Quimbanda Exu gsgs6
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Resumo: Este artigo trata do relato construído por meio de observação participante de duas cele-
brações ocorridas em Porto Alegre (RS, Brasil) no âmbito da Quimbanda afro-gaúcha,
uma religião mediúnica baseada em incorporação de Exus e Pombagiras. A primeira,
uma festa de “aniversário” para o Exu Rei das Sete Encruzilhadas, uma celebração
para exaltar o longo tempo em que a entidade vem “trabalhando”. Já a segunda é mar-
cada pela distribuição de facas consagradas que permitem aos seus detentores realizar
o sacrifício de bois. Ambas as celebrações ocorreram no mesmo dia, imbricando-se,
configurando um evento complexo e disputado pelos adeptos. O presente relato busca
auxiliar no entendimento de como pessoas e espíritos se relacionam dentro da Quim-
banda afro-gaúcha e contribuir para a melhor compreensão dos rituais e fazeres desta
religião. Como conclusão, fica evidente que o sagrado e o profano se hibridizam, mis-
turando o que é dos espíritos e das pessoas, espaços e experiências.
O
dia 13 de agosto consta, conforme o calendário oficial do município de Porto Alegre
(Rio Grande do Sul, Brasil), como o Dia do Exu Rei das Sete Encruzilhadas,
conforme instituído pela Lei 12.191 de 30 de dezembro de 2016. A data não foi
A casa de religião da Mãe Ieda de Ogum está localizada no coração da boemia da cidade
de Porto Alegre, local onde estão situados muitos bares que reúnem jovens até a
madrugada para beber e se divertirem. No entanto, quem passa por ali não per-
cebe que está passando por um portal que leva a outro mundo, a entrada do Ilê
Nação Oyó. O pequeno portão de ferro revela apenas um corredor muito estreito
e comprido. Do lado de fora, duas placas gastas (Figura 1) anunciam do que se
Uma das paredes (à direita) está repleta de pinturas e exibe a saudação Ogunhê, tí-
pica do Orixá Ogum dentro da Umbanda (SANTANA JUNIOR, 2001). No
momento da foto, já figurava um bode que seria oferecido nas obrigações da
noite. Assim que as celebrações começaram, como veremos mais adiante, este
mesmo corredor estava repleto de animais.
A parte religiosa domina a dianteira do complexo. Assim que se entra, encontra-se um
pequeno pátio coberto (Figura 3) onde há imagens de Ogum e fotos do Seu
Sete, bem como compartimentos fechados, nos quais são guardadas imagens
de Exus e de Pombagiras. Este pátio se liga por uma porta a um salão, no qual
também há várias imagens, e um pequeno quarto, também povoado por ima-
gens, e onde ficam guardadas bebidas para venda e consumo nos dias de festa.
Neste salão (Figuras 4 e 5), há duas figuras enormes do Seu Sete e da Pom-
bagira Rainha das Sete Encruzilhadas (Dona Sete, doravante). Estas figuras,
acompanhadas de outras imagens menores, ficam em um pequeno anexo ao
Neste dia 13, a casa estava agitada. A todo o momento, pessoas entravam e saiam
trazendo animais, bolo e outras encomendas. Mesas, cadeiras e outros uten-
sílios eram retirados e colocados na rua para abrir espaço para a festa que
começaria logo mais à noite. Conversar com mãe Ieda era uma tarefa um tanto
complicada, pois ela era constantemente demandada para resolver todo o tipo
de questão e também por pessoas que apenas queriam sentar-se um pouco ao
lado dela e trocar algumas palavras.
O sacrifício de animais é uma ritualística que tem centralidade nas religiões afro-bra-
sileiras e tem o sentido de trocas simbólicas entre as divindades, seres espiri-
tuais e os membros da comunidade religiosa, realizando a comunicação entre
este mundo e o mundo sobrenatural (ORO; CARVALHO; SCURO, 2017).
Essas trocas dizem respeito às oferendas, às entidades em agradecimento e ao
auxílio prestado por elas aos adeptos. A matança, como também é chamado
o ritual, fortalece os vínculos de solidariedade entre os membros da comuni-
dade, uma vez que todos podem usufruir do banquete compartilhado com os
deuses e deusas, e também, dependendo do tamanho do animal, podem levar
um pedaço de carne para casa, para ser consumido na alimentação diária.
Consumir as partes de um animal devotado ao sagrado é compartilhar o Axé
dos orixás, energia vital incomensurável, que renova e fortalece a força dos
seres humanos e de tudo que existe (TADVALD, 2007).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Abstract: This article deals with the report constructed by participant observartion about two
celebrations that took place in Porto Alegre (RS, Brazil) in the context of the African-
Gaúcha Quimbanda, a mediunic religion based on the possession by Exus and Pomba-
giras. The first, a “birthday” party for the Exu King of the Seven Crossroads, a celebra-
tion to exalt the long time since this Exu has been “working”. The other, the distribution
of consecrated knives that allow their owners to sacrifice oxen. Both celebrations took
place on the same day, overlapping and forming a complex event disputed by support-
ers. This report aims at helping to unravel how people and spirits relate within African-
Gaúcha Quimbanda and also to contribute to a better understanding of rituals and
practices of this religion. As a conclusion, it becomes evident that sacred and profane
hybridize themselves, mixing what is of the spirits whith what is of the people, and also
spaces and experiences.
REFERÊNCIAS