Adequação Do Cuidado A Pessoas Com Hipertensão

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ARTIGO ORIGINAL

doi 10.1590/S2237-96222022000200005

Adequação do cuidado a pessoas com hipertensão


arterial no Brasil: Pesquisa Nacional de Saúde,
2013 e 2019

Adequacy of care for people with arterial hypertension in Brazil: National


Health Survey, 2013 and 2019
Adecuación de la atención a personas con hipertensión arterial en Brasil:
Encuesta Nacional de Salud, 2013 y 2019

Elaine Tomasi1 , Dario Correia Pereira1 , Anderson Vaz dos Santos1 , Rosália Garcia Neves2

Universidade Federal de Pelotas, Departamento de Medicina Social, Pelotas, RS, Brasil


1

2
Secretaria da Saúde do Estado do Rio Grande do Sul, Pelotas, RS, Brasil

RESUMO
Objetivo: Analisar a adequação do cuidado recebido por adultos e idosos com hipertensão arterial (HA) e sua
associação com macrorregião nacional, características demográficas, socioeconômicas e do sistema de saúde,
Brasil, 2013 e 2019. Métodos: Estudo transversal, com dados da Pesquisa Nacional de Saúde. Foram incluídas
pessoas na idade de 18 anos ou mais, com diagnóstico de HA e consulta médica por esse motivo nos últimos
três anos. Analisou-se a adequação do cuidado, construída a partir de 11 indicadores, por regressão de Poisson.
Resultados: Em 2013, 11.129 pessoas com HA (25,3%; IC95% 24,5;26,1) receberam cuidado adequado, e em 2019,
19.107 (18,8%; IC95% 18,2;19,3). Indivíduos do quintil de melhor nível socioeconômico apresentaram prevalência
de cuidado adequado 2,54 vezes maior (IC95% 2,03;3,17) em 2013, e 3,53 vezes maior (IC95% 2,94;4,23) em 2019, em
relação aos de menor nível socioeconômico. Conclusão: O cuidado adequado diminuiu e as desigualdades
econômicas intensificaram-se no período 2013-2019.
Palavras-chave: Hipertensão; Doenças não Transmissíveis; Pesquisa sobre Serviços de Saúde; Qualidade da
Assistência à Saúde; Estudos Transversais.

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Adequação do cuidado a pessoas com hipertensão no Brasil ARTIGO ORIGINAL

INTRODUÇÃO

A hipertensão arterial (HA) é uma doença crô-


nica não transmissível (DCNT) de importância Contribuições do estudo

para a saúde pública.1,2 Estima-se que, até 2025, O cuidado adequado à


a HA acometa cerca de um terço da população hipertensão foi de 25,3%
em 2013, e de 18,8% em
do planeta.3 As complicações de HA respondem
2019. Residentes no
por 9,4 milhões de mortes em todo o mundo, a Centro-Oeste e Sudeste
Principais
cada ano,4 sendo que, em 2017, o Brasil registrou do país, com melhor
resultados
141.878 mortes devidas a HA, ou a causas atribuí- nível socioeconômico e
atendidos em serviços
veis a ela, como complicações.5 privados, apresentaram
No Brasil, dados da Pesquisa Nacional por uma prevalência maior de
adequação do cuidado.
Amostra de Domicílios (PNAD), realizada pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística Frente ao aumento da
ocorrência de hipertensão,
(IBGE) em três edições, 1998, 2003 e 2008, re-
o monitoramento dos
gistraram que a HA atingia 18,0%, 19,2% e 20,9% indicadores de qualidade
da população, respectivamente.6 Segundo a Implicações da atenção ao longo do
Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) de 2013, con- para os tempo faz-se necessário,
serviços para identificar lacunas
duzida em parceria entre o Ministério da Saúde nos serviços e nortear
e o IBGE, a prevalência de HA autorreferida no a implementação de
Brasil foi de 21,4%;7 mais recentemente, a PNS políticas voltadas a essa
população.
2019 registrou essa proporção em 23,9%, eviden-
ciando o constante crescimento da prevalência A literatura sobre avaliação
dessa doença crônica.7 dos serviços de saúde
dirigidos a pessoas com
A HA e suas consequências na saúde pública hipertensão ainda é
implicam custos expressivos para o sistema de incipiente. Mais estudos
saúde, além da redução da capacidade funcional Perspectivas que avaliem a qualidade
do cuidado de maneira
e da expectativa de vida.8-11 Além do tratamen- mais aprofundada, com
to farmacológico, o cuidado dispensado pelo abordagens qualitativas
sistema de saúde às pessoas com HA deve con- e quantitativas, são
necessários.
templar o monitoramento e o apoio a mudanças
no estilo de vida.1 O correto diagnóstico, a cons-
itens indicadores desse cuidado.12 Além disso, as
cientização sobre a gravidade da doença e suas
consequências, a oferta de orientações sobre desigualdades na atenção à saúde de afetados
hábitos saudáveis e o acompanhamento regular pela HA foram marcantes: os mais escolarizados
realizado por profissional de saúde, que solicite receberam um cuidado de melhor qualidade.12
exames periódicos preconizados, podem contri- Faz-se necessária, portanto, a avaliação e moni-
buir para o adequado manejo e a consequente toramento periódico dos indicadores de cuidado
redução da morbimortalidade relacionada à HA.1 prestado às pessoas com HA, tendo em vista o au-
A literatura aponta que a qualidade do cuidado mento da prevalência da doença e o crescimento
dispensado a essa população é baixa e depen- dessa demanda para os serviços de saúde.6,7
de de características individuais, a exemplo do O objetivo deste artigo foi analisar a adequação
nível socioeconômico.12 Um estudo realizado do cuidado recebido por adultos e idosos com
no Brasil em 2013, com idosos portadores de HA nos anos de 2013 e 2019, e sua associação com
HA, encontrou que um quarto deles referiu ter macrorregião do país, características demográ-
recebido orientações e solicitação de exames, ficas, socioeconômicas e do sistema de saúde.

