4-Monografia - Referencial Teórico3.Docx - Documentos Google

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4. Referencial teórico

4.1. Desenvolvimento sustentável

A palavra sustentável é originada do latim: “sus-teneree” e significa “sustentar,


suportar ou manter”. É utilizada, na língua inglesa, desde o século 13, mas somente
a partir dos anos 80 o termo “sustentável” começou a ser empregado com maior
frequência (Kamiyama, 2012). O Desenvolvimento Sustentável possui basicamente
duas vertentes: uma que privilegia o aspecto econômico e as relações que as
atividades econômicas têm com o consumo crescente de energia e recursos
naturais e outra que considera os aspectos econômicos, sociais e ambientais,
estabelecendo desafios importantes para muitas áreas do conhecimento, implicando
em mudanças nos padrões de consumo e do nível de conscientização.

De acordo com a Organização para a Cooperação Econômica e


Desenvolvimento (OECD, 1993):

“O desenvolvimento sustentável é um modelo social e econômico de


organização baseado na visão equitativa e participativa do desenvolvimento e
dos recursos naturais, como fundamentos para a atividade econômica”

Organização para a Cooperação Econômica e Desenvolvimento (OECD, 1993)

Mas o conceito de Desenvolvimento sustentável mais conhecido é o segundo


a Organização das Nações unidas - ONU (1987):

“Desenvolvimento Sustentável pressupõe o atendimento às necessidades


do presente, sem comprometer a possibilidade das gerações futuras
atenderem suas próprias necessidades.”

Organização das Nações unidas - ONU (1987)

Esta definição soa simples e curta demais em relação à todos os conceitos,


percepções, atitudes, relações e até mesmo paradigmas que ela pressupõe mudar
nos sistemas atuais para se atingir a tal “sustentabilidade”. O “Relatório de
Brundtland”, também intitulado “Nosso Futuro Comum”, elaborado em 1987 pela
CMMAD - Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, foi
fundamental para que o conceito de sustentabilidade, antes restrito a outros ramos
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da economia, fosse estendido para a agricultura, apontando para a incompatibilidade


entre desenvolvimento sustentável e os padrões de produção e consumo vigentes
(Kamiyama, 2012)

“Na sua essência, o desenvolvimento sustentável é um processo de


mudança no qual a exploração dos recursos, o direcionamento dos
investimentos, a orientação do desenvolvimento tecnológico e a mudança
institucional estão em harmonia e reforçam o atual e futuro potencial para
satisfazer as aspirações e necessidades humanas.”

— do Relatório Brundtland, “Nosso Futuro Comum” (ONU, 1987)

4.1.1. Gestão Ambiental

Gestão voltada para o desenvolvimento sustentável inclui o estudo e a


compreensão clara dos fatores econômicos, sociais, políticos, tecnológicos e
ambientais que acompanharam a história do homem, possibilitando, portanto, uma
reflexão sobre os diferentes modelos de desenvolvimento adotados e as direções a
serem priorizadas (Philippi Jr e Malheiros, 2005)

Assim como o Meio Ambiente se intercomunica, a gestão do meio deve ser


planejado e realizado de forma integrada, sendo as subáreas a gestão legal, do uso
e ocupação do solo, gestão dos aspectos e impactos das atividades antrópicas
como geração dos resíduos sólidos, efluentes líquidos e gasosos, poluição das
águas, solo, ar, saúde e o desenvolvimento sustentável.

Instrumentos e Norteadores das mudanças para a Sustentabilidade utilizados


na Gestão Ambiental

As mudanças precisam se iniciar nos indivíduos, passando pelos seus


inter-relacionamentos, atingindo as comunidades, os diversos ramos de atividade e,
por fim, toda a sociedade. Assim, todas estas mudanças pressupostas são grandes
e necessitam de um norte para se iniciarem, dentre as quais, se destacam:
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Legislação Ambiental

Dentro do Brasil, o principal instrumento norteador do enquadramento


ambiental é ainda a legislação e as políticas governamentais, bem como as licenças
ambientais, que visam conservar o meio ambiente por meio de imposições e
fiscalizações.

No ambiente rural, uma das principais legislações ambientais é hoje o novo


Código Florestal (Lei Federal 12.651 de 25 de maio de 2012), que impõe às
propriedades a manutenção de áreas florestadas (Reserva legal e/ou Áreas de
Proteção Permanente - APPs), bem como seu cadastro no CAR (Cadastro
Ambiental Rural).

O CAR – Cadastro Ambiental Rural – constitui um cadastro eletrônico,


obrigatório a todas as propriedades e posses rurais. As informações do cadastro são
declaratórias, de responsabilidade do proprietário ou possuidor rural, e farão parte
do Sistema Nacional de Cadastro Ambiental Rural – o SiCAR.

O CAR é a principal ferramenta prevista na nova lei ambiental para a


conservação do meio ambiente e a adequação ambiental de propriedades e tem por
finalidade integrar as informações ambientais referentes à situação das Áreas de
Preservação Permanente - APP, das áreas de Reserva Legal - RLs, das florestas e
dos remanescentes de vegetação nativa, das Áreas de Uso Restrito e das áreas
consolidadas das propriedades e posses rurais do país. Assim, possibilitará um
maior controle sobre o cumprimento da lei ambiental, e auxiliará no cumprimento das
metas nacionais e internacionais para manutenção de vegetação nativa e
restauração ecológica de ecossistemas.

O CAR também facilitará a vida do proprietário rural que pretende obter


licenças ambientais, pois a comprovação da regularidade da propriedade se dará
através da inscrição e aprovação do CAR, sem a necessidade de procedimentos
anteriormente obrigatórios, como a averbação em matrícula de Reservas Legais no
interior das propriedades. Todo o procedimento para essa regularização poderá ser
feitos on-line. Caso no ato declaratório apresentar-se necessário uma adequação
ambiental, tal como restaurar a vegetação de Áreas de Proteção Permanente, por
exemplo, o cadastro gerará um Programa de Regularização Ambiental (PRA),
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ficando o proprietário responsável por cumpri-lo no prazo estipulado e, durante este


prazo, fica livre de imposições e penalidades do órgão ambiental.

Segundo o Ministério do Meio Ambiente – MMA, outros benefícios descritos


pelo governo federal dada pela inscrição no CAR são:

- O CAR e o PRA (quando existente) são pré-requisitos para acesso à emissão das
Cotas de Reserva Ambiental (CRAs) e aos benefícios previstos nos Programas de
Regularização Ambiental – PRA e de Apoio e Incentivo à Preservação e
Recuperação do Meio Ambiente, ambos definidos pela Lei 12.651/12. Dentre os
benefícios desses programas pode-se citar:

● possibilidade de regularização das APP e/ou Reserva Legal que possuam vegetação
natural suprimida ou alterada até 22/07/2008 no imóvel rural, sem autuação por
infração administrativa ou crime ambiental;

● suspensão de sanções em função de infrações administrativas por supressão


irregular de vegetação em áreas de APP, Reserva Legal e de uso restrito, cometidas
até 22/07/2008;

● obtenção de crédito agrícola, em todas as suas modalidades, com taxas de juros


menores, bem como limites e prazos maiores que o praticado no mercado;

● contratação do seguro agrícola em condições melhores que as praticadas no


mercado;

● dedução das Áreas de Preservação Permanente, de Reserva Legal e de uso restrito


base de cálculo do Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural-ITR, gerando
créditos tributários;

● acesso à linhas de financiamento que visam atender iniciativas de preservação


voluntária de vegetação nativa, proteção de espécies da flora nativa ameaçadas de
extinção, manejo florestal e agroflorestal sustentável realizados na propriedade ou
posse rural, ou recuperação de áreas degradadas; e

● isenção de impostos para os principais insumos e equipamentos, tais


como: fio de arame, postes de madeira tratada, bombas d’água, trado de perfuração
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do solo, dentre outros utilizados para os processos de recuperação e manutenção


das Áreas de Preservação Permanente, de Reserva Legal e de uso restrito.

Segundo a Secretaria do Meio Ambiente (SMA) do Estado de São Paulo, as


propriedades ou posses localizadas no Estado de São Paulo devem ser cadastradas
apenas no SiCAR paulista, pelo site - www.ambiente.sp.gov.br/sicar - e estes dados
serão integrarão o Sistema Nacional de Cadastro Ambiental Rural – o Sicar
Nacional, sob responsabilidade do Ministério do Meio Ambiente e do Ibama.

Licenciamentos

Outras importantes exigências são no ato do Licenciamento (para as


atividades e empreendimentos licenciáveis) e as outorgas, como por exemplo, o de
uso das águas superficiais e perfuração de poços. No Estado de São Paulo, os
licenciamentos ambientais são solicitados junto à CETESB (Companhia Ambiental
de São Paulo) e as Outorgas de água e de obras hidráulicas junto ao DAEE
(Departamento de Águas e Energia Elétrica).

Entretanto, o cumprimento somente dos requisitos legais não são


necessariamente suficientes para a sustentabilidade de um empreendimento ou
região, uma vez que o conceito também abrange o caráter social e econômico do
desenvolvimento.

Normas e certificações

No setor produtivo, as relações de comércio, principalmente quando alcançam


o mercado externo, é regulada por meio da exigência de certificações (tais como as
normas da série NBR ISO) e requisitos de contrato, os quais obrigam muitas
empresas a se enquadrarem sócio-ambientalmente para permanecerem
competitivas (Rodrigues e Campanhola, 2003)
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4.1.2. Gestão ambiental no meio Rural

Assim como no meio urbano, a gestão do meio ambiente rural deve extrapolar
os limites da propriedade, uma vez que o meio ambiente é um contínuo e os fatores
se comunicam e se interferem intensamente. Os já conhecidos impactos que a
agricultura tradicional apresenta, associada à emergência de atividades alternativas
não agrícolas da terra, levam às profundas alterações socioeconômicas e
ambientais, promovendo tanto perspectivas quanto ameaças ao desenvolvimento
local sustentável. Para um melhor planejamento dessas mudanças e
assessoramento dos produtores rurais e tomadores de decisão quanto às melhores
opções de práticas, atividades e formas de manejo a serem implementadas, torna-se
necessário inicialmente conhecer o histórico e cultura da região, as atividades
praticadas, a forma de manejo destas atividades e as suas razões e obviamente, o
impacto (negativo ou não) destas ações neste ambiente. (Rodrigues e Campanhola,
2003). Só assim será possível definir e planejar novas ações visando a melhoria do
meio físico, biológico, econômico e social do local em questão.

