2 - Livro PIBID Filosofia
2 - Livro PIBID Filosofia
2 - Livro PIBID Filosofia
9785-65200-10-8
Apresentação 7
Parte I
FILOSOFIA E VIDA PRÁTICA 9
Lição I - A Ética 13
Juliana Ramos
Lição II - Vida Prática 20
Marco Vinício Pereira do Espírito Santo
Lição III - Sobre a Linguagem 28
Deise Oswaldt Podewils
Lição IV - Para Pensar o Amor 34
José Roberto Zanetti Sampaio
Parte II
A FILOSOFIA NA CIDADE 43
Parte III
FILOSOFIA E IDENTIDADE 65
Parte IV
FILOSOFIA E AUTONOMIA 110
7
cos, e, sendo estas atividades de área, permitiram aos bolsistas avaliar
proximidades e distanciamentos do professor de Filosofia dos mé-
todos, conteúdos e práticas que os professores titulares adotavam
na disciplina. Muitos desses professores não possuem formação em
Filosofia, e a discussão metodológica apresentou-se, para os bolsis-
tas do PIBID/Filosofia, insuficiente e insatisfatória.
Assim, cada grupo de bolsistas, de cada uma das quatro es-
colas estaduais vinculadas ao projeto, pensou uma temática a ser
desenvolvida em sala de aula (compatíveis com as exigências pro-
gramáticas encontradas nas escolas) e organizou seu conjunto de
Lições, título carinhoso escolhido pelo grupo para propor um con-
junto de atividades que podem ser utilizadas por todos os professo-
res de Filosofia do ensino médio.
O leitor encontrará Lições desenvolvidas em quatro temáti-
cas norteadoras: Filosofia e Vida Prática, Filosofia na Cidade, Filosofia
e Identidade e Filosofia e Autonomia. A responsabilidade intelectual de
cada uma das Lições, bem como o manuseio das fontes consul-
tadas, é de exclusividade de seus autores, os bolsistas, citados no
início de cada uma das Lições.
Os organizadores.
Pelotas, abril de 2013.
8
Parte i
1. Introdução
2. Método
1
Benedito Nunes (1929-2011). Foi um dos fundadores da Faculdade de Filosofia do
Pará, depois incorporada à Universidade Federal do Pará, UFPA. Foi membro funda-
dor da Academia Brasileira de Filosofia (1989). Aposentou-se como professor titular
de Filosofia pela UFPA, tendo recebido o título de Professor Emérito em 1998.
9
ensino: conceito e transversalidade, de Sílvio Gallo2. Nunes propõe um
percurso para aulas de Filosofia cujos momentos são seis; porém,
serão aqui utilizados apenas os quatro primeiros: o propedêutico, o
interrogativo, o dialógico e o textual. Os outros dois momentos, que
se denominam diversificado e gradual, referem-se à importância da
variação de programas a partir das temáticas envolvidas e da con-
tinuação do ensino de Filosofia nas séries seguintes. Gallo, por sua
vez, propõe outro percurso metodológico, cujos momentos pelos
quais as aulas passarão são: sensibilização, problematização, investigação
e conceituação.
Primeiro Momento:
O primeiro momento corresponde à etapa introdutória
da aula, Nunes denomina este primeiro momento de propedêutico,
anexando a esta etapa a problematização do tema, diferentemente
de Gallo (GALLO, 2007, p. 27-29), que distingue a problematização
desse momento por ele denominado de sensibilização. Sensibilizar o
aluno para o tema posto é mostrar-lhe a relação da temática com
suas vivências.
Segundo Momento:
Após, a sensibilização, ou seja, depois de ser apresentada a
temática, parte-se para o segundo momento da aula, que corres-
ponde à necessidade da problematização. Conforme mencionado
anteriormente, enquanto Gallo considera o primeiro momento da
aula como exclusivo da motivação, isto é, aproximação do tema
trabalhado com o contexto do aluno, Nunes considera a problema-
tização juntamente com o momento de apresentação da temática.
Terceiro Momento:
No terceiro momento da aula, enquanto Gallo o denomina
de investigação, Nunes o chama de investigação textual. Apesar de ha-
2
Graduado em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (1986),
mestrado em Educação pela Universidade Estadual de Campinas (1990), doutorado
em Educação pela Universidade Estadual de Campinas (1993) e livre docência pela
Universidade Estadual de Campinas (2009). Atualmente é professor associado (MS5)
da Universidade Estadual de Campinas.
10
ver uma diferença conceitual, ambos propõem a busca de soluções
apresentadas pelos filósofos no decorrer da História da Filosofia.
Quarto Momento:
No último momento da aula, após todo percurso, deve-se
criar ou recriar conceitos que tragam soluções possíveis à temática.
Nunes não explicita nada sobre a criação de conceitos; Gallo quer
reservar um momento da aula para a recriação de conceitos que
possam trazer soluções para os problemas apresentados e, para tan-
to, deve-se buscar na História da Filosofia autores que trabalharam
com determinados conceitos que possam ser repensados e recons-
truídos. Assim, segue a baixo, a proposta de metodologia a ser aqui
sugerida, cuja natureza dos passos será explicada em cada Lição.
1 - Sensibilização, 2 - Problematização dialógica, 3 - Investi-
gação textual, 4 - Conceituação, 5 - Avaliação.
Bibliografia
11
Lição I
A ÉTICA
Juliana Ramos3
1. Introdução
2. Objetivos
3
Graduada em Filosofia/Licenciatura pela Universidade Federal de Pelotas.
13
contribuição dos filósofos para o debate sobre essas questões será
fundamental.
3. Metodologia
4. Atividades
4.1 Atividade I
14
direitos dos animais, o aborto, a preservação do meio ambiente,
quais são as nossas responsabilidades perante os pobres, suicídio,
eutanásia e pena de morte.
4.2 Atividade II
15
4.4 Atividade IV
5. Recursos
6. Material de apoio
Sugestões de prática:
16
ou uma ação que tenha julgado eticamente aceitável. Peça para que
exponham essa ação, justificando sua opinião.
5. Propor aos estudantes que, em casa, recortem tiras de his-
tórias em quadrinhos que trabalhem a questão da moral e da ética;
depois, em grupo devem construir novas histórias a partir dos re-
cortes selecionados.
7. Atividade sugerida
17
ser assim considerados. A partir disso, pedir aos estudantes que es-
crevam um texto sustentando sua opinião a respeito de cada caso
apresentado. Seguem-se alguns exemplos:
18
Marilena Chauí. Convite à Filosofia. Editora Ática.
Todos os livros da coleção “Os Pensadores”, da Editora Abril.
8. Avaliação
9. Referências Bibliográficas
19
Lição II
VIDA PRÁTICA
1. Introdução
2. Objetivo Geral
4
Graduando em Filosofia pela Universidade Federal de Pelotas.
3. Metodologia
4. Atividades
Nº de aulas: cinco aulas de 45min.
4.1 Atividade I
Café-Filosófico
Este será o momento da sensibilização dos estudantes.
Para tanto, nos utilizaremos de um Café Filosófico, uma discussão
mediada pelo professor diante de palestrantes que desafiam os
estudantes por meio de apresentações temáticas contrastantes.
Tal atividade traz em si o critério motivacional e sensibilizador.
A problemática que será levantada no Café poderá ser a seguinte:
um determinado país possui uma área territorial muito pequena,
possui alto índice de desemprego, além de problemas na seguran-
ça e saúde pública. Por ser localizar em uma região de território
acidentado, também a produtividade agrícola não é satisfatória.
O clima subtropical alterna verões amenos e invernos rigorosos.
O governo de tal país, para prover as necessidades de seu povo,
importa energia de países vizinhos à custa de pesados impostos
sobre seu povo. Em todo território nacional existe um único local
em que os estudos apontam para a possibilidade de construção
de uma usina hidrelétrica que supriria a demanda energética da
população, e ainda haveria a possibilidade de exportar a produção
excedente. Com isso a quantia que seria economizada anualmente
pelo Estado poderia ser aplicada em investimentos para melhoria
de vida da população. No entanto a área onde haveria a possibili-
dade de construção da usina é habitada por grupos indígenas que
já viviam ali mesmo antes da colonização do país, e ainda esta área
abriga um dos últimos remanescentes de floresta úmida daquele
continente. O governo daquele país, para chegar a uma resolução
para a polêmica, resolveu reunir comissões dos dois lados envol-
vidos, para assim tentar chegar a um consenso.
21
Colocada a questão, cabe ao professor conduzir o debate
entre os estudantes a fim de encontrar a possível solução para esta
comunidade. Sugere-se nesta etapa a animação “Os Pajeramas”, de
modo a buscarem-se subsídios à argumentação posterior.
4.2 Atividade II
4.4 Atividade IV
4.5 Atividade IV
22
5. Recursos Necessários
Mídias para a projeção de vídeos, áudio e imagens.
6. Material de Apoio
23
abrangente de teorias que, por sua vez, buscam explicar os cami-
nhos que levam as pessoas a formar Estados ou mesmo a manter
a ordem social.
Hoje, se buscássemos uma definição geral de Política, diría-
mos que ela é o conjunto de atividades as quais necessita o governo
de um país, e que pressupõem ainda alguns elementos essenciais,
sem os quais não pode haver governo. Dentre estes elementos es-
senciais está a autoridade Política que, em um Estado, comporta a
existência de um poder estabilizado e institucional que pretende a
obediência incondicional por parte dos cidadãos. A autoridade Po-
lítica precisa estar sempre acompanhada da legitimação do poder,
esta legitimação consiste no consentimento, por parte da maioria
dos cidadãos, para com a forma de poder vigente.
Ética e Política, uma vez que se referem à vida prática do
homem, têm suscitado amplo debate desde Aristóteles. Se enten-
dermos por Política a atividade que objetiva atingir fins bem espe-
cíficos, como o bem comum, a justiça ou a liberdade, então a refe-
rência à ética passa a ser o natural, pois é o fim da intenção Política,
porém, se entendermos por Política a gestão do poder com fim
em si mesmo, então chegaremos necessariamente a um conflito en-
tre ética e Política. A primeira concepção prevalece geralmente no
mundo antigo; a segunda no mundo moderno a partir de Maquiavel
que inaugura a Política como categoria autônoma.
Para Aristóteles, o âmbito da ética é o mesmo da Política
o bem do homem é também o bem da cidade; a justiça definida
como “a disposição do ânimo graças a qual os homens se inclinam
a realizar coisas justas, agem justamente e querem as coisas justas”
(Aristóteles, Ética A Nicômaco, V, 1129 A). Na Política de Aristóteles
a ação vale tanto para o cidadão enquanto pessoa quanto para a
convivência desde indivíduo dentro da Polis.
A separação entre Política e Ética ocorre na modernidade,
quando se estuda a Política e o Estado pelo que são, e não pelo
que deveriam ser. Neste período, iniciam-se as críticas a república
de ideias, a exemplo de A República de Platão ou a Utopia de Tho-
mas More (1478-1535). Nesta nova perspectiva realista iniciada por
Maquiavel, a Política não é a ciência que tem como fim a justiça,
defendida por Platão, ou o bem comum por Aristóteles, mas é a
24
representação da realidade concreta, efetiva, cujo objetivo funda-
mental é a conservação do poder mesmo que para isso seja neces-
sário utilizar-se de qualquer meio, O filósofo em questão Nicolau
Maquiavel (1469-1527) descreveu como o governante deveria agir
e quais virtudes ele deveria possuir a fim de manter-se no poder e
aumentar suas conquistas, defender uma autonomia da Política e a
manutenção do poder a qualquer custo, a exemplo de sua conheci-
da frase “os fins justificam os meios”.
Thomas Hobbes (1588 -1679) não só separa ética e Política,
como também subordina a primeira à segunda, porquanto a moral
depende do poder político. Em sua obra O Leviatã explanou os seus
pontos de vista sobre a natureza humana e sobre a necessidade de
governos e sociedades. Hobbes defendeu que os homens só po-
dem viver em harmonia se eles concordarem em se submeter a um
poder absoluto e centralizado. Nessa linha, também se situa Hegel
(1770- 1831), que afirma o princípio de razão do Estado, princípio
segundo o qual a moral Política, deve prevalecer sobre a ética pro-
priamente dita.