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MÉTODOS para ter uma alimentação saudável, manter o peso


adequado, ingerir menos sal, praticar atividade
Estudo transversal de base populacional, uti- física, não fumar, não ingerir bebida alcoólica
lizando-se de dados das PNS de 2013 e 2019, em excesso e fazer acompanhamento regular,
realizadas pelo IBGE e o Ministério da Saúde.13 operacionalizados pela proposição da seguinte
As amostras da PNS foram representativas de pergunta: Em algum dos atendimentos para hi-
moradores de domicílios permanentes, localiza- pertensão, algum médico ou outro profissional de
dos em área urbana ou rural de municípios das saúde lhe deu alguma dessas recomendações?
cinco grandes regiões geográficas nacionais, nos Também foram utilizados, como indicadores de
26 estados da Federação e no Distrito Federal. adequação do cuidado, a solicitação de exames
Utilizou-se amostragem em múltiplos estágios, de sangue e de urina, eletrocardiograma e teste
em ambos os estudos. Inicialmente, foram se- de esforço, obtidos mediante a pergunta: Em al-
lecionados os setores censitários, seguidos dos gum dos atendimentos para hipertensão arterial
domicílios e, por último, dos indivíduos na idade foi pedido algum exame? O desfecho ‘adequa-
de 18 anos ou mais, totalizando 64.348 domicílios, ção do cuidado recebido’ foi construído a partir
em 2013 e 108.457 em 2019. Nesses domicílios, fo- da resposta afirmativa aos 11 indicadores men-
ram entrevistadas 60.202 pessoas sobre doenças cionados, na condição de dicotomizados (sim;
crônicas em 2013 e 88.736 em 2019. não), sendo considerado como positivo o relato
Para o presente estudo, foram consultados do recebimento de todos os indicadores avalia-
dados de pessoas com 18 anos ou mais, que dos. Todas as perguntas foram apresentadas da
referiram diagnóstico médico de hipertensão mesma forma, nas duas pesquisas.
arterial e que haviam se consultado, em razão Como variáveis de exposição, foram investigadas:
da doença, nos últimos três anos.
a) região de residência (Norte; Nordeste;
As coletas de dados pela PNS foram feitas por Centro-Oeste; Sudeste; Sul);
entrevistadores treinados, munidos de com-
b) sexo (masculino; feminino);
putadores de mão para armazenamento dos
c) faixa etária (em anos completos: 18 a 49;
dados. O questionário foi constituído de três
50 a 64; 65 ou mais);
partes. Inicialmente, foram coletadas variáveis
do domicílio. À segunda parte do questionário d) raça/cor da pele (autorreferida: branca;
cabiam as características gerais dos moradores preta; parda/amarela/indígena);
do domicílio, incluindo escolaridade, trabalho e e) classe econômica (em quintis, do 1° quin-
rendimento, entre outras informações. Na tercei- til, dos mais pobres, ao 5° quintil, dos mais
ra parte do instrumento, constavam perguntas ricos,15 construída a partir da soma das
destinadas a um morador adulto (18 anos ou mais pontuações das seguintes variáveis: tipo
de idade), selecionado aleatoriamente, sobre de domicílio, número de dormitórios, ba-
autopercepção do estado de saúde, acidentes nheiros, televisores, geladeira, vídeo/DVD,
e violências, estilos de vida e doenças crônicas, máquina de lavar, telefone fixo, telefone
entre outras. Mais detalhes sobre as PNS de 2013 celular, micro-ondas, computador, moto-
e 2019 encontram-se nos artigos metodológicos cicleta, carro, acesso à internet e presença
dos estudos.13,14 de empregada doméstica);
O desfecho analisado foi a adequação do f) local de atendimento, em três grupos:
cuidado recebido dos serviços de saúde pelos hospital público/unidade de pronto aten-
entrevistados que referiram diagnóstico médico dimento (UPA)/pronto atendimento (PA)/
de HA e que já haviam se consultado por causa pronto-socorro (PS); unidade básica de
da HA. Os indicadores utilizados para a operacio- saúde (UBS)/unidade de Saúde da Família
nalização do desfecho foram as recomendações (USF); e serviços privados; e

