquela que
visa a comunicação como mais funcional e técnica, focada na transmissão de
informações, dentro de uma visão linear em que a comunicação é assimétrica. Para
Cogo (2012b), estas reflexões apontam que:

A visão mecânica ou instrumental ainda parece predominar na área,


como se estivesse tratando do simples manuseio, mais ou menos
estratégico, de produção e distribuição de mídias de contato. Na
verdade, esta concepção está absolutamente em questionamento numa
sociedade cada vez mais em rede, consciente do poder da inteligência
coletiva e da potencialidade da internet no descentramento da fonte
emissora (COGO, 2012b, online).

Segundo Jorge Duarte e Graça Monteiro (2009), na maioria dos casos, a


comunicação interna ainda não ocupa o seu espaço nobre nas organizações exatamente
porque ainda foca em seu aspecto técnico e informacional. Falta engajamento da alta
cúpula, sendo que os gestores confundem comunicar com informar e acabam utilizando
a informação como instrumento de poder, não empregando os canais de forma adequada
e estratégica, sem abrir espaço para o diálogo e sem demonstrar real interesse em ouvir
as pessoas que são partes da organização.
Em suma, evidencia-se um cenário em que, apesar da evolução técnica e
epistemológica pela qual os estudos em comunicação organizacional têm passado nos
últimos anos, ao se pensar no âmbito das organizações, a comunicação interna ainda não
alcançou sua excelência, afetividade e efetividade, geralmente com profissionais que
fingem saber de tudo e reclamam da fragilidade da informação (cinismo coletivo); com
51

assessores de pouca influência na gestão; em que as políticas da área permanecem no


papel e a comunicação transparente, integrada e estratégica fica apenas no discurso; não
sendo capaz de gerar afetos, envolvimento e sentido (DUARTE e MONTEIRO, 2009).
Grize (1985 apud CHANLAT, 1993), concordando que reduzir a comunicação
humana nas empresas a uma simples transmissão de informação, assim como é possível
ver nos manuais de comportamento organizacional, inspirados pela engenharia, é elidir
todo o problema do sentido e das significações. Isso significa esquecer-se de que todo o
“discurso, toda palavra pronunciada ou todo documento escrito se insere em maior ou
menor grau na esfera do agir, do fazer, do pensar, e do sofrimento” (CHANLAT, 1993,
p.29).
Sendo assim, é preciso pensar a comunicação interna como fator de
humanização das organizações (KUNSCH, 2010). Não é suficiente nos contextos atuais
ser uma organização competente e sólida, ainda mais em um mundo fluido e
fragmentado. O fundamental é “agitar as células cerebrais – e aquecer os corações dos
públicos” (DAVENPORT e BECK, 2001, p.9).
Esse contexto é favorável para se pensar novas formas de se conseguir realizar o
processo da comunicação interna: focado nas emoções, na reflexividade, na criatividade
e nos desejos, tão esquecidos no contexto de mensagens desinteressantes e técnicas, que
dificilmente podem alcançar um nível de profundidade suficiente para tocar, engajar e
produzir afetos nos funcionários, que acima de tudo, são pessoas com sentimentos,
subjetividades e competências que podem ser trabalhadas para uma comunicação mais
eficaz e uma maior satisfação para esse sujeito pós-moderno, que vive na complexidade,
e não aceita verdades absolutas e inquestionáveis, prontas e fechadas, impostas pela
comunicação.

3.3. O ambiente de trabalho e o novo sentir do funcionário

Sobre essas características contemporâneas e todos os aspectos destacados até


agora, ao se pensar o ambiente de trabalho e a comunicação interna nas organizações
nesses contextos, é possível notar que seus processos precisam ser repensados.
Sennett (2010) organiza suas ideias sobre um contexto de capitalismo flexível,
um sistema ilegível, confuso, de constantes mudanças, que exige flexibilidade. Um
mundo que exige adaptações constantes perante as novas tecnologias, o mundo digital,
as redes sociais, a compressão tempo/espaço e as novas relações de trabalho. Essas
52

adaptações, consequentemente, também sugerem uma nova forma de organização do


tempo, especialmente ao que se destina ao tempo do trabalho. E isso, tem causado
profundas mudanças também nas vidas, profissionais e pessoais, dos indivíduos, na sua
maneira de sentir o mundo e estar nele.
Por um lado, há a pretensão em gerar ações de mudança de comportamento,
buscando uma integração melhor entre a organização e seus funcionários, para que eles,
afetados e engajados, contribuam para agir em prol dos objetivos organizacionais, de
forma que se sintam pertencentes a esse processo. Kunsch (2003, p. 159) diz que: “A
importância da comunicação interna reside, sobretudo, nas possibilidades que ela
oferece de estímulo ao diálogo e à troca de informações entre a gestão executiva e a
base operacional”.
Mas, por outro lado, o que vemos é geralmente uma falta de espaço para o
“tornar comum” por meio de diálogos, envoltos por um clima de decisões em escala e
de curto prazo, baseadas no agora e na impaciência por resultados, ou seja, incapazes de
comportar memórias, sonhos, emoções e que acabam gerando mensagens sem
afetividade, que rogam em sua superficialidade, prejudicando os relacionamentos e as
comunicações, já que nada possui um sentido muito claro, há muitas oportunidades e
tudo é efêmero.
O contexto exige adaptações na comunicação organizacional, sobretudo na
comunicação interna. Apesar de tantos questionamentos sobre a importância da
comunicação ser responsável como fator de humanização das organizações, ainda são
tempos de racionalidade e de excesso de informações, que causam a perda dos afetos,
dos sentidos e dos compromissos.
Os desejos e os sentimentos não possuem espaço, já que a lógica do curto-prazo
e da substituição de empregos por projetos não permitem que se consolidem
comprometimentos e nem o amadurecimento da confiança (SENNETT, 2010). Até
mesmo porque “chefe, empresa, divisão de trabalho, organograma, filosofia da
organização acabam tomando o lugar do desejo” (MOTTA, 1991, p.9). E isso também
ocorre devido às instituições que vivem se desfazendo e perante projetos continuamente
reprojetados, de acordo com a racionalidade e a objetividade, exigidas para retornos
impacientes de resultados, que limitam as possibilidades de expressões criativas dos
funcionários:
53

Assim como a organização é possibilidade de realização


profissional/satisfação/prazer, também é portadora de sofrimento; os
sujeitos sentem a necessidade de pertencimento, mas há o exercício de
poder sobre eles, gerando algum nível de submissão; há o desejo de
criar e as normas que limitam as suas possibilidades criativas
(BALDISSERA, 2010, p.66).

Isso reflete o enfraquecimento dos laços sociais/institucionais, causando a


corrosão das lealdades, dos compromissos mútuos e, consequentemente, a corrosão do
caráter das pessoas (SENNETT, 2010), que se encontram muitas vezes desencantadas
em seus trabalhos pela falta de magia que se dilui na falta de reconhecimento do
indivíduo, falta de diálogos, de subjetividade, tão necessárias na comunicação interna
para gerar motivação, envolvimento e mudanças de comportamento dos funcionários. A
evidência é de que a conexão trabalho-identidade tem sofrido importantes
transformações, por causa da precaridade do significado do trabalho nos dias atuais.
Nos modelos tradicionais, tínhamos que as organizações não eram
“simplesmente locais de trabalho, mas lugares importantes para o desenvolvimento da
identidade humana” (MUMBY, 2010, p. 19), e que o trabalho era “objetivo de
identificação e amor, fonte de prazer e energia. O indivíduo tornava-se dependente. Ele
precisava da organização não apenas em termos de sobrevivência material, mas também
em termos de identidade” (MOTTA, 1991, p.9). Ideias que podem ser complementadas
por Álvaro Tamayo (2005), que diz que as organizações deveriam constituir:

o lugar privilegiado onde se desenvolve a identidade profissional do


trabalhador e o ambiente social onde a pessoa se realiza do ponto de
vista pessoal, social e profissional. Grande parte da felicidade de uma
pessoa é construída no ambiente do trabalho. É evidente que a
identidade, a realização e a felicidade não poderiam ser alcançadas se
a pessoa não pudesse atingir na organização as metas fundamentais da
sua existência (TAMAYO, 2005, p.169).

Para Bendassolli (2007, p.223), o trabalho como sujeito4 era uma instância pela
qual os indivíduos se tornavam quem eles eram. Essa importância da identidade do
homem pelo trabalho se deu quando o sujeito racional de Descartes foi substituído pelo
sujeito do trabalho de Marx, em que houve um “deslocamento do ‘eu consciente’,

4
O trabalho como sujeito, é para Bendassolli (2007), no sentido filosófico, uma categoria ou forma
construída pelo entendimento para servir, por determinado tempo, com disposição transcendental, além da
multiplicidade de sensações, sentimentos e experiências.
54

prescrutador e investigador para o ‘eu trabalhador’, capaz de agir sobre o mundo e de se


externalizar mediante sua obra” (BENDASSOLLI, 2007, p.226).
Contudo, este ‘sujeito’ foi sendo pouco a pouco desmontado no decorrer da
segunda metade do século XX e isso afetou diretamente a questão da identidade. Em
uma realidade fragmentada, efêmera, de curtos prazos, em que há a perda do ‘sentido de
si’ e o deslocamento ou descentração do sujeito (HALL, 2005), a identidade torna-se
plural e, no limite, nenhuma identidade. “A crença de que a época das certezas chegou
ao fim com a transposição para a pós-modernidade refere-se, pois, a uma constatação
filosófica: a crença no enfraquecimento da metafísica do sujeito” (BENDASSOLLI,
2007, p. 226).
Curvello (2009) detectou que uma das causas da aparente incompreensão do
ambiente organizacional em mutação está exatamente na destruição dos vínculos e da
memória individual e organizacional, em processo de relações cada vez mais efêmeras
na pós-modernidade e na sociedade complexa. Sendo que:

isso acaba por afetar diretamente as redes de signos e significados


organizacionais que expressam, ocultam e atribuem sentido às
intrincadas relações corporativas e ao que convencionamos chamar de
culturas organizacionais, uma vez que a ordem e a identidade, nessas
redes, são definidas, basicamente, pela memória (CURVELLO, 2009,
p. 85).

Esse pensamento está ligado à metáfora do vínculo, colocada por Linda Putnam
como aquela que “direciona o foco da transmissão e o processamento da informação
para a conexão; assim, a comunicação é o elo que cria vínculos entre pessoas e forma
organizações como redes de relacionamentos” (PUTNAM, 2009, p.48-49). Isso
significa que o enfraquecimento da formação desses vínculos acaba prejudicando as
relações, a formação das memórias e, consequentemente, a comunicação no interior das
organizações.
Putnam (2009) também reflete sobre a importância da metáfora do símbolo,
diretamente ligada aos significados culturais e históricos. Ela privilegia “o significado e
a interpretação, principalmente por meio de rituais, narrativas e sinais físicos. A
comunicação nessa metáfora refere-se à sensibilização e à interpretação de símbolos
relacionados à identidade organizacional” (PUTNAM, 2009, p.61), ou seja, a forma
como o homem interage e interpreta o meio organizacional e se expressa a partir dos
significados adquiridos e das suas atividades sobre eles.
55

Porém, vínculos e identidades no trabalho podem estar enfraquecidos. O


trabalho deveria ser uma das formas de expressão mais nobres do ser humano no
mundo, afinal, o homem (re)cria sua identidade e seu microcosmo através das suas
relações, inter-relações, memórias e atividades, uma vez que o:

individual/ social se constitui de maneira específica e particular na


relação social, na interação intersubjetiva dada na/pela atividade
humana. Nessa inter-relação se constitui o aparelho cognitivo, capaz
de percepção, seleção, organização das experiências e da memória
(FÍGARO, 2010, p.96).

Porém, em tempos de racionalidade e de curtos prazos não há lugar e vez para


tal expressão de forma plena, de modo a valorizar o indivíduo e sua capacidade única
em criar, planejar, aprender, sentir, criar vínculos e memorizar. Schwartz (1997 apud
FÍGARO, 2010, p.100) afirmando que toda situação de trabalho é singular e o que o
sujeito faz de si no trabalho é singular. Essa singularidade deveria ser mais valorizada,
ressaltando a força do micro, das partes, das pessoas, do humano e de suas memórias.
Sendo que o conceito contemporâneo de humanismo está ligado a:

elementos que envolvem a autonomia do indivíduo versus a sujeição a


regras e padrões comportamentais, a liberdade expressiva e criativa
versus a imposição de modelos controladores e invasivos de gestão, a
adoção de modelos participativos e dialógicos versus a overdose
(des)informativa, a deificação da tecnologia versus a retificação dos
trabalhadores e consumidores (KUNSCH, 2010, p.13).

Com as identidades fracas e a perda do sentido de si, da sua atuação na empresa


por ações que se automatizaram, o que ocorre é um ataque ao senso pessoal de
autoestima e segurança do trabalhador. Eles querem ser valorizados e reconhecidos por
seus trabalhos. O que se vê são inúmeras organizações que não estimulam seus
funcionários, “inibindo suas ideias e atitudes, o que dificulta ou até elimina a
possibilidade das pessoas criarem ou inovarem, bem como de desenvolverem e
transformar a si mesmas” (CALDAS SILVA, 2010, p.205).
Não há espaço para sentimentos, memórias e narrativas que possam reformular
as identidades e o sentido de si perdidos. Não há tempo para o desenvolvimento das
potencialidades humanas, para o autoconhecimento, a autenticidade, a liberdade de
saberes e de escolhas, a criatividade, a autorealização, o autodesenvolvimento, a
sensibilidade, a intuição e a autotranscendência (SOARES, 2007).
56

Para Aktouf (1996, p.228), “a busca pela dignidade do ser humano no ambiente
de trabalho é, nos tempos atuais, uma condição sine qua non para o alcance do alto
desempenho nos negócios”. Assim, as organizações não podem preocupar-se apenas
com normas e procedimentos. Segundo Caldas Silva (2010), é preciso enfatizar o
aprendizado contínuo dos funcionários e da própria organização a partir da integração
do sentir. É necessário pensar e agir nas relações humanas diárias. “Para tanto, cada vez
mais elas precisam reconhecer as pessoas e investir em seu desenvolvimento humano,
em benefício de maior qualidade de vida e de melhor desempenho grupal no trabalho”
(CALDAS SILVA, 2010, p. 209).

Sob esse prisma, a humanização das organizações – que não passe


apenas pelas rotas clandestinas aos olhos oficiais e não habite
somente os lugares proibidos, as fissuras, o informal – exige vontade
organizacional para a constituição de lugares formais efetivos de
participação. Trata-se de lugares que possibilitem e/ou fomentem a
manifestação das subjetividades e da diversidade, a escuta (não a que
vigia e pune, mas a que quer conhecer e aprende) e a realização da
autocrítica. Dessa forma, será possível aprender/criar/inovar,
qualificar as relações e os vínculos, constituir legitimidade e ampliar a
sintonia entre os objetivos da organização e os dos sujeitos que a
constituem (BALDISSERA, 2009, p. 73).

Por isso, sobre todas as dificuldades dos novos tempos para o ambiente de
trabalho e para o funcionário, a comunicação precisa deixar de ser
instrumental/informacional para buscar as respostas necessárias para a superação das
crises de identidades, da falta de reconhecimento e a falta de sentido do trabalho,
aprofundando a sua dimensão humana. A comunicação pode fazer com que os
funcionários possam reconstruir suas identidades através da criação de vínculos, das
interações, das emoções, das memórias, das narrativas, da abertura para a imaginação e
para a criatividade, reconhecendo as individualidades e olhando para os funcionários
como seres humanos, valorizando seus potenciais.

3.4. A compreensão do funcionário como potencial humano

Por se tratar a comunicação como até agora observado, como um processo de


afetos que sejam capazes de trazer uma modificação no interior das pessoas – ou para
ser depois continuamente reconstruído a partir desses afetos - ela sugere um fluxo de
dentro para fora dos seres e, por isso, é preciso ressaltar a importância do profissional de
57

comunicação em tentar compreender as competências, as emoções, as imaginações e as


interpretações dos indivíduos. “As organizações são, pois, sistemas vivos
permanentemente (re)tecidos por sujeitos em processos comunicacionais, pautados por
seus imaginários, culturas e subjetividades” (BALDISSERA, 2010, p. 68).
O estudo metapórico e a teoria da complexidade tentam entender o que ocorre no
momento em que a pessoa vê e sente a comunicação. Por isso, ao se falar da
comunicação interna das organizações, é preciso entender que antes de serem
funcionários, eles são seres humanos, com energias para serem gastas positiva ou
negativamente pela organização, conforme seus sentimentos, como apresenta Kunsch
(2003) que:

[...] o indivíduo, antes de ser um empregado, é um ser humano, um


cidadão que merece ser respeitado e considerado. A comunicação
interna deve contribuir para o exercício da cidadania e para a
valorização do homem. Quantos valores poderão ser acentuados e
descobertos mediante um programa comunicacional participativo! A
oportunidade de se manifestar e comunicar livremente canalizará
energias para fins construtivos, tanto do ponto de vista pessoal como
profissional. Se considerarmos que a pessoa passa a maior parte do
seu dia dentro das organizações, os motivos são muitos para que o
ambiente de trabalho seja o mais agradável possível. (KUNSCH,
2003, p. 159).

Seguindo esta reflexão, Matos (2004) coloca a comunicação interna como fator
de motivação, se for participativa e afetiva, ao invés de informativa, e se forem
compreendidas as opiniões e as competências dos funcionários, ao invés de impor uma
comunicação, assim como explica que:

Por meio da comunicação interna é possível motivar os recursos


humanos, conhecer suas opiniões, sentimentos e aspirações. À medida
que o público interno é estimulado a participar e encontra abertura
para dar sua opinião, sente-se mais valorizado e motivado (MATOS,
2004, p.136).

Sendo assim, é preciso olhar para dentro dos indivíduos para perceber o
potencial expressivo que cada um possui. Olhar e escutar os funcionários como pessoas
e dar espaço para eles criarem e perceberem as suas contribuições. O que cada um
absorveu para dentro de si, de acordo com seu perfil cognitivo, ou seja, como recebem e
interpretam o mundo organizacional e suas comunicações e a forma como cada um
aborda um tema, uma situação ou um problema e trabalhar com esses pontos para que a
58

comunicação seja capaz de se processar, de afetar e de gerar conhecimento para suas


ações.

Nestes tempos de extrema competição, automação, crises, mudanças


súbitas e globalização da economia, o desenvolvimento do potencial
humano é considerado por todos esses mestres como a maior fonte de
soluções e recursos criativos e inovadores que existe e também como
o mais importante fator diferencial de sobrevivência, flexibilidade,
competitividade, lucratividade, crescimento e prosperidade das
pessoas e das empresas (DI BIASE; ROCHA, 2007, p.2-3).

Segundo essa visão, haveria uma comunicação mais ideal e efetiva nos novos
tempos para aperfeiçoar os processos de decisões e propício para a criação de
comunicações conjuntas aos funcionários, capazes de mobilizar, envolver, despertar
atenção e inspirar as pessoas? A resposta pode ser afirmativa se a comunicação
estratégica envolver os valores individuais do seu público interno:

A preocupação se volta agora à renovação dos estilos de gestão, que


passam a ser mais voltado às pessoas, mais descentralizados e
participativos e, pelo menos em tese, mais direcionados a satisfazer
necessidades humanas como dignidade e a valorização das
competências individuais (KUNSCH, 2010, p.11).

Kunsch (2010) tem clareza sobre a importância da dimensão humana nas


organizações, que é a mais importante, porém percebe que é a mais esquecida. É preciso
dar importância para os individualismos, buscando uma estratégia mais dialógica e
mudar do modo de informação para o modo de interação e compreensão das qualidades,
competências e sentimentos de cada sujeito. É necessário o entendimento de que
comunicação não é imposição, mas é troca, não necessariamente acontecendo de forma
intencional, consciente ou bem sucedida.
Troca é interação. A interação como ponto chave para a comunicação ocorrer é
explicada por Duarte e Monteiro (2009) com o auxílio da metáfora da banda de jazz:
“Os integrantes da orquestra de jazz, a partir de uma melodia determinada, operam de
forma criativa, cada um atuando coordenadamente, mas com capacidade e
responsabilidade de influir na sonoridade do conjunto” (DUARTE e MONTEIRO,
2009, p. 340). Baldissera (2010) diz que é pela interação comunicacional que os sujeitos
atualizam suas subjetividades, é:

no âmbito das relações organizacionais, por mais que possam existir


forças e tecnologias empregadas no sentido de reprimi-las. Parece que,
59

a cada vez, as subjetividades encontram novos recursos, estratégias,


fissuras para se realizarem. A este ponto, parece fértil recuperar,
rapidamente, a noção do imaginário (BALDISSERA, 2010, p. 70).

Sendo assim, é através das interações, das criações de vínculos, da abertura para
o imaginário e para uma perspectiva afetiva que a comunicação interna pode ser capaz
de (re)criar comunicações afetivas, qualitativas, envolventes e fixadoras de memórias,
com abordagens mais relacionais, significativas e transcendentes a partir de cada pessoa
pertencente à organização. Em um processo que comunicar não significa apenas
informar, mas sim, interagir, favorecer a troca de mensagens com bases em sentimentos
e experiências de vida - algo próximo, íntimo, humano – comunicações capazes de
afetar positivamente e serem, de fato, envolventes e efetivas e, para isso, para criar
novas formas de comunicação interna, é preciso antes compreender o funcionário como
potencial humano e entender suas formas de recepção e de expressão.

3.5. Formas de recepção e de expressão dos funcionários

A recepção e a estimulação da comunicação interna estão ligadas às questões


afetivas e cognitivas (PIAGET, 1969), dependentes das matrizes culturais, experiências
individuais, vivências interpretativas, interações, percepções, imaginações, recordações
e, inclusive, as intensidades dessas matrizes em cada indivíduo (afetos superficiais ou
profundos), que são reconstruídas na fluidez da vida. Continuamente os funcionários
são afetados e produzem novas motivações, novos conhecimentos e novas recordações,
a partir dos projetos desenvolvidos por eles e dos acontecimentos comunicacionais com
que se deparam, conforme o contexto metapórico.
A comunicação interna, sendo um acontecimento, pode ser recebida e percebida
através do aparelho cognitivo de cada funcionário, dependendo das suas matrizes e dos
instrumentos que eles possuem para participar do momento comunicacional, que são os
seus cinco sentidos. São os seus corpos, os seus sistemas nervosos, os seus aparatos
cognitivos acionados a partir de uma motivação afetiva. Piaget (1969) coloca que o
desenvolvimento da afetividade e o das funções intelectuais são aspectos indissociáveis:

existe um estreito paralelismo entre o desenvolvimento da afetividade


e o das funções intelectuais, já que estes são dois aspectos
indissociáveis de cada ação. Em toda conduta, as motivações e o
dinamismo energético provém da afetividade, enquanto que as
60

técnicas e o ajustamento dos meios empregados constituem o aspecto


cognitivo (senso-motor ou racional). Nunca há ação puramente
intelectual [...], assim como também não há atos que sejam puramente
afetivos (PIAGET, 1969, p.37-38).

Isso demonstra um processo de identificação, atenção, construção de memórias e


de conhecimentos – afetivos e cognitivos – que nos acompanha pela vida toda, no
processo de reconstruções constantes em nossas vidas dinâmicas, em que tudo que nos
afeta profundamente, recebe de nós uma apropriação segundo nossas matrizes e uma
assimilação, acomodando o novo conhecimento para dentro de nossas bagagens
cognitivas (PIAGET, 1969).
Pierre Lévy (1993), ao falar dos aspectos da recepção, associação e assimilação,
analisa a interação dos nossos cérebros com as comunicações que se recebe, as quais
formam dentro das pessoas redes de significações a partir do que já está impresso em
seus cérebros. Assim, cada uma das comunicações já recebidas anteriormente
influenciarão no modo como a nova comunicação será interpretada, de forma que cada
nova mensagem remodela a relação que se havia criado na mente.
Portanto, faz-se presente em Lévy também a ideia de constantes modificações
pelo processo afetivo e cognitivo, o qual ele chama de hipertexto. Este conceito traduz
uma rede de conhecimentos (textos em forma de sinais, palavras, sons, imagens) e suas
relações em constante mutação, a cada nova comunicação, desde que ela afete e gere
uma transformação. Essa interação do hipertexto é feita por associações e adaptações de
acordo com a bagagem pessoal que cada um carrega, de acordo com as suas histórias
(LÉVY, 1993).
Assim, é a partir das suas histórias pessoais (matrizes, bagagens, repertórios,
experiências) que cada funcionário pode gerar novos sentidos para si. Da mesma forma,
é também a partir da recepção de contextos, de outras histórias (sejam elas de outros
funcionários, ou da própria organização, ou uma campanha comunicacional), através
dos processos cognitivos e afetivos, que eles podem gerar associações, assimilações e
adaptações com suas próprias histórias e também gerar outros sentidos para si e para a
organização em que trabalham. Mesmo porque,

vale lembrar que a comunicação ocorre primeiro no nível intrapessoal


e subjetivo. Cada indivíduo possui seu universo cognitivo e irá receber
as mensagens, interpretá-las e dar-lhes significado a seu modo e
dentro de um determinado contexto (KUNSCH, 2010, p.53).
61

Por isso, os processos de cognição e afetividade estão ligados não apenas às


questões experienciais, mas também ao emotivo e ao perceptivo. Mais do que as
experiências vivenciadas, os funcionários constroem sentidos pelas lembranças que eles
moldam e guardam a partir de suas relações com o clima organizacional, conflitos
existenciais, condições de trabalho, relações de poder, expectativas profissionais,
vaidade, ambição, desejo, sonhos, frustações, enfim, pela sua história de vida no
cotidiano da organização e dela em relação às outras histórias sobre as quais ele está
envolvido na organização (ROMAN, 2009, p. 132).
É sobre estes aspectos entre a experiência e a lembrança que Kahneman (2012)
aborda sobre a existência de dois eus: o eu experiencial (experiencing self) e o eu
recordativo (remembering self). O eu experiencial tem a voz calada, uma vez que “as
lembranças são tudo o que temos para reter nossa experiência de viver, e a única
perspectiva que podemos adotar quando pensamos em nossas vidas é, portando, a do eu
recordativo” (KAHNEMAN, 2012, p. 476). Isso significa que, as matrizes, as histórias,
os conhecimentos que são aprendidos e apreendidos com o passado tornam-se fontes
para as futuras lembranças, não necessariamente para as futuras experiências, sendo,
portanto, o que é o mais relevante para a comunicação interna, é a expressão e a
recepção de “narrativas da experiência” (NASSAR; COGO, 2011).
As narrativas da experiência dizem respeito às lembranças sobre as experiências
e repertórios e têm ligação com o funcionamento do eu recordativo: ele compõe
histórias e as retém para futura referência. Por isso, uma história é sobre eventos
significativos e momentos memoráveis, não sobre a passagem do tempo. É sobre a
produção de sentido.
Sentido tem a ver com estética que vem do grego “aisthetikós” –
desenvolvimento das formas de atingir a sensibilidade e a sensoriabilidade das pessoas
– objetivo de causar uma adesão imediata, um estímulo (FRANCO, online). A
comunicação interna precisar ter este papel de provocar no público interno uma
prazerosa sensação de envolvimento e fruição, de gerar um interesse. O “interesse é a
orientação própria a todo ato de assimilação mental” (PIAGET, 1969, p.38), de forma
que quando um trabalho parece-nos interessante, a fadiga diminui e ele nos parece mais
fácil e agradável.
É preciso, portanto, que a comunicação interna leve em consideração os
interesses, as histórias e os conhecimentos correspondentes às necessidades dos
62

funcionários para que eles possam cognitiva e afetivamente se envolver e agir, sentindo-
se reconhecidos a partir do sistema de valores implicados por seus interesses. Esses
valores comandam as regulações das energias interiores, tendendo a assegurar ou
restabelecer o equilíbrio da pessoa (PIAGET, 1969). Na reequilibração, pelos interesses
gerados, eles assimilam as experiências pelo eu experiencial, somando-as as suas
histórias, memórias pelo eu recordadivo, e formando um novo conhecimento, uma nova
narrativa, uma motivação para uma lembrança futura positiva e um sentido para seu
trabalho.
Para se gerar a atenção, a memória e o interesse, deve-se ter também um
ambiente propício para as percepções e para as assimilações; além disso, as escolhas
sobre o conteúdo da comunicação também devem se basear nas percepções das pessoas.
O conceito de gestalt (ARNHEIM, 1994) está ligado a esse funcionamento da
percepção humana em um campo perceptivo, analisando o comportamento do indivíduo
perante suas competências sensoriais e cognitivas. Arnheim (1994) conceitua a gestalt
como a psicologia da forma e das percepções, em que a atribuição de sentido é um
importante conceito.
O autor diz que não percebemos as coisas isoladas, temos sempre a percepção do
campo, do conjunto, de todos os elementos. As interações e assimilações como os
insights, as percepções pré-lógicas (sem interpretações racionais) e os complementos
por associações são produções de sentido de acordo com as percepções do campo como
um todo.
Portanto, o que entra nos funcionários, seja pelos sentidos, pelo campo
perceptivo, afeta-os e desequilibra-os, segundo seus repertórios. Como o desequilíbrio é
um estado incômodo no ser humano, eles buscam o reequilíbrio, onde se forma o
conhecimento e a motivação para agir. De acordo com Piaget (1969) isso ocorre em
dois momentos: 1) processo de assimilação, que se dá pela gestalt, pelas suas
percepções sobre o ambiente e sobre os conteúdos escolhidos pelos comunicadores,
causando neles um desequilíbrio inicial, que os fazem tentar assimilar aquele conteúdo
comunicado ao seus repertórios. Quando há o insight, o segundo processo é gerado: 2) a
acomodação, que é o reequilíbrio, a comunicação transformadora que é capaz de afetar
e de produzir um sentido para motivar o funcionário a agir.
Por isso, o principal ponto da comunicação interna é criar um ambiente e uma
comunicação que leve em consideração a participação dos funcionários, não a mera
troca de informações, mas a valorização dos seus estados de espírito no momento
63

específico da comunicação, suas personalidades e suas histórias. É preciso compreender


e considerar os seus campos perceptíveis, seus repertórios, seus interesses, as suas
competências, suas potencialidades, as suas memórias e os conhecimentos formados a
partir desse processo. A partir disso sim é possível dialogar com esses indivíduos,
capturando o que cada um tem de melhor a oferecer.

3.6. Desafios e oportunidades para a comunicação organizacional e para a


comunicação interna

Como pode-se perceber até agora, há desafios e oportunidades para se pensar e


repensar a comunicação interna: ao mesmo tempo que a pós-modernidade, a
complexidade, o mundo metapórico e digital geram uma paisagem desconhecida,
configuram também um território de possibilidades para “delinear alternativas de
desenvolvimento para as organizações” (MANUCCI, 2010, P. 174). Não basta observar
os novos contextos, suas ameaças e oportunidades, mas também olhar para os
indivíduos, suas necessidades, sua nova maneira de sentir o mundo e então repensar
novas formas de comunicar.
Os funcionários precisam ser reconhecidos como co-criadores do
desenvolvimento organizacional na medida em que suas individualidades sejam levadas
em consideração, alinhando-as aos propósitos organizacionais. Se é desejado descobrir
se as comunicações podem ser de fato afetivas nos tempos de déficit de atenção e de
excessos de informações, é preciso compreender os diferentes pontos de vista destas
individualidades, suas histórias de vida, seus conhecimentos e suas recepções em
relação às organizações nas quais atuam.
Vivenciamos um momento em que a comunicação pode ser falha pela falta de
interação com outras esferas da existência, tais como o sentimento, a intuição, o
devaneio e o sonho (CONTRERA; BAITELLO, 2010). Dessa maneira, será que as
comunicações produzidas por muitas organizações não podem estar ultrapassadas para
os novos contextos vigentes?
Assim, temos um momento histórico de ruptura sobre o que é conhecido.
Encontramo-nos em um cenário de experiências enfraquecidas da pós-modernidade,
com velocidade, fluidez, efemeridade e dinamismo (BAUMAN, 2001), além das novas
mídias e novas tecnologias, caracterizadas pela automação e pela abundância (PINK,
64

2007). É um momento em que as memórias, as identidades, e, consequentemente, as


comunicações e suas narrativas são afetadas.
Núñez (2009, p.50) diz que “a globalização, a virtualidade e a aceleração
empobrecem a tal ponto as fontes clássicas de materiais narrativos que precisamos
procurar outras para ter narrativas ricas no sentido vital”. Sendo assim, pensando sobre
a tradição e a inovação e, se as “narrativas se modificam conforme a posição, a época e
as circunstâncias” (NASSAR e ALMEIDA, 2013), quais devem ser as novas narrativas
produzidas nestes novos contextos pela comunicação e pela comunicação interna?
65

4. AS NOVAS NARRATIVAS

4.1. As narrativas comunicacionais entre a tradição e a inovação

O caráter da vida é dual: a sucessão dos tempos traz o novo e faz o velho.
Ininterruptamente, novos conhecimentos são descobertos no âmago dos pensamentos de
uma época em constante dinamismo e evolução, demonstrando, segundo a segundo, a
interdependência dos fatos passados e futuros.
Impossível pensar a inovação sem considerar a tradição. O desenvolvimento do
amanhã só é alcançado com o esmiuçar da cultura, das histórias e das origens. De
acordo com a lógica das evoluções, da criação, destruição e reconstrução dos
conhecimentos, há a busca pela compreensão no passado somada à visão de progresso
no futuro.
Janus, o deus de duas faces da mitologia romana, ilustra a ideia. Representação
do fim e do início do calendário, nomeando o mês de janeiro, seus rostos voltados para
lados opostos observam passado e futuro, tradição e inovação. A dualidade necessária
para a circulação dos tempos.
Paulo Nassar (2007) utiliza-se dessa figura mitológica metaforicamente,
comparando-a a um comunicador. A comunicação organizacional, como ciência, só
pode evoluir sobre essa mesma lógica: olhando para o futuro, aspirando sobre ideias e
novidades comunicacionais – refletidas pelas necessidades vindas das mudanças
sofridas pelo mundo – mas sem se esquecer do passado, sem ignorar as tradições, os
mitos, ritos, rituais, memórias e histórias de uma organização. Para Arendt (1987,
p.170) a:

tradição ordena o passado não apenas cronológica, mas antes de tudo


sistematicamente, ao separar o positivo do negativo, o ortodoxo do
herético, o que é obrigatório e relevante entre a massa de opiniões e
dados irrelevantes ou simplesmente interessantes (ARENDT, 1987,
p.170).

