Escolas Tradicionais Das Relações Internacionais
Escolas Tradicionais Das Relações Internacionais
Escolas Tradicionais Das Relações Internacionais
Importância dos autores, os conceitos e as principais teorias para analisar e compreender as dinâmicas,
os eventos e fenômenos do sistema internacional.
PROPÓSITO
Apresentar as teorias clássicas das Relações Internacionais, seus conceitos, principais autores e as
visões de mundo.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
MÓDULO 3
INTRODUÇÃO
Conheceremos as escolas tradicionais das Relações Internacionais nos próximos três módulos de
estudos. Analisaremos a Teoria Realista, o modelo teórico ligado aos liberalismos e a Economia
Política Internacional (EPI).
(PAULA, 1962)
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Capa do jornal brasileiro O Paiz, a respeito do armistício da Primeira Guerra Mundial (1918). Fonte:
Tks4Fish.
O surgimento das RI, como um campo do saber, está atrelado ao contexto da época, e a origem das
principais teorias também sofre essas influências. Por causa do surgimento sob circunstâncias
diferentes, diferenças em suas premissas, valores e prioridades podem ser observadas.
Apesar das diferenças, em termos gerais, o campo de estudo das relações internacionais possui um
objeto de análise principal: o comportamento dos atores no sistema internacional.
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Fonte: Alba_alioth | Shutterstock
Nos módulos que seguem apresentaremos algumas das principais teorias da área e importantes e seus
debates no campo das Relações Internacionais. As teorias devem ser sempre consideradas como
ferramentas importantes de análise, que auxiliam a compreensão de dinâmicas e os eventos
internacionais, facilitando o entendimento e oferecendo técnicas e pontos de vista.
MÓDULO 1
TEORIA REALISTA
A Teoria Realista é uma das mais tradicionais e relevantes no contexto das Relações Internacionais,
sendo considerada a sua mais antiga escola de pensamento.
Segundo Pecequilo (2016, p. 11), as origens da teoria remontam ao século XV, dois antes do surgimento
da corrente liberal, sua principal opositora, confirmando a tradição.
Apesar de ter origem mais antiga, o realismo não foi a teoria inaugural do recém-criado campo de
pensamento das Relações Internacionais, surgido logo após o fim da Primeira Guerra Mundial.
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Parada militar em comemoração à vitória na Primeira Guerra Mundial em 1919. Fonte: Everett
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COMENTÁRIO
A corrente idealista, de caráter liberal, que será explicada no próximo módulo, antecede o realismo,
surgido como uma crítica aos idealistas e suas propostas.
Quando os autores clássicos da Teoria Realista escreveram suas ideias, eles não eram
considerados realistas e essa corrente ainda não existia.
A noção atual de realismo leva em conta os teóricos do pós-Primeira Guerra, que consideraram
pertinentes os escritos de autores clássicos, do século XV em diante.
EXEMPLO
Quando Nicolau Maquiavel (1469-1527) escreveu sua obra mais conhecida O Príncipe, o italiano não foi
considerado realista por seus contemporâneos, apesar de atualmente configurar como um representante
desse pensamento.
O embate entre as duas correntes de pensamento dá vida ao famoso Primeiro Grande Debate das
Relações Internacionais que contrapõe:
IDEALISMO
REALISMO
A resposta é simples, ao mesmo tempo em que é complexa: os realistas são reconhecidos por seu
enfoque nas relações de poder, conferindo papel de coadjuvante a todos os outros elementos dentro de
suas análises. Para os teóricos desta corrente tudo é sobre poder.
CENTRALIDADE E RACIONALIDADE DO
ESTADO
Além de tudo ser sobre poder, é necessário entender quem são os verdadeiros donos do poder no
âmbito das Relações Internacionais.
É importante ter em mente o contexto no qual os autores produziam e teorizavam sobre o mundo. No
caso dos realistas, consideramos os conflitos armados não raros na Europa e em outras partes do
mundo. Utilizando essa ótica, ao considerarmos a quantidade de poder que detinham os Estados
nacionais soberanos, parece natural que os realistas passassem a conferir centralidade ao Estado em
suas análises, posicionando o Leviatã como o principal ator nas Relações Internacionais.
LEVIATÃ
A metáfora do Estado como leviatã tem como referência seminal o livro Leviatã ou matéria, palavra
e poder de um governo eclesiástico e civil escrito por Thomas Hobbes, em 1651. Utilizando o
Leviatã bíblico, o autor trata da estrutura da sociedade e do governo, e é considerado uma
importante referência para a Teoria do Contrato Social. A metáfora foi apropriada por outros
estudiosos que estudam as relações entre poder, instituição e Estado.
Esse indivíduo é o máximo representante de uma estrutura de poder que, na visão realista, busca o
tempo todo e a qualquer custo assegurar sua existência e segurança além de tentar atingir seus
interesses nacionais.
Sob a ótica do realismo, como a noção de poder é limitada – para que um possua, o outro não pode
possuir –, decisões irracionais impedem a maximização da busca pelos interesses estatais e pode
ameaçar a sobrevivência do Estado.
RESUMINDO
Os realistas não aceitam a ideia de um Estado (ou seus representantes) irracional, pois acreditam que,
com toda a capacidade humana, intelectual, científica, militar e diplomática, e a necessidade de garantir
a sua sobrevivência, não existe espaço para decisões ou atitudes incoerentes ou amadoras.
