TCC - Luiz Bastos Final
TCC - Luiz Bastos Final
TCC - Luiz Bastos Final
FACULDADE DE ECONOMIA
CURSO DE GRADUACAO EM CIÊNCIAS ECONÔMICAS
EMPREENDEDORISMO STARTUP:
UM PANORAMA SOBRE O ECOSSISTEMA DE
RENOVAÇÃO BRASILEIRO
Salvador
2021
LUIZ DIOGO DE MOURA BASTOS
EMPREENDEDORISMO STARTUP:
UM PANORAMA SOBRE O ECOSSISTEMA DE
RENOVAÇÃO BRASILEIRO
Salvador
2021
B327 Bastos, Luiz Diogo de Moura.
Empreendedorismo startup: um panorama sobre o
ecossistema de renovação brasileiro/ Luiz Diogo de Moura
Bastos. - - Salvador, 2021.
CDD: 338.789 1
LUIZ DIOGO DE MOURA BASTOS
EMPREENDEDORISMO STARTUP:
Banca Examinadora
__________________________________________________
_ ____________________________________________________
_____________________________________________________
Esse trabalho buscou compreender a dinâmica a qual se inserem essas empresas, assim como
as características e motivações dos indivíduos que buscam empreender nesse ecossistema.
Para isso, foi utilizada uma análise exploratória, resgatando o pensamento Schumpeteriano.
Conclui-se que o Brasil ocupa uma posição relevante mundial, no que diz respeito a
comunidades de startups e criação de novos negócios. As iniciativas públicas e privadas, com
políticas e investimentos, têm gerado efeitos positivos sobre a produção de conhecimento e
inovações, e o mercado estrangeiro tem investido cada vez mais nas empresas do país. Apesar
dos estudos sobre as características dos empreendedores de startups ainda serem escassos, os
dados que existem demonstram que não há uma diversidade social entre os empreendedores
desse modelo e, também, uma concentração dessas empresas em regiões mais ricas do país.
This work sought to understand the dynamics in which these companies are inserted, as well
as the characteristics and motivations of researchers who seek to undertake in this ecosystem.
For this, an exploratory analysis was used, rescuing the Schumpeterian thought. It is
concluded that Brazil occupies a relevant position with regard to startup communities and the
creation of new businesses. Public and private initiatives, with policies and investments, have
generated positive effects on the production of knowledge and innovations, and the foreign
market has increasingly invested in companies in the country. Although studies on the
characteristics of startup entrepreneurs are still scarce, the data that exist show that there isn’t
a social diversity among entrepreneurs of this model and also a concentration of these
companies in richer regions of the country.
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 8
2 CONCEITUANDO O EMPREENDEDORISMO ............................................................ 12
2.1 EVOLUÇÃO DO TERMO E AS VERTENTES TEÓRICAS .......................................... 12
2.2 A TEORIA DE JOSEPH SCHUMPETER......................................................................... 18
3 O AGENTE EMPREENDEDOR ....................................................................................... 24
3.1 AS PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS ........................................................................... 24
3.2 OPORTUNIDADE X NECESSIDADE ............................................................................. 26
4 O MODELO DE NEGÓCIO STARTUP ........................................................................... 35
4.1 A DINÂMICA DAS STARTUPS ....................................................................................... 35
4.2 O PAPEL DA INOVAÇÃO TECNOLÓGICA PARA A EXPANSÃO DO MODELO ... 40
5 EMPREENDEDORISMO STARTUP NO BRASIL ........................................................ 44
5.1 A CONJUNTURA BRASILEIRA E O FOMENTO À INOVAÇÃO ............................... 44
5.2 O ECOSSISTEMA STARTUP NO BRASIL ..................................................................... 58
6 CONSIDERAÇÕES ............................................................................................................ 73
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 75
8
1 INTRODUÇÃO
Nesse contexto, o ato de empreender passa, então, a ser analisado como um motor do sistema
econômico, em que o indivíduo que o realiza detecta novas oportunidades de negócios,
sempre associados à inovação (FILION, 1999). Drucker (1998, apud BAGGIO; BAGGIO,
2015) aponta que os empreendedores são passíveis de explorar as oportunidades que
aparecem durante as mudanças tecnológicas, nas preferências dos consumidores e normas
sociais. Pioneiro para a teoria empreendedora, Schumpeter foi responsável por cunhar o
conceito de “Destruição Criativa”, justificando o modus operandi do empreendedor, como
aquele que destrói de maneira radical os meios comuns de produção vigentes, ao promover
inovações (SCHUMPETER, 1998).
Os estudos mais atuais apontam que os indivíduos podem ser levados ao empreendedorismo
pela identificação de uma oportunidade de negócio, assim como pela tentativa de inserção no
mercado de trabalho; são chamados empreendedores por oportunidade e empreendedores por
necessidade, respectivamente. Enquanto o empreendedor por oportunidade tem o desejo de
inovar e se tornar dono do próprio negócio, mantendo-se informados e acumulando capital
para seguir com o seu projeto, os empreendedores por necessidade iniciam um novo negócio
para buscar uma alternativa frente à dificuldade de inserção no mercado de trabalho e ao
desemprego. Segundo Vale, Corrêa e Reis (2014), existe uma minoria de autores que sugerem
não serem mutuamente excludentes ambas motivações, como, também, podendo haver outros
fatores capazes de intervir na decisão de uma pessoa em se tornar empreendedora.
9
Com o avanço da internet, observou-se uma mudança de perspectiva no que diz respeito às
aspirações dos trabalhadores e profissionais dessa área. Estudos apontam que a alta taxa de
desemprego no país, unido à facilidade de se encontrar conteúdos informativos sobre
empreendedorismo e novas tecnologias, tornou-se fundamental para que surgissem novos
modelos de produtos e serviços, planejando escalabilidade no mercado consumidor. É de se
notar que as Startups se tornam frequentes no ciberespaço, visto os baixos custos de criação e
possibilidade de uma expansão rápida (PAIVA; ALMEIDA, 2018; SANTOS; CAPELLI,
2019).
Verificando o crescimento no número de startups no país, esse trabalho tem como objetivo
fazer uma análise exploratória sobre a dinâmica dessas empresas, como elas estão inseridas no
Brasil, o papel das políticas públicas e privadas para a alavancagem desses negócios, e as
motivações por trás dos indivíduos que veem, através da inovação, as oportunidades de
empreender nesse mercado. Para se alcançar o objetivo proposto, o presente estudo partiu de
pesquisas bibliográficas e qualitativas sobre o tema, através de levantamentos de materiais
elaborados sobre o assunto, como artigos científicos e jornalísticos, livros e relatórios, afim de
abordar o fenômeno de maneira mais ampla.
Além dessa introdução, o trabalho apresenta mais cinco seções. Na próxima seção consta a
conceituação da teoria empreendedora, abordando a visão schumpeteriana sobre o papel do
empreendedor, sua definição e sua disposição para inovar. A seção número três traz a
concepção do empreendedor, com suas principais características e motivações. Na quarta
seção é abordado as peculiaridades do modelo startup, e a inovação como fator determinante
para o desenvolvimento desse modelo. Na quinta seção se faz uma contextualização sobre as
startups no país, apresentando a conjuntura socioeconômica brasileira, o ecossistema em que
elas se inserem, os indivíduos que estão à frente desses negócios e as políticas de fomento
11
para o crescimento dessas empresas. Por fim, na sexta seção, apresenta-se as considerações
finais.
12
2 CONCEITUANDO O EMPREENDEDORISMO
É a partir desse século que o termo empreendedor passou a ser utilizado como representação
da figura do empresário, e, com a crescente industrialização e ampliação tecnológica, nos
séculos seguintes, o indivíduo empreendedor recebe o mérito de atuação nas áreas de
organização, gestão e controle institucional, ocorrendo, muitas vezes, confusões entre o papel
do empreendedor, do empresário e do administrador (HISRICH; PETERS, 2004). As
incertezas de se empreender no mercado passam a ser consideradas, ao passo que o agente
econômico é visto como um tomador de riscos. É então que o ideal de empresário se define
em um contexto de negócios, na compra e venda de bens e serviços, definição que se mantém
até o pressuposto da oferta e da demanda. Esse momento histórico se caracterizou pela
expansão no comércio nas atividades manufatureiras e empresariais, em que o crescimento
econômico se ligou diretamente ao desenvolvimento industrial.
