A Entrada Do Altomovel em Goiás
A Entrada Do Altomovel em Goiás
A Entrada Do Altomovel em Goiás
Goiânia,
Agosto de 2004
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Goiânia,
Agosto de 2004
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CDU: 656.1/5(817.3)(091)
338.1(817.3)(091)
A ENTRADA DO AUTOMÓVEL EM GOIÁS
– Estudo sobre a Modernização Sócio-Econômica
e Sócio-Política do Sudoeste Goiano (1909-1937)
_______________________________________________
Prof. Dr. Barsanufo Gomide Borges - UFG
_______________________________________________
Profa. Dra. Heliane Prudente Nunes - UCG
_______________________________________________
Profa. Dra. Libertad Borges Bittencourt - UFG
3
AGRADECIMENTOS
AUTOMÓVEL
Massa em disparada,
com cavalos invisíveis,
que o cálculo escondeu
na alma oca dos cilindros.
Américo R. Neto
(Poeta Paulista)
5
RESUMO
ABSTRACT
SUMÁRIO
Resumo ....................................................................................................................................... 5
Abstract....................................................................................................................................... 6
Lista de Tabelas..........................................................................................................................9
Lista de Figuras ........................................................................................................................ 10
Apresentação ............................................................................................................................ 11
Introdução .................................................................................................................................14
Anexos....................................................................................................................................126
Anexo – 01......................................................................................................................... 127
Anexo – 02......................................................................................................................... 129
Anexo – 03......................................................................................................................... 130
Anexo – 04......................................................................................................................... 132
Anexo – 05......................................................................................................................... 134
Anexo – 06......................................................................................................................... 136
Anexo – 07......................................................................................................................... 137
Anexo – 08......................................................................................................................... 138
Anexo – 09......................................................................................................................... 140
Anexo – 10......................................................................................................................... 142
Anexo – 11......................................................................................................................... 143
Anexo – 12......................................................................................................................... 144
Anexo – 13......................................................................................................................... 145
Anexo – 14......................................................................................................................... 146
Anexo – 15......................................................................................................................... 147
Anexo – 16......................................................................................................................... 148
Anexo – 17......................................................................................................................... 150
9
LISTA DE TABELAS
LISTA DE FIGURAS
A partir das primeiras leituras do livro supracitado, minha atenção esteve voltada
para os aspectos pitorescos da referida obra, sobretudo nos enfoques em que se demonstrava a
imaginação livre dos sujeitos sociais e da narrativa sobre “como era aquele tempo pioneiro”,
da época da chegada dos modernos meios de comunicação e transporte.
Por diversas razões, a vida permitiu-me o convívio com várias pessoas próximas que
testemunharam aquele tempo de mudanças. Cresci ouvindo histórias de boiadas, de caçadas, das
lutas políticas e de terras, de jagunços, de assombrações, de parteiras e de porteiras rangentes.
Ouvi muitas histórias da época que Goiânia já estava consolidada e Rio Verde e o
Sudoeste há muito já compartilhavam com o poder – Pedro Ludovico era de lá – o discurso
progressista, de combate ao atraso era tema constante no vocabulário que oralmente me era
transmitido.
Minhas raízes são sudoestinas, por isso o tema me atrai, e fez com que tivesse o
Sudoeste como tema da monografia de final de curso de Graduação em História, concluído
em 1999, da qual tiramos os subsídios para esta pesquisa, que em nosso entendimento se
insere na proposta temática desse Mestrado em História da UFG.
1
Entendo o conceito de região não apenas como região física ou geopolítica, mas sim pelas formas de produção
econômica, pelas estratégias de divisão e classificação que se impõe ao mundo social através da convivência e
contradições do cotidiano.
13
2
Segundo Ciro Flamarion Cardoso, o conceito de Formação Social, ou Formação Econômico-Social, configura-
se num conceito marxista polêmico, usado principalmente numa das três acepções. 1o ) Como modo de produção
acompanhado da superestrutura que lhe corresponde; 2o) Como uma sociedade concreta (localizada no tempo e
no espaço), definida pela articulação de diversos modos de produção, acompanhado da superestrutura que lhe
corresponde; 3 o) Como noção empírica equivalente à idéia de “Sociedade”, designando, portanto, um caso a
estudar. In: CARDOSO, Ciro Flamarion. Uma introdução à História, Ed. Brasiliense, SP, 1981, pág. 117.
16
sendo a Amazônia a última grande fronteira. Relata que a história da fronteira é uma história
de destruição, de lutas étnicas e sociais. Conceitua fronteira como o lugar da alteridade, que
só deixa de existir quando o conflito desaparece, quando os tempos se fundem. O desencontro
na fronteira é o desencontro de temporalidades históricas.
O período Varguista, surge como referência para novas situações e como instrumento
de controle do poder. A década se inicia com uma ruptura institucional, terminando sob a
égide de uma nova ruptura, a decretação do Estado Novo, em 1937, ano da transferência
definitiva da velha para a nova capital do Estado de Goiás. Diniz (1983), afirma que o campo
da história política evidencia os laços entre esta forma de conhecimento e o poder, a relação
entre uma história política de vida e uma história política escrita por memorialistas e
historiadores.
No início dos anos 30, no calor do debate político, surgiram conceitos que
procuravam estruturar as interpretações da vida política como um todo e dos fatos em
particular, surgem e se repetem termos como Oligarquia/Burguesia, República Nova
/República Velha, Revolução de Outubro/Revolução de 30, Revolução Constitucionalista /
Contra-Revolução, Governo Provisório/Ditadura, etc.
A história política brasileira de 1930 a 1937 tem sido escrita numa dialética de idéias
de continuidade e ruptura. Estes conceitos, fundamentais neste período, aparecem também
como transição, como um processo. De acordo com Vesentine (1986), a história política tem
sido marcada por duas interpretações que datam desta época; em primeiro lugar, vem a idéia
de ruptura que acabou por se constituir como uma “história oficial”; em segundo lugar, vem a
idéia oposta, a negação da ruptura ou visão de continuidade, que interpreta o movimento de
30 como a simples troca de oligarquias no poder.
na própria origem do movimento de 30, evoluindo ao longo das duas primeiras fases do
governo Vargas, quando surgiram indicadores concretos desta crise de hegemonia, como por
exemplo o acirramento das cisões regionais, como a que se deu em Goiás. O acirramento da
divisão regional significou, do ponto de vista político, uma enorme pressão contra a
hegemonia da burguesia cafeeira.
Neste sentido, Borges (1990), afirma que a ferrovia construída pela Estrada de Ferro
Goiás, um prolongamento da Linha Mojiana, e que teve início efetivo em 23/12/1909, com
um ramal saindo de Araguari-MG., chegando a Goiás três anos depois, pode ser considerada
como a primeira via de transporte moderno a reduzir o tempo e o espaço entre Goiás e os
mercados do Sudeste. Esta via possibilitou a inserção da economia regional na dinâmica
modernizante da especialização da produção industrial.
Foi neste contexto que se deu o início dos transportes automotivos em Goiás, logo
depois da implantação dos trilhos da Estada de Ferro Goiás. Na região Sudoeste, este fato
histórico se deu em 1918, por in iciativa de um comerciante empreendedor de Santa Rita do
Paranaíba, Ronan Rodrigues Bo rges, que junto com Sidney Pereira de Almeida, fizeram em
agosto do referido ano, uma excursão pioneira de propaganda do novo meio de transporte,
indo de Santa Rita do Paranaíba a Jataí, passando por Rio Verde. (França, 1979).
Assim como ocorreu com a via férrea, a estrada de rodagem Sul-Goiana, também
estava encravada numa sociedade agrária tradicional. As estradas que surgiram em profusão
naquele período não passavam de estradas carreiras melhoradas, com todas as dificuldades
técnicas da época. Mesmo a rodovia construída com recursos técnicos mais modernos, em
1937, apresentava o mesmo quadro sociocultural.
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Esta posição é analisada por Chaul (1997), que se opõe ao conceito de “atraso”,
procurando demonstrar sua inadequação diante do processo histórico da época, pois ao longo
da primeira República, a representação do atraso substitui o da decadência e influenciou os
estudos sobre o coronelismo na região; tal representação serviu de estofo para o discurso
político dos novos grupos oligárquicos em ascensão, cujas idéias modernizantes e
progressistas começaram a dar a tônica da renovação política que se iniciava no Sul/Sudoeste
e culmina com a ascensão política da região após o Movimento de 30.
Vários pesquisadores tem produzido nas últimas décadas, obras que suscitam debates
acadêmicos em que são analisadas as abordagens históricas com questionamentos teórico-
metodológicos que proporcionam sustentação científica à temática analisada. Neste sentido,
citamos a obra de França (1979), uma importante fonte para o estudo sócio-econômico de
Planalto Central.
Nunes (1984), estuda o fluxo das migrações e das cidades que surgem à margem da
expansão rodoviária e das relações que elas mantêm com o campo, a absorção de mão-de-obra
nas cidades (setores secundário e terciário), com o intuito de entender as transformações
sócio-econômicas que o moderno sistema viário (automotivo) representou para o Estado de
Goiás.
O autor afirma que a situação de periferia em que o Estado se encontrava, é que vai
levá-lo a ter uma maior autonomia, o que iria permitir uma maior influência dos fatores
internos nos arranjos da política estadual, e que a dominância de um setor da economia sobre
os demais leva a uma maior probabilidade de controle interno e maior estabilidade política.
A pesquisa sobre o início dos transportes no estado de Goiás, nos remete também à
Doles (1973), que promove em seu estudo uma melhor compreensão da importância das
comunicações fluviais pelo Araguaia/Tocantin s no século XIX, analisando o sentido e a
complexidade destas vias natu rais de comunicação entre o centro e o norte do país, como
tentativas de integração inter-regional e nacional destas regiões.
daria em meados do século XX, resultante, entre outros fatores, da transferência da capital do
Estado para Goiânia.