4.2. Ecologia Rural

A Convenção da Biodiversidade considera que a abordagem de um ambiente


como “ecossistema” é uma estratégia interessante para se executar a gestão do
solo, água, ar e recursos vivos de forma integrada, visando um equilíbrio (Carvalho
et al., 2006).

Segundo Odum (2001), pode ser considerado um sistema ecológico ou


ecossistema qualquer unidade que inclua a totalidade dos organismos (isto é, a
“comunidade”) de uma área determinada interagindo com o ambiente físico por
forma a quem uma corrente de energia conduza a uma estrutura trófica, a uma
diversidade biológica e a ciclo de materiais (isto é, troca de materiais entre as partes
vivas e não vivas), claramente definidos dentro do sistema. Uma definição
pragmática considera a intensidade da interação entre seus componentes e outros
ecossistemas para delimitar suas fronteiras. Podem ser caracterizados em um
contínuo desde os não perturbados, como as florestas naturais, passando pelos que
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sofrem padrões diferentes de uso humano, até os que apresentam forte impacto da
ação e gestão humana.

Assim, podemos considerar o meio ambiente rural de uma determinada


localidade como um ecossistema, nas quais os fatores abióticos podem ser: o clima,
regime de chuvas, radiação solar, ventos, tipo de solo, relevo, hidrologia e outras
fontes de água, entre outros. Já os elementos bióticos são a flora e fauna nativas, as
plantas e animais introduzidos ou de criação para consumo humano e animal e os
próprios seres humanos, cuja atividade antrópica altera o meio ambiente primevo
(ambiente natural e preservado, anterior à instalação humana) de tal forma que o
desequilibra.

O desequilíbrio ocorre por meio da alteração do fluxo de energia no


ecossistema, pois o ser humano introduz energia através de insumos, recursos e
trabalho e posteriormente o retira na forma de alimentos e recursos primários para
os centros urbanos. Este desequilíbrio é intensificado pela retirada de material
natural (como a vegetação, animais, água e energia) destinada ao consumo humano
em quantidade muito maior do que se devolve, enquadrando-o em um ecossistema
exportador (Philippi Jr e Malheiros, 2005) e, portanto, susceptível à exaustão.

4.2.1. Impacto ambiental e poluição das atividades agrárias

Em um ecossistema natural, apenas a presença do homem já é suficiente


para alterar o ambiente primevo (Ab’Saber, 1996, citado por Natal et al., 2005).
Apresar de que o ecossistema rural se encontre em um estágio intermediário de
impacto na paisagem em relação ao ambiente urbano totalmente modificado, os
impactos das atividades agropecuárias são muito significativos.

Impacto Ambiental

A Resolução CONAMA nº 001/86, em seu artigo 1º considera “Impacto


Ambiental” como qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas
do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das
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atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetam a saúde, a segurança e o


bem-estar da população; as atividades sociais e econômicas; a biota; as condições
estéticas e sanitárias do meio ambiente ou a qualidade dos recursos ambientais.

O impacto ambiental não é, em seu conceito, necessariamente é ruim, sendo


que podem ser qualificáveis e quantificáveis, podendo ser positivas ou negativas, e
de diferentes níveis.

Neste trabalho, abordaremos os impactos ambientais negativos, os quais se


seguem:

Impactos ambientais negativos

4.2.1.1. Perda da biodiversidade

Os ecossistemas em clímax sob a ação humana podem regredir para fases


antecedentes, como estágios primários e secundários, resultando na diminuição da
biodiversidade ali existente, mas sendo então mais produtivos por acumularem
energia e produzirem maior biomassa (Forattini, 1992, citado por Natal et al., 2005).
As atividades extrativistas, os desmatamentos para abertura de áreas para
agricultura e pecuária e a substituição da vegetação por monoculturas reduzem a
biodiversidade local, levando espécies a entrarem em risco de extinção, e até a se
extinguirem, sem, muitas vezes, serem conhecidas pelo homem. A colonização pelo
homem tem levado à redução até mesmo dos biomas, sendo a Mata Atlântica o
bioma mais ameaçado do país.

Além da supressão da vegetação, um dos principais responsáveis pela perda


da biodiversidade é a introdução de espécies exóticas e invasoras pelo ser humano.
Espécies de ocorrência não natural na região podem tornar-se invasoras, quando
são introduzidas em locais onde não ocorrem naturalmente e apresentarem ótima
adaptação, por encontrar boas condições de crescimento e multiplicação e não
encontrar competidores ou predadores. Assim, sua ocupação e multiplicação
acabam ameaçando a permanência de espécies nativas, principalmente em
ambientes degradados.
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A introdução de espécies exóticas invasoras são atualmente consideradas a


segunda principal causa de perda de diversidade biológica no mundo, sendo que
causam prejuízos não só ao ambiente natural, mas também à economia e à saúde,
podendo provocar impactos sociais e culturais.

Segundo a Secretaria do Meio Ambiente de São Paulo (SMA, 2010) mais de


120 mil espécies exóticas de plantas, animais e microrganismos já foram registrados
em seis países estudados (África do Sul, Austrália, Brasil, Estados Unidos, Índia e
Reino Unido), sendo que as perdas econômicas decorrentes desta introdução
chegam a 250 bilhões de dólares anuais e as perdas ambientais ultrapassam os 100
bilhões de dólares somente nestes países. Em relação ao mundo todo, as
estimativas giram em torno de 1,4 trilhões de dólares de prejuízos anuais, o que
representa cerca de 5% da economia global.

4.2.1.2. Degradação do solo

A degradação do solo pode ser considerada um dos principais problemas


ambientais decorrentes da agricultura, não apenas pelos alarmantes números de
perdas de solo, mas também pelos desequilíbrios causados nos ecossistemas, com
impactos negativos em outros importantes recursos naturais, como a água. O Brasil
perde, anualmente, pelo menos 500 milhões de toneladas de terra através da
erosão, o que corresponde à retirada de uma camada de 15cm de espessura numa
área de 2.800.000.000m2 de terra. (Bertoni e Lombardi, 1999, citado por Kamiyama,
2012).

Solos erodidos consomem mais fertilizantes, que nem sempre conseguem


suprir todas as necessidades nutricionais da planta. Plantas “mal nutridas” são mais
susceptíveis ao ataque de pragas e doenças e há maior consumo de agrotóxicos.

A degradação do solo ocorre pela realização da agropecuária tradicional: o


cultivo intensivo, monocultural e tradicional do solo, atividade pecuária extensiva,
desmatamento e falta de práticas de conservação do solo, levam à perda da
fertilidade e compactação por meio da lixiviação e erosão. O solo, quando
desprotegido de vegetação ou cobertura morta, recebe incidência solar direta, o que
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degrada os compostos, alterando a composição química do solo, mata a microbiota


e a faz perder água. O solo desprotegido também pode sofrer erosão hídrica se a
área apresentar declividade: chuvas e excesso de irrigação, se não forem contidas
por barreiras adequadas, levam ao carreamento de nutrientes, matéria orgânica e
outras partículas. Os sedimentos vão para as áreas baixas, podendo se acumular
nos corpos d’água e lagos causando poluição e eutroficação de mananciais,
assoreamento dos corpos d’água e aumentando os custos com adubação (Hernani
et al., 1999).

4.2.1.3. Diminuição da reserva de água

A captação subterrânea como alternativa de abastecimento geralmente não


causa impactos tão severos ao ambiente (Nata et al, 2005). Entretanto, a exploração
intensiva ou descontrolada, quando a captação excede a capacidade de recarga do
aquífero, pode causar rebaixamento do nível deste aquífero, levando à alteração da
posição ou até perda de nascentes, e exigindo mais dispêndio de energia para
captação de água em locais mais profundos. Assim, em determinadas situações,
como quando condições críticas de rebaixamento do nível do lençol freático,
algumas medidas mais rigorosas podem ser determinadas por meios legais
municipais, como foi o caso do município de ribeirão Preto, que restringiu a
perfuração de poços tubulares na região central da cidade, para proteger o Aquífero
Guarani (Iritani e Ezaki, 2012).

Outros fatores que acarretam diminuição da disponibilidade de


quantidade de água é a impermeabilização dos solos degradados, o que impede a
percolação da água para os lençóis. As causas da impermeabilização já foram
citadas no item 4.2.1.2.

4.2.1.4. Poluição

Segundo o artigo 2º da lei Estadual nº 997, de 31/05/76, entende-se por


“poluição do meio, a presença, o lançamento ou a liberação, nas águas, no ar ou no
solo, de toda e qualquer forma de matéria ou energia, com intensidade, em
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quantidade ou com características em desacordo com padrões ambientais


estabelecidos, ou que tornem ou possam tornar as águas, o ar ou solo: impróprios,
nocivos ou ofensivos à saúde; inconvenientes ao bem-estar público; danosos aos
materiais, à fauna e à flora; prejudiciais à segurança, ao uso e gozo da propriedade
e às atividades normais da comunidade”.

Poluição de águas superficiais

Há perda de mananciais por falta de manejo adequado das bacias


hidrográficas, causando assoreamentos, exaustão dos recursos e também poluição
das águas. A retirada da vegetação exuberante que realizava evapotranspiração
altera o regime hidrológico, podendo alterar, também, a disponibilidade de água nas
nascentes. O uso indiscriminado de agrotóxicos leva à contaminação das pessoas,
do solo, águas superficiais e subterrâneas, alimentos e comprometimento da
biodiversidade local. A construção de barramentos de água altera a dinâmica do
corpo d’agua, transformando-o de lótico para lêntico, e causa acentuada alteração
na vida aquática (Natal et al., 2005) levando à eutrofização com elevado crescimento
de algas tóxicas e podendo, também, transformar-se em foco de doenças, como a
esquistossomose.

