Controle de Constitucionalidade

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DIREITO CONSTITUCIONAL

Marcelo Novelino e Pedro Taques


LFG – Intensivo 2012

- CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE -

1. SUPREMACIA CONSTITUCIONAL

A supremacia da Constituição é um pressuposto para a o controle de


constitucionalidade. Existem dois tipos de supremacia: material e formal. É a supremacia
formal que tem relevância para fins de controle, segundo o entendimento majoritário.
A supremacia material consiste na superioridade da Constituição em razão do
conteúdo fundamental nela consagrado (direitos fundamentais, estrutura do Estado e
organização dos Poderes). Toda constituição é dotada de supremacia material.
A supremacia formal, por sua vez, consiste na existência de um processo mais
dificultoso que o ordinário para a alteração de suas normas. Não se analisa aqui o conteúdo
de suas normas, mas o processo para a sua alteração. Quando a Constituição possui um
processo de alteração mais difícil do que as normas infraconstitucionais ela é chamada de
Constituição rígida. Logo, a supremacia formal decorre da rigidez. O controle de
constitucionalidade só existe quando a Constituição possui supremacia formal.

2. PARÂMETRO PARA O CONTROLE (“NORMAS DE REFERÊNCIA”)

O parâmetro nada é mais do que a norma constitucional supostamente violada. Difere-


se do objeto do controle, que é o ato impugnado (lei, ato ou omissão do poder público etc.).
Quais são os tipos de normas constitucionais que servem como parâmetro no controle de
constitucionalidade no Brasil? São todas as normas formalmente constitucionais, abrangendo
a Constituição Federal de 1988 (segundo o STF, a única parte da CF que não serve como
parâmetro é o preâmbulo, pois não é considerado norma; o art. 1º em diante, inclusive o
ADCT, serve como parâmetro), tanto no que diz respeito às normas expressas quanto aos
princípios implícitos. No Brasil, após a Reforma do Judiciário, este parâmetro foi ampliado,

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incluindo os tratados internacionais de direitos humanos, desde que aprovados por 3/5 e em
dois turnos de votação (art. 5º, §3º, CF)1.

PARÂMETRO Norma constitucional supostamente


violada
X
1) Constituição Federal
OBJETO DO CONTROLE
2) ADCT
3) Tratados internacionais de direitos
humanos

2.1. BLOCO DE CONSTITUCIONALIDADE

Expressão criada por Louis Favoreu e muito utilizada na França, o “bloco de


constitucionalidade” abrange as normas com status constitucional. Assim, na França, por
exemplo, fazem parte do bloco de constitucionalidade não só a Constituição de 1858, mas
também o preâmbulo da Constituição anterior (1946), a Declaração dos Direitos do Homem e
do Cidadão (1789) e outras normas de valor constitucional (dentre essas normas estão os
princípios formados pelo Conselho Constitucional, órgão de cúpula do governo francês).
A expressão “bloco de constitucionalidade” passou a ser utilizada também em outros
países, porém não existe um consenso quanto ao sentido desse bloco. Os dois sentidos
principais são:
 Sentido estrito: compreende apenas as normas constitucionais que servem
como parâmetro para o controle de constitucionalidade. O Min. Celso de Mello
utiliza a expressão “bloco de constitucionalidade” nesse sentido estrito (ADIn
514/PI; ADIn 595/ES).

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O único tratado internacional de direitos humanos aprovado nos termos do art. 5º, §3º, da CF, atualmente, é o
Decreto 6.949/09 (Convenção sobre pessoas portadoras de deficiência).
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 Sentido amplo: abrange não apenas as normas da Constituição, mas também


aquelas vocacionadas a desenvolver a eficácia de preceitos constitucionais. Ex.:
o direito de greve do servidor público é previsto na CF (art. 37, VII); logo, a lei
que vier a regulamentar esse direito, mesmo sendo infraconstitucional, também
fará parte do bloco de constitucionalidade, de acordo com o sentido amplo, pois
essa lei será a responsável por dar eficácia à norma constitucional que
estabelece o direito de greve do servidor público. Quando falamos em bloco de
constitucionalidade em sentido amplo, podemos abranger, além das normas
constitucionais, o Pacto de San José da Costa Rica e o preâmbulo da CF/88.

3. FORMAS DE INCONSTITUCIONALIDADE

3.1. QUANTO AO TIPO DE CONDUTA PRATICADA PELO PODER PÚBLICO

A Constituição, toda vez que se refere à inconstitucionalidade, sempre faz menção a


atos do Poder Público, e não de particular. Isso não significa que o particular não pratique atos
inconstitucionais, mas sim que a Constituição utiliza um sentido mais estrito, e não amplo.
Quanto à conduta praticada pelo Poder Público, temos:

a) Inconstitucionalidade por AÇÃO: ocorre quando o Poder Público pratica uma


conduta comissiva incompatível com a Constituição. Exemplo: HC 82.959/SP2 –
discutia a constitucionalidade da norma que vedava a progressão de regimes para os
crimes hediondos (Lei 8.072/92, art. 2º, §1º), concluindo-se pela sua

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PENA - REGIME DE CUMPRIMENTO - PROGRESSÃO - RAZÃO DE SER. A progressão no regime de cumprimento da
pena, nas espécies fechado, semi-aberto e aberto, tem como razão maior a ressocialização do preso que, mais dia
ou menos dia, voltará ao convívio social. PENA - CRIMES HEDIONDOS - REGIME DE CUMPRIMENTO - PROGRESSÃO
- ÓBICE - ARTIGO 2º, § 1º, DA LEI Nº 8.072/90 - INCONSTITUCIONALIDADE - EVOLUÇÃO JURISPRUDENCIAL. Conflita
com a garantia da individualização da pena - artigo 5º, inciso XLVI, da Constituição Federal - a imposição,
mediante norma, do cumprimento da pena em regime integralmente fechado. Nova inteligência do princípio da
individualização da pena, em evolução jurisprudencial, assentada a inconstitucionalidade do artigo 2º, § 1º, da
Lei nº 8.072/90. (HC 82959 / SP - SÃO PAULO - HABEAS CORPUS - Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO - Julgamento:
23/02/2006 - Órgão Julgador: Tribunal Pleno)
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incompatibilidade com a Constituição (fundamento: art. 5º, XLVI – princípio da


individualização da pena).

b) Inconstitucionalidade por OMISSÃO: ocorre quando o Poder Público tem o dever de


agir, mas se omite. Existe uma norma constitucional determinando um agir do
Poder Público, mas ele se omite. Exemplo: MI 712 3 – o STF concluiu pela omissão
inconstitucional, uma vez que a Constituição determina a elaboração de uma lei
regulamentando o direito de greve do servidor público, mas, até o momento, essa
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EMENTA: MANDADO DE INJUNÇÃO. ART. 5º, LXXI DA CONSTITUIÇÃO DO BRASIL. CONCESSÃO DE EFETIVIDADE À
NORMA VEICULADA PELO ARTIGO 37, INCISO VII, DA CONSTITUIÇÃO DO BRASIL. LEGITIMIDADE ATIVA DE
ENTIDADE SINDICAL. GREVE DOS TRABALHADORES EM GERAL [ART. 9º DA CONSTITUIÇÃO DO BRASIL]. APLICAÇÃO
DA LEI FEDERAL N. 7.783/89 À GREVE NO SERVIÇO PÚBLICO ATÉ QUE SOBREVENHA LEI REGULAMENTADORA.
PARÂMETROS CONCERNENTES AO EXERCÍCIO DO DIREITO DE GREVE PELOS SERVIDORES PÚBLICOS DEFINIDOS
POR ESTA CORTE. CONTINUIDADE DO SERVIÇO PÚBLICO. GREVE NO SERVIÇO PÚBLICO. ALTERAÇÃO DE
ENTENDIMENTO ANTERIOR QUANTO À SUBSTÂNCIA DO MANDADO DE INJUNÇÃO. PREVALÊNCIA DO INTERESSE
SOCIAL. INSUBSSISTÊNCIA DO ARGUMENTO SEGUNDO O QUAL DAR-SE-IA OFENSA À INDEPENDÊNCIA E
HARMONIA ENTRE OS PODERES [ART. 2O DA CONSTITUIÇÃO DO BRASIL] E À SEPARAÇÃO DOS PODERES [art. 60,
§ 4o, III, DA CONSTITUIÇÃO DO BRASIL]. INCUMBE AO PODER JUDICIÁRIO PRODUZIR A NORMA SUFICIENTE
PARA TORNAR VIÁVEL O EXERCÍCIO DO DIREITO DE GREVE DOS SERVIDORES PÚBLICOS, CONSAGRADO NO
ARTIGO 37, VII, DA CONSTITUIÇÃO DO BRASIL. 1. O acesso de entidades de classe à via do mandado de injunção
coletivo é processualmente admissível, desde que legalmente constituídas e em funcionamento há pelo menos um
ano. 2. A Constituição do Brasil reconhece expressamente possam os servidores públicos civis exercer o direito
de greve --- artigo 37, inciso VII. A Lei n. 7.783/89 dispõe sobre o exercício do direito de greve dos trabalhadores
em geral, afirmado pelo artigo 9º da Constituição do Brasil. Ato normativo de início inaplicável aos servidores
públicos civis. 3. O preceito veiculado pelo artigo 37, inciso VII, da CB/88 exige a edição de ato normativo que
integre sua eficácia. Reclama-se, para fins de plena incidência do preceito, atuação legislativa que dê concreção
ao comando positivado no texto da Constituição. 4. Reconhecimento, por esta Corte, em diversas
oportunidades, de omissão do Congresso Nacional no que respeita ao dever, que lhe incumbe, de dar concreção
ao preceito constitucional. Precedentes. 5. Diante de mora legislativa, cumpre ao Supremo Tribunal Federal
decidir no sentido de suprir omissão dessa ordem. Esta Corte não se presta, quando se trate da apreciação de
mandados de injunção, a emitir decisões desnutridas de eficácia. 6. A greve, poder de fato, é a arma mais eficaz
de que dispõem os trabalhadores visando à conquista de melhores condições de vida. Sua auto-aplicabilidade é
inquestionável; trata-se de direito fundamental de caráter instrumental. 7. A Constituição, ao dispor sobre os
trabalhadores em geral, não prevê limitação do direito de greve: a eles compete decidir sobre a oportunidade de
exercê-lo e sobre os interesses que devam por meio dela defender. Por isso a lei não pode restringi-lo, senão
protegê-lo, sendo constitucionalmente admissíveis todos os tipos de greve. 8. Na relação estatutária do emprego
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lei não foi criada. Ainda, na ADIn 1.484/DF, o STF concluiu que o Poder Público,
quando se omite no cumprimento de um dever constitucional, estimula o
preocupante fenômeno da “erosão da consciência constitucional” 4, consistente no
perigoso processo de desvalorização funcional da Constituição escrita (Celso de
Mello). Ainda, temos que, além do Mandado de Injunção, em caso de omissão
inconstitucional, podemos utilizar também a ADIn por Omissão (ADO).

3.2. QUANTO À NORMA CONSTITUCIONAL OFENDIDA

público não se manifesta tensão entre trabalho e capital, tal como se realiza no campo da exploração da atividade
econômica pelos particulares. Neste, o exercício do poder de fato, a greve, coloca em risco os interesses egoísticos
do sujeito detentor de capital --- indivíduo ou empresa --- que, em face dela, suporta, em tese, potencial ou
efetivamente redução de sua capacidade de acumulação de capital. Verifica-se, então, oposição direta entre os
interesses dos trabalhadores e os interesses dos capitalistas. Como a greve pode conduzir à diminuição de ganhos
do titular de capital, os trabalhadores podem em tese vir a obter, efetiva ou potencialmente, algumas vantagens
mercê do seu exercício. O mesmo não se dá na relação estatutária, no âmbito da qual, em tese, aos interesses dos
trabalhadores não correspondem, antagonicamente, interesses individuais, senão o interesse social. A greve no
serviço público não compromete, diretamente, interesses egoísticos do detentor de capital, mas sim os interesses
dos cidadãos que necessitam da prestação do serviço público. 9. A norma veiculada pelo artigo 37, VII, da
Constituição do Brasil reclama regulamentação, a fim de que seja adequadamente assegurada a coesão social.
10. A regulamentação do exercício do direito de greve pelos servidores públicos há de ser peculiar, mesmo
porque "serviços ou atividades essenciais" e "necessidades inadiáveis da coletividade" não se superpõem a
"serviços públicos"; e vice-versa. 11. Daí porque não deve ser aplicado ao exercício do direito de greve no
âmbito da Administração tão-somente o disposto na Lei n. 7.783/89. A esta Corte impõe-se traçar os parâmetros
atinentes a esse exercício. 12. O que deve ser regulado, na hipótese dos autos, é a coerência entre o exercício do
direito de greve pelo servidor público e as condições necessárias à coesão e interdependência social, que a
prestação continuada dos serviços públicos assegura. 13. O argumento de que a Corte estaria então a legislar --- o
que se afiguraria inconcebível, por ferir a independência e harmonia entre os poderes [art. 2o da Constituição
do Brasil] e a separação dos poderes [art. 60, § 4o, III] --- é insubsistente. 14. O Poder Judiciário está vinculado
pelo dever-poder de, no mandado de injunção, formular supletivamente a norma regulamentadora de que
carece o ordenamento jurídico. 15. No mandado de injunção o Poder Judiciário não define norma de decisão, mas
enuncia o texto normativo que faltava para, no caso, tornar viável o exercício do direito de greve dos servidores
públicos. 16. Mandado de injunção julgado procedente, para remover o obstáculo decorrente da omissão
legislativa e, supletivamente, tornar viável o exercício do direito consagrado no artigo 37, VII, da Constituição do
Brasil. (MI 712 / PA – PARÁ - MANDADO DE INJUNÇÃO - Relator(a): Min. EROS GRAU - Julgamento: 25/10/2007 -
Órgão Julgador: Tribunal Pleno)
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a) Inconstitucionalidade formal: subdivide-se em:

a.1.) Inconstitucionalidade formal PROPRIAMENTE DITA: ocorre quando a norma


constitucional violada está relacionada ao processo legislativo constitucional.
O processo de elaboração de uma espécie normativa deve obedecer às
formalidades (iniciativa, quórum, promulgação) estabelecidas no art. 59 da
CF/88. Assim, violando-se qualquer dessas formalidades no momento da
elaboração da norma, fala-se em inconstitucionalidade formal. Também é
chamada de inconstitucionalidade nomodinâmica5 (Luiz Alberto David
Araújo). Tem como espécies:

i) Inconstitucionalidade formal propriamente dita SUBJETIVA: ocorrerá


quando a iniciativa não for observada. Ex.: art. 61, §1º, CF (matérias de
iniciativa do Presidente da República). ADIn 3.7396  o Congresso
Nacional havia reduzido a jornada de trabalho dos seus servidores
públicos; ocorre que a Constituição estabelece que essa matéria é de
iniciativa privativa do Presidente da República, e não dos Deputados e

4
Expressão criada por Karl Lowenstein, ao defender que, se a Constituição manda o Poder Público agir, mas ele se
omite, o comando constitucional perde a credibilidade, pois as pessoas passam a não acreditar mais no que a
Constituição diz.
5
O processo de criação de normas jurídicas é dinâmico.
6
EMENTA: Ação Direta de Inconstitucionalidade. 1. Servidor público. Jornada de trabalho. Redução da carga
horária semanal. 2. Princípio da separação de poderes. 3. Vício de iniciativa. Competência privativa do Chefe do
Poder Executivo 4. Precedentes. 5. Ação Direta de Inconstitucionalidade julgada procedente. (ADI 3739 / PR -
PARANÁ - AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE - Relator(a): Min. GILMAR MENDES - Julgamento:
17/05/2007 - Órgão Julgador: Tribunal Pleno)
INFORMATIVO 467: Na linha da orientação fixada no julgamento acima relatado, o Tribunal julgou procedente
pedido formulado em ação direta ajuizada pelo Governador do Estado do Paraná para declarar a
inconstitucionalidade da Lei estadual 15.000/2006, de iniciativa parlamentar, que assegura, à servidora pública
que seja mãe, esposa ou companheira, tutora, curadora ou que detenha a guarda e responsabilidade de pessoas
portadora de deficiência, a dispensa de parte do trabalho, respeitada a execução de metade da carga horária
semanal, sem prejuízo de remuneração. ADI 3739/PR, rel. Min. Gilmar Mendes, 17.5.2007.
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Senadores; assim, o STF declarou inconstitucional essa norma, de


modo que a inconstitucionalidade verificada foi a propriamente dita
subjetiva (vício na iniciativa).