Na modernidade, um dos defensores da ética na Política é
Immanuel Kant (1724-1804), cujo imperativo categórico, não deves
fazer aquilo que não pode tornar-se uma máxima universal, implica neces-
sariamente uma virada Política. A relação entre ética e Política é
vista em Kant, e posteriormente em Marx, sobretudo com referên-
cia aos direitos fundamentais que possuem homens e mulheres e
sua divisão mais justa. Nesse sentido, o problema da ética até então
enfrentado passa a ser uma questão de justiça, e o Estado Kantiano
torna-se um Estado de direito, racional, fundado sobre a ética.
25
sentadas pela ecologia amplia-se além dos estreitos âmbitos políti-
cos nacionais e abarca toda a humanidade e a nossa sobrevivência
enquanto espécie humana.
Nesse sentido H. Jonas (1903 - 1993) propõe uma ética da
responsabilidade. Seu trabalho se desenvolveu ao tratar de proble-
mas éticos e sociais criados pelo avanço tecnológico. Jonas se preo-
cupava com nossa necessidade de salvarmos o planeta. Para tanto,
o filósofo formulou um novo princípio moral supremo: “Atuar de
forma que os efeitos de suas ações sejam compatíveis com a perma-
nência de uma vida humana genuína”.
Karl-Otto Apel, nascido em 1922, defende uma macroética
planetária, éticas destinadas às Políticas de toda família humana,
visto que pela primeira vez na história, as conquistas tecnológicas
estão em condições de ameaçar a sobrevivência da espécie humana.
Apel irá questionar a pretensão de neutralidade do método técni-
co científico que se autodeclara como o único capaz de um saber
verdadeiro. Para o filósofo, tal método não está isento dos pres-
supostos normativos e ideológicos, pois seus resultados, direta ou
indiretamente, dizem respeito à humanidade.
26
gerado tantas mazelas para o meio ambiente e que ao final pode
se tornar motivo de extinção da própria espécie Humana
PAJERAMA, OS. Leonardo Cadaval (Brasil, 2008) Meio am-
biente. Animação de conotação critica quanto ao desmatamen-
to, das reservas e demarcação das terras indígenas no Brasil.
7. Referências Bibliográficas
27
Lição III
Sobre a Linguagem
1. Introdução
2. Objetivo Geral
5
Graduanda em Filosofia pela Universidade Federal de Pelotas.
28
2.1 Objetivos Específicos:
3. Atividades
3.1 Atividade I
6
Como nos foi lembrado pelas professoras Alcemira Fávero e Carina Tonietto, em
oficina do NUEP aos bolsistas do PIBID, área de Filosofia.
29
2.2 Atividade II
30
Texto 1
A origem da linguagem
Marilena Chauí7
3.4 Atividade IV
7
CHAUI, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ed. Ática, 2011, 14ª Ed.
31
conceituação. Este momento consiste na criação e reelaboração dos
conceitos que devem solucionar as questões que foram levantadas
no tema sobre a linguagem, sendo estes extraídos dos autores que
foram estudados, de modo que a recriação dos conceitos atenda os
problemas predeterminados pelos estudantes.
3.5 Atividade V
Na quinta aula acontecerá a avaliação. Uma sugestão para
que o professor possa avaliar a todas estas aulas, e também observar
se os estudantes obtiveram o entendimento e a compreensão do
tema estudado, é solicitar que os estudantes escrevam memórias a
cada uma das etapas da Lição, concluindo com os questionamentos
que fizeram e as respostas que puderam concluir nas aulas.
4. Recursos Necessários
Rádio, CD, Fotografia.
5. Material de Apoio
Figura 1
O Grito (1893), quadro de Edvard Munch (1863- 1944)
32
6. Avaliação
7. Referências Bibliográficas
CHAUI, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ed. Ática, 2011, 14ª Ed.
SILVA, Tomaz Tadeu da. Identidade e Diferença: a perspectiva dos estudos culturais
- Cap 2 A Produção Social da Identidade e da Diferença. Tomaz Tadeu da Silva
(org). Petropolis, RJ: Vozes, 2009.
LOPES, Edward. Fundamentos da Linguistica Contemporânea. 2.ed. São Paulo: Cultrix,
s.d.
SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de Linguística geral. São Paulo: Cultrix, 1971.
SCHAFF, A. Linguagem e conhecimento. Coimbra: Almedina, 1974.
33
Lição IV
1. Introdução
2. Objetivo geral
8
Aluno do curso de graduação em Filosofia (licenciatura) da universidade federal
de pelotas (UFPEL).
34
gem do professor Silvio Gallo9, antes referenciado na introdução
geral do capítulo. Para aplicação desse método, é importante que
o professor disponha de quatro aulas de quarenta e cinco minutos,
isso para cada Lição trabalhada e dividida em quatro etapas.
Para que todas as etapas de desenvolvimento da Lição fun-
cionem bem, é necessário os estudantes lerem os textos dos filóso-
fos sugeridos pelo professor. O professor deve, a todo o momento,
insistir com a leitura para que os estudantes possam entender me-
lhor os conteúdos filosóficos da Lição.
Um mecanismo para incentivar a aprendizagem dos estudan-
tes seria o de manter um caderno somente destinado para a matéria
de Filosofia. O professor pode orientar seus estudantes para que
anotem tudo o que pensarem ser importante enquanto presenciam
as suas aulas. O caderno também pode ser utilizado como um ins-
trumento de avaliação.
9
Silvio Gallo é professor da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de
Campinas-UNICAMP desde 1996, sendo atualmente coordenador do programa
de Pós-graduação em Educação. Suas pesquisas atuais são voltadas a Filosofia
francesa contemporânea e suas interfaces com a educação, estudando autores
como Deleuze e Foucault, além de se dedicar à investigações concernentes ao
ensino de Filosofia.
35
3.2 Problematização (2ª aula)
36
na? Não seria o amor algo universal do qual devêssemos dar a todos
os seres existentes e não somente dedicar ele a umas poucas pesso-
as, ou mesmo, somente a uma?
Por meio das teses de Zygmunt Bauman poder-se-ia ques-
tioná-los quanto ao fato de o amor no mundo de hoje acontecver
através de relações passageiras e sem compromissos estáveis. Os re-
lacionamentos futuros seriam e se dariam somente através do ‘ficar’
sem compromisso? Poderia haver amor sem responsabilidade para
com o próximo? Não seria o amor uma forma de preencher o vazio
existencial dentro de nós mesmos e se não o podermos preencher
com alguém o que seria necessário para podermos preenchê-lo?
Um produto tecnológico ou relações relâmpagos poderiam suprir
nossa necessidade de encontrar alguma pessoa que preenchesse
nosso vazio interior e todas as nossas carências afetivas?
.
3.3 Investigação Textual (3ª aula)
37
o de amar a todos os seres com a mesma intensidade e não dedicar
esse sentimento de forma egoísta a um único ser.
Para Bauman, o grande mal de nossa época é de não mais
termos responsabilidade com as outras pessoas, pois o sistema ca-
pitalista condiciona as pessoas a agirem como que pudessem tratar
outras como mercadorias a serem substituídas quando não mais
necessárias. Assim, no amor, as pessoas passam a pensar em trocar
de relacionamento quando qualquer problema surgir a sua fren-
te, ou mesmo, quando se ‘enjoar’ da pessoa a que estavam ligadas
afetivamente. Para o autor, o amor seria uma condição necessária
para a nossa evolução de pensamento moral, pois somente através
dessa união podemos conhecer nossos defeitos que se manifestam
com a convivência mútua de um namoro ou de um casamento, por
exemplo.
38
e dissertar como essa relação seria representada para eles, ou seja,
é preciso que o aluno investigue e lide com conceitos dos filósofos
e relacionem os mesmos em sua realidade, escrevendo sobre como
essa transposição de conhecimentos parece se dar.
4 Avaliação
10
Para Gallo, o ato de avaliar é um processo intrínseco da natureza humana, mas
combinado com a ótica capitalista de consumo se torna um mecanismo para clas-
sificar o competente e o incompetente; ao contrário, a prova de Filosofia deveria
incitar o aluno a busca de ruminar os conhecimentos filosóficos. Deve o professor
considerar que as respostas das provas possam ser escritas pelos estudantes com
suas próprias palavras e não com as do professor ou dos filósofos, mas ao mesmo
tempo guiadas pelas ideias desses filósofos. A prova deve estar incluída junto à
investigação, na qual o jovem aprende a pesquisar, cobrando de si mesmo sua
própria produção filosófica ainda que precária. O jovem passa a dissertar associan-
do os seus conhecimentos adquiridos, contextualizando-os com as hipóteses dos
filósofos e formando um novo conhecimento. O professor, ao corrigir as provas,
pode dar prioridade à criatividade do aluno em receber e usar os conceitos dos
filósofos ao seu favor, antes do que pedir uma cópia do que outros já disseram
sobre algo (GALLO, 2009, p. 112-17).
39
A prova serve, também, como instrumento pedagógico para
avaliar o desempenho do aluno em aplicar as suas habilidades e
competências desenvolvidas, por meio da escrita filosófica. Enten-
demos habilidades e competências aquilo que o aluno deveria apre-
ender e adquirir para si mesmo durante seu aprendizado de Filoso-
fia. Conforme os PCNS almeja-se que os estudantes aprendam a:
5. Material de apoio
40
7. Referências Bibliográficas:
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. Temas de Filosofia. São Paulo: Moderna, 2005.
LANCELIN, Aude & LEMONNIER Marrie. Os filósofos e o amor. Trad. André
Telles. Rio de Janeiro: AGIR, 2008.
PLATÃO. O banquete. Trad. José Cavalcante de Souza. São Paulo: Abril cultural,
1972.
SCHOPENHAUER, Artur. A arte de lidar com as mulheres. Trad. Eurides Avance de
Souza. São Paulo – Martins Fontes 2004.
BAUMAN, Zygmunt. Amor liquido- sobre a fragilidade dos laços humanos. Trad. Carlos
Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Jorge Zahar 2004.
ASPIS, Renata Lima & GALLO, Silvio. Ensinar Filosofia: um livro para professores.
São Paulo: Atta Mídia e Educação, 2009.
41
Parte II
A FILOSOFIA NA CIDADE
Introdução
43
Nesse sentido, não há, nestas Lições, a pretensão de desva-
lorizar qualquer conteúdo, o de História da Filosofia, por exemplo,
sequer de descartá-los, visto que é uma responsabilidade do profes-
sor ensinar também a História da cultura na qual cada ser humano
se insere. É imprescindível reconhecer como dever da escola a ta-
refa de oportunizar o conhecimento, a valorização e a preservação
da cultura, bem como de preparar o aluno para a vida futura, como
cidadão, trabalhador, pessoa. Para tanto, ele precisa ser preparado
também para as avaliações: provas, concursos, entre outros. Pen-
sou-se, então, em metodologias de ensino nas quais, primeiramente,
os estudantes precisam ser iniciados no modo de pensar próprio da
Filosofia, para, posteriormente, assimilar os conteúdos da História
da Filosofia, questioná-los, compreendê-los, etc.
A partir desse viés, as Lições foram estruturadas no intuito
de que sirvam como possibilidades de atividades para o ensino da
Filosofia em sala de aula. O tema escolhido para a efetivação destas
Lições foi o de Filosofia e Cidade e, por meio dele buscou-se pensar
questões cotidianas e atuais, que aproximam os temas da Filosofia
às experiências pessoais, tornando o ensino da Filosofia mais sig-
nificativo.
44
Lição V
1. Introdução
45
Ainda de acordo com o pensamento do filósofo, a proposta des-
ta aula tem por pressuposição a necessidade de questionar e de proble-
matizar a cultura urbana. Esta cultura pode ser descrita pela predomi-
nância de pessoas que se ocupam e se preocupam mais com o trabalho
e com o acúmulo de bens (dinheiro, em especial) do que com o cultivo
do humano (autocuidado, amizade, etc.) de suas vontades verdadeiras
e de suas expressões culturais. Em outros termos, pela predominância
de cidadãos que parecem viver mais obedecendo aos regramentos que
lhe são alheios do que pensando sobre as regras necessárias para uma
vida autêntica; uma cultura em que tudo é massificado, padronizado,
previsível e igual em toda a parte, no qual o adjetivo humanidade e o uso
e aprimoramente da razão parecem ter-se perdido.
