Sociedades e Processos de Socialização

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COLÉGIO ESTADUAL ALMIRANTE BARROSO

SOCIEDADES E PROCESSOS DE SOCIALIZAÇÃO

A sociedade humana: Somos todos seres sociais


Todos os dias da manhã à noite, convivemos com outras pessoas. Em casa, no trabalho,
na escola ou com amigos. Mesmo estando sozinho, indiretamente nos envolvemos com
outras pessoas. Vivemos em sociedade, participamos de grupos sociais, então somos um
ser social.
Desde as suas origens o homem se constituiu por meio de grupos. Os primeiros seres
humanos só conseguiram sobreviver porque contaram com o apoio e a solidariedade do
grupo a que pertenciam. E isso continua até hoje.
O homem, que realidade é essa?
As pessoas vivem em grupos. Essa constatação não representa a realidade total da
evolução do ser humano nem da sociedade humana; também não esgota as características
do ser humano, hoje visto e entendido como ser de relações.
Parece que não é errado dizer que nem sempre os seres humanos viveram em grupo,
formando o que chamamos de sociedade. Também não erramos quando afirmamos que o
ser humano está, constantemente, insatisfeito. E se está insatisfeito é porque possui
necessidades. Essa parece ser a principal e, talvez, primeira explicação para a organização
das sociedades humanas. A satisfação das necessidades.
Mas necessitam do grupo porque nem tudo de que precisam conseguem isoladamente. A
associação ocorre, portanto, não porque o ser humano é, essencialmente, gregário, mas é
segregacionista, é sectário, e se agrupa por necessidade de sobrevivência. O grupo,
portanto, nasce dos interesses pessoais e das necessidades dos indivíduos.

O que é então, o ser humano?


Sabemos, inicialmente, que o ser humano é um animal que ganhou a classificação de
racional. Aristóteles lhe afirmou mais uma característica: é político, de onde a
característica da sociabilidade. Racional porque consegue abstrair e aprender com as
experiências. E, mais do que aprender, consegue reproduzir e ampliar as aplicações das
experiências adquiridas. Isso porque aprendeu a raciocinar. É, além disso, político porque
vive, sobrevive e explora as relações sociais. Nisso podem ser observadas mais algumas
das características desse ser chamado homem. Diferentemente dos demais animais, o
humano é frágil, desprovido de garras ou pele resistente aos ataques dos predadores e
intempéries. Essa fragilidade produziu e ajudou no desenvolvimento de outra
característica: o medo. Como mecanismo de superação dos medos os humanos
desenvolvem mecanismos para conviver ou para superar adversidades da natureza. Um
desses mecanismos é a vida grupal. Os humanos, portanto, vivem em grupo, entre outros
motivos, porque assim se protegem mutuamente. Tanto para enfrentar a natureza como
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para atingir objetivos comuns. O grupo passa ser um mecanismo de defesa. Os humanos
aproveitam-se de suas fraquezas para produzir forças. A força do grupo nasce de uma
característica muito marcante do ser humano: a capacidade de tirar benefício dos demais
membros do grupo, o que indica outra característica do humano: o egocentrismo.
Dessa forma é que devemos entender a característica humana da sociabilidade. A
sociabilidade, ou a capacidade de o ser humano viver, sobreviver e existir em coletividade
parece ser o que melhor o caracteriza. Entretanto aqui precisamos fazer uma ressalva.
Não nos parece que os humanos sejam, essencialmente, seres sociais, mas se fazem
sociais a partir de suas necessidades e para superar seus medos.
Pensar não é só o que se pode entender etimologicamente, com a palavra, dizendo que ser
humano é capaz de pesar, avaliar. Esse pensar refere-se também à capacidade humana de
fazer escolhas. O ser humano é aquele que avalia, escolhe, e faz isso a partir de um
processo reflexivo que exige uma postura introspectiva. Esta por sua vez deriva da
capacidade de abstração. Na verdade, quando se diz que o ser humano é capaz de pensar
pretende-se afirmar que ele é capaz de falar sobre as realidades com as quais não está em
contato imediato. Ele pode representá-las, mentalmente e nisso se dá um processo de
reflexão, pois se trata de “voltar a ver” o que não está presente.
Graças a essa capacidade recriadora o ser humano pode produzir o mundo e reproduzir o
que existe. Com isso dinamiza não só sua existência como as realidades que o circundam
e seus concidadãos. Nesse processo cria ou recria a cultura uma das marcas mais
tipicamente humanas, pois, principalmente por essa capacidade de recriar a cultura, o ser
humano se diferencia dos demais existentes.
Sociedade – Sapiens:
Definição fundamental para os estudos em sociologia:
O conceito de sociedade é fundamental para o estudo das relações que são estabelecidas
entre os indivíduos que partilham valores, cultura, território e história. A sua estruturação
contribuiu para o desenvolvimento da sociologia como ciência e contou com a
contribuição de diversas intelectuais. Uma sociedade é uma estrutura ampla, na qual os
sujeitos estabelecem relações, quase sempre, impessoais, mas que possuem um aspecto
de coletividade.
Etimologicamente, a palavra sociedade é originária de dois termos
latinos: socius e societa. O primeiro é traduzido como “parceiro” ou “companheiro”; o
segundo, por sua vez, significa “associação entre comuns”. Ambas as ideias estão
expressas no conceito de sociedade, tanto em sua utilização mais formal e academicista,
quanto no uso trivial em que a palavra é empregada.
A construção do conceito de sociedade:
Max Weber (1864 – 1920), que é tido como um dos fundadores da sociologia, foi um
dos principais responsáveis pela estruturação do conceito de sociedade. Para ele, a ideia
de sociedade estava diretamente ligada às relações que eram estabelecidas entre os
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sujeitos. Logo, as ações individuais possuíam primazia para a construção do agrupamento
social.
Apesar da importância de Weber para o desenvolvimento do conceito de sociedade, é a
partir dos trabalhos do sociólogo Ferdinand Tönnies (1855 – 1936) que serão construídos
os contornos que o termo possui até os dias atuais. Essa estruturação é apresentada no
livro Gemeinschaft und Gesellschaft (Comunidade e Sociedade), publicado no ano de
1887.
Esse livro é considerado um divisor de águas para os estudos de sociologia. Nele, o autor
estabelece os parâmetros conceituais para as categorias de comunidade e sociedade. Ao
refletir sobre o conceito de sociedade, Tönnies afirma a possibilidade de existência de
diversos grupos comunitários em seu interior.
Desse modo, é possível inferir que a extensão do coletivo de indivíduos a que cada
conceito se refere é um importante elemento para diferenciá-los. Sendo assim, uma
sociedade pode ser entendida como coletivo de comunidades.
A compreensão da amplitude de relações que é abarcada pelo conceito de sociedade é
importante para entender outra característica do processo que ele determina:
sua dinamicidade. As sociedades são marcadas por uma grande diversidade de sujeitos
que partilham características em comum.
Características da sociedade:
A partir das contribuições teóricas dadas pelos pesquisadores do campo sociológico e da
assimilação das modificações que aconteceram nas relações sociais, em virtude dos
processos de globalização e criação de novas possibilidades de interação através dos
meios de comunicação, é possível elencar algumas características das sociedades.
São elas:

• A existência de uma complexa teia de relações entre os indivíduos;


• As interações entre os membros de uma sociedade podem se dar de diferentes
formas: direta, indireta, organização, desorganizada, consciente ou inconsciente;
• Os interesses que unificam diversas comunidades podem ser localizados na
sociedade a que elas fazem parte;
• As sociedades podem ser estabelecidas sem que haja a delimitação de uma área
geográfica.
Os tipos de sociedade:
As transformações sociais que aconteceram ao longo da história possibilitam o
desenvolvimento de diferentes tipos de sociedade. Somente no período pré-capitalista, a
sociologia aponta a existência das sociedades feudal e burguesa. Cada uma é
caracterizada por formas específicas de modo de produção, relações e estruturação
sociais.
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No período do feudalismo, encontramos a atividade agrícola como principal instrumento
de movimentação econômica. Os indivíduos estavam divididos em grupos, que possuíam
funções específicas e não havia possibilidade de mobilidade social. As terras eram
divididas em feudos e concedidas aos nobres pelo rei. Os donos das terras controlavam a
produção agrícola através do trabalho dos servos.
A sociedade burguesa surge a partir das transformações que são propostas por
movimentos, como o Iluminismo, a Revolução Francesa e a Revolução Industrial. A
industrialização e a perda de influência da igreja em questões de estado estão entre as
principais características dessa sociedade. Agora, os burgueses são o principal grupo
social e político.
Na sociedade burguesa, os camponeses perdem o controle dos meios de produção, que
agora se desenvolve a partir de um processo fracionado em que eles são apenas parte da
linha de produção. Ao refletir sobre os impactos dessa nova configuração na subjetividade
dos trabalhadores, Karl Marx vai apontar a existência de um processo de alienação.
O sociólogo francês Émile Durkheim apresenta uma classificação dos tipos de
sociedades, a partir da qual elas podem ser definidas como sociedade de solidariedade
mecânica e sociedade de solidariedade orgânica.
As primeiras dizem respeito às organizações sociais existentes no período pré-capitalista,
como as anteriormente apresentadas. O segundo tipo de sociedade é comum no contexto
pós-capitalista, em que as atividades desenvolvidas por cada indivíduo possuem maior
grau de complexidade e especificidade.