Ao se falar da comunicação organizacional como um processo enriquecido por


histórias, embasadas nas tradições, capazes de enriquecer as experiências e separar o
que é realmente relevante em meio a tantas informações, podemos discorrer sobre o
conceito de “narrativa” e incluí-lo como o diferencial do profissional de comunicação,
66

que acima de tudo, precisa ser um contador de histórias - passadas e futuras5 (NASSAR,
2013). A narrativa é a melhor forma para “transmitir conhecimentos, tradições, mitos e
não apenas sustentar a sobrevivência física, mas assegurar a evolução cultural da
organização” (FREITAS, 2013, p.39).
Em sua obra Mito e Realidade, Eliade (2000) trata o mito como a narrativa de
uma criação, isto é, uma explicação sobre a origem de determinado ser, objeto ou
costume, inseridos em dado contexto sociocultural. A obra de Kelley (2005), The Ten
Faces of Innovation, é um interessante adendo à função primeva do mito de Eliade.
Nela, o autor apresenta dez profissionais, que personificam diferentes aspectos humanos
e características voltadas para levar inovação aos processos da empresa. Dentre esses
personagens há o contador de histórias, representado pelo comunicador. Para ele, narrar
histórias reforça a construção de uma cultura de valor, transmitindo os objetivos da
organização, promovendo a colaboração de todos, criando heróis e conectando as
pessoas às tradições, histórias e mitos das organizações, entusiasmando-as pela emoção
e convidando-as para a ação (KELLEY, 2005).
Dessa forma, temos que o ressurgimento da contação de histórias para a
valorização das tradições é uma forma inovadora da comunicação organizacional nestes
novos contextos e perspectivas, apresentadas nos Capítulos 2 e 3 deste trabalho. A
contação de histórias por parte das organizações seria uma reação à tecnologia, ao
consumismo, ao imediatismo, à superficialidade e à descartabilidade das relações
(MATOS, 2005, p.17).
Na mesma linha, Núñez (2009, p. 23) diz que só uma verdadeira história
estrutura e dá sentido às confusas e excessivas informações diparadas a cada dia na pós-
modernidade, de forma que “uma história tem muito mais poder de persuasão que toda
uma artilharia de dados, provas, apresentações e argumentos” (NÚÑEZ, 2009, p. 83).
Sendo assim, se considerarmos a narrativa como um encadeamento de acontecimentos
vividos por um protagonista, seja ele um indivíduo, um grupo social ou uma instituição,
temos que, dentro de uma organização ou mesmo no seio social, são as narrativas,
enquanto registros histórico-científicos ou enquanto a mitologia de uma cultura, que
preservam o que importa na evolução de uma sociedade através do tempo. Assim, os
acontecimentos fazem sentido por sua relevância dentro desse processo evolutivo.

5
(informação verbal) Discussão levantada pelo Prof. Dr. Paulo Nassar em reunião do Grupo de Estudos
de Novas Narrativas, da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, no dia 27 de
fevereiro de 2013.
67

Sob esse prisma, a mitologia organizacional, suas origens, memórias e histórias


mostram-se como uma justificativa dos caminhos que sua evolução inovativa toma no
decorrer do tempo, tornando-se como um caminho natural a ser seguido e, portanto,
mais aceitável, uma vez que “contar histórias comunica, diverte, ensina a colaborar e
preserva as tradições culturais e memórias, desempenhando papel fundamental no
desenvolvimento.” (PEREIRA: VEIGA; RAPOSO; FUKS; DAVID; FILIPPO, 2009,
p.100).
Considerando essas questões, vale reforçar que “liderar com um senso histórico
não é ser escravo do passado. É, antes, reconhecer a força que este tem” (SEAMAN;
SMITH, 2012, p.32). Para os autores, um líder verdadeiro é aquele que reconhece as
experiências acumuladas, as histórias organizadas durante os tempos vividos de uma
organização, para retirar delas decisões e mudanças para o seu futuro, sendo que estes
líderes:

Fazem da experiência coletiva da empresa uma parte explícita de seu


raciocínio para melhor discernir que forma a mudança pode e deve
assumir. Descobrem aí uma caudalosa fonte de histórias capazes de
motivar as pessoas a abraçar a mudança até nos momentos mais
difíceis. No processo, além de administrar a empresa com mais
eficácia, acham seu próprio lugar na história. (SEAMAN; SMITH,
2012, p.32)

Isso significa que a comunicação deve ser “um conjunto de atos retóricos cuja
argumentação evoca o passado, justifica o presente e prepara o futuro” (HALLIDAY,
1998, p.32). A lei entre a tradição e a inovação para a modificação dos tempos presentes
opacos e confusos, para o aprofundamento das experiências, o revigoramento das
memórias e o despertar para narrativas interessantes e atraentes na comunicação
organizacional, assim como também na comunicação interna, que possam ao mesmo
tempo reviver o passado e descobrir através dele os passos futuros.
Denning (2006, p;20-21) coloca que “as histórias excitam a imaginação e geram
estados consecutivos de criação de tensão (perplexidade e reação) e de liberação de
tensão (insight e solução)”, ou seja, as histórias podem ser capazes de sistematizar as
experiências na construção e no desenvolvimento de projetos corporativos, encontrar
soluções diante de obstáculos e insights que podem contribuir para ocasiões futuras
(COGO, 2012a, p. 133).
68

Para criar essas histórias, é preciso refletir sobre a soma entre a tradição e a
inovação sobre os contextos atuais, pois, a partir dessa união, é possível gerar um novo
sentido, um novo afeto, um novo olhar, e, consequentemente, uma nova narrativa,
baseada na emoção, na humanização, na identificação, no reconhecimento e na
individualização:

É um tempo de opções, de unicidade e pluralismo; de combinação de


tradições e inovações; de deslocamento dos indivíduos em relação aos
seus referenciais normativos; de carência de modelos identificatórios;
de fragmentação e simbolismos (ALMEIDA, 2008, p.33).

Portanto, é nesse processo - entre a inovação e a tradição - que se faz forte o


poder das narrativas organizacionais. Silva Filho (2001, p.1) afirma que “memória é
mito, rito e ficção, não é fixação nem celebração. É ação, de palavras, construída pela
linguagem. É narrativa”. Porém, em um mundo dinâmico, que reflete o movimento
fugaz das ocasiões, da instabilidade e da efemeridade, muitas vezes as tradições,
memórias e histórias das organizações são esquecidas, o que empobrece a inovação
sobre as narrativas da comunicação. Assim como Nassar (2009c) visualiza, a
comunicação tem primado pela objetividade e pelas mensagens de perfil quantitativo,
notadamente ligada a funcionalidades, não havendo tempo para dialogar, fantasiar e
para contar histórias.

4.2. O paradigma narrativo

Como já apresentado, os momentos de crise indicam que é chegada a ocasião


para a renovação dos pensamentos vigentes (KUHN, 1982). Vivemos uma fase
revolucionária onde devemos buscar novos paradigmas para embasar as estratégias de
comunicação, para que sejam efetivas. Considerando todos os pontos abordados até o
momento, podemos apostar sobre o desenvolvimento do chamado “paradigma
narrativo” para o reencatamento da comunicação organizacional, e, inclusive, da
comunicação interna.
A narrativa está no cerne da comunicação humana, assim como diz Julian Jaynes
(apud SODRÉ, 2009, p.181): “a narração é uma das características da própria estrutura
da consciência humana, logo um dos principais modos de compreensão do mundo”.
Porém, sobre o contexto da pós-modernidade, da complexidade, das experiências
superficiais e da crise das memórias, encontramo-nos em um mundo de difícil
69

compreensão, consequência gerada pela existência de narrativas empobrecidas na


atualidade.
Sendo assim, verificamos que proporcionando experiências verdadeiras e
momentos marcantes, valorizando a memória, recuperando as tradições e criando
narrativas interessantes que as pessoas e o mundo poderão reecontrar os sentidos
perdidos e compreender a construção de suas vidas individual e social. Mesmo porque,
é através da narrativa que “as pessoas lembram do que aconteceu, colocam a
experiência em uma sequência, encontram possíveis explicações e jogam com a cadeia
de acontecimentos que constroem a vida individual e social” (JOVCHELOVITCH;
BAUER, 2008, P.91).
Rodrigo Cogo (2012), baseado nestas ideias, acredita no poder das narrativas
neste contexto, argumentando sobre a importância das histórias para a compreensão da
vida das pessoas e da sociedade, abrindo a discussão para pensarmos sobre o “paradigna
narrativo”:

O paradigma narrativo reconhece a capacidade das pessoas em


criar novas histórias para melhor compreender suas vidas ou o
mistério da vida. Basicamente, é a compreensão de que as
histórias são uma forma fundamental pela qual as pessoas
expressam valores e consequentemente apoiam suas decisões
(COGO, 2012a, p.126).

Para esclarecer o conceito de “narrativa” no campo da comunicação, podemos


nos apropriar dos conceitos de Gerard Genette (1972, p. 12), crítico literário francês e
teórico da literatura, que atribui os conceitos “história”, “narrativa” e “narração” como
níveis de consideração de um mesmo objeto, o qual ele chama de “realidade narrativa”.
Além destes, há o conceito de “discurso”, que também pode fazer parte da realidade
narrativa. Dessa maneira, em uma organização, é possível termos tanto uma narrativa
enquanto história (as narrações que uma organização conta ou narrações que são
contadas sobre ela), assim como uma narrativa enquanto discurso (narrações que uma
organização profere). Jakobson (1963) diz que toda narração pode ser um discurso, na
medida em que é uma sequência de enunciados que remete necessariamente a um
sujeito da enunciação.
Apropriando-se desses conceitos, podemos considerar a “narrativa” como o
diferencial do profissional de comunicação, não apenas pelo ponto de vista deste ser
considerado um contador de histórias, ou um analista e interpretador de narrações sobre
70

a organização, mas também, de forma mais ampla, como um proferidor de discursos,


seja para transmitir ideias, conceitos, atributos de um produto, de um serviço ou de uma
marca, ou para transmitir histórias, memórias, tradições, crenças, valores, mitos, ritos e
rituais de uma organização, que constroem a realidade da empresa, a sua realidade
narrativa.
Para Genette (1972), em um primeiro sentido, narrativa designa “o enunciado
narrativo, o discurso oral ou escrito que assume a relação de um acontecimento ou de
uma série de acontecimentos”, em um segundo sentido, “narrativa designa a sucessão de
acontecimentos, reais ou fictícios, que constituem o objeto desse discurso, e as suas
diversas relações de encadeamento, de oposição, de repetição” e, em um terceiro
sentido, designa o ato de narrar propriamente dito (GENETTE, 1972, p.23-24).
Adaptando estas designações ao campo da comunicação organizacional,
podemos considerar que o comunicador está envolvido exatamente sobre estes sentidos
da narrativa: ele é criador de enunciados, de discursos – de narração – pela interligação
entre fatos, dados, informações e acontecimentos (mitos, ritos, memórias, ideias,
conceitos e opiniões diversas dos públicos), desenvolvendo-os, seja pelas ideias já
existentes sobre a organização (identidade, imagem, reputação), pela sucessão de
acontecimentos derivados desse enunciado inicial e pelas reações dos públicos
(favoráveis ou opostas), para então comunicar – ou seja, narrar de fato, construindo a
realidade narrativa da organização.
Dessa maneira, no paradigma narrativo, o comunicador deve utilizar-se dessa
tridimensionalidade de sentidos da narrativa para envolver seus públicos de modo a
estabelecer uma relação afetiva entre o objeto da narrativa – narração organizacional e o
discurso organizacional – ao sistema de valores do imaginário coletivo, usado de forma
a criar esta realidade narrativa da organização.
Os valores do imaginário coletivo dizem respeito àquilo que os públicos,
incluindo os funcionários de uma organização, compreendem como um conjunto de
histórias pelas quais o ser humano pode perceber a sua própria realidade, gerar um
sentido para ela e fazer suas escolhas e suas criações em sintonia com a realidade
narrativa criada pela organização, uma vez que o mundo como nós o conhecemos (de
acordo com os valores do imaginário coletivo) “é um conjunto de histórias que devem
ser escolhidas para podermos viver a vida em um processo de contínua recriação
(FISCHER, 1987, p.65, tradução nossa).
71

Cogo (2012, p.80), de acordo com esses pensamentos, reflete que são as
narrações que possibilitam o resgate das opiniões, dos sentimentos e das intenções, a
produção de sentido para o seu mundo, bem como a influência organizacional nesta
definição. Isso demonstra que os seres humanos têm necessidade de possuir símbolos
que os ajudam a entender e a interpretar o mundo (SNUNWOLF, 2005, p.305) e que
estes símbolos, perdidos na pós-modernidade, podem ser retomados pelas histórias
contadas e pelos discursos proferidos pelas organizações e pelos próprios envolvidos
com as narrações organizacionais.
É nesse processo da construção da realidade narrativa que é possível, portanto, a
comunicação interna juntar os valores do imaginário coletivo, os mitos e as memórias,
retomando as tradições, para gerar um sentido e possibilitar a transformação nos
funcionários, que constroem conjuntamente à organização essa narrativa, de forma que
eles também podem contribuir e ajudar, por esses processos, nas decisões dos rumos
futuros. Além disso, é através das narrativas que se podem gerar sentidos sobre suas
atuações no trabalho e reconstruir suas identidades fragmentadas pela pós-modernidade,
uma vez que:

Podemos considerar uma identidade como uma narrativa construída ao


longo do tempo de vida de um indivíduo. A finalidade dessa narrativa
é fornecer uma linguagem coerente que os indivíduos podem usar a
fim de construir e organizar o sentido de sua existência no tempo-
espaço e de lidar com seus relacionamentos sociais (BENDASSOLLI,
2007, P.227).

Sobre estes aspectos da (re)construção das identidades, Somers e Gibson (1994)


citados por Bendasssolli (2007, p.228), afirmam que as narrativas nos ajudam a
construir nossas identidades na medida em que são as narrativas “que nos oferecem
vocabulários e roteiros de descrição de si mesmo, os quais possuem ao mesmo tempo,
uma dimensão pessoal, social e histórica”. Isso nos ajuda a entender, que, em um
mundo pós-moderno, fragmentado, de valores atemporais, sem sentido, complexo,
confuso e em que o interior do indivíduo está à deriva, será exatamente através das
narrativas que a comunicação poderá trazer certa ordem e compreensão, dando forma ao
amorfo, trazendo sentido ao vazio, atenção ao excessivo e simplicidade à complexidade:

O que falta entre os polos opostos de experiência de deriva e


afirmação estática (afirmação de valores atemporais, para sempre,
permanentemente, essencialmente), é uma narrativa que organiza essa
72

conduta. As narrativas são mais simples que as crônicas dos fatos; dão
forma ao movimento adiante do tempo, sugerindo motivos pelos quais
tudo acontece, mostrando suas consequências (SENNETT, 2010, p.
31).

Por isso, temos que é através do paradigma narrativo que comunicadores podem
contar as histórias organizacionais e proferir seus discursos, “reencantando o mundo,
despertando a compaixão, e a lembrança do universo mítico do qual todos fazemos
parte” (BUSSATO, 2006, p.31). O reencantamento do mundo, da comunicação
organizacional e da comunicação interna está, portanto, refletida sobre esse novo
paradigma, sobre a construção de novas narrativas, as quais são capazes “de servir de
ponte para ligar as diferentes dimensões e conspirar para a recuperação dos significados,
que tornam as pessoas mais humanas, íntegras, solidárias, tolerantes, dotadas de
compaixão e capazes de ‘estar com’” (BUSSATO, 2006, p.12). Ideias que estão ligadas
ao emocional, deixadas de lado em um mundo racional por parte das organizações:

Se os fatos se apresentam com tamanha disponibilidade e facilidade de


acesso, eles perdem um pouco seu valor. O que começa a ter mais
importância é a capacidade de entrelaçar esses elementos num todo
coerente – obter não só o contexto, mas também o impacto emocional
[...] E essa é a essência da aptidão das histórias – contexto enriquecido
de emoção (PINK, 2007, p.100).

Dessa forma, temos que, dentro das organizações, o encadeamento emocional


dos fatos, das suas histórias e mitologias, retiradas do imaginário coletivo e adaptadas
ao microimaginário organizacional, permite a criação de uma estrutura na qual inserem-
se seus públicos de forma afetiva. Assim, podem as organizações preservar seu
conteúdo histórico enquanto atribuem valor gregário aos fatos que a compõem, isso é, à
sua evolução histórica no tempo-espaço por meio das narrativas.
Isso demonstra uma complementaridade entre as narrações da organização, ou
seja, aquelas que a organização conta e profere através de seus comunicadores, com as
narrações já presentes no imaginário coletivo das pessoas que compõem a organização.
Todas essas narrativas são (re)construídas na fluidez dos acontecimentos, das mudanças
de pensamentos e o comunicador precisa estar sempre atento a essa realidade narrativa
construída e reconstruída, de acordo com novos conteúdos e novas formas de narrar.
Pensando em formas e conteúdos da narração, Gerard Genette (1972) retoma a
palavra “narratologia” de Tzvetan Todorov (1966), para falar em uma narratologia
modal ou da expressão (de forma) e em uma narratologia temática (de conteúdo).
73

Jovchelovitch e Bauer (2008) falam exatamente sobre o mesmo ponto, dizendo que toda
narrativa contém uma dimensão expressiva e uma referência representativa. A
narratologia da expressão diz respeito às formas de expressão pela visão de real do
narrador, em que estão envolvidas: as formas de manifestação do narrador, os materiais
de expressão transmitidos pelas mídias narrativas (imagens, palavras, sons etc), níveis
de narração, temporalidade, pontos de vista etc. (GAUDREAULT, JOST, 2009).
Já a narratologia temática (narratologia de conteúdo), diz respeito a contação de
histórias com os personagens, suas ações e interações, a qual tem a ver com o impacto
de contexto. Isso significa que a narrativa privilegia uma realidade - a do narrador.
Porém, essa realidade receberá diversas interpretações particulares diversos pontos-de-
vista do seu contexto sócio-histórico (JOVCHELOVITCH e BAUER, 2008).
No contexto da comunicação, cabe aos profissionais da área assumir o papel da
organização enquanto disseminadora de seu discurso narrativo, pensando tanto em sua
narratologia modal (estudando e analisando as melhores formas de expressão, por quais
mídias serão transmitidas para os devidos fins), assim como também em sua
narratologia temática (estudando o conteúdo da mensagem a ser transmitida,
considerando os diversos pontos de vista e as interpretações que ela receberá).
Os comunicadores podem perceber esses aspectos narratológicos a partir das
principais categorias da narrativa apontadas por Todorov (1966), ou seja, a do tempo, a
do aspecto e a do modo. O tempo tem relação ao contexto e a duração da narrativa. O
aspecto é a maneira pela qual o comunicador enxerga a organização e seus objetivos e a
partir desta sua compreensão (dessa visão de real do comunicador-narrador), ele pode
pensar nos melhores modos, que seriam: o tipo de discurso utilizado, o tipo de
linguagem, a escolha do conteúdo da narrativa. Assim sendo, as ferramentas expressivas
da narratologia de expressão ou o conteúdo criado/adaptado das narrativas temáticas
visam a construção mítico-simbólica de uma organização protagonista na sociedade na
qual se insere.
A realidade narrativa é, portanto, reconstruída na medida em que há
comunicação, ou seja, na medida em que são criados significados pelas narrativas que
surgem por meio da relação e da interação entre a organização e seus públicos de
interesse, assim como a construção de sentido para eles.
Essa classificação é dada também pela professora francesa, da universidade de
Sorboune, Nicole D’Almeida (2009), que trata a linguagem da organização sobre o
ponto de vista de que é através das narrativas que as organizações podem se colocar
74

como instituições – por meio de uma linguagem instituinte, instauradora de um tempo,


de uma ordem e de um sentido – assim como também, para ela, as narrativas servem
para pensar a própria organização, “ora para compreender as interações que se
desenvolvem dentro dela, ora para esclarecer o processo de reprodução das
representações ou, inversamente, acompanhar o processo de mudança” (D’ALMEIDA,
2009, p. 13), que ocorre constantemente na organização.
Sobre estes pensamentos, Nicole discute sobre as diferentes possibilidades de
narrativas existentes no processo comunicacional de uma organização, sejam as
narrativas que transmitem os aspectos mais institucionais, que envolvem a comunicação
de seus valores, atributos e crenças, como aquelas que circulam no âmbito da cultura
organizacional. Dessa maneira, Nicole D’Almeida (2009) apresenta dois tipos principais
de narrativa: as narrativas organizacionais de casa e as narrativas organizacionais de
engajamento:

Os relatos específicos, de empresas específicas, que vamos chamar de


relatos da casa, põem em cena valores internos tirados da história da
organização. Tais relatos estabelecem os contornos de uma identidade
específica, destinam-se antes de mais nada a um público interno que
eles têm a missão de coligar, e põem em cena uma comunidade
imaginária. Os relatos universais de empresas específicas, que
chamaremos relatos de engajamento, põem em cena valores
universais, remetendo assim a uma identidade universal, à
humanidade e ao bem comum (D’ALMEIDA, 2009, p.15).

Essas ideias reforçam a importância, não apenas das narrativas contadas e


proferidas pela própria organização, mas também, para tornar estratégica a comunicação
sobre o paradigma narrativo, é preciso que se leve em consideração as narrativas das
pessoas que fazem parte desta organização de forma a produzir sentido para elas:

A comunicação se torna um fator estratégico relevante na produção e


circulação de significados que compõem a trama corporativa. Se as
pessoas de uma organização não participam na conformação das
narrativas (...) se as narrativas não têm sentido, não funciona o modelo
de negócio (...) As narrativas se desarmam e as organizações se
convertem em máquinas que funcionam até se deformarem
(MANUCCI, 2010, p.173).

Por isso, temos que as narrativas desenvolvidas sobre este paradigma, as quais
podemos chamar de novas narrativas, já que são uma resposta às velhas formas de
comunicação, só podem ser potencialmente desenvolvidas em organizações que, no
75

lugar da mecanização, valorizam as relações humanas, em que os feedbacks e a


colaboração dos públicos da empresa ou instituição são fundamentais para aperfeiçoar
os processos de decisões. Elas devem constituir uma comunicação que reconheça os
sujeitos e suas ideias, fazendo emergir deles as expressões baseadas no sentimento de
pertencimento, capaz de envolvê-los por conta de um ambiente propício para a troca de
conhecimentos, ou seja, propício para a criação de novas narrativas, as quais carregam
características transcendentes, simbólicas e encantadoras, isso porque

uma empresa passa a ser revelada não só pelos principais aspectos


econômicos e materiais mas também pela expressividade e pelas
ideias e aspectos simbólicos, ou seja, passa a mostrar-se como uma
das formas expressivas, como manifestação da consciência humana
(MARCHIORI, 2009, p.299).

As novas narrativas da comunicação embasadas neste chamado paradigma


narrativo precisam buscar essa manifestação da consciência humana, compartilhando
uma comunhão de propósitos, os quais sejam capazes de gerar identificação,
engajamento e uma cultura organizacional (re)construída com valores humanos,
símbolos, histórias, heróis, mitos, ritos, rituais, estilos, metáforas, refletidos naquele
exato momento vivenciado pelas pessoas da organização (MARCHIORI, 2009).
Focadas na humanização e em seus valores, essas narrativas devem ser capazes
de conquistar as subjetividades, bem como o respeito dos públicos internos. É preciso
saber analisar e trabalhar com os contextos de forma que se criem espaços dialógicos e
relacionais (OLIVEIRA, 2009) em que possam fluir os sentimentos e os sonhos dos
indivíduos, dando a eles espaço para participar, dar ideias, dialogar e co-criar o novo
mundo.
Assim, essas narrativas devem ser formadas pela construção colaborativa, para
uma sociedade mais justa, democrática, transparente e participativa. Narrativas capazes
de transformar, provocar e instigar. Mensagens capazes de quebrar o automatismo e de
causar mudança de consciência e inconsciência, gerando envolvimento, interações e,
sobretudo, ricas experiências e emoções. Ao criar essas narrativas, aplicando a demão
simbólica que humaniza o ambiente técnico-fabril das corporações, obtemos a
transcendência sobre a qual aborda Pink (2007) ao discorrer sobre a comunicação da
Era Conceitual (humanizada), evoluída da Era da Informação (automatizada).
Para Nassar (2007), em um mundo em que tudo é rapidamente banalizado pela
massificação, pelo bombardeamento de informações e pela atenção difusa, uma
76

diferenciação que nasce pela história de uma organização junto às pessoas e, também,
dessas pessoas com a organização, é um atributo que poucas organizações ainda
possuem. Sobre este contexto, um pesquisador dinamarquê, Jensen (2006 apud
NASSAR, 2007, p.186) acredita na tendência de uma sociedade em futuro próximo,
onde o consumo deverá ser “muito mais emocional do que racional. E as empresas terão
que agregar seus valores e sua história aos produtos se quiserem fisgar o coração dos
clientes. E o mesmo aplica-se para a comunicação com qualquer público, inclusive o
interno.
E é sobre estes aspectos que Pink (2007) reflete que estamos deixando de ser
uma economia e uma sociedade “baseadas nas faculdades lógicas, lineares, frias e
objetivas da Era da Informação e fazendo a transição para [...] as faculdades criativas,
empáticas e sistêmicas – a Era Conceitual” (PINK, 2007, p.1). Para isto, este autor
indica o desenvolvimento de aptidões ligadas a questões sobre novas formas de
transmitir mensagens, narradas para serem pessoalmente gratificantes e especialmente
emotivas, ligadas à subjetividade, aos anseios e às memórias afetivas.
Ele acredita que a lógica e a racionalidade não são o ideal nesse novo contexto,
“limitar-se ao apelo das necessidades racionais, lógicas e funcionais é clamorosamente
insuficiente” (PINK, 2007, p.33) nessa nova Era Conceitual. O imprescindível para as
novas narrativas é compreender comportamentos, estabelecer relacionamentos e
preocupar-se com as pessoas, com leveza e humor, entendendo suas aspirações e
buscando a interação e o compartilhamento de suas ideias.
O autor afirma também sobre a importância da construção de sentido, na
transcendência, para atingir a essência da vida – os valores intangíveis – aqueles que
não são possíveis pela informação, mas sim, pela comunicação e pelo compartilhamento
daqueles que, de fato, são relevantes e geram identificação para os públicos de interesse
da organização. A sociedade busca cada vez mais valores como: simplicidade, ao invés
de complexidades e sobrecargas; criatividade, no lugar de padronizações e humanização
contra a mecanização; tempo e espaço para que as narrativas afetivas sejam histórias
interessantes, que propiciem integração e participação, superando os sentidos vazios.
Para Pink (2007), as velhas narrativas seriam exatamente aquelas ligadas à
sociedade dos excessos e das abundâncias, as quais ele conceitua como desenvolvidas
sobre as habilidades high tech, ou seja, necessidades objetivas, lógicas e racionais. O
que ele acredita é que essas narrativas não funcionam mais com os indivíduos da
atualidade, que necessitam de narrativas desenvolvidas sobre outras duas aptidões
77

ligadas ao emocional e à criação de sentidos, de laços empáticos e de compreensões: a


high concept e a high touch.

A high concept é a capacidade de criar beleza artística e emocional, de


perceber padrões e oportunidades, de conceber narrativas interessantes
e de combinar ideias aparentemente desconexas para criar algo novo.
High touch é a capacidade de criar laços de empatia, de compreender
as sutilezas das interações humanas, de encontrar alegria interior e
suscitá-la nos outros e de enxergar além da superfície na busca de
propósito e sentido. (PINK, 2007, p.48)

Esses conceitos podem ser considerados o alicerce das novas narrativas. O que
também pode ser associado a uma nova “maneira de estar junto, em que o imaginário, o
onírico, o lúdico, justamente, ocupam um lugar primordial” (MAFFESOLI, 2010, p.27)
e podem gerar narrativas capazes de afetar, transformar e inspirar.
Sobre a esfera do que se é sonhado e sobre o despertar das emoções, Carrascoza
(2004a), embasado nas ideias de Nietzsche, conceitua as essências apolínea e dionisíaca
para modelos de narrativas publicitárias. O modelo apolíneo possui um viés racional e
imperativo. Já o dionisíaco é focado na emoção, no humor e na narração. Ambos
possuem efetividade na publicidade e são utilizados de acordo com os objetivos das
mensagens. Apropriando-se das mesmas definições nietzchianas, Nassar (2009c),
observa que, ao se tratar de um ambiente organizacional, temos que:

Essa complexidade crescente que se vê na Comunicação


Organizacional não é apolínea, mas dionisíaca, como na definição
nietzchiana. Ela mistura tudo, festa com luto, riso com choro, porque a
comunicação não tem que harmonizar nada. Ela deve ser capaz de
navegar no caos (NASSAR, 2009c, p. 160).

Assim, temos a complexidade borbulhante sobre as emoções, as histórias, as


memórias e as simbologias de uma organização. E é sobre este caos que a comunicação
deve conseguir navegar para construir suas narrativas:

Vemos integrar-se ao composto da Comunicação Organizacional as


narrativas baseadas no mundo simbólico das organizações, o uso de
relatos orais, a memória dos empregados, das comunidades e dos
consumidores, entre outros, o resgate dos mitos de origens e dos ritos
de cada empresa” (NASSAR, 2009c, p. 158).
78

Por isso, tem-se que, ao se falar em narrativa, são indissociáveis os conceitos de


memória organizacional, memória oral, simbólico, mítico e imaginário. Estes são os
elementos necessários para a construção da realidade narrativa organizacional, os quais
serão abordados adiante.

4.3. Os mitos, os rituais e o simbólico nas narrativas organizacionais

A criação de mitos no contexto da comunicação organizacional mostra-se de


importância estratégica na construção das narrativas sobre o universo da organização.
Eliade (2010) constata a necessidade do homem em viver em um mundo referenciado e,
por assim dizer, sagrado em sua totalidade. Por isso, em uma sociedade pós-moderna,
em que houve perda dos referenciais,

um dos motivos da atual crise do homem profano da sociedade do


consumo e da sobrecarga está justamente na perda da compreensão da
função mítica. Desligado de suas raízes, voltado em excesso para si
mesmo, o homem quer reconexão e redescoberta de sua origem
cósmica e transpessoal (COGO, 2012a, p. 117-118).

O homem quer gerar um sentido para si, ele necessita de referência, precisa
(re)criar seu mundo, seu espaço conhecido, sua comunidade, sua organização enquanto
espaços sagrados, transformando o caos amorfo, em cosmo, algo conhecido, referencial.
Para isso, busca reproduzir o momento da criação, reproduzindo e atualizando o
processo cosmogônico engendrado pelos deuses, o que é nomeado por Eliade (2010) de
cosmogonia.
Para o autor, a cosmogonia só é possível ocorrer através dos ritos e dos rituais,
ou seja, da atribuição de significados humanizadores ao que não é humano,
transformando o espaço caótico, inabitado, em cosmo, habitável. Ideia que pode ser
comparada à necessidade da reumanização nos processos mecanizados das
organizações, uma vez que, para Eliade (2000), tirar o significado espiritual é tirar a
dimensão humana.
A função mais importante do mito no paradigma narrativo é, pois, “fixar” os
modelos exemplares de todos os ritos, rituais e de todas as atividades humanas
significativas na organização, através do simbólico. Eliade (2010) constata em sua obra
“O Sagrado e o Profano”, que, é graças ao simbólico que os homens podem transcender
a experiência individual, elevando-a ao ato espiritual necessário para a recolocação da
79

dimensão humana no mundo organizacional. Dessa forma, o paradigma organizacional


contribue na criação cósmica secular, enquanto respaldado simbólica e ritualmente pelas
narrações contadas e proferidas em discursos organizacionais.
Narrações envoltas de simbologias, as quais permitem que os rituais cíclicos se
repitam intermitentemente em uma cronologia que não se desgasta, estática em sua
tradição, contudo atualizável, reversível, renovável, recuperável em um eterno presente
mítico reavivado periodicamente através da linguagem dos ritos. Assim, da mesma
forma, temos que organizações também apresentam, através de sua linguagem narrativa,
um tempo sacro.
É como pensa Paulo Nassar (1999), quando as organizações forjam seus heróis,
mitos, ritos e rituais e os transmitem, sistemam o registro desses elementos ligados ao
simbólico e os comunicam para todos os seus públicos a fim de que sua identidade seja
fortalecida, suas missões protegidas e seus destinos assegurados (NASSAR, 1999,
p.11). Simbólico esse que, ao tratarmos sobre a égide do paradigma narrativo, permite
aos públicos de uma organização transformar a missão, visão e valores de uma
organização em algo transcedental.
Por outro lado, ao se pensar no público interno e as narrativas que eles mesmos
contam como frutos de uma mitologia organizacional, essas narrativas não apenas
podem definir o homem identitariamente, como também lhes permitir o ato espiritual, já
que eleva o funcionário a um status mais elevado de sua existência, despertando-lhe
memórias e o colocando sobre experiências únicas, de ser ele também um mito
organizacional, um herói, superador de dificuldades e inserido socialmente como um
indivíduo bem-sucedido.
Para Núñez (2009, p.28), mitos são “histórias sagradas, exemplares e
significativas que têm dado sentido à existência do homem desde o princípio dos
tempos, porque fornecem modelos de conduta e conferem significado à existência”. No
mundo pós-moderno, mais do que transmitir os mitos, reconhecer as transformações
organizacionais, suas figuras mitológicas e seus rituais, é permitir a construção dos
mitos pelas pessoas pertencentes a uma organização. É reconhecer o valor dos
indivíduos, dar voz a eles e transformá-los em heróis de seu cotidiano no trabalho,
oferecendo a eles um significado sobre sua existência ao perceberem seu propósito
dentro da organização, atingindo o ato espiritual. Trata, portanto, de oferecer aos
indivíduos as máscaras das divindades enquanto papéis da narrativa mitológica das
organizações.
80

4.4. A memória na construção de narrativas organizacionais

Falar em história e em narrativa é falar em memória. Se considerarmos a


memória como um “conjunto de funções cerebrais que permitem ao homem guardar
mensagens” (COGO, 2012a, p. 53), temos que a memória é a base de qualquer história,
de qualquer narrativa, uma vez que estas só podem ser construídas a partir de
conhecimentos, vivências e experiências passadas. “A memória recupera a história
vivida, história como experiência humana de uma temporalidade” (PINTO, 2001,
p.297). Uma função da memória, ligada as narrativas da organização seria, portanto,

simplesmente lembrar o pessoal “quem somos”. O vínculo entre gupos


é tão forte que episódios do passado contados e recontados podem
criar uma verdadeira mitologia, sancionada ou não pelos líderes do
grupo. Empresas, novatas ou veteranas, têm seus mitos de criação e
suas parábolas – em geral, histórias sobre gente empreendedora e
destemida, sobre superação de adversidades, sobre a perseverança e,
às vezes, sobre a mera sobrevivência (SEAMAN; SMITH, 2012, p.26,
27).

Assim, temos que a história, como campo de conhecimento, seria apenas uma
exposição lógica e racional de acontecimentos se as memórias não estivessem presentes.
As memórias são capazes de construir a narração sobre emoções, reincorporando ao
passado um grau de sacro, de mito (PINTO, 2001, p.297). Ao se buscar o passado para
enriquecer as suas narrações presentes, as ideias passam pelos pontos exatos em que os
sentidos foram atingidos, por aquilo que realmente trouxe um valor e uma identificação:

Ainda que se narrem, como verdadeiras, coisas passadas, o que se vai


buscar na memória, não são as próprias coisas que já passaram, mas as
palavras concebidas a partir de imagens de tais coisas que, ao
passarem pelos sentidos, gravaram na alma (SANTO AGOSTINHO,
2001, p.303).

Assim, é por esta caraterística de sensações e emoções proporcionadas pela


memória que as narrativas podem contribuir para ações de comunicação cognitivas,
afetivas e efetivas, já que necessitamos do passado para encontrar sentido em nossas
próprias vidas, sendo que “não possuímos outra vida, outra seiva, senão os tesouros
herdados do passado e digeridos, assimilados e recriados por nós. De todas as
necessidades da alma humana, não há nenhuma mais vital do que o passado” (WEIL,
2001, p.50), assim também está embasado o pensamento de que:
81

nossas experiências e ideias passadas não são experiências ou ideias


mortas, mas continuam a ser ativas, a mudar e a infiltrar nossa
experiência e ideias atuais. Sob muitos aspectos, o passado é mais real
que o presente (MOSCOVICI, 2003, p. 37/38).