2. Objetivo Geral
3. Metodologia
46
todos. Em seguida, ele deve escrever no quadro o título da aula e
a pergunta principal: “o que significa ser um humano que vive em
meio a um ambiente artificial?”. Outras disposições das cadeiras (ou
classes) podem ser efetuadas pela turma durante o tempo no qual o
professor escreve. Inclusive, os estudantes podem se organizar em
um grande círculo, por exemplo, o que poderia proporcionar uma
economia de tempo e de disposição da turma em torno da atividade
(o escasso tempo e a pouca atenção dos estudantes, geralmente, são
fatores que dificultam o trabalho da docência).
2. No segundo momento é que a aula inicia de fato. Dessa
forma, é aconselhável que o professor retome, com a turma e bre-
vemente, o que é o trabalho da Filosofia e o que são os conceitos,
introduzindo, nessa explicação, aqueles que serão trabalhados na
aula: justiça, felicidade e liberdade.
3. Ao apresentar a temática e a pergunta principal, o profes-
sor encaminha o debate. Cabe a ele conduzi-lo, mediando as falas
e estimulando as manifestações. Registrar as opiniões dos estudan-
tes e sistematizar as ideias que surgirem no debate, na lousa, é um
recurso importante que precisa ser utilizado por ele (ou ela). Nes-
ta etapa da aula pode-se, inclusive, contextualizar o tema debatido
com fatos do cotidiano comum aos estudantes, com o objetivo de
instigá-los a pensar, a rememorar e a expor suas lembranças e per-
cepções. Esse momento pode ser entendido como “de sensibiliza-
ção”, ou seja, no qual se pretende proporcionar aos estudantes a
sensação de envolvimento com o tema discutido.
4. Tendo iniciado o debate, o próximo passo necessário é
tornar o problema uma “questão filosófica”. Isso pode ser feito
relacionando o assunto discutido com algumas questões constantes
para a Filosofia, como os temas da liberdade, da felicidade, da jus-
tiça, do bem e do mal, entre outros. Também pode ser interessante
a exposição, mesmo que panorâmica, do pensamento dos filósofos
mais conhecidos sobre estas questões.
Nietzsche é o filósofo sugerido para essa atividade, mas
outros abordam problemas assemelhados, como Marx, Foucault
e Baudrillard, por exemplo. A escolha do suporte teórico é uma
decisão que cabe ao professor. Vale ressaltar que o objetivo, nesse
momento, não é o mesmo que ocorre na universidade, ou seja, que
47
os estudantes apreendam o pensamento de algum autor. Ao con-
trário, o pensamento do autor é o suporte teórico para debater o
tema proposto.
5. A seguir, passa-se para o estágio da síntese, a qual será
realizada pelos estudantes em forma de texto. O professor precisa
relembrar aos alunos que uma redação precisa ser completa, isto é,
composta por início, meio e fim, com o problema (tema, objeto de
estudo ou questão) e os argumentos explícitos. Além disso, é pre-
ciso explicar o que deve conter cada uma destas etapas. É desejável
que o professor traga (pronto) um esquema que contenha os itens
principais para a elaboração da redação, incluindo os componentes
e as normas para a escrita do texto. É recomendável que seja cedido
tempo, durante a aula, para a elaboração destes.
Será a partir deste material que o professor irá, posterior-
mente, trabalhar a lógica necessária à argumentação textual. O tex-
to, na primeira escrita, tende a conter confusões na argumentação e
na estruturação, não podendo receber a análise da lógica necessária
a esse plano de aula, com nota, por exemplo. Por isso, é preciso re-
colher as redações dos estudantes, corrigi-las e devolvê-las com os
comentários e sugestões para que sejam refeitas. Fornecer tempo,
em aula, para a elaboração das “novas” redações é importante e,
por isso, este processo pode levar até três aulas, devendo ser en-
cerrado quando o professor julgar que o processo foi satisfatório.
4. Avaliação
5. Recursos
48
6 . Referências Bibliográficas
49
Lição VI
1. Introdução
50
excesso (ou “avalanche”) de informações emitidas pela mídia, em
especial, que tem o intuito de, muitas vezes, “moldar” o pensamen-
to das pessoas a fim de torná-las manipuláveis para que atendam
aos fins determinados por aqueles que querem impor uma forma
única de entender a vida, o mundo, etc. Nesse sentido, esta Lição
pretende esclarecer e discutir a compreensão da realidade pela ótica
da ideologia.
2. Objetivo geral
3. Metodologia
51
afirma Gallo (2005, p. 27), “trata-se de fazer com que os estudantes
incorporem o problema para que possam vir a criar um conceito.”
Na sensibilização, pode-se utilizar uma música, um poema, uma
pintura, um filme, uma história em quadrinhos, entre outras pos-
sibilidades.
b) Problematização – nesta segunda etapa se busca transfor-
mar o tema (ou assunto) em um problema filosófico, fazendo com
que ele suscite, em cada um, o desejo de buscar soluções. Neste
momento, é possível que se proponham discussões, apresentando
situações em que o problema possa ser analisado por diferentes
ângulos, e problematizado em seus diferentes aspectos. Estimula-
-se, desta forma, o sentido crítico e problematizador da Filosofia,
exercitando o questionamento e a desconfiança em relação às afir-
mações que têm a pretensão única de verdade.
c) Investigação – nesta terceira etapa acontece a busca de
elementos que permitem a possível solução do problema a partir
dos referenciais encontrados nos textos de filósofos. A investigação
filosófica vai concentrar-se na busca de conceitos na História da
Filosofia, os quais podem servir como instrumentos para pensar
o problema em questão. Segundo esta perspectiva, a História da
Filosofia não ocupa o centro do ensinar Filosofia, mas tem o papel
de referencial teórico.
d) Conceituação – por fim, há a busca de “recriar” os con-
ceitos encontrados nos textos dos filósofos de modo a esclarecer o
problema, ou mesmo de elaborar novos conceitos. Esta última eta-
pa é central, pois ela é o “diferencial”: a Filosofia não pode ser pen-
sada como contemplação, reflexão ou comunicação, apenas, pois os
conceitos estudados a partir da História da Filosofia servirão como
matéria-prima para a atividade de criação ou recriação de conceitos
a partir do problema proposto.
52
que o educador é o que “sabe tudo” e, por isso, assume uma posi-
ção de transmissor de conteúdos, enquanto que os estudantes apre-
sentam posição passiva, como receptáculos de conteúdos prontos.
Neste encontro de estudos, o educador e os estudantes têm a
finalidade de esclarecer alguns aspectos do problema filosófico em
questão. Seguem abaixo os passos que orientam o desenvolvimento
dos encontros:
1º passo – como forma de sensibilização e de início do en-
contro, a sugestão é exibir o filme brasileiro Rio 40 graus, dirigido
por Nelson Pereira dos Santos, que aborda o comportamento de
vários segmentos da sociedade e, ao mesmo tempo, a utilização da
ideologia para a manutenção de certos privilégios.
2º passo – neste momento da problematização, o mediador
buscará orientar a transposição do tema para um problema filosófi-
co, ou seja, da realidade para a sua compreensão. Algumas questões
podem ser utilizadas para conduzir esta etapa:
1) Em quais comportamentos do filme pode-se perceber
uma compreensão da realidade que não condiz com os fatos?
2) Você já percebeu algo semelhante em seu meio?
3) Quais são as outras leituras possíveis da realidade?
4) O que é uma “leitura ideológica”?
53
e culturais, sem jamais atribuir tais diferenças à divisão da sociedade
em classes, a partir das divisões da esfera de produção. Pelo contrário,
a função da ideologia é a de apagar as diferenças, como a de classes,
e de fornecer aos membros da sociedade o sentimento da identidade
social, encontrando certos referenciais identificadores de todos e para
todos, como, por exemplo, a Humanidade, a Liberdade, a Igualdade, a
Nação, ou o Estado.
5. Recursos
6. Material de apoio
7. Avaliação
54
8. Referências Bibliográficas
ASPIS, Renata Pereira Lima; GALLO, Sílvio. Ensinar Filosofia: um livro para pro-
fessores. São Paulo: Atta Mídia e Educação, 2009.
CHAUÍ, Marilena. O que é ideologia. São Paulo: Brasiliense, 1980.
COTRIM, Gilberto. Fundamentos da Filosofia: história e grandes temas. São Paulo:
Saraiva, 2006.
GALLO, Sílvio. A Filosofia e seu ensino: conceito e transversalidade. Curso “Filoso-
fia e Vida”, 2005. (27-29)
55
Lição VII
A Filosofia e a Grafitagem
1. Introdução:
2. Objetivo Geral:
3. Objetivos Específicos:
56
IV) Reconhecer a importância da arte na vida humana;
V) Questionar a função da arte e da estética na sociedade
VI) Buscar a conscientização, enfatizando, a necessidade do
cuidado com relação ao patrimônio privado, mas em especial o pú-
blico.
3. Metodologia:
4. Atividades:
4.1 Atividade 1:
Texto:
Pichação x Grafitagem
Primeiramente iremos esclarecer o que é estética, e o motivo
dela ser estudada pela Filosofia. A palavra estética é usada comumente
como sinônimo de beleza, podendo ser encontrada atualmente em vá-
57
rias situações, como: estética facial, estética capilar, estética do automó-
vel, entre outras. “A palavra estética vem do Grego, AISTHESIS que
significa faculdade de sentir...” (Aranha; Martins, 1993).
Podemos perceber que a estética, ao relacionar-se com o sen-
tir, abrange o tema da beleza, mesmo quando estudada pela Filoso-
fia. A Filosofia, ao longo da História, tem como tema de estudo as
questões referentes ao belo e à beleza, por isso a estética é um ramo
da própria Filosofia. A estética, enquanto disciplina da Filosofia,
surgiu na Grécia Antiga como uma reflexão sobre a manifestação
da beleza natural e do belo artístico, podendo estudar racionalmen-
te o belo e o sentimento que este provoca nos seres humanos.
Platão foi um dos primeiros filósofos a formular a pergunta:
O que é o belo? O belo foi entendido por ele como uma manifesta-
ção do Bem, da Ideia, da perfeição e do que é verdadeiro. Para os
gregos, o belo não possuía apenas um valor estético, mas também
uma dimensão moral.
Ao longo dos séculos, a estética tem sido estudada por vá-
rios filósofos, e até na atualidade ela é utilizada e questionada, pois
estamos sempre ligados a ela, mesmo que não o percebamos. Junto
à definição de estética há uma pergunta que não quer calar: Será
que podemos definir o que é belo e o que é feio? ou ainda, Essa definição não
seria relativa, dependendo da pessoa, da época ou do lugar?; ou, em outros
termos: O conceito do belo pode mudar de pessoa para pessoa?
Alguns filósofos acreditam que o belo ocorre por meio dos
sentidos, pois ele é o prazer ou o desprazer que é sentido nas coisas
oferecidas aos sentidos: visão, audição, tato, olfato ou paladar.
Agora que sabemos mais sobre a estética e a relação do belo
com a Filosofia, podemos passar para o segundo ponto da aula: a
definição de arte, e após, de “pichação” e de “grafitagem”, e a for-
ma como encontramos essa relação no nosso cotidiano.
A pichação não é uma prática recente. Ao contrário: ela foi
encontrada nas paredes de antigas civilizações. Pode-se dizer que a
pichação “evoluiu” ao utilizar tinta em spray, pois assim a execução
da pintura ficou mais rápida. A pichação usa, em sua elaboração, as
letras e as formas, expostas de maneiras diferentes, podendo expor
protestos políticos, disputas entre gangs, xingamentos diversos, ou
apenas uma forma de alguém “demarcar o território”.
58
Com o passar do tempo, esta prática foi perdendo seu ca-
ráter ideológico de protesto, acabando por ser marginalizada, isto
é, desvalorizada. Atualmente, o que interessa aos seus adeptos não
é a quantidade ou a beleza do trabalho, mas o grau de dificuldade
para realizá-lo, por exemplo, um prédio alto, uma ponte, os muros
particulares e os monumentos públicos. Por isso, a pichação é con-
siderada um ato ilícito, motivo de represália e de punição.