 O fato de o Presidente da República concordar/sancionar uma lei que usurpou a sua


iniciativa supre o vício de inconstitucionalidade?
Resp.: de acordo com a Súmula nº. 05 do STF 7, a sanção do projeto pelo Presidente
supre o vício de iniciativa do Poder Executivo. Ocorre que, após a Constituição de 1988,
o STF abandonou o entendimento adotado na Súmula nº. 05. De acordo com o
entendimento atual, o vício de origem é insanável, incorrigível, não podendo ser
suprido pela sanção do Presidente da República.

ii) Inconstitucionalidade formal propriamente dita OBJETIVA: está


relacionada às outras fases do processo legislativo - quórum e
promulgação. Ex.: violação do art. 69 da CF/88 (quórum de votação –
maioria absoluta – de lei complementar).

a.2.) Inconstitucionalidade formal ORGÂNICA: ocorre no caso de violação de norma


que estabelece competência para legislar sobre determinado tema. ADIn
2.220/SP8  a Constituição Estadual de São Paulo estabeleceu normas

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Súmula nº. 05 (STF): A sanção do projeto supre a falta de iniciativa do Poder Executivo.
8
EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DE SÃO PAULO. ARTS. 10, § 2º,
ITEM 1; 48; 49, CAPUT, §§ 1º, 2º E 3º, ITEM 2; E 50. CRIME DE RESPONSABILIDADE. COMPETÊNCIA DA UNIÃO. 1.
Pacífica jurisprudência do Supremo Tribunal Federal quanto à prejudicialidade da ação direta de
inconstitucionalidade, por perda superveniente de objeto e de interesse de agir do Autor, quando sobrevém a
revogação da norma questionada em sua constitucionalidade. Ação julgada prejudicada quanto ao art. 10, § 2º,
item 1, da Constituição do Estado de São Paulo. 2. A definição das condutas típicas configuradoras do crime de
responsabilidade e o estabelecimento de regras que disciplinem o processo e julgamento das agentes políticos
federais, estaduais ou municipais envolvidos são da competência legislativa privativa da União e devem ser
tratados em lei nacional especial (art. 85 da Constituição da República). Precedentes. Ação julgada procedente
quanto às normas do art. 48; da expressão “ou nos crimes de responsabilidade, perante Tribunal Especial” do
caput do art. 49; dos §§ 1º, 2º e 3º, item 2, do art. 49 e do art. 50, todos da Constituição do Estado de São Paulo. 3.
Ação julgada parcialmente prejudicada e na parte remanescente julgada procedente. (ADI 2220 / SP - SÃO PAULO -
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referentes a crime de responsabilidade do governador. Entretanto, segundo o


STF, a competência para legislar sobre crime de responsabilidade, em razão
do que diz o art. 22, inciso I, da CF/88, é da União, e não dos Estados. Assim, a
referida norma estadual foi considerada inconstitucional, na modalidade
formal orgânica.

a.3.) Inconstitucionalidade formal por violação de norma que estabelece


PRESSUPOSTOS OBJETIVOS: ocorre, como o próprio nome diz, quando a
norma constitucional violada estabelece pressupostos objetivos para a
elaboração do ato infraconstitucional. Ex.: Medida provisória (art.
62,CF/889) – possui como pressupostos objetivos a relevância e a urgência;
se esses pressupostos não forem observados, o art. 62 da CF restará violado,
razão pela qual a MP será formalmente inconstitucional.

b) Inconstitucionalidade MATERIAL: ocorre quando há violação de uma norma


constitucional de fundo, ou seja, norma que não estabelece formalidades e
procedimentos, mas sim direitos e deveres. Também chamada de
inconstitucionalidade nomoestática. Exemplo: ADC 29 e 30; ADIn 4.578 (ações
referentes à Lei da Ficha Limpa – viola o princípio da presunção de inocência?) 10. A
inconstitucionalidade é material porque não se discute se as formalidades do
processo de elaboração da norma foram ou não observadas, mas sim se o conteúdo
da norma está ou não compatível com aquelas que estabelecem direitos e deveres

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE - Relator(a): Min. CÁRMEN LÚCIA - Julgamento: 16/11/2011 - Órgão
Julgador: Tribunal Pleno)
9
Art. 62. Em caso de relevância e urgência, o Presidente da República poderá adotar medidas provisórias, com
força de lei, devendo submetê-las de imediato ao Congresso Nacional. (Redação dada pela Emenda Constitucional
nº 32, de 2001)
10
O STF, em julgamento realizado no dia 16/02/2012, decidiu pela constitucionalidade da Lei Complementar
135/2010, a chamada Lei da Ficha Limpa; por maioria de votos, prevaleceu o entendimento em favor da
constitucionalidade da lei, que poderá ser aplicada nas eleições de 2012, alcançando atos e fatos ocorridos antes
de sua vigência. – Informativo 655.
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constitucionais. Ex.: uma norma que viole o art. 5º da CF será materialmente


inconstitucional.

 Propriamente dita o Subjetiva


Formal o Objetiva
 Orgânica
INCONSTITUCIONALIDADE
QUANTO À NORMA
 Violação de
CONSTITUCIONAL OFENDIDA
pressupostos objetivos

Material

3.3. QUANTO À EXTENSÃO DA INCONSTITUCIONALIDADE

a) Inconstitucionalidade TOTAL: ocorre quando o vício atinge todo o ato ou todo


artigo, inciso, parágrafo ou alínea. A depender da nossa referência, a
inconstitucionalidade total pode ser de uma lei (ex.: não observou a iniciativa,
portanto, toda a lei é inconstitucional) ou de um dipositivo daquela lei. ADI 1.808/RS
(inconstitucionalidade total da lei); HC 81.134/RS (inconstitucionalidade total de
artigo).

b) Inconstitucionalidade PARCIAL: ocorre quando apenas uma parte da lei ou de um


dispositivo é incompatível com a Constituição.

 O STF pode declarar inconstitucional uma palavra dentro de um artigo, inciso, parágrafo
ou alínea?
Resp.: muitas pessoas confundem essa questão com o veto parcial, no qual o Presidente
não pode vetar uma palavra do dispositivo (art. 66, §2º, CF 11). O veto parcial e a
declaração de inconstitucionalidade não se confundem, uma vez que nesta última pode

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§ 2º - O veto parcial somente abrangerá texto integral de artigo, de parágrafo, de inciso ou de alínea.
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abranger uma palavra ou uma expressão constante de um dispositivo. Assim, a


declaração de inconstitucionalidade parcial pode atingir apenas uma palavra ou
expressão dentro do dispositivo, desde que não mude o contexto da norma (se mudar,
o Judiciário estará legislando, e não exercendo o controle). Ex.: a Constituição
Estadual/MG estabeleceu a possibilidade de uma ADIn questionando lei ou ato
normativo estadual ou municipal, em face da Constituição Estadual e também da
Constituição Federal; o STF declarou inconstitucional a parte que abrangia a
“Constituição Federal”, pois violava o art. 125, §2º, da CF/88, permanecendo íntegro o
restante do dispositivo. Outro exemplo: ADIn 2.645-MC/TO12.

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EMENTA: I. Ação direta de inconstitucionalidade da parte final do art. 170 da L. est. 1284-TO, de 17/12/01 - Lei
Orgânica do Tribunal de Contas do Estado: inadmissibilidade, dado que, em tese, a inconstitucionalidade parcial
argüida imporia a declaração de invalidade da lei em extensão maior do que a pedida. II. Ação direta de
inconstitucionalidade parcial: incindibilidade do contexto do diploma legal: impossibilidade jurídica. 1. Da
declaração de inconstitucionalidade adstrita à regra de aproveitamento automático decorreria, com a subsistência
da parte inicial do art. 170, a inversão do sentido inequívoco do pertinente conjunto normativo da L. 1284/01: a
disponibilidade dos ocupantes dos cargos extintos - que a lei quis beneficiar com o aproveitamento automático - e,
com essa disponibilidade, a drástica conseqüência - não pretendida pela lei benéfica - de reduzir-lhes a
remuneração na razão do tempo de serviço público, imposta por força do novo teor ditado pela EC 19/98 ao art.
41, § 3º, da Constituição da República. 2. Essa inversão do sentido inequívoco da lei - de modo a fazê-la
prejudicial àqueles que só pretendeu beneficiar -, subverte a função que o poder concentrado de controle
abstrato de constitucionalidade de normas outorga ao Supremo Tribunal. (ADI 2645 MC / TO – TOCANTINS -
MEDIDA CAUTELAR NA AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE - Relator(a): Min. SEPÚLVEDA PERTENCE -
Julgamento: 11/11/2004 - Órgão Julgador: Tribunal Pleno)
INFORMATIVO 369: O Tribunal, por maioria, não conheceu de ação direta de inconstitucionalidade ajuizada pelo
Partido Popular Socialista contra a parte final do art. 170 da Lei 1.284/2001 - Lei Orgânica do Tribunal de Contas do
Estado do Tocantins ("Art. 170. Ficam extintos os cargos de Auditor Adjunto e de Procurador Adjunto, seus atuais
ocupantes colocados em disponibilidade remunerada e, automaticamente, aproveitados nos correspondentes
cargos de Auditor e de Procurador de Contas, respectivamente, quando houver vaga.") - v. Informativo 273.
Entendeu-se ser inviável a pleiteada declaração parcial de inconstitucionalidade do ato atacado, em face do
princípio segundo o qual a impugnação parcial de norma só é admissível no controle abstrato se se pode
presumir que o restante do dispositivo, não impugnado, seria editado independentemente da parte
supostamente inconstitucional, o que, na espécie, não teria ocorrido, já que a extinção dos cargos prevista no
mencionado art. 170 se dera apenas porque, no mesmo dispositivo, fora viabilizado o aproveitamento dos
servidores nos novos cargos. Vencidos os Ministros Marco Aurélio e Carlos Velloso que conheciam da ação.
(ADI 2645 MC/TO, rel. Min. Sepúlveda Pertence, 11.11.2004).
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3.4. QUANTO AO MOMENTO QUE OCORRE A INCONSTITUCIONALIDADE

a) Inconstitucionalidade ORIGINÁRIA: ocorre quando o surgimento do objeto (lei ou


ato normativo) é posterior ao surgimento do parâmetro (norma constitucional). A
lei ou ato normativo já nasceu inconstitucional. Ex.: ADIn 4.451 MC-REF/DF  trata
do art. 45, II, da Lei 9.504/97; o STF, em sede cautelar, considerou inconstitucional
essa norma, por violar a liberdade de expressão artística.

b) Inconstitucionalidade SUPERVENIENTE: ocorre quando a criação do objeto (lei ou


ato normativo) é anterior ao parâmetro invocado. Nesse caso, temos uma lei criada
antes do parâmetro. Ex.: a Lei de Imprensa foi elaborada com base na Constituição
vigente à época; veio, então, a CF/88, sendo que a referida lei não mais se mostrou
compatível com a nova Constituição. Ocorre que o ordenamento jurídico brasileiro
não admite a tese da inconstitucionalidade superveniente. Nesse caso, considera-
se como hipótese de não recepção (ex.: ADPF 130 – o STF não declarou a Lei de
Imprensa inconstitucional, mas sim que o referido diploma não foi recepcionado pela
Constituição Federal de 1988).

A inconstitucionalidade quanto ao momento se faz muito importante no estudo do


controle de constitucionalidade concentrado. Isso porque, vale adiantar, só caberá ADIn e ADC
em caso de inconstitucionalidade originária. A ADPF, por sua vez, cabe tanto na hipótese de
inconstitucionalidade originária quanto superveniente.

3.4. QUANTO AO PRISMA DE APURAÇÃO

a) Inconstitucionalidade DIRETA ou ANTECEDENTE: ocorre quando o ato impugnado


(objeto) viola diretamente a Constituição. Não há ato interposto entre a
Constituição e o objeto impugnado. Exemplo: a lei viola diretamente a Constituição,
pois não existe ato interposto entre eles.

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b) Inconstitucionalidade INDIRETA: ocorre quando há algum ato interposto entre o


objeto impugnado e a Constituição. Exemplo: um decreto que regulamenta uma lei
nunca vai violar diretamente a Constituição, pois existe um ato interposto (a lei)
entre tais espécies (se o decreto regular a Constituição, será um decreto autônomo,
que, se inconstitucional, estará violando diretamente a CF).

b.1.) Inconstitucionalidade indireta CONSEQUENTE: ocorre quando a


inconstitucionalidade de um ato é uma consequência da
inconstitucionalidade de outro. Exemplo: vamos imaginar que uma
Assembleia Legislativa elabore uma lei regulamentando determinada
matéria, a qual, em verdade, é de competência da União; o governador,
por sua vez, edita um decreto regulamentando essa lei estadual; a
inconstitucionalidade da lei estadual é direta; a inconstitucionalidade do
decreto é indireta consequente.

b.2.) Inconstitucionalidade indireta REFLEXA, MEDIATA ou OBLÍQUA: ocorre


quando um determinado ato viola diretamente uma lei e, por via
reflexa, a Constituição. Nessa modalidade, a lei é constitucional, mas o
decreto que a regulamenta não é e, por via reflexa, acaba violando
também a Constituição. Assim, ao violar diretamente a lei, ele está
indiretamente violando a Constituição. ADIn e ADC só cabem quando a
inconstitucionalidade é direta ou indireta consequente. Na
inconstitucionalidade indireta reflexa não cabe ADIn, ADC, ADPF nem
Rec.Ext.

Direta ou Antecedente
INCONSTITUCIONALIDADE
QUANTO AO PRISMA DE
APURAÇÃO

12
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Indireta Consequente
Reflexa, mediata ou oblíqua

4. FORMAS DE CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE

4.1. QUANTO À NATUREZA DO ÓRGÃO RESPONSÁVEL POR EXERCER O CONTROLE

a) Controle JURISDICIONAL: aquele feito por um órgão do Poder Judiciário.

b) Controle POLÍTICO: aquele feito por um órgão que não tem natureza jurisdicional:
Poder Legislativo e Poder Executivo. Denominação dada por exclusão.

De acordo com esse tipo de controle de constitucionalidade, existem três tipos de


sistemas de controle, retirados do direito comparado:

 Sistema jurisdicional: em regra, o controle é exercido pelo Judiciário. Ex.: Brasil


e Estados Unidos.

 Sistema político: é aquele adotado nos países nos quais o controle é feito por
órgão não jurisdicional. Ex.: França (quem exerce o controle é o Conselho
Constitucional, tanto no âmbito jurisdicional quanto administrativo).

 Sistema misto: é aquele adotado nos países em que algumas espécies de leis se
submetem ao controle jurisdicional e outras ao controle político. Ex.: Suíça (o
controle de constitucionalidade depende do tipo de lei; se a lei for nacional,
compete ao Poder Legislativo; se for uma lei local, compete ao Poder Judiciário).

4.2. QUANTO AO MOMENTO EM QUE O CONTROLE É EXERCIDO

13
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a) Controle PREVENTIVO: é aquele que ocorre durante o processo de elaboração do


ato normativo. O ato não está violando a Constituição, pois ele ainda está em fase
de elaboração. É uma forma de evitar que o ato fique pronto e viole o texto
constitucional. O principal órgão que o exerce é o Poder Legislativo.

b) Controle REPRESSIVO: controle exercido depois de ocorrida a lesão. O principal


órgão que o exerce é o Poder Judiciário.

Ambas as formas de controle podem ser exercidas por todos os Poderes (Executivo,
Legislativo e Judiciário). Não existe restrição quanto a essa possibilidade.

Como os Poderes exercem o controle preventivo?

 Poder Legislativo: a Comissão de Constituição e Justiça, órgão do Poder Legislativo,


é o principal responsável pelo exercício do controle preventivo de
constitucionalidade. Além da CCJ, o Plenário também exerce o controle.

 Poder Executivo: veto jurídico (art. 66, §1º, CF). O Presidente da República pode
vetar o projeto de lei em dois casos: se ele entender que é inconstitucional (veto
jurídico) ou que é contrário ao interesse público (veto político). O controle
preventivo é exercido no caso do veto jurídico, e não político.

 Poder Judiciário: na hipótese de Mandado de Segurança impetrado por


parlamentar, em razão de inobservância do devido processo legislativo
constitucional13 (não comporta análise de aspectos discricionários concernentes às
questões políticas e aos atos interna corporis, vedando-se, desta feita,
interpretações das normas regimentais). Trata-se da única hipótese em que o PJ
pode exercer o controle preventivo. Observações quanto a esse controle do PJ:
13
Destaque que a jurisprudência do STF consolidou-se no sentido de negar a legitimidade ativa ad causam a
terceiros, que não ostentem a condição de parlamentar, ainda que invocando a sua potencial condição de
destinatários da futura lei ou emenda à Constituição, sob pena de indevida transformação em controle preventivo
de constitucionalidade em abstrato, inexistente em nosso sistema constitucional.
14
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o Somente o parlamentar da Casa na qual o projeto esteja em tramitação : se


o projeto de lei está tramitando da Câmara dos Deputados, um Senador não
pode impetrar MS, pois é o Deputado que está participando da elaboração
da lei naquele momento.
o Controle incidental ou concreto: a finalidade precípua do MS é proteger o
direito subjetivo do parlamentar de participar do processo legislativo hígido,
e não a supremacia da Constituição. Ex.: violação do art. 60, §4º, CF/88
(cláusulas pétreas)14.
Cumpre ressaltar, ainda, que a perda superveniente de titularidade do mandato
legislativo desqualifica a legitimação ativa do parlamentar. Isso porque a
atualidade do exercício do mandato parlamentar configura, nesse contexto,
situação legitimante e necessária, tanto para a instauração, quanto para o
prosseguimento da causa perante o STF. Verificada a ausência de tal condição, em
virtude da perda superveniente do mandato parlamentar no Congresso Nacional,
impõe-se a declaração de extinção do processo de mandado de segurança, porque
ausente a legitimidade ativa ad causam do ora impetrante, que não mais ostenta a
qualidade de membro de qualquer das Casas Legislativas (MS 27.971 – Inf. 647).