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g) tipo de atendimento (Sistema Único de características da amostra mantiveram-se se-


Saúde - SUS; não SUS). melhantes nos períodos, com predomínio de
residentes nas regiões Nordeste e Sudeste, mu-
As análises foram realizadas utilizando-se o
lheres, pessoas na idade de 50 anos ou mais e
pacote estatístico Stata/SE 15.1 (StataCorp LP,
raça/cor da pele branca. Cerca de metade da
College Station, Estados Unidos), com o coman-
amostra referiu, como local de atendimento mé-
do svy, para o desenho amostral por estágios
dico para HA, a UBS ou a USF; pouco menos de
múltiplos e diferentes níveis de agregação, em
um terço referiu os serviços privados. A maioria
ambas as amostras. Inicialmente, foi realizada
recebeu esse atendimento pelo SUS (Tabela 1).
uma descrição da amostra em números abso-
lutos (n) e relativos (%), segundo as variáveis de As orientações mais referidas foram inge-
exposição e desfecho. Foram estimadas as razões rir menos sal (91,2% em 2013 e 87,8% em 2019),
de prevalências (RP) não ajustadas e ajustadas manter alimentação saudável (88,3% em 2013 e
do recebimento dos 11 indicadores, mediante 87,2% em 2019), fazer acompanhamento regular
regressão de Poisson.16 A análise ajustada foi con- (87,5% em 2013 e 85,3% em 2019) e manter o peso
duzida com base em modelo hierarquizado: no adequado (84,8% em 2013 e 84,3% em 2019); as
nível mais distal, a variável ‘região’; em seguida, menos referidas foram praticar atividade física
entrou-se com ‘classificação econômica’, ‘sexo’, regular (81,8% em 2013 e 81,7% em 2019), não
‘idade’ e ‘raça/cor da pele’; por fim, em um nível fumar (76,1% em 2013 e 67,3% em 2019) e não
mais proximal ao desfecho, entraram as variáveis beber em excesso (75,2% em 2013 e 66,6% em
‘local de atendimento’ e ‘tipo de atendimento’. O 2019) (Figura 1). No que toca à classificação eco-
ajuste foi feito para as variáveis do mesmo nível nômica, em ambas as amostras, à exceção das
e acima dele, sendo mantidas no modelo todas orientações para ingerir menos sal nas refeições
as que apresentaram um nível de significância e não fumar, nas demais orientações, as pessoas
menor que 0,05. mais ricas tiveram vantagem significativa e com
O projeto da PNS foi submetido à Comissão tendência linear (Figura 2).
Nacional de Ética em Pesquisa, órgão vincula- Os exames mais solicitados aos entrevistados
do ao Conselho Nacional de Saúde, e aprovado com HA foram os de sangue (81,4% em 2013 e
conforme Protocolos n° 10853812.7.0000.0008 80,2% em 2019) e de urina (70,9% em 2013 e
(2013) e n° 3.529.376 (2019). Todos os participan- 70,2% em 2019); o menos solicitado foi o eletro-
tes assinaram o Termo de Consentimento Livre cardiograma (65,5% em 2013 e 64,8% em 2019)
e Esclarecido. Os dados da PNS são públicos, e o teste de esforço (36,5% em 2013 e 33,8% em
não sendo divulgadas informações pessoais dos 2019) (Figura 1). A estratificação revelou o mesmo
participantes. perfil de desigualdade encontrado na análise
das orientações, sendo os mais pobres os me-
RESULTADOS nos contemplados com a prescrição de exames,
tanto em 2013 como em 2019 (Figura 3).
Em 2013, entre 58.415 indivíduos incluídos na
PNS, 12.500 referiram diagnóstico médico de HA A prevalência de cuidado adequado recebi-
(21,4%); destes, 11.129 haviam se consultado por do, considerando-se todas as sete orientações
causa da doença nos últimos três anos, tendo recebidas e os quatro exames solicitados, pas-
sido considerados na presente análise. Em 2019, sou de 25,3% (IC95% 24,5;26,1) em 2013 para 18,8%
entre 88.736 incluídos, 23.851 referiram diagnósti- (IC95% 18,2;19,3) em 2019. Residentes no Nordeste
co médico de HA (26,9%), e destes, 19.107 haviam foram menos classificados como tendo recebido
se consultado por esse motivo nos últimos três cuidado adequado nas duas pesquisas, ao lado
anos, sendo também incluídos na análise. As dos residentes na região Norte, enquanto os do

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Tabela 1 – Distribuição da amostra de pessoas com diagnóstico médico de hipertensão


arterial e prevalência de cuidado adequado recebido da rede de saúde, Pesquisa Nacional
de Saúde, Brasil, 2013 e 2019