Sob uma perspectiva histórica, a revolução industrial como grande fator impactante para a
economia mundial, visto que agiu diretamente nos custos de comércio, tornou lucrativo
produzir em grandes escalas. Isto desencadeou um crescimento moderno, um ciclo auto
sustentável de produção e ganhos de rendimento, que tornou rentável a inovação. Em meados
do século 19 à Primeira Guerra Mundial, os custos de comércio caíram rapidamente, devido,
principalmente, aos menores custos de transporte. De 1914 à 1950, os custos de comércio
13
Na visão clássica smithiana, o sistema econômico independe das atuações individuais dos
agentes econômicos, em que o mercado se auto regularia para atingir o potencial em que todas
as partes envolvidas tivessem sua melhor posição nas trocas comerciais. A teoria neoclássica
determina uma posição distinta para o empreendedor, ao passo que este se torna mais um
coordenador do que tomador de risco. Considerando que os defensores dessa teoria assumem
a racionalidade dos agentes econômicos e a informação plena, a tomada de decisões deixa de
ser um papel tão fundamental no processo de empreender (CAMARGO; CUNHA,
BULGACOV, 2008).
Vê-se que o agente, na teoria econômica ortodoxa, aparece como um ser “atomizado”,
homogêneo nas relações de produção, eliminando suas características individuais, de ações
passivas, tendo como função principal a otimização e transformação de fatores de produção
em produtos. É, então, com o avanço da economia neoclássica, que o fenômeno
empreendedor deixa de ser explorado na literatura econômica, visto que essa teoria trabalha
14
Um desses importantes pensadores liberais é Jean Baptiste Say, que tratou o empreendedor
como o empresário que se encontra no centro do processo econômico, administrando e
intermediando, tanto a produção quanto as relações entre produtores e consumidores. Nesse
ponto, é comum desse indivíduo possuir as características e qualidades necessárias para
avaliar as especificidades dos produtos e dos meios de produção. Para Costa, Barros e
Carvalho (2011), o empresário de Say é um indivíduo racional, dinâmico, que busca
maximizar os lucros, adaptando-se diante das incertezas, em que o bem-estar social
econômico da sociedade depende desse indivíduo e do progresso técnico desenvolvido por
ele.
Já Cantillon foi responsável, na segunda metade do século XVIII, por tentar identificar o
agente empreendedor, focando em seu posicionamento frente ao risco das oscilações da oferta
e da demanda, e não mais em sua função para com a sociedade, como era visto até então
(COSTA; BARROS; CARVALHO, 2011). O autor entendia como empresário aqueles
indivíduos exploradores de terras, como os colonos, visto que esses pagavam ao proprietário
de terra um valor por empreendimento, sem a certeza dos benefícios. O mesmo poderia ser
dito do comerciante que intermediava os produtos dos campos para as cidades, comprando e
revendendo, alterando os preços de acordo com a demanda, como, também, poderia ser
considerado como empresário o artesão, que comprava seus insumos dos comerciantes e
produtores, e que venderia seus produtos finais, sem garantia do que seria obtido do valor da
venda.
Vale (2014), em seus estudos, aponta que autores, como Knight, foram responsáveis por
reutilizar as proposições de Cantillon, ao tratar dos riscos como um ponto característico, se
tratando de empreendedorismo. Knight, também, separa as ideias de risco e incerteza, sendo
responsabilidade do empreendedor introduzir melhorias organizacionais e de âmbito
tecnológico para se alcançar o progresso tecnológico. O autor, também, permeou a análise das
motivações e características pessoais daqueles empreendedores que alcançavam relativo
sucesso em suas empreitadas. De acordo com Filion (1999), já existiam pensadores liberais no
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mesmo período que demonstravam interesse em destacar os papéis dos empreendedores, não
sendo um estudo particular de Cantillon.
De maneira geral, a biografia em torno do tema se divide em três vertentes teóricas, sendo a
primeira a Schumpeteriana, que fundamenta no espírito empreendedor a constituição de
empresas, o papel da inovação e o desenvolvimento econômico, tendo Joseph Schumpeter
como idealizador teórico e principal expoente. A segunda vertente é a comportamentalista,
que focam nos atributos humanos e psicológicos, como criatividade, intuição e motivação,
tendo como um dos seus principais expoentes McClelland. E, na terceira vertente, se destaca-
se Weber, responsável por tentar explicar a prática empreendedora através dos traços pessoais
e atitudes dos indivíduos, também conhecido como o “espírito do empreendedor”
(SANTIAGO, 2009).
Seria através dessa “necessidade de realização” que o autor estabeleceria a conexão entre a
iniciativa empresarial e o crescimento econômico, ao ponto que não só empreendedores e
gerentes, mas sociedades que apresentavam indivíduos com alta “necessidade de realização”
tenderiam a apresentar altos patamares de desenvolvimento. Logo, diferentes sociedades e
suas culturas apresentariam propensões distintas ao surgimento do empreendedorismo. O
autor se aproxima de Schumpeter ao perceber que os vetores para o desenvolvimento partem
de fatores endógenos ao sistema.
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Por outro lado, tem-se o olhar sociológico weberiano, forjado na esteira do avanço do
capitalismo como sistema, em que o empreendedor é não somente um indivíduo que participa
do sistema, mas que é extremamente importante para o seu desenvolvimento. Para Weber
(2004), esse tipo de indivíduo modificou os meios de comercialização, alterando os
fundamentos dos negócios, sendo os primeiros responsáveis por buscar racionalizar todos os
diferentes aspectos de seus empreendimentos. Com a capacidade de inovar, fator motivacional
do empreendedor de Weber teria como fator principal uma ética de natureza cultural,
qualidade capaz de lhe dar as características necessárias para alcançar seus objetivos, a
chamada “ética protestante”.
Assim sendo, tal característica do indivíduo empreendedor não se trataria de apenas um meio
de trabalho, mas uma ética particular, uma qualidade que deve ser praticada e até utilizada. O
empreendedor é o agente principal da transição para o capitalismo moderno, capaz de se livrar
da tradição comum, trabalhando para si e produzindo o próprio capital (WEBER, 2004). A
tentativa de compreender a dinâmica do capitalismo perpassava pelo ideal de um indivíduo
“super-homem”, que, em sua ética religiosa protestante, romperia as barreiras estruturais
arcaicas da sociedade, para introduzir inovações no mundo, transformando-o em moderno.
Em seus estudos para analisar as origens e evolução das diferentes concepções teóricas sobre
o indivíduo empreendedor, os estudos de Vale (2014) se difere dos de Santiago (2009) ao
apontar cinco diferentes vertentes teóricas, sendo elas a econômica, a da inovação, a
sociológica, a da sociologia econômica e, por fim, a da psicologia.
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Anos mais tarde, além de ter assumido a função de Ministro das Finanças da, até então,
República Austríaca, também assumiu o posto de presidente do vienense Bidermann Bank,
banco privado que decretou falência sobre sua gestão. A partir de 1925, leciona na
Universidade de Bonn e, em 1932, assume a docência na estimada Universidade de Harvard,
posto que mantém até seu falecimento, em 1950. É com Joseph Schumpeter que a inovação
passa a ter um papel crucial para a formulação do empreendedorismo, com a “destruição
criativa” sendo um dos grandes causadores do desenvolvimento econômico. Entretanto, de
acordo com McCraw (2012), é no fim do século XX que a teoria Schumpeteriana alcançaria
maior status, e na década de 1980, já com a temática da inovação ganhando evidência, visto o
grande avanço tecnológico que ocorria no período, chamado de a quinta revolução industrial.
A inovação e o papel da mudança tecnológica se tornaram pauta da Escola Evolucionária da
Mudança Tecnológica, de composição de autores denominados neoshumpeterianos,
avançando e trazendo as ideias de Schumpeter para temas que não foram abordados pelo
autor.
De acordo com Schumpeter (1985), o ato de empreender é, acima de tudo, inovar. Tal
inovação deve ter a capacidade de transformar radicalmente o ambiente de atuação do
empreendedor, rompendo com o fluxo econômico contínuo, através de um novo ciclo de
crescimento, a passo que o indivíduo empreendedor realiza novas combinações dos meios de
produção, seja abrindo um novo mercado, alcançando novas fontes de matérias primas,
desenvolvendo um método de produção novo ou criando um novo produto. Dornelas (2008)
reitera a teoria schumpeteriana ao definir que o empreendedor deve destruir a ordem
econômica vigente, introduzindo inovações no âmbito das produções de bens e serviços, das
explorações de recursos e das formas de organização.
Schumpeter enxerga que o empreendedor tem, essencialmente como sua função, criar
métodos novos de produção, explorando uma invenção específica ou de modo geral,
desenvolvendo tecnologias até então inutilizadas na produção de bens, localizando os insumos
necessários para comercializar um produto que ainda não foi apresentado no mercado
(SANTOS; CAPELLI, 2019). A inovação aparece de maneira endêmica, como principal
característica do indivíduo empreendedor, sendo responsável por promover o progresso e
crescimento econômico. O empreendedor é visto como sujeito inovador, responsável por
impulsionar o desenvolvimento econômico e social, seja por intermédio da reforma dos
padrões de produção, ou da revolução desses padrões.
