Resenha: Harvey Cox: A Cidade Secular 25 Anos Depois
Resenha: Harvey Cox: A Cidade Secular 25 Anos Depois
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Escrevi A Cidade Secular depois de ter vivido por um ano em Berlim, onde lecionei em
um programa de educação de adultos patrocinado por uma igreja, com seções em ambos
os lados do arame farpado. O muro foi construído alguns meses antes de eu chegar;
então eu tive de comutar de lá pra cá através de Checkpoint Charlie, cuja familiar
casinha de madeira e o sinal de aviso “Você está deixando o setor americano”, foram
colocados em um museu. Berlim havia sido o lar de Dietrich Bonhoeffer, e muitos de
seus amigos, e colegas de trabalho ainda estavam lá.
Em retrospecto, é claro, é fácil ver que a religiosidade humana é uma qualidade muito
mais persistente do que Bonhoeffer pensava que era. Quase todo lugar que olhamos no
mundo de hoje assistimos a um ressurgimento inesperado da religião tradicional.
Pelo menos, eu acredito que esses acontecimentos tornam a tese central de A Cidade
Secular ainda mais credível. Argumentei, então, que a secularização - se não permitir-se
calcificar em uma ideologia (o que eu chamei de “secularismo”) – não sempre é em
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todo lugar um mal. Ela impede as religiões poderosas de agir em suas pretensões
teocráticas. Ela permite que as pessoas escolham entre uma ampla gama de visões de
mundo. Hoje, em paralelo, parece óbvio que o ressurgimento da religião no mundo não
é sempre e em toda parte uma coisa boa.
O povo sofredor do Irã acredita que após a remoção do seu xá cruel, a instalação de uma
república islâmica quase teocrática acabou por ser um movimento totalmente positivo?
Será que aqueles israelenses e palestinos que anseiam por uma solução pacífica para a
Cisjordânia acreditam que os judeus ou os partidos religiosos muçulmanos estão
ajudando? Como é que os cidadãos de Beirute e Belfast se sentem sobre a contínua
vitalidade da religião?
Mas as pessoas que recebem o ressurgimento dos ritos e valores que dão às pessoas um
senso de dignidade e de continuidade, um bar mitzvah em Varsóvia, igrejas reabrindo
em Smolensk, milhares de estudantes universitários americanos pensativamente
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Como podemos pesar o novo interesse promissor no judaísmo entre tantos jovens na
América contra o esbravejo do rabino Meyer Kahane? O xintoísmo é outro exemplo. O
espírito de respeito pelo passado e reverência para com a terra que permite aos
japoneses adotar tecnologias modernas sem destruir o ambiente, também alimenta um
sentido ameaçador de destino especial e um revivido culto ao imperador que os
japoneses democraticamente inclinados estão olhando com desconfiança extrema.
A tese de A Cidade Secular foi que Deus é o primeiro Senhor da história, e só então
Cabeça da Igreja. Isso significa que Deus pode ser tão presente no secular como nas
esferas religiosas da vida, e que nós limitamos indevidamente a presença divina por
confiná-la a algum setor espiritual e eclesial, especialmente delineado. Esta ideia tem
duas implicações. Em primeiro lugar, ela sugere que as pessoas de fé não precisam fugir
do supostamente ateu mundo contemporâneo.
Deus veio a este mundo, e é onde nós pertencemos também. Mas em segundo lugar,
isso também significa que nem tudo o que é “espiritual” é bom para o espírito. Essas
ideias não eram particularmente novas. De fato, a presença do sagrado dentro do
profano é sugerida pela doutrina da encarnação, e não é uma inovação recente. Quanto a
suspeita em relação à religião, tanto Jesus quanto os profetas hebraicos atacaram muito
da religião que viram ao redor deles. Mas algumas verdades simples precisam ser
reafirmadas repetidamente. E hoje não é certamente nenhuma exceção.
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A seção final é uma polêmica contra os chamados teólogos da "morte de Deus" que
estavam au courant na época. Eu os retratei, corretamente penso eu, como
permanecendo obcecados - embora negativamente - com o deus clássico do teísmo
metafísico, enquanto eu estava falando de Outra Pessoa, o Outro misterioso e esquivo
dos profetas e de Jesus, que, como Jacques Brel, estava bastante vivo, embora vivendo
em bairros inesperados. Eu nunca fui capaz de entender por que, depois de ter
desencadeado esta guerre de plume contra os morte-de-deusianos, alguns críticos
insistiriam em me incluir entre eles.