Por isso, as organizações, em um mundo em crescente mobilidade e


transformação, em que organizações apresentam o presente como mais real que o
passado, e que, por isso, apresentam a perda das referências e dos sentidos, precisam
encontrar espaço para as memórias para conseguirem trabalhar com suas narrações
passadas, atuais e futuras. “Um mundo de mudanças vertiginosas deixa pouco espaço
para nostalgia e detalhes irrevelantes – ou, pior, para estratégias feitas para vencer a
guerra que passou”, e, dessa forma, os dirigentes acabam ignorando um fato crucial: “a
fina compreensão do passado é uma das ferramentas mais potentes para moldar o
futuro” (SEAMAN; SMITH, 2012, p.26).
É necessário, portanto, dar extrema importância para a memória. Philip Kotler
(1995, p.73) coloca que a missão da organização é moldada por cinco elementos, sendo
que “o primeiro é a sua história. Todas as empresas têm uma história de propósitos,
políticas e realizações. As organizações não devem se apartar radicalmente de seu
passado”, pois é através dele que elas poderão ter referências para a sua atuação no
presente e para a construção de seus passos futuros.
Há diferentes tipos de memórias, e a organização deve saber utilizar-se de alguns
deles para as suas ações. Marilena Chauí (1999), pontua alguns tipos de memória
descritos por Bérgson, os quais podemos destacar dois deles para se referir ao
paradigma narrativo:

1.a memória perceptiva, [...] que nos permite reconhecer coisas,


pessoas, lugares etc. e que é indispensável para nossa vida cotidiana;
2. A memória social ou histórica, que é fixada por uma sociedade
através de mitos fundadores e de relatos, registros, documentos,
monumentos, datas e nomes de pessoas, fatos, lugares que possuem
significado para a vida coletiva; executando-se os mitos, que são
fabulações, essa memória é objetiva, pois existe objetos (textos),
monumentos, instrumentos, ornamentos etc. (CHAUÍ, 1999, p.129).

No que se refere à memória perceptiva, temos que a partir do que se é


percebido e conhecido da organização, de sua origem, de sua missão, sua visão, seus
valores, sua marca, sua cultura e seu ambiente, é que os públicos podem construir suas
82

narrativas, construtoras da identidade organizacional, reconhecendo-a e formando uma


imagem em relação à ela. Sobre a memória social ou histórica, temos que cada empresa
possui seus símbolos, mitos, ritos e rituais, que dão significado ao que ela é, e assim, a
comunicação pode construir suas narrativas, gerando uma história de registros
memoráveis.
As ações que envolvem projetos de memória nas organizações não são de hoje,
mas as finalidades de quando começaram a ser implantadas nas organizações mudaram
muito e hoje precisam novamente ser revistas com o paradigma narrativo. Elida Gagete
e Beth Totini (2004, p. 113) apresentam que a prática de comunicação organizacional
com planejamentos de ações que envolviam história e memória, apesar de ter se
afirmado principalmente a partir dos anos 1990, teve algumas práticas desenvolvidas na
Alemanha, em 1905 e 1907, nas empresas Krupp e Siemens, que criaram os primeiros
arquivos empresários de caráter histórico. Outro marco referencial pode ser considerado
a partir da introdução na Universidade de Harvard, em 1927, da disciplina “História
Empresarial”.
A ideia que constava nesta época sobre a utilização da memória organizacional
era, principalmente, gerar conhecimento administrativo, ao analisar as biografias de
empresários e a evolução das empresas e instituições a partir de seus documentos e
arquivos podia-se entendê-las melhor e, assim, aprender e desenvolver técnicas de
gestão. Hoje a utilização da memória organizacional pode ser vista como ações
comunicativas inovadoras sobre o viés do paradigma narrativo, que visa a afetividade.
Não se trata, portanto, mais de um registro histórico-científico ao ser estudado com o
objetivo de criação e gestão do conhecimento técnico, mas da criação e fortalecimento
de laços afetivos entre as organizações e seus públicos, demanda esta crescente na
sociedade contemporânea, dados os novos contextos até aqui expostos.
Além de continuar a ser uma rica fonte de informações para gerar conhecimento
sobre a organização e para ajudar nas tomadas de decisões, uma vez que “o processo
decisório melhora quando estrategistas se dão ao trabalho de entender por que se fez
isso ou aquilo e como certas verdades foram estabelecidas” (SEAMAN; SMITH, 2012,
p.27), as memórias podem ganhar força quando evidenciam as narrativas dos seus
públicos de interesse, tornando-se uma forma de relacionamento com eles. Ao colher e
selecionar memórias – narrativas individuais – significativas que reforcem os aspectos
dialógicos da história oral, pode-se somá-las às simbologias necessárias para que os
83

integrantes da organização compreendam-se como partícipes dessas narrativas,


reconhecendo-se como pertencentes e importantes para a história da organização.
Nassar (2008, p. 111-112) diz que uma história é uma “narrativa individual,
social ou organizacional estruturada a partir de memórias individuais, sociais ou
organizacionais”. No caso da história organizacional, esta se compõe pelas narrativas e
memórias individuais e sociais de seus integrantes, por todos os episódios relativos a
ela, os quais são derivados dos relacionamentos que ela estabelece com seus públicos.
Para Thompson (1992), a questão da memória individual está ligada a uma
memória pessoal, a qual nos torna humanos e pertencentes a uma sociedade. Conceito o
qual poderia ser analogamente aplicado em relação às memórias individuais de uma
organização, uma vez que, apesar de as empresas serem consideradas mais como pólos
econômicos, elas também são personagens históricos e agentes sociais, assim como
apresenta Nassar (2007):

As organizações são percebidas, lembradas e narradas de inúmeras


formas pela sociedade, pelos mercados, pelos públicos e pelos
indivíduos. Uma das formas mais importantes é definida pela história
e pelas diferentes formas de memória dessa história que os
protagonistas sociais têm das organizações como um todo e também
em suas expressões individuais. As organizações, como os indivíduos,
não existem fora da sociedade e, assim, são participantes, mesmo na
omissão, dos acontecimentos sociais (NASSAR, 2007, p. 117).

Compreendendo a importância de todas estas funções da memória


organizacional sobre o paradigma narrativo, é preciso saber quais são as técnicas para
recolher o material, para as memórias serem percebidas, registradas e transmitidas,
como apresenta Worcman (1999):

Dependendo da forma de perceber e de encarar esta questão é que as


empresas, em muitas circunstâncias oferecidas por sua própria
história, perdem ou aproveitam a oportunidade de utilizar esta
ferramenta fundamental para o ser humano. Como, então, essas
empresas registram e transmitem suas histórias? Que as histórias
existem, existem, pois sem elas não haveria empresa alguma. Mas de
que maneira estão sendo elas percebidas, registradas e transmitidas?
Estarão elas aproveitando da melhor maneira sua própria história?
Quais são os novos desafios? Como hoje essa função vem sendo
desenvolvida e aproveitada? (WORCMAN, 1999, p.4)

A partir destas perguntas, fica evidente que a memória organizacional ainda tem
muitas oportunidades para ser desenvolvida, principalmente sobre o paradigma
84

narrativo que engloba uma abertura para a contação de histórias de integrantes da


organização, sobretudo sobre técnicas que envolvam a memória oral.
Falando de memória oral, nas palavras do historiador inglês Paul Thompson
(1992, p. 197), sobre a metodologia da história oral, ele propõe justamente o
depoimento de vida, pois acredita que ele tem a força de desvendar os segredos e os
desejos das pessoas:

Toda fonte histórica derivada da percepção humana é subjetiva, mas


apenas a fonte oral permite-nos desafiar essa subjetividade: descolar
as camadas de memória, cavar fundo em suas sombras, na expectativa
de atingir a verdade oculta. Se assim é, por que não aproveitar essa
oportunidade que só nós temos entre os historiadores, e fazer nossos
informantes se acomodarem relaxados sobre o divã, e, como
psicanalistas, sorver em seus inconscientes, extrair o mais profundo de
seus segredos? (THOMPSON, 1992, p.24)

Essa metodologia pode ser adaptada como estratégia na comunicação


organizacional para compreender melhor seus públicos, engajá-los e dar espaço para sua
participação. O relacionamento, as interações e as conversas são importantes para
perpetuar a história e a cultura das organizações. A área de comunicação das
organizações precisa encarar isso como oportunidade para ouvir e aprender com as
pessoas, desenvolvendo novas estratégias a partir dessa compreensão.
Essa metodologia oral pressupõe relacionamento e a troca de diálogos, tão
importantes para a comunicação interna. As interações e as conversas são importantes
para se compreender melhor os indivíduos, suas competências e seus processos de
recepção e de expressão perante a comunicação. A recepção e a estimulação da
comunicação estão ligadas às questões afetivas e cognitivas, dependentes das matrizes
culturais, experiências individuais, vivências interpretativas, interações, percepções e,
inclusive, as intensidades das representações sociais (MOSCOVICI, 2003) em cada
indivíduo.
Sunwolf (2005, p.307) concorda ao afirmar que histórias orais “podem ser
recurso ímpar para alimentar o espírito, pois produzem impacto emocional. Um conto
poderoso é sempre fundamentado não na trama, mas na emoção, que a oralidade da
narrativa destaca”. Dessa maneira é que pode-se perceber que é “resgatando valores,
identificando expectativas e tendo como resultado uma história humana, inédita e –
como pautada por experiências” (WORCMAN, 1999, p7) que a memória organizacional
85

pode ser utilizada estrategicamente em ações de comunicação sobre o paradigma


narrativo:

Esta visão implica a compreensão de que a história de uma empresa


transcende a preservação física de documentos e de monumentos. O
projeto com memória oral tem como objetivo a preservação do
conhecimento intangível, isto é, o conhecimento que está na cabeça e
na experiência das pessoas. As informações coletadas podem resultar
em produtos culturais, campanhas de comunicação, elementos de
apoio a negócios e, sobretudo, instrumentos de comunicação com a
sociedade (WORCMAN, 1999, p.7).

Essas questões estão envolvidas sobre o que Proust (2002) chama de memória
involuntária, aquela que ele considera como a mais valiosa, uma vez que transmite a
totalidade das experiências vividas, como a “inocência”, o “encantamento” e o “terror”,
uma vez que esta resulta de percepções emocionais, que envolvem sentimentos e
subjetividades. Por todos estes pontos, ao se pensar no contexto atual e no paradigma
narrativo, fica a reflexão de que:

Se uma empresa é feita por pessoas, uma quantidade enorme de


vivências, fracassos e sucessos, tentativas e erros, recuos e
inovações, coragem e determinação, permeia a história conjunta
dos pioneiros e dos seus seguidores. Resgatar a memória
empresarial nada mais é que um trabalho de auto-reflexão e não
à toa, as empresas que já despertaram para a responsabilidade
social estão atentas também à sua história. (DAMANTE, 2004,
p.28)

Trata, portanto, da conscientização por parte das organizações, que sua linha do
tempo histórica é formada pelas histórias de milhares de indivíduos, tanto daqueles que
trabalham na organização, quanto daqueles que consomem seus produtos e serviços,
bem como pessoas relacionadas a estas primeiras, como a família dos colaboradores.
Através da memória oral, o registro das organizações se liberta da frígida
documentação, para se reavivar a cada vez que é contado, atualizando suas narrativas e
reproduzindo o processo cosmogônico pelo qual se deu a criação da organização em seu
contexto social e proporcionando estados de elevação mítica a todos os depoentes e
ouvintes partícipes desse processo.
Para Nassar e Cogo (2012, p. 102), um centramento estratégico da narrativa, se
localizado na memória organizacional, sobretudo na memória oral, como tratamos aqui,
86

como produtoras desse processo cosmogônico, estimulando sentidos e significados e


sendo geradora de pertencimentos, deve ser considerada a necessidade de recriação de
formatos interativos ou vívidos como força atrativa diante da atenção pulverizada.
Pensando este aspecto, uma sugestão de registro e de transmissão dessas narrativas
poderá se dar atráves de produções audiovisuais.

4.5. A força do audiovisual nas narrativas organizacionais

Para Marília Franco (2012), a linguagem audiovisual é a articulação arbitrária de


imagens e sons com o objetivo de se contar uma história, de se transmitir uma narrativa.
A linguagem audiovisual comporta os elementos narrativos de espaço, tempo e ação nas
relações imagens-sons, organizadas sobre a finalidade da transmissão de um sentido,
ajudando a organizar as complexidades do mundo real (METZ, 1968), formando um
todo com começo, meio e fim, que nada mais é que a definição aristotélica de narrativa,
em Poética, de Aristóteles (1992) há as primeiras definições sobre narrativas como
sendo formada por três partes: conflito, desenvolvimento do conflito e solução
(desfecho).
Ao se pensar em formatos para a criação e a transmissão de narrativas no
ambiente corporativo, o audiovisual pode ser uma interessante opção, sobretudo, devido
ao contexto atual, em que a forma de ver o mundo provêm, sobretudo de linguagens
audiovisuais, potencializadas pelas tecnologias digitais, que de forma sedutora e
aparentemente despretenciosa, alimenta e atualiza os universos sensoriais, afetivos e
éticos das pessoas (ARROIO; GIORDAN).

A força da linguagem audiovisual está no fato de que consegue dizer


muito mais do que captamos, chegar simultaneamente por muito mais
caminhos do que conscientemente percebemos, e encontra dentro de
nós uma repercussão em imagens básicas, centrais, simbólicas,
arquetípicas, com as quais nos identificamos, ou que se relacionam
conosco de alguma forma (GUTIERREZ, 1978).

Somando estas ideias a de Barthes (1990), temos que os espectadores, ao


receberem as narrativas produzidas pela linguagem audiovisual, assimilam o assistido
ao seu próprio repertório de vida, formando um novo sentido, ao que o autor chama de
terceiro sentido. É uma articulação realizada pela junção de dois sentidos: a narrativa
transmitida é somada a narrativa vivida, de forma que gera uma terceira narrativa, um
87

terceiro sentido, o qual abre o campo de significações infinitamente, para longe dos seus
sentidos óbvios, gerando um sentido que ele chama de “obtuso”.
Esse novo sentido formado não é imediatamente entendido de maneira clara,
precisando - para a sua significação - de emoções, de valores e de subjetividades,
encontradas apenas no interior de cada espectador. Assim, o terceiro sentido, é a relação
entre a proposta sensorial que a linguagem audiovisual proporciona e a adesão
cognitiva/afetiva de quem recebe tais imagens e sons:

Quando nos sentamos diante das telinhas ou telonas para usufruir do


universo onírico de sons e imagens criados a semelhança e à revelia
da realidade, abrimos todos os nossos sentidos para que nenhum
detalhe nos escape e nos furte ao prazer e à compreensão. Assim como
cada estímulo do cotidiano que nos fere os sentidos é apreendido, em
primeira instância, sem a mediação do racional, também a linguagem
audiovisual foi construída para nos embriagar de emoção. Uma vez
cativos da história e das suas peripécias narrativas e técnicas,
podemos ou não passar para um estágio de análise racional e crítica
desse estado emocional radical a que nos permitimos (FRANCO,
1995, p.51).

Por esses estímulos, temos a compreensão de dois elementos comunicacionais


afetivos/cognitivos do audiovisual: o toque dos sentidos e o fluxo narrativo. Sobre os
sentidos, quando o audiovisual afeta um indivíduo, ele passa a dialogar com a recepção
e as percepções dos sujeitos, relação que é explicada pela gestalt (ARNHEIM, 1994), a
qual faz sugir os insights, relações de pré-lógicas e ações em que há a
complementariedade do que está na tela, sendo transmitido e ao que não está na tela, ou
seja, as experiências vivenciadas por quem assiste, gerando adesão e podendo manter
um vínculo ao fazer as pessoas vivenciarem o que assistem, identificando-se com o que
é projetado.
Edgar Morin (2008) chama esta recepção de “projeção-identificação”, em que ao
vivenciarem a impressão da vida e da realidade na liguagem audiovisual, as pessoas
sentem-se como atores e espectadores ao mesmo tempo, o que demostra que o ser
humano possui uma inclinação à participação das histórias narradas, a partir do modo
como é afetado pelas imagens e sons, provocando participações afetivas e psíquicas nas
pessoas em relação ao drama narrado e gerando novas subjetividades e envolvimentos
do espectador.
Por esses conceitos, ao falarmos dos usos do audiovisual para o registro e
transmissão das narrativas em ações de comunicação organizacional, sobretudo
88

comunicação interna, temos três possibilidades de interações: 1) a dos funcionários


participantes (narradores de suas experiências), quando eles possuem liberdade para
articular suas narrações e contar suas histórias, em que eles podem se expressar segundo
seus interesses e suas competências, contando suas vulnerabilidades e superações, seus
orgulhos e temores; 2) a dos comunicadores que selecionam a partir das histórias
narradas e do material gerado, o que será editado, articulando e juntando os interesses
dos funcionários aos interesses da organização e, por último, 3) a dos públicos
espectadores, que, ao assistirem a narrativa audiovisual final receberão a comunicação e
farão as assimilações e as reacomodações de seus conhecimentos, de suas próprias
histórias de vida em relação às outras narrativas, produzindo um novo sentido, gerando
identificações e reconhecimentos.
Isso tudo gera material para a socialização com os outros funcionários sobre o
que se viu, que é a narrativa, o fluxo de acontecimentos que se conseguiu apreender e se
identificar. As narrativas são como a vida real, com diversas possibilidades, com
dificuldades, sequências que levam a outras sequências, mutantes em seu fluir, e
dependentes dos acontecimentos. Por isso, por mais diversas que sejam as histórias
narradas de nossas próprias experiências, identificamo-nos com elas, pelo seu fluir,
pelos pontos altos e baixos, como os batimentos cardíacos, representativos da vida
(DOUEK, 2009).
Somos facilmente afetados pelas histórias contadas, afetos potencializados pelos
truques de câmeras, planos escolhidos, iluminação, efeitos, música, tudo pensado e
planejado para tocar mais profundamente a sensibilidade de quem recebe as já
emocionais narrativas. Vivenciamos como se fôssemos os próprios narradores,
acreditando na heroicidade de nós mesmos em nossas ações cotidianas e nos finais
felizes que nos afetam e nos emocionam, acrescentando o conhecimento proporcionado
por essas sensações em nosso interior. Como explica Marília Franco (1995):

Acrescentamos o conhecimento da emoção de todas essas sensações à


bagagem de nossas vivências. Ainda que virtualmente, os
desequilíbrios emocionais estimulados pelo filme e reequilibrados
pelo happy end (final feliz) realizaram uma trajetória de
aprendizagem de estados afetivos. Projetados no personagem
vivenciamos o prazer de enfrentar e vencer barreiras e desafios. Todos
quantos nos permitimos espectar a linguagem audiovisual podemos
entender o "estado de espírito" [...] e não temos a menor dúvida de que
está impregnado de prazer. (FRANCO, 1995, p.51)
89

É por isso que, inpirados pelas ideias de Genette (1972) sobre a narratologia,
Gaudreault e Jost (2009), analisam a narrativa da linguagem audiovisual à luz da
narração, dos pontos de vista, do tempo e de interrogações mais específicas como as
relações imagens-sons, para chegar à conclusão de que o audiovisual pode fortalecer
ações de comunicação focadas em narrativas, sobretudo as que envolvem registro e
transmissão de memória oral de participantes da organização, para que surja o “estado
de espírito” tão necessário para a reumanização das complexas, duras e racionais
corporações.
Ao se falar sobre estes registros de memória oral, sobre a contação de histórias
que narram as experiências vividas, sejam elas em formatos audiovisuais ou em outras
plataformas, tem-se o conceito de micronarrativas afetivas que são um tipo de
storytelling, ideias que serão exploradas a partir da próxima seção.

4.6. Storytelling

De acordo com o paradigma narrativo apresentado até agora, temos como o


exemplo mais claro sobre este novo contexto um movimento ainda incipiente nas
organizações chamado organizational storytelling (narração de histórias
organizacionais), “cujo objetivo é conscientizar as empresas das histórias que existem
dentro delas – e depois fazê-las usar essas histórias em prol das metas da organização”
(PINK, 2007, p.103). Assim como corcorda Cogo (2012), que, sobre o contexto atual:

a nova questão é pensar sobre a efetividade destas emissões ou


mesmo interações comunicacionais num universo de
abundância, em que a aderência do conteúdo gera reflexão e
conhecimento entre os interlocutores. Nessa perspectiva é que
formatos como storytelling podem ser preciosos na garantia da
atenção, num primeiro momento, e de estímulo à legitimação na
sequência. A contação de histórias faz transcender o conteúdo
estrito da mensagem transmitida e gera repercurssão (COGO,
2012a, p. 88).

Segundo Gabriel (2008, online), há diferentes usos possíveis para ações de


storytelling nas organizações, tais quais: as histórias podem ser utilizadas como
artefatos para a construção de sentido de uma organização; as histórias são essenciais
para o processo cognitivo individual; elas podem possuir características da política
organizacional, das tentativas de controle e de resistência; são tidas como artefatos
90

simbólicos, expressando arquétipos mitológicos; as histórias podem ser utilizadas como


performance retórica destinada a afetar corações e mentes; elas podem ser consideradas
como meio de compartilhamento e disseminação do conhecimento e aprendizagem; e
histórias podem ajudar na (re)construção de identidades individuais e de grupo.
Estes pontos, destacados por Gabriel, demonstram a coerência dessa ação de
contação de histórias organizacionais perante os novos contextos, que exigem um foco
no emocional, no mítico, para a construção de sentidos e (re)construção de identidades,
a partir da afetividade. Diante de um contexto em que o compartilhar histórias entre os
membros de uma organização pode humanizar as relações de trabalho, com
comunicações focadas em variáveis emocionais e subjetivas e, portanto, vinculadas a
possibilidades de expressão, é que Cogo (2012) inclui a definição do storytelling como
estruturas de narrativas baseadas nas experiências de vida próprias ou absorvidas de um
integrante, derivando relatos memoráveis e envolventes (COGO, 2012a, p.20).
Já Domingos (2008, p.97) diz que storytelling é “uma antiga arte de transmitir
fatos, reais ou ficcionais, em diferentes tipos de suporte, de modo verbal ou não, a fim
de emocionar e informar grandes públicos”. Se considerarmos a narrativa como um
encadeamento de fatos relacionados de maneira a criar uma carga dramático-afetiva em
dado público, mais que a veracidade do fato narrado, podemos considerar a efetividade
na criação de laços afetivos com o objeto da narrativa. Ao associar a narrativa, ficcional
ou verídica com marcas, produtos ou mesmo a história corporativa, é possível
humanizar objetos, ideias ou instituições outrora estéreis de significados e afetividades.
Por outro lado, esta definição pode levar a algumas discussões sobre o papel
manipulador do storytelling, quando trata de histórias não verdadeiras, centrando seu
valor na ficção para fins comerciais, para a venda de produtos ou serviços, o que
poderia levar a descredibilidade da marca ou da organização. Ainda que o uso comercial
das narrativas possa ser criticado, são tais mecanismos de associação usados na área de
comunicação, seja ela corporativa, institucional ou mercadológica, que permitem a
inserção de uma organização, enquanto detentora de produtos e marcas, e enquanto
instituição, no ideário social.
Desta forma, há várias definições que colocam as ações de storytelling como
potenciais para comunicação organizacional, que vão desde a venda de produtos e
serviços, pela publicidade, propaganda e marketing, passando por habilidades que
ajudam a motivar o desenvolvimento relacional, com grande nível de valor
(FERNANDÉZ COLLADO, 2008, p.47), passando por propostas de narrativas de
91

experiência de vida, em que “os envolvidos liberem sua capacidade de criar e de


reinventar o mundo, de ter fantasias aceitas e exercidas, para que possam explorar seus
limites” (PEREIRA: VEIGA; RAPOSO; FUKS; DAVID; FILIPPO, 2009, p.101) ou
como sinônimo dos discursos pelos quais a existência da organização e os seus assuntos
são comunicados (POUPINHA, 2007, p.699).
Assim, temos que a arte de contar histórias pode ser aplicada, através da emoção
e da subjetividade, em várias ações comunicacionais. Como tratamos no Capítulo 3,
sobre o desencantamento da comunicação interna, o principal estudo deste trabalho foca
para uma função específica do storytelling, como quando o dirigente se empenha para
fazer as pessoas trabalharem juntas de modo produtivo, através da difusão da história da
organização e, através dela

pode incutir um senso de identidade e propósito e indicar metas que


calarão fundo. Em sua versão mais conhecida, a de uma narrativa
sobre o passado, a história é uma incrível ferramenta de
esclarecimento que permite a executivos defender a mudança e
incentivar as pessoas a superar desafios (SEAMAN; SMITH, 2012,
p.26).

Sendo assim, temos que esta função específica do storytelling gira em torno dos
depoimentos reais das narrativas de experiência de integrantes de uma organização, a
fim de que eles se reconheçam, identifiquem-se, sintam-se heróis do seu cotidiano,
reconstruindo suas identidades fragmentadas sob a égide histórica de uma organização,
o que, para fins de engajamento e inserção social tanto do indivíduo quanto da empresa
ou instituição, tratam de um tipo de storytelling, resultando histórias que neste trabalho
conceituamos como micronarrativas afetivas.

4.7. Micronarrativas afetivas

Lyotard (1979) em “A condição pós-moderna” aponta sobre as mudanças


sofridas pelas narrativas na pós-modernidade. Na modernidade, as grandes narrativas
possuíam uma significativa força na vida das pessoas, eram elas que davam sentido para
o passado, o presente e o futuro da humanidade. Tramas que prometiam uma visão
positiva do indivíduo em relação à sociedade, com ideias de liberação, transformação e
evolução. Eram narrativas que sustentavam padrões, crenças, seguranças e esperanças,
de lutas contra desafios para um futuro positivo.
92

Porém, essas grandes narrativas, explicativas sobre o mundo e que serviam como
referências para a sociedade, começaram a se enfraquecer a partir do século XX e se
perderam na pós-modernidade. Bauman (2001) acredita que, em um mundo líquido,
fluido e fragmentado, os poderes “passaram do “sistema” para a “sociedade”, da
“política” para as “políticas da vida” – ou desceram do nível “macro” para o nível
“micro” do convívio social” (BAUMAN, 2001, p.14). Touraine (1998 apud BAUMAN,
2001, p.14), discute sobre a “defesa por todos os atores sociais, de sua especificidade
cultural e psicológica (...) que pode ser encontrado dentro do indivíduo, e não mais em
instituições sociais ou em princípios universais”.
Na mesma linha de pensamento, para Pérez (2008), o contexto complexo e pós-
moderno que envolve a globalização traz consigo uma uniformização dos produtos, das
culturas, dos valores, dos modelos de gestão, mas ao mesmo tempo, reafirma a
preservação dos valores individuais.
Assim temos que, frente à crescente globalização, recentemente viabilizada pela
ascenção das novas mídias, que promovem o fluxo constantemente crescente de
informações, ideias e conhecimentos, que promove a atualização constante de conceitos
sobre todos os aspectos de nossa realidade, tornando-a um simulacro, nosso mundo se
fragmenta e se torna fluido, colocando em cheque a solidez de preceitos e identidades
das instituições da sociedade tradicional (BAUMAN, 2001), retirando nossos grandes
referenciais, nossos grandes sentidos, nossas grandes histórias e nossos grandes heróis.
Por isso, temos que uma diferença relevante entre a modernidade e a pós-
modernidade está na construção das narrativas. Na pós-modernidade “a função narrativa
perde o grande herói, os grandes perigos, as grandes viagens e os grandes objetivos”
(D’ALMEIDA, 2012, p. 90). É o fim das grandes narrativas, que podiam confortar com
explicações sobre a vida.
Como consequência, “na sociedade individualizada, o indivíduo precisa
aprender, sob pena de um prejuízo irreversível, a reconhecer-se a si mesmo como foco
da ação” (BECK, 2010, p. 199). Com a perda do sentido holístico de suas referências e
de suas identidades, os indivíduos passam a se importar com o “eu primeiro”.
Por isso, Lyotard (1989) defende as pequenas histórias ao invés de grandes
relatos, onde podemos reivindicar um homem mais relacional e relativo. Há uma
contradição entre o global e o local: se temos de um lado corporações e marcas globais,
por outro, temos estratégias de miniaturização, microsegmentação, micromarketing e
todas as técnicas “um a um” (PÉREZ, 2008, p. 582).
93

É sobre esses aspectos, que, como um exemplo de novas narrativas, sobre o


paradigma narrativo e a força do “micro” dos tempos atuais, é que podemos trabalhar
com o conceito de micronarrativas. Estas seriam, no contexto da comunicação interna,
depoimentos das pequenas partes de uma organização, dos seus públicos de interesse,
fragmentos de histórias pessoais, com as quais cada pessoa pode colaborar com suas
ideias e sentimentos, reforçando os laços de empatia e aflorando os valores intangíveis,
tão necessários para o reencantamento da comunicação.
Ao dar a voz para as individualidades, podem-se gerar narrativas interessantes e
afetivas, baseadas nas compreensões high concept e high touch (PINK, 2007), ou seja,
na emoção, na criatividade e na humanização, capazes de gerar interações e
colaborações. São narrativas que dão abertura para a expressão e para recepção
cognitiva e afetiva, para a participação. Afetando os públicos para neles gerar uma
transformação, uma reconstrução de suas identidades fragmentadas e um novo sentido
sobre suas atuações no mundo. Por isso, por este aspecto afetivo e transformador, o
conceito pode ser ampliado para “micronarrativas afetivas”.
Conceito este de acordo também com as reflexões de Paulo Nassar (2012) que
apresenta a ideia de que há duas narrativas opostas na organização: a macronarrativa
organizacional, ligada aos grandes objetivos de negócio, missão, visão e valores. E as
micronarrativas, relacionadas as narrativas das experiências dos públicos de interesse da
organização. Para ele, as duas são de extrema importância, já que a organização precisa
que as macronarrativas sejam conhecidas por seus públicos, porém, cada vez mais,
comunicadores necessitam prestar atenção ao nível micro da comunicação, para contruir
as macronarrativas, mesmo porque, se o ideário organizacional não conversar com os
valores pessoais de cada uma das pessoas que se relacionam com a organização,
provavelmente estas deixarão de enxergar um sentido para continuar tal relacionamento.
Por isso, temos que as narrativas pessoais podem ser consideradas mais importantes que
as macronarrativas, uma vez que

nós somos as nossas histórias. Compactamos anos de experiência,


reflexões e emoções narrativas sintéticas que passamos para as outras
pessoas e repetimos para nós mesmos. Sempre foi assim. Mas as
narrativas pessoais são agora mais importantes, e talvez mais urgentes,
numa época de abundância, quando tantas pessoas têm maior
liberdade para buscar uma compreensão mais profunda acerca de si
mesmas e de seu objetivo na vida (PINK, 2007, p.111).
94

As micronarrativas afetivas devem ser, portanto, capazes tanto por gerar


identificação por aqueles que as recebem e a interpretam, como também tocar a
sensibilidade das pessoas, no momento em que esses pequenos discursos podem ser
criativos, particulares e íntimos, trabalhando não apenas com as necessidades dos
indivíduos, mas com os seus sonhos e desejos, com as suas motivações e seus medos.
São autobiografias anedóticas, divertidas, heróicas e emotivas dos indivíduos em
relação à organização, estimulando o compartilhamento de suas experiências, paixões,
afetos e sentimentos, constituindo o reflexo da sua crítica ou do seu envolvimento e do
seu orgulho em fazer parte de uma narrativa maior, podendo levar a compreensão de si
mesmos e de seus objetivos de vida.

4.7.1. Contribuições das micronarrativas para a comunicação interna

Ao se pensar na comunicação de empresas e instituições, sobretudo a


comunicação interna, é preciso compreender as pessoas e dar voz para elas, para as suas
narrativas particulares. Reconhecer o valor das individualidades e o nível micro das
narrativas de cada um dos integrantes constitutivos da organização pode ser uma
importante questão para a efetividade deste tipo de comunicação organizacional. A
comunicação repercurte de forma diferente em cada pessoa, de acordo com os seus
sentidos afetivos e cognitivos, suas emoções momentâneas, suas memórias e histórias
de vida - seus repertórios, ou seja, suas particularidades. Porém, é importante também
refletir que essas particularidades são influenciadas por signos e representações sociais
de sua cultura, de seu tempo e de seu contexto, ou seja, são micronarrativas que falam
em sintonia com uma macronarrativa.
Assim, apesar da diversidade que nos separa por gênero, cor da pele, origem,
formas, crenças, costumes e cultura, fatos nos unem sob a égide das representações
sociais. Estas são “criadas, internamente, mentalmente, pois é dessa maneira que o
próprio processo coletivo penetra, como o fator determinante, dentro do pensamento
individual” (MOSCOVICI, 2003, p. 40).
Mas, por meio de ações de comunicações, entre o narrar e o escutar que essas
representações ariscam-se em gerar identificações no indíviduo sobre uma coletividade,
fazendo-o se sentir pertencente a uma narrativa maior, que pode ser a da organização
em que ele trabalha, e influenciando o seu comportamento de acordo com seus objetivos
e interesses, que podem ser os mesmos da organização, se ele se sentir realmente
95

pertencente a ela. E esse sentimento de pertencimento pode ser gerado pela retomada
das tradições, das origens, dos mitos, ritos e rituais da organização, uma vez que “contar
histórias refere-se ao processo pelo qual contadores e ouvintes constroem
conjuntamente narrativas em uma experiência coletiva” (PUTNAM, 2009, p.54).
Pensamento que pode ser complementado pelas ideias de Cogo (2012) que diz
que as “histórias que as pessoas contam sobre as relações sociais nas organizações
precisam ser tratadas como narrativas que buscam construir sentido para as ações, tanto
passadas como futuras, procurando plausividade para as experiências” (COGO, 2012a,
p. 79). Isso significa que através das micronarrativas pode ser possível que funcionários
compreendam a sua atuação na organização e enxerguem a importância das suas
experiências particulares para o funcionamento e a formação da experiência
organizacional como um todo.
Além disso, a criação de espaços que as organizações porventura derem para que
as pessoas possam contar e escrever suas histórias podem contribuir muito para
valorizar a dimensão humana da comunicação. Os trabalhadores de uma organização,
mergulhados na pós-modernidade, nos curtos prazos, na efemeridade e nos excessos de
informações perderam seus horizontes e sofreram uma desumanização, isso por estarem
refratários aos outros e à paisagem, alheios pela atenção difusa e “presos à máquina que
dirigem e com a qual cortam, indiferentes, uma geografia em compasso de mudança. O
encalhe é um momento de reumanização” (NETO, 2005, p.9). Assim como coloca
também Domingos (2008):

O mundo atual está sendo marcado pelo pluralismo das invenções,


pela multiplicidade de micro-relatos de vida, ou storytelling, que
interatuam de modo agitado na formulação antopológica-filosófica do
individualismo moderno (DOMINGOS, 2008, online).