Como os Poderes exercem o controle repressivo?

 Poder Judiciário: existem duas formas de controle: difuso e concentrado. O


controle repressivo só poderá ser exercido pelo Judiciário após a conclusão
definitiva do processo legislativo, ou seja, após a promulgação e publicação da lei.

 Poder Legislativo: podem exercer o controle em três situações: 1) art. 49, V, CF; 2)
art. 62, CF; e 3) Súmula nº. 347 (STF).

14
Já aconteceu de um Deputado Federal iniciar um projeto de lei com o objetivo de permitir a pena de morte para
determinados crimes que não apenas os crimes de guerra. Ocorre que, antes mesmo de o projeto começar a
tramitar, uma Deputada Federal impetrou Mandado de Segurança junto ao STF, sustentando que o projeto violava
o art. 66, §4º, da CF/88. Concedendo a ordem postulada pela parlamentar, exerceu o STF o controle preventivo de
constitucionalidade.
15
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1) Art. 49, V15  fiscalização de atos normativos do Poder Executivo. São duas as
possibilidades: 1) controle sobre decretos e regulamentos expedidos pelo Poder
Executivo (art. 84, IV,CF); 2) controle sobre as leis delegadas (art. 68, CF). Ex¹.:
vamos supor que o Poder Executivo exorbite os limites da regulamentação legal
(o decreto deveria regulamentar apenas a matéria constante da Lei X, mas ele
vai além, tratando de outras matérias); o Congresso Nacional, no exercício do
controle repressivo, pode suspender a parte do decreto que extrapolou os
limites do poder regulamentar, por meio de decreto legislativo. Ex².: o
Presidente da República, pretendendo tratar de determinada matéria X, solicita
ao Congresso Nacional a delegação para que ele próprio elabore a lei; se o
Congresso concordar, estabelecerá, por meio de uma resolução, os limites dessa
delegação; caso o Presidente trate de matéria não delegada, pode o Congresso
sustar a parte da lei delegada que extrapolou os limites indicados na resolução, o
que fará também por meio de decreto legislativo.

15
Art. 49. É da competência exclusiva do Congresso Nacional:
V - sustar os atos normativos do Poder Executivo que exorbitem do poder regulamentar ou dos limites de
delegação legislativa;

16
DIREITO CONSTITUCIONAL
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2) Art. 62, CF16  esse dispositivo trata da medida provisória. O Poder Legislativo
pode exercer o controle sobre a medida provisória em dois aspectos: 1)
pressupostos objetivos (relevância e urgência); 2) conteúdo da MP. Assim,
além de analisar a existência da relevância e urgência da medida provisória
(aspecto formal), o Congresso Nacional pode analisar também se o seu
conteúdo está compatível com a Constituição Federal (aspecto material). Ex.: se
o Presidente da República edita uma medida provisória que trate de uma
matéria dispensada à lei complementar, o Congresso pode suspendê-la, pois a
Constituição proíbe expressamente que medida provisória aborde tema de lei
complementar (art. 62, §1º, III, CF). Trata-se de um controle repressivo, uma
vez que a MP produz efeitos desde a sua edição.

3) Súmula nº. 347 (STF)  diz a súmula que “o Tribunal de Contas, no exercício de
suas atribuições, pode apreciar a constitucionalidade das leis e dos atos do
Poder Público”. Ressalte-se que o Tribunal de Contas não pode declarar uma
lei inconstitucional, mas pode deixar de aplicá-la a um determinado concreto,

16
Art. 62. Em caso de relevância e urgência, o Presidente da República poderá adotar medidas provisórias, com
força de lei, devendo submetê-las de imediato ao Congresso Nacional. (Redação dada pela Emenda Constitucional
nº 32, de 2001)
§ 1º É vedada a edição de medidas provisórias sobre matéria: (Incluído pela Emenda Constitucional nº 32, de 2001)
I - relativa a: (Incluído pela Emenda Constitucional nº 32, de 2001)
a) nacionalidade, cidadania, direitos políticos, partidos políticos e direito eleitoral; (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 32, de 2001)
b) direito penal, processual penal e processual civil; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 32, de 2001)
c) organização do Poder Judiciário e do Ministério Público, a carreira e a garantia de seus membros; (Incluído pela
Emenda Constitucional nº 32, de 2001)
d) planos plurianuais, diretrizes orçamentárias, orçamento e créditos adicionais e suplementares, ressalvado o
previsto no art. 167, § 3º; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 32, de 2001)
II - que vise a detenção ou seqüestro de bens, de poupança popular ou qualquer outro ativo financeiro; (Incluído
pela Emenda Constitucional nº 32, de 2001)
III - reservada a lei complementar; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 32, de 2001)
IV - já disciplinada em projeto de lei aprovado pelo Congresso Nacional e pendente de sanção ou veto do
Presidente da República. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 32, de 2001)

17
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por entendê-la inconstitucional. Ex.: a CE/MG permitia que alguns servidores


públicos não concursados fossem efetivados; antes de essa lei ser declarada
inconstitucional pelo STF, o então governador de MG já tinha efetivado
servidores com base nessa lei estadual; o Tribunal de Contas, contudo, antes
mesmo do STF, já havia considerado a norma inconstitucional, pelo que deixou
de convalidar o ato praticado pelo governador. Cumpre destacar que o Tribunal
de Contas é um órgão auxiliar do Poder Legislativo, por isso a sua atuação é
considerada como uma hipótese de controle repressivo exercido pelo Poder
Legislativo17.

 Poder Executivo: o Chefe do Poder Executivo (prefeito, governador, Presidente da


República) pode negar cumprimento a uma lei que entenda ser inconstitucional.
Para isso, é necessário motivar e dar publicidade ao seu ato, por meio de um
decreto. Essa possibilidade vai até que momento? O Chefe do Poder Executivo pode
negar cumprimento até que haja uma decisão do Judiciário, no sentido da
constitucionalidade do ato normativo. Isso porque a lei possui uma presunção
relativa de constitucionalidade, então, até a lei ser considerada constitucional pelo
Poder Judiciário, pode o Chefe do Poder Executivo se recusar a cumprir a lei, caso a
entenda inconstitucional. Vale dizer que, após a CF/88, essa possibilidade de
negativa de cumprimento tem gerado muita polêmica. Ex.: o Presidente da
República Fernando Henrique Cardoso editou a medida provisória do “apagão”
(quem consumisse mais energia, pagaria muito mais caro); ocorre que Itamar
Franco, à época governador de MG, editou um decreto informando a negativa de
cumprimento a essa medida provisória; o STF concedeu medida cautelar em favor
de FHC, determinando o cumprimento da medida provisória por parte de todos os
entes federativos, inclusive Minas Gerais.

17
Ressalte-se que, no MS 29.123 MC/DF, o Min. Gilmar Mendes defendeu a revisão da Súmula 347. Ocorre que
essa súmula ainda continua plenamente válida, pois não houve o seu afastamento pelo STF.

18
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 Qual a relação entre a ampliação do rol de legitimados para propor ADIn e o controle
repressivo do Poder Executivo?
Resp.: parte da doutrina entende que, após a CF/88, em que se passou a consagrar a
legitimidade ativa do Presidente da República e Governadores para propor ADIn, não se
justifica mais a negativa de cumprimento. Quanto à jurisprudência, existem poucos
julgados após a CF/88 sobre o tema, mas há decisões do STJ e STF admitindo a negativa
de cumprimento (STJ - REsp 23.121/GO 18; STF – ADIn 221 MC/DF19). Há, ainda, quem
diga que, após a CF/88, o Chefe do Poder Executivo pode negar cumprimento, mas, por
18
LEI INCONSTITUCIONAL - PODER EXECUTIVO - NEGATIVA DE EFICACIA. O PODER EXECUTIVO DEVE NEGAR
EXECUÇÃO A ATO NORMATIVO QUE LHE PAREÇA INCONSTITUCIONAL. (REsp 23121 / GO - RECURSO ESPECIAL -
1992/0013460-2 - Relator(a) Ministro HUMBERTO GOMES DE BARROS (1096) - Órgão Julgador T1 - PRIMEIRA
TURMA - Data do Julgamento 06/10/1993 - Data da Publicação/Fonte DJ 08/11/1993)
19
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. MEDIDA PROVISORIA. REVOGAÇÃO. PEDIDO DE LIMINAR. - POR SER
A MEDIDA PROVISORIA ATO NORMATIVO COM FORÇA DE LEI, NÃO E ADMISSIVEL SEJA RETIRADA DO CONGRESSO
NACIONAL A QUE FOI REMETIDA PARA O EFEITO DE SER, OU NÃO, CONVERTIDA EM LEI. - EM NOSSO SISTEMA
JURÍDICO, NÃO SE ADMITE DECLARAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE DE LEI OU DE ATO NORMATIVO COM
FORÇA DE LEI POR LEI OU POR ATO NORMATIVO COM FORÇA DE LEI POSTERIORES. O CONTROLE DE
CONSTITUCIONALIDADE DA LEI OU DOS ATOS NORMATIVOS E DA COMPETÊNCIA EXCLUSIVA DO PODER
JUDICIARIO. OS PODERES EXECUTIVO E LEGISLATIVO, POR SUA CHEFIA - E ISSO MESMO TEM SIDO
QUESTIONADO COM O ALARGAMENTO DA LEGITIMAÇÃO ATIVA NA AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE
-, PODEM TÃO-SÓ DETERMINAR AOS SEUS ÓRGÃOS SUBORDINADOS QUE DEIXEM DE APLICAR
ADMINISTRATIVAMENTE AS LEIS OU ATOS COM FORÇA DE LEI QUE CONSIDEREM INCONSTITUCIONAIS. - A
MEDIDA PROVISORIA N. 175, POREM, PODE SER INTERPRETADA (INTERPRETAÇÃO CONFORME A CONSTITUIÇÃO)
COMO AB-ROGATÓRIA DAS MEDIDAS PROVISORIAS N.S. 153 E 156. SISTEMA DE AB-ROGAÇÃO DAS MEDIDAS
PROVISORIAS DO DIREITO BRASILEIRO. - REJEIÇÃO, EM FACE DESSE SISTEMA DE AB-ROGAÇÃO, DA PRELIMINAR DE
QUE A PRESENTE AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE ESTA PREJUDICADA, POIS AS MEDIDAS PROVISORIAS
N.S. 153 E 156, NESTE MOMENTO, SÓ ESTAO SUSPENSAS PELA AB-ROGAÇÃO SOB CONDIÇÃO RESOLUTIVA, AB-
ROGAÇÃO QUE SÓ SE TORNARA DEFINITIVA SE A MEDIDA PROVISORIA N. 175 VIER A SER CONVERTIDA EM LEI. E
ESSA SUSPENSÃO, PORTANTO, NÃO IMPEDE QUE AS MEDIDAS PROVISORIAS SUSPENSAS SE REVIGOREM, NO CASO
DE NÃO CONVERSAO DA AB-ROGANTE. - O QUE ESTA PREJUDICADO, NESTE MOMENTO EM QUE A AB-ROGAÇÃO
ESTA EM VIGOR, E O PEDIDO DE CONCESSÃO DE LIMINAR, CERTO COMO E QUE ESSA CONCESSÃO SÓ TEM
EFICACIA DE SUSPENDER "EX NUNC" A LEI OU ATO NORMATIVO IMPUGNADO. E, EVIDENTEMENTE, NÃO HÁ QUE
SE EXAMINAR, NESTE INSTANTE, A SUSPENSÃO DO QUE JA ESTA SUSPENSO PELA AB-ROGAÇÃO DECORRENTE DE
OUTRA MEDIDA PROVISORIA EM VIGOR. PEDIDO DE LIMINAR JULGADO PREJUDICADO "SI ET IN QUANTUM". (ADI
221 MC / DF - DISTRITO FEDERAL - MEDIDA CAUTELAR NA AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE -
Relator(a): Min. MOREIRA ALVES - Julgamento: 29/03/1990 - Órgão Julgador: Tribunal Pleno)
19
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Marcelo Novelino e Pedro Taques
LFG – Intensivo 2012

uma questão de coerência, deve simultaneamente ajuizar uma ADIn (entendimento


pessoal do Min. Gilmar Mendes, na AO 1.415/SE); segundo este último posicionamento,
ressalte-se, no caso do prefeito, ele apenas iria negar o cumprimento, porque ele não é
legitimado a propor ADIn.

4.3. QUANTO À FINALIDADE PRINCIPAL DO CONTROLE

a) Controle concreto ou incidental20: é aquele que surge a partir de um caso concreto e


que tem como principal finalidade a proteção de direitos subjetivos. O controle
concreto surge em razão da violação concreta de um direito subjetivo. A análise da
constitucionalidade ou não da lei é feita de forma incidental no processo. Ex.: nova
lei previdenciária determina redução do benefício; um aposentado, sentindo-se
prejudicado, ajuíza uma demanda requerendo a manutenção do valor do seu
benefício previdenciário, por meio da declaração incidental da inconstitucionalidade
da lei. Ainda, temos que, no controle concreto, a pretensão é deduzida em juízo
através de um processo constitucional subjetivo. O controle concreto, vale dizer, é
uma matéria mais processual do que constitucional.

b) Controle abstrato: tem como principal finalidade a proteção da supremacia


constitucional. O objetivo precípuo não é proteger um direito subjetivo, mas a
supremacia da Constituição. No controle abstrato, a constitucionalidade da lei não é
uma questão incidental, mas sim questão principal do processo (o STF discute se a lei
é constitucional ou não, e não o caso concreto). Esse controle também é chamado de
“controle por via principal”; “controle por via de ação”; ou “controle por via direta”.
Ainda, temos que a pretensão é deduzida em juízo através de um processo
constitucional objetivo (proteção da ordem constitucional objetiva).

4.4. QUANTO À COMPETÊNCIA JURISDICIONAL

20
O controle concreto ou incidental também costuma ser chamado de “controle por via de exceção” ou “controle
por via de defesa”, que são termos, segundo entende Novelino, equivocados (não é técnico), uma vez que a
alegação de inconstitucionalidade não se faz, necessariamente, em sede de defesa.
20
DIREITO CONSTITUCIONAL
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Essa análise, vale dizer, somente vale para o Poder Judiciário.

a) Controle difuso ou aberto: é aquele que pode ser exercido por qualquer juiz ou
tribunal. Não existe reserva para o exercício desse controle. Qualquer órgão do
Poder Judiciário pode exercê-lo. O controle difuso também é conhecido como
sistema norte-americano21

b) Controle concentrado: é aquele cuja competência é reservada a determinado órgão


do Poder Judiciário. No Brasil, quando o parâmetro é a Constituição Federal, a
competência para processar e julgar uma ação de controle concentrado é do
Supremo Tribunal Federal (ADIn, ADC, ADO e ADPF). Quando o parâmetro é a
Constituição Estadual, a competência se concentra no Tribunal de Justiça. O controle
concentrado é conhecido como sistema austríaco ou europeu22.

Sistema de controle jurisdicional x controle misto ou combinado:

21
IMPORTANTE! Vale lembrar que o controle de constitucionalidade difuso nasceu nos EUA. A doutrina aponta
que o seu surgimento ocorreu em 1803, quando o Juiz Marshal julgou o caso MARBURY X MADISON; este é o caso
mais famoso, indicado como o marco do surgimento do controle de constitucionalidade no mundo. Ocorre que
essa não foi a primeira vez que o Judiciário norte-americano discutiu a constitucionalidade de uma lei. Em
verdade, foi a primeira vez que a Suprema Corte declarou inconstitucional uma lei. Assim, vale dizer, antes de
1803, existiram dois casos importantes em que foi discutida a constitucionalidade de uma lei, senão vejamos: 1)
HAYBURN’S CASE (1792) – não foi uma decisão proferida pela Suprema Corte, mas pelas “Cortes do Circuito”, que
declaram inconstitucional uma lei de pensão para inválidos. 2) HYLTON X UNITED STATES (1796) – foi julgado pela
Suprema Corte, que declarou um ato do Congresso americano constitucional. A primeira vez que a Suprema Corte
declarou uma lei inconstitucional foi no caso Marbury x Madison, em 1803, e foi neste case no qual foram
estabelecidas as bases teóricas do controle de constitucionalidade. No BRASIL, o controle difuso surgiu com a
Constituição de 1891.
22
O controle concentrado surgiu na Áustria (Constituição de 1920), criado por Hans Kelsen, exercido pelo Tribunal
Constitucional. No BRASIL, o controle concentrado foi introduzido pela EC 16/1965 (emenda feita na Constituição
de 1946).
21
DIREITO CONSTITUCIONAL
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O sistema jurisdicional brasileiro adota um modelo de controle misto ou combinado.