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Para ilustrar o dilema a partir da minha própria tradição cristã, quantas Madres Teresas
e Oscar Romeros são necessários para equilibrar um Jim e Tammy Bakker1? E como é
que vamos medir a visão corajosa do Papa João Paulo II de uma “Europa sem
fronteiras” contra a sua cruzada mundial contra a contracepção?
Muito bem e muito mal é feito, como sempre tem sido, em nome de Deus. Talvez a
sugestão que eu fiz no final de A Cidade Secular, que soou radical para alguns leitores
então, ainda seja boa: devemos aprender alguma coisa com a antiga tradição judaica de
não pronunciar o nome do Santíssimo, viver por um período de reticência reverente na
linguagem religiosa, e esperar que o espírito dê a conhecer um novo vocabulário que
não seja tão manchado pela banalização e uso indevido.
Na verdade, eu disse um pouco mais do que isso, e o parágrafo final do livro pode valer
a pena lembrar, porque preparou o caminho para o movimento teológico que continuaria
onde A Cidade Secular parou.
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A primeira premissa é que, para nós, como para Moisés, um ato de engajamento pela
justiça no mundo, não uma pausa para reflexão teológica, deve ser o primeiro
“momento” de uma resposta apropriada a Deus. Primeiro ouvir a Voz, em seguida
começar a trabalhar para libertar os cativos. O “nome” virá mais tarde.
Teologia é importante, mas vem depois, e não antes, do compromisso de fazer o que
alguns ainda chamam de “discipulado”. Isso inverte o estabelecido pressuposto
ocidental de que a ação correta deve derivar de ideias previamente esclarecidas. A
insistência da teologia da libertação de que pensar, incluindo o pensamento teológico,
está embutido na aspereza da vida real é uma das suas contribuições mais salutares.
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Nos países pobres, no entanto, a secularização assume uma expressão bastante diferente.
Ela desafia o mau uso da religião por parte de elites governantes que sacralizam seus
privilégios, e alista os poderosos símbolos de fé no conflito contra o despotismo.
A distinção que Gutiérrez faz mostra que ele está aplicando a mesma abordagem de
teologia orientada à práxis que defendi num ambiente religioso e político diferente. A
Teologia da Libertação é o legítimo, embora inesperado, herdeiro de A Cidade Secular.
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Herdeiros, é claro, seguem seu próprio caminho, e há uma parte no meu livro que eu
desejaria que tivesse desempenhado um papel maior no desenvolvimento posterior das
teologias da libertação no Terceiro Mundo.
Em uma seção argumentei que nos países dominados pelos soviéticos do Leste Europeu
não era a religião, mas o comunismo que precisava de uma "secularização". Aqui eu
escrevi a partir da observação direta. Eu já tinha visto pessoalmente as tentativas
bizarras de regimes comunistas para configurar serviços substitutivos de confirmação,
casamento e enterro.
Eu tinha notado que na Polônia, sufocado sob uma cultura soviética imposta, foram os
intelectuais católicos quem eram os mais francos defensores do “pluralismo cultural”.
Ainda me lembro de um jovem pastor Tcheco, que me disse que, em 1964, quatro anos
antes da Primavera de Praga, ele se opôs ao comunismo “não porque é racionalista, mas
porque não é racional o suficiente... muito metafísico”. Ao entrar em um diálogo
honesto com os marxistas que dirigiam seus países naquele momento, os cristãos,
segundo ele, estavam tentando forçar os comunistas “a ser o que eles disseram que
eram, socialistas e científicos, e levá-los a parar de tentar criar uma nova ortodoxia
sagrada”.
Foram esses cristãos corajosos, creio eu, que eventualmente viram o fruto de sua
paciência florescer em 1989. Ao contrário de alguns outros crentes, eles se recusaram
tanto a fugir para o Ocidente ou a se juntar aos regimes ou a recuar em “imigração
interna”. Eles optaram por ficar, participar, criticar, e por estarem prontos quando o
diálogo se tornasse possível.