As micronarrativas podem ser capazes de reumanizar as organizações, caso se


verifique que estão envoltas por subjetividade, empatias e por valores transcendentes e,
se assim for, a comunicação interna pode se apropriar dessas histórias para gerar o afeto
positivo, trazendo significados e preenchendo o sentido vazio existente na pós-
modernidade. As micronarrativas, através de leveza, humor, intimidade e simplicidade,
podem transformar-se na linguagem com as melhores medidas humanas, aquela que,
com emoção, consegue falar da origem e do destino do homem e mostrar a ele como se
96

tornar um herói no seu dia a dia, reconhecendo seus atos e incentivando-os em suas
ações.
Na Era Conceitual, um dos pontos principais para o desenvolvimento do
trabalho, é o seu envolvimento com o humor. Para Pink (2007, p.181-182) “misturar
trabalho e diversão tornou-se não só mais comum mas também mais necessário”, de
forma que o humor, o lúdico, “está se mostrando um parâmetro preciso de eficácia
gerencial e inteligência emocional nos tempos atuais. Para Daniel Goleman (1998,
p.45), a inteligência emocional é a “capacidade de identificar os nossos próprios
sentimentos e os dos outros, de nos motivarmos e de gerir bem as emoções dentro de
nós e nos nossos relacionamentos”.
Por esta definição, convidar os funcionários a contarem e escutarem histórias
como uma ação lúdica e como uma ação de expor suas criatividades e suas inteligências
emocionais pelo humor, pode trazer interessantes respostas de participação,
envolvimento, auto-conhecimento e auto-motivação, a partir da compreensão de seus
próprios sentimentos e da graça de suas próprias vivências reconhecidas ao serem
lembradas.
De um modo geral, as micronarrativas, ao afetar pela emoção, pela
subjetividade, no campo da comunicação interna, elas possivelmente darão visibilidade
à diversas ações como: a possibilidade dos funcionários em expressar suas experiências
em relação à organização; confirmar as experiências e significados compartilhados entre
membros da mesma organização; realizar treinamentos, orientando e socializando novos
funcionários; desenvolver, aperfeiçoar e renovar o senso de propósito dos funcionários
da organização, entendendo suas ambições, desejos e razões por trabalhar ali; preparar
um grupo para a realização de planejamentos, segundo suas ideias e para a realização de
planos de aplicação e tomada de decisão em consonância com os propósitos
compartilhados; e proporcionar um espaço para co-criar visão e estratégia
organizacionais, de acordo com os pensamentos dos funcionários (COGO, 2012a,
p.127).
Sendo assim, pretende-se analisar no capítulo referente à pesquisa empírica deste
trabalho (procedimentos metodológicos) se as micronarrativas podem ser utilizadas de
forma estratégica pelas organizações, sobretudo ao que diz respeito a comunicação
interna, uma vez que através de projetos em que se proporcione o narrar e o escutar
histórias, pode-se levar a reumanização, a partir das manifestações dos sentimentos e
das subjetividades para um ambiente que ainda é muito técnico, objetivo e racional.
97

5. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

“É do ordinário que se faz o extraordinário”

(Heráclito6)

Neste capítulo desenvolve-se, por meio de procedimentos metodológicos, uma


pesquisa empírica, a fim de se complementar o estudo teórico realizado nos capítulos
anteriores. O objetivo principal desta pesquisa empírica é verificar se os funcionários,
“pessoas comuns”, vivendo seus cotidianos de trabalho nas organizações,
independentemente de suas posições, cargos, idades ou sexo, expõem – ou não – suas
emoções, seus sentimentos de pertencimento e de reconhecimento de si próprios, os
valores mitológicos da organização e seus próprios valores, seus atos heróicos, a
disseminação de seus conhecimentos e suas identificações em relação às organizações
(sejam elas positivas ou negativas), ao narrarem suas experiências e suas memórias em
relação ao mundo organizacional.
Com isso, esta pesquisa busca compreender a força e a riqueza de informações
que podem existir nos relatos das pequenas partes que compõem a organização – nas
micronarrativas – de forma que, ao descrever, esclarecer e entender o conteúdo exposto
em tais narrativas, passa a ser possível refletir como a comunicação interna pode
trabalhar de maneira mais efetiva para gerar envolvimento, reconhecimento,
identificação, compreensão e ação de seus funcionários.
O que mais instiga para a realização desta pesquisa é refletir sobre as histórias
simples do cotidiano, que, de fatos em fatos, mínimos, expressam aquelas pequenas
emoções vividas pelos integrantes de uma organização, as quais, por muitas vezes, por
toda a pressa no devagar dos dias, parecem ser perdidas, parecem ser ordinárias. Mas,
através desta pesquisa, pretende-se desvendar que a pequenez, os detalhes, o quase-
nada, aqueles momentos raros que aparentemente são banais e esquecíveis – podem ser,
de repente, aquilo de mais valioso que uma pessoa pode possuir, e estes momentos, ao
serem expostos e analisados, podem se tornar o mais extraordinário e precioso para se
refletir em uma comunicação interna eficaz.

6
Filósofo pré-socrático, nascido por volta de 540 a.C.
98

5.1. Enfoque da pesquisa

A pesquisa será de natureza descritiva, com o objetivo de “descobrir, com a


precisão possível, a freqüência com que um fenômeno ocorre, sua relação e conexão,
com os outros, sua natureza e características, correlacionando fatos ou fenômenos sem
manipulá-los” (CERVO; BERVIAN, 1996, p. 49).
Por isso, o estudo será qualitativo, baseado em entrevistas – micronarrativas em
formato storytelling (depoimentos de vida) – de funcionários sorteados entre 8
diferentes organizações, independentemente de sua idade, sexo, cargo ou atividades
atuais.
Com isso, pretende-se observar e descrever, principalmente, o fenômeno de que
não importa o tipo de trabalho desenvolvido por aquele funcionário, ao contar suas
histórias pessoais de vida em relação ao seu cotidiano no mundo organizacional,
questões ligadas ao que aqui classificamos na teoria como potenciais para se trabalhar
para uma comunicação interna eficaz como: emoções, subjetividades, humor,
mitologias, atos heróicos, reconhecimento de si e da organização, sentimento de
pertencimento, disseminação de seu conhecimento, valorização de suas memórias e,
porque não, suas vulnerabilidades, aparecem em suas narrativas, como algo
significativo e que merece a atenção de um comunicador organizacional.
Segundo os novos contextos aqui estudados, em que se valoriza o
individualismo, em que o “micro” ganha força, e em que os sujeitos sentem necessidade
de desvendar seus propósitos de vida, suas ações e de serem valorizados e reconhecidos
por aquilo que fazem, é preciso refletir que todas as pessoas que fazem parte do mundo
organizacional podem ter histórias significativas, para si próprios, e, consequentemente,
significativas para a organização.
Para analisar a existência ou não desses fenômenos e observar suas frequências,
os dados serão tratados através da análise de conteúdo de Bardin (2011), a partir da
compreensão do conteúdo exposto através de micronarrativas organizacionais de
diferentes perfis de funcionários e ex-funcionários, a fim de observar, descrever,
classificar e interpretar a realidade sobre a existência ou não dessas questões,
organizadas em categorias criadas a partir das considerações abordadas neste trabalho
sobre os apectos coletados na teoria que definem a efetividade do desenvolvimento da
comunicação interna.
99

5.2. Metodologia de pesquisa

A fim de evitar a parcialidade dos pesquisadores, adotam-se determinados


procedimentos metodológicos, para explicar e justificar todos os passos e as escolhas
realizadas com relação à pesquisa. Para sintetizar e facilitar o entendimento sobre as
opções utilizadas para a concepção desta pesquisa, foi montado o quadro a seguir, o
qual será detalhado nesta seção:

Figura 1 – Opções metodológicas adotadas na pesquisa


Fonte: elaborado pelo autor

5.2.1. Tipo de estudo

Segundo Selltiz el al (1975, p. 60), o tipo de estudo de pesquisa pode ser


dividido em três classificações: exploratório, descritivo e de causalidade.
Utiliza-se o tipo exploratório quando pouco se conhece ainda sobre o fenômeno
a ser analisado, com questionamentos extensivos no início da pesquisa, até o
pesquisador se familiarizar com o fenômeno e compreendê-lo melhor, para a
diversificação das problemáticas a fim de se identificar hipóteses que podem ser
desenvolvidas em pesquisas futuras.
100

Para os autores, o tipo de estudo descritivo é usado quando o pesquisador


pretende descrever fenômenos (de uma situação, de um grupo ou de indivíduos) e
verificar com qual frequência eles ocorrem em determinado contexto ou tempo. Já o
tipo de causalidade é utilizado para verificar a relação de causa entre variáveis, de
acordo com as hipóteses da pesquisa (SELLTIZ et al, 1975).
Segundo esses conceitos, o tipo de estudo realizado nesta pesquisa será o
descritivo, uma vez que se buscará compreender, a partir da descrição de depoimentos
de vida de funcionários, a frequência em que aparecem os fenômenos considerados
efetivos para os processos de comunicação nos contextos atuais, segundo as categorias
criadas de acordo com a teoria estudada.

5.2.2. Método de pesquisa

Há dois métodos de pesquisa aplicáveis: o quantitativo ou o qualitativo. O


quantitativo, segundo Michael (2009, p. 37), “parte do princípio de que tudo pode ser
quantificável”, ou seja, toda informação pode ser traduzida em números e submetidos à
análises estatísticas para então gerar um número como resultado do objetivo a que se
pretende desvendar com a pesquisa. Para Duarte e Barros (2008), o procedimento
quantitativo é por muitas vezes menos valorizado em estudos de ciências sociais, por
seu caráter reducionista, traduzindo os fenômenos em características mensuráveis.
Nas ciências sociais e humanas, onde se encontra o campo da comunicação, que,
no caso desta pesquisa, é a luz guia dos conhecimentos experimentados, o método
qualitativo é na maioria das vezes considerado, já que este procedimento interpreta os
fenômenos de acordo com o contexto em que ocorrem, analisando dados de maneira
detalhada, conceituando “que há relação dinâmica, particular, contextual e temopral
entre o pesquisador e o objeto de estudo” (MICHAEL, 2009, p. 36).
Godoy (1995, p.58) afirma que a pesquisa qualitativa, diferente da quantitativa,
“não procura enumerar e/ou medir os eventos estudados, nem emprega instrumental
estatístico na análise de dados”. Isso porque, a pesquisa qualitativa, para gerar
credibilidade, exige flexibilidade e criatividade (GOLDENBERG, 1999), já que é um
tipo de pesquisa que considera aspectos da ordem da subjetividade e do socialmente
construído. Parte de questões ou focos de interesse amplos, que vão se definindo à
medida que o estudo se desenvolve. Isso significa que o método qualitativo não permite
considerações conclusivas sobre a população (SELLTIZ et al, 1975), uma vez que está
101

mais preocupada com o processo do que com a estrutura, com o significado do que com
a frequência e mais interessado com a densidade do que com a generalização (VAN
MAANEN, 1979).
Poupart (2008) faz o levantamento de algumas utilizações e suas justificativas
dadas pelos pesquisadores que recorrem à metodologia qualitativa, tais quais: 1) é
utilizada para analisar as realidades sociais segundo a perspectiva dos atores sociais,
sendo considerada indispensável para a compreensão das condutas sociais; 2) muito
usada para denunciar preconceitos e práticas discriminatórias, uma vez que possibilita a
compreensão de dilemas e questões enfrentadas pelos atores sociais; 3) e, por ser uma
ferramenta de informação sobre as entidades sociais, é uma metolodologia capaz de
elucidar as realidades sociais, mas, principalmente, explorar as experiências dos atores
sociais.
Sendo assim, por se tratar de uma pesquisa do campo da comunicação, em que
se visa compreender e analisar sobretudo fenômenos de ordem subjetiva, interpretando a
ocorrência de fenômenos, segundo os novos contextos em que ocorrem, analisando as
realidades sociais e as experiências dos funcionários dentro destas realidades, será a
melhor opção o metódo qualitativo de pesquisa.

5.2.3. Estratégia de coleta de dados

De acordo com Selltiz et al (1975), há diversas técnicas para serem aplicadas


como forma de investigação em pesquisas. Para as pesquisas da área de humanas,
destacam-se principalmente quatro tipos de estratégias de coleta de dados: o
questionário, o método projetivo, a observação e a entrevista.
O questionário, segundo Gil (1999, p.128), pode ser definido como a técnica de
investigação “composta por um número mais ou menos elevado de questões
apresentadas por escrito às pessoas, tendo por objetivo o conhecimento de opiniões,
crenças, sentimentos, interesses, expectativas, situações vivenciadas etc.”
Esta técnica por questionário apresenta para o autor algumas vantagens e
desvantagens. Por um lado, servem para coletar dados de grande número de pessoas,
mesmo que estejam em diferentes áreas geográficas e podem ser respondidas no
anonimato, não expondo os pesquisadores à influência das opiniões e aspectos dos
respondentes. Porém, por outro lado, pode excluir as pessoas que não sabem ler ou
alguns respondentes podem não entender ou interpretar erroneamente algumas das
102

perguntas, afetando o resultado final da pesquisa. Além disso, os questionários não


podem ser muito extensos, pois se assim forem, terão alta probabilidade de não serem
respondidos (GIL, 1999, p. 128-129).
O método projetivo é um instrumento de coleta de dados centrado em técnicas
que se utilizam de recursos visuais, pelos os quais o entrevistador pode mostrar imagens
como: cartões, fotos ou filmes ao respondente, a fim de que este faça associações para
responder as perguntas do pesquisador. Esta técnica de coleta evita respostas diretas e é
utilizada para aprofundar informações sobre determinado grupo ou local
(HONNIGMANN, 1954 apud MINAYO, 1993).
Segundo Selltiz et al (1975), este método se aplica quando se deseja investigar
aspectos ligados às questões da personalidade e a mensuração requer diferentes tipos de
respostas como: julgamentos de objetos, atitudes, percepções, comportamentos e
reflexões fisiológicas.
Ao contrário do método projetivo, a técnica de observação, segundo Selltiz et al
(1975, p. 265) não é eficiente quando a pesquisa tem por objetivo “as percepções,
sentimentos, crenças, motivações, previsões ou planos da pessoa”, uma vez que se trata
de um método que serve a um objetivo pré-estabelecido de pesquisa e, por isso, é
sistematicamente planejado e registrado, submetendo os dados a verificações e controles
de validade e precisão.
Por fim, a técnica da entrevista, que será utilizada na pesquisa empírica deste
trabalho, é a mais adequada para a “revelação de informação sobre assuntos complexos,
emocionalmente carregados ou para verificar sentimentos subjacentes a determinada
opinião apresentada” (SELLTIZ et al, 1975, p. 272).
Mattos; Godoi e Bandeira de Melo (2006) afirmam que o método de entrevista é
eficiente em casos de pesquisas voltadas para o desenvolvimento de conceitos, para o
esclarecimento de situações, atitudes e comportamentos, ou para o enriquecimento do
significado humano. Para os autores, estas características possuem extensões poderosas
na geração de teorias e decisões práticas, não se confundindo com a generalização
indutiva, propiciada pela estatística.
Segundo Michel (2009), assim como os outros métodos, a entrevista apresenta
vantagens e desvantagens. Elas podem ser utilizadas em todos os segmentos da
população, avaliando atitudes, condutas, registros de reações e gestos, mas, podem
esbarrar em indisponibilidades por parte dos entrevistados ou ser interpretadas
equivocadamente pelo pesquisador.
103

Por se tratar de uma pesquisa qualitativa que visará descrever as ocorrências


significativas apresentadas através de histórias contadas – micronarrativas - o melhor
método de coleta de dados será através de entrevistas realizadas com funcionários de
diferentes organizações, a fim de que se revelem conceitos, significados,
esclarecimentos e comportamentos, ou seja, fenômenos potenciais para a geração de
teorias e decisões práticas, a serem refletidas pela comunicação interna.
Porém, em pesquisas qualitativas, existem diferentes métodos de entrevista.
Segundo Duarte (2008), podemos destacar os seguintes tipos de entrevista a respeito de
pesquisas qualitativas: aberta (com questões não estuturadas, que seguem uma questão
central) e semiaberta (com questões semiestruturadas, que seguem um roteiro de
perguntas). Mattos; Godoi e Bandeira de Melo (2006, p. 304) apontam que a entrevista
baseada num roteiro é caracterizada como semiestruturada por conferir ao entrevistador
flexibilidade para ordenar e formular perguntas durante a entrevista, de acordo com as
respostas fornecidas pelo entrevistado.
Esta pesquisa empírica se utilizará de entrevistas semiestruturadas realizadas
com integrantes de organizações que aceitaram dar seus depoimentos para projetos de
memória institucional, os quais foram realizados pelo Museu da Pessoa (como será visto
adiante). Os depoimentos, coletados por um entrevistador qualificado que se utilizava
de um roteiro-guia com tópicos relevantes para cada questão, de maneira mais livre e
aberta, podia efetuar alterações neste roteiro com novas perguntas ou exclusão de
outras. Sendo assim, neste caso, tem-se para esta pesquisa como coleta de dados a
estratégia de entrevista em relação à história de vida de funcionários, sendo que o
entrevistador constantemente podia interagir com o respondente.
Para Minayo (1993), a principal função dos depoimentos de vida é retratar as
experiências vivenciadas por pessoas, grupos ou organizações. Para ela, existem dois
diferentes tipos de retratar as experiências de vida pelo método da entrevista: a
completa, que retrata todo o conjunto da experiência vivida e a tópica, que focaliza uma
etapa ou um determinado setor da experiência em questão.
Segundo a autora, a história de vida tem como questão principal permitir que o
entrevistado retome sua vivência de forma retrospectiva, além de refletir uma dimensão
coletiva, a partir de uma visão individual. Ela afirma que, por muitas vezes, durante a
entrevista acontece a liberação de pensamentos reprimidos que chegam ao entrevistador
em tom de confidência, com intimidade e veracidade. Por isso, esses relatos fornecem
um material extremamente rico para análise em questão.
104

5.2.4. Operacionalização da coleta de dados

A presente pesquisa está baseada em dados secundários, coletados para projetos


de cunho de memória institucional, realizados entre os anos 2000 e 2013, pelo Museu
da Pessoa.
O Museu da Pessoa é uma organização da sociedade civil que presta serviços
registrando, preservando e transformando em informações as histórias de vida de
pessoas da sociedade (anônimas ou célebres). Toda captação das informações é feita
internamente, assim como a organização e edição dos conteúdos que são disseminados
em forma de publicações, programas de rádio e de televisão, exposições, ou até mesmo
no portal da organização: www.museudapessoa.net.
Por conta disso, iremos utilizar dados secundários, ou seja, dados obtidos a partir
de entrevistas já realizadas pelo Museu da Pessoa. Para Selltiz et al (1975, p. 372-373),
apesar de comunicações de massa como jornais, revistas, filmes, programas de rádio e
de televisão serem criados para entretenimentos, eles “permitem que o pesquisador lide
com o passado histórico bem como com a sociedade atual”.
O acervo do Museu da Pessoa é disponibilizado para consultas e todo o conteúdo
necessário para a realização de pesquisas é autorizado pelos entrevistados e pode ser
fornecido pela equipe interna responsável pelo atendimento aos profissionais,
pesquisadores e acadêmicos.

5.2.5. As entrevistas

As entrevistas realizadas pelo Museu da Pessoa fazem parte de um projeto de


memória oral. Cada projeto de história de vida pode focar diferentes objetivos, temas,
ações ou produtos, sejam eles projetos pessoais ou projetos institucionais,
encomendados por organizações. Para este trabalho, serão sorteados apenas
depoimentos de vida de projetos institucionais, cuja finalidade principal foi a coleta, em
formato audiovisual, de depoimentos de funcionários e de ex-funcionários em relação à
sua vida pessoal e profissional para o registro da memória da organização contrante.
Todos os depoimentos destes projetos seguem um modelo de roteiro produzido
pelo próprio Museu da Pessoa que conta com três partes principais, sengundo Worcman
e Pereira (2006, p.219): introdução (origem da pessoa, origem do nome, pais, infância);
desenvolvimento (fases e acontecimentos da sua trajetória, incluindo neste ponto
105

perguntas sobre o tema específico do projeto institucional, como por exemplo, como o
funcionário entrou naquela organização contratante, que histórias ele vivenciou ali,
quem ele conheceu neste ambiente) e finalização (momento em que se avalia o presente
e se faz uma ponte para o futuro, os sonhos, medos, mudanças que gostaria de realizar e
avaliação sobre a experiência em contar a sua própria história de vida).
Apesar de seguir esse modelo, e de todos os depoimentos possuirem estas três
partes, o roteiro não é um questionário rígido, ele é um guia que ajuda o entrevistado a
selecionar e organizar sua narração em tópicos principais, por isso, chamado de
entrevista semiestruturada. O registro da narrativa é articulado pelo entrevistador
qualificado, que pode auxiliar o entrevistado na organização de suas lembranças,
acrescentando, tirando ou reformulando algumas das perguntas durante a entrevista, de
acordo com o ritmo e o jeito de contar a história que o entrevistado possui.
Como dependem do entrevistado e de seu ritmo, cada gravação audiovisual das
narrativas possui um tempo diferente de duração, e, consequentemente, os tamanhos das
transcrições, feitas todas também pelo Museu da Pessoa, são diferentes em cada
entrevista. Porém, uma vez que o material analisado se refere ao conteúdo e não a sua
quantidade, isso não infuenciará nos resultados aos quais se pretende analisar nesta
pesquisa. É importante esclarecer também que o conteúdo escolhido a ser analisado será
diretamente o material já transcrito, assim como é indicada a realização pela
metodologia escolhida para a análise de conteúdo.

5.2.6. Definição da população e da amostra

Fundado em 1991, em São Paulo, o Museu da Pessoa conta hoje em seu acervo
com mais de 15 mil histórias de vida e 72 mil documentos e fotos digitalizados, de
acordo com projetos e programas nas áreas de educação, comunicação,
desenvolvimento comunitário e memória institucional.
Para esta pesquisa, serão contemplados os projetos realizados apenas sobre o
programa memória institucional, uma vez que aí se encontram os projetos
organizacionais, em suas mais variadas finalidades, ou seja, são projetos em que
organizações contrataram o Museu da Pessoa para a coleta de depoimentos de pessoas
que fizeram ou ainda fazem parte da história da organização.
Sendo assim, do universo de 142 projetos já realizados pelo Museu da Pessoa
para o programa de memória institucional, desde a sua fundação até 2013, foram
106

selecionados inicialmente apenas aqueles que possuiam depoimentos de funcionários


coletados entre os anos 2000 e 2013, resultando em um universo de 8 projetos, de
diferentes organizações. De cada projeto foi sorteado um depoimento de vida de um
funcionário da organização contratante do projeto, resultando uma amostra de 8
depoimentos de vida.

5.2.7. Seleção dos entrevistados e caracterização da amostra

Por terem sido sorteados os depoimentos já realizados pelo Museu da Pessoa, a


caracterização da amostra corresponde a uma seleção probabilística, ou seja, todos os
depoimentos gravados sobre a finalidade de registro de memória pessoal e profissional
das 8 organizações contratantes de projetos institucionais realizados entre os anos de
2000 e 2013, poderiam ser igualmente selecionados para a análise. O responsável pelo
acervo e pelo atendimento aos pesquisadores do Museu da Pessoa, Lucas F. Lara,
sorteou uma narrativa de cada projeto e enviou para a pesquisadora, resultando em 8
entrevistas já transcritas, a serem analisadas. Por serem muito extensas, as transcrições
foram arquivadas em mídia eletrônica e podem ser consultadas em: “Anexo A:
Transcrições das entrevistas analisadas”, na página 189.
Como todas as narrativas dos funcionários têm uma mesma possibilidade de
fazer parte da amostra, isso representa uma redução sobre a imparcialidade da
pesquisadora na escolha dos depoimentos de vida e o enviezamento dos resultados, uma
vez que a finalidade do estudo é observar e descrever a existência ou não dos elementos
considerados correspondentes à efetividade das narrativas, independentemente da
pessoa entrevistada, da sua empresa, do seu setor, do seu cargo, da sua atividade
presente, do seu sexo ou de sua idade.
Abaixo segue o quadro com nome, idade, empresa, atuações, setor, nome do
projeto e ano da entrevista das 8 micronarrativas sorteadas, em ordem alfabética dos
nomes dos entrevistados:
107

Tabela 1- Entrevistados sorteados

Ano da
Nome Idade Empresa Atuações Setor Projeto
entrevista

Ana
Cândida Memória
Coordenadora Celulose e
de 42 Votorantim Votorantim 2007
de marketing Papel
Campos Cimentos
Machado

Attílio
Concursado BNDES 50
Geraldo 84 BNDES Financeiro 2002
(aposentado) anos
Vivacqua
Clarindo Aracruz Trabalhos Celulose e Memória
68 2005
Giacomin Celulose pontuais Papel Aracruz
Diretor de
50 Anos de
Cláudio projetos do
69 Volkswagem Automotivo Volkswagen 2002
Menta carro Gol
do Brasil
(aposentado)
Memória,
Identidade e
Eduardo Pão de Gerente de
47 Alimentício Cultura do 2003
Romero Açúcar marketing
Pão de
Açúcar
José
Fiscal de Memória da
Roberto 47 Petrobras Energia 2005
Controle Petrobras
Moreira
Serviço de
Morgana Psicóloga Psicologia
38 InCor Saúde 2000
Masetti concursada InCor 25
anos
Patrícia Memória das
Bueno 31 Natura Promotora Comésticos comunidades 2006
Vieira Natura

5.2.8. Técnica de análise de dados

Para Duarte (2008, p. 78), “analisar implica separar o todo em partes e examinar
a natureza, funções e relações de cada uma”. A análise dos dados secundários, obtidos
pelas entrevistas realizadas pelo Museu da Pessoa será feita pela técnica de análise de
108

conteúdo, que, segundo Bardin (2011), classifica-se em: avaliação, enunciação,


expressão e categorial.
A avaliação diz respeito a análise de atitudes, direção e intensidade de opiniões.
Para este método, desmembra-se o texto em unidades de significação e é analisada a
presença ou ausência de temas, apenas sobre as partes do texto que denotam atitudes,
desconsiderando o restante.
A análise de conteúdo classificada enunciação utiliza entrevistas longas e
abertas, desprezando os aspectos formais da linguagem, acreditando na comunicação
como um processo e não como um dado.
A análise de expressão utiliza-se de indicadores de ordem formal (plano dos
significantes e sua organização) e linguística (semântica), geralmente utilizada para
investigar a autenticidade de documentos.
Já a análise categorial, que é a técnica de análise de conteúdo mais antiga e mais
usada, e a escolhida para a análise dos conteúdos dos depoimentos de funcionários
utilizados para este trabalho, diz respeito a análise temática, sendo geralmente
descritiva, dividindo e organizando o conteúdo em categorias, as quais a autora chama
de “rubricas ou classes” (BARDIN, 2011, p. 117).
A organização por categorias (estruturas analíticas construídas pelo pesquisador)
deve reunir em grupos os elementos semelhantes extraídos do conteúdo sob títulos
genéricos - autônomos, porém inter-relacionados - de forma que as informações a partir
de determinado critério, estabeleçam e organizem “grupos de temas comuns, como que
as agrupando em ‘caixas’ separadas para se dedicar individual e profundamente a cada
uma” (DUARTE, 2008, p. 78-79).
Porém, as categorias criadas pelo pesquisador necessitam apresentar algumas
qualidades para serem consideradas “boas categorias” (BARDIN, 2011), a fim de
atingir os melhores resultados da análise: (a) homogeneidade, ou seja, a categoria deve
ser derivada de um único princípio de classificação; (b) ser exaustiva, sendo possível
colocar qualquer resposta em uma das categorias, sendo pertinente ao material de
análise; (c) as categorias devem ser mutuamente exclusivas; não deve ser possível
colocar determinada resposta em mais de uma categoria.
Ainda para a autora (BARDIN, 2011, p.126), a análise de conteúdo pode ser
conduzida em três fases: pré-análise (de organização, com a transcrição das entrevistas e
sistematização das ideias), exploração do material (de acordo com as categorizações,
109

dividindo o conteúdo e organizando-o sobre as categorias) e, por fim, a fase de


tratamento dos resultados, a inferência e a interpretação dos resultados.

5.2.9. Categorias de análise

As 10 categorias para a análise do conteúdo foram criadas, identificadas e


consideradas a partir da extensa revisão bibliográfica empreendida neste trabalho sobre
os novos contextos, a conceituação do paradigma narrativo e a necessidade de se
repensar a comunicação interna.
Sendo assim, para este estudo, buscando descrever e analisar se os conteúdos
narrados pelos funcionários de uma organização de fato apresentam características que
podem ser consideradas efetivas para auxiliar o processo de comunicação interna nos
novos contextos, foram construídas as seguintes categorias:

1) A externalização de sentimentos: Segundo Kunsch (2003, p 159), “o indivíduo,


antes de ser um empregado, é um ser humano, um cidadão que merece ser respeitado e
considerado”. Como ser humano, é impossível desassociar os aspectos emocionais e os
sentimentos dos funcionários de suas vidas no mundo organizacional. Os sentimentos e
as afetividades demonstram aspectos que influenciaram e que influenciam as suas
atuações, envolvimentos e motivações, e, por isso, é um importante aspecto a ser
considerado pela comunicação interna. Assim, esta categoria visa descrever a presença
de afetividade na fala dos entrevistados, seja ela positiva ou negativa. Essa
externalização pode ser identificada por risos, choros, uma pausa profunda, momentos
que inspiram uma reflexão, interjeições, afirmações como “eu senti”, “eu vivi
intesamente” e por expressões de intensidade, de entusiasmo, de alegria, tristeza, medo,
recusa ou aceite sobre uma lembrança narrada.

2) A manifestação das subjetividades: Para Baldissera (2009, p.73), para que ocorra a
humanização das organizações e a valorização de seus funcionários, contra
comunicações meramente informacionais, massivas, excessivas e racionais, é
fundamental que se possibilitem e/ou fomentem as manifestações das subjetividades dos
integrantes da organização, de forma que através delas, pode-se aprender, criar e inovar
seus processos, de maneira mais coerente entre os objetivos da organização e dos
sujeitos que a constituem. Ou seja, através dessas manifestações e da sensibilidade do
110

comunicador organizacional, é possível perceber competências, qualidades e ideias que


podem ser utilizadas para repensar os processos da organização, valorizando as
subjetividades de seus integrantes. Por isso, esta categoria sugere as revelações do
consciente e do inconsciente humano dos funcionários, demonstrando uma percepção
individual sobre uma experiência de vida pela qual se passou ou que se pretende passar,
pontos em que a comunicação interna pode se apoiar para compreender o seu público
interno individualmente e pensar sobre seus passos futuros. Essas manifestações podem
ser identicadas quando os entrevistados falam de sonhos, projeções, ambições,
intuições, desejos, gostos, vontades, segredos, crenças, incertezas e opiniões. Momento
em que os entrevistados demonstram ter liberado sua capacidade de criar e de reinventar
o mundo, de ter fantasias aceitas e exercidas, explorando seus limites e sua imaginação
(PEREIRA: VEIGA; RAPOSO; FUKS; DAVID; FILIPPO, 2009, p.101).

3) O humor: Na Era Conceitual, segundo Pink (2007, p.181), liberar as tristezas das
organizações na era da abundância e dos novos contextos tornou-se não só mais comum
mas também mais necessário, representando qualidade de vida, motivação e
envolvimento, além de contribuir para uma melhoria no clima organizacional. Isso
porque, através do humor, é possível gerar sensações de bem-estar, alívio e leveza,
sensações estas necessárias para lidar com pressões, competições e estresses em um
contexto de velocidades, efemeridades, racionalidades e metas lucrativas. Esta categoria
visa observar a presença do humor nas micronarrativas contadas pelos funcionários, de
forma que eles possam extravassar sua criatividade, por manifestações irônicas, com
carisma, às vezes sutis, às vezes explícitas. O humor também pode ser percebido pela
utilização de linguagem metafórica e palavras no diminutivo. A sua presença é
observada e identificada também pela narração de fatos engraçados, estranhos,
normalmente seguidos de risos.

4) A presença mitológica: Para Núñez (2009, p.28) mitos são “histórias sagradas,
exemplares e significativas que têm dado sentido à existência do homem desde o
princípio dos tempos, porque fornecem modelos de conduta e conferem significado à
existência”. Quando aplica-se este conceito do ponto de vista da comunicação interna,
trata-se da compreensão das histórias de vida como exemplares e significativas, dando
ao homem a oportunidade de descobrir suas origens e seus propósitos de vida, incluindo
seu propósito profissional, como o ato espiritual (ELIADE, 2010), elevando o
111

funcionário a um status mais elevado de sua existência. Segundo Castro (2000, online),
as histórias individuais estão presentes nas organizações com narrativas que “se somam
à própria história que determinou a criação da empresa, conferindo-lhe veracidade e
conduzindo toda uma forma de atuação”. Essa categoria seleciona, além destas
características sobre origens, as figuras mitológicas do mundo organizacional como
exemplares, construidoras de legados e de histórias, além de aspectos em que o
entrevistado atribui significados humanizadores ao que não é humano, como a própria
organização, a ser considerada não apenas como um pólo econômico, mas também
como personagem histórica e como agente social de tranformação. Além disso, as
descrições de aspectos universais e de rituais organizacionais como: reuniões,
admissões, demissões, festas, promoções, renovações, concursos, tradições e momentos
de transcedência, tranformação e magia também são contabilizados como pertencentes à
esta categoria.

5) Heroísmo: Para Campbell (1997), os heróis e os feitos do mito mantém-se vivos,


uma vez que “na ausência de uma efetiva mitologia geral, cada um de nós tem seu
próprio panteão do sonho — privado, não reconhecido, rudimentar e, não obstante,
secretamente vigoroso” (CAMPBELL, 1997, p. 6), o particular que precisa ser
trabalhado sobre aquilo que é significantemente compreensível culturalmente. As
pessoas necessitam de heróis. Os grandes heróis do passado não são mais referência.
Eles fazem parte da modernidade, em que havia narrativas que consolidavam uma
esperança de futuro. Na pós-modernidade, não é mais o futuro que importa e sim o
presente, não é mais a ilusão de uma fantasia, é o real e o possível do instante vivido.
Heroínas são as pessoas que lutam, enfrentam desafios e continuam a sobreviver neste
mundo. Dessa maneira, o que há de estratégico na comunicação interna, nestes novos
contextos, é a transformação do “indivíduo comum”, integrante da organização, em
herói da vida cotidiana, das suas ações no dia a dia no trabalho, que está de acordo com
o novo sentir do homem moderno, que necessita ter sua individualidade reconhecida.
Esta categoria visa descobrir as descrições de algumas das etapas da Jornada do Herói
de Campbell (1997), pasando pelas três fases pricipais que todo herói passa - a partida, a
iniciação e o retorno - verificando etapas importantes tais como: saída do mundo
comum, com o chamado para a aventura, a presença da ajuda de algo ou de alguém, o
caminho das provas com a presença de dificuldades, as superações destes desafios
enfrentados pelos entrevistados em suas jornadas de vida profissional, a apoteose, como
112

um momento em que eles se descrevam como detentores de algum poder ou como um


exemplo para outras pessoas, devido suas ações desenvolvidas e, por fim, os seus
retornos, sejam eles em relação à sociedade, à sua família ou até mesmo para a
organização.

6) A valorização da memória: O que se busca na memória ao se narrar lembranças


pessoais não são apenas fatos passados, mas aquilo que, “ao passarem pelos sentidos,
gravaram na alma”, assim reflete, como já citado, Santo Agostinho (2001, p.303).
Apenas experiências que foram realmente marcantes e significativas ficam na memória.
Essas lembranças são valorizadas pelas pessoas que as guardam e, por isso, são
importantes questões a serem interpretadas pela comunicação interna. Por isso, nesta
categoria são observadas as experiências individuais, vivências interpretativas,
lembranças de detalhes, registros temporais, memórias sociais e históricas, as primeiras
recordações e as matrizes culturais, importantes para a compreensão do indivíduo em
seu contexto e suas realizações marcantes, resultando uma história humana, inédita e
pautada por experiências individuais, organizacionais e sociais.

