Vulnerabilidade em Informação e Mães Solo

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VULNERABILIDADE EM INFORMAÇÃO E MÃES SOLO:

POSSIBILIDADES À COMPETÊNCIA EM INFORMAÇÃO

Simoni de Sousa Kuhnen1


Elizete Vieira Vitorino2

Resumo: Esta pesquisa, de cunho qualitativo, bibliográfico e documental, visa


apresentar e conceituar a vulnerabilidade em informação no âmbito da competência em
informação, com foco na categoria “mãe solo”, conceituando as mães que compõem
esse grupo, e buscando associar suas vivências e falas com a competência em
informação e as dimensões técnica, estética, ética e política. O objetivo geral da
pesquisa, assim, consiste em investigar as conexões da vulnerabilidade em informação
e da competência em informação das mulheres que são chefes de família, provedoras
do lar, profissionais que trabalham fora que criam e educam seus filhos sozinhas. Os
objetivos específicos consistem em: a) caracterizar, segundo a literatura, a competência
em informação e as dimensões técnica, estética, ética e política; b) conceitualizar,
segundo a literatura e documentos institucionais, a vulnerabilidade social e a
vulnerabilidade em informação; c) apresentar, segundo a literatura e documentos
institucionais, o significado e as características da categoria “mães solo”; e, d) justificar
a importância do desenvolvimento da competência em informação, segundo as
dimensões técnica, estética, ética e política dirigida a este grupo de mulheres.
Compreendemos que estudar esse assunto torna­se relevante não somente pelo
caráter da vulnerabilidade social, mas sobre o potencial que o desenvolvimento da
competência em informação para com as mães solo. Com esta pesquisa, buscou­se
alguns elementos que permitem identificar as dimensões da competência em
informação nas falas destas mulheres, usando, para isto, o conteúdo disponibilizado no
“Projeto Solo”, relativo às falas da vivência de algumas mães deste grupo, considerado,
quanto aos conceitos de vulnerabilidade social, como um grupo vulnerável. Nas falas,
foi possível reconhecer a vulnerabilidade em informação, mas também a resiliência
destas, mostrando que as pessoas se superam o tempo todo para acessar e buscar
informações, para que assim, possam se tornar sujeitas­protagonistas de sua existência
no contexto social em que se encontram.

Palavras­chave: Vulnerabilidade social. Vulnerabilidade em informação. Mães solo.


Competência em informação.

1 Aluna do Curso de Biblioteconomia, Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Artigo


apresentado como trabalho de conclusão de curso exigido como requisito parcial para aprovação
na disciplina. E­mail: [email protected].
2 Orientadora e Professora Dra. do Departamento de Ciência da Informação, Universidade

Federal de Santa Catarina (UFSC). E­mail: [email protected].


1 INTRODUÇÃO

Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), a temática


da vulnerabilidade social tem sido utilizada mundialmente por pesquisadores,
gestores e elaboradores de políticas sociais, para a ampliação do entendimento
da pobreza, numa perspectiva complementar àquela da insuficiência de renda.
Tanto a noção de exclusão quanto a de vulnerabilidade social são noções de
cunho político que possibilitam novas interpretações sobre os processos de
desenvolvimento social. (BRASIL, 2015, p. 12).
Nesta perspectiva, nosso objeto de estudo se conecta à vulnerabilidade
social e, em específico, está caracterizada como uma população vulnerável,
representada pelas mulheres que são mães solo.
Dito isto, aponta­se que o total das famílias brasileiras aumentou 39% em
15 anos, passando de 51,5 milhões em 2001 para 71,3 milhões em 2015.
(CAVENAGHI; ALVES, 2018, p. 97). Aumentou também o número de famílias
chefiadas somente pela mulher: “[...] de 2010 a 2015 o Brasil ganhou 1,1 milhão
de famílias compostas por mães sem cônjuge nos últimos dez anos, passando,
de 10,5 milhões em 2010 para 11,6 milhões em 2015” (BRASIL, 2018). Essas
mães são vulneráveis financeiramente, emocionalmente, e, por consequência,
são vulneráveis também em informação. A maior parte delas desconhecem
quais são seus direitos e os de seus filhos, e, portanto, não sabem como lutar
por eles, segundo dados da Associação dos Notórios e Registradores do Brasil
(ANOREG/BR, 2021). Um destes direitos básicos, por exemplo, consiste em que
toda criança deveria ter o nome do genitor na certidão de nascimento.
De acordo com a Associação Nacional dos Registradores de Pessoas
Naturais (ARPEN BRASIL, 2021), cerca de 5,5 milhões de crianças no país não
possuem o nome do pai registrado na certidão de nascimento. Quanto ao “[...]
documento em si, os primeiros reflexos costumam ocorrer quando a criança
atinge a idade escolar. Já a falta da presença paterna pode trazer sequelas
emocionais severas e permanentes.” (ARPEN BRASIL, 2021, s.p.), e ainda se
ressalta que aqueles “[...] que não tiveram esse contato podem desenvolver
complexos de inferioridade e baixa autoestima, por se sentirem rejeitados”.
(ARPEN BRASIL, 2021, s.p.). Além disso, a criança que nunca conheceu o pai
sente essa falta de convívio de uma maneira diferente daquela que chegou a ter
algum contato, onde “[...] o vínculo de memória pode deixar a pessoa presa
naquelas lembranças e é preciso trabalhar os aspectos psicológicos.” (ARPEN
BRASIL, 2021, s.p.).
Contudo, e de acordo com a Arpen Brasil (2021), desde 2012, o
procedimento para reconhecimento de paternidade se tornou mais simples e fácil
no País. Ao ser feito diretamente nos Cartórios de Registro Civil, sem a
necessidade de procedimento judicial, possibilitou uma diminuição de quase 110
mil registros antes feitos somente em nome da mãe. A Arpen Brasil (2021),
afirma que, no entanto, há quatro anos, o percentual de crianças com apenas o
nome da mãe na certidão de nascimento voltou a subir, crescendo para 5,5%
em 2018, 5,9% em 2019, 6% em 2020 e 6,3% em 2021.
A respeito disso, o presidente da Arpen, Gustavo Fiscarelli, afirma que