A palavra grafite tem sua origem na Itália, e significa “es-
crita feita com carvão”. Esta prática é conhecida desde o Império
Romano, e ela é uma elaboração mais complexa da pichação, isto
é, ela evoluiu por meio do uso de técnicas e de desenhos. O grafite
está ligado diretamente a vários movimentos, em especial ao Hip
Hop (e assim, expressando a realidade das ruas), porém, também
é encontrada no mundo das artes visuais (funcionando, neste mo-
mento, como método).
Filosoficamente tratando, a estética é o estudo do belo ou do
repulsivo captado pelos sentidos humanos. Nesse sentido, nada é
mais contemporâneo do que a arte exposta nas ruas, pois esta pode
ser considerada mais uma possibilidade da estética exposta em for-
ma de arte: a pintura.
Atualmente encontramos o grafite e a pichação espalhados
tanto pelas ruas das grandes quanto das pequenas cidades: não é
preciso buscar muito longe os exemplos, pois essa arte está pre-
sente em muros, mas também se apresenta como “vandalismo”, ao
sujar os monumentos públicos. Entretanto, é preciso ressaltar que
o grafite é mais do que a evolução da pichação, pois os grafiteiros
buscam preservar a arte, respeitando a sociedade e seus espaços
públicos e privados.
A partir da estética podemos definir a grafitagem, a arte das
ruas, como é comumente conhecida, como uma “obra de arte”.
Sendo o belo uma questão de “gosto”, isto é, possuído subjetiva-
mente por cada pessoa, não se pode excluir a arte das ruas do rol
das artes, pois o grafite pertence à cultura urbana. Na cidade, o
grafite está ao alcance de toda a população, independente da condi-
ção econômica, social ou outra. Assim, ele não carece de conheci-
mentos específicos para ser apreciado, avaliado ou compreendido,
podendo ser denominado de “arte popular”.
59
O grafite atrai os jovens, recebendo espaço nos estúdios de
arte, sendo respeitado e formando artistas conceituados pelo mun-
do afora. Esta modalidade começa, inclusive, a receber a atenção da
mídia. Um exemplo disso pode ser encontrado em uma reportagem
extraída da folha de São Paulo:
4.2 Atividade 2
60
• Oportunizar que os próprios estudantes elaborem questões
e, se possível, que eles mesmos as respondam.
4.3 Atividade 3
• Após a interpretação do texto, entregar mais atividades
para serem feitas em aula, com o seguinte pedido:
1) A partir do texto, encontre as respostas no caça-palavras
que te auxiliem a responder as perguntas abaixo:
• Nos dias de hoje, a grafitagem pode ser considerada uma
forma de estética?
• Qual é a forma de arte que utiliza os muros das cidades
como painéis de exposição?
• Qual é o filósofo que considera o belo como a manifesta-
ção do Bem?
• O grafite está ligado, em especial, a qual movimento jovem?
• Qual é o ramo da Filosofia que estuda o belo?
• Qual é a prática artística que se tornou marginalizada ao
longo do tempo?
• Em qual país surgiu o termo e a prática do “grafite”?
• Qual é a prática artística que teve sua evolução a partir da
pichação?
• O que significa “AISTHESIS”, em grego?
• O que ocorreu ao grafite a partir do uso de técnicas e de
desenhos elaborados?
• Qual é área do conhecimento humano que estuda o belo?
B E S F I L O S O F A N D O N A O H U S
I F A H J G O K A D I E T A N O L X Z F
G R A F I T A G E M A L O U C A S A D O
B S E C M S P E I O G R O H D A D O A I
B I S Z U B T I Z M G R A F I T A G E M
X B G M F L O O N U B X L O T E R I S A
C E A U S Y D U R C M A O F A S T Z L P
V L D C U I C A I I H V G A L V E I O X
G O L E D H M N D B A E I O I P S C T Z
61
R R C S G D S X V E V B C F E V N O H V
A F V T K B J I M L D F A B I O F D C V
E F X E V O L U Ç A O E B H I P H U K F
D I G T F U J P K T Ç S S H L X Ç P K I
A T W I V N H I D A Q I G E O H P I H L
N A K C G V P C B O M N C D N V O G V O
C V G A V N J H N B V B P L A T A O M S
H L K E R O M A Z X L I O I N B I B N I
H F I M S P I Ç X B H I P H O P G R B F
G R E C I A N A S O C R A T E S P B V I
K J P L G S F O C T X E U V I T A L I A
5. Recursos:
Texto impresso.
6. Material de Apoio:
7. Avaliação:
62
8. Referência Bibliográfica:
63
Parte III
FILOSOFIA E IDENTIDADE
65
Lição VIII
1. Introdução
2. Objetivos
67
II) Promover o estudo e a análise de alguns tópicos da Filosofia;
III) Oportunizar o contato dos estudantes com a argumen-
tação filosófica;
III) Possibilitar que os jovens reconheçam a importância das
perguntas e das argumentações filosóficas em contraponto a outras,
de cunho não filosófico.
3. Atividades
3.1. Atividade I
Homem abstrato?
Há, na Filosofia Moderna, uma corrente de pensamento
denominada Idealismo,12 na qual o sujeito – o eu, é consciência, isto
é, ser significa ser contido na consciência. O Idealismo é, assim,
uma maneira de compreender o ser, não reduzindo toda a realidade
à consciência, mas afirmando que a realidade é determinada pela
consciência. Ou seja, o sujeito condiciona o mundo à medida que
ele é representado pela consciência.
A identidade torna-se a condição para todo o desenvolvi-
mento do ser, não sendo, assim, simplesmente o resultado das re-
presentações empíricas. Isto fica mais claro quando exposto a partir
da Filosofia de Fichte que busca, partindo de um princípio metafísi-
co, conferir sentido para toda a realidade. Esse princípio chama-se
“Eu-puro”. Toda ação pura é incondicionada.
12
O “Idealismo” é o movimento filosófico que tem seu correlato o “Romantis-
mo”, na literatura. É comum que eles sejam utilizados como sinônimos, prática
incorreta, mas oriunda do fato de autores como Schiller terem escrito tanto Fi-
losofia quando Literatura.
68
O Eu-puro é livre e criador de toda a realidade. A partir dele
torna-se possível a compreensão do “Eu substancial” ou “mundo das
representações”. O Eu-puro, exposto por Fichte, não corresponde a
uma alma imortal do homem, mas a uma ação, pois ele é ação pura,
dinamismo puro, do qual todas as coisas derivam. Sendo uma atividade
pura da autoconsciência, ele coloca a si próprio no mundo, bem como
as coisas externas a ele. A consciência empírica, denominada, nesse
pensamento, de “Não-eu”, distingue-se do Eu-puro ao ser colocada
no mundo por este. Em outros termos, a atividade do Eu-puro co-
loca o Não-eu no Eu. Assim, continua existindo uma única esfera no
mundo, a do Eu, pois a esfera do Não-eu é apenas uma derivação do
Eu. Porém, apesar da atividade do Eu-puro ser infinita e incondicio-
nada, o homem possui ainda uma consciência individual, exposta pela
sequência de seus atos, que não são mais do que atividades do Não-eu,
trazendo por sua vez, limitações na atividade do Eu-puro.
O mundo sensível, ou mundo das representações, é o obs-
táculo para a liberdade da atividade do Eu-puro, tornado sensível,
onde nele o homem deve ser capaz de cumprir o seu “dever moral”.
Dessa forma, a liberdade do Eu- puro coloca obstáculos para o
exercício de sua própria atividade. Nesse mundo de representações,
Fichte pretende subordiná-lo ao mundo da interioridade e da liber-
dade humana, em sua concepção ele defende que “o Eu produz a
atividade real como limitada e a ideal como ilimitada”.
A partir do Idealismo de Fichte, pode-se analisar o ser a par-
tir da atividade do Eu, que é apenas uma das formas de conceber o
sujeito, mas que por sua vez analisa o ser partindo de um conceito
geral de sujeito, isto é, a identidade é uma condição para todo o
desdobramento do ser à medida que o sujeito é toda a ação pura e
dinâmica, criadora de todas as representações.
Exerício:
69
3.2 Atividade II
3.3 Atividade II
70
3.4. Atividade IV
4. Recursos
5. Material de apoio
6. Avaliação
71
7. Referências Bibliográficas
72
Lição IX
1. Introdução
73
2. Objetivos
3. Atividade
4. Recursos
5. Avaliação
74
tendo em vista os novos conceitos aprendidos. Desta forma, o/a
estudante pode notar a evolução de seu próprio conhecimento ou
pensamento.
6. Atividades
Atividade I: sensibilização
75
relação aos bens de consumo (observação: tudo isso é mostrado
nas primeiras cenas).
Certamente, até este momento o aluno ainda pode se sentir
afastado da problemática. Convém, então, direcionar a análise e a dis-
cussão para os problemas que envolvem o tema de forma filosófica.
Sabe-se que o indivíduo, tal como é compreendido hoje, pos-
sui uma caracterização e uma compreensão recente, que difere mui-
to da forma como foi entendido na Idade Média e na Modernidade,
por exemplo. Cabe ao professor, assim, questionar, como e quando
surgiu a ideia atual de homem, e quais são as consequências disso.
Paralelamente, pode-se inquirir:
1) Qual é (ou são) a diferença entre o individualismo que
surgiu na Modernidade tardia daquele que é criticado no filme?
2) Em sua opinião, o ser humano é, por natureza, um ser
egoísta? Qual é a resposta defendida no filme?
3) Há alguma contradição entre o individualismo e a sociedade?
4) O que é um “sujeito concreto”?
5) Qual é o reflexo da descoberta do “sujeito concreto” nas
identidades?
6) Quais são as principais diferenças entre a concepção mo-
derna de indivíduo e a pós-moderna?
76
respostas. Espera-se que os alunos tenham buscado responder as
questões que foram propostas. É importante que haja um retorno
constante dos trabalhos realizados, pois uma aula é mais produtiva
quando se realiza a leitura de algumas das respostas apresentadas,
fazendo um levantamento das possibilidades elencadas com relação
ao tema e, após, organizar os grupos de pesquisa.
Os grupos podem ser divididos por questões, subtemas, au-
tores, livros ou períodos da História da Filosofia. O intuito é que
estes grupos procurem pelas respostas fornecidas por outros filó-
sofos às mesmas questões.
Com a distribuição das tarefas, inicia a fase de orientação
para a pesquisa. Para este momento, sugere-se a utilização da bi-
blioteca ou do laboratório de informática (se disponível). Também
podem ser utilizados materiais fotocopiados com fragmentos de
obras filosóficas ou livros que abordem o tema.
No final desta atividade, é preciso que se proponha a ela-
boração de um texto, o qual deve ser entregue antes da próxima
atividade. Neste texto (em forma de dissertação), o resultado da
pesquisa feita pelo grupo de estudantes estará exposto.
77
• O que representou esta alteração no modo de pensar o sujeito,
nos dias atuais;
• As consequências desta concepção para a formação da identidade;
• O reforço que os pós-estruturalistas conferiram à esta ideia;
• A contribuição desta alteração para a fragmentação das identi-
dades.
9. Textos Complementares
uma época (ou do ser humano em geral), o qual é julgado como estando completo.
78
regente de suas ações, denominada de cogito. O próprio discurso carte-
siano se dirige a um homem que não é o “homem concreto” (isto é,
de “carne e osso”), mas um homem enquanto ideia, conceito, espírito.
Segundo o comentário de Stuart Hall (1932) esta concepção sustentava
uma identidade estável do ser humano, e consequentemente, um apa-
rente sujeito imutável para a moralidade. Porém, o impacto desta nova
concepção de identidade só vai ser sentido significativamente mais tar-
de, em meados do século XX, com aquilo que este mesmo autor consi-
derou como a “fragmentação das identidades”, algo que ele julga estar
em processo, na atualidade.
Dessa forma, após a morte de Hegel houve uma reação à
ideia de sujeito concebida como entidade abstrata, e as identidades
sofreram um abalo significativo devido a essa mudança. Na metade
do século XX surgiu um movimento em reação às ideias estrutura-
listas que resgatou esta concepção abstrata de sujeito. Este movi-
mento, denominado pós-estruturalista, criticava a confiança que os
estruturalistas depositavam na ciência, colocando novamente em
pauta a crítica à Filosofia hegeliana. Com isso, novamente o sujeito
se encontra desprovido de bases teóricas seguras para firmar sua
identidade de forma consistente.