Vale dizer, o controle jurisdicional pode ser difuso ou concentrado. O sistema de controle
jurisdicional remete ao fato de que cabe, em regra, ao Poder Judiciário o exercício do controle
de constitucionalidade. Este controle, por sua vez, aqui no Brasil, é do tipo misto ou combinado,
uma vez que ele combina tanto o controle difuso quanto o concentrado.

5. CONTROLE DIFUSO

5.1. ASPECTOS GERAIS

a) Competência: qualquer órgão do Poder Judiciário.

b) Legitimidade: qualquer pessoa que tenha um direito subjetivo violado por um ato
do Poder Público incompatível com a Constituição.

c) Parâmetro: qualquer norma formalmente constitucional, mesmo que já revogada.


Todo controle difuso, no Brasil, é também um controle concreto ou incidental, e, por
consequência, tem por finalidade assegurar direitos subjetivos 23. Assim, não
interessa se uma Constituição já foi revogada ou não, pois durante o período em
que a Constituição esteve em vigor ela produziu efeitos. O que interessa é a época
em que o direito subjetivo foi violado. Se a violação, por exemplo, ocorreu em 1968,
teremos que analisar o que a lei e a Constituição vigentes à época estabeleciam
(tempus regit actum). Portanto, no controle difuso concreto, o que deve ser levado
em consideração é a Constituição e a lei vigentes na época em que o fato ocorreu.

d) Objeto: não existe qualquer restrição em relação à natureza do ato.

e) Efeitos da decisão (STF):

23
Regra: “controle difuso concreto” e “controle concentrado abstrato”. Exceções: 1) ADI interventiva; 2) ADPF
incidental (“controle concentrado concreto”).
22
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 Aspecto subjetivo: efeito “inter partes” (não atinge terceiros, mas apenas
aqueles que fazem parte do processo). Ex.: RCL 10.403/RJ.

 Aspecto objetivo: estamos nos referindo à parte da decisão na qual a


inconstitucionalidade é apreciada. No controle difuso concreto, a parte
postula a proteção do seu direito subjetivo; a constitucionalidade da lei
somente vai ser discutida na fundamentação da decisão (questão incidenter
tantum). Portanto, a inconstitucionalidade é apreciada de forma incidental
na fundamentação da decisão.

 Aspecto temporal: no Brasil, segundo o entendimento majoritário (doutrina e


jurisprudência), a lei inconstitucional é considerada um ato nulo, ou seja, ela
já nasceu incompatível com a Constituição, possuindo, pois, um vício de
origem. Logo, a declaração de inconstitucionalidade, em regra, possui efeitos
ex tunc (retroativo). Todavia, essa regra comporta EXCEÇÃO: possibilidade
de modulação temporal dos efeitos da decisão. Essa modulação pode fazer
com que a decisão tenha efeitos ex nunc (não retroativo); admite-se, ainda,
que a decisão tenha efeitos prospectivos (“pro futuro”). Ressalte-se que
existem dois requisitos para que o STF proceda à modulação temporal dos
efeitos da decisão: 1) razões de segurança jurídica ou de excepcional
interesse social; 2) decisão proferida por maioria de 2/3 (8 Ministros). Vale
dizer que o STF aplica por analogia o art. 27 da Lei 9.868/9924 (essa lei trata
da ADI e ADC, e não do controle difuso). Exemplos: RE 442.683/RS 25 (lei que
24
Art. 27. Ao declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo, e tendo em vista razões de segurança
jurídica ou de excepcional interesse social, poderá o Supremo Tribunal Federal, por maioria de dois terços de
seus membros, restringir os efeitos daquela declaração ou decidir que ela só tenha eficácia a partir de seu
trânsito em julgado ou de outro momento que venha a ser fixado.
25
EMENTA: CONSTITUCIONAL. SERVIDOR PÚBLICO: PROVIMENTO DERIVADO: INCONSTITUCIONALIDADE: EFEITO
EX NUNC. PRINCÍPIOS DA BOA-FÉ E DA SEGURANÇA JURÍDICA. I. - A Constituição de 1988 instituiu o concurso
público como forma de acesso aos cargos públicos. CF, art. 37, II. Pedido de desconstituição de ato administrativo
que deferiu, mediante concurso interno, a progressão de servidores públicos. Acontece que, à época dos fatos
1987 a 1992 , o entendimento a respeito do tema não era pacífico, certo que, apenas em 17.02.1993, é que o
Supremo Tribunal Federal suspendeu, com efeito ex nunc, a eficácia do art. 8º, III; art. 10, parágrafo único; art.
23
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previa ascensão de servidor público sem concurso público – foi declarada


inconstitucional com efeitos ex nunc); RE 197.917/SP26 (lei permitiu que um
número maior de vereadores tomasse posse em determinado município, sem
amparo constitucional; posteriormente, a lei foi declarada inconstitucional,
porém com produção de efeitos a partir da próxima legislatura, por questões
de segurança jurídica e de interesse público).

13, § 4º; art. 17 e art. 33, IV, da Lei 8.112, de 1990, dispositivos esses que foram declarados inconstitucionais em
27.8.1998: ADI 837/DF, Relator o Ministro Moreira Alves, "DJ" de 25.6.1999. II. - Os princípios da boa-fé e da
segurança jurídica autorizam a adoção do efeito ex nunc para a decisão que decreta a inconstitucionalidade.
Ademais, os prejuízos que adviriam para a Administração seriam maiores que eventuais vantagens do
desfazimento dos atos administrativos. III. - Precedentes do Supremo Tribunal Federal. IV. - RE conhecido, mas
não provido. (RE 442683 / RS - RIO GRANDE DO SUL - RECURSO EXTRAORDINÁRIO - Relator(a): Min. CARLOS
VELLOSO - Julgamento: 13/12/2005 - Órgão Julgador: Segunda Turma)
26
RECURSO EXTRAORDINÁRIO. MUNICÍPIOS. CÂMARA DE VEREADORES. COMPOSIÇÃO. AUTONOMIA MUNICIPAL.
LIMITES CONSTITUCIONAIS. NÚMERO DE VEREADORES PROPORCIONAL À POPULAÇÃO. CF, ARTIGO 29, IV.
APLICAÇÃO DE CRITÉRIO ARITMÉTICO RÍGIDO. INVOCAÇÃO DOS PRINCÍPIOS DA ISONOMIA E DA RAZOABILIDADE.
INCOMPATIBILIDADE ENTRE A POPULAÇÃO E O NÚMERO DE VEREADORES. INCONSTITUCIONALIDADE,
INCIDENTER TANTUM, DA NORMA MUNICIPAL. EFEITOS PARA O FUTURO. SITUAÇÃO EXCEPCIONAL. 1. O artigo
29, inciso IV da Constituição Federal, exige que o número de Vereadores seja proporcional à população dos
Municípios, observados os limites mínimos e máximos fixados pelas alíneas a, b e c. 2. Deixar a critério do
legislador municipal o estabelecimento da composição das Câmaras Municipais, com observância apenas dos
limites máximos e mínimos do preceito (CF, artigo 29) é tornar sem sentido a previsão constitucional expressa
da proporcionalidade. 3. Situação real e contemporânea em que Municípios menos populosos têm mais
Vereadores do que outros com um número de habitantes várias vezes maior. Casos em que a falta de um
parâmetro matemático rígido que delimite a ação dos legislativos Municipais implica evidente afronta ao
postulado da isonomia. 4. Princípio da razoabilidade. Restrição legislativa. A aprovação de norma municipal que
estabelece a composição da Câmara de Vereadores sem observância da relação cogente de proporção com a
respectiva população configura excesso do poder de legislar, não encontrando eco no sistema constitucional
vigente. 5. Parâmetro aritmético que atende ao comando expresso na Constituição Federal, sem que a
proporcionalidade reclamada traduza qualquer afronta aos demais princípios constitucionais e nem resulte formas
estranhas e distantes da realidade dos Municípios brasileiros. Atendimento aos postulados da moralidade,
impessoalidade e economicidade dos atos administrativos (CF, artigo 37). 6. Fronteiras da autonomia municipal
impostas pela própria Carta da República, que admite a proporcionalidade da representação política em face do
número de habitantes. Orientação que se confirma e se reitera segundo o modelo de composição da Câmara dos
24
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f) Papel do Senado: quando o STF julga, definitivamente, a inconstitucionalidade de


uma lei, como essa decisão possui apenas efeitos “inter partes”, a Constituição
Federal prevê a possibilidade de o Senado editar uma resolução, suspendendo a
execução da lei, dando, pois, efeito erga omnes à declaração de
inconstitucionalidade (art. 52, X, CF27). Ressalte-se que o próprio Regimento Interno
do Senado Federal estabelece que essa possibilidade de suspensão somente se
aplica à hipótese de controle difuso de constitucionalidade.

g) Cláusula da reserva de plenário (art. 97, CF) : no controle difuso, a


constitucionalidade pode ser declarada por qualquer juiz ou tribunal. Em se tratando
de tribunal, cumpre destacar que a inconstitucionalidade somente pode ser
declarada por órgão especial da Corte, bem como mediante voto da maioria
absoluta dos membros do tribunal.

5.2. AÇÃO CIVIL PÚBLICA

A questão relativa à possibilidade de utilização da ação civil pública no controle de


constitucionalidade já foi muito polêmica, mas hoje já está pacificado o entendimento.
Tanto o STJ quanto o STF admitem a possibilidade de utilização da ação civil pública
como instrumento de controle incidental. Para que não haja uma usurpação da competência
do STF, a inconstitucionalidade não pode ser objeto do pedido, mas apenas o seu

Deputados e das Assembléias Legislativas (CF, artigos 27 e 45, § 1º). 7. Inconstitucionalidade, incidenter tantun,
da lei local que fixou em 11 (onze) o número de Vereadores, dado que sua população de pouco mais de 2600
habitantes somente comporta 09 representantes. 8. Efeitos. Princípio da segurança jurídica. Situação
excepcional em que a declaração de nulidade, com seus normais efeitos ex tunc, resultaria grave ameaça a todo
o sistema legislativo vigente. Prevalência do interesse público para assegurar, em caráter de exceção, efeitos pro
futuro à declaração incidental de inconstitucionalidade. Recurso extraordinário conhecido e em parte provido.
(RE 197917 / SP - SÃO PAULO - RECURSO EXTRAORDINÁRIO - Relator(a): Min. MAURÍCIO CORRÊA - Julgamento:
06/06/2002 - Órgão Julgador: Tribunal Pleno)
27
Art. 52. Compete privativamente ao Senado Federal:
X - suspender a execução, no todo ou em parte, de lei declarada inconstitucional por decisão definitiva do
Supremo Tribunal Federal;
25
DIREITO CONSTITUCIONAL
Marcelo Novelino e Pedro Taques
LFG – Intensivo 2012

fundamento ou uma questão incidental (STJ – REsp 557.646 28; REsp 294.02229; STF – RE
227.15930).
Portanto, não há dúvidas de que a ação civil pública pode ser utilizada como
instrumento para o controle incidental de constitucionalidade. Ocorre que ela não pode ser
utilizada para este fim específico, caso contrário estaria fazendo as vezes da ação direta de
inconstitucionalidade, de competência exclusiva do STF.

28
PROCESSUAL CIVIL - AÇÃO CIVIL PÚBLICA - DECLARAÇÃO INCIDENTAL DE INCONSTITUCIONALIDADE -
POSSIBILIDADE - EFEITOS. 1. É possível a declaração incidental de inconstitucionalidade, na ação civil pública, de
quaisquer leis ou atos normativos do Poder Público, desde que a controvérsia constitucional não figure como
pedido, mas sim como causa de pedir, fundamento ou simples questão prejudicial, indispensável à resolução do
litígio principal, em torno da tutela do interesse público. 2. A declaração incidental de inconstitucionalidade na
ação civil pública não faz coisa julgada material, pois se trata de controle difuso de constitucionalidade, sujeito
ao crivo do Supremo Tribunal Federal, via recurso extraordinário, sendo insubsistente, portando, a tese de que
tal sistemática teria os mesmos efeitos da ação declaratória de inconstitucionalidade. 3. O efeito erga omnes da
coisa julgada material na ação civil pública será de âmbito nacional, regional ou local conforme a extensão e a
indivisibilidade do dano ou ameaça de dano, atuando no plano dos fatos e litígios concretos, por meio,
principalmente, das tutelas condenatória, executiva e mandamental, que lhe asseguram eficácia prática,
diferentemente da ação declaratória de inconstitucionalidade, que faz coisa julgada material erga omnes no
âmbito da vigência espacial da lei ou ato normativo impugnado. 4. Recurso especial provido. (Processo REsp
557646 / DF - RECURSO ESPECIAL - 2003/0094181-7 - Relator(a) Ministra ELIANA CALMON (1114) - Órgão Julgador
T2 - SEGUNDA TURMA - Data do Julgamento 13/04/2004 - Data da Publicação/Fonte DJ 30/06/2004 p. 314)
29
PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. CONTROLE DIFUSO DE CONSTITUCIONALIDADE. EFICÁCIA ERGA
OMNES. LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO. PRECEDENTES. 1. O STJ vem perfilhando o entendimento de
que é possível a declaração incidental de inconstitucionalidade de leis ou atos normativos em sede de ação civil
pública, nos casos em que a controvérsia constitucional consista no fundamento do pedido ou na questão
prejudicial que leve à solução do bem jurídico perseguido na ação. 2. Tratando-se de controle difuso, portanto
exercitável incidentalmente no caso concreto, apenas a esse estará afeto, não obrigando pessoas que não
concorreram para o evento danoso apontado na ação coletiva; ou seja, a decisão acerca da
in/constitucionalidade não contará com o efeito erga omnes, de forma que não se verifica a hipótese de ludibrio
do sistema de controle constitucional. 3. Recurso especial provido. (Processo REsp 294022 / DF - RECURSO
ESPECIAL - 2000/0135875-8 - Relator(a) Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA (1123) - Órgão Julgador T2 -
SEGUNDA TURMA - Data do Julgamento 02/08/2005 - Data da Publicação/Fonte DJ 19/09/2005 p. 243)
30
EMENTA: - Recurso extraordinário. Ação Civil Pública. Ministério Público. Legitimidade. 2. Acórdão que deu como
inadequada a ação civil pública para declarar a inconstitucionalidade de ato normativo municipal. 3. Entendimento
26
DIREITO CONSTITUCIONAL
Marcelo Novelino e Pedro Taques
LFG – Intensivo 2012

A ação civil pública, assim, funcionará igual às demais ações em que, incidentalmente, se
busca a declaração da inconstitucionalidade de uma norma (Mandado de Segurança, Habeas
Corpus etc.).
Caso a ação civil pública seja utilizada como uma espécie de ADI, usurpando a
competência do STF, admite-se a propositura de Reclamação junto a esta Corte.

6. CONTROLE CONCENTRADO ABSTRATO

Vamos estudar a ADI e ADC (reguladas pela Lei 9.868/99), além da ADPF (Lei 9.882/99).

6.1. INTRODUÇÃO

A ADI/ADC possuem um caráter dúplice ou ambivalente (art. 24, Lei 9.868/9931). Isso
significa dizer que a natureza dessas ações é a mesma. A diferença está no “sinal”: a ADI pede a
declaração de inconstitucionalidade; a ADC pede a declaração de constitucionalidade. Assim, se
o STF declarou a norma constitucional, uma ADC teria sido julgada procedente, e uma ADI
improcedente; caso contrário, ou seja, se o STF declarou a inconstitucionalidade de uma
norma, uma ADC teria sido julgada improcedente e uma ADI procedente.
Quando existe uma ADI e uma ADC sobre o mesmo tema tramitando junto ao STF, o
seu julgamento é conjunto. Foi o que aconteceu, por exemplo, recentemente, com a Lei Maria
da Penha.
Não obstante essas ações possuam a mesma natureza, existem algumas diferenças.

desta Corte no sentido de que "nas ações coletivas, não se nega, à evidência, também, a possibilidade de
declaração de inconstitucionalidade, incidenter tantum, de lei ou ato normativo federal ou local." 4.
Reconhecida a legitimidade do Ministério Público, em qualquer instância, de acordo com a respectiva jurisdição, a
propor ação civil pública(CF, arts. 127 e 129, III). 5. Recurso extraordinário conhecido e provido para que se
prossiga na ação civil pública movida pelo Ministério Público. (RE 227159 / GO – GOIÁS - RECURSO
EXTRAORDINÁRIO - Relator(a): Min. NÉRI DA SILVEIRA - Julgamento: 12/03/2002 - Órgão Julgador: Segunda
Turma)
31
Art. 24. Proclamada a constitucionalidade, julgar-se-á improcedente a ação direta ou procedente eventual ação
declaratória; e, proclamada a inconstitucionalidade, julgar-se-á procedente a ação direta ou improcedente
eventual ação declaratória.
27
DIREITO CONSTITUCIONAL
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LFG – Intensivo 2012

A primeira delas diz respeito ao pressuposto de admissibilidade da ADC, que não existe
na ADI. Naquela, entretanto, é necessária a existência de “controvérsia judicial relevante” (art.
14, III, Lei 9.868/9932). Qual a razão dessa exigência? As leis são presumidamente
constitucionais; em razão dessa presunção de constitucionalidade é que se faz necessária a
existência de uma controvérsia judicial relevante, caso contrário não se justifica a propositura
de ADC.
Vale dizer que a ADPF também possui um requisito específico, que é o seu caráter
subsidiário, ou seja, só é cabível a ADPF quando não existir outro meio igualmente eficaz para
sanar a lesividade (art. 4º, §1º, Lei 9.882/9933). Para o STF, esse “meio igualmente eficaz” deve
ter a mesma efetividade, amplitude e imediaticidade da ADPF (geralmente, esse “meio” vai ser
uma ADI ou ADC34).