[...] não é possível precisar motivos para a alta no registro sem o nome
paterno e a queda nos reconhecimentos. Contudo, acredita­se que a
pandemia do novo coronavírus pode ter acentuado este cenário. Por
mais que saibamos que o registro de paternidade é gratuito no caso de
o pai ser biológico, podemos pensar em inúmeras justificativas para a
nova queda. O distanciamento devido à pandemia, supondo que os
casais não vivam juntos, ou mesmo o fim das relações durante a
gestação, que se acentuaram com a pandemia, podem ser algumas
das explicações. (ARPEN BRASIL, 2021, s.p.).

Ter o nome do progenitor na certidão de nascimento é um direito garantido


por lei. De acordo com o Art. 1º da lei nº 8.560, de 29 de dezembro de 1992, “O
reconhecimento dos filhos havidos fora do casamento é irrevogável e será feito”.
(BRASIL, 1992). Mais do que, simplesmente, ter o nome do genitor no
documento, trata­se de um direito da criança, que garante pensão alimentícia,
herança, inclusão em plano de saúde, previdência, entre outros benefícios
(ANOREG/BR 2021). Assim, a realidade das mães solo – isto é, aquelas cujos
filhos foram negligenciados e abandonados de todas as formas pelos pais – é de
intensa desigualdade, vulnerabilidade e sobrecarga.
Diante disso, consideramos que o desenvolvimento da competência em
informação pode desempenhar um diferencial importante na vida dessas mães,
fazendo com que elas desenvolvam habilidades necessárias para buscar e
acessar as informações de que necessitam, minimizando, assim, a
vulnerabilidade social e a vulnerabilidade em informação. Portanto, se
aprofundar na associação dessas temáticas torna­se relevante e oportuno, não
somente pelo caráter da vulnerabilidade social, mas sobre o potencial que o
desenvolvimento da competência em informação das mães solo pode
representar para suas vidas.
Assim sendo, o objetivo geral da pesquisa consiste em investigar as
conexões da vulnerabilidade em informação e da competência em
informação das mães solo, ou seja, as mulheres que são chefes de família,
provedoras do lar, além de profissionais que trabalham fora de casa e que criam
e educam seus filhos sozinhas. Os objetivos específicos consistem em:
a) Caracterizar, segundo a literatura, a competência em informação e as
dimensões técnica, estética, ética e política;
b) Conceitualizar, segundo a literatura e documentos institucionais, a
vulnerabilidade social e a vulnerabilidade em informação;
c) Apresentar, segundo a literatura e documentos institucionais, o significado
e as características da categoria “mães solo”;
d) Justificar a importância do desenvolvimento da competência em
informação, segundo as dimensões técnica, estética, ética e política
dirigida a este grupo de mulheres.

2 ASPECTOS METODOLÓGICOS

Neste trabalho, nos propomos à realização de uma breve pesquisa


bibliográfica e documental que nos possibilitou o registro e a reflexão acerca da
vulnerabilidade social, e sobre o desenvolvimento da competência em
informação nas dimensões técnica, estética e política das mães solo.
Trata­se de um trabalho de abordagem qualitativa, pois apresenta “vínculo
indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito que não pode
ser traduzido em números. A interpretação dos fenômenos e a atribuição de
significados são básicas no processo de pesquisa” (SILVA; MENEZES, 2005, p.
20)
É, também, uma pesquisa bibliográfica, pois segundo Menezes (2009, p.
17) “quando elaborada a partir de material já publicado, constituído
principalmente de livros, artigos de periódicos, e atualmente, com material
disponibilizado na internet”. Também está caracterizada por uma pesquisa
documental. Para Menezes (2009) é assim definida, quando é elaborada a partir
de materiais que ainda não receberam tratamento. Para atender aos objetivos
referentes à pesquisa bibliográfica documental, recorreu­se às produções
científicas e documentos institucionais. Após a escolha do tema, foram
realizadas buscas nas bases de dados BRAPCI, SciELO e BDTD, usando
palavras­chave relacionadas ao tema escolhido para a revisão bibliográfica e aos
conceitos dos assuntos a serem abordados neste trabalho.
Para atender aos objetivos da pesquisa e utilizar de amostra das falas de
mães solo, utilizou­se como base o Projeto Solo, que tem como foco as mães
solo vivendo a pandemia no Brasil (PROJETO SOLO, 2020) – ver figura 1.