Eles também estavam praticando uma forma de teologia da libertação, ficando em uma
situação difícil e acompanhando um povo oprimido na longa busca pela liberdade.
Quando o entrevistador perguntou ao pastor de uma das igrejas de Leipzig, que tinha
fornecido o espaço, a inspiração e a preparação para a revolução da Alemanha Oriental
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de novembro 1989, sobre qual era a base teológica para a sua contribuição, ele
respondeu que era “Dietrich Bonhoeffer e a teologia da libertação latino-americana”.
Muita. Na verdade, sabendo o que sei agora, eu teria que reformular praticamente todos
os capítulos. Como eu poderia confiar tanto nos temas de desencanto e dessacralização,
como eu fiz na seção de abertura, sem lidar com o fato óbvio de que esses processos
históricos - que eu vi positivamente - sugerem certa dominação patriarcal do mundo
natural com que as mulheres têm sido tão estreitamente identificadas na simbologia
religiosa hebraica e cristã? Mais basicamente, eu tenho aprendido desde 1965, muitas
vezes com meus próprios alunos, que não podemos mais ler a Bíblia sem reconhecer
que ela vem até já severamente adulterada, expurgadas, e talvez até mesmo editada com
uma ideia de perpetuar a autoridade dos homens.
Aprendi que muitas das fontes clássicas que fui ensinado a confiar tanto, de Agostinho a
Tillich, parecem muito diferentes quando são lidas com as questões das mulheres em
mente. E o meu último capítulo, “Para falar de Deus de uma forma secular”, teria que
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Mas mesmo nas questões mais tarde levantadas por teólogas feministas, A Cidade
Secular contém algumas dicas e antecipações. O capítulo que, para minha surpresa, se
tornou o mais amplamente discutido e citado é intitulado “Sexo e secularização”. Ele
contém o referido ataque contra a Playboy, que expõe o pseudo-sexo retocado em
destaque, a mulher ideal que garotos espinhentos preferem, porque ela não faz nenhuma
exigência. Eles podem dobrá-la com segurança sempre que quiserem, o que não é
possível com o artigo genuíno. Ele também satiriza o festival Miss America como uma
reencenação dos antigos cultos de fertilidade da deusa, retrabalhado no interesse de
fantasias masculinas e comercialização de commodities.
Era eu, pelo menos, um proto-feminista? Não em pé de igualdade com a corrente crítica
cultural feminista, mas não muito ruim há 25 anos para um homem.
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Ainda assim, foi só mais tarde, com o advento do movimento Black Power e a vinda da
teologia negra, que comecei a levar a sério o que a moderna cidade americana
significava para os afro-americanos. Mais uma vez, se eu tivesse pensado nisso com
muito cuidado no momento, eu poderia ter previsto algumas das reservas que teólogos
negros manifestaram sobre A Cidade Secular. Suas metáforas controladoras de "o
homem no quadro de distribuição gigante" e "o homem no trevo", que foram criadas
para simbolizar a rede de comunicação e a rede de mobilidade da metrópole moderna,
pareciam improváveis para pessoas a quem tinham sido negadas a mobilidade e a
comunicação e para quem a cidade, muitas vezes, não era um lugar de liberdade
expandida, mas o lugar de humilhações mais sofisticadas.
Tornou-se claro para mim apenas como o passar dos anos que A Cidade Secular reflete
a perspectiva de um urbanita relativamente privilegiado. A cidade, secular ou não,
parece completamente diferente para aqueles a quem a promessa acaba por ser um
engano cruel.
Nos anos que se passaram desde que A Cidade Secular foi publicada, muita coisa
aconteceu nas cidades do mundo, incluindo cidades americanas, e a maioria das coisas
não foram boas. Em vez de contribuir para o processo de libertação, muitas cidades
tornaram-se alastrantes concentrações de miséria humana, sacudidas com animosidades
raciais, religiosas e de classe.
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Calcutá, Rio de Janeiro, Jacarta, Manila e Lima não estarão muito atrás, todos com
população entre 10 e 20 milhões, com metade das pessoas em cada cidade trancadas em
guetos de pobreza. De fato, em algumas cidades africanas, como Addis Ababa e Ibadan,
em torno de 75 a 90 por cento da população vai viver na miséria da favela.