Os realistas buscam analisar as relações de poder e como os Estados nacionais são os detentores do
poder real, as análises se concentram nas relações de poder entre os Estados, formulando o
pensamento deles do que são as RI:
Um conjunto de relações e interações entre Estados soberanos na constante busca pelo poder e
pela sobrevivência.
Agora, seguimos para a introdução do sistema internacional, um conceito muito importante para
compreender como as premissas anteriores se relacionam na prática e as demais teorias das Relações
Internacionais.
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ATENÇÃO
É importante mencionar que diferentes fatores, naturais ou não, influenciam nas capacidades de um
Estado e afetam a quantidade de poder que detêm.
Agora que você já viu um pouco sobre o pensamento racional, vamos testar seus conhecimentos!
Imagine dois países:
o país A possui um vasto território, com muitos recursos naturais: água, recursos minerais, relevo e
clima favoráveis à agricultura;
o país B, que possui relevo e clima desfavoráveis à agricultura, pouca água e é pobre em recursos
minerais.
De acordo com a lógica racional, qual seria a provável realidade econômica de cada um desses países?
RESPOSTA
O pensamento lógico sugere que o país A tenha melhores condições para ser mais forte do que o país B,
pois, com mais espaço, pode produzir mais alimentos, aumentar sua população, explorar as riquezas
naturais, comercializar o excedente e, assim, prosperar comercialmente. Já o país B teria dificuldades em
aumentar sua população pela dificuldade de produzir alimentos, pela escassez de água e de terras
adequadas. Igualmente, a falta de recursos minerais a serem explorados impede que usem ouro ou outros
metais para trocas com seus vizinhos. Desse modo, o país B é mais frágil e dependente de seus vizinhos.
COMENTÁRIO
É importante lembrar que essa é apenas uma simplificação da realidade para fins didáticos. Diversos
fatores afetam essa questão e o debate teórico a respeito do motivo pelo qual as nações prosperam é
vasto e complexo.
Apesar de superficial, o exemplo serve para mostrar como são assimétricos os países no sistema
internacional. O tamanho da população, seus recursos naturais, seu grau de inovação, sua destreza
comercial e diversos outros fatores permitem que países prosperem enquanto outros permanecem
frágeis e dependentes. A lógica da escassez exemplifica, em alguma medida, a percepção realista.
PARALELO
Apesar de esse paralelo apresentar muitas falhas, ele é válido para fins didáticos.
MACRO
Sistema internacional
MICRO
Assim como o indivíduo sofre com a escassez, é afetado pelas relações de poder na sociedade e
precisa tomar decisões racionais a fim de garantir sua sobrevivência e a manutenção de suas posses,
com os Estados acontece de maneira semelhante.
(CASTRO, 2012)
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Os realistas acreditam que o SI seja assimétrico, isto é, alguns possuem mais poder do que outros e,
portanto, cada Estado busca maximizar seu poder a fim de garantir sua sobrevivência e conquistar
meios de fortalecer suas capacidades, sempre com o intuito de consolidar o Estado e sua soberania.
Os diferentes Estados soberanos e racionais utilizam seu poderio para se relacionar com os outros
Estados no SI nas mais diversas áreas: comercial, diplomática, militar, cultural entre outras, e garantir
melhores negociações.
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O SI é também onde ocorrem as disputas de poder entre os atores que buscam sempre maximizar seus
ganhos, mesmo ao custo de fazer os demais perderem, o que é conhecido como um jogo de soma zero:
Vamos imaginar os países A e B, em que cada um deles produz 8 produtos. Durante o desenvolvimento
de suas estratégias de expansão, os dois decidem disputar o seu mercado.
Logo o país A percebe que possui mais recursos e vantagens em seu território para produzir 3 dos 8
produtos e, rapidamente, domina essa produção e afeta outras no país B, que, por sua vez, consegue
apenas aproveitar oportunidades em 2 produtos no país A.
Isso evidencia a ausência de um Leviatã central capaz de governar o mundo todo e as relações
internacionais, como fazem os países dentro de seus territórios:
COMENTÁRIO
Fica evidente a importância de os atores estatais buscarem a racionalidade em suas ações visto que os
recursos são escassos, limitados e todos os atores estão lutando, ao mesmo tempo, para garantir a
própria sobrevivência (a existência do Estado), bem como o acesso a recursos (alimentos, água,
ferramentas de defesa, dinheiro etc.), tornando ações irracionais muito custosas e perigosas, algo
considerado arriscado demais para a sobrevivência do Estado.
Tudo o que é de extrema importância para a segurança nacional, como as questões militares e de
defesa, que incluem manutenção da paz doméstica, capacidades de defesa perante uma ameaça
externa e a manutenção do monopólio estatal do uso da força.
Low politics - baixa política
Temas de relevância secundária, que incluem questões comerciais, culturais, e de outras naturezas.
Essa é a mentalidade dos realistas e como eles percebem o mundo. Em seguida, apresentaremos os
principais autores, que escreveram suas teorias em épocas e contextos diferentes, mas com premissas
comuns como as que temos apresentado.
REALISMO CLÁSSICO
REALISMO MODERNO
REALISMO CLÁSSICO
Representado por autores como Tucídides, do século IV a.C., Maquiavel e Hobbes, nos séculos XV e
XVI e Max Weber no século XIX.
REALISMO MODERNO
Pecequilo (2016, p. 26) agrupa os realistas modernos a partir do século XX, nomeando E. H. Carr entre
1919 e 1939 e sua importante obra sobre os Vinte anos de crise, segue com Hans Morgenthau e o
realismo neoclássico, entre 1940 e 1960.