O empreendedor não pertence a uma classe social, visto que este se distingue do capitalista
burguês, que age racionalmente orientado para exploração e lucro, como definido pela
proposição neoclássica. Apoiado pela composição teórica Weberiana, o empreendedor em
Schumpeter também possui uma racionalidade, sendo essa limitada, e sua motivação para
empreender está no impulso da conquista de algo novo, em um “chamado” para criar e inovar,
de modo que o lucro aparece como consequência do esforço e da conquista do indivíduo, e
não apenas uma satisfação das próprias necessidades. Nesse caso, o empreendedor também
não pertence a um estamento, já que sua posição é uma consequência de seu sucesso, e não
fruto de herança (MARTES, 2010).
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A racionalidade do indivíduo não surge como algo inato, intrínseco ao homem econômico,
mas como fruto do processo sociocultural. A compreensão intelectual do meio em que se
insere é um dos grandes desafios do indivíduo que busca empreender, dada fuga da tradição
cultural na qual se insere. Para se desviar do cenário em que está inserido, esse ser deve
racionalizar suas ações, considerando o planejamento, os riscos e incertezas. Ao tratar da
diferença entre o capitalista e o empreendedor, o segundo é responsável por inovar, enquanto
o primeiro se adapta às adversidades. Logo, a expansão do seu modelo de negócios não,
necessariamente, implica em empreender. O capitalista, ao se debater com a concorrência,
pode buscar se modernizar para se manter relevante no mercado, mas, ao fazer isso, este
estará apenas se adaptando (MARTES, 2010).
Devine (2002) aponta que Schumpeter, ao definir o ideal empreendedor, acaba por descrevê-
lo com qualidades quase míticas, em que as organizações assumem uma posição de veículo
para seus fins. De fato, Schumpeter parte da totalidade social ao definir questões
sociopolíticas, diferindo da abordagem da teoria institucional, em que os indivíduos se
conformam com as pressões institucionais. O indivíduo empreendedor, na teoria de
Schumpeter, torna-se o objeto, pois ele é o agente responsável pela mudança, quem não se
acomoda frente às conformidades, quem desafia os padrões impostos pelas instituições. Não
obstante, quando se trata de análise para o mercado, não há senão à metodologia de recorrer
ao “individual”, a fim de explicar o desenvolvimento tecnológico.
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A destruição criativa não é apenas um fator que leva à melhores produções de bens e serviços,
mas, também, leva ao rompimento com as estruturas pré-estabelecidas do mercado,
prejudicando as empresas que se forçam a permanecer fiéis ao modelo anterior. O
empreendedor Schumpeteriano assume um papel especial na introdução das inovações, visto
que essas promoverão a fuga do fluxo circular e introduzirão o estado dinâmico, responsável
prelo crescimento econômico de um país. Os novos métodos de produção, bens de consumo,
mercados e formas de organização industrial são o impulso mais que fundamental que
colocam e mantém em funcionamento o capitalismo (SCHUMPETER, 1982). As variações de
ordem natural e social também são responsáveis por influenciar o sistema capitalista, porém
não se constituem em seu móvel principal, como o caso das inovações. A destruição criativa
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se torna a base do capitalismo ao se considerar que as empresas devem entender esse processo
para se adaptarem e sobreviverem ao mercado.
Essas transformações, segundo Schumpeter (1985), podem gerar pressão nas instituições
econômicas vigentes, acabando por estabelecer um desequilíbrio que se mantém até atingir
um novo ponto de conformidade. Importante salientar que o aspecto institucional, diferente do
tratado pelos críticos à teoria de Schumpeter, tem importância fundamental para o
empreendedor, ao passo que as instituições oferecem uma base de sustentação à atividade
empreendedora, ajudando na alavancagem de novos ciclos de crescimento. Tais instituições
são as políticas, econômicas e de crédito e que, de acordo com Schumpeter, e que, são essas
mesmas instituições, que servem de base para a atividade, mas que possuem valores
antiquados e engessamento em suas estruturas, e por isso virão a se opor ao
empreendedorismo, em determinados momentos.
24
3 O AGENTE EMPREENDEDOR
Hisrich e Peters (2004) apontam que o agente empreendedor se origina de experiências, sejam
educacionais, familiares e profissionais, podendo estar em qualquer pessoa, independente das
características pessoais, como gênero e raça, da posição geográfica, como nacionalidade ou
até área de atuação. Para Dolabela (1999), não existe qualquer resposta científica sobre a
existência da possibilidade de ensinar um indivíduo a ser empreendedor, sendo apenas
possível aprender a empreender em um ambiente apropriado para tal aprendizado.
Para Costa Neto e Canuto (2010), os empreendedores podem ser distinguidos entre o
empreendedor que comanda o próprio negócio, líder sobre seus colaboradores, chamado de
Empreendedor Externo. Os empreendedores externos ainda se dividem entre os indivíduos
que empreendem por enxergar uma oportunidade de negócio (Empreendedores por
Oportunidade), e os empreendedores que se inserem nessa estrutura para se alocar no mercado
de trabalho (Empreendedores por Necessidade). Em contraponto, existe o empreendedor
interno, que é aquele agente que é líder de um grupo em uma organização, estimulado por ser
reconhecido pelos serviços prestados.
De acordo com Alano e outros (2014), existem os “empreendedores nascentes”, sendo aqueles
que se envolvem na construção do negócio que são donos, mas que ainda não se encontram
estruturados internamente em questões de remuneração, ao contrário dos “empreendedores
novos”, que já deram retorno em remuneração aos proprietários, em pelo menos três meses de
negócio criado. Ainda consta para os autores os “empreendedores estabelecidos”, que tem em
seu negócio o pagamento de salários, pró-labores ou qualquer forma de remuneração a seus
proprietários por mais de três anos. Tais empreendedores podem se dividir entre aqueles que
identificam uma oportunidade no negócio, ou aqueles que assumiu a posição de
empreendedor pela necessidade de inserção ao mercado de trabalho.
26
O autor ainda aponta a existência do “empreendedor social”, como sendo aquele que se
envolve em causas humanitárias, com projetos que objetivam melhorar a vida dos outros.
Entre todos os tipos de empreendedores, esse é o único que não busca desenvolver um
patrimônio financeiro. Também se destacam o “empreendedor herdeiro”, que está ligado pelo
laço familiar, em que o indivíduo perpetua o legado que lhe foi passado; o “empreendedor
planejado”, como aquele que busca minimizar os riscos, possuindo uma visão clara sobre o
futuro e trabalhando em função de metas; e, finalmente, o “empreendedor por necessidade”,
em que Paz (2015) define como o indivíduo que assume a posição de empreendedor por que
lhe falta acesso ao mercado de trabalho, não restando opção, senão trabalhar por conta-
própria.
Tal parametrização havia sido concebida por Dornelas (2008), que explica haver dois tipos de
empreendedores, como sendo empreendedores por necessidade, aqueles que optam pelo
empreendedorismo como uma maneira de fugir do desemprego, e que, sem opções de
trabalho, focam em alternativas para se sustentar e crescer financeiramente, sem um
planejamento prévio, como, também, indica a existência dos empreendedores por
oportunidade, que traçam metas, criam sistemas, executam planejamentos e métodos para
alcance de seus objetivos, que podem ser citados como geração de lucro e riqueza.
A metodologia escolhida pela pesquisa da GEM foi dualizar, em duas categorias distintas, as
possíveis motivações dos indivíduos em optarem por ingressar no mercado de trabalho através
do empreendedorismo. Essas categorias são os “Empreendedores por oportunidade”, categoria
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formada por aqueles indivíduos que, após enxergarem um nicho em potencial, decidiram
empreender, e os “Empreendedores por necessidade”, em que se inserem aqueles indivíduos
que, motivados pela falta de oportunidade no mercado de trabalho, buscam empreender para
subsistir.
De acordo com os autores, analisar os fatores que levam o Brasil a ser um país com pouca
atividade empreendedora contribui para entender que, no país, o empreendedorismo surge
como um “colchão” ao desemprego, diferente de países com elevados níveis de renda, que
possuem como diretrizes políticas para aumentar o tempo de formação dos jovens, para que
esses entrem capacitados no mercado de trabalho.
Altas taxas de empreendedorismo por oportunidade podem ser um reflexo positivo da
atividade empreendedora de um país, a partir do momento em que existe uma parcela de
pessoas capazes de discernir sobre as melhores vantagens dentro do mercado. Em
contraponto, altas taxas de empreendedores por necessidade podem indicar a existência de um
problema estrutural no país, visto que as pessoas estão buscando o trabalho pela necessidade
de sobrevivência, na medida em que não conseguem se inserir no mercado de trabalho formal.
aqueles que não possuem a carteira de trabalho assinada. No caso do Brasil, a definição de
informal se dá pelos trabalhadores que não possuem relações trabalhistas regidas pela
Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).