3
Para Famarion (1983, p. 260) a referência à teoria econômica é, naturalmente, obrigatória para a análise dos
mecanismos de funcionamento da sociedade capitalista. Neste sentido, esta pesquisa estará pautada nas asserções
de obras definidoras nos planos nacional e regional da Conjuntura, Permanências e Movimento estrutural do que
denomino de Modernização Sócio-Econômica e Sócio-Política do Sudoeste Goiano. Estas obras no plano
regional são, basicamente, as análises de Borges, (1990 e 2000).; Nunes, (1984).; Chaul, (1997 e 1999). No
plano Nacional, faço aqui um referência aos trabalhos de Ianni, (1986); Martins (1975) e Singer (1977).
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Este quadro permaneceu inalterado até o início da terceira década do Séc. XVIII,
quando surgiram três acontecimentos, quase simultâneos para modificar o quadro dos
transportes em Goiás: As descobertas de ouro em Mato Grosso e nos sertões de Goiás, bem
como a chegada de equídeos e muares a São Paulo, resultando destes fatos a primeira grande
Marcha para o Oeste brasileiro. Especificamente para Goiás, as descobertas do Anhanguera,
em 1722, deram mais significado econômico a esse caminho.
Esse processo fez com que as populações emigrassem para outras regiões, ou se
ruralizassem, se dedicando a criação de gado e a cultura da subsistência, ficando as cidades no
abandono, decadentes, sendo a decadência um fato comum nos relatos dos governadores e dos
cronistas estrangeiros que visitavam a região; a decadência econômica, moral e espiritual das
populações, cuja mentalidade e ações era de um pessimismo atávico, de elegia ao ócio e de
desesperança no porvir, marcado pelas lembranças dos áureos tempos idos. (Palacin, 1994).
30
Essa realidade foi notada e relatada por viajantes que aqui passaram, como Saint
Hilaire (1975), que aqui esteve em 1819, e atesta em seus relatos as péssimas condições das
estradas e do reduzido tráfego de viajantes que aqui passavam.
Quanto ao comércio, Hilaire (1975), afirma que esta atividade praticamente cessou no
período, por causa das dificuldades de transporte. A Província carecia desde o início de vias de
comunicação com os centros econômicos do país, fluviais e terrestres. A navegação fluvial
(Araguaia e Tocantins), apesar de ter sido tentada, não logrou os resultados que se esperavam.
Porém, esta condição de isolamento não impediu que a economia goiana fosse se
organizando no sentido de se inserir no mercado nacional, com um produto que
proporcionasse um valor de troca que permitisse a acumulação de um excedente que iria
fortalecer as oligarquias que se formavam em torno da posse da terra e do gado.
Segundo Nunes (1984), três rotas foram usadas para estabelecer um comércio regular
de sal: O caminho para São Paulo, passando por Araguari, Uberlândia, Uberaba, indo até Casa
Branca; o caminho para Mato Grosso, passando por Baliza, até Coxim; outro caminho,
partindo do Sudoeste, indo até Três Lagoas-MT, próxima ao Rio Paraná.
Fica claro que apesar da importância do carro de bois, este era inviável para e
exportação de produtos agrícolas perecíveis, pois só podiam transitar nas estradas carreiras
nos períodos de estiagem, impossibilitando qualquer intercâmbio comercial de maior vulto
com os outros estados. O excedente agrícola não pagava seu próprio transporte e muitas vezes
era preferível deixá-lo apodrecer nas roças, ou para o consumo dos animais criados
extensivamente, pássaros ou animais silvestres.
Na rota para São Paulo, o transporte de carros de bois, e até mesmo das tropas de
muares, encontravam obstáculos quase que intransponíveis, com as travessias do Rio
Paranaíba e do Rio Grande. As precárias balsas criadas para aquelas travessias nunca
funcionavam bem; por isto o processo de inserção no mercado nacional só se desenvolverá
com maior amplitude nas primeiras décadas do século XX, por causa do desenvolvimento e
expansão da economia cafeeira no Centro-Sul com o conseqüente prolongamento das
ferrovias, que acabaram por atingir o território goiano por volta de 1913.
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França (1979), afirma que os principais fatos que antecederam o início dos
transportes automotivos, a partir do povoamento da região, foram: Em 1824, Cunha Matos
mandou construir uma estrada de Anhanguera ao Paranaíba, a fim de escoar riquezas goianas
(principalmente gado) até Minas Gerais. Em 1863, Couto Magalhães construiu a “Estrada do
Sal”, que ia da antiga capital a Coxim, sub-região do Araguaia, estrada carreira que circulava
o sul da província, servindo de escoadouro de produtos goianos até o porto fluvial mais
próximo. Por último ressalta a construção da Ponte Affonso Pena, em 1909, em Santa Rita do
Paranaíba.
Os dados acima descritos por França (1979), são confirmados por Almeida Neto
(1997), que em seu opúsculo sobre a história de Itumbiara, informa que por volta de 1824, o
Deputado Imperial, Marechal Cunha Matos, fez votar uma lei, na câmara da côrte,
autorizando a abertura de uma estrada variante, partindo da estrada geral do Anhanguera, do
povoado de Uberaba, antiga Farinha Podre, indo em direção a Goiás, passando pelos
povoados de Santa Maria e Monte Alegre em Minas Gerais, atravessando o Rio Paranaíba,
onde se construiu um porto de passagem em balsa, seguindo esta estrada variante pela
província de Goiás, até alcançar a estrada geral em Bonfim, hoje Silvânia.
O autor relata que junto a este porto, formou-se um povoado, onde os pioneiros
construíram uma capela, sob a invocação de Santa Rita de Cássia. O povoado ficou conhecido
com o nome de Porto de Santa Rita, tendo esta denominação até a data em que se construiu e
se inaugurou a ponte “Affonso Pena”, sob o rio Paranaíba. Por ato do Governo Provincial, Lei
nº 18, com data de 2 de agosto de 1842, foi criado o distrito e freguesia de Santa Rita do
Paranaíba, pertencente ao município de Morrinhos, também por resolução Imperial, elevada a
paróquia pelo bispo de Goiás, Dom Prudêncio.
34
Almeida Neto (1997), informa ainda que, na virada do séc. XIX para o séc. XX,
instalou-se na região, o Major da Guarda Imperial, Sr. Militão Pereira de Almeida, com o
objetivo de dedicar-se ao comércio, na fronteira entre as duas províncias, Minas e Goiás.
Nesta época, devido ao movimento revolucionário circunscrito na capital de Goiás e
adjacências, assumiu a direção política do estado o Cel. Eugênio Jardim, que convidou o
Major Militão Pereira de Almeida para ser o primeiro Delegado Chefe do Distrito de Santa
Rita, em 1909.
Neste mesmo ano, seu filho, o Cel. Sidney Pereira de Almeida, reivindicou ao então
governador da província, Dr. Urbano Coelho de Gouveia, a pedido dos habitantes do
povoado, a elevação do Distrito a Vila e Município de Santa Rita do Paranaíba, o que foi
autorizado e sancionado através da Lei nº 349 de 16 de Julho de 1909. Em 12 de outubro de
1909, foi instalado o primeiro Conselho de Intendência Municipal, desmembrando Santa Rita
do município de Morrinhos, tendo como Presidente, o Sr. Jacinto Brandão e Secretário, o Cel.
Sidney Pereira de Almeida.
Em relação a ponte Affonso Pena, Almeida Neto (1997), afirma que sua construção
se deu pela necessidade de desenvolvimento da região do Sudoeste Goiano, para uma maior
ligação com os grandes centros, (SP e RJ). A balsa existente no local já não estava atendendo
às necessidades do povoado e da região.
Surgiram na época, por volta de 1907, rumores que uma ponte seria construída sobre
o Rio Paranaíba, sem confirmação do local. Ao saber da notícia da construção da ponte, o Cel.
Sidney Pereira de Almeida partiu para o Rio de Janeiro, em busca de melhores informações,
sendo recebido pelos encarregados da obra, expondo a eles a necessidade que a região tinha
de receber o benefício.
35
Fonte: Balsa que serviu de passagem para os estados de Minas Gerais e Goiás. Construída em 1824, pelo então
deputado Imperial Marechal Cunha Mattos, quando da construção da estrada que ligava Farinha Podre
(Uberlândia) a Bonfim (Silvânia GO). Funcionou até data da inauguração da Ponte “Afonso Pena”, em 15
de novembro de 1909 - Almeida Neto, 1997, p. 50.
36
Fonte: Ponte Afonso Pena, construída sobre o rio Paranaíba em 1908/1909, ligando Minas a Goiás. Foto de 1970
- França, 1979, p. 116.
37
A historiografia demonstra que o Sudoeste Goiano, em meados do Séc. XIX, era uma
região de fronteira, atraindo levas de imigrantes do Sudeste do país, principalmente do
Triângulo Mineiro. Neste período, o território goiano estava em um processo de fragmentação
espacial, que foi dinamizado após o desmembramento do Triângulo Mineiro, a partir de 1816.
Nesta época surgiram vários municípios. Em 1837 a Província contava com 18 municípios;
em 1872 já eram em número de vinte e seis. (Cunha Neto, 1988).
“A divisa tradicional e legal de Goiás era o Rio Grande..., até sua barra no
Paranaíba. Todo Triângulo era terra de Goiás (Paracatú, Patos,
Desemboque, Araxá, Patrocínio, Monte Carmelo, Araguari e Uberaba). O
povo que habitava o Triângulo desejava a desanexação...”
Conforme Cunha Neto (1988), esta foi uma penetração rápida e profunda, pois a
corrente migratória, através de medidas de incentivo à Colonização pelo Governo Imperial e
da Província, (Lei nº 11 de 05/09/1838), que a partir de 1838 abre um verdadeiro êxodo no
Oeste de Minas Gerais e atinge, em menos de cinco anos os extremos de Caiapônia, seguindo
as faixas de terras de campos e cerrados, passando por Jataí, tendo como núcleo principal a
Vila das Dores de Rio Verde.
Por volta de 1918, o Sudoeste goiano foi assolado pela “Gripe Espanhola”, causando
inúmeras vítimas fatais. Com poucos recursos médicos e sanitários, o contato das populações
entre si e o Triângulo Mineiro eram extremamente difíceis e precários, mas mesmo assim
eram mais fáceis do que os contatos com a capital do Estado. Nesta época só utilizávamos o
carro de bois, a tropa de muares e o cavalo para viagens, sendo que tudo caminhava no ritmo
desses meios de transporte.