Poluição das águas subterrâneas

Embora mais protegidas, as águas subterrâneas não estão a salvo da


poluição e seu aproveitamento envolve um planejamento técnico criterioso, com
base no conhecimento de cada ambiente onde se localizam e de suas condições de.
Atividades humanas como agricultura, indústria, mineração e urbanização podem
degradar sua qualidade (Helbel et al., 2008).

Segundo Iritani e Ezaki (2012), a poluição dos recursos hídricos subterrâneos


ocorre quando agentes contaminantes atingem o solo e nele percolam através da
zona não saturada até atingir os aquíferos, ou quando são lançados diretamente nos
aquíferos, por meio de poços com isolamento ou manutenção inadequados (sem
proteção, tampa adequada ou limpeza), bem como pelo seu abandono ou
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desativação sem o devido tamponamento (fechamento). Neste último caso, a


desativação de poços tubulares deve ser informada ao órgão ambiental responsável
pela outorga de uso de água.

Fossas negras, a disposição de lixo e criação de animais muito próximos aos


poços (principalmente os rasos) são clássicos poluentes de aquíferos. Da Costa
(1999), citado por Helbel et al. (2008), estudando o município de Ji-Paraná – RO,
constatou que o aquífero que abastece os poços da cidade encontrava-se poluído
quase que na sua totalidade. Esta poluição deveu-se ao fato da existência de muitas
fossas negras e criação de animais sem condições adequadas, o que se
demonstrou pelos níveis de nitrato, nitrito e coliformes fecais acima do aceitável nas
análises de água dos poços de abastecimento.

Dependendo da sua natureza e localização espacial, os aqüíferos podem ter


maior ou menor grau de vulnerabilidade, mas quando ocorre, a poluição é de mais
difícil e dispendiosa remediação, entre outras razões, devido ao fluxo lento
(centímetros por dia) das águas subterrâneas. Dessa forma, a poluição da água
subterrânea pode ficar oculta por muitos anos e atingir áreas muito grandes.

Poluição do ar

O ar das regiões rurais deveria ser de elevada qualidade. Contudo há


atividades antrópicas que interferem neste cenário, gerando efluentes gasosos.

A supressão da vegetação já contribui para a redução do efeito depurante das


plantas, que absorvem gás carbônico e emitem oxigênio. Esta supressão pode ser
gerada pelas queimadas, cuja queima da biomassa libera grandes quantidades de
gás carbônico à atmosfera. Muitas vezes estas queimadas são realizadas para a
limpeza da área entre uma safra e outra, o que contribui também para a
deteriorização do solo. Além das queimadas de vegetação, há a queima dos
resíduos sólidos, quando estes não tem destinação para a coleta pública.

Ainda em relação à poluição do ar, no Brasil a criação de gado é um dos


grandes contribuintes do aquecimento global, devido à emissão de metano, um dos
gases do efeito estufa, através da flatulência bovina. A emissão de gás metano
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ocorre também pela decomposição anaeróbica de lixo, quando estes não são
depositados e tratados adequadamente, ou o gás não é aproveitado.

4.2.1.5. Surgimento de novas pragas e pragas resistentes

É notável o próprio histórico das atividades agrárias brasileiras e a situação


das terras já utilizadas para agropecuária demonstram uma atuação pouco
preocupada com as questões supracitadas.

Felizmente, no momento atual, as práticas voltadas para a conservação do


meio ambiente vêm tomando importância, como melhor descrito a seguir:

4.3. Conceitos sobre o meio Rural

4.3.1. “Território” ou “propriedade rural”

Segundo Vollet (2002), citado por Carvalho et al. (2006) o território é um lugar
construído pelo grupo social que identifica, no seu espaço físico de vida, uma
particularidade que lhes garante a produção de bens com características únicas.
Território, para o autor, “é um espaço de coordenação dos atores que em um dado
momento resolve um problema produtivo específico”.

Já o Art. 4º da Lei n.º 8.629, de 25 de fevereiro de 1993, conceitua o “imóvel


rural” e propriedade rural como:

“Imóvel Rural - o prédio rústico de área contínua, qualquer que seja a sua
localização, que se destine ou possa se destinar à exploração agrícola,
pecuária, extrativa vegetal, florestal ou agro-industrial.”

Assim, pode-se ver claramente que o conceito de território ou propriedade


rural está ligada fortemente à sua função econômica, e assim, à função social
prevista na Constituição Federal do Brasil e, este mesmo critério, o da destinação
econômica, também é fundamental para definir o imóvel como rural ou urbano,
independentemente de sua localização em zona urbana ou rural. Esta definição é
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importante tanto para fins tributários de incidência de IPTU ou ITR, como para fins
de desapropriação e pagamento da indenização em metro quadrado ou hectare
(Chacpe, 2011).

No Município de Mogi das Cruzes, o módulo fiscal é de 5 hectares, e de


acordo com o Art. 4º da Lei n.º 8.629/1993 a “pequena propriedade rural”
corresponde ao imóvel rural de área compreendida entre 1 (um) e 4 (quatro)
módulos fiscais; a “Média Propriedade” com área superior a 4 (quatro) e até 15
(quinze) módulos fiscais.

4.3.2. Atividade agrária

A Federal no 8.171/91 sobre a Política Agrícola, em seu art. 1º, Parágrafo único,
conceitua “atividade agrícola” como:

“a produção, o processamento e a comercialização dos produtos, subprodutos e


derivados, serviços e insumos agrícolas, pecuários, pesqueiros e florestais.”

Nesta mesma lei, o artigo 2º transcrito abaixo, demonstra claramente a atividade


agrícola com uma função sócio econômica muito forte:

Art. 2° A política fundamenta-se nos seguintes pressupostos:

I - a atividade agrícola compreende processos físicos, químicos e biológicos, onde


os recursos naturais envolvidos devem ser utilizados e gerenciados,
subordinando-se às normas e princípios de interesse público, de forma que seja
cumprida a função social e econômica da propriedade;

II - o setor agrícola é constituído por segmentos como: produção, insumos,


agroindústria, comércio, abastecimento e afins, os quais respondem
diferenciadamente às políticas públicas e às forças de mercado;

III - como atividade econômica, a agricultura deve proporcionar, aos que a ela se
dediquem, rentabilidade compatível com a de outros setores da economia;

IV - o adequado abastecimento alimentar é condição básica para garantir a


tranqüilidade social, a ordem pública e o processo de desenvolvimento
econômico-social;

V - a produção agrícola ocorre em estabelecimentos rurais heterogêneos quanto à


estrutura fundiária, condições edafoclimáticas, disponibilidade de infra-estrutura,
capacidade empresarial, níveis tecnológicos e condições sociais, econômicas e
culturais;

VI - o processo de desenvolvimento agrícola deve proporcionar ao homem do


campo o acesso aos serviços essenciais: saúde, educação, segurança pública,
transporte, eletrificação, comunicação, habitação, saneamento, lazer e outros
benefícios sociais.
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4.3.3. Agricultura convencional

A agricultura moderna iniciou-se no século 18, através da mudança chamada


de Revolução Agrícola na qual ocorreu o aumento da produção agrícola, mas ainda
mantendo as seguintes características: integração da produção agrícola e pecuária,
domínio sobre as técnicas de produção em maior escala e a intensificação do uso de
rotação de culturas com plantas forrageiras.

Em meados do século 19, até o início do século XX, a Segunda Revolução


Agrícola, também chamada de “Revolução Verde”, marcou uma série de
descobertas científicas e avanços tecnológicos, tais como o melhoramento genético
das plantas e o uso de fertilizantes químicos; o distanciamento entre produção
vegetal e animal e a prática da monocultura aliadas a outras práticas agrícolas,
como o uso de variedades melhoradas, irrigação, uso intensivo de insumos
industriais, sobretudo os fertilizantes químicos e os agrotóxicos, e uso intensivo de
máquinas agrícolas no preparo do solo. Este modelo produtivo que vem sendo
praticado nas últimas décadas é, também, chamado de AGRICULTURA
CONVENCIONAL.

A Revolução Verde teve seus méritos: aumentou a produção mundial de


alimentos e diminuiu os custos de produção (benefícios repassados aos
consumidores). Contudo, os resultados ambientais e sociais não foram os melhores.
(Kamiyama, 2012).

4.3.4. Agricultura sustentável

O conceito de agricultura sustentável surgiu na década de1980, em resposta


às técnicas e métodos empregados na agricultura convencional causadoras de
impactos sócio ambientais. Diversos movimentos, cada um com suas
especificidades, se voltaram para práticas agrícolas que respeitavam os recursos
naturais e o conhecimento tradicional.

De um modo geral, ao analisar as inúmeras definições de Agricultura


Sustentável, as elaboradas pela FAO (Organização das Nações Unidas para a
Agricultura e Alimentação) e NCR (National Research Council) se complementam e,
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apesar de ainda não haver um consenso, dado a complexidade do assunto, são as


mais aceitas internacionalmente:

“A agricultura sustentável não constitui algum conjunto de práticas especiais, mas


sim um objetivo: alcançar um sistema produtivo de alimento e fibras que: aumente
a produtividade dos recursos naturais e dos sistemas agrícolas, permitindo que os
produtores respondam aos níveis de demanda engendrados pelo crescimento
populacional e pelo desenvolvimento econômico; produza alimentos sadios,
integrais e nutritivos que permitam o bem-estar humano; garanta uma renda
líquida suficiente para que os agricultores tenham um nível de vida aceitável e
possam investir no aumento da produtividade do solo, da água e de outros
recursos; e corresponda às normas e expectativas da comunidade.”