Apesar da diferença de tempo e de conjuntura que marca os teóricos do realismo pré-século XX, que
conta com nomes como o de Tucídides (século X a.C.), Maquiavel (século XVI), Hobbes (século XVII),
Rousseau (século XVIII) e Weber (século XIX), todos buscam explicações para duas questões
importantes de suas épocas, por meio das análises sobre:
Natureza humana
O ser humano é naturalmente perverso, uma vez que está constantemente em busca de glória e poder,
agindo de maneira egoísta e conflitiva na busca de conquistar seus objetivos ou manter suas conquistas
e seus interesses
REALISMO CLÁSSICO
Castro (2012) evidencia a sobrevivência e a manutenção do Estado como centrais para o realismo, que
utiliza como ferramentas a conservação do poder e a preservação da ordem. Abaixo, apresentamos,
resumidamente, o pensamento de três importantes autores da escola realista clássica:
TUCÍDIDES
Viveu no período da Grécia Antiga; o sistema internacional que analisou se limitava basicamente às
cidades-Estados gregas. Apesar de escrever sobre os conflitos do período, inclusive a junção da Liga
Helênica, no combate a Atenas, em busca de um equilíbrio de poder, o teórico acreditava que o
desequilíbrio de poder era natural e inevitável entre os Estados, afirmando que estes deviam se adaptar
ao poder desigual.
Para Tucídides, na anarquia internacional, os Estados não possuem muitas escolhas a não ser buscar
maximizar sua força usando a política do poder na qual a sobrevivência e a segurança configuram os
principais valores (JACKSON; SORENSEN, 2007).
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Busto de Tucídides, autor desconhecido, (séc. IV). Fonte: Captmondo.
MAQUIAVEL
Descreveu seus pensamentos no contexto da Itália dividida entre diferentes repúblicas em que a
rivalidade reinava. No cenário hostil, Maquiavel reconheceu a centralidade do Estado, dando ênfase
especial à realidade observada e não fruto da imaginação ou idealizações.
Sua visão do sistema internacional sugere que os príncipes estejam sempre prontos para a guerra, pois
é a única forma, juntamente com boas leis, de garantir a segurança do Estado ao mesmo tempo que
demonstra força e capacidade aos demais, o que contribui para evitar conflitos. A guerra também é vista
como uma ferramenta de governantes para alcançar seus objetivos, mesmo que seja a busca por
riquezas e glórias (SARFATI, 2005).
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Retrato de Nicolau Maquiavel, Santi di Tito, (séc. XVI). Fonte: Thomas Gun.
THOMAS HOBBES
Descreveu o que seria o Estado de natureza, que diz respeito à condição natural pré-civil da
humanidade caracterizada como solitária, pobre, bruta e curta, onde existe um Estado permanente de “
guerra de todos contra todos”.
O Estado surge como um mal necessário para que os indivíduos possam desfrutar de mais
ordenamento, segurança e previsibilidade (o Leviatã). Para Hobbes, a criação do Estado — que põe fim
ao Estado de natureza —, é fruto da emoção dos indivíduos, que temem a morte, mais do que da razão.
No campo internacional, o Estado de natureza é mantido, uma vez que o SI é marcado pela anarquia;
isso é chamado de “dilema da segurança”, não podendo ser superado pela impossibilidade de criar um
governo mundial, visto que os Estados soberanos se diferem dos indivíduos e não desejam abrir mão de
suas soberanias.
Hobbes também defende que a guerra é necessária como recurso final para solucionar litígios entre
Estados (JACKSON; SORENSEN, 2007).
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Retrato de Thomas Hobbes, autor desconhecido (séc. XV). Fonte: FranksValli.
REALISMO MODERNO
O realismo moderno representa um período mais recente da Escola Realista, e surge a partir do
fracasso do idealismo wilsoniano após a Primeira Guerra Mundial. Os dois expoentes mais importantes
são Edward Carr e Hans Morgenthau.
EDWARD CARR
Publicou seu livro Vinte anos de crise, em 1939, criticando duramente o idealismo wilsoniano com
inspirações liberais do passado, carregado de uma falsa utopia, impedindo uma visão realística da
realidade.
Carr retoma o pensamento realista clássico apesar de ainda não construir nova teoria voltada para as
Relações Internacionais. Assim, por vezes, sua posição entre os teóricos realistas modernos é
questionada.
Para o autor, a política internacional é movida pelo poder e, no contexto do SI anárquico, não existem
cooperações estatais movidas por valores ou princípios, mas equilíbrios de poder e convergências
setoriais para assegurar a sobrevivência e segurança do Estado.
Do mesmo modo, a política internacional não possui travas e tem nas relações de poder o meio e o fim
de toda a ação estatal, considerando sua racionalidade como ferramenta para expandir seu poderio.
Para Carr, as principais fontes de poder no SI são bélica, econômica e de opinião, portanto, o país que
detém essas fontes determina a direção da política internacional (PECEQUILO, 2016).
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Retrato de Edward Carr, autor desconhecido (1892). Fonte: Themightyquill.
HANS MORGENTHAU
É considerado o pai da Escola Realista neoclássica (novo clássico), que inovou e trouxe contribuições
ao novo campo do conhecimento: as Relações Internacionais.
Morgenthau (1985) descreve a busca humana pelo poder como natural e a política um espaço de luta
pelo poder.
Ele retoma o pensamento clássico ao defender uma moral para a esfera privada e outra para a pública,
diferentemente da ética idealista de Wilson, considerada imprudente pelo autor. Suas principais
contribuições se resumem aos seis princípios do realismo político:
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Retrato de Hans Morgenthau, Ralph Morse, (1963). Fonte: Gobonobo.