O Sudoeste era a continuação natural de Minas. Por cima dos antigos trilheiros de
índio, passavam os carros de bois, viajavam os cav aleiros, as tropas e as boiadas, sendo quase
todo o intercâmbio comercial e cultural feito com o Triângulo Mineiro, que em 1918 já
contava com transportes ferroviário e auto motivo, o que preparou psico-socialmente as
populações sudoestinas a receberem a modernização dos transportes; especialmente
esperavam a modernização através da ferrovia.
Dessa forma, a eco nomia d e mercado não so mente alcança a região, mas a
própria região vai ao seu encontro. Devido a estes fatores, esta mentalidade
“Progressista/Modernizadora”, será a responsável para o desenvolvimento da prática
oposicionista, surgida com a necessidade de se derrubar os entraves oficiais a expansão da
economia de mercado. Essa oposição surge de uma fração modernizante da sociedade agrária,
que passa a combater a ordem oligárquico/familiocrata que estava no comando dos destinos
econômicos e políticos do Estado.
A historiografia goiana registra o ano de 1906 como o ano da criação da Cia Estrada
de Ferro Goiás, criada com a finalidade de unir por via férrea o Triângulo Mineiro à Cidade
de Goiás, então capital do Estado, não tendo o projeto de construção da ferrovia surgido do
esforço político e econômico das oligarquias agrárias dominantes e sim de setores políticos e
econômicos ligados aos setores de transporte, cuja principal aspiração era ligar Goiás ao
Centro-Sul do país.
já existiam nos centros hegemônicos do país. Para estes grupos a estrada de ferro seria a única
forma de tirar Goiás do isolamento físico a que estava submetido desde o início do
povoamento na época colonial.
Como vimos até agora em nosso estudo, a Estrada de Ferro Goiás, em que pese ter
sido empenho político de uma fração modernizante da classe dirigente, teve o seu traçado
alterado por ingerências políticas e econômicas de grupos paulistas e do Triângulo Mineiro,
que lutavam pela primazia do controle do promissor comércio que se abria com o avanço da
fronteira econômica ao território goiano.
50
Após a eleição de Rodrigues Alves, em 1902, houve uma retomada nos estudos para
a construção da ferrovia, porém já com mudanças no traçado, devido a uma intervenção
política do estado de São Paulo. Nesta época a estrada de ferro Sorocabana, foi encampada
pelo Governo Federal. Este fato propiciou a São Paulo o comércio com o sul de Mato Grosso,
Paraguai e até com a Bolívia. Esta mudança de orientação trouxe prejuízos para Minas e
Goiás que juntos tinham 37 representantes na Câmara Federal (França, 1979).
Vimos em Borges (1990), que o início dos transportes ferroviários em Goiás, trouxe
reflexos econômicos para a agricultura do sul do estado, que foi beneficiada, modernizando-se de
acordo com as necessidades da economia de mercado, desenvolvendo, já no início dos anos vinte
do séc. XX, novas relações de trabalho, com o conseqüente desenvolvimento das forças produtivas,
surgindo uma nova divisão regional do trabalho, modificando a economia agrária da região.
Esse processo não diminuiu, pelo próprio caráter econômico desta atividade, a
dependência de Goiás aos interesses dos centros hegemônicos do país. É inegável o “despertar
modernizador” que a ferrovia trouxe ao Estado de Goiás, sem esquecermos que a ferrovia,
deve ser considerada apenas como um meio físico da expansão da economia de mercado e da
especialização da produção industrial que se efetivava no período.
A Estrada de Ferro Goiás foi sem dúvida a primeira via de transporte moderno a
colocar o Estado em contato direto com os centros metropolitanos do país, se configurando,
até o início dos transportes automotivos, a principal via de penetração de novas idéias e
valores culturais da sociedade moderna, sendo correta a assertiva de Borges (1990), quando
diz que “com a chegada do trem de ferro, a Maria Fumaça com sua cauda de aço serpenteando
pelo sertão com seu silvo estridente despertava Goiás de séculos de isolamento”, ou como
afirma Chaul (1997), na citação abaixo:
Diante desta nova postura política, os grupos dominantes das regiões não atingidas
pela linha ferroviária, querendo ligar seus domínios ao Centro-Sul por modernos meios de
transporte e comunicação, lançaram-se, com o apoio do Governo do Estado, na organização
de companhias de auto-viação, com a finalidade de construir estradas de rodagem e linhas
telegráficas, ligando inúmeras cidades à estrada de ferro.
Em 1912 foi criada em São Pedro de Uberabinha, a Cia Mineira de Auto Viação
Intermunicipal S/A, que construiu uma estrada que saía deste lugar, ligando várias cidades do
55
Triângulo Mineiro, até chegar a Santa Rita do Paranaíba, divisa de Goiás, num percurso de
aproximadamente 400 km. A partir desta cidade, as estradas de rodagem se expandiram por
todo o Sudoeste goiano; região que até hoje depende do transporte rodoviário para a
exportação de sua produção para o Centro-Sul do país.
O capital previsto para esta companhia foi de 500.000$000 réis, dividido em 2.500
ações de 200$000 réis cada uma. Neste período, entre 1917 e 1922, o Governo do Estado
concedeu a companhias particulares a construção e a exploração de várias estradas
automotivas, ligando suas regiões ao tronco ferroviário mais próximo, levando consigo a
modernização dos transportes e comunicações, pois invariavelmente, linhas telegráficas e
telefônicas acompanhavam o trajeto das estradas, o que dinamizava mais ainda o processo de
modernização regional. (Borges, 1990).
independente e autônoma, mas como parte de um conjunto de meios e estratégias, criado pelo
capitalismo no seu processo de crescimento e expansão. (Borges, 1990).
A região precisava achar uma saída para a estagnação a que estava submetida,
quando nas duas primeiras décadas do século XX, dois eventos vieram a acelerar os
transportes e comunicações, inserindo-a à econo mia de mercado, trazendo como conseqüência
a modernização regional. O primeiro evento foi, como já relatamos, a construção da Ponte
“Affonso Pena” sobre o Rio Paranaíba. Esta ponte estreitou ainda mais os laços sócio-
econômicos com o Triângulo Mineiro, de forma que a economia da região por muito tempo
ficou de costas para Goiás e voltada para Minas.
contos de réis, e as exportações que passavam por Itumbiara ultrapassaram esta quantia, com
1.359 contos de réis. A entrada do automóvel em Santa Rita do Paranaíba, configurou-se em
um fato importante para o futuro regional, como resultante de vários fatores favoráveis e
convergentes, para de lá se expandir para todo o Sudoeste Goiano. (Nunes, 1984).
Neste período surgiu a idéia de se criar uma empresa local (goiana) que viesse
explorar os serviços de tran sportes na região. Estávamos na fase do pioneirismo. Era um
empreendimento arrojado para a época, pois incluía muitos riscos e se via com temeridade a
inversão de capital no negócio.
Outro fator que influenciou o desejo de se constituir uma companhia para explorar os
transportes rodoviários no território goiano, surgiu em 1917. Nesse ano inaugurou-se a estrada
de rodagem que ligou Santa Rita do Paranaíba a São Pedro de Uberabinha, iniciando-se os
transportes automotivos no território goiano.
59
Nesse mesmo ano, os Srs. Ronan Rodrigues Borges e Sidney Pereira de Almeida
requereram ao Governo do Estado de Goiás um privilégio para a construção de uma estrada
de rodagem que ligasse Santa Rita do Paranaíba a Mineiros, passando por Rio Verde e Jataí.
França (1979), não explica se a concessão dada a Joventino da Cunha Bastos foi
revogada ou não, mas o fato é que a construção, conservação e exploração das rodovias
ficaram a cargo da iniciativa privada, sociedades anônimas que se formavam, as quais o
Governo do Estado fazia concessão e, em alguns casos, subsidiava a construção das estradas.
Como veremos mais adiante, a Companhia Auto-Viação Sul Goiana obteve êxito em
sua empreitada, inaugurando a estrada em junho de 1919, levando menos de um ano entre a
concessão dada pelo governo, que tinha estipulada um prazo de seis anos para a construção da
via automotiva, e a inauguração oficial da estrada. O mesmo não ocorreu com a Companhia
Auto-Viação Goiana, construtora da estrada automotiva entre Roncador e a capital do Estado,
vez que, a inauguração da referida estrada se deu em 1920, três anos depois da concessão
dada pelo Governo Estadual.
construído a estrada dentro dos prazos contratu ais, não resistiu a conservadora burocracia do
Governo Estadual.
A Companhia Auto Viação Sul Goiana, atingiu seu objetivo devido a convergência
de diversos fatores, como a proximidade com o Triângulo Mineiro e o apoio da classe política
emergente do Sudoeste goiano, e o mais importante, a iniciativa e incorporação do
empreendimento era totalmente privada.
Fonte: Ford Modelo T de 1916, fotografado em Jataí, dia 22 de agosto de 1918, com Ronan R. Borges ao volante
e Sidney Pereira de Almeida - França, 1979, p. 117.
63
A caravana chegou a Rio Verde no dia seguinte (19 de julho) pelas 3 horas da tarde,
recebida com grande festa pela população da cidade. Um grande arco de bambu enfeitado
com flores onde estenderam a fita inaugural, simbolizando o último obstáculo a ser vencido.
A comitiva seguiu no dia seguinte (21 de julho de 1919) para Jataí.
67
Fonte: Foto tirada na fazenda “Cabeleira”, dia 19 de julho de 1919, na viagem inaugural do trecho Sta. Rita –
Rio Verde, em que desfilaram 23 veículos - França, 1979, p. 115/116.
68
Fonte: Dois fordinho que faziam as corridas regulares da SulGoyana. Foto 1920 - França, 1979, p. 120.
