Ebook - Como Implantar Com Sucesso Um Pomar de Abacateiro
Ebook - Como Implantar Com Sucesso Um Pomar de Abacateiro
Ebook - Como Implantar Com Sucesso Um Pomar de Abacateiro
COM SUCESSO UM
POMAR DE
ABACATEIRO
CASA DO PRODUTOR RURAL
ESALQ|USP
Piracicaba, 2020
Universidade de São Paulo
Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”
Revisão Técnica:
Marcelo Brossi Santoro
Matheus Luís Docema
Colaboração:
Letícia Frabetti Cardoso de Mello Tucunduva Gomes
Figuras adaptadas
Luís Felipe Beraldo
Coordenação Editorial
Marcela Matavelli
Agradecimentos:
Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária
Diretoria da ESALQ/USP
Comissão de Cultura e Extensão Universitária
Serviço de Cultura e Extensão Universitária
Apoio:
Realização:
ORIGEM E
DISPERSÃO
DO ABACATEIRO
Raça Mexicana (M): tem como centro de Raça Guatemalense (G): tem como centro
origem os planaltos do México, de clima de origem os planaltos da Guatemala
subtropical e altitudes que compreendem (2400 a 2800 m), sendo menos exigente
de 800 a 2400 metros (m). As plantas em calor e típica de clima subtropical,
apresentam tolerância a geadas e resistem apresentando plantas de média tolerância
a temperaturas de até -4ºC. Os frutos das a geadas e que resistem a temperaturas de
plantas desta raça possuem tamanhos até -6ºC.
pequenos a grandes, de formato piriformes,
com casca fina e lisa, além de possuírem Os frutos possuem formatos arredondados
altos teores de óleo. A maturação dos frutos e tamanhos variáveis, com casca de
ocorre no inverno e na primavera, espessura grossa e textura quebradiça,
necessitando de 10 a 12 meses do período além de médios teores de óleo. A
entre o florescimento e a maturação (média maturação dos frutos ocorre no verão,
a tardia) (KOLLER, 2002). necessitando de 7 a 9 meses do período
entre o florescimento e a maturação (médio
Raça Antilhana (A): tem como centro de a tardio) (KOLLER, 2002).
origem a costa oeste da América Central,
representada por terras baixas (0 a 800 m),
quentes e úmidas (clima tropical),
características estas que tornam as plantas
Área Produtividade
Produção
Ranking - País Cultivada (quilograma/
(toneladas)
(hectares) hectare)
2º República
644.306 13.924 46.272,4
Dominicana
Cultivares JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ
Avocado
Breda/Margarida
Fucks/Geada
Fortuna/Quintal
O abacateiro é uma planta de porte médio a O sistema radicular apresenta raiz pivotante
elevado, podendo atingir alturas superiores e vigorosa em plantas oriundas de
a 20 m, principalmente, quando plantadas a sementes, entretanto, em plantas
partir de mudas oriundas de sementes. A enxertadas e bem conduzidas, o sistema
copa possui uma arquitetura ereta, radicular é pouco profundo, com 80% de
compacta ou mais espalhada, suas raízes concentradas nos primeiros 100
apresentando folhas perenes, sendo que, centímetros do perfil do solo (LEMUS et al.,
algumas cultivares de abacateiros podem 2010).
trocar de folhas antes do período de
floração (KOLLER, 2002).
Grupo Floral A
Flor 1 ♀ ♂
Flor 2 ♀
Flor 1 ♀ ♂
♀
Grupo Floral B
Flor 2
Outro fator muito importante no processo de Embora a produção de flores seja extremamente
polinização que deve ser levado em consideração elevada nas plantas, a taxa de frutificação e
é a presença de agentes polinizadores no pomar, fixação de frutos é relativamente baixa, sendo
especialmente as abelhas (Apis mellifera). que, nos primeiros meses após a floração ocorre
uma grande queda de frutos, devido,
E para isso, pode-se optar por inserir colmeias principalmente, à baixa fertilização, além de
dentro dos pomares, recomendando-se também formações de flores anormais e estéreis. Desta
que os abacateiros, de grupos diferentes, estejam forma, a frutificação pode ser influenciada por
a uma distância de no máximo 100 metros entre vários fatores de origem biológica e fisiológica,
si. além das condições ambientais locais.