A ética, nas Relações Internacionais, é política, muito diferente da ética particular dos indivíduos, pois há
uma grande responsabilidade para com a população
Os realistas se opõem à imposição de valores e crenças por parte de um país ou um grupo sobre outros,
representando uma ameaça à segurança internacional
É importante reconhecer a natureza pessimista dos seres humanos e a política internacional deve levar
isto em consideração ao invés de idealizar a natureza humana
CONCLUSÃO
Neste módulo, discutimos a Escola Realista das Relações Internacionais em duas de suas principais
vertentes: o realismo clássico e o moderno.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. AO CONSIDERAR A ÓTICA REALISTA, IDENTIFIQUE ABAIXO A ALTERNATIVA
QUE REPRESENTA ALGUNS DOS TEMAS MAIS CAROS AOS REALISTAS, QUE
SE ENCAIXAM NO CONCEITO DE HIGH POLITICS, A ALTA POLÍTICA:
A) Comércio Internacional
B) Educação e cultura
E) Tecnologia e inovação
GABARITO
1. Ao considerar a ótica realista, identifique abaixo a alternativa que representa alguns dos temas
mais caros aos realistas, que se encaixam no conceito de high politics, a alta política:
Para os realistas, os temas que envolvem a preservação do Estado são prioritários, incorporando
assuntos como as questões militares, a manutenção da paz doméstica e as capacidades de defesa
perante ameaças externas.
2. Identifique abaixo quais são as principais características do pensamento realista com relação à
natureza humana e o objeto central das Relações Internacionais:
MÓDULO 2
Neste modulo, apresentaremos os liberalismos, seus principais conceitos e seu pensamento no âmbito
das Relações Internacionais. Discutiremos as diferenças entre os liberalismos político e econômico,
considerando os liberalismos clássico e moderno.
O termo liberalismo está associado à noção de liberdade e surgiu durante o século XVIII em um contexto
no qual a burguesia buscava ampliar suas liberdades econômicas, políticas, intelectuais e sociais, além
de combater os excessos do absolutismo monárquico e as imposições religiosas.
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Galeria dos espelhos no Palácio de Versalhes. Fonte: Myrabella.
Absolutismo monárquico
Essa organização social impunha aos indivíduos uma série de instituições como a da família, da ordem,
do Estado e da Igreja.
Liberalismo político
Rompimento com as instituições do antigo regime e defesa dos direitos políticos dos indivíduos, como os
direitos de propriedade, de expressão, de associação; e um Estado livre dos abusos de um governante
que, praticamente, podia tudo.
Nesse contexto, um importante teórico dessa escola de pensamento, defendia o princípio da separação
de poderes:
Retrato do Barão de Montesquieu. Fonte: Alonso de Mendoza.
MONTESQUIEU (1689-1775)
A separação dos poderes desassociava as autoridades religiosas e políticas, tidas como inseparáveis
no antigo regime. Entre seus teóricos mais importantes figuram também John Locke (1632-1704), Alexis
de Tocqueville (1805-1859) e Benjamin Constant (1836-1891) (DORTIER, 2010).
LIBERALISMO ECONÔMICO
Diz respeito à dimensão econômica dessa corrente de pensamento e tem como uma de suas máximas o
princípio do laissez-faire (“deixar fazer”). Nele, a teoria gira em torno de duas premissas centrais:
Livre comércio representa a melhor forma de dividir a riqueza
Essa corrente também é subdividida entre os liberais clássicos, entre os quais se destacam Adam
Smith (1723-1790), David Ricardo (1772-1823), John Stuart Mill (1806-1873), e os liberais
neoclássicos que reformularam o pensamento inicial durante os anos 1870.
APESAR DE SUA ORIGEM REMOTA, O LIBERALISMO
SOFREU DIVERSAS MODIFICAÇÕES E ATUALIZAÇÕES,
SENDO AINDA CONSIDERADO UMA IMPORTANTE
CORRENTE TEÓRICA.
(DORTIER, 2010)
COMENTÁRIO
O economista Paulo Guedes (1949-) é considerado de caráter liberal, o que comprova a relevância
desse pensamento ao longo do tempo. É claro que ao ser considerado liberal ele não é uma cópia do
pensamento clássico do liberalismo, mas inspirado e partilhando de princípios comuns, como
reconhecer a importância dos mercados, da liberdade econômica e da defesa de poucas regulações na
economia.
LIBERALISMO CLÁSSICO
Oferece as bases para o pensamento liberal nas Relações Internacionais, também conhecido como
idealismo, e representa uma oposição ao pensamento realista.
Uma premissa importante para o liberalismo, que revela os contrastes em relação ao pensamento
realista, é justamente a centralidade do Estado:
ABADE DE SAINT-PIERRE
(1658-1743)
(1632-1704)
IMMANUEL KANT
(1724-1804)
Esses autores se diferem dos realistas também pela percepção progressista e otimista sobre a
natureza humana: confiam no progresso humano, na divisão de responsabilidades coletivas em busca
de um bem comum como a paz, a justiça e a cooperação. Defendem também as instituições
multilaterais, os regimes internacionais e a força dos acordos internacionais.