6.2. ASPECTOS COMUNS (ADI/ADC/ADPF)

a) Não se admite desistência, assistência nem intervenção de terceiros 35: a Lei 9.868/99
prevê a possibilidade da intervenção do amicus curiae na ADI e ADC (art. 20, §1º36),
mas ressalte-se que existem alguns Ministros do STF que entendem que o amicus
curiae seria uma forma de intervenção de terceiros. Nenhuma das duas leis trata,

32
Art. 14. A petição inicial indicará:
III - a existência de controvérsia judicial relevante sobre a aplicação da disposição objeto da ação declaratória.
33
Art. 4o A petição inicial será indeferida liminarmente, pelo relator, quando não for o caso de argüição de
descumprimento de preceito fundamental, faltar algum dos requisitos prescritos nesta Lei ou for inepta.
§ 1o Não será admitida argüição de descumprimento de preceito fundamental quando houver qualquer outro
meio eficaz de sanar a lesividade.
34
O STF trouxe outro exemplo de “meio igualmente eficaz”, que não a ADI e ADC. Foi ajuizada uma ADPF tendo por
objeto uma súmula vinculante. O STF entendeu que, nesse caso, não seria cabível a ADPF, uma vez que a Lei
11.417/06 prevê outro mecanismo igualmente eficaz, qual seja, o Pedido de Revisão/Cancelamento de Súmula
Vinculante.
35
Ver amicus curiae.
36
§ 1o Em caso de necessidade de esclarecimento de matéria ou circunstância de fato ou de notória insuficiência
das informações existentes nos autos, poderá o relator requisitar informações adicionais, designar perito ou
comissão de peritos para que emita parecer sobre a questão ou fixar data para, em audiência pública, ouvir
depoimentos de pessoas com experiência e autoridade na matéria.
28
DIREITO CONSTITUCIONAL
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LFG – Intensivo 2012

especificamente, da assistência, mas tal vedação é expressa no Regimento Interno


do STF (lembre-se, entretanto, que a assistência é uma espécie de intervenção de
terceiros, mas é importante fazer essa distinção neste tópico).

b) A causa de pedir é aberta: ou seja, abrange todos os dispositivos da Constituição,


independentemente daqueles que foram invocados na inicial. Ex.: é proposta uma
ADI questionando a constitucionalidade de uma lei que prevê a quebra do sigilo
bancário, sob o fundamento de que viola o art. 5º, XII, da CF/88; o STF pode declarar
a lei inconstitucional, não com fundamento no dispositivo invocado, mas com
fundamento no art. 5º, X, da CF/88. Assim, o STF não está adstrito ao dispositivo
constitucional invocado como parâmetro. O que importa é o objeto do pedido, e
não a causa de pedir.

c) A decisão de mérito é irrecorrível, salvo embargos declaratórios : nenhuma dessas


ações admite qualquer recurso contra a decisão de mérito, com exceção dos
embargos de declaração.

d) Não cabe ação rescisória.

6.3. LEGITIMIDADE ATIVA

A legitimidade ativa é a mesma para ADI, ADC e ADPF. Ela deve ter previsão legal e
constitucional, pois o controle abstrato não depende de um direito subjetivo. A finalidade
principal desse controle é assegurar a supremacia da Constituição, razão pela qual cabe à Carta
Magna (ou à lei) estabelecer quem são os legitimados para postulá-la.

29
DIREITO CONSTITUCIONAL
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O rol de legitimados está no art. 103 da CF/8837 (também se aplica à ADPF, ainda que
não esteja mencionada; há previsão legal expressa nesse sentido – art. 2º, inciso I, Lei
9.882/9938). Ainda, destaque-se que esse rol de legitimados é exaustivo (numerus clausus).
Antes, somente o Procurador-Geral da República possuía essa legitimidade; o rol foi
substancialmente ampliado com a EC 45/2004.
A jurisprudência faz uma distinção dentro do rol de legitimados:
 Legitimados ativos UNIVERSAIS: não precisam demonstrar a pertinência
temática. Relacionam-se à União. São eles: Presidente da República,
Procurador-Geral da República, Mesa da Câmara dos Deputados, Mesa do
Senado Federal, partidos políticos com representação no Congresso Nacional e
Conselho Federal da OAB.
 Legitimados ativos ESPECIAIS: precisam demonstrar a existência de pertinência
temática (= nexo de causalidade entre o interesse defendido pelo legitimado

37
Art. 103. Podem propor a ação direta de inconstitucionalidade e a ação declaratória de constitucionalidade:
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
I - o Presidente da República;
II - a Mesa do Senado Federal;
III - a Mesa da Câmara dos Deputados;
IV a Mesa de Assembléia Legislativa ou da Câmara Legislativa do Distrito Federal; (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)
V o Governador de Estado ou do Distrito Federal; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
VI - o Procurador-Geral da República;
VII - o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil;
VIII - partido político com representação no Congresso Nacional;
IX - confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional.
38
Art. 2o Podem propor argüição de descumprimento de preceito fundamental:
I - os legitimados para a ação direta de inconstitucionalidade;
30
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ativo e o objeto impugnado) – ADI 305 39; ADI 1.507-MC-AgR40. Ex.: o Conselho
Federal de Medicina, ao ajuizar uma ADI, ADC ou ADPF, deve demonstrar que a
norma impugnada fere os interesses da categoria; Governador do Estado deve
demonstrar que a norma impugnada fere os interesses do Estado que ele
representa. Relacionam-se aos Estados. São eles: Governador (estados/DF),
Mesa da Assembleia Legislativa, Mesa da Câmara Legislativa (DF),
confederação sindical e entidades de classe de âmbito nacional.

LEGITIMADOS ATIVOS (ADI/ADC/ADPF)

- P. EXECUT. P. JUDIC. P. LEGISL. MIN. PÚB. OUTROS


Presidente da - Mesas da Procurador- Partidos
UNIVERSAIS
Câmara dos Geral da Políticos (com
39
INFORMATIVO 285: Vinculação de Vencimentos: Inconstitucionalidade. Por afronta à vedação constitucional de
equiparação ou vinculação de vencimentos (CF, art. 37, XIII), o Tribunal, julgando o mérito de ação direta ajuizada
pela Associação dos Magistrados Brasileiros - AMB, declarou a inconstitucionalidade de expressões contidas nos
§§ 2º dos artigos 87, 89, 90 e 160, da Constituição do Estado do Rio Grande do Norte, que previam a equiparação
salarial entre diversas carreiras, do art. 3º da Lei Complementar estadual 77/90, bem como da expressão
"respeitada a situação dos aposentados que se encontravam em exercício em 12 de outubro de 1988", constante
da parte final do art. 12 do ADCT da mesma Constituição. ADI 305-RN, rel. Min. Maurício Corrêa, 10.10.2002.
40
EMENTA: - CONSTITUCIONAL. AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE: SEGUIMENTO NEGADO PELO
RELATOR. COMPETÊNCIA DO RELATOR (RI/STF, art. 21, § 1º; Lei 8.038, de 1.990, art. 38): CONSTITUCIONALIDADE.
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE: LEGITIMIDADE ATIVA: PERTINÊNCIA TEMÁTICA. I. - Tem legitimidade
constitucional a atribuição conferida ao Relator para arquivar ou negar seguimento a pedido ou recurso
intempestivo, incabível ou improcedente e, ainda, quando contrariar a jurisprudência predominante do Tribunal
ou for evidente a sua incompetência (RI/STF, art. 21, § 1º; Lei 8.038/90, art. 38), desde que, mediante recurso -
agravo regimental, por exemplo - possam as decisões ser submetidas ao controle do colegiado. Precedentes do
STF. II. - A legitimidade ativa da confederação sindical, entidade de classe de âmbito nacional, Mesas das
Assembléias Legislativas e Governadores, para a ação direta de inconstitucionalidade, vincula-se ao objeto da
ação, pelo que deve haver pertinência da norma impugnada com os objetivos do autor da ação. III. - Precedentes
do STF: ADIn 305-RN (RTJ 153/428); ADIn 1.151-MG ("DJ" de 19.05.95); ADIn 1.096-RS ("LEX-JSTF", 211/54); ADIn
1.519-AL, julg. em 06.11.96; ADIn 1.464-RJ, "DJ" de 13.12.96. IV. - Inocorrência, no caso, de pertinência das normas
impugnadas com os objetivos da entidade de classe autora da ação direta. Negativa de seguimento da inicial.
(Agravo não provido. ADI 1507 MC-AgR / RJ - RIO DE JANEIRO - AG.REG.NA MEDIDA CAUTELAR NA AÇÃO DIRETA
DE INCONSTITUCIONALIDADE - Relator(a): Min. CARLOS VELLOSO - Julgamento: 03/02/1997 - Órgão Julgador:
Tribunal Pleno)
31
DIREITO CONSTITUCIONAL
Marcelo Novelino e Pedro Taques
LFG – Intensivo 2012

representação
Deputados e no CN) e
(União) República do Senado República Conselho
Federal Federal da
OAB.
Mesas da Confederação
Assembleia Sindical e
ESPECIAIS Governador
- Legislativa - Entidades de
(Estados) (Estados/DF)
e da Câmara Classe (âmbito
Legislativa nacional)

Sobre o tema, surgem algumas observações:

 Vice-Presidente e Vice-Governador NÃO podem propor ADI, ADC e ADPF :


lembre-se que o rol é taxativo. No entanto, cumpre ressaltar que se o Vice
estiver substituindo o Chefe do Poder Executivo, ele poderá propor a ação,
pois, nesse caso, ele estará no exercício da titularidade do cargo, atuando, pois,
como Presidente ou Governador, e não como Vice.

 Mesa do Congresso Nacional NÃO tem legitimidade ativa : mais uma vez,
destaque-se que o rol do art. 103 da CF/88 é taxativo.

 A legitimidade do partido político deve ser aferida no momento da propositura


da ação: fruto do novo posicionamento do STF, modificado em 2004 (ADI 2.158
AgR/DF41) Assim, ainda que o partido político perca o seu único representante
após a propositura da ação, a sua legitimidade ativa permanece.

 Confederação sindical e entidade de classe : “confederação” já significa que ela


pertence ao âmbito nacional. A entidade de classe também que ser de âmbito
nacional; quanto a ela, existem alguns entendimentos importantes do STF:

41
Decisão: O Tribunal, por maioria, deu provimento ao agravo, no sentido de reconhecer que a perda
superveniente de representação parlamentar não desqualifica o partido político como legitimado ativo para a
propositura da ação direta de inconstitucionalidade, vencidos os Senhores Ministros Carlos Velloso, Relator, e
Celso de Mello. Votou o Presidente, o Senhor Ministro Nelson Jobim. Redigirá o acórdão o Senhor Ministro Gilmar
Mendes. Ausente, justificadamente, a Senhora Ministra Ellen Gracie. Plenário, 12.08.2004.
32
DIREITO CONSTITUCIONAL
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o A entidade deve ser representativa de uma determinada categoria


profissional, social ou econômica: CUT (Central Única dos Trabalhadores)
e CGT (Comando Geral dos Trabalhadores), para o STF, não possuem
legitimidade ativa, pois representam categorias diversas (ADI 271 42 e ADI
1.44243).
o A entidade de classe deve ser de âmbito nacional, ou seja, presente em,
pelo menos, 1/3 dos estados brasileiros: o STF utilizou como critério
hermenêutico o art. 7º da Lei 9.096/95 (Partidos Políticos), que define o

42
EMENTA: Ação direta de inconstitucionalidade. Central Única dos Trabalhadores (CUT). Falta de legitimação
ativa. - Sendo que a autora constituída por pessoas jurídicas de natureza vária, e que representam categorias
profissionais diversas, não se enquadra ela na expressão - entidade de classe de âmbito nacional-, a que alude o
artigo 103 da Constituição, contrapondo-se às confederações sindicais, porquanto não é uma entidade que
congregue os integrantes de uma determinada atividade ou categoria profissional ou econômica, e que,
portanto, represente, em âmbito nacional, uma classe. - Por outro lado, não é a autora - e nem ela própria se
enquadra nesta qualificação - uma confederação sindical, tipo de associação sindical de grau superior
devidamente previsto em lei (C.L.T. artigos 533 e 535), o qual ocupa o cimo da hierarquia de nossa estrutura
sindical e ao qual inequivocamente alude a primeira parte do inciso IX do artigo 103 da Constituição. Ação direta
de inconstitucionalidade que não se conhece por falta de legitimação da autora. (ADI 271 MC / DF - DISTRITO
FEDERAL - MEDIDA CAUTELAR NA AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE - Relator(a): Min. MOREIRA ALVES -
Julgamento: 24/09/1992 - Órgão Julgador: Tribunal Pleno)
43
E M E N T A: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE - AUSÊNCIA DE LEGITIMIDADE ATIVA DE CENTRAL
SINDICAL (CUT) - IMPUGNAÇÃO A MEDIDA PROVISÓRIA QUE FIXA O NOVO VALOR DO SALÁRIO MÍNIMO -
ALEGAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE EM FACE DA INSUFICIÊNCIA DESSE VALOR SALARIAL - REALIZAÇÃO
INCOMPLETA DA DETERMINAÇÃO CONSTANTE DO ART. 7º, IV, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA - HIPÓTESE DE
INCONSTITUCIONALIDADE POR OMISSÃO PARCIAL - IMPOSSIBILIDADE DE CONVERSÃO DA ADIN EM AÇÃO DIRETA
DE INCONSTITUCIONALIDADE POR OMISSÃO - AÇÃO DIRETA DE QUE NÃO SE CONHECE, NO PONTO - MEDIDA
PROVISÓRIA QUE SE CONVERTEU EM LEI - LEI DE CONVERSÃO POSTERIORMENTE REVOGADA POR OUTRO
DIPLOMA LEGISLATIVO - PREJUDICIALIDADE DA AÇÃO DIRETA. FALTA DE LEGITIMIDADE ATIVA DAS CENTRAIS
SINDICAIS PARA O AJUIZAMENTO DE AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. - No plano da organização
sindical brasileira, somente as confederações sindicais dispõem de legitimidade ativa "ad causam" para o
ajuizamento da ação direta de inconstitucionalidade (CF, art. 103, IX), falecendo às centrais sindicais, em
conseqüência, o poder para fazer instaurar, perante o Supremo Tribunal Federal, o concernente processo de
fiscalização normativa abstrata. (...) (Precedentes. ADI 1442 / DF - DISTRITO FEDERAL - AÇÃO DIRETA DE
INCONSTITUCIONALIDADE - Relator(a): Min. CELSO DE MELLO - Julgamento: 03/11/2004 - Órgão Julgador:
Tribunal Pleno).
33
DIREITO CONSTITUCIONAL
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que seria um partido político de “caráter nacional”. Assim, como não


existe na lei nenhuma disposição específica quanto às entidades de
classe, estabelece o STF que, para que ela seja considerada de âmbito
nacional, deve estar presente em, pelo menos, 1/3 dos estados
brasileiros (ADI 2.866-MC). Exceção: quando a atividade desempenhada
pelo legitimado possui relevância nacional (também consta da ADI
2.866-MC44).
o A entidade de classe pode ser composta tanto por pessoas físicas
quanto por pessoas jurídicas: até 2004, somente as entidades de classe
formadas por pessoas físicas eram as legitimadas. Após 2004, o STF
mudou o seu posicionamento, admitindo a legitimidade ativa das
entidades de classe mesmo quando formadas por pessoas jurídicas
(associação de associações).

 Dentre os legitimados do art. 103 da CF/88, os únicos que NÃO têm capacidade
postulatória são os partidos políticos, as confederações sindicais e as entidades
de classe de âmbito nacional.