ABACATE FORTUNA
ABACATE QUINTAL
ABACATE BREDA
ABACATE HASS
Fonte: EMBRAPA
Fonte: EMBRAPA
Pollock B Antilhana
Quintal B Híbrido
Fuerte B Híbrido G x M
Ryan B Híbrido
Prince B Guatemalense
Linda B Guatemalense
Glória B Guatemalense
Itzamna B Guatemalense
Tatuí B Híbrido A x G
Barbieri/Limeirão B Antilhana
Campinas B Híbrido A x G
Solano B Híbrido G x A
Waldin A Antilhana
Simonds A Antilhana
Collinson A Híbrido A x G
Booth A Híbrido
Fortuna A Híbrido A x G
Hass A Guatemalense
Rincon A Híbrido
Wagner A Guatemalense
Figura10. Resumo das principais cultivares brasileiras de abacates produzidas no Brasil. Fonte: adaptado de
HORTIESCOLHA.
Exigências Climáticas
Os fatores climáticos que mais influenciam no desenvolvimento vegetativo e reprodutivo
dos abacateiros são temperatura, precipitação e ocorrência de ventos, sendo esses os
principais gargalos no planejamento e implantação de pomares desta frutífera (KOLLER,
2002). Em relação à temperatura, as cultivares de abacateiros possuem comportamentos
diferentes e estão relacionados de acordo com as origens das raças. Desta forma, as faixas
de temperaturas para o cultivo são amplas, variando de valores negativos a temperaturas
superiores a 30 ºC. As plantas oriundas de cruzamentos das raças antilhanas são mais
sensíveis a baixas temperaturas, em comparação com as outras raças.
Como implantar com sucesso um pomar de abacateiro
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Em relação as temperaturas ideais para o ressecamento de tubo polínico durante os
desenvolvimento, tem-se que a raça mexicana longos períodos de estiagens, afetando
pura (Persea americana var. drymifolia) tolera drasticamente a produtividade dos pomares.
temperaturas baixas, de até -2,2 °C, sendo que
as temperaturas compreendidas entre 5 a 17 °C O vento é um importante aliado na manutenção
são favoráveis ao desenvolvimento vegetativo e da umidade interna adequada das copas,
reprodutivo. entretanto, sua ocorrência a velocidades acima
de 10 km/h pode prejudicar a polinização
A raça guatemalense (Persea americana var. durante o florescimento, além de causar
guatemalensis) tem características climáticas quedas de flores e frutos e também provocar
subtropicais, tendo como faixa ótima de lesões que depreciam a comercialização
temperatura de 4 a 19 °C e a raça antilhana (KOLLER, 2002; DUARTE, 1998). Na fase de
(Persea americana var. americana), por sua vez, implantação de pomares, ventos fortes podem
apresenta como temperatura ideal faixas de 18 danificar as mudas novas, quebrando-as. Além
a 26 °C (TEIXEIRA et al., 1991). disso, o vento pode atuar como agente
facilitador da ocorrência de pragas como tripes
Desta forma, a temperatura é um fator de e doenças como a verrugose.
fundamental importância no planejamento dos
pomares quanto a escolha das cultivares, pois, Outros fatores também podem influenciar no
em regiões quentes ocorre a antecipação da desenvolvimento e desempenho produtivo dos
colheita, sendo que o ciclo do florescimento a abacateiros, tais como cultivar empregado,
maturação dos frutos é encurtado, enquanto qualidade de muda, espaçamento utilizado,
em regiões frias, este ciclo é estendido, fertilidade de solo, práticas de manejos
ocorrendo um atraso na colheita. nutricionais e fitossanitários (GARNER; LOVATT,
2008).
A precipitação é outro fator importante que
deve ser considerado na implantação de um Exigências do Solo
pomar de abacate, sendo que as plantas
necessitam, em média, de 1200 a 1500 Antes de escolher uma área para a implantação
milímetros ao ano, com chuvas bem de um pomar de abacateiro, é importante se
distribuídas ao longo do ano (TEIXEIRA et al., atentar para algumas características
1991). Vale lembrar que a demanda hídrica relacionadas ao solo, fundamentais para o bom
varia de acordo com o estádio fenológico em desenvolvimento do sistema radicular. O
que a planta se encontra, sendo o abacateiro se desenvolve melhor em solos
florescimento e a frutificação as etapas mais francos ou areno-argilosos, com textura média
exigentes em água (WHILEY et al., 1988). de 15 a 34% de argila, boa profundidade, bem
drenados, levemente ácidos (pH entre 5 a 7) e
As necessidades hídricas também diferem de sem camadas de impedimento, uma vez que, as
acordo com as raças, sendo que as plantas raízes do abacateiro podem atingir seis metros
pertencentes à raça Mexicana (Persea de profundidade (TEIXEIRA et al., 1991).