69
Cidades km
Goyaz (capital) a Curralinho 42
Curralinho a Roncador 320
Santa Rita do Paranayba a Trindade 232
Santa Rita do Paranayba a Mineiros 191
Santa Rita do Paranayba a Burity Alegre 42
Bella Vista a Caldas Novas 102
Bella Vista a Bonfim 70
Bonfim a Formosa 282
Burity Alegre ao entroncamento da de Santa Rita do Paranayba a Morrinhos 48
Anápolis a Curralinho 155
Anápolis a Pyrinópolis 92
Rio Verde a Rio Bonito 142
Ypameri a Formosa 432
Ypameri a Caldas Novas 64
Roncador a Anápolis 203
Anhanguera a Corumbayba 60
Fonte: Nunes, 1984, p. 87.
Após as festividades inaugurais, a Sul Goiana, como ficou conhecida a estrada, foi
entregue ao tráfego regular de veículos, a primeira via de comunicação automotiva construída
no Sudoeste goiano. Nota-se de imediato o encurtamento do tempo e das distâncias a serem
71
percorridas entre esta região e o Triângulo Mineiro. Antes da estrada, a viagem entre Jataí ao
ponto mais próximo da estrada de ferro – Uberlândia – era feita a cavalo em 15 dias; o carro
de bois gastava 6 meses de viagem e o correio, feito em lombo de burros, levava de 15 a 30
dias para concluir seu percurso (França, 1979).
O setor comercial, ligado aos transportes foi o que, segundo França (1979), teve
maior desenvolvimento, pois antes da inauguração, as ações da Cia Mineira Auto-Viação
Intermunicipal S/A, que estavam com uma baixíssima cotação (de 200 mil réis baixara para
25 réis), subiram em curtíssimo prazo para o seu mais alto preço: 800 mil réis o título.
Para Chaul (1997), o vazio demográfico em Goiás não significava falta de produção;
a Região Sul/Sudoeste de Goiás, por exemplo, apesar da pouca população, tinha uma grande
produção pecuária e já uma expressiva produção agrícola. Neste período surgiram inúmeras
72
localidades por causa da ocupação agrícola e do avanço da fronteira econômica, sendo que as
cidades do Sul/Sudoeste cresciam em população e desenvolvimento comercial, configurando
esta região, no lugar para onde o progresso e o desenvolvimento do Estado apontavam.
Neste contexto, o Sudoeste Goiano, apesar de não ter conseguido a almejada ligação
ferroviária com o Centro-Sul do país, passa a se inserir no processo de modernização regional,
devido principalmente a intensa ligação com o Triângulo Mineiro, tornando-se uma região da
fronteira econômica, que chegara ao Sul em 1913 com a ferrovia, e dinamizada no Sudoeste
com o advento da estrada automotiva construída em 1919, pela Companhia Auto-Viação Sul-
Goiana.
Dessa forma, ocorreu com o Sudoeste o mesmo que já havia acontecido no Sul do
Estado, onde a penetração da estrada de ferro já havia alterado as estruturas de produção
74
regional, ocasionando uma nova divisão regional do trabalho, dinamizando as relações sócio-
econômicas, integrando estas regiões ao mercado nacional.
Esta região era composta por uma sociedade estabilizada, conservadora, fechada a
estranhos, com uma prática comum a este tipo de sociedade: Os casamentos consangüíneos
para somar e não dividir os patrimônios. O automóvel, produto da especialização da produção
industrial, caracterizou-se portanto, como um agente modernizador, trazendo com rapidez um
grande número de inovações, facilitando os contatos pessoais, alterando dessa forma, as
relações sociais e culturais da sociedade agrária regional.
De acordo com França (1979), a população masculina daquela época, tinha como
realização plena a posse de um bom cavalo e um revólver 38 carregado de balas na cintura,
aspirações inerentes à realidade sociocultural em que viviam. Por isso, não é de se estranhar o
impacto psicológico (espanto) que os primeiros automóveis causavam nas mentes rudes dos
homens que viviam no campo e nem tinham a mín ima idéia dos avanços tecnológicos que a
sociedade industrial produzia.
- Bom dia pessoal, apeia. Mas não lhe conto nada, aqui chegaram faz
pouco tempo dois cavaleiros, que ficaram esquentando fogo lá no rio, e
disseram que ouviram trovões e relâmpagos, de vez em quando
misturados com gritos, no meio da madrugada coberta de neblina. Viam
relâmpago e escutavam a trovoada. Trovoada não podia ser, porque não
é tempo e o céu estava limpo. Um dos companheiros dizia “pode ser a
mãe do ouro, olho o risco de luz por cima do arvoredo”. Os dois
disparavam os cavalos, paravam um pouco e tornavam a escutar o
mesmo barulho com alguns estrondos por cima. Os dois chegaram aqui
afobados, com os animais em bica, e vieram me contar. Pensaram até
que era alma de defunto... Bem que eu disse para eles, deve ser o Ronan
com o automóvel” (França, 1979, p. 121-122).
O DESENVOLVIMENTO SÓCIO-POLÍTICO E
SÓCIO-ECONÔMICO DO SUDOESTE GOIANO
“Cabe ressaltar que toda essa onda de euforia econômica vinha dinamizar
basicamente as regiões Sul e Sudoeste, por onde as comunicações – estrada
de ferro e de rodagem – interligavam as regiões ao mercado nacional.
Assim, todo um conjunto de estradas de rodagem veio a se somar à estrada
de ferro, inserindo, cada vez mais, Goiás na economia de mercado. Estas
estradas, unindo regiões, facilitaram também a ligação de Goiás com as
áreas hegemônicas da economia brasileira... Assim, as alterações efetuadas
nos meios de transportes, a dilatação da fronteira agrícola e os novos
mercados abertos à produção e à exportação dinamizaram economicamente
as regiões Sul e Sudoeste do Estado, desnivelando-as das demais regiões
goianas e tornando-as centro econômico do Estado.” (Chaul, 1999, p. 24).
Abrir uma porta nesta vertente é o que pretendemos. Quais os personagens que
compunham estes grupos? Quais os coronéis fazendeiros que se insurgiram contra o domínio
dos Caiado? Quem foram os antecessores oposicionistas, dos quais Pedro Ludovico herdou o
ímpeto revolucionário e a “mentalidade progressista-modernizadora”?
Para encontrarmos estas respostas teríamos que fazer uma ampla retrospectiva da
História Política de Goiás, o que tornaria a exposição muito extensa; porém, vamos analisar a
importância de alguns personagens que estão intrinsecamente ligados ao desenvolvimento dos
meios de transporte e comunicação na região, e que também foram artífices na construção da
corrente oposicionista ao caiadismo no Estado.
“Os meses de abril e maio de 1909 – Quem viveu na velha capital de Goiás
os dias de abril e maio de 1909, jamais poderá esquecer o ambiente febril da
velha Vila Boa... boatos incendiavam a cidade, compra de armas, reuniões
suspeitas aqui e ali... O Cel. Rocha Lima passou inopinadamente o governo
ao vice, Cel. Bertoldo de Sousa... A “Quinta”, fazenda do Cel. Eugênio
Jardim, tornou-se o centro do reduto oposicionista... O tempo corria e
chegava o dia 1º de maio de 1909. Quem assistiu o desfile de cerca de dois
mil cavaleiros pelas ruas da cidade, sob o comando do Cel. Eugênio Jardim,
que fardado, colocou-se à frente da coluna, não esquecerá jamais o
espetáculo. Já não havia governo, o Cel. Bertoldo tinha abandonado o
palácio. O batalhão de polícia foi ao encontro dos revolucionários para
prestar-lhes as honras devidas, e a coluna de cavaleiros desfilou com a
música à frente. Nada houve, nem um preso saiu da cadeia, nem um soldado
do governo levantou-se e a passagem do governo operou-se pacificamente.
A coluna depois de percorrer as ruas principais da cidade, regressou à
Quinta.” (Fleury Curado, 1956, p. 111-115).
Campos (1987), afirma que apesar desta “Revolução” ter sido inicialmente favorável
ao grupo bulhonista, ela terá um sentido político especial, pois foi através desta
movimentação política que surge as bases de articulação do grupo político que irá dominar a
administração política e econômica do Estado até o fim da Primeira República.
Foi nesta “Revolução” que surgiram as lideranças do Cel. Eugênio Rodrigues Jardim,
Comandante-em-Chefe da Revolução, e de Antônio Ramos Caiado, advogado e fazendeiro,
cunhado de Eugênio Jardim, já na cena política desde 1904, como secretário de estado.
Caiado foi um dos primeiros a romper com Xavier de Almeida, participando ativamente das
articulações do movimento de maio, despontando como um dos líderes máximos da
“Revolução”.
A ascensão da oligarquia caiado fez com que a oligarquia bulhonista fosse derrotada
e seu domínio substituído, sendo que após a eleição de 1909, na qual Antônio Ramos Caiado
foi eleito Deputado Federal, este passou a comandar a política administrativa e econômica do
estado, ininterruptamente, de 1912 a 1930.
2.1.1 A Oposição que vem do Sul: Santa Rita do Paranaíba e o Sudoeste Goiano
Na década de dez do Séc. XX, trouxe o telégrafo para o município e a luz elétrica em
1933. Elaborou o primeiro Plano Diretor e Código de Posturas da cidade. Em 1930 foi a
primeira autoridade do Estado de Goiás a ser nomeado pelas forças revolucionárias de trinta,
com Governador Civil do município de Santa Rita, até a instalação do Governo Novo.
O Cel. Sidney Pereira de Almeida, juntamente com seu sócio Ronan Rodrigues
Borges, foram os pioneiros do rodoviarismo no Sudoeste Goiano, quando em 1918 construiu a
estrada automotiva Sul Goiana, que liga Santa Rita do Paranaíba a Mato Grosso, passando por
Rio Verde, Jataí e Mineiros, (hoje BR 452). Foi Presidente e fundador do primeiro partido
político de Santa Rita, o Partido Democrata Santaritense, em 1915.
81
Machado (1990), demonstra que vários fatores contribuíram para que, na região
Sudoeste do Estado, aparecesse um foco oposicionista de contestação à ordem oligárquica
vigente. Nessa região se desenvolveu um forte movimento de oposição ao Governo, que
chegou a pegar em armas para fazer valer seus interesses.
Ainda, de acordo com Machado (1990), da velha Capital veio a reação teórica à
ordem oligárquica estabelecida, manifestada através do surgimento de uma imprensa
oposicionista e da articulação política, tendo como expoentes Mário D’Alencastro Caiado,
Domingos Neto Vellasco, e outros.