Nas cidades dos EUA, nós não temos nos saído muito melhor. Os valores imobiliários
giram, fazendo milhões para um grupo seleto, enquanto as pessoas sem-abrigo, agora
incluindo um maior número de mulheres com filhos, se amontoam em porões de igrejas
e abrigos temporários.
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antiurbano que infecta a religião americana (pelo menos a vida da igreja branca).
Quantas vezes eu ouvi, quando criança, que “Deus fez o campo, mas o homem fez a
cidade”? Esta é uma doutrina de Deus gravemente deficiente. Precisamos de uma
espiritualidade que possa discernir a presença de Deus, e não apenas "No Jardim" como
o velho hino protestante coloca, mas também, como diz um hino melhor, "Onde cruzam
as formas movimentadas da vida, / Onde o som dos gritos de raça e clã...".
Se o mistério divino está presente de uma maneira especial entre os mais pobres e mais
maltratados de seus filhos, como as imagens e histórias bíblicas – desde os escravos no
Egito até o linchamento oficial de Jesus - constantemente nos lembram, então pessoas
supostamente religiosas que se isolam da cidade, estamos nos colocando em risco
considerável. Ao retirar-nos dos desprezados e marginalizados estamos ao mesmo
tempo isolando-nos de Deus, e é nas cidades que estes, "os menores deles", podem ser
encontrados.
Não tenho a intenção de reescrever A Cidade Secular com benefício de quase três
décadas de retrospectiva. Eu não posso. Mesmo se eu pudesse, seria inútil. Depois que
esse foi publicado eu experimentei o que os críticos literários, muitas vezes salientam,
que qualquer obra de arte, um poema, uma pintura, até mesmo um livro de teologia,
rapidamente escapa à mão de seu criador e assume uma vida própria.
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Dentro de alguns meses depois de sua primeira impressão modesta (10.000 exemplares),
e apesar de ter sido pouco notado pelos avaliadores, o livro começou a vender tão
rapidamente que a editora passou a fazer várias reimpressões. Logo apareceu na lista de
bestsellers, inédito na época para um livro sobre teologia. As vendas passaram para
centenas de milhares. A editora ficou surpresa, assim como eu.
Eu não posso fingir não ter gostado desses anos iniciais de notoriedade espontânea. Eu
fui atacado, festejado, elogiado, analisado, refutado. A editora que tinha bruscamente
recusado o manuscrito quando apresentado pela primeira vez telefonou para perguntar
se eu estava planejando escrever uma sequência. O livro parece ter se tornado um
favorito especial dos católicos romanos, talvez porque saiu exatamente quando o
Concílio Vaticano II estava terminando, e eles estavam ansiosos para testar a nova
atmosfera de livre investigação. Até o Papa Paulo VI o leu, e em uma audiência que tive
com ele mais tarde, me disse que, embora ele não concordasse com o que eu escrevi, ele
tinha lido "com grande interesse". Os professores começaram a exigir nas aulas. Grupos
de estudo de igrejas o adotaram. Dentro de alguns anos, as vendas do livro, em todas as
edições e traduções, estavam se aproximando de um milhão.
O que eu aprendi com tudo isso? Por um lado, que a maioria dos teólogos e a maioria
dos editores haviam subestimado o número de pessoas que estavam dispostas a gastar
um bom dinheiro em livros sérios sobre a religião. A Cidade Secular bem pode ter
marcado o fim do reinado incontestável do elitismo clerical e acadêmico na teologia. Os
leigos estavam, obviamente, prontos para entrar na discussão. Na verdade, eles estavam
pedindo para ser parte dela e não estavam dispostos a permitir que os teólogos
continuassem a escrever livros apenas para si mesmos.
Independentemente do que se pense sobre as ideias de A Cidade Secular, elas não são
nem simples nem óbvias. O livro não pode ser lido com a televisão ligada. Eu não levo
o crédito por ter convocado os leigos vociferantes e críticos que agora parecem estar em
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cada igreja e, talvez, especialmente na Igreja Católica, e que criam muitos problemas
maravilhosos para os líderes eclesiásticos. Mas eu gosto de pensar que A Cidade
Secular ajudou a criar o clima que forçou os líderes da igreja e teólogos a descer de suas
varandas e sair de seus escritórios e conversar seriamente com as pessoas comuns, que
representam 99 por cento das igrejas do mundo.