6.4. PARÂMETRO

No que se refere à ADI e ADC, qualquer norma formalmente constitucional, inclusive


os tratados internacionais de direitos humanos aprovados na forma do art. 5º, §3º, da CF/88 ,
podem servir como parâmetro no controle concentrado abstrato de constitucionalidade.
44
EMENTA: Ação Direta de Inconstitucionalidade ajuizada pela Associação Brasileira dos Extratores e Refinadores
de Sal - ABERSAL contra a Lei Estadual nº 8.299, de 29 de janeiro de 2003, do Estado do Rio Grande do Norte, que
"dispõe sobre formas de escoamento do sal marinho produzido no Rio Grande do Norte e dá outras providências".
2. Legitimidade ativa. 3. Inaplicabilidade, no caso, do critério adotado para a definição do caráter nacional dos
partidos políticos (Lei nº 9.096, de 19.9.1995: art. 7º), haja vista a relevância nacional da atividade dos
associados da ABERSAL, não obstante a produção de sal ocorrer em poucas unidades da federação. (...) 8.
Aparente ofensa à regra do art. 155, § 2º, XII, g. 9. Liminar deferida para suspender o art. 6º, caput e § 4º, o art. 7º
e o art. 9º da lei estadual impugnada. (ADI 2866 MC / RN - RIO GRANDE DO NORTE - MEDIDA CAUTELAR NA AÇÃO
DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE - Relator(a): Min. GILMAR MENDES - Julgamento: 25/09/2003 - Órgão
Julgador: Tribunal Pleno)
34
DIREITO CONSTITUCIONAL
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Quanto à ADPF, apenas um preceito fundamental serve de parâmetro. Preceito


fundamental corresponde àquelas normas imprescindíveis à identidade e ao regime adotado
pela Constituição. Exemplos: as normas contidas no Título I (Princípios Fundamentais), no
Título II (Direitos e Garantias Fundamentais), os princípios constitucionais sensíveis (art. 34,
VII, CF45) e as cláusulas pétreas (art. 60, §4º, CF46).

6.5. OBJETO DO CONTROLE

O estudo do objeto do controle concentrado abstrato de constitucionalidade é feita a


partir de três perspectivas: natureza, tempo e espaço.

6.5.1. NATUREZA DO OBJETO

a) ADI e ADC

O objeto da ADI e ADC difere do objeto da ADPF. No caso da ADI e ADC, a Constituição
exige que o objeto seja uma lei ou ato normativo. Previsão no art. 102, inciso I, “a”, da CF/88:

45
Art. 34. A União não intervirá nos Estados nem no Distrito Federal, exceto para:
VII - assegurar a observância dos seguintes princípios constitucionais:
a) forma republicana, sistema representativo e regime democrático;
b) direitos da pessoa humana;
c) autonomia municipal;
d) prestação de contas da administração pública, direta e indireta.
e) aplicação do mínimo exigido da receita resultante de impostos estaduais, compreendida a proveniente de
transferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino e nas ações e serviços públicos de saúde.(Redação
dada pela Emenda Constitucional nº 29, de 2000)
46
§ 4º - Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir:
I - a forma federativa de Estado;
II - o voto direto, secreto, universal e periódico;
III - a separação dos Poderes;
IV - os direitos e garantias individuais.
35
DIREITO CONSTITUCIONAL
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Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da


Constituição, cabendo-lhe:
I - processar e julgar, originariamente:
a) a ação direta de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo federal ou estadual
e a ação declaratória de constitucionalidade de lei ou ato normativo federal;
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 3, de 1993)

Essa lei ou ato normativo deve violar diretamente a Constituição. A violação tem que
ser direta ou antecedente. Ainda, quando se fala em “lei”, pode ser qualquer lei, inclusive as
de efeitos concretos (leis de efeitos concretos são aquelas que possuem destinatário certo ou
objeto determinado). O STF, até alguns anos atrás, adotava o posicionamento segundo o qual
leis de efeitos concretos não poderiam ser objetos de ADI ou ADC; na ADI 4.048-MC 47,
entretanto, o STF mudou o entendimento, passando a admitir essa possibilidade.

O STF não admite como objeto de ADI e ADC os seguintes atos:

 Atos tipicamente regulamentares: são aqueles que regulamentam uma lei (ex.:
decreto regulamentar), logo, não violam diretamente a Constituição. Ressalte-se

47
EMENTA: MEDIDA CAUTELAR EM AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. MEDIDA PROVISÓRIA N° 405, DE
18.12.2007. ABERTURA DE CRÉDITO EXTRAORDINÁRIO. LIMITES CONSTITUCIONAIS À ATIVIDADE LEGISLATIVA
EXCEPCIONAL DO PODER EXECUTIVO NA EDIÇÃO DE MEDIDAS PROVISÓRIAS. I. MEDIDA PROVISÓRIA E SUA
CONVERSÃO EM LEI. Conversão da medida provisória na Lei n° 11.658/2008, sem alteração substancial.
Aditamento ao pedido inicial. Inexistência de obstáculo processual ao prosseguimento do julgamento. A lei de
conversão não convalida os vícios existentes na medida provisória. Precedentes. II. CONTROLE ABSTRATO DE
CONSTITUCIONALIDADE DE NORMAS ORÇAMENTÁRIAS. REVISÃO DE JURISPRUDÊNCIA. O Supremo Tribunal
Federal deve exercer sua função precípua de fiscalização da constitucionalidade das leis e dos atos normativos
quando houver um tema ou uma controvérsia constitucional suscitada em abstrato, independente do caráter
geral ou específico, concreto ou abstrato de seu objeto. Possibilidade de submissão das normas orçamentárias ao
controle abstrato de constitucionalidade. (...) IV. MEDIDA CAUTELAR DEFERIDA. Suspensão da vigência da Lei n°
11.658/2008, desde a sua publicação, ocorrida em 22 de abril de 2008. (ADI 4048 MC / DF - DISTRITO FEDERAL -
MEDIDA CAUTELAR NA AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE - Relator(a): Min. GILMAR MENDES -
Julgamento: 14/05/2008 - Órgão Julgador: Tribunal Pleno)
36
DIREITO CONSTITUCIONAL
Marcelo Novelino e Pedro Taques
LFG – Intensivo 2012

que é possível que um decreto seja objeto de controle, desde que seja um
decreto autônomo (aquele que regula diretamente a Constituição) – ADI 3.66448.

 Normas constitucionais originárias: as normas constitucionais que nasceram


com a Constituição de 1988 (05.10.1988) não podem ser objeto de controle.
Lembre-se que o princípio da unidade da Constituição afasta a tese da hierarquia
entre as normas constitucionais - ADI 4.097 AgR/DF49.

 Leis ou normas de efeitos concretos já exaur idos: se a norma não produz mais
efeitos, não há mais razão para impugnar a sua constitucionalidade – ADI
2.980/DF50.
48
EMENTAS: 1. INCONSTITUCIONALIDADE. Ação direta. Objeto. Admissibilidade. Impugnação de decreto
autônomo, que institui benefícios fiscais. Caráter não meramente regulamentar. Introdução de novidade
normativa. Preliminar repelida. Precedentes. Decreto que, não se limitando a regulamentar lei, institua benefício
fiscal ou introduza outra novidade normativa, reputa-se autônomo e, como tal, é suscetível de controle
concentrado de constitucionalidade. 2. INCONSTITUCIONALIDADE. Ação direta. Decreto nº 27.427/00, do Estado
do Rio de Janeiro. Tributo. Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços – ICMS. Benefícios fiscais. Redução
de alíquota e concessão de crédito presumido, por Estado-membro, mediante decreto. Inexistência de suporte em
convênio celebrado no âmbito do CONFAZ, nos termos da LC 24/75. Expressão da chamada “guerra fiscal”.
Inadmissibilidade. Ofensa aos arts. 150, § 6º, 152 e 155, § 2º, inc. XII, letra “g”, da CF. Ação julgada procedente.
Precedentes. Não pode o Estado-membro conceder isenção, incentivo ou benefício fiscal, relativos ao Imposto
sobre Circulação de Mercadorias e Serviços – ICMS, de modo unilateral, mediante decreto ou outro ato normativo,
sem prévia celebração de convênio intergovernamental no âmbito do CONFAZ. (ADI 3664 / RJ - RIO DE JANEIRO -
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE - Relator(a): Min. CEZAR PELUSO - Julgamento: 01/06/2011 - Órgão
Julgador: Tribunal Pleno)
49
EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. ADI. Inadmissibilidade. Art. 14, § 4º, da CF. Norma
constitucional originária. Objeto nomológico insuscetível de controle de constitucionalidade. Princípio da
unidade hierárquico-normativa e caráter rígido da Constituição brasileira. Doutrina. Precedentes. Carência da
ação. Inépcia reconhecida. Indeferimento da petição inicial. Agravo improvido. Não se admite controle
concentrado ou difuso de constitucionalidade de normas produzidas pelo poder constituinte originário. (ADI
4097 AgR / DF - DISTRITO FEDERAL - AG.REG.NA AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE - Relator(a): Min.
CEZAR PELUSO - Julgamento: 08/10/2008 - Órgão Julgador: Tribunal Pleno)
50
EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. Lei federal nº 9.688/98. Servidor público. Cargo de censor
federal. Extinção. Enquadramento dos ocupantes em cargos doutras carreiras. Norma de caráter ou efeito
concreto exaurido. Impossibilidade de controle abstrato de constitucionalidade. Pedido não conhecido. Votos
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DIREITO CONSTITUCIONAL
Marcelo Novelino e Pedro Taques
LFG – Intensivo 2012

 Leis ou atos normativos com eficácia suspensa pelo Senado (art. 52, X, CF):
trata-se daquela hipótese em que o STF declara a inconstitucionalidade no
controle difuso e o Senado edita uma resolução suspendendo a execução da lei
(dando efeitos erga omnes) - ADI 15/DF51.

 Norma declarada inconstitucional ou inconstitucional pelo Plenário do STF,


ainda que no controle difuso: se a norma já foi objeto de controle (difuso ou
concentrado) de constitucionalidade pelo STF, ela não pode ser questionada
novamente. Exceções: 1) quando houver mudanças significativas na situação

vencidos. Lei ou norma de caráter ou efeito concreto já exaurido não pode ser objeto de controle abstrato de
constitucionalidade, em ação direta de inconstitucionalidade. (ADI 2980 / DF - DISTRITO FEDERAL - AÇÃO DIRETA
DE INCONSTITUCIONALIDADE - Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO - Relator(a) p/ Acórdão: Min. CEZAR PELUSO -
Julgamento: 05/02/2009 - Órgão Julgador: Tribunal Pleno)
51
EMENTA: I. ADIn: legitimidade ativa: "entidade de classe de âmbito nacional" (art. 103, IX, CF): compreensão da
"associação de associações" de classe. Ao julgar, a ADIn 3153-AgR, 12.08.04, Pertence, Inf STF 356, o plenário do
Supremo Tribunal abandonou o entendimento que excluía as entidades de classe de segundo grau - as chamadas
"associações de associações" - do rol dos legitimados à ação direta. II. ADIn: pertinência temática. Presença da
relação de pertinência temática, pois o pagamento da contribuição criada pela norma impugnada incide sobre as
empresas cujos interesses, a teor do seu ato constitutivo, a requerente se destina a defender. III. ADIn: não
conhecimento quanto ao parâmetro do art. 150, § 1º, da Constituição, ante a alteração superveniente do
dispositivo ditada pela EC 42/03. IV. ADIn: L. 7.689/88, que instituiu contribuição social sobre o lucro das pessoas
jurídicas, resultante da transformação em lei da Medida Provisória 22, de 1988. 1. Não conhecimento, quanto ao
art. 8º, dada a invalidade do dispositivo, declarado inconstitucional pelo Supremo Tribunal, em processo de
controle difuso (RE 146.733), e cujos efeitos foram suspensos pelo Senado Federal, por meio da Resolução
11/1995. 2. Procedência da arguição de inconstitucionalidade do artigo 9º, por incompatibilidade com os artigos
195 da Constituição e 56, do ADCT/88, que, não obstante já declarada pelo Supremo Tribunal Federal no
julgamento do RE 150.764, 16.12.92, M. Aurélio (DJ 2.4.93), teve o processo de suspensão do dispositivo
arquivado, no Senado Federal, que, assim, se negou a emprestar efeitos erga omnes à decisão proferida na via
difusa do controle de normas. 3. Improcedência das alegações de inconstitucionalidade formal e material do
restante da mesma lei, que foram rebatidas, à exaustão, pelo Supremo Tribunal, nos julgamentos dos RREE
146.733 e 150.764, ambos recebidos pela alínea b do permissivo constitucional, que devolve ao STF o
conhecimento de toda a questão da constitucionalidade da lei. (ADI 15 / DF - DISTRITO FEDERAL - AÇÃO DIRETA DE
INCONSTITUCIONALIDADE - Relator(a): Min. SEPÚLVEDA PERTENCE - Julgamento: 14/06/2007 - Órgão Julgador:
Tribunal Pleno)
38
DIREITO CONSTITUCIONAL
Marcelo Novelino e Pedro Taques
LFG – Intensivo 2012

fática ou 2) superveniência de novos argumentos nitidamente mais relevantes.


– ADI 4.071-AgR/DF52.

 Leis revogadas: no controle difuso, não importa se a lei já foi revogada ou não,
ela pode ter violado direito subjetivo quando ainda vigente; portanto, ainda que
a lei já esteja revogada, a sua constitucionalidade pode ser questionada. No
controle concentrado, por outro lado, a finalidade principal é a proteção da
supremacia da Constituição, e não de um direito subjetivo. Assim, se uma lei foi
revogada, ela não oferece mais “perigo” à Constituição, logo não há razão para
ser objeto de controle difuso de constitucionalidade. Exceção: “fraude
processual” – ocorre quando as leis são sucessivamente revogadas com a
intenção de burlar a jurisdição constitucional (ADI 3.306/DF53).
52
EMENTA Agravo regimental. Ação direta de inconstitucionalidade manifestamente improcedente. Indeferimento
da petição inicial pelo Relator. Art. 4º da Lei nº 9.868/99. 1. É manifestamente improcedente a ação direta de
inconstitucionalidade que verse sobre norma (art. 56 da Lei nº 9.430/96) cuja constitucionalidade foi
expressamente declarada pelo Plenário do Supremo Tribunal Federal, mesmo que em recurso extraordinário. 2.
Aplicação do art. 4º da Lei nº 9.868/99, segundo o qual "a petição inicial inepta, não fundamentada e a
manifestamente improcedente serão liminarmente indeferidas pelo relator". 3. A alteração da jurisprudência
pressupõe a ocorrência de significativas modificações de ordem jurídica, social ou econômica, ou, quando muito,
a superveniência de argumentos nitidamente mais relevantes do que aqueles antes prevalecentes , o que não se
verifica no caso. 4. O amicus curiae somente pode demandar a sua intervenção até a data em que o Relator liberar
o processo para pauta. 5. Agravo regimental a que se nega provimento. (ADI 4071 AgR / DF - DISTRITO FEDERAL -
AG.REG.NA AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE - Relator(a): Min. MENEZES DIREITO - Julgamento:
22/04/2009 - Órgão Julgador: Tribunal Pleno)
53
EMENTA : AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. RESOLUÇÕES DA CÂMARA LEGISLATIVA DO DISTRITO
FEDERAL QUE DISPÕ EM SOBRE O REAJUSTE DA REMUNERAÇÃO DE SEUS SERVIDORES. RESERVA DE LEI. I.
PRELIMINAR. REVOGAÇÃO DE ATOS NORMATIVOS IMPUGNADOS APÓS A PROPOSITURA DA AÇÃO DIRETA.
FRAUDE PROCESSUAL. CONTINUIDADE DO JULGAMENTO. Superveniência de Lei Distrital que convalidaria as
resoluções atacadas. Sucessivas leis distritais que tentaram revogar os atos normativos impugnados. Posterior
edição da Lei Distrital n° 4.342, de 22 de junho de 2009, a qual instituiu novo Plano de Cargos, Carreira e
Remuneração dos servidores e revogou tacitamente as Resoluções 197/03, 201/03, 202/03 e 204/03, por ter
regulado inteiramente a matéria por elas tratadas, e expressamente as Resoluções n°s 202/03 e 204/03. Fatos
que não caracterizaram o prejuízo da ação. Quadro fático que sugere a intenção de burlar a jurisdição
constitucional da Corte. Configurada a fraude processual com a revogação dos atos normativos impugnados na
ação direta, o curso procedimental e o julgamento final da ação não ficam prejudicados. (...) As resoluções da
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DIREITO CONSTITUCIONAL
Marcelo Novelino e Pedro Taques
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 Leis temporárias: o raciocínio é o mesmo da lei revogada. Assim como a lei


revogada não mais ameaça a supremacia da Constituição, a lei temporária, por
possuir uma vigência em determinado período de tempo, também não oferece
mais esse perigo. Exceção: quando estiverem presentes dois fatores, quais
sejam, 1) impugnação em tempo adequado e sua inclusão em pauta antes do
exaurimento da eficácia; e 2) quando, apesar fim do lapso temporal fixado para
a sua duração, ela produzir efeitos para o futuro. – ADI 4.426/CE54.