A autora afirma, entretanto, que foi no Sudoeste que realmente houve uma reação
contundente, tornando-se o suporte efetivo da reação à oligarquia caiado. Esta movimentação
política surgiu de diversos fatores, oriundos do processo de ocupação e posterior dinamização
econômica da região Sul/Sudoeste como um todo.
Conforme relata Cunha Neto (1988), os Martins Borges chegaram à região Sudoeste
em meados do séc. XIX, junto com as levas de migrantes oriundos do Triângulo Mineiro,
tornando-se proprietários da Fazenda Boa Esperança, com registro nº 76, de 10/091858, no
nome de Manoel Martins Borges.
83
Com a Lei Provincial nº 670, de 31/07/1882, que elevou a Vila de Rio Verde a
categoria de Cidade, começa a formação da oligarquia dos Martins Borges na região, sendo o
“Termo de Posse” da cidade, assinado entre outros, em 05/11/1888, pelo Sr. Bento Martins
Borges. Em 22/06/1897 foi eleito Intendente Municipal de Rio Verde, o Cel. Cândido Ferreira
de Jesus, tendo como 2º Conselheiro, o Sr. Antônio Martins Borges, que se inicia assim na
vida político-adminstrativa do município.
O poder do Senador Antônio Martins Borges decorria do fato de ser ele um dos
maiores latifundiários do Sudoeste goiano, ocorrendo que o próprio Pedro Ludovico, quando
queria dar um exemplo das extensões das fazendas de Rio Verde, citava o próprio sogro,
dizendo que ao falecer, este deixou como heranç a, 600 alqueires goianos de terra para cada
um de seus nove filhos. (Machado, 1990).
foi um dos únicos que se bateram contra a fa mosa “Lei dos seis meses”, que deu ao Sr.
Caiado a posse de Tesouras e Aricá”.
Este fato foi confirmado por Pedro Ludovico, que relatou mais tarde, que a oposição
de Antônio Martins Borges à oligarquia caiado nasceu, desde que, como Senador Estadual,
não votou a lei que deu origem a “Questão do Judiciário”, na gestão do Governador Miguel
Rocha Lima (1922/1924), quando era Secretário de Terras o Cel. Brasil de Ramos Caiado,
que concedeu, através da Lei nº 725 de 11/08/1923, títulos que deram a “Totó” Caiado,
aproximadamente 1.071.446 hectares de terra às margens do Rio Araguaia (Machado, 1990).
Nesse período Mário Caiado funda “A voz do Povo”, jornal que passa a ser o
principal articulador do movimento oposicionista no Estado, tendo como colaboradores, entre
outros: Americano do Brasil, (Santa Luzia); Domingos Neto de Vellasco, (Capital); Diogénes
Dolival Sampaio, (Catalão); Cel. Antônio Martins Borges e Pedro Ludovico, (Rio Verde) e
Sidney Pereira de Almeida, de Sta. Rita do Paranaíba (Machado, 1990).
Nesse período, Pedro Ludovico resolve ir para Rio Verde, motivado pela crescimento
econômico e político que o Sudoeste Goiano estava atravessando, chegando a esta cidade em
85
14/07/1917, com 26 anos incompletos. Nesta cidade, continua com sentimento de aversão às
pequenas cidades: “...Por mais que me esforçasse, não me habituara até então, à existência
monótona das pequenas cidades, uma vez que estivera seis anos no Rio, sem dali me afastar.”
A História não é feita de suposições ou conjecturas, mas é provável que devido sua
formação num grande centro urbano, Pedro Ludovico não teria suportado a vida em uma
cidade pequena e monótona, pois apesar de Rio Verde ser um centro regional, não se
comparava a vida urbanizada que os grandes centros do país já detinham naquele período;
porém surge um fato que vai mudar radicalmente a vida futura de Pedro Ludovico, o
casamento, em 22/06/1918, com Gercina Borges, filha de Antônio Martins Borges, o coronel-
fazendeiro mais poderoso da região.
De acordo com Borges (1990), a partir da segunda década do séc. XX, o Sul e o
Sudeste goiano estava inserindo-se no processo de modernização da economia agrária, com
parte da lógica da expansão da economia de mercado; processo este que atingiu aspectos da
vida social, política e cultural do Estado, principalmente nas cidades goianas que margeavam
a linha ferroviária, que no período, se reurbanizaram, passando a contar com os progressos
técnicos e tecnológicos do mundo capitalista, como a energia elétrica, o telégrafo, o telefone,
etc.
Ora, conforme o estudo de Machado (1990), foi através da imprensa que se deu a
iniciação política de Pedro Ludovico, quando, junto com Ricardo Campos, Teódulo Emrich,
Almeida Barros e Atanagildo França, funda em Rio Verde, o jornal “O Sertão”,
posteriormente intitulado “O Sudoeste”, através do qual faziam oposição ao caiadismo.
Esses fatos não ocorreram conforme informa a autora em epígrafe, pois vimos em
Cunha Neto (1988), que em 13/09/1920, o jornal “Correio Oficial”, noticia o aparecimento do
jornal “O Sertão”, fundado por Antônio Martins Borges, secretariado pelo Dr. Almeida
Barros, sendo redatores Pedro Ludovico Teixeira e Ricardo Campos.
Cunha Neto (1988), informa que em 1923 aparece “O Sudoeste”, este sim, fundado
por Pedro Ludovico Teixeira e Ricardo Campos, jornal político anticaiadista e de grande
circulação na época. Diante deste fato s, entendemos que houve um processo de
amadurecimento político de Pedro Ludovico, pois sua iniciação na imprensa se dá através do
jornal do sogro, onde adquire experiência, para então, três anos depois fundar o jornal “O
Sudoeste”.
Neste período, Pedro Ludovico, dizia que embora se sentisse revoltado com a falsa
democracia que existia no Brasil e especialmente em Goiás, se mantinha afastado da política
para não provocar aborrecimentos em seu sogro, o Senador Antônio Martins Borges, até que
sua indignação chegou a um ponto em que ele se dirigiu a Martins Borges nos seguintes
termos: “...Olha, meu sogro, ou eu vou-me em bora para outro Estado, ou então vou lutar
contra os caiado. E, então ele falou: – Você luta.”, ou seja, Pedro Ludovico inicia sua vida
87
política após uma autorização expressa de Antônio Martins Borges, o que denota claramente o
respeito familiocrata próprio da época, ficando claro a profunda influência que o sogro
exerceu nas decisões do então jovem Pedro Ludovico.
Neste sentido, a liderança de Pedro Ludovico, nascida pela imprensa, foi sustentado
pelo apoio seguro do sogro, e se fortaleceu pelas suas ligações com o Tenentismo e com os
líderes da Aliança Liberal, destacando-se entre outras razões à ascensão política de Pedro
Ludovico a sua condição de genro do Senador Antônio Martins Borges, que lhe dava o
suporte prático (econômico e político).
Após a inauguração da Cia Auto Viação Sul Goiana, em 1919, a região Sudoeste se
tornou mais receptiva às forças da economia de mercado que avançavam do Sudeste do país
em direção ao interior, incorporando as idéias progressistas modernizadoras que
representavam.
agilização dos correios, bem como houve a implantação de melhores redes telegráficas em
toda a região.
Esta rede telegráfica foi estratégica nos anos seguintes, pois foi através dela que se
deu as comunicações de toda a movimentação política que antecedeu o Movimento de 30,
como relataremos nos próximos itens deste trabalho.
do Sul e Sudoeste goiano, que passaram a partir deste momento a liderar a corrente
oposicionista em Goiás.
Sidney Pereira de Almeida, neste período faz uma sociedade creditícia com
Belarmino Cruvinel, de Rio Verde, diretor técnico da Sul-Goiana, pertencente ao grupo do
Senador Martins Borges, com o qual funda em Santa Rita do Paranaíba, em 1919 a Casa
Bancária Almeida & Cruvinel.
O Sr. Belarmino Cruvinel, assim como Pedro Ludovico Teixeira, foi genro do
Senador Antônio Martins Borges, casado com Alice Borges. Foi também prefeito de Jataí, de
Rio Verde, e Interventor do Estado, no período de 12/09 a 16/11/1946.
92
Nota-se pela leitura das atas das assembléias gerais da Sul-Goiana, conforme vimos
em França (1979), que esta companhia veio aglutinar pessoas que iriam organizar a oposição
em Goiás. Vimos na ata da segunda assembléia (31/08/1919), uma ligação com os políticos da
capital, iniciadores da oposição no Estado.
Nesta assembléia foi votada uma moção de agradecimento pelos serviços prestados
na obtenção do privilégio da Cia. perante o Governo do Estado, a Mário Caiado, e ao Sen.
Possidônio Xavier Rabelo, ambos iniciadores da corrente oposicionista no Estado.
Sabemos que nas duas primeiras décadas do século XX, frente às transformações
econômicas, as ferrovias começaram a caminhar em direção ao interior do país, como resposta
à necessidade da expansão cafeeira. A finalidade era ocupar e incorporar novas áreas à
economia de mercado, ampliando as relações de dependência em âmbito nacional, resultante
da divisão e especialização da economia mundial. A expansão rodoviária em Goiás no
período, localizava-se especificamente no Sul/Sudeste e Sudoeste do Estado, ligando aquelas
regiões ao Centro/Sul do país.
No início dos anos vinte, a Estrada de Ferro Goiás foi encampada pelo Governo
Federal, como unidade autônoma, subordinada à Inspetoria das Estradas de Ferro da União.
Para Borges, a decadência da estrada de ferro proporcionou o crescimento do transporte
rodoviário, que a partir dos anos trinta vincula-se diretamente às mudan ças estruturais na
economia brasileira.
Para Machado (1990), a questão fundamental era a luta pelo poder, já que o grupo
oligárquico dominante se perpetuava e barrava o avanço das forças produtivas, configurando
um processo que ia de encontro aos interesses da elite “Progressista/Modernizadora” do
Sul/Sudoeste do Estado.