Fonte: FAO (Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação)

“Agricultura sustentável é o manejo e a conservação da base de recursos naturais


e a orientação tecnológica e institucional, de maneira a assegurar a obtenção e a
satisfação contínua das necessidades humanas para as gerações presentes e
futuras. Tal desenvolvimento sustentável (agricultura, exploração florestal e pesca)
resulta na conservação do solo, da água e dos recursos genéticos animais e
vegetais, além de não degradar o ambiente, ser tecnicamente apropriado,
economicamente viável e socialmente aceitável.”
NCR (National Research Council)

Pode-se dizer que praticamente todas as definições expressam a


necessidade de se estabelecer outro padrão produtivo que utilize, de forma
mais racional, os recursos naturais e mantenha a capacidade produtiva no
longo prazo. segundo Kamiyama (2012).

No final da década de 70 e início de 80, alguns pesquisadores no Brasil


deixaram grandes contribuições ao desenvolvimento da agricultura
sustentável, uma vez que contestaram o modelo vigente e apresentaram
propostas de um novo padrão produtivo. Destacam-se os trabalhos de José
Lutzemberger, com a obra composta em 1976, o “Fim do Futuro? Manifesto
Ecológico Brasileiro” (Lutzemberger, 1999) e os trabalhos da pesquisadora
Ana Maria Primavesi (Primavesi, 1992).
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Agroecologia

Por este nome, entende-se uma interface entre Agronomia e Ecologia


(Iamamoto, 2006). Ainda na década de 80, surgiram várias ONGs voltadas para a
“agricultura alternativa”, termo que foi substituído numa fase seguinte por “agricultura
ecológica”. Atualmente, o termo “agricultura orgânica” é comumente utilizado de
forma abrangente, para designar as diferentes vertentes.

O termo “agroecológico” ou “agricultura agroecológica” constitui-se em uma


nova abordagem da agricultura, que integra as diversas descobertas e estudos da
natureza e suas inter-relações aos aspectos econômicos, sociais e ambientais da
produção de alimentos. (Kamiyama, 2012)

De forma resumida, podemos dizer que a Agroecologia é a base, o alicerce,


onde foram construídas as principais vertentes ou “correntes” de uma agricultura
sustentável, descritas a seguir.

Agricultura orgânica

É a linha mais difundida da agroecologia. Sua base técnica está na


manutenção da fertilidade do solo e da saúde das plantas por meio da adoção de
boas práticas agrícolas, como a diversificação e rotação de culturas, adubação
orgânica, manejo ecológico de pragas e doenças e a preservação ambiental (Ehlers,
1994).

De acordo com a Lei Federal nº 10.831, de 23 de dezembro 2003:

“Considera-se sistema orgânico de produção agropecuária todo aquele em que se


adotam técnicas específicas, mediante a otimização do uso dos recursos naturais
e socioeconômicos disponíveis e o respeito à integridade cultural das
comunidades rurais, tendo por objetivo a sustentabilidade econômica e ecológica;
a maximização dos benefícios sociais; a minimização da dependência de energia
não renovável, empregando, sempre que possível, métodos culturais, biológicos e
mecânicos, em contraposição ao uso de materiais sintéticos; e a eliminação do
uso de organismos geneticamente modificados e radiações ionizantes, em
qualquer fase do processo de produção, processamento, armazenamento,
distribuição e comercialização, e a proteção do meio ambiente”.
22

Vários estudos confirmam o melhor desempenho ambiental e qualidade dos


produtos orgânicos, quando comparados com os convencionais. Segundo Pimentel
et al. (2005), merecem destaque os resultados de uma pesquisa científica realizada
durante 22 anos na Universidade Cornell, Estados Unidos, comparando o cultivo
orgânico de soja e milho com o convencional.Nesse estudo, foram avaliados seus
custos e benefícios ambientais, energéticos e econômicos, concluindo-se que:

1. O cultivo orgânico utiliza uma média de 30 por cento menos energia fóssil;
conserva mais água no solo; induz menos erosão; mantém a qualidade do
solo e conserva mais recursos biológicos do que a agricultura convencional.

2. Ao longo do tempo os sistemas orgânicos produziram mais; especialmente


sob condições de seca.

3. A erosão degradou o solo na fazenda convencional, enquanto que o solo


das fazendas orgânicas melhorou continuamente em termos de matéria
orgânica, umidade, atividade microbiana e outros indicadores de qualidade.

Dados oficiais sobre o mercado nacional de produtos orgânicos são muito


recentes. Considerando a área certificada, calcula-se que existam mais de um
milhão de hectares cultivados no sistema orgânico no Brasil, ocupando a quinta
posição mundial.

Os principais produtos orgânicos brasileiros são: soja, café, frutas,


cana-de-açúcar, cacau, palmito e hortaliças (Kamiyama, 2012).

A ONU/FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e a


Alimentação) divulgou, em 2007, um documento indicando que a agricultura
orgânica pode ser o caminho para se alcançar a segurança alimentar e nutricional. O
documento indica os avanços e limites da agricultura orgânica e propõe políticas e
ações de pesquisa para o desenvolvimento da agricultura orgânica nos níveis
nacional, internacional e institucional (Scialabba, 2007). O documento também indica
que a agricultura orgânica tem condições de produzir alimentos suficientes para
alimentar toda população mundial e com a vantagem de ser um sistema com
reduzido impacto ambiental. Esta afirmação contesta o paradigma de que só a
agricultura convencional é capaz de assegurar o abastecimento global de alimentos.
23

Dentre outras correntes além do movimento orgânico, existem o biodinâmico,


natural, regenerativo e a permacultura. (Kamiyama, 2012;)

Principais Práticas conservacionistas:

No sistema orgânico o solo é considerado como um organismo vivo e não


apenas como um suporte de plantas ou uma fonte de reserva de nutrientes. Assim, o
manejo adequado do solo deve ser prática prioritária.

As práticas conservacionistas podem ser de caráter vegetativo, edáfico ou


mecânico, executadas simultaneamente e não isoladamente, interferem
primeiramente na qualidade do solo, sob o ponto de vista físico, químico ou biológico
(Kamiyama, 2012).

Práticas de caráter vegetativo: são aquelas que utilizam a vegetação, de forma


racional, para defender o solo contra a erosão. Alguns exemplos: florestamento,
reflorestamento, plantas de cobertura, cultura em faixas, quebra-ventos.

Práticas de caráter edáfico: são aquelas que, com modificações no sistema de


cultivo, além do controle de erosão, mantêm ou melhoram a fertilidade do solo.
Exemplos: controle do fogo, adubação verde, adubação química, adubação orgânica
e calagem.

Práticas de caráter mecânico: recorre a estruturas artificiais, mediante a


disposição adequada de porções de terra, com a finalidade de quebrar a velocidade
de escoamento da enxurrada e facilitar-lhe a infiltração no solo. Exemplos:
distribuição racional dos caminhos, terraceamento e plantio em nível, caixas de
contenção, canais escoadouros.

Florestas e aptidão agrícola: no sistema orgânico, as culturas e criações devem


estar integradas e adaptadas às condições ambientais, respeitando a aptidão
agrícola do solo, as áreas de preservação permanente e reserva legal e outras áreas
protegidas por legislação.
24

Rotação de culturas e culturas com alta diversidade: a diversidade de uso do


solo é um dos pilares da agroecologia. Quanto maior a biodiversidade dos
ecossistemas agrícolas, menor a probabilidade de infestações de pragas e doenças
e maior o equilíbrio ambiental. Para isto, é utilizado também o princípio de alelopatia,
em que plantas companheiras são cultivadas juntas, evitando-se a associação de
plantas antagônicas.

Compostagem: A recuperação e manutenção da fertilidade do solo devem ser


atingidas mediante a reciclagem do material orgânico, cujos nutrientes são
gradualmente disponibilizados às plantas por meio da ação de micro-organismos do
solo. A utilização de composto orgânico, com mistura de estercos animais e resíduos
vegetais é uma prática desejável e incentivada na agricultura orgânica, pois é uma
forma de obtenção de um produto mais estabilizado, com melhor aproveitamento
pelas plantas, além da possibilidade de reciclagem dos resíduos em uma
propriedade.

Manejo de pragas, doenças e da vegetação espontânea: realizada de forma


preventiva pelas outras técnicas acima citadas, e com medidas de controle natural,
como controle biológico e extratos naturais.

4.4. Novos conceitos sobre o Meio Rural

4.4.1. O “Novo Ruralismo”

Constitui-se da emergência de atividades alternativas não-agrícolas em


substituição aos tradicionais usos agrícolas da terra, configurando o que tem sido
denominado de “Novo Rural” (Campanhola & Silva, 2000, citado por Rodrigues e
Campagnola, 2003).

A partir de meados dos anos 80, com a emergência cada vez maior das
dinâmicas geradoras de atividades rurais não agrícolas, e da pluriatividade no
interior das famílias rurais, observa-se uma nova conformação do meio rural
brasileiro, a exemplo do que já ocorre há tempos nos países desenvolvidos. Esse
25

"Novo Rural" como vem o temos denominado, pode ser também resumido em três
grandes grupos de atividades:

a) um agropecuária moderna, baseada em commodities e intimamente ligada às


agroindústrias;

b) um conjunto de atividades não agrícolas, ligadas à moradia, ao lazer e a várias

atividades industriais e de prestação de serviços;

c) um conjunto de "novas" atividades agropecuárias, localizadas em nichos especiais


de mercados.

O termo "novas" foi colocado entre aspas porque muitas dessas atividades,
na verdade, são seculares no país, mas não tinham até recentemente importância
econômica. Tal valorização também ocorre com as atividades rurais não agrícolas
derivadas da crescente urbanização do meio rural e, assim, crescente necessidade
de preservação do meio ambiente.