79
10. Referências Bibliográficas
80
Lição X
Identidade e Gênero
1. Introdução
14
O termo “gênero” é plurívoco, pois pode referir-se à biologia, matemática, músi-
ca, etc. No presente contexto trata das questões de sexo, ou seja, àquilo que é feito
para identificar o masculino ou o feminino, geralmente.
15
“Movimento identitário” refere-se à produção, transformação e reprodução das
identidades inseridas em uma cultura, normalmente com conotação política.
81
2. Objetivos
3. Atividade
16
Por “aula” se compreende um período de cerca de 50 minutos.
82
ção); no quarto (uma aula), a “conclusão” e a “produção”: elabora-
ção do autorretrato (segunda avaliação).
Sugere-se que as atividades não sejam fragmentadas em sua
realização porque, apesar de haver uma sequencia didática definida,
dividindo-as, elas precisam ser consecutivas (dois ou, no máximo,
três encontros).
17
HEDWIG and the angry inch. Direção: John Cameron Mitchell. Estados Unidos,
distribuído por Fine Line Features e New Line Cinema, 2001. 1 DVD (95 min). Sendo
um músicasl, recomenda-se assistir com áudio original, legendado em português.
18
Adjetivo que se refere estilo do poeta Aristófanes.
83
3.2 Atividade de “Travestimento”
Identidade e Gênero
84
nha essência ‘interna’ [meu eu] é feminina”. (Newton, 1972, apud
Butler, 2010, p. 195-196)
Pressupondo a existência de dois gêneros distintos e até mes-
mo opostos, feminino e masculino, o travesti “brinca” com essa si-
tuação. Mas, pode-se perguntar: “Até que ponto realmente existem
estes gêneros (biologicamente justificados), isto é, é possível existir
mulheres ‘dentro’ de corpos masculinos?” O travesti, sendo uma
sátira dessas duas instâncias, pode indicar uma possível resposta.
Simone de Beauvoir, uma das precursoras do feminismo na
Filosofia francesa do século XX, desenvolveu sua teoria baseada
nas relações binárias, como se gênero fosse um atributo, uma subs-
tância ou um núcleo preestabelecido. Beauvoir queria reverter a dia-
lética assimétrica presente na economia de oposições exposta em O
Segundo Sexo, no qual a “mulher” é sempre posta como “o Outro”
em relação ao “homem”, que se define livremente, tomando a mu-
lher da mesma forma que a Natureza: “Ele a explora, mas ela o
esmaga, ele nasce dela e morre nela; é a fonte de seu ser e o reino
que ele submete à sua vontade.” (Beauvoir, 1970, p. 184)
Partindo de dicotomias – o que se justifica na análise do con-
texto histórico dessa autora – também se há a ilusão de que “su-
jeito” e “predicado” são realidades ontológicas “anteriores”. Beau-
voir esqueceu a crítica nietzschiana à metafísica da substância, que
remonta a Descartes. Tal comparação ajuda a perceber o engano
em pressupor conceitos (que hoje sabe-se) elaborados e alterados
historicamente, ou seja, considerados naturais, preexistentes.
Retomando a discussão sobre termos definidores tais como
“mulher” e “feminino”, questão corriqueiramente em pauta, pode-
-se mudar inteiramente o foco do movimento feminista, e a opinião
de Beauvoir poderia reduzir o valor da busca por direitos iguais.
Os sujeitos compreendidos por “mulheres”, definidos a partir des-
tes termos, corresponderiam àqueles que não têm nada em comum
além da própria opressão, e que tentam a emancipação por meio do
reconhecimento da lei, como a luta pelo direito ao voto feminino,
que pode se tornar apenas uma “aparência de emancipação”.
Foucault, por seu turno, chama a atenção para o fato de
que estes mesmos sujeitos [as ditas mulheres] são produzidos so-
cialmente, e posteriormente a sociedade quer representá-los. Isso
85
ocorre por meio de uma coercitiva e negadora atitude de limitação.
Dessa forma, surgir um “sujeito” com “traços de gênero determi-
nado” faria parte da própria produção social - os que se encaixam
na categoria “mulheres”. (Cf. Butler, 2010, p. 18-19)
Nesse sentido, “a hipótese prevalecente da integridade on-
tológica do sujeito perante a lei pode ser vista como o vestígio
contemporâneo da hipótese do estado natural.” (Butler, 2010, p.
19-20) Dessa forma, surge a seguinte pergunta: estariam as mulhe-
res unidas por algo anterior a esse estado de opressão em que se
encontram? (Cf. Butler, 2010, p. 21) Se assim o fosse, seria possível
delimitar em que ponto “sexo” virou “gênero”, o que não acontece.
Então, se pode concluir, tal como a teórica contemporânea
Luce Irigaray (Cf. Butler, 2010, p. 30) o fez, em uma apropriação do
pensamento de Lévi-Strauss: a dialética diagnosticada por Beauvoir
está diretamente vinculada, e ocorre apenas por intermédio das di-
ferenças de gênero, pois “’Sexo’ está para a natureza ou a ‘matéria-
-prima’ assim como o gênero está para a cultura ou o ‘fabricado’.”
(Butler, 2010, p. 65) Apesar das limitações apresentadas, Beauvoir e
sua célebre frase “Não se nasce mulher, torna-se mulher” parecem
mostrar que há, de alguma forma, uma sensibilidade da categoria de
gênero às mudanças em sua caracterização. Então, pode-se concluir
que o gênero é uma elaboração social, entrelaçado à História.
Foucault aponta para uma perspectiva na qual a construção
social de toda sexualidade está diretamente ligada às instituições,
tais como a família, a Psicanálise, a biologia. Na obra História da
Sexualidade (vol. 1 – A vontade de Saber), pode-se perceber pelo
exposto que, no século XVIII, ao parecer ter havido uma censu-
ra19, houve, de fato, uma incitação ao falar sobre sexo, e assim, de
alguma forma, surgindo a scientia sexualis, apesar do controle que a
Confissão exerceria sobre os indivíduos, em uma espécie de prazer
por contar, buscando-se o “saber do prazer” – que gerava outro
prazer, o de vigiar, controlar, extorquir a verdade do outro. Há, no
falar, uma incitação política, econômica, técnica: o discurso não é
apenas moral, mas também da racionalidade (Cf. Foucault, 2010, p.
19
Hipótese repressiva: Foucault a refuta demonstrando que, em plena Era Vitoria-
na, falava-se mais sobre sexo do que antes desse período.
86
30). Acredita-se que é a primeira vez na História que se tenta enten-
der o sujeito partindo da sexualidade, o que, para Foucault, explica
a possibilidade de “gerar” um sujeito a partir desta.
Ainda segundo Foucault (2010, p. 69), a Confissão libera;
porém, o poder reduz ao silêncio. A verdade não pertence à ordem
do poder, pois possui um parentesco originário com a liberdade: eis
aí alguns temas tradicionais da Filosofia que uma “história política
da verdade” deveria resolver, segundo ele, mostrando que nem a
verdade é livre por natureza, nem o erro é servo: sua produção é
inteiramente infiltrada pelas relações de poder, sendo a Confissão é
um bom exemplo disso.
Ainda nessa perspectiva teórica, os atributos que estes su-
jeitos (formulados pela lei produtiva da regulação a partir do sexo)
possuirão originam-se da obsessão social em buscar a “heteronor-
matividade”. Como Foucault (2010, p. 27-28) demonstra, a partir
da análise da obra de Sade, até mesmo o discurso da transgressão se
deve às leis de produção, pois há um discurso que a incita.
Nesse viés, o feminismo e outros movimentos emancipatórios
não passariam de ilusão. Com a concepção de que o corpo por si só
não carrega nenhum dos atributos tidos como naturais, Foucault con-
trapõe-se à heteronormatividade, problema geral que veio a tomar o
lugar correspondente ao que era o “machismo” para o feminismo. A
heteronormatividade seria a compulsão social em produzir homens e
mulheres “naturais” (ou seja, de acordo com o comportamento das re-
gras da biologia), heterossexuais (que desejam o sexo oposto), em uma
“jogada binária” tão perfeita a ponto de facilmente convencer sobre
uma suposta “naturalidade” desta no ser humano.
O corpo recebe um significado no discurso em um contexto
de relações de poder, de discurso, de corpos e da afetividade. Como
tal, Foucault compreende que a sexualidade produz o “sexo” como
um conceito artificial que efetivamente amplia e mascara as relações
de poder responsáveis por sua gênese. (Cf. Butler, 2010, p. 137)
Assim, o suporte teórico ao atualmente denominado de Te-
oria Queer, palavra anteriormente utilizada como termo pejorativo
para adjetivar sujeitos com comportamentos sexuais “diferentes”,
apropriada pelo Movimento, passa a definir, justamente o oposto,
isto é, reforçando “a diferença que não quer ser assimilada ou tole-
87
rada.” (Louro, 2001, p. 546) Mesmo sendo uma luta de mulheres, o
feminismo também abriu a possibilidade deste (Queer) e de outros
movimentos libertários (como o da luta negra, o do orgulho gay)
não simplesmente indagar sobre o que é a “mulher” – e conse-
quentemente um pergunta sobre o que faz de alguém um “sujeito”
-, mas também pela mudança de tática na década de 80, nos EUA,
quando se notou que as mudanças legislativas não se configuraram
como a forma mais “real” para a emancipação. A semelhança ide-
ológica entre os vários movimentos citados se explica facilmente
através do fato de que eles tratam de movimentos radicalmente li-
gados à questão identitária – o que é sempre um assunto polêmico
na contemporaneidade.
“Provisório, circunstancial e cindido”, nas palavras de Hall
(2006), esse é o “sujeito” contemporâneo na perspectiva do pós-
-estruturalismo. A Modernidade é um conceito que porta a noção
de rompimento total com o passado, com a fragmentação e a disso-
lução nos mais internos setores da organização da civilização Oci-
dental, o que leva a uma descentralização.
A Pós-modernidade surge basicamente de um rompimento
com o indivíduo cartesiano, o que Hall ilustra citando cinco aconte-
cimentos básicos: 1) As interpretações de Marx realizadas nos anos
60 do séc. XX, nas quais se encontra um “anti-humanismo”, uma
negação de uma essência universal do ser humano, negando assim
“o sujeito do empirismo, da essência ideal”; 2) A descoberta de
Freud do inconsciente que acaba com a ideia de um sujeito plena-
mente racional, e mostra que existem “forças ocultas” na constitui-
ção dos sujeitos; 3) Saussure, o qual explica a linguagem enquanto
anterior ao falante, e sendo mantida por uma comunidade linguís-
tica que compartilha de seus significados, derivados estes de opo-
sições tais como “o outro é o outro porque não é eu”. As palavras
(assim como a identidade dos sujeitos) são entendidas como mul-
timoduladas, nunca fixando para sempre seus significados, como
afirma Derrida; 4) Foucault, o qual esboça uma espécie de “gene-
alogia do sujeito moderno”, diagnosticando “o poder disciplinar”
que é um instrumento utilizado para controlar a vida de todos de
modo individual e individualizador, a fim de tornar os corpos “dó-
ceis”, o que, a partir de limitações, mais produz do que restringe.
88
Além disso, quanto mais coletiva a instituição, mas individualizado-
ra ela seria; 5) Os movimentos sessentistas vinculados a maio de 68,
os quais, de modo geral, se opunham: à política de massas; a todas
as formas burocráticas; ao stalinismo e ao capitalismo, e eram divi-
didos de acordo com as identidades: havia o grupo de lutas raciais,
o movimento antibelicista, entre outros. (Cf. Hall, 2006, p. 34-46)
Entretanto, o mais significativo dos movimentos foi o do
“feminismo”, com seu slogan “o pessoal é político”. Desta forma,
ele “politizou a subjetividade”, ou seja, a identidade. Como afir-
ma Hall (2006, p. 45-46, com grifos do autor), “uma mudança de
política de identidade (Classe) para uma política da diferença.[...]