MARSÍLIO DE PÁDUA
(1275-1342)
A comunidade perfeita
Retrato de Thomas More, Hans Holbein (1527). Fonte: File Upload Bot
THOMAS MORE
(1478-1535)
Utopia
Segundo Castro (2012), de forma resumida, as principais premissas do pensamento liberal clássico são:
Lógica da boa-fé
Criação de uma estrutura global de valores compartilhados, por meio da qual um sistema jurídico seria
capaz de promover a paz e a justiça
Os liberais possuem uma visão positiva e otimista acerca da natureza humana e defendem a garantia
das liberdades individuais como um dos princípios do Estado justamente por admitirem a
racionalidade e a razão humana.
Apesar de reconhecerem características egoístas e competitivas nos seres humanos, afirmam que a
existência de valores e crenças comuns permite haver engajamento e cooperação na sociedade entre
os indivíduos, o que também se aplicaria ao contexto internacional, promovendo ganhos mútuos
internamente e no exterior.
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O IDEALISMO DE WILSON
No fim da Primeira Guerra Mundial, a escola liberal ganhou impulsos com a agenda internacional do
presidente norte-americano Woodrow Wilson (1856-1924), tornando-se um importante referencial para o
campo.
Retrato de Woodrow Wilson, Frank Graham Cootes (1913). Fonte: Futurist110.
O Programa para a paz mundial, também referido como os Quatorze pontos de Wilson, foi um
discurso proferido em 1918, na capital dos Estados Unidos, que discutiu a questão da Guerra e propôs
soluções para o Tratado de Versalhes, que aconteceria no ano seguinte, fornecendo as bases para o
pensamento dessa corrente apelidada de idealista.
Os pontos de Wilson, investido dos princípios liberais, incluíam a defesa da diplomacia aberta, da
transparência, do desarmamento e a liberdade comercial, ao mesmo tempo em que fazia críticas ao
imperialismo europeu. Esse discurso foi responsável por introduzir três importantes princípios:
Fonte: Lightspring/Shutterstock
Democracia
Referia-se à relação de dependência entre paz e democracia, que ecoava os princípios liberais de
igualdade, liberdade, cooperação e transparência.
Fonte: Pressmaster/Shutterstock
Segurança coletiva
Previa a criação de uma estrutura permanente, que funcionaria como um mecanismo de defesa coletiva,
que não mais se apoiaria em alianças militares esporádicas ou estratégicas: a Liga das Nações, um
marco importante do sistema multilateral, base para a criação da Organização das Nações Unidas
(ONU) e de seu sistema.
COMENTÁRIO
Mesmo válido, o modelo idealista sofreu duras críticas à época; uma série de eventos relevantes como a
Crise de 1929, o expansionismo territorial de regimes autoritários na Europa e na Ásia e o início da
Segunda Guerra Mundial pareciam ter colocado um ponto final nessa corrente de pensamento.
De acordo com Pecequilo (2016), inspirada em alguns dos pontos de Wilson como a defesa da
democracia e da cooperação, foi construída, após o fim da Segunda Guerra, a chamada ordem global
liberal, novamente liderada pelos Estados Unidos, muito fortalecidos pelo conflito, e que sacramentou
seu poderio em âmbito internacional.
Segundo Pecequilo (2016), apesar de ambas as teorias utilizarem o mesmo arcabouço metodológico em
suas análises, as principais discordâncias estão ligadas ao conteúdo e à interpretação, encontrando
explicações nos distintos pontos de partida de cada escola:
Pensada no contexto doméstico dos países, no sentido de promover as liberdades individuais dos
cidadãos. Suas premissas são centradas no indivíduo e reproduzidas no campo da política internacional.
Teoria Realista
Pensada justamente para o campo conflitivo das Relações Internacionais. Uma diferença fundamental
na teoria evidencia essa disparidade: o Estado de natureza, dentro de um território, pode ser controlado
ou eliminado por meio da instituição de um Estado.
No campo internacional, a criação de um Estado não é possível e, portanto, a análise micro não é
aplicável ao macro e vice-versa. Qualquer forma de simplificação reduz a riqueza e a complexidade do
pensamento dessas teorias (DOYLE, 1997).
LIBERALISMO PÓS-SEGUNDA GUERRA:
FUNCIONALISMO
Apresentadas as principais contribuições do pensamento liberal clássico para o campo das relações
internacionais reforçadas pelo idealismo wilsoniano, a corrente liberal de pensamento continua vigente e
é contemporânea.
O fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945, representou um importante momento para as Relações
Internacionais.
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O período foi marcado pelo fortalecimento dos Estados Unidos, que passaram a liderar a chamada
“ordem liberal”, retomando valores liberais clássicos e elementos do idealismo, percebido como
superado, em busca de uma nova Teoria Liberal.
O funcionalismo busca fornecer à teoria liberal bases científicas realísticas para a análise dos
fenômenos e eventos internacionais, descolando a nova teoria das críticas ao idealismo utópico
entendido como irreal e adotando metodologia similar à realista de observar o mundo como ele
realmente é, mas destacando os elementos que reforçam sua fé na cooperação e não no conflito.
ATENÇÃO
O objetivo principal dessa corrente é analisar o funcionamento das organizações internacionais e como
a colaboração, em determinados assuntos, pode resultar no incremento da cooperação. Assim,
abandonaram o desejo de criar uma instituição global, como foi pensada a Liga das Nações, e focaram
na construção de organizações relativamente menores para atuar com funções específicas.
A proposta era fortalecer essas organizações até que ficasse evidente aos Estados que a única
resposta aos problemas globais seria a cooperação.
Essa teoria também contribuiu com a criação de outras correntes como a Teoria da Integração
Regional, que via na integração europeia a chave para que Estados, historicamente rivais,
cooperassem.