Em pesquisa com dados obtidos do GEM, para o ano de 2001 até o ano de 2013, Silva,
Furtado e Zanini (2015) identificaram aumento no número de mulheres empreendedoras, visto
que a porcentagem de mulheres que estavam nessa atividade estava abaixo de 30% no ano de
2001, equiparando-se aos do gênero masculino, em 2005, e passando a ser maioria a partir de
2009. Em relação às motivações para se empreender, a maioria dos entrevistados apontaram
como principal motivação a se empreender o almejo no aumento de renda, afim de adquirir
um imóvel próprio. Segundo estudo dos autores, para todo o período analisado, levando em
consideração os fatores que motivaram os brasileiros a investir, tem-se que a maioria dos
indivíduos optaram pelo empreendedorismo através da oportunidade de começar um novo
negócio, com exceção para o ano de 2002, em que o percentual de empreendedores por
necessidade é superior ao de empreendedores por oportunidade.
Em estudo para o ano de 2008, para o Brasil, os dados do GEM mostram predominância de
empreendedores movidos pela necessidade, nos setores de serviço orientado para o cliente.
Por outro lado, em setores empresariais predominaram os empreendedores por oportunidades.
Considerando que esses setores dependem de mão de obra de alta qualificação, os indivíduos
inseridos acabam o fazendo por enxergar um benefício ao entrar nesse mercado
(BULGACOV et al., 2011).
Em estudo, Alano e outros (2014) identificaram que, em 2002, era maior a existência de
empreendedores por necessidade quando comparado àqueles que ingressavam no
empreendedorismo por oportunidade no Brasil. Diferente dos dados para 2014, quando o
empreendedor por oportunidade assumiu a ponta das motivações, refletindo uma tendência
indicativa da atividade no país, em que mesmo no intenso crescimento de emprego formal, o
empreendedorismo por oportunidade aparece como impactante no mercado (ALANO et al,
2014).
Gráfico 1: Evolução da atividade empreendedora segundo a oportunidade e necessidade
Os autores apontam que a faixa etária com maior taxa de empreendedores, no período, é de 25
a 34 anos, seguida pela faixa de 35 a 44 anos, representando 21,9% e 19,9% de todos
empreendedores, respectivamente. No que se refere à participação feminina, o
empreendedorismo tem se destacado como uma opção cada vez mais forte, ao ponto de que,
dos empreendimentos em fase inicial, 52,2% são de propriedade de mulheres (ALANO et al.,
2014).
Demais autores têm confrontado a identificação binária realizada pelo GEM, indicando a
existência de outros componentes internos e externos, capazes de influenciar na tomada de
decisão do indivíduo e na sua escolha em se tornar um empreendedor (TOWNSEND et al.,
2010). Para Vale, Corrêa e Reis (2014), os motivos que influenciam na criação de
empreendimentos ultrapassam a lógica binária (oportunidade x necessidade). Existem,
também, outras questões a se considerar, como o mercado de trabalho, a influência familiar e
atributos pessoais.
No ano de 2014, Vale, Corrêa e Reis, buscando compreender os motivos para se iniciar no
empreendedorismo, entrevistou candidatos para se considerar o nível de importância nos
32
Tabela 3: Percentual dos empreendedores iniciais¹ segundo as motivações para iniciar um novo
negócio - Brasil 2019
A terminologia Startup só foi vinculada à um modelo de negócio nos anos 1990, quando
houve a expansão das empresas de tecnologia da informação e comunicação, e alta nas ações
das empresas desse setor, chamada na primeira grande “bolha da internet” ou bolha das
“ponto com”. Esse período foi marcado por inovadores empreendimentos, principalmente
associados à área de tecnologia e que, por se mostrarem promissores, encontram
financiamento para o desenvolvimento de seus projetos (SANCHES; PICANÇO;
PERIOTTO, 2017).
Como aponta Maia (2016), é na década de 90, com a criação da internet comercial, que as
organizações mercantis passam a ser desafiadas para inovar, ainda mais considerando o
mercado financeiro norte-americano com grande capitalização em bolsas de empresas do
ramo da internet. Apesar da grande crise que atingiu o setor, e mesmo liquidando diversas
empresas, o setor ganhou folego e impôs às empresas, que estavam iniciando nesse modelo,
avaliações mais rigorosas sobre investimentos em seus negócios.
instaladas no vale do Silício eram as melhores equipadas para se integrarem a esse mercado,
considerando que nem todas as firmas que ocuparam esse espaço, naquele momento,
possuíam um modelo tradicional de construção empresarial, visto que não se tratavam de
firmas já capitalizadas, mas sim em processo de formação, composta por jovens egressos de
universidades conceituadas da região, que viam em suas carreiras projetos direcionados ao
mercado privado, e não à planos acadêmicos (MAIA, 2016).
Segundo dados da Fundação Kauffman, essas organizações são responsáveis pela criação de
mais de 50% dos empregos em todo mundo, com a pesquisa ainda destacando a importante
atuação dessas empresas, visto que, com a ajuda da tecnologia, expansão das startups não é
restrita apenas à área em que está localizada, com muitas soluções sendo globais, atendendo à
públicos de diferentes partes do mundo. Essa capacidade de expansão permite que essas
empresas movimentem a economia e revolucionem o seu mercado, criando novas dinâmicas
de negócios, tanto em suas práticas, como a inovação aberta, quanto com o desenvolvimento
de novas tecnologias, além da abertura de novos mercados e a geração de empregos.
Segundo Longhi (2011), Startup são empresas pequenas, montadas longe do escopo
empresarial, que recebem pequenos aportes de capital e exploram áreas inovadoras de setores
do mercado e que possuem um crescimento acelerado. O autor aproxima a realidade aos
empreendedores de Startup, que começam esses empreendimentos com custos baixos,
buscando manter esse modelo, mesmo que a empresa esteja consolidada no mercado. São
instituições humanas, desenhadas para criar um produto ou serviço novo, em condições de
extrema incerteza, tendo a inovação como o princípio de suas operações, fazendo-se
necessário um planejamento eficiente (RIES, 2012).
Conforme apontam Nascimento e Silva (2018), Startup se caracteriza pela estrutura repetível
e escalável, significando que são capazes de vender o mesmo produto e serviço para diversos
clientes, sem mudar a própria estrutura e, também, capaz de atender seus clientes em grande
escala, respectivamente. São negócios em fase inicial, com alto potencial de crescimento,
sendo inovador, com cultura de eficiência e agilidade em seus processos, com base
tecnológica, mas, não necessariamente, sendo uma empresa da internet.
Ries (2012) relata que iniciar uma empresa com o segmento de uma que já existe no mercado,
com mesmo modelo de negócio, público-alvo e produto, pode até ser atraente do ponto de
vista econômico, mas não se classifica como startup, visto que o modelo de negócio se define
em sua forma de execução e inovação. Essa visão, também, é apurada por Santos e Capelli
(2019), ao afirmar que, para investidores e empreendedores, esse modelo é definido como
organizações de fase inicial, de proposta inovadora, com modelo escalável, de base
tecnológica e que tenham produtos e serviços de custo inferior.
Um ambiente de incerteza, também, destaca-se como uma das características para esse tipo de
empreendimento, pois, tratando-se de um modelo de negócios inovador, não se sabe ao certo
como o mercado irá reagir com a nova solução apresentada. Os investimentos entram como
ponto crucial para ajudar na consolidação da startup no mercado, sendo importante, também,
para dar continuidade às operações do projeto.
38
O empreendedor, dono do negócio, cria-o com base em experimentos de validação junto aos
possíveis clientes, para ver se o negócio tem um futuro e, assim, determina-se o Mínimo
Produto Viável (MVP) que, após ser validado, é disponibilizado para apresentação aos
investidores (SEBRAE, 2020). Finalmente, faz parte do modelo ter uma organização
temporária, sendo adaptativo ao longo do tempo, para se integrar da melhor forma ao
mercado. Esse período que a empresa define seu modelo é o que a define como startup e, após
estabelecido, o modelo de negócio maduro passa a se caracteriza como uma empresa.
Considerando o modelo, as startups podem ser diferenciadas pelo seu tipo de negócio, sendo
elas a small-business, scalable, lifestyle, buyable, social, large-company e a denominação de
“startups unicórnios”. A small-business startup se caracteriza pelos seus empreendedores, que
estão iniciando no ambiente empresarial, possuindo pouca experiência e pouca visão
administrativa, comandando e controlando a própria empresa, mas sem muito interesse em
expansão do negócio. Segue-se pela scalable startup, determinada por modelos de negócio de
alto potencial de crescimento, mas que necessitam de capital de risco para se expandir. Os
empreendedores desse modelo normalmente pretendem abrir capital na bolsa de valores, abrir
sociedade ou ter sua empresa comprada por investidores no futuro. A lifestyle startup é
montada para gerar renda, mas sem visar o lucro, sendo constituídas para realização própria
de seus empreendedores (INVESTOR, 2020).