Além destes fatores, o termo “novo” refere-se à forma de gestão da


agricultura, que além de ocupar-se da produção, incluem gestão financeira,
estratégica e ambiental, como comenta Favareto (2009):

“...ser agricultor no limiar do século XXI guarda muito pouca relação com o que
significava a mesma opção duas ou mais gerações atrás. As implicações para a
forma de condução da vida eram muito mais rígidas do que hoje. Se, antes, ser
agricultor implicava uma opção por maior isolamento e pelo não acesso a certos
confortos tido como típicos da vida urbana, esta é uma restrição que pesa cada
vez menos nos tempos atuais. Se antes bastavam os conhecimentos relativos às
lidas com a terra, transmitidos informalmente de uma à outra geração, hoje é
necessário crescentemente mobilizar mais e novos recursos, introduzir técnicas de
produção e gestão e obter acesso a mercados que demandam novas
habilidades.”(Favareto, 2009)

A manutenção de uma agricultura durável e protetora dos recursos naturais


implica a implementação de um plano de ação negociado, que favoreça a passagem
para práticas agrícolas menos poluidoras, mais eficientes no uso da água, voltadas
para a formação dos agricultores no uso de efluentes e na reutilização de água, e
que, ademais, tenha em conta as novas estratégias de produção ligadas à
urbanização.
26

Em resumo, o meio rural brasileiro não é mais essencialmente agrícola. Além


das atividades de produção agropecuária, outras oferecem importantes
oportunidades de emprego e renda para a população rural. A multiplicação de
atividades no meio rural resulta de um processo de criação de demandas
diferenciadas, de nichos especiais de mercado ou de uma diferenciação dos
mercados tradicionais. Agregam-se também serviços às cadeias produtivas
agroindustriais, criando novos espaços para a emergência de pequenos e grandes
empreendimentos nesse longo caminho que vai do produtor rural ao consumidor
final (Rodrigues et al., 2006).

4.4.2. Nova Política da Multifuncionalidade da Agricultura e SAs

Com origem na Comunidade Européia, a multifuncionalidade surge como


política alternativa ao modelo produtivista de desenvolvimento agrícola, na medida
em que enfatiza seu aspecto espacial, ambiental, social e econômico. Identifica-se
que a agricultura tem a função de produzir alimento suficiente e de qualidade para a
população, mas também proteger o ambiente, fortalecer o social e preservar os
aspectos culturais e simbólicos que caracterizam uma dada sociedade. Identificam o
turismo e a produção artesanal como atividades produtivas complementares
(CARVALHO et al, 2004).

Para VOLLET (2002, citado por Carvalho et al., 2004), a multifuncionalidade


está associada a territórios em que o modelo produtivista não encontra as condições
adequadas para seu desenvolvimento e, então, os atores se voltam à produção de
qualidade, em substituição à produção em massa. A multifuncionalidade resulta da
coordenação das atividades monofuncionais da agricultura e do conjunto de atores,
em estratégias coletivas de combinação destas funções, portanto, depende da
regulação pela cooperação e reciprocidade.

Prestação de Serviços Ambientais - SAs

O bem estar da humanidade sempre dependeu dos serviços fornecidos pela


biosfera e seus ecossistemas. Bem-estar é o oposto da pobreza, a qual é definida
como “profunda privação de bem-estar”. Este, como experimentado e percebido pela
27

população, é localmente definido refletindo as circunstâncias geográficas, culturais e


ecológicas.

Serviços ambientais influenciam o bem-estar humano por meio das condições


materiais básicas; da saúde, que inclui ter um ambiente saudável, como ar e água
limpa; da coesão social e respeito mútuo; da segurança, incluindo acesso aos
recursos naturais, segurança pessoal e em relação a desastres naturais ou
causados pelo homem; da liberdade de escolha e de ação, incluindo a oportunidade
de obter o que o indivíduo valoriza fazer e ser. (Carvalho et al., 2006)

No âmbito do Millenium Ecosystem Assessment – MA (UNEP, 2005)


definiu-se que “Serviços ambientais dos ecossistemas são os benefícios que a
população obtém deles”. Sendo estes serviços classificados em:

•de provisão: como por exemplo, produção de água, alimento e madeira;

•de regulação: os que afetam clima; proteção contra doenças; enchentes secas,
proteção contra degradação do solo ou erosão; manutenção da qualidade da água;

•culturais: recreação; estética e benefícios espirituais; e

•de apoio: formação do solo; fotossíntese e ciclo de nutrientes.

A agricultura não é somente vilâ. Os serviços ambientais que podem ser


prestados por ela são diversos. A produção primária, formação do solo e
preservação do ciclo de nutrientes são serviços de apoio. Como provisão, gera
alimento e água. Contribui na regulação através da criação de condições favoráveis
para melhorar a qualidade do ar e da água; na preservação da permeabilidade das
várzeas; controle de enchentes e criação de microclimas agradáveis. O serviço
cultural está associado à preservação da paisagem rural, preservando a história
local da relação homem e ambiente, a manutenção dos espaços propícios à
recreação e ao desenvolvimento pessoal e espiritual, através do contato com a
natureza. Alguns destes serviços são realizados em conjunto com outras atividades
humanas produtivas desenvolvidas no espaço rural (Figura 1) (Carvalho et al.,2006).

Bouzid et al. (2005) comenta ainda que vários estudos mostram que a
expansão da urbanização se faz essencialmente pelo desmatamento e pela
28

ocupação de áreas não-cultivadas, e menos pela ocupação de áreas agrícolas, o


que coloca a agricultura como papel de protetora destas áreas contra a especulação
imobiliária e degradação urbana . Além do mais, a preservação da agricultura
contribui para a manutenção do tecido social nos distritos rurais, graças a
associações culturais e religiosas tradicionais

Figura 1: serviços ambientais da Agricultura

Fonte: UNEP, 2005, adaptado por Carvalho et al., 2006.

Considerar a atividade agropecuária como prestadora de serviço ambiental,


implica na promoção da política de multifuncionalidade, na sua adequação
tecnológica e na busca de instrumentos para torná-la economicamente viável e
competitiva frente aos usos alternativos do solo pelo mercado urbano. É um desafio
possível de ser construído por meio do acerto entre os diversos atores que
compartilham a responsabilidade da gestão de solo e água e, mais especificamente,
pela parceria produtor-consumidor de alimentos e de água. (Carvalho et al., 2006)
29

Pagamento por Serviços Ambientais (PSAs)

A sociedade deve valorizar e recompensar de forma adequada os produtores


que manejem responsavelmente o ambiente e os recursos naturais, como forma de
compensação e incentivo pela conservação. Mas então, qual a retribuição do
proprietário/agricultor pela inserção de boas práticas ambientais e, assim, prestação
destes serviços ambientais?

Inicialmente não se deve subestimar os benefícios econômicos e comerciais


que podem advir de boas práticas de gestão ambiental para os próprios proprietários
e agricultores. A promoção da agricultura sustentável depende, assim, da
conformação de um novo relacionamento entre os consumidores e os produtores (e
setores produtivos) que se dediquem a formas sustentáveis de manejo, em um
mercado qualificável como ético e solidário. Para a construção dessas formas
inovadoras de relacionamento entre consumidores e produtores conscientes,
pode-se utilizar mecanismos de eco-certificação das atividades produtivas
sustentáveis e de seus produtos, como forma de viabilizar relações comerciais
solidárias e éticas (Carvalho et al., 2009).

Outra forma de se recompensar os serviços ambientais é por meio do


“Pagamento por Serviços Ambientais” - PSA. Segundo Pagiola et al. (2013), PSA é
um instrumento baseado no mercado para financiamento da conservação que
considera os princípios de usuário-pagador e provedor-recebedor. Assim, o 1o ator
(usuário-pagador) são aqueles que se beneficiam dos serviços ambientais e devem
pagar por eles, enquanto os que contribuem para a geração destes serviços
(provedor-recebedor) devem ser compensados por proporcioná-los. O pagamento,
geralmente em espécie, pode ser realizado de duas maneiras: diretamente pelos
beneficiários ou indiretamente por terceiros, como os governos. No Brasil uma das
primeiras experiências de PSA vem sendo realizado desde 1996, no Município de
Exrema – MG, pelo projeto “Conservador das águas” planejada e implementada pelo
município e financiamento por diversos fundos de órgãos estaduais, federais e
ONGs. Neste projeto os proprietários recebem um valor financeiro anual por hectare
de área com cobertura vegetal conservada/restaurada, principalmente em volta das
nascentes (Pereira, 2013).
30

4.5. Um pouco de História

4.5.1. A agricultura no Brasil

A agricultura no Brasil é, historicamente, umas das principais bases da


economia do país, desde os primórdios da colonização com o extrativismo de
madeira (principalmente Pau-Brasil) e borracha da seringueira, até o século XXI,
evoluindo das extensas monoculturas para a atual diversificação da produção.

Desde os primórdios da colonização, o sistema de divisão de terras sempre


foi vertical: das capitanias hereditárias para as grandes sesmarias que se tornaram
os latifúndios, palco das grandes monoculturas.

O primeiro grande produto vegetal cultivado foi a cana-de-açúcar no nordeste,


plantado em sistemas de monocultura com mão de obra escrava. Com o declínio no
final do século XVII, surgiram a cultura de Cacau na Bahia e do algodão.
Posteriormente, no século XIX em São Paulo, o café era cultivado em grandes
monoculturas movidas pela mão de obra escrava e mais tarde, com a proibição da
escravidão, por imigrantes de diversas etnias. Conforme foi ocorrendo a apropriação
de terras pelos imigrantes, novidades como pequenas propriedades e uma maior
diversificação na produção foram surgindo, principalmente nas regiões periféricas
dos grandes centros urbanos.

No Estado Novo, Getúlio Vargas, cunhou-se a expressão "Brasil, celeiro do


mundo" - acentuando a vocação agrícola do país. Durante o regime militar foi criada
a EMBRAPA (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), com o objetivo de
diversificar a produção agrícola. O órgão foi responsável pelo desenvolvimento de
novos cultivares, adaptados às condições peculiares das diversas regiões do país.
Por seu trabalho teve início a expansão das fronteiras agrícolas para o cerrado e
latifúndios monocultores com a produção em escala semi-industrial de soja, algodão
e feijão.