A BASE DO PENSAMENTO FUNCIONALISTA ESTÁ NA
PREMISSA LIBERAL DE QUE É POSSÍVEL CONSTRUIR A
PAZ DURADOURA POR MEIO DA COOPERAÇÃO,
ENTENDENDO QUE O AVANÇO TÉCNICO PRODUZ
RESULTADOS TAMBÉM POLÍTICOS DESEJÁVEIS COMO A
COOPERAÇÃO E A PAZ. A PRINCIPAL CRÍTICA AO
FUNCIONALISMO DIZ RESPEITO AO EXCESSIVO OTIMISMO
COM QUE PERCEBEM A RELAÇÃO ENTRE A TÉCNICA E A
POLÍTICA, DESACREDITADA PELAS DIFICULDADES NO
PROCESSO DE INTEGRAÇÃO EUROPEIA QUE
ENFRAQUECEU A NOÇÃO DE QUE ERA POSSÍVEL
DESVENCILHAR O PROGRESSO TÉCNICO DAS DECISÕES
POLÍTICAS.
CONCLUSÃO
Em função do caráter praticamente antagônico das duas teorias estudadas, é possível identificar que
ambas concorrem, lado a lado, por espaço nas arenas internacionais. O liberalismo, ao contrário dos
realistas, é marcado por seu constante otimismo e a mentalidade positiva com relação ao progresso
humano. Acreditam na força da economia e da prosperidade na construção de um mundo melhor,
utilizando, como ferramentas principais, a cooperação internacional, o direito internacional e a
diplomacia.
Quando pensamos nos organismos internacionais, como a Organização das Nações Unidas (ONU) e
suas agências especializadas, repletas de trabalhos técnicos de cooperação, devemos lembrar das
premissas liberais que constituem o alicerce sobre o qual essas entidades foram construídas e
permanecem ativas.
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Na atual conjuntura, grandes potências, como os Estados Unidos, levantam questionamentos com
relação à eficiência do sistema multilateral, colocando em jogo toda a construção da ordem liberal
ocidental.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
GABARITO
O liberalismo surge como uma resposta econômica e política ao antigo regime e se contrapunha às
instituições políticas e religiosas, ao mesmo em tempo que questionava o protecionismo e as regulações
estatais.
2. Segundo a lógica liberal, reconheça, entre as alternativas, qual melhor representa a percepção
liberal acerca da natureza humana.
A corrente liberal tem uma visão otimista e positiva acerca do ser humano, acredita na racionalidade dos
indivíduos, confiando no progresso humano e na cooperação.
MÓDULO 3
INTRODUÇÃO
O campo da Economia Política surge por volta de 1615 com o objetivo de analisar e compreender o
aspecto regulatório e político das relações econômicas. No campo das Relações Internacionais, o objeto
de análise passa a ser o caráter político das relações econômicas no sistema internacional
envolvendo diferentes atores.
Apesar de alguns teóricos defenderem a autorregulação dos mercados, atualmente eles são regidos por
um conjunto de normas criadas e impostas pelo poder político.
A Economia Política Internacional deriva justamente das complexas relações entre as forças econômicas
e as políticas. Segundo Polanyi (1957), o que se discute prioritariamente por essa corrente de
pensamento, no âmbito internacional, são as relações de riqueza e pobreza, identificando quem ganha e
quem perde com o sistema como está tendo como principais forças a busca pela riqueza (economia) e a
busca pelo poder (política).
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PRINCIPAIS CONCEITOS
Os estudos da Economia Política Internacional (EPI) são responsáveis por romper com as tradições
liberal e realista no sentido de ampliar o enfoque, afastando-se da constante dualidade em torno da
cooperação e do conflito, ou entre a paz e a guerra.
Até os anos 1950 e 1960, o campo das RI tratava a economia e a política como temas desconexos e
completamente diferentes.
Contra-ataque das Forças Armadas Revolucionárias Cubanas durante a invasão da Baía dos
Porcos, 19 de abril de 1961. Fonte: Panoramio upload bot.
Durante o período de Guerra Fria, com ameaças recíprocas e a corrida armamentista; o tenso episódio
da Baía dos Porcos (Cuba); a recém-terminada Segunda Guerra Mundial que dizimou dezenas de
milhões de pessoas e; em um espaço de tempo mais distante, as lembranças da Primeira Guerra
Mundial. Nesse contexto conflituoso e pessimista, as teorias do realismo e do liberalismo produziram
parte de seus pensamentos a respeito do mundo durante o século XX.
Já estudamos que os temas de alta política incluíam a segurança e a paz enquanto os temas de baixa
política discutiam as questões econômicas e os demais assuntos da arena política. Os teóricos
pensavam desse modo, bem como os presidentes de países importantes, como General Charles de
Gaulle (1890-1970), da França.
Com uma abordagem diferente, a EPI concentra seus esforços na análise das relações de riqueza,
pobreza e distribuição no sistema internacional, considerando não apenas os Estados, mas também
outros atores como os mercados e as empresas transnacionais.
As principais teorias, que compõem e formam a EPI clássica, derivam de outros campos e, assim como
vemos em diferentes teorias das Relações Internacionais, emprestam suas contribuições às análises da
corrente. Entre as teorias clássicas da EPI, destacam-se:
Liberalismo
Realismo ou mercantilismo
Marxismo
Nos anos 1970, sucessivos eventos e crises econômicas evidenciaram a importante relação entre a
política e a economia, demonstrando que a abordagem anterior talvez fosse equivocada ao dissociar as
duas forças. Veja alguns desses eventos a seguir:
Militares americanos lutando contra os norte-vietnamitas, US Army Signal Corps (1966). Fonte:
Madmax32.