O SEBRAE (2020) ainda aponta que as startups podem ser nomeadas de acordo com o
mercado que elas atendem, como, por exemplo, as Edtechs, que atendem o mercado da
39
educação, as Fintechs, que são do setor financeiro, Contrutechs, que estão na construção civil,
Lawtechs, que se inserem no segmento do direito, as Healthtechs, que estão no setor da saúde,
entre outras. O modelo de negócio também é um parâmetro para caracterizar o negócio
startup, para entender como a relação dessas empresas vão se dar no mercado. Se a startup
tiver seu produto ou serviço direcionado para outras empresas, seu modelo é chamado de
Business to Business (B2B), em contraposição ao modelo direcionado para atender a um
cliente final, conhecido como Business to Client (B2C) e, por fim, a proposta que atende as
demandas governamentais, Business to Governement (B2G). Existem, também, modelos que
possuem direcionamentos tanto para clientes, quanto para empresas ou governos, como
B2B2G, ou B2C2B, etc.
O seed capital (capital semente) se destaca por ser um tipo de financiamento concebido por
fundos de investimentos para empresas que não estão mais na fase embrionária, mas que
ainda estão com o projeto em desenvolvimento (PAIVA; ALMEIDA, 2018). O Bootstraping
se caracteriza pela ausência de capital externo, onde as empresas crescem reinvestindo o seu
próprio lucro, gerando capital para a sua expansão. O Fomento é um dos modelos de
investimentos relacionados à programas públicos, pois se trata de acesso a fontes de capital de
políticas governamentais, subvenção econômica e bolsas. A prática de Crowdfunding e Pré-
venda, se tratam do financiamento colaborativo via doação ou pré-venda de produtos via
internet. Por fim, existe a modalidade de Financiamento, que se dá através de empréstimos e
financiamentos bancários, oferecidos pelo setor financeiro e por bancos públicos de
desenvolvimento (MATOS; RADAELLI, 2020).
A grande ruptura das Startups com os modelos tradicionais é ser completamente orientada
para a inovação, independente da maneira que ela ocorra, seja por implementação
incremental, gradualmente, considerando todos os riscos envolvidos, ou de maneira mais
41
radical e incisiva, visto que os mercados em que se inserem são de grande incerteza
(NASCIMENTO; SILVA, 2018). Assim sendo, a startup deve apresentar inovações no seu
processo de desenvolvimento ou no produto que ela apresenta ao mercado, guiadas pelo
empreendedor, que deve observar as tendências de mercado e avaliar as melhores
oportunidades de negócios, para, assim, garantir visibilidade e rentabilidade para a empresa.
Para não ser considerada apenas um negócio de modelo tradicional, a startup precisa de
inovação. As empresas que conseguem alcançar um patamar de inovação disruptiva são as
que alcançam maior sucesso. A era da internet tem impacto determinante no conjunto de
ideias difundidas por esse tipo de empresa, pois somam a capacidade de inovar do
empreendedor com a capacidade de gerar negócios em curto espaço de tempo e a baixo custo
de implementação (NASCIMENTO; SILVA, 2018; SANTOS; CAPELLI, 2019).
Como afirma Álvaro (2012), as inovações científica e tecnológica foram determinantes para a
criação de novas empresas, garantindo crescimento, competitividade e rentabilidade.
Considerando que as novas ações são a melhor maneira de manter o mercado competitivo e,
43
também, expansivo, a cada nova descoberta surgem melhores abordagens empresariais para
agir com maior eficiência às demandas do mercado. O autor, também, pontua a importância
das universidades como centros de pesquisa e incentivo à inovação, sendo cruciais para
compreensão dos novos processos e produtos, modelos de negócio, mercados, interação entre
clientes e investidores, etc.
Para autores como Matos e Radaelli (2020), o ato de inovar é transformar ideias novas em
soluções socioeconômicas, que sejam capazes de sustentar o crescimento e dinamismo das
economias, em que para governos e empresas, a inovação tem papel essencial para garantir
vantagem competitiva sustentável, maior produtividade e crescimento econômico, ao ponto
que a proporção de investimentos intangíveis, no âmbito empresarial, tem sido superior aos de
capital físico, como máquinas e equipamentos, nas economias mundiais mais avançadas, nos
últimos anos. O desenvolvimento de uma startup depende da cultura empreendedora formada,
da disponibilidade de fontes de fomento adequadas e, também, da disponibilidade de uma
mão de obra qualificada, que seja capaz de combinar capacidade técnica, científica e
gerencial, em um mundo que sofre transformações constantes, dada mudanças nos modelos de
negócios trazidos pela era digital.
A cultura empreendedora há muito vem sendo impulsionada pelas tecnologias digitais, com o
aumento na densidade de startups e de ambientes de inovação e com o ambiente regulatórios
cada vez mais modernos e com acesso a mercados e ganhos de escalas maiores. Destacam-se
as mudanças de paradigma tecno-econômico, partindo de iniciativas e recursos
descentralizados, responsáveis por fomentar o empreendedorismo inovador, que contribuem
diretamente para o fortalecimento do movimento das startups (GEM, 2019).
Importante ressaltar que essas mudanças ocorreram a partir dos anos 2000, com a expansão da
internet e a popularização de bens que antes eram mais caros e restritos. Contudo, tão crucial
quanto às políticas governamentais e o avanço tecnológico em si, a facilidade do acesso à
informação foi determinante para expansão da atividade empreendedora e, também, das
Startups. As universidades também passaram a se tornar facilitadoras do acesso à novas
tecnologias como a internet e o desenvolvimento de pesquisas e incentivos ao
empreendedorismo.
44
Tratando-se das inovações tecnológicas, entretanto, os critérios que caracterizam esses tipos
de inovações são de difícil discernimento. Embora as Startups estejam mais associadas à
idealização de inovações radicais, os critérios científicos, tecnológicos e inovadores não
seriam os melhores à se tratar das empresas startups contemporâneas, em que a atividade
central não se destaca pela inovação tecnológica, mas pela exploração de oportunidades que
estavam além do que era observado no mercado (ALDRICH, 2005).
Como aponta Maia (2016), diversos autores entendem que, em um sistema descentralizado, a
união de redes sociais com um alto fluxo entre os mercados de trabalho são grandes
responsáveis pelo avanço do empreendedorismo, em casos como o da Coreia do Sul e de
Israel, que desenvolveram com sucesso seus aglomerados econômicos regionais, sem
depender da transferência de conhecimento, mas sim da mimetização de instituições
regionais, como as desenvolvidas em centros mais avançados, como o do Vale do Silício. O
autor aponta, também, estudos que focam na densidade e variedade de redes sociais locais
como fatores que impactaram positivamente o crescimento dos empreendimentos, também
influenciando positivamente as possibilidades de sobrevivência de empresas no mercado.
Há muito, tem sido intenso o despertar do brasileiro para o empreendedorismo. No Brasil, tem
empreendedores capazes de abstrair obstáculos comerciais, culturais e restrições geográficas,
ao passo que esses estão se globalizando, reformulando conceitos econômicos, acabando por
gerar novas relações de trabalho, novos empregos. Esse rompimento de um padrão é de suma
importância para a sociedade.
Trazendo um pouco do contexto histórico, Veiga e Rios (2015) apontam que, nos últimos
cinquenta anos, as políticas brasileiras têm sido movidas, essencialmente, por objetivos de
desenvolvimento econômico, com a consolidação de um parque industrial diversificado e
integrado verticalmente. Os autores afirmam, então, que, como resultados dessa tendência,
houve um predomínio nas políticas comerciais e industriais, de instrumentos voltados para
tentar manter uma exposição mais limitada em relação ao comércio internacional, com forte
viés protecionista, tendo essa tradição suas raízes na experiência brasileira de industrialização
das décadas de 1950 a 1970. Segundo os autores, o objetivo dessa política comercial foi o de
aumentar e diversificar as exportações, sem alterar a estrutura de barreiras às importações, que
constituíam elemento central da estratégia de desenvolvimento industrial.
A intensidade do uso dos diferentes instrumentos de política variou no tempo, até que na
década de 1980 a degradação da situação macroeconômica e as pressões dos principais
parceiros comerciais do Brasil (especialmente os Estados Unidos) começaram a funcionar
como restrições ao desenho e à implementação da política de exportação. Ou seja, diversos
instrumentos de política operacionalizados, a partir dos anos 1960 e 1970, foram sendo,
gradualmente, desativados na segunda metade da década de 1980.
O impulso, pós ano de 1980, pela redução nos custos e desenvolvimento das tecnologias de
informação e comunicação (TIC), caracterizou-se por uma crise no padrão de especialização
fordista e uma intensificação do regime do capital financeiro com o esgotamento do padrão
industrial. A década fica marcada pelas mudanças ocorridas no comércio internacional
decorrentes, sobretudo, da crescente especialização e da multiplicidade e complexidade das
cadeias produtivas globais. Essas mudanças passam a ser explicadas pelos avanços
revolucionários no transporte e nas TICs, que transformaram a relação entre a especialização
46
e a concentração geográfica, tornando cada vez mais viável a separação de tarefas no tempo e
no espaço.