Nesse período, a ordem nacional não foi contestada, sendo a oposição dirigida
somente contra a situação política do Estado; a oposição confiava que o Governo Washington
Luiz adotasse medidas coibidoras da ação oligárquica.
96
Porém, havia um enfoque maior nas reformas jurídicas e políticas que se faziam
sentir através do conteúdo moralizante da plataforma política da Aliança Liberal, como no uso
de expressões como “regeneração política, justiça para todos” e outras que refletiam
aspirações liberais, que defendiam, no aspecto econômico, políticas de incentivo a produção
nacional em geral, e não apenas ao café, como acontecia no período, acarretando com isso, ao
ser aplicada, transformações substanciais na ordem político-administrativa do país. (Machado,
1990).
Neste período, novos produtos já podiam penetrar no mercado goiano, bem como a
produção agrícola goiana começava a atingir o mercado nacional, conforme vimos nos
“Quadros de Arrecadação do Estado e de Exportações do Sudoeste Goiano, abaixo
relacionados, gerando o desenvolvimento do mercado interno e um conseqüente processo de
acumulação que dinamizou economicamente estas regiões, favorecendo o surgimento do foco
oposicionista que iria combater a ordem oligárquica vigente.
1918
Pela Secretaria de Finanças 268:455$000
Pela Estrada de Ferro Goiaz 484:505$000
Pelos cinco municípios do Sudoeste* 618:441$000
Pelos trinta e tantos municípios restantes 944:683$000
TOTAL 2.316:795:000
1919
Pela Secretaria de Finanças 269:163$000
Pela Estrada de Ferro Goiaz 479:697$000
Pelos cinco municípios do Sudoeste* 1.029:198$000
Pelos trinta e tantos municípios restantes 1.146:026$000
TOTAL 2.925:104$000
Fonte: A INFORMAÇÃO GOYANA, Rio de Janeiro, março, 1921.
* A revista inclui entre os municípios do Sudoeste, Santa Rita do Paranaíba, atual Itumbiara.
Nessa época, o Sr. Mário D’Alencastro Caiado, funda o jornal “A Voz do Povo”, que
passa a ser o principal veículo articulador da oposição no Estado. Neste mesmo período, pelo
mesmo motivo, houve o rompimento do Senador Antônio Martins Borges, de Rio Verde, com
a oligarquia caiado, surgindo na cidade sudoestina, o jornal “O Sudoeste”, fundado pelo genro
de Martins Borges, Pedro Ludovico, órgão político anticaiadista e de grande circulação na
região.
100
Machado (1990), afirma que este foco oposicionista, nascido de uma dissidência
entre os poderes Executivo e Judiciário, provocou uma cisão na estrutura oligárquica/
familiocrática do Estado, gerando um pedido de intervenção federal pelo então presidente do
Superior Tribunal de Justiça do Estado, Desembargador Emílio Francisco Póvoa, que foi
cassado e substituído por Ayrosa Alves de Castro.
A repressão ao Sudoeste goiano no final dos anos 20, trouxe um clima de violência
na região, principalmente a partir de 1927, com in tervenções arbitrárias ocorridas na Serra do
Cafezal, em Jataí, com agressões, extorsões, prisões e mortes de pessoas ligadas ao grupo de
Martins Borges.
Machado (1990), afirma que o conflito entre José Morbeck e Manoel Balbino de
Carvalho transfere-se para o interior de Goiás, sendo que o governo estadual contava com o
apoio do primeiro e os líderes do Sudoeste se ligavam ao segundo (ver anexo – Doc. 06/07).
Em 7 de fevereiro de 1919, o Delegado Especial do Governo Erkonwald de Barros, sitia e
ataca a Fazenda Santa Tereza, na Serra do Cafezal, Município de Jataí.
102
Nessa mesma época, conforme discorre Almeida Neto (1997), em Santa Rita do
Paranaíba, o Cel. Sidney Pereira de Almeida também foi preso pelas forças governamentais,
comandadas pelo caiadista Luiz de Menezes, juntamente com Adelino Lopes de Moura e
Carlos Marques, onde ficaram presos num calabouço estrategicamente localizado nas pilastras
da Ponte Affonso Pena.
Sidney Pereira de Almeida e Adelino Lopes foram libertados, depois de vários dias,
pelo Comandante Senador Camilo Chaves, que vindo de Uberlândia, ocupou militarmente a
cidade em outubro de 1930, lib ertando do cativeiro os presos políticos. Com a entrada das
forças revolucionárias mineiras em Santa Rita do Paranaíba, o Cel. Sidney Pereira de Almeida
foi nomeado Governador Civil da Cidade por um período de vinte dias, quando se completou
o processo revolucionário no Estado e no país (Almeida Neto, 1997).
Em 29 de outubro de 1930, foi formada uma junta governativa, composta por Mário
de Alencastro Caiado, Pedro Ludovico Teixeira e Emílio Póvoa. Esta junta governativa teve
uma curta duração; Pedro Ludovico, representante das oligarquias modernizantes do Sul e
Sudoeste assume o controle do Estado como In terventor Federal, ficando em sua direção,
ininterruptamente, até 1945, cabendo a Mário Caiado a Secretaria Geral do Estado.
104
Neste sentido, Chaul (1999), ressalta que Pedro Ludovico, representante dos grupos
oligárquicos do Sul e Sudoeste, era o político certo no momento propício. O nome de Mário
Caiado teria sido vetado para a interventoria do Estado, segundo opiniões vigentes no período,
devido ao seu sobrenome, uma vez que o poder central que se instalara no país precisava
demonstrar uma total ruptura com a Primeira República. “Um Caiado substituindo outros não
refletiria tal concepção, embora o Caiado em discussão fosse forte oposicionista”.
Dessa forma, o autor conclui que Pedro Ludovico era o homem do sistema a ser
implantado, configurando-se no representante preciso para as relações político-econômicas a
serem dinamizadas. “Assim, Pedro Ludovico pegava o bonde da História”, com isso, o
Sul/Sudoeste do Estado vê-se, finalmente, representado de forma significativa, como lutavam
a tempos, na direção político-administrativa do Estado.
Machado (1990), ressalta que Mário Caiado era detentor de maior prestígio político
em Goiás, e outros, como Domingos Vellasco, possuíam uma maior articulação nacional.
Americano do Brasil, também foi um combativo líder da oposição. Pedro Ludovico se
destacara no Sudoeste, mas não tinha prestígio político maior que os demais.
Nunes (1984), ao analisar a expansão viária em Goiás, afirma que a partir de 1930,
inaugurou-se uma nova fase na história política e econômica em Goiás, sob a égide da política
getulista, conhecida na historiografia como “Marcha Para o Oeste”, surgida sob a influência
de novas necessidades da economia mundial, que se refletiam diretamente sobre a economia
nacional, configurada pela ideologia nacional-desenvolvimentista.
Porém, neste período, os recursos que o Estado recebia da União para este setor eram
mínimos. Em 1933, o Governador Pedro Ludovico se queixava de que “os nossos recursos
atuais de viação em muito pouco, ou quase nada, supera os de que dispunha-mos há
dezessetes anos”.
106
Sobre este mesmo relatório, Borges (2000), afirma que Pedro Ludovico constatava
que a carência de transporte era um dos prin cipais problemas responsáveis pelo atraso e
desorganização da economia agrária goiana, e que as estradas de rodagem seriam vitais para o
desenvolvimento da economia regional.
O autor informa que esta rede rodoviária regional era tecnicamente de baixa
qualidade, espacialmente mal distribuída, sendo as estradas de leito natural ou de
revestimento primário, o que onerava o custo do transporte e da circulação de mercadorias.
107
O autor afirma que além da crise econômica interna, estava se iniciando no país a
“Era Automobilística”, e a política de transportes do Governo Federal passou a priorizar o
setor rodoviário, abandonando os planos ferroviários. Apesar das mudanças de planos no setor
de transporte, a ferrovia, depois de anos paralisada em Roncador, chega a Bonfim em 1930 e a
Anápolis em 1935.
Neste perío do, os grupos econômicos anapolinos p assaram a controlar boa parte
do comércio do Estado, p rincipalmente da Região Central, e a ligação ferrovi ária com a
nov a capital prejudicaria sua posição econômica; portanto, os anapo linos se aliaram às
forças econô micas e políticas do Triângulo Mineiro , conseguin do co m isso, retardar a
construção do ramal ferro viário para Goiânia, cujos trilhos só chegariam a no va capital em
195 0.
BR 060 – esta rodovia faz a ligação Brasília-Paraguai, possui 1.303 km. A partir de
Goiânia, segue paralela a antiga rodovia Goiânia-Rio Verde, não passando mais por Paraúna,
indo em direção ao Sudoeste goiano, passando por Acreúna, Rio Verde, Jataí e Mineiros,
entrando pelo Estado de Mato Grosso em direção ao Paraguai. No trecho Goiânia-Rio Verde
tem 220 km.
BR 153 – corta Goiás em toda sua extensão no sentido Norte/Sul, fazendo a ligação
de São Paulo-Triângulo Mineiro-Brasília-Belém, sendo que no trecho Goiânia-Itumbiara
segue a rota da antiga estrada Santa Rita do Paranaíba-Trindade, com percurso de 230 km.
BR 452 – esta rodovia faz a ligação do Sudoeste goiano com o Triângulo Mineiro,
sendo uma das principais alimentadoras da BR 153; escoa a produção agropecuária para o
Sudeste do país, sendo de fundamental importância no contexto sócio-econômico desta
região, tendo na cidade de Itumbiara o seu ponto de conexão. Na cidade de Rio Verde, liga-se
à BR 060. Esta estrada, no trecho de Itumbiara-Rio Verde, segue praticamente o mesmo
traçado da estrada automotiva construída em 1919 pela Cia. Auto Viação Sul Goiana, sendo
que, em homenagem ao seu idealizador, recebeu através do processo nº 24.223/73, levado ao
DNER, e autorizado pelo então Ministro de Transportes, Mário Andreazza, o nome de
Rodovia Federal “Ronan Rodrigues Borges” (ver anexo).
110
Figura 18 – Pontes
Fonte: Ponte sobre o rio Verdinho, 1900 - Cunha Neto, 1988, p. 411.