O rompimento do presidente dos Estados Unidos, Richard Nixon (1913-1994), com o princípio da
conversibilidade do dólar junto ao ouro, sacramentado em Bretton Woods.
Nixon no discurso sobre o Estado da União, White House Photo Office (1971). Fonte: Érico.
A Crise do Petróleo, conduzida no âmbito da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP).
Charge sobre a descolonização da África publicada no jornal alemão Neue Leute (1960). Fonte:
CVCE.EU por UNI.LU.
Assim, essa relação ganhou reconhecimento, visibilidade e passou a ser investigada no âmbito da
economia política internacional (JACKSON; SORENSEN, 2007).
RESUMINDO
Almeida (2013) define o mercantilismo como um conjunto de práticas dos Estados absolutistas
modernos que buscavam financiar seus gastos crescentes com suas burocracias e forças armadas. Este
último elemento está associado à ideia apresentada de um Estado forte, capaz de garantir a sua defesa.
BRASIL
Lembre-se do período das Grandes Navegações, entre os séculos XV e XVII, quando o Brasil foi
colonizado pela Coroa portuguesa. A lógica da colonização portuguesa, no Brasil, reproduzia a
mentalidade mercantilista de acúmulo de capital para o fortalecimento do Estado, que, em alguns casos,
era confundido com a própria figura do rei.
Fonte:Shutterstock
Derrubada do Pau Brasil, primórdios do período colonial, no século XVI, Andre Thevet (1515). Fonte:
André Koehne.
FRANÇA
Luís XIV, o Rei Sol, certa vez afirmou que ele era o próprio Estado.
Esse descompasso figura como uma das razões que contribuíram para a Revolução Francesa, em
1789, tendo como um de seus objetivos colocar fim ao absolutismo monárquico do antigo regime.
Fonte:Shutterstock
Retrato de Luís XIV, o Rei Sol, Hydryphantidae (1701). Fonte: Abdicata.
MERCANTILISMO BENIGNO
MERCANTILISMO AGRESSIVO
MERCANTILISMO BENIGNO
O Estado busca maximizar seus ganhos para se fortalecer e garantir sua segurança nacional sem
causar excessivos prejuízos aos demais Estados.
MERCANTILISMO AGRESSIVO
LIBERALISMO
A expressão do liberalismo, no âmbito da Economia Política Internacional, está, sobretudo, relacionada
ao liberalismo econômico, que surge como uma resposta ao mercantilismo e às constantes
interferências da política na economia.
RELEMBRANDO
Apesar de já tratado na parte sobre liberalismos, vamos recapitular algumas das principais premissas do
liberalismo econômico, especialmente no que diz respeito ao contexto da EPI: as relações entre política
e economia.
Para os liberais, a economia não deve ser colocada em segundo plano, pois acreditam que os mercados
são capazes de promover a cooperação, o progresso humano e a prosperidade. Assim, suas análises
têm como base:
Fonte: ImageFlow/Shutterstock
A crença nos ganhos relativos e mútuos, permitindo que as duas partes saíssem ganhando em uma
relação
ADAM SMITH
(1723-1790)
Retrato de David Ricardo, Thomas Phillips (1821). Fonte: P. S. Burton.
DAVID RICARDO
(1772-1823)
De acordo com Jackson e Sorensen (2007), a Teoria das Vantagens Comparativas, de Ricardo, defende
que a eliminação do protecionismo econômico presente no mercantilismo e a instituição do livre
comércio no mundo permitem ganhos a todos os Estados, em maior ou menor grau, pois possibilita a
especialização e, consequentemente, o aumento da produtividade e eficiência.
Em termos práticos, o que Ricardo sugere é que os países se especializem naquilo em que são bons
e eficientes e parem de tentar produzir toda a gama de produtos que consomem.
EXEMPLO
Um país competitivo, na produção de tecido, mas que também necessite de trigo, carne e leite, deve
especializar sua produção na indústria de tecidos, por ser mais eficiente e, com os lucros provenientes
desse comércio, comprar o trigo, a carne e o leite de outros países que produzam esses itens com mais
eficiência.
Agora que você já viu um pouco sobre o pensamento econômico liberal, vamos testar seus
conhecimentos!
Imagine dois países:
A não tem acesso ao mar e possui todas as condições favoráveis para uma agricultura fértil
(território abundante, relevo apropriado, clima favorável e solo fértil);
B fica em uma ilha e possui todas as condições agrícolas desfavoráveis: relevo montanhoso, cheio
de pedras, de difícil cultivo e com solo infértil, mas cercado pelo oceano em que há abundante vida
marinha.
Segundo a lógica liberal, quais medidas deveriam ser tomadas pelos países A e B para garantir a
produtividade e a eficiência da economia?
RESPOSTA
Na lógica de Ricardo, o país A é mais eficiente em produzir alimentos agrícolas e deve se especializar nesse
produto, pois consegue fornecer, tanto para si mesmo como para os demais países, alimentos mais baratos.
Se o país B tivesse que produzir alimentos ao mesmo tempo em que cultiva a pesca, não teria alimentos nem
peixes suficientes, encarecendo ambos os produtos, levando a uma perda comum.
No modelo ricardiano, se os mercados agirem desse modo, todos se beneficiam e o mercado global se torna
mais produtivo e eficiente.