É claro, há coisas que eu faria diferente hoje em dia, não só em como eu iria escrever A
Cidade Secular, mas em praticamente todas as outras áreas da minha vida. “Nós
ficamos velhos muito cedo”, como o aforisma holandês da Pensilvânia diz, “e
inteligentes muito tarde”.
Sabendo o que sei agora sobre a tradição religiosa judaica, eu não iria contrapor a lei e o
evangelho como cativeiro do passado versus abertura para o futuro, como Rudolf
Bultmann e toda uma tradição de teólogos alemães me ensinou a fazer. A lei também,
como eu vim a perceber, é um dom da graça. Também gostaria de tentar não basear
minha leitura teológica da história do mundo atual tão estreitamente à minha própria
tradição cristã, mas iria tentar aproveitar os conhecimentos de outras tradições, como
todos nós devemos fazer cada vez mais num momento em que as religiões mundiais se
juntam numa proximidade sem precedentes.
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Quase dez anos depois de A Cidade Secular, Jonathan Raban publicou um livro
intitulado Soft City: The Art of Cosmopolitan Living. Às vezes é citado como o
primeiro texto claramente pós-modernista. Se for, pode ser significativo que, quando eu
o li, alguns anos após a sua publicação, eu imediatamente tenha sentido que tinha
encontrado um compatriota. Raban diz:
Em suma, viver na cidade deve ser a escola da vida no mundo pós-moderno e “ilegível”.
Deve ser uma lição contínua de “cidadania”, de como viver na cidade-mundo. Mas nós
ainda não aprendemos. Como diz Raban:
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É verdade: “nós vivemos mal em cidades”. Mas temos de aprender a viver em cidades
ou não iremos sobreviver. Estamos perdendo a nossa grande oportunidade, uma
oportunidade que Deus, ou o destino nos deu e que, se nós estragarmos, pode nunca
aparecer novamente.
Secularização, eu escrevi, “não é o Messias. Mas também não é anti-Cristo. É sim uma
libertação perigosa”. Ela “aumenta os riscos”, vastamente aumentando o alcance tanto
da liberdade humana quanto da responsabilidade humana. Ela apresenta riscos “de uma
ordem maior do que aqueles que ela desloca. Mas a promessa excede o perigo, ou pelo
menos faz valer a pena correr o risco”.
Tudo o que eu poderia acrescentar, hoje, é que nós realmente não temos escolha sobre
assumir o risco ou não. Nós já vivemos na cidade-mundo e não há retorno. Deus nos
colocou neste exílio urbano, e está nos ensinando uma fé mais madura, pois é uma
qualidade da falta de fé ter que fugir da complexidade e perturbação, ou apressar-se
tentando relacionar todos os segmentos da experiência num todo inclusivo e
reconfortante, como se o universo fosse implodir a menos que o segurássemos com as
nossas próprias concepções.
Deus está nos ensinando a encarar a vida na cidade ilegível, sem sentir a necessidade de
uma Grande Chave.
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Isso não significa que temos de nos tornar niilistas. Longe disso. Vários anos atrás, um
amigo me disse que achava que o conceito implícito subjacente em A Cidade Secular é
a boa e velha doutrina calvinista da providência. No começo eu recusei, mas tenho
acreditado que ele está certo.
Vivemos hoje sem os mapas ou tabelas de horários nos quais nossos antepassados
investiram tamanha confiança. Para viver bem em vez de mal precisamos de certa
confiança estranha que, apesar de nossa experiência fragmentada e descontínua, de
alguma forma, tudo eventualmente faz sentido. Mas nós não precisamos saber como. Há
alguém, mesmo na cidade secular, que faz isso acontecer.
*
Dr. Cox é professor de Divindade na Harvard Divinity School. Ele escreveu este artigo para
republicação de A Cidade Secular. O artigo foi publicado no The Christian Century, em 07 de novembro
de 1990, p. 1025-1029. Usado com permissão do autor. Traduzido por Janos Biro Marques Leite.
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Famoso casal de tele-evangelistas americanos (N.T.)
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