7) Reconhecimento: Segundo Beck (2010), em contextos que refletem uma sociedade


individualizada, o sujeito precisa aprender a reconhecer-se a si mesmo como foco da
ação. Seguindo esta direção, para Caldas e Silva (2010), cada vez mais a comunicação
interna precisa reconhecer as pessoas e investir em seu desenvolvimento humano,
também para um melhor desempenho grupal no trabalho. Por isso, esta categoria
observa a presença da demonstração de orgulho dos entrevistados sobre suas próprias
atitudes e a constatação do reconhecimento em relação às suas ações no trabalho. São
momentos em que o entrevistado faz um diagnóstico sobre as suas realizações pessoais,
profissionais e suas conquistas, demonstrando-se motivado, reconhecendo tanto os
sucessos pessoais como os da própria organização, além de contar sobre o
reconhecimento vindo por vezes de sua família. Indicam uma reafirmação da descoberta
do seu valor próprio e da sua identidade pessoal.

8) Sentimento de pertencimento: Ao colher e selecionar memórias, através das


narrativas individuais e significativas, as quais reforçam os aspectos dialógicos da
história oral, pode-se somá-las com as simbologias necessárias para que os integrantes
da organização compreendam-se como partícipes dessas narrativas, reconhecendo-se
113

como pertencentes e importantes para a história da organização, ou seja, pertencentes a


macronarrativa organizacional, como colocado por Nassar (2012). Criar o sentimento de
pertencimento para a comunicação interna pode parecer um grande desafio em tempos
de individualização, mas, escutar o que os próprios funcionários tem a dizer sobre tais
sentimentos, para então analisar estes conteúdos, parece um caminho possível e acertivo
para se pensar ações mais adequadas à realidade da organização. Assim, esta categoria
abrange as citações dos entrevistados sobre a empatia em relação à trajetória da
empresa, demonstrações de afeto pelo trabalho, além da participação em parcerias, a
presença de vínculos com colegas, fornecedores, ou chefes, sentimentos de integração,
de ter participado de um projeto, de um processo ou de um grupo. Pode também ser
identificada pela confissão de ter sofrido uma mudança de atitude pessoal por causa da
organização, por conhecer e se identificar com seus valores, sua missão e sua visão,
além de comentários sobre o clima organizacional, o ambiente de trabalho e suas
relações, sejam elas percebidas como boas ou ruins.

9) Disseminação do conhecimento: Segundo Gabriel (2008, online), há diferentes usos


possíveis para ações de storytelling nas organizações. Quando se trata de
micronarrativas, um importante uso é a disseminação do conhecimento, o qual pode ser
utilizada para que futuros integrantes da organização aprendam com o passado e/ou
repensem os passos futuros. Esta categoria traz as identificações através de explicações
sobre tendências de épocas passadas e atuais, soluções de problemas enfrentados,
palavras técnicas utilizadas pela área de trabalho do entrevistado, conhecimentos sobre
conceitos, transmissão de sabedorias e explicações de um processo ou de um projeto
desenvolvido.

10) Vulnerabilidades: Matos (2010, p. 109), diz que “não há história verdadeira sem
equívocos, vulnerabilidades, superações, fragilidades. Nenhuma história que valha a
pena ser contada é feita apenas de sucessos”. Geralmente são pontos da narrativa que
marcaram os entrevistados e que podem demonstrar força, superação, transparência e
credibilidade em suas falas. Esta categoria compreende fatos da narração sobre pontos
da história de vida que não deram certo, saídas de um emprego, preconceitos sofridos,
confusões e caos, pontos que não se lembra ou que não se quer lembrar por alguma
razão, aspectos que ainda não se atingiu o esperado e a descrição de algo que não se
tinha ou não se tem conhecimento para tomar uma atitude.
114

5.2.10. Esquema da pesquisa

Esta pesquisa procura compreender, analisar e interpretar os conteúdos coletados


dos relatos autobiográficos de funcionários e de ex-funcionários de diferentes
organizações. O esquema abaixo organiza e esclarece os pensamentos sobre o processo
de pesquisa a ser utilizado, citando as suas várias etapas até o agrupamento dos
conteúdos selecionados nas categorias criadas a partir do levantamento bibliográfico.

1. Leitura das transcrições dos 8 depoimentos de vida gravados e transcritos pelo


Museu da Pessoa;
2. Anotações das partes das transcrições que chamaram a atenção da pesquisadora
(expressões, frases, palavras-chave);
3. Organizações destas partes, separando-as entre os códigos de identificação
representantes de cada uma das 10 categorias criadas;
4. Contagem dos códigos de identificação mais frequentes;
5. Transferência dos códigos de identificações para a planilha Excel;
6. Agrupamento dos códigos de identificação e suas associações em cada categoria
criada.

5.3. Apresentação, análise e interpretação dos resultados

Nesta parte do trabalho serão apresentados os resultados encontrados na


pesquisa e suas respectivas análises. Para compreensão melhor dos entrevistados
sorteados, a primeira parte desta seção consiste em apresentar brevemente cada um
deles, uma vez que a ideia de ter diferentes perfis visa analisar e interpretar se,
independentemente de suas origens, cargos, idades, sexo ou atividades atuais, há a
presença das categorias que indicam a riqueza de informações individuais para se
trabalhar na comunicação interna. Na sequência, serão apresentados os resultados
obtidos após a organização dos conteúdos de todas as entrevistas distribuídos nas
categorias desenvolvidas, suas frequências e suas interpretações gerais. Por fim, será
feita a análise e a interpretação sobre a presença ou ausência de cada categoria,
relacionando-as sobre o ponto de vista da comunicação interna e suas possíveis
utilizações.
115

5.3.1. Perfil dos entrevistados

Como visto na caracterização da amostra, foi analisado um conjunto de 8


entrevistas concedidas por funcionários e ex-funcionários de organizações que
contrataram o Museu da Pessoa para a realização de projetos de cunho de memória
institucional. Os entrevistados foram sorteados pelo próprio Museu da Pessoa,
contribuindo para uma reducação sobre a imparcialidade da pesquisadora sobre os
resultados. A escolha de ser um método de amostragem probabilística possibilitou
também que fossem coletados diferentes perfis, o que será mais valioso para as
interpretações, uma vez que a proposta é identificar se, independentemente de suas
atuações em relação à organização, os elementos categorizados como importantes para a
comunicação interna são revelados em suas narrativas. Seus nomes e referências sobre
as organizações são reais. A seguir, um breve perfil de cada um, por ordem alfabética.

- Ana Cândido de Campos Machado: quando entrevistada, aos 42 anos, era mãe de
uma filha pequena e a coordenadora do programa de marketing industrial da Votorantim
Celulose e Papel, chamado “Foco no Cliente”. Paulista, publicitária com pós-graduação
em administração e marketing, trabalha na Votorantim desde os seus 29 anos, quando o
marido de uma amiga que trabalhava nesta empresa levou o seu currículo para o setor
de Recursos Humanos, que a selecionou. Antes, Ana trabalhava com tecnologia e
precisou aprender tudo sobre papel, que segundo ela, é algo milenar, mas que possui
também muita tecnologia envolvida para os seus diferentes tipos.

- Attílio Geraldo Vivacqua: engenheiro, nascido no estado do Espírito Santo, no


município de Colatina. Recebeu o mesmo nome do seu pai, pessoa importante na região
que, ao falecer, ganhou um município com o seu nome em homenagem. Trabalhou no
BNDES praticamente desde a sua fundação, entrando por nomeação primeiramente,
mas depois, foi obrigado a prestar concurso, no qual ele passou com a melhor nota em
comparação aos concorrentes. Especializou-se em um curso na França, investido pelo
próprio BNDES. Trabalhou durante 40 anos de sua vida como analista de projetos e,
após se aposentar, foi nomeado para ser o responsável pela FINAME. Quando
entrevistado tinha 84 anos.
116

- Clarindo Giacomin: descentente de italianos, nascido no município de Ibirassú, em


Espírito Santo. Seu primeiro emprego foi na roça, com plantação de café e de cereais.
Seu segundo emprego foi como marceneiro. Foram seus conhecimentos com a madeira
que o levaram a trabalhar para a Aracruz Celulose, fazendo os móveis para os
escritórios e para as fábricas. Trabalhou também por 14 anos como motorista da Câmara
Aracruz. Quando deu a entrevista estava com 68 anos, continuava trabalhando com a
fabricação de móveis e passando 90% do seu tempo livre pescando com sua esposa. Seu
filho mais velho é engenheiro na Aracruz Celulose.

- Cláudio Menta: paulista que, quando adolescente, amava filmes de ficção científica.
Esse interesse o fez escolher a profissão de engenheiro elétrico, formando-se pela escola
Politécnica da USP. Casou-se com sua esposa Lucinda por persistência, foi pai e avó.
Antes de se casar, começou a trabalhar na Vemag, a qual foi comprada pela
Volkswagen na década de 1960, onde se tornou diretor de projetos do carro Gol até se
aposentar.

- Eduardo Romero: carioca, cuja maior preocupação na adolescência era “como ia ser
o por do sol”, foi obrigado pelo pai a procurar um emprego em São Paulo, onde sua mãe
morava. O Pão de Açúcar aconteceu duas vezes em sua vida, foi seu primeiro emprego
e, depois de alguns anos de mudanças e de estar casado, voltou a trabalhar no Grupo
Pão de Açúcar, como gerente de marketing, cargo exercido até seus 47 anos, quando
entrevistado. Participou da criação e do desenvolvimento de inúmeros projetos como a
Maratona Pão de Açúcar em São Paulo, o show Paul Music, o Pão de Açúcar delivery e
o Pão de Açúcar Kids.

- José Roberto Moreira: teve uma infância bastante rural, vivendo em um sítio em
Barra Mansa, Rio de Janeiro. Fez vestibular para o IME e “passou de primeira” em
engenharia elétrica. Prestar concurso para a Petrobras foi, para ele, algo intuitivo, mas
não acreditou quando entrou. Trabalhou com a parte de planejamentos e operações até
ser fiscal do controle do fluxo de óleo de poços de petróleo, responsabilidade que tinha
aos 47 anos, ao ser entrevistado.

- Morgana Masetti: nascida em São Paulo, capital. Não se dava bem com matemática e
física e resolveu fazer psicologia na PUC-SP, por gostar de humanas e por vivenciar em
117

sua infância, uma doença depressiva de sua mãe, a qual era algo enigmático e que
ninguém encontrava respostas. Não queria trabalhar em um consultório e descobriu a
psicologia hospitalar como uma paixão. Prestou concurso para o InCor e foi contratada,
trabalhando durante cinco ou seis anos, quando estava com incertezas sobre as reais
ajudas proporcionadas pela sua profissão aos pacientes. Resolveu viajar, refletir e
estudar. Fez mestrado em Psicologia Social, o que resultou em um livro intitulado
“Soluções de palhaços”. Neste tempo, encontrou-se com Wellington Nogueira, fundador
do Doutores da Alegria, com quem desenvolveu vários projetos. Aos 38 anos, quando
entrevistada, contou ter virado uma Doutora da Alegria, e retornado ao InCor assim,
com novas ideias sobre a psicologia hospitalar.

- Patrícia Bueno Vieira: nascida em São Paulo, sonhava trabalhar na Natura “desde
sempre”. Tentou entrar na Natura aos 18 anos, quando lhe disseram que era nova
demais. Conseguiu realizar seu sonho aos 20, após uma entrevista com a responsável
pela Central de Atendimento da Natura. Aos 31 anos de idade, quando entrevistada, era
promotora de produtos Natura há seis anos.

5.3.2. Resultados gerais

Nesta parte do trabalho serão apresentadas as ocorrências das referências


nomeadas como códigos de identificação, suas frequências, organizações e
agrupamentos dentro de suas respectivas categorias, assim como as interpretações gerais
desses resultados.
Durante o processo de leitura das 8 transcrições foram encontradas ao todo 2.812
referências. Cada referência compreende uma ideia contida no conteúdo,
independentemente da extensão linguística. Essas referências são as ideias que podiam
ser palavras, expressões ou frases. Isso significa que o recorte foi realizado pelo
significado, assim como indicado por Bardin (2011), ao fato de que a análise de
conteúdo deve trabalhar a palavra e seus significados.
Dessa maneira, cada unidade de texto destacada do conteúdo das entrevistas que
representasse uma das ideias referentes aos códigos de identificação já estabelecidos,
era marcada e organizada de acordo com a sua categoria. Cada código de identificação
significa um conjunto de referências de texto com significado similar, os quais, quando
agrupados, geram o total de referências de uma categoria.
118

Abaixo segue a tabela geral com todos os resultados obtidos, segundo a


contagem da quantitade de referências encontradas nos conteúdos transcritos das 8
entrevistas, separadas pelos códigos de identificação, suas frequências e os
agrupamentos dentro de uma das dez categorias criadas e já apresentadas. Cada linha
laranja representa uma categoria e, todas as linhas abaixo de cada categoria indicam
seus respectivos códigos de identificação:

Tabela 2 - Agrupamentos dos códigos de identificações, associados às suas categorias

Entrevistados Ana Attílio Clarindo Cláudio Eduardo José Morgana Patrícia

Votoran- Pão de Soma das


Empresas BNDES Aracruz Volksw. Petrobras Incor Natura
tim Açúcar referências
Idades 42 84 68 69 47 47 38 31
Cargos Coord. Concursado Pontual Diretor Gerente Fiscal Concursada Promotora
Total dos códigos
324 138 242 560 362 427 518 241 2812
de identificações
Externalização dos
34 13 35 97 41 42 79 34 375
sentimentos
Risos 15 4 23 43 6 6 9 7 113
Pausas 4 6 6 39 20 10 46 10 141
Afir. dos sent. + 11 2 4 9 12 25 21 14 98
Afir. dos sent. - 4 1 2 6 3 1 3 3 23
Manifestação das
40 13 30 46 35 49 104 25 342
Subjetividades
Sonhos/vontades 10 2 8 7 15 12 22 11 87
Incertezas 0 0 0 0 0 2 9 0 11
Intuições 0 1 0 0 0 4 3 1 9
Gostos 3 3 5 14 1 2 15 3 46
Crenças 19 4 9 7 11 12 32 6 100
Segredos 4 0 7 12 2 3 2 2 32
Achismos 4 3 5 6 7 14 21 2 62
Humor 24 11 22 86 35 26 34 16 254
Ironia 6 1 6 18 4 5 6 2 48
Diminutivos 2 0 5 15 9 2 4 3 40
Metáforas 13 4 5 17 12 12 19 7 89
Fatos engraçados 3 6 6 36 10 7 5 4 77
A presença
26 15 30 29 39 33 41 13 226
mitológica
Origens 0 2 3 5 0 3 7 1 21
Figuras
1 3 5 7 5 0 3 0 24
mitológicas
119

Tranformação 4 1 8 1 8 4 6 6 38

Rituais 5 6 5 6 7 15 11 9 64
Humanização 8 1 3 7 11 7 4 2 43
Ato Espiritual 8 2 6 3 8 4 10 4 45
Heroísmo 26 12 12 46 25 45 47 23 236
Mundo comum 0 0 1 2 2 3 5 1 14

Dificuldades/
10 4 4 23 8 22 18 6 95
desafios

Ajuda de algo ou 2 1 2 6 8 7 7 4 37
alguém
Superações 5 3 3 10 9 8 8 6 52

Retornos 4 1 1 3 5 4 5 3 26

Ter poder/ Ser um


5 3 1 2 3 1 7 3 25
exemplo
Valorização da
31 24 41 87 49 63 58 34 387
memória
Registros
12 11 13 21 23 23 22 18 143
temporais

Lembrança de
detalhes 8 6 8 28 14 18 16 7 105

Primeiras
6 3 4 8 5 8 5 6 45
recordações
Memórias
2 3 14 23 5 14 8 1 70
sociais/históricas
Matrizes culturais 3 1 2 7 2 0 7 2 24
Reconhecimento 64 28 41 70 52 56 57 54 422
Sentir-se
18 11 11 20 11 14 19 17 121
orgulhoso
Sentir-se motivado 8 2 3 4 10 5 8 6 46
Reconhecer suas
4 3 6 4 1 9 5 10 42
oportunidades

Reconhecer suas
17 5 5 20 18 9 19 11 104
ações

Reconhecer a
16 6 4 18 11 19 6 5 85
organização
Ter o
reconhecimento da 1 1 12 4 1 0 0 5 24
família
Sentimento de
46 13 19 42 39 47 46 29 281
pertencimento
120

Vínculos com
7 2 5 10 5 13 13 10 65
colegas
Fazer parte de um
18 6 8 22 18 24 21 6 123
projeto

Ambiente 7 1 0 7 4 4 4 6 33

Mudança de
atitude por causa 4 2 1 0 5 4 4 4 24
dos valores da org.

Identificação c/ os
10 2 5 3 7 2 4 3 36
valores da org.
Disseminação do
27 6 7 44 40 53 43 10 230
conhecimento
Tendências da
2 1 1 9 10 7 1 1 32
época
Soluções de
4 3 1 3 11 4 3 1 30
problemas
Palavras técnicas 0 0 1 3 0 11 4 3 22
Explicação de
8 0 1 8 6 5 11 1 40
conceitos
Explicação de
13 2 3 21 13 26 24 4 106
processo/ projeto
Vulnerabilidades 6 3 5 13 7 13 9 3 59
Algo que não deu
3 2 1 5 0 8 2 2 23
certo
Saída de um
1 0 0 1 1 0 1 0 4
emprego
Preconceito 1 0 0 0 0 0 0 0 1
Ainda não atingiu
1 0 3 0 0 0 0 0 4
o esperado
Não lembra de
0 1 1 3 0 2 3 0 10
algo
Caos/ confusões 0 0 0 4 6 1 2 0 13
Algo que não
0 0 0 0 0 2 1 1 4
sabia

Pelos resultados, sem preocupar-se ainda com a frequência dos códigos de


identificação, a princípio, tem-se que as somas das ocorrências dos códigos de
identificação formadores de uma categoria, demonstram que todas as categorias são
contempladas em todas as falas dos entrevistados.
Sobre a frequência dos códigos de identificação, a maioria tem uma presença
relevante, aparecendo diversas vezes e sendo contabilizados nas falas de todos os
entrevistados. Nota-se que dos 55 códigos de identificação das 10 categorias, todos
aparecem pelo menos uma vez em algum dos entrevistados. Como cada categoria
121

apresenta vários códigos que a identificam, pode-se observar também que o não
aparecimento de um dos códigos de identificação em uma micronarrativa, não indica
que a categoria não esteja presente nesta fala do entrevistado, já que há a presença de
outros códigos que a identificam.
A manifestação destes elementos nas micronarrativas revelam que
independentemente das atuações do profissional, de suas idades, do seu sexo, do tempo
de permanência na organização e do cargo exercido pelo profissional entrevistado, ao
narrar suas trajetórias de vida, elementos ligados ao emocional, às subjetividades, ao
humor, ao reconhecimento de si próprio e da organização, ao sentimento de
pertencimento, à mitologia, aos seus próprios atos heróicos, à valorização de suas
próprias memórias, à disseminação de seus conhecimentos e às suas vulnerabilidades
estão presentes.
Para aprofundar as análises sobre as categorias e a presença dos códigos de
identificação que a constituem, será importante refletir sobre suas frequências em
relação as falas dos entrevistados, que podem variar de acordo com suas personalidades,
suas visões de mundo, suas experiências e suas crenças e também pelo ritmo e pela
condução da própria entrevista. Por isso, o próximo passo será analisar e interpretar
como cada uma das categorias aparece e perpassa pelos depoimentos de vida sorteados,
exemplificando suas presenças.

5.3.3. Como cada categoria aparece nos depoimentos de vida

Como todas as categorias estiveram presentes nas falas dos entrevistados, nesta
parte do trabalho pretende-se passar por cada uma delas, explorando a quantidade de
códigos de indentificação, exemplificando-os com algumas citações encontradas nas
micronarrativas, analisando e interpretando a importância de cada uma destas categorias
para o desenvolvimento de uma comunicação interna que as leve em consideração na
hora de planejar suas ações. Sendo assim, a seguir será feita a análise e a interpretação
sobre os resultados referentes a cada categoria e seus respectivos códigos:
122

- Externalização dos sentimentos:

Tabela 3 – Externalização dos sentimentos pelos entrevistados

Número Autores
Exemplos de
Códigos Entrevistados total de dos
citações
referências exemplos

Ana (15), Attílio (4),


"Isso me marcou
Clarindo (23), Cláudio
muito, muito. Tanto
Risos (43), Eduardo (6), José 113 Patrícia
pra mim quanto pra
(6), Morgana (9),
elas (risos)."
Patrícia (7)
Externalização dos sentimentos

Ana (4), Attílio (6),


Clarindo (6), Cláudio "deixa eu me
Pausas (39), Eduardo (20), José 141 lembrar (barulho de José
(10), Morgana (46), papel) (pausa)"
Patrícia (10)

"sinto-me
extremamente feliz
de ter participado,
Ana (11), Attílio (2), Eduardo
que foram
Clarindo (4), Cláudio momentos
Afir. dos
(9), Eduardo (12), José 98 maravilhosos"
sent. +
(25), Morgana (21),
"Uma coisa
Patrícia (14)
fantástica. Uma
Cláudio
sensação
indescritível"
Ana (4), Attílio (1),
Clarindo (2), Cláudio "eu saia um pouco
Afir. dos
(6), Eduardo (3), José 23 com a sensação de Morgana
sent. -
(1), Morgana (3), impotência"
Patrícia (3)

No caso da categoria sobre a externalização dos sentimentos, todos os códigos


de identificação apareceram nas falas de todos os entrevistados. A categoria foi formada
pelos códigos de identificação: risos, pausas, afirmação dos sentimentos positivos e
afirmação dos sentimentos negativos.
Os códigos de identificação desta categoria que são contabilizados todas as
vezes em que aparecem pausas e risos nas falas dos entrevistados, aparecem com uma
das maiores frequências em relação a todos os códigos de identificação de todas as
categorias, apresentando 113 e 141 aparições respectivamente, por serem naturais
durante a exposição da narração no formato depoimento de vida. Eles são registros das
transcrições, apresentadas por parênteses ou por reticências, no caso das pausas.
Como foram analisados apenas os conteúdos transcritos, como indicado pela
teoria da análise de conteúdo, não foram levados em consideração outros possíveis
123

códigos de identificação da externalização dos sentimentos que poderiam ser analisados


pelas imagens audiovisuais, como aqueles códigos representados por expressões
corporais, choros ou sorrisos ou por tons da voz como sussurros, gritos ou falhas e
tremores na voz.
Pausas indicam momentos de reflexão, de perda de raciocínio por algo marcante
a ser lembrado, de ausências do pensamento provocadas por uma emoção externalizada
e até por indicações de receios, esperanças e entusiasmos que fazem o entrevistador se
perder ou parar para refletir e refazer seu pensamento sobre a exposição de sua
narrativa. Os risos indicam felicidade, alegria, bem-estar, ou, por muitas vezes,
aparecem seguindo uma revelação de algo engraçado vivenciado pelo narrador, o que
também externaliza uma sensação positiva em relação à experiência narrada.
Sobre os risos, eles são 100% referentes à mensagens positivas, como o exemplo
selecionado na tabela 3, correspondente a fala da Patrícia, ou como se pode observar em
outros modelos em que os risos seguem fatos engraçados quando, por exemplo, José ri
ao perceber que deveriam dar nomes mais fácies aos equipamentos aqui no Brasil, como
o “Helipradoquixanuaiser”, o qual é quase impronunciável, por conta da origem alemã
da Volkswagen: “A gente precisava arrumar nomes mais fáceis (risos)”, ou o momento
em que Eduardo relembra a sua infância tranquila, em que ele só ficava na praia,
dizendo que ele “era fiscal da natureza (risos)”.
Já as pausas, que aparecem tanto entre parênteses, como por reticências, como
recurso da transcrição, estão mais ligadas às reflexões dos entrevistados, um sentimento
que não pode ser confirmado exatamente como positivo ou negativo, mas como
representante de uma emoção trazida pelo ato de se recordar de momentos que lhe
foram marcantes, proporcionada pela ação dialógica de memória oral, como se pode
perceber no exemplo da tabela 3 ou por este outro exemplo com as reticências, na fala
de Ana ao refletir sobre o seu cotidiano: “O meu dia-a-dia é muito interessante... porque
eu não tenho rotina”.
As afirmações dos sentimentos positivos aparecem com citações de entusiasmo,
fascinação, alegria e felicidade, confirmando algo que marcou de maneira positiva o
entrevistado. É extrememente significativo, aparecendo 98 vezes, somadas durante
todas as entrevistas. Além dos exemplos apresentados na tabela 3, há alguns outros
ilustrativos como a expressão na fala de Cláudio que diz: “e transforma aquele
pensamento numa coisa concreta. Isso é fantástico!”, ou quando Morgana fala da
emoção que sentiu quando retornou ao InCor: “foi tão emocionante, eu vim dar uma
124

palestra sobre a pesquisa, o livro, fazendo parte da comemoração dos 25 anos.” E


quando ela encerra a sua entrevista, falando que suas emoções foram mexidas com a
lembrança de tudo: “É legal poder sentir isso e dar esse depoimento é uma forma de
sentir isso, falar ‘Alguma coisa aconteceu, alguma coisa foi respondida’”.
As afirmações dos sentimentos negativos aparecem como mensagens sobre
situações pontuais em que o entrevistado sentiu em um momento de dificuldade, de
incerteza, de tomada de decisão, de medo sobre os desafios que precisaria enfrentar.
Diferentemente dos outros códigos de identificação desta categoria, ele aparece apenas
com 23 referências ao todo, indicando que em suas narrações, as pessoas apresentam
mais seus sentimentos positivos, manifestando de certa forma que suas vivências no
mundo organizacional trazem mais aspectos que elas gostariam de registrar como
positivos e que mexeram com suas emoções de maneira mais agradável que
desagradável.
Além do exemplo da Morgana da tabela 3, pode-se citar a fala de Cláudio
quando compara a chegada de um projeto da Alemanha sobre um carro em que ele diz:
“Agora, para nós, brasileiros, a gente não tinha um envolvimento emocional muito
grande” ou “Então, foi uma situação muito estressante que ocorreu” quando ele estava
com o projeto da Ford e algumas situações entre funcionários alemães e brasileiros eram
difíceis.
Como a gravação do depoimento de vida é algo em tom quase confessional,
segundo Minayo (1993), é extremamente normal que se exponham as emoções por parte
do entrevistado e, por isso, esta categoria apresenta resultados muito constantes em
todas as transcrições. Para a comunicação interna, é importante compreender que
situações afetam o seu público interno de maneira positiva e negativa, para poder
trabalhar sobre estas emoções. Ao se externalizar estes sentimentos, fica evidente o
quanto o cotidiano do trabalho influencia nos pensamentos e nas ações dos funcionários.
É preciso saber trabalhar com o emocional da equipe para mantê-los engajados e
entusiasmados e para modificar aquilo que dificulta o bem-estar dos sujeitos integrantes
da organização.
As informações que estes sentimentos fornecem ao se escutar os funcionários –
ou até mesmo ao observar estes sentimentos externalizados no cotidiano – podem trazer
melhorias para o dia a dia do trabalho. Sentimentos negativos como ansiedades,
frustações com um projeto ou com um cliente, raiva em relação a uma situação ou a um
colega, medo de um desafio muito grande, assim como sentimentos positivos de alegria
125

por ter atingido suas metas ou ânimo por ter sido reconhecido, são todos exemplos que
podem “alterar as tomadas de decisões de modo a reverter muitas situações, tornando-as
assim, mais favoráveis aos objetivos individuais e organizacionais” (OLIVEIRA,
2013).
Além disso, é importante reforçar que, em tempos de efemeridade, fluidez,
velocidade e excessos de informações, em que normalmente não há espaço para as
emoções, fazer o caminho contrário e explorar os sentimentos em suas ações de
comunicação interna, na criação de peças, ou até mesmo, fazer as coletas e as edições de
depoimentos a serem também expostos a outros funcionários, é uma alternativa para se
conquistar a atenção dos públicos e envolvê-los pela afetividade.

- Manifestação das subjetividades:

Tabela 4 – Manifestação das subjetividades pelos entrevistados

Número Autores
Exemplos de
Códigos Entrevistados total de dos
citações
referências exemplos

"Então, fatalmente
esse é o meu
Ana (10), Attílio (2), sonho, conseguir
Clarindo (8), Cláudio José
Sonhos/ implantar o projeto
(7), Eduardo (15), José 87
Manifestações das subjetividades

Vontades e fazer ele


(12), Morgana (22), funcionar."
Patrícia (11)
"Natura era sonho,
Patrícia
sempre foi sonho"

“Será que eu ajudei


Incertezas José (2), Morgana (9) 11 Morgana
aqui?

"Então foi uma


Attílio (1), José (4),
Intuições 9 escolha meio de José
Morgana (3), Patrícia (1)
intuição"

"Eu sempre gostei


de coisas mais
objetivas. Meu pai
Ana (3), Attílio (3),
sendo advogado,
Clarindo (5), Cláudio
eu detectei as
Gostos (14), Eduardo (1), José 46 Attílio
coisas que me
(2), Morgana (15),
desagradavam na
Patrícia (3)
profissão dele e
tomei o rumo que
eu gostava mais."
126

"Esses executivos
deviam depois
ocupar posições
Ana (19), Attílio (4),
mais importantes
Clarindo (9), Cláudio
na Alemanha
Crenças (7), Eduardo (11), José 100 Cláudio
porque eu acredito
(12), Morgana (32),
que a primeira
Patrícia (6)
geração veio para
seguir quase que
uma aventura aqui"

"O “Pão de
Ana (4), Clarindo (7), açúcar” aconteceu
Cláudio (12), Eduardo em dois momentos,
Segredos 32 Eduardo
(2), José (3), Morgana foi meu primeiro
(2), Patrícia (2) emprego, isso
poucos até sabem"
"Mas eu acho que
como começo de
carreira a
Ana (4), Attílio (3),
experiência daqui
Clarindo (5), Cláudio
foi fundamental,
Achismos (6), Eduardo (7), José 65 Morgana
para as outras
(14), Morgana (21),
coisas que eu
Patrícia (2)
pensei e
desenvolvi na
minha vida"

Esta categoria é apresentada pela manifestação dos códigos referentes aos


sonhos e vontades, incertezas, intuições, gostos, crenças, segredos e achismos. Tirando
os códigos incertezas, intuições e segredos, todos os outros aparecem nas
micronarrativas de todos os entrevistados. Alguns exemplos podem ser conferidos na
tabela 4.
O código sobre sonhos e vontades, que apresenta ao todo 87 citações, diz
respeito à todas as declarações de desejos quistos ou que ainda se pretendem alcançar.
Esses sonhos podem ser pessoais como querer ser alguém melhor e fazer o bem às
pessoas como o caso de Morgana que queria ser psicóloga e descobrir suas reais
possibilidades em ajudar ao próximo, ou então, vontades mais “comuns” como entrar na
organização, estudar e crescer profissionalmente (casos que aparecem em todos os
entrevistados). Patrícia não tinha apenas como sonho entrar na Natura, mas queria
crescer, chegar a ser promotora e, para conseguir realizar seus sonhos, foi estudar e
mudou de cidade, continuando na Natura. Porém, seus sonhos no momento em que foi
entrevistada se referiam tanto a metas pessoais como continuar crescendo ainda mais,
ser promovida e ter seu carro próprio, mas também sonhos profissionais como deixar o
setor equilibrado. Isso ocorreu muitas vezes, em que se misturavam os sonhos pessoais
127

aos próprios objetivos organizacionais, o que demonstra um alinhamento importante


entre os propósitos dos funcionários e as metas da organização.
Esse sonho misto pode ser exemplificado na narração de Eduardo que tem o
sonho de que seu projeto de maratona em São Paulo seja tão grandioso como é em Nova
York e, além disso, quer organizar um grupo de novos pensadores “de gente sem o pé
no chão” para que a inovação esteja sempre presente nas ideias do Pão de Açúcar.
Assim como José que sonha que a Petrobras consiga achar óleo em novas regiões como
no Parque das Baleias e se empenha para isso, porque diz ter vontade de sempre
desenvolver novas tecnologias para a organização e para a sociedade.
Sobre as incertezas e intuições, são códigos que não aparecem em todas as falas,
diferente dos outros códigos dessa categoria que possuem uma frequência bem alta e
significativa. O código de identificação incertezas aparece apenas em dois depoimentos
de vida e o de intuições aparece em quatro depoimentos, mas com pouquíssima
frequência, apresentando ao todo 11 e 9 referências respectivamente. Geralmente estes
dois códigos apareceram em relação à decisões profissionais, sendo que a intuição seria
sobre qual carreira deveriam seguir e as incertezas são, em sua maioria, sobre as reais
potencialidades de sua profissão.
A grande maioria das referências sobre incertezas é da Morgana, pois houve um
momento de sua vida em que ela acreditou que poderia fazer mais pelas pessoas sendo
psicóloga e esta indecisão permanece em sua narração até ela descobrir os Doutores da
Alegria. As outras referências deste código são pequenas incertezas que José tinha em
relação à realização de alguns projetos. Por outro lado, o código sobre as intuições
aparecem com pouca frequência, já que os quatro entrevistados que falam sobre
“vocação” e “intuição” apresentam essas citações em um momento muito específico da
narração, aquele que corresponde a escolha sobre suas profissões.
Gostos são muito frequentes tanto quando os entrevistados são questionados pela
sua escolha profissional em que dizem gostar mais de determinadas disciplinas
escolares, como Attílio que diz gostar mais de tudo que é objetivo ou como cita
Morgana a preferência pelas matérias humanas, sendo, portanto, influenciadores de suas
decisões em relação ao curso que fariam na faculdade. Os gostos também são bem
frequentes quando as pessoas narram suas preferências em relação aos seus trabalhos. É
o caso de Clarindo que diz gostar de trabalhar com madeira, mesmo fazendo outras
atividades em sua vida, como ser motorista. Outro tipo de gosto que surge nas
128

declarações são as pessoais como pescar e ficar na praia, narrados tanto por Clarindo,
como por Eduardo. Presentes em todos os entrevistados, são somadas 46 referências.
Já o código sobre achismos é contabilizado todas as vezes que o entrevistado
admite algo, colocando suas opinião em sua fala, dizendo as expressões “eu acho” ou
“eu achava”, resultando em 65 representações. Na mesma linha de identificação,
crenças aparecem sob um total de 100 citações. Este código de identificação seleciona
as expressões como “eu acredito”, “eu acreditava” ou “eu estava certo de que”, ou
quando a pessoa fala algo que significa uma certeza em sua afrmação. É um código que
aparece inúmeras vezes em todos os entrevistados.
Diferente deste último código, os segredos não são tão frequentes, apresentando
apenas 32 citações, já que são bem específicos e não aparece na fala de um dos
entrevistados. Eles tratam de situações em que o narrador conta pontos de sua vida que
ele não havia contado para muitas pessoas, como o caso do Eduardo, que narra algo que
“até poucos sabem” sobre o Pão de Açúcar estar duas vezes presente em sua vida, como
primeiro emprego e depois como gerente de marketing, ou então, como um segredo da
organização, como quando o Cláudio conta sobre momentos de tensões na Volkswagen,
em que fusões geraram grandes estresses e até um suicídio.
A partir dessas revelações, nota-se a importância dessa categoria pelos seus
resultados recorrentes e esclarecedores de que a comunicação interna, através de ações
de contações de histórias pessoais pode oferecer aos indivíduos essa abertura para suas
imaginações, refletindo sobre aqueles valores transcendentes e específicos de cada
integrante da organização, na medida em que compreendem aquilo que de fato pode ser
significativo para aqueles que narram em voz alta os aspectos em que acreditam, suas
opiniões e suas afetividades sobre as ocorrências no mundo organizacional.
Ao manifestar as subjetividades, os indivíduos vivem um momento em que eles
podem mergulhar em seu íntimo e gerar significados e reflexos sobre os propósitos de
sua vida, reconstruindo suas identidades. Por outro lado, compreender as subjetividades
da equipe é permitir que os objetivos da organização possam ser atingidos mais
facilmente quando estes levam em consideração tais ideias, como foi observado na
teoria.
129

- Humor:

Tabela 5 – Humor pelos entrevistados

Número
Autores dos
Códigos Entrevistados total de Exemplos de citações
exemplos
referências

"O carro não conseguia mais


Ana (6), Attílio (1), Clarindo andar, ele ficou atolado (...) era
(6), Cláudio (18), Eduardo (4), um teste que quem estava
Ironia 48 Cláudo
José (5), Morgana (6), Patrícia dirigindo era o Controle de
(18) Qualidade. Se fosse a Engenharia
não tinha acontecido. (risos)"

"Uniforme... tudo bem caretinha.