Fonte: Ponte sobre o rio dos Bois, 1939 - Cunha Neto, 1988, p. 411.
113
Machado, (1990), afirma que Pedro Ludovico não se posicionou de forma radical
contra essa dissidência, tentando de todas as formas imped ir um rompimento com Vellasco;
consegue manter-se no poder em meio a sérias dificuldades financeiras e políticas que o
Estado atravessava no período. A 16 de julho de 1934, promulga-se a nova Constituição.
Pedro Ludovico é lançado candidato à Presidência Constitucional do Estado, vencendo as
eleições de outubro, pondo fim a dissidência iniciada em 32.
Porém agora os tempos são outros, os atores que iniciaram a oposição à oligarquia
caiado na Região Sul/Sudoeste e foram pioneiros no processo de modernização desta região
são agora substituídos por pessoas ligadas à política nacional, com uma nova mentalidade
administrativa, traduzida por uma maior racionalização nas ações do Estado, preconizadas
pela política nacional-desenvolvimentista implementada pelo Estado Novo.
Dessa forma, podemos inferir que a centralização do poder, a partir de 37, favorece a
incorporação do Estado à expansão da economia de mercado, através da implementação da
política de ocupação dos espaços vazios regionais e da difusão da mentalidade
“progressista/modernizadora”, que transform ou valores e hábitos, promovendo a urbanização
e o desenvolvimento dos meios de transporte e comunicação.
Dessa forma, podemos afirmar que a estrada de rodagem construída pela Companhia
Auto-Viação Sul Goiana, em 1919, ligando Santa Rita do Paranaíba a Jataí, possibilitou a
dinamização do processo de chegada da fronteira econômica no contexto da expansão
capitalista, inserindo esta região no processo de modernização regional ocorrido nas duas
primeiras décadas do séc. XX.
Hoje, temos a percepção de que o capital simplesmente mudou de tática, e que agora
sua expansão se dá através do próprio avanço tecnológico da contemporaneidade, e com
muito mais eficiência técnica. Hoje, a expansão se dá através da mídia, que controlando as
informações, gerou um império de fascismo uniformizador, modulada sempre pelos apelos de
uma comunidade “global” sem fronteiras.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Anexo – 01
C R ON O LO G IA
Anexo – 02
Artigo 1 o – Ficão isemptos por espaço de dez annos de pagar Disimos de Miunças, e
de Gado vacum, e cavallar os actuaes moradores nas Freguesias de Salinas, Amaro Leite,
Porto Imperial e Carolina; e bem assim os actuaes habitantes do territorio entre Rio Verde
além do Turvo, e Rio Pardo, que faz barra no Paranaã.
Artigo 2 o – Da mesma isempção gosará todo aquelle, que dentro do praso dos dez
annos for estabelecer-se em algumas das Freguesias, ou Territorio, mencionados no artigo
antecedente.
Anexo – 03
Art. Único – A Villa do Rio Verde fica elevada à cathegoria de cidade, conservando os
mesmos limites e observadas as disposições contidas na resolução nº 517 de 7 de julho de
1874.
L.S.
.......................................................................................................................................................
5/11/1888
“Aos cinco dias do mez de Novembro do anno de mil oitocentos e oitenta e oito, nesta
Villa do Rio Verde, no Paço da Camara Municipal, pelas dez horas do dia, prezentes os
senhores Presidente da Camara Municipal Tenente Coronel José Joaquim Leão, o vice
Prezidente Henrique Francisco da Rocha e os vereadores Antonio Borges de Castro,
Theophilo de M ello Cabral e Josino Antonio de Gusmão e os demais senhores abaixo
Assignados – pelo Presidente foi declarado que o fim da prezente reunião extraordiaria da
Camara Municipal, que prezide, era na forma do officio que passou à mim Secretario para que
fizesse a leitura, dar a esta Villa a posse de Cidade a cuja cathegoria foi elevada pela Ley
Provincial numero 670, de trinta e hum de julho de mil oitocentos e oitenta e dois, afim de
131
Anexo – 04
Art. 1 o – Fica concedido aos cidadãos Ronan Rodrigues Borges e Sidney Pereira de
Almeida ou a empresa que organizarem, privilégio por trinta anos para construção, uso e gozo
de uma estrada de automóveis de Sta. Rita do Paranaíba a Mineiros, passando pelo Rio Verde
e Jataí, com um ramal de Rio Verde ao Rio Paranaíba no Porto de São Jerônymo, ou em outro
qualquer mais conveniente.
3 o – Direito de cercar a estrada caso seja necessário, sem dano ou prejuízo de terceiro.
Anexo – 05
Termo de Abertura
Servirá este livro para nele se lavrar as atas das Assembléias da Companhia Auto
Viação Sul Goiana, com sede nesta Cidade, e todas as suas folhas, em número de cento e
cinqüenta, vão numeradas e rubricadas com o apelido que uso – R. R. BORGES. No fim
acha-se o termo de encerramento.
.......................................................................................................................................................
Aos dezenove dias do mês de julho de um mil novecentos e dezenove, nesta Cidade
de Rio Verde, Estado de Goiás, sede da Companhia Autoviação Sul Goiana, depois do ato
inaugural realizado às quinze horas, à entrad a Sul desta Cidade, onde se achava avultado
número de cavalheiros, Exmas. Sras. e todas as classes sociais, aproximara-se do arco triunfal
o primeiro automóvel que precedia a vinte e dois outros automóveis, sendo recebido entre
salva de palmas, música, foguetes e diversas outras aclamações, tomando a palavra o Sr.
Eulalio de Uchôa Cintra deu, em substancioso discurso, as boas vindas ao presidente da
Companhia e sua ilustre comitiva. Falaram em seguida a gentil senhorita D. Maria Borges, o
Sr. Dr. Vasco de Andrade, o professor mineiro sr. Honório Guimarães e, finalmente, o sr.
Diretor Presidente da Companhia – Cel. Ronan Rodrigues Borges, que pediu ao representante
do Exmo. Sr. Dezor. Presidente do Estado, se dignasse de desobstruir o empecilho que tolhia
o avanço de sua máquina. O Sr. Cel. Jerônimo Antônio Coimbra, representante do Exmo. Sr.
Dezor. Presidente do Estado, cortando a fita obstrutora, ergueu, ao som do Hino Nacional
executado pelas bandas de música de Sta. Rita do Paranaíba e desta Cidade, vivas a
prosperidade do Estado e da Companhia Autoviação Sul Goiana. Formado o corso, que parou
à porta do edifício da Companhia, em substituição do Conselho Municipal, que se achava em
reconstrução, o Sr. Diretor Presidente da Companhia, acompanhado de diversos cavalheiros e
Exmas. Sras., deu entrada às 16 horas, no salão do referido edifício e, tomando a cadeira da
presidência, mandou que se fizesse a chamada dos Srs. Acionistas. Em seguida tomaram
assento ao redor da mesa os membros do Conselho Fiscal – Srs. Cels. Manoel Affonso de
Almeida, Orozimbo de Souza Bueno, Antônio Martins Borges, Valeriano Antonio da Silveira
Leão, Quintiliano da Silveira Leão e Sidney Pereira de Almeida. Entregaram poderes de
representação: o Sr. Jerônymo Antonio Coimbra representando o Exmo. Sr. Dezor. João
Alves de Castro – DD. Presidente do Estado; o Sr. Cel. Antonio Xavier Guimarães –
135
representando o Exmo. Sr. Dr. José Leopoldo de Bulhões Jardim e a redação do “Goiás”; o
Sr. Albatênio Caiado de Godoy – representando os Exmos. Srs. Drs. Mario de Alencastro
Caiado e Luiz R. do Couto – respectivamente Juizes de Direito da Capital de Goiás e Sta. Rita
do Paranaíba. Cel. Possidônio Xavier Rabello – Senador Estadual e a redação d’ “O
Democrata” da Capital deste Estado; o Sr. Sidney Pereira de Almeida representando as
Municipalidades de S. Rita do Paranaíba, Bela Vista e Abadia de Bom Sucesso – Minas; o Sr.
Rafael do Nascimento representando a Municipalidade da Cidade de Goiás; o Sr. João Pinto
Brom, representando a Municipalidade de Jataí; o Sr. Nestor de Vasconcelos, representando a
Municipalidade de Monte Alegre – Minas; O Sr. Cel. Marciano de Ávila, representando a
Municipalidade de Uberlândia – Minas; O Sr. Dr. Vasco de Andrade, representando o
“Lavoura e Comércio” de Uberaba – Minas; o Sr. Cel. Ernesto Rodrigues da Cunha,
representando a sociedade de Uberabinha – Minas; o professor mineiro Sr. Honorio
Guimarães, representando a Imprensa da Capital de Minas; o Sr. Dr. Ignacio Dias Paes Leme,
representando a Companhia Mineira Autoviação Intermunicipal e o Sr. Cel. Quintiliano da
Silveira Leão, representando a Municipalidade desta cidade, de cuja Câmara é digno
presidente. Aceitas as credenciais exibidas, o Sr. Diretor Presidente convidou o Exmo. Sr.
Dezor. Presidente do Estado, na pessoa do seu digno representante, a assumir a presidência da
presente sessão. O Sr. Cel. Jeronymo Coimbra, assumindo a presidência, faz uma breve
alocução congratulando-se com o povo desta zona pela inauguração solene da linha de
automóveis da Companhia Autoviação Sul Goiana, que vínhamos de assistir e, ao som de
prolongada salva de palmas, encerrou-se a sessã o, cuja ata presente vai assinada pelo Sr.
Presidente honorário, pela Diretoria e pelos representantes. Eu, Belarmino Cruvinel secretário
a subscrevi.
Anexo – 06
Cópia da carta enviada no dia 2 de maio de 1918 pelo Senador Braz Abrantes a Pedro
Ludovico Teixeira em agradecimento ao seu convite de casamento com Gercina Borges
Pedrinho
Braz.