2013 (n = 11.129) 2019 (n = 19.107)


Variável Cuidado Cuidado
n (%) n (%)
adequado (%)a adequado (%)a
Região
Nordeste 3.242 (29,1) 20,0 6.639 (34,8) 13,7
Norte 1.719 (15,5) 22,5 2.983 (15,6) 17,4
Sudeste 3.111 (27,9) 27,2 4.867 (25,4) 20,5
Sul 1.597 (14,4) 22,5 2.545 (13,3) 19,7
Centro-Oeste 1.460 (13,1) 27,4 2.073 (10,9) 24,6
Sexo
Masculino 3.898 (35,0) 29,9 7.717 (40,4) 20,7
Feminino 7.231 (65,0) 21,4 11.390 (59,6) 17,4
Idade (em anos)
18-49 3.441 (30,9) 21,3 4.249 (22,2) 16,0
50-64 4.099 (36,8) 27,7 7.160 (37,5) 21,9
≥65 3.589 (32,3) 23,8 7.698 (40,3) 17,2
Raça/cor da pele
Branca 4.724 (42,5) 26,5 7.201 (37,7) 21,8
Preta 1.159 (10,4) 24,0 2.472 (12,9) 18,5
Parda/amarela/indígena 5.246 (47,1) 22,3 9.434 (49,4) 15,7
Classe econômica (em quintis)
1º (mais pobres) 2.394 (26,6) 15,3 5.201 (27,2) 9,1
2º 2.106 (23,5) 20,8 4.715 (24,7) 15,2
3º 1.423 (15,8) 25,7 3.679 (19,3) 18,1
4º 1.705 (19,0) 27,9 2.910 (15,2) 24,1
5º (mais ricos) 1.357 (15,1) 39,9 2.602 (13,6) 33,0
Local de atendimento
Hospital público/UPAb/PAc/PSd 2.466 (22,1) 18,7 3.825 (20,0) 14,5
UBSe/USFf 5.513 (49,6) 19,2 9.526 (49,9) 13,2
Serviços privados 3.150 (28,3) 41,1 5.756 (30,1) 29,5
Tipo de atendimento
SUSg 7.605 (68,3) 18,8 12.909 (67,7%) 13,4
Não SUSg 3.524 (31,7) 35,8 6.161 (32,3%) 29,1
Total 11.129 (100,0) 25,3 19.128 (100,0) 18,8

a) Proporção com ponderação; b) UPA: Unidade de Pronto Atendimento; c) PA: Pronto Atendimento; d) PS: Pronto-socorro; e) UBS: Unidade
Básica de Saúde; f) USF: Unidade de Saúde da Família; g) SUS: Sistema Único de Saúde.

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Adequação do cuidado a pessoas com hipertensão no Brasil ARTIGO ORIGINAL

Figura 1 – Prevalência (%) de adultos e idosos atendidos por hipertensão arterial que referiram
o recebimento de orientações e de prescrição de exames, Pesquisa Nacional de Saúde, Brasil,
2013 (n = 11.129) e 2019 (n = 19.107)

Figura 2 – Prevalência de adultos e idosos atendidos por hipertensão arterial que referiram o
recebimento de orientações, de acordo com quintis de classe econômica, Pesquisa Nacional
de Saúde, Brasil, 2013 (n = 11.129) e 2019 (n = 19.107)

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Figura 3 – Prevalência de adultos e idosos atendidos por hipertensão arterial que referiram o
recebimento de solicitação de exames, de acordo com quintis de classe econômica, Pesquisa
Nacional de Saúde, Brasil, 2013 (n = 11.129) e 2019 (n = 19.107)

Centro-Oeste e os do Sudeste tiveram maior o recrudescimento da desigualdade em 2019:


proporção de cuidado adequado (Tabelas 1 e 2). os mais ricos, em 2013, tiveram 2,5 vezes maior
Em 2013, as participantes do sexo feminino prevalência de cuidado adequado, e em 2019,
com HA apresentaram 24% menos cuidado 3,5 vezes mais, comparados com os mais pobres.
adequado recebido (RP = 0,76; IC95% 0,68;0,86), A prevalência de cuidado adequado recebido,
comparadas aos do sexo masculino; em 2019, essa entre os mais pobres, foi de 15,3% em 2013 e de
medida caiu para 12% (RP = 0,88; IC95% 0,79;0,97), 9,1% em 2019 (Tabelas 1 e 2).
após ajuste para posição econômica e região. Aqueles atendidos em serviços privados ti-
Nas duas amostras, as pessoas na idade de 50 veram 48% mais cuidado adequado do que os
a 64 anos tiveram maior proporção de cuidado atendidos em serviços públicos, em 2013; em
adequado, quando comparadas às mais jovens 2019, porém, essa associação não se manteve
e às mais velhas. Em relação à análise não ajus- após ajustes. O atendimento pelo SUS implicou
tada, pessoas com HA e na idade de 65 anos ou diferença significativa limítrofe (p-valor = 0,053)
mais tiveram razões de prevalências mais altas apenas em 2019, tendo sido a prevalência de cui-
em 2013 e 2019. Diferenças nas prevalências do dado adequado 35% maior entre os não usuários
do SUS (Tabela 2).
desfecho relacionadas com a raça/cor da pele
foram observadas apenas na análise não ajus-
tada, tendo desaparecido na análise ajustada DISCUSSÃO
(Tabela 2). Os achados do estudo apontaram que, em 2013,
Quanto melhor a posição econômica, maior a apenas um quarto dos adultos e idosos brasilei-
proporção de cuidado adequado, em ambas as ros com diagnóstico médico de HA receberam,
amostras. Entretanto, os dados apontam para da rede de saúde, um conjunto de orientações e