É nesse período que as principais economias capitalistas apresentaram mudanças, dado o novo
paradigma tecnológico, que permitiu que as empresas desses países se tornassem mais
competitivas, com aumento da qualidade e diferenciação dos produtos, maiores possibilidades
de financiamento, fornecimento de insumos e melhorias na produção, ao passo que a
economia brasileira, durante o mesmo período, estava focada em obter superávits com
finalidade de pagar dívidas internas, não havendo maiores esforços para se desenvolver, junto
ao cenário internacional (ALVES, 2013).
É importante estabelecer que as políticas públicas são diretrizes norteadoras de ação do poder
público, sendo regras e procedimentos nas relações entre a sociedade e o governo
(TEIXEIRA, 2002). Nesse caso, são políticas sistematizadas, voltadas à orientação de ações
47
Dentre os órgãos que apoiam o empreendedorismo, Dornelas (2008) cita o Serviço Nacional
de Aprendizagem Industrial (SENAI), Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e o Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), com programas que permeiam o campo da
capacitação dos indivíduos, do amparo à pesquisa e liberação de crédito. Considerando os
aspectos institucionais que se associam ao processo de criação das empresas, estes são
influenciados pelas administrações públicas locais, de acordo com Natário, Braga e Fernandes
(2018), em que a qualidade das condições destas instituições acaba por influenciar
diretamente no nível de empreendedorismo regional, ao passo que essas atuam a favor de
entraves ou de facilitadoras, nos processos de constituição e desenvolvimento desse tipo de
negócio. Mesmo argumento utilizado por Hisrich e Peters (2004), que apontam a necessidade
48
inovação, uma vez que tais atividades se concentram nas universidades públicas. As
iniciativas de apoio e fomento estão cada vez mais em voga no ambiente universitário, com a
geração de organizações estudantis de apoio ao empreendedorismo, com as ligas
universitárias empreendedoras, as empresas juniores, disciplinas de empreendedorismo,
grupos de estudos e eventos/workshops.
De acordo com o estudo disponibilizado pela Brasil Júnior, a Universidade de São Paulo
(USP) aparece em primeiro lugar no ranking geral de universidades mais empreendedoras do
país, seguido da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), Universidade Federal de
Minas Gerais (UFMG), Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e Universidade
Federal de Itajubá (UNIFEI). Percebe-se que, dentre as universidades que estão no top cinco,
duas se encontram no estado de São Paulo (USP e UNICAMP), duas em Minas Gerais
(UFMG e UNIFEI), e uma no Rio Grande do SUL (UFRGS). Isso mostra a disparidade
regional do país, com a concentração de conhecimento no Sudeste e no Sul.
Entretanto, outras comunidades de startups têm se formado no resto do país. Em oitavo lugar,
tem a Universidade de Brasília (UNB), sendo a primeira universidade que aparece no ranking
fora do eixo Sudeste-Sul, como, também, a Universidade Federal do Rio Grande do Norte
(UFRN), em décimo primeiro, a Universidade Federal do Ceará (UFC), em décimo quinto, e a
Universidade Federal da Bahia (UFBA), em vigésimo sexto1. Outra questão importante a se
considerar é que, apesar de se ter mais de cento e noventa universidades no país, o Brasil,
ainda, não é considerado referência quando se fala em educação superior, visto que, nos
rankings universitários internacionais, as instituições brasileiras estão bem acima do top cem
melhores universidades.
Existem forças restritivas que acabam por inibir a ação empreendedora, como, por exemplo, a
dificuldade de captar recursos, dada as elevadas taxas de juros e escassez de linhas de crédito
para financiamento de novas empresas. As dificuldades burocráticas são outro exemplo, em
1
A Brasil Júnior utiliza alguns critérios para ranquear as Universidades, como: Cultura empreendedora;
Inovação; Extensão; Infraestrutura; Internacionalização; e Capital Financeiro. Os dados podem ser encontrados
no site da organização, https://universidadesempreendedoras.org/ranking/.
50
Abordando as condições para empreender no país, Alano e outros (2014) verificaram pontos
favoráveis e desfavoráveis, encontrados, com grande frequência, entre 2001 e 2013. Enquanto
as normas culturais, acesso ao mercado e as políticas governamentais para micro e pequenas
empresas aparecem como pontos favoráveis, os altos impostos, burocracias no que tangem
resoluções de problemas, baixo apoio financeiro e de captação aparecem como desfavoráveis.
Ao falar do empreendedorismo startup, é importante notar que ele vem crescendo de maneira
substancial, sendo um reflexo de diversas ações apoiadoras aos negócios empreendedores,
como parques tecnológicos de desenvolvimento, universidades estimuladoras da prática
empreendedora e de startups, programas de incubação de empresas, além de subsídios
governamentais que buscam promover a criação de novos negócios, através de instituições e
agências que dão treinamento aos indivíduos que buscam o empreendedorismo como,
51
Além de instrumentos tradicionais, como crédito financeiro não reembolsável, outros modelos
de suporte foram desenvolvidos, para dar conta do apoio à inovação. É importante salientar
que, instrumentos tradicionais, como o crédito, por si só, não são os mais adequados para
empresas em fase inicial, dado o curto histórico de vida, em que muitas não tem faturamento,
ou ativos tangíveis que sirvam de garantias para concretizar a operação da empresa. Em
contraponto, surgem como alternativas de apoio a essas empresas a criação de ambientes de
interação, aprendizado e difusão do conhecimento (TORRES FREIRE; MARUYAMA;
POLLI, 2017).
De forma geral, nos passados quinze anos, o país avançou em termos de políticas voltadas à
inovação. Passando pela criação dos Fundos Setoriais, em 1999, e pelo retorno das políticas
industriais, com a Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior (PITCE), com a Lei
de Inovação, em 2004, até a programas mais recentes, como em 2012, em que o governo
federal, através do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, criou o Programa Nacional
de Aceleração de Startups, chamado de Startup Brasil, tendo gestão da Associação para
Promoção da Excelência do Software Brasileiro (SOFTEX), com parceria de aceleradoras,
para apoiar empresas de base tecnológica, nas suas primeiras etapas de vida.
Tal como o cenário em outros países, os formuladores de políticas precisam considerar outras
questões, além da capitalização das empresas, como um conjunto de atores e mecanismos de
governança que compõem essas redes de organizações e instituições, sendo elas compostas
por empreendedores, investidores, pesquisadores em instituições de ciência e tecnologia,
grandes empresas, além de associações, incubadoras, aceleradoras e mentores (TORRES
FREIRE; MARUYAMA; POLLI, 2017).
53
O apoio à inovação em Startups pode ser separado em diferentes dimensões, sendo elas
referidas à investimento e capitalização, à treinamentos, serviços de apoio e fomento ao
ambiente empreendedor e, por fim, ao marco regulatório. Na primeira dimensão, tem-se os
recursos públicos não reembolsáveis, fundos de seed capital e venture capital, fundos
públicos e coinvestimento de recursos públicos e privados, Crowdfunding e Corporate
Ventures. Já a segunda dimensão é formada por incubadoras, aceleradoras, redes de
empreendedores, investidores e clientes, Workshops, desafios públicos ou privados. Por
último, na dimensão relacionada ao marco regulatório, com regulação de incentivos fiscais
54
Em estudo sobre a atuação das startups na América Latina, a Organização para a Cooperação
e Desenvolvimento Econômico (OCDE, 2016) identificou seis barreiras determinantes para a
criação e crescimento dessas empresas, que não podem ser supridas apenas pela atuação do
mercado, sendo elas a assimetria de informação, a falta de disponibilidade de capital para
investimentos, a falta de demanda inovadora, a existência de barreiras legais e regulatórias, a
carência de recursos científicos e a falta de tradição da cultura empreendedora.
No que diz respeito às barreiras regulatórias, tem-se a dificuldade de criar e gerir empresas
nesses países, dada as legislações muito rígidas, e altos níveis de tributação, dificultando o
crescimento das empresas. Pode-se citar a carência de recursos científicos suficientes para
gerar novas ideias e, por fim, englobando todos os anteriores, a falta de tradição em cultura
empreendedora, inovadora, o que acaba por aumentar a aversão ao risco de fracasso,
desincentivando tanto os possíveis empreendedores, como aqueles que possam investir nesses
negócios (OCDE, 2016).
Não obstante, empresas e startups em fase inicial correspondem a maior parte das posições de
trabalho líquido na economia, de acordo com o estudo para os 17 países membros da OCDE e
Brasil. A contribuição dessas empresas para a criação de empregos, nos países, é maior que a
sua participação no emprego total, em que os resultados implicam que, em média, empresas
com cinco anos – ou menos – representam apenas 21% do emprego total, em contraposição,
são responsáveis por 47% da criação de empregos. Ao tratar de fomento à inovação, também
pode-se refletir sobre empresas privadas, que há muito vem se articulando com startups,
principalmente por se tratarem de modelos de negócio voltados ao desenvolvimento
tecnológico surgidos de um ambiente empreendedor.