Figura 1 – Projeto Solo

FONTE: Projeto solo (2020)

O “Projeto Solo, mães solo vivendo a pandemia no Brasil”, foi apoiado em


2020 pelo Emergency Fund for Journalists, da National Geographic Society. O
projeto foi idealizado por sete fotógrafas de diversas partes do país, que se
juntaram para contar histórias de mulheres mães de várias regiões do Brasil,
contando com mulheres de diferentes idades, classe social, escolaridade,
religião, mas que fazem parte do mesmo contexto de mães solo.
Por conseguinte, e a partir desse contexto, foram identificadas as falas de
algumas mães solo e, a partir destas, foram extraídos alguns recortes que se
conectavam às dimensões da competência em informação e, por fim, foram
sugeridos elementos para o desenvolvimento da competência em informação,
segundo as dimensões técnica, estética, ética e política.
3 COMPETÊNCIA EM INFORMAÇÃO E SUAS DIMENSÕES

A competência em informação surgiu na década de 1970, apresentada


pelo bibliotecário Paul Zurkowski, que recomendou em seu relatório intitulado
The information service environment relationships and priorities, que se iniciasse
um movimento nacional, nos EUA, em direção à information literacy, no intuito
de capacitar os profissionais para o uso dos recursos informacionais para
resolução de problemas no âmbito profissional (DUDZIAK, 2003, p. 23).
Desde então, a competência em informação tem sido amplamente
estudada em todo o mundo e, um dos mais recentes conceitos para a
competência em informação foi apresentada pela Association of College and
Research Libraries (ACRL), divisão de bibliotecas universitárias da American
Library Association (ALA), que a define como um

conjunto de habilidades integradas que abrangem a descoberta reflexiva da


informação, a compreensão de como a informação é produzida e valorizada e o uso
da informação na criação de novos conhecimentos e na participação ética em
comunidades de aprendizagem (ASSOCIATION OF COLLEGE AND RESEARCH
LIBRARIES, 2016, p. 8).

Vitorino e Piantola (2020), afirmam que a competência em informação é


inseparável da ação. Para as autoras, a competência consiste no “conjunto de
conhecimentos, qualidades, capacidades e aptidões que habilitam para a
discussão, a consulta, a decisão de tudo o que concerne o trabalho”, e isto
pressupõe “conhecimentos fundamentados, acompanhados das qualidades e da
capacidade que permitem executar as decisões.” (VITORINO; PIANTOLA, 2020,
p.132).
Para Dudziak (2003, p. 29) pessoas competentes em informação são
aquelas que
assumem a responsabilidade por seu próprio aprendizado; são
capazes de aprender a partir dos recursos informacionais disponíveis;
procuram a informação de que necessitam para a resolução de seus
problemas ou tomadas de decisão, mantendo redes interpessoais de
relacionamento; mantêm­se atualizados; assumem atitude proativa de
aprendizado. Aprendam ao longo da vida uma vez que: assumem o
aprendizado como um continuam em suas vidas; internalizam valores
que promovem o uso da informação como criação de significado para
suas vidas; incorporam os processos investigativos à sua vida diária;
estão sempre dispostos a vencer desafios. (DUDZIAK, 2003, p. 29).

Jesús Lau (2008, p. 1) complementa que “para ser uma pessoa


competente em informação, deve saber como se beneficiar do mundo de
conhecimentos e incorporar a experiência de outros em seu próprio acervo de
conhecimentos”. E enfatiza:

O desenvolvimento de habilidades em informação é o conhecimento e


habilidades necessárias a fim de identificar corretamente a informação
pertinente para realizar uma atividade específica ou resolver um
problema, realizar uma busca de informação eficiente quanto ao custo,
organizar ou reorganizar a informação, interpretá­la ou analisá­la uma
vez que a encontrou e foi recuperada (como por exemplo, quando foi
encontrada na internet), avaliar a exatidão e confiabilidade da
informação (incluindo o reconhecimento ético das fontes de onde foi
obtida a informação), comunicar e apresentar os resultados da análise
e interpretação a outros (se é necessário) e, finalmente, utilizá­la para
a execução de ações e obtenção de resultados. (LAU, 2008, p. 17).

Já segundo Vitorino e Piantola (2020), podemos identificar quatro


dimensões na competência em informação que se completam mutuamente:
dimensão técnica, dimensão estética, dimensão ética e dimensão política.
Conforme Vitorino e De Lucca (2020), as dimensões são baseadas em
habilidades genéricas, habilidades de informação, valores e crenças, que serão
afetadas de acordo com contextos específicos. O quadro 1 apresenta, nesse
sentido, as quatro dimensões da competência em informação e seus respectivos
conceitos.

Quadro 1 ­ Dimensões da competência em informação


Dimensões Conceitos

Dimensão Meio de ação no contexto da informação; consiste nas habilidades adquiridas


para encontrar, avaliar e usar a informação de que precisamos. Ligada à ideia
Técnica
de que o indivíduo competente em informação é aquele capaz de acessar com
sucesso e dominar as novas tecnologias.
Dimensão Criatividade sensível; capacidade de compreender, relacionar, ordenar,
configurar e ressignificar a informação; experiência interior, individual e única
Estética
do sujeito ao lidar com os conteúdos de informação e sua maneira de expressá­
la e agir sobre ela no âmbito coletivo

Dimensão Uso responsável da informação; visa à realização do bem comum; relaciona­


se a questões de apropriação e uso da informação, tais como propriedade
Ética
intelectual, direitos autorais e acesso à informação

Dimensão Exercício da cidadania; participação dos indivíduos nas decisões e nas


transformações referentes à vida social; capacidade de ver além da superfície
Política
do discurso. Considera que a informação é produzida a partir de (e em) um
contexto específico.

Fonte: Vitorino e Piantola (2020)

Além disso, tais dimensões, segundo Vitorino e De Lucca (2020),


conferem equilíbrio e tendem a favorecer o desenvolvimento da competência em
informação às pessoas, principalmente para as que se encontram em situação
de vulnerabilidade social – tal como as mães solo.