Não compreenderem o Estado como o ator central, conferindo protagonismo ao indivíduo, entendido
como racional e que assume tanto o papel de quem consome como o de quem produz
Os mercados também são vistos como importantes arenas em que ocorrem as relações comerciais e
permitem jogos de soma relativa em que todos se beneficiam
O discurso liberal defende a ideia de que os mercados agem de maneira mais eficiente quando livres
das interferências que a política impõe, operando por si mesmos e evocando a lógica de autorregulação
O livre mercado ainda depende da força do Estado e de suas regulações para ser eficiente
EXEMPLO
A existência dos contratos que são amparados pela legislação e que, caso não cumpridos por uma das
partes, pode ser litigado nas instâncias judiciais.
Esse tipo de dependência pode ser observada em diferentes aspectos e campos da vida econômica,
mas nem sempre é lembrado, sendo até mesmo ignorado pelo discurso do livre mercado.
MARXISMO
Idealizado pelo alemão Karl Marx (1843-1881), o pensamento pode ser considerado como uma
contraposição e uma clara crítica ao liberalismo, negando nas principais premissas liberais e
concordando com os realistas em outros pontos. Veja a seguir:
Fonte:Shutterstock
Retrato de Karl Marx, John Jabez Edwin Mayall (cerca de 1870). Fonte: Bageense.
MARXISMO X LIBERAIS
MARXISMO X REALISTAS
MARXISMO X LIBERAIS
Nega que a economia produz jogos de soma positivas em que todos se beneficiam, rejeitando a ideia de
autorregulação dos mercados.
MARXISMO X REALISTAS
Concorda ao defender a economia como produtora de jogos de soma zero, não aplicados aos Estados,
mas às classes sociais, por perceber que a economia explora os indivíduos e as classes sociais,
evidenciando a interligação entre a economia e a política.
RESUMINDO
De forma geral, no marxismo, as relações econômicas recebem a primazia e os atores principais são
as classes sociais e não os Estados ou os indivíduos, mas o local onde eles se posicionam na
estratificação social.
CONCLUSÃO
É importante recordar a interseccionalidade das teorias clássicas das relações internacionais com a
Economia Política Internacional: o realismo e o liberalismo econômico como expressões da EPI. A
base de toda a discussão é a relação entre a política e a economia, antes negada ou ignorada.
O marxismo traz uma abordagem diferente e inova na definição dos principais atores, mesclando
elementos tanto do realismo como do liberalismo. É clara a diversidade de visões e as diferentes
compreensões sobre as relações econômicas internacionais e seus atores.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
A) Estados soberanos
B) Classes sociais
C) Países nacionais
D) Organizações internacionais
E) Indivíduos
B) Natureza conflituosa.
C) Natureza cooperativa.
GABARITO
Para o liberalismo, os indivíduos são os atores centrais e compreendidos tanto como produtores quanto
consumidores, protagonistas das relações de mercado.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Apresentamos, de maneira introdutória, as escolas teóricas clássicas das Relações Internacionais com o
objetivo de identificar os conceitos gerais do realismo e suas características, reconhecer os diferentes
liberalismos e seus principais conceitos e, por fim, contrastar as escolas da Economia Política
Internacional.
Oferecemos as bases para uma compreensão geral e, mais importante, identificamos, comparamos e
reconhecemos as escolas realista, liberal e da EPI no âmbito das relações internacionais.
Além disso, alguns conceitos centrais do campo de estudo foram introduzidos e são comuns às
diferentes teorias das RI. Ressaltamos a importância da compreensão dos modelos teóricos e a
relevância do ferramental teórico que nos oferecem.
Os tempos presentes são de muitas incertezas, no campo das Relações Internacionais, e devemos
entender a complexidade que se desenha diante de nós para podermos prever os possíveis
desdobramentos. Não é tarefa fácil, mas com um bom arcabouço teórico é possível fazer estimativas
estratégicas e válidas para o futuro!
AVALIAÇÃO DO TEMA:
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, João Daniel Lima. Manual do candidato: História do Brasil. Brasília: FUNAG, 2013. 595 p.
CASTRO, Thales. Teoria das relações internacionais. Brasília: Funag, 2012. 580 p.
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GILPIN, Robert. Global political economy: understanding the international economic order. Princeton:
Princeton University Press, 2001.
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MORGENTHAU, H. A política entre as nações: a luta pelo poder e pela paz. [S. l.], 1985.
NOGUEIRA, João Pontes; MESSARI, Nizar. Teoria das relações internacionais: Correntes e Debates.
1. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005. 250 p.
PAULA, Eurípedes Simões de. As origens da Medicina: a Medicina no antigo Egito. Revista de
História, [S.L.], v. 25, n. 51, p. 13-48, 29 set. 1962. Universidade de São Paulo, Agência USP de Gestão
da Informação Acadêmica (AGUIA).
PECEQUILO, Cristina Soreanu. Teoria das relações internacionais. Rio de Janeiro: Alta Books, 2016.
240 p.
POLANYI, Karl. The great transformation: the political and economic origins of our time. Boston:
Beacon Press, 1957, 317p.
SARFATI, Gilberto. Teoria de relações internacionais. 1. ed. São Paulo: Saraiva, 2005. 383 p
EXPLORE+
Assista aos vídeos da professora Fernanda Magnotta e do professor Lucas Leite. Eles abordam diversas
questões, como as teorias Marxista, Liberal, Realista e fazem um debate entre idealismo e realismo.
CONTEUDISTA
Marcelo Gomes Pereira da Silva
CURRÍCULO LATTES