Aquilo que começou como um movimento dirigido à contestação
da posição social das mulheres expandiu-se para incluir a formação das
identidades sexuais e de gênero.”
Porém, o objetivo da exposição sobre o “sujeito
contemporâneo”20 é demonstrar, como o fez Hall (2006), um en-
cadeamento de teorias que buscam extinguir o conceito de “sujei-
to” apregoado pelo Iluminismo, indicando a influência que o meio
desempenha, diagnosticando as “forças ocultas” que operam – já
previstas por Nietzsche21 -; entendendo a estrutura de funciona-
mento dos constructos sociais; se deparando com a importância
da linguagem; e finalmente, com Foucault, traçando a genealogia
das formas de poder, as quais, mais do que as anteriores, em sua
produção, individualizam e “moldam” os sujeitos. É claro que tudo
isso resultaria em uma rebelião contra o status quo, como ocorreu
em “maio de 68”, com a característica maior do questionamento de
tudo que é relativo ao “sujeito”.
Admitindo que uma política de identidade pode se tornar cúm-
plice do sistema contra o qual ela pretende se insurgir, os teóricos Queer
sugerem uma teoria e uma política “pós-identitárias” (Louro, 2001, p.
20
Há outras maneiras de explicar a formação do “sujeito contemporâneo”, por
exemplo, o “individualismo radical”, com Max Stirner, em um contexto de supera-
ção da Filosofia hegeliana (Cf. Beckenkamp, 2005, p. 39), o que implicaria em uma
abordagem diferente sobre a constituição atual do que se entende por “indivíduo”.
Embora esta linha de investigação seja interessante, foi outra a opção teórica de-
senvolvida nesta Lição, como exposto no início do texto.
21
Porém, não desenvolvida no mesmo sentido por Freud.
89
541). Nesta seriam estudadas as possibilidade de formação de iden-
tidades verdadeiramente subversivas da lei produtora, como transe-
xuais, travestis, butches,22 que não estão “de um lado nem de outro”,
mas “jogam” com os elementos dados, confundindo e mostrando a
não-naturalidade da heterossexualidade – o que também se demonstra
possível no caso dos homossexuais, a partir de um olhar diferenciado:
eles podem ser tomados como uma “cópia da cópia” dessa heterosse-
xualidade que não é “natural”, demonstrando a artificialidade disso por
meio da repetição dos “construtos” sociais. (Cf. Butler, 2010, p. 57)
Ainda segundo Butler (2010, p. 48), “não há identidade de
gênero por trás das expressões de gênero; essa identidade é per-
formativamente constituída, pelas próprias ‘expressões’ tidas como
seus resultados”, assim como “não há a mínima distinção entre
sexo e gênero, pois ambos são interpretações políticas e culturais
do corpo”, entende ainda ela (2010, p. 165). Até mesmo a biologia,
assim como qualquer outro discurso científico23, não é neutra nes-
ses assuntos. A performatividade do gênero reflete nas identidades
a mesma instabilidade que produz na linguagem.
Por performatividade se entende aquilo que John Austin
afirma sobre a linguagem: ela não possui apenas “proposições des-
critivas” do tipo: “a caneta está sobre o caderno” -, mas também
“proposições performativas”: “eu vos declaro marido e mulher”.
Butler estende essa teoria afirmando que as proposições descritivas
repetidas podem tornar-se proposições performativas, ou seja, de-
sencadeadoras de ações (Cf. Silva, 2000, p. 7-8). Assim, quando um
grupo é descrito como marginal, por exemplo, ele continua a fazer
parte de uma rede de significações que contribuirá para reforçar ou
até mesmo a “moldar” tal identidade.
Butler (1999) afirma também que a repetitibilidade garante a efi-
cácia dos atos performativos que reforçam as identidades existentes, e
pode significar inclusive a possibilidade da interrupção das identidades
hegemônicas. Em outros termos, a repetição pode ser interrompida,
pois ela pode ser questionada e contestada (Cf. Silva, 2000, p. 8).
22
São indivíduos que exageram na tipificação masculina (normalmente lésbicas e
homens gays).
23
Veja-se o exemplo de Judith Butler (2010, p. 158-159) sobre a suposta descoberta
do gene que determina a “masculinidade”.
90
Para Butler (2010, p. 206), a ideia de que “o sujeito cultural-
mente enredado negocia suas construções, mesmo quando estas
constituem os próprios atributos de sua própria identidade”, con-
corda com Foucault que demonstrou: ninguém está fora do poder.
Nesse caso, essa tentativa corresponderia a buscar uma sexualidade
anterior, a qual, como acima exposto, não é possível. Quais são en-
tão as possibilidades de mudança/subversão, atualmente?
Parece claro que a categoria “sexo” utilizada pela biolo-
gia é facilmente refutada quando usada de maneira a sustentar
as diferenças comportamentais presentes entres os sexos. Tal
abordagem limitaria a mulher a uma definição que partiria de
seus órgãos reprodutivos, e consequentemente, sua função de
tornar-se mãe.
Assim sendo, assumir-se, como Beauvoir, como subsumido/a
em uma das categorias (mulher/homem) não constitui subversão
alguma, pois reafirmar-se apenas os traços de gênero segundo os
quais o corpo foi educado a apresentar, ou seja, definir o indivíduo
a partir de seus órgãos genitais confina-o à relação heterossexual e
a seu papel correspondente nela, podendo permanecer na primi-
tividade de definir o aceitável do sexo em termos de reprodução
da espécie. O que se pretende discutir, e talvez desmistificar, é a
afirmação de Freud de que a “anatomia é destino”.
Embora haja problemas na abordagem de Foucault sobre o
caso de Herculine Barbin,24 um corpo hermafrodita provoca, no
mínimo, inquietação. A indefinição torna-se um problema, em es-
pecial para a pessoa, mas ao mesmo tempo denuncia e gera dis-
cussões, pois parece ser “necessário” um enquadramento em uma
tipologia. A existência do hermafrodita
24
Herculine era uma hermafrodita nascida em 1838, a qual teve seu diário en-
contrado e publicado por Michel Foucault. Tendo sido considerada “menina”,
Herculine estudou em um colégio de freiras, na França, até o momento em que,
após passar por um exame médico, foi considerada do sexo oposto. A polêmica
se acentuou quando se soube que ela mantinha relações sexuais com outras estu-
dantes. Como ela se considerasse do sexo feminino, ela não conseguia lidar com
a situação a que fora obrigada, isto é, de vestir-se e agir como homem. Após um
longo período de profunda depressão, Herculine se suicidou em 1868.
91
prediz que o desaparecimento do “sexo” resultará em uma feliz
dispersão dessas várias funções, significados, órgãos e processos
psicológicos e somáticos, bem como uma proliferação de prazeres
fora do contexto de inteligibilidade imposto pelos sexos unívocos
na relação binária. (Butler, 2010, p. 143)
25
Relida e defendida por Monique Wittig (1979 apud BUTLER, 2010, p. 172).
92
1. Porque não é possível uma definição estável dos conceitos
de “masculino” e de “feminino”?
2. De acordo com a perspectiva pós-estruturalista da iden-
tidade, em que medida a sexualidade participaria da definição da
identidade?
3. Explique porque a identidade de gênero é performativa.
4. O que é heteronormatividade? Quais são as possíveis sub-
versões desta apresentadas no texto?
3.4 Autorretrato
4. Avaliação
93
5. Recursos
6. Material de Apoio
Filmes:
Todo sobre mi madre. Direção: Pedro Almodóvar. Espanha, distri-
buído por Warner Sogefilms e Sony Pictures Classics, 1999. 1 DVD
(104 min).
Transamerica. Direção: Duncan Tucker. Estados Unidos, distri-
buído por The Weinstein Company e IFC Films, 2005. 1 DVD (103
min).
ros e Textos:
BUTLER, Judith. Problemas de Gênero – Feminismo e subversão da Identidade.
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2010.
FOUCAULT, Michel. História da Sexualidade, Vol. 1 – A Vontade de Saber.
São Paulo: Graal, 2010.
LOURO, Guacira Lopes. Teoria Queer: Uma Política Pós-Identitária para a
Educação. In: Revista Estudos Feministas. V.9 n.2 Florianópolis: IFCH, 2001.
LOURO, Guacira Lopes. Um Corpo Estranho: Ensaios Sobre Sexualidade
e Teoria Queer. Belo Horizonte: Autêntica, 2004.
6. Referências Bibliográficas
BEAUVOIR, Simone. O Segundo Sexo - Fatos e Mitos. São Paulo: Difusão Européia
do Livro, 1970.
BECKENKAMP, Joãozinho. Seis Modernos. Pelotas-RS: Editora e Gráfica Univer-
sitária, 2005.
BUTLER, Judith. Problemas de Gênero – Feminismo e subversão da Identidade. Rio
de Janeiro: Civilização Brasileira, 2010.
DUPRAT, Nathalia. Cinema Gay e Estudos Culturais: Como esse Babado é Possível.
http://www.cult.ufba.br/enecult2007/NathaliaDuprat.pdf/. Acesso em: 01 mar-
ço de 2012)
FOUCAULT, Michel. História da Sexualidade, vol. 1 – A Vontade de Saber. São
Paulo: Graal, 2010.
FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir – Nascimento da Prisão. Petrópolis: Vozes,
2010.
94
GALLO, Sílvio. A Filosofia e seu ensino: conceito e transversalidade. Curso “Filoso-
fia e Vida”, 2005. (27-29)
HALL, Stuart. A Identidade Cultural na Pós-Modernidade. Rio de Janeiro: DP&A,
1999.
LOURO, Guacira Lopes. Teoria Queer: uma política pós-Identitária para a educação.
In: Revista Estudos Feministas. V.9 n.2 Florianópolis: IFCH, 2001.
MILES, Rosalind. A História do Mundo pela Mulher. Rio de Janeiro: Casa-Maria Edi-
torial, 1989.
MISKOLCI, Richard. A Teoria Queer e a Questão das Diferenças: por uma analítica
da normalização. http://alb.com.br/arquivo-morto/edicoes_anteriores/anais16/
prog_ pdf/prog03_01.pdf/. Acesso em: 01 março de 2012.
SILVA, Tomaz Tadeu da. Identidade e diferença: a perspectiva dos estudos culturais.
Petrópolis: Vozes, 2000.
95
Lição XI
Identidade e Política
1. Introdução Geral:
2. Objetivos
3. Atividades
Atividade I
Texto de apoio
Construa-se
Questionar, indagar, problematizar, seja qual for a palavra,
sempre foram características marcantes da Filosofia. E para tanto,
aspirar Liberdade é fundamental na busca de respostas ou até mes-
mo mais dúvidas. Contudo, essa Liberdade é responsável pelo sur-
gimento e construção de uma identidade, em especial a “identidade
política”. Como cita Mário Curtis “A liberdade, especialmente a liberdade
política, foi, pois, para os gregos um ideal de vida” (CURTIS, 1984, p. 158).
Construir uma sociedade, corresponder às expectativas de
uma polis “perfeita” ou bem próxima disso, desde a Antiguidade foi
uma das preocupações dos gregos, visto a necessidade de sanar os
problemas que, desde então, dificultavam a vida de seus cidadãos.
97
Nesse período, o surgimento de uma estrutura política e de uma
identidade fez com que os descontentamentos sociais fossem vistos
de forma séria, pois a preocupação maior era o bem-estar daqueles
que constituíam a sociedade. Contudo, os olhares não se voltavam
somente às mazelas que afligiam as sociedades, mas, também, àque-
les que tomariam as decisões em nome das maiorias, os políticos.
E é aí que surge o modelo democrático. O modelo que legisla em
detrimento da maior parcela social a partir de um parâmetro equita-
tivo, onde todo cidadão tem o direito de manifestar suas convicções
e posturas políticas através do voto.
Sem dúvidas, o modelo democrático foi amadurecendo, po-
rém, perturbações políticas de toda ordem ao longo da História
fizeram com que em alguns momentos seu papel fosse deixado de
lado, quando não extinto, e tudo isso mediante o uso da força, da
supressão dos anseios sociais, onde os beneficiados eram os abasta-
dos e poderosos de cada época.