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Adequação do cuidado a pessoas com hipertensão no Brasil ARTIGO ORIGINAL

Tabela 2 – Razões de prevalências não ajustadas e ajustadas do cuidado oferecido por


profissional de saúde aos adultos e idosos com hipertensão arterial, Pesquisa Nacional de
Saúde, Brasil, 2013 (n = 11.129) e 2019 (n = 19.107)

2013 2019

Variável RPa (IC95%)b RPa (IC95%)b RPa (IC95%)b RPa (IC95%)b

Não ajustadas Ajustadas Não ajustadas Ajustadas

Região c
p-valor < 0,001 l
p-valor < 0,001 l

Nordeste 1,00 1,00


Norte 1,12 (0,90;1,39) 1,27 (1,08;1,50)
Sudeste 1,36 (1,14;1,62) 1,49 (1,29;1,73)
Sul 1,12 (0,91;1,38) 1,44 (1,24;1,67)
Centro-Oeste 1,37 (1,14;1,64) 1,79 (1,53;2,10)
Sexod p-valor < 0,001l p-valor < 0,001l p-valor < 0,001l p-valor = 0,014l
Masculino 1,00 1,00 1,00 1,00
Feminino 0,72 (0,64;0,81) 0,76 (0,68;0,86) 0,84 (0,76;0,93) 0,88 (0,79;0,97)
Idade (em anos)d p-valor < 0,001l p-valor < 0,001l p-valor < 0,001l p-valor < 0,001l
18-49 1,00 1,00 1,00 1,00
50-64 1,30 (1,13;1,50) 1,32 (1,13;1,53) 1,37 (1,17;1,61) 1,38 (1,18;1,61)
≥65 1,12 (0,96;1,31) 1,28 (1,08;1,52) 1,08 (0,92;1,27) 1,16 (1,00;1,37)
Raça/cor da peled p-valor = 0,041l p-valor = 0,890l p-valor < 0,001l p-valor = 0,090l
Branca 1,00 1,00 1,00 1,00
Preta 0,91 (0,74;1,11) 1,05 (0,84;1,33) 0,85 (0,72;1,00) 1,05 (0,89;1,23)
Parda/amarela/indígena 0,84 (0,74;0,96) 0,99 (0,86;1,15) 0,72 (0,64;0,81) 0,90 (0,80;1,02)
Classe econômica (em quintis)d p-valor < 0,001l p-valor < 0,001l p-valor < 0,001l p-valor < 0,001l
1º (mais pobres) 1,00 1,00 1,00 1,00
2º 1,36 (1,08;1,71) 1,35 (1,07;1,70) 1,68 (1,40;2,01) 1,63 (1,36;1,96)
3º 1,68 (1,35;2,09) 1,65 (1,32;2,07) 2,00 (1,68;2,38) 1,93 (1,62;2,31)
4º 1,83 (1,48;2,25) 1,80 (1,45;2,24) 2,66 (2,20;3,23) 2,58 (2,12;3,13)
5º (mais ricos) 2,60 (2,10;3,22) 2,54 (2,03;3,17) 3,64 (3,04;4,35) 3,53 (2,94;4,23)
Local de atendimento e
p-valor < 0,001 l
p-valor = 0,043 l
p-valor < 0,001 l
p-valor = 0,377l
Hospital público/UPAf/PAg/PSh 1,00 1,00 1,00 1,00
UBSi/USFj 1,04 (0,85;1,26) 1,03 (0,84;1,27) 0,91 (0,77;1,09) 0,96 (0,81;1,14)
Serviços privados 2,05 (1,71;2,45) 1,48 (1,11;1,98) 2,04 (1,74;2,38) 1,22 (0,90;1,66)
Tipo de atendimento e
p-valor < 0,001 l
p-valor = 0,117 l
p-valor < 0,001 l
p-valor<0,053l
SUSk 1,00 1,00 1,00 1,00
Não SUSk 1,91 (1,68;2,16) 1,14 (0,86;1,52) 2,17 (1,94;2,42) 1,35 (1,00;1,82)

a) RP: Razão de Prevalências; b) IC95%: Intervalo de confiança de 95%; c) Primeiro nível hierárquico; d) Segundo nível hierárquico; e) Terceiro
nível hierárquico; f) UPA: Unidade de Pronto Atendimento; g) PA: Pronto Atendimento; h) PS: Pronto-socorro; i) UBS: Unidade Básica de Saúde;
j) USF: Unidade de Saúde da Família; k) SUS: Sistema Único de Saúde; l) P-valor do teste de Wald, obtido mediante regressão de Poisson.