americana var. drymifolia) necessitam de 1.500
mm/ano, as da raça Guatemalense (Persea Além de suas características físico e químicas
americana var. guatemalensis) necessitam de adequadas, a escolha do local de implantação
precipitações inferiores a 1.500 mm/ano e as deve ser analisada, priorizando áreas que não
plantas da raça Antilhana (Persea americana estão sujeitas ao encharcamento ou com
var. americana) requerem 1.000 mm/ano históricos de ocorrência de Phytophthora
(TAMAYO; CORDOBA, 2008). cinamomi, agente causal da podridão radicular
ou gomose, uma das principais doenças que
Os abacateiros são sensíveis ao estresse afetam a cultura do abacateiro (PICCININ;
hídrico, principalmente, se ocorrer no pré- PASCHOLATI, 1997). Solos com textura argilosa
florescimento e florescimento, podendo levar a podem causar o desenvolvimento mais lento
quedas acentuadas de folhas e frutos, além de dos abacateiros, sendo que os solos com teores
Como implantar com sucesso um pomar de abacateiro
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de 35 a 40% de argila são marginais ao plantio, e
necessitam, obrigatoriamente, de preparos
específicos do solo.
N,
Anos P₂O₅‚ g/planta K₂O‚ g/planta
g/planta
1a2 100 100 80 40 50 20 0
Destaca-se que os usos de cloretos são problemáticos na cultura do abacateiro, pois podem
salinizar os solos, além de causar queimadura nos frutos sendo extremamente sensíveis. As
principais alternativas são nitrado e sulfato de potássio.
Pragas e Doenças
Neste material, abordaremos as principais pragas e doenças que incidem nas fases iniciais de
implantação de pomares de abacateiros, sendo que a prática de um manejo eficiente e correto é
fundamental para a redução e controle destes agentes. As pragas comumente encontradas são:
Coleobrocas
(Acanthoderes jaspidea):
O adulto é um besouro de cor acinzentada com pontos pardos nas asas, possui cerca de 2,5 cm
de comprimento. Neste caso, é a ovoposição da fêmea nos ramos que causa problemas ao
pomar, que secam e caem. O controle destas pragas é feito através de um manejo eficiente e
eliminação de galhos e/ou troncos afetados, além da realização de controle químico, a partir de
princípios ativos como Fenitrotion, Malathion ou Trichlorfon (DUARTE,1998).
Podridão das Raízes: provocada pelo fungo (Phytophtora cinnamomi) que atacam,
principalmente, abacateiros instalados em solos mal drenados. A doença é comumente
conhecida como gomose, nesses casos o fungo destrói o sistema radicular, causando o
escurecimento característico, tornando-as incapazes de absorver água e nutrientes, o que pode
levar a morte da planta (SALATA; SAMPAIO, 2008).
Verrugose
(Sphaceloma perseae):
A verrugose ou sarna do abacateiro é uma das
principais doenças fúngicas do abacateiro,
causando a depreciação da aparência dos
frutos, além de provocar a queda precoce. Os
frutos quando atacados ficam com pequenas
pontuações eruptivas, verrugosas, com
tamanho de 5 a 6 mm de coloração marrom,
que aumentam rapidamente e coalescem. O
controle é realizado com a utilização de
cultivares resistentes, além da utilização de
fungicidas cúpricos.
Cercosporiose
(Cercospora perseae):
Doença fúngica que ataca os frutos
provocando pequenas lesões (3 a 6 mm de
diâmetro), ligeiramente deprimidas e
irregulares, de coloração marrom. Em
condições de alta umidade, podem surgem
pontos de coloração acinzentada no centro
das lesões (esporulação do patógeno),
provocando a queda dos frutos. Lesões
angulares de 1 a 3 mm de diâmetro, de
coloração marrom ou cinza também são
observadas nas folhas, evoluindo para a Figura14. Abacate da cultivar Geada com
formação de halos cloróticos. Recomenda-se o sintomas de antracnose.
uso de cultivares resistentes para o controle da Foto: Marcelo Brossi Santoro.
doença.
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