E assim, a agricultura brasileira sempre manteve-se como uma das maiores


exportadoras do mundo de diversas espécies de cereais, frutas, grãos, entre outros,
sendo que em 2010, a OMS aponta o país como o terceiro maior exportador agrícola
do mundo, atrás apenas de Estados Unidos e União Européia.
31

Em 2013, o agronegócio representava 22% do PIB do Brasil, sendo que o


país mantinha-se como maior exportador de café, açúcar e suco de laranja do
mundo, segundo maior exportador de carne bovina, atrás apenas da Índia, quarto de
carne suína, e maior exportador de frango do planeta, responsável por 40% do que é
vendido para outros países (site Globo Ecologia, acessado em 01/08/2014).

Vários fatores levaram a este resultado, tais como a melhoria dos insumos
utilizados (sementes, adubos, máquinas), as políticas públicas de incentivo à
exportação, a diminuição da carga tributária (como, por exemplo, a redução do
imposto de circulação, em 1996), a taxa de câmbio real que permitiu estabilidade de
preços (a partir de 1999), o aumento da demanda dos países asiáticos, o
crescimento da produtividade das lavouras e outros componentes, como a
intercessão governamental junto à OMC para derrubar barreiras comerciais
existentes contra produtos brasileiros em países importadores.

Apesar disto, a agricultura brasileira apresenta problemas e desafios, que vão


da reforma agrária às queimadas; do êxodo rural ao financiamento da produção; da
rede escoadora à viabilização econômica da agricultura familiar: envolvendo
questões políticas, sociais, ambientais, tecnológicas e econômicas.

4.5.2. Agricultura em São Paulo

O Estado de São Paulo foi historicamente colonizado pelo Café. Este produto
foi introduzido no país ainda no final do período colonial mas somente após a
independência que a produção se consolidou na região Sudeste, sobretudo no
Estado de São Paulo. A cultura era realizada em grandes latifúndios cultivados por
mão de obra escrava africana, cujos donos formaram a oligarquia dos chamados
“Barões do Café”. Com o fim da escravidão, o café apressou os movimentos de
imigração, com a vinda de diversas etnias como de italianos, alemães e japoneses.
Este fenômeno atingiu seu ápice nas chamadas “Política do Café-com-Leite” e
política dos governadores, no governo Campos Sales. A crise de 1929 encerrou o
ciclo e, na década de 1930, iniciou-se a industrialização do país, em parte com o
capital oriundo do excedente cafeeiro.
32

4.5.3. Imigração japonesa no Brasil

Segundo INCRA (1978) e de Moraes (2008), a política imigratória do final do


século XIX e início do século XX no Brasil tinha a finalidade de ocupação
demográfica. Além de suprir de mão de obra as fazendas de café, recém saídas de
um sistema escravocata, o país contentava-se em receber pessoas, em quantidade
e preferencialmente em família, para povoar os vazios existentes do território, sem,
em geral, um plano pré-estabelecido.

Já o Japão, assim como outros países asiáticos, também atravessava o


processo de modernização com a revolução industrial e, particularmente neste país,
com a era Meiji. O Japão atravessava uma explosão do crescimento populacional,
sufocamento da produção com a entrada de produtos estrangeiros e consequente
degradação da vida no campo e nas cidades,com aumento da miséria da qualidade
de vida (de Moraes, 2008). Todos estes fatores impeliram o japonês para o exterior
(INCRA, 1978).

Assim,em 18 de junho de 1908, chegou no porto de Santos o navio Kassato


Maru, trazendo a primeira grande leva de imigrantes. Diferentemente da maioria das
outras embarcações posteriores (que chegavam com trabalhadores declarados
agrícolas), esta primeira leva era composta de sua maior parte do contigente urbano
de desempregados, como comerciantes falidos, funcionários públicos demitidos,
estudantes pobres, prostitutas, etc. (de Moraes, 2008). Ao partir do solo pátrio, o
nipônico levava a expectativa de uma migração temporária, sonhando com a
possibilidade de enriquecimento a curto prazo e volta à terra natal, sendo que o que
diferencia o grupo japonês de outras etnias imigrantes ao Brasil foi a preferência por
áreas rurais. Embora boa parcela (45%) encontrava-se em meio urbano (segundo o
Censo da População Nipo-Brasileira de 1958,citado por INCRA, 1978), 55% ainda
permanecia em meio rural, sendo que do total, 85% entraram no país como
agricultores. Provavelmente os fatores que levaram à preferência do meio rural pelos
japoneses foram a aptidão e competências para a agricultura e a menor exigência
no conhecimento da língua portuguesa neste meio.

Outro aspecto relevante na imigração japonesa é a rapidez com que o grupo


que se assentou no meio rural conseguiu ascender na escala social, passando de
33

mão de obra da agricultura dos latifúndios para arrendatários e/ou proprietários


(entre 1908 a 1915). As razões citadas pelo INCRA (1978) são a capacidade de
economizar recursos para a aquisição de terras e a estrutura familiar numerosa e
mobilizável para o trabalho na terra, além do constante desenvolvimento de técnicas
que permitiam aumentar a produção e rentabilidade da terra. Outro fator importante
é a baixa concorrência com os tradicionais senhores da terra, optando-se por outras
atividades agrícolas economicamente rentáveis e de fácil comercialização.
Posteriormente, os imigrantes se respaldaram de uma “sólida organização
cooperativa”, o que permitiram se inserir no mercado de abastecimento dos grandes
centros urbanos em expansão, como é o caso das grandes cooperativas como a
Cooperativa Agrícola de Cotia (cotia), a Sul-Brasil e a Central de São Paulo.

Segundo Hiroshi Saito (citado por INCRA, 1978), entre 1908 a 1925, haviam
chegado ao Brasil cerca de 40mil japoneses destinados ao trabalho nas fazendas de
café do estado de São Paulo. Com o oferecimento de subsídios sendo oferecido a
partir de 1924, o número de imigrantes começou a crescer rapidamente. Em 1930,
após a Revolução Constitucionalista levada a cabo por Getúlio Vargas, foi decretada
a Lei de Restrição à Imigração e Apoio aos Desempregados, que previa restrições à
entrada de imigrantes que não viessem dedicar-se à agricultura. Como, porém, todo
imigrante japonês era, oficialmente, agricultor, somente os imigrantes japoneses
continuaram a entrar em grande número (o número de imigrantes autorizados
oscilava entre 12 e 27 mil imigrantes por ano). Entre 1925 e 1941, chegaram cerca
de 150mil japoneses (site: 100 anos imigração japonesa no Brasil, acessado em
28/02/2014), sendo parte ainda destinada às fazendas de café, mas também a
pequenos núcleos de colonização situados em São Paulo e outros estados,
destacando-se, segundo Handa (1987):

São Paulo

Colônia Tietê (atual município de Pereira Barreto)

Colônias Aliança (Aliança I, II e III, atual município de Mirandópolis)

Colônia Bastos,

Paraná: Colônia Três Barras (hoje Assaí)


34

Pará: Colônia Acará (hoje Tomé-Açu)

Amazonas: Colònia Maués e Parintins

Projetos de colonização oficial: Altamira, Guamá e Monte Alegre (PA), Dourados


(MS) e Papucaia e Sta Alice (RJ).

Na década de 70, haviam cerca de 750mil pessoas de origem japonesa no


Brasil (INCRA, 1978), sendo 75% localizado no estado de São Paulo.

Em resumo, podemos dividir a imigração japonesa para o Brasil em três


momentos:

Inicialmente o Brasil buscou, juntamente com o governo japonês,


mão-de-obra nipônica, essa imigração foi inicialmente subsidiada pelo governo
paulista, mas em função das dificuldades de adaptação e fixação desses imigrantes
nas fazendas, o governo paulista também decidiu suspender a imigração subsidiada
para esse grupo, sendo assim, o governo japonês passou a arcar com esses
subsídios.

Num segundo momento, as transformações no interior Paulista, em


conseqüência da crise do café na década de 30 e a industrialização da capital,
atraíram população do interior e de outras regiões do Brasil para a capital de São
Paulo.

Finalmente, o terceiro momento já transcorre ao final do século XX; no bojo da


crise econômica brasileira e o fenômeno da globalização, muitos brasileiros partiram
para outros países, entre estes, o Japão. O Estado japonês adotou uma clara
política de atração de mão-de-obra estrangeira em meio ao crescimento econômico
experimentado por essa nação, os chamados Dekasseguis.

Percebeu-se uma forte presença dos aspectos econômicos na decisão de


buscar outros lugares para obter melhores remunerações. Inicialmente os japoneses
ofereceram forte contribuição para o desenvolvimento do setor agrícola, mas
passaram a investir no setor industrial e serviços, além da entrada de capital japonês
para a instalação de empresas de diversos ramos de atividade.
35

No âmbito social, a dedicação nos estudos favoreceu a ascensão social de


muitos japoneses e descendentes no Brasil. Em termos culturais, as festas, a
gastronomia e a religião tornaram-se parte da cultura brasileira, enriquecendo-a.