Socialização
Aprendizagem e interiorização das normas sociais:
O processo de socialização remete à forma como os indivíduos assimilam os hábitos,
comportamentos, valores e crenças que conduzem a sociedade onde estão inseridos. É
durante essa aprendizagem que as maneiras de pensar e agir, os traços culturais e a própria
compreensão da realidade são internalizados, compartilhados e possibilitam o
entendimento dos símbolos que fazem parte das relações estabelecidas entre os grupos
sociais.
Seja qual for a etnia, situação socioeconômica, educacional ou religiosa, todos os seres
humanos estão constantemente em socialização. Isso acontece porque as características
comportamentais e culturais de cada grupo (família, escola, trabalho, igreja etc.) os
moldam à medida que são apresentadas ao longo da vida.

Processo de socialização e a identidade:


O processo de socialização relaciona-se com formação cultural do sujeito. Essa
identidade, criada através do contato com códigos, padrões, hábitos e valores, que
determina as ações na sociedade e o modo como enxergá-la. O começo da sua construção
é na infância, quando os pais passam a ensinar as regras, linguagens e normas apropriadas
para a vivência familiar. É a partir desse momento que os primeiros vínculos com o
mundo também são estabelecidos.
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Embora a criança tenha seus próprios instintos, é a absorção dos valores e regras que
reafirma o pertencimento a um determinado grupo e serve de embasamento para as formas
de atuação em cada meio social que transitará no futuro. O modo de pensar, as
preferências e os comportamentos herdados da família integram o conjunto de repertórios
chamado pelo filósofo Pierre Bourdieu de habitus.
Para Bourdieu, o habitus é o elo entre a sociedade e o indivíduo. É um elemento
específico de uma classe, sendo internalizado
subjetivamente pelos seus integrantes. Além disso,
dá a eles uma variedade de condutas que poderão
ser aplicadas de acordo com as suas relações
sociais.
Apesar da influência coletiva, o processo de
socialização não ocorre do mesmo jeito para todos.
E o fator decisivo é o papel social, que ordena as responsabilidades, direitos e deveres
que o sujeito ou grupo deve assumir pelo fato de ocupar certa posição na sociedade.
É por esse motivo que, segundo Émile Durkheim, a socialização se dá, na verdade, por
meio da coerção. Independente dos desejos ou escolhas individuas, segue-se apenas o que
é pré-estabelecido. Quando se nasce em certa sociedade cabe apenas aprender e dar
continuidade às suas normas e regras.
Aqueles que não se adequam aos padrões ou desempenham o seu papel conforme o
esperado fica suscetível às punições, a exemplo de chacotas, episódios de discriminação
e preconceito, ou exclusão social.

Tipos de socialização:
No decorrer da socialização, o indivíduo é inserido em diferentes contextos, resultando
em experiências que levam à construção da identidade cultural. Para o
sociólogo Anthony Giddens e outros estudiosos, esse processo é motivado por alguns
agentes e acontece em duas fases distintas. São elas:

• Primária – Período de aprendizagem na infância e que ocorre por meio das


relações familiares e escolares. Esse é o momento em que os sentimentos, regras
e comportamentos são nomeados e trabalhados para que haja uma repetição por
parte da criança. Assim como professores e colegas, que contribuem para
ampliação desse conhecimento e apresenta um novo ambiente social, os meios de
comunicação – especialmente a internet – tornaram-se um dos principais agentes
de socialização presentes nesta fase.
• Secundária – Etapa em que o indivíduo já foi inserido em diferentes contextos
(espaços de trabalho, religiosos, lazer, políticos etc.) e participou de diversas
interações. Os papéis sociais também são estabelecidos, revelando os
comportamentos e/ou características que precisam ser seguidos.

Em ambos os casos, há uma internalização das práticas e visões que fazem parte da
sociedade, mas também dos conflitos diante das discordâncias. Mesmo que o meio
forneça os hábitos culturais que permitem a atuação do indivíduo, ele também é dotado
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de individualidades, vontades, opiniões – fatores que o movem ou não para direções
inesperadas.

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