Na linha do tempo, surgiram reinados, monarquias absolu-
tistas, revoluções patrocinadas pela burguesia, ditaduras e outras
várias formas de atuações políticas, mas todas essas com a inex-
pressão popular, devido o fato do poder político, ou seja, o poder
de gerir conscientemente os recursos públicos, de tomar decisões
em nome de todos, estar nas mãos daqueles que deveriam atuar
alinhados as diretrizes que trariam benefícios à população e não o
correspondiam adequadamente.
Não obstante disso, ainda hoje algumas populações sofrem
com o descaso, submissão, omissão, geradas pela incapacidade de
gestão de seus políticos, e ainda, a falta de uma identidade política,
idônea, amplia e reforça as piores consequências possíveis para a
sociedade, em especial, a brasileira.
Mesmo depois da queda do turbulento processo autoritário
sofrido pelo Brasil, a Ditadura Militar, onde as vozes do desconten-
tamento popular eram abafadas pelas prisões políticas, pelo afasta-
mento dos cidadãos de seu próprio cotidiano político, o processo
de redemocratização brasileiro ainda continua sendo construído,
apesar de vigorar aparentemente em plena forma, pois suas bases
ainda não são suficientemente sólidas para proporcionar uma esta-
bilidade política coerente com as demandas advindas da população.
98
Em especial a questão da corrupção, que há tantos anos assombra
a sociedade com suas mais diversas formas ilícitas de favorecer o
enriquecimento de poucos à custa de todos, suga energias vitais
para que as gerações posteriores a esse processo construam uma
identidade política permeada pela transparência necessária ao sis-
tema democrático.
A identidade política dos jovens, em voga aqueles do Ensino
Médio, é defasada pela precariedade de recursos e incentivos e a
falta de debates oriundos de um dos principais, senão o principal,
pilares de uma sociedade constituída de cidadãos críticos-reflexivos,
a Educação, mais especificamente, a escola.
Cabe a esta, o papel de estimular a preocupação com os ru-
mos tomados da sociedade à qual está inserido. Contudo, mais pre-
cisamente, atribui-se ao professor a criação deste espaço e momen-
to de conscientização sobre as demandas vitais de uma sociedade
engajada na criação e manutenção de uma identidade política lícita,
transparente e coerente aos anseios sociais.
Em suma, a instrumentalização do aluno de Ensino Médio,
voltada à compreensão da realidade que está ao seu redor e o julga-
mento consciente de suas ações, tendo em vista as consequências
diretas destas em seu cotidiano e mais além, a preparação neces-
sária a esse aluno, que poderá no futuro ocupar-se de atribuições
políticas de maneira mais objetiva – cargos eletivos – focando a
renovação daquilo que ainda continua atrasando os passos do meio
social, o qual é constituinte. Um método de perpetuar os valores
trabalhados desde sua iniciação social e escolar.
Questionário
1) Qual o papel da “Liberdade” na construção de uma iden-
tidade política?
2) O que foi o Golpe Militar de 1964 e como foi construída
a chamada “identidade política” brasileira?
3) O jovem atual é reflexo do legado deixado pelas gerações
antecessoras, ou seja, aquelas que viveram o período autoritário?
4) Atualmente, os jovens participam ou atuam, assim como
os jovens da Ditadura Militar, da construção política brasileira?
5) Como você se vê diante de todos esses resultados e trans-
99
formações advindas de uma geração que lutava pela transparência
e participação política?
6) Qual foi o papel da mulher nesse contexto e seus resul-
tados?
Atividade II
Texto de Apoio
Alegria, Alegria
Caetano Veloso
100
Em dentes, pernas, bandeiras
Bomba e Brigitte Bardot
O sol nas bancas de revista
Me enche de alegria e preguiça
Quem lê tanta notícia
Eu vou
Por entre fotos e nomes
Os olhos cheios de cores
O peito cheio de amores vãos
Eu vou
Por que não, por que não
Ela pensa em casamento
E eu nunca mais fui à escola
Sem lenço, sem documento,
Eu vou
Eu tomo uma coca-cola
Ela pensa em casamento
E uma canção me consola
Eu vou
Por entre fotos e nomes
Sem livros e sem fuzil
Sem fome sem telefone
No coração do brasil
Ela nem sabe até pensei
101
Atividade III
Texto de Apoio
O Analfabeto Político
Berthold Brecht
O pior analfabeto
É o analfabeto político,
Ele não ouve, não fala,
nem participa dos acontecimentos políticos.
Ele não sabe que o custo de vida,
o preço do feijão, do peixe, da farinha,
do aluguel, do sapato e do remédio
dependem das decisões políticas.
O analfabeto político
é tão burro que se orgulha
e estufa o peito dizendo
que odeia a política.
Não sabe o imbecil que,
da sua ignorância política
nasce a prostituta, o menor abandonado,
e o pior de todos os bandidos,
que é o político vigarista,
pilantra, corrupto e o lacaio
das empresas nacionais e multinacionais.
102
4. Recursos:
5. Material de apoio:
Filmes:
O que é isso companheiro?; filme brasileiro que retrata a resistência
contra o Regime Militar no Brasil;
Batismo de sangue, produção brasileira que elenca a participação
de padres com a esquerda comunista.
Música:
Para não dizer que não falei das flores, de Geraldo Vandré;
6. Avaliação
7. Referências Bibliográficas:
103
Dicionário Escolar de Filosofia. Disponível em: http://www.defnarede.com/b.html
(Acesso em: 03 de março de 2012)
BRECHT, B. O analfabeto político. Disponível em: http://www.planetaeducacao.
com.br/portal/artigo.asp?artigo=493 (Acesso em 04 de março de 2012)
Portal Brasileiro de Filosofia. Disponível em: http://portal.Filosofia.pro.br/ (Acesso
em: 05 de março de 2012)
GIORDANI, Mário Curtis. História da Grécia-Antiguidade Clássica I. Petrópolis-RJ:
Editora Vozes; 1984.
104
Lição XII
Raquel Treiber
1. Introdução
2. Objetivos
105
II) Sensibilizar com o tema a fim de que tenha interesse em
discutir sobre o assunto, tendo o embasamento necessário que o
professor auxiliará.
III) Conhecer autores e visões da Filosofia sobre o tema.
IV) Organizar melhor seu raciocínio a fim de expor suas opi-
niões de forma mais coerente em debates para assim poder com-
preender e respeitar mais as identidades a sua volta.
3.1 Atividade I
3.2 Atividade II
3.4 Atividade IV
107
suas identidades. Neste momento o assunto será retomado, em for-
ma expositiva e de debates, em seus diferentes pontos e abordagens
e ao final desta aula o professor pode pedir para que os estudantes
relatem em um breve texto qual foi a compreensão que tiveram so-
bre o tema e de que forma isto os afetou a fim de percebem se seus
objetivos foram alcançados e se a atividade foi eficaz.
4. Material de apoio
4.2 Filme
108
4.3 Sugestões de leituras
Livros:
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. São Paulo: EDIPRO, 2002.
KANT, I. Crítica da Razão Pura. Lisboa: Edições 70, 1986.
5. Recursos necessários
6. Avaliação
7. Referências Bibliográficas
109
Parte IV
FILOSOFIA E AUTONOMIA
1. Introdução geral
110
mas antes buscando proporcionar aos estudantes, através dos varia-
dos temas da Filosofia trabalhados, uma visão crítica, fazendo com
que os estudantes pensem os problemas filosóficos relacionando-os
ao seu cotidiano de forma autônoma. Utilizaremos então, em todas
as atividades desta parte do livro para tal intuito, a metodologia dos
autores Renata Aspis e Silvio Gallo, na qual a aula de Filosofia é
concebida como uma “oficina de conceitos”. De acordo com esta
metodologia o ensino de Filosofia é visto como ato e processo, a
partir da concepção deleuze-guattariana de Filosofia como criação
de conceitos. A aula de Filosofia não deve ter apenas como fina-
lidade a transmissão de conteúdos, mas sim funcionar como uma
“oficina”, na qual os estudantes deverão investigar e por fim criar
seus próprios conceitos, estes deverão experienciar o pensar filosó-
fico. A aula de Filosofia assim concebida possui quatro momentos
didáticos, a saber: sensibilização, problematização, investigação e
conceituação. Estas etapas são caracterizadas da seguinte maneira:
Sensibilização: Neste estágio pretende-se que o aluno pos-
sa vivenciar o problema filosófico, a partir de elementos não filosó-
ficos, busca-se a empatia dos estudantes com o tema proposto. Para
chamar atenção dos estudantes ao tema, podem ser utilizadas peças
artísticas: músicas, poemas, filmes, histórias em quadrinho, etc.
Problematização: Este será o momento da transformação
do tema em problema filosófico, fazendo com que os estudantes
se mobilizem para solucionar o problema proposto. Nesta etapa o
tema deverá ser problematizado sobre diferentes aspectos. Pode-se
promover debates, estimulando o senso crítico, através do questio-
namento e da desconfiança em relação a respostas prontas.
Investigação: Trata-se de buscar na História da Filosofia
elementos que vão auxiliar na busca da solução do problema. Nesta
etapa podem ser introduzidos textos dos filósofos que já pensaram
o problema que está sendo trabalhado. A História da Filosofia ser-
virá como ferramenta no processo do experienciar filosófico, pro-
porcionando uma visão mais abrangente sobre o tema.
Conceituação: Nesta última etapa os conceitos estudados
deverão ser recriados, ou até mesmo poderão ser criados novos
conceitos, pois o deslocamento de um conceito para outro contex-
to já é uma recriação do mesmo.
111
O que se busca nesta metodologia não é a originalidade na
criação do conceito, mas a experiência de pensamento por parte
dos estudantes, estes deverão ter papel ativo no processo de criação,
portanto a avaliação será dada pela qualidade da experiência e não
pela qualidade do conceito criado.
2. Referências Bibliográficas
ASPIS, Renata; GALLO, Sílvio. Ensinar Filosofia: um livro para professores. São
Paulo: Atta Mídia Educação, 2009.
CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Editora Ática,1996
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários a prática educativa.
Paz e Terra, 2001.
Lição XIII
Confronto de Saberes
1. Introdução
2. Objetivos
113
III) Refletir sobre a problemática das concepções dogmáti-
cas, e como estas concepções podem levar a atitudes intolerantes.
3. Atividades
Sensibilização
Problematização
26
“Conhecimentos soltos, superficiais, que não nasceram de reflexões profundas e
abertas. É compartilhado pela maioria das pessoas. O senso comum é frequentemente
marcado pela imprecisão, incoerência, fragmentação” (Cotrim, 1997, p. 20).
27
“A ciência distingue-se do senso comum porque este é uma opinião baseada
em hábitos, preconceitos, tradições cristalizadas, enquanto a primeira baseia-se em
pesquisas, investigações metódicas e sistemáticas e na exigência de que as teorias
sejam internamente coerentes e digam a verdade sobre a realidade. A ciência é
conhecimento que resulta de um trabalho racional” (Chauí, 2000, p. 319)
114
3.2 Segunda Aula
Investigação
28
“O conhecimento filosófico é um trabalho intelectual. É sistemático porque
não se contenta em obter respostas para as questões colocadas, mas exige que as
próprias questões sejam válidas e, em segundo lugar, que as respostas sejam verda-
deiras, estejam relacionadas entre si, esclareçam umas às outras, formem conjuntos
coerentes de ideias e significações, sejam provadas demonstradas racionalmente”
(Chauí, 2000, p. 9).
29
“Um mito é uma narrativa sobre a origem de alguma coisa (origem dos astros, da
Terra, dos homens, das plantas, dos animais, do fogo, da água, dos ventos, do bem e
do mal, da saúde e da doença, da morte, dos instrumentos de trabalho, das raças, das
guerras, do poder, etc.)” (Chauí, 2000, p. 32).
30
“(...) sistema ordenado e coerente de proposições ou enunciados baseados em
um pequeno número de princípios, cuja finalidade é descrever, explicar e prever
do modo mais completo possível um conjunto de fenômenos, oferecendo suas
leis necessárias. A teoria científica permite que uma multiplicidade empírica de
fatos aparentemente muito diferentes sejam compreendidos como semelhantes
e submetidos às mesmas leis; e, vice-versa, permite compreender por que fatos
aparentemente semelhantes são diferentes e submetidos a leis diferentes” (Chauí,
2000, p. 319).