Câmara Distrital não constituem lei em sentido formal, de modo que vão de encontro ao disposto no texto
constitucional, padecendo, pois, de patente inconstitucionalidade, por violação aos artigos 37, X; 51, IV; e 52, XIII,
da Constituição Federal. III . AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE JULGADA PROCEDENTE. (ADI 3306 / DF -
DISTRITO FEDERAL - AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE - Relator(a): Min. GILMAR MENDES -
Julgamento: 17/03/2011 - Órgão Julgador: Tribunal Pleno)
54
EMENTA Ação Direta de Inconstitucionalidade. AMB. Lei nº 14.506, de 16 de novembro de 2009, do Estado do
Ceará. Fixação de limites de despesa com a folha de pagamento dos servidores estaduais do Poder Executivo, do
Poder Legislativo, do Poder Judiciário e do Ministério Público estadual. Conhecimento parcial.
Inconstitucionalidade. 1. Singularidades do caso afastam, excepcionalmente, a aplicação da jurisprudência do
Supremo Tribunal Federal sobre a prejudicialidade da ação, visto que houve impugnação em tempo adequado e
a sua inclusão em pauta antes do exaurimento da eficácia da lei temporária impugnada, existindo a
possibilidade de haver efeitos em curso (art. 7º da Lei 14.506/2009). 2. Conquanto a AMB tenha impugnado a
integralidade da lei estadual, o diploma limita a execução orçamentária não apenas em relação aos órgãos do
Poder Judiciário, mas também em relação aos Poderes Executivo e Legislativo e do Ministério Público, os quais são
alheios à sua atividade de representação. Todos os fundamentos apresentados pela requerente para demonstrar a
suposta inconstitucionalidade restringem-se ao Poder Judiciário, não alcançando os demais destinatários.
Conhecimento parcial da ação. 3. Conforme recente entendimento firmado por esta Corte, “[a] lei não precisa de
densidade normativa para se expor ao controle abstrato de constitucionalidade, devido a que se trata de ato de
aplicação primária da Constituição. Para esse tipo de controle, exige-se densidade normativa apenas para o ato de
natureza infralegal” (ADI 4.049/DF-MC, Relator o Ministro Ayres Britto, DJ de 8/5/09). Outros precedentes: ADI
4.048/DF-MC, Relator Ministro Gilmar Mendes, DJ de 22/8/08; ADI 3.949/DF-MC, Relator Ministro Gilmar Mendes,
DJ de 7/8/09). Preliminar de não conhecimento rejeitada. (...) 8. Ação direta de inconstitucionalidade julgada
parcialmente procedente para declarar, com efeitos ex tunc, a inconstitucionalidade da expressão “e Judiciário”
contida nos arts. 1º e 6º da lei impugnada e para declarar a inconstitucionalidade parcial sem redução de texto dos
demais dispositivos da Lei nº 14.506/09 do Estado do Ceará, afastando do seu âmbito de incidência o Poder
Judiciário. (ADI 4426 / CE – CEARÁ - AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE - Relator(a): Min. DIAS TOFFOLI -
Julgamento: 09/02/2011 - Órgão Julgador: Tribunal Pleno)
40
DIREITO CONSTITUCIONAL
Marcelo Novelino e Pedro Taques
LFG – Intensivo 2012

Obs. Existe uma proposta de revisão do posicionamento do STF, na ADI 1.244-QO55, levantada
pelo Min. Gilmar Mendes, para que a Corte passe a admitir o controle concentrado de
constitucionalidade das leis revogadas e temporárias, sob pena de violação à força normativa
da Constituição e ao princípio da máxima efetividade constitucional.

b) ADPF

Quanto à ADPF, ela pode ter como objeto lei, ato normativo ou qualquer ato do poder
público. Previsão no art. 1ª, Lei 9.882/99:

Art. 1o A argüição prevista no § 1o do art. 102 da Constituição Federal será proposta


perante o Supremo Tribunal Federal, e terá por objeto evitar ou reparar lesão a
preceito fundamental, resultante de ato do Poder Público.

55
INFORMATIVO 305: ADI e Revogação Superveniente. Iniciado o julgamento de segunda questão de ordem,
suscitada pelo Min. Gilmar Mendes, relator, em que se discute a prejudicialidade das ações diretas de
inconstitucionalidade nas hipóteses de revogação do ato impugnado. Trata-se, na espécie, de ação direta
ajuizada pelo Procurador-Geral da República contra Decisão Administrativa do TRT da 15ª Região tomada em
7.12.94, que fora posteriormente revogada - a mencionada decisão determinara o pagamento, a partir de abril de
1994, do reajuste de 10,94%, correspondente à diferença entre o resultado da conversão da URV em reais, com
base no dia 20 de abril de 1994, e o obtido na operação de conversão com base no dia 30 do mesmo mês e ano,
aos magistrados da Justiça do Trabalho, inclusive juízes classistas, bem como aos servidores ativos e inativos do
Tribunal. O Min. Gilmar Mendes, relator, proferiu voto no sentido da revisão da jurisprudência do STF - segundo
a qual a ação direta perde seu objeto quando há a revogação superveniente da norma impugnada ou, em se
tratando de lei temporária, quando sua eficácia já teria se exaurido -, para o fim de admitir o prosseguimento do
controle abstrato nas hipóteses em que a norma atacada tenha perdido a vigência após o ajuizamento da ação,
seja pela revogação, seja em razão do seu caráter temporário, restringindo o alcance dessa revisão às ações
diretas pendentes de julgamento e às que vierem a ser ajuizadas. O Min. Gilmar Mendes, considerando que a
remessa de controvérsia constitucional já instaurada perante o STF para as vias ordinárias é incompatível com
os princípios da máxima efetividade e da força normativa da Constituição, salientou não estar demonstrada
nenhuma razão de base constitucional a evidenciar que somente no âmbito do controle difuso seria possível a
aferição da constitucionalidade dos efeitos concretos de uma lei. Após, o julgamento foi adiado em virtude do
pedido de vista da Ministra Ellen Gracie. ADI (QO-QO) 1.244-SP, rel. Min. Gilmar Mendes, 23.4.2003.
41
DIREITO CONSTITUCIONAL
Marcelo Novelino e Pedro Taques
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Perceba que o objeto da ADPF é bem mais amplo que o da ADI e ADC. Por exemplo, na
ADPF é possível discutir a constitucionalidade de decisões judiciais, o que não pode ser feito
mediante ADI e ADC. Ex.: ADPF 10156. A amplitude do objeto da ADPF pode ser extraída do
inciso, I, art. 1º, da Lei 9.882/99:

Art. 1o A argüição prevista no § 1o do art. 102 da Constituição Federal será proposta


perante o Supremo Tribunal Federal, e terá por objeto evitar ou reparar lesão a
preceito fundamental, resultante de ato do Poder Público.
Parágrafo único. Caberá também argüição de descumprimento de preceito
fundamental:
I - quando for relevante o fundamento da controvérsia constitucional sobre lei ou ato
normativo federal, estadual ou municipal, incluídos os anteriores à Constituição;
(Vide ADIN 2.231-8, de 2000)

Apesar de “ato do Poder Público” ser uma expressão muito ampla, existem situações
que não são admitidas como objeto da APDF pelo STF, senão vejamos:

56
INFORMATIVO 552: ADPF e Importação de Pneus Usados – 7. O Tribunal, por maioria, julgou parcialmente
procedente pedido formulado em argüição de descumprimento de preceito fundamental, ajuizada pelo Presidente
da República, e declarou inconstitucionais, com efeitos ex tunc, as interpretações, incluídas as judicialmente
acolhidas, que permitiram ou permitem a importação de pneus usados de qualquer espécie, aí insertos os
remoldados. Ficaram ressalvados os provimentos judiciais transitados em julgado, com teor já executado e
objeto completamente exaurido — v. Informativo 538. Entendeu-se, em síntese, que, apesar da complexidade dos
interesses e dos direitos envolvidos, a ponderação dos princípios constitucionais revelaria que as decisões que
autorizaram a importação de pneus usados ou remoldados teriam afrontado os preceitos constitucionais da saúde
e do meio ambiente ecologicamente equilibrado e, especificamente, os princípios que se expressam nos artigos
170, I e VI, e seu parágrafo único, 196 e 225, todos da CF (“Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado,
garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e
ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação. ... Art. 225. Todos
têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia
qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as
presentes e futuras gerações.”). Vencido o Min. Marco Aurélio que julgava o pleito improcedente.
ADPF 101/DF, rel. Min. Cármen Lúcia, 24.6.2009.
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DIREITO CONSTITUCIONAL
Marcelo Novelino e Pedro Taques
LFG – Intensivo 2012

 Proposta de Emenda à Constituição: uma PEC é um ato que ainda não se


completou, ainda está em formação, podendo nem ser aprovada. Difere-se da
emenda, que já corresponde a um ato perfeito e acabado.

 Veto: ADPF 73.

 Súmulas comuns e vinculantes: ADPF 80 – AgR57; ADPF 47 – AgR. Quanto às


súmulas comuns, cabe ao próprio tribunal proceder à revisão de suas súmulas,
de acordo com a evolução da sua jurisprudência. Quanto às súmulas vinculantes,
já vimos que a ADPF possui caráter subsidiário, não cabendo nessa situação, uma
vez que existe instrumento próprio para combater uma súmula vinculante junto
ao STF, qual seja, o Pedido de Revisão/Cancelamento de Súmula Vinculante.

 Atos tipicamente regulamentares: ADPF 169; APDF 192.

6.5.2. ASPECTO TEMPORAL

a) ADI e ADC

Um ato somente pode ser impugnado via ADI e ADC se for elaborado posteriormente
ao parâmetro. Vale dizer, nenhum ato anterior à Constituição de 1988 pode ser impugnado
nessas ações. Exemplo: uma lei de 1990 é questionada em face de norma da Constituição de
1988, mas que havia sido modificada por Emenda, em 1991; perceba, assim, que o ato é

57
EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL NA ARGÜIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL.
ENUNCIADOS DE SUMULA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. REVISÃO. INADEQUAÇÃO DA VIA. NEGATIVA DE
SEGUIMENTO DA ARGUIÇÃO. 1. O enunciado da Súmula desta Corte, indicado como ato lesivo aos preceitos
fundamentais, não consubstancia ato do Poder Público, porém tão somente a expressão de entendimentos
reiterados seus. À argüição foi negado seguimento. 2. Os enunciados são passíveis de revisão paulatina. A
argüição de descumprimento de preceito fundamental não é adequada a essa finalidade. 3. Agravo regimental
não provido. (ADPF 80 AgR / DF - DISTRITO FEDERAL - AG.REG.NA ARGÜIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO
FUNDAMENTAL - Relator(a): Min. EROS GRAU - Julgamento: 12/06/2006 - Órgão Julgador: Tribunal Pleno)
43
DIREITO CONSTITUCIONAL
Marcelo Novelino e Pedro Taques
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posterior à Constituição, mas anterior ao parâmetro invocado no caso, que foi a norma fruto da
Emenda de 1991; logo, essa lei de 1990 não pode ser objeto de ADI ou ADC.
Recentemente, o STF julgou um caso desse tipo, que dizia respeito à obrigatoriedade de
a Defensoria Pública do Estado de São Paulo firmar convênio com a OAB/BA. O parâmetro
invocado foi uma norma inserida na Constituição pela EC 45/04, mas o ato normativo
impugnado nasceu antes dela. Por essa razão, o STF considerou incabível a ADI proposta,
justamente porque o ato foi elaborado anteriormente ao parâmetro. O STF, assim, transformou

44
DIREITO CONSTITUCIONAL
Marcelo Novelino e Pedro Taques
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a ADI em ADPF, dando prosseguimento ao feito (ADI 4.163/SP 58). Vale dizer que ADI, ADC e
ADPF são ações fungíveis entre si.

b) ADPF

A ADPF pode ter como objeto atos posteriores ou anteriores à Constituição de 1988.

58
Notícias do STF (29.02.2012): STF entende não ser obrigatório convênio entre OAB-SP e Defensoria Pública
paulista. A Defensoria Pública do Estado de São Paulo (DPE-SP) não está obrigada a celebrar convênio com a
seccional paulista da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-SP) visando à prestação de assistência judiciária. Essa
foi a decisão majoritária do Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) na análise de mérito da Ação Direta de
Inconstitucionalidade (ADI) 4163, ajuizada pela Procuradoria-Geral da República. A discussão levantada pela
ADI girou em torno de saber se a previsão de convênio exclusivo – previsto no artigo 109 da Constituição de São
Paulo e no artigo 234 da Lei Complementar 988/2006 – e imposto à Defensoria Pública do Estado de São Paulo
agrediria ou não a autonomia funcional, administrativa e financeira prevista para as Defensorias Estaduais pelo
artigo 134, parágrafo 2º, da Constituição Federal. Segundo a PGR, a Constituição do Estado de São Paulo autoriza,
no artigo 109, a designação de advogados da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) para suprir a falta de
defensores públicos, mediante a celebração de convênio entre o Estado e aquela instituição. Outra norma
contestada é o artigo 234 da Lei Complementar 988/2006, que diz que a OAB deve credenciar os advogados
participantes do convênio e manter rodízio desses advogados. Estabelece também que a remuneração de tais
profissionais será definida pela Defensoria Pública e pela OAB. Conversão em ADPF. O presidente da Corte,
ministro Cezar Peluso, relatou a ADI e teve o voto seguido pela maioria dos ministros. Inicialmente, ele
converteu a ADI em Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) por entender que este é o
instrumento correto para o debate, tendo em vista que os dispositivos questionados são anteriores à Emenda
Constitucional (EC) 45. Essa emenda atribuiu autonomia para as Defensorias Públicas estaduais a fim de, sem
qualquer ingerência, exercerem plenamente a assistência jurídica gratuita àqueles que não dispõem de meios
econômicos para a contratação de advogados. (...) – o acórdão dessa ADI ainda não foi publicado até a presente
data (09.03.2012)
INFORMATIVO 656: Defensoria pública paulista e convênio obrigatório com a OAB-SP: inadmissibilidade – 2. De
início, rechaçou-se preliminar, suscitada pela OAB-SP e pelo Governador do Estado-membro, de inadequação dos
fundamentos do pedido. Asseverou-se que o objeto da ação — saber se a previsão de autêntico “convênio
compulsório” transgrediria o art. 134, § 2º, da CF, que estabeleceria a autonomia funcional, administrativa e
financeira das defensorias públicas estaduais — estaria claro e bem embasado, a afastar a alegada inépcia da
inicial e a eventual ofensa indireta. Em passo seguinte, examinou-se a questão da admissibilidade, em sede de
controle concentrado, de cognição de norma cuja pretensa afronta a texto da Constituição dar-se-ia em face de
emenda constitucional ulterior. No tópico, assinalou-se que se estaria diante de confronto entre a parte final do
45
DIREITO CONSTITUCIONAL
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Atenção! A ADPF alega o “descumprimento” de um preceito fundamental, sendo que tal


expressão é mais ampla do que “inconstitucionalidade” e “constitucionalidade” (alegadas na
ADI e ADC, respectivamente), abrangendo, pois, qualquer incompatibilidade com a Constituição
(por isso, inclusive, normas anteriores à Constituição podem ser objeto de ADPF).

6.5.2. ASPECTO ESPACIAL

a) ADC: lei ou ato normativo federal59.

b) ADI: lei ou ato normativo federal ou estadual.

c) ADPF: qualquer ato do Poder Público federal, estadual ou municipal.

Perceba que a Constituição não fala sobre lei ou ato normativo do Distrito Federal. Uma
lei do referido ente federativo pode ser objeto dessas ações?
o ADC: não pode, pois só permite lei ou ato normativo federal;
o ADPF: pode, pois a lei do DF pode abranger tanto competências estaduais
quanto municipais, e a ADPF comporta atos do Poder Público dessas duas
esferas.
o ADI: pode, desde que a lei do DF trate de competência estadual. É o que se
depreende da Súmula 642 do STF: “Não cabe ação direta de

art. 109 da Constituição estadual, datada de 1989, e o disposto no art. 134, § 2º, da CF, erigido a princípio
constitucional com a EC 45/2004. Consignou-se que, para situações como esta, a via adequada seria a ADPF.
Assim, em nome da instrumentalidade, da economia e da celeridade processuais, além da certeza jurídica,
conheceu-se da presente demanda como ADPF. Salientou-se não haver óbice para a admissão da fungibilidade
entre ambas as ações e destacou-se que a ação direta atenderia aos requisitos exigidos para a propositura
daquela. Vencido, na conversão, o Min. Marco Aurélio ao fundamento de sua desnecessidade, uma vez que a
solução diria respeito ao condomínio que o aludido art. 109 instituiria na prestação de serviços aos necessitados,
tendo em conta o que previsto inicialmente na Constituição, em sua redação primitiva. ADI 4163/SP, rel. Min.
Cezar Peluso, 29.2.2012.
59
Existe uma Proposta de Emenda Constitucional no sentido de ampliar o objeto da ADC para também abranger lei
ou ato normativo estadual como objeto, igualmente à ADI.
46
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inconstitucionalidade de lei do Distrito Federal derivada da sua competência


legislativa municipal”.