4 VULNERABILIDADE SOCIAL E EM INFORMAÇÃO

4.1 Vulnerabilidade social: conceitos e características

De acordo com Vitorino (2018), “todas as pessoas são vulneráveis em


algum momento”. Como, por exemplo, uma criança que muitas das vezes
necessita ficar ao cuidado de outros para que seus pais possam seguir com sua
vida profissional, estas crianças podem ficar mais vulneráveis às pessoas que
foram designadas para lhes cuidar. Poderíamos elencar aqui vários outros
exemplos sobre pessoas vulneráveis, mas vamos agora analisar os conceitos e
características da vulnerabilidade.
Ao pesquisar sobre vulnerabilidade, encontramos 20 sinônimos para a
palavra vulnerável, que, de acordo com Neves (2017), são estes: frágil,
indefeso, exposto, desprotegido, desamparado, suscetível, magoável,
atacável, descoberto, desabrigado, vulnerabilizado, destrutível, destruível,
debilitável, derrotável, predicável, acometível, desarmado, desvalido,
indefenso.
Se pararmos para analisar esses sinônimos, é bem provável que algum
deles nos leve a refletir que nós conhecemos alguém em estado de
vulnerabilidade ou nós mesmos já estivemos vulneráveis em algum momento.
Derivada do latim vulnerare, que significa ferir, lesar e prejudicar, a palavra
vulnerabilidade é bastante usada nas áreas da Saúde e no Serviço Social, já que
diz respeito ao estado de ser e estar em perigo das pessoas. (NEVES, 2017).
Para Carmo e Guizardi (2018, p. 2), “a concepção de vulnerabilidade denota a
multideterminação de sua gênese não estritamente condicionada à ausência ou
precariedade no acesso à renda, mas atrelada também às fragilidades de
vínculos afetivo relacionais e desigualdade de acesso a bens e serviços
públicos”.
Conforme embasamento trazido pelas autoras Carmo e Guizardi (2018),
podemos dizer que a vulnerabilidade vai muito além do quanto um indivíduo tem
ou não recursos financeiros. À vista disso, o conceito de vulnerabilidade social
não é, necessariamente, sinônimo de pobreza, mas, sim, caracteriza uma
condição de fragilidade que determinado grupo está sujeito. Logo, é quase
impossível falar em vulnerabilidade sem adentrarmos na vulnerabilidade social.
No Brasil e no mundo, existem muitas pessoas que se encontram socialmente
vulneráveis.
Segundo Vitorino (2018), a vulnerabilidade social se constitui por pessoas
e, também, por lugares, os quais estão expostos à exclusão social (famílias,
indivíduos sozinhos), e, além disso, é um termo geralmente associado à pobreza
– seja ela material, social ou de informação. As pessoas ou grupos que estão na
condição de vulnerabilidade social não têm voz ativa, ou dependem de favores
de outros e são incapazes “de tomar decisões sobre os próprios interesses”
(VITORINO, 2018, p. 78).
Para sabermos se uma pessoa e/ou grupo social são considerados
vulneráveis, o Índice de Vulnerabilidade Social (IVS) foi criado pelo Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), contendo dezesseis indicadores
estruturados em três dimensões que apresentam as condições de
vulnerabilidade nas diversas escalas do território brasileiro, revelando as
diferenças nas condições de vida no país (BRASIL, 2015)
Segundo o IPEA (BRASIL, 2015), essas dimensões correspondem a
conjuntos de ativos, recursos ou estruturas, cujo acesso, ausência ou
insuficiência indicam que o padrão de vida das famílias encontra­se baixo,
sugerindo, no limite, o não acesso e a não observância dos direitos sociais. As
dimensões do IVS, segundo o IPEA (BRASIL, 2015), se configuram em:
Infraestrutura Urbana; Capital Humano; Renda e Trabalho, conforme mostra
o quadro 2.

Quadro 2 ­ Dimensões do índice de vulnerabilidade social


Dimensões Características do IVS Indicadores do IVS
do IVS

IVS 1 ­ Procura refletir as condições de Percentual de pessoas em domicílios com


Infraestrutura acesso aos serviços de abastecimento de água e esgotamento
Urbana saneamento básico e de sanitário inadequados.
mobilidade urbana, dois Percentual da população que vive em
aspectos relacionados ao lugar domicílios urbanos sem serviço de coleta de
de domicílio das pessoas e que lixo.
impactam significativamente Percentual de pessoas que vivem em
seu bem­estar. domicílios com renda per capita inferior a meio
salário mínimo e que gastam mais de uma
hora até o trabalho no total de pessoas
ocupadas, vulneráveis e que retornam
diariamente do trabalho.

IVS 2 ­ Capital O subíndice referente a capital Mortalidade até um ano de idade.


Humano humano envolve dois aspectos Percentual de crianças de 0 a 5 anos que não
(ou ativos e estruturas) que frequentam a escola.
determinam as perspectivas Percentual de pessoas de 6 a 14 anos que não
(atuais e futuras) de inclusão frequentam a escola.
social dos indivíduos: saúde e Percentual de mulheres de 10 a 17 anos de
educação. idade que tiveram filhos.
Percentual de mães chefes de família, sem
fundamental completo e com pelo menos um
filho menor de 15 anos de idade, no total de
mães chefes de família.
Taxa de analfabetismo da população de 15
anos ou mais de idade.
Percentual de crianças que vivem em
domicílios em que nenhum dos moradores
tem o ensino fundamental completo.
Percentual de pessoas de 15 a 24 anos que
não estudam, não trabalham e possuem
renda domiciliar per capita igual ou inferior a
meio salário mínimo (2010), na população
total dessa faixa etária.
Dimensões Características do IVS Indicadores do IVS
do IVS

IVS 3 ­ Renda e A vulnerabilidade de renda e Proporção de pessoas com renda domiciliar