31
Conhecimento dogmático e inquestionável, por ser revelado por uma divindade.
115
em um mesmo lugar. Tais povos eram distintos, tanto em crenças,
quanto em hábitos. Enquanto um devido à coragem de seu espírito
livre e questionador percorreu o deserto em busca de respostas pre-
senciando fenômenos capazes de enlouquecer até mesmo o maior
dos sábios; o outro se manteve protegido entre as suas muralhas,
mantendo durante séculos todo o seu conhecimento fechado para
si e mais ninguém.
Em uma tarde, o dia se fez noite, levando alguns ao de-
sespero e outros ao questionamento sobre o motivo de tal trans-
formação. O povo do vento sul ficou amedrontado, pois não
conseguia entender o que teria acontecido para que o Deus da
Noite ficasse tão bravo a ponto de se vingar dos homens se
apoderando do dia, já que sempre mantiveram seus ritos e re-
alizaram seus rituais. Passadas algumas horas, o sol retornou,
deixando o povo do vento sul agradecido pelo Senhor da Noite
ter devolvido o sol, transformando a noite em dia novamente,
embora ainda estivessem confusos.
Durante o acontecimento, um viajante do povo do vento
norte ficou espantado com o temor e desespero do povo do vento
sul, e tentou acalmá-lo contando um pouco da história de seu povo
que percorrera lugares distintos, e com isso conhecera diferentes
culturas e sabedorias, que proporcionaram uma maior compreen-
são dos fenômenos da natureza. Todo o conhecimento do povo
do norte encontrava-se em livros, pois eles haviam percebido a im-
portância de registrar suas experiências, de modo que agregando
o conhecimento de seus antepassados pudessem aperfeiçoar suas
técnicas e estudos, e também compará-los com os de outros povos.
Assim, construíram um conhecimento crítico, e não dogmático,
que fez com que questionassem se realmente seriam os deuses os
responsáveis por tais acontecimentos, e chegaram à conclusão que
tais fenômenos eram naturais e seguiam leis específicas, não poden-
do ser fruto de uma entidade divina.
O povo do vento sul horrorizou-se com tal afirmação, pois
era um absurdo questionar o poder dos deuses, dado que a sabedo-
ria divina é a única fonte da verdade. Então, passaram a acreditar
que os deuses não estavam furiosos com eles, mas com o povo do
vento norte que duvidava de sua existência e sabedoria. No cair da
116
noite, os representantes do povo do vento sul reuniram-se, e te-
mendo a fúria dos deuses, resolveram exterminar o povo do vento
norte.
Ângus, um dos grandes sábios do povo do vento sul, ficou
horrorizado com o massacre que estaria por vir, saiu, então, em
busca de seu amigo e companheiro de caça Záateu, filho do líder
do povo do vento norte, o Rei Dillos, com o intuito de evitar tal
tragédia. Apesar de Ângus pertencer ao povo do vento sul, não
concordava com todos os dogmas de seu povo, e ouvindo a con-
versa do viajante, questionou seus próprios princípios. Chegando
no povoado do vento norte, conta a Záateu o ocorrido, e este sai
ao encontro de seu pai, na esperança que na qualidade de rei pu-
desse influenciar para que a guerra não ocorresse. Mas, não houve
tempo, pois no momento em que avisava seu pai sobre o risco que
seu povo estava correndo, o ataque já havia começado. A guerra
tornou-se inevitável.
(Texto produzido pela autora)
Conceituação
117
4. Recursos
5. Material de apoio
6. Avaliação
7. Referências Bibliográficas
118
Lição XIV
1. Introdução
2. Objetivos
32
Mestranda em Filosofia pela UFPEL – ex-bolsista do PIBID/Humanidades, no
período de maio de 2010 a fevereiro de 2012.
119
identificá-los com a Filosofia Moral. O educador, por sua vez, pro-
picie um diálogo crítico e autônomo entre os estudantes.
3. Atividades
Sensibilização
Problematização
Investigação
120
Pensando Valores Morais
121
e a existência daquilo que os sustentam. Nesse sentido, a ética é
uma disciplina teórica sobre uma prática humana. No entanto, as
reflexões éticas acerca do comportamento não se restringem ao co-
nhecimento teórico da História da Filosofia. É necessário tal estudo
e aprofundamento da história e das ideias dos grandes pensadores,
mas isto não é suficiente. O trabalho de pesquisa, a reflexão filosó-
fica, o pensar as práticas e valores morais, as tentativas de mudança
na busca pelo progresso social são fatores que exigem paciência e
trabalho por parte do estudante de Filosofia. Contudo, a reflexão
entre um grupo de pessoas sobre temas morais contemporâneos
é crucial para uma possível mudança. Podemos pensar em alguns
conceitos, bem como, virtude, bom, mal, correto, incorreto, pru-
dente, habilidoso, entre outros. Percebemos a importância de refle-
tirmos e utilizarmos de tais conceitos em nossas práticas cotidianas.
A pretensão de alguns filósofos ao longo da história foi a de buscar
um método válido que contribuísse para a melhor ação do homem,
o bem viver perante a sociedade em que está inserido. Pensar nestas
questões é uma forma de o indivíduo se manter organizado, possi-
bilitando uma melhor vivência com a sua comunidade. Apreenden-
do a lidar com a sua liberdade e com os limites existentes em uma
sociedade de leis e de diferenças. Contudo, de forma autônoma e
crítica pensemos e não deixemos que pensem por nós os problemas
que nos cercam a todo o momento. Não apenas problemas morais,
mas também políticos, sociais, religiosos, etc. Assim, estaremos na
direção daquilo que contribui positivamente para a nossa formação
e bem estar.
Segundo a proposta mencionada acima, para este exercício,
vejamos as charges abaixo, relacionando-as com o texto e, em se-
guida, realizando uma discussão acerca da temática.
(Texto produzido pela autora)
Conceituação
122
locados em exposição no ambiente escolar, chamando a atenção
dos demais.
4. Recursos
5. Avaliação
6. Referências Bibliográficas
123
Lição XV
André Carvalho
1. Introdução:
125
2. Objetivos
3. Atividades
Sensibilização
126
o desenvolvimento inicial deste projeto, chegando até o seu apare-
cimento no Brasil. Após esta breve introdução, será feita, então, a
leitura do conto A glória da Bala Perdida, presente já na parte inicial
desta Lição. A leitura deste conto deverá ser feita em voz alta, pelo
professor ou pelos estudantes intercaladamente. Mesmo que com
este método de leitura, nem todos os estudantes prestem atenção,
ele parece ser muito mais eficaz do que cada um individualmente
receber uma folha possuindo o conto.
Conceituação
127
Todo este exercício poderá ser feito em tempo hábil de uma
aula, levando-se em consideração já o pouco tempo disponível para
as aulas de Filosofia no nosso ensino. Se o Professor achar melhor,
poderá realizar o debate em uma aula posterior, sugere-se aqui en-
tão, que se leia os contos criados pelos estudantes para fomentar
de uma maneira mais natural o debate (já proposto acima no exer-
cício).
4. Recursos necessários:
5. Avaliação
6. Referências Bibliográficas
128
Lição XVI
1. Introdução
2. Objetivos
129
III) Apresentar o conceito de liberdade kantiano
IV) Fazer com que os estudantes construam seus próprios
conceitos filosóficos
3. Atividades
Sensibilização
Problematização
Investigação
33
Técnica teatral , é uma das modalidades do Teatro do oprimido, sendo as outras
técnicas o teatro imagem e o teatro invisível. A técnica está descrita no livro “Jogos
para atores e não-atores” de Augusto Boal
130
Liberdade e Autonomia
131
O período do iluminismo é caracterizado pela confiança inaba-
lável na razão. Por isso, a ideia de liberdade passou a se relacionar com
a ideia de racionalidade. Acreditava-se que a liberdade seria alcançada
através do progresso científico e intelectual. O filósofo Rousseau, dife-
rentemente dos iluministas, afirmava que o progresso não necessaria-
mente nos tornava melhores, e que geralmente este causava a decadên-
cia moral, porém é através da socialização que nos tornamos livres, pois
alcançamos a autonomia, deixamos de ser governados pelos impulsos
e passamos a seguir as leis ditadas por nós mesmos. Mas, para que isso
aconteça o soberano deverá governar levando em conta a vontade ge-
ral, isto é, o que há de consensual nas diferentes vontades individuais, o
interesse comum entre essas.
Mais tarde, o filósofo Immanuel Kant, tomando como re-
ferência as ideias de Rousseau, ao teorizar sobre o âmbito moral,
estabelecia que a liberdade constituía a condição da lei moral. Ele
identificava liberdade com autonomia. Segundo Kant para que o
homem seja livre, este deve ser autônomo, ou seja, o homem deve
seguir a lei que criada por si mesmo, deve se autogovernar. Para
isso o indivíduo deve seguir um imperativo categórico, que é a lei
fundamental da razão prática. O imperativo categórico é aquele que
nos manda fazer algo incondicionalmente. Este imperativo possui
o seguinte conteúdo: “Age de tal modo que a máxima da tua von-
tade possa valer sempre ao mesmo tempo como princípio de uma
legislação universal” (Kant, 1974, p. 42). Em outras palavras, o im-
perativo nos diz que a cada vez que agirmos devemos pensar se este
ato poderia ser concebido como uma lei universal, se iriamos querer
que nesta mesma situação todas as pessoas agissem igualmente.
Em outra formulação desse imperativo há a seguinte afir-
mação: “Age de tal maneira que uses a humanidade, tanto na tua
pessoa, como na pessoa de qualquer outro, sempre e simultanea-
mente como fim e nunca simplesmente como meio” (Kant, 1974,
p. 229). Kant relaciona então autonomia com a ideia de dignidade
humana. Para ele a racionalidade é fim em si mesma, portanto os
seres racionais possuem dignidade particular, por isso nunca devem
ser tratados como meios para se conseguir alcançar um objetivo.
Na época em que Kant vivia, a física newtoniana parecia de-
monstrar que a natureza funcionava de forma mecânica, seguindo
132
leis rígidas, e, portanto não havia lugar para a liberdade no mundo
físico. Entretanto Kant em suas obras pretende demonstrar a com-
patibilidade entre liberdade e esta concepção de mundo. Segundo
Kant, temos que supor que somos livres, e que podemos tomar
decisões racionais, apesar de todos os tipos de condicionamentos.
Todos nós temos que ser capazes de exercer soberania sobre nossa
vontade, e para isso é necessário que sigamos as leis morais ditadas
pela nossa razão, pois do contrário seremos heterônomos, isto é,
seremos controlados por outros, ou seguiremos leis que procedem
de outros.
Com os avanços das áreas científicas, sobretudo da psicolo-
gia, sabe-se que o ideal de homem racional que se tinha na moder-
nidade é inalcançável. Portanto o ideal de autonomia de Kant vai
além da realidade, pois não podemos nos desvencilhar dos aspectos
empíricos que determinam nossa vontade. Mesmo que a nossa li-
berdade seja limitada, devemos buscar nossa própria autonomia de
pensamento, do contrário seremos vítimas da alienação e de outras
heteronomias.
Conceituação
4. Material de apoio
133
rado, conhecido apenas pelo codinome V (Hugo Weaving), que é
extremamente carismático e habilidoso na arte do combate e da
destruição. Ao convocar seus compatriotas a se rebelar contra a
tirania e a opressão do governo inglês, V provoca uma verdadeira
revolução. Enquanto Evey tenta saber mais sobre o passado de V,
ela termina por descobrir quem é e seu papel no plano de seu salva-
dor para trazer liberdade e justiça ao país.
Filmes sugeridos:
1984 (1984).
Laranja Mecânica (1971).
5. Recursos necessários
6. Avaliação
7. Referências bibliográficas:
ROUSSEAU, Jean Jacques. Os pensadores. São Paulo: Ed. Abril Cultural, 1973.
KANT, Immanuel. Crítica da Razão Prática. Lisboa: Edições Setenta, 1974.
CORTINA, Adela. NAVARRO, Emilio Martinez. Ética. São Paulo: Ed. Loyola,
2005.
134
_Observatório-Gráfico_
Edições de livros, revistas e peças gráficas
51 3226-3560 / 84963690
[email protected]