Morgana
Mas era uma fase legal"

Ana (2), Clarindo (5), Cláudio "Sempre quer melhorar um


Diminutivos (15), Eduardo (9), José (2), 40 pouquinho. E, às vezes, você já
Morgana (4), Patrícia (3) tem um ferramental que ficou
Cláudio
pronto. 90% pronto. Aí, ele falou
'não, mas se a gente mudar mais
essa coisinha e tal.'"

"me dediquei de corpo e alma no


Eduardo
desenvolvimento do trabalho"
Humor

"cada dia eu estou na minha


versão mais up-to-date (risos). Eu
Ana (13), Attílio (4), Clarindo não falo que envelhecemos e sim
(5), Cláudio (17), Eduardo Ana
Metáforas 89 que temos uma versão atualizada
(12), José (12), Morgana (19), de nós mesmos no decorrer da
Patrícia (7) vida"

"porque, às vezes, tem gente que


vai para um trabalho é como se
Patrícia
fosse uma calculadora, 'pá, pá, pá'
(risos)."

"E quando nós vimos esse nome


estranho pensávamos que se
tratava de uma empresa francesa
e falávamos afrancesadamente,
Attílio
Frigorífico Murran... Mas não
tinha nada de Murran, era
Ana (3), Attílio (6), Clarindo
Mouran mesmo, de Moura
Fatos (6), Cláudio (36), Eduardo
77 Andrade (risos)"
engraçados (10), José (7), Morgana (5),
Patrícia (4)
"Então, o projeto desse
'Volkswagen na Alemanha', que
era o Volkswagen 1600, o apelido Cláudio
dele era Zé do Caixão aqui
(risos)."
130

A categoria humor foi identificada pela presença dos códigos ironia, palavras no
diminutivo, metáforas e contação de casos engraçados, gerlamente, em muitos casos,
seguidos por risos. Independentemente de suas formações - engenheiros, psicólogos,
comunicadores ou mesmo quem não apresentava um estudo superior - narraram muitos
casos capazes de fazer sorrir, surpreender e divertir, pontos que, Lipovetsky (1989)
coloca como essenciais para que sejam trabalhados pela comunicação nos tempos
atuais. Alguns exemplos de citações podem ser observados na tabela 5.
A ironia trata das citações em que o entrevistado fala algo querendo dizer outra
coisa, para satirizar alguma situação. Ela aparece nos depoimentos de todos os
entrevistados, somando 48 referências ao total. As palavras no diminutivo aparecem
diversas vezes. Elas não representam algo pequeno no seu tamanho, mas como uma
piada, diminuindo a importância de algo, alguém ou de uma sitação de maneira
engraçada, ou de maneira carinhosa que dá certo tom humorístico, apresentando ao todo
40 referências.
As metáforas, com o registro de 89 citações, surgem nas micronarrativas com
conotações divertidas, estabelecendo pensamentos criativos, ao correlacionar dois fatos
que inicialmente não pareciam ter ligação, o que torna a mensagem com um tom
engraçado para ser contabilizado dentro da categoria humor. Já os fatos engraçados
correspondem a todos os casos contados pelos narradores, como histórias cômicas, por
vezes de algo inesperado, tendo um resultado com número de 70 citações.
Como apresentam-se relevantes suas ocorrências, ações como estas envoltas pela
contação de histórias individuais, podem ser utilizadas pela comunicação interna para
gerar leveza, alegria, entretenimento e bom humor para os funcionários, já que são
expressões que tendem a causar sorrisos ou risos ao serem narradas, escutadas e
interpretadas. Além disso, sua percepção pode demonstrar inteligência emocional, a
qual pode ser utilizada como um potencial daquele que narra para determinadas ações.
Outro ponto positivo para a presença relevante desta categoria é que um espaço
para a descontração, para a fluidez da criatividade e da diversão singela trazida pelo
humor pode melhorar aqueles ambientes apresentados por muitas organizações em que
normalmente são pesados, estressantes e fazem as pessoas prezarem por uma seriedade
que, muitas vezes é desnecessária e pode causar desmotivação, infelicidade e baixa
produtividade.
131

- Presença mitológica:

Tabela 6 – Presença mitológica pelos entrevistados

Número Autores
Códigos Entrevistados total de Exemplos de citações dos
referências exemplos

"Minha mãe esteve um


período da minha vida
Attílio (2), Clarindo (3),
muito ausente e aí tem
Origens Cláudio (5), José (3), 21 Morgana
um gancho para a
Morgana (7), Patrícia (1)
psicologia, de porque
eu fui fazer psicologia"

"Moura Andrade (...)


Um homem com grande
capacidade de
realização, pai do
Attílio
Senador Áureo de
Ana (1), Attílio (3), Moura Andrade, que
Figuras veio a ser Presidente da
Clarindo (5), Cláudio (7), 24
mitológicas República"
Eduardo (5), Morgana (3)
"a empresa parece que é
Presença mitológica

de uma família Diniz e


quem me entrevistou Eduardo
foi o Diniz, um dos
donos e gostou muito."

"Porque o comércio
também aqui era pouco.
Tinha umas quatro
Ana (4), Attílio (1), vendinha só. Depois Clarindo
Mitos de Clarindo (8), Cláudio (1), que a Aracruz chegou
38 começou desenvolver
transformação Eduardo (8), José (4),
Morgana (6), Patrícia (6) tudo"

"já deixou de ser


programa e projeto Edurado
passa a ser uma causa"
"Entrei por nomeação,
Attílio
como todos entraram."

"Eu fiz vestibular pra


Engenharia, pro IME.
Ana (5), Attílio (6), Na época tinha um
José
Clarindo (5), Cláudio (6), cursinho especial (...)
Rituais 64 Eu fiz o cursinho,
Eduardo (7), José (15),
Morgana (11), Patrícia (9) passei no IME"
"e eu fui dar a notícia
no dia do meu
aniversário, que elas Patrícia
prepararam uma baita
festa"
132

"que, pra conseguir


desenvolver esses
Ana (8), Attílio (1), campos em águas
Clarindo (3), Cláudio (7), profundas, ela (a
Humanização 43 José
Eduardo (11), José (7), Petrobras) teve que
Morgana (4), Patrícia (2) buscar a tecnologia,
muitas vezes em
empresas do exterior."

"realmente poder olhar


no olho daquela pessoa
Ana (8), Attílio (2),
e ajudar. Acho que é a
Clarindo (6), Cláudio (3),
Ato Espiritual 45 minha questão até hoje Morgana
Eduardo (8), José (4),
e vai continuar sendo
Morgana (10), Patrícia (4)
minha missão nessa
terra."

Esta categoria é formada por alguns códigos que identificam a mitologia


organizacional tais quais: origens, presença de figuras mitológicas, mitos de
transformação, rituais, humanização e a narração do ato espiritual por parte dos
funcionários. Todos os códigos, exceto origens e presença de figuras mitológicas estão
presentes em todas as micronarrativas.
O código de identificação sobre as origens está de acordo com a condição do
homem no contexto atual em que, desligado de suas raízes, voltado em excesso para si
mesmo, ele “quer reconexão e redescoberta de sua origem cósmica e transpessoal”
(COGO, 2012a, p. 117-118). Isso significa que o sujeito da atualidade sente a
necessidade de redescobrir o seu sentido no mundo, suas referências iniciais, recriando
o seu mundo, compreendendo seus passos e, transformando seu mundo em sagrado, a
partir de explicações sobre sua origem (ELIADE, 2010). Este código, que aparece 21
vezes, é reconhecido quando aparecem citações sobre os princípios de uma decisão, de
uma escolha profissional, como é o caso da Morgana exemplificado na tabela 6, ou
origens sobre a organização ou sobre projetos inovadores após observar uma tendência
da época, como é o caso de inúmeras ações do Pão de Açúcar que tornaram ele como
um supermercado diferenciado, de acordo com a fala de Eduardo.
Sobre as figuras mitológicas, trata-se da consideração em transformar a vida de
pessoas ligadas à organização, que não seja o próprio entrevistado, em mito, em
significação. Isso porque, momentos em que o entrevistado se via como mito (como
herói), foram considerados pertencentes à categoria heroísmo. Para Enriquez (1992), a
organização, hoje, pode ser tratada como sistema simultaneamente cultural, simbólico e
imaginário. E, sobre estes sistemas, tem-se a construção das figuras mitológicas sobre
133

aqueles seres da organização que são considerados “todo-poderosos”, conhecidos por


todos por suas grandes realizações, inovações, praticamente envoltos por uma fantasia
de onipotência e que, por isso, são capazes de ser seres influenciadores.
Neste caso, a maioria das 24 citações dos entrevistados referentes a este cógido,
dizem respeito às pessoas poderosas que fizeram parte de suas histórias, como o Diniz
do Pão de Açúcar, referente na fala de Eduardo sobre Abilio dos Santos Diniz,
empresário brasileiro, Presidente do Conselho de Administração da BRF, que foi sócio
da Companhia Brasileira de Distribuição, que inclui diversas bandeiras de Varejo
Alimentar, incluindo o Pão de Açúcar. Além da citação sobre o Moura Andrade, que
veio a ser Presidente da República na fala de Clarindo, o Werner Paul Schmidt,
presidente da Volkswagen na Alemanha, e até mesmo o pai do Attílio que ganhou nome
de rua em Espírito Santo pela sua importância, apesar do entrevistado não desenvolver a
história, ele foi uma inspiração para a vida dele.
Mitos de transformações, que apresentam 38 marcações nas falas dos
entrevistados, referem-se às narrações sobre mudanças cósmicas, ou seja, aquelas que
dizem respeito à uma passagem de algo anterior para o surgimento de condições
favoráveis à formação de um mundo habitável. Mudança de um caos amorfo para um
cosmo habitável (ELIADE, 2010). No caso do indivíduo, trata-se de momentos críticos
da vida individual e social de grandes mudanças como a transformação sofrida por
Morgana após um ano de viagem, o encontro com o Wellington Nogueira, fundador dos
Doutores da Alegria e seu mestrado, que a fizeram sair do InCor, para voltar depois com
novas propostas para a psicologia.
No caso da organização, este código refere-se às atualizações de processos
cósmicos ou de realidades míticas sobre uma etapa, um projeto, um processo ou uma
gestão, uma transformação marcante que é interpretada como importante para os novos
passos da organização a partir de tal acontecimento transformador, como as criações de
novas tecnologias que permitiram não ter mais o uso dos mergulhadores nas
plataformas da Petrobras, narradas pelo José, os novos projetos desenvolvidos por
Eduardo no Pão de Açúcar que foram inovadores e trouxeram novas visões e ações do
supermercado como, por exemplo, a concretização do Pão de Açúcar delivery.
O código de identificação sobre os rituais seleciona em 64 citações todas as
marcações temporais do entrevistado sobre: vestibular, concursos, reuniões, admissões,
demissões, festas, promoções, renovações, tradições, mortes, casamentos e momentos
de transcedência. Há várias citações pessoais sobre vestibular, cursinho, provas e
134

concursos nas falas dos entrevistados, seguidos sempre de um sentimento de orgulho e


sucesso. Há também declarações sobre admissões, promoções, demissões, mudanças de
cargo, festas de aniversário na empresa, festa de despedida e festa de comemoração pelo
sucesso de um projeto. Um ritual diferente pode ser percebido na fala do Cláudio sobre
a escolha do nome dos carros, por exemplo, sempre em reuniões com todos os diretores,
jornalistas e o presidente que discutem uma lista de opções até decidirem por um dos
nomes desta lista.
Humanização é o código de identificação que está caracterizado pela atribuição
de significados humanizadores ao que não é humano, surgindo 43 vezes. Na história
corporativa, é possível humanizar objetos, ideias ou as próprias organizações, outrora
aparentemente estéreis de significados e afetividades. Em todos os depoimentos as
organizações aparecem com características humanas, seguidas de verbos de ação
próprios aos seres humanos, o mesmo ocorre com nomes de produtos, de equipamentos
e de projetos.
Ato espiritual, como já conceituado, significa a elevação do funcionário a um
status mais elevado de sua existência. São registrados 45 momentos em que, ao narrar
suas experiências únicas, os entrevistados compreendem os seus propósitos de vida. É
assim que, por exemplo, Eduardo entende seu papel no Pão de Açúcar de concretizar os
projetos propostos a ele, por mais impossíveis que possam parecer incialmente, não
existindo nada parecido em outro supermercado, dizendo: “É isto, então tudo bem, pode
deixar que a gente faz!”.
Este código aparece em todos os entrevistados. Patrícia afirma que seu papel é
fundamental na vida das consultoras porque ela é uma transformadora das vendas delas.
Attílio reconhece ser mais um analista de projetos que um engenheiro no BNDES. José
descobre o quanto ele contribui com o desenvolvimento de novas tecnologias da
Petrobras sendo fiscal de controle dos poços. Aparece também quando Ana diz que suas
funções principais são “disseminar conceitos de marketing industrial para toda a
organização, formando pessoas, reciclando conhecimentos”. Clarindo diz o quanto ama
serrar madeira e que isso o levou a ter muitas oportunidades na Aracruz. O Cláudio
quando diz que foi nomeado como diretor do projeto Gol e ele tinha que fazer o Gol
acontecer no Brasil. E a Morgana quando descobre o quanto ela pode ajudar as pessoas
sendo uma Doutora da Alegria, escrevendo o livro e sendo palestrante sobre o tema da
psicologia humanizadora.
135

Por estes resultados presentes nas falas dos entrevistados, tem-se que os mitos
organizacionais são formados a partir das histórias que cada ser humano integrante da
organização conta a si mesmo e aos outros, para gerar um significado. Para a
comunicação interna, identificar a presença da mitologia organizacional permite
“reconhecer o poder que as histórias individuais têm e que se ampliam com as da
própria organização, contribuindo para o sucesso ou insucesso dos seus processos
internos de gestão” (CASTRO, 2000, online). Isso significa que, através destes pontos
levantados pelas micronarrativas é possível (re)construir uma macronarrativa
organizacional em que sejam valorizados todos os símbolos criados, integrando os seus
significados aos processos de legitimação. Além disso, ao narrar, as pessoas se
reconhecem como pertencentes a esta macronarrativa.

- Heroísmo:

Tabela 7 – Heroísmo pelos entrevistados

Número Autores
Códigos Entrevistados total de Exemplos de citações dos
referências exemplos

"Eu morava no Rio e


vivia de mesada e num
determinado momento
meu pai falou: “Você
precisa começar
trabalhar, você vai
Eduardo
estudar tudo, mas
precisa começar a
trabalhar e tem que ir
Heroísmo

pra São Paulo (...) Para


mim foi um caos que
Mundo eu morava no Rio"
Clarindo (1), Cláudio (2),
comum/
Eduardo (2), José (3), 14
Chamado à "Voltei com a minha
Morgana (5), Patrícia (1)
aventura família pra Barra
Mansa. Fiquei um ano
José
e depois vim pro Rio
fazer o cursinho de
vestibular."
"Eles ficaram morando
em Minas, moraram
em Ouro Preto vários
anos, e eu vim pra São Morgana
Paulo e comecei minha
carreira solo (risos)
sozinha."
136

"O meu currículo


chegou na VCP através
do marido de uma
amiga que era, Ana
praticamente, minha
colega de trabalho
Ana (2), Attílio (1),
Ajuda de numa outra empresa"
Clarindo (2), Cláudio (6),
algo ou de 37
Eduardo (8), José (7), Meu cunhado era
alguém
Morgana (7), Patrícia (4) primo do Novaes e
disse: “Olha, eu tenho
um tio que é diretor do Eduardo
“Pão de açúcar” (...)
“Porque você não vai
conversar com ele?”

"fiz um ano de
especialização (pelo
BNDES), ao final do
Attílio
curso prestei exames,
pesados, algumas
provas duraram cinco,
seis horas"
Ana (10), Attílio (4), "Mas foi um desafio
Caminho Clarindo (4), Cláudio aprender sobre papel,
das provas/ (23), Eduardo (8), José 95 porque todo mundo Ana
dificuldades (22), Morgana (18), acha que é simples,
Patrícia (6) mas não é"
"Então, a gente fazia
todos os estudos
necessários, mas só a
prática, a instalação José
que iria provar que
realmente isso daria
certo."
Ana (5), Attílio (3), "Então, isso criava uma
Clarindo (3), Cláudio barreira, um problema
Superações (10), Eduardo (9), José 52 de entendimento. Mas Cláudio
(8), Morgana (8), Patrícia com o tempo isso foi
(6) sendo resolvido."

"porque você vê,


realmente, que você
Apoteose Ana (5), Attílio (3),
muda as pessoas, você
(ter o Clarindo (1), Cláudio (2),
25 vê que elas ficam Patrícia
poder/ ser Eduardo (3), José (1),
felizes, você se torna
exemplo) Morgana (7), Patrícia (3)
uma transformadora
das vendas delas"

"Então, eu vim aqui há


pouco tempo atrás (no
Ana (4), Attílio (1), InCor), eu vim dar um
Clarindo (1), Cláudio (3), palestra sobre a
Retornos 26 Morgana
Eduardo (5), José (4), pesquisa, o livro,
Morgana (5), Patrícia (3) fazendo parte da
comemoração dos 25
anos."
137

Segundo Campbell (2007), o conceito de monomito diz respeito à Jornada do


Herói, representada por um modelo único de etapas pelas quais todo herói passa,
divididas entre separação, iniciação e retorno. São 12 estágios, sendo que, não
necessariamente o herói passa por todos eles, mas pelo menos por alguns representantes
destas três etapas principais. Para Vogler (2009), os estágios da Jornada do Herói
podem ser encontrados em todas as narrativas, mesmo quando não se tratam de ficções
ou aventuras grandiosas. Para ele, o protagonista de qualquer narrativa é o herói de sua
jornada.
Normalmente, quando se fala em heróis organizacionais, pensa-se em
presidentes, CEOs e pessoas que fizeram história naquela organização da qual
pertencem ou pertenceram. Porém, assim como diz Vogler, qualquer pessoa pode ser
heroína do seu cotidiano, por mais simples que possam parecer suas vidas e suas ações.
Cada estágio vivenciado, cada mudança em sua vida, cada dificuldade e superação,
torna as pessoas mais fortes e mais convencidas de que elas podem ser grandiosas
mesmo em suas aparentemente pequenas ações enfrentadas no dia a dia.
Estas teorias são de fato confirmadas quando analisamos os resultados dos
conteúdos dos depoimentos de vida sorteados. Os códigos de identificação
representativos desta categoria apontam para alguns estágios da Jornada do Herói,
escolhidos como os mais relevantes entre os grandes estágios, tais quais: a partida
(mundo comum/chamado à aventura, ajuda de algo ou alguém/auxílio sobrenatural), a
iniciação (caminho das provas, suas superações e a apoteose, ou seja, quando ele torna-
se um exemplo a ser seguido) e o retorno.
Os primeiros códigos de identificação refletem a partida - com a vivência no
mundo comum e sua posterior saída, como um primeiro chamado à aventura e a ajuda
de algo ou de alguém nestes primeiros passos de suas jornadas. Segundo Campbell
(2007, p. 66) “o destino convocou o herói e transferiu-lhe o centro da gravidade do seio
da sociedade para uma região desconhecida”. Sendo assim, aqui foram consideradas as
citações principalmente relacionadas à um momento da vida em que o entrevistado
morava com os pais, em sua cidade natal, quando, de repente, foi obrigado a mudar de
vida e iniciar a sua jornada profissional. Há 14 citações ao todo nas entrevistas divididas
entre todos os entrevistados, exceto aqueles que trabalharam na mesma cidade em que
nasceram. Apesar de ter aparecido em quase todos os depoimentos, sua frequência não é
grande, já que representa um ponto específico na narração, que indica o início de sua
138

jornada profissional, quando é citado este momento em suas vida como algo marcante e
transformador, assim como colocado nos exemplos de citações na tabela 7.
Eduardo morava no Rio de Janeiro, vivia de mesada e foi obrigado pelo pai a
sair do seu mundo comum, onde sua maior preocupação era de como seria o por do sol,
para procurar emprego em São Paulo. José teve que sair de Barra Mansa para fazer
cursinho especializado para a faculdade IME, que era o seu sonho. Morgana saiu de
casa, deixando seus pais em Minas Gerais para estudar na PUC-SP e começar sua
carreira de psicóloga em São Paulo. Clarindo trabalhava na roça, com plantações, mas
mudou-se para Aracruz cidade para onde a organização Aracruz Celulose estava
levando desenvolvimento e melhores oportunidades. Patrícia estava acostumada com a
vida no interior da cidade Taubaté com a tia quando decidiu que queria trabalhar na
Natura. Ou seja, todos estes narram o momento em que o destino convocou-os para uma
reigão desconhecida no início de suas jornadas profissionais.
Para este início de jornada, todos eles tiveram ajuda de algo ou de alguém, o que
Campbell (2007) chama de “auxílio sobrenatural”. As citações na tabela 7 exemplificam
algumas destas narrações, porém, resumidamente tem-se que todos apresentam este
estágio em suas falas, resultando em 38 referências. Ana sempre morou em São Paulo,
mas a Votorantim não foi seu primeiro emprego. Ela teve a ajuda do marido de uma
amiga para seu currículo chegar até a área de Recuros Humanos da Votorantim e ela ser
chamada para uma entrevista em que foi aceita. Eduardo tinha um primo que sabia de
uma vaga que era o perfil dele no Pão de Açúcar e o indicou. Patrícia entrou na Natura
quando conheceu Emanuela, que era a supervisora e fazia o recrutamento. Clarindo foi
ajudado pela própria Aracruz que o contratou por causa da serraria que ele tinha.
Cláudio descobriu sua vocação para engenheiro após ter sido ajudado por um professor
particular que o fez aprender a estudar, saindo do zero na prova de matemática ao
melhor aluno da turma. Attílio foi ajudado a descobrir seus gostos pelo pai, que era
advogado. Morgana conheceu sua verdadeira vocação quando encontrou o Wellington
Nogueira, fundador do Doutores da Alegria, sendo levada a fazer mestrado sobre o
assunto e a publicar um livro.
Sobre a parte da iniciação, os códigos identificavam o caminho das provas, as
dificuldades enfrentadas e suas superações até atingirem a apoteose, ou seja, em “um
degrau acima do entusiamo, quando meramente se tem o deus dentro de si” (VOGLER,
2009, p. 252), podendo então o entrevistado se sentir como poderoso, como um modelo
a ser seguido.
139

Todos possuem inúmeros casos de desafios, com 95 citações que contemplavam


dificuldades, os quais são normalmente contados em detalhes, por isso a grande
quantidade de referências, junto às suas superações, que apresentam 52 referências. São
desafios tanto na época de prestar vestibular, ou de prestar concursos e exames exigidos
pela própria organização como o exemplo de Attílio em suas longas provas realizadas
na França, ou colocados pelos seus chefes para a criação de novos projetos como, no
caso do Eduardo, com o desafio da criação do Pão de Açúcar Kids, as vendas delivery, o
show Paul Music e uma gigantesca ação de reciclagem. Como é também o caso do
Cláudio no desenvolvimento do carro Gol, dentre tantos outros desafios citados, e do
José, sobre as dificuldades enfrentadas nas plataformas com tecnologias nem sempre
disponíveis para a realização das atividades com segurança. Ou desafios pessoais como
o exemplo da Ana ao mudar de emprego, onde trabalhava com grandes tecnologias e
precisou aprender sobre papel.
Estas dificuldades e suas superações, fazem com que os entrevistados muitas
vezes reconheçam seu poder. O momento de apoteose com 25 referências encontradas
nas falas de todos os entrevistados. Eles percebem que suas ações não foram em vão e
que foram responsáveis por melhorias para a organização. Quando pelos seus esforços,
eles contam que se transformaram em pessoas que podem ajudar outras e podem ser
seguidas como um exemplo de conduta. Todos os entrevistados apresentam estas
citações. Como exemplos há a narração de Morgana quando descobre que pode ajudar
as pessoas e passa até a ser palestrante sobre psicologia e humanização hospitalar.
Assim como a Patrícia, que se sente uma transformadora das consultoras. E o Eduardo
que, como gerente, ajuda a dar ânimo em sua equipe, falando que é possível realizar
qualquer um dos desafios propostos.
Por fim, todo herói após sua jornada traz retornos, sejam eles para pessoas, para
a organização ou para a sociedade. Os retornos também são citados por todos os
narradores, apresentando 26 referências ao todo. Morgana não só retornou ao InCor para
ser palestrante na festa de 25 anos da organização e ajudar como Doutora da Alegria,
como também escreveu um livro sobre o assunto, deixando um legado para a sociedade.
Eduardo e Patrícia desenvolveram retornos sociais com projetos de consciência para a
reciclagem. José e Cláudio apresentam em suas falas inúmeros projetos em que eles
participaram e puderam, junto à organização criar novas tecnologias e inovações. Tudo
que fica para as gerações futuras fazem parte também do retorno do herói.
140

A presença dessas etapas da Jornada do Herói nas falas de todos os narradores,


demonstra que todos foram e são heróis em suas vidas. Por isso, ao se pensar na
comunicação interna, é importante refletir na construção e exposição destes heróis
organizacionais, independentemente de seus cargos, tempo de casa e ações. Foi-se o
tempo que apenas os CEOs eram os grandes heróis. Segundo Malcolm Gladwell (2014,
p.20), “passamos os últimos 20 anos transformando os CEOs em heróis, como se o
mundo todo dependesse deles. Agora, são eles que precisam entender que dependem de
seus funcionários”. E, como percebido, todos os funcionários podem ser transformados
em heróis organizacionais ao se compreender estes pontos em suas micronarrativas.

- Valorização da memória:

Tabela 8 – Valorização da memória pelos entrevistados


Número Autores
Códigos Entrevistados total de Exemplos de citações dos
referências exemplos
Ana (12), Attílio (11),
"Quinta-feira, na outra
Clarindo (13), Cláudio
Registros semana eu estava no
(21), Eduardo (23), José 143 Eduardo
temporais 'Pão de açúcar', isso foi
(23), Morgana (22),
em Dezembro 89."
Patrícia (18)
Ana (8), Attílio (6),
Clarindo (8), Cláudio "Eu me lembro
Lembranças
(28), Eduardo (14), José 105 particularmente da José
de detalhes
(18), Morgana (16), plataforma de Enchova"
Patrícia (7)
"E então eu trabalhei
Ana (6), Attílio (3),
Valorização da memória

em locação de ferrovias
Clarindo (4), Cláudio
Primeiras e também nos trabalhos
(8), Eduardo (5), José 45 Attílio
recordações de movimento de terra,
(8), Morgana (5),
esse foi meu primeiro
Patrícia (6)
emprego."
"Porque a energia
funcionava com motor a
óleo. Quando dava 10
Ana (2), Attílio (3),
horas da noite eles
Memórias Clarindo (14), Cláudio
davam um sinalzinho de
sociais/ (23), Eduardo (5), José 70 Clarindo
que ia terminar, ia
históricas (14), Morgana (8),
desligar os motor. A
Patrícia (1)
turma dos que estava na
rua tinha que ir para
casa"
"Na época era uma
coisa um pouco da
Ana (3), Attílio (1),
minha personalidade, de
Clarindo (2), Cláudio
Matrizes alguém tímida que
(7), Eduardo (2), 24 Morgana
culturais escutava muito, tinha
Morgana (7), Patrícia
muita facilidade para
(2)
estar escutando os
outros"
141

Esta categoria levantou alguns dados importantes sobre a presença de todo os


códigos em todos os entrevistados tais quais: registros temporais, lembranças de
detalhes, primeiras recordações, memórias históricas e sociais e matrizes culturais.
Os códigos de identificação sobre os registros temporais e sobre as lembranças
de detalhes são alguns dos códigos com maior frequência dentre todos os outros de
todas as categorias, com 143 e 105 referências encontradas, respectivamente,
aparecendo em todos os depoimentos de vida, já que há nas narrações grande
quantidade de registros de datas, sequências e detalhes das memórias significativas para
o entrevistado.
Quando o entrevistado rememora suas experiências de vida, quando marcantes e
significativas para ele, este tende a detalhá-las com o máximo de cuidado para que
aquilo que lhe foi significativo no passado e ainda é no presente, seja também
significativo para quem recebe a sua narração. Pelas entrevistas percebe-se que é normal
que se registrem datas, sequências e consequências das memórias mais importantes para
o entrevistado, aquelas que, segundo Santo Agostinho (2001), foram gravadas em sua
alma.
As primeiras recordações dizem respeito à todas as citações sobre lembranças do
início de sua trajetória e marcantes como as primeiras experiências, como o primeiro
emprego, o primeiro projeto desenvolvido na organização. Geralmente, as primeiras
experiências são marcantes na vida de uma pessoa e por isso, são contadas 45
referências nas falas dos entrevistados. Eduardo conta sobre o seu primeiro projeto do
show Paul Music realizado para o Pão de Açúcar, Patrícia narra sobre a festa que a
equipe faz pelo primeiro ano de Natura de um funcionário, Attílio fala do seu primeiro
emprego em uma construtora, e do primeiro projeto que ele recebeu para analisar, Ana
fala como começou na Votorantim e seus primeiros desafios com o “Foco do Cliente”.
Cláudio lembra do seu primeiro trabalho dentro da Volkswagen em transformar um
carro de duas portas em quatro.
O código que identifica a valorização da memória com a presença de memórias
sociais e históricas traz todas aquelas referências sobre fatos que registram como eram
espaços físicos, localizações e desenvolvimentos que ocorreram em determinada época.
Alguns outros exemplos que ilustram algumas das 70 citações sobre este código, além
da apresentada na tabela 8, em que Clarindo conta como era o município de Aracruz
antes da chegada da Aracruz Celulose e todo o desenvolvimento que ela trouxe para a
região, surgem na fala de Eduardo também, por exemplo, sobre a época do Mappin e da
142

Rádio Eldorado que hoje não existem mais, na de Attílio que comenta sobre a sua
faculdade na Escola de Engenharia da Universidade do Brasil, a qual ficava localizada
no Largo São Francisco, mas que hoje tem uma nova sede em outra região de São
Paulo. Além destes, Cláudio comenta que andava em um bonde que o deixava na Rua
São Bento, onde ficava seu colégio, e que, quando fez admissão na Vergueiro: “A
Catedral ainda não estava pronta. Mas tinha uma igreja famosa perto de casa, que era a
Igreja Santo Antônio do Pari, que é a igreja do casamenteiro. Então, no dia de Santo
Antônio sempre enchia de moças lá”.
As matrizes culturais dizem respeito aos conhecimentos adquiridos por uma
pessoa a partir de uma experiência individual, uma vivência interpretativa, em que o
entrevistado reflete sobre a percepção de algo que ele desenvolveu por ter um talento,
apresentando 24 citações, assim como a de Morgana, que apresenta em sua fala sobre as
lembranças da sua personalidade na infância que influenciaram a psicóloga que ela
seria, ou então quando Cláudio tirava zero na prova de matemática e então conta que um
professor particular o ensionou a estudar e ele diz: “Como eu tinha adquirido aquela
facilidade de estudar matemática, eu queria fazer engenharia química. Aí eu fiz o
vestibular, entrei”.
Sendo assim, por todos estes códigos e suas presenças, nota-se que nesses
registros podem surgir tanto datas marcantes para a organização como fundação, início
de um projeto, duração de um processo ou até mesmo datas e acontecimentos marcantes
ao próprio entrevistado, os quais, ao serem registrados, podem ser utilizados pela
comunicação interna em comemorações, promovendo o reconhecimento dos
funcionários e de suas ações, como, por exemplo, comemorar os 20 anos de um projeto,
ou montar uma exposição ou desenvolver uma publicação ou uma produção audiovisual
sobre a história da organização, em que se valorizem as pessoas que dela fizeram parte,
também reconhecendo-as e despertando nelas o sentimento de pertencimento.
Ações em que se valorizem as memórias da organização, suas datas, seus
detalhes, suas evoluções e os desenvolvimentos trazidos para a sociedade podem gerar
identificação e empatia, construindo uma cultura organizacional forte, ligada aos valores
das vivências de todos aqueles que contribuiram conjuntamente para a construção desta
realidade narrativa, seja através de suas ações, de suas próprias matrizes culturais ou dos
seus sentimentos afetados pelas experiências que ali vivenciou. Quando esta realidade
narrativa é apresentada fortemente de maneira positiva pelo público interno, certamente
ela será observada também dessa maneira externamente.
143

Segundo Chauí (1999, p.129), como visto na teoria, a memória social ou


histórica está ligada também aos símbolos, mitos, ritos e rituais, que dão significado ao
que ela é, e assim, a comunicação pode construir suas narrativas. Valorizar as
experiências que a organização vive, e viveu, por cada uma das pessoas que dela fazem
ou fizeram parte, é reforçar o elo de ligação entre os seus valores históricos e culturais, a
fim de não perder as suas referências, suas realizações, as datas que podem ser
comemoradas e os conteúdos produzidos durante anos, inclusive por pessoas que já se
aposentaram ou que saíram da organização. Além disso, a partir desse conhecimento
histórico e cultural sobre a organização, é possível buscar diferenciais em mercados
cada vez mais iguais (NASSAR, 2004).

- Reconhecimento:

Tabela 9 – Reconhecimento pelos entrevistados

Número Autores
Códigos Entrevistados total de Exemplos de citações dos
referências exemplos

Ana (18), Attílio (11), Eu me sinto


Clarindo (11), Cláudio orgulhosa de ser uma
Sentir-se
(20), Eduardo (11), José 121 das primeiras Ana
orgulhoso
(14), Morgana (19), mulheres na área
Patrícia (17) comercial da VCP
Reconhecimento

Quando acordamos
de manhã, falamos:
“Estou indo
Ana (8), Attílio (2),
trabalhar!!” (risos).
Clarindo (3), Cláudio (4),
Sentir-se motivado 46 Isso não tem preço, Ana
Eduardo (10), José (5),
não tem salário, não
Morgana (8), Patrícia (6)
tem nada, é isso que
me fez ficar e vou
ficando, ficando...

"Eu conheço poucas


empresas que
Ana (4), Attílio (3), invistam mais do que
Reconher suas Clarindo (6), Cláudio (4), a Petrobras em
42 José
oportunidades Eduardo (1), José (9), capacitação dos
Morgana (5), Patrícia (10) empregados. Fiz o
curso de mestrado
pela Petrobras"
144

"a experiência daqui


foi fundamental, para
as outras coisas que
eu pensei e
Morgana
desenvolvi na minha
vida, foi uma
oportunidade muito
legal"
"eu fiz uma série de
entrevistas com
médicos e
enfermeiras, trabalhei Morgana
Ana (17), Attílio (5), com análise de
Clarindo (5), Cláudio (20), desenhos com as
Reconhecer suas
Eduardo (18), José (9), 104 crianças"
ações
Morgana (19), Patrícia
(11) "Não, eu serrei, eu
fiz muito serviço
para a Aracruz e Clarindo
serrei muita madeira
para a Aracruz."