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prescrição de exames para o adequado manejo deveria ser mais requisitado, o que não ocorreu
de sua condição de saúde, situação que piorou em aproximadamente um a cada quatro indi-
em 2019, com essa qualidade do atendimento víduos com diagnóstico de hipertensão arterial.
ofertada para menos de um quinto da popula- As desigualdades regionais, bem documenta-
ção pesquisada. das pela literatura no Brasil,7,12,20,21 mais uma vez
O processo de transição demográfica, aliado se manifestaram. O Norte e o Nordeste respon-
à transição epidemiológica que vem sendo ex- deram pelas menores prevalências de cuidado
perimentada no país,17 tem afetado a ocorrência adequado à pessoa com hipertensão, ao passo
das DCNTs,6,7 incluindo a HA. De acordo com os que as demais regiões do país mantiveram seus
inquéritos da PNS, a prevalência de HA aumentou índices pouco acima da média nacional. O nível
de 21,4% em 2013 para 26,9% em 2019. Este fato socioeconômico, além de afetar a saúde da po-
contribui para que também aumente a deman- pulação, vê-se refletido nos serviços de saúde,
da por serviços de saúde, com a possibilidade de seja em suas estruturas constituídas, seja nos
gerar uma assistência de baixa qualidade. Além processos conformadores da oferta de ações.12,21
do que, nos últimos anos, o Brasil tem enfren- No caso do cuidado dispensado a pessoas com
tado o recrudescimento do subfinanciamento HA, essa desigualdade é ainda mais preocupan-
do SUS, notadamente a partir da promulgação te, uma vez que o fornecimento de orientações
da Emenda Constitucional nº 95 pelo Congresso independe de recursos de qualquer monta. Já a
Nacional, em 15 de dezembro de 2016,18 inauguran- solicitação de exames para o controle da doença
do um período em que não houve investimento pode ter sido afetada pela menor disponibilida-
público no setor de saúde, fator determinante de de estabelecimentos em muitos municípios
para uma previsível influência negativa na qua- de regiões mais pobres, alimentando um círculo
lidade dos serviços prestados. perverso de pobreza e pior qualidade da aten-
Em que pese o fato de, segundo ambas as ção à saúde.
pesquisas, a maioria dos entrevistados ter rece- As desigualdades socioeconômicas em nível
bido alguma orientação, um achado chama a individual também foram observadas em am-
atenção: as recomendações referentes a com- bas as amostras, no que concerne à maioria dos
portamentos saudáveis – praticar atividade física, exames e das orientações, tendo sido inclusive
não fumar e não consumir bebidas alcoólicas agravadas em alguns casos, com acirramento
em excesso – foram menos enfatizadas pelos das iniquidades, a exemplo das orientações para
profissionais de saúde, enquanto manter uma manter o peso adequado, a prática de atividade
alimentação saudável e reduzir o consumo de física, não beber em excesso e fazer acompanha-
sal foram as orientações mais relatadas. Sabe- mento regular. O mesmo foi observado para os
-se que a adoção de tais comportamentos tem exames em geral – exceto o exame de urina –,
efeito positivo sobre a saúde, notadamente para ao se analisarem esses mesmos desfechos
pessoas com HA.2 com base nos dados da PNS de 2013, apenas
Da mesma forma, destacam-se as baixas pre- para idosos: encontrou-se o mesmo padrão de
valências de solicitação de eletrocardiograma desigualdades,12 o que reforça os achados do
e teste de esforço, exames que ajudam a mo- presente estudo.
nitorar eventuais danos da doença no sistema O comportamento do desfecho de acordo
cardiocirculatório19 e que, por isso, deveriam ser com a situação socioeconômica dos indivíduos,
solicitados periodicamente a todos os indiví- após ajuste por região, aponta uma associação
duos com HA.1 Igualmente, o exame de urina, direta: quanto melhor a classificação econômi-
para análise de caracteres físicos, elementos e ca, melhor cuidado foi dispensado. Além de esse
sedimentos, é essencial no controle da doença,1 efeito ter-se verificado nas duas pesquisas, par-
dada sua importância, baixo custo e simplicidade, ticularmente em 2019, a desigualdade foi mais