4.5.4. Contribuição da Imigração Japonesa para o desenvolvimento


Agro-Econômico Brasileiro

Em resumo, pode-se afirmar que a influência japonesa no desenvolvimento


agro econômico do Brasil abrange três principais aspectos (INCRA, 1978).

a) introdução de novas variedades de cultivos e criações e melhoria de outras já


existentes no país;

b) melhoria da tecnologia de produção;

c) organização social e da comercialização da produção – Associativismo e


Cooperativismo.

a) Introdução de novas variedades:

Muitas foram as variedades de origem nipônica introduzidas por estes imigrantes


ou melhoradas no Brasil (tabela 1), nas quais destacam-se:

- Frutíferas: caqui, castanha (Castanea crenata), nêspera (Eriobotrya japonica),


péssego, ameixa (Prunus mume), uva, goiaba, pera, abacaxi, banana, ponkan
(Citrus reticulada Blanco);

- horticultura: Tomate Sta Cruz (particularmente desenvolvido em Mogi das cruzes),


alface americana, acelga, berinjela;

- outras contribuições: café, amendoim, algodão, soja, hortelã, pimenta, rami,


avicultura e granja, criação de bicho de seda.
36

Tabela 1: Participação dos agricultores de origem japonesa na produção agrícola Brasileira (1964/65)

Produto Produção brasileira Participação


(ton, exceto ovos) japoneses (%)
Arroz 1.770.288 4,2
Batatinha 1.263.812 41,0
Tomate 553.270 58,1
Ovos 648.840 (mil dz) 43,8
Café 2.084.027 8,8
Algodão 1.770.288 13,7
Amendoim 469.641 21,2
Chá 6.221 92,1
Casulos (seda) 1.456 80,0
Pimenta do reino 8.600 82,0
Rami 1.500 91,7
Fonte: INCRA, 1978

Sendo que em 1977, 70% dos produtos hortifrutigranjeiros comercializados na


CEAGESP (companhia de Abastecimento do Estado de São Paulo) era de produção
dos descendentes, assim como 50% nas feiras livres (Saito, 1977, citado por
INCRA, 1978).

b) Melhorias de tecnologia de produção

Neste quesito, muitas das técnicas de cultura intensiva consideradas “inovações”


no Brasil eram habituais no Japão como, por exemplo, a utilização de fungicidas e
fertilizantes e a utilização de tecnologia intensiva. Na Amazônia, técnicas
agroflorestais retomadas atualmente foram desenvolvidas por imigrantes japoneses
(INCRA, 1978).

c) Associativismo e Cooperativismo

A agropecuária, atividade de maior contribuição nipônica, sujeita às dificuldades


próprias dos pequenos lavradores, que, sem escala e sem conhecimento da língua e
37

do mercado, eram presas fáceis de comerciantes inescrupulosos, fez com que eles
buscassem instrumentos capazes de colocar seus produtos sem as inconveniências
da intermediação. Passaram, então, a formar cooperativas agrícolas, que além de
comercializar a produção também buscavam no mercado os insumos necessários à
sua atividade agrícola, tais como fertilizantes, defensivos agrícolas, sementes,
máquinas e implementos. Muitas delas mantinham um setor de crédito rural para
financiar seus associados. O sucesso de tais cooperativas foi tamanho que o
governo, interessado em fomentar e divulgar este tipo de sociedade, baixou o
Decreto 22.239, em 1932, a primeira lei normativa das sociedades cooperativas,
cinco anos após a fundação da primeira cooperativa de imigrantes japoneses, em
1927. Pode-se afirmar, sem sombra de dúvida, que a comunidade japonesa foi a
grande introdutora do cooperativismo agrícola no Brasil (Utumi, 2008).

A partir de 1930, os japoneses foram se especializando em outros ramos


ligados à agricultura, como por exemplo, desenvolvimento e conserto de
implementos agrícolas, e métodos de beneficiamento de alimentos e outros produtos
agrícolas.
38

4.6. Saneamento básico rural

4.6.1. A falta de saneamento e os riscos à saude

Segundo Censo Demográfico realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e


Estatística – IBGE/2010, no Brasil cerca de 29,9 milhões de pessoas residem em
localidades rurais, em aproximadamente 8,1 milhões de domicílios. Os serviços de
saneamento prestados a esta parcela da população apresentam elevado déficit de
cobertura. Assim, sem a rede de saneamento pública, as famílias e
empreendimentos rurais precisam adotar soluções próprias para tal questão, sendo
a falta de orientação e desconhecimento dos riscos agravante da situação (Natal et
al., 2005).

As principais doenças relacionadas à falta de saneamento em zonas rurais,


especificamente ao tratamento inadequado de água de abastecimento e
afastamento sanitário estão listadas na tabela 2.
39

Tabela 2: Doenças relacionadas com os dejetos

Grupo de
Formas de transmissão Principais doenças Formas de prevenção
doenças
feco-oral (não Contato de pessoa a pessoa ● poliomielite; ● implantar sistema de
bacterianas) quando não se tem higiene ● hepatite tipo B; abastecimento de água;
pessoal adequada (o ● giardíase; ● melhorar as moradias e as
organismo patogênico (agente ● disenteria amebiana; instalações sanitárias;
causador da doença) é ingerido ● diarréias por vírus. ● promover a educação sanitária;
feco-oral (bacterianas) Contato de pessoa a pessoa, ● febre tifóide e paratifóide; ● implantar sistema de
ingestão e contato com ● diarréias e disenterias abastecimento de água e de
alimentos contaminados e bacterianas, como a cólera. disposição dos esgotos;
contato com fontes de água ● melhorar as moradias e as
contaminadas com fezes instalações sanitárias;
● promover a educação sanitária.
Helmintos transmitidos Ingestão de alimentos ● ascaridiose (lombrigas) ● construir e manter limpas
pelo solo contaminados e contato da ● tricuríase instalações sanitárias;
pele com o solo contaminados ● ancilostomíase (amarelão) ● tratar os esgotos antes da
com fezes disposição no solo;
● evitar o contato da pelecom o solo
(andar calçado)
Helmintos associadas Contato da pele com o água ● esquistossomose ● evitar o contato de pessoas com
à água (uma parte do contaminada águas infectadas;
ciclo da vida do ● construir instalações sanitárias
agente infeccioso adequadas;
ocorre em um animal ● adotar medidas adequadas para a
aquático) disposição de esgotos;
● combater o hospedeiro
intermediário, o caramujo.
Tênias (solitárias) na Ingestão de carne mal cozida ● teníase; ● construir instalações sanitárias
carne do boi ou do de animais contaminados ● cisticercose adequadas;
porco ● tratar os esgotos antes da
disposição no solo;
● inspecionar a carne e ter cuidados
na sua preparação (cozimento)
40

Transmitidas por Procriação de insetos em ● filariose (elefantíase) ● combater os insetos


vetores que se locais contaminados com transmissores;
relacionam com as fezes ● eliminar condições que possam
fezes favorecer criadouros;
● evitar o contato com criadouros;
● utilizar meios de proteção
individual.
Fonte: BARROS, 1995.
41

Além da falta de saneamento básico, o contato constante com animais


apresenta outros riscos. Natal et al, 2005 comenta que a criação de animais em
áreas próximas às residências humanas contribuem para a atração de outros tipos
de animais oportunistas como, gambás, pulgas e carrapatos que trazem doenças
como a raiva. O contato direto ou indireto com os excretas e secreções contendo
agentes patógenos de animais são mais focos de doenças como a toxoplasmose,
por exemplo. A própria acumulação de resíduos sólidos atrai também animais como
moscas aranhas e ratos.

A manipulação antrópica do ambiente natural afeta o habitat dos animais


silvestres como insetos (moscas, mosquitos, percevejos, aranhas), roedores (ratos,
gambás), morcegos, répteis (cobras e lagartos), anfíbios (sapos) e outros mamíferos
(porco-espinho, ariranha) levando-os a se aproximarem do convívio humano e de
suas criações, disseminando doenças ou causando e sofrendo acidentes.

4.6.2. Água para abastecimento

Conforme dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios –


PNAD/2009, apenas 32,8% dos domicílios nas áreas rurais estão ligados a redes de
abastecimento de água com ou sem canalização interna. O restante da população
(67,2%) capta água de chafarizes e poços protegidos ou não, diretamente de cursos
de água sem nenhum tratamento ou de outras fontes alternativas geralmente
insalubres.

Na figura 2 observa-se que predomina na área rural o abastecimento de água


a partir de outras formas com canalização interna (39,8%). Nestes casos, a
qualidade da água depende da proteção das fontes e de uma rede de distribuição
sem risco de contaminação.
42

Figura 2: Abastecimento de Água nos Domicílios Rurais do Brasil

Fonte: site FUNASA, 2014

As formas de captação (com canalização ou sem canalização) são a captação


direta em nascentes e corpos d’água, poços rasos e poços artesianos.

Captação direta de nascentes e corpos d’água

Quando a água de abastecimento é captada diretamente de corpos d’água ou


nascentes superficiais, esta está muito susceptível aos focos de contaminação e
poluição. Assim, é necessário realização de tratamento para torná-la potável ou uma
simples desinfecção de acordo com a classificação das águas contida no artigo 7º
do regulamento da lei estadual 997/76 (tabela 3).

Tabela 3: Classificação do corpo d’água de acordo com seu uso, segundo a Lei Estadual no 997 de
31.05.76.
Classe do corpo
CARACTERÍSTICAS
d’água
Águas destinadas ao abastecimento doméstico,
1
Sem tratamento prévio ou com simples desinfecção.
Águas destinadas ao abastecimento doméstico, após tratamento
2 convencional, à irrigação de hortaliças ou plantas frutíferas e à recreação
de contato primário (natação, esqui-aquático e mergulho).
Águas destinadas ao abastecimento doméstico, após tratamento
3 convencional, à preservação de peixes em geral e de outros elementos da
fauna e da flora e à dessedentação de animais.
Águas destinadas ao abastecimento doméstico, após tratamento
4 avançado, ou à navegação, à harmonia paisagística, ao abastecimento
industrial, à irrigação e a usos menos exigentes.
43

Mesmo quando ocorre a captação direta de nascentes, é aconselhável


protegê-lo de fontes potenciais de contaminação com a construção de uma caixa de
alvenaria com tampa e acessível à limpeza (Iritani e Ezaki, 2012) e realizar
desinfecção para fins potáveis (Fig. 3).

Figura 3: Construção de alvenaria para proteger a captação direta de nascentes.

Fonte: Iritani e Ezaki, 2012.

Captação subterrânea

Para a utilização da água subterrânea no Estado de São Paulo, é necessária


autorização do órgão responsável pela outorga de uso dos recursos hídricos.

Quando a água é destinada ao consumo humano, o poço deve estar


cadastrado nos órgãos municipais de Vigilância Sanitária e apresentar plano de
amostragem da qualidade da água conforme Portaria no 2.914, de 12/12/2011 do
Ministério da Saúde (Iritani e Ezaki, 2012) Pois, como já apresentado, as águas
subterrâneas podem estar contaminadas com poluição industrial, agrícola ou mesmo
doméstica.