"que esse grupo tem


uma história
Ana (16), Attílio (6), maravilhosa de
Reconher a Clarindo (4), Cláudio (18), sucesso, quer dizer
85 Eduardo
organização Eduardo (11), José (19), um sucesso que foi
Morgana (6), Patrícia (5) conquistado (...) um
grupo que eu tiro o
chapéu"

"a família tem um


Ter o Ana (1), Attílio (1),
orgulho de falar: a
reconhecimento da Clarindo (12), Cláudio (4), 24 Patrícia
minha filha trabalha
família Eduardo (1), Patrícia (5)
na Natura"

Esta categoria engloba tanto o reconhecimento percebido pelo funcionário,


recebido tanto pela organização, como pela sua família, seu sentimento de orgulho e de
motivação, além do reconhecimento das oportunidades que teve em sua vida, assim
como o reconhecimento que ele tem pela organização. Todos os códigos apareceram nas
falas de todos os entrevistados, exceto o reconhecimento da família que não aparece na
micronarrativa de dois entrevistados, como será visto a seguir e conforme os exemplos
das citações na tabela 9.
Das indicações que representam a categoria de reconhecimento, os códigos mais
presentes são o sentimento de orgulho de si mesmo e as citações sobre o
reconhecimento que o entrevistado tem de suas ações no âmbito da organização. O
orgulho aparece como afirmações explícitas, por exemplo, “eu me sinto orgulhoso”, “eu
nem acreditei, mas eu consegui”, “eu passei de primeira no vestibular” etc. Sentir-se
orgulhoso é o código de identificação que agrupa as referências em que o entrevistado
145

afirma seu orgulho por causa de uma atitude, de uma ação, de uma conquista ou de um
sucesso, tendo ao todo 121 citações.
O reconhecimento de suas ações são aquelas expressões referentes ao
reconhecimento que o entrevistado tem em relação ao sucesso das atividades
desenvolvidas por ele em sua atividade profissional. Como são contados, em todas as
entrevistas, muitos casos de realizações pessoais, estes códigos ganham bastante
representatividade, com 104 referências, as quais organizam os pensamentos sobre
aquelas atitudes que levaram o indivíduo a se sentir vitorioso. Normalmente estão
envolvidas com a narração de projetos e de superações sobre dificuldades, no momento
em que o entrevistado reconhece que o seu trabalho gerou resultados para a
organização.
O código de identificação sobre se sentir motivado aparece somatizando 46
exposições sobre o quanto o entrevistado se sente entusiasmado e animado em relação
ao seu trabalho exercido na organização, aparecendo em todas as narrações através de
afirmações como esta exemplificada na tabela 9.
Reconhecer suas oportunidades compreende todas as 42 referências em que o
entrevistado conta sobre suas chances, tanto em relação aos estudos, como o exemplo na
tabela 9, como em relação ao seu desenvolvimento como profissional, quanto aquelas
oferecidas pela organização, como na citação de Eduardo que diz: “Então, foi uma
grande conquista de um grupo (...) que não era grande nem pequeno, era do tamanho
certo e eu tive a oportunidade de ser um membro desse grupo.”
Muitos entrevistados falam do investimento que a organização proporcionou
para os estudos, como o mestrado feito pelo José pela Petrobras, a especialização feita
na França pelo Attílio pelo BNDES, assim como as oportunidades reconhecidas para o
crescimento pessoal e profissional como narrados pela Morgana sobre tudo o que
aprendeu no InCor e pelo Clarindo ao falar das oportunidades que a Aracruz ofereceu a
ele.
Reconhecer a organização contempla as declarações que o entrevistado faz sobre
o quanto ele admira o lugar em que trabalha e a sua história. Aparece em todos os
depoimentos com 85 referências ao todo. Esses reconhecimentos passam desde citações
sobre as pessoas identificarem-se com as ações desenvolvidas pela organização, como
ações de reciclagem como é o caso da Natura e do Pão de Açúcar citados por Patrícia e
Eduardo, de desenvolvimento para a sociedade como Clarindo fala inúmeras vezes em
relação à Aracruz e Attílio sobre o BNDES, de produção de novas tecnologias como a
146

Ana e o José falam sobre a Votorantim e a Petrobras, como citações sobre o crescimento
da organização como Cláudio fala da Volkswagen do Brasil.
Ter o reconhecimento da família diz respeito as manifestações sobre o quanto a
família do narrador tem orgulho daquela pessoa e o quanto elas identificam o seu
sucesso. Há poucas manifestações, com 24 ao todo, por 6 dos 8 entrevistados, citadas
normalmente quando o ritmo da entrevista levava para assuntos familiares sobre os pais,
filhos ou esposa e marido, mas às vezes aparece espontaneamente como no depoimento
de Patrícia, exemplificado na tabela 9.
Esses resultados apontam que, pelas micronarrativas, é possível detectar se o
funcionário sente-se reconhecido e, por isso, motivado a continuar, a ter ideias novas, a
se envolver em novos projetos ou não. No caso das entrevistas analisadas quase todas as
citações são positivas, porém, há citações da Morgana, que significavam que ela não
estava motivada por não sentir que utilizava todo o seu potencial como psicóloga no
hospital e, por isso, resolveu sair e procurar estudar e se desenvolver sobre novas
possibilidades. Neste caso, essas citações foram consideradas como subjetividades
(código incertezas) e como vulnerabilidades (códigos sobre algo que não deu certo,
saída de um emprego e confusões) como será visto adiante.
Para a comunicação interna é fundamental compreender essas questões para
evitar que se percam talentos, investindo naquilo que eles expõem como motivos de
reconhecimento, como: elogios pelos seus trabalhos desenvolvidos, palavras amigáveis
de seus superiores, oportunidades de crescimento e de desenvolvimento profissional,
como por exemplo, pelo pagamento de cursos ou pela flexibilidade de horários para
participar em congressos, ou até mesmo em relação a ter tempo com a família ou o
próprio reconhecimento que esta demonstra. Por outro lado, caso apareçam citações
negativas sobre a falta de reconhecimento, excessivas cargas horárias, salários baixos, e
até desmotivação por conta de realizações de trabalhos que não agradam ao funcionário
ou que não exploram positivamento todo o seu potencial, é de extrema importância que
sejam identificadas e trabalhadas para tentar evitar estresses, esgotamentos, ansiedades e
infelicidades que podem levar o funcionário a não se envolver com os projetos e até
mesmo desejar sair da organização.
147

- Sentimento de pertencimento:

Tabela 10 – Sentimento de pertencimento pelos entrevistados

Número Autores
Códigos Entrevistados total de Exemplos de citações dos
referências exemplos

"Eles são pessoas


fantásticas. Por mais que
a gente brigasse durante
o dia, chegava cinco e
Cláudio
meia, a gente ia tomar
Ana (7), Attílio (2), cerveja junto. (risos) E
Clarindo (5), Cláudio eram muitos amigos,
Vínculos com
(10), Eduardo (5), José 65 cara sensacional"
colegas
(13), Morgana (13),
Patrícia (10)
"eu fui recebida muito
bem pela Jussara Veiga,
que é uma excelente Patrícia
gerente de vendas do
interior de São Paulo."

Ana (18), Attílio (6),


Sentimento de pertencimento

Clarindo (8), Cláudio "E nós entramos com a


Fazer parte de
(22), Eduardo (18), José 123 campanha, a gincana Eduardo
um projeto
(24), Morgana (21), “vácatalata” tudo junto"
Patrícia (6)

"o grupo Votorantim tem


um ambiente de trabalho
Ana (7), Attílio (1),
muito legal para
Ambiente de Cláudio (7), Eduardo (4),
33 desenvolvermos Ana
trabalho José (4), Morgana (4),
projetos, temos liberdade
Patrícia (6)
de trabalho e eu acabei
ficando esses 12 anos"

"Ah, em tudo, não


Mudança de adianta você muda a sua
Ana (4), Attílio (2),
atitudes por vida. Você começa a
Clarindo (1), Eduardo
causa dos 24 reciclar na sua casa, Patrícia
(5), José (4), Morgana
valores da você ensina o vizinho e
(4), Patrícia (14)
org. você ganha o seu
dinheiro"

"Não tenho vontade de


sair, porque eu me
Ana
identifiquei com a
empresa"
Ana (10), Attílio (2),
Identificação
Clarindo (5), Cláudio (3), "E hoje eu acho que
c/ os valores 36
Eduardo (7), José (2), sobre o ponto de vista da
da org.
Morgana (4), Patrícia (3) inovação, a companhia
continua muito Eduardo
preocupada, nós
continuamos muito
preocupados em inovar"
148

Tirando os códigos ambiente de trabalho e mudanças de atitudes por causa de


valores da organização, todos os outros códigos desta categoria sobre sentimento de
pertencimento aparecem em todos os depoimentos. O código relacionado ao sentimento
de fazer parte de um projeto, de um grupo, e, consequentemente da organização como
um todo, que tem umas das maiores frequências de ocorrência entre todos os códigos de
todas as categorias, sendo narrados de forma que o entrevistado sente-se integrado ao
grupo ao contar a realização de seus projetos.
O código sobre a presença de vínculos com colegas, aparece em todos os
depoimentos, com total de 65 referências. São citações bem explícitas em que se fala
sobre amizade, citando nomes, inclusive. Cláudio chega a dizer sobre algumas
rivalidades entre alemães e brasileiros, mas ele diz o quanto era excelente seu
relacionamento com todos, cuja amizade formada no ambiente de trabalho era também
levada para fora do escritório: “Eles ligavam para mim, ‘vamos tomar uma caipirinha,
uma cerveja’, a gente ia tomar cerveja.” Que é o mesmo caso de Patrícia, que fala como
ela fez amigas no trabalho e o quanto ela se sentia acolhida por elas e o quanto que
chefe não era chefe, era amigo, que a pegava pela mão e a fazia crescer.
Muitos entrevistados como Eduardo, Cláudio, Ana e José usam o pronome nós
em quase todas as descrições de projetos, o que já demonstra um sentimento de
pertencimento. Este fato levou o código de fazer parte de um projeto ter 123 citações.
Além do pronome nós, as referências estão contabilizadas todas as vezes em que os
narradores demosntram o quanto eles e suas equipes estiveram envolvidos em um
projeto.
O código sobre o ambiente de trabalho refere-se a sentir-se acolhido e a gostar
do clima. São 33 citações que aparecem em todas as micronarrativas, exceto na de
Clarindo, que fazia alguns trabalhos pontuais na Aracruz, conhecendo algumas pessoas
específicas e participando de algumas reuniões. Cláudio e Ana são os que apresentam
mais referências, complementando ao exemplo da tabela 10, Ana afirma que o clima
entre as pessoas faz toda a diferença, fazendo com que todos consigam trabalhar em um
lugar aonde gostam de ir todos os dias. Cláudio confirma que a Volkswagen “Tinha um
clima muito bom”. Porém, falando sobre o ambiente, mas de forma não tão positiva,
apesar de Morgana falar o quanto gostava de trabalhar no InCor, ela cita que não
149

gostava muito do ambiente do hospital e com o clima entre médicos, psiquiatras e


psicólogos.
O código sobre a identificação dos entrevistados em relação aos valores, missão
e visão da organização aparece com 33 referências. Não são tão explícitos, mas são
facilmente identificados quando as pessoas demonstram que lutam pelos mesmos ideias
da organização como inovar, acreditar na sustentabilidade, ter nos seus desejos pessoais
alcançar a missão da organização, seguindo seus valores, chegando muitas vezes a
contar que até mudou algumas de suas atitudes por conta dessa identificação, a qual se
refere ao outro código que é sobre mudanças de atitude por conta dos valores da
organização que apresentou 24 citações.
Esta categoria é diretamente ligada à categoria de reconhecimento. Citações
sobre sentir-se reconhecido, orgulhoso e motivado normalmente eram seguidas por
citações sobre estes sentimentos de pertencimento. Sendo assim, como visto também
pela teoria, é papel da comunicação interna compreender a valorização do indivíduo e
sua integração com a equipe e com a organização como um todo, assim como a
percepção do quanto os funcionários estão envolvidos com os valores, missão e visão da
organização de forma a seguir com ela pelos mesmos objetivos. Sentimento de
pertencimento é consequência.
Porém, caso apareçam citações de desintegração, ou do não entendimento
completo de suas funções em relação à organização ou manifestações sobre climas ruins
entre os funcionários, é preciso que a comunicação interna pense em como transformar
a organização em um ambiente atrativo e agradável, por meio de ações que considerem
as individualidades, como pelas micronarrativas, a fim de que se reconheçam os pontos
positivos e negativos incessantemente, e trabalhar com os conflitos, os desencontros e
as expectativas. É preciso ter competência para buscar novas alternativas e que estas
atendam aos interesses tanto da organização como de seus funcionários.
150

- Disseminação do conhecimento:

Tabela 11 – Disseminação do conhecimento pelos entrevistados

Número Autores
Códigos Entrevistados total de Exemplos de citações dos
referências exemplos

Tendência à
globalização
significava que a
Autolatina ia ter que Cláudio
pegar um produto do
exterior para fazer no
Ana (2), Attílio (1), Brasil
Tendências Clarindo (1), Cláudio (9),
32 Mas a tendência é que
da época Eduardo (10), José (7),
os robôs submarinos
Morgana (1), Patrícia (1)
estão ficando cada vez
mais baratos, os
barcos, os José
mergulhadores têm
sido utilizados em
situações cada vez
Disseminação do conhecimento

mais limitadas.

Um dos maiores
problemas que existia
no começo da nossa
engenharia era de
fazer o
Ana (4), Attílio (3), dimensionamento
Soluções de Clarindo (1), Cláudio (3), interior do carro; a
30 Cláudio
problemas Eduardo (11), José (4), posição de pedais (...)
Morgana (3), Patrícia (1) Aí a gente foi mais a
fundo na história e
vimos que,
mundialmente, se
utilizam manequins
para isso

teve-se que usar


FPSOs, que são navios
Clarindo (1), Cláudio (3), flutuantes que
Palavras
José (11), Morgana (4), 22 permitem receber a José
técnicas
Patrícia (3) produção de óleo,
processar o óleo e
exportar o óleo

teve um grande tempo


que a inovação era
Ana (8), Clarindo (1), isso, era fazer
Explicação Cláudio (8), Eduardo (6), diferente, quer dizer
40 Eduardo
conceitos José (5), Morgana (11), era fazer com pouco e
Patrícia (1) bem, algo que os
outros não estavam
fazendo
151

E de lá ações
promocionais, iam
para praia, meninas e
garotos bacanas,
bonitos com coletor de
dados, perguntando
Eduardo
para as pessoas, que
estavam lá tomando
Ana (13), Attílio (2), sol, perguntando para
Explicação Clarindo (3), Cláudio as pessoas: “O senhor
processo/ (21), Eduardo (13), José 106 não quer fazer
projeto (26), Morgana (24), supermercado?”
Patrícia (4)

E o peixe pequeno a
gente pega e solta,
porque a gente tem
Clarindo
que soltar o pequeno
hoje para ter o grande
amanhã

Esta categoria é formada pela soma dos códigos de identificação: tendências de


época, soluções de problemas, palavras técnicas, explicação de conceitos e explicações
de processos e projetos.
As tendências de época retratam afirmações de um conhecimento sobre uma
determinada época, que pode ser de um tempo passado ou atual. Eduardo explica sobre
projetos inovadores que realizou, como por exemplo o Pão de Açúcar Kids, pensado
sobre uma tendência em que “alguns antropólogos e sociólogos já falavam das crianças
estudarem o meio onde vivem.” E então ele e sua equipe fizeram o supermercado, em
escala infantil, com 800 metros, com aulas de cidadania, falando sobre nutrição, sobre
responsabilidade social, dinheiro, planeta e verduras hidropônicas. José também cita
situações de épocas passadas sobre as plataformas fixas, dizendo que na época poucas
pessoas tinham conhecimento, no mundo inteiro, sobre as tecnologias a serem
empregadas nos poços submarinos. Ana explica como era feito o atendimento a clientes
na Votorantim antes da Impressão Personalizada, através de um formuláro contínuo.
Morgana fala sobre as tendências quando entrou na área hospitalar, em que não se podia
falar e questionar abertamente sobre mudanças estruturais com os médicos, algo que
hoje ela acredita ser bem mais fácil.
As soluções de problemas aparecem normalmente quando o entrevistado fala
sobre um projeto desenvolvido, disseminando uma solução de um possível problema,
por vezes simples de serem resolvidos, como quando a Ana narra as soluções para
152

diminuir a vibração dos caminhões que transportavam os materiais, dizendo: “e era uma
solução simples com os papéis auto-copiativos. Consistia em pegar um feltro que é
utilizado na máquina de papel e revestir o caminhão com aquilo pra diminuir as
vibrações durante o trajeto na estrada, uma coisa super simples”. Eduardo conta qual foi
a solução que encontrou quando foi desafiado a criar o Pão de Açúcar Kids, chamando
pensadores para ajudar e buscando conhecimento na Disney e com o Maurício de Souza.
Além dessas explicações, José cita quando teve que criar dois modelos de carros para
testar um motor tanto na parte dianteira quando na parte traseira.
As palavras técnicas aparecem em pouca frequência, tendo apenas 22 referências
Alguns outros exemplos, além do da tabela 11, ainda de José, que é o entrevistado que
mais apresenta citações de palavras técnicas, há referências a “Helipradoquixanuaiser”,
que ele explica ser um equipamento que conectava o poço do fundo do mar até o navio,
além de falar sobre nomes de outros equipamentos como Serim, EPR e Early
Production Raiser. Mas, além de José, outros se utilizam de poucas palavras técnicas
como Clarindo que fala sobre “Caieiras”, que é “o monte que eles fazem de madeira
igual uma toca de índio. E depois coloca o fogo aí e cobre com terra” e Morgana que
cita alguns tipos de terapias como: terapia psicanalítica, lacaniana e psicodrama.
O código de identificação em que os entrevistados explicam conceitos é
referente a explanações sobre ideias voltadas sobre a sua área de atuação. Este código
aparece em todos os depoimentos, exceto no de Attílio, sendo contadas 46 explicações
deste tipo. Ana fala sobre a importância em não se pensar apenas o cliente na hora de
vender os produtos, mas em entender quais são as suas necessidades de mercado ou
quando algum conceito ligado à sua área é detalhado, assim como Morgana esclarece:
“Por exemplo, quando o paciente não aceita alguma coisa que você coloca tem um
nome pra isso que é resistência (...) então é o termo para mostrar que aquela pessoa não
está aderindo ao processo, a uma interpretação sua”.
A explicação de projetos e processos, são as que aparecem com maior
frequência, com 106 identificações, aparecendo em todas as transcrições, uma vez que
ao se narrar as suas atividades, os entrevistados contam com prazer e segurança sobre os
seus conhecimentos dentro das explicações de como realizaram tais atividades. Muitas
vezes, isso se dá também por serem instigados pelo próprio entrevistador que faz
perguntas referentes a estes processos para que fiquem intensionalmente registrados os
processos, de maneira detalhada, já que também é de grande relevância para eles
explicarem sobre suas atuações na organização. Todos os entrevistados apresentam
153

inúmeras citações. José e Cláudio são os que mais detalham em suas explicações e
Eduardo é o que abrange mais histórias sobre inúmeros projetos diferentes nos quais
esteve envolvido.
Sobre esta categoria, há dois pontos diferentes a serem interpretados. A presença
do conhecimento a ser coletado, disseminado e transmitido pode ser de grande
relevância para que não se percam os conteúdos produzidos pela organização. Podem
também ser utilizados como referência em ações de comunicação interna que visem a
integração de novos membros aos processos organizacionais.
Porém, por outro lado, palavras muito técnicas e mensagens objetivas muito
específicas sobre determinados processos não tornam uma história interessante e
atrativa. Em relação às outras categorias, pode-se perceber que a presença de citações
sobre os códigos referentes à disseminação de conhecimento são bem menores. Isso
pode ser justificado pelo fato de que as micronarrativas, depedentes dos entrevistadores
e das conduções que estes fazem para a contação da história, tendem a ser menos
técnicas e objetivas.
Caso o comunicador necessite criar ações que envolvam a disseminação de
informações e de conhecimentos, ele deve tentar evitar os seus excessos, as suas
exposições exageradas de palavras técnicas, caso seja possível, e tentar criar ações
diferenciadas, pautadas por mensagens mais atrativas como histórias que exemplificam
um processo de maneira mais afetiva e atrativa.
154

- Vulnerabilidades:

Tabela 12 – Vulnerabilidades pelos entrevistados

Número Autores
Códigos Entrevistados total de Exemplos de citações dos
referências exemplos

Ana (3), Attílio (2),


Algo que não deu Clarindo (1), Cláudio (5), "Tentei entrar na Natura com 18
23 Patrícia
certo José (8), Morgana (2), anos e não deu certo"
Patrícia (2)

"E fizemos aí alguns anos,


Saída de um Ana (1), Cláudio (1), depois eu sai da companhia,
4 Eduardo
emprego Eduardo (1), Morgana (1) porque fui cuidar das coisas da
família"

"Antes havia um certo


preconceito com relação a
mulheres atendendo aos
Preconceito Ana (1) 1 Ana
clientes, não digo na VCP, mas
Vulnerabilidades

no mercado. Um mercado
exclusivamente masculino."

Ainda não "ela ainda não é uma empresa


atingiu o Ana (1), Clarindo (3) 4 referência, mas tem dirigido Ana
esperado todos os seus esforços para isso"

"Eu não lembro assim uma


específica pra te dizer. Eu
Attílio (1), Clarindo (1), lembro da Unidade
Não se lembra de
Cláudio (3), José (2), 10 Coronariana, onde vai o Morgana
algo
Morgana (3) infartado, mas não tem uma
específica que tenha me
marcado mais."
"Teve um deles que teve um
Cláudio (4), Eduardo (6),
Caos/ confusões 13 infarto e teve um do RI que se Cláudio
José (1), Morgana (2)
suicidou."
"O problema é que ninguém
tinha essa tecnologia. Alguns
fabricantes traziam alguma
Algo que não José (2), Morgana (1),
4 tecnologia que a gente José
sabia Patrícia (1)
descobriu que não eram
apropriadas. A gente gastou
muito dinheiro por conta disso"

Os códigos referentes à categoria sobre as vulnerabilidades aparecem com


frequência muito abaixo de todos os outros códigos. Isso pode indicar uma reação
natural do ser humano que prefere narrar suas vitórias e esconder suas vulnerabilidades.
Os códigos estão presentes poucas vezes, e não há nenhum deles que aparece em todos
155

os entrevistados. E, normalmente, estes códigos foram seguidos de códigos que


representassem superações. Estes códigos de identificação estão divididos entre: algo
que não deu certo na vida do narrador, saída de um emprego, preconceito, reflexão
sobre ainda não ter atingido algum resultado esperado, não se lembrar de algo,
passagens em que houve caos e confusões e citações sobre algo que não sabia. E todos
eles aparecem de forma bem dispersa entre as micronarrativas. Alguns exemplos podem
ser observados pela tabela 12.
O código de identificação sobre algo que não deu certo é o que tem maior
frequência nesta categoria, com 23 referências. Ele refere-se a passagens das histórias
em que algum ponto específico em um desenvolvimento de um projeto, na maioria das
vezes, não deu certo. A saída de um emprego é contada mais como uma decisão, um
ponto da vida em que o entrevistado precisava mudar e embora tenha sido um momento
de vulnerabilidade, sempre aparece seguido por uma superação, um emprego novo, uma
descoberta sobre algo diferente que poderia ser feito, sendo associado este código
muitas vezes com a transformação da categoria sobre a presença mitológica.
O preconceito apareceu uma única vez no depoimento da Ana, quando ela se
refere a dificuldades que a mulher possuia no mercado de trabalho na sua época por
preconceito, porém, não se referia especificamente a ela, já que na Votorantim ela foi
uma das primeiras mulheres a realizar suas atividades.
Ainda não atingiu o esperado faz alusão as declarações sobre o que ainda pode
ser melhorado, tanto em relação pessoal, como em relação à organização. Sobre não se
lembrar de algo, descreve momentos em que o narrador diz não se recordar de uma
situação, que pode ser apenas um detalhe, ou algo que ele quis esquecer.
O código que distingue caos e confusões na vida do entrevistado apareceu 13
vezes e são os momentos que refletem vulnerabilidades mais significativas, com pontos
negativos em que o entrevistado precisou enfrentar em sua jornada, como greves,
dificuldades de relacionamento entre os funcionários e até um suicídio, todos estes
casos no depoimento de Cláudio. Morgana passou por alguns momentos de confusões
pessoais quando se indagou sobre sua profissão e sobre seu pontencial no InCor e
Eduardo e José sofreram alguns momentos de caos no desenvolvimento de alguns
projetos, porém que foram superados.
Sobre algo que não sabia, há apenas 4 citações em que foram ditas situações
pelas quais os entrevistados ou a organização não tinham conhecimento desenvolvido
156

para a realização de um projeto na época, tendo que, em algumas situações, aprender


com o erro, como surge na fala de José.
Apesar de aparecer poucas citações sobre vulnerabilidades, este é um caso
curioso em que pode-se pensar tanto que os entrevistados não querem expor tais
aspectos ao narrarem suas histórias, preferindo contar mais suas conquistas e vitórias,
ou por conta do próprio entrevistador, que pode conduzir a entrevista de forma a
amenizar estes aspectos.
Porém, a vida não é feita apenas de pontos positivos. Isso pode ser percebido
através das citações de tantos desafios e dificuldades superadas nas trajetórias de todos
os entrevistados. Estes são exemplos de códigos desta categoria que podem aparecer e
que apareceram nas transcrições analisadas, mas a pouca frequência traduz um resultado
muito positivo, já que não estão presentes em excesso e são sempre seguidos por
superações, pois as vulnerabilidades, assim como outros pontos negativos presentes em
outras categorias, são para trazerem reflexão e inspiração.
Por isso, vulnerabilidades são essenciais como forma de identificação. Como
todos passam por dúvidas, dificuldades, medos, erros, estes aspectos podem ser
transformados em reflexão e em inspiração, mostrando que os insucessos são pontos
oportunos para mudanças de melhorias na vida dos funcionários, tanto dos que narram,
como algum outro que possa ver, ouvir, identificar-se e se motivar a agir diferente. Se
trabalhados pela comunicação interna, esta motivação pode estar ligadas às
necessidades e planos organizacionais, sendo benéfica a ambos, funcionário e
organização.
Após analisar e interpretar os resultados presentes em todas as categorias
segundo a presença ou ausência dos códigos de identificação, uma por uma, fez-se a
média geral da frequência das categorias, em porcentagem, sobre todos os depoimentos,
a fim de perceber de maneira mais clara quais foram as categorias mais frequentes e
menos frequentes.

5.3.4. Média da frequência das categorias em todos os depoimentos

Como cada depoimento de vida possuia uma duração diferente de acordo com o
ritmo do entrevistado, as ocorrências das categorias foram transformadas em
porcentagem, de acordo com a quantidade de conteúdo analisado em cada
157

micronarrativa. A tabela a seguir mostra esta frequência em porcentagem, da ocorrência


das categorias nas falas dos entrevistados, na ordem de maior presença para a menor.

Tabela 13 – As categorias mais frequentes nas falas dos entrevistados

Entrevistados Ana Attílio Clarindo Claudio Eduardo José Morgana Patrícia


Média da
Votoran- Pão de frequência
Empresas BNDES Aracruz VW Petrobras Incor Natura
tim Açúcar das
Idades 42 84 68 69 47 47 38 31 categorias
Cargos Coord. Concursado Pontual Diretor Gerente Fiscal Concursada Promotora
Reconhecimento 19,75% 20,29% 16,94% 12,50% 14,36% 13,11% 11,00% 22,40% 16,29%
Valorização da
9,56% 17,39% 19,94% 15,54% 13,53% 14,75% 11,19% 14,11% 14,50%
memória

Externalização
10,49% 9,42% 14,46% 17,32% 11,33% 9,84% 15,25% 14,10% 12,78%
dos sentimentos

Manifestação
das 12,35% 9,42% 12,40% 8,21% 9,69% 11,47% 20,08% 10,37% 11,75%
Subjetividades

Sentimento de
14,20% 9,42% 7,85% 7,50% 10,77% 11,01% 8,88% 12,03% 10,21%
pertencimento

Humor 7,41% 7,97% 9,09% 15,36% 9,67% 6,09% 6,56% 6,64% 8,60%
A presença
8,02% 10,87% 12,40% 5,17% 10,77% 7,73% 7,92% 5,39% 8,53%
mitológica
Heroísmo 8,02% 8,70% 4,96% 8,21% 6,91% 10,53% 9,07% 9,54% 8,24%

Disseminação
do 8,33% 4,35% 2,89% 7,86% 11,05% 12,41% 8,30% 4,20% 7,42%
conhecimento

Vulnerabilidades 1,85% 2,17% 2,07% 2,32% 1,93% 3,04% 1,74% 1,24% 2,05%

Por estes resultados, pode-se perceber que a presença das categorias estão bem
distribuídas nas falas dos entrevistados, considerando que, por serem organizadas em
dez categorias, a média equilibrada seria de 10% de presença para cada uma delas. Os
valores de frequência variam próximos aos 10%, apresentando poucas variações para
cima ou para baixo, mas mostrando que a presença é significativa em todas as
categorias, exceto a categoria das vulnerabilidades, que aparece com apenas 2,05% de
presença.
158

Isso pode ser justificado, como pudemos perceber por meio das análises dos
códigos, por uma questão de condução do entrevistador ou por uma escolha do narrador
ao contar os fatos, sendo que normalmente as pessoas preferem falar de suas vitórias aos
seus fracassos, vibrar pelos seus sucessos e esconder os seus insucessos. E, geralmente,
quando citadas algumas de suas vulnerabilidades, elas são seguidas por uma
justificativa, uma superação e um sentimento de reconhecimento sobre suas ações. Essa
ideia é reforçada quando apresenta-se na categoria oposta, de maior frequência, o
reconhecimento de si próprio e da organização na qual se trabalha, com 16, 29% de
frequência.
O próprio fator da pessoa estar sendo entrevistada, escutada, e, sendo assim, ela
saber que tem voz, isso já traz ao narrador, em certo nível, um sentimento de
reconhecimento. Ao narrar, as pessoas desejam deixar registradas as suas ações bem
sucedidas, as suas realizações que lhe fizeram ser o que são naquele momento em que
são interrogadas.
Um fato curioso é que a pessoa entrevistada com maior frequênica dessa
categoria (22,40%), é a promotora da Natura, que possui o cargo mais baixo dentre os
entrevistados e a menor idade. Quando se pode imaginar o contrário, de que quanto
mais vivências e conquistas, maior a frequência de reconhecimento em suas
micronarrativas, este dado mostra que isso não é regra. Se o que foi realizado por ela for
significativo, ela pode se sentir reconhecida e reconhecer o que a organização fez, tanto
por ela quanto para a sociedade.
A valorização da memória é a segunda categoria com maior frequência,
aparecendo com 14,50%. Por ser tratar de uma ação de memória é evidente que esta
categoria apresente uma significativa ocorrência em todas as falas, já que a proposta dos
projetos são exatamente o levantamento do que foi significativo na vida de cada um dos
entrevistados. Os três entrevistados de idades mais avançadas foram os que tiveram
mais ocorrências nesta categoria, indicando que quanto mais idade, mais vivências e
experiências e, consequentemente, mais memórias são destacadas e valorizadas.
As categorias de externalização dos sentimentos e das manifestações das
subjetividades aparecem de forma bem distribuída entre as falas dos entrevistados com
respectivamente 12,78%, 11,75% de frequência. Esses resultados são interessantes na
medida que demonstram exatamente o equilíbrio destas duas categorias que dizem
respeito ao mais íntimo dos entrevistados, que são suas emoções, seus sonhos, suas
159

crenças, ou seja, aquilo que depende especialmente de suas afetividades em relação ao


mundo que os rodeia e os formam como seres pertencentes a este mundo.
Seguindo esse raciocínio, essas categorias estão ligadas à categoria de
sentimento de pertencimento, que também aparece de forma bem equilibrada nos
depoimentos de vida, com 10,21% de frequência. Isso ocorre na medida em que, sentir-
se pertencente a uma organização, é também uma manifestação sobre a forma que o
entrevistado sente tanto em relação à como a organização age sobre ele, assim também,
de que forma ele age em relação à organização - a partir dos relacionamentos
proporcionados por ela, dos vínculos criados, dos projetos desenvolvidos, das crenças e
dos valores organizacionais, quando estes estão de acordo com suas próprias
subjetividades e emoções.
O humor, com 8,60% de frequência, aparece de maneira justa, já que a vida não
é apenas uma seleção de fatos engraçados, irônicos e metafóricos. Além disso, esta é
uma categoria que perpassa entre outras, no momento em que um fato engraçado pode
estar durante a lembrança de um detalhe, na valorização da memória, durante a
explicação de um processo, na disseminação do conhecimento, por exemplo, ou por
conta da própria personalidade do entrevistado, indicando alto astral, sensibilidade e
inteligência emocional, características apresentadas fortemente pelo diretor de projetos
da Gol em toda a sua micronarrativa, possuindo a maior ocorrência desta categoria entre
os entrevistados, com 15,36%.
As categorias sobre a presença mitológica e o heroísmo pessoal aparecem com
frequências muito próximas nos depoimentos, apresentando 8,53% e 8,24%
respectivamente. Elas são categorias que estão ligadas entre si, e, se fossem
consideradas uma mesma categoria, seria uma das mais frequentes. Porém, é importante
a separação dessas duas ideias, uma vez que tratam de aspectos diferentes em relação ao
mundo organizacional e ao sujeito sobre a sua trajetória de vida pessoal e profissional,
como pode ser notado pelas análises separadas destas duas categorias.
A categoria disseminação do conhecimento aparece com 7, 42% de frequência,
apesar de ter um dos códigos de identificação com maior frequência, como visto
anteriormente, sobre a explicação de um processo ou de um projeto, seus outros códigos
de identificação aparecem com poucas citações, aspecto também já destacado, como
algo positivo em relação às micronarrativas, sobre o pouco uso de palavras técnicas e de
informações excessivas, que tornam as narrações mais atrativas. A baixa frequência
160

também está ligada à forma como é narrada a disseminação do conhecimento,


geralmente envolvida com outras categorias.
A relação entre categorias, nesse caso, ocorre uma vez que, ao serem contatos os
processos, estão envolvidos outros fatores como o detalhamento da memória e sua
valorização, o reconhecimento de suas ações, o sentimento de pertencimento e,
inclusive, seus atos heróicos, porque as micronarrativas muitas vezes possuem partes
em que o narrador busca transmitir, segundo Carrascoza (2004b), por cunho
pedagógico, noções práticas da vida, ensinamentos morais, conhecimentos populares,
condutas éticas, colocando-se como um herói do cotidiano, ou seja, aquele modelo que
demonstra as formas adequeadas de ser e de agir, que levam ao sucesso e ao
reconhecimento.
Dessa maneira, pode-se perceber que, apesar de todas as categorias estarem
presentes em todas as narrações, é importante refletir sobre suas frequências, suas
variações e suas possíveis razões para que, compreendidas, possam ser trabalhadas estas
micronarrativas da melhor maneira possível pela comunicação interna. Sendo assim a
partir de todos os dados e resultados analisados e interpretados por esta pesquisa
empírica e por todo o levantamento realizado pela teoria, pode-se ter alguns importantes
pontos de reflexão que serão apresentados a seguir.