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Adequação do cuidado a pessoas com hipertensão no Brasil ARTIGO ORIGINAL

expressiva do que em 2013, possivelmente atri- acompanhamento de portadores de condições


buída ao fato de, no período entre esses anos, crônicas, sendo procurados, na maioria das vezes,
a pobreza ter aumentado,22,23 levando à maior em função de alguma intercorrência da HA ou
demanda por serviços de saúde, notadamente de outra comorbidade. Em 2013, pessoas com HA
os de caráter público. Esta sobrecarga pode limi- atendidas em serviços privados apresentaram
tar o tempo dispensado às consultas, reduzindo quase 48% mais cuidado adequado do que as
a oportunidade de atendimentos com maior atendidas em hospital público, UPA, PA ou PS;
integralidade. Isto é ainda mais preocupante esta associação, entretanto, não permaneceu
quando se observa o aumento da prevalência significativa em 2019. Uma possível explicação
da doença, e, mesmo com a permanência da para esse resultado estaria relacionada à queda
mesma capacidade dos serviços, a qualidade na qualidade do sistema de saúde como um
da atenção tende a cair, conforme sugerem os todo, atingindo também os serviços privados.
achados do presente estudo. A Atenção Primária à Saúde (APS) foi responsável
Mais orientações e solicitações de exames fo- por metade dos atendimentos à pessoa porta-
ram identificadas nas respostas de pessoas com dora de HA. Porta de entrada do SUS, a APS tem
mais idade, um fato indicativo de equidade na como modelo preferencial a Estratégia Saúde da
atenção à saúde. Os mais velhos necessitam Família. Suas bases e diretrizes incluem o vínculo
de mais cuidado, comparados aos mais jovens, longitudinal, fundamental para a prevenção e o
haja vista idades mais avançadas apresentarem correto manejo de condições que acompanha-
mais carga de doença. Entretanto, idosos são rão o indivíduo ao longo de toda a vida, como é o
os que mais se utilizam da saúde pública, com caso da HA.1 Contudo, a última edição da Política
maior número de exposições a esses serviços e Nacional de Atenção Básica (PNAB), publicada
consequente aumento na probabilidade de re- em 2017, trouxe novos arranjos para as equipes
ceber um cuidado de maior qualidade.7,24,25 Após e permitiu a redução de profissionais e de carga
ajuste, não houve diferenças no atendimento a horária nos serviços.28 Logo, com o aumento da
homens ou mulheres, o que seria esperado em demanda em virtude do empobrecimento po-
razão da igualdade de necessidades entre am- pulacional,22 a PNAB induziu maior sobrecarga
bos os sexos. Da mesma forma, na análise bruta, de trabalho para os profissionais e, assim, pode
a raça/cor da pele havia revelado maior cuidado ter feito com que a qualidade da Atenção Básica
adequado para os brancos, efeito não verificado decrescesse.
na análise ajustada. Este achado é importante, A falta de associação com o tipo de atendi-
pois, a exemplo da idade, enfatiza a equidade mento – SUS ou outro – em 2013 e a associação
no cuidado. Duro et al.,26 ao observarem amos- limítrofe em 2019 podem ser explicadas pelo
tra da população brasileira, registraram maior modelo de análise, com outras variáveis hierar-
prevalência de orientação sobre atividade física quicamente mais determinantes do desfecho,
regular em pessoas de raça/cor da pele branca. especialmente o local de atendimento. Sabe-se
Pesquisa realizada em uma amostra de idosos que 20% a 30% da população não utilizam o SUS,
de Pelotas, município do Sul do Brasil, registrou pessoas que, de modo geral, têm melhor situa-
que a orientação para redução do consumo de ção socioeconômica.29 Assim, níveis similares de
sal apresentou diferença estatística, com maior prevalência do cuidado, de acordo com o tipo de
prevalência entre os não brancos.27 atendimento, podem ter sido afetados pelo ajus-
Quanto ao local de atendimento, acredita- te para variáveis hierarquicamente superiores.
-se que hospitais públicos e serviços de PA, Sobre as limitações deste trabalho, pode-se
identificados neste estudo com o pior desem- citar a disponibilidade restrita de perguntas
penho, não tenham o perfil para o adequado nos questionários da PNS destinadas a inferir a