Trabalho trabalho, medida por este per capita igual ou inferior a meio salário
subíndice, agrupa não só mínimo.
indicadores relativos à Taxa de desocupação da população de 18
insuficiência de renda presente anos ou mais de idade.
(percentual de domicílios com Percentual de pessoas de 18 anos ou mais
renda domiciliar per capita igual sem fundamental completo e em ocupação
ou inferior a meio salário mínimo informal.
de 2010), mas incorpora outros Percentual de pessoas em domicílios com
fatores que, associados ao fluxo renda per capita inferior a meio salário mínimo
de renda, configuram um estado (de 2010) e dependentes de idosos Taxa de
de insegurança de renda: a atividade das pessoas de 10 a 14 anos de
desocupação de adultos; a idade.
ocupação informal de adultos
pouco escolarizados; a
dependência com relação à
renda de pessoas idosas; assim
como a presença de trabalho
infantil.
Fonte: Adaptado de IPEA (BRASIL, 2015)

Em relação a isso, Vitorino (2018, p. 78), aponta como uma das principais
características da vulnerabilidade “a capacidade ou liberdade limitada” das
pessoas e/ou grupos sociais. Vitorino (2018, p. 79), nesse sentido, também
salienta as características da vulnerabilidade, conforme ilustra o quadro 3.

Quadro 3 ­ Características da vulnerabilidade


Características da vulnerabilidade

Um estado de dependência (estar “à mercê” de alguém)

Estados de susceptibilidade a danos, impotência e marginalidade de sistemas físicos e sociais

Formas de exclusão social, traumas e crises em diferentes pontos da vida (BECKETT, 2006
apud FAWCET, 2009)

Incapacidade para tomar decisões sobre seus próprios interesses

Substantivo que caracteriza aquele ou aquilo que está suscetível ao ataque físico ou emocional
ou a danos
Sentimento de fragilidade

Estado ou sentimento de solidão

Uma capacidade ou liberdade limitada

Estado ou situação de risco


Fonte: Vitorino (2018)

Agora que fomos apresentados às características da vulnerabilidade, se


faz necessário saber o que é um grupo vulnerável e quais indivíduos compõem
o grupo de pessoas vulneráveis (ver quadro 4), isto é, as chamadas “minorias”,
seja por motivo diverso, em acesso, participação e/ou oportunidade dificultada
ou até mesmo vetada a bens e serviços disponíveis para a população, e sofrem,
por conta desse fato, os efeitos da exclusão. (VITORINO, 2018).

Quadro 4 ­ Grupos Vulneráveis


Grupos vulneráveis
Sem­teto, imigrantes, nômades, refugiados ou pessoas deslocadas
Pessoas com diagnóstico de doenças mentais
Pessoas idosas e/ou com demência e residentes em asilos (principalmente mulheres idosas)
Pessoas com deficiência
Pessoas doentes de modo geral
Minorias raciais (jovens negros, por exemplo)
Prisioneiros
Membros de comunidades sem conhecimento (MACKLIN, 2004)
Pessoas que recebem benefícios da seguridade ou assistência social
Pessoas pobres, desempregadas ou em desvantagem econômica
Membros subordinados de grupos hierárquicos como militares ou estudantes
Pacientes em salas de emergência
Minorias étnicas (comunidades quilombolas, por exemplo)
Povos indígenas
Pessoas com fragilidade quanto a direitos humanos e pessoas em perigo
Fonte: Vitorino (2018)

Estamos inseridos em um mundo em que a vulnerabilidade faz parte e,


por vezes, é predominante em nossa existência. Vários fatores contribuem para
que uma pessoa seja vulnerável em algum momento de sua existência. Diante
disso, podemos refletir que somos vulneráveis desde o nosso nascimento.
No âmbito da Biblioteconomia e da Ciência da Informação, podemos
refletir que as pessoas podem se tornar vulneráveis em informação em algum
momento. [...] “Podemos compreender que há, no cerne da vulnerabilidade nos
diferentes contextos, uma dimensão informacional” [...] (PAIANO et al., 2017,
p.83)
A vulnerabilidade social e a vulnerabilidade em informação podem estar
relacionadas, ou seja, podemos dizer que um indivíduo vulnerável socialmente
também se encontra vulnerável em informação. O acesso à informação é um
direito humano básico, e contribui para inclusão social das pessoas, conforme
pontua a IFLA (INTERNATIONAL FEDERATION OF LIBRARY..., 2005)., neste
sentido, faz­se necessário que as pessoas desenvolvam às habilidades
necessárias para que se torne um cidadão competente em informação.
Acredita­se que a vulnerabilidade social e a vulnerabilidade em
informação possuem uma relação estreita, podendo­se dizer que um indivíduo
vulnerável socialmente também é um ser vulnerável em informação,
necessitando de acesso à informação de qualidade, e para isso, se faz
necessário que essa pessoa desenvolva as habilidades necessárias para que se
torne um cidadão competente em informação. (VITORINO, 2018).
Estamos imersos num mundo atual no qual a informação, diante de sua
importância, deu nome à era em que vivemos: Sociedade da Informação e do
Conhecimento. Temos então mais facilidade ao acesso e à disseminação da
informação e possibilidade de maior interação virtual entre as pessoas.
Hoje, com o respaldo das Tecnologias da Informação e Comunicação
(TIC) podemos fazer uso da informação para cunho pessoal, profissional e de
lazer, ascender socialmente por meio do acesso ao conhecimento, tomar
consciência de nossos direitos e deveres e, ainda, favorecer o nosso cotidiano
por meio das facilidades colocadas na era da informação. Dentro desse contexto,
podemos refletir também que diante dessa gama de informação que nos
bombardeiam todos os dias, ficou mais difícil encontrar informações de que
realmente necessitamos e muitas pessoas hoje em dia acabam por se tornar
vulneráveis em informação, pois não sabem como buscar uma informação
confiável, segura e de qualidade. (PAIANO et al., 2017).
Em vista disso, a questão da vulnerabilidade social está presente no
contexto da competência em informação na perspectiva do ambiente
informacional desenfreado e controverso. Vulnerável torna­se, então, o usuário
que não sabe lidar com a quantidade de informação disponível, que não tem
capacidade de reconhecer informação de qualidade e que não tem compreensão
da importância da informação adquirida e disseminada. (PAIANO et al., 2017, p.
97).
Para Vitorino (2018, p. 82), “a vulnerabilidade em informação é um estado
de susceptibilidade a danos causados às pessoas por excesso de exposição à
informação ou falta de acesso à informação [...], devido à ausência de resiliência
no que concerne [às] dimensões técnica, estética, ética e política da competência
em informação”. A falta de informação pode trazer inúmeras consequências
prejudiciais ao ser humano, pois sem informação correta, o indivíduo perece por
falta de conhecimento. (PAIANO et al., 2017, p. 81).