Dentre os motivos mais específicos para essa colaboração, estão o acesso à novos mercados,
redes de conhecimento, testes de produtos, teste de escala de operações e estímulo à cultura
inovadora. Como aponta o estudo divulgado pela OASISLAB (OSÓRIO, 2019), para se haver
um ecossistema empreendedor de sucesso se pressupõe a existência de fatores que
proporcionem o surgimento de novos negócios, normalmente se desenvolvendo em ondas,
com formação de redes que facilitem a atração de talentos, capital e que sejam passíveis de
influenciar novas gerações de empreendedores.
De acordo com o artigo de Torres Freire, Maruyama e Polli (2017), as grandes corporações
estão criando, cada vez mais, mecanismos para fazer essa articulação, como o JLabs da
Johnson & Johnson, o GE Ventures, da General Eletric, o SmartCamp, da IBM, entre outros.
Os autores, usando a Europa como exemplo, explicitam que um terço das aceleradoras do
continente (31 de 103) se apoiam ou são mantidas por grandes empresas e que, em 2014, os
investimentos globais de fundos de investimentos corporativos cresceram 86,5% em valor,
totalizando 1.734 negócios, que somaram 48,5 bilhões de dólares, e saídas no valor de 84,2
bilhões de dólares.
O Brasil tem vivenciado um “boom” em suas comunidades de startups nos últimos anos, com
coworkings, hubs de inovação, parques tecnológicos e eventos de suporte e desenvolvimento
de novas startups e o amadurecimento de modelos de negócios já existentes. Empresas como
a
Plug, surgida em 2012, a CUBO, surgida em São Paulo, no ano de 2015, tornaram-se
referência na área de Coworking, com a empresa sendo reconhecida como o maior hub de
inovação da América Latina, como também a Google, também em São Paulo, que, desde
2016, têm seu espaço voltado para profissionais criativos e empreendedores, com espaço
aberto, eventos e programas de capacitação. Já em 2018, dada a conturbada conjuntura
econômica brasileira, houve um aquecimento no setor autônomo e, consequentemente, no
empreendedor.
sucessivos cortes por parte do governo. No ano de 2017, o corte foi de 44% em relação ao ano
de 2016, enquanto em 2018 houve um novo corte, mas de 18%. A consequência dessa
diminuição da verba é que o orçamento para ciência e tecnologia se tornou o menor das
últimas décadas, correspondendo a cerca de um quarto do valor de 2005.
Entretanto, em 2021, foi sancionada a Lei Complementar Nº 182, que instituiu o Marco Legal
das Startups e do Empreendedorismo inovador, com o objetivo de diminuir burocracias e
aumentar a segurança jurídica de empreendedores e investidores. De acordo com a lei
brasileira, são consideradas startups as empresas, sociedades simples de caráter inovador, ou
cooperativas, que tenham faturamento de até 16 milhões de reais ao ano, ou que tenha
inscrição no Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ) de até 10 anos.
As startups brasileiras estão cada vez mais na ótica dos investidores, tanto pelas soluções
inovadoras apresentadas pelas empresas, quanto pelo cenário econômico de estímulo ao
investimento de risco, em que a redução na taxa de juros aparece como um impulsionador dos
investimentos nesse setor. Tendo em vista que grande parte das startups brasileiras se
enquadram em pequenas e microempresas, boa parte tem sido desenvolvida por jovens
empreendedores. Vale destacar que o custo dos processos de criação de empresas tem se
tornado menores, com a redução dos custos de instalações, ao passo que houveram avanços
no processo de aberturas de empresas, com quedas relevantes na burocracia, com menos
prazos extensos, custos e números de trâmites envolvidos.
59
Pode-se falar que o Brasil está se tornando referência em startups inovadoras e promissoras,
contendo mais de dez empresas em fase de unicórnio, ou seja, com seu valor ultrapassando
um bilhão de reais, em valoração, sendo que existem pouco mais de quinhentas empresas
nesse patamar no mundo. Essas startups possuem alto grau de maturidade (scale-up), abrindo
suas ações para o mercado e atraindo fundos de investimento, sendo uma meta muito difícil
de se alcançar, considerando a realidade do mercado.
O ecossistema de startups liderado pelo banco digital, Nubank, têm chamado atenção no
mundo. A própria Nubank está no patamar de unicórnio, junto com empresas como
PagSeguro, Stone Pagamentos, Ebanx, todas da área de Fintech, e também QuintoAndar, de
locação de imóveis, Loggi, da área de entregas e logísticas e, também, a iFood, do ramo de
delivery. Em seu artigo, analisando o crescimento das Startups, Paiva e Almeida (2018),
identifica as empresas mais promissoras desse ramo, no país, citando a Contabilizei, empresa
de contabilidade online, que recebeu o prêmio de melhor empresa de tecnologia da América
Latina, em 2016, também a Movile, uma startup de conteúdo para celulares, a PlayKids,
aplicativo de educação para crianças, e a Meliuz, voltada para benefícios em compras,
cashback e programas de fidelização de clientes, premiada como startup do ano, pela Startup
Awards, de 2016.
O Global Startup Ecosystem Report (GSER), que é um estudo anual da Startup Genome,
colocou o Brasil no mapa dos trinta ecossistemas mais promissores do mundo, sendo o
terceiro mais relevante, ao considerar a expansão das startups para outros países, a chamada
fase de globalização; o estudo destaca a cidade de São Paulo em primeiro lugar. Assim como
o Vale do Silício, nos EUA, as startups brasileiras acabam por se situar principalmente na
região sudeste, dado um número considerável de fatores, como densidade populacional,
mercado consumidor ampliado, diferença econômica histórica e número de investidores
(SANTOS; CAPELLI, 2019).
60
2
Todos as estatísticas da StartupBase foram retiradas do mapeamento realizado pela organização, sendo
atualizados regularmente, e pode ser encontrado no site https://startupbase.com.br/home/stats.
61
Ao se falar de cidades com maiores números de Startups, a estatística volta a afunilar para os
grandes centros, com a cidade de São Paulo sendo referência para a criação desse modelo de
negócio, possuindo 2.770 startups. Enquanto o estado do Rio de Janeiro está em quarto lugar,
no ranking de startups por estado, a cidade do Rio de Janeiro se encontra em segundo lugar,
como a que possui mais startups. Isso demonstra como as capitais ainda monopolizam o
mercado empresarial, científico e inovador do país (STARTUPBASE, 2021).
62
Conforme apontado por Ramos (2020), em 2019, entre os principais mercados de atuação
informados, o que se percebe é uma grande pulverização, em que os setores de educação
(7,2%), finanças (4,2%), saúde e bem-estar (3,8%), internet (3,4%) e agronegócio (3,2%) são
os que mais se destacam no número de empresas.
Em relação aos investimentos realizados nas startups, no Brasil, tem-se que, no ano de 2017,
o país teve um recorde no investimento do tipo venture capital, com o valor total de R$ 2,2
bilhões de investimentos realizados, com um crescimento de 56%, em relação ao ano de 2016,
mas com 95% do valor sendo liderado por capital estrangeiro. De acordo com os dados da
Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital (ABVCap), na modalidade venture
capital, em 2016, havia cerca de R$ 2,02 bilhões disponíveis para investimentos em startups,
representando 6,7% do volume total desse setor, apresentando um aumento considerável de
81% de capital disponível para investimento e de 26% do capital comprometido total
(MATOS; RADAELLI, 2020).
Fonte: Crunchbase. Análise de ACE Startups (2018), retirado de Matos e Radaelli, 2020.
aplicações de baixo risco, o que produz um desincentivo aos investimentos em startups, que
são de alto risco.
As aceleradoras têm mostrado atuação crescente no país, sendo muito benéficas para o
ecossistema como um todo, visto que, além de aportarem investimento em forma de capital,
oferecem, também, programas de auxílio ao crescimento dessas empresas, apoios em espaço
físico, mentorias, capacitação, acesso a mercado e outros benefícios. De acordo com o
levantamento da Fundação Getúlio Vargas (FGV), a participação média dessas aceleradoras
nas ações das startups é de 8%, e seus investimentos variam entre R$ 45 mil e R$ 255 mil por
empresa.
Faz-se ressalva sobre a alta “taxa de mortalidade” dessas empresas, ou sobre a permanência
destas como pequenas empresas, fazendo com que apenas uma parcela reduzida contribua
substancialmente para a geração de empregos. Não é um fator surpresa que a “taxa de
mortalidade” das startups seja maior, se comparada a micro e pequenas empresas. Se em
2004, 49,4% das empresas encerravam suas atividades com até dois anos de existência, 56,4%
em até três anos e 59,9% não passavam de quatro anos, em 2015, pelo menos 25% das
startups morrem em até 1 ano de criação, 50% morrem em até 4 anos de sua criação, e, por
fim, 75% das startups morrem em até 13 anos de existência (NOGUEIRA; OLIVEIRA,
2015).