5.3.5. Interpretações significativas sobre os resultados

A partir dos resultados da pesquisa e de todo o estudo teórico levantado para a


realização deste trabalho, pode-se destacar alguns pontos relevantes desvendados para
auxiliar o comunicador que atua na comunicação interna de uma organização, para que
este, de acordo com os objetivos organizacionais, possa repensar seus processos e suas
ações comunicacionais sob os novos contextos.

Toda micronarrativa possui informações relevantes

É preciso perceber que cada funcionário tem uma visão e um comportamento


diferente, de acordo com suas personalidades, individualidades, percepções e interações.
Porém, pelos estudos, nota-se que todas as micronarrativas, independentemente de
quem eram estes funcionários, apresentam-se como discursos criativos, particulares e
íntimos, trabalhando não apenas com as necessidades dos sujeitos, mas com os seus
161

sonhos e desejos, com as suas motivações e seus medos, seus sentimentos positivos e
negativos, seus conhecimentos e suas vulnerabilidades, a partir das memórias de cada
um deles.
A amostra apresentava: um diretor de projeto, um gerente, uma coordenadora,
um fiscal, uma concursada que se tornou uma Doutora da Alegria, uma promotora, um
engenheiro concursado que era analista de projetos e um marceneiro que fez trabalhos
pontuais para uma organização, sendo um fornecedor que se considerava membro da
organização. Destes oito entrevistados sorteados, dois já estávam aposentados. Um fez
apenas alguns trabalhos para uma das organizações. Três eram mulheres. Uma delas
havia desistido de sua profissão em busca de novos sonhos. Outra delas ainda estava no
início da carreira.
Mas não importam tais características, em todas as micronarrativas contadas por
eles pode-se contar a presença de diversas citações que identificam a externalização dos
sentimentos, as manifestações das subjetividades, o humor, a presença mitológica, o
heroísmo, a valorização da memória, o reconhecimento, o sentimento de pertencimento,
a disseminação do conhecimento e suas vulnerabilidades. Todas características
destacadas na teoria como fundamentais para serem trabalhadas pela comunicação
interna nos novos contextos apresentados e a nova maneira de sentir o mundo e agir
sobre ele.
Os entrevistados foram sorteados a fim de que reduzisse a imparcialidade sobre
a presença de tais características nas falas, independentemente de quem eles fossem. E
os resultados foram bem interessantes na medida também em que se pode fazer algumas
considerações de acordo com suas diferenças.
Não importa se são narrativas de funcionários aposentados, como Attílio e
Cláudio, que demonstram o quanto o trabalho deu a eles o sentido e o significado para
as pessoas que eles se tornaram, servindo de exemplos para futuros funcionários, além
de todo o registro de seus conhecimentos, produzidos por anos para as organizações em
que trabalharam. Como verificou-se pela teoria, por Seaman e Smith (2012), é preciso
reconhecer a força que o passado possui para liderar com senso histórico sobre os
passos futuros. Por outro lado, em narrativas de pessoas muita jovens, como Patrícia de
apenas 31 anos, no começo de sua carreira, há inúmeras histórias, sonhos, revelações e
manifestações de grande relevância que devem ser significativas para a construção de
uma nova narrativa para a comunicação que esteja de acordo com todos esses
sentimentos.
162

Clarindo não trabalhou propriamente como um funcionário fixo na Aracruz


Celulose, mas, mesmo assim, apresenta em sua fala reconhecimento e sentimento de
pertecimento, mesmo tendo outras profissões e outros serviços. Isso indica que podem
ser trabalhadas outras micronarrativas também, se possível, de outras pessoas que estão
envolvidas com o público interno da organização de maneira mais presente, como
terceirizados e fornecedores. Morgana, apesar de ter saído do InCor atrás de outros
sonhos seus, fala o quanto esta organização foi responsável por abrir portas para ela se
descobrir e narra o quanto se sentiu emocionada ao retornar anos depois. Ela fala sobre
suas vulnerabilidades, incertezas e superações, demonstrando que tantos pontos
positivos como negativos devem ser tratados com cuidado, tanto para valorizar as
potencialidades presentes na organização, como também para evitar a perda de talentos.
Seguindo esta ideia, pelos resultados gerais, todas as micronarrativas apresentam
tanto citações positivas como negativas, mesmo estas aparecendo em número bem mais
reduzido. A comunicação interna precisa refletir que, dependendo da finalidade das
ações a serem criadas através das micronarrativas, é importante considerar tanto as
citações positivas para incentivar o reconhecimento, o sentimento de pertencimento, a
criação sobre as mitologias e os heróis organizacionais, como também as citações
negativas, para se repensar alguns processos ou até mesmo utilizá-las como fonte de
identificação, conforme visto.
Como estudado na teoria, a presença das categorias nos conteúdos analisados
das entrevistas mostra sua relevância na medida em que a recepção e a estimulação da
comunicação interna estão ligadas as questões afetivas e cognitivas (PIAGET, 1969),
dependentes das matrizes culturais, experiências individuais, vivências interpretativas,
interações, percepções, imaginações, recordações e, inclusive, as intensidades dessas
memórias em cada indivíduo. Por isso é tão importante que comunicadores
compreendam a riqueza de informações vindas destas recordações. E, por isso, para
compreender todas estas características nas micronarrativas, é preciso que o
comunicador tenha um olhar diferenciado sobre os detalhes presentes nas falas de cada
funcionário.

A riqueza dos detalhes: é do grão que se forma o grandioso

A vida que as pessoas possuem não são formadas apenas por grandes momentos
o tempo todo. Mas são as miudezas vividas que compõem a nossa grandeza. Por isso, é
163

importante valorizar as riquezas dos detalhes cotidianos, os quais são essenciais para a
construção do nosso ser e do nosso sentido de existência. A naturalização da rotina, os
excessos de informações, a velocidade dos fatos, faz com que, por muitas vezes, “estes
pequenos milagres presentes no dia a dia sejam desvalorizados” (CARRASCOZA,
2013)7.
Ao perceber este fenômeno, cabe ao comunicador saber valorizar e enxergar, por
uma ótica invertida, como podem ser grandiosos os pequenos detalhes narrados a partir
das experiências cotidianas vivenciadas pelo público interno. Como na obra de Italo
Calvino (1994), sobre o telescópio invertido de Palomar, que, ao invés de ampliar os
espaços, focava para as coisas próximas do cotidiano. Metaforicamente, mostra que as
grandes questões do mundo e do significado sobre a existência do homem estão
presentes em cada objeto observado, em cada cena presenciada e em tudo que é digno
de ser pensado e memorável.
Sendo assim, compete ao comunicador, por esta ótica invertida, conseguir
visualizar e valorizar os pequenos momentos como grandiosos, porque na verdade é
tudo o que as pessoas possuem. Não é possível memorizar todo o vivido. Por isso, o
profissional de comunicação interna precisa estar preparado para escutar e enxergar essa
beleza do cotidiano memorável. Aquilo que aparentemente poderia parecer banal e
corriqueiro, pode conter elementos incríveis porque, se foi memorável para o
entrevistado, significa que aqueles pontos da micronarrativa possuem o de mais valioso
para ele.
Desta forma, “mesmo quando um detalhe parece irredutívelmente insignificante,
rebelde a qualquer função, ele tem pelo menos a significação de absurdo ou de inútil”
(BARTHES, 2013, p.29). Todo detalhe possui uma significação, inclusive o silêncio.
Cabe ao comunicador interpretar “os ditos e os não ditos” (PÊCHEUX, 1997),
manifestações verbais e não verbais, o explícito e o implícito, “o que é dito” e o “como
é dito”.
Entre estes “não ditos” podem estar aspectos negativos ou vulnerabilidades que
o narrador tentou esconder através de seu controle emocional, ao determinar o que
“poderia” ou “deveria” contar e não contar. Por isso, para Mônica Cristine Fort et al
(2009, p.94) uma boa comunicação supõe liberdade de manifestar opiniões e

7
(informação verbal). Discussão levantada pelo Prof. Dr. João Carrascoza em reunião do Grupo de
Estudos de Novas Narrativas, da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, no dia
17 de dezembro de 2013.
164

sentimentos, desde que haja empatia e capacidade de ouvir ativamente pelo


comunicador, o que eles acreditam ser a capacidade de entender estas manifestações,
tanto as explícitas como as implícitas.
Por isso, ao falar sobre comunicação face a face como estratégia de gestão
organizacional, a qual seria uma possibilidade de ação a ser realizada pelo método de
contação de histórias sobre as experiências dos funcionários, Passadori (2006, apud Fort
et al, 2009, p.95) acredita que cabe ao comunicador saber identificar os detalhes
preciosos nestes processos, assim como também a existência de pontos que podem
dificultar as suas interpretações tais quais: a) timidez, que mesmo sendo pessoas
inteligentes e com grande conhecimento, podem se encontrar bloqueadas e assustadas;
b) vícios de linguagem que podem trazer dificuldades de compreensão; c) prolixidade,
em que narradores falam demais sobre assuntos desinteressantes e d) controle
emocional, que pode relevar o quanto um indivíduo tenta esconder suas negatividades.
Para identificar os detalhes e aspectos ‘ditos” e “não ditos” nas narrações, como
foi visto na teoria deste tabalho e que pode ser observado pelas análises e interpretações
das micronarrativas pela pesquisa empírica considerando as categorias e seus inúmeros
códigos de identificação, é preciso ter um olhar que vai de dentro para fora para
perceber o potencial expressivo que cada funcionário possui. Tem que pensar sobre o
ponto de vista do funcionário, dar espaço para ele criar e perceber as suas contribuições.
Desvendar o que as pessoas colocaram para dentro como memórias, de acordo
com seu perfil cognitivo, percebendo a forma como cada um aborda um tema, situação,
problema, soluções, crenças e trabalhar com todas estas riquezas presentes nas
narrativas da experiência. Assim, cabe a comunicação interna dar voz a todos estes
sentimentos, valorizar a força que há nos pequenos poderes da organização e explorar os
seus detalhes sobre esta ótica invertida em que demonstra que é do grão que se pode
planejar o grandioso.

O poder dos pequenos

É melhor dar voz a estas pequenas partes e saber trabalhar com a ebulição de
ideias que possam surgir das micronarrativas destes multiprotagonistas organizacionais,
do que apenas deixá-las que explodam e se espalhem sem tempo de serem
compreendidas. Isso reflete também o quanto há de poder nas pequenas partes
integrantes/construtivas da organização. É preciso pensar o quanto cada uma destas
165

partes possuem seus afetos, seus desejos, suas opiniões, críticas e imagens positivas e
negativas sobre diversos aspectos organizacionais e, que, estas mesmas pequenas partes
possuem suas redes humanas e seus capitais relacionais (dentro e fora da organização a
qual pertencem), e elas podem exercer influências sobre outras pessoas, levando essas
ideias e visões sobre a organização.
Segundo a pesquisa Trust Barometer, realizada pela agência Edelman Significa
em parceria com a Aberje e a ESPM, o maior estudo global acerca da confiança,
demonstra que desde 2009 até os dados mais recentes em 2014, a categoria “pessoas
como eu” estão sempre entre as três fontes primárias de confiança, recebendo em 2014,
62% de confiança8.
Estes resultados estão de acordo com as reflexões de que hoje é preciso
considerar que existe um descentramento do poder em relação à organização. Os novos
contextos e as novas formas de sentir o mundo e agir sobre ele faz com que o indivíduo
saiba que possui voz e que pode utilizá-la nas diversas plataformas para influenciar suas
redes relacionais. Por isso, é melhor que a comunicação interna saiba compreender a
riqueza de tais informações, de modo a se trabalhar com elas tanto para valorizar esses
pequenos poderes, como também para reduzir possíveis confrontos e conflitos.
Segundo Moisés Naím (2013), as pessoas hoje não se sentem mais obrigadas a
guardar silêncio e aceitar arbitrariedades de autoridades. Para ele, os grandes poderes
perderam lugar para pessoas que se enxergam livres para perseguir seus próprios
desejos e, quando não estão satisfeitas com uma determinada ordem, não medem
esforços para modificá-las. Por isso, a organização precisa estar ciente destas novas
possibilidades e abrir espaços para escutar os micropoderes, incluindo seus
funcionários, independentemente de suas hierarquias, de forma a criar as novas
narrativas da comunicação, que estejam de acordo com estes novos contextos.
Sendo assim, estas novas narrativas devem valorizar o poder das pequenas partes
da organização, suas memórias, suas afetividades, subjetividades, sentimentos e
vulnerabilidades, de forma que a macronarrativa organizacional fale de acordo com
estas micronarrativas e que contemplem maior atratividade em tempos de déficit de
atenção, mais emoção ao invés de racionalidades e que sejam menos excessivas e mais
afetivas, e que (re)construam as identidades perdidas nos novos contextos.

8
Resultados da pesquisa podem ser obtidos pelo site: http://pt.slideshare.net/EdelmanInsights/edelman-
trust-barometer-2014-brasil
166

Dessa maneira, por um lado temos que o comunicador precisa refletir sobre as
informações presentes nas narrações, como a circulação das emoções e das
subjetividades, o humor, a disseminação de saberes, a valorização das memórias que
recuperam o legado da organização, legitimando seus feitos, suas ações e seus projetos
de forma que se construam novas narrativas baseadas em tais detalhes levantados pelos
micropoderes da organização. Por outro lado, as micronarrativas apresentam
potencialidades afetivas na medida em que proporcionam ao narrador a visualização e a
valorização de seus próprios desenvolvimentos realizados como partícipes dos
processos organizacionais, em que são reconhecidos vínculos e identidades.

Identidades podem ser (re)construídas pelas micronarrativas

Bendassolli (2007, p.228-229), em seus estudos sobre identidade, apresenta


quatro dimensões da narrativa identitária apontadas pelos autores Somers e Gibson
(1994). A primeira diz respeito a narrativa ontológica, que nos ajuda “a saber quem
somos, por que e como fazemos as coisas que fazemos.” O segundo tipo são as
narrativas públicas, que “incluem estereótipos culturais, explicações midiáticas,
narrativas de igreja, partidos, famílias, governos e nação”. O outro tipo são as narrativas
conceituais, que são aquelas dadas por especialistas para explicar fenômenos cotidianos.
Por último, eles apresentam as metanarrativas como grandes esquemas conceituais e
abstratos que visariam “ligar as narrativas conceituais e os atores sociais na perspectiva
histórica ampla” (BENDASSOLLI, 2007, p.230).
Assim, seguindo estes tipos de narrativa, o autor explica que a metanarrativa
identitária do trabalho entrou em crise na dinâmica social fluida de Bauman (2001) que
dissolveu as seguranças, as estabilidades e as razões de que trabalhar era praticamente
um dever espiritual. Com estas diluições, as outras narrativas identitárias também
entraram em crise.
Para Bendassolli (2007) o que existe hoje são, portanto, "pequenas narrativas
sobre o sentido e o valor do trabalho, bem como sobre a relação dele com a construção
da identidade" (BENDASSOLLI, 2007, p.221). As micronarrativas, como pode-se
perceber pela pesquisa, faz com que, pela contação de histórias, cada indivíduo ganha a
tarefa de coletar os sentidos capazes de justificar o valor do trabalho em suas vidas.
Portanto, este é o principal ponto possível pelo qual a comunicação pode atuar:
entender as particularidades, os talentos, os processos cognitivos e afetivos dos públicos
167

da organização, suas formas de expressão e de recepção, para então entregar a eles


material coerente para ajudá-los a (re)construirem as suas identidades e a criarem um
sentido forte de valor do trabalho, para manterem sua relação com a organização.
Este material diz respeito às histórias, aos mitos, ritos, rituais e heróis da
organização, narrados por cada parte integrante da organização. As micronarrativas,
segundo essas reflexões, podem ajudar na (re)construção das identidades na medida em
que podem oferecer, no nível micro da narrativa, “vocabulários e roteiros de descrição
de si mesmo, os quais possuem ao mesmo tempo, uma dimensão pessoal, social e
histórica” (BENDASSSOLLI, 2007, p.228), assim como pode ser notado pelos
resultados da pesquisa, principalmente pela representativa frequência da categoria sobre
o reconhecimento, a amis presente em todos os depoimentos.
Por isso, em ações de comunicação interna em que possa haver a troca destas
micronarrativas, pode-se perceber também que será pelo entrelaçamento e pelo inter-
relacionamento de sua micronarrativa a de outros indivíduos, que cada um poderá se
identificar, assimilar, associar e adaptar a sua identidade a do outro narrador,
construindo um sentido único para si, mas que faz parte do seu entendimento como
constituinte de uma história maior, que pode ser de comunidades, empresas, grupos e
organismos sociais, uma vez que “conhecer a história do grupo ao qual pertence pode
ajudar a pessoa a enxergar eventos, e a si mesma, como parte de uma história ainda em
curso, de algo maior que ela própria (SEAMAN; SMITH, 2012, p.26).
Desta maneira, a ideia é de que através das micronarrativas, das pequenas
histórias, memórias e pretensões individuais, pode-se alcançar um sentido das ações de
quem as conta, uma compreensão sobre as suas particularidades, importantes e
integrantes de uma experiência coletiva. Somando-as, talvez seja possível compreender
origens, pretensões para o futuro, além de responsabilidades e identidades (NASSAR,
2012). Por isso, o foco é que através das micronarrativas pode-se contribuir para serem
percebidos os desejos, os sonhos, as memórias afetivas e as ideias das pessoas,
reconstruindo também a identidade organizacional de modo que esta reflita as
identidades individuais das pessoas que a compõem, ao mesmo tempo em que reforça a
sua própria identidade, de acordo com a sua posição na Era Conceitual (PINK, 2007),
que diz que as micronarrativas fazem parte de um:

contexto enriquecido por emoções, uma compreensão mais profunda


do modo pelo qual fazemos parte de algo maior, e por isso é
168

importante. A Era Conceitual pode nos lembrar o que sempre foi


verdade mas raras vezes nos mobilizou – que precisamos escutar as
histórias uns dos outros e que cada um de nós é o autor-escritor da
própria vida (PINK, 2007, p.111).

Dessa forma, constituem-se narrativas ligadas à subjetividade de cada pessoa, as


quais podem ser capazes de explicar origens, evoluções e propósitos, sejam da vida
pessoal ou profissional do indivíduo, das suas histórias, do seu lugar como ser humano
no mundo, inclusive no mundo organizacional do trabalho, ao tentar (re)construir as
suas identidades, fragmentadas nos tempos pós-moderno, digital, complexo e
metapórico. Ao mesmo tempo, proporcionam a constituição de uma narrativa
organizacional multidimensional, formada por milhares de micronarrativas cujas vidas,
ao menos em parte, foram dedicadas ou afetadas por sua história.
Assim, é possível criar ações de comunicação interna em que, por meio dessas
micronarrativas, pode-se não apenas dar voz a todos os integrantes da organização,
trasnformando-os em heróis do cotidiano, reconhecendo seus profissionais e gerando
material para seus processos de auto-conhecimento, mas também entendê-los, descobrir
seus comportamentos, anseios e medos e trabalhar a partir dessa compreensão para
melhores comunicações e rumos para a organização, constituindo relacionamentos e
diálogos onde o humor e a emoção podem prevalecer em espaços que permitam a
legitimação compreendida por Nassar (2008), a partir de projetos que envolvam a
participação de multiprotagonistas.

Infeliz a organização que não produz os seus heróis e os seus mitos

Dentro de cada indivíduo há uma infinidade de personagens que ora se exibem


ora se ocultam. Personalidades que poliexistem no real e no imaginário. Cada um tem
em si universos de sonhos, mas também galáxias de incertezas e de medos. Explosões
de felicidade e implosões de infelicidade. Impulsos insaciados de desejos e de não-
quereres que dificultam o impacto de uma comunicação, que fica à mercê da fluidez das
vidas das pessoas. Por isso é preciso que um comunicador aprecie a natureza dinâmica
da mudança num sistema humano complexo, o que:

implica entender a particularidade dos problemas e das consequências


tantas vezes inesperadas das soluções dadas a eles. Enfatizando a
contingência de causa e efeito, rejeita abordagens genéticas, pois não
169

há duas situações que sejam idênticas no detalhe ou no contexto.


Como diz o ditado atribuído a Mark Twain: ‘a história não se repete,
mas volta e meia rima’. É por isso que buscamos analogias úteis na
história. Porque são as rimas, os padrões, que nos permitem pôr em
perspectiva a dimensão de nossos desafios e as perguntas que
devemos fazer progredir (SEAMAN; SMITH, 2012, p.30).

Assim, embora haja tantas diferenças e complexidades entre cada indivíduo, as


histórias trazem elementos de identificações, através dos signos culturais-
representativos, capazes de afetar o imaginário das pessoas, tanto das que narram,
quanto das que as escutam, envolvendo-as. Dessa maneira, um ponto estratégico na
comunicação interna é a transformação do “indivíduo comum”, integrante da
organização, em herói da vida cotidiana, das suas ações no dia a dia no trabalho, que
está de acordo com o novo sentir do homem moderno, que necessita ter sua
individualidade reconhecida.
Para Campbell (1997), os heróis e os feitos do mito mantém-se vivos, uma vez
que “na ausência de uma efetiva mitologia geral, cada um de nós tem seu próprio
panteão do sonho — privado, não reconhecido, rudimentar e, não obstante,
secretamente vigoroso” (CAMPBELL, 1997, p. 6), o particular que precisa ser
trabalhado sobre aquilo que é signicamente compreensível culturalmente. Para
Campbell (1997, p.13), o herói é:

o homem ou mulher que conseguiu vencer suas limitações históricas


pessoais e locais e alcançou formas normalmente válidas, humanas.
As visões, ideias e inspirações dessas pessoas vêm diretamente das
fontes primárias da vida e do pensamento humanos. Eis por que falam
com eloquência, não da sociedade e da psique atuais, em estado de
desintegração, mas da fonte inesgotável por intermédio da qual a
sociedade renasce. O herói morreu como homem moderno; mas, como
homem eterno — aperfeiçoado, não específico e universal —,
renasceu. Sua segunda e solene tarefa e façanha é, por conseguinte
(...), retornar ao nosso meio, transfigurado, e ensinar a lição de vida
renovada que aprendeu (CAMPBELL, 1997, p. 13).

Por essas ideias e pelos resultados da pesquisa em que todos os funcionários,


independentemente de suas hierarquias apresentam em suas narrações aspectos
mitológicos e características heróicas, temos que essa ação de contação de histórias não
apenas faz o homem sentir-se vigoroso por seus feitos cotidianos, mas também
transmite identificações e ensinamentos a outros profissionais.
170

Fato este que traz a percepção sobre a importância para que a comunicação
interna abra espaço para o mito e para o nascimento das figuras mitológicas
organizacionais. Essa ação é, de certa forma, a “abertura secreta através da qual as
inexauríves energias do cosmo penetram nas manifestações culturais humanas”
(CAMPBELL, 1997, p.5). Trata-se, portanto, da canalização de figuras simbólicas
universais nos moldes de determinada cultura, seja ela étnica, nacional ou
organizacional.
Ao narrar e escutar histórias, retorna-se a um tempo que se foi, as tradições,
memórias, mitos, ritos e rituais. Assim, a comunicação pode ser inovada, uma vez que
“o paradigma dominante racionalista (...) auxiliaria na morte dos mitos, o contar
histórias seria uma retomada desta possibilidade evocativa. Ser, estar e agir no mundo
tem a ver com o desabrochar do imaginário (COGO, 2012a, p.117). Matos (2010, p.75-
76) diz que o cérebro armazena mais facilmente narrativas de experiência, porque além
de evocarem emoções, como coloca Pink (2007), elas também possibilitam a
identificação com narradores, contextos, ações e características dos personagens ou com
sua trajetória.
A contação de histórias, como pode-se verificar estimula a imaginação a ponto
de promover um deslocamento das realidades concreta e factual. Para Lacan (2008) o
imaginário é um registro psíquico. O ser humano é marcado pela incompletude, e, por
isso, ele busca no outro (pessoas, amor, imagens, objetos) uma sensação de completude,
de unidade.
Como pudemos perceber, é pelo desabrochar do imaginário, que pode ser
proporcionado pelas micronarrativas, que funcionários identificam-se com as histórias
narradas, uma vez que o “eu” é como Narciso: ama a imagem de si mesmo que ele vê
no outro. Esta imagem que o “eu” projeta no outro e no mundo é fonte de amor, paixão,
desejo de reconhecimento, agressividade e competição. É o que Lacan (2008) chama de
simbólico, ou seja, tudo aquilo que encerra um sentido e um significado que, neste caso,
refere-se ao sentido da existência do homem como essencial para mundo organizacional
e o seu significado formado pelas identificações com a alteridade pertencente a este
mesmo mundo.
Dessa forma, a montagem imagética da comunicação interna estratégica sobre
este aspecto deveria ser meticulosamente composta com a intenção da construção
simbólica necessária à elevação da história de vida da pessoa ao seu status mitológico.
Todos os profissionais biografados, como pode ser observado pela pesquisa, assumem
171

papéis simbólicos e encarnam valores e atitudes mitológicas. Tratada como narrativa,


verifica-se, as personagens remetem a valores imemoriais assim como as graciosas
características divinas, tais como o heroísmo, a força, a determinação, a beleza, a graça,
o constante devir através do qual o novo substitui o velho, entre outras micronarrativas
carregadas por cada um de seus participantes, e necessárias à profundidade e
essencialidade inerentes ao patamar sígnico das narrativas epopeias.
O profissional, ao contar sua história, integra a sua vida à vida da organização
em que trabalha, reflete seus momentos de dificuldades e de glórias, suas
vulnerabilidades e suas superações, sente-se herói de si mesmo e da organização. Ao
receber a solicitação da sua fala, ele pode, através da narração, reconstruir sua
identidade fragmentada e refletir “uma alegria ingênua que vence as adversidades”
(NETO, 2005, p.9). E é este narrar, com certeza, um ato comunicacional estratégico
para os novos tempos:

Toda história se refere ao fracasso ou ao sucesso de homens que


vivem e trabalham juntos em sociedades ou nações, com pretensão ou
ao verdadeiro ou ao verossímil, a história é, na verdade, o fragmento
ou o segmento de um mundo da comunicação. São os atos
comunicacionais dos homens do passado o que se pretende recuperar
como verdade absoluta ou como algo capaz de ser acreditada como
verídico. É nesse sentido que estamos dizendo que a história é sempre
um ato comunicacional (BARBOSA, 2007, p.17).

Por outro lado, ao ouvir os narradores, os outros profissionais anexam à sua


memória pessoal uma memória coletiva, filtrada pelo verbo imaginoso de quem se vê
como herói. Há a identificação pelas experiências narradas e o afeto sobre o desejo de
ser também um herói. A micronarrativa é o verbo democrático que dá voz a todas as
percepções heroicizadas do cotidiano empresarial, uma vez que, segundo Denning
(2002, online), as histórias narradas são inerentemente não-hierárquicas. Isso significa
que, embora haja as particularidades de cada narrativa, dependentes de personalidades,
graus de estudos, idades e cargos, há pontos comuns entre todas as histórias contadas,
assim como pudemos perceber em todas as narrativas analisadas, confirmando que “a
evocação de uma vida particular utiliza componentes das grandes histórias, ainda que
desejando assumir uma singularidade, um ineditismo” (COGO, 2012a, p.138).
Os estudos sobre as micronarrativas apontam, portanto, como analisamos através
das categorias, para componentes comuns em todas as histórias, os quais são os
responsáveis por gerar identificação, assim como teorizada a cosmogonia (ELIADE,
172

2010), que coloca a questão de que ainda que mudem as personagens, objetos e
cenários, a imemorialidade mítica do símbolo divino ainda está presente no imaginário
coletivo.
É por este motivo que vale parafrasear a expressão “Infeliz a terra que não
produz heróis”, apresentada em “A vida de Galileu”, de Bertold Brecht. Os contextos
atuais perderam seus grandes heróis do passado, os quais não são mais referência. Eles
faziam parte da modernidade, em que havia narrativas que consolidavam uma esperança
de futuro. Na pós-modernidade, não é mais o futuro que importa e sim o presente, não é
mais a ilusão de uma fantasia, é o real e o possível do instante vivido.
Heroínas hoje são as pessoas que lutam, enfrentam desafios e sobrevivem neste
mundo caótico. No mundo organizacional e do trabalho as relações devem ocorrer
também sobre estes aspectos. As organizações precisam manter vivas as suas
macronarrativas, mas precisam dar a elas novas significações, reforçando as suas
referências a partir das micronarrativas, reconhecendo todas as memórias e histórias das
pessoas que fazem parte dela, produzindo seus heróis do cotidiano e suas mitologias,
envoltas de sentimentos de reconhecimento, de pertencimento, assim como suas
emoções, subjetividades e vulnerabilidades.
173

6. CONCLUSÃO

As reflexões embasadas sob a ótica de um contexto digital, fluido, randômico,


abundante, mutável e exposto demonstram que, em muitas organizações, não há espaço
hoje para tradições, experiências profundas, mitos, histórias e sentimentos, o que acaba
afetando a realidade narrativa da organização. Como visto, a realidade narrativa é
composta tanto pelas narrativas que a própria organização conta e profere - por vezes
muito técnicas, objetivas, racionais, informativas e excessivas - e as narrativas que seus
públicos contam sobre a organização, as quais, por toda a pressa dos dias, pelas
preocupações por metas e lucros, acabam não recebendo a devida atenção, sem valorizar
as memórias e as afetividades presentes nelas e o novo jeito das pessoas em sentir o
mundo e de agir sobre ele.
Novos contextos exigem novas narrativas, ou seja, novos pensamentos sobre a
comunicação, sobretudo em relação à comunicação interna. Sendo assim, as
micronarrativas apresentaram-se neste trabalho como um recurso plenamente adequado
de acordo com o panorama estudado sobre os novos contextos, o qual percebe-se que
deve atentar para a valorização da indivíduo (do micro), o reconhecimento sobre o
multiprotagonismo existente dentro do universo organizacional, independentemente de
hierarquias e funções desenvolvidas, em um ambiente de trabalho que exige
humanização, baseada na compreensão de sentimentos e subjetividades circulantes em
sua realidade narrativa.
Pela análise da presença de cada uma das categorias, pode-se observar que toda
micronarrativa acaba sendo importante não apenas como fonte de informações
relevantes para o comunicador refletir e propiciar a criação de novas narrativas
organizacionais, mas também é meritório quando pensada sobre as afetividades que
pode causar sobre o próprio funcionário ao ser convidado para narrar as suas memórias
e histórias.
Isso significa que, por um lado, ao narrar a sua micronarrativa, o indivíduo pode
se sentir condecorado, na mesma proporção que compreende que a organização quer
escutá-lo e que sua história está sendo valorizada. O funcionário sente-se pertencente a
macronarrativa organizacional e assimila que ele também é um responsável pela sua
resignificação. Além deste fato, ao contar as suas memórias, o funcionário pode
(re)construir a sua identidade, refletindo sobre suas ações ali realizadas, seus sucessos,
174

suas dificuldades, suas superações, seus atos heróicos no cotidiano do trabalho, assim
como o seu propósito de vida, elevando-se a um estado de compreensão sobre a sua
importância para aquela organização. Ou seja, o indivíduo é afetado pelas suas próprias
palavras, contribuindo para a formação de sentido para si, ao passo que mexe com as
suas experiências mais profundas e significativas.
Por outro lado, o comunicador, a partir do olhar sobre o “telescópio invertido”,
ao enxergar a riqueza dos “detalhes grandiosos” que surgem em tais micronarrativas, ele
adquire o poder para organizar as ideias acerca da narrativa organizacional, adaptando-a
sobre a descoberta das presenças mitológicas, de seus heróis cotidianos, da valorização
das memórias, favorecendo, inclusive, na reflexão sobre os passos futuros da
organização. Isso significa que podem ser geradas novas referências e significações para
a macronarrativa organizacional, na medida em que são valorizados todos os símbolos
criados, integrando os seus sentidos e os seus significados aos processos de legitimação,
para que missão, visão e valores organizacionais sejam significativos também para os
seus sujeitos integrantes/construtivos.
Da mesma maneira, as micronarrativas ainda podem auxiliar no planejamento de
ações de comunicação interna sobre o entendimento da presença e da ausência destes
elementos das categorias, mais focadas sobre as emoções, as subjetividades e os
sentimentos de pertencimento e de reconhecimento expostos, valorizando o
individualismo e o heroísmo dos funcionários, criando uma cumplicidade sobre as ações
desenvolvidas futuramente, levando em consideração as evocações passadas, as
conquistas coletivas e a importância de cada um sobre estas realizações.
Além disso, ações de comunicação interna que envolvam o narrar e o escutar
dessas miconarrativas pelos membros da equipe interna da organização, faz com que
surjam identificações pelas histórias, colocando todas as pessoas participantes dessa
ação sobre uma mesma importância e uma mesma condição: a de humanos que possuem
seus sonhos, suas lutas, suas afetividades e suas superações, independentemente de suas
funções e tempo de casa. Essas ações pensadas sobre o compartilhamento de
micronarrativas também podem ser capazes de driblar o déficit de atenção destes novos
tempos, na medida em que conforme foi estudado pelas teorias e pode ser observado
pela pesquisa empírica, ao envolver o lado emocional ao invés do racional, histórias são
capazes de envolver, gerar curiosidade e prazer.
Ademais, as micronarrativas possibilitam espaços democráticos para a troca de
ideias, para a escuta das polifonias existentes no mundo organizacional, criando
175

inclusive um ambiente que possibilite a manifestação da criatividade, do humor, das


emoções e dos desejos, para a elaboração de novas narrativas, assim como também,
possibilita, se bem conduzidas, na constituição de um habitat em que possam se revelar
aspectos negativos, sentimentos ruins e vulnerabilidades, importantes para se repensar
alguns processos organizacionais, evitar perdas de talentos e, inclusive, para permitir
feedbacks mais precisos.
Assim, os destaques sobre os resultados da pesquisa empírica parecem
animadores, já que se pode perceber a significativa presença de todas as categorias
criadas a partir da revisão bibliográfica em toda e qualquer micronarrativa sorteada,
independentemente de quem eram os narradores, o que demonstra o direcionamento
correto sobre as possibilidades de uso das micronarrativas como estratégias de
comunicação interna em relação à todo extenso levantamento teórico estudado e a
prática comprovada.
Vale refletir que apesar de aparecer todos os elementos que identificam as
categorias aqui apresentadas para a finalidade de discussão proposta neste trabalho,
podem ser pensados outros elementos para análise sobre as micronarrativas, dependente
dos objetivos organizaiconais. Isso é mais um aspecto positivo se considerarmos que
tais estudos abrem a porta para novas reflexões e possibilidades de ações, cabendo ao
comunicador orquestar tais elementos e categorias à partir do que espera descobrir sobre
os seus funcionários.
Micronarrativas, como um exemplo de utilização do storytelling organizacional,
faz jus à compreensão de que a contação de história pode ser considerada uma nova
lógica comunicacional a ser aproveitada estrategicamente em conformidade com os
novos contextos, nos quais precisa ser reconsiderada a lógica da humanização, da
subjetividade, do reconhecimento, do mítico, do humor, do colaborativo, do dialógico,
do individual, do afetivo e do simbólico, contra as saturações, as racionalidades, as
experiências superficiais, as padronizações e a falta de referências e de significações.
176

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ANEXOS
Anexo A: Transcrições das entrevistas analisadas

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