7. LIMINAR E DECISÃO DE MÉRITO

7.1. QUÓRUM

Qual o quórum mínimo de presença dos Ministros para que haja a votação de ADI, ADC e
ADPF? O quórum mínimo de presentes é de 8 Ministros (2/3), nos termos do art. 22, da Lei
9.868/99, e do art. 5º, da Lei 9.882/99.
E para a declaração da constitucionalidade/inconstitucionalidade? Como regra geral,
exige-se a votação da maioria absoluta (6 Ministros), nos termos dos arts. 10 e 21, da Lei
9.868/99. No caso da ADPF, não há dispositivo prevendo esse quórum; por analogia, aplica-se a
mesma regra da ADI e ADC, ou seja, maioria absoluta.
Cumpre ressaltar que, no caso de liminar, excepcionalmente, o relator pode concedê-la
quando houver urgência ou perigo de grave lesão, cabendo tal função ao Presidente do STF,
se ocorrer no período de recesso.
Assim, a regra é que a liminar seja concedida mediante voto da maioria absoluta dos
membros; excepcionalmente, ela pode ser deferida pelo relator (em caso de urgência ou perigo
de lesão) ou pelo Presidente do STF (durante o recesso).

7.2. EFEITOS DA DECLARAÇÃO

O STF entende que não há partes formais na ADI, ADC e ADC, razão pela qual não tem
lógica o efeito inter partes nesses casos. Portanto, toda decisão, seja liminar ou de mérito,
proferida em sede de ADI, ADC ou ADPF terá efeitos erga omnes e vinculantes. Esses são os
efeitos aplicáveis às três demandas.
No caso de LIMINAR, além dos efeitos supracitados, também existem os seguintes:
 ADC: suspende o julgamento dos processos sobre a matéria por 180 dias (art.
21, Lei 9.868/99);

47
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 ADI: apesar de não haver previsão legal expressa, o STF tem aplicado, por
analogia, o art. 21, da Lei 9.868/99, ou seja, suspende-se o julgamento dos
processos sobre a matéria pelo prazo de 180 dias;
 ADPF: a liminar suspende a tramitação de processos, efeitos de decisões
judiciais ou medidas administrativas sobre a matéria, salvo se decorrentes de
coisa julgada (art. 5º, §3º, Lei 9.882/99).

7.2.1. DIFERENÇAS ENTRE EFICÁCIA ERGA OMNES E EFEITO VINCULANTE

Sobre o tema, são apontadas duas diferenças:

a) Quanto ao aspecto subjetivo:

 Erga omnes: atinge a todos, tanto particulares quanto Poderes Públicos.


Decorre da própria natureza dessas ações, não dependendo de previsão
legal. Por isso, inclusive, não se justifica a edição de resolução pelo Senado.

 Efeito vinculante: atinge diretamente apenas alguns Poderes Públicos.


Consequentemente, também está atingindo os particulares, mas apenas de
forma indireta. O efeito vinculante refere-se especificamente aos Poderes
Públicos, atingindo a Administração Pública Direta e Indireta (federal,
estadual e municipal) e o Poder Judiciário (todos os juízes e tribunais,
exceto o próprio STF). Ressalte-se que o legislador NÃO se vincula à decisão
do STF60 (a rigor, o efeito vinculante não atinge direta ou indiretamente a
função legislativa. Assim, por exemplo, pode o Congresso Nacional editar
uma lei contrária à decisão do STF, bem como o Presidente da República
pode editar uma Medida Provisória também em sentido contrário; caberá ao
STF declarar a inconstitucionalidade ou não desse ato. Se o Chefe do Poder
Executivo ficasse vinculado em relação aos atos do processo legislativo,

60
Esse também é o entendimento majoritário quanto à ADPF.
48
DIREITO CONSTITUCIONAL
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LFG – Intensivo 2012

indiretamente, a função legislativa também seria obstaculizada 61). Essa é a


previsão do art. 102, §2º, da CF/88, bem como do art. 28, p. único, da Lei
9.868/99 e do art. 10, §3º, da Lei 9.882/99:

CF, art. 102, § 2º As decisões definitivas de mérito, proferidas pelo Supremo Tribunal
Federal, nas ações diretas de inconstitucionalidade e nas ações declaratórias de
constitucionalidade produzirão eficácia contra todos e efeito vinculante,
relativamente aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública
direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal. (Redação dada pela
Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

Lei 9.868/99, art. 28, Parágrafo único. A declaração de constitucionalidade ou de


inconstitucionalidade, inclusive a interpretação conforme a Constituição e a declaração
parcial de inconstitucionalidade sem redução de texto, têm eficácia contra todos e
efeito vinculante em relação aos órgãos do Poder Judiciário e à Administração
Pública federal, estadual e municipal.

Lei 9.882/99, art. 10, § 3o - A decisão terá eficácia contra todos e efeito vinculante
relativamente aos demais órgãos do Poder Público.

b) Quanto ao aspecto objetivo62:

A eficácia erga omnes e o efeito vinculante atinge o dispositivo da decisão.

Obs. Até 1993 (data em que foi introduzido o efeito vinculante na Constituição de 1988), a
decisão do STF que julgava uma ADI improcedente não vinculava os demais órgãos do Poder
Judiciário e nem o Chefe do Executivo. Por essa razão, foi incluído o efeito vinculante, para que,
na prática, a decisão do STF fosse obedecida.

Existe outra peculiaridade quanto ao aspecto objetivo dessa distinção. Perceba que tais
efeitos referem-se, especificamente, ao dispositivo da decisão do STF. Ocorre que, parte da

61
Segundo o Supremo Tribunal Federal, a não vinculação do legislador tem por objetivo evitar o inconcebível
fenômeno da fossilização da Constituição.
62
Refere-se às partes da decisão que produzem os efeitos vinculantes e eficácia erga omnes.
49
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LFG – Intensivo 2012

doutrina filia-se a uma teoria extensiva, sustentando que os motivos determinantes da


decisão (“ratio decidendi”) também seriam vinculantes. É a tese conhecida como
“Transcendência dos Motivos” ou “Efeito Transcendente dos Motivos Determinantes”. Assim, o
efeito vinculante não atingiria somente o dispositivo, mas também a fundamentação, ou seja,
os motivos adotados pelo julgador para decidir de tal forma. Adotando-se essa teoria extensiva,
vale dizer, ao invés de propor uma ADI sobre outra lei, seria cabível uma Reclamação.
O STF vem adotando entendimento de que NÃO se aplica a Teoria da Transcendência
dos Motivos (Rcl 3.014/SP; Rcl 2.990-AgR/RN 63; Rcl 2.475-AgR). Nesses julgados, quem ajuizou a
Reclamação postulava, justamente, a vinculação da fundamentação utilizada em outros
processos para essas causas. O STF negou tal possibilidade.
De fato, a aplicação dessa teoria no Brasil é muito complicada, pois os Ministros até
chegam ao mesmo resultado, porém utilizam fundamentações diversas (e é o que acontece na
grande maioria das vezes), dificultando o estabelecimento de um “motivo determinante”
naquela situação.

7.2.2. EFICÁCIA TEMPORAL

a) Decisão de mérito: regra geral, efeitos ex tunc (retroativo). Isso porque o Brasil
adota a chamada teoria da nulidade (a lei inconstitucional é um ato nulo, logo, ela
possui o vício desde a sua origem) – art. 27, Lei 9.868/99; art. 11, Lei 9.882/99.
Admite-se, todavia, a chamada modulação temporal dos efeitos da decisão:
enquanto a declaração da inconstitucionalidade com efeitos ex tunc depende da
votação da maioria absoluta (06 Ministros), a modulação temporal dos efeitos da
decisão depende da votação de 2/3 dos membros (08 Ministros), caso em que
poderá o STF dar efeitos ex nunc (não retroage) ou pro futuro (prospectivos). Não

63
EMENTA: I. Reclamação. Ausência de pertinência temática entre o caso e o objeto da decisão paradigma.
Seguimento negado. II. Agravo regimental. Desprovimento. Em recente julgamento, o Plenário do Supremo
Tribunal Federal rejeitou a tese da eficácia vinculante dos motivos determinantes das decisões de ações de
controle abstrato de constitucionalidade (RCL 2475-AgR, j. 2.8.07). (Rcl 2990 AgR / RN - RIO GRANDE DO NORTE -
AG.REG.NA RECLAMAÇÃO - Relator(a): Min. SEPÚLVEDA PERTENCE - Julgamento: 16/08/2007 - Órgão Julgador:
Tribunal Pleno)
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devemos esquecer, ainda, os requisitos para proceder a essa modulação: 1) razões


de segurança jurídica e 2) excepcional interesse social.

b) Decisão liminar: regra geral, efeitos ex nunc (não retroage), por se tratar de uma
decisão precária – art. 11, §1º, Lei 9.868/99. Admite-se, todavia, que o STF conceda
eficácia retroativa (ex tunc), desde que estabeleça isso expressamente na decisão.

7.2.3. EXTENSÃO DA DECLARAÇÃO

a) Declaração de nulidade/inconstitucionalidade:

 Com redução total de texto: declara-se a inconstitucionalidade de toda a lei


ou de todo o dispositivo;
 Com redução parcial de texto: a declaração atinge apenas uma parte da lei
ou de um dispositivo;
 Sem redução de texto: para a utilização dessa técnica, é necessário que a
norma impugnada seja polissêmica ou plurissignificativa, ou seja, é preciso
que ela tenha mais de um significado possível. A ação, assim, é julgada
parcialmente procedente, para excluir a interpretação incompatível com o
texto constitucional. O STF vem considerando que, no controle abstrato, a

51
DIREITO CONSTITUCIONAL
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LFG – Intensivo 2012

declaração de nulidade sem redução de texto é equivalente à interpretação


conforme à Constituição (ADI 3.685/DF64; ADI 4.163/SP65).
 Inconstitucionalidade consequente (por arrastamento ou por atração) : no
controle abstrato, o tribunal fica adstrito aos dispositivos impugnados.
Assim, por exemplo, se foi impugnado o art. 1º de uma lei, deve ser
declarada a inconstitucionalidade apenas desse art. 1º, e não de outro. No
entanto, quando há uma relação de interdependência entre dois
dispositivos ou entre dois diplomas normativos (lei e decreto, por
64
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. ART. 2º DA EC 52, DE 08.03.06. APLICAÇÃO IMEDIATA DA NOVA
REGRA SOBRE COLIGAÇÕES PARTIDÁRIAS ELEITORAIS, INTRODUZIDA NO TEXTO DO ART. 17, § 1º, DA CF.
ALEGAÇÃO DE VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DA ANTERIORIDADE DA LEI ELEITORAL (CF, ART. 16) E ÀS GARANTIAS
INDIVIDUAIS DA SEGURANÇA JURÍDICA E DO DEVIDO PROCESSO LEGAL (CF, ART. 5º, CAPUT, E LIV). LIMITES
MATERIAIS À ATIVIDADE DO LEGISLADOR CONSTITUINTE REFORMADOR. ARTS. 60, § 4º, IV, E 5º, § 2º, DA CF. 1.
Preliminar quanto à deficiência na fundamentação do pedido formulado afastada, tendo em vista a sucinta porém
suficiente demonstração da tese de violação constitucional na inicial deduzida em juízo. 2. A inovação trazida pela
EC 52/06 conferiu status constitucional à matéria até então integralmente regulamentada por legislação ordinária
federal, provocando, assim, a perda da validade de qualquer restrição à plena autonomia das coligações
partidárias no plano federal, estadual, distrital e municipal. 3. Todavia, a utilização da nova regra às eleições gerais
que se realizarão a menos de sete meses colide com o princípio da anterioridade eleitoral, disposto no art. 16 da
CF, que busca evitar a utilização abusiva ou casuística do processo legislativo como instrumento de manipulação e
de deformação do processo eleitoral (ADI 354, rel. Min. Octavio Gallotti, DJ 12.02.93). 4. Enquanto o art. 150, III, b,
da CF encerra garantia individual do contribuinte (ADI 939, rel. Min. Sydney Sanches, DJ 18.03.94), o art. 16
representa garantia individual do cidadão-eleitor, detentor originário do poder exercido pelos representantes
eleitos e "a quem assiste o direito de receber, do Estado, o necessário grau de segurança e de certeza jurídicas
contra alterações abruptas das regras inerentes à disputa eleitoral" (ADI 3.345, rel. Min. Celso de Mello). 5. Além
de o referido princípio conter, em si mesmo, elementos que o caracterizam como uma garantia fundamental
oponível até mesmo à atividade do legislador constituinte derivado, nos termos dos arts. 5º, § 2º, e 60, § 4º, IV, a
burla ao que contido no art. 16 ainda afronta os direitos individuais da segurança jurídica (CF, art. 5º, caput) e do
devido processo legal (CF, art. 5º, LIV). 6. A modificação no texto do art. 16 pela EC 4/93 em nada alterou seu
conteúdo principiológico fundamental. Tratou-se de mero aperfeiçoamento técnico levado a efeito para facilitar a
regulamentação do processo eleitoral. 7. Pedido que se julga procedente para dar interpretação conforme no
sentido de que a inovação trazida no art. 1º da EC 52/06 somente seja aplicada após decorrido um ano da data
de sua vigência. (ADI 3685 / DF - DISTRITO FEDERAL - AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE - Relator(a):
Min. ELLEN GRACIE - Julgamento: 22/03/2006 - Órgão Julgador: Tribunal Pleno)
65
INFORMATIVO 656: Defensoria pública paulista e convênio obrigatório com a OAB-SP: inadmissibilidade – 1. A
previsão de obrigatoriedade de celebração de convênio exclusivo e obrigatório entre a defensoria pública do
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DIREITO CONSTITUCIONAL
Marcelo Novelino e Pedro Taques
LFG – Intensivo 2012

exemplo), pode haver uma declaração de inconstitucionalidade por


arrastamento (“julgo procedente a ADI, para declarar inconstitucional o art.
1º e, por arrastamento, o art. 2º, porque daquele depende”; foi a postura
adotada pelo STF na ADI 4.451-MC-REF/DF 66 (tratava da restrição à liberdade
de imprensa no período eleitoral, de modo a proibir a veiculação de charges,
montagens, piadas etc., referentes aos políticos).

Estado de São Paulo e a seccional local da Ordem dos Advogados do Brasil - OAB-SP ofende a autonomia funcional,
administrativa e financeira daquela. Essa a conclusão do Plenário ao, por maioria, conhecer, em parte, de ação
direta de inconstitucionalidade como arguição de descumprimento de preceito fundamental - ADPF e julgar o
pleito parcialmente procedente, a fim de declarar a ilegitimidade ou não recepção do art. 234, e seus parágrafos,
da Lei Complementar paulista 988/2006, assim como assentar a constitucionalidade do art. 109 da Constituição
desse mesmo ente federativo, desde que interpretado conforme a Constituição Federal, no sentido de apenas
autorizar, sem obrigatoriedade nem exclusividade, a defensoria a celebrar convênio com a OAB-SP . Tratava-se,
na espécie, de ação direta ajuizada pelo Procurador-Geral da República contra o art. 109 da referida Constituição
estadual e o art. 234 e parágrafos da LC paulista 988/2006, que tratam da instituição de convênio entre a
defensoria pública paulista e a OAB-SP, para a prestação de assistência judiciária a necessitados, a cargo da
primeira. ADI 4163/SP, rel. Min. Cezar Peluso, 29.2.2012.
66
EMENTA: MEDIDA CAUTELAR EM AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. INCISOS II E III DO ART. 45 DA LEI
9.504/1997. (...) 8. Suspensão de eficácia do inciso II do art. 45 da Lei 9.504/1997 e, por arrastamento, dos §§ 4º
e 5º do mesmo artigo, incluídos pela Lei 12.034/2009. Os dispositivos legais não se voltam, propriamente, para
aquilo que o TSE vê como imperativo de imparcialidade das emissoras de rádio e televisão. Visa a coibir um estilo
peculiar de fazer imprensa: aquele que se utiliza da trucagem, da montagem ou de outros recursos de áudio e
vídeo como técnicas de expressão da crítica jornalística, em especial os programas humorísticos. 9. Suspensão de
eficácia da expressão “ou difundir opinião favorável ou contrária a candidato, partido, coligação, a seus órgãos ou
representantes”, contida no inciso III do art. 45 da Lei 9.504/1997. Apenas se estará diante de uma conduta
vedada quando a crítica ou matéria jornalísticas venham a descambar para a propaganda política, passando
nitidamente a favorecer uma das partes na disputa eleitoral. Hipótese a ser avaliada em cada caso concreto. 10.
Medida cautelar concedida para suspender a eficácia do inciso II e da parte final do inciso III, ambos do art. 45
da Lei 9.504/1997, bem como, por arrastamento, dos §§ 4º e 5º do mesmo artigo. (ADI 4451 MC-REF / DF -
DISTRITO FEDERAL - REFERENDO NA MEDIDA CAUTELAR NA AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE -
elator(a): Min. AYRES BRITTO - Julgamento: 02/09/2010 - Órgão Julgador: Tribunal Pleno)
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