Anexo – 07
Carta de Manuel Balbino de Carvalho, conhecido por Cel. Carvalhinho, ao ser preso prelos
Caiados em 1928, enviada a Pedro Ludovico Teixeira, onde recomenda aos seus homens para
estarem ao seu lado e trabalhar pela liberdade do Estado de Goiás
Abraço-lhe
De partida para Cuiabá preso com alguns amigos sob garantias do célebre Brasil
Caiado e Cia; só agora passo a expor a bela e graciosa situação a que chegamos, “por minha
culpa”, em ter sido de boa fé, coisa que está abolida da cartilha em diversas edições, dos tão
conhecidos Caiados e Cia, como sabe o exemplo da desventurada família Wolney, vítimas da
boa fé. Em fim, chegou a minha vez, apesar de nunca ter me esquecido das chacinas do Norte.
Sigo para Cuiabá com o mesmo pesar de não ter abraçado o meu prezado e querido amigo. Lá
espero libertar-me da prisão que me deu este Célebre Caiado por intermédio do bonitinho
Secretário Cesar Bastos.
Deixo algumas centenas de amigos que sentem a prisão traiçoeira que recebi do
atual governo de Goiás. Afianço que todos os meus amigos cumprirão com alegria o
pedido que recomendei-os de estarem ao vosso lado e trabalham pela liberdade do
Estado de Goiás, na sua pessoa e dos nossos queridos amigos que tanto tem sofrido. O
nosso amigo Eurício Cunha lhe dará os nomes dos homens, a quem poderá confiar sua
defesa e dos nossos amigos; com Osvaldo Cunha deixo um código mais aperfeiçoado e de
ampla linguagem, pelo qual o amigo saberá minhas notícias. As batalhas, considero-as
como os jogos. Perdi esta por minha culpa, de ter tido boa fé; há mais alguma cinza que não
posso explicar no momento. Creia que o elemento que deixo ao seu dispor é bastante para
libertar-nos da apreensão em que vivemos. Term ino enviando um fortíssimo abraço que seja
extensivo aos nossos bons amigos.
M. Balbino de Carvalho
Anexo – 08
“RELATÓRIO”
A expedição acha-se sensivelmente esfalfada do trabalho que teve para captura dos
bandoleiros e jagunços, tendo tido occasião, à noite, sob chuvas torrenciais, de se caminhar
com agua pelo peito.
Desde a chegada desta autoridade a esta cidade de Rio Verde, de vinte e sete (27), às
13 horas, foram iniciadas as principais diligencias, conseguindo os soldados sob o comando
dos tenentes Virgilio e Florencio prenderam apenas 14 homens, tendo a maior parte,
justamente a que estava munida de rifles, fugido à expedição, indo com os fugitivos o chefe
do bando, o temível Falix Baptista, conhecido como Felix Bahiano, homem de inteira
confiança de Manoel Balbino de Carvalho, “Carvalhinho”, que na última revolução em,
Poxoréu, Matto Grosso, desempenhou o papel seu lugar-tenente.
Entre as varias diligencias expedida para a captura dos demais bandoleiros, que
fugiram desta cidade para diversos pontos, fiz seguir o tenente Virgilio, no dia 31 do mez
proximo com 8 praças sob seu commando para as divisas de Rio Bonito; outra diligencia de
10 praças sob o comando do tenente Florencio no dia 1 o no logar denominado “Capa Branca”
e seus arredores; e no dia 2 do corrente outra diligencia composta de 6 praças sob o
commando de mesmo tenente Virgilio para o logar denominado “Patrimonio”.
E essas diligencias foram coroadas do mais bello exito, pelo numero de capturas
realizadas.
139
O tenente Florencio seguio depois com uma força composta de 8 praças sob seu
commando, levando uma turma de indesejáveis afim de pól-os fóra das fronteiras deste
Estado, em Santa Rita do Araguaya.
Até hoje, 3 do corrente mez, se acham presos na cadeia desta cidade, 23 individuos
para se apurar suas responsabilidades.
No dia 1o foram postos em liberdade os snr. Antonio Martins Borges e Dr. Pedro
Ludovico Teixeira, conforme telegrama do Exmo. Snr. Dr. Presidente do Estado.
O snr. Escrivão faça subir os presentes autos ao Exmo. Snr. Dr. Chefe de Polícia por
intermedio de seu digno Secretario. (Relatório dos Autos de Inquérito Policial de 28 de
janeiro de 1929 – Delegacia de Polícia da Comarca de Rio Verde – escrivão Manoel Barbo de
Siqueira. Assina o Relatório Erkonwald de Barros, 2 o Delegado Regional). (Arquivo Pedro
Ludovico, pasta 1).
Anexo – 09
“Nomes das pessoas e a lista de valores saqueados e roubados no Sudoeste goiano por
Erckonwald de Barros e outros, em fevereiro de 1929, e figuram nos autos do processo
instaurado pelo Dr. Antonio Perilo, quando ali em comissão.
Anexo – 10
Anexo – 11
Anexo – 12
GOIÂNIA
Fonte: Discursos do Deputado Diógenes Magalhães. Edição especial da revista DIREÇÃO, 1966, p. 20.
145
Anexo – 13
Exmo. Sr.
Coronel MARIO ANDREAZZA
Ministério dos Transportes
Brasília – DF
Senhor Ministro,
Tomo a liberdade de transmitir a Vossa Excelência o apelo que recebi dos habitantes
da região por onde passa a estrada que liga os municípios de Goiás: Itumbiara e Rio Verde.
Parecendo-me simples e justa a pretensão dos goianos que almejam uma singela
consideração a um pioneiro, solicito de Vossa Excelência o exame da proposta.
Atenciosamente
Deputado Orensy Rodrigues
ARENA – S.P.
Anexo – 14
TELEGRAMA
Temos prazer levar conhecimento ilustre Presidente que exmo sr Ministra Transportes
vg em despacho exarado Processo n. 24.223/73 DNER vg autorizou designação de Rodovia
Ronan Rodrigues Borges ao trecho Itumbiara Rio Verde vg na Rodovia 452 pt
Atenciosamente Eliseu Resende Diretor Geral DNER.
Anexo – 15
BRASIL
Anexo – 16
GOIÁS - 1920
Sul-Sudeste
Catalão 12.800 38.574 (1 o) 3.0
Morrinhos 6.659 24.502 (3 o) 3.6
Ipameri 7.309 19.227 (5 o) 3.0
Pouso Alto (Piracanjuba) 4.310 13.714 3.1
Bonfim (Silvânia) 3.850 12.621 3.2
Santa Luzia (Luziânia) 12.806 12.461 0.9
Corumbaíba 4.260 10.652 2.5
Sta. Rita do Par. (Itumbiara) 12.670 10.639 0.8
Santa Cruz 3.429 10.584 3.0
Palmeiras 13.375 7.736 0.5
Campo Formoso (Orizona) 2.800 7.702 2.7
Buriti Alegre 1.740 6.960 4.0
Caldas Novas 1.841 6.625 3.5
Bela Vista 1.559 6.254 4.0
Mato Grosso
o
Goiás 40.286 (4 ) 21.223 (4o) 0.5
Anápolis 5.375 16.037 (7 o) 2.9
Jaraguá 5.287 13.508 2.5
Curralinho (Itaberaí) 2.284 13.376 5.8
Trindade 11.749 6.110 0.5
Campinas 975 4.445 4.5
Anicuns 3.305 4.102 1.3
Centro Norte ou Planalto
Formosa 7.735 15.872 (8 o) 2.0
Corumbá 4.427 14.636 (9 o) 3.3
Pirenópolis 5.444 9.272 1.7
Planaltina 2.704 5.742 2.1
Cristalina 6.730 4.102 0.6
Sudoeste
o
Rio Verde 24.487 (7 ) 12.661 1.9
Jataí 26.777 (6 o) 10.010 0.3
Rio Bonito (Caiapônia) 15.452 (10 o) 4.961 0.3
o
Mineiros 20.358 (8 ) 4.154 0.2
GOIÁS – 1920
Regiões Tonelagem
Sul - Sudeste
Corumbaíba 22.402,2 (1 o)
Catalão 21.813,4 (4 o)
Morrinhos 18.137,9 (3 o)
Palmeiras 10.223,8 (4 o)
Ipameri 8.124,0 (7 o)
Pouso Alto (Piracanjuba) 7.919,2 (9 o)
Sta. Rita do Paranaíba (Itumbiara) 6.879,3 (10o)
Bela Vista 6.397,7
Santa Cruz 5.544,7
Campo Formoso (Orizona) 4.790,0
Bonfim (Silvânia) 4.740,9
Buriti Alegre 4.607,0
Santa Luzia (Luziânia) 2.010,4
Santa Rita do Paranaíba (Itumbiara) 71.593
Santa Luzia (Luziânia) 62.792
Corumbaíba 62.012
Bela Vista 60.860
Bonfim (Silvânia) 58.886
Santa Cruz 53.326
Buriti Alegre 47.517
Caldas Novas 31.850
Campo Formoso (Orizona) 30.033
Mato Grosso
Goiás 121.582 (8 o)
Jaraguá 90.416
Curralinho (Itaberaí) 75.265
Anápolis 60.451
Trindade 29.240
Anicuns 27.473
Campinas 22.135
Sudoeste
Rio Verde 9.091,8 (5 o)
Jataí 6.021,6
Rio Bonito (Caiapônia) 3.602,0
Mineiros 1.496,3
GOIÁS – 1920
Regiões Tonelagem %
Sul-Sudeste 209.134,5 50,71 (1 o )
Norte-Nordeste 38.452,2 9,32 (4o )
Mato Grosso 62.004,4 15,03 (3 o )
Centro Norte ou Planalto 36.097,7 8,75 (5o )
Sudoeste 66.745,8 16,19 (2 o )
TOTAL 412.434,6 100%
GOIÁS – 1920
GOIÁS - 1920
Regiões No de Cabeças %
Sul-Sudeste 862.784 28,5 (1 o )
Norte-Nordeste 1.098.128 36,3 (2 o )
Mato-Grosso 304.187 10,0 (4 o )
Centro Norte ou Planalto 233.690 7,7 (5o)
Sudoeste 518.980 17,1 (3 o )
TOTAL 3.017.769 100,0
Anexo – 17
Trecho da Rua Almeida Couto, atual Rua Gumercindo Ferreira - Rio Verde, 1930.