Desinfecção para consumo

Mesmo com uma boa qualidade verificada no local de captação de água,


quando se trata de consumo humano, a água pode sofrer contaminação ao longo da
44

tubulação final ou na armazenagem. Assim, sempre é necessária a desinfecção nos


reservatórios.

A desinfecção tem por finalidade a destruição dos micro-organismos


patogênicos presentes na água, tais como bactérias, protozoários, vírus e vermes.
Entretanto, é importante alertar que há diferença entre desinfecção e esterilização
da água, sendo esta última a destruição total dos micro-organismos, patogênicos ou
não, enquanto que a desinfecção não mata todos os micro-organismos, nem mesmo
todos os patogênicos, como os vírus da poliomielite ou hepatite (Richter, 2009).

Entre os agentes de desinfecção, o mais largamente empregado na


purificação da água é o cloro, por ser um elemento facilmente disponível e barato
em todas as formas físicas (na forma de gás elementar– Cl2, líquido como
hipoclorito de sódio e sólido como hipoclorito de cálcio). Entretanto este elemento
apresenta desvantagem por ser venenoso e corrosivo em determinados níveis, e por
causar problemas de gosto e odor, particularmente na presença de fenóis,
requerendo um manejo adequado e cuidadoso (Richter, 2009). Outras formas de
desinfecção menos usuais são a ozonização, e adição de cal hidratada.

A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária EMBRAPA


Instrumentalização, em parceria com a CATI (, a partir do programa Microbacias I,
vem divulgando e implantando equipamentos de desinfecção de água por meio de
cloração (Clorador Rural -EMBRAPA).

4.6.3. Efluentes líquidos e esgotamento sanitário


Segundo a FUNASA, a situação é mais crítica quando são analisados dados
de esgotamento sanitário: apenas 5,7% dos domicílios estão ligados à rede de
coleta de esgotos e 20,3% utilizam a fossa séptica como solução para o tratamento
dos dejetos. Os demais domicílios (74%) depositam os dejetos em “fossas
rudimentares”, lançam em cursos d´água ou diretamente no solo a céu aberto
(PNAD/2009).

Quanto à cobertura de serviços de esgotamento sanitário, segundo a


PNAD/2009 e conforme demonstrado na Figura 4, somente 5,7% dos domicílios
45

rurais possuem coleta de esgoto ligada à rede geral e 20,3% possuem fossa séptica.
Outras soluções são adotadas por 56,3%, muitas vezes, inadequadas para o destino
dos dejetos, como fossas rudimentares, valas, despejo do esgoto in natura
diretamente nos cursos d’água. Além disso, 17,7% não usam nenhuma solução. Por
outro lado, 60,8% dos domicílios urbanos têm acesso à rede de esgotamento
sanitário.

O fato de nas áreas rurais existir significativo número de domicílios dispersos,


e a inexistência de rede coletora de esgotos nas áreas mais concentradas, leva as
famílias a recorrerem a alternativas de esgotamento sanitário, como fossa
rudimentar (48,9%) e outras formas (7,4%), representando um total de 56,3% do
total de domicílios (Fig. 4).

Figura 4: Esgotamento sanitário nos Domicílios Rurais

Fonte: site FUNASA, 2014

Soluções inadequadas de afastamento sanitário

Fossas negras, valas e despejo in natura em corpos d’água.

O principal destino final das águas residuárias em ambientes rurais ocorre


pelas forma “outras soluções” (56,3% - Fig. 4). Em geral, esta outra solução
utilizada são os sistemas de “fossas negras” ou sumidouros, que consistem em
buracos rudimentares feitos no solo que recebem os afluentes domésticos. A água e
46

seus contaminantes se infiltram pelo solo, tornando este sistema grande responsável
pela contaminação das águas subterrâneas e posteriormente podem retornar para
as residências através dos poços, trazendo a possibilidade de doenças de
veiculação hídrica.

O despejo direto in natura no solo ou em corpos d’água representam os 7%


que não usam nenhuma solução para o afastamento sanitário e o sinal mais severo
de descaso ou ignorância sobre sanidade e saúde.

Barreiras Sanitárias – Fossas

A maneira correta de quebrar a cadeia de transmissão das doenças e


contaminação do solo e água relacionadas com os dejetos é através do uso de
barreiras sanitárias. A barreira sanitária se constitui na disposição conveniente dos
dejetos, de modo que estes não sejam acessíveis ao homem e aos vetores, não
poluam a água e o solo, e não acarretem outros inconvenientes, tais como maus
odores e mau aspecto no ambiente e preferencialmente, promovam ou auxiliem na
depuração do resíduo, inativando os patógenos. As alternativas que podem ser
citadas são o uso de fossas sépticas pré-fabricadas ou a instalação de fossas
biodigestoras, como por exemplo, as desenvolvidas pela EMBRAPA (2013)

Fossas sépticas

Segundo a ABNT (NBR7229 de 1993), as fossas sépticas são sistemas que


possuem um conjunto de unidades destinadas ao tratamento e à disposição de
esgotos, mediante utilização de tanque séptico, o qual consiste em uma unidade
cilíndrica ou prismática retangular de fluxo horizontal, para tratamento de esgotos
por processos de sedimentação, flotação e digestão (Fig. 5). Os sistemas de tanque
sépticos podem ser unitários (de câmara única) ou em série.

Os tanques sépticos, quando desenhados e construídos apropriadamente,


oferecem uma alternativa muito eficiente e econômica para as soluções referentes
ao saneamento básico. Contudo, a utilização desses sistemas não significa que as
águas subterrâneas não possam ser contaminadas, principalmente se não forem
construídas ou dimensionadas adequadamente, ou se não tiverem devida
manutenção (Suhoguzof, 2010).
47

Figura 5: esquema de uma fossa séptica, e sua infiltração no solo e lençol freático.

Fonte: adaptado de Suhoguzof (2010).

Fossas sépticas biodigestoras

A EMBRAPA apresentou em 2008 alternativas de barreiras sanitárias de


baixo custo, para serem instaladas em ambientes rurais, pois além de evitar a
contaminação do lençol freático, produz adubo orgânico líquido sem
micro-organismos patogênicos que pode ser utilizado em hortas e pomares e
permitem a captação dos gases para utilização como combustível (site EMBRAPA).

4.6.4. Resíduos sólidos

No que se refere aos serviços de coleta de resíduos sólidos, a PNAD/2009


constatou que 91,9% dos domicílios urbanos têm acesso à coleta direta, enquanto
somente 26,3% dos domicílios rurais recebem este tipo de serviço.

A figura 6 apresenta os dados referentes ao destino dos resíduos na área


rural, por região. Observa-se que nas regiões Sudeste e Sul há uma situação melhor
em termos de coleta direta, o que pode ser explicado pelo fato das políticas públicas
de limpeza urbana dessas regiões exercerem influência sobre as áreas rurais.
48

Figura 6: Destino dos resíduos sólidos na área rural

Fonte: FUNASA, 2014

Sem cobertura da coleta regular de resíduos domésticos, em geral as


propriedades se utilizam das seguintes estratégias: queima do material, que gera
efluentes gasosos e expõe ao risco de incêndios, ou a dispõem no ambiente.
Quando a deposição ocorre sem critérios, ocorre contaminação do ambiente.

‘ Entretanto, para uma atividade agrosilvopastoril a lei 12.305 de 2010 deixa à


cargo do órgão licenciador a exigência ou não de um plano de gerenciamento de
resíduos soídos. O artigo 2º, X, conceitua o gerenciamento como:

“X - gerenciamento de resíduos sólidos: conjunto de ações exercidas, direta


ou indiretamente, nas etapas de coleta, transporte, transbordo, tratamento e
destinação final ambientalmente adequada dos resíduos sólidos e
disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos, de acordo com
plano municipal de gestão integrada de resíduos sólidos ou com plano de
gerenciamento de resíduos sólidos, exigidos na forma desta Lei;”

A Separação seletiva é correta destinação a solução para a questão dos


resíduos sólidos. Quando há separação do material, a parte orgânica pode ser
utilizada para produção de adubo e a reutilização de embalagens contribui para
redução do volume.

4.6.5. Dificuldades no Saneamento Rural


49

Em área rurais a destinação adequada das excretas não é meramente um


problema técnico. O uso de fossas secas e outros tipos de latrinas tem sido
considerado uma conduta apropriada e relativamente barata. Um número
considerável de modificações dessas latrinas tem sido proposto para as mais
diversas situações nas quais circunstâncias adversas como terreno rochoso e lençol
freático muito superficial têm que ser superadas. Na grande maioria das vezes a
dificuldade com a destinação dos dejetos na zona rural consiste em
convencer/instruir as pessoas a construir, usar e a manter a fossa, o que só poderá
ser conseguido com programas de educação sanitária. Ocorre, no entanto, que
mesmo com programas de educação, freqüentemente as latrinas são construídas
mas não são usadas ou mantidas adequadamente. Algumas experiências em
programas de educação sanitária têm evidenciado os seguintes princípios que
podem auxiliar a conduta de pessoas envolvidas num programa de implantação de
latrinas:

● A disposição de excretas é um assunto delicado e cada povo já possui suas


preferências culturais. Assim é importante envolver a comunidade em todas
as fases da implementação de um programa educativo. Tem sido verificado
que uma modificação de uma prática existente pode ser mais fácil de colocar
em prática do que uma tecnologia nova;

● A população tem dificuldade de perceber a relação entre o uso de uma


privada higiênica e a melhoria da condição de saúde de modo que esse
argumento não pode ser normalmente usado como motivação para o uso de
um novo tipo de tecnologia. Tem sido observado que os argumentos que mais
motivam as pessoas para essa mudança são a possibilidade de usar os
resíduos na agricultura, por exemplo, e o desejo de ter mais privacidade;

● As fossas, por falta de manutenção, ficam preenchidas e são


sistematicamente abandonadas pelos usuários, tornando-se focos de
contaminação duradouros. Estas fossas causam mais riscos à saúde que a
prática da defecação eventual por trás das moitas.

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