5 MÃES SOLO: CONCEITOS E CARACTERÍSTICAS

Historicamente e socialmente falando, era entendido que a única forma


de constituir família era através do matrimonio, ou seja, uma mulher só deveria
ter filhos se fosse casada. Caso uma mulher viesse a engravidar sem estar
casada, estaria fora do que a sociedade esperava dela como mulher. Muitas
vezes, a própria família as repudiava, sendo considerada “uma má companhia
para as demais mulheres e uma vergonha para a família”. O único tipo de família
aceitável pela sociedade era a conjuntura da “família tradicional” composta pelo
pai, mãe e seus descendentes.
Segundo Borges (2020), a sociedade patriarcal passou a se referir às
mulheres que tinham filhos, mas não estavam inseridas em um matrimônio como
mães solteiras:

Durante muito tempo o termo utilizado para as mulheres com filhos (as)
que não estavam inseridas em um relacionamento conjugal era “mãe
solteira”, posto que para a sociedade a conjugalidade era um fator
essencial para que as mulheres pudessem se tornar mães. O termo
“mães solteiras”, como eram conhecidas as mães solo, carrega o forte
resquício da sociedade machista e patriarcal do século XX, em que a
mulher – sobretudo à mulher casada – possuía seus direitos civis,
sexuais e reprodutivos reduzidos e em sua maioria submetidos à
vontade do marido. (BORGES, 2020, p. 1­3).

Nas palavras de Carvalho (2020), o termo “mãe solteira” é totalmente


carregado de termos depreciativos. Primeiro, não existe mãe casada, mãe
divorciada ou mãe viúva. Ser solteira, logo, é um estado civil, que pode ou não
ser conjugado com ser mãe. É um termo pejorativo, que leva a entender que a
mulher é mãe, mas não é casada (CARVALHO, 2020).
Para Carvalho (2020), o termo mãe solo veio na tentativa de substituir a
errada terminologia “mãe solteira”. Há quem use também mãe autônoma. Esses
termos de fato remetem que a mãe é a única responsável pelos cuidados dos
filhos, sem ter um companheiro que dívida essas tarefas e sem aludir ao estado
civil dessa mãe. Assim, pode­se ver mulheres casadas que acabam sendo mães
solo, cujos companheiros não assumem funções. O papel de mãe solo reflete
unicamente ao fato de que essa mulher exerce a parentalidade sozinha,
independente do estado civil dela; assim como existem mulheres solteiras que
têm seus filhos e não são mãe solo, no sentido de que o pai da criança divide as
funções com essa mulher. (CARVALHO, 2020). O quadro 5 caracteriza, assim,
o grupo de mães solo.

Quadro 5 ­ Grupo das mães solo


Mães que geram seus filhos por inseminação artificial, por exemplo, utilizando um
espermatozóide de um homem anônimo para a concepção;

Aquelas que engravidaram e sabiam a partir do momento que escolheram ter o bebê, que
estariam por conta própria nessa criação;

Mães que adotaram uma criança e que optaram por se ocupar desse exercício sem a ajuda
de um companheiro ou companheira;

Mães que estavam casadas ou se relacionando com o pai da criança quando engravidaram,
mas por conta da separação, viram­se inteiramente a sós para viver a maternidade;

Aquelas cujo companheiro não assume a criança e se abstém de qualquer contato familiar­
ou então abandonou a família após o nascimento da criança;
Mães que criam os filhos sozinhas por conta do óbito do parceiro.
Fonte: Dados obtidos na pesquisa

Conforme as características da vulnerabilidade social, podemos


considerar que pessoas ou grupos vulneráveis são aqueles que estão em uma
situação de risco, de perigo, vulneráveis em alguma situação. Nesse rol,
compreendemos que as mães solo se configuram em grupo de pessoas em
vulnerabilidade social.

6 DESENVOLVIMENTO DA COMPETÊNCIA EM INFORMAÇÃO PARA MÃES


SOLO: EM FOCO AS DIMENSÕES TÉCNICA, ESTÉTICA, ÉTICA E POLÍTICA

Quando a pandemia da Covid­19 começou, em meados de março do ano


de 2020, vários questionamentos surgiram, e entre eles um dos que mais
impactou foi com relação à economia, ficando ainda mais árdua a sobrevivência
para a maioria das famílias brasileiras.
Famílias chefiadas por mulheres que residem sozinhas com seus filhos
chamou a atenção de sete fotógrafas, que resolveram se juntar para contar
algumas histórias de vivencias e sobrevivência das mães solo, desenvolvendo
então com o apoio do fundo de emergência da National Geographic Society para
jornalistas o “Projeto Solo: Mães solo vivendo a pandemia no Brasil” (PROJETO
SOLO, 2020).
No projeto, foi relatada a história de doze mulheres, que, por diversos
motivos, entraram para as estatísticas das mães solo. Dentre as doze mulheres
apresentadas no projeto, selecionamos o recorte de cinco para fazermos uma
relação destas com as dimensões da competência em informação.
Selecionamos então as cinco primeiras que aparecem na lista, no ícone histórias
do site do projeto. (PROJETO SOLO, 2020).
Para identificarmos a relação das falas das mulheres com as dimensões
da competência em informação, foi realizado uma análise dos conceitos e
características das dimensões já apresentado no quadro 5; e, feito isso, realizou­
se a associação das falas das mães solo com as respectivas dimensões da
competência em informação, conforme nos mostra o quadro 6:

Quadro 6 ­ Falas das mães solo


MÃES SOLO

Carla Bianca

DIMENSÃO DIMENSÃO DIMENSÃO ÉTICA DIMENSÃO


TÉCNICA ESTÉTICA POLÍTICA

Durante a pandemia, Tem maternidade Faz 8 meses que Ísis cresceu dentro
com as creches que você é solo, mas estou dentro da da religião, ela
fechadas e a filha em tem com quem Umbanda. Foi aprendeu sobre
casa, Carla se divide contar, tem rede de muito importante solidariedade,
em realizar atividades apoio, financeiro e pra me fortalecer, sobre amor, sobre
EAD da faculdade de familiar que você pra me redescobrir afeto, sobre
Direito, os cuidados pode ainda se na minha essência companheirismo e
com a filha e as irmãs, concentrar em você. do ser mulher. [...]. sobre ser luz na
dividindo as horas que E tem a minha Isso acabou de vida das pessoas.
sobram também com a maternidade que é certa forma me É o que a gente
produção do brechó igual o de várias tornando uma prega, é o que a
online que ela mulheres, que é pessoa mais forte, gente se dispõe a
administra. aquela de se independente. fazer.
preocupar todo
tempo com
responsabilidades.
[...] Na pandemia me
senti muito sufocada.
MÃES SOLO

Isis Abena

DIMENSÃO DIMENSÃO DIMENSÃO ÉTICA DIMENSÃO


TÉCNICA ESTÉTICA POLÍTICA

Além de mãe, sou Como eu sei que tem Seguimos, eu e ela, No início da
terapeuta dos aromas, mãe me vendo na construção e pandemia, as duas
criadora de perfumes diariamente eu quero busca da ainda moravam em
botânicos na dizer pra vocês que comunidade que um apartamento,
plataforma de cura nós estamos de nos acolherá nessa mas o fato de
Hawa. Hoje, uma parabéns! Gente de diáspora para estarem
empresa familiar, forma geral não faz minimizar as confinadas em um
minha e da Ainá. ideia do trampo que é sequelas do m², passou a afetar
Também pesquiso e para dar conta de colonialismo e o humor de Ainá e
integro tecnologias de alimentar, vestir, fragmentação das a produtividade de
cura para o corpo­ banhar, e oferecer famílias negras... Isis. Isso mudou no
mulher­ preta e cuidados básicos meio do ano,
compartilho minha para uma criança. quando
jornada pessoal de Nem falo de afeto e conseguiram se
descolonização na educação porque aí mudar para uma
@hawa_isisabena. eu posso me vila onde Ainá tem
emocionar. espaço, liberdade,
amigas e um maior
contato com a
natureza.
MÃES SOLO

Luísa Brandão

DIMENSÃO DIMENSÃO DIMENSÃO ÉTICA DIMENSÃO


TÉCNICA ESTÉTICA POLÍTICA

Naturóloga, Luisa No início da Um dos maiores Com a pandemia,


trabalha como pandemia eu fiquei desafios de uma Luisa começou um
autônoma atendendo sem trabalho criança sozinha é esquema de
pacientes, de maneira nenhum. Pra mim era ser a única rodízio de famílias
online e presencial, impossível fazer uma referência. Eu com outras duas
fazendo aromaterapia sessão de nunca sei se o que mães solo, assim,
e vendendo frutas naturologia online. eu tô fazendo tá cada dia uma mãe
desidratadas que Com o tempo eu certo mesmo, eu cuida das crianças,
colhe com o filho na participei de alguns não tenho com permitindo que as
zona rural de editais, gravei um quem conversar outras tenham
Botucatu, onde curso de medicina sobre isso. Se eu tempo livre para
moram. Ela, além ayurvédica, comecei deveria dar colo trabalhar.
disso, também cuida a fazer consulta nesse momento ou
de uma pousada. online, a pousada se eu deveria dar
voltou a funcionar.... uma bronca. É uma
Então eu consigo responsabilidade
hoje zerar o meu muito grande.
aluguel com o
trabalho da pousada.

MÃES SOLO

Luísa Molina
DIMENSÃO DIMENSÃO DIMENSÃO ÉTICA DIMENSÃO
TÉCNICA ESTÉTICA POLÍTICA

A possibilidade de ter Ser mãe solo pra mim Sobre o significado Acompanha desde
construído em mim um é ser mãe, antes de de ser mãe solo, a 2012 o debate
lugar de fortaleza, um tudo pra mim foi uma primeira coisa que público acerca dos
lugar de crescimento. experiência de me vem quando eu direitos territoriais
Com muita solidão e é enraizamento no penso nisso, não é de povos
uma solidão que eu mundo muito visceral, uma indígenas, tendo
sinto ainda de mudar tudo o que ausência, não é atuado em diversas
praticamente todos os eu conhecia de ser no ausência que define campanhas nesse
dias. E ela é mesma mundo. Deslocou minha maternidade sentido, publicado
traiçoeira. Distorce as questões e solo, não é artigos em jornais e
coisas, me deixa perspectivas, mudou ausência do pai ou participado de
suscetível. É muito os pesos e as de uma outra podcasts sobre o
difícil estar num lugar medidas, inaugurou pessoa. Não me tema.
de construção em mim sentidos de deixaria definir por
autônoma de minha estar no mundo que isso, não seria nem
própria força. não tinha antes. E me correto, nem justo.
fez conhecer todos os E ser mãe solo pra
matizes possíveis. mim é.ser mãe,
antes de tudo.
MÃES SOLO