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qualidade do cuidado, não havendo, por exem- Esforços para nortear e qualificar a atenção à
plo, perguntas sobre solicitação de raio X para pessoa com HA vêm sendo feitos, a exemplo de
pessoas portadoras de HA com insuficiência recente publicação do Ministério da Saúde cujo
cardíaca congestiva. Outro destaque entre as tema é a linha de cuidado voltada a essa popu-
limitações do estudo, diz respeito à generalida- lação.30 Porém, existem gargalos no âmbito do
de da pergunta sobre exame de sangue, sem sistema de saúde. A oferta de orientações e a
distinguir os diferentes tipos de exame de san- prescrição de exames de rotina são manifesta-
gue solicitados. Da mesma forma, a adequação ções concretas deste cuidado a pessoas com HA,
do cuidado foi avaliada como um todo, sem se- e devem ser mais frequentes. Em todos os seus
rem consideradas as diferenças nos perfis das contatos com os serviços de saúde, os usuários
pessoas com HA em relação à severidade da devem receber, de parte de seus profissionais, o
doença e a comorbidades. É possível que algu- reforço dessas condutas. Mais ações de educa-
mas respostas tenham sido afetadas por viés de ção permanente, voltadas não só à promoção da
recordatório, pois o período dos atendimentos saúde de modo geral, mas também a cuidados
a que as perguntas se referiam era de até três específicos, no caso dos portadores de doenças
anos pregressos. crônicas, podem potencializar a melhoria da
Entre as fortalezas do trabalho, destaca-se a saúde em todas as idades.
representatividade nacional das amostras e a Espera-se que as políticas em nível macro, a
oportunidade de comparar a evolução de indi- exemplo da ampliação do acesso à alimenta-
cadores em dois momentos-limite, permitindo a ção saudável e da manutenção da segurança
identificação de tendências e padrões na quali- para a prática de atividade física, sejam forta-
dade da atenção a pessoas com HA pelo sistema lecidas. Ademais, os serviços de saúde devem
de saúde, e suas desigualdades. encorajar o autocuidado e o engajamento da
É preocupante constatar que, passados seis família nas mudanças de estilo de vida, contri-
anos, esses indicadores de atenção à saúde te- buindo para viabilizar a adesão da pessoa com
nham se deteriorado com o acirramento das HA ao tratamento não farmacológico. Este apoio
desigualdades. Dado o fato de a prevalência de pode atenuar as deficiências nas orientações
HA vir aumentando no Brasil, acredita-se que, sobre uso de bebida alcoólica e tabagismo. Tais
se a qualidade do cuidado também aumentar, orientações se mostraram menos prevalentes,
será possível minimizar o impacto populacional embora sejam tão importantes para a saúde
da doença. da população.

CONTRIBUIÇÃO DOS AUTORES

Neves RG, Pereira DC, Santos AV e Tomasi E contribuíram na concepção e delineamento do estudo,
análise e interpretação dos resultados, redação e revisão crítica do manuscrito. Todos os autores aprovaram
a versão final do manuscrito e são responsáveis por todos os seus aspectos, incluindo a garantia de sua
precisão e integridade.

CONFLITOS DE INTERESSE

Os autores declararam não haver conflitos de interesse.

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Adequação do cuidado a pessoas com hipertensão no Brasil ARTIGO ORIGINAL

Correspondência: Rosália Garcia Neves | [email protected]


Recebido em: 18/10/2021 | Aprovado em: 28/02/2022
Editora associada: Doroteia Aparecida Höfelmann

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Adequação do cuidado a pessoas com hipertensão no Brasil ARTIGO ORIGINAL

ABSTRACT
Objective: To analyze adequacy of care received by adults and elderly people with arterial hypertension, and
its association with region of the country, demographic, socioeconomic and health system characteristics in
Brazil in 2013 and 2019. Methods: This was a cross-sectional study using National Health Survey data. People
aged ≥18 years with diagnosis of hypertension and medical consultation for this reason in the last three years
were included. Adequacy of care was analyzed based on 11 indicators and using Poisson regression. Results:
Adequate care was provided to 11,129 people with hypertension (25.3%; 95%CI 24.5;26.1) in 2013 and to 19,107
(18.8%; 95%CI 18.2;19.3) in 2019. Adequate care prevalence was 2.54 (95%CI 2.03;3.17) times higher in 2013, and
3.53 (95%CI 2.94;4.23) times higher in 2019 among individuals belonging to the highest socioeconomic quintile
compared to those belonging to the poorest. Conclusion: We identified that care decreased and economic
inequalities intensified in the period 2013-2019.
Keywords: Hypertension; Noncommunicable Diseases; Health Services Research; Quality of Health Care;
Cross-Sectional Studies.

RESUMEN
Objetivo: Analizar la adecuación de la atención recibida por adultos y ancianos con hipertensión arterial
(HA), y su asociación con características regionales, demográficas, socioeconómicas y del sistema de salud,
Brasil, 2013 y 2019. Métodos: Estudio transversal con datos de la Encuesta Nacional de Salud. Se incluyeron
personas mayores de 18 años con diagnóstico de HA y consulta médica por este motivo en los últimos tres
años. Se analizó la adecuación de la atención, construida a partir de 11 indicadores, por la regresión de Poisson.
Resultados: En 2013, 11.129 personas con HA (25,3%; IC95% 24,5; 26,1) recibieron atención adecuada y, en 2019,
19.107 (18,8%; IC95% 18,2;19,3). Individuos del quintil con mejor nivel socioeconómico tuvieron una prevalencia
de cuidado adecuado de 2,54 (IC95% 2,03;3,17) (2013) y 3,53 (IC95% 2,94;4,23) (2019) veces superior a los del menor
nivel socioeconómico. Conclusión: Se identificó que la atención adecuada disminuyó y las desigualdades
económicas se intensificaron en el período 2013-2019.
Palabras clave: Hipertensión; Enfermedades no Transmisibles; Investigación sobre Servicios de Salud; Calidad
de la Atención de Salud; Estudios Transversales.

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