65
Mesmo com o advento desse coronavírus, em 2020, o Brasil manteve uma posição relevante à
nível internacional, estando no ranking dos dez países com maior número de startups, com
mais de dez unicórnios e empresas com enorme potencial. Essa realidade fez com que o país
tenha se tornando um modelo, atraindo para a América Latina os olhares de fundos de
investimentos e corporações internacionais, como apontado pela Associação de Investimento
de Capital Privado na América Latina (em inglês, LAVCA), onde o investimento de venture
capital em startups latino-americanas foi de US$ 2,6 bilhões em 2019, em comparação com
os US$ 2 bilhões, investidos em 2018. O Brasil, a Colômbia e o México representaram 91,9%
dos valores investidos, e 84,9% dos negócios fechados entre investidores e fundadores das
startups (ABSTARTUPS, 2020).
Os dados são corroborados pelo estudo de Maia (2016), que, analisando as motivações dos
empreendedores de startups no Brasil, revela que a associação entre juventude e startups não
se sustenta por completo, uma vez que cerca de metade dos empreendedores ultrapassa a
marca dos 30 anos de idade. Enquanto indivíduos de 19 a 24 anos representaram somente
11% da faixa etária de empreendedores, indivíduos de 25 a 30 anos representaram 41%, e
aqueles com faixa etária entre 31 e 36 anos representaram 29%. Se para indivíduos entre 37 e
48 anos a porcentagem foi de 18%, apenas 1% da população estudada possuía mais de 48
anos. A pesquisa também identificou que os empreendedores de startups são, de maioria
avassaladora, homens e brancos. De acordo com estudo, no período em que foi realizado,
90% dos fundadores de startups eram homens, enquanto somente 10% eram mulheres,
enquanto 78% dos indivíduos entrevistados se autodeclaravam brancos, 17% se declaravam
pardos, e somente 4% se declaravam pretos.
Local de origem dos empreendedores Principalmente Regiões Sudeste/Sul, principalmente São Paulo
e Rio Grande do Sul
Áreas do Modelo de Negócio Áreas inovadoras (áreas de tecnologia)
Tempo de Experiência Empreendedora De 1 a 3 anos
Gênero Na maior parte dos casos, masculino
Faixa Etária Em média de 25 a 30 anos
Nível de escolaridade Superior Completo
Área de Formação Cursos mais frequentados: Comunicação Social (32%); Ciência
da Computação (15%); Administração (14%); Design Gráfico /
Digital (9%); Engenharia (8%)
Classe social A/B
Raça/Cor Branca
Principais características individuais Propensão a riscos, resiliência, visão de longo prazo do negócio
e de onde chegar, desapegado (de bens materiais, estabilidade
e até mesmo de dogmas), “paixão” pela ideia e/ou pelo
negócio, persistência, foco em resultados, dedicação e
coragem, iniciativa criatividade, ousadia, acreditar em suas
ideias.
Principais experiências pessoais Experiência em projetos anteriores, vivências com
empreendedores em empresas online, vivências com familiares
e amigos empreendedores.
Fatores Ambientais Trabalhar com o que gosta, oportunidade para crescer
profissionalmente, possibilidade de retorno financeiro. Desejo
de mudança, necessidade de resolver um problema de
alguém (incluindo ele mesmo) e o “sonho”, vontade de criar algo
próprio.
Competências Autoeficácia, capacidade de mobilização de recursos, capacidade
de liderança, capacidade de desenvolvimento de network,
resiliência.
Fonte: Carvalho e outros (2018)
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Analisando o perfil dos empreendedores de startup, Carvalho e outros (2018) resumiu, com
base na literatura sobre a temática, dados sobre as características desses indivíduos, que, por
se tratarem de empreendedores de startup, possuem um perfil específico. Percebe-se uma
manutenção das características já abordadas por outros autores, especificando a realidade
desse tipo de empreendimento, com predominância para um ambiente de indivíduos que
analisaram oportunidades de ingresso ao mercado, a partir de ideias inovadoras.
Quando falamos de nível de escolaridade, os dados apontam que 100% dos fundadores das
startups analisadas são graduados em universidades, contrariando o mito gerado em cima de
personalidades como Mark Zuckerberg, Steve Jobs e Bill Gates, de que grandes
empreendedores não fazem ou não completam a faculdade, pelo menos para a realidade
brasileira. Ainda analisando o perfil dos fundadores, os dados da pesquisa apontaram que a
média de anos de experiência profissional dos founders antes da fundação das startups foi de
8,7 anos, com todos tendo experiência em grandes empresas, antes de iniciarem seus próprios
negócios.
gênero masculino e graduados (com boa distribuição entre universidade pública, privada e
estrangeira). Cursos mais voltados para negócios, como finanças e administração predominam
entre os empreendedores. A pesquisa ainda mostra que a maioria desses indivíduos tem uma
experiência prévia de mercado, com 6 anos em média, demonstrando que a maioria adquire
conhecimento antes de criar um negócio novo, e que, apesar de as mulheres estarem ganhando
espaço no mercado, a liderança masculina ainda predomina na fundação das empresas
(ACESTARTUPS, 2020).
No relatório mais recente da Mckinsey (2021), realizado em conjunto com Brazil at Silicon
Valley, os dados apontam que as Startups brasileiras experienciaram uma considerável queda
de valor, em 2020, antes de se recuperarem, com o setor sendo puxado por empresas da área
de tecnologia. O relatório, também, aponta que, atualmente, 54% das startups se encontram
na Região Sul do país, o que indica, ainda, disparidade entre os ecossistemas, e que a maior
parte das empresas, 55%, possuem menos de 4 anos, significando tanto que o ecossistema
brasileiro está gerando frutos, com novas startups aparecendo, quanto a dificuldade de
manutenção das empresas que já existem.
A pesquisa, também, aponta que, entre as 100 maiores startups do país, a idade média dos
empreendedores é um pouco mais de 30 anos, com 54% desses indivíduos possuindo
formação acadêmica em áreas de negócios, valores próximos das startups unicórnios, com
fundadores com média de idade de 32 anos, com 53% com formação em cursos voltados para
negócios. Importante notificar a porcentagem de mulheres fundadoras de startups, com
apenas 2% entre as 100 maiores empresas, e 3% entre as chamadas unicórnios. Já, quando o
assunto é empreendedorismo, o número de mulheres fundadoras de negócios aumenta para
54%, enquanto 38% desses indivíduos não possuem formação acadêmica (MCKINSEY,
2021).
Importante notar que a fragilidade da estrutura produtiva do Brasil implica em uma busca por
melhorias no ambiente interno e externo. Ações inter-regionais de acesso a mercado,
conectando startups e grandes empresas na região latino-americana é um grande passo a ser
dado para o futuro desse ecossistema no país. O apoio a financiamentos, através de
aceleradoras, investidores anjos e fundos de capital, principalmente para startups iniciantes, é
outro grande ponto a ser melhorado para o futuro, assim como o incentivo à criação desses
modelos de empresas, pois elas são determinantes para o fomento desse ecossistema.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente trabalho teve como objetivo compreender o contexto em que se insere as startups
brasileiras, analisando o papel do empreendedorismo para a evolução desse modelo e as
características e motivações dos players que estão à frente desse negócio.
No entanto, ser empreendedor não é uma tarefa simples, sendo necessário conhecimento,
planejamento e ousadia. Distinguem-se aqueles que passam a empreender por uma
oportunidade no mercado. É assim que o empreendedor de startup surge, como um indivíduo
que se distancia da realidade dos modelos convencionais que, analisando as oportunidades do
mercado, usa a inovação como ferramenta para alcançar os seus objetivos. É importante
ressaltar que esses empreendedores são caracterizados com outras qualidades, como a
resiliência, a criatividade e a capacidade de gestão, mesmo em meio às incertezas e crises da
economia.
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Como apresentado pelo trabalho, essas empresas ainda têm muitos desafios a superar pela
frente. Além da necessidade de mais apoio institucional para financiamento, faz-se necessário
o foco de políticas públicas e ações privadas que permitam a expansão desse modelo para as
demais regiões do país, pois, como se sabe, a realidade do ecossistema muito se prende aos
eixos de maior riqueza econômica do país, como o caso do estado de São Paulo, por exemplo.
Cabem, também, às empresas, superar as dificuldades e disparidades sociais dos setores de
tecnologia, implementando politicas próprias de diversidade e inclusão social.
REFERÊNCIAS
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2020. Disponível em: https://abstartups.com.br/crescimento-das-startups/. Acesso em: 13 abr.
2021.
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https://abstartups.com.br/o-que-e-uma-startup/. Acesso em: 13 abr. 2021.
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do Global Entrepreneurship Monitor no Período de 2001 a 2013. Disponível em:
http://www.ucs.br/etc/conferencias/index.php/mostraucsppga/mostrappga2014/paper/viewFile
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criar empresas extremamente bem-sucedidas. Tradução de Carlos Szlak, São Paulo: [S.n.],
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