Maria Francisca
Moreira
DIMENSÃO DIMENSÃO DIMENSÃO ÉTICA DIMENSÃO
TÉCNICA ESTÉTICA POLÍTICA

Eu criei vocês tudinho Durante a pandemia, Hoje assim, eu as Migrou por


trabalhando de ela perdeu seus
vezes deito e fico diversas
diarista, mas trabalhos como
pensando na minha ocupações
dignamente. Eu não diarista e está com vida, sabe? Por que urbanas no DF,
tenho vergonha de dificuldades para
eu cuidei e vivi pra “morando de favor”
dizer isso, eu criei vender o que produz eles. Eu não vivi pra em casas de
meus filhos na terra. Então optou
mim, eu vivi mais conhecidos até
trabalhando de por produzir apenas pra eles. Hoje, eu conseguir comprar
diarista, até o fim de para a subsistência.falo pra eles, ó, seu primeiro
semana, mas hoje eu O pai dos filhos fazvocês tinham que barraco quando
tô muito feliz que tô na ajudas financeiras
pensar mais e me casou. [...] Viveu
idade que tô né assim esporadicamente, ajudar mais, por em diversos
e ainda meus filhos com até no máximo que não me ajudou acampamentos do
ainda tudo criado e 200 reais por mês. Amuito não. Por que movimento por
ainda tenho força para mãe também manda eu dei minha vida cerca de sete
trabalhar na roça”. dinheiro quando
pra vocês. anos. Até que, há 4
produz verduras, pode, mas não passa Trabalhei minha anos, conseguiu se
frutas e hortaliças a de 50 reais. vida inteira de firmar no
partir de sistemas diarista pra criar assentamento que
agroflorestais. vocês, por que o pai mora hoje.
sempre foi ausente.
FONTE: Adaptado de Projeto Solo (2020)

A partir da visualização do quadro 6, podemos compreender que as mães


solo, ainda com os percalços e dificuldades de suas existências e tarefas,
exercem as dimensões da competência em informação, com base
principalmente no aspecto da resiliência, sendo esta definida como a
capacidade universal que motiva a pessoa, grupo ou comunidade na prevenção,
diminuição ou superação de efeitos nocivos das adversidades, até mesmo
superando essas situações e/ou transformando em aspectos positivos.
(GROTBERG, 1995). Posto isto, justifica­se a importância do desenvolvimento
da competência em informação e de suas dimensões às mães solo, e,
sobremaneira, às pessoas/grupos em vulnerabilidade social, propiciando a estas
pessoas as habilidades para fatores essenciais, como o desenvolvimento do
empoderamento, autonomia e o bem­viver, entre outros.
Nessa esteira de pensamento, Vitorino e Piantola (2020) entendem que
“ao tratarmos da competência em informação e do desenvolvimento desta nos
indivíduos, há que se fazer referência à realidade na qual estes estão inseridos”,
onde “um cidadão competente, seja um estudante, um profissional ou um
trabalhador, deve ser capaz de reconhecer suas necessidades de informação,
sabe como localizar a informação necessária, identificar o acesso, recuperá­la,
avaliá­la, organizá­la e utilizá­la”. (LAU, 2007, p. 8).

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste trabalho, procuramos investigar as conexões da vulnerabilidade em


informação e da competência em informação das chamadas mães solo.
Buscamos, também, alguns elementos que permitem identificar as dimensões
da competência em informação nas falas destas mulheres, usando para isto, o
conteúdo disponibilizado no “Projeto Solo” relativo às falas da vivência de
algumas mães deste grupo, considerado, quanto aos conceitos de
vulnerabilidade social, como um grupo vulnerável. Nas falas, foi possível
reconhecer a vulnerabilidade em informação, mas também a resiliência destas,
mostrando que as pessoas se superam o tempo todo para acessar e buscar
informações, confiáveis e relevante para que assim possam se tornar sujeitos
protagonistas de sua existência mais participativos em meio da sociedade em
que se encontram.
Esperamos que este trabalho possa inspirar, por meio das falas e da
associação com a competência em informação e suas dimensões técnica,
estética, ética e política a realização de futuras pesquisas sobre as temáticas,
pois se trata de algo importante para a sociedade e as pessoas que vivem
situações constantes de vulnerabilidade social.
Que nós, enquanto profissionais da informação, possamos estar à frente
de ações sociais, que ajudem nossa sociedade, a comunidade em que estamos
inseridos, os mais vulneráveis, pessoas que estão ao nosso redor, para que
possamos desenvolver projetos que respeitem e promovam a dignidade em
todas as dimensões e assim nos tornemos mais participativos e sejamos agentes
de mudança – protagonistas da competência em informação.

REFERÊNCIAS

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por mães solo 2021. Disponível em:
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Disponível em: https://arpenbrasil.org.br/press_releases/brasil­registra­terceiro­
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,Brasil%20registra%20terceiro%20ano%20com%20queda%20consecutiva%20
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descubra­as­implicacoes­de­cada­termo­e­conheca­historiasdessa­realidade/.
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